Desenvolvimento Humano 197
vocabulários maiores e tempo de reação mais rápido reconhecem palavras faladas já na primeira parte
da palavra. Por exemplo, quando ouvem “lei” ou “ga”, apontarão para a imagem de um pacote de
leite ou um gato (Fernald, Swingley e Pinto, 2001). Essa aprendizagem inicial da língua está intima-
mente ligada ao desenvolvimento cognitivo posterior. Em um estudo longitudinal, a velocidade de
reconhecimento de palavras faladas e tamanho de vocabulário em crianças de 25 meses pôde prever
habilidades linguísticas e cognitivas, incluindo a eficiência da memória de trabalho em crianças de 8
anos (Marchman e Fernald, 2008).
A princípio, o acréscimo de novas palavras ao vocabulário expressivo (falado) é lento. De-
pois, entre 16 e 24 meses, pode ocorrer uma “explosão de vocabulário”, embora esse fenômeno
nem sempre aconteça com todas as crianças (Ganger e Brent, 2004). Dentro de alguns meses,
muitas crianças que antes diziam por volta de 50 palavras passam a dizer várias centenas (Cou-
rage e Howe, 2002). Rápidas aquisições no vocabulário falado refletem aumentos na velocidade
e na precisão do reconhecimento das palavras durante o segundo ano de vida (Fernald et al.,
1998; Fernald et al., 2006), bem como uma compreensão de que as coisas pertencem a categorias
(Courage e Howe, 2002).
Os substantivos parecem ser o tipo de palavra mais fácil de aprender. Em um estudo transcultural,
pais espanhóis, holandeses, franceses, israelenses, italianos, coreanos e norte-americanos, todos rela-
taram que seus filhos de 20 meses conheciam mais substantivos do que qualquer outra classe de pala-
vras (Bornstein et al., 2004). Entre 24 e 36 meses, a criança consegue inferir o significado de adjetivos
não familiares a partir do contexto ou dos substantivos que esses adjetivos modificam (Mintz, 2005).
As primeiras sentenças O próximo avanço linguístico importante ocorre quando a criança junta
duas palavras para expressar uma ideia (“Dodô caiu”). Geralmente ela faz isso entre 18 e 24 meses.
Entretanto, essa faixa etária varia bastante. Embora a fala pré-linguística esteja, até certo ponto, inti-
mamente ligada à idade cronológica, a fala linguística não está. A maioria das crianças que começa
a falar tardiamente acaba alcançando as outras – e muitas compensam o tempo perdido falando sem
parar com quem se disponha a ouvir! (O verdadeiro atraso no desenvolvimento da linguagem será
discutido no Capítulo 7.)
As primeiras sentenças de uma criança geralmente tratam de eventos, coisas, pessoas ou ativi-
dades do dia a dia (Braine, 1976; Rice, 1989; Slobin, 1973). É comum as crianças utilizarem a fala
telegráfica, que consiste em apenas algumas poucas palavras essenciais. Quando Rita diz, “Bobó
endo”, parece querer dizer “Vovó está varrendo o chão”. O uso da fala telegráfica por parte da criança
e a forma assumida variam dependendo da língua a ser aprendida (Braine, 1976; Slobin, 1983). A
ordem das palavras está de acordo com aquilo que a criança ouve; Rita não diz “Endo bobó” quando
vê a avó varrendo.
Entre 20 e 30 meses, a criança demonstra uma competência cada vez maior na sintaxe, as
regras para juntar sentenças em sua língua. Ela torna-se mais fluente com os artigos (um, uma, o, a),
preposições (em, de), conjunções (e, mas), plurais, terminações verbais, tempo passado e formas do
verbo ser (sou, são, somos, é). Também fica cada vez mais consciente do propósito comunicativo da
fala e do fato de suas palavras serem entendidas (Shwe e Markman, 1997) – um sinal de crescente
sensibilidade à vida mental dos outros. Por volta dos 3 anos, a fala é fluente, mais longa e mais com-
plexa. Embora a criança geralmente omita partes do discurso, ela consegue comunicar com sucesso
o que quer dizer.
CARACTERÍSTICAS DA FALA INICIAL
A fala inicial tem uma característica bastante própria – não importa que língua a criança esteja falando
(Slobin, 1971). Como já vimos, a criança pequena simplifica. Ela usa a fala telegráfica para dizer o
suficiente sobre suas intenções (“Não toma leite!”).
A criança pequena entende relações gramaticais que ainda não consegue expressar . A princí-
pio, Nina talvez entenda que o cão está correndo atrás do gato, mas não consegue pôr em sequência
palavras suficientes para expressar a ação completa. Sua sentença sai como “Cachorro corre” e não
“Cachorro corre atrás do gato”.
A criança pequena restringe o significado das palavras. O tio de Lisa deu-lhe um carro de brin-
quedo que a menina de 13 meses chamou de “cuca”. Depois o pai chegou em casa com um presente,
Se você quiser ajudar uma
criança pequena a
aprender as palavras relativas às
cores, rotule o objeto a que está se
referindo, depois dê o nome da cor.
Dye, 2010
fala telegráfica
Forma inicial do uso de sentenças que
consiste em falar apenas algumas pala-
vras essenciais.
sintaxe
Regras para formar sentenças em uma
determinada língua.
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