ÍDOLOS DO CORAÇÃO - FITZPATRICK.PDF

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About This Presentation

estudos aprendizado libertação, vida cristã


Slide Content

16-1245 CDD 248.8
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Angélica Ilacqua CRB-8/7057
Fitzpatrick, Elyse M.
Ídolos do coração: aprendendo a
desejar somente Deus / Elyse M.
Fitzpatrick; tradução de Susana Klassen.
— São Paulo: Vida Nova, 2017.
256 p.
ISBN 978-85-275-0958-9
Título original: Idols of the heart: learning
to long for God alone
1. Cristianismo 2. Vida Cristã 3.
Idolatria na bíblia. I. Título
II. Klassen, Susana
Índices para catálogo sistemático:
1. Vida cristã: Idolatria

©2001, 2016, de Elyse Fitzpatrick
Título do original: Idols of the heart: learning to long for God alone,
edição publicada pela P2R PbOYV`UV[T (Phillipsburg, New Jersey,
Estados Unidos).
Publicado originalmente pela ABCB sob o título
Ídolos do coração: aprendendo a desejar somente Deus (São Paulo, 2009).
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por
S\PVRQNQR RRYVTV\`N EQVv?R` VVQN N\cN
Rua Antônio Carlos Tacconi, 75, São Paulo, SP, 04810-020
vidanova.com.br | [email protected]
1.a edição revisada e atualizada: 2017
Proibida a reprodução por quaisquer meios,
salvo em citações breves, com indicação da fonte.
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Todas as citações bíblicas sem indicação in loco foram extraídas da Almeida século 21. As citações com
indicação da versão in loco foram extraídas da Nova Versão Internacional (NVI). Todas as demais
citações ou foram traduzidas diretamente da New American Standard Bible (NASB), da <e Living
Bible (TLB) e da New International Version (NIV).
DV_Rvp\ ReRPbaVcN
Kenneth Lee Davis
GR_}[PVN RQVa\_VNY
Fabiano Silveira Medeiros
EQVvp\ QR aRea\
Lucília Marques
Marcia Medeiros
P_R]N_Nvp\ QR aRea\
Tatiane Souza
RRcV`p\ QR ]_\cN`
Mauro Nogueira
GR_}[PVN QR ]_\Qbvp\
Sérgio Siqueira Moura
DVNT_NZNvp\

Sandra Oliveira
CN]N
Edvânio Silva (Blessed Produção GráAca)
C\[cR_`p\ ]N_N RPbO
SCALT Soluções Editoriais

Para Phil,
por seu amor e sua paciência inabaláveis:
só pude realizar este projeto
porque, dia após dia, você entregou sua vida.

SUMÁRIO
Nota da segunda edição
Agradecimentos
Lista de ilustrações
Introdução: Observando os deuses do mundo
1. Os deuses de Raquel e você
2. Adoração não dividida
3. De suma importância
4. Aquele que transforma o coração
5. Melhor que a vida
6. Conhecendo seu coração
7. Pensando sobre seu Deus
8. Ansiando por Deus
9. Dispondo-se a obedecer
10. Resistindo a seus ídolos
11. Destruindo seus falsos deuses
12. Tendo prazer em Deus
Apêndice A: Como identiAcar padrões pecaminosos e falsos deuses
Apêndice B: O que signiAca ser legalista
Apêndice C: Como saber se você é cristão

NOTA DA
SEGUNDA EDIÇÃO
Ao longo dos anos desde que escrevi o manuscrito deste livro, tornei-me
cada vez mais consciente do imenso amor de Deus por mim em Cristo. Vim
a entender que, por causa de sua compaixão e misericórdia, ele me ama
quer eu esteja lutando contra meus ídolos com diligência, quer eu esteja
apenas tentando chegar ao Am do dia. Ele conhece minha fraqueza: a
fraqueza de meu amor, a fraqueza de minha mente e a fraqueza de minha
determinação de amá-lo mais que todas as coisas. E, no entanto, ele me
ama por causa da obra realizada por seu Filho ao me justiAcar e chamar-me
de bela... embora eu esteja tão aquém de seu paradigma perfeito, resumido
em sua lei expressa nos Dez Mandamentos.
Portanto, embora eu ainda deseje desenvolver adoração sincera, “ansiar
somente por Deus” e ajudar você a fazer o mesmo, minha perspectiva de
como fazê-lo e do que isso signiAca mudou. O foco principal foi transferido
de mim mesma para a obra de Jesus em meu favor no evangelho. Essa
mudança de foco também mudou meu modo de falar sobre a idolatria e de
pensar a respeito de como, em última análise, nosso coração é transformado.
Por isso, neste livro, você me verá falar mais sobre amor e mais sobre o
amor de Deus por pecadores, tudo para a glória de seu Filho. Não deixei de
me importar com a obediência ao primeiro mandamento, mas estou
trilhando um caminho diferente rumo a esse alvo e sou impelida por uma
motivação diferente.

AGRADECIMENTOS
Nada de valor pode ser realizado sem o auxílio e o apoio de muitas pessoas.
Se o Senhor, em sua graça, usar este livro para ajudar alguém, é porque ele
me concedeu familiares e amigos piedosos, que sabem o que signiAca amá-
lo com fervor. Estou ciente de que nunca tive uma ideia sequer
verdadeiramente original, portanto sou grata a George Scipione por minha
instrução (e agora, pela esposa de meu Alho); a David Powlison que, com
abnegação, separou dez minutos de seu tempo em um congresso no início
da década de 1990 para reconAgurar meu modo de pensar a respeito da
idolatria; ao pastor Dave Eby da igreja North City Presbyterian Church
(anotações de sermões dele foram incorporadas a diversas partes deste
texto); a meus irmãos e a minhas irmãs em Cristo que oraram por mim, me
encorajaram e perguntaram: “Como está indo o livro? Como posso orar por
você?”. Sou grata pelo ministério de John e Sandra Cully, Linda Quails e
John Hickernell, na livraria Evangelical Bible Bookstore, que me
mantiveram abastecida com livros dos puritanos e Azeram excelentes
sugestões. Agradecimentos especiais a Anita Manata, Donna Turner e
Barbara Duguid, amigas queridas que me ouviram e trocaram ideias,
ajudando imensamente em minha reCexão; a minha mãe por suas sugestões
gentis e pela revisão gramatical; e a Barbara Lerch, da editora P&R, por
acreditar que era hora de uma mulher da linha reformada ser ouvida a
respeito desse assunto.
É impossível agradecer devidamente a todos que me amaram e apoiaram
durante os muitos anos desde que a primeira edição deste livro foi publicada
em 2001. Tenho sido abençoada com muitos amigos relacionados acima,
inclusive o pessoal da Editora P&R, especialmente Ian <ompson, que
considerou relevante atualizar este livro e voltar a oferecê-lo a meu público
leitor.

Sou particularmente grata a minha família querida: Phil, James e
Michelle, Jessica e Cody, Joel e Ruth e todos os seus Alhotes lindos: Wesley,
Hayden, Eowyn, Allie, Gabe e Colin. Como sou abençoada!

LISTA DE ILUSTRAÇÕES
6.1 Um retrato bíblico do coração
8.1 Os desejos de Adão antes da Queda e os desejos
do ser humano caído
8.2 Os desejos de Adão antes da Queda e os desejos
perfeitos de Jesus
10.1 Quando o coração deseja agradar o ego
10.2 Quando o coração deseja agradar à Plateia de Um Só
11.1 Como identiAcar padrões pecaminosos e falsos deuses
11.2 Exemplos das Escrituras do princípio de
despir-se de.../revestir-se de...
11.3 Exemplos especíAcos do princípio de despir-se de.../
revestir-se de...
11.4 Folha de exercício pessoal para despir-se de.../
revestir-se de...

INTRODUÇÃO
OBSERVANDO OS
DEUSES DO MUNDO
No segundo trimestre de 1998, meu marido, eu e nossos primos tivemos o
privilégio de visitar o leste da Ásia e passamos uns doze dias na China,
Coreia do Sul e Japão. Como estávamos em grupos de excursão, visitamos
vários templos budistas. Vimos o Buda mais antigo, o maior Buda, o Buda
mais venerado. Vimos um Buda que havia sido roubado durante uma
batalha e um Buda que tinha sofrido danos em um incêndio e sido
reconstruído. Fomos convidados a fazer uma doação para que certo Buda
fosse revestido novamente de ouro. Vimos o Buda que pertencia ao
imperador e o Buda que pertencia ao povo comum. Observamos adoradores
acenderem velas, queimarem incenso, oferecerem preces e colocarem tigelas
de alimento e Cores diante de seus deuses. Quando a excursão terminou,
meu marido e eu tínhamos visto ídolos suAcientes para o resto da vida. Ou
será que não?
Ficamos felizes por voltar aos Estados Unidos, um país ediAcado sobre
alicerces cristãos. Ao contrário dos países asiáticos que visitamos, os Estados
Unidos não têm ídolos em todas as esquinas, nem dias especíAcos para
acender incenso ou luzes para seus deuses. Não temos templos imensos em
que oferecemos tigelas de arroz... ou, em nosso modo de dizer, tigelas de
batatas fritas. Aliás, de acordo com uma pesquisa, 76% dos americanos
entrevistados “consideram-se inteiramente Aéis ao primeiro mandamento”,1
a saber, “Não terás outros deuses além de mim” (Êx 20.3). Portanto, ao
falarmos do primeiro mandamento, estamos nos saindo bem, certo?
Imagino que, se você é como eu, costuma pensar sobre os ídolos da forma

que acabei de descrevê-los. São algo externo a nós, algo estranho que
fotografamos em templos de terras distantes e que nos causa espanto.
OS DEUSES EM NOSSO CORAÇÃO
Para mim, uma das ordens mais intimidantes das Escrituras se encontra em
Mateus 22. Um escriba dirigiu-se a Jesus com a intenção de encontrar um
modo de acusá-lo de heresia: “... qual é o maior mandamento na Lei?”, ele
perguntou. E Jesus respondeu:
“Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o
entendimento.” Este é o maior e o primeiro mandamento (Mt 22.36-38).
Talvez você seja como eu e tenha lido esse mandamento tantas vezes que
ele perdeu a força. Volte, releia-o e medite comigo por um momento. O que
nosso Senhor está ordenando aqui? Nada menos que amor e adoração não
divididos, perfeitos e completos. Assim que paro e reCito sobre esse
mandamento principal, sinto um incômodo. Preciso me perguntar:
• Amo o Senhor com todo o meu ser, ou ainda há outros amores em meu
coração que exigem minha atenção?
• Adoro outros deuses ou Deus é sempre, em todas as circunstâncias, o
Governante supremo ao qual dedico inteiramente minha paixão e
devoção?
Quando penso dessa forma, começo a entender que a idolatria talvez vá
além de templos budistas, incenso e arroz. A idolatria está ligada ao amor
— meu amor por Deus, por outros e pelo mundo. Quando encaro a
idolatria assim, percebo que não sou tão diferente das pessoas que vi
naqueles templos em lugares tão distantes.
UMA VIDA LIVRE DE ÍDOLOS
Este livro foi escrito para quem deseja ter uma vida piedosa, mas se vê
numa luta frustrante e recorrente contra o pecado habitual e contra a falta
de amor plenamente dedicado. Foi escrito para você que está sempre
tropeçando no mesmo hábito nocivo, na mesma fraqueza constrangedora,

na mesma escravidão pecaminosa da qual esperava estar livre anos atrás.
Nele, você descobrirá que a idolatria — o amor distorcido — ocupa o cerne
de todo pecado persistente contra o qual lutamos.
Quando paramos para reCetir, vemos que a Bíblia está repleta de histórias
sobre indivíduos e até mesmo sobre nações que caíram em idolatria. Aliás, é
o pecado discutido com mais frequência nas Escrituras. De acordo com
1Coríntios 10.11, as narrativas do Antigo Testamento servem de exemplo
para nós e “foram escritas para nossa instrução” (NASB).
Uma das primeiras narrativas sobre a idolatria é a de Raquel, esposa de
Jacó. Tendo em vista que o problema de Raquel com a idolatria é tão
proeminente em seu relato, voltaremos à vida dela em várias ocasiões ao
longo do livro e descobriremos o que podemos aprender com seus erros.
Também veremos como as histórias de outros nas Escrituras, tanto homens
como mulheres, nos trazem, hoje, esclarecimento e instrução a respeito de
nossos falsos deuses. Você observará que alguns dos capítulos seguintes
começam com ilustrações. Essas histórias não são extraídas diretamente das
Escrituras, mas são minha interpretação do que talvez tenha acontecido.
Não devem ser consideradas estritamente bíblicas, mas apenas ilustrativas.
Visto que a Bíblia é a Palavra de Deus para seus Alhos, os quais conhece
inteiramente, deve haver um motivo pelo qual ele inseriu nela tantos
ensinamentos a respeito desse assunto, embora a idolatria talvez não pareça
ser um problema tão sério para nós. (Lembre-se de que 76% de todos os
americanos entrevistados se consideraram irrepreensíveis nessa área!) Ao
prosseguir com a leitura, você descobrirá que a idolatria é um problema tão
sério para nós hoje quanto era para os israelitas no passado. Aliás, talvez
seja ainda mais sério, pois, de modo muito conveniente, categorizamos a
idolatria como algo externo a nós (pequenas estátuas de pedra), e não como
algo que habita em nosso coração. Embora em alguns meios seja comum o
diálogo sobre a idolatria e até sua conAssão, pergunto-me se não estamos
apenas tocando a superfície do caráter disseminado desse pecado.
Nos capítulos adiante, você verá de que maneiras o foco de seu amor e o
foco de sua adoração são semelhantes. Quem você ama? E quem você adora?
Essas são perguntas cruciais e interligadas. Você aprenderá a identiAcar os

falsos deuses que habitam em seu coração, isto é, em seus pensamentos e
em suas afeições. Em seguida, descobrirá o método de Deus para libertá-lo
dos ídolos, dos “amores distorcidos”, por meio de seu poder santiAcador.
Saiba que minha luta contra o pecado e a idolatria é igual à sua — igual à
de Raquel. Como ela, todos nós lutamos com a propensão de depositar
nossa esperança e conAança em algo, em alguém, em qualquer coisa além
do Deus verdadeiro. Descobrimo-nos fracos, temerosos e inquietos, ou
irados, amargurados e queixosos. Em meio a essa luta, creio que a voz de
Deus nos chama de forma clara e amorosa, trazendo esclarecimento e
libertação, lembrando-nos de seu amor incomparável por nós e de como,
em sua graça, ele recebe idólatras.
Embora nossa guerra contra o pecado só termine quando chegarmos ao
céu, Deus comprometeu-se a Aelmente capacitar-nos a crescer em
santidade. Ele nos convida a nos juntarmos a ele na batalha, e nos deu
armas para usarmos nesse combate. Uma delas é o conhecimento. Não o
conhecimento que consiste apenas de fatos áridos, mas a percepção
dinâmica das realidades de nossa luta pessoal contra os amores rebeldes e da
Adelidade de Deus em nos livrar tanto nesta vida quanto por toda a
eternidade.
SANTIDADE DE MICRO-ONDAS
Os fornos de micro-ondas são uma tremenda comodidade, não é mesmo?
Coloque uma refeição congelada lá dentro e pronto. O jantar está servido.
A vida em nossa casa melhorou depois da invenção do micro-ondas. Posso
descongelar o jantar em dez minutos, o que é uma verdadeira bênção em
meio a tantas atividades! Gosto de todas as comodidades modernas e
imagino que você também. No entanto, no meio dessa cultura instantânea,
“Quero tudo rápido! E é melhor que seja prático!”, temos a tendência de
imaginar que Deus deve trabalhar em nossa vida da mesma forma. “Aperte
o botão de ligar e torne-me santo, e faça-o logo, Senhor, se não for pedir
demais.”
Na maioria das vezes, porém, a obra de Deus em nós é incrivelmente
lenta. Embora seja fato que todos os cristãos passem por mudanças (ainda

que minúsculas), a obra de Deus — nossa santiAcação — é um processo.
Esse processo inclui aprender (o que espero que aconteça com você aqui),
crescer, errar, mudar, ser convencido novamente da verdade, errar outra vez
e desenvolver completude ao longo da vida. Com isso em mente, não
espere que este livro o transforme de forma instantânea ou cure seu coração
dos amores rebeldes. Somente Deus, por meio do Espírito Santo, pode
transformar seus desejos, e o cronograma dele é diferente do nosso. Ele
sabe quais lutas precisamos continuar a enfrentar, e sabe como, sob a
inCuência de seu Espírito, até mesmo nossos fracassos nessas lutas nos
levarão a ter amor ainda maior por ele e por suas boas-novas.
ESPERANÇA SOMENTE EM CRISTO
Ao iniciarmos juntos esta jornada, desejo lembrar-lhe de um fato que
certamente não é novidade para você. Deus transforma corações. Nosso
amoroso Pai celeste comprometeu-se a nos transformar primeiro das trevas
para a luz; depois, dos amores de nossa vida antiga para o amor sob o
estandarte de sua declaração: “Está consumado”. Ele nos deu tudo de que
precisamos para crescer na vida e na piedade que ele ordenou. Deu-nos
todas as armas para lutar contra nossos ídolos e para crescer em graça; além
disso, dedicou todos os recursos do céu a seu propósito:
• Ele nos deu Jesus Cristo, que amou e adorou perfeitamente a seu Pai.
Sua vida perfeita de obediência (tanto exterior como interior) agora é
nosso registro: embora ainda lutemos com amores distorcidos, Jesus
nunca o fez, e quando o Pai olha para nós, vê apenas o registro perfeito
do Filho. Já somos considerados completamente Aéis, completamente
amorosos e completamente santos.
• Além de Jesus viver uma vida perfeita por nós, também pagou por
todos os nossos amores desviados e todas as nossas idolatrias em sua
morte excruciante no Calvário, onde o Pai tomou-o como o pior
idólatra de todos os tempos. Toda a idolatria que já praticamos ou à
qual ainda nos entregaremos já foi expiada pela morte vergonhosa de
Cristo na cruz. Em Cristo, não resta mais ira alguma do Pai por nós.

Acaso o Pai dará as costas para nós por causa de nossa idolatria? Não,
jamais. Pois ele já abandonou seu Filho em nosso lugar.
• Como ele cumpriu inteiramente a lei, agora estamos livres da
escravidão do pecado. Não somos mais rebeldes que reagem aos
decretos da lei como escravos; agora, consideramos a lei um guia para
nos ajudar a entender como devemos amar, e não uma forma de obter a
aprovação de Deus ou evitar o castigo. A lei nos mostra como ser
agradecidos pelo fato de que ela não tem mais poder para nos condenar,
pois Jesus a cumpriu de modo pleno.
• Também podemos nos alegrar porque sabemos que Jesus Cristo, nosso
Advogado, ora e intercede por nós, embora sejamos fortemente
tentados e provados. Graças a sua oração, podemos ter a certeza de que
nossa fé jamais falhará. Podemos descansar nele con—antemente.
• Ele nos concedeu seu Espírito Santo, que habita em nós e nos conduz à
verdade. A obra do Espírito Santo consiste em nos lembrar de todas as
dádivas que recebemos em Cristo. Ele derrama sua graça sobre nós e
nos garante que somos seus —lhos amados (embora lutemos com
frequência). É essa graça que nos capacita a desejar sua vontade e a
responder ao seu amor em amor.
• Ele proveu para nós sua Palavra da Verdade: que ilumina nosso coração
para toda sabedoria necessária a —m de mudarmos de forma que o
agrade. Ele faz isso em razão do objetivo supremo de nos transformar
— e tudo isso para sua glória!
Em 1998, passei doze dias visitando os ídolos do leste da Ásia. Você
também embarcou numa jornada, mas é provável que leve mais que doze
dias... portanto, tome assento e alegre-se em saber que Deus usará sua
Palavra e seu Espírito para revelar seus ídolos, seu amor distorcido e para
desenvolver amor e devoção plenos em você — tudo para a glória e louvor
dele!

1George Barna, E e Barna report 1992-1993, an annual survey of lifestyles, values, and religious views
(Carol Stream: Christianity Today, 1995), p. 113, citado em R. Kent Hughes, Disciplines of grace
(Wheaton: Crossway, 1993), p. 29.

1
OS DEUSES DE
RAQUEL E VOCÊ
Fil hinhos, guardai-vos dos ídolos (1Jo 5.21).
— Peguem suas coisas.
1 Você e Lia reúnam as crianças e preparem-se para partir —, o
marido ordenou. — Vamos embora hoje à noite.
— Hoje à noite? Já? Mas não estou pronta!
Raquel amava o marido, mas também gostava da bênção de morar perto dos pais.
Embora ela desfrutasse dessa proximidade com seus familiares, nem sempre o
relacionamento com eles era pacífico. Parecia haver conflito incessante entre seu marido e
seu pai. E agora, o acontecimento que a apavorava estava se desenrolando.
— Não se esqueça de sua capa —, ela lembrou José. — Pare de brigar com as outras
crianças e pegue suas coisas.
Da mesma forma que você e eu faríamos, Raquel juntou todos os objetos da casa
importantes para ela. Então, em meio à correria, a ficha caiu e ela sentiu um frio no
estômago. “Agora é para valer. Estou saindo de casa... deixando para trás a única realidade
que conheço. Será que alguém vai cuidar de mim? Será que estarei segura? Como vou viver
sem a proteção de meu pai... sem os deuses dele?”
E assim, depois que seu pai saiu para trabalhar nos campos, ela entrou na tenda dele e
roubou seus ídolos do lar. Embora ela não tenha se dado conta naquele momento, suas
ações não tardariam em colocar sua família em risco e gerariam outro ato de dissimulação.
Em vez de lhe dar segurança, esses ídolos trariam perigo para seus familiares. Em vez de
abençoá-la, seriam maldição.
UMA HISTÓRIA CONHECIDA
Embora a história do furto cometido por Raquel em Gênesis 31 seja a
primeira referência a ídolos na Bíblia, é fácil passar direto por ela e não
perceber a imensidade desse ato e de suas consequências: Raquel furtou de
seu pai. Levou embora os deuses dele. Enganou o marido e colocou a

família em perigo. Mais adiante, quando seu pai, Labão, lhe perguntou
sobre o sumiço dos ídolos, ela o enganou novamente.
Perguntei-me várias vezes por que Raquel considerou necessário levar
consigo esses ídolos. O que signi—cavam para ela? Por que se dispôs a agir
desse modo? Por que exerciam tanto poder sobre sua vida?
Para responder a essas perguntas, observemos mais de perto a vida de
Raquel. A Bíblia diz que “Raquel era bonita de porte e de rosto” (Gn
29.17). Em linguajar atual, Raquel era uma mulher deslumbrante. Sem
dúvida ela sabia que, quanto a seus charmes femininos, dava de dez a zero
em sua irmã, Lia. É bem provável que se deliciasse em ser a favorita. Havia
aprendido que podia con—ar em sua beleza; aliás, considerava-se justi—cada
por ela. Apoiava-se nela e acreditava que a tornava aceitável aos olhos de
outros e a seus próprios olhos. Era sua fonte de poder sobre os outros, sua
proteção das decepções. Raquel era tão linda que, logo da primeira vez que
Jacó a viu, teve certeza de que aquela era a mulher para ele. Ela conquistou
o coração dele no primeiro encontro dos dois, e ele serviu Labão durante
catorze anos para se casar com ela.2 Aliás, ele a amava tanto que os anos de
trabalho para obtê-la “lhe pareceram poucos dias” (Gn 29.20). Isso sim é
devoção! Com um começo desses, seria de esperar que a vida de Raquel
fosse um mar de rosas. Era linda e tinha o amor do marido... o que mais
poderia querer?
“DÁ-ME FILHOS!”
Com o passar do tempo, a resposta a essa pergunta se tornou clara. O que
mais ela poderia querer? Filhos! Raquel só podia contemplar Lia, sua irmã
mais velha (e feia), dar à luz seis —lhos... e ela continuava estéril. Toda vez
que um dos meninos de Lia chorava, ou que Jacó brincava com um deles, os
ciúmes, muito provavelmente, iam crescendo. É bem possível que tenha
—cado cheia de dúvida, raiva e autocomiseração ao ver sua posição de
favorita ser solapada. Sua beleza, o deus que ela havia adorado, não tinha
poder para salvá-la, e ela estava desesperada por obter a aprovação e a
posição que considerava suas por direito. Seus lindos olhos não podiam
fazer coisa alguma para preencher seu útero vazio.

Por —m, em desalento, clamou: “... Dá-me —lhos, senão morrerei”. E Jacó
respondeu com ira: “... Por acaso estou eu no lugar de Deus?” (Gn 30.1,2).
O desejo de Raquel de ter —lhos era tão forte que havia distorcido o modo
de ela pensar. Ela começou a imaginar que Jacó, e não Deus, controlava sua
fertilidade, sua posição e sua vida. Sentia-se despida e sem valor; não
suportava olhar para a feiura de sua esterilidade.
No devido tempo, Deus bondosamente concedeu um —lho a Raquel. Não
deixe de notar a bondade desse ato da graça divina. Ele não atendeu a
Raquel por causa de seu coração puro ou de seus desejos santos. Ele a
abençoou apesar de sua incredulidade. Então, embora temporariamente
repleta de alegria com esse nascimento, ela ainda se mostrou insatisfeita.
Revelou seu coração ao dar nome ao menino e dizer: “... Acrescente-me o
SR[U\” ainda outro —lho” (Gn 30.24). Raquel não se contentou com a
bênção que Deus havia lhe concedido em José. Queria mais. E esse, meus
amigos queridos, é o resultado inevitável da idolatria: ela sempre termina
em insatisfação.
Passado algum tempo, Raquel concebeu novamente e, pouco antes de
morrer no parto, chamou seu —lho Benôni, que signi—ca “—lho de minha
tristeza”. Aquilo que ela havia adorado e imaginado trazer-lhe bênção
acabou por lhe causar a morte. O que ela havia esperado trazer-lhe alegria
acabou por lhe causar tristeza. Não é irônico que a mulher que clamou “Dá-
me —lhos, senão morrerei” tenha morrido em trabalho de parto? Sua
história mostra que não há vida na idolatria. Ela só traz morte.
Vemos, portanto, que Raquel já era idólatra mesmo antes de roubar os
ídolos de seu pai. Seu desejo de ter —lhos, como sua irmã Lia tinha, era a
coisa mais importante de sua vida. Para ela, era algo absolutamente
essencial e, portanto, era seu deus. Raquel acreditava na justi—cação por
meio da maternidade; imaginava que precisava conquistar a aceitação diante
de Deus, dos outros e de si mesma. Ela não havia tido a experiência de ser
incapaz de aprovar a si mesma. E agora, estava se afogando em vergonha e
tristeza.
OS DEUSES DE RAQUEL

Não é difícil imaginar que Raquel tivesse sido sempre o centro das atenções,
que as coisas tivessem sempre acontecido da forma que ela desejava. É
provável que não estivesse acostumada a ver Lia em posição superior à dela.
A esterilidade, e tudo o que isso representava para Raquel, a haviam levado
a deparar com um problema insuperável — algo que talvez jamais tivesse
experimentado. Ela temia que precisasse tomar providências a Am de
proteger sua posição. Acreditava que, de algum modo, os deuses de seu pai a
abençoariam e, por isso, os furtou. Talvez cresse na existência de um Deus
que governava a terra, mas o considerasse distante ou indomável demais.
Não conAava que ele encaminharia a vida do modo que ela desejava.
Precisava de um deus mais domável, mais dócil, que ela pudesse controlar.
Queria um deus que lhe desse aquilo de que ela precisava. Queria um deus
que ela pudesse furtar e esconder!3 Queria um deus que ela pudesse guardar
na bolsa.
MEUS ÍDOLOS DO LAR
Ao reCetir sobre a história de Raquel, pergunto-me se também tenho
divindades domésticas — ídolos do lar nos quais procuro felicidade,
segurança e justiAcação própria. Pelo que anseio a tal ponto de meu coração
clamar: “Dá-me isto, senão morrerei!”? De que preciso para que a vida
tenha sentido ou felicidade? O que me permite deitar à noite e saber, no
mais profundo de meu ser, que estou verdadeiramente bem? Se minha
resposta a essa pergunta for qualquer outra coisa além de Deus, então é isso
que serve de deus para mim.
Embora não nos curvemos diante de estátuas de pedra nem preparemos
tigelas de comida para oferecer a nossos deuses, adoramos ídolos de outras
maneiras. João Calvino comentou a esse respeito ao escrever: “Quando
[Moisés] diz que Raquel furtou os ídolos de seu pai, fala de um erro
comum. Podemos concluir com isso que a natureza do homem [...] é uma
perpétua fábrica de ídolos” (grifo da autora).4
Os ídolos não são apenas estátuas de pedra. São amores, pensamentos,
desejos, anseios e expectativas que adoramos em lugar do Deus verdadeiro.
São as coisas nas quais investimos nossa identidade; são aquilo em que

con—amos. Os ídolos nos levam a desconsiderar nosso Pai celestial em busca
daquilo que imaginamos precisar. Nossos ídolos são nossos amores
distorcidos: tudo o que amamos mais do que amamos a Deus, as coisas em
que con—amos para nossa justi—cação, para nos tornarmos aceitáveis.
DEUSES DA ALIANÇA
Em certos aspectos, nosso relacionamento com esses falsos deuses é
semelhante ao nosso relacionamento com o Deus verdadeiro. Buscamos a
bênção desses deuses. Fazemos alianças com eles; conferimos-lhes o poder
de nos abençoar se trabalharmos para eles com a—nco su—ciente. Raquel,
por exemplo, diria: “Se eu tiver —lhos, como minha irmã Lia, serei feliz!”.
Ou talvez nós digamos: “Se eu tiver um cônjuge piedoso” ou “Se meus —lhos
se destacarem na escola, serei feliz”. Claro que ter relacionamentos piedosos
é uma bênção e uma fonte de felicidade, e não é pecado desejá-los; se,
porém, eles são a fonte de nossa alegria, se têm prioridade absoluta em
nossa vida, então são deuses para nós.
Jesus disse: “... buscai primeiro o seu reino [o reino de Deus] e a sua
justiça...” (Mt 6.33). Se edi—car o reino de Deus (e não o nosso próprio) for
a maior prioridade de nossa vida, descansaremos na certeza de que
receberemos todas as coisas verdadeiramente necessárias por causa de seu
grande amor, e com isso diminuirão as exigências que esses ídolos fazem de
nós. O ídolo de —lhos obedientes, por exemplo, que nos leva a pegar no pé
deles ou criticá-los, perderá força se não estivermos tentando construir o
reino de nossa família. Ademais, se buscarmos a justiça que vem somente de
Deus (Rm 10.3,4), em lugar de nossa própria justiça, não pressionaremos
nossa família a ter um bom desempenho para que nos sintamos bem
conosco mesmos ou tentemos nos justi—car por meio de nossa reputação
como “bons pais”.
Vejamos em mais detalhes as formas que a adoração a falsos deuses
assumem em nossa vida.
“DÁ-ME UM MARIDO PIEDOSO,
SENÃO MORREREI!”

Jenny estava convencida de que a única maneira de ser feliz seria ter um
marido piedoso. Ela era casada com um homem cristão que frequentava a
igreja com ela, mas queria que orassem juntos com frequência e que ele
conduzisse as devoções em família. Eu concordava com ela que teria sido
uma bênção para seu marido ser um líder mais piedoso e procurei incentivá-
lo a encontrar outros homens que o ajudassem a crescer nesse aspecto.
À medida que conheci Jenny melhor, porém, observei que seu desejo por
ter um marido piedoso desempenhava o papel de um deus em sua vida. Ela
era governada pela ideia “Preciso de um marido piedoso, senão morrerei”.
Por vezes, imaginava que, se fosse extraordinariamente gentil e preparasse
os pratos favoritos dele para o jantar, ele teria a obrigação de satisfazer seus
desejos. Em outras ocasiões, ela desistia, frustrada e com raiva, afastando-se
dele e —cando emburrada. Como Raquel, estava convencida de que só
encontraria a felicidade quando suas expectativas fossem preenchidas. Sua
identidade e aprovação própria dependiam do crescimento do marido como
líder. Não causou grande surpresa, portanto, quando ela me disse certo dia
que planejava separar-se dele. Ela deixou o marido e a igreja e, pela última
notícia que tive dela, não estava mais seguindo a Cristo. Como Raquel, seu
desejo acabou por destruí-la.
BÊNÇÃOS VENERADAS
Uma parte fundamental da falsa adoração consiste em conquistar mérito a
—m de levar os falsos deuses a nos darem aquilo que desejamos. Em
essência, fazemos alianças com eles e esperamos que nos abençoem se
agirmos de determinadas maneiras.
Por exemplo, se a boa saúde é um deus em sua vida, talvez você pense:
“Se eu me exercitar todos os dias e tiver uma dieta balanceada, nunca —carei
doente”. Se ter uma ocupação realizadora é um deus em sua vida, talvez
você pense: “Se eu for sempre o primeiro a chegar ao escritório e produzir
além do esperado, meu patrão será obrigado a me notar e a proteger meu
emprego”. Por favor, não me entenda mal. Não estou dizendo que é errado
o exercício apropriado ou o trabalho diligente; não apenas devemos
valorizar a boa dádiva do corpo que Deus nos concedeu, como também

somos instruídos a não cometer assassinato, inclusive contra nós mesmos
por meio do consumo imprudente de alimentos ou pela falta de atividades
físicas. Quando motivadas por amor a Deus e a outros, essas ações podem
ser boas. No entanto, tornam-se pecaminosas quando as praticamos
principalmente por medo pecaminoso, a —m de obter mérito, ou de
manipular resultados, em vez de agirmos livremente, como fruto de um
coração repleto de gratidão a Deus. O único motivo santo para fazer
qualquer coisa boa é o amor pelo Senhor e por nosso próximo. Se um bom
currículo ou um corpo esbelto for sua maneira de buscar justi—cação própria,
você descobrirá que, por mais que se esforce, jamais será capaz de satisfazer
as exigências da academia ou do patrão. Não há descanso na idolatria.
Imagino que talvez você esteja perguntando: “Tudo bem, Elyse, mas
como identi—car se estou adorando as bênçãos que desejo ou Deus?”.
Trataremos desse assunto em maior profundidade nos capítulos adiante,
mas vou resumi-lo aqui da seguinte forma: se você está disposto a pecar a
—m de alcançar seu alvo, ou se peca quando não consegue o que quer, então
seu desejo tomou o lugar de Deus e você está agindo como idólatra.
Lembra-se de como Raquel pecou? Ela se irou de forma pecaminhosa
com seu o marido; furtou os ídolos do pai e enganou a família. Mais tarde,
não se contentou com o nascimento de José e quis mais —lhos. O desejo de
Raquel por —lhos não era idolatria. Não, ela era idólatra porque seu desejo
de ter —lhos ocupava o primeiro lugar em seu coração. “Dá-me —lhos, senão
morrerei” é o clamor de uma idólatra.
Re)ita comigo a respeito do mandamento que Jesus disse ser mais
importante. Ele disse que o amor mais importante em seu coração deve ser
centrado em Deus. Qualquer coisa aquém disso é idolatria. Se você se
dedicar com a—nco em seu trabalho, mas ainda assim não for promovido,
sua reação revelará se você está servindo a Deus ou adorando um ídolo.
Deus e seu amor por ele são mais importantes que seu emprego? Ou se,
quando faz um belo jantar para seu marido, em vez de lhe dar atenção, ele
vai assistir televisão e depois dormir, você —car irada, emburrada, se chorar
ou pensar em formas de castigá-lo, você vai saber que seu amor por Deus
não ocupa o primeiro lugar em sua vida.

MALDIÇÕES GARANTIDAS
Faz parte da natureza de aliança da adoração crer que seu deus pode
abençoá-lo ou amaldiçoá-lo. Para Raquel, a esterilidade era maldição
intolerável. Sabemos disso porque ela estava disposta a abrir mão de
qualquer coisa para evitá-la. Os ídolos sempre operam desse modo em
nosso coração. Vendemo-nos para eles e imaginamos que perdê-los será
uma aCição insuportável — uma maldição. Por isso exercem tamanho poder
sobre nossa vida.
Há uma maldição envolvendo a idolatria, mas não se deve ao fato de não
conseguirmos o que desejamos. A maldição consiste em buscarmos
satisfação em algo que não Deus. Veja o que diz Jeremias 17.5,6:
Assim diz o SR[U\_:
Maldito o homem que conAa no homem,
que faz daquilo que é mortal a sua força
e afasta do SR[U\_ o coração.
Ele é como um arbusto no deserto,
não perceberá quando vier bem algum;
pelo contrário, morará nos lugares secos do deserto,
em terra salgada e desabitada.
O que você observa no homem que conAa em algo que não Deus? Ele
nunca está satisfeito. É como um arbusto sedento no deserto, um espinheiro
em terra desabitada. O que poderia dar menos satisfação?
Lembro-me de um passeio de jipe no deserto de Sonora. Embora fosse
primavera e tivesse chovido há pouco tempo, o deserto estava desolado.
Nosso guia comentou várias vezes que devíamos tomar cuidado, pois todas
as plantas e animais ali eram hostis. De fato, era perigoso aproximar-se de
qualquer coisa que crescia naquela região. Certo cacto tinha espinhos com
farpas microscópicas invertidas, capazes de Axar-se até a quem resvalasse
nelas. Outro cacto tinha espinhos de mais de oito centímetros de
comprimento, tão resistentes que penetrariam facilmente quatro camadas de
jeans. Era uma terra deserta e desabitada. Embora eu tenha gostado do
passeio, devo admitir que Aquei feliz de voltar para dentro do jipe e rumar

para a civilização. Com certeza eu não gostaria de morar ali. A Bíblia
ensina que quando coloco a mim mesma, meus desejos, minha capacidade
de me salvar, ou qualquer outra coisa que não Deus no centro de minha
con—ança e de meu amor, é exatamente neste lugar que vivo: no deserto.
Seria uma maldição ter de viver num deserto, não é? A pessoa que con—a
em algo ou ama algo mais que a Deus é amaldiçoada porque se concentra
de tal modo naquilo que deseja a ponto de nem sequer perceber quando
coisas boas acontecem. Só consegue ver o que está faltando em sua vida.
Isso porque o coração deixou de amar o Senhor, e ela tem mais amor por
alguma outra coisa. Ama a justiça própria, a autossu—ciência e aprovação
própria. Por essa razão Raquel era deslumbrante, tinha todo o amor de seu
marido, deu à luz um lindo bebê saudável e ainda assim declarou: “Quero
mais”. Raquel vivia no deserto em mais de um sentido. Vivia na aridez
criada por seus desejos. Sua vida era infeliz, triste, inútil e sem esperança,
pois ela havia descoberto que não era a mulher perfeita. A adoração a ídolos
é o motivo de nosso descontentamento e de nossa desobediência a Deus. E
Calvino diz que nosso coração os fabrica.
ENTERRE SEUS ÍDOLOS
No —m das contas, o que Raquel fez com seus ídolos? Felizmente, é
provável que eles tenham sido enterrados debaixo de uma árvore. Jacó
ordenou que sua família voltasse para Deus. “Lançai fora os deuses
estrangeiros que há no meio de vós”, disse a seus familiares. “E entregaram
a Jacó todos os deuses estrangeiros que possuíam [...] e Jacó os escondeu
debaixo do carvalho que está junto a Siquém” (Gn 35.2,4). Esperamos que
Raquel tenha entregado seus deuses falsos conforme seu marido ordenou.
Embora ela tenha morrido pouco depois, não há motivo para concluir que
tenha guardado consigo os ídolos apesar da instrução de Jacó. Talvez Deus
tenha libertado Raquel da crença de que precisava de algo além dele —
talvez tenha trabalhado no coração dela para que con—asse somente nele.
Você também pode encontrar descanso hoje na certeza de que, pela graça
de Deus, ao obedecer à ordem de seu Marido celestial para entregar seus
ídolos, ele os colocará debaixo de outra árvore. Deus tem poder para

enterrar todos os nossos falsos deuses debaixo do madeiro mais
impressionante e glorioso de todos... o madeiro do Gólgota. Você pode lhe
entregar todos os seus medos, todos os seus desejos, todos os seus pecados,
pois ele disse: “... Está consumado...” (Jo 19.30).
A história de Raquel é relevante para você e para mim? Sim, pois a
idolatria não terminou ali. O problema persiste na igreja de hoje.
Precisamos nos lembrar das palavras —nais de João: “Filhinhos, guardai-vos
dos ídolos” (1Jo 5.21). Sua advertência para “ter cuidado” ou “proteger-se”
da adoração falsa não faz sentido se não entendemos como nosso coração
fabrica ídolos.
Deus nos chama a enterrar nossos falsos deuses aos pés da cruz. Na união
com Jesus Cristo, cruci—cado no madeiro do Gólgota, temos o desejo e o
poder de conquistar toda nossa idolatria e enterrar nossos deuses no solo
encharcado de sangue debaixo de sua cruz.
Somente Deus, o Conhecedor do coração, é também o Transformador do
coração. O Deus que nos conhece e nos ama plenamente, mais do que
somos capazes de entender, também conhece todos os nossos desejos e o
lugar que ocupam em nossos afetos. Ele é o Transformador do coração. Nas
palavras do autor de Hebreus,
não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão
descobertas e expostas aos olhos daquele a quem deveremos prestar
contas [...] Porque não temos um sacerdote que não possa compadecer-se
das nossas fraquezas, mas alguém que, à nossa semelhança, foi tentado
em todas as coisas, porém sem pecado. Portanto, aproximemo-nos com
con—ança do trono da graça, para que recebamos misericórdia e
encontremos graça, a —m de sermos socorridos no momento oportuno
(Hb 4.13,15-16).
Todos os desejos de nosso coração, quer idólatras em essência ou idólatras
em função de nosso amor desordenado por eles, são conhecidos por nosso
Pai. Todas as coisas estão “descobertas e expostas” diante dele, e ele nos
conhece inteiramente. Ele sabe de cada ocasião em que colocamos algo
acima dele, em que amamos algo mais do que a ele. Se esse fosse o —m da
história, cairíamos em desespero, não é mesmo? Louvado seja Deus porque

a passagem diz, na sequência, que nosso querido Salvador e Sumo
Sacerdote se compadece de nossas fraquezas. Ele entende nossa adoração
diluída e implora para que nos aproximemos dele, “para que recebamos
misericórdia e encontremos graça [...] no momento oportuno”. Precisamos
encarecidamente de sua misericórdia e de seu socorro em nosso conCito
com a idolatria... e ele prometeu concedê-los. Portanto, deposite nele toda
sua esperança e conAança. Sei que ele se mostrará um Sumo Sacerdote Ael
e lhe concederá a ajuda de que você precisa para desenvolver um coração e
uma vida inteiramente dedicados a amá-lo e adorá-lo.
Quando você se vir preocupado, irado ou temeroso como Raquel,
descanse no fato de que não precisa pegar um ídolo na estante nem
encontrar algum outro modo de cuidar de si mesmo. A misericórdia e a
graça de Deus estão ao seu alcance a cada momento — e a ajuda que ele
promete é tão certa quanto o caráter dele. Você pode dar um passo em
direção ao Senhor... Ele o conhece e sabe o que você adora, e é mais que
capaz de sustê-lo em seu momento de necessidade. Portanto, vá em frente e
aproxime-se dele com conAança. Você descobrirá que ele é repleto de
compaixão e mais que capaz de ampará-lo e transformá-lo. AAnal, ele já o
considera justo em Cristo. De que mais você precisa?
PARA REFLETIR
1. Pense na história de Raquel e Lia. Se você não a conhece, leia a partir de
Gênesis 29. Você se identiAca mais com Raquel ou com Lia? De que
maneira as interações de Deus com ambas são consolo e ânimo para
você?
2. Pense nas áreas de sua vida em que você luta contra o pecado. Vê alguma
ligação entre seu pecado habitual e uma possível idolatria? Em caso
aArmativo, anote-a. Em caso negativo, não desanime; o Senhor o ajudará
a identiAcar se há ídolos em
seu coração.
3. Existe algo em sua vida que lhe parece absolutamente essencial ter?
4. Como você completaria a frase; “Dá-me ________, senão morrerei”?
Você espera que algum Jacó humano lhe proveja satisfação absoluta? Que

palavras usa para se consolar diante de fracassos e decepções?
5. Escreva uma oração de compromisso, declarando seu desejo de entender
como seu coração pode fabricar ídolos.
1Se você ainda não conhece a história de Jacó, Raquel, Lia e Labão, separe um tempo para lê-la,
começando em Gênesis 29.
2Em um exemplo perfeito de ceifar aquilo que se semeia, Jacó, que enganou seu pai, foi enganado por
seu sogro.
3“Raquel havia pegado os ídolos e posto na sela do camelo, sentando-se em seguida sobre eles. Labão
apalpou toda a tenda, mas não os achou. Ela disse a seu pai: Que a ira nos olhos de meu senhor não
se acenda, por não poder me levantar na tua presença, pois estou com o incômodo das mulheres.
Assim ele procurou, mas não achou os ídolos” (Gn 31.34,35).
4John Calvin, Institutes of the Christian religion, edição de John T. McNeill, Library of Christian
Classics (Philadelphia: Westminster,1960), 2 vols., 1:108 [edições em português: João Calvino, As
institutas, tradução de Waldyr Carvalho Luz (São Paulo: Cultura Cristã, 2006), 4 vols. e A instituição
da religião cristã, tradução de Carlos Eduardo Oliveira; José Carlos Estêvão (São Paulo: Unesp,
2008)], grifo da autora.

2
ADORAÇÃO NÃO
DIVIDIDA
... tu me amas mais do que estes? (Jo 21.15).
“Tenho a impressão de que não faço outra coisa senão trabalhar. Minha irmã nem parece
perceber que eu também gostaria de me sentar e ouvir as palavras do Mestre. Por que ela
não enxerga que preciso de ajuda? Às vezes ela é tão egoísta! Tenho tanta coisa para fazer
com os preparativos do jantar e a recepção dos convidados. Acho que vou dizer a ela o que
penso.”
Quando Marta saiu da cozinha e entrou na sala de estar, irritou-se novamente ao ver a
irmã sentada aos pés de Jesus. “Por que Jesus não diz para ela me ajudar? Por que deixa que
fique acomodada? Ele não se importa comigo?”
“Senhor”, Marta demandou, “não te importas que minha irmã tenha me deixado sozinha
com todo o serviço? Dize-lhe que me ajude”.
O Senhor voltou os olhos cheios de amor para o rosto de sua serva
inquieta e disse: “Marta, Marta, estás ansiosa e preocupada com muitas
coisas; mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, e esta não
lhe será tirada” (Lc 10.41,42).
Creio que não conheço nenhuma mulher cristã para a qual essas palavras
de Cristo não falem ao mais fundo de seu coração. Por algum motivo, servir
de forma prática parece ser mais fácil e mais gratiAcante que sentar-se aos
pés do Senhor para ouvi-lo. Por que será? Essa tendência indica um
problema em nossa adoração? Em nosso amor? E o que é a “boa parte” que
Maria havia escolhido e que Marta e muitos de nós talvez deixemos passar?
AMOR EXCESSIVO POR DEUS?
Você conhece alguém excessivamente dedicado ao Senhor, todo voltado a

amá-lo? Eu não conheço. Aliás, não creio que isso seja possível. Como
Richard Baxter diz, “não é possível amar demais a bondade inAnita”.1 Não
estou falando sobre alguma devoção mística que impede um modo de vida
responsável. Estou falando da diAculdade que sentimos quando tentamos
dedicar nossa vida diária, a cada momento, a amar, adorar e servir ao
Senhor — a assentar-nos a seus pés.
Apesar de meu envolvimento constante com o ministério cristão, tenho
de me perguntar com frequência: “Quanto tempo tenho passado aos pés do
Mestre? Quanto tempo dedico à única coisa necessária?”. Não estou falando
de tempo gasto me preparando para oportunidades de ministério, mas sim
de tempo assentada aos pés de Jesus, adorando-o. Verdade seja dita... sou
como Marta. Tenho fortes amores concorrentes em meu coração. Sim, amo
o Senhor, mas no momento estou um tanto ocupada trabalhando para ele;
mais tarde passo um tempo com ele.
Até mesmo em minhas responsabilidades no ministério cristão é possível
adorar deuses que eu mesma crio.... as divindades de minha reputação, de
meus planos para o dia, de minhas ideias. É fácil Acar tão frustrada e
envolvida com o “serviço” ao Senhor que me esqueço de amá-lo e adorá-lo.
Nessas horas, de modo semelhante a Marta, começa a imaginar que Deus
não se importa comigo. A verdade acerca de seu amor e cuidado sacriAcial
Aca anuviada por meus planos e desejos. Também é fato que, muitas vezes,
grande parte do trabalho que realizamos “para” o Senhor é, na realidade,
uma forma de tentarmos salvar a nós mesmos, merecer bênçãos ou justiAcar
nossa existência.
Esse não é um problema apenas de Marta. Por isso ouvimos as palavras
do Senhor a ela ressoarem em seus ensinamentos a outros: “Trabalhai não
pela comida que se acaba, mas pela comida que permanece para a vida
eterna, a qual o Filho do homem vos dará” (Jo 6.27). “Cuidai de vós
mesmos; não aconteça que o vosso coração se encha de [...] preocupações
da vida” (Lc 21.34). Por que é tão fácil nos enchermos de preocupações e
nos vermos presos? Porque, como João Calvino disse, nosso coração fabrica
outros deuses, e supomos que eles nos salvarão e proverão para nós.
Às vezes lhe parece que a Bíblia é repleta de declarações
Ê

assustadoramente simples? Êxodo 20.3 diz: “Não terás outros deuses além
de mim”. Com essa asserção elementar, o Senhor Deus, Criador dos céus e
da terra, dirige todo nosso foco e destino. Nossa atitude em relação a essas
sete palavras curtas, que parecem tão triviais, inCuencia todas as facetas de
nossa vida, agora e eternamente. Será que a única coisa necessária que
Marta encontrou e Maria deixou passar está resumida nesse mandamento
sucinto? Marta havia colocado outro deus acima de Jeová?
INSIGHTS DOS PURITANOS
Ao procurarmos entender a devoção plena que Deus exige no primeiro
mandamento, um recurso útil é o <e larger catechism.
Ele propõe a pergunta: “Quais são os deveres exigidos no primeiro
mandamento?”. A resposta que os autores fornecem é tão proveitosa para
tratarmos do pleno propósito do mandamento que a citarei por inteiro
(embora seja um tanto extensa):
Os deveres exigidos no primeiro mandamento são: conhecer e reconhecer
Deus como único Deus verdadeiro e nosso Deus, e adorá-lo e gloriAcá-lo
como tal; pensar e meditar nele, lembrar-nos dele, tê-lo na mais alta
consideração, honrá-lo, adorá-lo, escolhê-lo, amá-lo, desejá-lo e temê-lo;
crer nele, conAando, esperando, deleitando-nos e regozijando-nos nele;
ter zelo por ele; invocá-lo, dando-lhe todo louvor e gratidão, prestando-
lhe toda a obediência e submissão de nosso ser; ter cuidado de agradá-lo
em tudo, e tristeza quando ele é ofendido em qualquer coisa; e andar
humildemente com ele.
2
Que tal voltar e reler a resposta? Notou como cada um dos verbos é
relevante e rico em signiAcado? Ao lê-los, vejo claramente como falho em
conhecer, reconhecer, adorar e gloriAcar a Deus como meu único Deus
verdadeiro. ReCita comigo enquanto repasso alguns itens da lista:
• Pensar em Deus. Penso em Deus continuamente ou só de vez em
quando, nos momentos em que desejo algo ou preciso de algo?
• Meditar em Deus. Medito em seu caráter, em sua santidade, em sua
bondade, em seu amor?

