Disciplina positiva

tamara.pina 751 views 25 slides Sep 06, 2016
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About This Presentation

Concepções sobre disciplina positiva e criação com apego.


Slide Content

O Que É Criação com Apego – Uma Definição da API
Todos nós temos uma definição sobre o que é Criação com Apego, baseada nas nossas experiências e no que já
estudamos. A AttachmentParentingInternational (API), que propôs a releitura da Criação com Apego descrita pelo Dr.
Sears, tem a sua própria definição sobre Criação com Apego, e de cada um de seus princípios. Por isso, achei
interessante compartilhar com vocês o que a API entende.
A Criação com Apego é uma abordagem para a criação de filhos que promove um vínculo de apego seguro entre
os pais e seus filhos. O apego é um termo científico para o vínculo emocional em um relacionamento. A qualidade do
apego que se forma entre pais e filhos, aprendido a partir dos padrões de relacionamento com os cuidadores desde o
nascimento, tem relação com a forma como a criança percebe relacionamentos. A qualidade do apego está relacionada
com os efeitos que durarão a vida toda e, muitas vezes, tem um impacto muito mais profundo do que as pessoas
pensam. Uma pessoa com um apego seguro é geralmente capaz de responder ao estresse de maneira saudável e
estabelecer relações mais significativas e íntimas com mais frequência. Pessoas com apego inseguro podem ser mais
suscetíveis ao estresse e a relacionamentos menos saudáveis. Um número maior de indivíduos com apego inseguro
correm o risco de problemas mais graves de saúde mental, tais como depressão e ansiedade.
A maneira com que os pais desenvolvem um apego seguro com seu filho reside na capacidade dos pais para
atender as necessidades dessa criança por confiança, empatia e afeto através do cuidado consistente, amoroso, e
sensível. Ao apresentar habilidades saudáveis e positivas no relacionamento, os pais oferecem uma fundação
emocional crítica para a criança aprender habilidades essenciais de auto-regulação.
Os Oito Princípios da Criação com Apego da API são concebidos para dar aos pais “ferramentas” com
fundamento científico – valiosas, dicas práticas para os pais no dia a dia – que eles podem usar para aplicar o conceito
por trás da Criação com Apego. Estas ferramentas orientam os pais enquanto eles incorporam o apego em seus estilos
individuais de criação:
1. Preparando para a Gestação, Nascimento e Criação – A mensagem central deste princípio é a
importância dos pais estudarem suas decisões sobre cuidados na gravidez, tipos de parto, tipos de criação. O parto
sem uso de intervenções se mostra como o melhor começo para o vínculo mãe-bebê. No entanto, existem maneiras
de modificar a experiência do vínculo inicial para as mães encontraram complicações.
2. Alimentando com Amor e Respeito – Estudos mostram evidências inequívocas para a amamentação
de bebês, junto com o desmame gentil e escolhas alimentares nutritivas. O aleitamento materno é a escolha mais
saudável para alimentação de filhos. A fisiologia da amamentação promove uma alta capacidade de resposta da
mãe e está associada com vários outros benefícios. Quando a amamentação não é possível, a alimentação através
do leite artificial deve simular a proximidade da amamentação.
3. Respondendo com Sensibilidade – Este princípio é o elemento central de todos os princípios, e é
visto por muitos pais como a “pedra fundamental” da Criação com Apego. Ele envolve uma pronta resposta por
um cuidador carinho. Métodos de treinamento e adestramento de bebês, como o comumente chamado “nana
nenê,” são incompatíveis com este princípio. A fundação de responder com sensibilidade nos primeiros anos
prepara os pais para todos os seus anos de maternidade e paternidade, modelando o respeito e o carinho.
4. Usando o Contato Afetivo – Pais que carregam seus bebês em slings ou wraps estão aplicando este
princípio. Bebês que não gostam de babywearing gostam de ser segurados nos braços. O toque continua a ser
importante durante toda a infância e pode ser feito através de massagens, abraços, mãos dadas e carinhos.
5. Garantindo um Sono Seguro, Física e Emocionalmente – Este princípio é a base para um dos
temas mais polêmicos na criação de filhos. Muitos pais apegados compartilham o quarto com seus filhos. As mães
que amamentam exclusivamente e que tomam as precauções de segurança necessárias podem preferir a
compartilhar a sua cama. No entanto, este princípio pode ser facilmente aplicado a situações onde o bebê dorme no
berço. A questão não é a superfície em que o bebê dorme, mas que os pais permaneçam sensíveis aos seus filhos
durante o sono.
6. Provendo Cuidado Consistente e Amoroso -O apego seguro depende da continuidade dos cuidados
por um único cuidador principal. O ideal é que este seja um dos pais. No entanto, se ambos os pais devem
trabalhar fora de casa, este princípio pode ser aplicado, garantindo que a criança está sendo cuidada por um serviço
de cuidados que garanta um cuidador empático e sensível a longo prazo, por exemplo, uma babá em casa versus
uma grande creche com alta rotatividade de funcionários cuidadores.
7. Praticando a Disciplina Positiva -Há uma pressão muito forte contra o castigo físico nos últimos
anos, mas estudos mostram que todas as formas de punição, incluindo castigos e “cantinhos do pensamento”, não
só podem ser ineficazes para ensinar limites no comportamento de crianças, mas também prejudicial para o
desenvolvimento psicológico e emocional. Os pais são incentivados a ensinar através do exemplo e usar técnicas
de disciplina não punitivas, como a substituição, a distração, resolução de problemas e criação através da
brincadeira. Os pais não estabelecem regras para que a criança obedece pelo bem da estrutura familiar, mas sim
para ser o professor, o treinador, a líder de torcida, e o guia para orientar a criança enquanto ela desenvolve seu
próprio senso de responsabilidade moral dentro da construção do sistema de valores da família.
8. Mantendo o Equilíbrio entre a Vida Pessoal e Familiar – A Criação com Apego é uma abordagem
centrada na família, em que todos os membros da família têm o mesmo valor. Os pais não são tiranos, mas

também não são mártires. Os pais precisam balancear o papel de pais e sua vida pessoal, a fim de continuar a ter a
energia e motivação para manter um relacionamento saudável e modelar estilos de vida saudáveis para seus filhos.
A Criação com Apego não é exclusiva. Cada mãe e pai – de todas as classes socioeconômicas, todas as etnias,
todas as culturas – pode incorporar técnicas alinhadas com o apego em sua filosofia de criação de filhos. Além disso,
enquanto a base da Teoria do Apego tem raízes em estudos envolvendo crianças e bebês, estudos em relacionamentos
adultos mostram cada vez mais que a qualidade do apego é uma característica importante no desenvolvimento e os
efeitos persistem durante toda a vida, além desses primeiros anos. Crianças de todas as idades e estágios de
desenvolvimento podem se beneficiar de criação que leva o apego em consideração. Por exemplo, crianças em idade
escolar e adolescentes aproveitam de refeições familiares, sentados com todos os membros, com alimentos nutritivos
durante as quais os membros da família conversam sobre os acontecimentos do dia, ou brincar de algo em família.
Abraços frequentes ou massagens de ombro ou até mesmo um leve toque no ombro podem proporcionar momentos de
resposta sensível que só aprofundam ao longo que as crianças amadurecem e o vínculo com os pais com seus filhos
permanece crítica como uma forma de orientação.
Este texto é uma tradução parcial de WhatIsAttachmentParenting?
__________
Disciplina Positiva: Primeiros Passos
Tem um tempinho que eu já tenho me dedicado bastante à Disciplina Positiva. Leio, estudo, aprendo, pratico,
erro, aprendo mais, erro ainda mais e escrevo. Se o pequeno Dante soubesse o quanto ele tem me proporcionado em
termos de crescimento pessoal desde que nasceu…
Mas uma coisa que eu vejo bastante é a escassez em textos falando de termos práticos, ou mais descomplicados,
sobre a disciplina positiva. É claro que ler o livro Disciplina Positiva, da Jane Nelsen, já ajuda muito nesse
entendimento, mas ainda assim, principalmente em blogs, eu nunca fui de encontrar coisas tão fáceis para ler e
refletir. E foi bem nesse sentido que eu pensei na minha apresentação para o Encontro da Maternagem Consciente,
bem como para os futuros posts que planejo escrever aqui no blog. Então, aguarde por uma série de posts bem
bacanas sobre a disciplina positiva!
Antes de qualquer coisa, é muito importante esclarecer que aqui não estamos falando em métodos ou estratégias
para termos as soluções de todos os nossos problemas. Quando falamos em disciplina positiva, não falamos em
fórmula mágica. O que fazemos aqui é discutir como enxergar os nossos filhos e como pensar na relação que temos
com eles de uma maneira diferente. À medida que começamos a avançar nessas reflexões, a disciplina positiva passa
a fazer muito mais sentido, assim como todas as ferramentas que podemos utilizar para educar nossos filhos de
maneira respeitosa e afetiva, através do nosso vínculo.
Como esse post é apenas para iniciar nossas conversas sobre disciplina positiva, acho interessante começarmos
falando sobre o que a disciplina positiva não é. Prepare para mandar esse texto para todas aquelas pessoas que
costumam dizer que fazemos exatamente aquilo que a disciplina positiva não é!
Em primeiro lugar, disciplina positiva não é permissividade. As pessoas costumam pensar que nós, pais e mães,
que utilizamos a disciplina positiva na relação que temos com os nossos filhos somos, na verdade permissivos. Elas
acham que nós, obrigatoriamente, deixamos nossos filhos fazerem o que quiserem, na hora que bem entenderem, e da
maneira deles. Mas isso está longe de ser verdade.
A verdade é que existe a disciplina autoritária e a disciplina permissiva. São os dois extremos. Em um, você tole,
pune e agride seu filho. Em outra, você o deixa fazer o que bem entender. Eu acho que todos nós concordamos que
nenhum desses dois caminhos é o melhor caminho, não é mesmo? Mas isso também não significa que nós só temos
essas duas alternativas para escolher. Tem que haver um meio termo, como tudo na vida. Então, a nossa tarefa é
buscar esse meio termo, encontrar esse lugar ali no meio, onde nós conseguiremos educar nossos filhos de maneira
respeitosa e amorosa.
Esse meio termo existe e tem nome! Chamamos ele de disciplina positiva, mas encontrar esse equilíbrio é um
dos nossos maiores desafios, enquanto pais e educadores, é um trabalho diário buscar esse equilíbrio e enxergar as
situações cotidianas através das lentes da disciplina positiva. O que torna isso realmente difícil é que nós tendemos a
ir sempre de um extremo ao outro: do permissivo diretamente para o autoritarismo. Soa confuso? Se é confuso para
nós, adultos, imagina para os nossos filhos!
Por não conseguirmos encontrar esse meio termo, acabamos variando constantemente de um extremo para o
outro. E essa situação combinada, além de ter os pontos negativos de cada extremo, também causa uma sensação de
instabilidade extrema para a criança, que nunca sabe o que esperar dos pais. A criança, que tenta buscar as ligações
entre suas ações e reações de seus pais, nunca consegue chegar a uma conclusão, porque a reação pode ser
extremamente permissiva em um dia, mas extremamente punitiva no outro.
Vamos tentar pensar agora em um exemplo, e tente recordar se algo parecido já aconteceu com você, ou com
alguém que você conheça: está na hora do jantar e o filho pede para ver desenho na TV para o pai. Ele, então, pensa
em como o filho brincou pouco naquele dia e decide responder:
– Claro, meu amor, pode assistir o quanto quiser. Quando você tiver fome, nós iremos jantar.

No dia seguinte, o filho decide pedir a mesma coisa, na hora do jantar. Só que dessa vez, o pai tem uma reação
bastante diferente, porque sente várias emoções ao mesmo tempo: ele sente que está sendo abusado pelo filho e que
deve impor limites, sente-se cansado também de um dia exaustivo de trabalho e, sem paciência alguma, grita:
– Claro que não! Que menino preguiçoso, fica aí o dia inteiro na frente da TV e não faz nada! Vá brincar de
alguma coisa útil, e só depois que você jantar o prato todo!
Horas depois, esse pai sente-se muito mal por ter gritado daquela forma e ter feito o filho chorar, pensando então
que talvez, da próxima vez, para compensar a grosseria, ele deixe o filho assistir TV, o quanto quiser.
Você consegue perceber que, como ele não consegue achar esse meio termo da disciplina positiva, ele tende a ir
de um extremo ao outro, como forma de compensar o que ele não gosta do último comportamento autoritário (ou
permissivo) que teve. E assim o estresse do jantar, nesse exemplo, entra em um ciclo vicioso: o pai não sabe como ter
uma noite tranquila com o filho e o filho não sabe o que esperar do pai.
Soa familiar?
A segunda coisa que podemos falar é que a disciplina positiva não é uma educação sem limites. Muitas, mas
muitas pessoas criticam a disciplina positiva dizendo que é um absurdo criar filhos sem limites, e que eles serão
adultos irresponsáveis ou delinquentes. Dizem que a nossa juventude está perdida porque todos esses jovens foram
criados sem limites. Eu concordo que uma criação sem limites tenha um efeito negativo na formação do indivíduo,
mas calma, que disciplina positiva ensina, sim, limites. E a grande diferença de toda a disciplina positiva para as
outras formas de educar filhos é, na verdade, algo muito simples: nós ensinamos limites aos nossos filhos, mas
respeitando a dignidade dos nossos filhos ao longo do caminho. Afinal, eles são tão seres humanos quanto nós.
De tempos em tempos, precisamos entoar o mantra: é possível ensinar limites sem gritar, bater, punir ou
humilhar. Porém, à medida que nos empoderamos e conhecemos mais sobre a disciplina positiva, sobre os nossos
filhos e sobre nós mesmos, temos cada vez mais certeza de que esse mantra é a mais pura verdade.
Na disciplina positiva, nós buscamos ser firmes e gentis. Enquanto que, na disciplina autoritária, somos firmes
em excesso, na disciplina permissiva somos gentis em excesso. E assim como comecei esse post, preciso dizer
novamente que o equilíbrio, como sempre, é a resposta para o dilema. Se combinarmos firmeza e gentileza, teremos o
ponto ótimo para conviver e educar nossos filhos.
Ser gentil significa ter respeito aos nossos filhos: porque precisamos respeitá-los enquanto indivíduos, respeitar
suas necessidades e aceitar suas condições intrínsecas. Complementarmente, ser firme significa ter respeito à situação
como um todo e às necessidades das pessoas envolvidas nesta situação, ou seja, passamos a levar em conta não só as
necessidades das crianças como as necessidades de outras pessoas que estejam envolvidas em uma situação específica
onde tenderemos a ser mais permissivos ou autoritários.
__________
A Grande Sacada da Disciplina Positiva
Há um tempo atrás, iniciei uma série de posts dedicada exclusivamente à Disciplina Positiva. Minha intenção é
aprofundar bastante nesse tema, que ainda pode ser confuso para muitas mães e pais. Então, se você ainda não leu o
primeiro post da série, pode dar uma olhadinha em Disciplina Positiva: Primeiros Passos para entender alguns
conceitos básicos que são fundamentais para a Disciplina Positiva.
Mas qual é a grande sacada da Disciplina Positiva? O que faz dela uma maneira tão diferente de educar filhos?
Eu pretendo abordar o que é o ponto fundamental de toda a Disciplina Positiva, que algumas pessoas chamam de
regra de ouro da Disciplina Positiva:
Faça com os seus filhos o que você gostaria que fizessem com você.
Quando meu filho tinha um pouco mais de um ano, fomos vistar uma festa que estava acontecendo em uma
escola Waldorf perto da nossa casa. Nós já namorávamos com essa escola e com a pedagogia Waldorf há algum
tempo.
Era noite e havia sido um dia bastante cheio para ele, com muitas atividades e pouquíssimo descanso, então
sabíamos que ele poderia ficar irritado a qualquer momento, por estarmos em uma festa de noite. Sabíamos que
poderia ser algo desafiador, mas fomos ainda assim porque queríamos muito conhecer mais a escola, as pessoas e a
pedagogia.
Lá pelas tantas, Dante resolveu que queria subir uma escada dentro da escola, mas essa escada ficava fora do
local onde estava acontecendo a festa e, obviamente, a escada era perigosa para um bebê que ainda não tinha
habilidade suficiente para ficar subindo e descendo escadas sozinho. Assim, falei com ele:
– Filho, não pode subir a escada, vamos brincar aqui embaixo.
Ele olhou para mim por alguns instantes e subiu uns degraus. Peguei ele no colo e disse:
– Filho, só pode brincar aqui embaixo, a escada é perigosa.
Não preciso nem dizer que ele não gostou e reclamou bastante, né? Pois passaram-se alguns minutos e ele voltou
para a escada, tentando subir de novo. Lembrei a ele que não podia subir e, mais alguns instantes depois, lá foi ele
tentando mais uma vez.
As opções que se apresentam para nós, em momentos de conflito.
Nesse momento, eu tinha alguns caminhos para escolher: deixar ele ir, já que insistiu tanto e deseja tanto subir na
escada. Ou brigar com ele e tirá-lo da escada sem muita conversa. Ou ainda tirá-lo da escada, reafirmando o limite,

