Entendendo o autismo Psicóloga Paloma Pimenta Psicóloga Sandoelia Barbosa
Entendendo o autismo Autismo ou Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento multifatorial com base genética (90% dos casos) e forte influência de fatores ambientais, caracterizado por p rejuízos persistentes na comunicação, socialização, comportamentos ritualísticos e a presença de comorbidades. Como o próprio nome diz, trata-se de um amplo espectro com diversas possibilidades e sintomas. É importante ressaltar que o autismo não é uma doença. Porém, em termos jurídicos, o TEA é considerado uma deficiência a fim de proteger os direitos dos indivíduos. A criança já nasce autista, logo é um transtorno que se manifesta precocemente — os primeiros sinais são perceptíveis ainda na primeira infância, não sendo possível tornar-se autista ao longo da vida.
Entendendo o autismo Por exemplo: uma criança autista com 2 anos, pode apresentar baixa reciprocidade socioemocional, evita olhar nos olhos, não responde quando é chamada pelo nome, tem padrões restritos de comportamento, é inflexível com rotinas, apresenta atrasos na comunicação, não brinca com outras crianças, não gosta de certas texturas (massinha, lama) e fica irritada com determinados barulhos. E os prejuízos não “somem” depois de 2 meses de estímulos, eles são persistentes. Portanto… … o autismo faz parte da identidade pessoal! Não é uma condição transitória. Não é curável. Não é um castigo divino.
DSM-V e os critérios de diagnóstico . VIROU MODA? A elevação dos diagnósticos deve-se a fatores variados, como o aperfeiçoamento dos estudos, maior capacidade profissional na avaliação dos sinais precoces, avanço nos critérios de diagnóstico, divulgação do conhecimento baseado em evidências científicas que levam aos pais, familiares e educadores a observação dos atrasos de desenvolvimento. Compreender os critérios de diagnóstico evita equívocos e atrasos no tratamento que podem perpetuar prejuízos sociais, comunicativos e comportamentais na vida da criança.
Critérios de diagnóstico, segundo o DSM-5: A — déficits persistentes na comunicação e interação social em vários contextos, como: dificuldade em compartilhar interesses, estabelecer uma conversa. Prejuízos na comunicação não verbal(gestos, expressões faciais e corporais). Comunicação verbal pouco integrada. Dificuldade em iniciar, manter e entender interações sociais. Ausência de interesse por pares e no compartilhamento de brincadeiras. B — padrões repetitivos e restritos de comportamento: comportamentos repetitivos e estereotipados ( p.ex : flapping de mãos, alinhar brinquedos, ecolalia, etc.). Resistência a mudanças e apegos a rotinas. Interesses restritos e intensos em assuntos específicos ( hiperfoco ). Reações incomuns a estímulos sensoriais (hiper ou hiporreatividade ) C — Manifestações precoces dos sintomas: os sintomas precisam estar presentes desde o início do desenvolvimento, mas podem não ser plenamente manifestos até que haja uma demanda social para essas habilidades ou podem ser mascarados por estratégias de aprendizado ao longo da vida.
Critérios de diagnóstico, segundo o DSM-5: D — prejuízos clínicos significativos: esses sintomas causam dificuldades significativas no funcionamento social, profissional e pessoal. E — distúrbios não explicados por outras condições: os sintomas não podem ser explicados por deficiência cognitiva e intelectual ou pelo atraso global de desenvolvimento. Observou como o diagnóstico do TEA não pode ser realizado com apenas1 ou 2 sinais? É necessário apresentar os sinais dos 5 critérios, com prejuízo significativo à vida e precocemente. Se não há precocidade, não é TEA. Ninguém vira autista!
Níveis de suporte do TEA A subdivisão científica do Transtorno do Espectro Autista mudou: antigamente, era subdividido em leve, moderado ou severo . Hoje, a classificação está relacionada ao nível de suporte necessário (nível 1, 2 ou 3). Mas falar sobre níveis de suporte pode gerar confusão! Na busca por um consolo e minimização dos impactos, alguns pais e profissionais podem subestimar a capacidade de desenvolvimento de uma criança nível 3 (antigo severo), ou negligenciar o tratamento de uma criança nível 1 (leve). O nível não indica o potencial de desenvolvimento da criança, mas a intensidade das terapias e suporte necessário. Todo nível de autismo deve ser tratado com seriedade, de forma individualizada e respeitosa.
Nível 1 de suporte (antigo leve) Critérios DSM-5: Dificuldade na comunicação e interação social (sem comprometimento da fala). Rigidez comportamental frente a mudanças de rotinas ou rituais. Prejuízos no planejamento, organização e autocuidado. Exemplos de sinais de alerta: Dificuldade em estabelecer novas amizades. Respostas limitadas em conversas (mais objetivas e sem narrativa). Hiperfoco em certos temas, objetos ou pessoas. Não compreende as figuras de linguagem, piadas e jogos. Desconforto quando há alteração em atividades diárias. Alteração sensorial (aversão a certos barulhos, texturas, etc.) Desregulação emocional (crises) em situações específicas. Baixo entendimento de expressões corporais.
Nível 2 de suporte (antigo moderado) Critérios DSM-5: Comportamentos repetitivos e estereotipados mais perceptíveis. Déficits significativos na comunicação verbal e não verbal. Prejuízos na reciprocidade emocional e interação social. Exemplos de sinais de alerta: Dificuldade em entender e expressar emoções. Atraso de fala (não presente no nível 1). Ao falar, pode ter ecolalia (repetição de palavras). Rigidez comportamental acentuada. Não atende quando é chamado. Não se interessa em brincar com outras crianças. Baixa resposta a aberturas sociais ( p.ex : não sorrir de volta). Exploração de objetos de forma peculiar ( p.ex : brincar só com rodinhas). Inflexibilidade com mudanças de rotas e rotinas. Estereotipias mais evidentes ( p.ex : flapping de mãos). Pouco ou nenhum contato visual. Mais alterações sensoriais (luz, textura, sons).
Nível 3 de suporte (antigo severo) Critérios DSM-5: Dificuldades acentuadas na comunicação verbal e não verbal. Comportamentos estereotipados mais intensos que o nível 2. Prejuízos severos na reciprocidade emocional e interação social. Exemplos de sinais de alerta: Baixíssimo contato visual. Extrema dificuldade em lidar com mudanças. Baixíssima compreensão de expressões faciais e gestos. Atraso e prejuízos graves na fala. Alta desregulação emocional (crises) em diferentes situações. Estereotipias que podem interferir no aprendizado (p.ex.: girar o corpo). Dependência de suporte nas tarefas da vida diária (se vestir, tomar banho). Dificuldade exacerbada em iniciar e manter a interação social. Sensibilidade aumentada a estímulos sensoriais. Não atende quando é chamado pelo nome. Comportamentos disruptivos, como autolesão. Elevada rigidez comportamental com interferência no funcionamento em vários contextos.