• Lembrar-se de Deus. Lembro-me dele em tudo o que faço e digo ou
raramente penso nele?
• ConAar em Deus. ConAo nele de fato ou conAo em outras coisas, como
meu currículo ou meu trabalho?
Percebe a perspectiva prática dos puritanos? Embora haja quem considere
de modo equívoco o primeiro mandamento como uma instrução ambígua,
os puritanos o compreenderam em termos práticos e cotidianos.
Dediquemos agora algum tempo ao estudo mais detalhado de dois termos
que eles usam: honrar e conAar.
O SACERDOTE QUE NÃO
HONRAVA A DEUS
Antes do tempo dos reis de Israel, um sacerdote chamado Eli atuou como
governante nomeado por Deus. Eli tinha um problema sério: não honrava
a Deus. Embora servisse a Jeová e ocupasse o cargo mais elevado de
autoridade religiosa, estava mais preocupado em agradar seus dois Alhos
rebeldes do que em agradar a Deus. Esse fato é evidente, pois, quando seus
Alhos agiram com impiedade, ele não os disciplinou.3 Deus confrontou Eli
por seu pecado: “... Por que honras teus Alhos mais do que a mim...?” (1Sm
2.29). Visto que Eli honrava seus Alhos mais que a Deus, era inevitável que
seu sacerdócio chegasse ao Am.
Embora Eli servisse ao Senhor, considerava mais importante agradar seus
Alhos que honrar a Deus. É provável que Eli nunca tenha dito isso, mas
suas ações falavam mais alto que quaisquer palavras. Ele preocupava-se
mais em ter paz em seu lar do que em ter paz com Deus, por isso não
cumpriu seu dever e desonrou ao Senhor. O prazer de ter um
relacionamento tranquilo com seus Alhos funcionava como seu deus. Ele
serviu a esse ideal que lhe era tão importante e desconsiderou as ordens de
Deus para disciplinar seus Alhos. Apesar de Eli ser sacerdote, era idólatra.
Não se curvava para imagens de pedra, mas se curvava para as exigências
de seus Alhos — mesmo quando eram conCitantes com as exigências de

Deus.
Como adoradores de Deus, nossa preocupação com sua honra deve ser
tão grande que, em comparação, o amor natural por outros deve parecer
ódio. Como Jesus disse: “Se alguém vier a mim, e amar pai e mãe, mulher e
Alhos, irmãos e irmãs, e até a própria vida mais do que a mim, não pode ser
meu discípulo” (Lc 14.26).
Ao fazer uma retrospectiva de minha vida como mãe, vejo diversas
maneiras pelas quais me curvei para as exigências de meus Alhos em vez de
honrar a Deus. Vejo como consenti com seus desejos e os atendi porque
queria mimá-los ou deixá-los felizes. Por vezes, quis tanto ser amiga deles
que não me preocupei com a amizade com Deus. Em outras ocasiões,
cheguei a me opor à liderança de meu marido para evitar o desprazer deles.
Em meu coração, sou como Eli. Houve ocasiões em que transformei em
ídolo a opinião favorável de meus Alhos... e, como Marta, deixei passar a
única coisa necessária: a adoração a Deus.
Honrar a Deus signiAca colocar em primeiro lugar o prazer e a glória do
Senhor. SigniAca ter respeito e deferência por ele e estimá-lo acima das
opiniões daqueles a quem amamos. SigniAca ter a disposição de sofrer
desrespeito e até perseguição a Am de respeitá-lo. Podemos identiAcar a
adoração a falsos deuses em nosso coração quando honramos alguma coisa
mais que a Deus.
O PAI QUE CONFIAVA EM DEUS
Outra faceta da adoração a Deus é a conAança. ConAar em Deus signiAca
crer nele e obedecer a suas ordens a qualquer custo. SigniAca acreditar que
tudo de que preciso para ser amado e cuidado eternamente já me foi
concedido em Cristo.
A conAança é uma daquelas questões fundamentais nas quais preciso
trabalhar continuamente. Embora conAe em Cristo para minha salvação
eterna, com frequência encontro outras áreas de minha vida em que não
conAo em Deus. Por exemplo, Aco apreensiva quando imagino que não
haverá dinheiro suAciente para pagar as contas. Em vez de conAar na
provisão de Deus, sou tentada a importunar meu marido e Acar preocupada

e com raiva, ou a Acar frustrada, desistir e gastar dinheiro na tentativa de
satisfazer e acalmar meu coração. Na verdade, essas ações revelam falta de
conAança na capacidade de Deus de prover. São pensamentos e ações de
um idólatra.
Abraão havia esperado anos pelo presente prometido por Deus — um
Alho que Deus usaria para trazer ao mundo seu Libertador. Depois do
nascimento de Isaque, Deus pediu de Abraão uma obediência inimaginável:
“... Toma agora teu Alho, o teu único Alho, Isaque, a quem amas; vai à terra
de Moriá e oferece-o ali em holocausto...” (Gn 22.2). O fato de Abraão ter
se sujeitado à ordem de Deus é um exemplo extraordinário de como Deus,
por sua graça, nos sustenta e nos capacita para obedecer.
Abraão amava Isaque, e Deus sabia disso. Em sua ordem para que
Abraão realizasse esse sacrifício, Deus ressaltou o fato de que Isaque era o
Alho amado de Abraão. O Senhor queria deixar claro para Abraão que ele
sabia o que sua ordem implicava. Não se tratava do sacrifício de Ismael,4
mas de Isaque, o Alho preferido, o Alho da promessa por meio do qual o
Messias viria. Teria sido fácil para Abraão imaginar que a vinda do Messias
dependia inteiramente de sua capacidade de proteger Isaque. AAnal, a Am
de que a promessa de Deus se cumprisse, parecia necessário que Isaque
chegasse à idade adulta. Teria sido fácil para Abraão conAar em si mesmo e
em sua aptidão como pai. Da mesma forma que você e eu, no passado
Abraão havia lidado com o desejo de resolver as coisas (inclusive as
promessas de Deus) à sua maneira, conAando em si mesmo.5 Ele poderia
ter pensado consigo mesmo: “Deus não me pediria para matar Isaque. Não,
tenho de protegê-lo para que Deus cumpra seu plano em relação ao
Messias. Preciso fazer o que me parece correto”.
Pela graça divina, Abraão foi capaz de conAar no poder e no plano do
Senhor. Podemos acompanhar o raciocínio de Abraão em Hebreus 11: “Ele
considerou que Deus era poderoso até para o ressuscitar dos mortos...” (Hb
11.19). Abraão não tinha garantia alguma de que Deus proveria um
carneiro para o sacrifício, apenas a garantia da promessa de Deus: “... todas
as famílias da terra serão abençoadas por meio de ti” (Gn 12.3). Deus
poderia ter lhe dado outro Alho, poderia ter ressuscitado Isaque, ou poderia

ter cumprido sua promessa de alguma outra maneira. De qualquer modo,
Abraão havia aprendido a conAar nele, portanto levantou-se cedo, pegou a
lenha, o fogo e uma faca, e partiu para o encontro com o Deus em quem ele
conAava. O que o sustentou durante a jornada de três dias até o monte
Moriá? Talvez ele simplesmente tenha conAado que Deus não havia
mentido. Creu na sabedoria, no poder e na veracidade de Deus. Talvez
tenha se recordado das promessas de Deus:
... farei de ti uma grande nação... (Gn 12.2).
... farei a tua descendência como o pó da terra... (Gn 13.16).
... conta as estrelas [...] Assim será a tua descendência (Gn 15.5).
... Eu sou o Deus todo-poderoso [...] te farei crescer muito em número
(Gn 17.1,2).
... eu te farei frutiAcar imensamente; de ti farei nações, e reis procederão
de ti (Gn 17.6).
Pela graça e pelo poder de Deus, Abraão creu em suas promessas e
obedeceu de bom grado.
ReCita sobre as diferenças entre o relacionamento de Abraão e de Eli
com Deus. Abraão amava seu Alho, mas amava Deus ainda mais. Ele
adorava a Deus a ponto de estar disposto a entregar a pessoa mais querida
de seu coração. Sim, Abraão amava seu Alho, mas seu amor por ele parecia
ódio em comparação com o amor por seus Deus. Eli teria dito que amava a
Deus e a seus Alhos. Na hora da verdade, porém, suas ações mostraram que
seus Alhos governavam seu coração.
CONFIANÇA NO DEUS QUE VOCÊ ADORA
Diante da adversidade, quando parece que tudo pelo que você trabalhou
está prestes a se transformar em fumaça — quando os Alhos estão doentes,
a empresa vai por água abaixo ou há conCito na igreja — as perguntas
fundamentais devem ser: Você conAa em Deus? Crê que ele é sábio, bom e
poderoso o suAciente para realizar sua vontade e conduzir você e sua família
em segurança até ele? Consegue ouvi-lo dizer a você: “Eu sou o Deus todo-
poderoso”?

Gostaria de dizer que sempre conAo em Deus desse modo, mas não é o
caso. Muitas vezes me pego vacilando e questionando a bondade e a
veracidade de Deus. Creio que Deus é bom e que posso conAar em sua
palavra, mas essa convicção sempre compete com outras crenças e com
medos em meu coração:
• Posso conAar em Deus para a salvação e outras coisas do âmbito
religioso, mas quanto a meu casamento, devo agir como me parecer
melhor.
• Não preciso me esforçar para ter uma vida de obediência grata pelo
amor e pela aceitação de Deus. Minha desobediência não é idolatria;
minhas circunstâncias são peculiares.
Dessas formas não muito sutis, eu me vejo faltar com a obediência ao
primeiro mandamento e erigir outros deuses — os deuses da minha razão,
os deuses da exaltação, da salvação e do amor próprios — em vez de
desenvolver conAança e devoção absolutas. Permita-me dar-lhe mais um
exemplo que talvez o ajude a perceber como é fácil nos confundirmos em
relação ao foco de nosso amor.
“... TU ME AMAS MAIS DO QUE ESTES?...”
Antes de negar a Cristo na noite da cruciAcação, Pedro achava que adorava
plenamente a seu Senhor. Ele teria se encaixado bem entre os 76 por cento
dos americanos que se consideram obedientes ao primeiro mandamento.
Pedro supôs equivocadamente que seu amor pelo Senhor fosse mais forte
que qualquer outro amor. Declarou: “... Ainda que seja necessário morrer
contigo, de modo nenhum te negarei” (Mc 14.31). Jesus, porém, lhe disse:
“... nesta noite [...] tu me negarás três vezes” (Mc 14.30).
Que impacto essas palavras devem ter causado a Pedro, tão orgulhoso e
seguro de si! É provável, contudo, que o impacto maior, que abalou até os
alicerces de sua alma, tenha vindo com o olhar de amor e compreensão de
Jesus por seu discípulo depois que ele o negou (Lc 22.61). Quando o olhar
de Pedro cruzou com o olhar do Senhor, ele entendeu as incoerências de

seu coração, a fragilidade de seu afeto e o verdadeiro foco de seu amor. Ele
tinha outros deuses. Pedro havia se imaginado forte o suAciente para ser seu
próprio salvador: “... saindo dali, chorou amargamente” (Lc 22.62).
Ele tinha visto o Senhor duas vezes depois da ressurreição,6 mas ainda
lutava com seu pecado e com os amores concorrentes em seu coração. Jesus,
em sua misericórdia, o ajudou a entender sua fraqueza. Na praia, enquanto
Jesus preparava o café da manhã para seus discípulos, confrontou Pedro
ternamente. Três vezes lhe perguntou: “Simão, Alho de João, tu me amas
mais do que estes?” (Jo 21.15). Em grego, Jesus lhe perguntou: “Você me
ama com devoção ardente, que exclui todos os outros amores?”. Duas vezes
Pedro se esquivou e declarou que tinha forte afeição pelo Senhor. Na
terceira vez, Jesus mudou a pergunta: “Você tem forte afeição por mim?”.
ACito e triste, Pedro foi obrigado a reconhecer: “... Senhor, tu sabes todas as
coisas e sabes que te amo...” (Jo 21.17). Foi como se Pedro tivesse dito,
Analmente: “Senhor, tu conheces meu coração. Sabes dos amores que
competem por minha atenção dentro dele. Eu te amo, mas tu sabes que
falhei em amar-te, pois amei outras coisas, especialmente as pessoas e a
opinião delas a meu respeito. Será que eu te amo mais do que estes? Meu
amor é mais forte que o deles? Senhor, somente tu o sabes”. Em essência, a
resposta do Senhor foi: “Sim, Pedro, eu sei. E agora, você também sabe.
Sirva-me ao cuidar de meu povo, mas, ao fazê-lo, tenha em mente a quem
você está servindo. Tenha em mente a quem você deve adorar. Lembre-se
de que eu sou o Único forte o suAciente para salvar. E lembre-se de que
você não é melhor que aqueles a quem serve”.
O Senhor sabia que Pedro seria fraco, que falharia... como acontece com
todos nós. Muitas vezes, não permanecemos Aéis ao Senhor como
deveríamos, pois temos em nosso coração os mesmos amores concorrentes
que Pedro. Temos medo de que outros nos critiquem, zombem de nós ou
nos persigam. Temos vergonha de nossa incapacidade de salvar a qualquer
pessoa. Somos iguais a Pedro, não é mesmo?
Em meio a essa triste realidade se encontra uma alegre verdade: como
Pedro pertencia a Cristo, no Am das contas ele prevaleceria, e sua fé não
fracassaria completamente. A vitória não seria resultado da força ou fé

inerente de Pedro. Evidente, não? Sua fé sobreviveria e se desenvolveria por
meio de seu fracasso porque o Senhor havia orado por ele (Lc 22.32). Você
pode consolar seu coração com o fato de que o Senhor também ora por
você.
Portanto, também pode salvar perfeitamente os que por meio dele se
chegam a Deus, pois vive sempre para interceder por eles (Hb 7.25).
Nas palavras de certo puritano, “se ouvisses Cristo orar por ti, não seria
um incentivo para orares e te persuadires de que Deus não te rejeitaria?”.7
Embora falhemos, embora adoremos outros deuses, podemos descansar no
fato de que Deus verdadeiramente nos salva para sempre. Isso porque o
Senhor Jesus está orando por nós, e sabemos que suas orações sempre são
conforme a vontade de Deus e sempre são ouvidas (Jo 11.41,42). Sim,
podemos falhar em permanecer Aéis como deveríamos, em adorar somente
Deus, mas como ele está orando por nós, jamais cairemos de suas mãos de
amor.
Em nossa luta contra a idolatria, aprendamos a descansar no poder da
oração dele. Ao continuarmos a examinar a inCuência de falsos deuses, será
importante lembrar que, embora você se sinta fraco e vulnerável, se
pertence a Deus, ele o fortalecerá e o guardará. O fato de você lutar contra
amores concorrentes não é surpresa maior para o Senhor que as negações
de Pedro. No entanto, Deus amparou Pedro quando ele caiu, e amparará
você também. E o simples fato de você estar nessa batalha é prova de que,
verdadeiramente, pertence ao Senhor.
QUEM VOCÊ ADORA?
Neste capítulo, procurei ajudá-lo a observar um pouco mais de perto as
implicações das palavras “Não terás outros deuses além de mim” (Êx 20.3).
À primeira vista, talvez parecesse que você estava se saindo bem na tarefa
de obedecer a esse mandamento. Quem sabe agora, depois de olhar para a
vida de Marta, Eli, Abraão e Pedro, tenha percebido áreas de sua própria
vida em que outros deuses governam seu coração. Consegue discernir em
que áreas você adora, honra, ama algo ou conAa nisso mais que em Deus?
Em caso aArmativo, não se desespere. Lembre-se de que Jesus sabia que

Pedro o negaria, mas por causa das orações de Jesus, a fé no coração de
Pedro sobreviveu, se desenvolveu e foi bênção para outros. A negação de
Pedro é fonte de grande consolo para mim, pois sei que em todos os
aspectos nos quais neguei o Senhor, ele está orando por mim, desaAando-
me a dedicar-lhe todo o meu amor.
No capítulo seguinte, trataremos em maior profundidade do primeiro
mandamento e analisaremos o lugar da lei em nossa vida como crentes. Por
ora, porém, peço que o Espírito Santo desperte seu entendimento para os
amores concorrentes e os deuses em seu coração.
PARA REFLETIR
1. Volte à resposta do <e larger catechism (p. 39-40) e anote os verbos
usados para ilustrar a adoração não dividida. Sublinhe
os verbos mais expressivos para você.
2. Ao reCetir sobre Marta, Eli, Abraão e Pedro, que verdades eles ensinam
sobre adorar de todo o coração?
3. Com qual dessas pessoas você se parece mais? Em que aspectos você
falha?
4. Qual é o signiAcado do fato de que Jesus está orando por você?
5. No livro No god but God [Nenhum deus além de Deus], Os Guinness e
John Steel aArmam: “Para os seguidores de Jesus Cristo, quebrar os ídolos
e viver na verdade não é uma prova de ortodoxia, mas de amor”.8 O que
você acha que eles querem dizer com isso?
6. Quem ou o que compete mais intensamente por seu amor? Pense em
seus relacionamentos com pais, cônjuge, Alhos, empregadores e amigos.
1Richard Baxter, A Christian directory (Morgan: Soli Deo Gloria, 1996), p. 123.
2e larger catechism, p. 104 (Carlisle: Banner of Truth Trust, 1998) [edição em português: O
catecismo maior de Westminster (São Paulo: Cultura Cristã, 2003)].
3“Os ?lhos de Eli eram ímpios; não se importavam com o S [...]. O pecado desses jovens era
muito grave à vista do S, pois eles desprezavam a oferta do S” (1Sm 2.12,17). Veja tb.
1Sm 2.22-25,29. “Porque já lhe disse que julgarei sua família para sempre, pois ele sabia do pecado de
seus ?lhos, que blasfemavam contra Deus, mas não os repreendeu” (1Sm 3.13).
4Veja em Gênesis 16, 17 e 21 a história completa de Abraão, Hagar (serva de Sara) e seu ?lho Ismael.

5Embora Abraão tenha sido aprovado nesse teste com louvor, não foi sempre assim em outras
ocasiões de sua vida. Em Gênesis 12.13 e 20.2, ele colocou em perigo duas vezes sua esposa Sara, que
seria a mãe do ?lho prometido, ao dizer a reis da terra que ela era apenas sua irmã. Foi sinal da graça
providencial de Deus ter guardado Sara de relações sexuais na corte do rei, protegendo assim a
linhagem eleita. Em Gênesis 16, Abraão cedeu às maquinações de Sara e teve relações sexuais com
Hagar, gerando um ?lho por seu próprio poder e questionando, mais uma vez, a capacidade de Deus
de cumprir sua palavra.
6O Senhor também conversou com Pedro em particular em pelo menos mais uma ocasião antes de os
demais discípulos o verem. Embora não tenhamos informações a respeito do teor dessa conversa, é
natural supor que tenham falado sobre a negação de Pedro e sua restauração (veja Lc 24.34; 1Co
15.5).
7Baxter, A Christian directory, p. 68.
8Os Guinness; John Seel, orgs., No god but God (Chicago: Moody, 1992), p. 216.

3
DE SUMA IMPORTÂNCIA
De modo que a lei é santa, e o mandamento,
santo, justo e bom (Rm 7.12).
— Vocês têm de partir agora mesmo! Não levem coisa alguma. Fujam da cidade antes que o
furor de Deus caia sobre ela!
“Quem eram esses desconhecidos que seu marido havia protegido durante a noite? Do
que estavam falando?”, perguntou-se a esposa de Ló. “Por que devemos dar ouvidos a eles?
Quem pensam que são para ordenar que abandonemos nosso lar? Talvez seja mais uma
das brincadeiras de Ló.”
— Não podemos ficar mais um pouco, Ló? —, suplicou ao marido. — Os noivos de nossas
filhas não têm certeza de que precisamos partir. Por que não esperar e ver o que acontece?
Quem sabe não será necessário irmos embora. Sei que essa cidade tem seus problemas,
mas que cidade não tem? Além do mais, você exerce autoridade considerável aqui e talvez
possa convencer o povo a mudar. Não vamos nos precipitar.
Então, enquanto o sol nascia, algo ainda mais assustador aconteceu. Os dois
desconhecidos obrigaram a família a sair pelas portas da cidade e ordenaram que fugisse.
— Corram se quiserem salvar a vida! —, advertiram. — Não olhem para trás! Afastem-se da
cidade! O castigo de Deus está prestes a cair sobre este lugar, mas Deus os protegerá.
Corram! E lembrem-se: não olhem para trás em hipótese alguma!
Enquanto Ló, sua esposa e suas filhas fugiam de sua casa, a esposa de Ló sentiu algo
fisgar seu coração.
“Como posso deixar para trás uma casa confortável, amigos queridos, um lugar cheio de
atrativos, meu âmbito de influência? Não tive tempo nem de pegar minhas belas peças de
cerâmica. E quanto aos noivos de minhas filhas? Não quero sair da cidade. Eu a amo e vou
sentir saudades demais. É tão difícil pensar em partir. Além disso, Deus sabe que preciso de
meu lar querido. Será que Deus poupará nossa casa? O que será que está acontecendo com
ela? Ló está correndo à frente, não vai saber se eu olhar só de relance. Preciso apenas de
uma última lembrança para levar comigo... apenas uma memória preciosa.”
Quando a esposa de Ló se voltou para trás, é possível que tenha ficado paralisada com a
cena assustadora de fogo descendo do céu sobre sua cidade, seu lar. Naquele instante, antes
que se desse conta, foi envolta em gases sulfurosos e coberta de sal. A última imagem que
viu de seu mundo querido foi do julgamento divino sobre ele.

Por vezes, uma ação simples revela muita coisa a respeito do caráter.
Neste caso, um olhar de relance revelou o coração. Sodoma era o lugar em
que a esposa de Ló vivia Asicamente, mas também era onde seu coração
habitava. Ela o amava, e seu coração idólatra se apegou a ele, pois ali estava
seu tesouro. Lembra-se das palavras de Jesus, “onde estiver teu tesouro, aí
estará também teu coração” (Mt 6.21)? Havia algo em Sodoma que ela
valorizava, estimava, apreciava e amava mais que a Deus.
Moro na região norte de San Diego e, quando olho para meu lindo
quintal, posso dizer com sinceridade: “Amo o lugar onde moro”. Deus
abençoou nossa família com uma boa casa em uma parte agradável do
mundo. Não há pecado algum em desfrutar o que Deus proveu e ser grato
por essas dádivas. Aliás, seria pecado não ter prazer em suas bênçãos. O
problema, contudo, é quando amo minha casa mais do que a Deus. Se
estimo minha agradável residência mais do que a Deus, tornei-me idólatra.
Não é errado agradecer a Deus por suas bênçãos, mas quando as bênçãos se
tornam nosso deus, caímos em idolatria. Esse foi o problema da esposa de
Ló: ela deu maior valor a Sodoma que a Deus. Jesus adverte: “Lembrai-vos
da mulher de Ló” (Lc 17.32).
Você está começando a perceber como suas ações, de modo semelhante às
ações das pessoas da Bíblia, reCetem o foco de seu amor e de sua adoração?
É fácil perceber que a esposa de Ló tinha outros deuses, não? É evidente
que ela amava sua cidade, por mais perversa que fosse. Sabemos disso
porque ela se mostrou disposta a desobedecer à ordem de Deus a Am de
olhar para Sodoma só mais uma vez.
Precisamos crescer em nosso entendimento do ensino das Escrituras
acerca da idolatria; para isso, consideraremos as proibições explícitas de
Deus a esse respeito. Ao fazê-lo, espero que você consiga enxergar com
mais clareza outros deuses que talvez estejam presentes em sua vida. Ao
longo do caminho, descobrirá que a desobediência nasce da adoração a
outros deuses.
O MAIOR MANDAMENTO
Quando Moisés voltou de seu encontro com Deus, trouxe consigo

instruções divinas para a vida e a adoração na forma dos Dez
Mandamentos. Deus tinha dado leis a seus Alhos: “... temas o SR[U\_, [...]
andes em todos os seus caminhos...”. Ordenou:
“... ames e sirvas o SR[U\_, teu Deus, de todo o coração e de toda a alma,
guardes os mandamentos do SR[U\_ e os seus estatutos [...] para o teu bem
(Dt 10.12,13).
Obedecer aos mandamentos de Deus é bom. Acima de tudo, é bom
porque honra e gloriAca a Deus. De acordo com Tiago, o homem que
perseverar na lei perfeita “será abençoado no que Azer” (Tg 1.25). Deus nos
deu mandamentos acerca da idolatria para nosso bem, para que o
gloriAquemos e tenhamos uma vida caracterizada por sua aprovação.
Vejamos agora a passagem das Escrituras que contém o primeiro
mandamento, lembrando que a obediência é para nosso bem.
EU SOU O SENHOR DEUS
Eu sou o SR[U\_ teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da
escravidão. Não terás outros deuses além de mim (Êx 20.2,3).
Como você pode observar, o primeiro mandamento inclui a ordem: “Não
terás outros deuses além de mim”, e dois motivos pelos quais devemos
obedecer-lhe. O primeiro motivo que Deus dá é: “Eu sou o SR[U\_ teu
Deus...”. Ele ordena que o adoremos porque ele é Deus. Em última análise,
não precisamos de nenhum outro motivo. Ele merece nossa adoração
porque ele é Deus. Ponto Anal. É justo adorá-lo como Deus simplesmente
porque ele é Deus e não há outro semelhante a ele. “Assim diz o SR[U\_
[...]: Eu sou o primeiro, e sou o último, e além de mim não há Deus” (Is
44.6,7).
Aqui está a parte mais sensacional! Ele não é apenas um Deus, nem
mesmo o Deus; ele é nosso Deus. Além de estar inteiramente acima de nós e
de ser eterno e imutável, Rei todo-poderoso e soberano, ele também está
perto de nós e é nosso Deus. Condescendeu em ter comunhão conosco e
entrar em um relacionamento de aliança conosco. Não é apenas Rei.
Também é Pai, como Isaías declarou: “Por que assim diz o Alto e o Sublime
[...] cujo nome é santo: Habito num lugar alto e santo, e também com o

contrito e humilde de espírito” (Is 57.15).
ELE NOS TIROU DA TERRA DO EGITO
Como se o motivo anterior não bastasse, Deus nos dá outro motivo pelo
qual devemos dirigir nosso coração a adorar somente a ele. O Rei cheio de
graça e perfeitamente santo nos trouxe para junto dele. Teria sido
apropriado ele exigir nossa adoração porque ele é Deus. Mas não foi o que
fez. Ele nos “tirou da terra do Egito, da casa da escravidão”. Antes de exigir
a adoração que lhe era de direito, ele demonstra seu amor e sua bondade
por nós. Aqueles que são seus Alhos foram libertos da terrível escravidão do
pecado, de Satanás e da morte. Ele fez isso por nós! E agora, devemos nos
lembrar de como nos amou, nos libertou e tomou a iniciativa de se
relacionar conosco. Foi o que disse o pai de João Batista, quando aArmou
que Deus agiu desse modo para que nós, “libertados da mão de nossos
inimigos, o cultuássemos sem medo” (Lc 1.74).
Fomos resgatados da mão de nossos inimigos para que pudéssemos servir
a Deus. Fomos resgatados de uma terra de ídolos para que pudéssemos
adorar a Deus. Toda vez que Moisés suplicou ao faraó para que deixasse ir
os israelitas, foi para que pudessem servir a Deus. O Senhor não libertou os
israelitas da escravidão para que se tornassem sócios do Club Med, embora
muitos tenham agido como se fosse o caso. Ele os libertou para que
pudessem celebrá-lo, servi-lo e adorá-lo. A obra de sua graça ao libertá-los
tinha como propósito dar-lhes a segurança de que ele era digno de
conAança e repleto de amor por eles. Com base nessa verdade — em suas
ações anteriores em favor deles enquanto eram, em sua maior parte,
incrédulos e cheios de queixas — ele lhes concederia fé para crer que
verdadeiramente os amava e era digno de sua conAança.
Nós também fomos libertos do Egito espiritual para que possamos
celebrar, amar e adorar a Deus. Quando você pensa no primeiro
mandamento, lembra-se do amor de Deus por você? Lembra-se de que,
mesmo quando você era inimigo de Deus, ele enviou o Filho dele para
morrer em seu lugar e libertá-lo da escravidão? Diante dessas verdades, a
obediência faz mais sentido, não?

O PRIMEIRO MANDAMENTO
O primeiro e maior mandamento é: “Não terás outros deuses além de mim”
(Êx 20.3). Que espantoso! Com esse mandamento, Deus exige nossa
devoção absoluta, inequívoca e exclusiva. Somente “o Alto e o Sublime, que
habita na eternidade e cujo nome é santo” (Is 57.15) tem o direito de exigir
tamanha Adelidade.
Esse mandamento é preeminente porque, se não lhe obedecemos, é
impossível obedecermos a qualquer um dos outros nove. Todos os
elementos de nossa devoção, todos os atos de obediência ou desobediência,
todo os pensamentos, palavras e ações dependem de nossa Adelidade a esse
mandamento. Talvez você esteja pensando: “Puxa, essa é uma declaração
bem radical”, mas reCita comigo enquanto recapitulamos alguns dos outros
mandamentos:
• “Honra teu pai e tua mãe...” (Êx 20.12). Não é verdade que os Alhos
deixam de honrar os pais porque têm outros deuses, como os amigos ou
o amor ao mundo?
• “Não matarás” (v. 13). Sempre que alguém tira a vida de outra pessoa,
não está dizendo, em essência, “Eu sou Deus. Decido quem vive e
quem morre”?
• “Não adulterarás” (v. 14). Tomar o cônjuge de outra pessoa não é o
mesmo que adorar outro deus, como o romance, a emoção, o poder ou
o prazer?
• “Não cobiçarás...” (v. 17). Desejar intensamente algo que pertence a
outra pessoa é idolatria, pois corresponde a valorizar algo mais que a
Deus e sua vontade.
Vemos, portanto, que não ter “outros deuses” é o eixo no qual gira toda
nossa obediência. Isso porque o mandamento contra a idolatria é, na
realidade, um mandamento para amar, para dedicar todo nosso afeto
somente a Deus.1
“Dizer que existe somente um Deus, e nenhum deus além dele não é
É

simplesmente um artigo em um credo. É uma verdade avassaladora, que
não cabe em nossa mente e que faz o coração parar, uma ordem para
amarmos o único que é digno de nossa total lealdade.”2 A essência desse
mandamento é que devemos separar Deus de todo o restante em nosso
coração e lhe dar prioridade absoluta. SigniAca que, pela fé, devemos
procurar crer que ele é bom e amoroso, como diz ser, e que ele será para nós
a fonte de todo o bem, de todas as nossas alegrias.
Talvez agora você tenha algumas perguntas gerais a respeito do lugar da
lei do Antigo Testamento em nossa vida.
OS DEZ O QUÊ ?
3
Durante boa parte de minha vida cristã, o papel da lei do Antigo
Testamento me causou perplexidade. Os Dez Mandamentos, em particular,
faziam parte de meu conhecimento bíblico de modo semelhante às histórias
do Antigo Testamento. Sim, estavam presentes. Parecia que deviam ser
pertinentes. E sim, supostamente eu devia obedecer-lhes. Mas, para ser
sincera, creio que nunca havia reCetido a respeito deles com mais
profundidade. AAnal, não eram assim tão importantes, certo? Como cristã,
eu havia aprendido que não estava mais “debaixo da lei” (qualquer que seja
o signiAcado dessa expressão), então por que me preocupar? Eu sabia que
minha salvação era somente pela graça — eu não precisava obedecer aos
mandamentos para garantir minha posição de aceitação diante de Deus e,
de algum modo ambíguo, eu os aArmava da boca para fora e esperava que
continuassem onde estavam: lá nos tempos antigos.
A utilidade da lei moral para o cristão
De lá para cá, porém, Deus, em sua graça, me ajudou a aprender que a lei,
resumida nos Dez Mandamentos, exerce uma função importante na vida
dos cristãos. A lei nos ensina a verdade a respeito de nossa suposta bondade
e a respeito do único caminho para o céu. Contemplar os padrões imutáveis
de Deus nos Dez Mandamentos nos ajuda a entender que nenhum mero
ser humano jamais guardou a lei perfeitamente. Romanos 3.23 diz: “Todos
É

pecaram e Acam aquém” (NASB). É importante compreender esse fato,
pois alguns conAam que irão para o céu porque são relativamente bons. De
modo não muito diferente do personagem de Patrick Swayze no Alme de
sucesso Ghost: do outro lado da vida, o homem moderno criou um conjunto
de normas nestas linhas: Sou razoavelmente bom. Não estou fazendo mal a
ninguém. Cumpro meu dever, amo minha namorada. Com certeza um
sujeito bacana como eu merece ir para o céu.
Os verdadeiros cristãos discordam da versão hollywoodiana da salvação.
Cremos em algo bem diferente acerca de como obtê-la. Cremos que as
pessoas são incapazes de ter uma vida em total conformidade com os
padrões perfeitos de Deus. Isso porque Deus é tão santo e perfeito que a
desobediência em uma só área é suAciente para nos condenar como
transgressores da lei. Era a isso que Tiago estava se referindo quando
escreveu: “Pois qualquer um que guarda toda a lei, mas tropeça em um só
ponto, torna-se culpado de todos” (Tg 2.10). Somente uma pessoa guardou
a lei: o Senhor Jesus Cristo. Recebemos a salvação somente pela fé no
cumprimento perfeito da lei por Jesus Cristo em nosso lugar.4
A lei me ajuda ao servir de guia5 — uma professora pessoal que habita na
sala de aula no meu coração e me ajuda a entender que não possuo
nenhuma bondade inata. É fácil desconsiderar a lei de Deus e me comparar
com outros, como Az na Ásia! Quando sigo esse caminho, sempre chego à
conclusão de que sou razoavelmente boa. Se, contudo, me examino no
espelho de Deus (a lei perfeita),6 descubro que tenho falhado de todas as
formas imagináveis.
A lei me torna humilde e acaba com minha justiça própria. Como Paulo
escreve, “eu não conheceria o pecado se não fosse pela lei” (Rm 7.7). Ela
me mostra de modo convincente que não mereço a salvação, pois não
obedeço aos Dez Mandamentos. Claro que, desde que Phil e eu nos
casamos, jamais cheguei a cometer adultério externamente, mas a Lei não
diz respeito apenas à obediência externa. Como Jesus ensinou no Sermão
do Monte, a Lei também precisa ser obedecida internamente... e, se essa é a
exigência, quebrei cada um dos mandamentos um sem número de vezes.

Não tenho mérito algum diante de um Deus inteiramente santo. Embora
pareça contraintuitivo, essa é uma situação boa para minha alma, pois me
leva a lançar-me inteiramente na misericórdia de Deus em Cristo. Remove
todas as minhas ilusões de bondade e me ajuda a entender o quanto preciso
do perdão de Deus.7 A lei mostra o quão encarecidamente necessito que o
registro perfeito de Cristo seja aplicado ao meu. Essa transferência de seu
registro de obediência total a mim, essa retidão imputada, chamada
justiAcação, é minha única esperança, mas é toda esperança de que preciso.
A lei me ensina o quanto devo ser grata a Cristo por tê-la cumprido
perfeitamente.8 Tenho uma dívida com Cristo, pois ele cumpriu a lei
perfeitamente, e depois tomou sobre seu corpo o castigo por minha
transgressão. Diante disso, meu coração é impelido a transbordar de amor e
obediência. Ao comparar minha vida contrária à lei com as perfeições dele,
sou tomada de gratidão. E agora, por causa da obra de Cristo, reconheço
que a exigência da lei se cumpriu em mim9 porque tenho sua retidão
perfeita. Não é incrível? A exigência da lei se cumpriu em nós, cristãos!
A lei se torna a norma de retidão à qual procuro obedecer por gratidão. Como um
Alho agradecido procura agradar a mãe ou o pai querido, tenho um desejo
de santidade que nasce de um coração repleto de ação de graças. A lei não
mais me condena, pois recebi o registro perfeito de Cristo. Antes, quando
entendo a verdade de minha absoluta dependência de sua misericórdia, a lei
me faz ver meu pecado e ansiar pelo caráter de Cristo em minha vida.
Desejo ser santa porque o amo e quero ser semelhante a ele. Minha retidão
está garantida na obediência perfeita de Cristo por mim e, por sua graça,
estou me tornando “[consagrada] às boas obras” (Tt 2.14).
O primeiro mandamento diz respeito, principalmente, a minha devoção
interior: a ordem é para “temer e amar a Deus e conAar nele acima de
tudo”.10 Todo pecado, toda idolatria em meu coração, nasce da falta de amor
e de gratidão e na conAança depositada em coisas indevidas. Toda vez que
adoro algo ou alguém senão Deus, esqueço-me de que ele é o bom Pai e o
grande Rei que me tirou do Egito. De modo contrastante, todo ato
verdadeiramente piedoso, inclusive o desejo interior de ser piedoso, nasce do

amor11 e da adoração que ele colocou em meu coração. Sua graça me leva a
ter prazer na lei, pois a vejo como o modelo para que eu cresça e me torne
semelhante a ele. Foi nesse contexto que Paulo disse: “Porque, no que diz
respeito ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus...” (Rm 7.22).
Visto que a lei não pode mais me condenar, não temo mais suas acusações
nem ressinto sua intromissão.
Sim, a lei moral resumida nos Dez Mandamentos é uma dádiva
maravilhosa.12 Devemos considerá-la como “dez amigos para guardar
nossos caminhos”.13 Ela nos conduz à humildade e nos convence do
pecado, enche-nos de gratidão pela mansa obediência de nosso Salvador e
nos leva a viver de modo agradável a ele:
Assim, oramos para que possais viver de maneira digna do Senhor,
agradando-lhe em tudo, frutiAcando em toda boa obra e crescendo no
conhecimento de Deus [...] dando graças ao Pai, que vos capacitou a
participar da herança dos santos na luz. Ele nos tirou do domínio das
trevas e nos transportou para o reino do seu Filho amado, em quem
temos a redenção, isto é, o perdão dos pecados (Cl 1.10-14).
O dedo de Deus
Recorde-se comigo das palavras surpreendentes que descrevem a entrega
inicial da Lei: “... deu-lhe [a Moisés] as duas tábuas do testemunho, tábuas
de pedra, escritas pelo dedo de Deus” (Êx 31.18).14 O Senhor Deus de toda
a criação, o Rei dos céus e da terra, escreveu a Lei com sua própria mão!15
Não é incrível? Por mais espantoso que seja esse fato, porém, a inAndável
compaixão divina não para por aí. Ezequiel e Jeremias prenunciam
misericórdias ainda maiores.
Também vos darei um coração novo e porei um espírito dentro de vós;
tirarei de vós o coração de pedra e vos darei um coração de carne (Ez
36.26).
... Porei a minha lei na sua mente e a escreverei no seu coração... (Jr
31.33).
16

Amor maravilhoso! Enquanto a lei de Deus havia sido escrita apenas em
tábuas de pedra — fora de nós, com incitações exteriores à santidade e com
poder para condenar — agora sua lei, escrita por sua mão, reside em nosso
coração! Agora, somos impelidos por um desejo interior de lhe obedecer,
sem medo de sermos condenados por fracassar.
Deus, por seu poder transformador, nos faz ter prazer em sua vontade. A
mudança em nosso coração nasce da alegre obediência do Senhor Jesus, que
tinha prazer em fazer a vontade de Deus porque a lei de Deus estava em
seu coração. E agora, em Cristo, a lei de Deus está escrita em nosso coração,
e podemos, igualmente, começar a ter prazer nela (veja tb. Hb 10.5-10).
É por causa dessas grandes misericórdias que devemos procurar obedecer
aos mandamentos, lembrando-nos de que Deus nos amou e nos
transformou enquanto ainda éramos seus inimigos.17 Aliás, o desejo de
obedecer é a única prova indubitável de que o amamos; como João 14.15
diz: “Se me amardes, obedecereis aos meus mandamentos” (veja tb. Jo
14.21,23,24; 1Jo 5.2,3).18
Essa demonstração de obediência em amor é muito diferente da apatia
letárgica e dos sentimentos egocêntricos e piegas que se fazem passar por
amor a Deus e que vejo com tanta frequência em minha própria vida.
Sempre lutaremos contra nossa natureza pecaminosa, e nossa obediência só
será completa no céu, mas o foco de nossa vida deve se evidenciar numa
crescente alegria em obediência e submissão. Por vezes, a obediência e a
submissão assumem a forma de mudanças exteriores; em outras ocasiões,
dizem respeito principalmente a questões do coração: ConAo em mim
mesma, em minha própria bondade e em meu poder de salvar ou conAo
somente no Senhor? Sei por experiência própria que é muito mais fácil
assumir a forma de obediência exterior, de deixar de fazer algo que não
devo. É extremamente difícil, porém, atrelar todos os desejos, todas as
esperanças e expectativas de meu coração à promessa de Deus de me amar,
e crer que ele quer somente o meu bem.
MANDAMENTOS A RESPEITO
DA IDOLATRIA

Os mandamentos que proíbem a idolatria são um tema tão preponderante
nas Escrituras que seria quase impossível destacar todas as suas ocorrências.
Permita-me compartilhar, portanto, apenas alguns deles para reforçar em
sua mente que, embora esse assunto pareça obscuro, não é.
Mandamentos no Antigo Testamento
Não vos volteis para ídolos, nem façais deuses de metal para vós. Eu sou o
SR[U\_ vosso Deus (Lv 19.4).
Não seguirás [...] os deuses dos povos que habitarem ao teu redor... (Dt
6.14).
Não haja no meio de ti deus estranho, nem te prostres perante um deus
estrangeiro (Sl 81.9).
Todos os que adoram imagens, que se gloriam de ídolos, Acam
envergonhados; prostrai-vos diante dele, todos os deuses (Sl 97.7).
Eu, porém, sou o SR[U\_, teu Deus, desde a terra do Egito; portanto,
não conhecerás outro deus além de mim, porque não há salvador senão
eu (Os 13.4).
Mandamentos no Novo Testamento
Então Jesus lhe ordenou: Vai-te, Satanás; pois está escrito: Ao Senhor,
teu Deus adorarás, e só a ele prestarás culto (Mt 4.10).
Mas agora vos escrevo que não vos associeis com aquele que, dizendo-se
irmão, for [...] idólatra... (1Co 5.11).
... Não vos enganeis: nem imorais, nem idólatras [...] herdarão o reino de
Deus (1Co 6.9,10).
Não vos torneis idólatras, como alguns deles... (1Co 10.7).
Portanto, meus amados, fugi da idolatria (1Co 10.14).
As obras da carne são evidentes, a saber: [...] idolatria... (Gl 5.19,20).
Portanto, eliminai vossas inclinações carnais: [...] avareza, que é idolatria
(Cl 3.5).
Filhinhos, guardai-vos dos ídolos (1Jo 5.21).
Está começando a perceber como o tema da idolatria é predominante na
Bíblia? Diante disso, é interessante que no âmbito evangélico mais amplo

raramente ouçamos falar dele. Claro que, em alguns círculos, especialmente
entre os reformados, a idolatria é um assunto comum. Ainda assim, tendo
em vista que é a forma de pecado mencionada com mais frequência na
Bíblia, não deveria receber mais atenção? Peçamos a Deus que abra nossos
olhos para a importância de nossa adoração e nos ensine a voltar nosso
amor e nossa devoção inteiramente para ele.
Edificando sobre os alicerces dos mandamentos
Agora que consideramos a lei, lembremo-nos de três fatos a seu respeito:
ela nos conduz à humildade e nos obriga a correr para Jesus; ela nos torna
gratos porque Cristo a cumpriu perfeitamente; e ela nos mostra como é a
verdadeira gratidão. Deus nos tratou com graça indizível ao nos conceder
um coração novo e sensível no qual escreveu sua verdade viva. Sabemos de
nossa incapacidade de guardar a lei como meio de salvação, mas também
entendemos que o desejo de crescer em obediência faz parte das implicações
de sermos Alhos que amam a Deus.
A esposa de Ló era idólatra, mas sua idolatria não começou quando ela se
voltou para olhar para a cidade que amava. Sua idolatria começou quando
ela deu mais valor a Sodoma que a Deus, quando seu coração se apegou à
vida antiga que ela conhecia e amava. A idolatria provocou sua ruína. A
Bíblia nos adverte clara e repetidamente para dedicarmos todo nosso amor e
toda nossa devoção a Deus — para nosso bem. Ao prosseguirmos com
nosso estudo, podemos ter a certeza de que o Espírito Santo está operando
em nós, transformando-nos e levando-nos a ter o desejo de nos tornarmos
Alhos mais amorosos e obedientes. Peçamos a Deus que ele nos ajude a
amá-lo e a acolher sua lei como uma amiga querida e bem-vinda.
PARA REFLETIR
1. Escreva os Dez Mandamentos.
2. Qual era sua atitude em relação aos Dez Mandamentos no passado?
Qual é sua atitude agora?
3. Recapitule as passagens sobre idolatria nas páginas 63-4. Quais delas

falam de modo especíAco ao seu coração? O que você aprendeu com a
leitura desses versículos? Em que aspectos
pode crescer?
4. Em Romanos 8.4, Paulo escreveu: “... para que a justa exigência da lei se
cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o
Espírito”. De que maneira a exigência da lei se cumpriu em você como
crente? Em que sentido esse versículo dá serenidade ou conAança a seu
coração?
5. Ao reCetir sobre a morte da esposa de Ló, você observa alguma
semelhança entre o pecado dela e seu amor pelo mundo? A seu ver, o
pecado dela foi idolatria? Por quê?
6. Peça a Deus que o ajude a dar mais valor a seus mandamentos e a
entendê-los melhor, especialmente o primeiro.
1Albrecht Peters, Ten Commandments: commentary on Luther’s catechisms (St. Louis: Concordia,
2009), p. 106.
2Os Guinness; John Seel, orgs., No god but God (Chicago: Moody, 1992), p. 206.
3Para uma abordagem do legalismo, veja o Apêndice B.
4Se você não tem certeza se é cristão, consulte agora o Apêndice C: “Como saber se você é cristão”.
5“Desse modo, a lei se tornou nosso guia para nos conduzir a Cristo, a ?m de que pela fé fôssemos
justi?cados” (Gl 3.24).
6“Pois, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, é semelhante a um homem que contempla o
próprio rosto no espelho; porque ele se contempla, vai embora e logo se esquece de como era.
Entretanto, aquele que atenta para a lei perfeita, a lei da liberdade, e nela persevera, não sendo
ouvinte esquecido, mas praticante zeloso, será abençoado no que ?zer” (Tg 1.23-25).
7Embora a lei me ajude a enxergar minha pecaminosidade, pela misericórdia de Deus nunca vejo
inteiramente o que ele vê. Sou incapaz de entender profundamente o quão pecaminoso é meu coração,
embora o vislumbre que a lei me dá de meu coração seja su?ciente para realizar o propósito divino.
“Porque agora vemos como por um espelho, de modo obscuro, mas depois veremos face a face. Agora
conheço em parte, mas depois conhecerei plenamente, assim como também sou plenamente
conhecido” (1Co 13.12). Devemos ser gratos a Deus porque não vemos face a face de imediato.
Devemos ser gratos porque não enxergamos agora a imagem completa de nossa pecaminosidade,
pois, se o ?zéssemos, é possível que nosso coração se desesperasse.
8Westminster larger catechism , P. 97: De que utilidade especial é a lei moral aos regenerados? R:
Embora aqueles regenerados e crentes em Cristo sejam libertos da lei moral, como aliança de obras,
[1] de modo que nem são justi?cados, [2] nem condenados por ela, [3] além da utilidade geral desta
lei comum a eles e a todos os homens é ela de utilidade especial para lhes mostrar quanto devem a
Cristo por cumpri-la e sofrer a maldição dela, em lugar e para bem deles, [4] e assim incentivá-los a

ter maior gratidão [5] e a manifestar essa gratidão por meio de maior cuidado da sua parte em
conformarem-se a esta lei, como regra de obediência. [6] 1) Rm 6.14; 7.4,6; Gl 4.4,5; 2) Rm 3.20; 3) Gl
5.23; Rm 8.1; 4) Rm 7.24-25; 8.3,4; Gl 3.13,14; 5) Lc 1.68,69,74,75; Cl 1.12-14; 6) Rm 7.22; 12.2; Tt 2.11-14
[edição em português: O catecismo maior de Westminster (São Paulo: Cultura Cristã, 2003)].
9“Pois o que para a lei era impossível, visto que se achava fraca por causa da carne, Deus o fez na
carne, condenando o pecado e enviando o seu próprio Filho em semelhança da carne do pecado e
como sacrifício pelo pecado, para que a justa exigência da lei se cumprisse em nós, que não andamos
segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8.3,4).
10Martin Luther, “e small Catechism”, in: e book of concord: e confessions of the Lutheran
Church, acesso em: 15 set. 2015, disponível em: http://bookofconcord.org/smallcatechism.php.
11“...o amor de Deus foi derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5.5).
12Considero importante fazer distinção entre a lei moral (contida nos Dez Mandamentos), a lei
cerimonial (usada no culto no templo) e a lei civil (redigida para a nação de Israel).
13Ernest C. Reisinger, Whatever happened to the Ten Commandments? (Carlisle: Banner of Truth
Trust, 1993), p. 13.
14Em seu relato sobre a lei, Moisés escreveu novamente: “O S me deu as duas tábuas de pedra,
escritas com o dedo de Deus, e nelas estavam escritas todas as palavras que o S havia falado
convosco no monte, do meio do fogo, no dia da assembleia” (Dt 9.10).
15O fato de Deus ter escrito a lei com sua própria mão não é incentivo su?ciente para que a
guardemos?
16É interessante observar que o ato divino de escrever a lei em nosso coração de carne resultará em
adoração sincera: “Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o
S: Porei a minha lei na sua mente e a escreverei no seu coração. Eu serei o seu Deus, e eles serão
o meu povo” (Jr 31.33). “Então aspergirei água pura sobre vós, e ?careis puri?cados; eu vos
puri?carei de todas as vossas impurezas e de todos os vossos ídolos. Também vos farei um coração
novo e porei um espírito novo dentro de vós; tirarei de vós o coração de pedra e vos farei um coração
de carne” (Ez 36.25,26).
17“Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho,
muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida” (Rm 5.10).
18Observe como a expressão “os que o amam e obedecem aos seus mandamentos” é reiterada em Dt
7.9 e em Daniel 9.4 (veja tb. Deuteronômio 10.12,13 e 2Jo 1.6). O Senhor declarou que os verdadeiros
membros de sua família eram aqueles que faziam a vontade de seu Pai: “Pois quem ?zer a vontade de
meu Pai que está no céu, este é meu irmão, irmã e mãe” (Mt 12.50). E também: “Vós sois meus amigos,
se ?zerdes o que vos mando” (Jo 15.14).