mas com gentileza. São em momentos como esse que podemos fazer a diferença, porque é através do modelo que nós
ensinamos aos nossos filhos conceitos tão importantes como respeito e afeto.
Sendo assim, tirei meu filho da escada, lembrando que ali não era seguro, mas que poderíamos brincar de outras
coisas. Dessa vez, ele foi dominado por uma frustração sem tamanho, pelo fato de não conseguir fazer o que queria.
Se jogou no chão, berrando e chorando, como se eu tivesse feito uma grande barbaridade contra ele. Mas, pensando
bem, eu fiz mesmo uma barbaridade. Pelo menos ao entender dele, eu estava fazendo uma grande barbaridade de não
deixá-lo fazer o que ele queria e, por isso, ele estava sendo dominado por uma onda de sentimentos negativos.
Aqui, mais uma vez, eu tinha algumas opções: eu poderia brigar com ele, por estar fazendo birra e manha. Ou
poderia acolher seus sentimentos negativos, ajudando-o a entender que eu estava ali por ele, para o que ele precisasse.
Todos nós sabemos que, em momentos como esses, muitos bebês e crianças acabam recebendo de seus pais
punições como resposta a uma crise emocional. Elas são castigadas ou até agredidas fisicamente, e essa é justamente a
maior contradição que existe na disciplina autoritária, porque se nossos filhos já estão passando por uma situação
ruim, porque temos que fazer com que ela seja ainda pior? Jane Nelsen, autora do livro Disciplina Positiva, sempre
faz uma pergunta que deixa qualquer pai e mãe pensativo:
De onde tiramos a ideia maluca de que para fazer nossos filhos fazerem o melhor, precisamos fazer com que
eles se sintam pior? Jane Nelsen
Realmente, isso não faz o menor sentido.
É exatamente aqui que se encaixa a regra de ouro da disciplina positiva: faça com os seus filhos o que você
gostaria que fizessem com você. Eu, e imagino que você também, sempre que estou para baixo, porque alguma coisa
deu errado, gostaria que alguém me ajudasse a erguer meu ânimo, e não alguém que me colocasse ainda mais para
baixo. Então, provavelmente não seria nada positivo se alguém chegasse para mim, em tom de sermão:
– Isso aconteceu porque você provocou essa situação!
– Ah, mas se você não fosse tão irresponsável, isso não teria acontecido.
Eu realmente não gostaria nem um pouco de ouvir algo desse tipo, numa situação dessas. Então porque tem que
ser diferente para os nossos filhos?
E então, o que seria disciplina positiva? Qual seria então a grande diferença da disciplina positiva para as
outras maneiras de educar filhos?
A Disciplina Positiva se baseia no ensinar através do respeito, da empatia, do afeto e do vínculo. Buscamos, na
Disciplina Positiva, ajudar nossos filhos a desenvolver sua auto-disciplina, aos poucos, fazendo com que eles tenham
as ferramentas necessárias para decidir se devem fazer algo ou não. Saber diferenciar o certo do errado de acordo com
os seus próprios valores é a chave. A vontade e decisão dos nossos filhos têm que vir de dentro, e não de fora.
Por isso, só em ambiente de amor incondicional e respeito mútuo é que nossos filhos serão capazes de
desenvolver essa habilidade de agir conforme seus valores construídos. Isso tudo pode parecer bem óbvio, mas o que
acontece hoje em dia é que temos crianças que, infelizmente, só agem em função de fatores externos. Elas utilizam
essas perguntas como formas de conduzir um processo decisório:
– Qual a punição que vou receber se não fizer isso?
– O que vou receber como recompensa se eu fizer isso?
É esse o tipo de adulto que nós desejamos que nossos filhos se tornem? Com certeza não é o que eu quero para o
meu filho e não acredito que você irá discordar de mim.
Até o próximo post da série! Comentem o que vocês estão achando da série, o que está faltando, ou o que vocês
gostariam de ver por aqui!
__________
Qual o Foco da Disciplina Positiva?
Pensar na disciplina positiva nos leva mesmo a repensar as nossas relações com os nossos filhos. Nos meus
últimos textos, começamos a falar sobre as diferenças entre disciplina positiva, autoritária e permissiva. Neste texto,
eu gostaria de me aprofundar um pouco mais nessas diferenças e refletir em como isso afeta as nossas relações com os
nossos filhos. Além disso, vamos tentar entender qual é o foco de cada uma dessas maneiras de educar nossos filhos.
Então, se você ainda não leu Disciplina Positiva: Primeiros Passos e A Grande Sacada da Disciplina Positiva,
corre lá que eu espero você terminar de ler!
A principal diferença da disciplina positiva para a disciplina autoritária, ou para a permissiva, é a maneira como
olhamos para a nossa relação com os nosso filhos e, também, qual o objetivo que temos em mente com tudo isso. Por
exemplo, se olharmos para a nossa relação com um objetivo a curto prazo, então, uma educação punitiva pode ser
realmente melhor para você. Mesmo que seja apenas melhor para você, não para o seu filho.
Um dos recursos mais utilizados na disciplina autoritária é a punição. A punição, a curto prazo, pode mesmo
funcionar! Ou seja, se você tem o objetivo de interromper um determinado comportamento imediatamente, a punição
será eficiente porque age no comportamento. Mas nós estamos falando de criar filhos, então não podemos pensar a
curto prazo.
As relações que desejamos construir com eles deveria ser para a vida toda, então temos nossas vidas inteiras pela
frente e gostaríamos de alimentar vínculos que sejam fortes e duradouros com os nossos filhos. E é justamente por
isso que precisamos pensar no longo prazo.

Sempre que o meu filho apresenta algum comportamento que eu não gosto, tento pensar nos efeitos dele a longo
prazo, para me ajudar a não só me acalmar, mas também para tentar identificar qual a melhor resposta que eu poderia
dar.
Por exemplo, quando o Dante estava em uma fase de jogar arroz no chão, durante as refeições, por mais que eu
sentisse o sangue ferver com esse tipo de atitude, eu tentava me acalmar pensando no que seria esse arroz jogado no
chão, considerando a vida toda que tenho pela frente com meu filho.
Será que se eu não gritar e bater no meu filho, ele vai jogar arroz no chão para o resto da vida? Acho que não.
Mas eu poderia ensinar a ele que quando o arroz cai, o chão fica sugo e precisamos limpá-lo. E se eu ensinar que é
normal que derrubemos as coisas, de vez em quando? Se eu mostrar a ele que as nossas ações têm consequências
naturais e lógicas, ao invés de punitivas, qual seria o impacto disso ao longo da vida do meu filho?
Qual o impacto disso na autonomia do meu filho? Como será a auto-estima dele, se eu gritar com ele toda a vez
que ele derrubar arroz no chão? A refeição, que já pode ser um momento tenso, dependendo de como conduzimos a
situação, pode ser um momento ainda de muito medo e stress, se ele estiver do lado de um pai que grita por cada grão
de arroz no chão.
Claro, é muito difícil segurar nossos impulsos e controlar nossa própria frustração. Depois de um dia cheio,
ainda ter que lidar com comida jogada no chão é um desafio e tanto. Ainda mais se formos permissivos e
simplesmente limparmos o chão sempre que nossos filhos jogarem comida nele. Ser permissivos também nos
sobrecarrega, por isso que podemos envolver nossos filhos nessas situações, para que eles aprendam as consequências
naturais de suas ações (como arroz no chão e limpar o chão sujo) e nós não precisemos nos sobrecarregar ainda mais
limpando tudo. A limpeza passa a ser uma atividade coletiva e de conexão!
E é por isso que é tão importante mudar a maneira de pensar a educação dos nossos filhos. O “normal” é reagir
ao comportamento, como se devêssemos sempre dar algum tipo resposta a um comportamento, e essa resposta
normalmente tem um caráter punitivo/corretivo. Mas enquanto nós estivermos apenas reagindo ao comportamento,
estaremos sempre arranhando a superfície. Quando nós nos focamos no comportamento, deixamos de ver o que está
por trás daquilo, das necessidades não atendidas dos nossos filhos, e dos sentimentos com os quais nossos filhos
realmente precisam da nossa ajuda.
Um comportamento que não nos agrade ocorre porque algo não está certo com a criança. Existe alguma
necessidade não atendida, um sentimento grande demais para nossos pequenos filhos lidarem e o “mau
comportamento”, muitas vezes, é a única maneira que eles têm de extravasar esses sentimentos negativos. É um grito
de ajuda, não um pedido de correção. Não devemos punir quem está pedindo ajuda.
Quando pensamos em disciplina positiva, não estamos tentando corrigir um problema, tampouco estamos
tentando consertar um comportamento. Vai além, porque estamos tentando ajudar nossos filhos a desenvolver a
capacidade de descobrir por si próprios o que é certo e errado, e principalmente a auto-regular suas emoções.
Se uma das maneiras mais poderosas que temos para ensinar nossos filhos é através do modelo, como é que
ensinamos auto-controle de emoções, se nós mesmos somos os primeiros a perder o controle quando eles fazem uma
“mal-criação”?
Claro, existem dias e dias. Dias em que estamos exaustos, cansados e para baixo. E nossos filhos têm uma
capacidade incrível de apertar os botões certos para nos irritar nesses dias. É realmente muito difícil conter a raiva
nesses momentos e, sinceramente, não conseguiremos conter a raiva sempre, porque somos humanos. Só que existe
uma grande diferença entre ser humano e explodir de vez em quando, e usar isso como um método de educação.
Mesmo que nós erremos, e nós vamos errar, sempre teremos a oportunidade especial de corrigir e pedir perdão
aos nossos filhos, ensinando lições ainda mais valiosas sobre a nossa própria humanidade e possibilidade de falhar.
Afinal, não queremos que eles tenham em nós a imagem de pais perfeitos, não é?
__________
Sobre Disciplina Positiva, Limites e Outras Alegrias
Há algum tempo, eu traduzi um texto muito bom, chamado Disciplina Gentil Para Iniciantes: Estabelecendo
Limites. Eu gosto deste texto porque ele apresenta, de uma maneira bem prática, como estabelecer limites, com
diferença de que tudo é feito sob a ótica da disciplina positiva. Na ocasião, a autora conta como foi uma experiência
que ela teve, onde seu parceiro estabeleceu um limite firme com a sua filha, com respeito e empatia.
É sobre esse tema que eu gostaria de falar um pouco mais hoje, sobre essa tarefa aparentemente impossível de
dar limites aos nossos filhos, ao mesmo tempo que criamos com apego e pensamos em disciplina positiva. Este tema,
na verdade, lida diretamente com um dos maiores mitos da criação com apego, mais especificamente da disciplina
positiva: permissividade.
Muitas pessoas – muitas pessoas mesmo – têm um entendimento equivocado de que a criação com apego
promove uma criação permissiva, ainda mais quando se trata de disciplina positiva. As pessoas tendem a pensar que,
se nós desencorajamos palmadas, gritos, punições ou recompensas, então obrigatoriamente nós não damos limites aos
nossos filhos.
Essas pessoas tendem a criticar a criação com apego, dizendo que filhos precisam ter limites. Realmente, nossos
filhos precisam ter limites. Mas, se quem defende a criação com apego e quem a critica concordam que nossos filhos
precisam ter limites, onde está o problema, então?

O problema está nos meios que se usam para estabelecer os limites. Neste contexto, os meios que se utilizam
para um mesmo fim fazem diferença. Os limites podem ser criados, também, com respeito, afeto e empatia. E isso
funciona!
Outra crítica que as pessoas costumam fazer à disciplina positiva é que nós precisamos deixar nossos filhos se
frustrarem com a vida. Essas pessoas dizem que, através da criação com apego, incentivamos uma cultura de super
proteção. E mais uma vez, quem defende e quem critica concordam com a mesma coisa: frustrações são partes
essenciais para a formação de um indivíduo.
A diferença aqui, desta vez, é que a criação tradicional e autoritária tende a minimizar ou subestimar a frustração
da criança. Normalmente, quando se estabelece um limite com uma criança, isso envolve deixá-la com algum grau de
frustração. E quando qualquer pessoa está frustrada, ela precisa de acolhimento, afeto e empatia, não de punição.
É possível quebrar o paradigma de que limites precisam ser estabelecidos de forma violenta ou abusiva, seja
verbal ou fisicamente. É possível educar filhos com afeto, respeito e empatia. É possível quebrar o ciclo de violência.
Esses temas que envolvem a disciplina positiva têm se tornado grandes motivadores para que eu continue
escrevendo, porque eu tenho esperança que esses textos ajudem pessoas a mudar conceitos e agir diferente. Até então,
eu buscava muitos textos em inglês que fossem interessantes sobre o tema e os traduzia aqui, para compartilhar com
vocês, mas a cada dia que passa, a importância da disciplina positiva aumenta na minha vida e na vida da minha
família. Até porque, com um bebê muito pequeno, não há muito o que se fazer em termos de disciplina e então, à
medida que o Dante cresce, a disciplina positiva passa a ser mais perceptível, mais tangível, muito embora seja
bastante desafiadora.
Isso é bom, porque vivendo mais intensamente a disciplina positiva, eu tenho condições de ajudar também com
textos sobre as minhas próprias experiências e exemplos práticos. Como eu sou apenas um pai que conta como está
sendo a sua jornada, o conhecimento prático só vem de acordo com as etapas de crescimento do filho. Por isso que
esse blog é tão orgânico, porque ele carrega na história um pouco de cada etapa de vida de um pai criando com apego.
E, volta e meia, eu recebo uma mensagem bacana de algum pai ou mãe, falando sobre como algum depoimento
meu ajudou a mudar um conceito. Foi assim com J., leitora do blog que me enviou uma mensagem recentemente:
“Olá, Thiago! Passando só para te agradecer. O cantinho do pensamento (aqui optei por chamar de castigo
mesmo) está aposentado há algum tempo, graças ao seu empenho. Agradeço em particular a você, porque eu já havia
lido muito sobre a disciplina positiva, mas sua “insistência” através de bons textos, me estimularam a tentar um novo
caminho. Após a leitura do último texto Disciplina Gentil Para Iniciantes: Estabelecendo Limites, tive, pela primeira
vez, confiança de que estou conseguindo praticar.
A empatia com esse método é muito frequente entre as pessoas que o conhecem, assim como, o sentimento de
incapacidade de praticá-lo. Por isso, sempre que puder nos presenteie com textos básicos e com exemplos práticos
como o último. Eles são esclarecedores e encorajadores.
Até pouco tempo, eu não me sentia confiante em mudar o meu método de educação. Afinal, não dá para arriscar
em algo tão importante. Mas, toda vez que colocava minha filha de castigo me lembrava da sua logo, com o dedo em
riste, direto para mim! E me sentia muito errada! Então, resolvi diminuir a frequência em que usava o castigo e aí
percebi que talvez, poderia ficar sem ele! E a cada texto ou comentário seu que leio me sinto mais encorajada e
capaz! Portanto, obrigada pelo apoio diário!
Como educadora (no momento, exclusivamente da minha filha), sei que quem se dedica a essa área dificilmente
fica rico de dinheiro, mas acredite, o tesouro que está amealhando é muito mais valioso.
Grande abraço e mais uma vez, obrigada!”
Nossa! Caramba! Que mensagem! Que presente! Que tudo!
Eu costumo receber mensagens e comentários de pessoas elogiando meu trabalho, mas poucas pessoas
conseguiram expressar com tanta precisão o que me motiva a sentar e escrever aqui. É muito emocionante saber que
meus textos têm encorajado mães (e pais) a pensar em alternativas para a criação de seus filhos! Isso vale mais do que
qualquer coisa, sabe? Ter consciência de que existe hoje mais uma criança que receberá um cuidado mais respeitoso,
porque sua mãe sentiu-se acolhida e segura para tentar algo diferente não tem preço.
Eu só tenho a agradecer a essa mãe – e tantas outras mães e pais – por esse carinho, porque serve de combustível
para eu continuar escrevendo e falando para as pessoas que o caminho do amor é possível.
Mas eu não quero só agradecer pelo carinho. Eu também quero dar meus parabéns a todas as mães e pais, por
terem tido a sensibilidade de mudar. Porque qualquer um pode ler um texto, mas só aqueles que têm sensibilidade e
humildade podem mudar. E, no final das contas, quem irá agradecer muito serão os nossos filhos, pode anotar.
A única preocupação que eu tenho agora é sobre a logo do meu blog. Eu não quero que ela seja um símbolo de
acusação, fazendo as pessoas se sentindo culpadas! Será que essa é a impressão que vocês têm também? A minha
intenção para essa logo sempre foi no sentido de:
– Opa! Péra lá! Paizinho, uma vírgula! Meu nome é Thiago!
Comentem, critiquem, elogiem, qualquer coisa para me ajudar a fazer desse espaço um lugar sempre acolhedor,
não só pelos textos, mas também visualmente!
__________
Disciplina Gentil Para Iniciantes: Estabelecendo Limites

