DILEMAS DA REPRESENTATIVIDADE NOS COMITÊS DE BACIA
HIDROGRÁFICA BRASILEIROS: SOBRE TECNOCRACIA E DIVERSIDADE DE
SABERES
Fernanda Matos, Pesquisadora vinculada ao NEOS/UFMG. Doutora e Pós-Doc em
Administração (UFMG). Professora. Consultora Técnica. PCPP-IV na Fundação João Pinheiro
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Resumo
A água, reconhecida como bem comum e direito fundamental, é elemento vital para a vida e
para o desenvolvimento sustentável. No Brasil, a Política Nacional de Recursos Hídricos
instituiu os Comitês de Bacia Hidrográfica (CBHs) como espaços colegiados de gestão
participativa, baseados nos princípios de descentralização, integração e representatividade.
Entretanto, questiona-se em que medida a composição desses colegiados reflete a diversidade
social necessária à governança democrática das águas. O objetivo deste estudo foi analisar o
perfil dos representantes dos CBHs no Brasil, considerando gênero, faixa etária, escolaridade,
área de formação e renda, problematizando como essas características influenciam a
representatividade e a qualidade democrática das decisões. Metodologicamente, a pesquisa
baseou-se em levantamento nacional de dados junto aos 203 comitês implementados,
utilizando survey eletrônico aplicado a 12.004 representantes entre titulares e suplentes. Os
resultados revelam a predominância de homens, engenheiros e indivíduos acima de 50 anos,
o que limita a pluralidade de olhares e reforça desigualdades de gênero, geração e
conhecimento. Argumenta-se que a ampliação da participação é imperativa para consolidar a
diversidade de conhecimentos e saberes e fortalecer a gestão democrática e sustentável da
água no país.
Palavras-chave: governança hídrica, diversidade, participação social, recursos hídricos
Introdução
A água, elemento vital para a manutenção da vida e para o equilíbrio dos ecossistemas,
assume papel central nas discussões sobre desenvolvimento sustentável, justiça social e
governança ambiental. No Brasil, a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº
9.433/1997) estabeleceu os Comitês de Bacia Hidrográfica (CBHs) como instâncias
colegiadas de decisão, fundadas nos princípios da descentralização, da integração e da
participação social. Esses espaços, conhecidos como “Parlamento das Águas”, foram
concebidos para articular múltiplos atores e setores, incorporando diferentes visões e
interesses no processo de gestão. Contudo, as evidências demonstraram que a composição
desses colegiados ainda está marcada por desigualdades de gênero, geração e formação