Estrada real

AndrSchetino 4,587 views 63 slides Jul 03, 2013
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Slide Content

ESTRADA REAL
DIAMANTINA A PARATY
SAÍDA: 01/05/2011
CHEGADA: 17/05/2011
1º Dia: Diamantina –São Gonçalo R. das
Pedras. 33 km
2º Dia: São G. R. das Pedras -
Itapanhoacanga. 54 km
3º Dia: Itapanhoacanga – Conc. Mato
Dentro. 47 km
4º Dia: Conc. Mato Dentro –Itambé M.
Dentro. 64 km
5º Dia: Itambé Mato Dentro – Bom. J.
Amparo. 44 km
6º Dia: Bom. J. Amparo – Catas Altas. 73 km
7º Dia: Catas Altas – Mariana. 54 km
8º Dia: Mariana - Congonhas do Campo. 90
km
9º Dia: Congonhas do Campo – São J. Del
Rei. 100 km
10º Dia: São João Del Rei . Passeios.
11º Dia: São João Del Rei – São Vicente MG .
100 km
12º Dia: São Vicente de MG – Caxambu . 70
km
13º Dia: Caxambu – Passa Quatro. 50 km
14º Dia: Passa Quatro . Passeios.
15º Dia: Passa Quatro – Guaratinguetá. 70
km
16º Dia: Guaratinguetá – Cunha. 53 km
17º Dia: Cunha – Paraty. 57 km.


TOTAL: 959 km. Média: 56,4 km/dia.
DIAMANTINA
OURO
PRETO
PARAT
Y
RIO
A Estrada Real passa por 177 municípios, sendo
162 em Minas Gerais, 8 no Rio de Janeiro e 7 em
São Paulo. Tem 1.600 quilômetros de extensão e
mais de 80 mil km
2
de área de influência.

ESTRADA REAL
Nome alusivo a qualquer via terrestre que, à época do Brasil Colônia, era percorrida no processo de povoamento e exploração econômica
de seus recursos, em articulação com o mercado internacional. Dentro de uma visão historiográfica tradicional, o conceito de Estrada
Real pressupõe: natureza oficial, exclusividade de utilização e vínculo com a mineração. Nessa perspectiva, a designação "Estrada Real"
reflete o fato de ser esse o caminho oficial, único autorizado para a circulação de pessoas e mercadorias. A abertura ou utilização de
outras vias constituía crime de lesa-majestade, encontrando-se aí a origem da expressão descaminho com o significado de contrabando.
Por outro lado, uma moderna visão admite: natureza tradicional e uma referência de bons caminhos; utilização geral, universal, pública;
vínculo com outras atividades, como o comércio e a pecuária; existências anteriores e/ou posteriores à mineração; desvinculados das
zonas mineradoras. Esses caminhos se dividem em:
Caminho Velho : Vai de Paraty até Vila Rica (atual Ouro Preto). A partir da
descoberta de ouro na região de Cataguá (atual MG), em fins do século XVII, esse
caminho transformou-se na rota preferida para chegar à região das Minas Gerais. Na
direção oposta o ouro era transportado até Paraty e, posteriormente, por mar, de
Paraty para o Rio de Janeiro, embarcando para Portugal. Essa via estendia-se por
mais de 1.200 quilômetros, percorridos em até 95 dias de viagem;
Caminho Novo: foi idealizado em 1698 e concluído em 1707. Saía do fundo da
Baía de Guanabara, sobia por Xerém, passava por Paty do Alferes e Miguel Pereira
até encontrar o Caminho Velho no arraial de Vila Rica, atual Ouro Preto. Foi aberto
por Garcia Rodrigues Paes, como alternativa ao Caminho Velho, evitando, dessa
forma, a rota marítima entre Paraty e o Rio de Janeiro, sujeita aos freqüentes
ataques de piratas e corsários. Entre 1722 e 1725, o Caminho Novo recebeu uma
variante, chamado Caminho do Proença ou Caminho de Inhomirim, que evitava a
perigosa e acidentada subida por Xerém. Esse caminho segue pela Serra da Estrela
ou serra de Petrópolis (denominações locais da Serra do Mar) até Paraíba do Sul,
passando por Petrópolis, Itaipava, Pedro do Rio, Secretário e Queima Sangue, entre
outras localidades.
Caminho dos Diamantes: foi estabelecido em1729, após a descoberta de
diamantes na região do Serro Frio (atual Serro - MG). O seu percurso ligava Vila
Rica (atual Ouro Preto), à sede do distrito diamantífero, o Arraial do Tijuco (atual
Diamantina). Fonte: www.itamonte.mg.gov.br

ESTRADA REAL
CAMINHO DOS DIAMANTES
DIAMANTINA (MG) A OURO PRETO (MG)
O Caminho dos Diamantes, com 393quilômetros, liga Diamantina a Ouro Preto. Passou a ter grande
importância a partir de 1729, quando as pedras preciosas de Diamantina ganharam destaque nas
economias brasileira e portuguesa. Além da história de seus municípios, da cultura latente e da
gastronomia típica, o Caminho dos Diamantes destaca-se pela beleza natural. A principal delas é o
esplendor e a imponência da Serra do Espinhaço.

01/05/2011. (DOMINGO, DIA DO TRABALHO).
DIAMANTINA (MG) A
SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS (MG).
33 KM PERCORRIDOS.
Saí de Diamantina às 9h. Tempo bom, céu limpo e
temperatura agradável. Nos primeiros quilômetros, a
ER é plana e larga, igual à pista de aeroporto. As
primeiras pedaladas foram lentas para sentir a
aventura que se iniciava e apreciar a paisagem
colossal da Serra do Espinhaço. No Estado de Minas
Gerais, encontra-se o maior conjunto de terras
altas do País, formado pela Serra do Espinhaço,
pela Serra da Mantiqueira e pela Serra do Mar, os
chamados “mares de morros”, que marcam a maior
parte do relevo do Sudeste brasileiro. De Diamantina
a Paraty atravessei essas três serras, com subidas
insanas, descidas alucinantes e visual de se fazer
reverência. A Estrada Real tem que ser percorrida em
ritmo lento, de bicicleta, a cavalo ou a pé. Assim, o
viajante pode bebericar toda a beleza que se
descortina aos seus olhos. Não tive pressa ao
percorrer a ER. Não estava competindo e nem havia
um pódio de chegada em Paraty. A sensação de
vencer esses caminhos eu comemorei
silenciosamente, sentindo a alegria de estar
cumprindo um desejo antigo: pedalar pela mesma
rota feita pelos tropeiros do Brasil Colônia. No
entanto, ao invés de ouro, eu carregava o desejo pela
aventura e o cumprimento de uma missão.
Diferentemente dos tropeiros, que viajavam em
comboio, eu fui sozinho, mas sem me sentir solitário.
Às vezes é salutar ficar sozinho para estabelecer um
diálogo interno e descobrir nossa força pessoal.
Fotos: F. Mendes

DIAMANTINA (MG) A
SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS (MG).
Durante o pl ane jame nto da via ge m e a ela bo raç ão do pe rcurso , co nstate i que a al ti metria da ER é marca da po r fo rte s acl ives e dec lives. Na saí da de Dia manti na , oc orrida à s 9h de uma enso la ra da manhã do dia 1/05/2011, o GP S i ndica va 1.200m de
altitude . Nos prime iro s oi to qui lôm etros perco rrido s, a co ta al ti mé tri ca cai u para 1.000m e a tra vessei a po nte sobre o Ribei rã o do Infe rno . Em seg uida , uma subida dos i nfernos, e m fo rte ângulo de incli na ção , me l evou de vo lta a os 1.200m inicia is.
Fo i possíve l se ntir que o so be e desce é c onsta nte. Após vence r a pr imei ra la de ira – e ntre muitas que encare i até P a raty – passei a pe da lar num pl atô, co m qua tro qui lôme tro s de ex te nsã o ( foto ) até cheg ar a de sc ida que me le vo u a o P o vo ado do Va u,
o nde pa re i para alm oça r. Er am 13h. Havia pe dal ado apenas 26 qui lô metros e gasto , pa ra tal, 4 hora s. M édia de medí o cres 6km/ h. Nesse povoa do, em qual quer ca sa que o via jante ba ta à porta e pe ça a lmo ço a co mida é gara ntida. Faz pa rte da
ho spi tali da de minei ra, pre sente em to do o trajeto . De guste i a rro z, feijão , ovo e asa de pe ru. To me i uma C o ca-C ol a e quando fui pag ar, qua se não acre di te i: a pe na s R$ 7,00. De ixe i a pequena l oca li dade do Vau, que pertence à juri sdi ção de Di amantina,
e de sci a té a co ta de 900m, a mai s ba ixa do dia . A tra ve sse i a po nte so bre o Rio Jequi tinho nha , que tem sua nasce nte a li per to. Esse rio marca a divisa entre os munic ípio s de Dia manti na (M G) e S erro ( MG ). Era m 15h 05.
VAU E SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS
Foto: F. Mendes