Há alguns dias, li um texto incrível sobre limites, na visão da disciplina positiva. Um exemplo prático de como
se deve resolver conflitos gerados pelos limites que são necessários de serem estabelecidos aos seus filhos, mas tudo
isso pode (e deve) ser feito de maneira amorosa e com empatia. Esse texto é da Gauri que muito carinhosamente me
autorizou a traduzir o texto. Aproveite também para visitar blog dela: Loving Earth, Mama!
Tem um detalhe muito interessante, porém. Quando pedi autorização para traduzir o texto, recebi algumas
(várias) risadas da Gauri em resposta. O motivo? Gauri é portuguesa e esse era o primeiro pedido que alguém fazia
para traduzir um texto dela para a sua língua nativa. A vida é cheia de surpresas agradáveis!
Meu marido é um doce. Ele é também um crianção (no bom sentido) e AMA brincar com a sua filha. Ele é ótimo
com as brincadeiras imaginárias, com artesanato e (surpreendentemente) em envolvê-la em atividades… Mas ele
geralmente não é tão rápido no quesito disciplina. Eu sou a cuidadora primária e faço a maior parte na criação de
limites, na nossa família. Recentemente, ele estava querendo se envolver mais nesse lado da criação, também.
Ele não lê muito sobre criação, mas concorda que a disciplina gentil, positiva é a melhor alternativa não apenas
porque parece certo para nós, mas porque funciona – e ele vê nossa filha florescendo com essa abordagem. Hoje, eu o
vi aplicar um limite e pensei que era um “livro texto” (em um livro de Connection Parenting – Criação com Conexão,
presumo eu), então eu pensei que eu poderia compartilhar isso, já que é um exemplo tão claro:
 Ele estabeleceu o limite (não andar de scooter dentro de casa). Ele disse isso gentilmente e com
compaixão,mas também firmemente.
 Ele segurou o limite (ele literalmente segurou a scooter e disse “eu não vou deixar você andar com
ela na sala”). Sua linguagem corporal foi clara, também. Isto não iria acontecer (andar de scooter dentro de casa) –
mas ele estava no nível dela, falando com um tom uniforme e pronto para ouvir tanto quanto para “dizer”.
 Ele empatizou com a Nika. Ele ouviu e validou todos os sentimentos dela pelo período que ela
precisava para expressá-los – toda a sua raiva e tristeza sobre esse limite e não podendo fazer a coisa que estava
pronta para fazer. A maioria dos seus sentimentos ela expressou através do choro. (Ele disse coisas como: “eu
posso ver que você realmente queria andar de scooter aqui. Parece muito mais divertido, né? Mas não é seguro.
Você poderia escorregar ou poderia arranhar nosso novo piso de madeira, ou você poderia passar por cima de um
dos seus brinquedos… Você pode andar lá fora sempre que quiser. Apenas peça e você poderá andar de scooter no
pátio”. Ele continuou nessa linha – embora, de maneira geral, ele tenha ouvido MUITO mais que falado)… Ele
também abriu espaço para negociação e comprometimento. Ele respondeu a todas as perguntas dela e no final
concordou em um compromisso, ela pode andar de scooter sentada (sugestão dela) bem devagar e
cuidadosamente, ela irá ajudar a limpar o chão antes de andar, se houver “detritos no chão” mas ela não pode
andar no quarto. Andar de scooter está estabelecida agora como uma atividade ao ar livre em nossa família.
Para mim, esta é a simples fórmula para criar limites amáveis:
 estabeleça o limite
 segure o limite, firme mas gentilmente
 escute e seja empático com tudo que surgir com o seu filho em reação ao limite
E você pode usar essa fórmula para qualquer limite que você precise estabelecer, desde “não bata ou morda” até
“sim, mamãe precisa mesmo sair agora” e se possível, você fica com eles o tempo necessário até que eles “digam”
para você (normalmente em lágrimas) o quanto aquilo é uma droga para eles, ou quão tristes ou com raiva eles estão.
E pessoalmente eu acho que assim que este processo estiver concluído, todos nós vamos nos sentir mais próximos uns
aos outros e prontos para “reagrupar o cardume” novamente, cooperar e mover-se juntos como uma família. Eu posso
sentir isso em mim e ver isso no comportamento da minha filha, enquanto que ela se torna invariavelmente mais livre,
confidente e empenhada.
— — —
Eu compartilho isso sabendo que castigos são a escolha do momento. E eu entendo que de muitas maneiras os
castigos são mais fáceis e têm “efeitos” visíveis mais imediatos, entretanto eu não acho que castigos são a melhor
escolha a longo prazo. Eu espero que você considere o “amor amável” como uma das (muitas) alternativas eficazes
aos castigos. E para qualquer um que estiver imaginando, aqui estão alguns artigos que realmente entram em todos os
pontos negativos dos castigos:
 http://www.alfiekohn.org/parenting/supernanny.htm
 http://www.ahaparenting.com/parenting-tools/positive-discipline/timeouts
 http://www.parenting-with-love.com/do-time-outs-make-children-behave-better/
 http://genevievesimperingham.com/what-does-a-child-learn-when-theyre-put-in-time-out/
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Comunicação Não-Violenta: Como Ela Pode Ajudar Você e Seu Filho
Eu gostaria de conversar sobre um tema que não é tão conhecido aqui no Brasil, mas que é uma das noções mais
fortes de disciplina positiva que existe e, portanto, está dentro do que propõe a Criação com Apego: a Comunicação
Não-Violenta.
Eu tive contato com a CNV (Comunicação Não-Violenta) pela primeira vez quando estava fazendo meu
processo de certificação para líder API. Dentre todos os livros que eu precisaria ler, ele estava lá: Comunicação Não –
Violenta – Técnicas para Aprimorar Relacionamentos Pessoais e Profissionais de Marshall Rosenberg. Na verdade,

eu li primeiro a versão em inglês, que tem o título de Nonviolent Communication: A Languageof Life. Agora, vamos
combinar que o título em inglês é infinitamente mais adequado do que o título traduzido. Chamar a CNV de
“linguagem da vida” é a melhor definição que se pode dar, enquanto que, pelo menos para mim, “técnicas para
aprimorar relacionamentos” certamente não seria algo que me faria comprar um livro, se eu esbarrasse com ele em
alguma livraria antes de conhecê-lo.
E, enquanto lia, ficava cada vez mais fascinado com a proposta da CNV, que justamente extrapola o limite da
comunicação. Entender e praticar a CNV é um convite para olhar para dentro e para o outro, mas com outros olhos.
Olhos de empatia e compaixão.
Mas, infelizmente, CNV não é algo tão conhecido aqui no Brasil. E conhecer a CNV certamente me fez ser um
pai melhor, marido melhor, líder de grupo de apoio melhor, enfim, um ser humano melhor. Por isso que sempre tive
essa vontade imensa de escrever sobre CNV aqui no blog, mas nunca consegui porque sempre quis que fosse um post
perfeito e completo, até me dar conta que eu não precisava disso e nunca ia conseguir fazer isso. Então, aqui você vai
encontrar um pouco do que é a CNV, como ela pode ajudar no seu relacionamento com o seu filho e, principalmente,
um convite para ler esse livro incrível.
Um Pouco De História
Eu sei, eu sei. Eu também não gosto de história e tenho péssima memória para guardar “fatos históricos
interessantes”, mas acho muito importante falar brevemente do contexto do autor e da CNV. Prometo ser rápido!
Marshall Rosenberg é um psicólogo americano que reflete sobre o que nos leva a nos comportarmos de maneira
violenta e, por outro lado, o que nos mantém conectados à nossa natureza compassiva. Essas questões começaram já
na infância dele, quando sua família se mudou para Detroit e, logo depois, um conflito racial explodiu. Muitas pessoas
foram mortas e, quando os conflitos diretos terminaram, ele percebeu que algo havia mudado. Ele sentiu a
descriminação racial na pele por ser judeu: era jogado no chão e chutado, por causa do sobrenome que ele tinha.
Quando se tornou psicólogo, Marshall continuou estudando o papel da comunicação e qual o peso que as
palavras tinham. Como uma abordagem para promover o respeito, atenção e empatia, ele criou a CNV que busca uma
entrega mútua de coração entre as pessoas. Ao longo das décadas, Marshall utilizou a CNV para auxiliar comunidades
de países que viviam situação de guerra ou conflitos religiosos e, conforme seus relatos no livro, a CNV sempre
ajudou imensamente as pessoas dessas comunidades.
O Que É CNV?
Antes de entrarmos a fundo em o que sugere a CNV, é muito importante frisar aqui que não se trata de uma
técnica de linguagem, nem um conjunto de técnicas para comunicação. A CNV vai muito além disso, pois abrange um
estado de consciência em que a compaixão floresça entre as pessoas, através da comunicação.
Dito isto, a CNV se baseia em quatro componentes, que habitam um diálogo entre pessoas:
 observação;
 sentimento;
 necessidades;
 pedido.
Expandindo esses componentes, podemos ter algo assim:
 observamos o que está acontecendo de fato. Sem julgamentos e sem juízo de valores. Apenas uma
declaração do que estamos observando que pode (ou não) ter nos agradado;
 identificamos e nomeamos o que estamos sentindo em relação ao que observamos. Ou seja, falamos
que estamos nos sentindo frustrados, alegres, magoados, irritados, dentre outros;
 informamos as nossas necessidades, valores e desejos que estão conectados aos sentimentos que
nomeamos anteriormente. Em outras palavras, quais são as necessidades que nos fizeram nos sentir daquela
maneira;
 pedimos que determinadas ações concretas sejam realizadas, de forma a atender nossas necessidades.
Lendo assim, pode até parecer fácil praticar a CNV. Mas acredite, não é. Para você conseguir atingir este nível
de consciência na comunicação, é necessária muita dedicação, prática e, principalmente, vontade do coração.
Observação
Quando combinamos observação com avaliação, as pessoas tendem a receber isso como crítica. – Marshall
Rosenberg
Um dos maiores desafios da CNV é a observação sem julgamento. Apesar de todos nós concordarmos que não
devemos julgar uns aos outros, fazer isso na prática é muito difícil. Na maioria das vezes, nós não percebemos, mas
nossos discursos sempre recebem injeções de julgamentos e avaliações, impedindo que um canal de comunicação
compassivo e empático seja criado entre as pessoas.
Do outro lado, está a pessoa que está recebendo o julgamento e, sempre que uma pessoa sente a menor pitada de
julgamento em relação a ela, a tendência é dessa pessoa se armar e ficar na defensiva, bloqueando a compaixão e
empatia que estamos buscando.
A seguir, você pode encontrar alguns exemplos de declarações com julgamento e, em seguida, as mesmas
declarações sem julgamento:
– Você é bagunceiro, olha a bagunça que sempre está no seu quarto.
– Você nunca ajuda em casa.

– Você é preguiçoso, tem um monte de dever de casa para fazer.
Quando você faz declarações como esta, você está atribuindo valores às pessoas. Se tentarmos reformular estas
sentenças e remover o julgamento, elas poderiam ficar assim:
– Seu quarto está bagunçado.
– Você não ajudou a manter a casa limpa nem ontem, nem hoje.
– Você não fez seu dever de casa.
Além do julgamento, comparações costumam ser igualmente prejudiciais a qualquer julgamento. E, se olharmos
para os nossos filhos, comparar é o que mais fazemos com eles, mesmo quando eles ainda são bebês.
Sentimentos
Expressar nossa vulnerabilidade pode ajudar a resolver conflitos. – Marshall Rosenberg
Assim como observar sem julgar, identificar e nomear nossos sentimentos não são tarefas fáceis porque passa
por lugares que a maioria de nós desejamos distância:
 assumir responsabilidade pelos nossos sentimentos;
 demonstrar vulnerabilidade.
Sobre a responsabilidade pelos nossos sentimentos, irei detalhar isso no próximo tópico. Mas e quanto a
demonstrar vulnerabilidade? Por que isso é algo que devemos evitar ao máximo? Quando expomos nossos
sentimentos, estamos sendo os mais sinceros possíveis em nossa comunicação. Por algumas pessoas, isso pode ser
interpretado como vulnerabilidade, mas na verdade, são apenas os seus sentimentos.
Outra dificuldade muito grande dentro da CNV, que diz respeito aos nossos sentimentos, é que, muitas vezes,
nós achamos que estamos falando como estamos nos sentindo, mas na verdade não estamos. Veja os exemplos:
– Eu sinto que o meu bebê é muito agitado.
– Eu sinto como se estivesse criando um filho sozinha.
– Sinto que tudo isto é inútil.
Todos os exemplos acima não dizem sobre o que as pessoas estão sentindo mas, na verdade, dizem sobre o que
as pessoas pensam sobre elas ou sobre outras pessoas. O simples fato de ter a palavra “sentir” no meio da sentença
não garante que você está falando de um sentimento. Na verdade, quando existe a palavra “sentir” na sentença, é bem
provável que você não esteja falando de sentimentos reais.
Veja uma lista de algumas palavras que são sentimentos e que podem ser empregadas quando alguma
necessidade sua não é atendida:
aflito desapontado
angustiado exauso
assustado furioso
brao impacente
cansado incomodado
chateado irritado
confuso magoado
culpado preocupado
deprimido triste
Tente se expressar usando alguns desses sentimentos, e você perceberá que todo o tom da conversa muda!
Necessidades
Quando expressamos nossas necessidades, temos mais chance de vê-las satisfeitas. – Marshall Rosenberg
Todos nós temos necessidades e valores que nos dizem como nós devemos encarar a vida e o que devemos
esperar dela e das pessoas. Isso está intimamente ligado com os nossos sentimentos e, como mencionei no item
anterior, precisamos assumir responsabilidade pelos nossos sentimentos.
Quando eu falo em assumir responsabilidade pelos nossos sentimentos, eu quero dizer que, muitas vezes, nós
atribuímos os nossos sentimentos como sendo de responsabilidade de outras pessoas. Na realidade, nossos
sentimentos existem em função das necessidades e valores que possuímos. As pessoas, por sua vez, podem (ou não)
atender nossas necessidades e valores, desencadeando os nossos sentimentos.
Este é um tema bastante confuso, então vou usar alguns exemplos aqui para facilitar o entendimento:
– Você me desapontou ao não aparecer na noite passada.
Neste exemplo, uma pessoa diz que seu desapontamento é culpa da outra pessoa, que não apareceu. Compare
agora com essa versão alterada da mesma pessoa desapontada, mas que agora assume a responsabilidade dos seus
próprios sentimentos:
– Fiquei desapontado quando você não apareceu, porque eu queria conversar a respeito de algumas coisas que
estavam me incomodando.
Agora, vamos para um exemplo que está mais dentro da nossa realidade de pais e mães:
– Fiquei muito irritado porque você bagunçou seu quarto.

