2. Epidemiologia: por ser uma doença rara e de diagnóstico
nem sempre fácil, tem-se baixa incidência, com alguns estudos
mostrando algo em torno de 2 a 3 casos para cada 1.000.000
de habitantes. Parece haver predomínio em mulheres, em
proporções de até 4:1 em alguns estudos. Além disso, pode
acometer qualquer idade, mas a faixa mais comum é de adultos
na meia-idade (50 anos). Não há predileção racial;
3. Fisiopatologia: ainda é desconhecida, mas acredita-se em
uma reação de hipersensibilidade com uma resposta
granulomatosa associada;
4. Quadro clínico: clinicamente, pode-se dividi-la em 3 fases,
que acabam se sobrepondo. Primeiramente, ocorrem as
manifestações alérgicas com asma e rinite; podem durar de
meses a anos, e o diagnóstico nessa fase é muito improvável,
pois são semelhantes às reações alérgicas mais comuns.
Posteriormente, inicia-se a fase de hipereosinofilia, na qual
ocorrem infiltrados, na maioria transitórios, de eosinófilos em
diversos tecidos, como pulmões (lembra a síndrome de Löffler)
e trato gastrintestinal; paralelamente, pode haver sintomas de
inflamação sistêmica (febre, adinamia, perda ponderal) e
encontra-se eosinofilia marcante ao hemograma. Por último,
inicia-se a fase de vasculite, na qual qualquer órgão pode ser
acometido, mas os mais incidentes são coração (dor precordial
e arritmias – as lesões cardíacas são a causa de óbito em 40%
dos doentes), pulmões (dor pleurítica, tosse e dispneia), rins
(glomerulonefrite com hematúria e proteinúria) e sistema
nervoso central (isquemia, neuropatias periféricas e alterações
visuais). As lesões cutâneas ocorrem em 50% dos casos, e
podem simular a urticária (sendo menos fugazes do que a
urticária comum), eritema multiforme com lesões “em alvo”,
púrpuras palpáveis e livedo reticularis;
5. Métodos diagnósticos: como exames gerais iniciais,
podem-se solicitar o hemograma (pode cursar com leucocitose
e eosinofilia com mais de 10%) e a VHS, que costuma estar
bem elevada. O FAN e o fator reumatoide podem ser positivos
em títulos baixos (achado inespecífico). Devem-se avaliar a
função renal e a proteinúria (creatinina, urina I e proteinúria de 24 horas) e monitorizar o coração (eletrocardiograma).
Contudo, o diagnóstico definitivo só é possível com a biópsia,
sendo os locais mais realizados a pele e o tecido renal; deve-se
encontrar vasculite de pequenos vasos com granulomas e
eosinófilos. O diagnóstico diferencial depende da fase de
acometimento: asma alérgica e rinite na primeira; síndromes
hipereosinofílicas (toxocaríase, síndrome de Löffler etc.) na
segunda; e as vasculites na terceira (granulomatose de
Wegener, púrpura de Henoch-Schönlein etc.). A presença de 4
ou mais dos critérios a seguir tem sensibilidade de 85% e
especificidade de 99% para granulomatose com poliangiite:
a) Asma;
b) Eosinofilia em sangue periférico > 10%;
c) Mono ou polineuropatia;
d) Infiltrado pulmonar não fixo em radiografia de tórax;
e) Alterações de seios paranasais;
f) Biópsia com presença de eosinófilos extravasculares.
6. Tratamento: os pacientes respondem rapidamente à
instituição dos corticosteroides, e essas drogas reduziram
bastante a mortalidade da doença (de 50 para menos de 20%).
A droga mais usada é a prednisona, na dose de 1 a 2 mg/kg,
dependendo da gravidade dos sintomas – em casos graves,
como hemorragia difusa alveolar ou glomerulonefrite
rapidamente progressiva, utiliza-se pulsoterapia com
metilprednisolona 1 g/d, IV, por 3 dias consecutivos, e
posteriormente manutenção com prednisona. Com a melhora, é
possível fazer o desmame, mas costuma haver recidiva em
alguns pacientes, principalmente dos sintomas respiratórios, e
nesses casos devem ser mantidas doses pequenas em dias
alternados, por períodos mais longos. No caso de não haver
resposta a esse tratamento inicial, deve-se lançar mão da
ciclofosfamida, que também é um potente imunossupressor.
Outra opção como poupador de corticoide é o metotrexato.
Recentemente, houve relatos de melhora com infliximabe e
etanercepte, inibidores do fator de necrose tumoral.
10.3.1.2 Granulomatose de Wegener