DIAMANTINA (MG) A
SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS (MG).
De uma margem à outra, a distância é de pouco mais de 1 metro. Quando o Jequitinhonha lança suas águas no
Atlântico, na localidade de Belmonte (BA), a distância entre as margens ultrapassa três quilômetros.
Após a travessia da ponte, veio a mais radical subida daquele dia. Em apenas 2,5 quilômetros, saí da cota 900m
para chegar à cota 1.100m, na qual está São Gonçalo do Rio das Pedras (MG). Eram 16h 30 e dei por
encerrada a jornada daquele primeiro dia, sabendo que a viagem, por conta da altimetria e das condições do
piso da ER, seria mais penosa do que imaginei. Por sugestão de um amigo de Brasília, que fez a ER em 2009,
dirigi-me à Pousada Fundo de Quintal e por lá me acomodei. Trata-se da casa do Sr. Ademil, sujeito boa praça,
que também é dono de um empório que tem de tudo. Me senti em casa.
Assisti pela TV à final do Campeonato Carioca. O Vasco desperdiçou três penalidades e o Flamengo levantou pela
32ª vez o título de campeão do Estado do Rio de Janeiro.
Fotos: F. Mendes

DIAMANTINA (MG) A
SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS (MG).
São Gonçalo do Rio das Pedras teve sua origem ligada à exploração do ouro, o declínio da mineração e o
isolamento geográfico do distrito. Assim foram conservados praticamente todos os elementos arquitetônicos
e paisagísticos dos séculos XVIII e XIX. É um lugar pacto, daqueles em que o tempo tem preguiça de passar.
Poderia ficar por ali dias e não sentir tédio. As ruas possuem calçamento de pedras e as casas conservam o
estilo colonial. É passagem obrigatória dos viajantes da ER. Depois do banho saí em busca de um lugar para
jantar. Indicado pelo Sr. Ademil, fui à Pizzaria Quero Mais e comi deliciosa pizza portuguesa. Voltei à pousada
e fui me deitar para merecido descanso após vencer um trecho com subidas infernais e paisagens
maravilhosas, nas quais o cerrado mineiro e a Serra do Espinhaço se fazem presentes.
SERRA DO ESPINHAÇO
Foto: F. MendesSERRA DO ESPINHAÇO
Considerada a única cordilheira do Brasil. Tem
aproximadamente 1.000 quilômetros de extensão,
parte em Minas Gerais e parte na Bahia. Possui o
maior afloramento de calcário do País, jazidas de
ouro, ferro, bauxita e manganês. Estima-se que
sua idade geológica seja de 2,5 bilhões de anos.
Funciona como divisor de águas. A leste, todos os
rios tendem ao Atlântico, enquanto que a oeste
inflam o sistema hídrico do São Francisco. A
largura da Serra do Espinhaço varia de 50 a 100
quilômetros. Vales e picos são interpostos,
configurando um terreno bastante acidentado. É
Reserva da Biosfera, contém muitas áreas de
proteção e outras de preservação, além de
reservas particulares.
Fonte: Brasília-Paraty, somando pernas para
dividir impressões. Weimar Pettengil – Brasília –
Editora Thesaurus, p.90.

02/05/2011. (2ªf)
SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS (MG) A
ITAPANHOACANGA (MG).
54 KM PERCORRIDOS.
Embora eu seja adepto da filosofia de que toda viagem tem que
começar depois das 8h da manhã, naquele segundo dia de
jornada levantei da cama muito cedo. Havia dormido por
longas 11 horas – coisa que jamais consigo em minha rotina.
Ciente dos 65 quilômetros que me aguardavam, comecei a
pedalar bem cedo. Às 6h cheguei à cozinha da pousada, tomei
café da manhã na companhia de toda a família do Sr. Ademil,
que me passou dicas valiosas acerca do trecho até a cidade do
Serro. Uma delas eu adorei. Do pequeno povoado de Milho
Verde – sete quilômetros à frente de São Gonçalo – até o
Serro, a ER encontra-se asfaltada. Parti às 7h. Entre São
Gonçalo e Itapanhoacanga as subidas e as descidas são mais
leves do que as encontradas no dia anterior entre Diamantina
e São Gonçalo. Percorrer 65 quilômetros nessas condições me
pareceu possível. Os 30 quilômetros que separam São Gonçalo
do Serro foram percorridos em pouco mais de uma hora.
Fiquei uns 30 minutos fotografando o centro histórico da
cidade do Serro. Saquei dinheiro no BB e fui degustar um
pedaço do queijo do Serro, o melhor do Brasil. Aproveitei para
tomar uma dose de pinga, que o dono do estabelecimento
disse ser a melhor de Minas Gerais. Tive minhas dúvidas. Às
9h 32 segui no rumo de Alvorada de Minas , 18 quilômetros à
frente, em estrada recém asfaltada. Que maravilha. O tempo
estava esplendoroso: céu sem nuvens e temperatura de 22ºC.
IGREJA SANTA
RITA.
SERRO (MG)..
IGREJA SANTA RITA. SERRO (MG)
Foto: F. Mendes

SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS (MG) A ITAPANHOACANGA (MG).
A média horária, muito baixa no dia anterior, passou a ser de 20 km/h, o que elevou bastante o moral. O dia ensolarado e a paisagem magnífica me deram forças para pedalar firme e chegar a Alvorada de Minas (3.500 habitantes) às 10h 40. Naquele ritmo alcançaria Itapanhoacanga a tempo
de fotografar a cidade. Fui conhecer a Igreja de Santo Antonio, do século XV III. Alvorada de Minas teve sua ocupação com o início da mineração do ouro no Rio do Peixe, a partir de 1712. Almocei e segui rumo a Itapanhoacanga, retornando à ER às 12h, agora em leito natural. Alvorada, como a
maioria das cidades da Estrada Real pelas quais passei, fica dentro de um buraco fundo. Descia pra chegar. Penava pra sair. Pedalei por dois quilômetros uma subida forte até ver Alvorada lá baixo, bem pequena e com a torre da igreja matriz em destaque. Até ali, havia pedalado 48
quilômetros. Faltavam 17 quilômetros para Itapanhoacanga. Oito quilômetros após deixar Alvorada, a ER se sobrepõe à Ro dovia MG-010, ponto no qual muitos viajantes se equivocam por não ver o marco da ER, que in dica a direção de Itapan hoacanga. Nesse ponto é preciso seguir como se
estivesse voltando para o Serro pela MG-010. Três quilômetros à frente tem um marco da ER indicando Itapanhoacanga à esquerda e a ER se desmembra da MG-010, acabando a sobreposição. Uma bela paisagem é oferecida ao viajante. Na região conhecida como Duas Pontes está um curso
d’água, que passa sob duas pontes e segue formando pequenas quedas d’ água. Cheguei à pequena Itapanhoacanga às 16h 30. Torci para encon trar lugar para ficar. Perguntei para umas moças que estavam conversando na calçada onde poderia me hospedar. Uma delas me disse: “ocê vai lá na
casa do Biu uai, que ele ruma um lugar procê moço. É pertim daqui. Fala com a muiê dele. Mas se ocê prifiri, o Biu passa aqui gurim messss. Ele foi apanhá o fi dele, o Jãozim, na escola. P reciso traduzir?
CHEGADA A ALVORADA DE MG
ESTRADA REAL ENTRE SERRO E ALV. DE MG
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes

SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS (MG) A ITAPANHOACANGA (MG).
ESTRADA REAL ENTRE ALVORADA DE MG E
ITAPANHOACANGA
Foto: F. Mendes

SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS (MG) A ITAPANHOACANGA (MG).
Fui para a Pousada do Bill, modesta, confortável e com excelente comida. Após o jantar, o Bill me disse que está iniciando uma expansão no estabelecimento. Serão construídos mais quartos “num puxadim para cima”,
falou-me orgulhoso. A Pousada Real, única até então na cidade, foi arrendada para uma mineradora que trabalha na região. O Bill se deu bem.
Itapanhoacanga fica encravada em um vale muito profundo e cercada pela Serra do Espinhaço, que recebe denominações locais de Serra do São José, também chamada de “Serra da Escadinha”. Ao longo do Caminho
dos Diamantes – trecho compreendido entre Diamantina e Ouro Preto -, o Espinhaço recebe diversas nomenclaturas dadas pela população nativa.
Em Itapanhoacanga (1.700 habitantes) existem monumentos religiosos e ricas manifestações culturais. O povoado é distrito de Alvorada de Minas. O pequeno vilarejo é símbolo da época em que esse pequeno distrito,
na porção central de Minas Gerais, era o mais rico garimpo de ouro do Serro Frio (arraial que deu origem à cidade do Serro-MG).
A reforma da Igreja de São José (edificação barroca construída entre 1746 e 1787) está emperrada há 11 anos. Aguarda a liberação de verba. A situação é tão precária que as imagens e peças sacras foram retiradas e
levadas para um local mais seguro.
Não há TV no quarto da pousada. Fui dormir cedo. Eram 20h. Encerrei a jornada daquele segundo dia de viagem bem animado e pensando na subida da Serra da Escadinha, programada para o dia seguinte. Dormi por
longas 11 horas, que me proporcionaram o descanso merecido. A Lua entrou na fase Nova. Quando entrar na fase Cheia, chegarei a Paraty. Faltavam 872 quilômetros.
IGREJA DE SÃO JOSÉ
CAPELA DO ROSÁRIO EM ITAPANHOACANGA
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes
ITAPANHOACANGA
Foto: F. Mendes

03/05/2011. (3ªf)
ITAPANHOACANGA (MG) A
CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO (MG).
47 KM PERCORRIDOS.
Pontualmente às 8h daquela 3ªf, dia 3 de maio de 2011,
deixei a pequena Itapanhoacanga saindo pela rua principal,
virando à esquerda após o término do calçamento. Avistei o
marco da ER . Zerei o ciclocomputador no mesmo instante em
que o GPS de pulso recebeu sinal do satélite, informando-me
que a cota altimétrica era de 700m. A próxima cidade – Santo
Antonio do Norte –, também chamada de Tapera, dista 14
quilômetros de Itapanhoacanga e fica na cota 800m. Se não
tivesse estudado a altimetria desse trecho, eu diria que seria
moleza percorrê-lo, afinal saí de 700m para 800m. No
entanto, Itapanhoacanga e Santo Antonio do Norte (Tapera)
são intervaladas pela Serra da Escadinha. Nos primeiros nove
quilômetros, subi de 700m para 1.100m. Os primeiros 500m
são impedaláveis, em virtude das ravinas (valas) e muitas
pedras soltas. Nesse caso, o mais ponderado é descer e
empurrar a bike. A falta de tração pode resultar em tombo, e
tombo é tudo que um ciclista deve evitar, pois a viagem pode
terminar prematuramente. Vencidos esses 500m, voltei a
pedalar de coroinha (marcha leve) e apreciando a paisagem
que se descortinava ao meu redor, apesar de o tempo estar
nublado e com cara de chuva. E fui subindo, subindo e
pareceu-me que chegaria ao céu. Um silêncio delicioso,
quebrado, às vezes, por fracas rajadas de vento. Foi possível
ver Itapanhoacanga, lá em baixo, dentro de um buraco e
cercada pela Serra da Escadinha.
SERRA DA ESCADINHA
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes

ITAPANHOACANGA (MG) A CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO (MG).
E subi, subi e subi. Parava, fotografava e ouvia sons variados que vinham lá de baixo, no vale. Depois de uma hora pedalando em moderado ângulo de subida, consultei o ciclo computador que indicava quatro quilômetros percorridos. Parei , tomei água e consultei o GPS. Havia
chegado à cota 840m. Faltavam cinco quilômetros e mais 260m de ascensão. Isso demonstra que, a partir desse ponto, o moderado ângulo de subida suavizou-se e a pedalada tornou-se mais fácil, sendo possível trocar a marcha para a coroa do meio. À frente, o topo côncavo da Serra
da Escadinha apareceu. A ER serpenteia-o até chegar ao mirante, alcançado às 11h, após 3 horas de pedal, 400 de ascensão e nove quilômetros morro acima. Quando a inclinação deu lugar a um platô, exclamei: “cheguei”! No ponto mais alto da Escadinha, a visão de 360º é
espetacular. O tempo começou a abrir. O Sol brilhou forte. Foi a recompensa pelo esforço despendido na subida. Avistei os mares de morros formados pela Serra do Espinhaço. Como se estivesse a bordo de um avião, avistei o pequeno povoado de Santo Antonio do Norte (Tapera),
encravado num vale cercado pelas serras do Intendente e São José. Sentei-me numa pedra à beira do mirante. Momento de reflexão, contemplação e agradecimento. O GPS marcava exatos 1.100m de altitude. O mesmo valor está gravado no marco da ER localizado na “vira da serra”,
ponto no qual começa a descida da Serra da Escadinha, com apenas 4 quilômetros em fortíssima declividade. Nesse ponto, a ER transforma-se numa trilha muito técnica e sombreada. Às 11h 52, cheguei à pequena Santo Antonio do Norte, também chamada de Tapera. O povoado de Santo
Antônio do Norte ou Tapera é parte do caminho que liga Ouro Preto a Diamantina, hoje chamado Estrada Real. Suas construções, feitas de taipa caiadas de branco, se reúnem ao redor da única praça desse distrito de Conceição do Mato Dentro.
Fonte: www.wikimapia.org
Fotos: F. Mendes
Fotos: F. Mendes

ITAPANHOACANGA (MG) A CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO (MG).
Santo Antonio do Norte é uma pacata localidade da ER.
A rua principal é calçada e a igreja do Rosário tem seu charme. O sol brilhava forte depois de um início de manhã bastante nublado. No
Restaurante da Enny almocei arroz, feijão, salada, ovo e umas batatinhas da hora. O estabelecimento tem o nome da proprietária,
uma senhora que estampa a simpatia dos mineiros. Ela também administra a Pousada Coiote, a única da cidade. Pontualmente às
12h 20, segui meu rumo. A próxima localidade, 10 quilômetros à frente, chama-se Córregos que, igualmente a Santo Antonio do
Norte (Tapera), pertence a Conceição do Mato Dentro. O trecho é quase todo plano com descidas e subidas bem suaves . Às 13h 50,
após 1h e 30 de pedal, cheguei à pequena Córregos, com ruas de terra e casas bem simples.
O ponto alto da localidade de Córregos é a Igreja de Matriz de Nossa Senhora de Aparecida. Presume-se que a sua construção ocorreu entre os anos de 1745 e 1748. Porém,
na fachada estão gravadas, em cima da porta, as datas de 1872 e 1994. Possivelmente uma referência às reconstruções que ocorreram na igreja. Fundado por
bandeirantes em 1702, o Distrito de Córregos pertenceu ao Serro até o ano de 1851, passando a ser distrito de Conceição do Mato Dentro. Situado em um vale de difícil acesso,
no início de sua formação foi núcleo de mineração de ouro e diamantes. Córregos é uma das cidades históricas às margens da Estrada Real e integrante do Circuito dos
Diamantes.
Fonte: www.wikimapia.org
CHEGADA A TAPERA
IGREJA DO ROSÁRIO EM TAPERA
Fotos: F. Mendes