Quem nunca disse ou pensou em dizer algo parecido? O problema deste discurso é que ele culpa o filho por estar
sentindo-se irritado, e isso não é uma verdade. Perceba a diferença quando a sentença é alterada, para que o pai ou
mãe assuma a responsabilidade por seu sentimento:
– Fiquei muito irritado quando vi o quarto bagunçado, porque eu preciso de um mínimo de organização e
ordem na casa para me sentir confortável.
Essa mudança de foco pode parecer banal, mas não é. Quando nós assumimos os nossos sentimentos, passamos a
refletir de maneira diferente sobre os nossos sentimentos e, principalmente, nossas necessidades. Desse modo,
deixamos de culpar os outros (principalmente os nossos filhos) pelo que estamos sentindo. Este não é um processo
nada fácil, mas extremamente reconfortante, quando atingido.
Pedido
É comum não termos consciência do que estamos pedindo. – Marshall Rosenberg
Uma das maiores dificuldades de todos nós é fazer um pedido. Isso acontece porque, muitas vezes, nós sequer
sabemos aquilo que desejamos pedir. E por que isso? Não deveria ser fácil nós sabermos o que queremos? Seria, se
nós seguíssemos a linha de pensamento da CNV.
Se pensarmos que nós temos necessidades ou valores e o atendimento (ou não) dessas necessidades desencadeia
sentimentos em nós, temos a oportunidade de fazer pedidos que tendem a enriquecer nossas vidas. Mas se nós não
identificamos as nossas necessidades antes, só focamos em nossos sentimentos e no julgamento dos outros, então fica
quase impossível identificar aquilo que realmente queremos pedir.
Além disso, existe uma grande diferença entre pedido e exigência. A diferença básica entre pedido e exigência é
que na exigência, as pessoas percebem que serão culpadas ou punidas por não atenderem àquela demanda. E,
obviamente, quando uma pessoa ouve uma exigência, as chances de que ela receba aquilo abertamente e atenda com o
coração são remotas.
Se conseguirmos identificar nossas necessidades, ligando-as aos nossos sentimentos, é mais fácil fazer um
pedido sincero e consciente. Porém, isso não é tudo, porque temos que fazer pedidos claros e objetivos às pessoas,
principalmente aos nossos filhos. Por exemplo, pedidos realizados através de uma linguagem positiva são muito mais
fáceis de entender do que pedidos realizados através de um discurso negativo. Em outras palavras, é bem mais
simples entender o que uma pessoa quer que nós façamos, ao invés do que ela não quer que façamos.
A Escuta Empática
Empatia: esvaziar a mente e ouvir com todo o nosso ser. – Marshall Rosenberg
E como a comunicação tem duas vias, o nosso desafio é nos comunicar através destes componentes mas,
também, ouvir de maneira empática através dos mesmos componentes. Essa é a chamada escuta empática.
Eu já falei muito sobre empatia aqui no blog, mas quando eu falo em escuta empática, eu falo em receber com
empatia. Dentro da CNV, ouvir com empatia é fundamental para que o vinculo empático seja estabelecido pela
comunicação. Empatia é a compreensão respeitosa do que os outros estão vivendo, é se colocar no lugar do outro.
Mas, muitas vezes, nós acabamos nos preocupando mais em dar conselhos, encorajar, ensinar ou contar nossas
próprias experiências quando que, na verdade, não se trata de nós. Na verdade, trata-se do outro.
Essa urgência de aconselhar e ensinar acaba se tornando ainda mais intensa quando são nossos filhos falando de
seus sentimentos para nós. Não que nós tenhamos má intenção, mas talvez a falsa impressão de que nós sabemos de
tudo aliada com o nosso maior inimigo de querer proteger nossos filhos de tudo é o que nos faz muitas vezes desligar
a escuta empática com os nossos filhos.
Para receber com empatia, precisamos esvaziar a mente e estar ali pelo outro. Precisamos estar ali para ajudar o
outro, tentando identificar suas necessidades e sentimentos, oferecendo compaixão e acolhimento. Não é fácil, mas
quando duas pessoas conseguem se comunicar empaticamente, dando e recebendo com empatia, algo muda. É como
se o tempo parasse, como se a atmosfera ficasse mais leve. É quase como se fosse uma experiência espiritual. Eu sei
disso, porque já vivi alguns momentos desses com a minha esposa.
Em Resumo
A CNV não mostra apenas um método de comunicarmo-nos uns com os outros. É mais do que isso, é uma
maneira de enxergar a vida e as nossas relações com outras pessoas, através da empatia e da compaixão. E isto é
basicamente o que a Criação com Apego propõe que façamos com os nossos filhos, por isso que a CNV dentro de
casa, com nossos filhos e parceiros(as) é tão fundamental.
Você pode ter achado esse post gigantesco (e com certeza é), mas garanto a você que ainda tem muito mais do
que isso. Leia o livro de Marshall Rosenberg, procure por outros grupos que pratiquem a CNV, converse com seus
parceiros(as) e pratiquem já com os seus filhos. Tenho certeza que as coisas irão mudar para melhor.
Se existe uma coisa que posso afirmar aqui é que viver a CNV não é fácil. Requer um exercício constante de
avaliação de como estou me comunicando e me relacionando com as outras pessoas. É uma prática diária, mas que
vale muito a pena. A CNV tem me ajudado muito não só enquanto pai e marido, mas também enquanto moderador
dos grupos de Facebook que participo e, principalmente, como líder de grupo de apoio.
Mas a coisa não para por aí. Um dos maiores presentes que a CNV nos dá é a possibilidade de nos conectarmos
com nós mesmos, compassivamente: a autocompaixão.
Quando conseguimos olhar para dentro e nos perdoar, em vez de nos julgar e criticar, temos a oportunidade
única de avaliar nossos comportamentos em função das nossas próprias necessidades e dos sentimentos que vêm

disso. Se passarmos a avaliar nossas ações com base nos nossos valores e necessidades, ao invés do “porque tenho
que fazer” ou de sentimentos como culpa e vergonha, poderemos, então contribuir genuinamente para a melhoria do
nosso bem-estar e dos outros também.
Quando escutamos a nós mesmos com empatia, percebemos o inevitável: somos humanos.
__________
O Poder da Empatia – Um Relato Sobre Como Ajudar Nossos Filhos em Momentos
Difíceis
Eu sei que o conceito de empatia é ainda um conceito muito confuso para muitas pessoas. Eu mesmo, antes de
mergulhar de cabeça na criação com apego, tinha uma visão míope do que seria empatia. Um bom exemplo de que as
pessoas ainda não conhecem exatamente o significado de empatia é que muitas delas confundem simpatia com
empatia.
Mas o que seria empatia, então? Eu costumo escrever bastante sobre empatia aqui no blog, como no post Três
Coisas Que Eu Aprendi Nesse Primeiro Ano de Paternidade, mas não custa nada relembrar: empatia é a capacidade de
se colocar no lugar do outro. Ser empático é tentar sentir o que o outro está sentindo, e quando isso acontece, as duas
pessoas se conectam a um nível tão profundo, as pessoas envolvidas se beneficiam tremendamente dessa experiência.
Só que empatia não para aí, porque à medida que você vai praticando, principalmente com o seu filho, você se
esforça para entender o que ele está passando e se coloca no lugar dele para sentir as dificuldades que ele está
passando. E então, você será capaz de enxergar que talvez ele esteja um pouco mais grudado por causa de um dente
nascendo, ou um salto de desenvolvimento, ou porque está inseguro devido a alguma mudança na rotina.
E só depois de exercitar muito a empatia no dia a dia, a ficha cai: empatia trata de validar o sentimento do outro.
Reconhecer que o sentimento do outro é real, válido e importante. No momento que você reconhece a dificuldade de
alguém, você cria um vínculo com a pessoa. Ela passa a se sentir entendida e, às vezes, isso é o suficiente para ajudá-
la. Muitas vezes, elas só querem ser ouvidas e ter seus sentimentos validados.
Mas até aí, tudo o que eu falei pode ainda ser muito abstrato, ainda mais se nós somos das pessoas que acham o
conceito de empatia um pouco confuso. Por isso, resolvi escrever este texto que, na verdade, é um relato de uma
experiência muito especial que eu tive, com uma bela menina de 3 anos, filha de uma amiga minha. Espero que, ao
final do relato, o poder acolhedor e transformador da empatia fique bastante evidente para todos nós.
Muito bem, era uma bela manhã de domingo, e a minha família, junto com outras famílias amigas, decidimos
levar nossos filhos à Biblioteca Parque Estadual, aqui no Rio, para um encontro de pais. Diga-se de passagem, essa
biblioteca é uma ótima pedida para levar filhos para passear. A nossa ideia era participar do encontro e, então, deixar
as crianças brincarem.
A boa notícia é que o programa foi ótimo e as crianças se divertiram horrores. A má notícia é que, como tudo na
vida, o programa acabou. Pouco depois do meio dia, cada família começou a tomar o seu rumo, mas essa menina de 3
anos não queria ir embora. Um amiguinho dela estava na biblioteca também e, apesar de terem brincado bastante, ela
ficou muito triste por ter que dar adeus ao amigo.
Mas percebam que quando eu disse que ela ficou muito triste, é porque ela ficou muito triste mesmo. Lágrimas
rolavam livremente pelo seu rosto, e ela lutava para ir embora. Como muitos diriam, ela fez o show completo. Eu já
mencionei que ela chorava bastante?
Bem, a situação ali era bem clara: a menina não queria ir embora, porque queria brincar mais com o amigo. Mas
a realidade é que todos nós estávamos indo embora. Eu imagino que, se nós tivéssemos que pensar em coisas para
dizer à menina nessa situação, as primeiras que viriam à mente seriam:
– Já chega, você brincou a manhã inteira com ele!
– Mas ontem você passou o dia brincando na casa dele!
– Se você não parar com isso, não trago mais você aqui!
– Você precisa aprender a valorizar mais o que você tem!
A questão é que, apesar deste tipo de frase estar na ponta das nossas línguas, elas não ajudam em nada com
relação ao que a criança está sentindo, não é? Aqueles sentimentos da menina eram reais e ela estava sofrendo de
verdade, porque queria brincar mais com o seu amigo.
Nós temos uma tendência de avaliar ou julgar o tamanho do sentimento das pessoas através do motivos e causas
deste sentimento, mas este não é o melhor caminho. Sentimentos são reais, independente dos fatos causadores, e a
empatia é a habilidade de se conectar através dos sentimentos, e nada mais.
Ou seja, por mais que o motivo da tristeza de uma criança pareça bobo para nós, isso não significa que ela não
está sofrendo por isso. Mais ainda: nós não temos o direito de julgar aquele sentimento. Pensar que a criança (ou
qualquer outro ser humano) está triste à toa ou está frustrado por coisa boba só piora aquilo que a criança está
sentindo. Afinal, se nós não gostamos que as pessoas subestimem nossos sentimentos, porque faríamos o mesmo com
os nossos filhos?
E então, pensei que eu poderia tentar ajudar aquela menina que possui tanto bem-querer. Nós estávamos indo em
direção ao metrô, porque moramos todos na mesma região, e como a mãe já estava com os braços ocupados
carregando o irmãozinho dela no colo, eu me abaixei até a altura da menina e disse:
– Ei, você quer uma carona no colo do tio?

Ainda chorando, ela balançou a cabeça, dizendo que sim. Apenas balançando a cabeça, ela me disse que estava
querendo contato físico e acolhimento dos seus sentimentos. Esse contato inicial e a resposta positiva é importante
porque, às vezes, nós só queremos ficar sozinhos por um tempo, e o mesmo acontece com crianças.
Enquanto caminhávamos em direção à saída, ela chorava. E assim que colocamos os pés na rua, o choro dela
aumentou. Protestou muito por estar saindo e então eu comecei a conversar com ela:
– Você queria muito continuar brincando, né?
– Sim…
– Eu entendo. Você deve estar muito triste porque está indo embora, não?
– Tô…
– Sei bem, eu também fico muito triste quando estou brincando com meus amigos e tenho que ir embora.
Brincar com amigos é muito legal!
– É!
– Mas sabe uma coisa boa? Eu sempre posso brincar mais com eles em outros dias!
– É!
Essa conversa está resumida, mas foi mais ou menos assim que ela aconteceu. Em poucos minutos, ela estava
conversando comigo sobre como eram engraçados os diferentes tipos de tampas de bueiro na rua. O rosto daquela
menina que, há poucos instantes, estava molhado em lágrimas, agora, já abrigava um belo sorriso e um olhar curioso
sobre tampas de bueiro.
Um aviso importante: não é minha intenção usar esse post para descrever um método infalível para resolver
todos os problemas de choro do seu filho. Quem já acompanha meu trabalho aqui no blog sabe que eu sou bastante
contra métodos que se dizem solucionadores de problemas. Empatia não é técnica, nem método. Empatia é conexão, e
todos nós precisamos de conexão.
Na maioria das vezes, não só crianças, mas todos nós só precisamos nos sentir acolhidos. Precisamos sentir que
nossos sentimentos são validados e considerados pelo outro. Às vezes, não queremos saber de soluções e muito menos
saber o que poderíamos ter feito diferente, ou ainda como deveríamos estar nos sentindo. Às vezes, só precisamos de
empatia.

Eu gostaria de terminar esse post agradecendo à mãe desta menina, uma pessoa que admiro muito, de uma
família que tenho um carinho especial. Obrigado, mãe e filha, por me darem a oportunidade de ter vivido essa
experiência tão especial.
E já que estamos falando sobre empatia, se você ainda não assistiu esse vídeo, vale a pena assistir. É uma
belíssima animação que mostra a diferença entre empatia e simpatia!
__________
Cantinho do Pensamento: Por Que É Uma Porcaria?
Nesses tempos doidos, onde encantadoras de bebês, super babás e demais adestradoras de crianças ditam a
maneira com que nós criamos os nossos filhos, muita gente pensa que disciplinar nossos filhos é questão de seguir
algumas regras criadas por autoras de livros best-sellers e pronto, os filhos estão criados.
Hmmm, bem, não é assim.
Ajudar os nossos filhos a trilhar seus próprios caminhos através do afeto e do respeito é muito difícil,
principalmente para nós, pais e mães, que fomos criados por pais e mães tão autoritários. Guiar nossos filhos,
mostrando a eles a diferença entre o certo e o errado, tentando passar para eles os nossos valores éticos, é algo que é
muito mais difícil do que parece. E é por isso que não é possível escrever um post “ensinando” a disciplinar filhos
dessa maneira, porque isso não existe. Disciplina é uma via de mão dupla e dia após dia, pais e filhos aprendem e se
ensinam como viver nesse mundo.
Mas eu posso fazer uma coisa: posso escrever por que eu penso que o famoso “cantinho do pensamento” é uma
porcaria.
Muitas pessoas pensam que o “cantinho do pensamento” é a cereja do bolo, mas não é. Na verdade, é a
rachadura na parede que você não dá importância, mas que só vai aumentando. E por que, então, é um método tão
famoso e considerado tão infalível? Eu diria que se deve ao fato de que, quando se trata de filhos, as pessoas tendem a
pensar no curto prazo, no resultado imediato. O “cantinho do pensamento” dá resultado imediato, claro. Ele tira a
criança, forçadamente, da situação em que ela se encontra incomodando seus pais.
Mas e aí? É só isso? Não, não é só isso. Artifícios de disciplina como o “cantinho do pensamento” vão minando,
aos poucos, o vínculo que existe entre pais e filhos. Técnicas como essa não funcionam a médio e longo prazo e, por
isso, eu acho que o “cantinho do pensamento” é uma porcaria. Tem tanto a se escrever sobre como essa técnica
deveria ser excomungada da casa das pessoas, que eu vou tentar listar os motivos mais importantes aqui.
Você passa a mensagem errada para a criança
Quando você coloca o seu filho no “cantinho do pensamento”, você passa a mensagem errada para a criança.
Enquanto você pensa que está dizendo ao seu filho:
– Eu quero que você vá para o “cantinho do pensamento” pensar no que você fez de errado.
Na verdade, você está dizendo isso ao seu filho:

– Eu só gosto de você quando você cumpre as minhas condições.
Forte, né? Incomoda, não? Desce meio quadrado pela garganta, né mesmo? Pois é assim mesmo que a
mensagem chega para o seu filho. A mensagem principal que você dá para o seu filho através do “cantinho do
pensamento” é que o amor é condicional. Que a criança precisa obedecer certas condições para ser amada e aceita.
Você pode estar pensando agora:
– Mas peraí, não é isso que eu quero dizer para o meu filho!
Eu imagino que não, ninguém quer dizer isso! Mas acabamos dizendo nas entrelinhas. Nossos atos precisam
refletir nossas desejos, e nós precisamos mostrar aos nossos filhos que o nosso amor é incondicional, que eles sempre
serão aceitos pelos seus pais, sobretudo quando eles erram.
Afinal, se nós, pais e mães, não somos quem irão aceitar e amar nossos filhos sob qualquer circunstância, quem
mais?
Você manda a criança pensar no que fez, só que não
Quando você manda seu filho para o “cantinho do pensamento”, você imagina que ele irá pensar sobre o que ele
fez de errado e sobre por que você o colocou ali. Vamos parar por um momento e refletir: o que estamos exigindo dos
nossos filhos condiz com a capacidade deles?
Imagine uma criança de dois anos, que ainda tem dificuldades de lidar com emoções fortes, como frustrações.
Agora, imagine se essa criança terá alguma capacidade de lidar com pensamentos altamente abstratos, como os que
você exige dela no “cantinho do pensamento”? O psicólogo Jean Piaget, por exemplo, disse que o desenvolvimento
infantil ocorre de maneira tal que, a partir dos 7 anos, a criança começa a abstrair dados da realidade, mas somente
aos 12 anos que a criança consegue atingir a capacidade da abstração total.
Ou seja, é extremamente ineficaz colocar uma criança para pensar sobre o que ela fez de errado. Mas sobre o que
então ela irá pensar? Ué, sobre um monte de coisas, como a cor da parede, a fome que ela está sentindo, o brinquedo
que está no chão e coisas do tipo. Além disso, o pensamento da criança pode ficar confuso com a mistura de
sentimentos ruins provocados pelo castigo, que ela ainda não sabe lidar: rejeição, vergonha, medo, raiva e tantos
outros sentimentos que nós não desejaríamos para nós mesmos.
Mas isso significa, então, que crianças a partir dos 7 anos, talvez 12 anos, podem ir para o “cantinho do
pensamento”? De maneira nenhuma, e todos os outros motivos que eu apresento nesse post servem para justificar
isso.
Você foca no comportamento, ao invés da relação
O problema da disciplina tradicional, que busca punir ou recompensar a criança, é que nos condiciona a pensar e
agir sobre o comportamento. A partir daí, nós somos levados a pensar que o comportamento é um problema a ser
resolvido, mas esse é um pensamento muito limitado. Pensar no comportamento como um problema é ignorar as
necessidades não atendidas da criança por trás de um determinado comportamento.
Por mais difícil que seja fazer isso no dia a dia, é muito importante olharmos para a nossa relação com os nossos
filhos, quando eles fazem algo que nós reprovamos por algum motivo. O que está faltando na relação? O que eles
estão sentindo? O que eles querem dizer, fazendo isso? Perguntas como estas nos ajudam a enxergar o
comportamento (e, principalmente o “mau comportamento”) como um meio de comunicação dos nossos filhos, acima
de tudo.
Quase sempre, um “mau comportamento” é uma maneira de nossos filhos comunicarem uma necessidade não
atendida que, muitas vezes, nem eles sabem como comunicar. Por exemplo, a criança que vai ao restaurante com os
pais e começa a fazer um escândalo; será que ela não está cansada e desesperada para dormir? Ou um filho que fica
muito agressivo quando o pai chega em casa; será que ele não está pedindo ajuda, porque deseja um vínculo mais
próximo com o pai que ficou o dia inteiro fora?
Mudar o foco do comportamento para a relação é, talvez, uma das mudanças mais desafiadoras que precisamos
fazer, quando optamos pela disciplina positiva. Não é como um interruptor, que você muda e pronto, mas é algo que
você precisa reforçar a cada momento em que o seu filho faz algo que você não gosta. Um dia de cada vez. É assim
comigo.
Você afasta seu filho quando ele precisa de você
A última coisa que nós, pais e mães, queremos é nos afastar de nossos filhos. Tudo o que buscamos fazer é nos
aproximar dos nossos filhos, incentivando que os vínculos que criamos com eles sejam fortes e saudáveis.
Entretanto, afastamos nossos filhos no momento em que eles fazem algo de errado.
No momento em que eles mais precisam de acolhimento, nossos filhos recebem afastamento como resposta. Eu
sempre fico imaginando que, se toda a vez que eu cometesse um erro qualquer, minha esposa me mandasse dormir na
sala, o meu casamento seria uma porcaria. Amar é aceitar, é acolher, é estar próximo.
Se nós acostumamos nossos filhos com pais distantes desde o berço, seja deixando-os chorar sozinhos em um
quarto ou seja colocando de castigo sozinhos, por que é que nós ainda nos surpreendemos com quando eles crescem e
se distanciam de nós? Nossos filhos não se distanciam de nós quando crescem, nós que nunca estivemos próximos a
eles.
Vamos combinar uma coisa? Que tal tirar o banquinho do canto do quarto e colocar um vaso de flores no lugar?
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12 Alternativas Para o Castigo – Disciplina Positiva
Falar sobre disciplina positiva não é tão simples quanto parece, até porque disciplina positiva não é exatamente
algo simples de colocar em prática. Podemos até entender os preceitos básicos como não bater, não gritar, não
humilhar, mas nem sempre é tão simples fazer isso virar realidade, dependendo de como nós mesmos fomos criados.
Educar com respeito envolve muita conversa interna e autoavaliação constante, porque somente assim que
podemos saber se estamos no caminho certo. Por isso que textos que oferecem alternativas à disciplina tradicional
punitiva são tão bons, pois eles não apenas focam na crítica ao método punitivo como dão soluções reais.
Esse é o caso deste texto que traduzi, escrito pela Ariadne Brill, mãe de três filhos. Ela é adepta a práticas
responsivas e pacíficas de criação de filho, escreve para o site Positive Parenting Connection, além de ser educadora
de disciplina positiva. O texto original pode ser encontrado aqui.
12 Alternativas Para o Castigo – Disciplina Positiva
Se você já leu sobre os benefícios em deixar de lado o castigo, em favor de utilizar outras formas de orientar
filhos, mas não sabe por onde começar, aqui estão 12 alternativas ao castigo que darão a pais e filhos uma
oportunidade de tratar sobre escolhas e situações com o intenção de oferecer orientação, mantendo um vínculo
positivo, respeitoso e pacífico.
Estas alternativas são principalmente voltadas para crianças de 1 a 6 anos, mas também funcionam para crianças
maiores.
1. Faça uma pausa junto da criança: a chave é fazer isso junto com o seu filho e antes que as coisas saiam do
controle. Então, se o seu filho está tendo um momento difícil ou está fazendo escolhas inseguras, como bater em um
colega, encontre um espaço tranquilo para fazer uma pausa em conjunto. Apenas cinco minutos para vocês se
conectarem, para ouvir o que seu filho está sentindo e falar sobre as escolhas mais apropriadas são coisas que
realmente ajudam. Isto é semelhante ao que se chama de time in, um momento de acolhimento onde os pais trazem o
filho para perto, ao invés de provocar afastamento.
2. Segundas chances: você já cometeu um erro e se sentiu tão aliviado por ter uma chance de fazer tudo de
novo? Muitas vezes, deixar que as crianças tentem novamente lhes permite resolver o problema ou mudar seu
comportamento.”Eu não posso deixar você passar cola na mesa inteira, mas você quer tentar fazer isso de novo no
papel?”
3. Resolva o problema em conjunto: se existe um problema e seu filho está tendo um comportamento causado
por frustração, dar a oportunidade a ele de falar sobre o problema e ouvir a solução que ele tem pode mudar as coisas
para melhor.
4. Pergunte: às vezes, nossos filhos fazem certas coisas, e nós não entendemos muito bem essas coisas. Nós
podemos supor incorretamente que eles estão fazendo alguma coisa “ruim” ou sendo “desobedientes” quando, na
verdade, eles estão tentando entender como alguma coisa funciona. Pergunte o que eles estão fazendo com a intenção
de ouvir e entender em primeiro lugar e, então, ajude-os dando a saída adequada ou uma informação que está
faltando. Em outras palavras, tente “O que você está tentando fazer?” ao invés de: “Por que diabos você está…
Aaaah!!! Já pro quarto!”
5. Leia uma história: outra ótima maneira de ajudar os filhos a entender como fazer escolhas melhores é lendo
histórias com personagens que estão cometendo erros, ou passando por sentimentos intensos, ou que necessitem de
ajuda para fazer escolhas melhores. Além disso, ler para os filhos pode ser uma forma muito positiva de se reconectar
e dirigir a nossa atenção para os nossos filhos.
6. Bichinhos e brincadeiras: as crianças pequenas adoram ver fantoches ou bonecas ganhar vida para ensinar
lições positivas.”Olá, eu sou o ursinho e puxa, parece que você rabiscou o chão. Estou voando para a cozinha para
pegar uma esponja para limparmos o chão juntos. Vem comigo!” E depois de limpar juntos: “Ah, agora vamos buscar
um pouco de papel, você pode fazer um desenho para mim no papel? O papel é para colorir com lápis de cor!”
7. Dê duas opções: vamos dizer que seu filho está fazendo algo completamente inaceitável. Ofereça a ele duas
alternativas que são seguras, respeitosas e aceitáveis, e deixe que ele escolha o que ele vai fazer a partir daí. Ao
receber duas opções, a criança pode manter algum controle sobre as suas decisões e ainda aprender sobre limites.
8. Ouça uma música: às vezes, fazer uma pausa divertida para liberar um pouco a tensão e reconectar é tudo o
que as crianças precisam para voltar a fazer escolhas melhores e tudo o que os pais precisam para relaxar um pouco e
aliviar o estresse. Ouça uma música ou faça uma pausa para dançar!
9. Vá para fora: mudar o ambiente muitas vezes nos dá a chance de redirecionar o comportamento para algo
mais apropriado. “Eu não posso deixar você subir na estante. Mas você pode subir nas barras da grade. Vamos lá para
fora e brincar disso, então!” Ou: “Cortar o tapete com a tesoura não é aceitável. Vamos lá para fora cortar um pouco
de grama.”
10. Respire: uma grande respiração profunda, tanto para pais como filhos, pode realmente nos ajudar a acalmar
e olhar para o que está acontecendo com uma nova perspectiva. Tome um fôlego dos grandes para sair das frustrações
ou respirações curtas e rápidas para sentir-se calmo e reenergizado.
11. Faça um desenho: uma ótima maneira para as crianças falarem sobre erros é fazer um desenho do que elas
fizeram ou do que poderiam ter feito diferente. É uma maneira sutil para abrir uma janela para conversar sobre como
fazer escolhas melhores.

12. Espaço do relaxamento: para que “dar um tempo” funcione de verdade, é necessário que isso seja algo que
ajude todos a se acalmar, e não deixar os filhos assustados ou com medo. Um espaço de relaxamento é uma área onde
os filhos podem ir se sentar e pensar, brincar com alguns brinquedos mais tranquilos, e ter algum espaço sozinhos, até
que se sintam prontos para falar ou voltar a estar perto de outras pessoas. O uso do espaço do relaxamento deve ser
oferecido como uma opção e não como uma ordem.
Cada criança e cada situação são únicas. Por isso, essas ferramentas não se aplicam a tudo, mas funcionam mais
como uma lista de ideias para ajudar a expandir a sua caixa de ferramentas de criação de filhos. Eu penso que usar
ferramentas pró-ativas como estas para responder e orientar os filhos a fazerem escolhas melhores funciona de
maneira muito mais positiva do que ter que reagir quando as coisas saem de controle.
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10 Alternativas Gentis para a Punição
A esta altura da vida, eu já sei que as ferramentas empregadas pela disciplina tradicional e autoritária não são
nem eficientes, nem positivas. Não são eficientes porque elas tratam a corrigir o comportamento, buscando soluções a
curto prazo, enquanto que não se preocupa com o que vai acontecer a longo prazo com os nossos filhos. E nem são
positivas porque, por focar apenas no comportamento, não beneficiam em nada no vínculo entre pais e filhos.
Mas falar assim é fácil, não é? Quero dizer, muitas pessoas (felizmente) falam sobre a disciplina positiva, e a
cada dia mais pais se conscientizam de como isso é importante. Mas e aí? Como fica a coisa em termos práticos? É só
não bater no filho e pronto? É só não gritar? Na verdade, é bem mais do que isso. E, por isso, traduzi um belo texto da
Chaley Ann Scott, que dá 10 alternativas à punição, dando uma boa ideia de como é a filosofia da disciplina positiva,
como um todo.
Chaley Ann Scott é uma socióloga, escritora, conselheira de criação de filhos e mãe de quatro filhos. Ela é uma
colaboradora do The Attached Family, que é a revista da AttachmentParentingInternational (API), e também é
colaboradora regular do site The Green Parent.
10 Alternativas Gentis para a Punição
Muitos de nós não nos sentimos confortáveis fazendo uso da punição com os nossos filhos, mas também não
sabemos o que fazer ao invés disso. Nós sentimos que temos que punir o mau comportamento, para garantir que isso
não aconteça de novo e para ensinar uma lição para os nossos filhos. Sem punição, como eles vão aprender o que é
certo e errado? A boa notícia é que os nossos filhos podem aprender a ser gentis, responsáveis e socialmente
aceitáveis, sem o uso de medidas punitivas, através dessas alternativas respeitosas mostradas abaixo:
1. Olhe por trás do “mau comportamento” e assuma a boa intenção
Nós somos encorajados por muitos “especialistas em criação” a ignorar ou punir o mau comportamento, mas isso
significa que podemos perder a oportunidade de ouvir o que o nosso filho está tentando comunicar conosco. Se vemos
uma birra ou “mau comportamento” como “maldade”, então ignorar ou punir o nosso filho faz sentido. Se, ao invés
disso, nós vemos como uma emoção forte que o nosso filho está tentando comunicar para nós da única maneira que
ele sabe, então ignorar ou punir não faz qualquer sentido. Tudo o que faz é incentivar o nosso filho a parar de tentar
comunicar as suas necessidades para nós, porque nós não estamos ouvindo. Além disso, o que constitui “mau” ou
“bom” comportamento é muito subjetivo. Olhando mais a fundo, o comportamento muitas vezes nos faz entender
mais. O comportamento que parece “desobediente” ou “destrutivo”, na maioria das vezes, através dos olhos de uma
criança, é apenas uma exploração inocente e busca por mais conhecimento. Às vezes, é apenas a sua forma de
comunicar uma necessidade não atendida .
Isto pode ser difícil de entender, já que fomos condicionados a acreditar que as crianças são naturalmente
manipuladoras, sorrateiras, preguiçosas e gananciosas. No entanto, se vermos os nossos filhos através de um olhar
mais positivo, onde nós confiamos que eles estão fazendo o melhor que podem, fica mais fácil aceitar que os nossos
filhos ainda estão aprendendo e descobrindo os seus próprios caminhos no mundo.
2. Imagine o mundo do ponto de vista dos nossos filhos
Muitas vezes, nós esquecemos como é ser criança, julgando, assim, suas ações e palavras através do olhar de um
adulto. Se vermos o mundo do ponto de vista dos nossos filhos, vai nos ajudar a compreender suas ações e nos
lembrar quem os nossos filhos são de verdade, ao compreender o que eles enfrentam no mundo. Também é
importante lembrar que eles não são réplicas de nós – eles têm seus próprios interesses, opiniões, desejos e uma
personalidade que precisamos honrar.
Imagine como você parece e soa do ponto de vista dos seus filhos. Você é empático? Você está do lado deles? É
respeitoso com eles? Você valida os seus sentimentos? Você os leva a sério? Você é alguém que contribui para a
alegria deles ou dificulta eles? Você é um controlador que estraga a diversão, ou você é alguém que enriquece a vida
deles? Você realmente considera os sentimentos e pontos de vista deles sobre as questões da família? Estar consciente
de quem os nossos filhos são e onde eles estão “agora” no mundo vai nos ajudar a criá-los com mais gentileza.
3. Identifique e responda às necessidades
Os nossos filhos nem sempre se comunicam com palavras, mas frequentemente com ações. Se eles estão ficando
inquietos, mal humorados, ou mostrando um “mau comportamento”, pode ser que eles precisem sair de casa ou pular
por aí. Eles podem precisar de um tempo de silêncio ou um tempo sozinhos ou até um banho quente. Eles podem estar
se sentindo tristes ou chateados com alguma coisa que precisam conversar. Eles podem precisar mais de você, então