4
AQUELE QUE TRANSFORMA
O CORAÇÃO
Se Deus não me desse um coração para amá-lo,
eu preferia jamais ter coração.1
A vida nas ruas de Naim era difícil. Como prostituta, o estilo de vida que outrora ela havia
adotado com raiva, desespero e rebeldia, tinha se tornado servidão e amargura. Sua vida era
vazia e inútil, e o futuro parecia reservar apenas vergonha e ódio cético. Embora ela
conhecesse atos de “amor”, seu coração nunca havia experimentado amor verdadeiro, amor
que a cativasse com sua pureza.
Juntamente com o desespero, crescia dentro dela a consciência incômoda da inutilidade
de sua vida. Começava a entender que suas escolhas nunca traziam liberdade nem prazer;
em vez disso, era oprimida por uma sensação de culpa e de tragédia iminente. Ninguém
precisava lhe dizer que estava condenada... Satanás não lhe deixava esquecer por um
momento sequer. Coisas que antes haviam sido fonte de prazer — o poder sobre os homens,
o orgulho de ser diferente de outras mulheres e a segurança de ouvir moedas tinindo no
bolso — agora lhe pareciam tolas, sem sentindo, fúteis. No mais recôndito de seu ser, ela
percebia uma mudança misteriosa. Começava a brotar a ideia de que havia esperança até
mesmo para ela. Talvez existisse um Deus que a perdoaria. Gradativamente, notou um
anseio por amar e conhecer o Deus a respeito do qual tinha ouvido falar a vida toda, o Deus
de Israel.
Ao olhar para a planície do Carmelo e ver à distância os montes de Nazaré, ela se
lembrou das histórias que tinha ouvido a respeito de certo nazareno chamado Jesus. Ele
havia ressuscitado o filho da viúva aflita e dito: “... Não chores” (Lc 7.13). Não chores. Será que
ele diria essas mesmas palavras para ela? Ele poderia mudar sua vida também? Ou será que
ela estava tão perdida que não havia mais esperança de perdão?
Das sombras, ela o observou interagir com pessoas comuns e notou que ele as acolhia e
as ensinava com terna sabedoria. E quando o viu com os líderes religiosos, entendeu que ele
não era igual a eles. Sem dúvida, ele amava a lei e lhe obedecia, mas era humilde e manso.
Ele parecia tão diferente de todos os outros homens que ela já havia visto. O desejo de
conhecê-lo começou a tomar conta dela. Alguns diziam que ele era o Messias. Ela o viu
fazer amizade com pecadores e comer com eles... O Messias faria uma coisa dessas? Será

que ela havia se enganado a respeito de Deus a vida toda? Ele parecia amar os rejeitados.
Mas será que a acolheria? O que diria a uma mulher tão envolta em pecado e vergonha?
O desejo intenso de conhecê-lo e amá-lo se tornou quase obsessivo. “Como vou me
aproximar dele?”, perguntou-se. “Que presente posso lhe oferecer para provar minha
sinceridade?” Pareceu-lhe errado ir de mãos vazias, então pegou o que tinha de mais valioso,
um vaso de alabastro cheio de perfume, e foi procurá-lo.
No dia em que resolveu ir a ele, descobriu que ele estava jantando na casa de Simão. Ela
sabia que esse fariseu a desprezava e a condenava, mas, ainda assim, ela tinha de chegar
perto do nazareno. Precisava encontrar uma forma de expressar o amor que havia crescido
dentro dela por Aquele que tinha dito: “Não chores”. O desespero venceu o medo e a
vergonha, e ela se aproximou dele.
Lucas apresenta um relato comovente desse encontro:
... e, pondo-se atrás dele e chorando aos seus pés, começou a molhar-lhe
os pés com as lágrimas e enxugá-los com os cabelos; e beijava-lhe os pés e
derramava o perfume sobre eles (Lc 7.38).
A mulher que talvez tenha ouvido Jesus dizer “Não chores” a uma viúva
que havia perdido o Alho trouxe um coração cheio de lágrimas de amor e
arrependimento para serem derramadas aos pés dele. Em vez de Jesus lhe
dizer para não chorar, concedeu-lhe a graça de poder chorar não como
alguém culpado, mas justiAcado, de lamentar o pecado, de amar a Cristo.
Deu-lhe um coração terno, de carne, capaz de receber e abraçar sua pessoa,
sua lei. Libertou-a de uma vida de vergonha e, em meio às lágrimas que
lavaram os pés dele, ela descobriu que sua alma estava sendo lavada
também. Ele lhe permitiu beijar a santidade, humilhar-se diante de um
homem puro, usar seu perfume para adorar o Homem perfeito, que era
Deus.
Não obstante a reação dos fariseus, aquela que tinha sido tão tomada pela
imoralidade agora estava tomada pelo arrependimento e pela alegria em
razão dos pecados reconhecidos e perdoados. Não importava mais o que os
outros pensavam. Ela amava o Senhor e se humilhou diante dele. Jesus
sabia que suas ações eram motivadas por amor, um amor capaz de ignorar a
desaprovação e o desprezo, um amor disposto a entregar tudo o que tinha a
Am de adorá-lo. Jesus reconheceu esse amor da mulher e disse: “... Os
pecados dela, que são muitos, lhe são perdoados, pois ela amou muito...” (Lc
7.47).
Essa mulher imoral, cujo nome não sabemos, encontrou perdão aos pés

daquele que se entregaria por seus muitos pecados. Ela abandonou os
deuses de sua vida antiga ao abrir mão da autopunição, do desejo de
segurança, da independência orgulhosa e de seu tesouro valioso: o vaso de
alabastro cheio de perfume. O Espírito Santo já havia operado de modo tão
forte em seu coração que ela foi capaz de ignorar abertamente o desprezo
arrogante e o ódio dos líderes religiosos. Finalmente, ela foi liberta da culpa
e da vergonha que a haviam escravizado por décadas, e ninguém poderia
impedi-la de amar seu Libertador.
Você percebe como todos os cristãos são iguais a essa mulher? Quando
nossos olhos são abertos para o valor de Cristo, nosso coração, semelhante
ao dela, transborda de amor. E então, juntamente com ela, nossa alma pode
nadar para o céu em um mar de lágrimas.2 À medida que crescermos no
entendimento de seu amor ao nos perdoar, todo o resto perderá seu valor.
Que diferença faz se outros desaprovam ou acusam? Que importa se
abrimos mão de nossos tesouros terrenos? Essa mulher derramou seu
perfume porque Jesus tinha lhe dado um novo tesouro: a vida e o coração
puriAcados e um relacionamento com ele. Em outros tempos, ela havia
chorado de amargura por suas angústias terrenas; aqui ela chorou de alegria
pelo perdão dos pecados. Será que ela sabia que Deus estava guardando
essas lágrimas preciosas em um vaso de alabastro no céu (veja Sl 56.8)?
O PODER INCOMPREENSÍVEL
DO ESPÍRITO SANTO
Que poder é capaz de levar uma mulher imoral como essa a se ajoelhar em
arrependimento contrito diante de um homem na casa do inimigo dela?
No mundo todo, há somente um poder que transforma almas: o Espírito
Santo. Ele opera de formas misteriosas e profundas, e nos leva a crescer em
piedade, criando em nós o desejo de sermos santos como ele é. Lembre-se
de que ele se chama Espírito Santo, e sua obra sempre produz em seus
Alhos o anseio pela santidade.
No mundo inteiro, não há obra semelhante àquela que o Espírito Santo
realiza. Existem inúmeros programas de autoajuda para tornar-se um
vendedor motivado, um excelente tenista, um palestrante mais competente.

Mas há apenas um Agente capaz de levar alguém a ter o desejo de
obedecer ao Pai, somente uma Pessoa capaz de gerar amor por Deus em
nosso coração: o Espírito Santo. Neste capítulo, examinaremos seu poder
dinâmico em nossa vida.
Conforme você avançar na leitura deste livro e o Senhor mostrar áreas de
idolatria em seu coração, pode ser proveitoso voltar ocasionalmente a este
capítulo. Em vez de sentir-se arrasado ou condenado em qualquer aspecto,
lembre-se de que, com suas próprias forças, você não é capaz de produzir
em si mesmo amor absolutamente sincero pelo Senhor. Portanto, se o
desespero começar a tomar conta, recorde-se primeiramente de que seu
registro já foi selado nos tribunais do céu: você é justo. Em seguida,
recorde-se de que Deus assumiu o compromisso de transformá-lo — e ele é
capaz de transformar qualquer pessoa (fato comprovado pelo modo como o
receoso Pedro enfrentou corajosamente a morte de mártir!).
COMO O ESPÍRITO NOS TORNA SANTOS
Ao nos ensinar as glórias de Cristo
Em sua última noite com os discípulos, Jesus ensinou extensamente a
respeito da obra do Espírito Santo. Entre outras coisas, ensinou que o
Espírito Santo opera a Am de gloriAcar a Cristo. “Ele me gloriAcará, pois
receberá do que é meu e o anunciará a vós” (Jo 16.14). A função principal
do Espírito Santo é nos ensinar a respeito de nosso maravilhoso Salvador.
O modo exato em que o Espírito é derramado sobre nossos corações e
nos ilumina é um mistério, mas sabemos que ele nos ensina como nosso
Senhor Jesus é maravilhoso. Semelhante a um grande mestre da pintura, o
Espírito pinta um retrato primoroso das perfeições de Cristo na tela de
nosso coração, ilustrando seu amor, sua misericórdia, sabedoria, bondade,
humildade, santidade, suas tristezas e sua terna amabilidade. Se alguma vez
você já foi tomado de alegre exaltação no Senhor Jesus e em sua vida
magníAca, foi por obra do Espírito Santo em seu coração. Se você já se
sentiu maravilhado pela beleza do caráter de Cristo ao ouvir a Palavra ser

pregada ou ao ler um dos Evangelhos, também foi por obra do Espírito.
É essencial que abracemos a beleza e a glória de Cristo, pois a adoração
nasce do amor. À medida que o Espírito Santo abrir seu coração para a
beleza de Cristo, seu amor crescerá. Os falsos deuses que costumavam atraí-
lo perderão o poder de tentá-lo. O Espírito Santo nos transforma em
indivíduos que amam a Deus e nos ensina que amar a Pessoa mais bela de
todo o universo é algo não apenas sábio, mas também lógico. C. S. Lewis
descreveu as alegrias inferiores, ou falsos deuses, como “bolos de lama”.
Somos criaturas indiferentes, que brincam com bebida, sexo e ambição
enquanto alegria inAnita nos é oferecida, como uma criança ignorante
que deseja continuar a fazer bolos de lama na sarjeta, pois não é capaz de
entender o signiAcado do convite para passar as férias na praia.
Satisfazemo-nos facilmente demais.
3
Percebo que sou como essa criança ignorante que encontra prazer, ainda
que passageiro, nas coisas conhecidas, ao meu alcance, apreciadas por meus
sentidos. Que aparência essas ninharias teriam se, como João, eu
contemplasse o céu e visse o rosto de meu Salvador; se eu o estivesse
servindo na cidade que não precisa do Sol?4
Ao nos mostrar a cruz
O Espírito Santo foi enviado para convencer o mundo de três coisas: do
pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8-11).
Convencimento do pecado. O Espírito convence o mundo eAcazmente do
pecado de incredulidade. Essa convicção é sentida até por cristãos que já
creem que Jesus é Deus. O Espírito Santo nos convence do pecado quando
duvidamos da importância de Cristo e de sua obra expiatória em nossa vida
diária. Pode ser que, em nosso ceticismo cristão, racionalizemos que talvez
Cristo seja Deus e que talvez tenha morrido pelo pecado. Mas o que isso diz
respeito à capacidade de Deus de nos satisfazer e nos dar paz hoje? Ele
perdoa, de fato, todo meu pecado? Ele ainda me ama
de verdade?

O pecado da incredulidade se encontra no cerne de todos os outros
pecados e, especialmente, no cerne da idolatria. “Idolatria é a descrição mais
abrangente usada pelos escritores bíblicos para traçar os contornos da
incredulidade.”5 É fácil entender o motivo. Quando não cremos na verdade
a respeito de quem Jesus é, daquilo que fez ao viver de modo perfeito e ao
sofrer e morrer por nosso pecado, é impossível resistir à atração dos deuses
deste mundo quando sussurram para nós promessas de prazer.
Crer na morte expiatória de Cristo por seu pecado e aceitar essa obra é
fundamental para abandonar os deuses deste mundo. Você acredita
sinceramente que ele morreu por seu pecado? Em caso aArmativo, não é
lógico imaginar que ele lhe concederá tudo de que você precisa? “Aquele
que não poupou nem o próprio Filho, mas, pelo contrário, o entregou por
todos nós, como não nos dará também com ele todas as coisas?” (Rm 8.32).
Quão desejáveis os bolos de lama pareceriam se você estivesse diante da
cruz, olhando para as mãos e os pés transpassados por você? É obra do
Espírito levá-lo a experimentar essa verdade ao mostrar-lhe a beleza da
cruz.
Convencimento da justiça. O Espírito Santo também nos convence da justiça
de Cristo e de como ele concedeu a todos os crentes a dádiva de seu registro
perfeito. Os líderes religiosos judeus haviam acusado Jesus de ser herege, e
sua morte como criminoso pareceu conArmar as palavras deles. Mas, por
causa de sua ressurreição e ascensão ao céu, o Espírito agora ilumina o
coração dos homens para a verdade de que, por mais que o mundo o
afronte, Cristo foi perfeitamente justo, e sua justiça pertence a todos os que
creem.
É especialmente importante que contemplemos a natureza perfeita de
Jesus, pois a idolatria é sempre um ataque ao caráter de Deus. Toda vez que
meu coração se volta para adorar falsos deuses, diz: “Deus não é bom de
verdade. Ele não é justo. Não é amoroso nem santo. Preciso encontrar
outros deuses que me satisfaçam, pois Jesus não pode ou não quer me
satisfazer”.
Se você crê que Jesus é o Filho perfeitamente justo de Deus, que governa

à destra do Pai, é por obra do Espírito. Ele guardará seu coração da mentira
segundo a qual a justiça pode vir de qualquer outra fonte além de Cristo.
Ele o guardará de crer que você precisa produzir sua própria justiça a Am de
ser aceitável. Em seu papel de Senhor assunto, ele já nos concedeu tudo o
que precisamos para ter justiça e felicidade eterna, e ele reina em nós para
proteger essa herança (1Pe 1.3,4). Que aspecto teriam nossos ídolos se,
como Estêvão em sua morte, contemplássemos o céu, onde o Rei assunto
nos espera (At 7.55,56)?
Convencimento do juízo. Por Am, o Espírito nos convence do juízo divino
sobre o pecado e da certeza da destruição do pecado e da morte. Ele já
julgou o pecado com poder na cruz ao cumprir toda a lei em nosso lugar e
ter a morte vergonhosa que merecíamos.
O Senhor Jesus julgou Satanás, o “príncipe deste mundo”, ao se recusar a
ceder a suas tentações, ao viver de modo perfeito e ao morrer para arrancar
das mãos dele os Alhos de seu Pai. O castigo de Deus para o Diabo se
completará no Am dos tempos, quando Deus acabará com ele. Enquanto
isso não acontece, enquanto você luta contra os efeitos trágicos do pecado,
pode encontrar ânimo no fato de que Deus será vitorioso sobre o inimigo de
sua alma: “... Para isto o Alho de Deus se manifestou: para destruir as obras
do Diabo” (1Jo 3.8; veja tb. Jo 12.31; Rm 16.20; Cl 2.15; Hb 2.14). O
poder de Satanás de acusar os Alhos de Deus e lhes falar do juízo e da
condenação iminentes foi tragado pela morte do Filho obediente. Todo
juízo pelo pecado de cada crente foi derramado no cálice do qual Cristo
bebeu por nós, em amor, quando morreu em nosso lugar.
Quando você for tentado a imaginar que a batalha está perdida e que
talvez seja melhor desistir e servir outros deuses, suplique ao Espírito que o
ajude a saber que seu inimigo é um criminoso condenado que aguarda no
corredor da morte a execução da sentença
(Ap 20.10). Não haverá uma suspensão da pena no último instante; não,
apenas a certeza do furor de Deus e do castigo eterno. Que aparência
teriam todas as mentiras do Diabo a respeito dos supostos defeitos de Deus
ou dos supostos atrativos do pecado, ou suas acusações de juízo iminente, se

você o visse em sua real situação: amarrado, condenado e impotente fora da
vontade soberana de Deus?
Ao escrever suas palavras em nosso coração
Como mencionamos no capítulo 3, o Espírito Santo escreve a lei de Deus
em nosso coração. A lei de Deus então nos governa internamente, a partir
de nosso coração, à medida que o Espírito nos ajuda a entender seu
signiAcado e o aplica a nossa vida diária. Ele nos ensina o que signiAca tê-lo
como nosso Deus e ser seu povo da aliança (Jr 31.33,34; 1Jo 2.27).
Essa unção do Espírito Santo nos conduz a toda verdade (Jo 16.13). Ele
nos ensina para que possamos conhecer a Deus como ele é, e não como
imaginamos que seja. Ele não deseja que apenas saibamos a seu respeito;
deseja que tenhamos intimidade com ele. Em nossa natureza Anita, jamais
seremos capazes de compreender plenamente sua pessoa, mas o Espírito
Santo nos concede percepção cada vez maior dele. Ao crescermos no
entendimento dele, de seu amor e de sua conAabilidade, nossa propensão a
conAar em outros deuses diminuirá. Por isso Paulo disse que tudo
empalidece em comparação com o tesouro de conhecê-lo e compreendê-lo:
Sim, de fato também considero todas as coisas como perda, comparadas
com a superioridade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, pelo
qual perdi todas essas coisas. Eu as considero como esterco, para que
possa ganhar Cristo... (Fp 3.8).
Por que Paulo considerou tudo o que tinha — posição, poder, inCuência e
reputação — como lixo, ou esterco (a tradução mais próxima do termo)?
Porque o Espírito Santo havia lhe mostrado o caráter de Cristo e, em
comparação com ele, tudo o que o apóstolo tinha a oferecer de bondade
própria e todas as coisas que os deuses desse mundo oferecem, só serviam
para ser lançados no monte de esterco.
Cristo está se tornando a pérola de valor incalculável pela qual você está
disposto a vender tudo? Vale a pena derramar seu tesouro por ele? Essa é a
obra do Espírito em seu coração. É obra do Espírito revelar as belezas de

Jesus e de seu Pai glorioso àqueles que lhe pertencem. “Ele me gloriAcará,
pois receberá do que é meu e o anunciará a vós” (Jo 16.14).
Ao inclinar nosso coração para adorá-lo
Sem a obra do Espírito, adoramos tudo, ou melhor, qualquer coisa, exceto
Deus. É necessário, portanto, que ele opere de modo a inclinar nosso
coração para adorá-lo.
Na dedicação do templo, Salomão orou:
O SR[U\_, nosso Deus, seja conosco [...] incline para si os nossos
corações, para andarmos em todos os seus caminhos e guardamos os seus
mandamentos, os seus estatutos e os seus preceitos...
(1Rs 8.57,58).
Salomão entendeu que o Espírito Santo precisava inclinar o coração de
seu povo para a devida adoração. Isso porque nascemos com a propensão
natural para adorar a criação em vez do Criador. Sem a intervenção do
Espírito de Deus, estamos inevitavelmente condenados a inventar falsos
deuses, a adorar a nós mesmos em vez de adorar Deus. João Calvino
escreveu: “A experiência diária ensina que a carne permanece inquieta até
que obtenha uma fantasiosa representação semelhante a si mesma, em que
ternamente encontre consolo como uma imagem de Deus”.6
Salomão entendeu esse fato e, por isso, orou para que Deus inclinasse
para si o coração do povo.7 Deus opera por meio de seu Espírito de modo a
nos ensinar que aquilo que outrora parecia absoluta insensatez, o desejo de
amar e conAar somente em Deus, deve ser nossa maior paixão. À medida
que viermos a conhecê-lo em sua bondade e em seu amor,
experimentaremos liberdade que produz santidade. Para esse Am, ele atua
em nossos pensamentos e afeições. Sob sua tutela, aprendemos que a
bondade e a alegria supremas residem na obediência e na adoração
exclusiva a Jeová. Salomão não foi o único escritor a mencionar o poder do
Espírito de nos conduzir
à santidade:

Teu povo se apresentará de livre vontade no dia de teu poder
(Sl 110.3, NASB).
... porque é Deus quem produz em vós tanto o querer como o realizar,
segundo a sua boa vontade (Fp 2.13; veja tb. Sl 51.10; 119.36,37; Jr
32.39; 2Ts 3.5; Hb 13.20,21).
Embora a ideia de que o Espírito Santo atua sobre nossas inclinações
talvez seja novidade, não desanime; trataremos dessa questão em mais
detalhes adiante. Por ora, alegre-se pelo fato de o Espírito Santo nos
transformar em pessoas que amam a Deus. Por isso, o puritano Richard
Baxter disse: “Se Deus não me desse um coração para amá-lo, eu preferia
jamais ter coração”.8 Deus está disposto a dar a seus Alhos um coração para
amá-lo e é capaz de fazê-lo. Lembra-se da mulher imoral de Naim? Se o
Espírito mudou o coração dela, também pode mudar o seu.
Ao nos convencer de que somos filhos de Deus
Outra tarefa do Espírito consiste em nos convencer de que somos membros
da família de Deus — somos seus Alhos. Para quem é sensível a seus
pecados, é fácil duvidar de nossa adoção. Depois que começamos a duvidar,
o próximo passo é nos afastarmos do Pai em direção a falsos deuses ou à
incessante justiAcação por meio de obras. Compreender que pertencemos a
Deus é importante porque nos motiva a adorá-lo. Volta nosso coração para
o devido foco. Paulo escreve a respeito da obra do Espírito em nossa adoção:
Porque não recebestes um espírito de escravidão para vos reconduzir ao
temor, mas o Espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai! O
próprio Espírito dá testemunho ao nosso espírito de que somos Alhos de
Deus (Rm 8.15,16).
Saber que você é Alho de Deus não desperta seu afeto por ele? Há uma
grande diferença entre adorar um Deus distante, uma divindade com a qual
você não tem relação alguma, e adorar o Deus que também é seu Pai. A
consciência da relação próxima dele com você deve incentivá-lo a dedicar-
lhe todo o seu amor e toda a sua devoção.

Ao nos ensinar a orar
Não é uma bênção reCetir sobre todas as maneiras pelas quais o Espírito
Santo nos capacita a sermos adoradores de Deus? Ao lutarmos contra nossa
idolatria pecaminosa, nos veremos, com frequência, pedindo sabedoria,
força, verdadeiro ódio ao pecado e amor à justiça. Precisamos da direção do
Espírito até em nossas orações, pois, sozinhos, nem sequer sabemos orar.
Não sabemos pelo que devemos orar, nem como expressar nossos desejos.
Não sabemos se nossos desejos são idólatras ou se estamos pedindo em
concordância com a vontade de Deus. Nesses momentos de oração
profunda e fervorosa o Espírito Santo também nos auxiliará.
Do mesmo modo, o Espírito nos socorre na fraqueza, pois não sabemos
como devemos orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com
gemidos que não se expressam com palavras [...] ele intercede pelos
santos, segundo a vontade de Deus (Rm 8.26,27).
Que pensamento precioso! O Espírito nos ajuda em nossas orações.
Socorre-nos em nossa fraqueza. Em vez de Deus afastar-se de nós ou
recusar-se a ouvir nossos débeis clamores, envia seu Espírito para nos
ajudar. O Espírito intercede por nós diante do Pai enquanto oramos. Ele
conhece a vontade do Pai e nos guia em nossas orações. Mesmo quando as
palavras são inadequadas, ele nos ajuda por meio de “gemidos que não se
expressam com palavras”. Pense no quanto Deus deseja ajudá-lo, socorrê-lo,
aproximá-lo dele, libertá-lo da idolatria e mostrar-lhe que ele é digno de ser
amado. Enquanto lutamos contra o pecado, podemos ter a certeza de que o
Espírito está expressando perfeitamente nossas orações por socorro. Que
consolo o Espírito é para nós!
DEUS É FIEL
Quando Paulo escreveu aos coríntios, lembrou-lhes da insensatez de seguir
os erros dos israelitas e os encorajou a conAar na Adelidade de Deus.
Não veio sobre vós nenhuma tentação que não fosse humana. Mas Deus
é Ael e não deixará que sejais tentados além do que podeis resistir. Pelo
contrário, juntamente com a tentação providenciará uma saída, para que a

possais suportar. Portanto, meus amados, fugi da idolatria (1Co 10.13,14).
Paulo procurou consolá-los ao lembrar-lhes de que, nos momentos de
provação e de tentação, podiam contar com a Adelidade de Deus. Quis
deixar claro que a tentação a cometer idolatria é “humana”. Eles não
estavam sozinhos em sua luta. Também quis deixar claro que, embora o
mundo e seus falsos deuses pareçam extremamente poderosos, “Deus é Ael”.
Ele não dará as costas a nós enquanto lutamos contra nossa incredulidade e
nosso pecado. Com todo cuidado, ele nos conduzirá de modo que nunca
deparemos com qualquer tentação à idolatria maior que nossa capacidade de
resistir. Então, ele fará a tentação ou a provação desaparecer, ou nos
fortalecerá para que a resistamos, ou renovará nossa fé se cairmos. “Não há
vale tão escuro que ele não seja capaz de encontrar o caminho para
atravessá-lo; não há aCição tão grave que ele não possa impedir ou remover,
ou nos capacitar a suportar e, no Anal, levá-la a operar para nosso
benefício”.9
Diante dessa realidade, Paulo diz: “Portanto, meus amados, fugi da
idolatria” (1Co 10.14). Deus prometeu socorrê-lo em suas tentações e
provações, especialmente conforme você compreende como ele o amou e
como é digno de amor. Ele mesmo assumiu o compromisso de santiAcá-lo e
de ajudá-lo a dar glória a ele.
A CERTEZA DE NOSSA
GLORIFICAÇÃO FINAL
A ideia de que um dia serei inteiramente conformada ao caráter glorioso de
Cristo é quase inacreditável. Mas Deus prometeu que a obra santiAcadora
iniciada por ele aqui na terra será completada no céu. Anime-se com a
capacidade de Deus de transformá-lo:
Pois os que conheceu por antecipação, também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a Am de que ele seja o primogênito
entre muitos irmãos. E os que predestinou, a eles também chamou; e os
que chamou, a eles também justiAcou; e os que justiAcou, a eles também
gloriAcou (Rm 8.29,30).

Você foi chamado por Deus? Então foi justiAcado por ele. Foi justiAcado
por ele? Então será gloriAcado por seu poder e transformado à imagem de
seu Filho. Isso não é extraordinário? Visto que o Espírito Santo é Ael em
completar toda sua obra, podemos ter a certeza de que Deus, de algum
modo, por seu grande poder e inCuência, nos levará a reCetir seu caráter.
Ele começou essa obra agora neste mundo e a completará no mundo por
vir. Podemos descansar na consciência desse fato, certos de seu amor e de
sua direção constantes. Como Joel Nederhood escreve:
Um dia, a glória da pureza de Deus será compartilhada de tal modo com
o povo de Deus que eles serão semelhantes a Jesus, seres humanos
perfeitos, como Deus pretende que sejam.
10
Como é preciosa a inCuência do Espírito! O compromisso dele de
obedecer ao Pai ao consolar, transformar, esclarecer e ensiná-lo leva-o a
desejar cooperar com ele e depender dele? Você está descobrindo que é tão
amado por ele a ponto de ser inteiramente lógico ter o desejo de retribuir
esse amor? É assim que deve ser. Lembre-se: o Senhor não o deixou órfão.
Enviou seu Espírito para acompanhá-lo e para estar em você ao longo de
toda essa jornada.
No capítulo seguinte trataremos em mais detalhes da nossa busca pela
felicidade e de como isso inCuencia a escolha dos deuses aos quais servimos.
Por ora, dedique um tempo para meditar sobre o quanto o Espírito o ajuda
nessa batalha e regozije-se nele.
PARA REFLETIR
1. Faça uma lista de todas as maneiras pelas quais o Espírito o ajuda na
batalha contra o pecado e a idolatria.
2. Quais são as mais relevantes para você? Por quê?
3. Você consegue identiAcar algum motivo pelo qual a mulher imoral
descrita por Lucas se voltaria para Cristo? Como algo tão drástico pôde
acontecer?
4. De que maneira o Espírito levou-o a voltar-se para Cristo? Em que
aspectos as belezas de Cristo e de sua cruz se tornaram reais para você?

5. Em que sentido a idolatria é um ataque ao caráter de Deus?
6. Calvino escreveu: “A Palavra é o instrumento pelo qual o Senhor
concede aos crentes a iluminação de seu Espírito”.11 De que maneira ele
usou a Palavra para iluminar seu coração neste estudo? Há uma ou mais
passagens particularmente relevantes para você?
7. Escreva uma oração de súplica para que o Espírito o ajude, mesmo em
sua fraqueza, a compreender o papel dele em seu processo contínuo de
transformação rumo à piedade.
1Richard Baxter, A Christian directory (Morgan: Soli Deo Gloria, 1996), p. 125.
2omas Watson, e doctrine of repentance (Carlisle: Banner of Truth Trust, 1994), p. 28.
3C. S. Lewis, e weight of glory and other addresses [edição em português: Peso de glória, tradução de
Isabel Freire Messias (São Paulo: Vida Nova, 1993)], citado em John Piper, Desiring God: meditations
of a Christian hedonist (Sisters: Multnomah, 1996), p. 83.
4“Ali jamais haverá maldição. Nela estará o trono de Deus e do Cordeiro; seus servos o servirão e
verão a sua face, e na testa delas estará o seu nome” (Ap 22.3,4).
5Os Guinness; John Seel, orgs., No god but God (Chicago: Moody, 1992), p. 30.
6John Calvin, Institutes of the Christian religion, edição de John T. McNeill, Library of Christian
Classics (Philadelphia: Westminster,1960), 2 vols., 1:108 [edições em português: João Calvino, As
institutas, tradução de Waldyr Carvalho Luz (São Paulo: Cultura Cristã, 2006), 4 vols. e A instituição
da religião cristã, tradução de Carlos Eduardo Oliveira; José Carlos Estêvão (São Paulo: Unesp,
2008)].
7Embora Salomão soubesse que Deus precisa nos tornar seus adoradores, caiu em grave idolatria
mais adiante em sua vida. Parte de sua idolatria se originou em suas esposas pagãs, que
in?uenciaram sua adoração (veja 1Rs 11.5-10).
8Baxter, A Christian directory, p. 125.
9Ibidem.
10Joel Nederhood, is splendid journey (Phillipsburg: P&R, 1998), p. 9.
11John Calvin, Institutes, 1:96.

5
MELHOR QUE A VIDA
Meus lábios te louvarão, pois teu amor
é melhor que a vida (Sl 63.3).
Algum tempo depois que o Senhor enviou Israel para o exílio por idolatria,
o rei Nabucodonosor levantou uma imagem de ouro na Babilônia. Ele
ordenou que todos a adorassem sempre que ouvissem a música deAnida
como sinal. Para os idólatras, essa imagem era apenas mais um item para
sua coleção, nada com que se preocupar. Mas, para os três hebreus que
haviam sido arrancados de seus lares como disciplina de Deus pela idolatria
de seus pais, a ideia de adorar o falso deus do rei era abominável. Ao que
parece, Sadraque, Mesaque e Abednego haviam aprendido “Não terás
outros deuses além de mim” (Êx 20.30).
“... é verdade”, o rei quis saber, “que não cultuais a meus deuses nem
adorais a estátua de ouro que levantei? [...] se não a adorardes, sereis
lançados na mesma hora numa fornalha de fogo ardente; e quem é esse
deus que vos poderá livrar das minhas mãos?” (Dn 3.14,15). A situação
aterradora revelou o coração desses jovens. Em vez de aquiescerem por
medo ou de se encherem de raiva e culparem outros, simplesmente
responderam:
Ó Nabucodonosor, não precisamos responder-te sobre isto. O nosso
Deus, a quem cultuamos, pode nos livrar da fornalha de fogo ardente; e
ele nos livrará da tua mão, ó rei. Mas se não, Aca sabendo, ó rei, que não
cultuaremos teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste
(Dn 3.16-18).

Esses rapazes sabiam que não se podia encontrar verdadeira felicidade ao
ceder às exigências de um rei pretensioso — ainda que esse rei tivesse poder
e autoridade para lhes tirar a vida. Eles entendiam que a verdadeira
felicidade só pode ser alcançada ao adorarmos o Deus vivo. Estavam
dispostos a sacriAcar a vida para obedecer a Deus e experimentar seu prazer.
Por que a obediência a Deus pareceu tão agradável a esses três jovens, a
ponto de se disporem a entrar numa fornalha de fogo ardente? Eles não
tinham garantia alguma de que Deus os livraria da morte. Estavam
preparados para morrer em vez de adorar um falso deus. É impressionante
como o Espírito Santo trabalhou neles de modo a terem convicção de que a
morte com fé era, verdadeiramente, melhor que uma vida idólatra.
O VALOR DO AMOR DE DEUS
ReCita sobre as palavras de Davi: “Meus lábios te louvarão, pois teu amor é
melhor que a vida” (Sl 63.3). Inúmeras vezes, entoei uma canção inspirada
nesse versículo sem sequer pensar nele. O amor leal e a misericórdia de
Deus são, de fato, mais doces para mim que a vida? Para responder a essa
pergunta, colocarei outras palavras especíAcas em lugar de vida, como
riqueza, saúde, uma boa reputação ou paz.
• “Acredito que o amor leal de Deus é melhor que um bom carro?” Bem,
claro que sim (a menos que meu carro não dê partida exatamente
quando estou atrasada para um compromisso!).
• “Acredito que é mais desejável que boa saúde?” No momento estou me
sentindo bem, sim. Mas quando estou sofrendo no meio da noite, me
pergunto o que faria para ter uma boa noite de descanso.
• “Seu amor eterno me dá mais prazer do que ter Alhos obedientes?” Essa
pergunta é um pouco mais complicada, pois acredito ser da vontade de
Deus a obediência de meus Alhos. No entanto, é fácil colocar Deus de
lado enquanto lido com um Alho cuja desobediência me envergonha.
• “Considero o amor de Deus mais precioso que todas as outras coisas?”
Enquanto estou aqui escrevendo sobre ele é fácil responder de modo

aArmativo. A situação muda de Agura, porém, quando descubro que
meu marido perdeu o emprego, minha amiga mais chegada está se
mudando para outro estado ou quando meu computador engoliu dois
capítulos que escrevi. Nesses casos, sou fortemente tentada a me
esquecer do amor de Deus em sua aliança, caso conclua que posso obter
o que desejo.
O amor de Deus é a maior fonte de prazer, felicidade ou bem? O
relacionamento com ele parece tão prazeroso assim?
A FELICIDADE DO HOMEM
É O PRÓPRIO DEUS
O Espírito Santo pode tornar Deus seu maior tesouro. Ele inCuenciou
Agostinho a escrever: “A felicidade do homem é o próprio Deus”.1 Como
Davi, Agostinho pensou em tudo o que o mundo tinha a oferecer e disse:
“Nada é melhor que conhecer a Deus. Não há prazer maior que adorá-lo.
Nada é mais doce que seu amor. Minha felicidade está somente nele”.
A felicidade de Jesus
No deserto, Satanás seguiu essa linha para provar a Jesus. “O amor de seu
Pai é melhor que a vida para você?” E então ofereceu-lhe “todos os reinos
do mundo e a glória deles”. Disse: “Eu te darei tudo isto, se, prostrado, me
adorares” (Mt 4.8,9). Jesus, porém, não se entregou à idolatria. Ele dava
tamanho valor ao amor de Deus que quando Satanás lhe ofereceu todos os
prazeres do mundo em troca de sua adoração, ele recusou. Lembre-se de
que Jesus havia acabado de sair das águas do batismo, em que tinha ouvido
a bênção do Pai: “Este é o meu Filho amado, de quem me agrado” (Mt
3.17). Jesus sabia que só é possível ter alegria ao viver em conformidade
com o amor de seu Pai e, portanto, pôde dizer: “Vai-te, Satanás; pois está
escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele prestarás culto” (Mt 4.10).
Jesus conhecia o prazer, a alegria pura da comunhão com seu Pai. O amor
de aliança entre eles era mais doce que qualquer coisa que Satanás ou o

mundo pudesse oferecer.
Foi com a mente voltada para o prazer de Deus, a “alegria que lhe estava
proposta” (Hb 12.2), que Jesus suportou a cruz. Como Jesus suportou
aquela noite terrível no jardim do Getsêmani em que seus amigos o
abandonaram e Judas o traiu? O que o impeliu enquanto ele era açoitado,
quando dele escarneciam, enquanto a coroa de espinhos era Ancada em sua
cabeça? A que ele se apegou quando clamou em desespero: “... Deus meu,
Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46). O que era tão desejável
a ponto de Jesus suportar a cruz e a separação de seu Pai? Nada menos que
a alegria de saber que ele estava agradando a seu Pai ao regatar a noiva que
havia recebido. Ele se assentaria à destra do Pai por toda eternidade. Na
cruz, Jesus provou que valorizava o amor de Deus mais que a vida.
Pedro experimentou essa alegria quando declarou: “... tu me encherás de
alegria na tua presença” (At 2.28). Davi escreveu a esse respeito: “... na tua
presença há plenitude de alegria; à tua direita há eterno prazer” (Sl 16.11).
Juntamente com nosso Salvador, esses homens experimentaram a alegria
mais valiosa e mais desejável que a vida.
As expressões “plenitude de alegria” e “eterno prazer” chamam a atenção.
O Espírito abriu os olhos de Davi para algo extraordinário — o puro êxtase
da comunhão irrestrita com o ser mais sublime de todo o universo. Que
alegria teríamos se pudéssemos, por apenas um momento, adorá-lo
inteiramente sem fraqueza, incredulidade ou pecado algum! Que prazer
indizível experimentaremos quando Analmente o contemplarmos! Como
Davi, agora dizemos: “... Minha alma tem sede de ti [...] em uma terra seca
e exaurida [...]. Meus lábios te louvarão, pois teu amor é melhor que a vida”
(Sl 63.1,3). No céu, seremos plenamente satisfeitos, cheios de alegria e
prazer. Mas será que podemos provar desse prazer agora? Tudo indica que
algumas pessoas o Azeram. E, pela vontade bondosa de Deus, também
teremos momentos de glória, em que as alegrias do céu parecem quase
tangíveis.
O PRAZER EM FAZER A
VONTADE DE DEUS

Davi profetizou a respeito dos desejos de Jesus ao escrever: “Gosto de fazer
a tua vontade, ó meu Deus; sim, tua lei está dentro do meu coração” (Sl
40.8). Jesus tinha prazer na comunhão com seu Pai, desfrutava-a e era
cativado por ela. Conhecia a doçura resultante da obediência e da adoração
centrada em Deus. E ele teve uma vida de obediência porque sabia que era
querido e amado pelo Pai a quem ele amava agradar.
Fazer a vontade de Deus era um prazer para Cristo, e ele foi
recompensado por isso. “Amaste a justiça e odiaste o pecado; por isso Deus
[...] te ungiu com óleo de alegria...” (Hb 1.9). O Senhor Jesus teve grande
alegria, felicidade de alma, porque amava a justiça e odiava o pecado. Ele
experimentou o prazer supremo de ver o semblante doce de Deus sorrir
para ele. Disse: “Aquele que me enviou está comigo [...] pois faço sempre o
que lhe agrada” (Jo 8.29).
Ter prazer em fazer a vontade de Deus signiAca abandonar a ilusão de
que é possível encontrar alegria fora da comunhão obediente com ele.
Precisamos sempre questionar as imaginações que parecem mais agradáveis
que o amor de Deus. Para isso, temos de estar convictos de que sua presença
é o tesouro mais belo de todos. Temos de crer que ele encherá nossa vida de
alegria. “Acaso não há o suAciente no céu, em uma vida de alegrias
intermináveis com Deus, para tornar a obediência agradável a ti?”2
Somente o Espírito Santo pode fazer Deus parecer tão atraente.
Você pode dizer, como Jesus: “Gosto de fazer a tua vontade, ó meu
Deus”?3 Caso sua resposta seja aArmativa, é por obra do Espírito Santo em
seu interior. Em todas as outras áreas em que você ainda luta com falsos
deuses e suas mentiras, suplique para que o Espírito transforme seu coração.
Ele é capaz de fazer com que você deseje servi-lo permitindo que você
descanse no grande poder dele, mesmo quando a mudança parecer
demasiado lenta.
A ESCOLHA INFELIZ DE EVA
Consideremos agora como o pecado entrou no mundo. “Então, vendo a
mulher que a árvore era boa para dela comer, agradável aos olhos e
desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, comeu e deu dele a

seu marido, que também comeu” (Gn 3.6).
Por que Eva escolheu desobedecer a Deus? Releia três palavras do
versículo: boa, agradável e desejável. São termos que ilustram a motivação
por trás de ações. Nossas escolhas são fundamentadas naquilo que
consideramos “bom”, naquilo que nos é “agradável” e naquilo que temos por
mais “desejável”. A verdade é que sempre escolhemos aquilo que
acreditamos ser melhor para nós. Sempre escolhemos o que, a nosso ver,
será mais prazeroso. Quando cometemos algum pecado, é porque o
confundimos com retidão: escolhemos ser semelhantes a Deus, estendemos
a mão e pegamos tudo o que há de melhor. O pecado nunca se apresenta
como tal. Sempre se faz passar por retidão.
Não estou dizendo que sempre escolhemos aquilo que é moralmente
bom, pois, se o Azéssemos, não existiria pecado, e sabemos que não é o caso.
Antes, ao longo do dia, fazemos escolhas com base naquilo que acreditamos
ser melhor, que supostamente nos trará felicidade. “A escolha da mente
nunca se afasta daquilo que, na ocasião [...] considerando-se todos os
elementos, parece mais aprazível e agradável.”4
Embora eu deliberadamente tome a decisão (como Eva) de desobedecer a
Deus, sempre o faço porque creio que é a melhor escolha na ocasião. Eva
achou que comer do fruto proibido era o melhor a fazer, a escolha mais
aprazível e desejável. Ela considerou a desobediência melhor que a vida. Foi
enganada e levada a concluir que era retidão. Esqueceu-se do doce amor de
Deus. O pecado é sempre ocasionado por nossa convicção de que ele é bom.
Se você nunca reCetiu a respeito dos motivos de suas escolhas, talvez
pareça um tanto confuso. Apresento, portanto, duas analogias simples para
ilustrar essa verdade.
Entre em forma!
Imagine que o médico diz que preciso me exercitar com regularidade para
manter meus ossos fortes e dormir bem. Ele aArma (e acredito nele) que se
eu começar a me exercitar, me sentirei melhor e mais saudável. Reconheço
que a saúde é algo bom, agradável e desejável. Sei que Deus deseja que eu

cuide de meu corpo. Concluo que entrar em forma será um benefício para
minha vida. Imagino como será maravilhoso me sentir saudável, ter força
suAciente para caminhar sem perder o fôlego — sim, estar em forma é bom.
Portanto, decido que vou escolher me exercitar.
A história se complica quando resolvo ir à academia. Coloco o
despertador para as 6h. Tenho uma agenda cheia, portanto sei que preciso
acordar cedo. No entanto, quando o despertador toca nesse horário, percebo
outras coisas boas: o prazer do calor e do conforto de minha cama, o
aconchego dos cobertores, o silêncio da casa. De repente, algo me parece
mais desejável — o benefício de Acar em minha cama quentinha,
desfrutando da solitude e do descanso. Posso ir à academia amanhã.
O que parecia bom logo cedo (Acar na cama) não era, mas tinha a
aparência de ser. Escolhi Acar na cama porque, na ocasião, parecia a melhor
escolha. Ao decidir puxar os cobertores sobre a cabeça, escolhi a opção que
supostamente trazia o maior benefício para mim. Cheguei a dizer a mim
mesma que faria bem descansar um pouco mais. Foi a melhor escolha?
Provavelmente não. Naquele momento, Acar na cama foi agradável e
pareceu ser a decisão mais sábia, mas se houvesse se tornado um hábito, eu
teria sofrido as consequências. O que parecia bom não era, embora naquele
momento tivesse dado a impressão de que sim.
Desista!
Sempre escolhemos o que parece bom, mesmo quando é evidentemente
mau. Suponha que eu chegue à conclusão de que o mundo seria melhor
sem mim. Começo a considerar o suicídio. Embora seja difícil imaginar o
benefício de minha não existência, começo a gostar da ideia. Tenho prazer
em pensar sobre as pessoas que Acariam tristes com minha morte. Penso em
como a vida deles seria melhor se eu não estivesse por perto. Sonho em
descansar e me livrar de meus problemas. Quanto mais contemplo os
aparentes benefícios de minha morte, mais anseio por ela. A única coisa que
me impede de me matar é o bem da autopreservação. Tudo dentro de mim
diz em alta voz que o Am de minha existência não é algo bom, mas começo

a amar essa ideia e a ter prazer nela. Caso venha a cometer suicídio, não o
farei porque escolhi de propósito algo que parece mau, embora eu saiba que
o suicídio é pecado. Eu o farei porque creio que será o bem maior: o Am de
todos os meus problemas e a liberdade absoluta. Para a pessoa que comete
suicídio, a morte parece mais prazerosa que a vida.
Talvez você esteja se perguntando em que tudo isso se relaciona com a
adoração a falsos deuses. Ficaria surpreso se eu dissesse: “Tudo”? Erigimos
falsos deuses porque acreditamos que eles são capazes de nos proporcionar
felicidade, nosso bem supremo.
NÃO FALE DE FELICIDADE!
Neste livro, tratarei dos benefícios de buscar felicidade. Se você é como eu,
pode não se sentir muito à vontade com essa ideia. Tenho a impressão de
que muitos cristãos têm diAculdade com a palavra felicidade. Entendo.
Como cristãos que levam a sério o chamado de Deus para negarmos a nós
mesmos, sentimo-nos impelidos a rejeitar a religião fácil e egocêntrica que
faz passar por cristianismo em nossa cultura. Permita-me dizer claramente
que concordo com essas preocupações.
Rejeito a ideia de que Deus me salvou para me dar um Cadillac novo.
Recuso-me a crer que sou o centro do universo e que Deus existe para me
conceder o que eu quero, quando eu quero.5 Reconheço Deus como a fonte
e o signiAcado de tudo: o Sol em torno do qual percorro minha órbita. Sei
que minha vida foi criada para dar prazer a ele. Como Paulo escreve, ele é
“um só Deus, o Pai, de quem todas as coisas procedem e para quem
vivemos” (1Co 8.6; veja tb. Rm 11.36; Cl 1.16).
Em meu escritório, há um pôster de Mary Englebreit chamado <e Queen
[A rainha]. É o retrato de uma garota com uma coroa, um cetro e óculos
escuros, muito satisfeita consigo mesma, contemplando seu reino do alto do
muro de seu castelo. A legenda diz: “A Rainha de Tudo”. Uma amiga me
deu esse pôster de presente por causa das brincadeiras que fazemos a
respeito de ser “a rainha”. O pôster é engraçado porque se trata de uma
realidade próxima. A menos que Deus me ensine algo diferente, acredito
que sou o centro do universo, a Rainha de Tudo. Antes de continuarmos a

falar sobre a busca por felicidade, permita-me dizer que rejeito
categoricamente as AlosoAas centradas no ser humano. Preciso reconhecer,
porém, que ainda luto contra meu desejo de ser a Rainha de Tudo ou, pelo
menos, a Rainha de Meu Pequeno Mundo.
CORRENDO ATRÁS DA FELICIDADE
É surpreendente, mas eu passei a me sentir mais à vontade para falar sobre
a busca por felicidade por meio dos textos dos puritanos. Quando comecei a
lê-los, Aquei impressionada com o número de vezes que usam o termo
felicidade com uma conotação positiva. Foi um espanto para mim ler sobre
felicidade nas palavras desses homens que o mundo retrata como sujeitos
mal-humorados, sombrios e desmancha-prazeres. <omas Watson, por
exemplo, escreveu: “[Deus] não tem plano algum a nosso respeito senão
fazer-nos felizes” e “Quem deve ser alegre, senão o povo de Deus?”.
William Gurnall declarou: “Ver um homem perverso alegre ou um cristão
triste é igualmente impróprio”.6
Os puritanos não tinham em mente a felicidade superAcial resultante de
prazeres temporais. Eles sabiam que a felicidade profunda se encontrava no
relacionamento próximo com Deus. Estava disponível apenas para aqueles
que buscavam ser santos. Nas palavras de Richard Sibbes, “Aqueles que
procuram ser felizes devem primeiro ser santos”.7 Observe que ele não
disse, “Não procure ser feliz”, mas “Procure a felicidade onde ela se
encontra de fato — na santidade”, em uma vida debaixo do amor de Deus.
Um puritano orou: “Não podes tornar-me feliz contigo se antes não me
tornares santo como tu és”.8
Esses autores sabiam que faz parte da natureza humana buscar a
felicidade e que não adiantaria ensinar o contrário. Também sabiam que a
felicidade não se encontra em nada ou ninguém além de Deus,
especialmente não nos prazeres mundanos que “satisfazem os iludidos”.9
“Como é feliz o povo cujo Deus é o SR[U\_” (Sl 144.15, NVI), escreveu o
salmista, e os puritanos teriam concordado plenamente.10
Busque a felicidade de conhecer e amar a Cristo, descansando no amor
dele por você, e crescerá em santidade e adoração. É possível buscá-lo sem

medo de perder coisa alguma importante, pois “ele o usará somente em
serviços idôneos e honrados, e para nenhum Am pior que sua inAnita
felicidade”.11
O QUE NOS LEVA A FAZER NOSSAS ESCOLHAS?
Desconsideramos o primeiro mandamento porque temos outros desejos e
prazeres. O que você acredita que o fará feliz? De que maneira seus desejos
inCuenciam sua santidade? Se eu observasse sua vida, que conclusões tiraria
a respeito da prioridade do amor de Deus? Eis algumas ilustrações para
ajudá-lo a começar a responder a essas perguntas.
Imagine que você costuma Acar com raiva de seu cônjuge. Pergunte-se?
“Que benefício ou felicidade penso estar perdendo? Que prazer ou alegria
procuro obter ao agir desse modo?” Algumas possíveis respostas são: “Não
posso ser feliz sem o respeito de meu cônjuge. Quando sou desrespeitado,
reajo com raiva”. Nesse caso, você considera o respeito de seu cônjuge seu
bem supremo, sua fonte de felicidade. E como você está disposto a pecar
para obter o que deseja, isso também é seu deus. Claro que o desejo de ser
respeitado de maneiras apropriadas não é pecado por si só. Quando, porém,
imaginamos que o respeito é necessário para nossa felicidade, atribuímos a
ele (e a outros) poder excessivo sobre nossa vida.
Ou talvez você responda: “Meu cônjuge não se comunica comigo da
forma como desejo. Não posso ser feliz sem uma boa comunicação. Ajo
dessa forma para tentar conseguir o que quero”. Nesse caso, um cônjuge que
saiba se comunicar devidamente é seu bem supremo, sua fonte de felicidade.
Lembre-se de que, quando você está disposto a pecar a Am de ser feliz, essa
felicidade (qualquer que seja sua deAnição para ela) é seu deus. A boa
comunicação é uma bênção e uma dádiva maravilhosa nos relacionamentos,
mas não é a chave para a felicidade absoluta. Lembre-se de que podemos
transformar até mesmo coisas boas em ídolos ao desejá-las demais ou ao
atribuir-lhes importância excessiva.
Outro exemplo: toda vez que você se sente ansioso, vai ao shop- ping
center e gasta dinheiro demais. Pergunte-se: “Que benefício penso estar
perdendo? Que alegria obtenho ao gastar dinheiro?”. Uma resposta possível

é: “Anseio por uma vida sem preocupações. Minha vida parece tão difícil;
gosto de proporcionar prazer a mim mesmo. Gastar dinheiro me dá
felicidade”. Nesse caso, o bem supremo que você busca é o prazer de
considerar-se capaz de comprar tudo o que deseja, quando deseja. Na
prática, a felicidade que você sente quando veste roupas novas ou olha para
seus móveis é seu deus, pois você está disposto a pecar a Am de obtê-la.
Um último exemplo: você acabou de mudar de igreja e, embora saiba que
o Senhor deseja que se envolva com outras pessoas, você corre para a porta
assim que termina o culto. Quando é obrigado a Acar, mantém-se distante.
Diz a si mesmo que é tímido e que tem diAculdade em fazer amigos. Se essa
situação não lhe é estranha, pergunte-se: “Que felicidade considero
necessária? Que alegria penso obter ao manter-me isolado?”. Uma possível
resposta é: “Preciso ser aceito e amado. Sofri mágoas no passado e agora
não quero dar a ninguém a oportunidade de me rejeitar. Felicidade é ter
uma vida protegida de outros”. Talvez você imagine que a alegria ou o bem
supremo consiste em sentir-se seguro. Embora você saiba que não está
protegido, pelo menos não está sendo rejeitado, portanto sente-se mais no
controle. Nesse caso, ter controle e proteger a si mesmo são o suposto bem
supremo.
SUA HISTÓRIA E SUA FELICIDADE
Ao fazer uma retrospectiva de sua vida, é possível que consiga identiAcar os
motivos por trás dessas crenças a respeito de seu bem supremo pessoal —
sua fonte de felicidade. Talvez tenha crescido em um lar em que havia
grande respeito e tenha chegado à conclusão de que o respeito é necessário
para a felicidade. Ou, em contrapartida, talvez tenha visto um dos pais ser
desrespeitado e tenha prometido a si mesmo que jamais seria tratado dessa
forma.
É possível que tenha visto um dos pais entregar-se à autossatisfação
quando as coisas estavam desmoronando e tenha concluído que essa é a
forma apropriada de lidar com a tensão. Ou talvez um dos pais fosse
extremamente autodisciplinado, e você se sentisse sozinho em meio a
situações assustadoras. Talvez você tenha aprendido a ansiar por prazer em

meio ao caos. Agora você só pensa em você mesmo como se estivesse
estressado ou tenso.
A pessoa tímida talvez tenha crescido em um lar no qual um dos pais ou
irmão era muito exigente e nunca estava satisfeito. A melhor maneira de
evitar o sofrimento da rejeição era não se arriscar em relacionamentos. Ou
talvez um dos pais tenha sido excessivamente atencioso e coberto essa
pessoa de tanto afeto que ela se sentia rejeitada quando outros não a
tratavam da mesma forma. Seu modo habitual de interagir com outros se
tornou arraigado, e agora ela se considera tímida.
Nosso coração singular
Percebe como cada pessoa tem um coração singular, que reage de maneiras
singularmente distintas? Embora todos tenhamos a mesma natureza
pecaminosa e propensa a criar falsos deuses, nós os criamos por motivos
bem diferentes. Fabricamos imagens com base em nossos conceitos de
felicidade ou de bem supremo. E, quer tenhamos consciência, quer não,
essas imagens são as forças que nos impelem. Dirigem nossa adoração para
Deus ou afastam-na dele. DeAnem o que devemos valorizar mais que ele.
Por vezes, concluímos que nossa história pessoal nos impede de adorar a
Deus. Mas lembra-se de Sadraque, Mesaque e Abednego? Sua infância não
tinha sido agradável, e sua situação presente também não era. Talvez seus
pais fossem idólatras, mortos na conquista de Jerusalém. Os três jovens
eram cativos em terra estrangeira. No entanto, conforme o Espírito Santo
os havia ensinado, ainda que lhes custasse a vida, não existia alegria maior
que experimentar a agradável comunhão com seu Pai. Se ele foi capaz de
ensinar essa verdade aos três órfãos hebreus, pode fazer o mesmo por você.
Deus pode lhe ensinar que ele é seu bem supremo. Pode lhe mostrar que
toda a sua felicidade se encontra nele. Ele tem prazer em colocar seu povo
diante da felicidade que só ele é. Você pode fazer esta oração:
Ó Cristo,
Todos os teus caminhos de misericórdia conduzem para meu prazer e o tem
como destino.

