Consciência, aqui, não significa um ‘saber o que estou fazendo’, em termos psicológicos como
contrário de inconsciente. Também não se pode pensar consciência como um fato puramente
mental, em oposição ao corpo, ao físico. Consciência deve ser compreendida como modo
próprio do homem ser e perceber o mundo, enquanto totalidade física, mental, espiritual,
emocional, racional e qualquer outra dimensão que se queira associar aqui. Consciência não é
apenas um meio pelo qual algum objeto (o homem) conhece uma coisa (o mundo), como
instâncias separadas. Portanto, não há uma realidade pura, isolada do homem, mas a realidade
enquanto ela é percebida, que se dá à consciência humana. A partir disso é que se pode
raciocinar, calcular, poetizar, agir, etc...
A consciência é sempre consciência de alguma coisa, reza o princípio fundamental da
Fenomenologia. Ela estuda a consciência em si mesma, no ato do conhecimento. Ela é, num
sentido mais geral, a descrição de um conjunto de fenômenos que se dão no tempo e no espaço
e que se dispõe à consciência humana. Os empiristas diziam que a essência das coisas é
inacessível ao pensamento, e que este se constrói a partir de experiências. O risco do
empirismo é de cair na falta de certezas absolutas, válidas universalmente, ou seja, num
ceticismo, além de retirar da mente, da razão, um papel preponderante no ato do
conhecimento. Os idealistas, ao contrário, admitiam que o pensamento pode chegar a
contemplar a essência, pois a mente humana possui condições a priori (as categorias de Kant,
por exemplo), isto é, anterior a qualquer experiência, que a possibilita pensar conceitos
universais. O seu risco é deixar o conhecimento à mercê da mente humana, numa atividade
puramente psicológica (psicologismo). A fenomenologia, por seu turno, quer superar esse
dualismo. Segundo Husserl, tanto a experiência, quanto a universalização da metafísica, só
fazem sentido e se organizam enquanto representações na consciência humana. Portanto, é a
partir dela que devemos compreender como se dá o conhecimento.
Se na concepção clássica, seja no empirismo ou no idealismo, o sujeito está separado do objeto
no ato do conhecimento, para a Fenomenologia, eles estão numa relação indissociável. A
consciência está entrelaçada com o mundo. Perceber é perceber o mundo, no mundo. Não é
apenas um ato imaginativo, psicológico; nem uma pura recepção de sensações advindas da
experiência, ou ainda um ato reflexivo-racional. Perceber é um movimento, uma atividade, é
uma contemplação, com forte caráter emotivo. Isso quer dizer que a percepção do mundo
sempre se dá com um caráter motivado: percebo aquilo que mais me chama a atenção, aquilo
que quero. O mundo é captado, segundo Husserl, sempre em perspectiva, ou seja, sempre em
relação a... e nunca absolutamente. A percepção não consegue, por esse motivo, apreender a
realidade em sua totalidade.” (SEED-Pr, 2006, p. 324-325).
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ATIVIDADES – MÃO NA MASSA
Leia o trecho a seguir e responda às questões 1, 2 e 3.
“O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada, pois cada qual pensa estar tão bem provido
dele, que mesmo os que são mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa não costumam
desejar tê-lo mais do que o têm. E não é verossímil que todos se enganem a tal respeito; mas isso
antes testemunha que o poder de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso, que é propriamente
o que se denomina bom senso ou a razão, é naturalmente igual em todos os homens; e, destarte,
que a diversidade de nossas opiniões não provém do fato de serem mais uns racionais do que
outros, mas somente de conduzirmos nosso pensamentos por vias diversas e não considerarmos
as mesmas coisas. Pois não é suficiente ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo bem.”
(DESCARTES, R. Discurso do Método. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 29).