sente-se no chão e brinque com eles, leve-os para fora para jogar bola, ou leiam um livro e um curtam um aconchego.
Muitas vezes, o comportamento “desobediente” é apenas uma maneira da criança expressar uma necessidade não
atendida, então, se você continuar totalmente conectado e presente com os seus filhos, você deve conseguir identificar
com boa antecedência quando eles estão “fora de si” e responder adequadamente.
4. Dê informações e razões, e encontre alternativas aceitáveis
Se o seu filho pede algo que você não concorda (por razões não-arbitrárias), então ao invés de dar um belo “não”
como resposta, tente “encontrar o sim” e ofereça alternativas aceitáveis para ambos. Por exemplo, se o seu filho quer
colorir as paredes, então uma alternativa para repreender é explicar que isso iria danificar a casa e que você gosta dela
bonita, explorar por que ele quer desenhar na parede e, então, sugerir uma alternativa aceitável. Podemos acabar
descobrindo que ele gosta de desenhar em pé ou que gosta de desenhar coisas grandes e o papel é muito pequeno. Ele
pode, então, ser tão feliz desenhando com giz no quintal, na parede da garagem, em cima do muro da casa, ou na
cozinha em um grande pedaço de papel. Mostrando que você está sempre do lado deles, tentando encontrar maneiras
para que eles façam o que eles querem fazer, vai reforçar a confiança deles em você e transformar vocês em parceiros,
ao invés de adversários.
5. Seja o modelo de como você quer que eles se comportem
Nós precisamos tratar os nossos filhos com o mesmo respeito, cortesia e gentileza que trataríamos um adulto, e
nos comportar da mesma maneira que gostaríamos que eles se comportem. Quantas vezes você já viu pais
demandando uma educação de seus filhos que eles mesmos não têm? Quantas vezes você já viu pais se comportando
de maneiras que eles repreenderiam se fosse com os seus filhos? Os nossos filhos estão sempre aprendendo, e a maior
parte disto vem da observação. A criação progressiva significa permitir que eles desenvolvam essas habilidades em
seu próprio tempo e à sua maneira; modelando o comportamento que gostaríamos de ver em nossos filhos.
6. O “não” é uma resposta aceitável
Se “não” é uma resposta aceitável para os adultos, então por que não para crianças? Fazer com que o “não” seja
uma resposta aceitável para os nossos filhos, mostra a eles o quanto nós os respeitamos. A criação tradicional nos diz
que é rude e desrespeitoso para uma criança dizer “não” a um pedido de um pai, ou qualquer adulto. Porém, não seria
mais desrespeitoso ainda que os adultos não aceitem um “não” apenas porque veio de uma criança? Quanto mais nós
aceitarmos o “não” como resposta, será mais provável que os nossos filho digam “sim” por sua própria vontade, ao
invés de por medo, obrigação ou conformidade.
7. Peça desculpas
Desculpas têm um poder imenso de curar e purificar. Somos condicionados a acreditar que nunca deveríamos
pedir desculpas aos nossos filhos, porque isso mostraria fraqueza ou falta de autoridade, e então nossos filhos não
confiariam mais em nós. O oposto é verdadeiro. Se pedimos desculpas aos nossos filhos, vamos mostrar-lhes que
somos humanos e capazes de errar e inclusive assumir nossos erros, um atributo que muitos de nós esperamos que
nossos filhos adquiram.
8. Deixe de lado as expectativas e juízos de valores
Precisamos começar a ver os nossos filhos como os seres humanos únicos que eles são – e não uma idade, ou um
gênero, ou um rótulo, mas uma pessoa. As crianças podem ter sentimentos e necessidades intensas e alguns são (às
vezes) barulhentos, curiosos, bagunçados, determinados, impacientes, exigentes, criativos, tímidos, confiantes e
cheios de energia. Devemos tentar não julgar os seus interesses, paixões ou personalidades. Se não esperarmos que
eles façam determinadas coisas, seguindo uma agenda, em um determinado horário, nós podemos começar a aceitá-
los como eles são, naquele momento.
9. Seja o herói deles
Muitas vezes, eu escuto pais dizendo coisas negativas sobre seus filhos – às vezes bem na frente deles. Quantas
vezes você já ouviu pais lançando comentários do tipo: “Ah, mal posso esperar até que as férias acabem”, ou “Eles
estão me deixando louco”, ou” Eles são tão preguiçosos / estúpidos / grosseiros” ou até mesmo “Eu amo eles, mas eu
não gosto deles”. Não devemos entrar na agressão verbal de filhos, seja na presença deles ou não. Quando nós
consideramos como nos sentiríamos se alguém que amamos estivesse falando assim sobre nós, pode fazer com que
você veja o quão doloroso isto é para uma criança.
Diga coisas agradáveis para e sobre os seus filhos, e tomando o lado deles em relação aos outros vai fazer os
seus filhos sintam-se verdadeiramente respeitados, amados e protegidos.
10. Seja positivo, é contagioso!
Você já reparou que quanto mais irritado você fica com os seus filhos, mais ranzinzas eles ficam? E o círculo
vicioso começa! Muitos de nós fomos educados por pais autoritários, de maneira que pode parecer uma tarefa
impossível nos mudar do controle para a conexão, em nossos piores momentos. É importante lembrar sempre que
amar os nossos filhos agora é algo que nós realmente queremos fazer. É algo que nós escolhemos e muitas pessoas
não têm a sorte de ter o que nós temos. Esse é o tipo de voz que precisamos ouvir, em qualquer momento que nos
sentimos frustrados e esmagados pelo “trabalho de criar filhos”. Ao invés de focar em mudar nossos filhos, ensinar
uma lição, ou afastá-los, podemos nos concentrar em mudar a nossa perspectiva. Não de uma vez por todas – seria
muito para lidar – mas um pequeno passo, agora. Estar de verdade com os nossos filhos, olhando para eles, cheirando
seus cabelos, sentando no chão e brincando com eles, seguindo os seus interesses, e compartilhando os nossos com
eles, tudo isso nos ajuda a sermos capazes de nos colocar em um contexto mais positivo na mente e restaurar a paz.

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3 Passos Para Manter a Calma Quando Seu Filho Perde a Calma
Para quem não conhece, a Dra. Laura Markham é psicóloga e tem um belo trabalho, ajudando pais e mães a criar
seus filhos com mais afeto. Ela escreveu o livro PeacefulParent, HappyKids e também tem um blog chamado Aha!
Parenting que eu recomendo muito a leitura.
Há algumas semanas, ela publicou um texto que deveria ser traduzido para todas as famílias, pois diz respeito a
uma coisa que todo pai e toda mãe passa: como manter a calma quando o próprio filho já perdeu a calma. Foi com
muita alegria que recebi permissão para traduzir o artigo que ela escreveu, cujo original pode ser encontrado aqui, em
inglês.
3 Passos Para Manter a Calma Quando Seu Filho Perde a Calma
“Ver o seu filho em sofrimento, e especialmente se essa angústia é direcionada a você, é a experiência mais
desconcertante que existe. De maneira selvagem, pensamentos fora do controle afloram espontaneamente para um
desastre épico. Raiva, insegurança e outros sentimentos destrutivos rapidamente nublam o seu pensamento. E se você
pudesse trabalhar para colocar esses pensamentos de lado, e de uma forma análoga à meditação, concentrar-se em
estar presente no momento, concentrar-se em lembrar de respirar? Isso ajudaria você a se concentrar no seu filho, e
na tarefa imediata diante de você, ao invés de suas implicações globais.” – Claudia Gold
Quando nosso filhos fazem malcriação, batem, ou estão simplesmente em sofrimento, é natural que nós entremos
em pânico. Estamos todos mergulhados no cenário “lutar, fugir ou congelar” porque é que nos sentimos em uma
emergência. E se a angústia de nossos filhos é dirigida a nós, então eles começam a se parecer com o inimigo.
Mas é natural que os filhos tenham sentimentos intensos, e também é natural expressá-los. Se nós perdemos o
controle quando nossos filhos ficam chateados, nós passamos a mensagem de que seus sentimentos não são
permitidos, o que não irá ajudá-los a aprender a regular suas emoções. Pior ainda, nós estamos dizendo que nós não
podemos nos controlar até que eles controlem a si mesmos! Independente que eles tenham 5 ou 15 anos, não é isso
que queremos oferecer como modelo.
Claro, sabemos que podemos lidar melhor com qualquer situação na criação de filhos quando estamos calmos.
Mas quando estamos sob o domínio de emoções fortes, nós não estamos pensando. Nós não podemos nos ajudar.
Ou podemos? E se existissem três passos que ajudassem você a voltar a uma situação de calma, e ainda evitar
que o seu filho fique chateado com tanta frequência? Eles existem.
Passo 1: Regule as Suas Próprias Emoções
 PARE, LARGUE tudo o que você estiver fazendo e RESPIRE profundamente.
 Diminua a pressão: lembre-se de que não há nenhuma emergência. Ninguém está morrendo.
 Mude seus pensamentos: diga mentalmente um pequeno mantra: “Ele está agindo como uma
criança porque ele É uma criança. Eu sou o adulto aqui.”
 Alivie fisicamente a sua tensão: perceba onde você está acumulando tensão no seu corpo e sacuda
ela para fora. Respire fundo e expire. Faça um som alto, mas algo que não seja ameaçador. Muitas vezes, a água
nos ajuda a ganhar chão. Segure suas mãos embaixo de uma água corrente, ou beba um pouco de água.
 Esteja aqui agora. Se você conseguir se trazer para o momento presente, sua tristeza irá embora. Isto
porque quando estamos tristes, na verdade, estamos reagindo exageradamente — nós temos emoções
desencadeadas pelo passado (“Meus pais já teriam me batido por ter falado algo assim!”) ou pelo medo do futuro
(“Meu filho vai ser um sociopata!”). Neste momento, se você conseguir deixar isso tudo passar, não vai existir
nenhuma emergência.
Passo 2: Mude a Energia
 Faça coisas emocionalmente seguras. Diga “Nós estamos tendo um momento difícil, querido.
Vamos tentar fazer tudo de novo.”
 Use a Empatia. Reconheça a perspectiva do seu filho. “Parece que você quer _____.”
 Encontre um denominador comum.“Você precisa de ______ e eu preciso de ______. Como nós
podemos resolver isso?”
 Conecte-se. Neste momento, que ação provocaria a cura? Todo o resto pode esperar.
 Ajude o seu filho a ficar emocionalmente regulado. Crianças normalmente conseguem fazer isso de
maneira mais eficiente quando choram na segurança dos nossos braços/presença. Agora que você está calmo, você
pode oferecer a sua compaixão para ajudá-lo a sentir-se seguro o suficiente para chorar. Respire durante todo o
processo, sempre se lembrando que as lágrimas do seu filho são sua maneira de abrir o coração e reconectar.
Passo 3: Aprenda a Lição
 Aprenda. Quando você estiver calmo, reflita no que você pode aprender do que aconteceu. Como
você pode dar suporte a si mesmo para permanecer mais emocionalmente regulada? (Permita-se mais tempo,
durma mais, menos compromissos, veja as coisas sob a perspectiva do seu filho?)
 Ensine. Mais tarde, quando você e seu filho estiverem sentindo-se calmos e conectados, diga “Nós
tivemos um momento difícil hoje, não é? Desculpa, eu fiquei chateado. Eu acho que fiquei preocupado. Eu tenho
trabalhado duro para não gritar. O que cada um de nós pode fazer diferente da próxima vez?”

 Mude. Se esta é uma situação recorrente, faça uma lista de possíveis soluções e comece a tentar por
elas. A vida é muito curta para sofrer os mesmos problemas de novo e de novo.
Claro que você não lembrará destes passos no calor do momento. Então, por que não imprimir uma cola e
carregá-la por aí com você? Com alguns meses de prática, você não vai nem lembrar da última vez que você perdeu
as estribeiras.

porDra. Laura Markham, fundadora do AhaParenting.com e autora do livroPeaceful Parent, Happy Kids: How
To Stop Yelling and Start Connecting
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Como Deixar Seu Filho Comportado
Como deixar seu filho comportado? A resposta é simples e direta: não há uma solução para fazer seu filho ficar
comportado. Simples assim.
O título que eu escolhi para este post foi uma pequena estratégia minha para atrair as pessoas que desejam ter um
filho comportado. Se você já lê o meu blog com frequência, não se preocupe que eu (ainda) não surtei! Mas se você
chegou ao texto tentando descobrir a fórmula milagrosa para ter um filho comportado, por favor, fique, não vá
embora! Não vai ter bolo, mas o texto pode ajudar você a enxergar as coisas de uma maneira diferente. Vamos
começar com uma pergunta que você pode se fazer:
O que é um filho comportado?
Essa pergunta é muito pessoal e difícil de responder, ao mesmo tempo. O que você pode entender por filho
comportado certamente não é o que outros pais e mães entendem por filho comportado. E sendo algo tão subjetivo
assim, já dá para perceber que nenhum método que se diz “a solução para filhos comportados” deve ser um método
bom. Trocando em miúdos, se algum especialista diz ter a fórmula secreta para criar filhos comportados, pode apostar
que é balela.
O que define um comportamento bom ou um comportamento ruim? Pensando em como isso varia de família
para família, fica fácil perceber que a definição de comportamento depende mais dos valores que cada pai e mãe têm
para si do que o que um bebê (ou criança) deve fazer de fato. Então talvez, para você, ter um filho comportado passe
por alguns destes desejos:
– Eu quero que o meu filho me obedeça.
– Eu quero que ele faça o que eu mando.
– Eu quero que ele arrume o quarto.
Antes de mais nada, acho importante refletir sobre o “mau comportamento”. “Mau comportamento” não é uma
expressão de mau caratismo do seu filho. “Mau comportamento” não significa que seu filho é uma criança sem
controle. “Mau comportamento” não quer dizer que seu filho não tem respeito por você. “Mau comportamento” não
indica que o seu filho é “mau”.
Na verdade, o que acontece é que uma atitude do seu filho é encarada como “mau comportamento” sempre
quando ele não age da maneira que você espera. Essa diferença de interpretação é muito sutil, mas essencial dentro da
relação entre pais e filhos.
O que acontece, então? A verdade é que seu filho não agiu da maneira que você esperava. Pensando dessa
maneira, nós, pais, assumimos a responsabilidade pelo que nós esperamos que os nossos filhos façam, ao contrário de
lançar sobre eles a responsabilidade de serem intrinsecamente ruins, de acordo com um “código de conduta” que é
extremamente variável, indefinido e desconhecido.
Quando passamos a pensar dessa maneira, nós criamos a possibilidade de refletirmos sobre a real importância
daquilo que estamos cobrando dos nossos filhos, de quanto aquilo é uma simples demanda nossa, ou quão carregado
de valores éticos pessoais aquilo está. Podemos, então voltar e refletir sobre os desejos que eu citei no início deste
post.
Eu quero que o meu filho me obedeça
Obedecer é uma palavra que, por ser muito utilizada em nosso cotidiano, acabou sendo banalizada e muitas
pessoas não sabem o real peso dela. O dicionário Michaelis define a palavra “obedecer” como submeter-se à vontade,
não resistir, ceder.
É isso mesmo que queremos para os nossos filhos? Que eles submetam-se às nossas vontades, que eles não
resistam, que eles cedam? Essa é a definição perfeita da disciplina tradicional autoritária que vemos por aí e que, para
muitos de nós, foi o modelo que nossos pais utilizaram para nos criar. Não é isso que eu quero para o meu filho e
espero que você também, de coração.
Mas isso também não significa que eu espere que meu filho vá correr pelas ruas, pelado, gritando, selvagem. Eu
espero que, através da relação de apego seguro que eu estou criando com ele, meu filho entenda através de mim quais
são os valores importantes a serem seguidos. Eu acredito, pela relação que nós temos, que ele tenha vontade de se
espelhar no meu modelo de ser humano, que ele sinta uma vontade verdadeira e intrínseca de fazer o bem e ser feliz.
Eu espero que meu filho queira ser assim porque ele sabe que, através do nosso vínculo, tudo o que ele sempre
receberá de seus pais é amor incondicional.

Só que isso nos traz de volta a uma questão muito importante: o modelo. Se os nossos filhos olham para nós
como modelos para os valores éticos que nós consideramos importantes para a formação deles, então esses mesmos
valores devem ser parte das nossas vidas. Pois é, aquela história do faça o que eu digo, não faça o que eu faço não
cola mais. Baita responsabilidade, né?
Eu quero que ele faça o que eu mando
Este é muito semelhante ao item anterior, só que bem mais explícito. Mandar remete ao poder. Só que o real
poder na criação dos filhos está na nossa capacidade de fazer com que nossos filhos desejem ser bons, que eles
desejem ser felizes e nos fazer felizes. Quando o vínculo entre pais e filhos se perde, o poder real se extingue e sobra
apenas o poder da força.
Porém, esse é um poder vazio que, apesar de trazer resultados imediatos, nunca funcionará a longo prazo. O
poder pela força não faz com que o seu filho tome decisões baseadas na própria vontade de fazer o bem, de fazer a si
próprio feliz. Ao contrário, o poder pela força faz com que ele aja através da coerção, do medo, da vergonha, e de
tantos outros sentimentos tão ruins para o seu desenvolvimento como ser humano.
Para piorar, nós acabamos ensinando aos nossos filhos que a maneira de se obter o que se quer é através da
coerção, do medo e da vergonha.
Eu quero que ele arrume o quarto
Essa é uma questão difícil de rebater, não? É claro que eu não quero que o quarto do meu filho seja um caos de
brinquedos e coisas espalhadas por todos os lados. Ninguém deseja isso, mas precisamos, novamente, refletir sobre a
responsabilidade dos pedidos e ações.
Antes de continuar, eu preciso fazer um pequeno parêntese. Existe uma linguagem chamada Comunicação Não
Violenta (do inglês, Nonviolent Communication) proposta por Marshall Rosenberg, um psicólogo americano, que é
muito mais do que um método de linguagem, pois faz com que você veja o mundo com outros olhos. Não é o assunto
principal deste post falar sobre CNV (Comunicação Não Violenta), e eu prometo escrever em detalhes sobre isso no
futuro, mas é importante apenas dizer que precisamos ter muita atenção na maneira com a qual nos comunicamos. No
caso, a maneira com que nos comunicamos com os nossos filhos.
De uma maneira geral, quando nós ouvimos uma demanda direta de alguém, a tendência é assumir uma postura
reativa e, muitas vezes, contrária ao que nos foi demandado. Quantas vezes você já não pensou: “quem ele pensa que
é, mandando eu fazer isso?” justamente pela maneira com que a comunicação foi estabelecida? Com crianças, então,
essa reação é ainda mais forte. Faz parte do desenvolvimento dela assumir uma posição reativa nesses casos.
Voltando ao assunto da arrumação do quarto, vamos analisar uma demanda típica de um pai (ou mãe)
autoritário:
– Júnior, vá arrumar o seu quarto.
Alguns pais acham que colocar um “por favor” no final faz diferença. Então, vamos colocar aqui também.
– Júnior, vá arrumar o seu quarto, por favor.
Independente do complemento “por favor”, isso ainda é uma demanda. Ainda é uma ordem. Você ainda não deu
justificativas e nem opções. Por mais que você pense que as justificativas estão implícitas, afinal, é óbvio que todo
mundo quer um quarto arrumado, é necessário deixar tudo bem explícito. Uma relação de respeito exige isso.
Se utilizarmos um pouco do que a CNV propõe, podemos transformar a demanda em pedido:
– Júnior, seu quarto tem brinquedos e roupas espalhados. Eu me sinto incomodado com isso, porque preciso ter
uma sensação de organização na casa. Você poderia, por favor, arrumar seu quarto?
Como eu disse lá no começo do post, não há fórmula mágica para nada nessa vida, quanto mais para criar filhos.
Mas não podemos negar que, quando você se dá o trabalho de colocar as coisas como o exemplo acima,
demonstrando respeito pelo seu filho, as chances de que ele atenda o seu pedido tendem a aumentar, não é mesmo?
E agora, eu pergunto novamente: o que é um filho comportado?