Choraste, te entristeceste e sofreste para que eu me regozijasse.
Para minha alegria enviaste o Consolador,
multiplicaste tuas promessas,
revelaste-me minha felicidade futura,
deste-me uma fonte de água viva.
Estás preparando alegria para mim, e estás me preparando para ela;
peço alegria, espero pela alegria, anseio pela alegria;
dá-me mais do que sou capaz de conter, desejar ou imaginar.
12
A boa notícia é que o Espírito Santo pode iluminar seu coração e levá-lo
a crescer em apreço por Cristo e em desdém pelos encantos deste mundo.
Para isso, ele o inclina a servi-lo e lhe ensina acerca das verdadeiras alegrias
do céu. Portanto, vá em frente! Busque a felicidade! DeAna-a como Deus a
deAne e nunca se decepcionará. Lembre-se de que seu objetivo é dizer,
como Davi: “Nada, nem mesmo esta vida, me dá mais felicidade que teu
amor!”.
PARA REFLETIR
1. A que Agostinho estava se referindo quando disse: “A felicidade do
homem é o próprio Deus”?
2. Qual é sua opinião acerca da busca pela felicidade? Em que sentido ela
pode ser piedosa ou ímpia?
3. Explique o que signiAca buscar seu bem supremo. SigniAca que sempre
escolhemos as coisas moralmente boas? Por que algo nocivo, como o
suicídio, poderia parecer bom?
4. Pense na última ocasião que você tem consciência de haver pecado.
Pergunte-se: “Que bem eu desejava? Que alegria pensei que obteria ao
seguir por esse caminho pecaminoso? De que forma o pecado se passou
por retidão?”.
5. Que desejos parecem lhe prometer felicidade? Complete a seguinte frase
para entender melhor quais são esses desejos. “Minha vida seria perfeita
se...”
6. Que circunstâncias em sua vida lhe ensinaram a considerar certas coisas
seu bem supremo? Você crê que Deus pode redimir as circunstâncias e lhe

ensinar a considerá-lo sua felicidade?
1omas Watson, e Ten Commandments (Carlisle: Banner of Truth Trust, 1995), p. 19.
2Richard Baxter, A Christian directory (Morgan: Soli Deo Gloria, 1996), p. 77.
3O prazer na comunhão obediente é um tema recorrente nas Escrituras: Jó 23.12; Sl 40.8; 112.1;
119.11,35,47,48,72,92; Jr 15.16; Rm 7.22.
4Jonathan Edwards, Freedom of the will (Morgan: Soli Deo Gloria, 1996),
p. 13. John Owens concorda: “Nunca se faz escolha alguma sem certo grau de afeição”. James M.
Houston, org., Sin and temptation: the challenge of personal godliness (Minneapolis: Bethany, 1996), p.
xix.
5Bob Dylan expressa bem essa ideia em sua música When you gonna wake up? [Quando você vai
despertar?].
6I. D. E. omas, org., e golden treasury of Puritan quotations (Carlisle: Banner of Truth Trust,
1997), p. 158-9.
7Ibidem, p. 158.
8Arthur Bennet, e valley of vision: a collection of Puritan prayers and devotions (Carlisle: Banner of
Truth Trust, 1975), p. 93.
9Ibidem, p. 216.
10omas Watson, em sua introdução à obra e Ten Commandments [Os Dez Mandamentos]
discorre páginas a ?o sobre a felicidade e a bem-aventurança de conhecer e amar a Deus. Escreve:
“Deus é o bem supremo. No bem supremo deve haver a possibilidade de deleite; ele deve ter algo
delicioso e doce: em que possamos sorver os puros confortos essenciais que nos arrebatam de prazer,
mas em Deus. No caráter de Deus, há certo dulçor que fascina, ou melhor, extasia a alma” (p. 22, grifo
da autora). John Piper também escreveu com eloquência a respeito da busca apropriada por
felicidade em seus excelentes textos, a começar por Desiring God: meditations of a Christian hedonist
(Sisters: Multnomah, 1996). Piper reconhece que é próprio do ser humano buscar a felicidade e
incentiva essa busca. Para ele, o homem pode e deve buscar de todo coração a alegria que Deus
experimenta na comunhão consigo mesmo. De acordo com Piper, buscar felicidade em Deus é o
grande alvo da vida. A seu ver, Deus é mais glori?cado por vidas que re?etem maior felicidade em
conhecê-lo e amá-lo.
11Baxter, A Christian directory, p. 75 (grifo da autora).
12Bennet, Valley of vision, p. 162 (grifo da autora).

6
CONHECENDO
SEU CORAÇÃO
Quem dera o coração deles fosse tal que me temessem
e guardassem todos os meus mandamentos
em todo o tempo... (Dt 5.29)
Ao contrário da mulher imoral de Naim, a meretriz Raabe
1 não tinha ouvido seus vizinhos falarem
do Deus de Israel. Ela só conhecia idolatria e prostituição. Vivia no meio de um povo condenado,
um povo sobre o qual Deus havia pronunciado julgamento.
2
A casa de Raabe era propícia para o exercício de sua profissão. Ali, no muro de Jericó, ela
podia ver viajantes interessados em uma noite de descanso confortável. É bem possível que
tivesse ficado sabendo por eles que um povo conhecido como “filhos de Israel” estava a caminho
de Jericó. Desde criança, tinha ouvido histórias de como o exército egípcio havia se afogado no
mar Vermelho. Sabia que alguns dos reis dos amorreus tinham sido totalmente destruídos (Js
2.10). E agora, esse povo aparentemente invencível rumava para sua cidade.
Ao hospedar os espias israelitas, talvez tenha imaginado que poderia oferecer seus favores em
troca de sua própria segurança, mas aqueles homens eram diferentes. Eles não estavam
interessados em seus préstimos; pareciam honestos e devotos.
Quando recebeu os espias, Raabe tomou uma decisão aparentemente ilógica. Escolheu aliar-se
a eles. Sua decisão foi ilógica porque Jericó era uma cidade extremamente fortificada, no alto de
uma colina. Com muralhas externas e internas de quase seis metros de espessura, havia resistido
a ataques anos a fio. No entanto Raabe, uma meretriz idólatra, creu que seu bem supremo
consistia em ajudar os espias inimigos. Veja as palavras surpreendentes que ela disse aos espias:
Bem sei que o Soxr\_ vos deu esta terra, que grande pavor de vós caiu sobre
nós e que todos os moradores desta terra se derretem de medo diante de vós
[...]. Quando ouvimos isso, os nossos corações se derreteram, e em ninguém
mais há ânimo algum, por causa da vossa presença; porque o Soxr\_, vosso
Deus, é Deus em cima no céu e embaixo na terra (Js 2.9,11).
Como Raabe sabia que o Senhor tinha lhes dado a terra? Talvez você pense
que ela só estava se garantindo. Talvez não soubesse ao certo, mas imaginasse
que não faria mal se proteger, só por via das dúvidas. Nesse caso, por que ela

arriscaria a vida e mentiria ao ser interrogada a respeito dos espias? Como ela
sabia que o Deus de Israel era o Deus verdadeiro? Não temos respostas para
essas perguntas, mas sabemos que, de algum modo, Deus se revelou ao coração
dela.
A história de Raabe é um dos relatos mais cativantes e extraordinários da
Bíblia. Sem ter coisa alguma que a recomendasse — aliás, com motivos de sobra
para ser reprovada — tornou-se uma mulher favorecida. Sua história não
termina quando ela protege os espias e escapa da destruição de Jericó. Mais
adiante, ela se casa com Salmom, líder israelita, e tem um —lho chamado Boaz
que, por sua vez, se casa com Rute. Eles têm um —lho chamado Obede, pai de
Jessé, pai de Davi. Da linhagem de Davi nasceu Jesus.
Toda mulher cristã com um passado marcado por erros pode se alegrar com a
história de Raabe. Para nós, é um grande consolo saber que Deus a escolheu
dentre os habitantes de uma cidade condenada, protegeu-a e garantiu sua
segurança quando ela fugiu em meio ao caos. Deus não apenas a protegeu e
livrou, mas também livrou sua família. Que história abençoada! Deus lhe
ensinou o que ela precisava saber. Mostrou-lhe que seria muito bom para ela
esconder os espias. Ele a livrou e lhe deu uma família e um lugar de honra entre
todas as mulheres de fé no mundo. A lista de heróis da fé cita apenas duas
mulheres por nome. Raabe é uma delas: “Pela fé, a prostituta Raabe não morreu
com os desobedientes, pois acolheu em paz os espias” (Hb 11.31).
Raabe sabia do poder conquistador de Deus porque ele já havia informado
sua mente, conquistado seu coração e gerado fé em seu interior. Essa fé a levou
a perceber qual era a vontade de Deus e lhe deu coragem para procurar
obedecer-lhe. Se Deus pode trabalhar de tal maneira no coração de uma
prostituta gentia e lhe dar fé, também pode trabalhar em sua vida. Pode instruir
seu coração e levá-lo a entender a verdade e a desejá-la.
Nos capítulos anteriores, vimos como as escolhas que fazemos se baseiam em
nossa estimativa da maior probabilidade de felicidade. Fomos encorajados a
reconhecer que não existe felicidade maior do que experimentar o amor leal de
Deus.
Ao tratarmos do processo de escolha, talvez você tenha —cado curioso a
respeito de sua capacidade de discernir entre verdadeiras e falsas promessas de
felicidade. Talvez tenha se perguntado como seu amor por Deus e seu desejo de

buscar verdadeira alegria podem aumentar. AAnal, os “bolos de lama”
mencionados por C. S. Lewis parecem atraentes, não é mesmo? Nos próximos
capítulos vamos analisar como funciona nosso coração. Veremos como a
devoção dedicada pode começar a ser desenvolvida. Lembre-se de que, quando
Jesus enunciou o maior mandamento, ele disse que todo o nosso coração, toda a
nossa alma e toda a nossa mente precisavam estar tomados por Deus. O que ele
quis dizer com essa declaração? Como ele entendia o coração?
ENTENDENDO O CORAÇÃO
Quando Jesus falou do coração, tinha em mente o ser interior. Sempre que a
Bíblia menciona o coração, refere-se às três principais áreas de funcionamento
de nosso universo interior: a mente, as afeições e a vontade.
A mente
O termo coração se refere, em primeiro lugar, à mente, que abrange
pensamentos, crenças, entendimento, memórias, julgamentos, consciência e
discernimento. Veja os seguintes versículos que ilustram essa ideia:
Eu darei a você um coração sábio e capaz de discernir (1Rs 3.12, NVI).
Pois o coração deste povo se tornou insensível [...]. Se assim não fosse,
poderiam [...] entender com o coração... (Mt 13.15, NVI).
Estavam sentados ali alguns escribas, que pensavam no coração... (Mc 2.6).
Ele, porém, lhes disse: Por que estais angustiados? E por que surgem dúvidas
em vosso coração? (Lc 24.38)
... porque, mesmo tendo conhecido a Deus [...] o seu coração insensato se
obscureceu (Rm 1.21).
Esta orientação tem como objetivo o amor que procede de um coração puro,
de uma boa consciência e de uma fé sem hipocrisia (1Tm 1.5).
Vemos, portanto, que a Bíblia usa o termo coração para falar da nossa
capacidade de pensar, entender, duvidar, raciocinar, discernir e recordar. É
diferente do conceito ocidental de coração. Em geral, nos referimos às atividades
desse tipo como algo externo ao coração e exclusivo da mente. Não costumamos
dizer: “Estava pensando em meu coração...” ou “Decidi isso em meu coração”.
Do ponto de vista bíblico, porém, a mente é apenas uma das três áreas de

funcionamento do coração ou ser interior.
As afeições
Outra parte do nosso ser interior ou coração é o que os puritanos chamam de
“afeições”. Elas abrangem os anseios, os desejos, os sentimentos, as imaginações
e as emoções. Esse termo é usado como normalmente empregaríamos a palavra
coração em nossa cultura. Quando falamos de um “coração partido” não estamos
nos referindo a uma distorção de raciocínio, nem a um problema no
bombeamento do sangue do nosso coração Asiológico. Geralmente estamos
falando de sofrimento associado a nossos sentimentos e anseios. A Bíblia
apresenta uma visão mais ampla do coração, na qual nossos sentimentos e
desejos são apenas uma de suas funções. Eis alguns exemplos de como a Bíblia
se refere a essa área de nosso ser interior:
Por não teres cultuado o So[U\_, teu Deus, com gosto e alegria de coração...
(Dt 28.47).
Meus irmãos que subiram comigo Azeram derreter o coração do povo de
medo... (Js 14.8).
... por que choras? [...] Por que o teu coração está tão triste? (1Sm 1.8)
Conceda-te o desejo do teu coração e realize todos os teus planos (Sl 20.4).
... do seu coração brotam fantasias (Sl 73.7).
Não te ires depressa em teu coração (Ec 7.9, NASB).
... anima o teu coração... (Ec 11.9).
Dizei aos aCitos de coração: Sede fortes, não temais... (Is 35.4).
Assim, considerai-o [...] para que não vos canseis e seu coração desanime (Hb
12.3).
3
... não vos orgulheis [...] se tendes inveja amarga e sentimento ambicioso no
coração (Tg 3.14).
Como podemos ver, a Bíblia fala do coração como o centro das emoções, das
imaginações, dos anseios e dos desejos. Para nossa discussão, usaremos o termo
puritano afeições quando falarmos desse aspecto do ser interior, pois desejamos
considerar mais do que apenas as emoções. É particularmente importante
entendermos nossas afeições, pois elas inCuenciam nossa adoração.
A volição

A terceira área de funcionamento de nosso coração é a volição. Ela é a parte do
ser interior que escolhe ou determina quais serão nossas ações. Ela é guiada pela
mente e pelas afeições quanto ao melhor curso de ação, e depois age em função
dele. Evidentemente, nossa volição está corrompida e escravizada. Portanto, em
nossa luta para escolher o curso de ação correto, convém lembrar que Jesus foi o
único ser humano cuja volição era inteiramente livre — livre para escolher
servir seu Pai em todas as circunstâncias. Mesmo depois que aceitamos a Cristo
e ele nos regenera, nossa velha natureza continua a ter diAculdade em escolher
livremente a vontade de Deus.
Escolhe a vida, para que vivas (Dt 30.19).
Escolhei hoje a quem cultuareis (Js 24.15).
Ele comerá manteiga e mel até que saiba rejeitar o mal e escolher o bem (Is
7.15).
4
Quem é o homem que teme o Soxr\_? O Soxr\_ lhe ensinará o caminho
que deve escolher (Sl 25.12).
5
Se você nunca pensou dessa forma a respeito de seu coração, talvez pareça um
tanto confuso. Lembre-se apenas de que, do ponto de vista bíblico, seu coração
têm três áreas de funcionamento distintas: mente, afeições e volição. A Agura
6.1 talvez ajude a esclarecer alguma dúvida que você ainda tenha.
Figura 6.1 — Um retrato bíblico do coração

Em vez de considerar esses três aspectos (mente, afeições e volição) como
áreas separadas e isoladas uma da outra, pense neles como elementos que
trabalham continuamente de forma conjunta. (Para exemplos disso, releia Is
7.15; Dt 23.15,16; Sl 25.12.) Em nossa vida diária, é difícil distinguir entre eles.
Podemos fazer um paralelo com o cérebro, o coração e os pulmões. Enquanto
você lê este livro, não tem consciência de qual parte de seu corpo está
trabalhando para mantê-lo vivo. Isso porque todas as partes estão operando de
forma conjunta. Se uma das partes deixasse de funcionar, você perceberia de
imediato. Em circunstâncias normais, porém, não pensamos nelas.
Em certo sentido, é dessa forma que nossa mente, nossas afeições e nossa
volição operam. Sua mente deve mostrar às suas afeições qual é a fonte de sua

felicidade suprema; suas afeições imaginam essa felicidade, levam-no a ansiar
por ela e aplicam o impulso necessário para despertar sua volição de modo a
fazer uma escolha. Não paramos e pensamos se foram nossas afeições que nos
levaram a escolher sorvete de creme, e não de chocolate, ou se foi nossa mente
ou nossa volição. Apenas fazemos a escolha.
Em Hebreus 11, o autor se refere aos três aspectos do coração ao falar de
Moisés. Veja se consegue identiAcá-los:
Pela fé, Moisés, já adulto, recusou ser chamado Alho da Alha do faraó,
escolhendo, pelo contrário, ser maltratado com o povo de Deus em vez de
experimentar por algum tempo os prazeres do pecado. Ele considerou a
afronta de Cristo como uma riqueza maior do que os tesouros do Egito, pois
tinha em vista a recompensa. Pela fé, ele deixou o Egito, não temendo a ira
do rei, e perseverou como quem vê aquele que é invisível (Hb 11.24-27).
Observe novamente os versículos. Percebeu como a mente, as afeições e a
volição de Moisés interagiram com sua fé? Sua mente considerou a afronta uma
felicidade maior que os tesouros do Egito. Suas afeições ansiaram pela felicidade
que sua mente considerou mais valiosa que os prazeres do pecado. Sua
imaginação olhou adiante e viu a recompensa reservada para ele. Sua mente
mostrou a suas afeições que essa recompensa lhe traria maior felicidade que
qualquer coisa que o Egito podia oferecer. Moisés pensou, sentiu, desejou e agiu
com base na crença de que sofrer afronta por Cristo lhe traria maior felicidade
que os prazeres da casa do faraó. E, por Am, sua volição foi tocada e ele “recusou
ser chamado Alho da Alha do faraó”. Pela graça de Deus, Moisés creu que
humilhação e privação por amor à bondade de Deus eram melhores que uma
vida de prazer e poder.
Vemos, portanto, que os elementos do coração de Moisés (a mente, as
emoções e a volição) agiram de forma conjunta, dirigindo sua adoração ao
discernir, desejar e escolher a qual deus servir. Sua fé conduziu seu coração a
pensamentos, sentimentos e ações corretos. Ele entendeu que haveria maior
felicidade em sofrer pelo Deus vivo que em uma vida de conforto no palácio do
faraó. Quando, mais adiante, Deus lhe deu a lei no monte Sinai, pela fé ele já
havia decidido que Jeová seria seu Deus.6
A DOENÇA DO NOSSO CORAÇÃO

Talvez você esteja pensando: “Se eu conseguisse voltar meu pensamento para
Deus, aprender a desejá-lo e, então, escolhê-lo, estaria tudo bem, certo?”. Sim e
não.
Sim, é verdade que Deus nos chama a aprender e a aceitar a verdade em
nossa mente. Ele nos chama a desejá-lo e a ansiar por ele com nossas afeições.
Ordena que o escolhamos com nossa volição. Pede contas de nós em todos esses
aspectos. Mas temos um problema. Sem a graça de Deus, jamais o
entenderemos, desejaremos ou escolheremos. Essa verdade se reCete na oração
de Agostinho: “Concede-me o que ordenas, e ordena-me o que desejas”.7 Não
somos capazes de realizar esta nem qualquer outra mudança no coração por
nossa própria conta. Precisamos de graça divina para ensinar nosso coração e
incliná-lo e dirigi-lo para Deus. Portanto, sim, quando você, pela fé, apresenta
seu coração a Deus para que ele faça uma cirurgia, Deus, em sua graça, o leva a
amá-lo mais, especialmente quando você dedica tempo a considerar quão
profundamente ele o ama e como sempre o perdoa.
No entanto, sofremos de um problema grave no coração, com o qual teremos
de lutar a vida toda. Jamais chegará o dia em que nosso coração estará
inteiramente amoldado para amar e adorar a Deus, pelo menos não deste lado
do céu. Jeremias falou a respeito dessa doença do coração: “O coração é
enganoso e incurável, mais que todas as coisas; quem pode conhecê-lo?” (Jr
17.9). Nosso coração é falso, ele nos ilude e nos engana, levando-nos a pensar
que nossos desejos são puros, que desejamos algo porque é bom e porque Deus
aprova. Todos os caminhos do homem parecem corretos aos seus próprios
olhos, mesmo quando levam à morte. Essa doença do coração é hereditária:
originou-se na Queda. Desde Adão, todos têm esse problema; como a Bíblia
ensina, todos nós temos uma natureza pecaminosa:
O SR[U\_ viu que a maldade do homem [...] era grande e que toda a
imaginação dos pensamentos de seu coração era continuamente má (Gn 6.5;
veja tb. Gn 8.21).
Eu nasci em iniquidade, e em pecado minha mãe me concebeu
(Sl 51.5).
O coração dos homens está cheio de maldade e de insensatez durante toda a
vida (Ec 9.3).
Vemos, portanto, que o coração ou ser interior é repleto de maldade e engano.

Jesus ensinou que o coração é a fonte da qual )uem nossos pensamentos,
palavras e atos pecaminosos; é a sede de nossa incredulidade. Os crentes
receberam um novo coração, portanto nossos pensamentos e desejos estão
sendo transformados, mas continuamos a lutar com o que resta de nossa velha
natureza. Precisamos travar uma batalha incessante contra os amores
concorrentes em nosso coração. Todos os dias precisamos escolher quem vamos
amar mais: Deus ou nós mesmos (e os deuses que criamos). Essa escolha é
ainda mais difícil porque nosso coração nos engana e nos leva a pensar que agir
de modo pecaminoso é o melhor curso de ação, ou talvez o mais piedoso.
Lembre-se de que o pecado nunca o atrai como tal; ele sempre se apresenta
como retidão.
Deixe-me dar um exemplo. Quando os fariseus lideraram o movimento para
cruci—car Jesus, pensavam que estivessem fazendo um favor a Deus. Embora o
Novo Testamento ensine que os judeus entregaram Jesus a Pilatos por inveja
(Mt 27.18), eles se convenceram de que estavam servindo a Deus.8 Não eram
homens indiferentes ao pecado. Preocupavam-se tanto com ele, que não
quiseram entrar no pretório de Pilatos “para não —carem cerimonialmente
impuros” durante a Páscoa (Jo 18.28). Enquanto isso, cometeram o pecado mais
hediondo de todos os tempos ao providenciarem a morte do Filho de Deus.
Os fariseus não eram idólatras, pelo menos não exteriormente. No entanto,
idolatravam os cargos de poder e in)uência, bem como a justi—cação própria
com base em um sistema de mérito e, por isso, tentaram assassinar Deus. É
evidente que não acreditavam de fato; não criam em Deus nem em seu Cristo e
ainda estavam mortos em seus pecados. No entanto, do lado de fora, eram
rigorosamente religiosos, provando que religião rigorosa e conformidade
exterior com a lei de Deus não são sinônimos de fé salvadora e, na realidade,
podem ser um grave empecilho para a fé verdadeira. Eles teriam declarado que
jamais haviam servido a ídolos e, no entanto, seu coração estava longe de Deus.
Gostavam de ser respeitosamente “cumprimentados em público” e ocupar “os
primeiros lugares” mais do que amavam a Deus (Lc 20.46). Seu coração
perverso era particularmente propenso ao engano,9 pois tinham outro deus: o
respeito dos homens. Amar qualquer coisa, até mesmo a observância de um
código exterior de comportamentos religiosos, mais que a Deus, é idolatria, e a
idolatria sempre produz um coração iludido.10

Paulo, crente autêntico, também tinha problemas do coração. Em Romanos 7,
declarou: “No que diz respeito ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus”
(v. 22), mas percebeu outra força dentro dele. Ela combatia a verdade que ele
havia aceitado com seu coração. O apóstolo se angustiou com seus desejos
errados. Por um lado, buscava a Deus; por outro, corria atrás do pecado. Por um
lado, sabia que Deus, em sua graça, lhe havia concedido tudo de que ele
precisava; por outro, cobiçava coisas que Deus lhe havia negado (Rm 7.7,8).
Paulo lutava porque, como nós, era simultaneamente pecador e justiAcado.
Como acontece conosco, seu coração sussurrava, sem parar, que o pecado é bom
e que a desobediência proporciona alegrias, enquanto sua fé respondia que toda
a felicidade se encontra somente em Cristo. Em grande aCição, ele exclamou:
“Desgraçado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” e sua
resposta foi “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor!” (Rm 7.24,25).
O DEUS QUE NOS CONHECE
DE VERDADE
Talvez você esteja pensando: “Se meu coração é tão enganoso, por que devo me
dar o trabalho de lutar contra a idolatria?”. A resposta pode parecer simplista,
mas devemos lutar contra nosso coração pecaminoso porque é uma ordem de
Deus. Como cresceremos em amor pelo Senhor de todo coração, de toda alma e
de toda mente, se não combatermos as formas pelas quais deixamos de amá-lo?
Como cresceremos em gratidão pela graça divina, se não percebermos as formas
pelas quais deixamos de aceitá-la?
A luta contra o pecado em nosso coração é importante porque, por meio dela,
descobrimos o preço altíssimo que o Senhor Jesus pagou, e aprendemos a ser
gratos por sua obediência perfeita em nosso lugar. É nessa luta que aprendemos
a conAar nele e desconAar de nós mesmos, a odiar o pecado e amar a santidade,
a cultivar humildade e ansiar pelo céu. E, em meio a isso tudo, descobrimos a
alegria da gratidão e felicidade crescentes que só se desenvolvem quando
amamos a Deus.
Descanse no fato de que seu Pai celeste entende plenamente seu coração.
Embora seu coração possa enganar você, ele não engana a Deus.
O SR[U\_ não vê como o homem vê, pois o homem olha para a aparência,
mas o SR[U\_, para o coração (1Sm 16.7).

O SR[U\_ examina todos os corações, e conhece todas as intenções da mente
(1Cr 28.9; veja tb. 2Cr 6.30).
Ele conhece os segredos do coração (Sl 44.21; veja tb. 139.2).
Eu, o SR[U\_, examino a mente e provo o coração (Jr 17.10).
Mas o próprio Jesus [...] sabia o que é o ser humano (Jo 2.24,25).
Tu, Senhor [...] conheces o coração de todos (At 1.24).
Todas as igrejas saberão que sou aquele que sonda as mentes e os corações
(Ap 2.23).
Deus conhece você. Sabe como anseia amá-lo, como deseja viver para ele.
Também sabe em que áreas você está iludido. Sabe quando está tentando
enganá-lo e levá-lo a pensar que tudo está bem. Sabe de todas as vezes que você
realiza boas obras para impressionar outros e buscar justiAcação própria. Sabe
todas as maneiras pelas quais você usa a observância rigorosa da lei para
tranquilizar seu coração, salvar a si mesmo e evitar a humilhação da cruz. Sabe
em que aspectos você conAa em sua própria bondade e despreza outros. Sabe de
sua incredulidade e de como você procura se tranquilizar ao olhar para seu
próprio histórico. Ele o conhece até o âmago. Por isso Jesus disse a seus
discípulos: “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas” (Jo 10.14). Sim,
ele nos conhece inteiramente, mas não é só isso. Ele também nos ama
totalmente. Maravilhosa graça!
A PALAVRA DIAGNOSTICA SEU
PROBLEMA DO CORAÇÃO
Embora não sejamos capazes de conhecer nosso coração sem a ajuda de Deus,
ele nos deu uma ferramenta para desenvolver adoração sincera: a Palavra de
Deus.
Porque a palavra de Deus é viva e eAcaz, mais cortante que qualquer espada
de dois gumes; penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e
medulas, e é capaz de perceber os pensamentos e as intenções do coração (Hb
4.12).
A palavra de Deus discerne até as intenções e os pensamentos mais
recônditos do coração. Somente o Espírito Santo, operando em conjunto com
sua Palavra, é capaz de revelá-los. Ao lermos, meditarmos, estudarmos e
ouvirmos a pregação da Palavra, conseguimos vislumbrar nosso ser interior.

Quando estudo a Palavra, recebo esclarecimento acerca de pensamentos,
desejos e escolhas. Penso: “Puxa vida! Essa sou eu!”. Não há nenhum livro
comum, terapeuta ou amigo chegado capaz de fazer o mesmo por você. Nada
pode lhe dar compreensão de quem você é, exceto a palavra de Deus.11 Deus
lhe concedeu a Palavra para que você se conheça cada vez melhor e aprenda a
adorá-lo verdadeiramente.12
Você e eu sempre teremos diAculdade de conhecer nosso coração. Quanto
mais nos dedicarmos a conhecer a Palavra, crer nela e obedecê-la, mais
entenderemos a nós mesmos; porém, jamais nos veremos ou veremos Deus
perfeitamente. “Porque agora vemos como por um espelho, de modo obscuro,
mas depois veremos face a face. Agora conheço em parte, mas depois
conhecerei plenamente, assim como também sou plenamente conhecido” (1Co
13.12). Não precisamos, contudo, nos preocupar com essa falta de
conhecimento. Não somos salvos nem amados porque adquirimos
autoconhecimento. Somos salvos e amados pela fé no Deus que nos conhece
plenamente. É claro que, algum dia, conheceremos a nós mesmos porque
veremos Deus em toda a sua beleza, mas, até lá, teremos de nos contentar com
imagens nebulosas e obscuras e pedir um coração disposto, embora incapacitado.
Podemos estar certos de que o Senhor mostrará tudo de que precisamos saber a
respeito de nosso coração e, nesse ínterim, podemos orar como Bernardo:
“Atrai-me, por mais indisposto, a Am de tornar-me disposto; atrai-me, com
meus passos lentos, a Am de fazer-me correr”.13
O coração, conforme deAnido nas Escrituras, é admiravelmente complexo. É
muito mais que cartões de Dia dos Namorados, Atas e rendas. Ele é a fonte de
tudo o que você é — suas aspirações, seus desejos, seus amores. E, embora você
mal o conheça (mesmo com a iluminação do Espírito), ele é inteiramente
compreendido por Deus. Pela fé, podemos crer que, embora nosso
conhecimento seja sempre distorcido e Anito, pertencemos a Deus somente pela
graça. Ele nos conhece de modo pleno e, ainda assim, nos ama de modo pleno.
Maravilhosa graça!
O CORDÃO VERMELHO
Não sabemos exatamente quando ou como o Senhor trabalhou no coração de
Raabe, mas é evidente que o fez, pois quando os espias lhe disseram para

prender o cordão vermelho à janela a Am de garantir sua segurança, ela seguiu a
instrução. Será que os espias se lembraram do sangue salvador aplicado à verga
e às ombreiras das portas das casas de seus pais no Egito? Assim como o sangue
havia protegido os israelitas da destruição, o cordão vermelho preservaria Raabe
do julgamento que estava por vir.
Ao lidar com amores concorrentes, você pode se lembrar do Ao vermelho do
sangue de Cristo aplicado a seu coração. Haverá tempos de guerra, em que você
estará em luta contra sua incredulidade e idolatria, mas não será preciso se
preocupar com sua segurança Anal. Deus prometeu completar a obra em seu
coração e conduzi-lo em segurança para o reino eterno dele.
Que seja um cordão vermelho amarrado em vossa janela [...] a saber, uma
conAssão de fé verdadeira em seu sangue precioso [...]. É grande privilégio
permanecer em paz e tranquilidade na obra consumada de Cristo, e na
promessa garantida e imutável de Deus, aquele que não mente. Por que vos
inquietardes [...] e andardes com mil ansiedades, quando a obra da salvação
foi consumada no madeiro maldito, e Cristo foi para a glória, e deu
continuidade a sua obra perfeita diante da face de seu Pai?
14
Da mesma forma que Deus instruiu, iluminou e cativou o coração de Raabe,
ele pode instruir, iluminar e cativar seu coração. Pode lhe dar a paz e a alegria
imensuráveis que Cuem para o mundo do sangue sagrado que ele derramou
naquele madeiro aterrador e glorioso.
PARA REFLETIR
1. De que maneira a história de Raabe lhe dá ânimo?
2. O que a história de Moisés prova a respeito da capacidade de Deus de operar
em nosso coração?
3. Com base em seus estudos, como você deAniria o coração? Em que aspectos
sua percepção mudou?
4. De acordo com Jeremias, o coração é “enganoso” e “incurável”. O que isso
signiAca?
5. Você consegue se recordar de uma ocasião especíAca em que teve certeza de
que determinado curso de ação era correto, mas descobriu mais tarde que
estava enganado? O que provoca esse tipo de situação?
6. O que signiAca para você o fato de que Deus conhece seu coração? Como lhe

dá consolo?
1Se você não conhece a história de Raabe, veja Josué 2.
2Deus tinha predito a Abraão a destruição futura dos amorreus: “Na quarta geração, tua descendência
voltará para cá; porque a medida da maldade dos amorreus ainda não está completa” (Gn 15.16).
3Este versículo combina duas áreas do coração: a mente (considerar) e as afeições (desanimar ou ?car
triste).
4Esse versículo mostra como a mente instrui a volição: ele soube escolher o bem.
5Esse versículo descreve a in?uência de Deus sobre a mente, mostrando à volição qual é a escolha correta.
6Deus ajudou Moisés nessa decisão: gerou fé em seu coração; abriu seus olhos para a situação de seus
compatriotas; permitiu, providencialmente, que Moisés matasse um egípcio. Moisés deixou o Egito porque
precisou; sua escolha foi forçada, mas conforme o plano soberano de Deus.
7Augustine Bishop of Hippo, e confessions of St. Augustine, tradução para o inglês de E. B. Pusey (Oak
Harbor: Logos Research Systems, 1996), livro 10, cap. 29 [edição em português: Agostinho, ConMssões,
tradução de J. Oliveira Santos; A. Ambrósio de Pina (Petrópolis/Bragança Paulista: Vozes/Universidade
São Francisco, 2015)].
8Jesus falou a esse respeito em João 16.2.
9A descrição mordaz que Isaías apresenta do idólatra inclui a seguinte imagem: “Ele se alimenta de cinzas.
O seu coração enganado o desviou, de maneira que não pode livrar a sua alma, nem dizer: Não é mentira
isto que está na minha mão direita?” (Is 44.20).
10Como crentes, devemos depositar nossa con?ança inteiramente no amor de Deus e em sua capacidade de
guiar e dirigir nosso coração para longe da idolatria e do engano. Podemos sempre con?ar que Deus
guiará nosso coração para que realizemos a vontade divina, pois, embora os fariseus imaginassem que
haviam planejado a cruci?cação, ela era o plano de Deus: “Pois, nesta cidade, eles de fato se aliaram contra
o teu santo Servo Jesus, a quem ungiste; não só Herodes, mas também Pôncio Pilatos com os gentios e o
povo de Israel; para fazer tudo o que a tua mão e a tua vontade predeterminaram” (At 4.27,28). Os fariseus
foram inteiramente responsáveis por seguirem, de espontânea vontade, os pensamentos e desejos
perversos de seu coração, mas, mesmo nisso, Deus exerceu governo soberano. É nessa soberania que
podemos encontrar paz quando nos sujeitamos a ele.
11Por isso me dou o trabalho de incluir aqui versículos para você.
12O autoconhecimento é o primeiro passo para o conhecimento de Deus. Precisamos enxergar nossa
própria “ignorância, fatuidade, penúria, fraqueza, e também nossa depravação e corrupção” antes de
reconhecermos que “a verdadeira luz da sabedoria, a sólida virtude, a plena copiosidade de tudo o que é
bom, a pureza da justiça se encontram somente no Senhor. Daí, somos por nossos próprios males
instigados à consideração das excelências de Deus, e não podemos aspirar seriamente a ele antes que
tenhamos começado a nos tornar descontentes com nós mesmos”. John Calvin, Institutes of the Christian
religion, edição de John T. McNeill, 2 vols., Library of Christian Classics (Philadelphia: Westminster,
1960), 1:36-37 [edições em português: João Calvino, As institutas, tradução de Waldyr Carvalho Luz (São
Paulo: Cultura Cristã, 2006), 4 vols. e A instituição da religião cristã, tradução de Carlos Eduardo Oliveira;
José Carlos Estêvão (São Paulo: Unesp, 2008)].
13Bernard, Sermons on the Song of Songs, citado em Calvin, Institutes, 1:307.
14“A scarlet line in the window, Joshua 2:21”, sermão de C. H. Spurgeon na igreja Metropolitan Tabernacle,
in: Spurgeon’s sermons (banco de dados eletrônico; Seattle: Bibleso, 1997).

7
PENSANDO SOBRE
SEU DEUS
... serve-o de coração íntegro e espírito voluntário, porque
o SR[U\_ examina todos os corações, e conhece
todas as intenções da mente (1Cr 28.9).
O reinado justo do jovem rei Josias havia sido profetizado séculos antes de
seu nascimento.1 Embora tivesse apenas 8 anos quando começou a
governar Judá, ele foi um dos grandes reformadores de sua nação. Apesar
de Josias ter crescido em um reino idólatra, em que se chegava a sacriAcar
crianças, o Senhor deu a Josias um amor por ele e desejo de adorá-lo. No
entanto, Josias não tinha conhecimento da lei de Deus e da imensidão do
pecado que seu povo estava cometendo. Durante a limpeza no templo, o
livro da lei foi encontrado, e o rei Josias Acou profundamente abalado
quando o leram para ele: “Quando ouviu a leitura do livro da lei, o rei
rasgou as suas vestes” (2Rs 22.11).
Imagine o temor que tomou conta do coração do jovem rei ao ouvir,
provavelmente pela primeira vez, a Palavra de Deus. No dia em que
deparou com a lei santa de Deus, sentiu aversão a si mesmo e ao pecado de
seu povo. Ordenou: “Ide, consultai o SR[U\_ por mim, pelo povo e por
todo o Judá, acerca das palavras deste livro que foi achado; porque grande é
o furor do SR[U\_, que se acendeu contra nós, pois nossos pais não
obedeceram às palavras deste livro, para cumprirem tudo quanto está escrito
a nosso respeito” (2Rs 22.13).
O coração de Josias foi profundamente tocado. A lei havia realizado sua
obra de aniquilar a autoconAança do rei. Ele entendeu que a ira justa de

Deus ardia contra ele e seu povo e, com razão, Acou aterrorizado. Naquele
dia, Josias teve um encontro com o Deus da Bíblia, um encontro que
transformou sua vida e sua nação. O Espírito Santo o levou a entender as
palavras da lei, suas afeições foram despertadas e alertadas, e sua volição foi
levada a agir. Ele entendeu, como nunca antes, que precisava da
misericórdia de Deus.
O Espírito Santo atuou com poder sobre a mente de Josias, iluminando-a
para perceber o gravíssimo pecado da idolatria e enxergar o extremo perigo
em que sua nação se encontrava. Concedeu-lhe também arrependimento,
fé para crer que Deus o ajudaria e desejo de reformar sua nação. A obra de
Deus em Josias foi eAcaz. Deus iluminou sua mente para que ele se tornasse
o homem que Deus havia predito que ele seria. Ao prosseguirmos com
nosso estudo sobre a idolatria, lembre-se de que Deus pode fazer o mesmo
por você: pode ajudá-lo a identiAcar e aniquilar os ídolos em seu coração,
conceder-lhe fé para crer que ele continuará a tratá-lo com bondade e
capacitá-lo para que encontre nele sua felicidade.
A GRAÇA DE DEUS EM NOSSA MENTE
Visto que cabe à mente instruir as afeições acerca do amor de Deus e
treinar a volição para escolher o que é correto, ela é a parte mais importante
de nosso coração. Lembre-se de que sua mente inclui pensamentos, crenças,
entendimento, memórias, julgamentos, discernimento e consciência. Ela
age como um guarda que o protege da ignorância, do engano e da
incredulidade. Ignorância da vontade de Deus e engano a respeito da
natureza de Deus são duas importantes causas de idolatria. Josias descobriu
essa verdade por experiência própria.
Se não tivermos consciência de que Deus tem um desejo ardente de ser o
foco exclusivo de nossa adoração, ou se tivermos um conceito errado a esse
respeito, estaremos mais propensos a crer em ídolos fabricados por nós
mesmos. Se, equivocadamente, crermos que Deus não se importa com o
objeto ou com a forma de nossa adoração, criaremos nossos próprios deuses
e pecaremos contra Deus.
Antes de render-se ao medo ou ao desespero, lembre-se de que Deus

deseja nos instruir acerca da verdade. Assim como Deus instruiu Josias, ele
também lhe dará clareza. Lembre-se de que “não há nada que precisemos
saber que ele não seja capaz de nos ensinar e não esteja disposto a fazê-lo”.2
Sem a graça divina, jamais entenderemos o signiAcado ou a importância da
Palavra. No entanto, Deus não nos abandonou, nem espera que
obtenhamos entendimento por nossa própria conta; como diz João 16.13:
“O Espírito da verdade [...] vos conduzirá a toda a verdade” (veja tb. Dt
4.10; Sl 119.73; 143.10; Mt 11.29).
O Pai tem prazer em nos ensinar acerca de si mesmo, de sua lei e até
mesmo de seu amor benevolente pelos transgressores. Ele o faz
principalmente ao abrir nosso entendimento para as Escrituras. Pense na
última vez em que você descobriu uma verdade da Bíblia. Não é
impressionante como, de repente, do nada, uma verdade salta das páginas
das Escrituras? Às vezes, tenho a impressão de que é a primeira vez que leio
a Bíblia, embora não seja. Isso é obra do Senhor, que abre nossos olhos e
nos concede revelação especial de sua verdade.
Em conjunto com o Espírito, a Bíblia ensina tudo o que é necessário a
respeito de Deus — quem ele é e como se deve adorá-lo.3 Ela ensina que
Deus é Ael em seu amor por nós e nos apresenta seu plano de nos tornar
parte de sua família, como Alha ou Alho amado. Somente quando
começamos a ver Deus como ele é, por meio das Escrituras, como
aconteceu com Josias, é que conseguimos crer na possibilidade de
abandonar os falsos deuses, começamos a amar o Deus verdadeiro, a conAar
em sua misericórdia e a adorá-lo em verdade.
Embora a Palavra seja completa e nos diga tudo o que precisamos saber a
respeito de Deus, também precisamos de “iluminação espiritual pessoal,
pelo poder do Espírito Santo”.4 É necessário que o Espírito tome as
Escrituras que ele escreveu e as aplique a nosso coração, iluminando nossa
mente, expandindo nosso coração para crer e nos libertando do erro. Desse
modo, ele nos capacita a lutar contra as ilusões da adoração falsa, pois
vemos Deus como ele é.
CRIANDO DEUS À NOSSA IMAGEM

Vejamos em mais detalhes de que maneira nosso conhecimento da verdade,
possibilitado pelo Espírito, é capaz de nos manter afastados da idolatria.
A idolatria é um pecado que começa na mente, em nossos pensamentos,
crenças, opiniões e fantasias. Deus repreendeu os israelitas porque haviam
criado em um deus à sua própria imagem: “Pensavas que eu era como tu”
(Sl 50.21). Ideias erradas a respeito do caráter de Deus geram idolatria. Se,
por exemplo, imaginamos um deus mais dócil ou um deus que pode ser
manipulado conforme nossos caprichos, criamos um ídolo. Se imaginamos
um deus que funciona como uma máquina de vender refrigerante, sob o
princípio de “karma cristão”, adoramos um deus falso. Deus não é um
vovozinho idoso e senil, nem o equivalente a um Papai Noel celeste que
recompensa crianças boas com guloseimas e dá pedaços de carvão para as
malcriadas. Se imaginamos Deus como um capataz exigente, a cujas ordens
não conseguimos obedecer e que tem prazer em nos castigar, criamos um
deus falso. Precisamos aprender que Deus é, ao mesmo tempo,
intransigentemente santo e surpreendente-
mente misericordioso.
Precisamos ter o cuidado de adorar Deus da forma como ele se apresenta
nas Escrituras. Ele se revelou claramente como o único Deus (Dt 6.4),
inAnitamente perfeito e puro (Mt 5.48), invisível (1Tm 1.17), incorpóreo
(Jo 4.24), imutável (Tg 1.17), imenso
(1Rs 8.27), eterno (Sl 90.2), incompreensível (Sl 145.3), onipotente (Ap
4.8), sábio (Rm 16.27), santo (Is 6.3), livre (Sl 115.3), que faz tudo segundo
sua vontade e para sua glória (Ef 1.11; Rm 11.36). Ele é amoroso (1Jo 4.8),
gracioso, misericordioso, longânime, cheio de bondade e verdade. Ele
perdoa a iniquidade (Êx 34.6,7) e recompensa quem o busca diligentemente
(Hb 11.6). Ele é justo em todos os seus juízos (Sl 37.28), odeia todo o
pecado (Sl 5.5,6) e de modo algum inocenta o culpado (Na 1.2,3).5 Embora
essa lista não seja completa, ela nos ajuda a ter uma ideia de quem Deus é.
Bem diferente de nós, não é mesmo? Se adoramos um deus aquém desse ou
diferente dele, não estamos adorando o Deus da Bíblia. Estamos adorando
um deus que nós mesmos criamos.

A INSENSATEZ DA IDOLATRIA
A idolatria é não apenas pecaminosa, mas também absurda. O Antigo
Testamento descreve com mordacidade a estupidez e a irracionalidade da
idolatria.6 ReCita novamente sobre a insensatez de Raquel; ela adorava um
deus que podia ser furtado. Por que conAar em algo tão fraco que podia ser
levado embora? Não é uma insensatez e tanto? Sua mente deve guardá-lo
dessa tolice, como diz Isaías:
Todos os que fazem imagens esculpidas não são nada [...]
O carpinteiro estende a régua sobre um pedaço de madeira e esboça um
deus com o lápis; dá-lhe forma com formões e o marca com o compasso.
Finalmente, dá-lhe a forma de um homem, conforme a sua beleza, para
colocá-lo num santuário.
Um homem corta cedros [...] planta um pinheiro, e a chuva o faz
crescer.
Isso serve para o homem queimar; toma uma parte da madeira e com
ela se aquece; acende um fogo e assa o pão; também faz um deus e se
prostra diante dele; fabrica uma imagem de escultura e se ajoelha diante
dela.
Ele queima metade no fogo, e com isso prepara a carne para comer; faz
um assado e dele se farta; depois se aquece e diz: Ah! Já me aqueci, já
experimentei o fogo.
Então com o resto faz um deus para si, uma imagem de escultura.
Ajoelha-se diante dela, prostra-se e dirige-lhe sua súplica: Livra-me,
porque tu és o meu deus.
Nada sabem nem entendem, porque seus olhos foram fechados para que
não vejam, e o coração, para que não entendam.
Nenhum deles pensa. Não têm conhecimento nem entendimento para
dizer: Queimei metade no fogo e assei pão sobre as suas brasas; Az um
assado e dele comi; e faria eu do resto uma abominação? Eu me ajoelharei
diante do pedaço de uma árvore?
Ele se alimenta de cinza. O seu coração enganado o desviou, de maneira
que não pode livrar a sua alma, nem dizer: Não é mentira isto que está na
minha mão direita? (Is 44.9,13-20)
Isaías ilustra de modo vívido a loucura de adorar um pedaço de madeira.