ITAPANHOACANGA (MG) A CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO (MG).
O velho povoado de Nossa Senhora Aparecida de Córregos tem seu casario tipicamente
colonial distribuído em uma pequena praça e algumas ruas. São casas térreas e alguns
sobrados, simples e antigos. Durante muitos anos esquecido e abandonado, o órgão da Igreja
Matriz de Nossa Senhora Aparecida no Distrito de Córregos em Minas Gerais, ressurge para
nos revelar segredos, informações históricas e de organaria até então ignoradas. Fonte:
www.anppom.com.br
É um lugar no qual se tem a sensação de que o tempo parou. Vale apreciar (e
registrar em imagens) a minúscula praça, a linda igrejinha Matriz de Nossa
Senhora Aparecida e os sobrados coloniais. O muro de pedras que circunda a igreja
foi construído pelos escravos, sem uso de cimento ou argamassa. É pedra
encaixada em pedra. E está de pé a mais de 300 anos. Deixei Córregos e pedalei
forte rumo a Conceição do Mato Dentro, 24 quilômetros à frente, meu destino
daquela 3ªf.
IGREJA NOSSA SENHORA APARECIDA EM
CÓRREGOS
Foto: F. Mendes

ITAPANHOACANGA (MG) A CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO (MG).
Após Córregos, passei por vários búfalos que se
refrescavam dentro de pequenos banhados. Minas
Gerais tem o 9º rebanho nacional, com pouco mais
que 70 mil cabeças. A bubalinocultura difundiu-se
em Minas Gerais, destacando-se pela produção de
reprodutores e matrizes para outros estados.
Durante muito tempo, búfalos estavam associados
à Ilha de Marajó. E veio a primeira baixa da
viagem: pneu dianteiro furado. Providenciei a
troca e fui em frente. Faltando 10 quilômetros para
chegar a Conceição do Mato Dentro, a Estrada Real
se sobrepõe à rodovia MG-010. A partir desse
ponto, prevalece a MG-010, em obras de
asfaltamento e intenso movimento de caminhões.
Foi brutal a diferença quanto ao movimento.
Enquanto pedalava pela ER, tranquilidade total e
diminuto movimento de veículos. Ouvia somente
os sons da natureza. Pedalando pela MG-01,0 com
asfalto recém inaugurado, o trânsito era intenso e
muitas máquinas trabalhavam nos trechos ainda
por asfaltar. Cheguei ao Hotel Cuiabá por volta das
16h 30, a tempo de assistir ao seriado Chaves, no
SBT. Naquele dia percorri, na minha opinião, a
etapa mais bonita do Caminho dos Diamantes. O
céu de outono, sem nuvens, a temperatura
agradável, o canto dos galos, o mugir dos bovinos,
o cheiro de mato, o tempo que passa
preguiçosamente. Isso é a Estrada Real.
Paraty a 818 km.
Trecho da Estrada Real entre Córregos e Conceição
Búfalos em Córregos
Fotos: F. Mendes

IGREJA DO BOM JESUS DE MATOZINHOS EM CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO (MG).
Aproveitei o que restava de luz natural e fui ao
Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, a mais bela da
Estrada Real, embora não seja em estilo barroco.
Em 1931, a igreja encontrava-se em péssimo estado de conservação e
foi totalmente demolida e substituída por uma construção moderna.
Edificação recente, sem ter um significado artístico -arquitetônico, o
atual Santuário do Senhor Bom Jesus de Matozinhos merece menção
por ser centro de romaria, que se realiza anualmente pelas festas do
Jubileu, entre 14 e 24 de junho, desde os tempos coloniais. A decisão
de construir a igreja foi tomada pela irmandade em reunião no dia 14
de março de 1931. O lançamento da pedra fundamental ocorreu em 8
de novembro do mesmo ano. O projeto é de autoria do arquiteto
Mario Moreira. As linhas arquitetônicas são bastante ecléticas,
variando do mourisco ao neogótico. A entronização da imagem do
Bom Jesus no Santuário se deu a 12 de maio de 1934.
Fonte: www.portalcmd.com.br
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes

04/05/2011 (4ªf)
CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO (MG)
A ITAMBÉ DO MATO DENTRO (MG).
64 KM PERCORRIDOS.
Acordei com barulho de conversa alta, alguém assoando o
nariz no banheiro do corredor enquanto outro tossia e puxava
aquela “ostra”. Bela maneira de acordar. Eram 6h da manhã. O
Hotel Cuiabá hospeda muitos funcionários das mineradoras
que trabalham na região de Conceição do Mato Dentro. A
alvorada para esses trabalhadores é cedo, mas para mim não
era. Não tive opção. Levantei-me muito a contra gosto. Tentar
dormir com aquela algazarra, sem chances. Quando cheguei
ao refeitório, não havia mesa disponível. Esperei por meia
hora. Após terminar o café, arrumei as tralhas e pedal na
estrada. Eram 8h quando deixei Conceição pedalando pela
MG-010. Um subida infernal de 2,5 quilômetros e a cidade foi
ficando cada vez menor dentro de um buraco. Após vencer
essa subida, a MG-010 e a Estrada Real – sobrepostas até ali –
bifurcam-se. À direita, MG-010 para Serra do Cipó, Lagoa
Santa e BH; à esquerda, Estrada Real para Morro do Pilar e
Itambé do Mato Dentro, percurso daquele 4 de maio, uma
quarta-feira decisiva na Taça Libertadores, com os jogos de
volta das oitavas de final. O Fluminense estava nessa. No
ponto em que as rodovias bifurcam-se, parei para registro de
fotos. O tempo estava nublado, mas dava indícios que
melhoraria. E melhorou. Após o registro fotográfico,
abandonei a MG-010 e virei à esquerda, ingressando na
Estrada Real, em leito natural, bucólica e maravilhosa. A
temperatura era de 17ºC, ideal para pedalar. BH
Morro do Pilar
Fotos: F. Mendes

CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO (MG) A ITAMBÉ DO MATO DENTRO (MG).
Ao ingressar na Estrada Real veio uma descida forte para compensar a subida animal na saída de Conceição. Pedalei por um longo trecho plano e
sombreado. De ambos os lados, pequenas propriedades com gado no pasto. O tempo começou a abrir. Hora de renovar o protetor solar. Parei. Um
silêncio delicioso, quebrado apenas pelo barulho dos pneus abrindo caminho no solo salpicado por pequenas pedras. Passei pelo rio Santo Antônio, que
dá nome ao vale no qual Conceição foi edificada. Nas águas desse rio, o ouro era lavado. E as planuras continuaram até o rio do Peixe. Daí para frente, as
subidas e as descidas se alternaram até, do alto do último aclive, avistar a torre da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar.
O arraial que deu origem à cidade surgiu no alto de um morro no qual o bandeirante Gaspar Soares encontrou ouro, em 1701. Ali, construiu uma capela dedicada
à Nossa Senhora do Pilar. A exploração durou até 1743, quando um desmoronamento matou 18 escravos e interrompeu as atividades mineradoras. Morro do
Pilar abrigou a primeira fábrica de ferro líquido do Brasil, em 1814. A Real Fábrica de Ferro ou Fábrica do Rei é hoje um dos principais pontos turísticos da
região. O Monumento do Intendente da Câmara foi erguido em homenagem ao intendente responsável por sua instalação. Da época da exploração do ouro estão
as ruínas da Mina do Hogó, exploradas pelo próprio fundador da cidade. A Igreja do Canga, construída em 1710, e a Matriz de Nossa Senhora do Pilar são
singelas demonstrações da fé dos moradores de Morro do Pilar, conhecida como a primeira cidade da América do Sul a abrigar um alto-forno para produção
de ferro, que foi construído em 1814. A pioneira fábrica funcionou, em regime de produção mais ou menos regular, de 1814 a cerca de 1830, época em que
encerrou suas atividades, de acordo com Carneiro de Mendonça em seu livro "O Intendente Câmara". As remanescentes ruínas da Real Fábrica de Ferro ainda
documentam de modo expressivo o passado arrojado de industrialização. Esta iniciativa marcou o empreendimento siderúrgico em terras mineiras, e teria
apenas em 1921, com a fundação da Cia. Siderúrgica Belgo Mineira, a sua maior expressão. Morro do Pilar, nos dias atuais, se ocupa da produção de cana-de-
açúcar, laranja, banana, mandioca, milho, pecuária, além de indústria de transformação e mineração, cultivando também uma área de reflorestamento de
eucalipto.
Fonte: www.prefeituramorrodopilar.com.br
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes
Matriz de Nossa Senhora do Pilar

CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO (MG) A ITAMBÉ DO MATO DENTRO (MG).
Eram 13h quando cheguei a Morro do Pilar. Deixei o piso de terra da ER e comecei a pedalar num calçamento muito irregular, com pedras dispostas de forma desorganizada. Atravessei uma pequena ponte e subi muito até alcançar a
parte central da cidade. Num bar em frente à Igreja de Nossa Senhora do Pilar, almocei muito bem. Depois, sentei-me num banco adjacente à igreja para descansar. Sombra refrescante para aliviar o calor. O alto-falante da paróquia, que
funciona como uma rádio comunitária, anunciava que naquela noite haveria reunião de pais e mestres do grupo escolar. Também foram convocadas as pessoas ligadas à igreja para uma reunião após a missa das 18h. Toda forma de
comunicação é válida. Numa localidade tão pequena como Morro do Pilar, o alto-falante da igreja é o arauto de boas e más notícias, como o comunicado de falecimento de um nativo, ocorrido assim que comecei a pedalar rumo à saída da
cidade. Eram 14h. Faltavam 38 quilômetros para Itambé do Mato Dentro. A altimetria foi dura nesse trecho. Na saída, caminho sombreado e plano com 8 quilômetros acompanhando o rio do Peixe. Mas a moleza acabou quando atravessei
a última ponte. Pela proa encarei 22 quilômetros de subida constante, embora com moderada inclinação. Mas o excesso de pedras e valas me fez – por segurança – empurrar a bike algumas vezes. Às 16h 50, tendo a deslumbrante
paisagem da Serra do Cipó ao fundo, cheguei ao topo da subida, na cota 900m. Os quatro quilômetros restantes, para alívio das pernas e pulmões, foram feitos em declive até chegar ao calçamento da cidade. Eram 17h15 e a missão
daquele dia estava cumprida. Hospedei-me na Pousada Lava Pés, tomei banho e assisti ao seriado Chaves, no SBT. Às 19h saí para jantar e dar uma volta pela bucólica localidade, que parece dormir com as galinhas.
Às 20h 30, não havendo mais nada a fazer, e quase ninguém nas ruas, fui dormir o sono dos justos e dos cansados. Foi um belo dia de pedal.
Paraty a 767 quilômetros.
Estrada Real entre M. Pilar e Itambé
Chegada a Itambé do Mato Dentro
Foto: F. Mendes
Fotos: F. Mendes

05/05/2011 (5ªf)
ITAMBÉ DO MATO DENTRO (MG) A
BOM JESUS DO AMPARO (MG).
44 KM PERCORRIDOS.
Foram portugueses os primitivos habitantes que
aportaram em Bom Jesus do Amparo, tendo
na figura do Major Pedro Augusto Teixeira
da Motta a pessoa de maior destaque entre
todos aqueles desbravadores. Vindo de
outras regiões, procurou implantar no local
a agropecuária, estabelecendo-se na
Fazenda Rio São João.
Tendo em vista a excelente qualidade das
terras para o plantio de cereais e culturas
permanentes, outras pessoas foram se
fixando no local, dando origem, à povoação.
Quanto ao topônimo (expressão usada para
nomear um lugar), dizem os mais antigos
que Pedro Motta, primeiro morador do
local, residiu na cidade de Amparo, em
Portugal, e sendo o Senhor Bom Jesus o
padroeiro do lugar, tomou este o nome de
Bom Jesus do Amparo. Fonte: Biblioteca
IBGE.
ITAMBÉ, EM TUPI, QUER DIZER
PEDRA AFIADA, REFERINDO-SE AOS
PICOS DA SERRA DO ESPINHAÇO .
Ao acordar, um funcionário da pousada informou-me que o
Fluminense foi eliminado da Taça Libertadores. Ele nem pode me
zoar. O Cruzeiro também foi eliminado. Deixei Itambé do Mato
Dentro às 9h. Encarei uma subida forte de 4 quilômetros para sair
do buraco no qual a cidade está. Pouco antes de chegar ao topo do
primeiro aclive do dia, ouvi aquele inconfundível som de máquinas
pesadas quando dão marcha à ré: pi-pi-pi-pi. À medida que a
subida foi acabando, vi um trator fazendo a terraplanagem da ER
para posterior asfaltamento até Ipoema, distrito de Itabira, berço
do poeta Carlos Drummond de Andrade. Embora muitos não sejam
a favor da cobertura asfáltica da ER, eu adorei. Nos próximos 32
quilômetros, nada de valas, pedras soltas ou areia. O solo bastante
compactado rendeu uma média muito boa, chegando a Ipoema às
11h. Fui conhecer o Museu dos tropeiros.
Criado a partir de uma expedição chamada Spix & Martius, que contou com 23
pessoas de várias áreas (médicos, ornitólogos, jornalistas, biólogos, artistas
plásticos, psicólogos, cinegrafistas, poetas, dentre outros), que fizeram um
levantamento do patrimônio cultural e natural da ER a partir do século XVIII. A razão
de vários profissionais é devido à riqueza do patrimônio da Estrada Real. Ao
chegarem a Ipoema foram recepcionados pela benção dos cavaleiros e por uma
exposição que apresentava as peças que os tropeiros usavam durante as viagens,
além das quitandas típicas da terra, dentre essas o cubu na folha de bananeira. Ao
terminarem a Expedição resolveram que o Museu do Tropeiro seria instalado no
distrito de Ipoema, devido à hospitalidade do local.

A ITAMBÉ DO MATO DENTRO (MG) A BOM JESUS DO AMPARO (MG).
Em 29 de março de 2003, o Museu foi inaugurado com o objetivo de fortalecer a vocação espontânea do tropeirismo, que era uma marca do
distrito de Ipoema. Abrigado em uma casa construída no século XVIII e que pertenceu ao tropeiro conhecido como ‘sô’ Neco, o Museu contém hoje
mais de 700 peças que fazem alusão à cultura tropeira, além de documentos desses comerciantes (título de eleitor, certidão de casamento e
livros de compra e venda), que viajavam pelas estradas do interior brasileiro. Cerca de 500 peças pertenceram ao colecionador José Dutra,
fazendeiro da cidade de Rio Vermelho. O local também se transformou num espaço de convivência com múltiplas funções, sendo palco para
apresentações artísticas e culturais, degustação da deliciosa culinária regional e, principalmente, para a velha e boa prosa.
Nos séculos XVII e XVIII com a descoberta do ouro e, posteriormente, de diamantes, houve uma grande migração de portugueses, paulistas e
escravos em busca do "Eldorado", nas terras das Minas Gerais.
Devido ao grande contingente populacional criado na região, a escassez de alimentos e produtos básicos não demorou a acontecer, gerando alta
taxa de mortalidade. Para os mineradores não era viável colocar um escravo para trabalhar na plantação de alimentos, pois era uma força a
menos na busca pelo ouro. Como conseqüência desse acontecimento, surgiram os Tropeiros - viajantes encarregados de fazerem a transição de
alimentos e materiais de necessidades básicas de outras regiões para a região de exploração. Os muares (animal resultante do cruzamento
entre jumento e eqüino) eram os animais propícios para esse tipo de serviço na região, pois outros tipos de transporte, como os carros de boi,
não conseguiriam chegar aos locais devido às irregularidades do terreno nas zonas de exploração. Fonte: www.vivaitabira.com.br/host
Após conhecer esse acervo, o maior da ER sobre tropeirismo, fui almoçar. Às 15h deixei Ipoema para cumpri os 13
quilômetros restantes para Bom Jesus do Amparo. Pedalei sobre asfalto novo e altimetria generosamente suave.
Cheguei a BJA às 16h e hospedei-me na Pousada Real, a única da cidade. À noite saí para conhecer a cidade, comi
pizza e fui dormir. Paraty a 717 quilômetros.
MUSEU DO TROPEIRO
Igreja Matriz em Bom Jesus do Amparo.
Foto: F. Mendes