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Por Que Não Quero Que Meu Filho Seja Comportado
Desmistificando a Criação com Apego
__________
Por Que Não Quero Que Meu Filho Seja Comportado
Muito se fala em comportamento, ou melhor, bom comportamento. É um dos objetivos principais na criação
tradicional de filhos: que eles sejam bem comportados, obedientes. Por causa disso, acabaram sendo popularizados os
métodos de adestramento de bebês nas últimas décadas. As pessoas chamam de behaviorismo, por causa do termo
original em inglês behaviorism. Acho que chamar de behaviorismo faz com que o peso negativo seja menor que
adestramento, não?
De qualquer maneira, esse post não tem a intenção de fazer uma análise deste modelo na Psicologia. É mais um
convite para refletir algo que vem habitando os meus pensamentos: será que eu realmente quero que o meu filho seja
comportado? Por que se elogia tanto um bebê ou criança comportada?
Antes disso, precisamos tentar nos afastar do micro-universo da criação dos nossos filhos e ter uma visão do
panorama geral. Não que isso seja uma verdade absoluta, mas crianças comportadas tendem a ser adultos

comportados. Esses adultos comportados são aqueles que podem se ver em um papel um pouco mais passivo, em
relação à vida. Ou seja, assim como aprenderam quando eram crianças, perpetuam o comportamento condicionado de
obedecer ordens e regras sem questionar. Mas preciso deixar bem claro que não estou generalizando, até porque
exceções existem e graças a elas nós conseguimos evoluir como sociedade.
Eu vejo por mim mesmo, porque não sou um cara de conflitos, não sou de brigar tanto pelos meus direitos. Claro
que hoje, depois da paternidade, brigo muito mais do que no passado. Mas ainda assim não é muito, não tanto quanto
eu gostaria que fosse. É uma dificuldade mesmo, sabe? E sinto claramente que isso foi algo que veio desde
pequeno, quando eu tinha que obedecer por obedecer.
Muita gente pensa que se um pai não bate no filho já é perfeito, que já dá uma disciplina perfeita. Não. Um pai
ou mãe que não bate no filho está apenas demonstrando o mínimo de respeito pelo filho. Há muito mais do que isso, e
isso faltou na minha criação. Aprendi que não valia a pena questionar minha mãe sempre que ela era controversa.
– Eu fumo pra você não fumar.
– Eu bebo pra você não beber.
– Respeite a sua mãe.
– Porque sim.
Por que? Como assim? Que tipo de explicação é essa? Hoje, vejo como eram absurdos esses discursos, mas
quando criança, eles têm um poder gigantesco em minar a confiança e identidade da criança. Aprendi que discutir isso
não valia a pena, e tenho essa dificuldade até hoje. E é engraçado, porque consigo conversar e discutir sobre criação
de filhos com diversas pessoas, mas quando se trata de discutir sobre criação com apego com a minha família, tenho
bastante dificuldade em fazê-lo. Parte por causa dessas travas que existem desde crianças e que ainda estão sendo
quebradas, parte porque expor as minhas ideias pode parecer que eu esteja criticando e rejeitando a maneira que fui
criado.
Mas criar um filho é isso mesmo, né? Essa avaliação constante de como foi a sua criação, com o objetivo de
questionar para que você não faça a mesma coisa com o próprio filho. É um exercício importantíssimo na maternidade
e paternidade. Isso é o que vem povoando os meus pensamentos, principalmente com o Dante crescendo com essa
velocidade alucinante (ele já tem quase 11 meses!) e logo, logo, a maneira que iremos discipliná-lo começará a ser
muito questionada. Seja por ele como por nós mesmos.
Foi então que eu me dei conta de que eu não quero que o meu filho seja comportado. Não no sentido popular da
palavra, daquela criança que obedece os pais, não faz nada de errado, não faz perguntas demais e que tem respeito
pelos pais. Aquele respeito que fica ali, no limiar do medo. Mas também não confunda isso com permissividade, não
se trata disso. Trata-se de ver as coisas sob uma nova perspectiva: eu não sou melhor que o meu filho, não sou
superior. Não há uma hierarquia, há parceria, amor e afeto. Descobriremos as respostas todos juntos, como família.
Eu quero meu filho livre.
Eu quero que ele questione.
Eu quero que ele me ponha em situações embaraçosas sempre que eu for controverso.
Mas eu sei que não há criação perfeita, nem pais perfeitos, nem filhos perfeitos. Portanto, quero que pelo menos
ele seja mais livre do que eu.
__________
Brincar Junto ou Ter Que Dividir?
À medida que os bebês crescem e começam a interagir mais uns com os outros, eles começam a demonstrar mais
enfaticamente suas vontades, principalmente as relacionadas à posse. Não é a toa que muitas mães e pais costumam
desabafar de suas dificuldades quando o bebê tem crises muito intensas de frustração, quando ele quer algo que não
pode pegar, ou quando esse objeto é tirado de suas mãos, mesmo que o motivo para isso seja para garantir a própria
segurança do bebê.
Uma das coisas que eu curto ver acontecendo com o Dante é como essa relação com os objetos foi evoluindo:
quando ele era bem pequeno, não ligava muito se nós tirássemos algo da mão dele. Depois, começou a reclamar, mas
ficava tranquilo quando trocávamos um objeto por outro. Mais alguns meses de vida e ele já não aceitava muito bem
as trocas, fazendo questão de mostrar sua frustração. E ultimamente, ao passo de que ele se aproxima cada vez mais
do aniversário de 2 anos, tem uma noção muito clara daquilo que quer, e faz o que puder para manter posse daquilo
que deseja.
Claro, existem objetos que nós permitimos que ele mexa, como controles e telefones. Como isso não nos
incomoda, então são objetos que ele pode manusear sempre que quiser. Mas outros, obviamente, são objetos que ele
não pode mexer e, nesses casos, a boa e velha empatia é o nosso maior socorro. Ajudá-lo a entender o sentimento que
está passando por ele e, mais ainda, mostrar a ele que reconhecemos aquele sentimento, é o que costuma amenizar
uma situação negativa.
Mas existe algo que vai um pouco além disso, e que é um tanto mais delicado: a divisão, ou compartilhamento,
de brinquedos com outros bebês ou crianças. Eu já escrevi sobre essa experiência no post A Dura Tarefa de Dividir
Brinquedos e expliquei os motivos pelos quais eu não acredito que eu deva obrigar meu filho a dividir seus
brinquedos, ou a esperar que a outra criança divida seu brinquedo com o Dante. Eu continuo achando que meu

filho não deve ser coagido, ameaçado ou forçado a dividir, mas existe uma coisa que vai acontecer com frequência
dentro deste contexto: conflitos.
Pensando no que acontece quando nossos filhos estão na pracinha, brincando alegremente, basta existir uma
disputa por um brinquedo que teremos, então, todos os ingredientes necessários para iniciar um conflito. Evidente que
para bebês muito pequenos, isso não deve acontecer. Mas Dante, com quase 2 anos, já consegue se envolver em
pequenos conflitos, como uma maneira de afirmar que ele quer aquele brinquedo, mesmo que o brinquedo não seja
dele.
Então, para facilitar a minha reflexão aqui, vou dividir o tema em duas partes:
Quando o seu filho não quer dividir o brinquedo dele
Uma criança, ao crescer, começa a desenvolver um senso de propriedade que precisa ser respeitado. Se um
determinado brinquedo é dele, então precisamos respeitar isso. Uma criança que fala “é meu” não está mentindo, nem
sendo grosseira, mas está apenas afirmando que aquele brinquedo, de fato, é dela. E isso precisa ser reconhecido, não
rechaçado, na minha opinião.
Há pouco tempo atrás, quando Dante tinha seus 1 ano e 10 meses, estávamos nós dois na pracinha. Levei o
patinete dele, que é um dos brinquedos que ele mais gosta, e ele ficava dando voltas e voltas na pracinha, todo peralta
com seu patinete.
Pouco tempo depois, um casal de amigos chegou com seu bebê, Miguel, que tinha 1 ano e alguns meses. Como
era de se esperar, o bebê ficou absolutamente fascinado com o patinete do Dante e foi tentar pegar. Mal sabia o bebê
que estava enfiando a mão dentro de um vespeiro! Dante imediatamente agarrou o patinete e começou a falar alto:
– Não, não! É meu! Do Dante!
Enquanto o Miguel já ameaçava chorar, várias possibilidades passaram pela minha cabeça. Mas uma delas ficou
e, então, eu me abaixei para falar com o meu filho:
– Filho, o patinete é do Dante mesmo. Mas e se o Dante brincar junto com o Miguel? Olha, acho que vai ser
legal!
Assim, consegui acalmar os ânimos e colocar os dois em cima do patinete; Miguel na frente e Dante atrás.
Comecei a empurrá-los e pronto, o conflito acabou. Os dois, que antes estavam disputando por um brinquedo, agora
descobriam que é possível brincar juntos e se divertir sem excluir um ao outro. A foto deste post é a prova de que não
estou inventando uma história para vocês!
Mas vários outros pensamentos vieram na minha cabeça, antes que eu decidisse mostrar a eles que poderiam
brincar juntos. E essas são normalmente as respostas que damos para os nossos filhos, automaticamente. Pensamentos
como estes:
– Não custa nada emprestar para ele.
– Para de besteira, vai emprestar sim!
– Deixa de ser egoísta, empresta logo!
– Se você não emprestar, nós vamos voltar para casa agora.
– Desculpa, gente, ele é muito egoísta…
Sinceramente, eu não consigo imaginar nenhuma dessas alternativas tendo um final que não seja uma criança
triste e outra, talvez, feliz. Por que não tentar fazer com que as duas crianças ficassem felizes? Claro, isso não é
receita de bolo, nem vai funcionar todas as vezes, mas o exercício de reconhecer a propriedade de um brinquedo dos
nossos filhos, e não obrigar ou rotular nossos filhos é, de fato, um exercício de respeito, empatia e compaixão.
Quando o seu filho não quer dividir o brinquedo de outra criança
Mas e quando o conflito existe com um brinquedo que nem é do seu filho? Existem casos em que os nossos
filhos irão brigar para poder brincar com algo que é de outra criança e, apesar de ser uma situação significativamente
diferente, o exercício da empatia também continua sendo muito interessante.
É normal desejar o que é do outro. Nós mesmos desejamos aquilo que é do outro, de vez em quando. Não há
nada de errado em desejar, mas para um bebê, que ainda tem dificuldades em lidar com emoções fortes, controlar o
sentimento de desejo negado é simplesmente impossível. Por isso, podemos ajudá-los a entender o que eles estão
sentindo, de maneira empática.
Nessa semana, estávamos em uma pracinha quando surgiu um carrinho de boneca. Dante, de uma maneira geral,
já adora carrinhos de boneca, mas aquele era diferente: tinha dois lugares e duas bonecas muito bonitas sentadas nele.
Na mesma hora, Dante largou tudo e foi atrás do carrinho, que pertencia a uma menina maior. A menina emprestou o
carrinho sem problemas, mas logo outro bebê avistou o carrinho e veio correndo atrás do Dante para puxar o carrinho.
Pronto, outro conflito havia começado e estavam lá os dois falando alto, puxando o carrinho para cá e para lá.
Dessa vez, a ideia veio mais rápido, porque da última vez tinha dado certo com o patinete, então abaixei e falei com
ele:
– Dante, você quer muito brincar com o carrinho, né? O menino também quer brincar. Olha, dá para brincar
junto! O Dante segura aqui e o menino segura ali. Agora, vocês podem empurrar juntos.
E dali em diante, eu pude presenciar uma das cenas mais bonitas que eu vi naquela semana. Dante e o colega de
pracinha, empurrando o carrinho para cima e para baixo, brincando juntos! Às vezes, um corria mais rápido que o
outro, e os dois acabavam caindo no chão, mas logo estavam de pé, empurrando o carrinho novamente.

O colega do Dante era mais novo que ele, então, depois de alguns minutos, foi procurar outra coisa para fazer e
acabou indo para a gangorra. Dante, agora, tinha o carrinho só para ele de novo. Ele ficou feliz e brincou sozinho?
Nada disso, ele saiu correndo atrás do colega, falando:
– Vem, vem, empurrar carrinho!
Dante havia descoberto como pode ser divertido brincar com o outro. E, como ele está entrando em uma fase em
que ele realmente começa a se interessar em brincar junto de outras crianças, ter vivido essa experiência foi deliciosa
não só para ele, mas para mim e para a mãe dele, que assistíamos a tudo aquilo com um grande sorriso no rosto.
Por isso, precisamos estar atentos ao tipo de ajuda nós daremos aos nossos filhos, durante os pequenos conflitos
da vida. Existem ajudas que, na verdade, atrapalham mais do que ajudam e, nesse caso, se eu tivesse tirado o carrinho
da mão dele, dizendo que aquele carrinho não é dele, não teria sido nada produtivo. Ao contrário, eu acolhi o
sentimento dele, reconheci que ele gostou muito daquele carrinho, mas apontei também que outro menino queria
brincar. Quando dei a ideia de que os dois poderiam empurrar juntos, fiquei torcendo para que tudo desse certo, mas
também poderia não dar certo e, então, eu teria que recorrer à empatia novamente. O importante mesmo é ajudar
nossos filhos com seus sentimentos, guiando-os através de soluções pacíficas e respeitosas.
Nem sempre isso irá funcionar, mas definitivamente vale a tentativa. Quando tentamos, mostramos aos nossos
filhos que nos importamos com os sentimentos deles e damos o exemplo ao buscar uma solução que se baseia na
cooperação e harmonia, ao invés de conflito e disputa. Isso já faz todo o esforço valer a pena!
A Dura Tarefa de Dividir Brinquedos
Dividir brinquedos, ou qualquer outro objeto é uma tarefa nada fácil. Uma das mais difíceis, talvez. Eu estava
escrevendo inicialmente sobre esse assunto para o meu post O Curioso Protocolo Social dos Bebês – 3 Regras Sem
Sentido, que foi publicado há pouco tempo, mas logo eu percebi que esse assunto merecia um post só para ele, para
que eu pudesse escrever sobre o que eu tenho pensado sobre a dura tarefa de dividir brinquedos.
Isto é algo que todos nós vivemos de alguma maneira, seja como a criança que empresta, como a criança que
recebe o brinquedo emprestado. E mesmo que você não tenha recordação disso, com certeza, você já viu isto
acontecer por aí, em parques, no metrô, na praia, no ônibus, em qualquer lugar: uma criança é obrigada a emprestar
um brinquedo, mesmo quando ela indica que não deseja fazê-lo. E caso ela resista à coerção verbal, então
provavelmente terá o brinquedo retirado de suas mãos pelo adulto responsável, independente de quanto ela proteste ou
chore.
Eu tenho noção de que este assunto é bastante polêmico, por isso que resolvi escrever para mostrar o que eu
penso sobre ele. E então, poderemos iniciar aqui uma reflexão bem bacana. Fique à vontade para comentar e
compartilhar os seus entendimentos também!
Vamos pensar com calma sobre o conceito de compartilhar objetos: nós compartilhamos algo quando decidimos
considerar a necessidade de outra pessoa em ter aquilo que possuímos, independente de quão forte nós desejemos
ficar com aquele objeto, por pura compaixão. É o mais puro sentimento de “dar de coração“, pois estamos levando
mais em conta as necessidades do outro, em relação às nossas próprias necessidades.
Claro que nem sempre compartilhar algo para nós, adultos, signifique isso. Às vezes, nós dividimos algo com a
intenção de ganhar outra coisa em troca, seja um benefício na relação ou outro objeto, mas não quero entrar nesse
mérito. Quero me ater ao significado puro de compartilhar, que imagino ser o sentimento que desejamos incentivar
para os nossos filhos.
Então, vamos agora expandir esse pensamento para uma criança de 2 anos. Será que realmente deveríamos
esperar deles, e do desenvolvimento que eles possuem, um entendimento como esse? Seria razoável imaginar que um
bebê consiga deixar de lado as suas necessidades em nome das necessidades de outro bebê? A resposta você já deve
imaginar: não. Um conceito tão complexo como esse não começa a ser entendido pela criança pelo menos até os 3
anos, então por que obrigamos nossos filhos a dividir brinquedos na pracinha, por exemplo? Quantas vezes você já
ouviu a frase:
– Não, não, tem que dividir. Vai, dá para o amiguinho.
Realmente, às vezes, nós exigimos mais de nossos filhos do que eles podem oferecer, em termos de
desenvolvimento. Por isso que sempre tento fazer esse tipo de pergunta a mim mesmo, para saber se não estou sendo
exigente demais: nós queremos tanto que nossos filhos aprendam a dividir, ou só estamos constrangidos em ter um
bebê que não divide seus brinquedos na pracinha?
Imagino que se todos nós, adultos, fôssemos mais respeitosos e compreensivos com crianças, de uma maneira
geral, acabaria esse medo de ficar constrangido na frente de outros adultos por causa de nossos próprios filhos. Muitas
pessoas se constrangem porque sabem (e se importam) que outros adultos esperam que sejam tomadas atitudes em
relação ao comportamento de todas as crianças. O padrão é exigir intervenção, e não deixar as crianças serem
crianças.
Por outro lado, eu fico muito constrangido quando um pai ou mãe obriga seu filho a dividir um brinquedo com o
Dante na pracinha, principalmente porque eu sempre tento desconversar, dizendo que aquilo é normal, que o Dante
pode brincar com outra coisa, mas normalmente a resposta é essa:
-Liga não, ela tem que aprender a dividir. Ela é muito egoísta.