Sobre uma parte da lenha, o idólatra cozinha seu jantar; com a outra,
confecciona um deus no qual con—a para ser salvo e abençoado. A mente do
idólatra é iludida. Ele não percebe nem entende como suas ações são
absurdas. O idólatra cria um deus de seu agrado e, de modo irracional, crê
que lhe trará felicidade. Sua mente não está cumprindo o papel de guardá-
lo do erro. Ele anseia criar um deus com sua própria força; procura salvar a
si mesmo sem precisar crer na Palavra do Salvador.
Talvez você esteja pensando: “Mas claro que isso é ridículo! Qualquer um
sabe que adorar uma imagem visível como essa é tolice, mas em que isso se
relaciona comigo? Não me prostro diante de um pedaço de madeira!”. Sim,
felizmente, talvez seja verdade. Pense com calma, porém, e veja se não
deixou passar o sentido das advertências bíblicas acerca da idolatria. Na
realidade, antes de ser transformada em ídolo, a coisa foi fabricada no
entendimento humano, na imaginação do idólatra. “O fato de esses ídolos
receberem forma posteriormente como imagens de madeira ou de pedra é
secundário. O espírito do homem gera a imagem idólatra; suas mãos a
produzem.”7 Portanto, existem ídolos em todas as esquinas, só que não os
vemos tão facilmente como os vi na Ásia. Não são visíveis porque existem
em nossos pensamentos.
Talvez tenhamos nos tornado mais so—sticados em nossa idolatria, mas
ainda somos igualmente iludidos. Jamais pensaríamos em fazer algo tolo
como adorar uma pedra ou uma árvore, mas, com frequência, caímos no
pecado de adorar um deus criado por nossa imaginação, um deus que pensa
exatamente como nós, sujeito a manipulação e controle, para nosso próprio
prazer8 e para atender a nossas ambições.9 Desejamos encontrar uma forma
de nos salvar, de satisfazer nosso coração, de provar nossa retidão para nós
mesmos e para outros. E não queremos ajuda externa para fazê-lo. “Deixe
comigo...” é o mantra do idólatra.
Devido a nossa grande propensão de criar ídolos que nos agradem, nossa
mente precisa ser instruída e corrigida de modo contínuo. Como Josias,
precisamos diariamente de doses concentradas da verdade a respeito de
quem Deus é de fato.
Paulo pregou: “Não devemos pensar que a divindade seja semelhante ao

ouro, à prata, ou à pedra esculpida pela arte e imaginação humana” (At
17.29). Paulo ensina que Deus não é formado por nosso pensamento. Aliás,
é justamente o contrário: nós fomos formados pelo pensamento dele!
Precisamos aprender a deixar de lado os deuses de nossa imaginação, deuses
que prometem felicidade em troca de nossa adoração. Como no caso do rei
Josias, isso só acontece quando o Espírito usa a Palavra para nos conduzir à
luz resplandecente de sua pessoa.
DANDO NOMES AOS NOSSOS DEUSES
Talvez você esteja se perguntando: “Como descobrir se tenho um deus
imaginário? Como identiAcá-lo?”. Neste ponto, nossa discussão sobre
felicidade será útil.
Onde está a sua felicidade?
Para identiAcar seus ídolos, comece a observar pensamentos e fantasias que
lhe prometem felicidade. Culturas antigas tinham deuses para todas as
forças da natureza que elas não compreendiam devidamente, inclusive
deuses da fertilidade e da colheita. Adoravam esses deuses porque Alhos e
boas colheitas eram considerados fontes de felicidade. Estavam dispostos a
sacriAcar parte de sua produção agrícola e até mesmo um Alho caso
pudessem controlar seu ambiente e obter alguma garantia de alegrias
futuras. ConAavam em falsos deuses porque acreditavam que lhes trariam
algum benefício, e nós fazemos o mesmo. Foi à luz dessa realidade que
Jeremias profetizou:
Pois as práticas religiosas dos povos são inutilidade;
corta-se do bosque um pedaço de pau,
que é trabalhado com o machado pelas mãos do artíAce.
Eles o revestem com prata e ouro, Armam-no com pregos e martelos,
para que não caia.
São como um espantalho num pepinal,
não podem falar
e precisam de quem os carregue,

pois não podem andar.
Não tenhais medo deles,
pois não podem fazer nem mal
nem bem (Jr 10.3-5).
Jeremias ilustra a insensatez de conAar em um deus que precisa ser
Armado com pregos para não tombar. Compara-o a um espantalho que
assusta aves irracionais. Pessoas racionais não têm medo de espantalhos,
pois sabem que eles não podem lhes fazer mal. Não os adoram, pois sabem
que não têm poder. No entanto, há quem conAe em ídolos porque crê que
resultará em algum benefício, e teme o que poderá acontecer se não o
Azer.10
Não há benefício algum em adorar falsos deuses, mas as pessoas o fazem
porque estão iludidas. Talvez tenham ideias equivocadas a respeito da bem-
aventurança de adorar o Deus verdadeiro. Talvez tenham medo do que lhes
acontecerá se conAarem somente em Deus. É importante lembrar: sempre
que adoramos ídolos, o fazemos porque estamos convencidos de que isso
nos trará felicidade. Cremos que resultará em algum benefício. Então,
quando as coisas parecem não se encaminhar como gostaríamos, nos
esforçamos mais e mais para encontrar satisfação, mas não conseguimos
nada.
Servir falsos deuses é irracional, pois a mente crê em uma mentira e
conAa nela, e as afeições a seguem. Sabemos que não faz sentido nos
curvarmos diante de nada e de ninguém que não seja o Deus Criador.
Somente ele pode proporcionar felicidade e alegria. Somente ele pode nos
satisfazer, mas não gostamos de abrir mão de nossos pequenos deuses.
Agora, vamos analisar mais a fundo os nossos pensamentos e crenças para
identiAcar se há falsos deuses à espreita no meio deles.
DEUSES FEITOS PELA NOSSA IMAGINAÇÃO
Em vez de confeccionarmos ídolos de madeira ou de pedra, nós os
confeccionamos em nossa imaginação, adorando aquilo que, a nosso ver,
trará felicidade. Não esculpimos um bom cônjuge de um pedaço de pinho,

mas prestamos culto à ideia da alegria que ele nos proporcionaria. Não
entalhamos uma imagem de um homem ou de uma mulher autossu—ciente,
mas cremos que nessa imagem reside nossa alegria. Cremos que a felicidade
depende do preenchimento de nossas expectativas. Essas crenças atuam
como deuses, exatamente como se os tivéssemos esculpido de madeira ou
recoberto de prata. Damos grande valor a nossos conceitos e sonhos de
felicidade imaginária. Não conseguimos pensar na vida sem eles.
Nossas crenças a respeito das fontes de alegria (um cônjuge ou sucesso,
por exemplo) são vivenciadas, com frequência, como lindas fantasias que
conquistam nosso coração. Paulo instruiu os coríntios a “[levarem] cativo
todo pensamento para que obedeça a Cristo” (2Co 10.5). Para seguirmos a
ordem “fugi da idolatria” (1Co 10.14), temos de permanecer vigilantes e
julgar todos os nossos pensamentos e fantasias com base na Palavra. Temos
de analisar se são verdadeiramente bons. Se forem bons, temos de
perguntar se nossa paixão por eles ofuscou nossa paixão por Deus. Quer
sejam pensamentos piedosos que elevamos a um lugar indevido de
proeminência em nosso coração (a convicção de que um cônjuge nos dará
mais alegria que Deus), quer sejam ilusões ímpias (a fantasia de que
seríamos felizes se fôssemos ricos), essas ideias podem desempenhar a
função de deuses. Em resumo, precisamos discernir se estamos crendo na
verdade ou em uma mentira. Como você pode observar, ídolos habitam
nossos pensamentos, nossas crenças e nossa imaginação, e é ali que
precisam ser aniquilados.
As mentiras nas quais costumamos acreditar — mentiras que Satanás e o
mundo vendem — obscurecem nosso pensamento a respeito da verdadeira
natureza de Deus e da fonte da felicidade. A mentira de que é possível
encontrar felicidade em algo ou alguém que não Deus é a ilusão da qual )ui
toda idolatria. Como são algumas dessas mentiras? Permita-me dar
exemplos e veja se você se identi—ca com algum deles.
• Para ser verdadeiramente feliz, preciso de um cônjuge crente,
romântico, responsável e que saiba se comunicar bem.
• Para ser verdadeiramente feliz, preciso de —lhos obedientes, que façam

com que os outros me vejam como bom pai ou boa mãe.
• Para ser verdadeiramente feliz, preciso de um bom emprego, onde me
tratem com respeito e me paguem um bom salário, para que eu não
precise depender de ninguém.
• Para ser verdadeiramente feliz, preciso ser amado e valorizado por
outros.
• Para ser verdadeiramente feliz, preciso da aprovação de outros e/ou de
mim mesmo.
• Para ser verdadeiramente feliz, preciso me sentir protegido de todas as
calamidades.
• Para ser verdadeiramente feliz, preciso ser capaz de olhar para minha
vida e ver que estou crescendo, progredindo, me tornando cada vez
melhor.
Cabe à sua mente, iluminada pelo Espírito e pelas Escrituras, corrigir sua
forma de pensar quando você acredita em mentiras e começa a adorar ideias
de felicidade imaginária. Embora a lista acima não seja completa, mostra
como é fácil nos iludirmos. A menos que a mente aja como vigia, você cairá
em erro. Começará a crer na mentira de que um bom cônjuge, —lho ou
emprego, ou qualquer coisa criada, é a fonte de felicidade. Então, assim que
o —zer, estará adorando um deus falso. Lembre-se: toda vez que sua
adoração se volta para algo ou alguém que não Deus, é idolatria.
Deixe eu dar mais um exemplo. Se você acredita que só será feliz se o
respeitarem em seu emprego, fará todo o possível para obter a aprovação de
seu patrão. Ficará com raiva quando não receber o reconhecimento que
tanto deseja; buscará maneiras de se destacar de seus colegas; viverá em
função da suposta felicidade de ouvir seu patrão dizer: “Você é valioso para
mim”. Não há nada de errado em ser bom funcionário por amor ao Senhor,
como faceta de sua adoração (Cl 3.22-24). Se, contudo, você o faz por amor
à divindade falsa da “aprovação do patrão” ou da “necessidade de sucesso”,
está quebrando o primeiro mandamento — e foi iludido.

FALSOS DEUSES GERAM DESOBEDIÊNCIA
A luta contra a idolatria e o engano começou com Eva e persiste até hoje.
Eva foi enganada e levada a pensar que encontraria felicidade se
desobedecesse a Deus. Toda vez que pecamos, é porque também estamos
enganados. Cometemos a tolice de imaginar que encontraremos a
felicidade se corrermos atrás das mentiras que sussurram sedutoramente
dentro do nosso coração. Pecamos porque acreditamos que, desse modo,
obteremos alguma felicidade. É nesse momento que nossas ideias de
felicidade se tornam nosso deus. Não estou dizendo que, pelo fato de
termos sido enganados, não somos plenamente responsáveis por nosso
pecado. Somos inteiramente culpáveis por nosso pecado, pois não cremos na
Palavra de Deus e conAamos em deuses de nossa imaginação. É idólatra
tornar nossas fantasias mais importantes que a alegre obediência ao Senhor.
Lembre-se de que nossos ídolos sempre se apresentam como algo bom.
Nossas crenças idólatras se tornam evidentes quando pecamos
habitualmente de determinada forma. Se descubro, por exemplo, que
costumo reagir com raiva quando sou criticado, preciso analisar que
pensamento ou fantasia idólatra se encontra na raiz de minha raiva. Para
isso, devo fazer as seguintes perguntas:
• Em que creio a respeito da fonte de verdadeira felicidade nessa
circunstância?
• Em que creio a respeito de Deus nessa circunstância?
• Em que creio a respeito de mim mesmo — meus direitos, meus
objetivos, meus desejos?
• Em que conAo para me fazer feliz?
• Por que a opinião dessa pessoa é tão importante para mim? Creio na
justiAcação com base na aprovação humana?
No caso em questão, por exemplo, eu poderia responder:
• Em que creio a respeito da fonte da verdadeira felicidade nessa circunstância?

Creio que só encontrarei felicidade quando outros me respeitarem.
Minha convicção de que preciso ser respeitado se tornou meu deus e
produz frutos amargos para todos que ousam me questionar.
• Em que creio a respeito de Deus nessa circunstância? Estou duvidando do
caráter dele. Creio que ele não é bom. Creio que, se ele fosse bom, me
protegeria das críticas. Meu desejo (de não ser criticado) inCuencia
minha opinião a respeito dele e me faz tentar transformá-lo à minha
imagem. Penso: Se ele fosse verdadeiramente bom, faria os outros me
tratarem da forma como desejo ter tratado! Talvez o problema, a meu ver,
não seja que Deus não é bom, mas que não é poderoso. Se Deus fosse
poderoso, controlaria o modo como outros me tratam. (Percebe como é
importante ter uma concepção bíblica do caráter de Deus?)
• Em que creio a respeito de mim mesmo — de meus direitos, objetivos e
desejos? Creio que tenho o direito de ser respeitado em meu emprego.
Creio que jamais devo ser criticado. Quando sou criticado, considero-
me vítima da injustiça de outros. Creio que a felicidade continuará a
escapar por entre meus dedos enquanto as pessoas não me aprovarem.
Desconsidero o fato de que não importa se outros me aprovam, ou
mesmo se eu me aprovo (2Co 10.18). Creio que é mais importante
receber aprovação de outros que de Deus. Será que isso se deve ao fato
de os outros serem meu deus?
• Em que conAo? Em vez de conAar em Deus — de crer que ele permitiu
essa diAculdade para meu bem (e para minha felicidade suprema) —
creio que as pessoas têm poder de me fazer feliz. Associei a aprovação
delas a meu valor próprio. Preciso ver minhas circunstâncias como uma
dádiva de Deus a Am de abrir os olhos para minha idolatria e me
libertar dela. Em vez de Acar pecaminosamente irado quando recebo
críticas, preciso me alegrar na disciplina Ael de Deus (Pv 25.12).
• O que me justiAca? Neste caso, penso que a opinião de outros me
justiAca ou me torna aceitável; creio que preciso da aceitação e da
aprovação de outros, e esqueço que já sou plenamente aceito e
aprovado por meu Pai celeste por causa de minha fé na obediência

perfeita de Cristo e em sua morte substitutiva.
• Quem me salva? Neste caso, imagino que preciso salvar a mim mesmo.
Pressuponho que a aprovação de outros diz algo de suma importância a
respeito de meu valor, de minha possibilidade de ser salvo e amado. A
verdade, evidentemente, é que não mereço a salvação de Deus nem
posso fazer coisa alguma para alcançá-la. Ela me é concedida pela
graça, por meio da fé em Jesus somente. Não a mereço. Sou incapaz de
obtê-la. Minha folha corrida não tem nenhuma relação com ela.
Há circunstâncias em que você se vê pecando de forma habitual? Em caso
aArmativo, faça essas perguntas e provavelmente encontrará pensamentos e
fantasias pecaminosos no cerne do problema. Esse questionário o ajudará a
ver os motivos subjacentes, para que possa começar a tratar de suas raízes.
Em vez de apenas tentar me controlar quando sou criticada, por exemplo,
preciso entender que Aco com raiva porque almejo e venero as opiniões de
outros a meu respeito e busco a justiAcação própria. Preciso me arrepender
de meus pensamentos a respeito de mim mesma e concordar com Deus que
somente ele é digno de louvor (ao mesmo tempo em que me arrependo de
minha raiva pecaminosa).
Se creio nas mentiras do mundo, da carne e do Diabo, elas se tornam
prioridades em minha vida. Minha mente imagina como eu seria feliz se
todos me aprovassem, se eu tivesse certeza de que sou digna de amor.
Quando esses pensamentos me cativam, a adoração a Deus é relegada a
uma posição secundária. Minhas fantasias passam a ocupar o centro do
palco, e Deus se torna um simples contrarregra cujo propósito é garantir
que eu me saia bem na apresentação. Meus pensamentos se tornaram meu
deus, e estou disposta a fazer qualquer coisa, até mesmo pecar, para
conseguir aquilo que, a meu ver, me trará felicidade.
O PAPEL DE SUA MENTE
Sua mente deve guardá-lo da idolatria. Deve Altrar e julgar cada
pensamento, especialmente aqueles que são inCuenciados pela imaginação.
Lembre-se das palavras de Paulo aos coríntios: “Destruímos raciocínios e

toda arrogância que se ergue contra o conhecimento de Deus, levando
cativo todo pensamento para que obedeça a Cristo” (2Co 10.5). Sua mente,
em especial sua consciência, deve examinar cada pensamento e subjugar
aqueles que se erguem contra o verdadeiro conhecimento de Deus e de seu
amor salvador. Visto que ele o amou e o aceitou, não há mais necessidade
de buscar amor e aceitação de outros. Todo pensamento deve ser levado à
obediência ao evangelho. Assim como Josias destruiu os ídolos de sua época,
pela fé você pode começar a arrancar e destruir as fantasias idólatras e tudo
o que lhe diz que você precisa de algo além daquilo que Deus lhe deu em
Cristo. Não há como fazê-lo com suas próprias forças; somente com o
poder do Espírito você poderá se aperfeiçoar na adoração inteiramente
dedicada ao Deus vivo e destruir seus falsos deuses.
PARA REFLETIR
1. Por que é importante ter uma concepção correta de Deus?
2. De que maneira Deus o instrui acerca da natureza dele? Em que
característica especíAca de Deus você se alegra de modo especial?
Encontre versículos que ilustrem essa verdade.
3. Como você explicaria para um aluno do sexto ano do ensino fundamental
o papel da idolatria na vida do homem moderno?
4. IdentiAque áreas de sua vida em que há expectativas que funcionam
como deuses. ReCita sobre suas fantasias ao longo do dia. Como você se
vê?
5. Use as perguntas da p. 134 para identiAcar seu pecado habitual e
descobrir áreas de idolatria.
6. Você tem procurado se autojustiAcar? De que maneiras? Qual é a solução
para a luta contra a autojustiAcação?
7. Escreva uma oração pedindo que Deus, por meio do Espírito Santo,
ilumine seu coração e o conscientize de seus ídolos. Quando ele o Azer,
não se entregue ao ódio de si mesmo nem ao desespero; arrependa-se e
peça para que Deus lhe ensine a verdade a respeito da natureza dele.
Rogue que ele lhe dê um coração disposto a amá-lo e adorá-lo.

1“O homem clamou contra o altar, por ordem do S: Altar, altar! Assim diz o S: Um ?lho
nascerá à dinastia de Davi, cujo nome será Josias; ele sacri?cará sobre ti os sacerdotes dos altos que
sobre ti queimam incenso, e ossos de homens se queimarão sobre ti” (1Rs 13.2).
2Richard Baxter, A Christian directory (Morgan: Soli Deo Gloria, 1996), p. 80.
3João Calvino escreveu: “Exatamente como se dá com pessoas idosas, de vista turva, e com quem
sofre de visão embaçada, se puseres diante deles um belíssimo livro, ainda que reconheçam ser algo
escrito, mal poderão entender duas palavras; porém, com a ajuda de lentes, começarão a ler
perfeitamente. Do mesmo modo, as Escrituras, reunindo o conhecimento de Deus que temos na
mente e que de outro modo seria confuso, tendo dissipado nossa ignorância, nos mostram
claramente o Deus verdadeiro”. John Calvin, Institutes of the Christian religion, edição de John T.
McNeill, Library of Christian Classics (Philadelphia: Westminster,1960), 2 vols., 1:70 [edições em
português: As institutas, tradução de Waldyr Carvalho Luz (São Paulo: Cultura Cristã, 2006), 4 vols.
e A instituição da religião cristã, tradução de Carlos Eduardo Oliveira; José Carlos Estêvão (São
Paulo: Unesp, 2008)].
4Ibidem, 1:39.
5Veja “De Deus e da santa Trindade”, in: A conMssão de fé de Westminster (São Paulo: Cultura Cristã,
2017), cap. 2.
6“Todo homem tornou-se embrutecido e ignorante; todo ourives é envergonhado por suas imagens
esculpidas, pois as suas imagens de fundição são ilusão e não têm vida” (Jr 51.17).
7J. Douma, e Ten Commandments: manual for the Christian life (Phillipsburg: P&R, 1996), p. 69.
8Calvino escreve: “A mente do homem, cheia de orgulho e temeridade, ousa imaginar um deus
conforme sua capacidade; visto que sofre de embotamento, é tomada da mais crassa ignorância, em
lugar de Deus concebe uma irrealidade e uma vã aparência” (Calvin, Institutes, 1:108).
9Ibidem, 1:70.
10Pode-se observar essa atitude nos habitantes de Judá depois que fugiram para o Egito.
Acreditavam que seus ídolos lhes concederiam bênçãos e que abandoná-los resultaria em maldição:
“Então todos os homens que sabiam que suas mulheres queimavam incenso a outros deuses, e todas
as mulheres que estavam presentes, uma grande multidão, isto é, todo o povo que habitava na terra
do Egito, em Patros, responderam a Jeremias: Não obedeceremos à palavra que nos anunciaste em
nome do S. Pelo contrário, certamente faremos tudo o que prometemos: queimaremos incenso
à rainha do céu e lhe apresentaremos ofertas derramadas. É isso que nós e nossos pais, e nossos reis e
nossos chefes fazíamos nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém. Naquele tempo, tínhamos fartura
de pão, prosperávamos e não vimos catástrofe alguma. Mas desde que cessamos de queimar incenso
à rainha do céu e de lhe apresentar ofertas derramadas, temos tido falta de tudo e temos sido
consumidos pela espada e pela fome” (Jr 44.15-18). Habacuque 2.18 reitera o mesmo pensamento:
“Para que serve a imagem esculpida por um artí?ce? E a imagem de fundição, que ensina a mentira?”.

8
ANSIANDO POR DEUS
Não desejo outra coisa além de ti (Sl 73.25).
Assim como acontecera com Raquel, Ana desejava ter um Alho. Embora
seu marido, Elcana, a amasse, Penina, a outra esposa,
“a provocava muito, a Am de aborrecê-la, porque o Soxr\_ a havia deixado
estéril” (1Sm 1.6). Podemos imaginar os comentários cruéis e os olhares de
desprezo dirigidos a Ana enquanto Elcana brincava com os Alhos de
Penina. Que tormento Ana deve ter sofrido!
Quando a família fez a viagem anual a Siló para adorar a Deus, Ana
estava tão entristecida com sua esterilidade que não quis comer. Mas, pela
graça de Deus, foi ao templo e “com a alma amargurada [...] orou ao
Soxr\_, chorou muito” (1Sm 1.10). Ao contrário de Raquel, não há
registro algum de que Ana tenha expressado indignação e exigido um Alho.
Seus desejos estavam centrados no Senhor e, por isso, ela derramou o
coração diante dele.
Enquanto Ana orava fervorosamente em silêncio, a graça de Deus
reorganizou seus desejos. Ela recebeu a garantia de que Deus se lembrava
dela. De bom grado, fez um voto de entregar-lhe o anseio de seu coração.
Orou: “Ó Soxr\_ dos Exércitos! Se deres atenção à aCição de tua serva [...]
e não te esqueceres de tua serva, mas lhe deres um menino, eu o dedicarei
ao Soxr\_ por todos os dias da sua vida” (1Sm 1.11). Terminada essa
oração, ela era uma mulher transformada. Encontrou a verdadeira fonte de
alegria, a verdadeira fonte de justiAcação, e seu rosto reCetiu essa descoberta
(1Sm 1.18).
Ana tinha um desejo ardente. Ansiava por um Alho para amar e cuidar

para o Senhor. Contudo, o desejo de Ana não era seu deus. Não queria um
Alho apenas para acabar com a crueldade de Penina. Queria um Alho que
ela pudesse educar para gloriAcar e servir a Deus.
Vemos a adoração de Ana a Deus no nome que ela deu a seu Alho. Você
se lembra de que Raquel deu ao Alho o nome de José, revelando que ainda
não estava satisfeita e queria receber mais? Ana chamou seu Alho de
Samuel, que signiAca “Eu o pedi do SR[U\_” (1Sm 1.20). Ela sabia que seu
Alho era uma dádiva de Deus. Toda vez que pronunciava o nome dele,
recordava-se de que ele era resposta de oração. Pertencia a Deus. Em sua
bondade, Deus atendeu ao pedido de Ana, pois ela o fez pela fé.1
A DÁDIVA DE NOSSAS AFEIÇÕES
Neste capítulo, vamos tratar de nossas afeições. Lembre-se de que as
afeições são nossos anseios, desejos e sentimentos.2 Nossos anseios e
desejos são cruciais para o estudo da idolatria, pois estimulam e canalizam a
adoração. Eles são a força motriz por trás de tudo o que fazemos.
Pense novamente no quanto Ana desejava ter um Alho para o Senhor. O
que esse desejo a levou a fazer? Ela orou e derramou seu coração diante do
Senhor. O desejo a levou à adoração profunda e sincera. Assim como Ana,
você e eu temos desejos e anseios profundos. Acalentamos tesouros em
nosso coração. Ansiamos por aquilo que nos dará a maior felicidade
possível.
A NATUREZA DO DESEJO
É fato conhecido que todos nós temos desejos. Precisamos, contudo,
responder a duas perguntas: (1) Qual é a fonte de nosso desejo? (2) Como
podemos avaliar se nossos desejos são idólatras ou se têm Deus como
centro?
Os desejos do nosso coração
A Bíblia fala bastante sobre desejos e, ao fazê-lo, muitas vezes usa um
termo que pode ser traduzido por concupiscência ou cobiça. Geralmente,

empregamos o primeiro termo para falar do desejo sexual extremo, mas a
Bíblia o emprega de modo mais amplo. Veja as seguintes passagens:
Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria
concupiscência (Tg 1.14, ARC).
Cobiçais e nada conseguis [...] invejais, e não podeis obter [...]. Pedis e
não recebeis, porque pedis de modo errado, só para gastardes em vossos
prazeres (Tg 4.2,3).
3
Porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a
concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai [...].
Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência (1Jo 2.16,17,
ARC).
Nesses versículos (e em muitos outros),4 o termo traduzido por “desejo”,
“cobiça”, “concupiscência” ou “paixão” é epithumia, que signiAca anseio,
almejo, desejo intenso. Tem formas positivas de uso, como na declaração de
nosso Senhor: “Tenho desejado muito comer esta Páscoa convosco” (Lv
22.15).5 Em geral, porém, tem conotação negativa. Para os escritores do
Novo Testamento, desejos, cobiças e anseios eram fatores que motivavam
comportamento pecaminoso.6 Embora o desejo em si nem sempre seja
pecaminoso, pode dar origem ao pecado se for excessivamente valorizado.
Por exemplo, desejar um cônjuge não é pecado.7 Contudo, se uma mulher
cai em pecado na tentativa de obter um cônjuge ou se ressente de não tê-lo,
o que poderia ser um desejo santo se torna um desejo perverso. Isso porque,
em vez desejar Deus e amá-lo acima de todas as coisas, ela transferiu sua
lealdade para o amor e desejo de ter um marido. Transformou em deus o
que deveria ser um desejo bom ao amá-lo e servi-lo acima de Deus.
Tornou-o um mal, um ídolo.
Vemos esse princípio na vida de Raquel e de Ana. O desejo de Raquel de
ter Alhos era pecaminoso porque havia tomado o lugar de Deus em seu
coração. O desejo de Ana não era pecaminoso, pois não era seu deus.
Embora ela sofresse terrivelmente com sua esterilidade, desejava um Alho
para intensiAcar sua adoração e seu prazer em Deus, e sujeitou-se
humildemente à vontade dele. Seus desejos podem não ser moralmente

errados em si, mas o lugar de proeminência que ocupam em seu coração
pode torná-los errados.
Evidentemente, alguns desejos são sempre pecaminosos. Desejar a esposa
de outro homem, por exemplo, é sempre pecado. Ao contrário dos desejos
piedosos, o que torna esse desejo mau não é sua proeminência. Ele é mau
em si mesmo. É pecaminoso mesmo que não gere ação alguma. Quem tem
esse desejo, pecou contra Deus, pois quer algo que Deus proibiu.8
Todos têm desejos, anseios e cobiças. Somente os cristãos, porém, são
capazes de ter desejos santos.9 Crentes e incrédulos têm cobiças e desejos
que os levam a agir de determinadas maneiras. Por quê? Será que isso faz
parte da forma como fomos criados?
CRIADOS PARA DESEJAR DEUS
Se a verdadeira natureza de seus desejos lhe causa perplexidade, você não
está sozinho. Parece haver um bocado de confusão a respeito da fonte e da
natureza de desejos, anseios e “necessidades”. Precisamos ter o cuidado de
deAnir a origem e a qualidade de nossos desejos como a Bíblia o faz. Para
isso, consideremos primeiramente como Adão foi projetado por Deus.
Com grande amor, Deus criou Adão e Eva para funcionarem de
maneiras especíAcas. O corpo de Adão (seu ser exterior) foi projetado de
modo a reCetir o lugar escolhido por Deus para a humanidade no mundo.
Por exemplo, Adão não tinha guelras, pois foi criado para viver em terra
Arme, num jardim, e não num lago. O corpo de Adão lhe permitia
encaixar-se perfeitamente em seu nicho na criação. Deus concedeu a nossos
pais tudo de que precisavam para viver em seu ambiente.
Além de criar o corpo de Adão e Eva para desempenhar um papel
especíAco, Deus também criou o homem e a mulher com determinadas
aptidões mentais e espirituais que deAniam seu papel na criação. Deu-lhes
um coração, um ser interior com mente, afeições e volição. Criou-os como
seres que pensavam, desejavam, sentiam e escolhiam. Eles foram separados
do restante da criação, pois Deus “soprou-lhes nas narinas o fôlego da vida”
(Gn 2.7).
Deus criou Adão e Eva com a capacidade de experimentar grande alegria

num relacionamento prazeroso com ele e um com o outro. Também
colocou dentro deles o desejo de realizar tarefas especíAcas na ordem criada
por ele e de terem prazer de fazê-lo. Eles encontraram felicidade ao ocupar
seu lugar na criação divina, pois foram projetados para servir seu Criador e
um ao outro, e para ter comunhão com ele e um com o outro. Eles eram
perfeitamente adequados para essa tarefa.
Observemos em mais detalhes de que maneira Deus projetou os seres
humanos, especialmente as aptidões que lhes concedeu para cumprirem seu
papel. Veremos que os desejos da humanidade nasceram da ordem criada
por Deus.
CRIADOS À IMAGEM E
SEMELHANÇA DE DEUS
Ao contrário do restante da criação divina, Adão foi criado à imagem e
semelhança de Deus. “Façamos o homem à nossa imagem, conforme nossa
semelhança; domine ele [...]. E Deus criou o homem à sua imagem; à
imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1.26,27).10
Adão e Eva foram criados como reCexo de Deus.11 Eram semelhantes a
Deus em alguns aspectos e diferentes dele em outros.12 Eram diferentes de
Deus porque, embora tivessem sido criados à sua imagem, não eram Deus.
Faziam parte da criação; Deus era o Criador. Não obstante, nossos
primeiros antepassados reCetiam Deus. Eram capazes de pensar e
raciocinar. Tinham anseios e desejos; tinham emoções. Eram capazes de
trabalhar e fazer escolhas conforme suas preferências mais fortes. Deus lhes
deu o desejo de exercer domínio sobre a criação e de sentir alegria ao
obedecer a Deus e cumprir seu propósito. Eles tinham a capacidade de
relacionar-se com Deus e com outros. Deus projetou a humanidade para
encaixar-se de modo perfeito em sua criação e para ser inteiramente santa,
justa e dependente dele.
O propósito com o qual Adão e Eva foram criados
Como ápice de toda a criação, a humanidade devia reCetir Deus. Eis um

resumo de como Adão e Eva espelhavam a natureza de Deus por meio de
seu papéis e desejos.
• Assim como Deus, Adão e Eva tinham capacidade e desejo de governar
a criação (Gn 1.26).
• Assim como Deus, tinham capacidade e desejo de serem férteis ao se
reproduzirem, gerando outros à sua imagem (Gn 1.28).
• Assim como Deus, amavam o trabalho. Tinham a capacidade e o desejo
de subjugar a natureza, cultivavam o jardim, observavam os dias e as
estações, deleitavam-se neles e ad-
quiriram cada vez mais conhecimento acerca do mundo (Gn 1.14,28;
2.5,15,19).
• Assim como seu Criador, buscavam sustentar a vida. Usavam os
recursos da criação (Gn 1.29), comiam das plantas e das árvores e
bebiam do rio que havia no jardim.
• Assim como Deus, apreciavam e criavam beleza e ordem (Gn
2.9,15,19); Adão deu nome aos animais e os classi—cou; ele e Eva
observavam a beleza das árvores.
• Assim como Deus, descansavam do trabalho para ter um tempo de
comunhão. Caminhavam com o Senhor “no —nal da tarde” (Gn 2.3;
3.8).
• Assim como a Trindade, tinham a capacidade e o desejo de alcançar
união, de ser um só (Gn 2.18,20,21,23) e, ao mesmo tempo, de manter
sua singularidade (Gn 2.20-25). Desfrutavam comunicação e
relacionamento irrestritos, pois eram semelhantes entre si de uma
forma diferente do restante da criação. Adão e Eva conheciam um ao
outro, mas não tinham uma consciência pecaminosa de si mesmos.
Estavam nus e não se envergonhavam (2.25).
• Assim como a Trindade, desfrutavam relacionamento e união com
outros, tornando-se um com eles de maneira semelhante, porém menos
próxima (Gn 1.27).

• Eles tinham a capacidade e o desejo de ser um com seu Criador (que
era semelhante a eles, mas diferente) por meio da comunhão amorosa,
do alegre serviço e da adoração sincera (Gn 2.16,17).13
• Assim como Deus, tinham prazer em se regozijar nele ao reCeti-lo para
toda a criação, inclusive para os anjos, e em lhe dar satisfação.
Como coroa da criação divina, Adão e Eva receberam a capacidade e o
desejo de ter uma vida feliz, repleta de adoração, comunhão e trabalho. É
difícil imaginarmos a glória e a alegria intensa que vivenciavam ao
trabalharem juntos, cultivarem o jardim e caminharem com o Senhor no
Anal da tarde. Haviam sido projetados por Deus com perfeição para
encaixar-se no lugar deAnido para eles, e isso lhes dava prazer.14
O ESPELHO DESPEDAÇADO
Sabemos que a felicidade de Adão e Eva chegou ao Am por causa da
desobediência. Quando foram enganados por Satanás, o pecado entrou em
cena. O pecado não trouxe apenas morte física e espiritual, mas também
desAgurou a natureza de Adão. Desde a Queda, o coração de todos os seres
humanos (inclusive os desejos) Acou “distorcido”.15 Enquanto, no início,
Adão e Eva tinham capacidades físicas e mentais perfeitas e desejos puros,
nós temos um corpo que adoece e morre. Nosso coração (mente, afeições e
volição) se tornou incuravelmente doente e perverso (Jr 17.9). Em vez de
vivermos em alegre união com Deus e o reCetirmos por meio da adoração,
da comunhão e do trabalho feitos com amor, todas as intenções dos
pensamentos da humanidade decaída se tornaram continuamente más (Gn
6.5). Em vez de nossas aptidões e desejos serem fonte de obediência e
alegria, tornaram-se uma armadilha que traz pecado e tristeza. Esse é o
problema com nossos desejos: o coração, a fonte da qual Cui todo pecado
(Mt 12.34), deixou de ter Deus como núcleo e se tornou egocêntrico. Em
todas as áreas de nosso ser, nos voltamos para nós mesmos. Em vez de viver
de modo a reCetir Deus para glória dele, o ser humano vive para sua própria
glória, buscando felicidade em seu próprio reCexo. Em vez de viver em
humilde submissão à palavra de Deus, crendo que o caminho dele é melhor,

conAamos em nosso próprio entendimento (Pv 3.5).
ReCita comigo por um momento a respeito de algumas formas
(certamente não todas) pelas quais o propósito inicial de Deus para Adão e
Eva foi daniAcado e distorcido pelo pecado.
O desejo de governar
Em vez de desejar governar a criação para a glória de Deus, o desejo de
governo do ser humano passou ser voltado para si mesmo. Homens e
mulheres exercem domínio sobre outros de forma pecaminosa, tornam-se
cruéis e exigentes e se apegam ao poder e ao controle. Ansiamos por
respeito e desejamos a opinião favorável de outros, em vez procurar
respeitar e honrar Deus e outros que o reCetem. Esposas procuram usurpar
a autoridade dos maridos. Maridos abrem mão de seu papel ou exigem uma
obediência irracional. Não nos sujeitamos humildemente a Deus, mas nos
elevamos à posição de monarcas.
O desejo por união física
Em vez de desejarmos usar nossa sexualidade para a glória de Deus, como
forma de reCetir a unidade de Deus, fortalecer a união e gerar Alhos que
amem a Deus, idolatramos o sexo. Curvamo-nos diante do prazer e do
poder, desconsiderando o relacionamento, o compromisso e a comunicação
que reCetem Deus. Gostamos de relacionamentos egocêntricos, que
espelham apenas uma união física superAcial.16 Procuramos construir nosso
próprio reino e usamos o sucesso de nossos Alhos como forma de nos
justiAcarmos, de melhorarmos nosso currículo.
O trabalho para agradar a Deus
Em vez de desejarmos subjugar e aprimorar a natureza por meio do
trabalho físico e intelectual que gloriAca Deus, tornamo-nos ergomaníacos
que buscam alegria no respeito de outros e nos prazeres das riquezas.
Ansiamos por segurança, conforto e relevância. ConAamos em nossas

aptidões e não queremos depender de ninguém além de nós mesmos;
enganamos outros (criados à imagem de Deus) para obter lucro. Tornamo-
nos escravos do relógio. Ou então nos tornamos preguiçosos e servimos os
deuses do sono, do conforto, da ausência de responsabilidades. Talvez nos
envolvamos com jogos de azar ou roubemos, desejando riquezas sem
trabalhar. Desperdiçamos o tempo que Deus nos deu e vivemos cada dia de
forma negligente, sem pensar em Deus nem na eternidade. Procuramos nos
justiAcar por meio de nossos esforços, em vez de recebermos a justiAcação
como dádiva resultante dos esforços de Jesus.
O consumo da criação
Em vez de desejarmos usar os recursos da criação para promover vida e
reCetir nossa dependência do Deus que sustenta o mundo, colocamos os
prazeres consumíveis da criação acima de Deus. Alguns comem
exageradamente ou bebem em excesso. Em vez de reCetirmos Deus por
meio da devida administração da criação, inclusive do corpo, vivemos de
modo cobiçoso e devastamos insensivelmente o mundo natural para nosso
prazer.
O desejo por beleza
Em vez de desejarmos desfrutar a beleza e a ordem da criação para a glória
de Deus, deiAcamos as aparências. Queremos que outros adorem nossa
beleza e criatividade. Transformamos em deuses a forma física, casa, roupas,
carro ou qualquer coisa que reCita nossa glória, beleza ou valor.
O anseio por descanso
Em vez de desejarmos um tempo de comunhão repousante e afetuosa com
nosso Criador, usamos o tempo em que não estamos trabalhando para uma
porção de atividades ímpias. O desejo que Deus nos deu de ter comunhão
serena e descanso no sábado foi corrompido pelo egocentrismo, de modo
que o repouso é gasto numa fútil indiferença, assistindo televisão horas a Ao

ou lendo livros frívolos ou, por Am, no ócio da aposentadoria.
O desejo por união
Em vez de desejarmos uma união que reCita a relação dentro da Trindade,
desejamos que ela mostre nosso valor. Idolatramos a ideia de sermos
amados, cuidados e valorizados sem o envolvimento de nosso Criador. Em
vez de buscarmos a alegria de amar e valorizar o cônjuge e cuidar dele,
focalizamos nossos próprios desejos. Em vez de amar a Deus e aos outros,
lutamos por domínio, queremos a adoração e a obediência de outros. Talvez
desprezemos diferenças que observamos uns nos outros e procuremos
conformar nosso cônjuge à nossa própria imagem. Ou talvez tenhamos
medo dessas diferenças e, de forma pecaminosa, nos amoldemos à imagem
de nosso cônjuge. A comunicação se torna uma ferramenta para alcançar
esses Ans por meio de exigências ou da manipulação do cônjuge com
palavras indelicadas, amargas, maldosas ou cheias de raiva. Imaginamos que
somos justiAcados por nossos relacionamentos, pelo quanto somos amados e
valorizados, e não pela fé somente em Jesus.
O desejo por ter amigos
Em vez desejarmos relacionamentos, comunhão e união com outros para
gloriAcar a Deus e como meio para amá-los e servi-los por amor a Cristo,
desejamos ter amigos para nos sentirmos bem a respeito de nós mesmos, de
sentir que somos aceitos e importantes. Desprezamos e tememos a pessoa
isolada, que não se encaixa no grupo. Desenvolvemos relacionamentos em
organizações civis ou políticas, nos unimos para torcer por times esportivos
e procuramos entretenimento e recreação, tudo porque desejamos fazer
parte de um grupo — e, quanto mais poderoso o grupo, melhor. Desde a
Queda, esse desejo de união com outros foi seriamente desAgurado pelo
egocentrismo ímpio, como aconteceu na torre de Babel.17 Você não ouve o
mesmo clamor, “façamos para nós um nome”, ressoando em todos os jogos
do campeonato esportivo? O desejo pecaminoso de unir-se a outros pode
levar um homem a desperdiçar tempo e dinheiro em esportes proAssionais.

Pode levar uma mulher a gastar horas nas mídias sociais, tentando provar
que ela é digna de ser amada e adicionada como amiga.
O propósito principal do homem
Por Am, e mais importante, nosso maior desejo — de gloriAcar a Deus e ter
prazer nele ao cumprir sua vontade — foi desAgurado
a ponto de tornar-se quase irreconhecível. Desde a Queda, o desejo
fundamental da humanidade passou a ser o de gloriAcar a si mesma e ter
prazer em si mesma, ao fazer aquilo que supostamente lhe trará felicidade.
Em decorrência do pecado, o ser humano deixa de buscar a única fonte
verdadeira de felicidade: Deus. O ser humano sempre terá desejo de se
dedicar a algum tipo de adoração, a relacionamentos e ao trabalho, pois
Deus gravou esses desejos em sua alma, mas agora eles são inteiramente
egocêntricos e estão distorcidos. Em vez de adorar o Criador e encontrar
felicidade em Deus, o ser humano cria um deus à sua própria imagem; em
vez de reCetir união com outros para a glória de Deus, busca
relacionamentos principalmente para sua própria glória e prazer; em vez de
trabalhar para que as obras de Deus sejam conhecidas e gloriAcadas por
outros, ama o dinheiro, o respeito e o prestígio,
e corre atrás dessas coisas. Visto que foi criado à imagem de Deus, o ser
humano ainda tem alguns vestígios do propósito de Deus para ele, mas sua
adoração, seus relacionamentos e seu trabalho se tornaram egocêntricos e
idólatras.
A Agura 8.1 é um resumo dos desejos de Adão antes da Queda
comparados com os desejos do ser humano decaído.
Deus criou Adão e Eva para desempenharem papéis distintos. Conferiu a
ambos a aptidão e o desejo de se encaixarem perfeitamente no mundo que
ele criou. Ao desempenharem esses papéis, eles reCetiam a imagem de
Deus. Desde a Queda, porém, tudo mudou. Agora somos governados por
desejos pecaminosos. Sem a intervenção direta de Deus por meio de Jesus
Cristo, nossos desejos permanecem irremediavelmente daniAcados. Por
mais que procuremos nos reformar, jamais recuperaremos as aptidões e os

desejos sem pecado de que precisamos a Am de ter a vida para a qual fomos
criados. Deus nos expulsou do paraíso para sempre; um anjo com uma
espada Camejante nos impede de voltar.
Há somente uma esperança de reaver o que foi perdido, de recuperar os
desejos santos que produzem adoração centrada em Deus; somente uma
esperança de restauração da comunhão com Deus
e com outros; somente uma esperança de experimentar a centralidade de
Deus em nossa natureza criada. Nossa única esperança é nascer de novo à
imagem de Jesus Cristo — o Homem que jamais deixou de cumprir seu
papel na criação — e receber dele a declaração justa de ter vivido sempre
para agradar seu Pai.
Figura 8.1 — Os desejos de Adão antes da Queda
e os desejos do ser humano caído

Os desejos sem pecado que Adão recebeu
de Deus glorificavam a Deus e refletiam
sua imagem ao
Os desejos idólatras do homem decaído
glorificam sua própria imagem e ignoram
Deus ao
Exercer domínio sobre a criação e, desse
modo, proporcionar honra e respeito a Deus e
alegria para si mesmo.
Procurar controlar a natureza e outras
pessoas para satisfazer seu anseio por
respeito e honra.
Tornar-se fisicamente uma só carne com sua
esposa a fim de intensificar a união e a alegria.
Gerar filhos que viessem a amar e adorar a
Deus.
Usar a sexualidade para buscar prazer e
poder para si mesmo. Usar os filhos para
glorificar a si mesmo e construir seu próprio
reino.
Subjugar a natureza por meio do trabalho
alegre realizado para o prazer de Deus.
Exaltar sua própria importância, conforto e
valor ganhando dinheiro e/ou prestígio.
Administrar com gratidão os recursos da
criação a fim de sustentar a própria vida e a
vida de outros.
Consumir cobiçosamente a criação para o
próprio prazer e administrar mal seus
recursos.
Desfrutar o mundo ao observar e classificar
sua beleza, sua arquitetura e sua ordem.
Esforçar-se para embelezar a si mesmo e
seus arredores, sem notar a beleza de Deus.
Ter períodos agradáveis de descanso e
comunhão com o Criador e com outros,
principalmente no sábado, mas também ao
longo de toda a vida.
Dedicar-se a trabalho egocêntrico ou formas
de recreação que levam a desperdiçar tempo
em lugar da adoração centrada em Deus.
Usar a comunicação para ter união com a
esposa a fim de que, juntos, pudessem realizar
todo o trabalho recebido de Deus, alegrar-se
em suas diferenças e agradar a Deus.
Tentar transformar o cônjuge à sua própria
imagem a fim de sentir-se amado, necessário
e aceito. Usar a dádiva da comunicação para
obter o respeito pelo qual anseia.
Realizar em conjunto com outros o trabalho
designado por Deus para seu benefício mútuo
e sua comunhão.
Unir-se a outros para superar sentimentos de
“alienação” e obter poder.
Glorificar e desfrutar Deus em tudo para seu
próprio bem e para o prazer de Deus.
Glorificar a si mesmo e deleitar-se em tudo o
que pensa, diz e faz para seu próprio bem e
para seu prazer pessoal.
Para renascermos segundo essa nova imagem, precisamos entrar em
outro jardim18 — um jardim em que uma espada Camejante foi cravada no
lado do perfeito Homem-Deus enquanto ele estava pendurado no madeiro,
isto é, uma outra árvore. Precisamos comer e beber dessa árvore para
conhecer a verdade capaz de restaurar nossa mente, nossas afeições e nossa
volição. Entregamo-nos a Cristo e à sua misericórdia, confessando não

apenas nossos atos pecaminosos, mas também nossos desejos pecaminosos,
e nos arrependendo deles. Precisamos nos arrepender do desejo de roubar o
lugar de Deus por meio da confecção de outros deuses. Pelo poder do
Espírito, precisamos fazer morrer nossos velhos desejos e buscar desejos
novos e piedosos. Somente pela fé em Cristo nós, como o ladrão
arrependido, podemos voltar a ter acesso ao paraíso.19
A vida e a morte de Jesus Cristo são su—cientes para libertá-lo de sua
velha natureza e, aos poucos, recriá-lo à imagem dele. Cristo pode fazê-lo
porque cumpriu perfeitamente toda a vontade de seu Pai.
Para ser recriado à imagem de Deus, você só precisa crer na perfeição de
Jesus Cristo. Ao permanecer nele (buscando união e dependência) e, pela
fé, procurar seguir seus mandamentos, você observará uma transformação
gradativa em seus desejos. Deus trabalhará em seu coração para torná-lo
capaz de abrir mão de seu desejo de adorar e amar a si mesmo, e lhe dará o
desejo de amá-lo e adorá-lo. Essa transformação ocorre quando recebemos
a garantia de que o registro perfeito de Cristo também é nosso e, portanto,
não precisamos mais procurar nos salvar nem nos justi—car. Nosso desejo de
viver em obediência, agradecidos por sua vida perfeita e sua morte
substitutiva, nos libertará da impressão de que ainda precisamos provar algo
para mostrar que podemos ser salvos e aceitos. Somos amados. Estamos
perdoados.
Nossa primeira pergunta foi: Qual é a fonte de seus desejos? Como você
pode ver, nossos desejos foram criados por Deus, mas foram des—gurados de
tal modo pelo pecado, que agora resta apenas uma sombra quase indistinta.
A segunda pergunta foi: Como avaliar nossos desejos? Os desejos do ser
humano não regenerado são sempre pecaminosos e egocêntricos.20 E,
embora os crentes tenham recebido um novo coração, não devemos con—ar
nele, por causa do pecado que ainda resta. Você pode analisar cada um de
seus desejos ao se perguntar: “Ele cumpre o propósito de Deus (visível em
Cristo)?”. Se a resposta for a—rmativa, pergunte-se: “Jesus Cristo ocupa o
primeiro lugar nesse desejo? Ele é meu Deus, ou transformei esse anseio em
um deus?”.21

SATISFEITOS EM DEUS
A verdade maravilhosa é que todos os nossos anseios são preenchidos em
Cristo. Ele veio para nos dar vida com plenitude; não o faz, porém, por
meio da satisfação de desejos pecaminosos. Ele nos satisfaz ao afastar nosso
coração desses desejos e voltá-lo para ele. Ele nos mostra como nossos
anseios são vazios e como é imensa a alegria da união com ele e com seus
Alhos. Ele é a fonte e a satisfação de toda a nossa felicidade. Nele
encontramos tudo de que precisamos.
Lembre-se de que seus anseios mais intensos, as coisas pelas quais você é
mais apaixonado, deAnem, em última análise, sua adoração. Se você deseja
fervorosamente o respeito dos outros, sua vida será inCuenciada pelo temor
de seres humanos. Você adorará a opinião dos outros. Se você anseia
intensamente ser aceito, Acará aterrorizado diante da solidão e da rejeição.
A preocupação de agradar outros, a pressão de colegas ou a codependência
serão os deuses que você servirá.22 Se você cobiça conforto, prazer ou
diversão, servirá o dinheiro ou o prestígio como se fossem deuses que têm
poder para abençoá-lo ou amaldiçoá-lo.
Figura 8.2 — Os desejos de Adão antes da Queda
e os desejos perfeitos de Jesus

Os desejos sem pecado que Adão recebeu de
Deus glorificavam Deus e refletiam sua
imagem ao
Os desejos perfeitos de Jesus
glorificavam Deus e refletiam sua
imagem ao
1
Exercer domínio sobre a criação e, desse modo,
proporcionar honra e respeito a Deus e alegria
para si mesmo.
Mostrar que ele governava toda a criação
e, desse modo, proporcionar honra e
respeito para seu Pai.
Tornar-se fisicamente uma só carne com sua
esposa a fim de intensificar a união e a alegria.
Gerar filhos que viessem a amar e adorar a Deus.
Tornar-se Homem e reproduzir-se em
seus discípulos, que encheriam a terra de
frutos por meio de sua noiva, a igreja.
Subjugar a natureza por meio do trabalho alegre
realizado para o prazer de Deus.
Subjugar toda a natureza por meio de sua
obra e cultivar um campo para o prazer
de seu Pai.
Administrar com gratidão os recursos da criação
a fim de sustentar a própria vida e a vida de
outros.
Depender da provisão de seu Pai para
suas necessidades físicas. Suprir as
verdadeiras necessidades de outros.
Desfrutar o mundo ao observar e classificar sua
beleza, sua arquitetura e sua ordem.
Trabalhar para que a beleza e ordem de
seu Pai fossem vistas em outros e por
eles.
Ter períodos agradáveis de descanso e comunhão
com o Criador e com outros, principalmente no
sábado, mas também ao longo de toda a vida.
Adorá-lo no sábado por meio da oração,
da comunhão e das obras de
misericórdia.
Usar a comunicação para ter união com a esposa
a fim de que, juntos, pudessem realizar todo o
trabalho recebido de Deus, alegrar-se em suas
diferenças e agradar a Deus.
Comunicar-se com sua noiva, a igreja, e
dar a vida por ela. Conceder-lhe diversos
dons para que ela possa completar a
edificação de seu Reino.
Realizar em conjunto com outros o trabalho
designado por Deus para seu beneficio mútuo e
sua comunhão.
Desfrutar de comunhão e relacionamento
com seres humanos e fundar a igreja.
Glorificar e desfrutar Deus em tudo para seu
próprio bem e para o prazer de Deus.
Ser um com o Pai em propósito
e amor ao fazer sempre o que
lhe agrada.
1A oração de Jesus em João 17 ilustra perfeitamente cada um desses itens.
Como indivíduos que estão sendo recriados à semelhança de Deus,23
precisamos examinar cada anseio à luz resplandecente da Palavra de Deus.
Não devemos nos amoldar às AlosoAas deste mundo, que desejam nos
contar mentiras sedutoras a respeito de nossas verdadeiras necessidades.
Antes, devemos ser “transformados pela renovação da [nossa] mente” (Rm