06/05/2011 (6ªf)
BOM JESUS DO AMPARO (MG) A CATAS ALTAS (MG).
73 KM PERCORRIDOS.
Acordei ced o, mas con tinu ei d eitad o. Estava escu ro. Qu an do ab ri a jan ela, o tempo mostrou- se fechado. Ameaça de c hu va. Fui tomar café. A p ou sad a na q u al me h osp edei é coman d ada por pai e filho. Por isso entend i o porqu ê d as mesas sem toalh as. Qu e falta faz u ma mulher n a ad ministração. Saí sem dar mu ita importância ao
temp o n ub lad o. N essa ép oca d o ano, as chu vas r areiam e inicia-se a estiagem. Dito e feito. Qu an do comecei a pedalar pelos seis qu ilômetros iniciais em asfalto, as n u ven s foram se dissipand o e o sol v eio forte. Ab and on ei o asfalto e in gressei na ER, em leito n atural e com mu ito cascalh o. O p ercu rso está em b oas cond ições, com
predomínio de ter reno plano. A p ais agem q ue marca o camin ho é comp osta p elas gran d es p lan tações de café d a região. Em algun s trech os elas ab rem esp aço p ara florestas p lan tadas de eu caliptos. Atravessei a Rod ov ia M G-4 3 4, q ue vai p ara Itabira e con tin u ei p ela ER. À d ireita, eucaliptos; à esq uerd a áreas d e pasto. M ais à
frente, semp re em terren o p lan o, p assei p or várias ch ácaras q u e têm imp on en tes casas com p iscin as e h aras. Ap ós forte d escid a, ch egu ei à r od ovia BR- 3 81 , qu e liga Belo H orizonte a João Monlevade. Atravess ei-a e p arei n um p osto. Eram 10 h. Ab astecid as as caraman h olas c om águ a, pedalei 5 00 m pela BR-3 81 e v irei à d ireita,
v oltand o à ER. Veio uma su b ida forte e os eu calip tos pas saram a d ominar ambos os lad os d o p ercu rso. Uma p aisagem sin istra, s emelh ante ao filme Bru xas d e Blair. Percorri todo o eucaliptal ao som d a p assarad a e d o zu mbid o d e ab elh as . Hav ia u ma névoa qu e acentuav a, aind a mais, a atmosfera fu n esta daq u ele trech o d a ER.
Área de Reflorestamento de Eucaliptos.
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes

BOM JESUS DO AMPARO (MG) A CATAS ALTAS (MG).
Venci mais duas subidas fortes, sempre ladeado pela plantação de eucaliptos. Avistei o povoado de Cocais. Eram 13h. Parada para o almoço. Fiz uma bela refeição num bar e segui para Barão de Cocais. Sabia que a pior subida do dia estava próxima. E não tardou a aparecer na minha frente. Em oito quilômetros, subi 400
metros. Foi uma boa atividade para fazer a digestão. Iniciei pedalando bem devagar por conta das valas, mata- burros e pedras soltas. Em alguns trechos parei para fotos. Em outros para empurrar a bike por falta de tração. Passei pelo Sí t i o A r q u e o l ó g i c o d a P e d r a P i n t a d a c o m p i n t u r a s r u p e s t r e s d e 6 m i l a n o s.
Cocais (Distrito de Barão de Cocais) foi fundada no século XVIII. Tem como atrativos belas cachoeiras, além das ruínas do Congo Soco, uma antiga mina adquirida pelos ingleses no século XIX. O local acabou se transformando em uma vila britânica, com hospital, capela e cemitério particular. E assim, pedala um pouquinho,
empurra um pouquinho, cheguei ao topo 2 horas após ter saído de Cocais. Eram 15h 30. Parei no mirante da Pedra da Combota, que além de ser considerado ponto chave para estudos geológicos, oferece uma vista panorâmica de várias cidades. E que vista. D esci três quilômetros e depois mais três em planuras até entrar em
Barão de Cocais. Eram 15h50. O trecho desse dia foi muito duro. Se seguisse pela ER até Catas Altas chegaria muito tarde. Optei em ir pelo asfalto (MG-129). Passei por Santa Bárbara às 16h 15. Nesse ponto da MG-129 tem um acesso (de 20 km com muitas subidas) para O Santuário do Caraça, que N Ã O F A Z P A R T E D A
E ST R A D A R E A L . Quem pensa em ir ao Santuário conhecê-lo e voltar para a ER, melhor desistir. São 40 km (ida e volta) e um tempo precioso será gasto. A menos que o viajante queira pernoitar por lá. Fui visitar o Bicame de Pedra. T rata-s e de u m aq uedu to com 4 metros d e altu ra, con struíd o p elos escrav os em 1 79 2. Servia para
captação d e água do alto d o M aciço do Caraç a, qu e era destin ad a à lav agem d e min érios e c ascalh os, como par te d o sistema d e ex ploração aurífera d os sécu los XVIII e XIX. Nad a d e cimen to ou argamas sa. E está em p é a mais d e 2 00 an os.
Bicame de Pedras
Maciço do Caraça
Fotos: F. Mendes
Foto: F. Mendes

BOM JESUS DO AMPARO (MG) A CATAS ALTAS (MG).
O trecho da ER chega ao fim na cidade de Catas Altas. Fundada em 1703 por bandeirantes, teve a decadência de sua economia com término da exploração de ouro. Quando cheguei
estava anoitecendo. A pequena Catas Altas foi edificada na base do Maciço do Caraça. É uma cidade simpática e as ruas são todas calçadas com pedras. Fui para Pousada Solar da
Serra. Era o único hóspede. Viajar em baixa temporada tem suas vantagens. Quando abri a janela do quarto, lá estava ela, a Lua Nova, com seu fino halo, parecia sorrir e falar para
mim. “Parabéns. Você está indo muito bem na ER”. “Quando eu estiver cheia, saudarei sua chegada a Paraty”. Em Catas Altas, cães e gatos abundam pelas ruas. A maioria tem dono,
mas seus proprietários preferem que os bichos fiquem soltos. Diferentemente de outras cidades que passei, nas quais vi muitos cães e gatos abandonados, em Catas Altas quase
todos têm coleira. A prefeitura comanda o mutirão de castração dos animais, sob controle de veterinários e voluntários. Jantei no Restaurante Casa de Taipa, que serve a típica
comida mineira: arroz, feijão, farofa, salada e bisteca de porco. O trecho desse dia foi puxado, porém recompensado pelas paisagens. Fui dormir relembrando o trecho da sinistra
floresta de eucaliptos e o zum-zum-zum das abelhas. Mais um lugar especialmente belo pelo qual passei e que merece outra visita quando possível.
Paraty a 644 quilômetros.
Catas Altas
Capela Santa Quitéria em Catas Altas
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes
Fotos: F. Mendes

