filho não deve ser coagido, ameaçado ou forçado a dividir, mas existe uma coisa que vai acontecer com frequência
dentro deste contexto: conflitos.
Pensando no que acontece quando nossos filhos estão na pracinha, brincando alegremente, basta existir uma
disputa por um brinquedo que teremos, então, todos os ingredientes necessários para iniciar um conflito. Evidente que
para bebês muito pequenos, isso não deve acontecer. Mas Dante, com quase 2 anos, já consegue se envolver em
pequenos conflitos, como uma maneira de afirmar que ele quer aquele brinquedo, mesmo que o brinquedo não seja
dele.
Então, para facilitar a minha reflexão aqui, vou dividir o tema em duas partes:
Quando o seu filho não quer dividir o brinquedo dele
Uma criança, ao crescer, começa a desenvolver um senso de propriedade que precisa ser respeitado. Se um
determinado brinquedo é dele, então precisamos respeitar isso. Uma criança que fala “é meu” não está mentindo, nem
sendo grosseira, mas está apenas afirmando que aquele brinquedo, de fato, é dela. E isso precisa ser reconhecido, não
rechaçado, na minha opinião.
Há pouco tempo atrás, quando Dante tinha seus 1 ano e 10 meses, estávamos nós dois na pracinha. Levei o
patinete dele, que é um dos brinquedos que ele mais gosta, e ele ficava dando voltas e voltas na pracinha, todo peralta
com seu patinete.
Pouco tempo depois, um casal de amigos chegou com seu bebê, Miguel, que tinha 1 ano e alguns meses. Como
era de se esperar, o bebê ficou absolutamente fascinado com o patinete do Dante e foi tentar pegar. Mal sabia o bebê
que estava enfiando a mão dentro de um vespeiro! Dante imediatamente agarrou o patinete e começou a falar alto:
– Não, não! É meu! Do Dante!
Enquanto o Miguel já ameaçava chorar, várias possibilidades passaram pela minha cabeça. Mas uma delas ficou
e, então, eu me abaixei para falar com o meu filho:
– Filho, o patinete é do Dante mesmo. Mas e se o Dante brincar junto com o Miguel? Olha, acho que vai ser
legal!
Assim, consegui acalmar os ânimos e colocar os dois em cima do patinete; Miguel na frente e Dante atrás.
Comecei a empurrá-los e pronto, o conflito acabou. Os dois, que antes estavam disputando por um brinquedo, agora
descobriam que é possível brincar juntos e se divertir sem excluir um ao outro. A foto deste post é a prova de que não
estou inventando uma história para vocês!
Mas vários outros pensamentos vieram na minha cabeça, antes que eu decidisse mostrar a eles que poderiam
brincar juntos. E essas são normalmente as respostas que damos para os nossos filhos, automaticamente. Pensamentos
como estes:
– Não custa nada emprestar para ele.
– Para de besteira, vai emprestar sim!
– Deixa de ser egoísta, empresta logo!
– Se você não emprestar, nós vamos voltar para casa agora.
– Desculpa, gente, ele é muito egoísta…
Sinceramente, eu não consigo imaginar nenhuma dessas alternativas tendo um final que não seja uma criança
triste e outra, talvez, feliz. Por que não tentar fazer com que as duas crianças ficassem felizes? Claro, isso não é
receita de bolo, nem vai funcionar todas as vezes, mas o exercício de reconhecer a propriedade de um brinquedo dos
nossos filhos, e não obrigar ou rotular nossos filhos é, de fato, um exercício de respeito, empatia e compaixão.
Quando o seu filho não quer dividir o brinquedo de outra criança
Mas e quando o conflito existe com um brinquedo que nem é do seu filho? Existem casos em que os nossos
filhos irão brigar para poder brincar com algo que é de outra criança e, apesar de ser uma situação significativamente
diferente, o exercício da empatia também continua sendo muito interessante.
É normal desejar o que é do outro. Nós mesmos desejamos aquilo que é do outro, de vez em quando. Não há
nada de errado em desejar, mas para um bebê, que ainda tem dificuldades em lidar com emoções fortes, controlar o
sentimento de desejo negado é simplesmente impossível. Por isso, podemos ajudá-los a entender o que eles estão
sentindo, de maneira empática.
Nessa semana, estávamos em uma pracinha quando surgiu um carrinho de boneca. Dante, de uma maneira geral,
já adora carrinhos de boneca, mas aquele era diferente: tinha dois lugares e duas bonecas muito bonitas sentadas nele.
Na mesma hora, Dante largou tudo e foi atrás do carrinho, que pertencia a uma menina maior. A menina emprestou o
carrinho sem problemas, mas logo outro bebê avistou o carrinho e veio correndo atrás do Dante para puxar o carrinho.
Pronto, outro conflito havia começado e estavam lá os dois falando alto, puxando o carrinho para cá e para lá.
Dessa vez, a ideia veio mais rápido, porque da última vez tinha dado certo com o patinete, então abaixei e falei com
ele:
– Dante, você quer muito brincar com o carrinho, né? O menino também quer brincar. Olha, dá para brincar
junto! O Dante segura aqui e o menino segura ali. Agora, vocês podem empurrar juntos.
E dali em diante, eu pude presenciar uma das cenas mais bonitas que eu vi naquela semana. Dante e o colega de
pracinha, empurrando o carrinho para cima e para baixo, brincando juntos! Às vezes, um corria mais rápido que o
outro, e os dois acabavam caindo no chão, mas logo estavam de pé, empurrando o carrinho novamente.