12.2), para que conheçamos a vontade e o propósito de Deus para nós.
ENTREGANDO A DEUS TODOS
OS SEUS DESEJOS
Ao concluirmos esta discussão sobre nossos desejos, permita-me lembrá-lo
de Ana. Ela acalentava desejos intensos; ansiava ser feliz e experimentar a
alegria de ser mãe. Pela fé, buscou a Deus como fonte de sua felicidade. Ela
estava disposta a colocar todos os seus desejos no altar da vontade dele. Por
isso, teve o prazer de ver seu Alho servir ao Senhor, aquele que era sua
maior alegria. Samuel foi um bom sacerdote, mas Ana (como todos nós)
precisava do verdadeiro Profeta, Sacerdote e Rei, cujo nascimento
miraculoso atenderia ao clamor por salvação proferido por outra mãe: “A
minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito exulta em Deus, meu
Salvador; porque deu atenção à condição humilde de sua serva [...] porque o
Poderoso fez grandes coisas para mim; o seu nome é santo” (Lc 1.46-49).
Deus atenderá a sua súplica por salvação e livramento, como atendeu à
súplica de Ana. Ao lutar com seus desejos, em oração, que ele lhe conceda a
graça de depositá-los todos no altar do amor e do serviço a ele. Então, você
terá a alegria de ver a obra dele em sua vida. Ele usará os desejos que lhe
concedeu para avivar, acender e impelir sua adoração, seus relacionamentos
e seu trabalho para a glória dele.
PARA REFLETIR
1. Como seria desejar somente Deus? Veja Salmos 42.1,2; 143.6; Isaías
26.8,9; Lucas 9.23-25.
2. Use uma concordância bíblica para descobrir quais são os desejos, as
alegrias e os prazeres de Deus e anote os mais preciosos para você. A
alegria de Deus reside na comunhão consigo mesmo e com seu povo. De
que maneira isso muda seu conceito de Deus?
3. O que João 8.44 diz a respeito da fonte de desejos ímpios? De que
maneira crer na verdade da qual tratamos no último capítulo inCuencia
seus desejos?
4. Em atitude de oração, pergunte a si mesmo: O que desejo e pelo que
É É

anseio? É um desejo santo, que ocupa o devido lugar em meu coração? É
um desejo santo, porém excessivamente importante para mim? Jesus
ocupa o primeiro lugar nesse desejo? Em outras palavras, estou disposto a
abrir mão, por Jesus, desse desejo?
5. Há algum item dessa lista que você não está disposto a sacri—car para
Deus? Percebe como esse desejo talvez faça o papel de deus em sua vida?
1Esse não é o ?nal da história de Ana. A Bíblia diz que ela teve mais cinco ?lhos depois de Samuel.
Deus satisfez seu desejo copiosamente; não apenas lhe deu o ?lho pelo qual ela orou (e do qual, por
?m, abriu mão), mas também lhe deu outros ?lhos e ?lhas. A que Deus bondoso servimos!
2Nos capítulos seguintes, trataremos de nossas emoções, mas, visto que nossos pensamentos e
desejos geram as emoções, é mais proveitoso focalizar a causa (pensamentos, desejos) que o efeito
(emoções).
3O termo traduzido aqui por “prazeres” é o grego hedone, que signi?ca “agradar”, no sentido de
prazer sensual e, por implicação, de desejo (Strong’s exhaustive concordance).
4Veja tb. Lc 22.15; Jo 8.44; Rm 1.24; 7.7,8; Gl 5.16,24; Fp 1.23; Cl 3.5; 1Ts 2.17; 4.5; 1Tm 6.9; 2Tm 2.22; 3.6;
4.3; Tt 2.12; 3.3; Tg 1.14,15; 1Pe 1.14; 2.11; 4.2,3; 2Pe 1.4; 2.10,18; 3.3; 1Jo 2.16,17; Jd 16,18.
5Paulo também tinha o “desejo de partir e estar com Cristo” (Fp 1.23) e “[desejava] intensamente” ver
os tessalonicenses (1Ts 2.17).
6Em Gálatas 5.16, Paulo diz: “Andai pelo Espírito e nunca satisfareis os desejos da carne”. Ele mostra
que os desejos da carne geram as obras da carne: “Imoralidade, impureza e indecência; idolatria e
feitiçaria; inimizades, rivalidades e ciúmes; ira, ambição egoísta, discórdias, partidarismo e inveja;
bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a essas” (Gl 5.19-21). Veja tb. Tiago 1.14-16: “Mas cada um é
tentado quando e atraído e seduzido por seu próprio desejo”.
7“Quem encontra uma esposa acha quem lhe traz felicidade e alcança o favor do S” (Pv 18.22).
8Veja Mt 5.22,28, em que Jesus ensina a respeito da pecaminosidade dos desejos que residem apenas
em nosso coração, mesmo que não gerem ações.
9Rm 3.10-29; Ef 2.3; 5.3-5; Cl 3.5-7; Tt 3.3. O Novo Testamento ensina claramente que os indivíduos
fora da família da aliança de Deus são escravos de seus desejos, incapazes de desejar qualquer coisa
que não seja pecaminosa. Mesmo que um incrédulo pareça estar fazendo algo bom (como, por
exemplo, ajudar os pobres), os desejos que motivam esse comportamento não são centrados em
Deus (para a glória de Deus), mas no homem (para a própria glória) e, portanto, são pecaminosos.
10Veja tb. Gn 5.1; 9.6, Ec 7.29; At 17.26,28,29; 1Co 11.7; 2Co 3.18; Ef 4.24; Cl 3.10; Tg 3.9.
11Tanto Adão quanto Eva foram criados à imagem de Deus. Embora fossem iguais diante de Deus,
Eva foi criada com aptidões e vocações diferentes. Adão foi criado primordialmente para re?etir e
adorar Deus (o mesmo se aplica a Eva), mas Eva também recebeu uma vocação secundária: honrar
Adão e ser sua auxiliadora. É devido a essa diferença que as mulheres muitas vezes pensam, desejam e
pecam de maneiras correspondentes a sua natureza de “auxiliadoras”.
12Como vimos no capítulo 7, Deus é Espírito, invisível; Adão, em contrapartida, não era invisível,
pois Deus tinha lhe dado um corpo físico. Adão não estava presente em toda parte; não era
onipotente nem onisciente. Sua vida dependia de Deus, enquanto Deus é independente e livre — não

precisa de coisa alguma. Adão existia no tempo e vivia dentro dos limites de dias, meses e estações.
O Deus eterno existe inteiramente fora do tempo. Embora Adão re?etisse Deus de forma diferente de
toda a criação, Deus era distinto de Adão em certos aspectos evidentes.
13Deus de?niu limites para Adão. Enquanto Adão e Eva obedecessem à palavra de Deus,
desfrutariam comunhão, serviço e adoração irrestritos. Depois que pecaram, foram expulsos da
presença de Deus.
14Não faz parte do âmbito desta discussão tratar de como foi possível Adão e Eva serem tentados a
pecar.
15“O termo depravado é derivado de palavras que signi?cam ‘torto’ ou ‘distorcido’”. Jay Adams, More
than redemption (Phillipsburg: P&R, 1979), p. 140.
16Então, quando ?lhos são concebidos, muitos os matam ainda no ventre, da mesma forma que os
israelitas sacri?cavam seus ?lhos a seus ídolos.
17Não deixe de observar a pecaminosidade dos desejos dos construtores: “Vamos edi?car uma cidade
para nós, com uma torre cujo topo toque no céu, e façamos para nós um nome, para que não sejamos
espalhados pela face de toda a terra” (Gn 11.4). Note o sarcasmo na resposta de Deus: “O povo é um
só e todos têm uma só língua; agora que começaram a fazer isso, já não haverá restrição para tudo o
que intentarem fazer” (Gn 11.6). Jamais seremos capazes de alcançar unidade global (uma nova
ordem mundial), pois Deus confundiu nossa linguagem e nos espalhou (Gn 11.9).
18Será coincidência que “no lugar onde Jesus foi cruci?cado havia um jardim” (Jo 19.41)?
19“E Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23.43).
20Não estou dizendo que os incrédulos são perversos ao máximo. Pela graça comum de Deus, eles são
capazes de cumprir alguns dos propósitos divinos em seu trabalho e em seus relacionamentos, mas
sua adoração será sempre pecaminosamente egocêntrica. Por trás de suas boas obras, sempre haverá
motivações erradas, embora nem todos sejam tão claramente perversos como Hitler ou Nero, por
exemplo.
21De acordo com Colossenses 1.18, Jesus Cristo “também é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o
princípio [...] para que em tudo tenha o primeiro lugar”.
22Veja Ed Welch, When people are big and God is small (Phillipsburg: P&R, 1997) [edição em
português: Quando as pessoas são grandes e Deus é pequeno: vencendo a pressão do grupo, a
codependência e o temor do homem (São Paulo: EBR, 2011].
23“Fostes instruídos [...] a vos revestir do novo homem, criado segundo Deus em verdadeira justiça e
santidade” (Ef 4.21,24).

9
DISPONDO-SE
A OBEDECER
Quem é o homem que teme o SR[U\_?
O SR[U\_ lhe ensinará o caminho
que deve escolher (Sl 25.12)
Maria de Betânia é a única pessoa que Jesus elogiou publicamente por fazer
uma escolha santa. Não que ninguém mais tenha escolhido seguir o
Senhor, mas somente ela foi honrada dessa forma. Jesus declarou que
Maria havia escolhido “a boa parte” (Lc 10.42).
A escolha de sentar-se aos pés de Jesus estava de acordo com o caráter de
Maria. Em três ocasiões distintas, ela escolheu humilhar-se diante dele.
Uma vez, sentou-se aos seus pés, ouvindo-o falar enquanto sua irmã soltava
fogo pelas narinas na cozinha. Em outra ocasião, depois da morte de
Lázaro, caiu a seus pés, chorando de profunda tristeza. Por Am, depois da
ressurreição de Lázaro, humilhou-se novamente e ungiu os pés de Jesus
com caríssimo bálsamo de nardo (Jo 12.3).
De acordo com o Catecismo maior de Westminster,1 uma das exigências do
primeiro mandamento consiste em adorar e gloriAcar Deus ao “escolhê-lo”.
Por que Maria escolheu assentar-se aos pés do Senhor enquanto Marta se
queixou? Que aspectos do serviço eram tão atraentes para Marta, a ponto
de levá-la a Acar irrequieta ao receber Jesus em sua casa?
O QUE É A VOLIÇÃO?
A volição ou vontade é a parte do coração ou do ser interior que faz
escolhas. Ela está presente em todos os seres humanos e revela quem eles

são. A palavra vontade está presente em várias expressões, como “vontade
própria”, “vontade férrea”, “força de vontade, e outras derivadas da raiz
latina, como “voluntarioso” e “voluntário”. Todas essas expressões
reconhecem que as pessoas fazem escolhas e são conhecidas pelas escolhas
que fazem. Até mesmo o coração das crianças é revelado por suas escolhas
(Pv 20.11). Por que algumas crianças são voluntariosas? É por causa de seu
ambiente? De sua personalidade? Por que outras pessoas parecem não ter
vontade própria? Por que alguns desejam adorar a Deus enquanto outros se
recusam terminantemente a fazê-lo?
Nesta discussão sobre a volição, veremos como nossos desejos
determinam nossas escolhas e como Deus opera na volição.
Jonathan Edwards deAniu volição como “aquilo por meio do que a mente
escolhe qualquer coisa [...]. Um ato de volição é o mesmo que um ato de
escolher ou fazer opção”.2 Edwards aArma, ainda: “Costuma-se dizer de um
ato de volição que corresponde a um homem fazer isto ou aquilo que seja de
seu agrado; fazer o que é de sua vontade ou fazer o que é de seu agrado é a
mesma coisa”.3
A volição é a faculdade dentro de nós que decide se vamos tomar sorvete
de baunilha ou de chocolate, se vamos ler a Bíblia ou assistir televisão. A
volição segue nossos pensamentos e desejos ao escolher aquilo que
imaginamos que nos agradará ou nos dará a maior probabilidade de
felicidade. Determina se buscaremos adorar o Senhor, como fez Maria, ou
se correremos atrás de outros deuses. Se você é como eu, anseia pelo dia em
que escolherá sempre o Senhor.
A escolha de Adão
Desde o início dos tempos, Deus apresentou uma escolha à humanidade.
Temos diante de nós hoje a mesma escolha do jardim: “Escolherão adorar e
gloriAcar a mim ou a si mesmos?”. Ao longo da história, em toda época e
lugar, Deus ordenou que o homem escolhesse entre ele e a tríade mundo,
carne e Diabo. Em cada um dos versículos a seguir, os crentes recebem a
ordem de escolher o Senhor:

Portanto, escolhe a vida, para que vivas (Dt 30.19).
Escolhei hoje a quem cultuareis; se os deuses a quem vossos pais [...]
cultuavam (Js 24.15).
Até quando titubiareis entre dois pensamentos? Se o SR[U\_ é Deus,
segui-o; mas se Baal é Deus, segui-o (1Rs 18.21).
Escolhem as coisas que me agradam (Is 56.4).
É evidente que Deus colocou uma escolha diante de nós: podemos
escolher agradar a Deus (e, no Am das contas, obter verdadeiro prazer), ou
podemos escolher insensatamente nosso próprio caminho e obter prazer
imediato, porém breve.
RESOLUÇÕES DE ANO NOVO
Como você passa o primeiro dia do ano? Além de tentar se recuperar de
uma noite de pouco sono, muita gente passa parte desse dia fazendo
resoluções de Ano Novo. Para os cristãos, são aArmações como: “Este ano,
vou ler a Bíblia inteira”. “Este ano, terei um momento diário de oração.”
“Este ano, me dedicarei mais a dar meu testemunho.” Talvez depois de ler
este livro, sua resolução seja: “Este ano, buscarei adorar somente Deus”.
Como vão suas resoluções de Ano Novo?
Certa vez, alguns amigos e eu resolvemos memorizar uma passagem
longa das Escrituras. Apesar de termos memorizado parte da passagem,
nossa determinação se esgotou antes do feriado de Ação de Graças, em
novembro. Embora não parecesse, reconheço que Az uma escolha
deliberada de não memorizar a Palavra. Essa escolha seguiu a inclinação de
meu coração, que é bastante apático quando se trata de disciplina árdua.
Não estou dizendo que nunca faço escolhas fora de minha zona de
conforto, mas é uma luta contínua, e tenho consciência da fraqueza de
minha vontade. Será que sou só eu?
Considerando-se a história da humanidade, duvido que apenas eu tenha
esse problema. Não é preciso ser um exímio historiador para observar que,
salvo raras exceções notáveis, o ser humano costuma escolher servir a si
mesmo. Sempre faz escolhas conforme seus desejos egoístas. Edwards
observou: “O coração nunca opta pelo que é correto, nem faz uma escolha

livre de amor próprio”.4 Podemos observar esse fato porque a humanidade
não é famosa por escolher amar Deus e o próximo de todo coração.
Josué sabia da incapacidade dos seres humanos de escolher corretamente,
e disse: “Não podereis cultuar o SR[U\_, porque ele é Deus santo” (Js
24.19). Essa ideia o surpreende? Josué conhecia a natureza humana, sabia
que o povo não era capaz de escolher adorar a Deus. Sabia que os israelitas
eram egocêntricos e amavam a idolatria. Embora tivessem declarado com
grande orgulho que serviriam a Deus e obedeceriam a sua voz, a história
deixa claro quais eram seus verdadeiros pensamentos e desejos. É evidente
que, sem a obra bondosa de Deus em nosso coração, somos exatamente
iguais a eles. Sempre escolheremos servir a nós mesmos e a outros deuses.
Como os israelitas, também declaramos: “Serviremos o Senhor” e, depois,
nos afastamos dele.
VOLIÇÃO REBELDE?
Qual é o problema? Por que dizemos uma coisa e fazemos outra? Nossa
volição é disfuncional? De certo modo, a resposta é sim. Nossa volição não
funciona como deveria porque Deus a criou para escolhê-lo, mas o pecado
daniAcou a capacidade de fazer essa escolha. Embora tenhamos recebido
um novo coração, que inclui uma volição capaz de escolher corretamente,
ainda há forte inCuência do pecado. Por nossa própria conta, com nossas
próprias forças, até mesmo nós cristãos fazemos escolhas pecaminosas.
Reconhecemos que “[nascemos] em iniquidade” (Sl 51.5).
Apesar de nossa natureza decaída, nossa volição faz o que foi criada para
fazer. Não é a volição que está em descompasso com o coração quando
dizemos que desejamos adorar o Senhor e depois adoramos outros deuses.
São nossas palavras que divergem de nossos desejos e inclinações mais
intensos.5 Nossa volição está funcionando como deve; está fazendo escolhas
em conformidade com nossos pensamentos e desejos mais preciosos. Mas,
por causa de sua disposição pecaminosa, nossa volição é mais fortemente
atraída para o pecado que para a santidade. A discrepância entre o que
dizemos (“Serviremos o Senhor”) e o que fazemos (servir a nós mesmos)
não se deve à nossa volição em si. Ela está operando como foi criada para

operar. A contradição é entre nossas palavras (“Serviremos o Senhor”) e
nossos desejos mais intensos. Nossa volição segue os pensamentos errôneos
e os desejos pecaminosos nos quais nos deleitamos. Edwards expressa a
situação da seguinte forma: “Um homem jamais, em circunstância alguma,
exerce sua vontade de modo contrário a seus desejos, ou deseja algo
contrário à sua vontade”.6
Por que será que declaramos ter grande amor pelo Senhor no domingo de
manhã, e depois exageramos nossos relatórios de produtividade para
impressionar o patrão na segunda-feira de manhã? É porque temos desejos
divididos. Temos um desejo dado por Deus de trabalhar para a glória de
Deus (como existia em Adão) e um desejo pecaminoso de receber respeito e
aprovação. Portanto, quando estamos diante de nosso patrão na segunda-
feira de manhã, nossa volição age em função do desejo mais intenso (neste
caso, de ser respeitado) quando tem a escolha entre dizer a verdade e
exagerar.
Embora Deus tenha nos dado um novo coração no qual escreveu sua lei,
nosso coração ainda está contaminado pelas mentiras e tentações do
mundo. Por isso, dizemos uma coisa e fazemos outra. Se você se pergunta
por que escolhe adorar outros deuses em vez de dedicar-se de todo coração
ao Senhor que você ama, analise os pensamentos e desejos que cativam seu
coração. Neles você encontrará a resposta para todo pecado e fracasso em
sua vida. Não caia no engano de imaginar que você precisa de mais força de
vontade. Não precisamos de mais “força de vontade” nem de autodisciplina.
Antes, precisamos desenvolver pensamentos e desejos piedosos.
A VOLIÇÃO HABITUADA AO PECADO
Nossa volição escolhe o pecado a cada momento ao seguir nossos
pensamentos enganados e nossos desejos de engrandecimento próprio. Nós
também adquirimos o hábito de agir desse modo. É por causa desse hábito
que, sem muita premeditação, nossa volição reage de modo pecaminoso a
certas circunstâncias. Por exemplo, você
alguma vez se pegou dizendo algo que o chocou? Acontece comigo.
Pergunto-me: “De onde veio isso? Por que disse uma coisa dessas?”.

Quando algo espantoso sai de minha boca, pergunto-me: “O que está
acontecendo? Minha volição me passou uma rasteira?”. Não, minha volição
está funcionando como deve. Reagi de determinada maneira porque esses
pensamentos eram habituais, e meu desejo mais intenso era expressá-los.
Só me surpreendi porque eles saíram de minha boca. Todos nós temos áreas
em que costumamos escolher pecar em pensamentos e ações. A volição se
habitua de tal modo a escolher determinada conduta que ela passa a ser
natural.
Não apenas escolhemos conscientemente pecar, mas o fazemos de forma
habitual. Se você costuma mentir quando se vê sob pressão, seguirá por esse
caminho mesmo sem fazer uma escolha consciente. Se sempre come
chocolate quando está com pena de si mesmo, caso haja chocolate por perto
quando estiver triste, já sabe o que acontecerá. Se tem o costume de exigir
que outros se sujeitem a você, quando sua autoridade for questionada, Acará
com raiva e será ríspido. É desse modo que servimos outros deuses sem nos
darmos conta.
Todos nós já Azemos algo de modo quase inconsciente e depois nos
arrependemos. Não me entenda mal. Não estou dizendo que não somos
culpáveis por pecar de maneiras habituais, pois somos. Esses hábitos
pecaminosos foram formados, inicialmente, por uma escolha consciente de
desconsiderar Deus e sua lei, portanto somos responsáveis, embora nem
sempre façamos a escolha deliberada de pecar naquele momento.
LIVRE-ARBÍTRIO?
7
Nós, americanos, damos grande valor à liberdade. Pensamos que, dentre
todos os povos, temos o direito concedido por Deus de fazer o que
desejarmos. De tão estranha e absurda, a ideia de que não sou capitã de
minha alma chega a ser quase risível. Não estou aArmando que você não
tem livre-arbítrio. Nem estou dizendo que você não possui a capacidade de
escolher livremente conforme seus pensamentos, suas propensões e seus
desejos, pois é evidente que cada um sempre escolhe livremente aquilo que
lhe agrada.
Se não fôssemos capazes de escolher livremente o que desejamos, não

seríamos responsáveis por nossas escolhas. O problema não é que nossa
volição não é livre, mas que nossos desejos são decaídos. O problema é o
foco de nosso coração. A Bíblia a—rma em várias ocasiões que nosso coração
não era neutro antes de nos tornarmos cristãos. Éramos contrários a Deus.
Paulo escreveu: “A velha natureza pecaminosa dentro de nós é contrária a
Deus. Nunca obedeceu à lei de Deus e nunca a obedecerá” (Rm 8.7,
TLB).8
Antes de Cristo nos trazer para junto dele e nos transformar, escolhíamos
livremente seguir nossos desejos e inclinações mais intensos. Nosso coração
era contrário a Deus. Os incrédulos não são capazes de entender a verdade
nem de desejar obedecer-lhe. Não se engane: eles escolhem livremente
viver dessa forma. É opção deles seguir a natureza decaída, e gostam de
fazê-lo. O incrédulo não tem poder algum de escolher crer, de escolher
viver com retidão, mas escolhe livremente seguir seu coração.
Quando a pessoa se torna cristã, passa a ter liberdade. Ao contrário do
que acontecia em sua vida anterior, em que a escolha era sempre atrelada ao
pecado e propensa a ele, agora a pessoa é capaz de escolher pecar ou não.
Essas duas escolhas são uma possibilidade. Quando seu coração assim
deseja, quando ela está convencida dos benefícios e quando anseia pelo
Senhor e pela alegria de lhe dar prazer, ela escolhe obedecer-lhe. Não é
mais escrava do pecado como antes de ser salva. Antes de receber a
salvação, o único resultado possível de toda escolha era o pecado. Agora que
ela recebeu um novo coração, há duas possibilidades: pode pecar ou não,
escolhendo livremente, conforme seus desejos.
O problema, portanto, não é que precisamos desenvolver mais força de
vontade. O problema é que precisamos de novos pensamentos, novas
propensões e novos desejos. Não precisamos aprender a nos motivar mais
ou simplesmente “ser fortes” e ponto —nal. Temos de procurar substituir
nossos desejos pecaminosos por desejos santos, o que acontecerá somente
no contexto do evangelho. Ao tomarmos consciência de tudo o que Deus
fez por nós, de como nos chamou bondosamente para nos relacionarmos
com ele, desenvolveremos um amor por ele que provocará mudanças em
nossos desejos e nos fará querer obedecer. Esse amor por Deus, que

transforma nossas escolhas, ocorre somente em resposta a seu amor prévio
por nós, quando nos lembramos de quão generosamente fomos amados e
acolhidos por ele. Quando Deus nos concede essas novas paixões santas,
descobrimos que nossa volição, outrora aparentemente fraca, aquiescerá de
bom grado. Percebemos que agora o amamos “porque ele nos amou
primeiro” (1Jo 4.19) e, desse amor Cui o desejo de servi-lo e agradá-lo.
A BATALHA INTERIOR
Paulo reconheceu que tinha um problema com sua volição: havia desejos e
propensões conCitantes dentro dele, lutando por ascendência dentro de seu
coração. Da mesma forma, embora eu tenha hoje o intenso desejo de
adorar a Deus, pego-me, em vez disso, adorando ídolos. Paulo falou a
respeito desse dilema:
Não entendo o que faço, pois não pratico o que quero, e sim o que odeio
[...] Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem
algum; pois o querer o bem está em mim, mas não o realizá-lo (Rm
7.15,18).
Ao contrário do incrédulo, como cristã tenho liberdade de pecar e de não
pecar. Como Paulo, contudo, sou obrigada a reconhecer que tenho
pensamentos, propensões e desejos conCitantes que me puxam
continuamente para direções opostas. Por isso o esforço para alcançar
santidade é uma guerra sem Am para o crente. Você terá de subjugar
incessantemente a incredulidade e os ídolos em seu coração. E, quando
imaginar que matou um deles, ele voltará com outra forma. Será necessário
continuar a lembrar-se de que você já foi amado, perdoado e adotado, tudo
porque Jesus desejou perfeitamente amar seu Pai e seu próximo acima de
todas as coisas. Então, será necessário lutar para crer que essa é a maior
verdade a seu respeito. Sua natureza pecaminosa, que questiona
continuamente o amor e a bondade de Deus e a disposição afável dele para
com você, combaterá sua fé de modo persistente e recorrente. Vez após
outra, seu coração perguntará: “Como Deus pode continuar a me amar?
Sem dúvida ele está irado...”. E esse é o pensamento que o levará a ceder e a

parar de lutar.
Quantas vezes você se perguntou: “Por que ser santo é uma luta tão
grande? Parece que começo a fazer as coisas da forma correta e, em pouco
tempo, minhas boas intenções vão por água abaixo. Por que não consigo
superar essa situação (seja lá qual for) e começar a viver do modo como sei
que Deus deseja?”.9 A resposta a essa pergunta é a mesma para Paulo e para
você. Temos um coração dividido entre o amor e a adoração a Deus e o
amor e a adoração ao mundo.10 Cremos nas boas-novas e, no entanto,
somos incrédulos. Essa guerra é destacada nos versículos a seguir. Procure
identi—car os amores con)itantes:
Se alguém vier a mim, e amar pai e mãe, mulher e —lhos, irmãos e irmãs,
e até a própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo.
Quem não leva a cruz e não me segue, não pode ser
meu discípulo (Lc 14.26,27).
Se estivesse ainda agradando a homens, eu não seria servo de Cristo (Gl
1.10).
In—éis, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus?
Portanto, quem quiser ser amigo do mundo se coloca na posição de
inimigo de Deus (Tg 4.4).
Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele (1Jo 2.15).
Mesmo como crentes, com um novo coração e desejos renovados, é
impossível amarmos Deus perfeitamente — de todo o nosso coração, toda a
nossa alma e todas as nossas forças — por causa do pecado e da
incredulidade que ainda restam. Nosso coração sempre será atraído pelas
coisas que podemos ver, provar e tocar, atraído para algo além da fé em
coisas invisíveis. Sempre teremos a tentação de adorar algo que não é Deus,
amar algo mais do que o amamos, jurar lealdade a outras divindades, quer a
nós mesmos como nosso próprio salvador, quer a alguém ou alguma outra
coisa que supostamente tem o poder de nos fazer verdadeiramente felizes.
Se você tem a impressão de que procurou fazer essas escolhas antes sem
sucesso algum, lembre-se de que está lutando em uma guerra, e não em
uma briga qualquer. Você pode se alegrar porque o Senhor Jesus já triunfou

sobre seu pecado na cruz e, um dia, você será inteiramente livre. Ao mesmo
tempo, pode procurar guardar-se dos pensamentos, desejos e propensões
enganosos de seu coração. Pode lutar contra a incredulidade e,
continuamente, entregar-se à misericórdia de Deus. Ainda assim, será
constantemente atraído pelo amor a si mesmo, por dinheiro, família, bens, a
opinião favorável de outros, o mundo e as coisas nele, mesmo depois de ter
resolvido adorar somente Deus.
Deus colocou dentro de todo cristão verdadeiro o desejo de escolhê-lo.
Todos nós ansiamos ouvi-lo dizer. “Muito bem, servo bom e —el [...]
participa da alegria do teu senhor” (Mt 25.23), não é mesmo? Sabemos que
Jesus foi o único servo verdadeiramente bom e —el e sabemos que a alegria
da qual participaremos um dia é a alegria que ele obteve para nós. Mas,
apesar de termos o desejo de ser plenamente obedientes, nenhum de nós
escolhe em todas as circunstâncias o caminho do servo bom e —el. Por que
Josué disse aos israelitas que, não obstante suas boas intenções, não seriam
capazes de servir a Deus? A verdade a respeito das escolhas que fazemos é
evidente. Não escolhemos sempre o Senhor porque não o desejamos de
fato; e não o desejamos de fato porque não estamos convencidos de que ele
verdadeiramente nos ama e de que encontraremos nossa felicidade suprema
nesse amor.
Sejamos honestos: estamos empanturrados de alegrias e prazeres do
mundo,11 e nossa mente ainda não está convencida de que a alegria
generosamente concedida pelo Mestre a todos nós é muito melhor. “As
preocupações do mundo, a sedução da riqueza e o desejo por outras coisas”
(Mc 4.19) não deixam espaço para o amor de Deus. Você se lembra dos
bolos de lama mencionados por C. S. Lewis? Escolhemos brincar na sarjeta
porque nos contentamos com a lama, e ela parece melhor que as outras
opções.
A essa altura, talvez exclamemos, como Paulo: “Desgraçado homem que
sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7.24,25). Deus pode nos
libertar e nos transformar por meio da obra já realizada por seu Filho em
nosso favor. Se dependesse somente de nós, estaríamos em uma situação
irremediável, mas, visto que Deus assumiu o compromisso de operar em nós

(e sua obra nunca é frustrada), podemos ter ânimo.
A OBRA DE DEUS EM SUA VOLIÇÃO
Quando Paulo incentivou os Alipenses a “[realizarem a sua] salvação com
temor e tremor”, mostrou para eles sua única esperança de fazê-lo: a obra
Ael completada por Deus. “Por que é Deus quem produz em vós tanto o
querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.13). A disposição
de Deus de continuar a realizar em nós tudo o que ele deseja é nossa única
esperança. Nosso crescimento em santidade está nas mãos dele, e podemos
descansar ao mesmo tempo em que trabalhamos, certos de que ele está
empenhado em realizar a transformação interior pela qual ansiamos, no
tempo dele, ao cooperarmos pela fé.
Deus realiza essa obra em você ao mudar os pensamentos, desejos e
propensões que dão origem a suas escolhas. Ele o faz ao convencê-lo
continuamente de que você já é amado e já foi perdoado. Por certo, o amor
dele produzirá amor em você e, por certo, esse amor transformará seus
desejos. Visto que você já é amado, não precisa mais tentar se justiAcar nem
provar que é aceitável. Cabe a Deus levá-lo a crer; cabe a você responder
com fé a tudo o que ele fez em seu favor e continuar a lutar contra a
incredulidade.
A ESCOLHA EXCELENTE DE MARIA
O que dizer a respeito das escolhas excelentes de Maria? Ela as fez porque
tinha grande força de vontade e autodisciplina? Era naturalmente santa ou
afável? Sem dúvida, ela fez uma escolha consciente de adorar seu Senhor,
mas suas decisões não se basearam em autodisciplina nem em “ser forte para
o Senhor”. Suas decisões Cuíram do amor por Jesus, um amor nascido e
cultivado dentro dela pela receptividade contínua do Mestre e seu amor por
ela. Maria desejava estar com Jesus, humilhar-se diante dele e dar-lhe seu
presente mais precioso porque estava convencida de que era plenamente
amada por ele. Sua volição foi impelida a adorá-lo porque seu coração foi
cativado por ele; não podia fazer nada menos que isso. Sem dúvida, sua
convicção do amor do Mestre foi fortemente provada quando seu irmão

Lázaro faleceu, mas ela continuou a crer e, por —m, ungiu o Salvador
amado para seu sepultamento (Jo 12).
Foi decisão soberana de Deus operar na vida de Maria como ele vez,
convencendo-a do amor de Jesus, levando-a a ansiar por ele. Seu plano
para Maria era que ela se tornasse conhecida como uma mulher que o
adorou e fez a escolha certa. Se cremos em qualquer coisa, senão no
domínio soberano de Deus sobre nosso coração, não nos resta esperança de
transformação. Se Maria fez essas escolhas porque era uma pessoa melhor
que Marta, que esperança há para nós, que sabemos não ser assim tão bons?
O que será dos que sabem que têm uma adoração contaminada e não
detestam o pecado como deveriam? E quanto aos que nunca tiveram
constância na adoração a Deus? Os que foram educados como incrédulos ou
que são dominados por desejos habituais ímpios? Se con—amos em qualquer
coisa, senão na graça soberana de Deus, para nos transformar,
estamos condenados a uma vida de constante comparação e derrota. Deus
prometeu operar em nós. É sábio crer que o plano dele para nós é bom,
mesmo quando signi—ca que enfrentaremos di—culdades por algum tempo,
enquanto ele puri—ca nossos desejos. Como —lhos amados de Deus,
podemos descansar no fato glorioso de que ele é capaz de operar em nosso
coração de modo a nos levar a ansiar por ele acima de qualquer coisa. É
capaz de dirigir nosso coração para adorá-lo, tão certo como dirigiu o
coração de Marta.
O texto de Provérbios 21.1 diz: “O coração do rei é como a corrente de
águas nas mãos do SR[U\”; ele o dirige para onde quer”.12 Do ponto de
vista humano, ninguém tem maior poder para escolher livremente fazer a
própria vontade que um rei. Mas nem mesmo a autoridade de um rei
signi—ca coisa alguma quando se trata da escolha soberana de Deus. Da
mesma forma que Deus dirige o coração de homens poderosos, pode dirigir
seu coração para adorá-lo. Portanto, descanse nele e alegre-se em seu
grande amor e em seu poder e—caz. Ele é capaz de realizar a obra completa
em sua vida. Em vez de adorarmos Maria e outros que admiramos na
Bíblia, podemos adorar a Deus de todo o coração e lhe dizer: “Ele é muito
bom! Quero amá-lo como ele me ama”.

PARA REFLETIR
1. Quais são as três áreas de funcionamento do coração? De que forma
estão inter-relacionadas?
2. Quanta força de vontade e autodisciplina você tem?
3. Qual é a relação entre suas escolhas e seus desejos?
4. Você é capaz de identiAcar áreas em sua vida nas quais escolhe,
habitualmente, servir a Deus? A si mesmo? Que desejos motivam essas
escolhas?
5. Reescreva os seguintes versículos em suas próprias palavras e, em
seguida, use-os para orar ao Senhor. Suplique para que ele lhe conceda
desejos santos.
a. Salmos 63.1-5
b. Salmos 42.1,2
c. Salmos 73.25-28
d. Salmos 119.20,81
e. Salmos 143.6
f. Isaías 26.8,9
1São Paulo: Cultura Cristã, 2013.
2Jonathan Edwards, Freedom of the will (Morgan: Soli Deo, 1996), p. 1.
3Ibidem, p. 3.
4James M. Houston, org., Religious affections: a Christian character before God (Minneapolis: Bethany,
1996), p. xviii [edição em português: Afeições religiosas (São Paulo, Vida Nova, a ser publicado)].
5Jesus descreveu os fariseus com palavras de Isaías: “Este povo me honra com os lábios, mas o seu
coração está longe de mim” (Mt 15.8).
6Jonathan Edwards, Freedom of the will, in: Harry S. Stout; Paul Ramsey, orgs., e Works of Jonathan
Edwards, ed. rev. (New Haven/London: Yale University Press, 2009), vol. 1, p. 139.
7O objetivo principal deste livro não é convencê-lo do calvinismo nem do arminianismo. Sem dúvida,
se você segue uma dessas linhas, já sabe quais são minhas convicções. Contudo, é possível que, se
você não escolheu conscientemente procurar entender a questão e o conceito de livre-arbítrio, esteja
se perguntando por que resolvi falar sobre isso. Preciso tratar desse assunto aqui, pelo menos de
forma resumida, porque o conceito de livre escolha é fundamental para nossa discussão sobre
idolatria e, portanto, não pode ser deixado de fora, embora não seja meu propósito fazer uma
digressão.
8“Raça de víboras! Como podeis falar coisas boas, sendo maus: Pois a boca fala do que o coração está
cheio” (Mt 12.34). “O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois lhe são absurdas;
e não pode entendê-las, pois se compreendem espiritualmente” (1Co 2.14).

9Uma vez que muitos cristãos não entendem como a volição funciona, ou mesmo não sabem que têm
desejos con?itantes, ?cam frustrados quanto a seu crescimento e buscam respostas não bíblicas para
seu dilema.
10Somente Deus tem liberdade plena e absoluta para fazer o que deseja. “Mas o nosso Deus está nos
céus; ele faz tudo de acordo com sua vontade” (Sl 115.3). “O S faz tudo o que deseja, no céu e na
terra, nos mares e em todos os abismos” (Sl 135.6). Veja tb. 1Sm 3.18; Jó 23.13; Sl 33.9-11; 46.10,11; Dn
4.35; Mt 11.25,26; At 4.28; Ef 1.11; Fp 2.10,11. Tome nota do fato de que Deus faz o que quiser, o que lhe
traz prazer.
11Mesmo que essa alegria seja derivada de pena de nós mesmos ou de paz a qualquer preço, ainda
tem como origem o amor ao mundo, e é a alegria de fazer as coisas à nossa maneira.
12Veja tb. Ed 7.27,28; Ne 1.11; 2.4; Sl 105.25; 106.46; Pv 16.1, 9; 20.24; Dn 4.35; At 7.10; Rm 8.29; Ef 1.3,4.

10
RESISTINDO A
SEUS ÍDOLOS
... vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos (Ef 4.22,
NVI).
É difícil lidar com mudanças, não? Enquanto escrevo este texto, trabalhadores
escavam meu quintal. Embora eu tenha contratado seus serviços, é angustiante
vê-los destruir meu lindo gramado e espalhar terra para todo lado. AAnal, eu
gostava do meu quintal do jeito que era. Embora eu queira que esse trabalho
seja realizado, preciso confessar que detesto o processo de mudança. Preciso
Acar lembrando a toda hora
que quem causou essa bagunça toda fui eu mesma, e preciso lembrar que Acarei
mais feliz com o resultado do que estou agora, durante o processo.
Em alguns aspectos, o mesmo acontece com as mudanças que Deus opera em
nós. Todos os cristãos desejam ser transformados. Almejam ser santos. Você não
teria chegado a este capítulo do livro se não fosse sincero a respeito de seu
desejo de livrar-se de seus ídolos e desenvolver uma adoração pura. No entanto,
nos assustamos quando percebemos que essa mudança causará desconforto. Por
certo, em vários aspectos nossa transformação para a santidade é mais incômoda
que ver meu quintal ser destruído.
SANTIFICAÇÃO: O MÉTODO DE
TRANSFORMAÇÃO USADO POR DEUS
Um dos grandes pontos fracos do cristianismo moderno é a compreensão
equivocada de como a transformação se realiza no coração do crente. O Novo
Testamento se refere a ela como santiAcação. Ela é posicional e progressiva.
SantiAcação posicional é a mudança instantânea realizada em nós pelo Espírito

quando ele nos declara “santos e inculpáveis”. Nesse sentido, todo cristão é
plenamente santi—cado. Já a santi—cação progressiva é o processo lento de
mudança por meio do qual Deus transforma nosso coração à sua imagem e
semelhança. A santi—cação progressiva é o método usado por Deus para nos
tornar interiormente aquilo que já somos posicionalmente. O Espírito de Deus
trabalha em nós de forma bondosa, progressiva e incansável porque é de sua
vontade tornar-nos inteiramente amorosos e livres.
Contudo, não devemos imaginar que a santi—cação progressiva é como andar
de escada rolante. Ela não é uma ascensão diagonal em linha reta. Com
frequência, se parece mais com um rabisco de giz de cera do que com uma
trajetória precisa para o alto. Por vezes, teremos a impressão de que estamos
fazendo um grande progresso, e então nos veremos de volta onde começamos.
Precisamos lembrar que a santi—cação progressiva, assim como a santi—cação
posicional, está nas mãos de Deus, e que ele usará nossos sucessos e nossos
fracassos, nosso crescimento e nossas quedas para seus propósitos e sua glória.
Também precisamos entender que o progresso em santidade não é medido
por obras externas (o que começamos a fazer e o que paramos de fazer), embora
geralmente não —que aquém delas. A verdadeira santidade não é medida pelo
comportamento exterior, mas pelo amor interior por Deus e por nosso próximo.
Sim, esse amor produzirá mudanças em palavras e atos, mas não é medido
somente pela adesão a mandamentos como “não toques, não proves” (Cl 2.21).
Ele é de—nido mais adequadamente como “a fé que atua pelo amor” (Gl 5.6).
Embora Deus use meios diferentes para efetuar a transformação em cada um
de nós, o processo geral é o mesmo para todos os cristãos. Embora apareça ao
longo de todas as Escrituras, esse processo é descrito mais claramente em
Efésios 4.22-24 (NVI):
Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho
homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados na
atitude de sua mente e a revestir-se do novo homem, criado para ser
semelhante a Deus em justiça e santidade verdadeiras.
Você consegue identi—car os três passos que constituem o processo de
santi—cação progressiva? O primeiro é “despir-se do velho homem”. O segundo
é “serem renovados na atitude de sua mente”. E o terceiro é “revestir-se do novo
homem”. Em vez de considerar esses passos como sequenciais, sendo necessário

concluir um antes de começar o seguinte, veja-os como etapas simultâneas. Ao
mesmo tempo em que procuramos nos despir do velho homem, o Espírito
renova nossa atitude e nos capacita para que nos revistamos de novos hábitos
que reCitam a justiça e a santidade de Deus.
O método de mudança usado por Deus inclui aspectos negativos (despir-se
de...) e positivos (revestir-se de...), à medida que o Espírito transforma nossa fé,
nosso pensamento e nossos desejos. A verdadeira santiAcação é uma
combinação das duas facetas. Não basta, por exemplo, simplesmente deixarmos
de lado ou despir-nos da adoração a falsos deuses. Precisamos revestir-nos da
adoração e do amor ao Deus vivo enquanto nossas atitudes são renovadas pelo
Espírito.
Neste capítulo examinaremos o primeiro passo, “despir-se de...”, lembrando
que não se trata de uma equação matemática exata, mas sim de pinceladas de
um artista que retrata uma bela paisagem (como a que eu tinha no quintal).
COMBATER O PECADO ANTES
QUE ELE COMECE
O movimento inicial para despir-se do pecado consiste em lutar contra a
tentação assim que ela surge. Tornar-se mais consciente da origem e do
processo da tentação o ajudará a despir-se de hábitos idólatras antes de cair
neles.
O que é tentação?
A tentação é uma experiência comum a todos. Tanto Deus como Satanás
participam de nossas provações e tentações, embora com alvos muito diferentes.
Deus prova ou testa1 seus Alhos por causa de seu grande amor por eles. Seu
objetivo é fazer que eles adquiram conhecimento cada vez maior acerca do
caráter dele e que aprendam a conAar nele cada vez mais. A atividade de Deus
ao nos testar e provar nos conduz ao bem — ao nosso bem e à glória dele. Deus
nos testa para que saibamos que ele é verdadeiramente tão misericordioso
quanto aArma ser.
Já o objetivo de Satanás é o mal. Deus jamais nos conduz ao mal, pois ele
jamais nos instiga a desprezar sua glória e seu prazer. Satanás nos tenta para
nos levar a pecar. Ataca-nos com insinuações de que Deus não nos ama de fato,

de que não é verdadeiramente sábio nem poderoso. Então, depois que caímos
em suas mentiras, ele nos acusa e nos diz que Deus nunca nos amou de verdade
e que nossa queda foi tão grande, que já não há nada que possa levá-lo a nos
amar novamente.
A tentação do Diabo acontece em nosso coração em conjunto com as
inCuências do mundo e de nossa natureza carnal. As mentiras do mundo e
nossos pensamentos e desejos enganosos são instrumentos úteis nas mãos dele.
Satanás emprega duas armas poderosas para nos atacar: a primeira é o medo e a
segunda é o prazer. Ele nos tenta por meio do medo ao insinuar que a
obediência a Deus resultará na perda de algo que consideramos necessário para
nossa felicidade. Ao mesmo tempo, ele nos tenta por meio do prazer, ao mostrar
as alegrias decorrentes da desobediência. Ele nos assusta com pensamentos de
que Deus não é verdadeiramente bom e amoroso; atrai-nos com a ideia de que
o melhor a fazer é buscar qualquer meio possível para agradar a nós mesmos.
Mas não se engane: a tentação não coloca algo novo dentro de nós. Cedemos à
tentação de Satanás por causa dos desejos que já habitam nosso coração.
Vejamos três exemplos de tentação nas Escrituras: Judas, Pedro e Cristo. Os
três homens foram tentados, mas com resultados muito diferentes. Você sabe
por que a tentação de Judas e de Pedro terminou em pecado? Sabe por que
Cristo foi capaz de resistir? Entende por que você cai em algumas tentações
enquanto outras não têm atrativo algum?
A tentação de Judas
Satanás foi bem-sucedido quando tentou Judas porque o amor ao dinheiro fazia
parte do caráter de Judas.2 Ele já era idólatra. Amava o dinheiro mais do que
amava o Senhor. Portanto, não foi tão difícil trair Jesus por trinta moedas de
prata. Judas foi presa fácil para o ataque de Satanás porque seu amor pelo
Senhor foi ofuscado pelo amor ao prestígio e ao respeito que o dinheiro
proporciona. Como Raquel antes dele, sua idolatria foi uma armadilha que
acabou provocando sua destruição. Satanás plantou no coração dele o medo de
que Cristo jamais expulsaria os romanos e, ao mesmo tempo, o atraiu com
fantasias dos prazeres que as trinta moedas de prata trariam. Judas imaginou
que seria um homem digno de amor e respeito se conseguisse forçar Cristo a
tomar o reino para si. Ele creu na justiAcação por meio do poder e das riquezas.

A tentação de Pedro
Satanás foi bem-sucedido ao tentar Pedro porque o desejo de proteger-se e de
ser aceito já governava sua vida. Ele poderia ter resistido à tentação de negar
Jesus se estivesse realmente disposto a entregar a vida por ele, como havia
aArmado. A tentação de Pedro por Satanás foi eAcaz porque, embora Pedro
talvez estivesse disposto a morrer por Cristo, ainda não desejava sofrer por ele.
Satanás levou Pedro a temer a desaprovação que a lealdade a Cristo traria e, ao
mesmo tempo, o atraiu com o prazer de sua própria segurança. Pedro creu na
justiAcação por meio da segurança.
Por que Pedro não teve o mesmo Am que Judas, pendurado na ponta de uma
corda? Seu caráter era mais forte ou melhor? Pedro não caiu em desespero total
porque Jesus orou por ele. Embora sua fé fosse fraca, era impossível ele fracassar
inteiramente, pois estava protegido na mão do Senhor.
Simão, Simão, Satanás vos pediu para peneirá-lo como trigo; mas eu roguei
por ti, para que a tua fé não esmoreça; e, quando te converteres, fortalece teus
irmãos (Lc 22.31,32).
Não havia dúvida de que Pedro enfrentaria a investida de Satanás. Deus já
havia concedido a Satanás permissão para atacá-lo. Não havia dúvida que Pedro
cairia. Jesus conhecia o coração dele. Conhecia seus pensamentos e desejos (Jo
2.24,25). A menos que o Pai interviesse, Pedro escolheria livremente seguir sua
propensão mais forte, e pecaria. Jesus não se surpreendeu com a negação de
Pedro. Aliás, ele a permitiu para que Pedro crescesse em santidade. Você
percebe como Deus é gloriAcado até mesmo no pecado de Pedro, e nós
recebemos ânimo para nossa batalha?
A promessa de Jesus de guardá-lo em meio a seu fracasso já penetrou seu
entendimento? Você crê que, mesmo quando cair, sua fé não falhará
completamente? Embora você talvez venha a chorar amargamente por causa do
pecado, pode alegrar-se porque Deus é mais forte que seu coração (1Jo 3.19,20).
O Espírito tem poder para vencer seus maiores temores e seus prazeres mais
preciosos, mantendo-o em segurança.
A tentação de nosso Senhor

A tentação de Cristo por Satanás foi uma história diferente. Jesus jamais cederia
às tentações de Satanás, pois seu único desejo era agradar o Pai. Por isso ele
disse a respeito de Satanás: “Ele nada tem em comum comigo [...] faço aquilo
que o Pai me ordenou” (Jo 14.30,31). Satanás não encontrou nenhum ponto de
apoio no coração de Jesus. O único desejo de Jesus era agradar o Pai e alegrar-
se nele. Ele foi capaz de vencer Satanás porque tinha um coração sem pecado;
seus pensamentos e desejos, suas afeições e motivações tinham todos “o Arme
propósito” (Lc 9.51) de agradar a Deus. Jesus já havia vivido trinta anos em
completa submissão e amor a seu Pai. Não tinha temor algum em seu coração,
exceto de ofender o Pai a quem amava.
Meu Pai, se possível, afasta de mim este cálice; todavia, não seja como eu
quero, mas como tu queres (Mt 26.39).
Disse-lhes Jesus: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e
completar a sua obra (Jo 4.34).
Não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou (Jo
5.30; veja tb. Jo 6.38; 8.29; 15.10; Mt 3.17; 17.5).
Jesus não cedeu aos ataques de Satanás porque era inteiramente dedicado a
amar seu Pai. Não tinha medo de perder prazeres do mundo, pois não desejava
coisa alguma além da face sorridente de seu Pai.
A tentação no deserto
Alegre-se porque você não está sozinho em sua luta contra o pecado. Ao seu
lado há um Sumo Sacerdote que foi tentando como você e saiu vitorioso. Jesus
resistiu à tentação de Satanás no deserto de satisfazer sua fome porque amava
conAar na provisão de seu Pai. Ele não teve medo de morrer de fome nem de
Acar fraco demais para obedecer. Alegrou-se na força resultante de obedecer à
palavra de Deus. Resistiu à tentação de Satanás de lançar-se do alto de um
monte para testar o amor de seu Pai porque não precisava provar coisa alguma
para Satanás. Foi capaz de resistir à tentação de Satanás de adorá-lo, não
obstante a promessa de que receberia “todos os reinos do mundo e a glória
deles” (Mt 4.8). Triunfou porque não desejava coisa alguma que o mundo tinha
a oferecer: nem riquezas, nem fama, nem poder. Sabia que a felicidade se
encontrava apenas no sorriso de seu Pai. Não precisava justiAcar a si mesmo.