BOM JESUS DO AMPARO (MG) A CATAS ALTAS (MG).
Situada ao pé da Serra do Caraça, a apenas 120 quilômetros de Belo Horizonte, a aconchegante e turística cidade pertenceu ao ciclo do ouro. O
primeiro batismo foi celebrado na capela de Nossa Senhora de Conceição, em 1712, época que coincide com o início da construção da Igreja Matriz de
Nossa Senhora da Conceição. Nesta época se delineou o aglomerado urbano formado ao redor da mineração.
Em 1718, o arraial foi elevado à freguesia, através de medidas da administração colonial, sendo a paróquia declarada de natureza coletiva. Seis anos
mais tarde, foi nomeado o primeiro vigário de Catas Altas, então chamada de Catas Altas do Mato Dentro para diferenciar de Catas Altas da Noruega.
A construção da Igreja da Matriz prolongou-se até por volta de 1780, encontrando-se inacabada até os dias atuais.
A mineração de ferro é hoje a principal atividade econômica. Mesmo tendo causado grandes estragos ao ambiente, pois o controle ambiental é
bastante recente, a atividade não conseguiu diminuir a imponência e beleza da Serra do Caraça, guardiã da cidade. Com o esgotamento das minas,
Catas Altas tornou-se um arraial abandonado e em ruínas. Os habitantes remanescentes se dedicaram ao cultivo de pequenas roças de subsistência.
No início do século XIX, o arraial contava com 200 casas enfileiradas em duas ruas. A mineração sobrevivente era feita nas lavras do Capitão-mor
Inocêncio. O Capitão-mor recebeu, então, o conselho do naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire de substituir a exploração do ouro pela do ferro,
cujas reservas eram abundantes na região. Saint-Hilaire visitou a região nos idos de 1816.
Em 1821 o Bispo de Mariana passou por Catas Altas e falou do estado da Matriz de Catas Altas, da capela de N.S. do Rosário dos Pretos, Santa Quitéria
e a Ermida da Arquiconfraria de São Francisco. Contou que o povo era muito chegado à igreja e que havia nada menos do que seis padres na paróquia.
Hoje apenas a matriz resta para glorificar aqueles tempos. Em 1839, por ocasião da emancipação do município de Santa Bárbara, Catas Altas passou
a pertencer à sua jurisdição até 1995, quando também emancipou-se.
Fonte: www.serradocaraca.tur.br/atrativos_catas_altas

07/05/2011 (SÁBADO)
CATAS ALTAS (MG) A MARIANA (MG).
54 KM PERCORRIDOS.
Acordei tarde, lavei a bike no jardim da pousada e bati em retirada às 11h. Por absoluta falta de atrativos no trecho da ER entre Catas Altas e Mariana, decidi pedalar pela rodovia MG-129. Foram 54 quilômetros marcados por fortes aclives e declives, numa estrada com pouco
movimento. Contornei o Maciço do Caraça, ferido em vários pontos pela ação da mineradora Maybach Mineração e Serviços Ltda. Minas Gerais está sendo consumida - dia a dia - pelas empresas mineradoras. A maioria delas não age em conformidade com a lei e nem sempre são
cobradas ou punidas pelos órgãos fiscalizadores do ambiente. A situação é preocupante. A sociedade civil de Catas Altas está mobilizada para impedir a degradação do Caraça.
No Brasil Colônia, o ouro seguia das Minas Gerais para o porto de Paraty em comboios formados por mulas. No Brasil do século XXI, o minério de ferro viaja em comboios puxados por locomotivas a diesel até os portos de Vitória (ES) e Sepetiba (RJ). O ferro é vendido a peso de ouro.
No ano 2000, a tonelada era comercializada por US$ 20; em 2011 está US$ 110. O aquecimento da demanda mundial pelo minério de ferro, alimentado principalmente pela China, tem movimentado um mercado que parecia estar, até então, quase extinto: o da compra de reservas
minerais. Pedalava tranquilamente pela MG-129. Um inconfundível apito de trem se fez ouvir atrás do mato alto que separa a rodovia dos trilhos. Um enfileiramento de vagões carregados de minério de ferro. Gigantesca e interminável serpente. Parei para assistir a passagem.
Marquei no relógio. Três minutos e não conseguia ver o último vagão. No passado, o ouro ia para Portugal. Hoje, o ferro de Minas Gerais vai para a China. Exportar é o que importa.
Maciço do Caraça Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes

CATAS ALTAS MG) A MARIANA (MG)
A região do centro-sul de Minas Gerais que, ao final da década de 50 (1951 a 1960), passou a ser chamada de Quadrilátero Ferrífero, abrange uma área de cerca de 7.000 km
2
, na qual um conjunto de serras dispostas quase ortogonalmente é assinalado pela ocorrência de formações ferríferas e minérios ferro. Em
decorrência da sua história e dos recursos que ainda encerra, o Quadrilátero Ferrífero pode ser considerado como a mais importante província mineral do Brasil. A descoberta do ouro na região, ao final do século XVII, constituiu o centro de atração de levas de mineradores para o interior brasileiro e, em virtude disso,
representa um marco da interiorização e urbanização do País, antes uma terra essencialmente litorânea e agrária. Catas Altas e Marina fazem parte do Quadrilátero Ferrífero, juntamente com outros 28 municípios, entre eles Belo Horizonte e Ouro Preto. A chegada a Mariana se deu por volta das 15h. Foi um dia de
pedal curto, sob sol forte. Hospedei-me no Hotel Brasil Real. A pós o banho, saí para caminhar pelo Centro Histórico e aproveitar o resto da luz natural. Mariana foi a primeira vila, a primeira capital, a sede do primeiro bispado e a primeira cidade a ser projetada em Minas Gerais. A história de Mariana, que tem como
cenário um período de descobertas, religiosidade, projeção artística e busca pelo ouro, é marcada também pelo pioneirismo de uma região que há três séculos guarda riquezas que nos remetem ao tempo do Brasil Colônia. Em 1745, por ordem do rei de Portugal D . João V, a região foi elevada à cidade e nomeada
Mariana – uma homenagem à rainha Maria Ana D ’Austria, sua esposa, transformando-se no centro religioso do Estado. Naquela época, a cidade passou a ser sede do primeiro bispado mineiro. Caminhei pelo Centro Histórico e me senti como um tropeiro recém chegado à cidade. Tomei o primeiro café expresso desde a
saída de D iamantina. Encerrei o Caminho dos Diamantes (Diamantina a Ouro Preto). No dia seguinte, comecei a percorrer o Caminho Velho (Ouro Preto a Paraty). A 1ª etapa foi vencida. Paraty a 590 quilômetros.
Igreja do Carmo
Igreja de S. Fcº
de Assis
N. Srª Assunção
Fotos: F. Mendes
Fotos: F. Mendes

CATAS ALTAS (MG) A MARIANA (MG).
O Santuário de Nossa Senhora do Carmo teve sua construção iniciada em 1784. Destaca-se das
outras igrejas da cidade pela fachada, com florões na portada e torres cilíndricas, o que lhe
dá um ar soberano e a primazia na arte e no belo. Foi erguida pelos irmãos da Ordem
Terceira do Carmo. Em seu interior, os altares laterais são em talha, no estilo rococó. A
capela-mor é coberta com abóbada de aresta. O altar-mor e o retábulo (*) são de talha
elegante, com arco semicircular apoiado em colunas e pilastras entalhadas. Em 20 de
Janeiro de 1999, um incêndio destruiu todos os elementos em madeira da nave principal.
Várias imagens dos séculos XVII e XVIII e a pintura do teto foram também consumidas
pelo fogo.
(*) Construção de madeira ou pedra, em forma de painel e com lavores, que se coloca na parte posterior dos altares e que é geralmente decorada
com temas da história sagrada ou retratos de santos.
A Igreja de São Francisco de Assis teve sua construção iniciada em 1763 e concluída em 1794. A
pintura esteve a cargo de vários artistas, destacando-se entre eles Manoel da Costa Athayde e
Francisco Xavier Carneiro. O interior da igreja em talha e os retábulos, púlpitos e douramentos
dos altares valorizam o conjunto. O medalhão da portada, em pedra sabão, é atribuído a
Aleijadinho. Nela está sepultado o Mestre e Pintor Manoel da Costa Athayde, na tampa número
94. Os lustres do século XVIII são de cristal da Boêmia. A pintura no centro do teto estampa o
dilúvio e a arca de Noé e as do lado se referem aos quatro papas que colaboraram com a
Ordem Terceira de São Francisco de Assis.
A Catedral de Nossa Senhora da Assunção (Sé) é um dos mais belos monumentos religiosos do
Brasil colonial e mais antiga Matriz da cidade. Sua construção foi iniciada em 1709 e concluída
por volta de 1750. Foi trabalhada por dois grandes vultos da arte barroca: José Pereira Arouca e
Manoel Francisco Lisboa, pai do Aleijadinho. No batistério há uma tela do pintor Athayde, com
retábulos da primeira fase do Barroco. Na pia batismal no tapavento, que é o mais belo da
região, nota-se a presença surpreendente de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. No altar-
mor, a imagem de Nossa Senhora do Carmo, com o manto bordado a ouro, autenticamente
português.
Fonte:www.mariana.mg.gov.br

CAMINHO VELHO
ESTRADA REAL
CAMINHO VELHO
OURO PRETO (MG) A PARATY (RJ)
A partir da descoberta de ouro em Minas Gerais, esse caminho transformou-se, ao final do século XVII , na rota preferida para atingir-se a região.
Tornou-se também o melhor caminho – até então – para o escoamento de ouro até Paraty e posterior embarque para Portugal. Seus 618 quilômetros
eram percorridos em até 25 dias de viagem.