Puxa vida, a criança já tem o brinquedo tomado da sua mão, chora sem nenhum tipo de consolo ou acolhimento,
e ainda tem que ouvir seu pai ou mãe a chamando de “egoísta”? A vida na pracinha pode ser muito dura mesmo, ainda
mais quando o valentão da pracinha é seu próprio pai ou mãe. Precisamos estar conscientes do poder no nosso
discurso, e ter noção de que a percepção do que nossos filhos têm de si mesmos, em boa parte, é um reflexo do que
pensamos sobre eles. Laura Gutman em seu último livro, de título “O Poder do Discurso Materno”, descreve:
O fato é que desde o início alguém nomeia como somos, o que nos acontece ou o que desejamos. Isso que o
adulto nomeia (geralmente a mãe) costuma ser uma projeção de si mesmo sobre cada filho. – Laura Gutman
O poder da fala da mãe (e do pai) é gigantesco, seja para o bem ou para o mal, mas não quero mudar muito o
foco dessa conversa, então vou deixar esse assunto para um post no futuro. O que eu quero dizer é que, do ponto de
vista da criança, essa é uma situação onde ela sempre perde. Na vida adulta, sempre buscamos situações de ganha-
ganha, onde o resultado é satisfatório para todos os envolvidos. Com nossos filhos, no entanto, a situação deles é
sempre de perde-perde. Sempre.
Mas como assim, essa é uma situação em que a criança sempre perde? Bem, imagine que se o seu filho tem algo
que outra criança quer, ele é obrigada a emprestar. Em outras palavras, ele perde nessa situação porque precisa abrir
mão do seu brinquedo, mesmo não querendo. Por outro lado, se o seu filho quer algo de outra criança, ele é obrigado
a esperar. Você não pode simplesmente tomar o brinquedo da mão da outra criança para entregá-lo ao seu filho, que
perde também nessa situação. Ou seja, eles precisam dividir brinquedos com outras crianças, mas não podem esperar
o mesmo delas?
E é aí que esse protocolo se mostra mais incoerente para mim, porque demonstra claramente o que a sociedade
espera de bebês e crianças: obediência cega.
Dante nunca foi obrigado a emprestar um brinquedo para nenhuma outra criança, mas isso não significa que ele
nunca tenha emprestado um brinquedo. Com muita felicidade, já pudemos testemunhar momentos em que o Dante,
percebendo que uma criança está chorando pelo brinquedo que ele tem, diz:
– Tisti, tisti! (“triste”, em Dantenês)
E entrega o brinquedo, por vontade própria, por vontade de ajudar alguém que está triste. Mas isso não significa
também que ele, aos seus 1 ano e 9 meses, seja um mestre na arte de compartilhar brinquedos. Claro que não, ele nem
tem maturidade cerebral para entender isso. Ele raramente empresta um brinquedo, mas vejo isso como um caminho,
uma evolução.
Há alguns meses atrás, ele não emprestava absolutamente nada, a não ser que já tivesse perdido o interesse pelo
brinquedo, mas hoje em dia, vez ou outra, ele empresta um brinquedo ao ver a outra criança. Ou empresta quando nós
lembramos a ele que a outra criança quer muito brincar com aquele brinquedo, só um pouquinho. Mas, ainda assim,
isso ocorre em último caso, porque tentamos não intervir muito na interação entre bebês, já que achamos importante
deixá-los se resolverem um pouco, e desde que isso não parta para um conflito violento, obviamente.
É isso que nós devemos buscar, ou seja, que podemos compartilhar nossos pertences com a finalidade de deixar
o outro mais feliz, e não um sentido de que a criança precisa compartilhar pensando nas punições que ela pode receber
por não compartilhar.
__________
O Curioso Protocolo Social dos Bebês – 3 Regras Sem Sentido
Por algum motivo muito estranho e desconhecido para mim, existe um protocolo de convívio social para bebês.
Não é nada publicado (não que eu saiba), oficializado em algum livro ou lei mas, ainda assim, todos os adultos
conhecem de cor e salteado. Você chega em qualquer lugar, e os adultos já sabem (ou têm essa expectativa) do que o
seu bebê deve fazer. Algumas pessoas chamam isso apenas de boas maneiras, mas eu gosto de chamar de O Curioso
Protocolo Social dos Bebês.
Se você vai visitar a sua tia, ou se você vai para um almoço de família, ou se você simplesmente vai tomar um
café na casa da sua avó, não importa: todos esperam que o seu bebê irá se comportar conforme o Protocolo. Ele tem
que ser muito bem-educado, muito bonzinho, e fazer coisas como dar beijos, ir no colo de todo mundo, e por aí vai.
Além disso, à medida que o seu bebê cresce, ele começa a habitar pracinhas. Algumas mães e pais levam seus
bebês desde bem pequenos em seus slings para passear na pracinha, mas não é sobre esse momento que eu gostaria de
falar. Até porque, para um bebê de colo, ir à pracinha é um passeio ao ar livre como qualquer outro. Mas quando
nossos filhos começam a brincar em pracinhas ou parques, existe todo um conjunto de pressões sociais que
demandam do seu filho um determinado comportamento.
Esse é um assunto sobre o qual eu já queria escrever há algum tempo, porque se tem algo que me irrita
profundamente e constrange é esse Protocolo Social. Deixe-me explicar melhor esses dois sentimentos: eu fico
extremamente irritado quando as pessoas esperam que o meu filho siga esse protocolo e, por outro lado, fico
extremamente constrangido quando vejo outra criança sendo obrigada ou coagida a seguir esse protocolo por causa do
meu filho.
Nesse post, vou falar das três regras do protocolo que mais me incomodam. Se você achar que faltou algo que
incomode você também, diga aí nos comentários! Quem sabe não escrevemos uma segunda parte do Protocolo, com
novas regras sem sentido?

Para início de conversa, precisamos ter em mente que bebês não têm necessidade real de socializar até pelo
menos 2 anos de idade. Eles sequer têm desenvolvimento cerebral para isso. Ou seja, eles até podem gostar de brincar
próximo, mas não brincar junto.
Dar Beijo
– Vamos, dê um beijo na tia!
Não me entendam mal, mas eu não consigo entender qual é a obrigação de um bebê dar beijo em todo mundo.
Eu certamente não beijo todo mundo e realmente não gostaria que meu filho beijasse. Não é nenhuma preocupação
com germes ou ciúme desmedido que eu possa ter em relação ao meu filho, mas eu prefiro que ele beije quem ele
quiser, quando ele quiser.
Para piorar, algumas pessoas costumam cobrar e ficar chateadas quando um bebê nega um beijo. Eu mesmo já
perdi as contas de quantas vezes o Dante me negou um beijo. Eu, que sou pai! O que eu tenho a dizer é que a vida é
assim, e devemos ter essa consciência para quando um bebê resolver nos agraciar com um ato de carinho tão grande
como o beijo. Da próxima vez que você ganhar um, saberá o quão especial aquele beijo foi. Ou você prefere receber
um beijo mecânico e condicionado de um bebê?
Mas algumas pessoas ainda vão além, pois elas subornam o bebê ou a criança para ganhar um beijo. Que tipo de
mensagem elas querem passar para esses bebês? Que afeto e carinho podem ser comprados? Se alguém oferecesse R$
50,00 a essas pessoas, em troca de um beijo, elas se sentiriam ofendidas? Por que então elas fazem exatamente a
mesma coisa com bebês?
Eu lembro de uma vez em que o Dante invadiu um salão de beleza. Quando estamos passeando com ele, ele
gosta de entrar em lugares diferentes e ver o que tem lá dentro. Quando achamos pertinente, nós deixamos ele entrar
um pouco, para satisfazer a curiosidade. Então ele entrou no salão de beleza, quando ainda estava aprendendo a andar,
e uma vendedora pediu um beijo do Dante. Ele negou o beijo e, em resposta, ela disse:
– Bebê, eu só te dou esse pirulito se você me der um beijo.
Que bom que ela mesma resolveu dois problemas de uma vez só: Dante não deu o beijo e nem ganhou um
pirulito. Mas como comunicar gentilmente a essas pessoas que, muitas vezes sequer tem filhos, de que é muito ruim
pedir ou barganhar o beijo de um bebê, tanto quanto de qualquer outro ser humano? Ainda não domino essa técnica,
então costumo fazer cara de alface e responder gentilmente:
– Ele não costuma dar beijos em todo mundo.
Colo de Estranhos (ou Semi-Estranhos)
Outra regra bastante esquisita, que é bem parecida com a anterior, é a expectativa de que todos os bebês devem
aceitar o colo de todas as pessoas. Sejam essas pessoas completamente estranhas ao bebê, ou até mesmo as semi-
estranhas, com as quais o bebê não possua ainda um vínculo. Pior ainda: as pessoas costumam fazer juízo de valor dos
bebês em função da capacidade deles aceitarem o colo de estranhos. Quem nunca ouviu um comentário desses?
– Ah, ele é muito bonzinho. Vai com todo mundo!
Desconsiderando o fato de que existem, sim, bebês que aceitam o colo de outras pessoas com uma maior
facilidade, isso não os faz bonzinhos. Existem muitos fatores que podem influenciar nisso como, por exemplo, a fase
de desenvolvimento em que o bebê se encontra. Até certa idade, bebês não estranham pessoas desconhecidas, mas
isso tende a mudar à medida em que eles crescem. Mas ainda assim, o fator mais decisivo está na personalidade do
bebê, coisa que costumamos não levar em consideração muitas vezes.
Então, se um bebê não quer aceitar o colo de qualquer pessoa, independente se essa pessoa é a bisavó de 105
anos, não devemos forçar a situação. Já vi alguns bebês se agarrando no pescoço de seus pais, lutando para não ir no
colo de outra pessoa e, obviamente, chorando no colo dessa pessoa. Já ouvi, inclusive, durante esse processo dolorido,
os pais chamando o bebê de manhoso ou chato. Como nós queremos ser respeitados pelos nossos filhos se não
respeitamos seus pedidos mais básicos?
O melhor caminho, para mim, é respeitar os nossos filhos e explicar gentilmente que não vai dar para pegar no
colo dessa vez. Quem sabe da próxima?
Pedir Desculpas (ou Por Favor)
Antes de começar a falar sobre esse tópico, preciso esclarecer que, assim como muitas das decisões que pais e
mães tomam, exigir que os filhos peçam desculpas é uma delas. Conheço pessoas que entendem isso como algo
inegociável, ou seja, se fez algo de errado, a criança deve pedir desculpas. Criar filhos é assim mesmo: fazemos tudo
com base em nossos próprios valores e crenças. Por isso, gostaria de detalhar aqui os motivos pelos quais eu não
obrigaria meu filho a pedir desculpas.
Não é raro presenciar uma cena dessas, onde a criança faz algo considerado errado pelo pai ou mãe que, por sua
vez, obriga seu filho a pedir desculpas. Esse é um dos momentos em que eu me sinto constrangido, principalmente
quando a criança está sendo coagida a pedir desculpas por algo que fez com o meu filho. E, muito frequentemente,
por algo que a criança visivelmente fez sem nenhuma intenção de ferir ou magoar outra criança.
Por outro lado, já recebi muitos olhares tortos por não obrigar meu filho a pedir desculpas, principalmente em
pracinhas. Se Dante esbarra em outra criança, ou se tenta tomar o brinquedo de outra criança, obviamente, converso
com ele. Peço para ele tomar cuidado e olhar para onde está andando, ou então explico o motivo pelo qual tomar
objetos dos outros não é legal. Tento sempre mostrar a ele quais os efeitos que as ações têm sobre o outro, dizendo

que a outra criança ficou triste, por exemplo. Algumas vezes, ele vai até a criança e dá um abraço, ou devolve o
brinquedo. Mas outras vezes, ele simplesmente não faz nada e eu sou fulminado por olhares indignados.
Mas por que eu devo obrigar meu filho a pedir desculpas? Sim, pedir desculpas é sempre algo bom, porque
demonstra arrependimento. Mas só é bom quando vem do coração, não é? Ou não tem problema se não vier do
coração?
Quando você obriga seu filho a pedir desculpas, mesmo que ele claramente não demonstre desejo de pedir
desculpas, você está dizendo a ele que está tudo bem se nós pedirmos desculpas da boca para fora. Você torna o
pedido de desculpas como algo compulsório, que já, desde a primeira infância, pode ser algo completamente vago e
ausente de desejo real. Eu realmente não desejo isso para o Dante, e gostaria muito de ter certeza de que quando ele
pedir desculpas, ele realmente queira pedir desculpas.
Outro dia, voltando para casa no metrô, eu vi uma mãe com duas filhas. A mãe estava em pé e as filhas sentadas
no banco. O metrô estava lotado e só isso já seria estressante o suficiente para aquela mãe, mas as filhas brincavam,
provocavam-se e brigavam. A minha ignorância sobre a realidade daquela família me impede de traçar qualquer
observação sobre o que a mãe ou as filhas vivem e, por isso, vou ater-me apenas ao que assisti: em dado momento,
uma menina bateu na irmã, e quem apanhou xingou em troca. Imediatamente, a mãe obrigou que a menina que
apanhou pedisse desculpas à irmã.
Independente de quem deveria ou não pedir desculpas, ou do nível de estresse que aquela família pudesse passar
dentro de um metrô lotado, a questão é que a menina não queria pedir desculpas e falava, em meio às lágrimas, que
não queria pedir desculpas, pois foi agredida pela irmã. A mãe não estava interessada nisso e insistia no pedido de
desculpas. Insistiu tanto que disse:
– Se você não pedir desculpas à sua irmã e der um abraço nela, vai ficar de castigo quando chegar em casa.
A menina resmungou um bocado ainda, mas disse secamente:
– Desculpa.
A mãe parecia satisfeita com o resultado e não se falou mais nisso. Só que eu não pude parar de pensar naquilo, e
em que tipo de mensagem isso deveria passar para as crianças. Não vou nem falar sobre a ameaça de castigo em si,
pois já falei bastante nesse tema aqui e aqui também, mas o que será que essas crianças aprendem dessa situação? Eu
sei, porque eu já fui obrigado a dizer muito “desculpa” dessa maneira: as crianças aprendem que essa é a palavra
mágica que vai evitar elas de se encrencarem com seus pais, e não uma palavra que demonstre um sentimento genuíno
de arrependimento. Então, se todas as partes, pais e filhos, sabem que aquilo não é verdadeiro, porque insistir nessa
história?
Dante, obviamente, nunca foi obrigado a pedir desculpas a quem quer que fosse, mas sempre confiamos muito
no poder do modelo e do exemplo. Ou seja, mesmo lá em casa, eu e Anne pedimos desculpas um ao outro, sempre
que é necessário. E, muitas vezes, o Dante estava por perto para ouvir isso. Mais ainda: nós pedimos desculpas para o
Dante sempre que necessário. Pelo visto, de tanto vivenciar isto, ele começou a entender um pouco. Não preciso dizer
a emoção que foi quando ele pediu desculpas para a Anne, pela primeira vez, depois de ter batido nela:
– Cucuuuupa (“desculpa”, em Dantenês)
E isso tem um valor tremendo para nós, porque sabemos que ele realmente quis dizer aquilo. Claro que no auge
dos seus 1 ano e 9 meses, ele não tem capacidade para elaborar o significado de “desculpa” e aplicar, mas já
conseguiu associar essa palavra a quando ele faz algo e acaba percebendo que não foi algo legal, como bater na gente.
Até hoje, Dante pediu desculpas só algumas vezes, mas em todas as ocasiões, os pedidos foram aceitos com
muita verdade no coração.
É por isso que eu não obrigo meu filho a dar beijo, ir no colo nem pedir desculpas. Espero, sim, que ele faça isso
tudo, mas de coração, com vontade intrínseca.

Fonte:http://paizinhovirgula.com/ - por Thiago Queiroz.
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