A segunda grande tentação de Cristo ocorreu no jardim do Getsêmani. Ali,
ele lutou com seus desejos santos de agradar seu Pai e ser um com ele. Jesus
sabia que, para satisfazer plenamente a vontade do Pai, teria de levar sobre si os
pecados do mundo. A doce união que havia tido desde sempre com o Pai seria
interrompida por um tempo, enquanto ele bebia do pecado que havia evitado a
vida toda. Sua alma deve ter se a)igido profundamente com a ideia de —car
separado de seu Pai. Se houve um momento em que ele foi tentado a temer,
deve ter sido ali no Getsêmani. Embora estivesse consciente da dor e tortura
físicas que o esperavam, seu tormento no jardim nasceu da consciência de que,
pela primeira vez em toda a eternidade, experimentaria o efeito —nal do pecado:
alienação de seu Pai. Deve ter sido uma perspectiva extremamente assustadora!
Percebe a compaixão e o socorro que lhe estão disponíveis? Você luta contra
desejos intensos de adorar outros deuses, mas são anseios leves em comparação
com o desejo santo com o qual Cristo se
angustiou ao encarar a separação que a cruz provocaria. Ele amava a união com
seu Pai.3 Almejava agradá-lo e dar-lhe alegria acima de todas as coisas. E, no
entanto, sacri—cou seu desejo a —m de poder agradá-lo supremamente e redimir
você.
Alegre-se, pois seu Salvador vitorioso está ao seu lado, pronto a ajudá-lo em
sua luta contra o pecado.
Porque naquilo que ele mesmo sofreu, ao ser tentado, pode socorrer os que
estão sendo tentados (Hb 2.18).
Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das
nossas fraquezas, mas alguém que, à nossa semelhança, foi tentado em todas
as coisas, porém sem pecado (Hb 4.15).
Você se tornará mais capaz de superar desejos pecaminosos? Sim, em parte,
mas não por força de vontade nem por autodisciplina. Você os vencerá somente
no poder de seu Salvador ressurreto e pela compreensão de sua justi—cação.
Você os vencerá pelas boas-novas do evangelho: o sangue de Cristo e o
testemunho da graça dele em seu favor (Ap 12.11). Sua justi—cação não
signi—ca apenas que Cristo não o considera mais culpado de seu pecado;
também quer dizer que ele transferiu para você o registro dele de vitória sobre a
tentação. Ele priorizou os desejos do Pai e venceu o medo em seu favor e —
louvado seja o Senhor! — esse é seu registro hoje, se você crer. Da mesma

forma que Cristo fortaleceu Pedro e guardou sua fé para que não lhe falhasse
completamente apesar de seu pecado, ele o fortalecerá, pois você é precioso para
ele, é sua noiva querida. Saber que ele não leva suas faltas em consideração
contra você e que o Pai não o acusa de ceder aos caprichos de Satanás é forte
auxílio em sua luta contínua. Sim, somos terrivelmente falhos, mas, ainda assim,
somos maravilhosamente amados.
O QUE VOCÊ É TENTADO A ADORAR?
Satanás consegue nos tentar porque temos pensamentos e desejos idólatras. Por
isso é tão importante ter consciência deles. Lembre-se de que o medo de perder
algo e as fantasias de prazer nascem de nossos desejos idólatras, e são esses
desejos que nos tornam presa fácil para nosso inimigo.
Podemos nos tornar mais conscientes dos pensamentos e dos desejos que nos
enredam ao perguntar: O que eu desejo e o que eu temo? Ou, mais
precisamente: O que eu desejo e o que eu temo mais do que eu anseio reCetir
Deus e crescer em santidade? Que prazer você deseja tão intensamente a ponto
de estar disposto a pecar para obtê-lo? Qual é a coisa que você teme perder a
ponto de não fazer caso do pecado para mantê-la?
Às vezes é difícil responder a essas perguntas de imediato, portanto vou lhe
dar um exercício que poderá ajudá-lo.
Pense na última vez em que você sabe que pecou. Trata-se de algo
importante, pois há uma relação entre seus deuses funcionais (ídolos) e seu
comportamento pecaminoso. Escolha um pecado no qual costuma cair com
frequência, como raiva, medo, entrega a alguma coisa errada que lhe dá prazer.
Anote essa situação.
Com ela em mente, peça para Deus ajudá-lo a responder às perguntas a
seguir. Procure não dar respostas de apenas uma palavra, que não sondem as
partes mais profundas de seus pensamentos, desejos e medos. Cada pergunta o
ajudará a entender sua idolatria, portanto não responda apressadamente. Antes,
em atitude de oração, peça a Deus, que conhece seu coração, para que lhe revele
seus “deuses funcionais”.4
1. O que você quis, desejou ou almejou?
2. O que você temeu? Com o que se preocupou?
3. De que pensou precisar?

4. O que suas estratégias e intenções visavam realizar?
5. Em quê ou em quem você creu?
6. Quem você tentou agradar? A opinião de quem levou em consideração?
7. O que amou? Detestou?
8. O que teria lhe dado maior prazer, felicidade ou deleite? O que teria lhe
causado maior dor ou infelicidade?
9. Lembrou-se do grande amor do Pai por você em Cristo?
10. Teve a convicção de que já estava perdoado, já era justi—cado e não precisava
de coisa alguma?
Permita-me dar um exemplo de minha vida que talvez o ajude a entender
como a idolatria funciona.5 Pouco tempo atrás, recebi de uma amiga o convite
para dirigir um estudo bíblico, além de meus trabalhos habituais como
professora. A pedido dela, —z o estudo com o grupo e apresentei o que, a meu
ver, era a essência da lição. Posteriormente, a mesma amiga que pediu minha
ajuda me criticou. Reagi com raiva pecaminosa, comentei com outras pessoas a
ingratidão e a ignorância dela, e —quei com um pé atrás em relação
a ela. Meus sentimentos oscilavam entre a superioridade (“Como ela ousa dizer
essas coisas a meu respeito?”) e a autopiedade (“Sou uma pessoa terrível. Nunca
vou mudar. Talvez deva desistir de lecionar.”).
A raiva pecaminosa era um problema habitual em minha vida, e dela Cuíam
os rios da autopiedade, da fofoca, da autocomplacência e do desespero. Vejamos
agora como eu poderia ter respondido às perguntas apresentadas acima.
1. O que você quis, desejou ou almejou? Eu quis a gratidão e a opinião favorável de
minha amiga. Quis que ela pensasse bem de mim. Busquei minha justi—cação
no serviço a ela.
2. O que você temeu? Com o que se preocupou? Temi que ela não gostasse de mim
e não me desse valor. Temi que não pudesse ser feliz sem seus elogios.
3. De que pensou precisar? Pensei precisar de respeito e honra. Estava tentando
obter sua aprovação.
4. O que suas estratégias e intenções visavam realizar? Em parte, estava tentando
servir ao Senhor, mas também estava tentando melhorar a opinião de minha
amiga a meu respeito.
5. Em quê ou em quem você creu? Cri que a aprovação dela me faria feliz.

Também conAei no Senhor para dar o estudo bíblico, mas esse não foi meu
foco principal, como minha reação deixou claro.
6. Quem você tentou agradar? A opinião de quem levou em consideração? A opinião
de minha amiga foi a coisa mais importante para mim. Estava tentando
agradá-la, mas percebo um conCito interior, pois também desejava ensinar a
verdade no estudo bíblico (que eu sabia que não a agradaria).
7. O que amou? Detestou? Amei ser respeitada. Detestei o fato de minha amiga
não ter me dado valor. Detestei a ideia de que talvez não fosse digna de amor
e respeito.
8. O que teria lhe dado mais prazer, felicidade ou deleite? O que teria lhe causado
mais dor ou infelicidade? A aprovação de minha amiga teria me dado grande
prazer, e Aquei profundamente chateada porque não a recebi. Dei à minha
amiga o poder de controlar minha vida ao transformá-la na fonte de minha
felicidade.
9. Lembrou-se do grande amor do Pai por você em Cristo? Não. Pensei apenas no
quanto precisava do amor de minha amiga. Busquei minha justiAcação por
meio do relacionamento com ela.
10. Teve a convicção de que já estava perdoado, já era justiAcado e não precisava de
coisa alguma? Não, especialmente quando me desesperei e imaginei que
nunca mudaria e que Deus certamente estava irado comigo.
Caí na tentação da raiva pecaminosa porque minhas motivações e meus
desejos não eram puros. Temi perder a opinião favorável de minha amiga.
Desejei respeito e louvor. Procurei justiAcar a mim mesma. Você percebe por
que não bastaria pedir a Deus que me perdoasse apenas por ter Acado brava
com minha amiga (embora fosse apropriado pedir perdão por isso)? Não
bastaria porque meu pecado era mais profundo que uma simples demonstração
exterior de raiva. Meu pecado estava arraigado na adoração falsa. Visto que
idolatrei a opinião de minha amiga a meu respeito, ela desempenhou o papel de
um deus em minha vida. Sou idólatra. Minha amiga teve poder de controlar
minha paz e alegria. Ansiei por sua bênção e temi sua maldição. Temi que não
poderia aprovar a mim mesma e que, na verdade, não era verdadeiramente
aceitável.
O MODO COMO A TENTAÇÃO OPERA

Analisemos agora, à luz de Tiago 1.13-16, como eu caí em pecado. Tiago
escreveu:
Quando tentado, ninguém deve dizer: Sou tentado por Deus, pois Deus não
pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado quando
atraído e seduzido por seu próprio desejo. Então o desejo, tendo concebido, dá
à luz o pecado; e o pecado, após se consumar, gera a morte. Meus amados
irmãos, não vos enganeis.
Embora Deus nos prove para desenvolver nossa santidade, não podemos
culpá-lo por nosso pecado. Escolho livremente pecar em reação a pensamentos,
desejos e temores que me governam. Deus tem domínio soberano sobre minha
vida, mas sou plenamente responsável por meu pecado e jamais posso culpá-lo.
Caí em tentação porque fui atraída e seduzida por meus desejos. “Como na
[...] pescaria o peixe é ‘atraído’ para fora de seu esconderijo, os desejos do
homem o ‘atraem’ para longe da segurança de seu domínio próprio.”6 Como um
peixe irracional, cedi à tentação quando fui confrontada com a minhoca gorda e
suculenta da felicidade que imaginei que experimentaria. O que conferiu poder
à tentação em minha vida? Meus amores, desejos e concupiscências!
Figura 10.1 — Quando o coração deseja agradar o ego

Reações pecaminosas que fluem de meu coração
quando cedo às tentações de Satanás:
• Autopiedade
• Raiva
• Autocomplacência
• Orgulho
Vejo agora como fui tentada a desejar ser benquista por minha amiga a Am de
me justiAcar. Satanás consegue me tentar a pecar quando interajo com essa
amiga porque valorizo excessivamente a opinião dela. Suas palavras me
controlam, pois imagino que preciso de sua aprovação para ser feliz. Em vez de
amá-la e servi-la, eu a temo e amo sua opinião favorável a meu respeito.

Quando surge uma oportunidade de estar com ela, meus desejos me tentam a
pecar. Creio equivocadamente que sua aprovação é análoga à aprovação de
Deus e à minha justiAcação absoluta. Então, quando o desejo alcança seu alvo,
concebe o pecado, e quando o pecado se consuma, gera a morte.
Fui enganada, e as raízes dessa ilusão se encontram nos desejos ou cobiças
que residem em meu coração. A ilusão diz que devo servir e agradar minha
amiga para ser feliz. A verdade é que preciso me preocupar com uma Plateia de
Um Só. Aqueles que “vivem diante de uma Plateia de Um Só podem dizer ao
mundo: ‘Tenho apenas uma plateia. Diante de vocês, não tenho nada a provar,
nada a ganhar, nada a perder’”.7 Se eu houvesse me apresentado para uma
Plateia de Um Só, poderia ter reagido de maneira mais piedosa à crítica de
minha amiga. Na Agura 10.2, observe como os desejos do coração podem
combater a tentação dupla de Satanás quando ela vem.
Judas caiu na tentação de trair Cristo porque desejava dinheiro, poder e
prestígio. Imaginou que só teria valor se Azesse parte do time que estava
vencendo. Raquel foi tentada a adorar ídolos e a ter raiva pecaminosa de Jacó
porque desejava o respeito e o amor que receberia se tivesse um Alho. Creu na
justiAcação por meio da maternidade. Eli caiu na tentação de mimar seus Alhos
porque desejava paz. A esposa de Ló caiu na tentação de desobedecer aos anjos
porque desejava os confortos de seu lar. Pedro caiu na tentação de negar Cristo
porque desejava proteger-se e ser benquisto. Creu na justiAcação por meio do
engrandecimento próprio e da segurança. Marta caiu na tentação de vociferar
sua queixa ao Senhor e se exasperar com sua irmã porque desejava ser vista
como boa anAtriã. Creu na justiAcação por meio da hospitalidade. Os fariseus
caíram na tentação de perseguir Jesus até a morte porque amavam ser
“cumprimentados em público” (Mt 23.7), gostavam “do primeiro lugar nos
banquetes” (Mt 23.6) e tinham inveja da popularidade de Jesus. E eu caí na
tentação de Acar com raiva de minha amiga porque amei minha própria glória
mais do que agradar a Deus.
Figura 10.2 — Quando o coração deseja agradar à Plateia de Um Só

Sou capaz de amar e servir Jane.
Sou capaz de refletir sobre suas críticas e reagir com amor.
“E NÃO NOS INDUZAS”
O que devemos fazer para resistir à tentação e começar a nos despir de nossa
idolatria habitual?
Devemos nos revestir da oração deliberada a respeito de nossos desejos e das

tentações que )uem deles. Nosso Senhor Jesus, que soube como lutar contra a
tentação, nos deu este conselho: “Portanto, vós orareis assim [...] E não nos
induzas à tentação, mas livra-nos do mal” (Mt 6.9,13; veja tb. Mt 26.41; Lc
11.4; 22.46). Quando oramos desse modo, não estamos pedindo que Deus não
nos tente, pois sabemos que jamais o faz. Estamos pedindo que ele nos guarde
de cair nas garras do pecado. Deus permite que nossa fé seja provada, mas junto
com cada provação ele concede uma saída para que jamais nos vejamos em uma
situação em que o pecado é a única possibilidade (1Co 10.13). Por isso,
podemos ter grande esperança em nossa batalha contra a tentação. Precisamos
nos revestir de oração especi—camente para sermos guardados de ceder a nossos
desejos e temores; para estarmos conscientes deles e armados contra eles
quando vierem; para recebermos ajuda de Deus quando formos confrontados
com eles. E devemos orar para
que Deus nos conceda desejos santos e o devido temor dele, e para que nos
capacite a crer que seu amor por nós não tem —m.
Jesus advertiu seus seguidores: “Vigiai e orai, para que não entreis em
tentação; o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26.41).8 Como —lhos
de nosso Pai, desejamos obedecer a Deus. No entanto, deixamos de lhe
obedecer porque somos facilmente atraídos por nossa natureza carnal (Rm
7.25). Somos fracos. Somos vulneráveis a ataques. A única forma de
combatermos com sucesso as tramas do Diabo é estarmos alertas e nos
dedicarmos à oração. Precisamos estar em guarda a —m de perceber as
armadilhas que poderiam ser usadas por nosso inimigo para nos enredar. Pedro
adverte seus leitores: “Tende bom senso e estai atentos. O Diabo, vosso
adversário, anda em derredor, rugindo como leão que procura a quem possa
devorar” (1Pe 5.8).
À luz do chamado de Deus para vigiarmos procurei ajudar você a entender
suas áreas de fraqueza. Satanás atingirá o cerne de sua idolatria. Ele observará
suas palavras e ações e saberá o que você anseia mais que santidade. Saberá o
que você teme. E o atacará nesses pontos. Ele o assustará e o levará a pensar
que jamais será feliz sem aquilo que deseja. Ele o atrairá com fantasias de
prazeres que você poderá experimentar se ceder ao pecado só desta vez. Ele o
lembrará de todos os seus fracassos e insinuará como é impossível que Deus
ainda o ame, como você já foi longe demais e, portanto, pode ir até o —m e

ceder. Então você cairá em pecado, a menos que esteja precavido por meio da
oração e da vigilância diligente.
DEUS SABE COMO LIVRÁ-LO
A Segunda Epístola de Pedro foi escrita para leitores que enfrentavam a
tentação de desistir diante de intensa perseguição e heresia. “O Senhor também
saberá livrar da provação os piedosos” (2Pe 2.9); essas são palavras do Espírito
Santo para nós por intermédio de Pedro. Ao lutarmos contra os ídolos em nosso
coração, também podemos estar certos de que Deus não se esqueceu de como
nos proteger. Precisamos permanecer vigilantes e orar, mas, no Am das contas,
cabe ao nosso Pai amoroso nos proteger e nos guardar. Ele pode nos livrar da
tentação e das tramas de Satanás, e, se cairmos, pode até mesmo nos trazer de
volta para ele, tudo para sua suprema glória e seu prazer.
Oremos com os puritanos:
Ó Deus, Autor de todo o bem,
venho a ti a Am de receber a graça necessária
para os deveres e acontecimentos de mais um dia.
Saio para um mundo perverso,
levo comigo um coração perverso,
sei que sem ti não posso fazer coisa alguma,
que todas as coisas com as quais me envolverei,
por mais inofensivas que sejam em si mesmas,
podem mostrar-se ocasião para pecado ou insensatez,
a menos que eu seja guardado por teu poder.
Sustenta-me, e estarei seguro.
Preserva meu entendimento da sutileza do erro,
minhas afeições, do amor a ídolos,
meu caráter, da mácula dos hábitos condenáveis,
minha proAssão, de toda forma de mal.
9
Peça ao Senhor que lhe conceda a sabedoria necessária para lutar contra a
tentação e colocar de lado a idolatria. Peça que ele lhe mostre os pensamentos e
desejos usados por Satanás para assustá-lo e atraí-lo, e as maneiras pelas quais o
inimigo acusa você e seu Pai. E, por Am, peça que ele o ajude a colocar de lado a
autossuAciência, o orgulho e a incredulidade que o impedem de vigiar e orar

com um coração atento.
PARA REFLETIR
1. Faça uma lista das diferenças entre as tentações de Judas e as de Pedro.
2. Por que Satanás não foi bem-sucedido ao tentar Cristo?
3. Deus nos tenta a fazer o mal? Por que ele nos testa e nos prova?
4. Qual é o objetivo de Satanás ao nos tentar?
5. Quais são os três passos da santiAcação progressiva?
6. Como a vitória sobre a tentação se encaixa no primeiro passo?
7. Quais são duas ferramentas que Satanás usa para tentar todos os crentes a
pecar? Quais são as ferramentas especíAcas usadas por ele em sua vida?
8. À luz da advertência de Cristo para permanecermos vigilantes contra a
tentação, com que você deve se preocupar de modo especíAco? De que
maneira você se revestirá de oração dependente e vigilante?
1Veja Gn 22.1,2; 2Cr 32.31; 2Co 12.9; 1Pe 1.5-7; Dt 13.3.
2Satanás também foi bem-sucedido porque Deus havia escolhido Judas para ser aquele que o trairia.
Satanás jamais tem sucesso em suas tramas perversas sem a permissão do Rei soberano do céu (veja Jó 1.6-
12; 2.1-6).
3Mt 11.27; 28.19; Jo 1.1,2; 5.17,23; 8.58; 14.9,23; 16.15; 17.10,21. Sua declaração, “Eu e o Pai somos um” (Jo
10.30) foi mais que a asserção de um fato. Foi uma a?rmação de sua natureza, de sua alegria, do propósito
de seu ser.
4Estas perguntas são adaptadas do texto de Dave Powlison “X-Ray questions: drawing out the why’s and
wherefore’s of human behavior”, e Journal of Biblical Counseling 18, n. 1 (Winter 2001): 2.
5Esse exemplo me ocorre com facilidade, pois, embora seja ?ctício, já me vi em situações muito
semelhantes em diversos momentos.
6Vine’s expository dictionary of Biblical words, banco de dados eletrônico (Nashville: omas Nelson, 1985).
7Os Guinness, e call: ending and ful0lling the central purpose of your life (Chicago: Moody, 1992), p. 77
[edição em português: O chamado: uma iluminadora reNexão sobre o propósito da vida e o seu cumprimento,
tradução de Elizabeth Charles Gomes (São Paulo: Cultura Cristã, 2001)].
8Veja tb. Lc 21.36; 1Pe 4.7.
9Arthur Bennett, e valley of vision: a collection of Puritan prayers and devotions (Carlisle: Banner of Truth
Trust, 1995), p. 118.

11
DESTRUINDO SEUS
FALSOS DEUSES
Se, pelo Espírito mortiAcardes as práticas
do corpo, vivereis (Rm 8.13).
Três meses após Israel ter sido libertado das mãos de seu inimigo egípcio,
Moisés subiu o monte Sinai para encontrar-se com Deus. Passados
quarenta dias, ele ainda não havia descido, e os Alhos de Israel Acaram
receosos e impacientes. Eles começaram a achar que Moisés havia morrido
e que agora estavam sem líder, esquecendo-se do Deus que os havia livrado
e sustentado no deserto. Por causa da incredulidade, imaginaram que sua
felicidade suprema dependia da presença de Moisés para livrá-los. Eles não
acreditavam que Deus fosse capaz de conduzi-los à Terra Prometida sem
Moisés. Assim, caíram em desespero; precisavam de um deus em que
pudessem conAar, que pudessem ver e sentir, como as divindades que
haviam adorado no Egito (Dt 32). Estêvão acertou em cheio quando disse:
“Em seu coração voltaram para o Egito” (At 7.39, NASB).
Os israelitas disseram a Arão: “Não sabemos o que aconteceu com
Moisés. Faça um Deus que nos conduza!”. Arão cedeu insensatamente e
respondeu: “Deem-me seus brincos de ouro”. Talvez ele temesse que os
israelitas impacientes Acassem irados ou se rebelassem contra ele. Talvez
tenha racionalizado que um pouco de idolatria seria melhor que rebelião e
deserção totais. Ou talvez estivesse preocupado com o paradeiro de Moisés
e tenha concluído que um pouco de ajuda de um deus mais tangível não
seria má ideia. De qualquer modo, derreteu as joias “e deu forma ao ouro
Ê

com um cinzel, fazendo dele um bezerro” (Êx 32.4). Os israelitas —caram
encantados de ter um deus visível, um deus no qual verdadeiramente
pudessem con—ar. Exclamaram: “Ó Israel, aí está o teu deus, que te tirou da
terra do Egito” (Êx 32.4). Pense na ironia: Moisés estava no monte
recebendo a lei enquanto Arão e os israelitas confeccionavam ídolos e
proclamavam: “Aí está o deus que te tirou do Egito”.
Moisés voltou mais que depressa do monte quando Deus lhe falou do
povo e de suas festas. Em ira terrível, despedaçou as tábuas da lei diante de
todos, uma representação clara daquilo que já haviam feito. Então, pegou o
ídolo, “o [...] pecado, o bezerro [...] [queimou-o] no fogo e o [esmigalhou],
moendo-o bem, até que se desfez em pó, o qual [jogou] no riacho que
descia do monte” (Dt 9.21).
Considere as diferenças entre Moisés e Arão. Arão se preocupou em
agradar os israelitas, por isso cedeu ao desejo deles de ter um deus que os
protegesse e os conduzisse. Sem dúvida, se justi—cou com considerações das
di—culdades da liderança. Como Moisés, é provável que tenha pensado em
sua incapacidade de liderar um grupo tão obstinado. Talvez tenha concluído
que, embora suas ações fossem erradas, eram desculpáveis. Seu desejo de
popularidade entre os israelitas resultou em grande pecado e perda para
muitos naquele dia.
Como Satanás conseguiu tentar Arão dessa forma? Ele não havia
acabado de testemunhar o grande poder e a providência de Deus? Satanás
usou o medo e o desejo de Arão. Assustou Arão com a ideia de que o povo
—caria descontente e se rebelaria; atraiu-o com
a ideia do prazer de ter popularidade, de ser um líder forte.
Moisés, que havia acabado de passar quarenta dias desfrutando a
presença de Deus, não pôde ser tentado depois disso com medo ou prazer
algum, pois conhecia a verdadeira alegria da comunhão com Deus e, por
isso, esmigalhou o ídolo e o transformou em pó.
Espero que, a esta altura, você tenha começado a identi—car os
pensamentos e desejos que desempenham a função de ídolos em seu
coração. Embora possam parecer santos, talvez o lugar de proeminência que
ocupam em suas afeições os tenha tornado idólatras. Talvez façam parte da

ordem criada por Deus, mas tenham sido distorcidos de algum modo; talvez
o mundo tenha lhe dito que você não pode ser feliz sem eles; ou talvez,
como Arão, você tenha se assustado ou sido atraído pela ideia de que um
pouco de idolatria, apenas nesse caso, é aceitável. De onde quer que esses
pensamentos e desejos tenham vindo, se tomaram o lugar de Deus em sua
vida, precisam ser eliminados.
Além de identiAcar sua falsa adoração e vigiar a esse respeito, é preciso
também identiAcar palavras e atos especíAcos que representem padrões
recorrentes de pecado resultantes da idolatria em seu coração. Talvez você
seja tentado a fofocar, a falar mal, a ser desonesto ou a Acar amuado. Talvez
se torne temeroso ou preocupado e se feche para outros. Ou talvez se
entregue a pecados da carne, como a gula, a embriaguez ou a imoralidade
sexual. Esses padrões recorrentes de pecado são resultado natural da lei dos
aspirais descendentes da idolatria. A idolatria nunca Aca sozinha por muito
tempo; sempre gera cada vez mais pecados. Ao identiAcar essas recorrências
por meio de oração e de esforço diligente você deve procurar eliminá-las.
Deixe-me mostrar como você pode fazê-lo. A Agura 11.1 é um
formulário que preenchi com base no problema com minha amiga, do qual
falei no capítulo anterior. (No Apêndice A você encontrará uma versão em
branco desse formulário para copiar e usar.) Abaixo, estão quatro perguntas
que respondi para entender melhor os resultados pecaminosos de idolatrar a
opinião de minha amiga.
1. O quê ou quem eu estava adorando? A opinião de minha amiga e minha
justiça própria.
2. O que eu desejei mais do que ser santa? Desejei que minha amiga tivesse
uma opinião favorável a meu respeito. Desejei ouvir suas palavras de
elogio.
3. Que mandamentos especíAcos desconsiderei? O primeiro mandamento: “Não
terás outros deuses além de mim” (Êx 20.3); O segundo grande
mandamento, pois não amei minha amiga da mesma forma que amei a
mim mesma? Pensei mal dela, em desobediência a Marcos 12.31; falei
mal dela para outros, em desobediência a 1Timóteo 3.11; preocupei-me,

em desobediência a Filipenses 4.6; tive raiva pecaminosa e, portanto,
desconsiderei Provérbios 29.8 e Tiago 1.19,20.
4. De que pecados especíAcos preciso me despir? De que devo me revestir? Preciso
me despir da idolatria, do amor egocêntrico, da justiça própria, da falta de
amor, da fofoca e da autocomplacência. Preciso me revestir da adoração a
Deus, do amor, de palavras corretas, de humildade, de autocontrole e da
confrontação apropriada.
Pense na circunstância que você considerou no capítulo anterior ou
escolha uma situação nova. Quais foram suas palavras e ações? Você bateu a
porta ou correu para a geladeira? Foi para o telefone e procurou a
solidariedade de um amigo? A cada ocorrência de um pensamento, de uma
palavra ou de um ato pecaminoso, é necessário pedir graça de Deus para
levá-lo ao arrependimento enquanto você procura mortiAcar
comportamentos pecaminosos ou despir-se deles e revestir-se de
comportamentos piedosos.
Como devemos tratar os ídolos que encontramos em nosso coração? É
assustador imaginar que, se lhes permitirmos exercer poder em uma área
pequena e aparentemente sem importância, sua inCuência e força crescerão
até que ameacem encobrir nosso amor por Deus. Como Paulo diz, pelo
poder do Espírito devemos mortiAcar as práticas da carne (Rm 8.13).
Devemos matá-las. Devemos queimá-las no fogo e depois pulverizá-las.
Não podemos nos aconchegar com elas nem imaginar que somos capazes
de usá-las para nos ajudar a sobreviver enquanto colocamos em ordem
nossa vida espiritual. São poderosas demais para brincarmos com elas.
Provérbios pergunta: “Pode alguém colocar fogo no peito sem queimar a
roupa?”.
Figura 11.1. Como identificar padrões pecaminosos e falsos deuses

Manhã Tarde Noite
Segunda-
Feira
Com raiva da
amiga porque ela
me criticou.
Falei com outros amigos a
respeito da ingratidão e
ignorância dela.
Pensamentos persistentes
a respeito das palavras
dela foram a última coisa
em minha mente antes de
pegar no sono.
Terça-
Feira
Preocupada porque ela
não entrou mais em
contato. Perguntei-me o
que ela estava pensando
e fiquei com raiva outra
vez.
Quarta-
Feira
Ensaiei em minha mente tudo o
que queria dizer para ela,
preocupada com o que ela pensa
de mim.
Quinta-
Feira
Saí para jantar e comi
demais porque estava
com pena de mim
mesma. Resolvi que
nunca mais ajudaria essa
amiga.
Sexta-
Feira
Ela telefonou
novamente e disse
as mesmas coisas,
mas também disse
que gostava de
mim.
Fiquei brava outra vez por causa
de suas críticas. Dei uma bronca
nela em minha mente. Lembrei-
me de todas as ocasiões em que
ela me criticou no passado.
Sábado
DomingoTorci para não ter
de falar com ela na
igreja. Saí às
pressas e bati com
força a porta do
carro.
CONFISSÃO E ARREPENDIMENTO
Como se mata um ídolo? Se conseguíssemos enxergar os ídolos, se eles
fossem peças sólidas de prata ou de ouro, saberíamos o que fazer.

Pegaríamos todos eles e os atiraríamos da janela mais próxima. Esses ídolos,
porém, existem em nossos pensamentos e em nossas fantasias. Sabemos que
estão lá porque produzem palavras e comportamentos pecaminosos. Como
nos livrar de algo que parece intrínseco a quem somos? O que nos dá ânimo
é o fato de que o Espírito de Deus, que sonda corações, está sempre
operando para nos iluminar e nos capacitar.
O ataque à idolatria e aos comportamentos pecaminosos que )uem dela
deve começar em várias frentes. A primeira batalha será travada no campo
da oração. Con—ssão e arrependimento sinceros e contínuos, conduzidos
pelo Espírito, são as únicas armas que podem enfraquecer as fortalezas
ocupadas por nossos pensamentos e desejos idólatras.
Meu marido e eu temos grande interesse pela Guerra de Secessão.
Quando viajamos, gostamos de descobrir e visitar campos de batalha. Para
nós, um dos mais emocionantes e fascinantes —ca em Gettysburg, no estado
da Pensilvânia. Talvez gostemos tanto de lá porque, numa das vezes em que
visitamos o local, tivemos o privilégio de chegar em 5 de julho e ver a
reconstituição do ataque das tropas comandadas pelo major general George
Pickett, subordinado ao general Lee. Essa batalha foi particularmente
importante porque, até aquela data, no terceiro dia de combate, tudo
apontava para uma vitória do exército confederado. No entanto, o general
Robert E. Lee subestimou a força de seu adversário e ordenou um
audacioso ataque em campo aberto contra a parte da linha inimiga que
parecia mais fraca. No entanto, o ataque foi um desastre. Uma vez que o
general da União, George Meade, ocupava o terreno mais elevado e tinha
seus soldados bem entrincheirados, não fez diferença milhares de homens
terem atacado com todo o empenho e coragem. O exército do norte não
recuou. Em 45 minutos, seis mil homens perderam a vida, enquanto ondas
sucessivas de soldados do sul corriam em direção a um pequeno bosque,
tentando encontrar o ponto fraco nas defesas do norte. Eles caíram diante
do fogo de canhões e fuzis antes de chegarem à frente inimiga. Naquele
dia, o general Lee cometeu um erro fatal: subestimou a força de seu inimigo
e recebeu informações equivocadas a respeito de suas chances de vitória.

A súplica que humilha o coração
O general Lee tinha convicção de que suas tropas eram fortes o suAciente
para derrotar o inimigo naquele dia. Ele era um homem corajoso, disposto a
correr os riscos necessários diante da possibilidade de mudar o rumo da
guerra naquele campo de batalha fatídico. Não lhe faltavam
comprometimento e bravura. O que lhe faltaram foram informações
corretas a respeito da força e das táticas de seu inimigo. Por causa de seu
erro, muitos homens pagaram naquele dia o que Abraham Lincoln chamou
de “a última medida cheia de sua devoção”.
A história do ataque de Pickett é signiAcativa porque, em certos aspectos,
assemelha-se ao que acontece quando tentamos mudar sem primeiro usar a
arma da súplica que humilha o coração. Podemos lançar contra nossos
inimigos entrincheirados todos os nossos livros de autoajuda, todas as nossas
boas intenções e todas as nossas resoluções, mas acabaremos cobertos de
sangue e desanimados, e bateremos em retirada. Somente o poder do
Espírito é capaz de nos ajudar a entender as forças de nosso inimigo e a
encontrar sabedoria para derrubar e destruir nossos ídolos. O Espírito
socorre aqueles que se humilham, reconhecem sua absoluta impotência e,
em seu desespero, clamam por ajuda.
A conAssão de nossa necessidade e de nosso pecado humilha o coração
naturalmente arrogante. Embora seja difícil humilhar-se, lembre-se de que
“Deus se opõe aos arrogantes, mas dá graça aos humildes” (1Pe 5.5).
Quando me coloco diante de Deus com orgulho presunçoso, não estou
buscando forças nele. Preciso reconhecer que Satanás, meu inimigo, é forte
e está bem entrincheirado e que, sem o auxílio do Espírito, cairei como
caíram os soldados de George Pickett. Não importa quanta força de
vontade eu tenha ou o quanto eu imagine que me tornei resistente; sem o
Espírito, estou condenado a fracassar. Somente quando eu entender minha
carência absoluta é que o poder divino se fará presente para me socorrer e
me transformar.
Adotar uma atitude de humilde conAssão abre a comporta para liberar
torrentes de graça sobre mim. Sei que Deus me concederá ajuda quando eu

me curvar diante dele e confessar que, sem a graça divina, sou incorrigível e
impotente. Nas palavras de Agostinho, “aquele que ocultar suas
transgressões não prosperará, mas aquele que as confessar e as renunciar
encontrará compaixão. A con—ssão fecha a boca do inferno e abre as portas
do paraíso”.1
Pense na reação de Raquel quando foi confrontada com o furto dos ídolos
de seu pai. Ela confessou seu pecado? Não, tentou encobri-lo (Gn 31.34).
Agora, pense no contraste com a con—ssão de Davi: “Pequei contra ti, e
contra ti somente, e —z o que é mau diante dos teus olhos; por isso tua
sentença é justa, e teu julgamento é puro” (Sl 51.4). A verdadeira con—ssão
não inventa justi—cativas nem tenta encobrir a culpa. Confessamos nosso
pecado porque ele é uma afronta ao Deus santo. Ao confessar, dizemos que
concordamos com o parecer de Deus acerca de nosso comportamento. Sua
avaliação de nossa conduta é correta e santa. É preciso que você primeiro se
veja como pecador para depois experimentar o consolo de um Salvador.
Como você deve confessar seus pecados? Da maneira mais exata possível.
Voltando à circunstância da qual tratei, eu poderia dizer: “Pai, eu te peço em
nome Jesus que perdoes meu pecado. Perdoa-me por ter outro deus diante
de ti. Perdoa-me por desejar a opinião favorável de Jane, e não a tua, por
desconsiderar a grande alegria da comunhão desimpedida contigo. Perdoa-
me por falar mal de minha amiga, por minha raiva pecaminosa,
preocupação e hipocrisia”. A con—ssão deve incluir não apenas o
comportamento exterior pecaminoso, mas também os desejos e os
pensamentos que instigam esse comportamento. Quando o Pai vê meu
coração humilhado diante dele, enche-se sempre de grande compaixão e já
prometeu perdoar meu pecado.
Graças às boas-novas do evangelho, posso descansar no fato de que os
braços de meu Pai estão sempre abertos para mim, e seu coração está
sempre disposto a amar e perdoar. Como parte de minha con—ssão, posso
reconhecer que, à medida que esse pecado me mostrou mais uma vez o
quanto preciso de um Salvador e o quanto recebi em Cristo, ele foi um bem.
Não que pecar em si seja bom, mas ao perceber o que —z e me arrepender,
até mesmo meu pecado, embora abominável, inspirará gratidão e amor

sincero pelo Pai que nunca me abandonará.
Arrependimento fervoroso
A conAssão é seguida de arrependimento. O arrependimento é uma graça
do Espírito de Deus por meio da qual nós, pecadores, somos interiormente
humilhados e visivelmente reformados. O verdadeiro arrependimento inclui
odiar o pecado, renunciá-lo e abrir mão de todos os projetos para nossa
própria salvação. Ao olhar dentro de meu coração vejo que, embora deseje
renunciar o pecado, com frequência não é porque eu o odeio. Geralmente se
deve ao fato de ele ser constrangedor ou incômodo. Anseio desenvolver um
coração que arda com verdadeiro arrependimento e, para isso, preciso
suplicar ao Pai que me conceda genuína aversão a meu pecado. Somente ao
odiar o pecado terei o desejo de lutar contra ele.
Ezequiel disse aos israelitas: “Convertei-vos e deixai os vossos ídolos;
desviai o rosto de todas as vossas abominações” (Ez 14.6). O
arrependimento não envolve apenas conAssão, dizer “sinto muito” ou “tudo
bem, o Senhor está certo”. Revestir-se de arrependimento implica o desejo
de abandonar aquilo a que éramos leais e crer que Deus continuará a nos
amar ao longo do processo. Implica a crença em seu amor incessante por
nós e arrependimento por imaginar que seu amor é como eu: incerto.
Nosso arrependimento nunca é perfeito, mas, se é sincero, Deus o
considera perfeito por amor a seu Filho.2 O arrependimento é sincero
quando entregamos a Deus nossos pensamentos, nossas fantasias e nossos
desejos mais preciosos e, como oferta ao Senhor, procuramos nos afastar
deles. Volto a dizer que esse arrependimento jamais será perfeito, ou mesmo
perfeitamente sincero, mas pela fé devemos oferecer nossos desejos ao Pai
que conhece nosso coração e se lembra de que somos pó.
FOME E SEDE DE JUSTIÇA
Jesus nos ensinou a levar o pecado a sério. Aliás, ele nos ensinou que
devemos odiar o pecado a ponto de estarmos dispostos a sermos privados
daquilo que parece essencial para a vida. Na luta contra a idolatria, você está

pronto a arrancar seu olho direito ou cortar sua mão direita? Quanta coisa
está disposto a renunciar para servir a Deus? Está pronto a pagar “a última
medida cheia de devoção”? O rei Davi declarou que não desejava sacri—car
ao Senhor aquilo que não lhe havia custado nada (2Sm 24.24).
Kay Arthur conta a história de um pastor chamado Hsi, que conheceu a
Cristo por intermédio do ministério de Hudson Taylor na China. Hsi era
viciado em ópio e, ao se converter, entendeu que teria de abrir mão de seu
vício. Depois de lutar durante vários dias contra as tentações de Satanás,
que incluíam o medo da dor ou da morte e o prazer que apenas uma tragada
de ópio proporcionaria, Hsi disse: “‘Diabo, o que você pode fazer contra
mim? Minha vida está nas mãos de Deus. Estou verdadeiramente disposto a
abandonar o ópio e morrer, mas não estou disposto a continuar em pecado e
viver’. Em seus momentos de maior sofrimento, ele gemia repetidamente
em voz alta: ‘Ainda que eu morra, jamais o tocarei novamente!’”.3 Você
precisará revestir-se desse tipo de arrependimento a —m de começar a
destruir seus ídolos. É uma luta violenta, pois seus ídolos e os pecados que
)uem deles lhe dão prazer — talvez tanto prazer quanto Hsi sentia com seu
cachimbo de ópio — e esses prazeres acalmam medos que encravaram as
garras profundamente em seu coração. Como Hsi, você precisa ser capaz de
dizer: “Talvez eu morra nesta luta, mas não estou disposto a continuar a
viver em pecado”.
Jesus falou a respeito desse tipo de desejo de santidade:
Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e joga-o fora [...] se a tua
mão direita te faz tropeçar, corta-a e joga-a fora
(Mt 5.29,30).
Precisamos arrancar e lançar fora os pecados que nos são mais queridos.
Precisamos nos privar de todos os desejos mais encantadores e vantajosos,
por mais inofensivos que pareçam, se descobrirmos que eles nos levam a
adorar outros deuses e a pecar contra Deus. Como Isaac Watts escreveu em
1707: “Todas as coisas vãs que mais me encantam, sacri—co-as por meio do
sangue dele”.4 Essas “coisas vãs” são os prazeres aos quais temos mais apego
e que se tornam nossos deuses mais facilmente.

De que você está disposto a abrir mão para se tornar santo? Que
pensamentos e desejos queridos você está pronto a depositar sobre o altar da
graça divina? O que você sacriAcaria para conhecer o Senhor, para ser
conformado à sua imagem e para experimentar a comunhão de seus
sofrimentos?
SEUS DEUSES ENCANTADORES
Depois que confessamos nosso pecado e nossa idolatria e nos arrependemos
deles, devemos nos afastar deles e procurar eliminá-los. Como em todos os
aspectos da santiAcação progressiva, somos capazes de fazê-lo apenas pelo
poder do Espírito Santo e pela fé na graça do evangelho. Devemos nos
afastar de nossa idolatria e pecado mesmo que, no início, signiAque nos
interrompermos no meio de uma ação. Mesmo que você tenha começado a
fazer fofoca, pode parar e dizer: “Eu não deveria estar falando dessa forma.
Por favor me perdoe” e depois mudar de assunto. Se você percebeu que
exagerou algo ao relatar uma história, pode parar e dizer: “Por favor me
perdoe. Acabei de mentir para você, e não quero pecar contra Deus. Na
verdade, o que aconteceu foi...”.
Talvez você esteja pensando: “É constrangedor e doloroso demais fazer
uma coisa dessas!”. Está vendo por que Jesus disse que vencer os pecados
que nos enredam é como arrancar um dos olhos ou cortar fora uma das
mãos?
Por vezes, para vencer a idolatria, teremos de fazer mudanças no local de
trabalho ou em nossos relacionamentos, cancelar cartões de crédito ou
desconectar a televisão ou a internet. Precisamos nos guardar do início do
pecado. Talvez tenhamos de mudar o caminho que tomamos para voltar
para casa, ou nos recusar a renovar a anuidade para realizar uma atividade
da qual gostamos. Onde quer que notemos ídolos se desenvolvendo,
teremos de nos afastar não apenas do pecado, mas da ocasião para pecar.
Também nesse caso, não signiAca que alguns desses prazeres não sejam
legítimos. A questão não é sua legitimidade, mas se somos enredados e
atraídos por eles.5
Sozinho, você não tem capacidade de fazer nenhuma mudança

duradoura. O poder do Espírito Santo realiza essa transformação. Por isso,
Paulo disse que devemos mortiAcar os feitos da carne pelo poder do Espírito
Santo (Rm 8.13). Ele é o único que tem força suAciente para nos afastar do
pecado e nos aproximar de Deus.
REVESTIR-SE DE OBEDIÊNCIA
A santiAcação progressiva é um processo constituído de três partes: despir-
se de algo, renovar a atitude por meio da crença nas boas-novas e revestir-
se de algo. Nossa adoração santa abrange obediência e louvor sincero.
Vimos anteriormente o que nos tenta a adorar da forma como fazemos e
como podemos destruir nossos ídolos ao nos revestirmos de conAssão e
arrependimento. Agora, reCetiremos a respeito de como podemos nos
revestir da adoração santa que almejamos.
Sempre que a Bíblia fala de despir-se de uma atividade pecaminosa,
também diz o que devemos colocar em seu lugar. Na Agura 11.2, você verá
alguns exemplos simples que ilustram esse princípio.
Figura 11.2 — Exemplos das Escrituras do princípio
de revestir-se de.../despir-se de...
Despir-se de... Revestir-se de...
Raiva Humildade, comunicação e serviço
(Ef 4.26,31,32)
Medo Temor a Deus e amor ao próximo
(Lc 12.4,5; 1Jo 4.18)
Roubo Trabalho dedicado e contribuição (Ef 4.28)
Palavras grosseirasPalavras gentis, edificantes e cheias de graça (Ef 4.29)
Preocupação Orações gratas e específicas e pensamentos disciplinados (Fp 4.6-9)
Na nota de rodapé há uma lista de referências que você pode usar para
descobrir de quais outras ações deve revestir-se.6
Deixe-me ilustrar esse processo com um exemplo. Maria era uma mulher
que lutava contra muitos medos, sendo o maior deles o medo de dirigir.

Embora suas duas Alhas precisassem que ela as levasse para atividades
esportivas e sociais depois da escola, Maria se recusava a dirigir na
autoestrada e ia bem devagar. Por causa disso, as Alhas sempre chegavam
atrasadas e, muitas vezes, não conseguiam participar de jogos e outras
atividades. Maria sabia que seu medo era errado, mas não sabia por que,
nem tinha ideia de como vencê-lo.
Figura 11.3 — Exemplos específicos do princípio
de revestir-se de.../despir-se de...
Despir-se de...Pensamentos
renovados
Revestir-se de... Ações específicas
Medo de dirigir
causado por
fantasias
pecaminosas e
pelo desejo de
se proteger.
Meditação na
promessa divina
de protegê-la e
guardá-la. Desejo
de agradar a Deus
e glorificá-lo.
Arrependimento e
confissão. Amor fiel a
Deus e a suas filhas que
sobrepuja seu medo de
calamidades. Louvor e
adoração.
Experiências gradativas de
dirigir na autoestrada. Ocupar
os pensamentos com a
bondade de Deus, ouvindo
cânticos de adoração
enquanto dirige.
Maria deu o primeiro passo de santiAcação progressiva nessa área quando
entendeu que seus temores eram pecaminosos. Ela havia permitido que suas
fantasias enchessem seu coração com ideias de calamidade. Não estava
mantendo os pensamentos voltados para a bondade e o amor de Deus por
ela. Esse medo ocupava um lugar importante dentro dela, pois seu coração
era governado pelo desejo de se proteger. Ela confessou ao Senhor seu
medo e seu desejo pecaminoso de se proteger. Começou a renovar sua
mente por meio do estudo de passagens das Escrituras a respeito do cuidado
paterno de Deus, de suas promessas de guardá-la e amá-la graças à obra
realizada por Cristo em favor dela. Mas não era suAciente. Maria precisava
começar a revestir-se de ações piedosas. Ao estudar 1João 4.8, “o perfeito
amor elimina o medo” e descobrir que, graças à salvação bondosa de Deus
ela não precisava temer castigo nem morte, ela começou a entender que
precisava amar suas Alhas mais do que temia acidentes. Esse amor lhe daria
poder para vencer o medo. Por amor às Alhas, ela começou a percorrer
trechos curtos da autoestrada enquanto enchia a mente com cânticos de
louvor ao amor de Deus. Com o passar do tempo, conseguiu percorrer

distâncias cada vez mais longas e descobriu que, embora fosse difícil dirigir,
era apenas mais uma oportunidade de se regozijar na bondade de Deus.
Esse processo pode parecer simples, mas não é simplista. É tão simples
que pode ser aprendido por crianças, mas é tão profundo, que Deus o
emprega para transformar o coração. Enquanto você passa por essas etapas,
lembre-se de que se trata apenas de um processo, e nada mais. Fique à
vontade para voltar às listas de despir-se de... e revestir-se de... na Agura 11.2
(e na nota 6) ou estude mais a esse respeito por sua própria conta.7
NÃO DESISTA
Nesse processo de santiAcação, teremos de resistir ao desejo de desistir e de
nos sentirmos arrasados ou de cairmos em desespero ao vermos nosso
pecado. Reconheça que a bondade de Deus nos conduz ao arrependimento.
Se Deus, em sua bondade, nos mostrou nosso pecado, seu amor é forte o
suAciente para nos transformar e continuar a operar em nós, apesar do fato
de que parecemos ser uma presa tão fácil para os desejos pecaminosos.
Como disse um puritano: “Acaso pecados perdoados nos afastarão daquele
que os perdoa?”.8
Embora a batalha pareça ser difícil (e é), você precisa se perguntar:
“Humilhação, conAssão, restituição, mortiAcação e diligência santa são
piores que o inferno?”.9 É isso que está em jogo em nossa luta. Mesmo
diante de nosso contínuo fracasso, podemos ter esperança de que “o Senhor
também sabe livrar da provação os piedosos” (2Pe 2.9). Deus sabe como
ajudá-lo. O Senhor Jesus foi adiante de você. Ele comprou sua liberdade,
puriAcou seu coração e sua consciência, deu-lhe poder do Espírito Santo e
guarda sua alma em segurança na mão dele. Ele pode livrá-lo de seu
pecado. Descanse e alegre-se nele.
Nessa graça imensa que nos foi concedida, ainda é nossa responsabilidade
buscar diligentemente a direção do Espírito Santo e lançar mão de todos os
meios da graça, especialmente dos sacramentos e da Palavra pregada.
Precisamos concentrar nossas energias na luta contra o pecado.
QUE NÃO COBICEMOS AS COISAS MÁS
Ê

Paulo ensinou aos coríntios que a história registrada em Êxodo não é
apenas uma narrativa interessante. Ele escreveu:
Essas coisas aconteceram como exemplo para nós, a —m de que não
cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. Não vos torneis idólatras,
como alguns deles, conforme está escrito: O povo assentou-se para comer
e beber, e levantou-se para se divertir [...]. Portanto, meus amados, fugi
da idolatria (1Co 10.6,7,14).
Ao re)etir sobre a idolatria de Israel, Paulo discerniu que todos os —lhos
de Deus, de todas as épocas, têm a propensão de afastar seu coração do
Senhor. Ele desejava que aprendêssemos com o pecado de Israel, que
meditássemos a seu respeito profundamente e víssemos o quanto somos
parecidos com os israelitas. Ele entendeu que “os homens precisam de um
objeto [de adoração] e, quando se afastam do Deus verdadeiro, almejam de
imediato um deus falso”.10 É absolutamente essencial mantermos nosso
coração —rmado em Cristo e reconhecermos que, embora ele esteja ausente
de nós aqui na terra, nosso Pai está nos guardando, protegendo, perdoando
e conduzindo.
Infelizmente, em várias ocasiões ouvi mulheres cristãs dizerem: “Eu sei
que Jesus está aqui comigo [...] mas preciso de algo mais. Preciso de um
deus de carne e osso, que eu possa sentir”. Entendo como é difícil e penoso,
às vezes, viver pela fé, à espera de Jesus Cristo, nosso Marido celeste.
Porém, quando ouço esses comentários, —co muito triste. Logo me vem à
memória a idolatria ao pé do monte, milhares de anos atrás.
Em Horebe, —zeram um bezerro
e adoraram uma imagem de fundição.
Assim trocaram sua glória pela imagem de um boi que come capim.
Esqueceram-se de Deus, seu Salvador,
que havia feito grandes coisas no Egito,
maravilhas na terra de Cam,
coisas tremendas junto ao mar Vermelho.
Ele havia decidido destruí-los,
mas Moisés, seu escolhido, intercedeu diante dele,

para evitar sua ira, de modo que não os destruísse (Sl 106.19-23).
Moisés ordenou a todos os que estavam do lado do Senhor que matassem
seus vizinhos idólatras. Esse é o grau de seriedade da questão da idolatria:
você deve estar disposto a aniquilá-la em seu coração. Foram os pecados da
idolatria, da salvação e justiAcação próprias e da incredulidade que mataram
seu Salvador na cruz romana. É preciso olhar com desprezo para “as coisas
vãs que mais [o] encantam” e empunhar a espada do Espírito. É preciso
revestir-se diariamente da crença na bondade de Deus e, diante dessa
verdade, ter uma atitude de conAssão e arrependimento e o desejo de
obedecer.
Você se esqueceu da bondade de seu Salvador? Esqueceu-se de que ele fez
grandes coisas ao livrá-lo das mãos de seu inimigo? Em caso aArmativo,
corra para seu bondoso Intercessor, Jesus Cristo, que está na brecha diante
de seu Pai, aquele que desviou de você a ira divina. Pela fé, você é capaz de
lidar com a idolatria presente em sua vida — pelo poder de Cristo e em
nome dele, poderá destruir seus ídolos e lançar fora seus falsos deuses. E, a
propósito, você tem um deus de carne e osso. O nome dele é Jesus, o Filho
Encarnado.
PARA REFLETIR
1. <omas Watson escreveu: “Em Adão, todos nós naufragamos e, uma vez
afundado o navio, o arrependimento é a única tábua que nos resta para
nadar até o céu”.11 Em sua opinião, o que Watson quis dizer?
2. Que passos precisamos dar para nos despir de nosso pecado e nos revestir
de santidade?
3. Escreva uma oração de humilde conAssão.
4. Por que a conAssão é tão importante?
5. Que passos especíAcos você precisa dar para se arrepender de sua
idolatria?
6. Você tem consciência de quais medidas precisa tomar a Am de arrancar
um dos olhos ou cortar fora uma das mãos? Que medidas são essas? O
quanto é importante para você crescer em santidade? O que você está
disposto a sacriAcar?

