Didática Magna de Comenius com comentários
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É inata no homem a aptidão para saber, mas não
o próprio saber.
2. Efetivamente, se consideramos a ciência das
coisas, é próprio de Deus saber tudo, sem princípio, sem
progresso, sem fim, mediante um só e simples ato de
intuição; mas nem ao homem nem ao anjo pode dar este
saber, pois não lhe podia dar a infinitude e a eternidade,
isto é, a divindade. Aos homens e aos anjos basta aquele
grau de excelência de haverem recebido a agudeza de
inteligência, com a qual podem indagar as obras de Deus
e assim acumular para si um tesouro intelectual.
Precisamente por isso, consta, acerca dos anjos, que
eles, contemplando, aprendem (Pedro, I, 1, 12; Efésios, 3,
10; Reis, I, 22, 20; Job, 1, 6); e, por isso, o conhecimento
deles, de igual modo que o nosso, é experimental.
Que o homem deve ser formado «ad
humanitatem», mostra-se:
1. com o exemplo das outras criaturas.
3. Ninguém acredite, portanto, que o homem pode
verdadeiramente ser homem, a não ser aquele que
aprendeu a agir como homem, isto é, aquele que foi
formado naquelas virtudes que fazem o homem. Isto é
evidente pelos exemplos de todas as criaturas, as quais
se não tornam úteis ao homem, embora a isso
destinadas, a não ser depois de adaptadas pela nossa
mão. Por exemplo: as pedras foram-nos dadas para
servirem para construir casas, torres, muros, colunas,
etc.; mas, de fato, não servem para isso, a não ser depois
de talhadas, desbastadas e esquadriadas pelas nossas
mãos. Do mesmo modo , as pérolas e as gemas,
destinadas a servirem de ornamentos humanos, devem
ser cortadas, raspadas e polidas pelos homens; os