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em Paris; depois de ter recolhido os testemunhos e documentos que de todos
os pontos do globo lhe chegaram, coordenou esse conjunto de fatos, deduziu
os princípios gerais e compôs um corpo de doutrina, contido em cinco volumes,
cujo êxito foi tal que alguns ultrapassaram hoje a quadragésima edição, a
saber: O Livro dos Espíritos ou parte filosófica, O Livro dos Médiuns ou parte
experimental, O Evangelho segundo o Espiritismo ou parte moral, O Céu e o
Inferno ou parte analítica e Á Gênese ou parte científica. (93)
Allan Kardec fundou a Revue Spirite, de Paris, que se tornou o órgão, o
traço de união dos espíritas do mundo inteiro, e na qual se poderá acompanhar
a evolução lenta e progressiva desta revelação moral e filosófica.
A obra de Allan Kardec é, portanto, o resumo dos ensinos comunicados aos
homens pelos Espíritos, em um número considerável de grupos espalhados por
todos os pontos da Terra, e durante um período de vinte anos.
Essas comunicações nada têm de sobrenaturais, porque os Espíritos são
seres semelhantes a nós que vivemos na Terra e, em sua maior parte, a ela
voltarão, submetidos, como nós, às leis da Natureza e revestidos de um corpo,
mais sutil é verdade, mais etéreo do que o nosso, porém perceptível aos
sentidos humanos em condições determinadas.
Allan Kardec, como escritor, mostrou-se de uma clareza perfeita e de uma
lógica rigorosa. Todas as suas apreciações repousam sobre fatos observados,
atestados por milhares de testemunhas. Apelou para a Filosofia, e esta desceu
das alturas abstratas em que pairava, fez-se simples, popular, acessível a
todos. Despida das suas formas envelhecidas, posta ao alcance das mais
humildes inteligências, ela demonstra a persistência da vida de além-túmulo, e
assim traz esperança, consolação e luz àqueles que sofrem.
A doutrina de Allan Kardec, nascida — não será demasiado repetí-lo — da
observação metódica, da experiência rigorosa, não se torna um sistema
definitivo, imutável, fora e acima das conquistas futuras da Ciência. Resultado
combinado de conhecimentos dos dois mundos, de duas humanidades
penetrando-se uma na outra, ambas, porém, imperfeitas e a caminho da
verdade, do desconhecido, a Doutrina dos Espíritos transforma-se, sem cessar,
pelo trabalho e pelo progresso, e, embora superior a todos os sistemas, a todas
as filosofias do passado, acha-se aberta às retificações, aos esclarecimentos
do futuro.
Depois da morte de Allan Kardec, o Espiritismo fez uma evolução
considerável, assimilando o fruto de vinte e cinco anos de trabalhos. A
descoberta da matéria radiante, as análises dos sábios ingleses e americanos
sobre os fluídos, sobre os invólucros perispirituais ou formas revestidas pelos
Espíritos em suas aparições, todos esses progressos abriram ao Espiritismo
um novo horizonte. Graças a esses estudos, o Espiritismo penetrou a natureza
íntima do mundo fluídico, e, para o futuro, pode, com armas Iguais, lutar contra
seus adversários nesse terreno da Ciência que se lhe tornou familiar.
O Congresso Espírita e Espiritualista Internacional, reunido em Paris, no
mês de setembro de 1889, demonstrou toda a vitalidade da doutrina que
acreditavam sepultada debaixo dos sarcasmos e das zombarias. Quinhentos
delegados, vindos de todos os pontos do mundo, assistiram às suas sessões,
noventa e cinco revistas e jornais ai estiveram representados. Homens de
grande saber e de alta posição, médicos, magistrados, professores e mesmo
sacerdotes, pertencentes às mais diversas nacionalidades — franceses,
espanhóis, italianos, belgas, suíços, russos, alemães, suecos, etc. —, todos