7. De que maneira a lembrança do amor imutável de Deus por você em
Cristo lhe dá coragem e fé para continuar a confessar e arrepender-se?
De que maneira o evangelho o capacita a ser transparente e humilde?
8. Depois de reCetir sobre um pecado constante especíAco, preencha o
quadro abaixo. Se você não sabe de que ações deve “se revestir”, consulte
a nota 6.
Figura 11.4 — Folha de exercício pessoal para revestir-se de... e despir-se de...
Despir-se
de...
Pensamentos renovadosRevestir-se de...Ações específicas



9. Alguns cristãos ensinam que o arrependimento e a conAssão devem
ocorrer apenas como primeiro passo na regeneração. Tertuliano, um dos
pais da igreja, aArmava que havia nascido com o único propósito de
arrepender-se. Qual é sua opinião? Por quê?
1Augustine, citado em omas Watson, e doctrine of repentance (Carlisle: Banner of Truth Trust,
1994), p. 34.
2“A perfeição é atributo divino; a nós cabe a sinceridade.” Richard Baxter, A Christian directory
(Morgan: Soli Deo Gloria, 1996), p. 67.
3Kay Arthur, Lord, only you can change me (Sisters: Multnomah, 1995), p. 141.
4Isaac Watts, When I survey the wondrous Cross, 1707.
5“Todas as coisas me são permitidas, mas nem todas são proveitosas. Todas as coisas me são
permitidas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas” (1Co 6.12). “Todas as coisas são
permitidas, mas nem todas são proveitosas. Todas as coisas são permitidas, mas nem todas são
edi?cantes” (1Co 10.23).
6Eis uma lista parcial de ordens expressas para revestir-se/despir-se de... adultério (Pv 5.15-23); raiva
(Ef 4.26-32); mudança de comportamento (Rm 6; 12; 13.14; Gl 5.19-23; 1Pe 2.11,12); depressão (Sl 32;
38; 51); embriaguez (Ef 5.18); palavras maldosas (Ef 4.25-32); inveja (Tg 3.13-18); medo (Mt 10.26-31;
1Jo 4.18); amor (1Co 13; Cl 3.5-17); mentira (Ef 4.25); renúncia (Lc 9.23,24); provações (Tg 1);
preocupação (Mt 6.25-34; Fp 4.6-9).
7As seguintes obras trazem explicações mais detalhadas desse processo de santi?cação e exemplos

especí?cos de revestir-se de... e despir-se de...: Jay E. Adams, e Christian counselor’s manual
(Zondervan) [edição em português: Manual do conselheiro cristão, tradução de João Bentes (São José
dos Campos: Fiel, c. 2006)]; e Christian counselor’s New Testament (Timeless Texts), Competent to
counsel (Zondervan) [edição em português: Conselheiro capaz, tradução de Odayr Olivetti (São José
dos Campos: Fiel, 2008)]; Wayne Mack, A homework manual for biblical living: personal and
interpersonal problems e A homework manual for biblical counseling: family and marital problems
(P&R); John MacArthur; Wayne Mack, Introduction to biblical counseling (W Publishing). A
organização Christian Counseling and Educational Foundation tem vários livretos excelentes,
disponíveis pela editora P&R Publishing ou em www.ccef.org
8Richard Baxter, A Christian directory (Morgan: Soli Deo Gloria, 1996), p. 66.
9Ibidem, p. 90.
10Arthur W. Pink, Gleanings in Exodus (Chicago: Moody, 1972), p. 316.
11Ibidem, p. 13.

12
TENDO PRAZER
EM DEUS
Um ato de adoração é vão e fútil
quando não vem do coração.1
Quando Davi levou para Jerusalém a arca de Deus que havia sido tomada
pelos Alisteus, ele o fez com grande fervor e alegria. Embora a primeira
tentativa tenha acabado em tragédia, com a morte de seu amigo (2Sm 6.5-
7), Davi não se continha de tanta felicidade com a ideia da volta da
presença de Deus a Israel:
E Davi dançava com todas as suas forças diante do SR[U\_ [...] Assim
Davi e toda a casa de Israel subiam trazendo a arca do SR[U\_ com
júbilo e ao som de trombetas [...] quando [Mical] viu o rei Davi saltando
e dançando diante do SR[U\_, ela o desprezou no seu coração (2Sm
6.14-16).
O rei Davi, um homem segundo o coração de Deus (1Sm 13.14), dançou
diante do Senhor de todo coração. Era precioso para ele estar próximo da
presença de Deus, e ele demonstrou sua grande alegria por meio de suas
ações. Estava cheio “das expressões mais intensas possíveis de alegria:
dançou diante do Senhor com todas as suas forças; saltou de alegria [...] Era
uma expressão natural de seu grande regozijo e da exultação de sua
mente”.2 Davi estava cheio de alegria e prazer porque ele e sua nação
voltariam a experimentar a proximidade de Deus.
Pouco tempo atrás, alguém me lembrou da profecia de Malaquias para
aqueles que temessem o nome de Deus (isto é, o adorassem e tivessem

reverência por ele). O profeta disse: “Vós saireis e saltareis como bezerros
soltos no curral” (Ml 4.2). Sempre morei na cidade, portanto nunca vi
bezerros saltando. Minha cachorrinha da raça lhasa apso, porém, tem esse
comportamento. Quando a soltamos depois de passar um dia inteiro dentro
de casa, ela corre pelo quintal a toda velocidade. Parece tão feliz de sair, que
suas pernas se enchem de energia e ela dá voltas e voltas.
Você alguma vez foi movido pela glória de Deus — por sua bondade,
santidade, gentileza e misericórdia — a ponto de seu coração explodir em
louvor? Pode imaginar-se enlevado de tal modo pela majestade de Deus, a
ponto de ter vontade de dançar? Davi sabia como era “[saltar] como
bezerros soltos no curral”.
Qual foi a última vez em que seu coração Acou “cheio de ações de graças”
(Cl 2.7)? O termo traduzido por cheio em Colossenses signiAca algo que vai
além do esperado, transbordante! Como seria irromper em louvor
fervoroso, e por que não o fazemos? Em resposta a essa pergunta, A. W.
Tozer escreve:
O cristianismo ortodoxo caiu a este nível tão baixo por causa da falta de
desejo espiritual. Entre os muitos que professam a fé cristã, mal existe um
para cada mil com sede intensa de Deus [...]. Temos medo dos extremos e
nos afastamos de manifestações muito ardorosas na religião, como se
fosse possível ter excesso de amor, excesso de fé ou excesso de santidade
[...] [Se você] se render à frigidez de seu ambiente espiritual [...] chegará,
por Am (e sem saber), ao cemitério da ortodoxia, e será condenado a viver
seus dias em um estado espiritual que pode ser descrito de modo mais
preciso como “a mais absoluta e pura mediocridade”.
3
ORTODOXIA FERVOROSA
4
Deus nos deu a capacidade de sentir e expressar emoções. Nossas paixões
podem ser despertadas pela beleza; nossas emoções são tocadas por música,
literatura e arte; podemos experimentar a mais profunda e trágica tristeza e
o mais elevado êxtase de alegria. Ele nos criou com a capacidade de
contemplá-lo, compreendê-lo (de modo limitado) e sentir prazer nele, para
que nosso coração transborde de belos pensamentos a respeito do grande

Rei (Sl 45.1). Ele nos deu a capacidade de criar, executar e nos deleitar com
música e poesia em nossa adoração — tudo isso para que nosso coração se
inclinasse mais para ele. A capacidade de nos alegrarmos em Deus reCete a
alegria e a exultação dele em si mesmo. Jesus Cristo se regozija com todos
os santos nos céus a respeito da glória de Deus: “Proclamarei teu nome a
meus irmãos, no meio da congregação cantarei louvores a ti” (Hb 2.12,
NASB).
VOCÊ VALORIZA, DE FATO, SUA ADOÇÃO?
Pouco tempo atrás, um casal que conheço adotou uma bebezinha chamada
Katelyn. Eles procuraram por ela e a trouxeram para casa sem coisa alguma
que a recomendasse (além do fato de precisar de pais). Ela dependia da
graça e do amor deles. Agora, como Alha deles, tem direito a todos os
privilégios e a todas as bênçãos que lhe cabem como membro dessa família.
Quanto a nós, que fomos adotados, Pedro diz: “Vós sois geração eleita
[...] povo de propriedade exclusiva de Deus [...] Antigamente, não éreis
povo; agora, sois povo de Deus; não tínheis recebido misericórdia; agora,
recebestes misericórdia” (1Pe 2.9,10). Deus nos tornou parte de sua família,
declarou que somos seus Alhos e nos concedeu todos os direitos e privilégios
associados a essa Aliação.
No momento, Katelyn não tem consciência da bênção que recebeu, mas
um dia se alegrará com ela. Seus pais saberão que ela está amadurecendo
quando ela começar a expressar gratidão pelo amor deles. De modo
semelhante, devemos exultar na graça de Deus ao nos adotar em sua
família.
Por que Deus nos adotou? De acordo com Pedro, foi para que
anunciássemos “as grandezas daquele que [nos] chamou das trevas para sua
maravilhosa luz” (1Pe 2.9). Você tem consciência de que foi chamado com o
propósito claro de proclamar as grandezas de Cristo? Seu coração
transborda de louvor pela graça e benevolência do Pai ao adotá-lo? Uma
forma de saber se seu coração está repleto desse tipo de louvor é prestar
atenção em suas palavras. O que você louva? Que espécie de palavra
transborda de seu coração? É difícil imaginar um coração repleto de louvor

se a boca não o proclama. “Pois a boca fala do que o coração está cheio” (Mt
12.34). Seu coração está cheio de ternos pensamentos acerca da bondade de
Deus? Então sua boca também estará.
Que a consciência da bondade e da graça de Deus nos cative a ponto de
nossas emoções serem aquecidas e nosso homem exterior (nossa boca,
nossas mãos e nosso corpo)5 reCetirem grande amor. Embora não devamos
buscar experiências emocionais de per si, não devemos desprezá-las
simplesmente porque outros as empregam indevidamente ou não seguem as
instruções de Deus acerca da adoração. Como seremos capazes de nos
despir da adoração a outros deuses se não formos completamente cativados
pela adoração ao Deus verdadeiro? A melhor forma de deter a idolatria é
aprender a ter grande prazer e alegria em Deus. Nosso coração só se
desapegará de seus ídolos pelo poder de um amor mais forte, o poder do
amor do Pai por nós no evangelho.
Nós nos divertimos fazendo bolos de lama; somos mornos em nosso
louvor porque não provamos a doce alegria da comunhão com Deus ou
porque nos esquecemos do regozijo que experimentamos quando
descobrimos que Jesus era amigo de pecadores. Jesus resistiu à tentação de
adorar Satanás porque conhecia o prazer do sorriso de seu Pai. Um dos
passos para vencer a idolatria é aumentar nossa compreensão do prazer de
sermos amados pelo ser mais cativante de toda a criação.6 “A adoração mais
vigorosa acontecerá no meio daqueles cuja mente contempla sem pressa a
luz da verdade e cujo coração — suas emoções — está tão próximo do fogo
de Deus quanto é possível chegar sem ser consumido.”7
LOUVANDO SEU DEUS
ReCita sobre as palavras dos puritanos a respeito do louvor e das afeições
santas:
Que lamentável esse crime capital do povo do Senhor: a aridez no louvor!
Ah, estou plenamente persuadido de que [...] uma hora de louvor vale
tanto quanto um dia de jejum e lamentação.
8
Louvar a Deus é um dos atos mais sublimes e puros de religião. Na

oração, agimos como homens; no louvor, agimos como anjos.
9
Nosso amor próprio pode nos levar a orar, mas o amor a Deus nos incita
a louvar.
10
Quer você seja adepto de cantar apenas salmos, ou apenas hinos, ou hinos e
cânticos, a verdadeira adoração deve envolver seu corpo e seu coração, que
abrange sua mente, suas afeições e sua volição. Nosso ser exterior, o corpo,
deve participar de algum modo: ao falar, cantar ou gritar; Acar em pé,
ajoelhar-se ou curvar-se (permanecer sentado nunca é a norma da adoração
nas Escrituras); com a cabeça curvada ou levantada, com mãos erguidas ou
batendo palmas. Reconheço que simples posturas exteriores não são
antídoto para louvor insincero (Mc 7.6,7), mas as Escrituras sempre
associam uma atividade do corpo ao coração cativado pela glória de Deus.11
Em Desiring God [Desejando Deus], John Piper escreve que a verdadeira
visão de Deus em conjunto com o poder viviAcador do Espírito Santo
resultará no aquecimento das afeições piedosas. Diz, ainda, que o “calor de
nossas afeições [produz] adoração vigorosa, que irrompe em conAssões,
anseios, aclamações, lágrimas, cânticos, gritos, cabeça curvada, mãos
erguidas e vida obediente”.12
Volte às palavras de Piper: adoração vigorosa [...] conAssões, anseios,
aclamações, lágrimas, cânticos, gritos, cabeça curvada, mãos erguidas e vida
obediente. Sua adoração a Deus inclui esses elementos? Pense em ocasiões
que tocam suas emoções e seu corpo. Você torce sem acanhamento no jogo
de futebol, chora comovido durante um Alme ou dá gargalhadas com uma
peça teatral, mas permanece indiferente diante do Rei do Universo? Não se
comove em seu louvor porque considera inapropriado expressar emoções no
culto? Acredita que a emoção em si é pecaminosa? É verdade que ela pode
ser. O zelo pode se misturar com orgulho e paixão e produzir corrupção.
Isso não signiAca, porém, que devemos desprezar as emoções zelosas.
Antes, devemos moderá-las e examiná-las. Algumas das perguntas que
devemos fazer são: Estou buscando um êxtase emocional per si? Estou
desfrutando Deus neste culto, ou estou apenas desfrutando uma elevação de
minhas emoções? Meu zelo e minha paixão se devem à majestade de Deus?

A adoração bíblica certamente parece despertar zelo e emoções:
Ó minha alma, bendize o S•[U\”,
e todo o meu ser bendiga seu santo nome (Sl 103.1).
Meus lábios, assim como a minha vida, que remiste, exultarão quando eu
cantar teus louvores (Sl 71.23).
Assim eu te bendirei enquanto viver;
em teu nome levantarei as minhas mãos [...]
a minha boca te louva com alegria nos lábios (Sl 63.4,5).
Converteste meu pranto em dança,
tiraste meu pano de saco e me vestiste de alegria;
para que eu te cante louvores e não me cale.
S•[U\”, meu Deus, eu te louvarei para sempre (Sl 30.11,12).
O S•[U\” é a minha força e o meu escudo;
nele meu coração con—ou, e fui socorrido;
por isso meu coração salta de prazer,
e eu o louvarei com meu cântico (Sl 28.7).
Mas alegrem-se os justos, regozijem-se na presença de Deus
e se encham de júbilo.
Cantai a Deus, cantai louvores ao seu nome!
Louvai aquele que cavalga sobre as nuvens,
pois seu nome é S•[U\”; exultai diante dele! (Sl 68.3,4).
13
Eu me regozijarei muito no S•[U\”,
a minha alma se alegrará no meu Deus (Is 61.10).
14
Esses versículos e muitos outros ordenam que adoremos a Deus de
maneiras que expressem gratidão profunda, anseio por ele e alegria pela
salvação e por sua graça imensurável pelos pecadores. A gratidão, o anseio e
a alegria devem transbordar de nosso coração, levando-nos a louvar a Deus
por seu caráter e por sua natureza. Não temos liberdade de louvar a Deus
da forma que nos parecer melhor. Devemos adorá-lo conforme suas
prescrições. Deus nos disse como devemos louvá-lo: com tudo o que há em
nós, com gritos de alegria, com cânticos de gratidão e júbilo, com rosto e
mãos erguidos!15
Acaso nós, que conhecemos a misericórdia da redenção, não devemos ser

mais repletos de louvor que os anjos, que o adoram desde o princípio do
tempo? Deus relata como “as estrelas da manhã cantavam juntas e todos os
Alhos de Deus gritavam de júbilo” (Jó 38.7). Quanto mais nós, que fomos
perdoados, redimidos, adotados e feitos herdeiros do reino não devemos
gritar de alegria? De fato, os céus estão cheios de louvor (Ap 19.5-7), e as
coisas inanimadas se comovem diante dele (Is 6.4; Lc 19.40). Essa adoração
expressiva é o ambiente de Deus. O céu é cheio de orações e louvores, e
passaremos a eternidade cantando e nos alegrando na magniAcência
divina.16
RETRATOS DO NOSSO CORAÇÃO
No sul da Califórnia, EUA, onde moro, é comum formar-se uma camada
de nebulosidade vinda do mar, que os moradores daqui chamam “nuvens
negras de junho”. Na verdade, trata-se de um nevoeiro espesso que se
forma no litoral e se desloca, de tempos em tempos, para o interior,
especialmente no mês de junho, época em que os turistas chegam e se
perguntam o que aconteceu com o sol. Sem dúvida um meteorologista seria
capaz de explicar o que causa esse fenômeno. A maioria de nós que
moramos aqui, porém, simplesmente convive com ele.
Para muitas pessoas, o mesmo acontece com suas emoções. Expe-
rimentamos medo, alegria, tristeza, depressão e raiva sem entender
sua causa. Para muitos, pode parecer que essas emoções se formam no ar
algumas manhãs e, em outros momentos, se dissipam sem motivo aparente.
Embora a forma como experimentamos emoções pareça confusa, elas não
são assim tão ambíguas. Em termos simples, as emoções são espelhos do
nosso coração. Elas revelam nossos pensamentos, nossas intenções e o
modo como avaliamos as circunstâncias. Nossos medos, tristezas e alegrias
são as formas pelas quais experimentamos vividamente os resultados de
nossos pensamentos e desejos. Se você está vivenciando determinada
emoção, geralmente é porque guarda em seu coração sentimentos ou
desejos que dão origem a ela.17 Por exemplo, se você se sente triste,
geralmente é porque seus pensamentos ou desejos foram decepcionados de
algum modo. A maneira como você reage às provações ou bênçãos da vida é

a causa principal das emoções que experimenta todos os dias. Se você tem
vontade de pular de alegria, também se deve ao fato de seus pensamentos e
desejos estarem satisfeitos. Nossos sentimentos operam em conjunto com as
afeições, a mente, a volição e a consciência.
Não exercemos controle direto sobre nossas emoções; antes, elas Cuem de
nosso coração. É ridículo levantar-se pela manhã e dizer: “Hoje estarei
feliz” ou “Hoje estarei com raiva”, pois não é dessa forma que as emoções
funcionam. Elas reagem a nossos pensamentos interiores e os reCetem, e
somente ao voltarmos esses pensamentos para a bondade, a gentileza e o
amor de Deus descobriremos alegres louvores brotando de nosso coração.
Suas emoções são aquecidas por pensamentos acerca da majestade de Deus
ou da gentileza e da proximidade dele? Se seus pensamentos e desejos
forem consumidos por ele, suas emoções reagirão de forma condizente. Se
suas emoções nunca são tocadas, é necessário perguntar se você vê Deus
como ele declarou ser: seu amoroso Pai Celeste e seu Ael Noivo Celeste.
MEDITANDO A RESPEITO DELE
O alegre louvor nasce da meditação na misericórdia, graça, grandeza,
justiça e bondade de Deus. Nas palavras de Piper, “Deus certamente é mais
gloriAcado quando nos deleitamos em sua grandeza do que quando somos
tão indiferentes a ela, a ponto de mal sentirmos coisa alguma”.18 Se você
tem diAculdade em “deleitar-se na grandeza de Deus” ou em “transbordar
de gratidão”, talvez seja porque ele não ocupa seus pensamentos e desejos.
Com que frequência você medita sobre a misericórdia ou a bondade divina?
Se anseia adorar de todo o coração, pode despertar suas emoções ao meditar
no bondoso amor dele por você.19 Revestir-se de adoração pura inclui
meditar na bondade dele.
Agora, pense comigo na graça de Deus em sua vida: Quem é ele para
você? O que ele fez por você? De que maneira ele o amou? A lista das
bênçãos concedidas ao crente apresentada por Paulo em Efésios 1.3-14
deve tocá-lo a ponto de fazer seu coração irromper em louvor por todos os
benefícios que você recebeu no evangelho:

• Deus o abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais,
em Cristo.
• Escolheu-o para ele antes da fundação do mundo.
• Em Cristo, tornou-o santo e inculpável diante dele.
• Em amor, o predestinou para si mesmo, para ser seu Alho adotivo por
meio de Jesus Cristo, conforme a boa determinação de sua vontade, que
ele lhe concedeu gratuitamente no Amado.
• Nele, você tem a redenção pelo sangue de Cristo, o perdão dos pecados,
segundo a riqueza da graça divina.
• Ao dar-lhe sabedoria e prudência, ele o fez conhecer o mistério de sua
vontade, segundo sua boa determinação.
• Nele, você obteve uma herança.
• Foi selado com o Espírito Santo da promessa, concedido como garantia
de sua herança.
• Você se tornou propriedade pessoal de Deus, ternamente amado por
ele.
Se a lista acima não o tocou, volte a cada um dos itens e use eu em lugar
de você. Consegue sentir a mesma alegria e a gratidão
que Paulo sentiu ao escrever essa belíssima passagem? Você sabe por que
Deus fez tudo isso por você? Nos versículos 12 e 14 Paulo diz que foi “para o
louvor da sua glória”. Qual foi o propósito de Deus ao escolher, adotar,
redimir, perdoar e iluminar você? Ele fez tudo isso para que você irrompesse
em amoroso louvor da sua glória! Você vive para louvar a glória da graça
divina? Esse louvor Cui de seu interior?
Matthew Henry escreve: “Devemos viver e nos comportar de modo que a
graça copiosa de Deus seja engrandecida e pareça gloriosa e digna do mais
sublime louvor”.20 Outro comentarista observa que “o Am magníAco de sua
predestinação consiste no louvor da glória de sua graça por todas as suas
criaturas”.21 Albert Barnes declara, ainda, que “todas as coisas” realizadas
pela eleição são apropriadas para estimular o louvor.

Deus escolhe pessoas para serem santas, e não pecadoras; para serem
felizes, e não infelizes; para serem puras, e não impuras; para serem
salvas, e não perdidas. Por estas coisas ele deve ser louvado [...]. Se
houvesse escolhido apenas uma pessoa para a vida eterna, essa pessoa
deveria louvá-lo, e todo o santo universo deveria participar da adoração
[...]. Muitíssimo mais louvor é devido a ele, visto que o número de
escolhidos não é um, nem uns poucos, mas milhões que homem nenhum
pode contar, eleitos para a vida.
22
Percebe como Deus o tratou com bondade? Ao aproximar-se dele,
exultando com essa bondade, você experimentará a renovação da alegria
concedida somente aos verdadeiros adoradores. Não tenha medo de se
regozijar em Deus por aquilo que ele fez. Não seja tolo de pensar que ele só
deseja que você se regozije por causa de quem ele é, sem qualquer interação
pessoal. Sua natureza nos é revelada principalmente por meio daquilo que
ele fez por nós! Ele é misericordioso? É amoroso? É repleto de paciência e
perdão? Como você sabe?
Para João Calvino, a adoração e o amor fervorosos nascem da
compreensão dos benefícios de Deus. “Piedade é reverência combinada com
amor a Deus, que o conhecimento de seus benefícios induz [...] a menos
que —rmem sua completa felicidade nele, jamais se entregarão verdadeira e
sinceramente a ele.”23 Em outras palavras, se não soubermos que nossa
total felicidade e alegria se encontram em Deus, jamais nos aproximaremos
dele em adoração e obediência. Não precisamos mais nos justi—car nem
tentar projetar uma boa aparência. Fomos completamente justi—cados. A
salvação divina é absolutamente completa. De acordo com Piper, “para
honrar a Deus em nosso culto, não devemos buscá-lo com desinteresse, por
medo de obter alguma alegria na adoração e, com isso, depreciar o valor
moral do ato. Antes, devemos buscá-lo como a corça sedenta busca o riacho,
justamente pela alegria de vê-lo e conhecê-lo!”.24
Ao procurar despir-se da adoração idólatra e substituí-la por obediência,
você terá de revestir-se de um coração que valoriza, ama, celebra e se alegra
na beleza, bondade, santidade e majestade de seu Rei. Todos os outros
deuses e suas promessas incertas empalidecerão quando comparados com a

grandeza e a glória do Senhor. O coração abarrotado de pensamentos de
beleza, bondade, santidade, majestade, glória e graça de Deus não tem
espaço para falsi—cações medíocres e, inevitavelmente, irromperá em
louvores fervorosos.
Seu coração é continuamente atraído a adorar outros deuses? Em caso
a—rmativo, seu foco tem sido as alegrias e prazeres do mundo? Você tem
uma imagem clara da grandeza de Deus e da bênção de ter comunhão com
ele pela graça? Mesmo quando você erra? Especialmente quando você erra?
Lembre-se de que os puritanos, ao de—nirem os deveres exigidos no
primeiro mandamento, dizem que devemos “adorá-lo e glori—cá-lo como tal
[...] [ao] adorá-lo, escolhê-lo, amá-lo, desejá-lo [...] deleitando-nos e
regozijando-nos nele; ter zelo por ele; invocá-lo, dando-lhe todo louvor e
agradecimentos”.25 Essas palavras descrevem uma reação tanto intelectual
como emocional diante do amor de Deus. Como você poderá dar a Deus
todo o louvor e toda a gratidão, se seu coração não se alegra com a bondade
e benefícios que ele concede? Não se engane: alguma coisa você já está
adorando fervorosamente. Da mesma forma que Adão, Deus o criou com
capacidade de adorar; resta saber qual é o foco dessa adoração. Deus criou
Adão para sua glória, para que sua glória fosse revelada por meio do louvor
e da adoração de Adão.
Você descobrirá que a obediência se tornará mais agradável quando seu
coração estiver voltado para o amor de Deus por você e para seu amor por
ele em reciprocidade. Despir-se da raiva, por exemplo, se torna mais fácil
para mim quando medito sobre a bondade do Senhor. Quando sou tentada
a pecar por raiva, parte do processo de me revestir da ação correta consiste
em trazer à memória por meio de cânticos a graça e o perdão divinos. A
obediência lhe será mais agradável quando for alegre. De modo
correspondente, sua adoração se acenderá quando você se recordar de como
Deus o amou e quando procurar agir em função desse amor.
Não sou poetisa, mas sou grata pelo dom da escrita de alguns cristãos. Em
alguns hinos, encontro palavras que meu coração pensou, escritas de uma
forma que o leva a arder de amor. Quando estou lutando contra meus falsos
deuses, contra os desejos do mundo que procuram cativar meu coração, sou

confortada e fortalecida por palavras como estas:
Como é possível que eu tenha
benefício no sangue do Salvador?
Acaso morreu por mim, que causei sua dor,
por mim, que ele até à morte buscou?
Maravilhoso amor! Como é possível,
que tu, meu Deus, morresses por mim?
Maravilhoso amor! Como é possível,
que tu, meu Deus, morresses por mim?
Deixou o trono celeste de seu Pai
tão generosa e inAnita sua graça,
esvaziou-se de tudo, exceto do amor,
e sangrou pela raça desamparada de Adão:
tudo é misericórdia, imensa e generosa,
porquanto, ó meu Deus, ela me encontrou!
Tudo é misericórdia, imensa e generosa,
porquanto, ó meu Deus, ela me encontrou!
Por longo tempo meu espírito permaneceu cativo,
preso Armemente ao pecado e às trevas da natureza;
teu olho difundiu um raio viviAcador,
despertei, o calabouço ardendo em luz;
minhas cadeias caíram, meu coração foi liberto,
levantei-me, parti e te segui.
Minhas cadeias caíram, meu coração foi liberto,
levantei-me, parti e te segui.
Agora não temo condenação alguma;
Jesus e tudo nele me pertencem;
estou vivo nele, minha Cabeça viva,
revestido de justiça divina,
do trono eterno com ousadia me aproximo,
e recebo a coroa que, em Cristo, me pertence.
Do trono eterno com ousadia me aproximo,
e recebo a coroa que, em Cristo, me pertence.
26
REVESTINDO-SE DA

VERDADEIRA ADORAÇÃO
Neste capítulo, incentivei-o a revestir-se da verdadeira adoração. Além da
alegria que toma conta de seus louvores, essa adoração também deve movê-
lo a uma atitude de grato amor por seu próximo.
Deus procura adoradores (Jo 4.23) porque seu plano é nos transformar
naqueles que experimentam a alegria indescritível da adoração inteiramente
rendida a sua pessoa e a sua presença, do amor intenso e da reverência
cheia de admiração por elas e do deslumbramento maravilhado com elas.
Em nossa adoração, e no poder transformador de Deus, ele é gloriAcado, se
alegra e permite que desfrutemos os prazeres que ele nos concedeu para
sempre. Ele assumiu o compromisso de nos transformar, de idólatras servis,
temerosos e cheios de raiva, em Alhos felizes, que brincam no jardim de
seus deleites, tudo para sua glória suprema e para nosso prazer. Que em
todas as nossas ações procuremos nos sujeitar humildemente à obra de Deus
e adorá-lo com fervor, reCetindo para ele e para o mundo ao nosso redor a
excelência de sua graça gloriosa.
PARA REFLETIR
1. Releia os seguintes versículos e preste atenção em por que e como os
Alhos de Deus recebem a ordem de adorar: Salmos 7.17; 9.1,2; 21.13;
30.1-4; 33.1-3; 66.1-5; 146.2; 149.1-3.
2. Anote a letra de seu hino ou cântico predileto. Em que aspectos ele toca
seu coração? Que expressões falam ao seu espírito e despertam suas
emoções?
3. Escreva uma oração para que Deus avive seu coração para afeições santas
e o livre de todos os ídolos.
4. Em quatro ou cinco frases, escreva as principais verdades que você
aprendeu neste estudo.
1John Piper, Desiring God: meditations of a Christian hedonist (Sisters: Multnomah, 1996), p. 79
[edição em português: Em busca de Deus: a plenitude da alegria cristã (São Paulo: Shedd, 2008)].
2Matthew Henry’s commentary on the whole Bible: new modern edition, banco de dados eletrônico
(Peabody: Hendrickson, 1991).

3A. W. Tozer, e root of the righteous (Camp Hill: Christian Publications, 1955), p. 56. Talvez você
esteja pensando: “Tudo bem, Elyse, isso é ótimo para os mais extrovertidos ou expressivos, mas não
faz meu gênero”. Ainda que seja o caso, Edwards lhe diria que as pessoas cujas afeições são impelidas
por sua personalidade ou temperamento não têm garantia alguma de que estão
sendo movidas por Deus. Se você geralmente é uma pessoa mais quieta e séria, quando for levada a
transbordar de gratidão, saberá que o Espírito Santo está operando em seu interior! Você é o tipo de
pessoa que valoriza seu comportamento sereno e decoroso? Considere então que, se Deus puder levá-
lo a expressar regozijo e felicidade ao compreender a graça dele por você, trará grande alegria a Deus,
cujo alvo é glori?car a si mesmo!
4Vi essa expressão pela primeira vez em um artigo de Joshua Harris. De acordo com ele, a expressão
foi cunhada por David Powlinson, da Christian Counseling and Educational Foundation.
5John Frame escreve: “As pessoas se comunicam não apenas por palavras, mas também por
linguagem corporal. Nisso somos a imagem do Deus das Escrituras, que se comunica tanto por
palavra falada como por revelação natural. Alguns (especialmente os presbiterianos, como eu)
preferem adorar sentados, mas para a maioria das pessoas no mundo é natural que palavras venham
acompanhadas de ações físicas”. John Frame, Worship in Spirit and truth: a refreshing study of the
principles and practice of biblical worship (Phillipsburg: P&R, 1996), p. 130-1.
6Tozer se refere a Deus como “o ser mais cativante de toda a criação”. A. W. Tozer, e root of the
righteous (Camp Hill: Christian Publications, 1986), p. 15.
7John Piper, A Godward life: savoring the supremacy of God in all of life (Sisters: Multnomah, 1997), p.
69-70 [edição em português: Uma vida voltada para Deus (São José dos Campos: Fiel, 1997)].
8I. D. E. omas, comp., A Puritan golden treasury (Carlisle: Banner of Truth Trust, 1997), p. 209,
citando John Livingstone.
9Ibidem, citando omas Watson.
10Ibidem, citando omas Manton.
11Gn 24.48; Êx 15.20; Ne 1.4; 8.6; 1Cr 29.20; Sl 28.2; 30.11; 47.1; 63.4; 119.48; 134.1,2; 141.2; 149.3; 150.4;
Lm 3.40,41; 1Tm 2.8; Ez 44.15; Dt 10.8; 18.7; Ed 10.9. Há apenas alguns casos de adoradores que
permanecem assentados diante de Deus, a maioria em sinal de luto ou de arrependimento. As
Escrituras registram apenas Davi assentado diante do Senhor em louvor e oração (1Cr 17.16).
12Piper, Desiring God, p. 77.
13O termo traduzido por “exultai” é ‘alatts, que signi?ca “saltar de alegria, isto é, exultar” (Vine’s).
14O termo traduzido por “regozijarei muito” é suws, que signi?ca “ser animado, isto é, alegre”. A KJV
traduz por “estar contente, grandemente, alegria, rejubilar-se, regozijar-se”. O termo traduzido por
“alegrará” é giyl, que signi?ca “rodopiar (sob a in?uência de qualquer emoção intensa), isto é,
geralmente, regozijar-se” (Vine’s).
15Veja John Frame, Worship in spirit and truth.
16Ap 5.9-14; 11.15-17; 14.3; 15.3,4; Sl 103.20-22; 148.11-13; 150.6.
17Geralmente é o caso; há situações, porém, em que nosso estado ?siológico
(p. ex., fome ou exaustão) podem nos levar a experimentar emoções, como aconteceu com Elias
depois de correr de Acabe. É verdade que ele teve medo de morrer nas mãos de Jezabel, mas a
exaustão e a fome alimentaram sua depressão e seus pensamentos de morte. Deus o consolou com
descanso, água, alimento e, no devido tempo, com sua Palavra.
18Piper, Desiring God, p. 86.
19Se lhe parece difícil fazê-lo, veja a descrição das características de Deus no capítulo 7, p. 124-5. Cada
um dos adjetivos é acompanho de referências bíblicas para consultar.

20Matthew Henry’s commentary on the whole Bible: new modern edition, banco de dados eletrônico
(Peabody: Hendrickson, 1991).
21Jamieson, Faucet, and Brown commentary (banco de dados eletrônico; Seattle: Bibleso, 1997).
22Barnes notes (banco de dados eletrônico; Seattle: Bibleso, 1997).
23John Calvin, Institutes of the Christian religion, edição de John T. McNeill, Library of Christian
Classics (Philadelphia: Westminster, 1960), 2 vols., 1:41 [edições em português: João Calvino, As
institutas, tradução de Waldyr Carvalho Luz (São Paulo: Cultura Cristã, 2006), 4 vols.; A instituição
da religião cristã, tradução de Carlos Eduardo Oliveira; José Carlos Estêvão (São Paulo: Unesp,
2008)].
24Piper, Desiring God, p. 87.
25e larger catechism, p. 104 (Carlile: Banner of Truth Trust, 1998) [edição em português: O
catecismo maior de Westminster (São Paulo: Cultura Cristã, 2003)].
26Charles Wesley, And can it be? (1738), Trinity hymnal.

APÊNDICE A
COMO IDENTIFICAR
PADRÕES PECAMINOSOS
E FALSOS DEUSES
1. Quem estou adorando? Quem desempenha o papel de “deus” para mim?
2. Que desejo é maior que meu anseio de ser santo?
3. Que mandamentos especíAcos eu ignorei ou a quais deles desobedeci?
4. Que pecados especíAcos preciso abandonar? O que devo adotar no lugar
deles?
Apêndice A. Como identificar padrões pecaminosos e falsos deuses
ManhãTardeNoite
Segunda-Feira
Terça-Feira
Quarta-Feira
Quinta-Feira
Sexta-Feira
Sábado
Domingo

APÊNDICE B
O QUE SIGNIFICA
SER LEGALISTA
Praticamente todas as vezes que a questão da lei é mencionada, alguém diz:
“Não é legalismo tentar obedecer à lei? AAnal, não estamos mais sujeitos a
ela!”. Uma vez que parece haver um grande número de conceitos
equivocados a respeito da lei de Deus, vou tentar deAnir o que, em minha
opinião, signiAca ser legalista. Creio que o legalismo se manifesta de duas
maneiras mais comuns.
OBSERVÂNCIA DA LEI COMO
MEIO DE PERMANECER SALVO
Nenhum cristão verdadeiro crê que é possível obter a salvação por meio da
observância da lei. Paulo articula essa realidade da seguinte forma:
“Concluímos, pois, que o homem é justiAcado pela fé sem as obras da lei”
(Rm 3.28). Essa é uma das características que diferenciam o verdadeiro
cristianismo do falso. Se é necessário acrescentar algo à justiça de Cristo
para obter salvação, quer seja circuncisão, batismo ou qualquer outra boa
obra, cai-se no mesmo erro dos gálatas. Paulo procurou combater esse
conceito equivocado quando escreveu com veemência: “Vós, que vos
justiAcais pela lei, estais separados de Cristo; caístes da graça” (Gl 5.4).
A maioria dos cristãos concordaria, sem hesitar, que somos justiAcados
somente pela graça; muitos, porém, são tentados a crer que a continuidade
de sua salvação depende de sua capacidade de guardar a lei depois de salvos.
Em outras palavras, reconhecemos que não somos capazes de fazer coisa
alguma para receber a salvação, mas, uma vez salvos, imaginamos que

somos inteiramente responsáveis por manter nossa salvação ao viver de
modo correto.
Só é possível cair nesse erro quando temos um conceito super—cial de
nossa pecaminosidade pessoal e de nossa total incapacidade de viver com
retidão. Parece-me que seria difícil qualquer pessoa com um conhecimento
profundo de sua absoluta perversidade supor que sua salvação depende, em
algum momento, dela mesma. Aliás, a ideia de que a salvação, a
permanência no favor de Deus, depende de nossa capacidade de agradá-lo e
obedecer-lhe deveria ser assustadora, a menos que rebaixássemos de algum
modo os padrões de Deus.
É devido à convicção falsa de que os cristãos são capazes de manter sua
salvação por meio de boas obras que as pessoas adotam formas legalistas de
pensar e agir. Portanto, enquanto o verdadeiro cristão jamais diria que sua
justi—cação ou sua condição diante de Deus depende dele mesmo, poderia
ser tentado a dizer que a perseverança na fé depende de sua capacidade de
permanecer salvo. Paulo também combateu esse erro na igreja na Galácia:
Sois tão insensatos assim, a ponto de, tendo começado pelo Espírito, estar
agora vos aperfeiçoando pela carne? [...] Aquele que vos dá o Espírito, e
que realiza milagres entre vós, será que o faz pelas obras da lei ou pela fé
naquilo que ouvistes? (Gl 3.3,5)
Não estou dizendo que não devemos nos preocupar em realizar boas
obras ou em procurar obedecer à lei. Estou dizendo, sim, que nossa posição
correta diante de Deus não depende de nosso desempenho. Assim como a
justi—cação — o primeiro passo para a salvação — depende inteiramente de
Cristo e de sua justiça, todos os outros passos também dependem dele. Não
somos capazes de nos guardar do fracasso total, mas ele é: “Àquele que é
poderoso para vos impedir de tropeçar e para vos apresentar imaculados e
com grande júbilo...” (Jd 24). Paulo incentivou Timóteo a descansar na
consciência do poder de Deus para guardá-lo: “Porque eu sei em quem
tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu tesouro
até aquele dia” (2Tm 1.12).
Não devemos con—ar em nosso poder de realizar aquilo que, a nosso ver,

agrada a Deus. Por causa de Cristo, já o agradamos. E, em se tratando de
nossa santi—cação contínua, podemos descansar no poder de Deus, como
Paulo escreveu: “E estou certo disto: aquele que começou a boa obra em vós
irá aperfeiçoá-la até o dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6). Quanto mais nos
distanciamos dessa verdade, mais nos vemos atolados em legalismo infeliz,
sem alegria alguma, até que, por —m, nos entregamos por um tempo à
indiferença ou à autocomplacência.
ACRÉSCIMOS À LEI
Em uma área estreitamente relacionada, o legalismo se manifesta quando
as pessoas acrescentam elementos aos padrões estabelecidos por Deus.
Deixe-me dar um exemplo de como isso pode acontecer. Todos nós
concordamos que Deus ordena que oremos todos os dias. Tenho liberdade,
porém, de gerenciar o modo como cumpro essa ordem.
Por exemplo, posso dizer que, no meu caso, é conveniente levantar-me às
seis da manhã para ter tempo de orar. Isso não é legalismo; é um re)exo de
meu desejo de passar tempo com o Senhor antes que comece a correria
diária. Ao fazê-lo, con—o que Deus continuará a produzir o fruto do
Espírito, a autodisciplina, em minha vida para que eu possa alcançar o alvo
de orar com regularidade e, com isso, possa obedecer ao Senhor.
Seria legalismo, porém, eu lhe dizer que Deus ordena que você se levante
às seis da manhã para orar. Se eu o —zesse, estaria acrescentando algo à
ordem de Deus. Posso recomendar que você se levante cedo para orar,
posso dar testemunho de meu sucesso ao fazê-lo, mas não posso ordenar
nem dizer que Deus ordena que você o faça. Seria o equivalente a
acrescentar algo à lei. Fazer acréscimos à lei de Deus corresponde a dizer
que sabemos mais que Deus sobre santidade pessoal e que ele precisa de
nossa ajuda. Assustador, não? Embora percebamos como é absurdo, ainda
assim agimos dessa forma.
Esse tipo de legalismo se manifesta de várias maneiras, especialmente na
conformidade exterior a padrões humanos, como vestir-se de determinada
maneira e evitar determinados lugares ou formas de entretenimento. É
caracterizado no velho ditado: “Não fumo nem masco fumo, nem ando com

quem o faz”. Claro que devemos nos preocupar em obedecer à lei de Deus.
O erro consiste, porém, em crer que nossa retidão diante de Deus depende
da obediência a nossos padrões pessoais.
Paulo confrontou esse problema quando ele se manifestou na questão de
comer carne sacri—cada a ídolos. Ele disse: “A fé que tens, guarda-a contigo
mesmo diante de Deus” (Rm 14.22). O apóstolo não está dizendo que você
pode inventar o que quiser a respeito das doutrinas da fé. Antes, está
a—rmando que, no âmbito de sua liberdade ou consciência pessoal, é preciso
ter cuidado para não impor seus padrões, suas preferências e suas escolhas
pessoais como se estivessem no mesmo nível que os padrões de Deus, pois
eles já são su—cientemente elevados.
Em resumo, o legalismo é praticado quando imaginamos que somos
capazes de guardar os mandamentos de Deus para garantir a continuidade
de nossa salvação ou quando colocamos nossas convicções pessoais ou meios
de obediência no mesmo nível que as ordens perfeitas de Deus.

APÊNDICE C
COMO SABER SE
VOCÊ É CRISTÃO
Fico feliz que você tenha resolvido abrir nesta página bem no Anal do livro.
Alegro-me com isso por dois motivos.
Primeiro, será impossível entender as verdades contidas neste livro e
segui-las se você não for cristão, e quero que você experimente a alegria da
transformação realizada pelo poder de Deus. No entanto, esse não é o
motivo principal pelo qual me alegro de você ler este apêndice.
Fico tão feliz que tenha aberto nesta página porque almejo que você
conheça a alegria da paz com Deus e tenha certeza de que seus pecados
foram perdoados. Se não houve um momento em sua vida em que Deus
abriu seu coração para a verdade do grande amor e sacrifício dele por você e
para sua rebeldia e necessidade de receber perdão, é necessário questionar
se você é cristão.
Muitos frequentam a igreja ou procuram viver de modo correto.
Poderíamos ser bem piores e, portanto, imaginamos que, como o
personagem de Patrick Swayze no Alme Ghost, não importa se cremos em
Cristo, desde que sejamos bons e amemos os outros, Deus nos aceitará,
certo? Se dependesse de mim, e se você tivesse de viver conforme meus
padrões, eu talvez dissesse que não há problema. Mas não é o caso, e não
depende de mim. Depende de Deus, e os padrões dele são diferentes dos
meus. Ele diz: “Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem
os vossos caminhos são os meus caminhos” (Is 55.8).
O fato é que Deus é perfeitamente santo. Isso signiAca que ele jamais
pensa ou faz algo incompatível com sua perfeição. Ele é puro, sem defeito
algum. Não é porque ele se levanta todas as manhãs e diz: “Hoje tentarei

ser bom”. Ele é bom por natureza, e nunca há ocasião em que não o seja.
Além de ser perfeitamente santo, ele é justo. Em outras palavras, ele
sempre providencia para que se faça justiça, para que aqueles que merecem
castigo o recebam no Anal das contas. Talvez não pareça ser o caso ao olhar
do ponto de vista humano, mas eu lhe garanto que o grande Juiz de toda
terra prevalecerá. Se Deus permitisse que as pessoas quebrassem suas leis e
Acassem impunes, ele não seria justo, não é mesmo?
Em certo sentido, a verdade da santidade e da justiça de Deus nos
tranquiliza. Embora os Hitlers do mundo pareçam ter escapado do
julgamento aqui na terra, terão de comparecer perante seu Criador e
receberão o que merecem. Em outro sentido, porém, a santidade e a justiça
de Deus devem nos inquietar. AAnal, embora pudéssemos ser piores,
sabemos que todos nós pecamos, e Deus odeia o pecado. O pecado é
qualquer violação dos padrões de Deus. Seus padrões são apresentados na
Bíblia e resumidos nos Dez Mandamentos no Antigo Testamento. Re)ita a
respeito desses mandamentos por um instante. Você alguma vez teve outros
deuses em sua vida? Tem reverenciado o Dia do Senhor e o separado para
ele? Sempre honrou aqueles que exercem autoridade sobre você? Alguma
vez tirou uma vida ou deu as costas para alguém que precisava de sua
proteção? Alguma vez desejou alguém com que você não é casado? Tomou
para si algo que não lhe pertencia? Contou uma mentira ou cobiçou algo de
outra pessoa?
Se você é como eu, dirá que provavelmente quebrou todos os
mandamentos de Deus em algum momento de sua vida. Isso signiAca que,
a certa altura, você também terá de comparecer diante do tribunal de Deus.
Mas não se desespere. Se você sabe que é pecador, há esperança, pois Deus
não é apenas santo e justo, mas também misericordioso.
Deus tem misericórdia e compaixão de seu povo. Tem amor imenso e, por
isso, abriu um caminho para que tivéssemos acesso a ele. E o fez sem
comprometer sua santidade e justiça. Alguém tinha de receber o castigo por
seu pecado. Alguém tinha de morrer em seu lugar. Mas quem poderia fazê-
lo e, ainda assim, preservar a justiça de Deus?
Todo ser humano que já viveu pecou e, portanto, não era qualiAcado para

tomar sobre si o castigo de outros, pois ele próprio merecia ser castigado.
Somente um homem poderia receber esse castigo. Somente um homem foi
perfeitamente sem pecado e não merecia castigo algum. Esse homem foi
Jesus Cristo. Jesus Cristo era Deus (e, portanto, perfeitamente sem pecado)
e homem (e, portanto, adequado para tomar nosso lugar). A Bíblia ensina
que, graças a seu amor pelos seres humanos, Deus enviou seu Filho, Jesus
Cristo, para morrer em nosso lugar. Na cruz, Jesus Cristo sofreu o castigo
que merecíamos. Desse modo, a justiça de Deus se cumpre e sua santidade é
preservada. Por isso a Bíblia ensina que “Cristo [morreu] por nós quando
ainda éramos pecadores” (Rm 5.8).
Ainda resta, porém, um problema. Talvez ao ler estas linhas, você tenha
consciência de que é pecador. Você também crê que Deus é santo e justo e
tem esperança de que ele seja tão misericordioso e amoroso quanto descrevi.
O que você deve fazer? Deve crer nele. Isso signiAca que deve crer naquilo
que escrevi e pedir a Deus que o perdoe de todos os seus pecados. Pode
fazer isso em forma de oração, com suas próprias palavras. A Bíblia declara:
“Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rm 10.13). Você
pode orar a Deus, pedindo que, por causa do sacrifício de Jesus, ele perdoe
seu pecado. Pode pedir que ele o torne Alho dele. A Bíblia diz: “Se
confessarmos os nossos pecados, ele é Ael e justo para nos perdoar os
pecados e nos puriAcar de toda injustiça” (1Jo 1.9). Você pode descansar no
fato de que Deus sempre diz a verdade.
Se você se tornou cristão, terá o desejo de viver para Deus, de maneira
que o agrade. A Am de saber como fazê-lo, deve começar a ler sua Palavra.
Recomendo que seu ponto de partida seja o primeiro capítulo do Evangelho
de João. Ao longo da leitura, peça a Deus que o ajude a compreender. Em
seguida, procure uma igreja boa, que siga a Bíblia, e comece a frequentá-la.
Uma igreja que segue a Bíblia crê na Trindade (que o Pai, o Filho e o
Espírito Santo são, igualmente, um só Deus), crê que a salvação é
inteiramente uma dádiva de Deus, pratica a oração e a santidade e prega a
Palavra de Deus, sem o acréscimo de outros livros.
Se você se tornou cristão por meio do ministério deste livro, gostaria
muito de conhecê-lo e de me alegrar com você. Por favor, entre em contato

comigo em meu site: www.elyseAtzpatrick.com. Que você receba as mais
ricas bênçãos de Deus ao curvar-se humildemente diante de seu trono.

 
 
EYf`R FVag]Na_VPX é mestre em aconselhamento bíblico pelo Trinity
<eological Seminary e certiAcada em aconselhamento pela Christian
Counseling and Educational Foundation (CCEF). É palestrante e
autora de mais de vinte livros e de diversos artigos publicados em
periódicos e blogues. Elyse e seu marido, Philip, têm três Alhos e dois
netos.