08/05/2011 (DOMINGO. DIA DAS MÃES)
MARIANA (MG) A CONGONHAS DO CAMPO (MG).
90 KM PERCORRIDOS.
Eram 9h da manhã quando deixei Mariana pela A venida Nossa Senhora do Carmo, que desemboca na BR-356 (Rodovia dos Inconfidentes). Dessa forma, não passei por dentro de Ouro Preto. Passei ao largo da cidade, vendo a antiga Vila Rica a distância, evitando aquelas ruas apertadas,
muito movimentadas e com ladeiras de absurdas inclinação. O percurso de Mariana a Ouro Preto tem 11 quilômetros asfaltados em subida moderada. Saí da cota 700m e atingi o trevo de acesso a Ouro Preto na cota 1.200m. Um belo aquecimento para o domingo, D ia das Mães. Naquele
ponto, tem um marco da ER indicando a saída para São Bartolomeu, Glaura e Cachoeira do Campo, à direita.
Enquanto me preparava para essa viagem, assisti a um vídeo no You Tube, que mostra uma turma de São Paulo percorrendo – de bike – o trecho Ouro Preto-São Bartolomeu-Glaura-Cachoeira do Campo. As imagens me convenceram a não seguir por ali. A trilha é estreita e em mata
fechada. Eles tiveram que carregar as bikes no ombro por 3 quilômetros em piso escorregadio e em forma de “V”. Eu carregava 15 quilos de bagagem. Optei por seguir até Cachoeira do Campo, 11 quilômetros à frente, pela BR-356. D essa forma, evitei problemas. Rapidamente cheguei a
Cachoeira do Campo (distrito de Ouro Preto), que fica às margens da BR-356, virei à esquerda e entrei na ER. Mais 9 quilômetros, cheguei a Santo Antonio do Leite. Parei para almoçar uma suculenta bisteca de porco com arroz, feijão e salada. Faltavam 54 quilômetros para Congonhas.
IGREJA MATRIZ DE SANTO ANTONIO DO LEITE
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes

MARIANA (MG) A CONGONHAS DO CAMPO (MG).
O restaurante fica em frente à Igreja Matriz de Santo Antonio do Leite. Eram 14h 10 quando retomei a viagem. Pedalando devagar pelo calçamento irregular da cidade, logo avistei o marco que indicava a direção de Congonhas do Campo. Terminado o trecho em calçamento, a ER passou a
ser em leito natural, larga e em boas condições de tráfego. D e ambos os lados, enormes pastagens rodeadas pelo esplendor da Serra do Espinhaço. Pequenas propriedades à beira do caminho dão o tom bucólico do lugar. A travessei uma ponte sobre um pequeno córrego, que forma
várias corredeiras convidativas ao banho. Estava quente para um domingo de outono. D eixei o banho de lado. Ainda faltava muito chão até Congonhas. Não queria me atrasar e muito menos pedalar à noite. Às 15h 08 passei pelo acesso a Itabirito e às 15h 20 estava atravessando a
pequena Engenheiro Correa (distrito de Ouro Preto), com casas simples de ambos os lados. Pedalava por um piso que um dia foi chamado de asfalto. Parei no único empório local e tomei uma Coca-Cola. Não havia água para vender. Voltei a pedalar. A vistei uma senhora na janela de uma
casa. Saudei-a com um “boa tarde”. Ela respondeu-me em minerês “tarde sô!” Perguntei se ela poderia encher minhas du as garrafas com água. Prontamente e, em minrês, ela sorriu e respondeu-me “ispera un cadim”. “Vorto gurinha messs”. E saiu com as garrafas para dentro d e casa. E
demorou, demorou e demorou. Passados uns cinco minutos, ela voltou com uma bandeja com biscoitos, um pedaço de queijo, outro de goiabada e uma garrafa com café. Isso chama-se hospitalidade mineira, presente em toda a ER . Gente simples, num lugar simples e sempre prontas a
ajudar. Lanche providencial e inesperado. Viver é ter a chance da surpresa. Uma hora depois, atravessei a minúscula Miguel Burnier, antiga São Julião, Distrito de Ouro Preto.
Estrada Real
Engenheiro Correa
Estrada Real
Fotos: F. Mendes
Foto: F. Mendes

MARIANA (MG) A CONGONHAS DO CAMPO (MG).
O distrito outrora chamava-se Região do Rodeio, composto por fazendas mineradoras de ouro,
localizadas nas depressão do terreno, chamadas de caldeirões. Com o término do Ciclo do Ouro,
Miguel Burnier transformou-se num dos mais importantes pontos de entroncamento da estrada de
ferro no Brasil. A Estação Ferroviária, que herdou o nome do chefe da ferrovia, o engenheiro
Miguel Noel Nascentes Burnier, foi inaugurada em 1887, tendo completado 124 anos em 2011. Em
1889, a ferrovia chegou até Ouro Preto. A transferência da capital mineira, de Ouro Preto para
Belo Horizonte, desembarcou e embarcou em Miguel Burnier, além da mão de obra e materiais
necessários para a construção de Belo Horizonte, vindos de diversas partes do Brasil. Miguel
Burnier era o ponto de entroncamento que ligava a nova Belo Horizonte a Ouro Preto e ao Rio de
Janeiro. Mas com a decadência do transporte ferroviário no Brasil, esse ramal foi abandonado,
depois de ter passado à administração da Leopoldina em 1970. Em 2007 começaram a existir
tentativas locais de reforma e reutilização do prédio da estação. Créditos: SETUR/MG.
"Infelizmente tudo em Miguel Burnier cheira a miséria. As casas da Central, ricas, bem
construídas e adornadas, são ocupadas por gente que não tem onde cair morta. Sem
manutenção, as casas vão aos poucos definhando, lentamente desaparecendo, matando o
passado ferroviário que hoje se resume aos trens da MRS, que levam aço da Usiminas
para os Portos do Rio e de Santos. (Gutierrez L. Coelho, 28/9/2008).
Miguel Burnier não é a única localidade do Brasil que entrou em decadência
em virtude da desativação de um ramal ferroviário. Próspera no passado, hoje
o distrito sucumbe ao descaso e padece no esquecimento. Um projeto
chamado Estação Cultura está tentando recuperar uma das mais importantes
estações ferroviárias do Brasil. Ao atravessar Miguel Burnier, constatei
pobreza por todos os lados. A estação está caindo aos pedaços e virou moradia
de sem tetos. Que tristeza! No Brasil, o rodoviarismo eclipsou o ferroviarismo
e as rodovias foram elevadas à condição de cultura e arte. Tanto é verdade,
que várias expressões, ligadas às estradas, foram incorporadas ao linguajar
cotidiano: “vou pôr o pé na estrada”; “fulano é experiente, tem “x” anos de
estrada” ou “para me aposentar, ainda tenho muita estrada a percorrer”.
E viva o ex-presidente Washington Luís Pereira de Sousa (1926-1930).
MIGUEL BURNIER
MIGUEL BURNIER
MIGUEL BURNIER
Fotos: F. Mendes
Foto: F. Mendes

MARIANA (MG) A CONGONHAS DO CAMPO (MG).
Às 17h 04, com a luz natural quase acabando, parti para a última etapa do dia. Faltavam 20 quilômetros para Congonhas do Campo. Pela planilha, o asfalto não tardaria a chegar. Sendo assim, em pouco mais de uma hora estaria parando para pernoite. O asfalto
logo apareceu e passei a pedalar forte por um trecho plano e sem movimento. Após passar sob uma enorme ponte ferroviária da MRS Logística, a ER desemboca na rodovia – duplicada – que liga Ouro Branco a Congonhas do Campo. Eram 17h 38. Na direção
oeste, as cores derradeiras do entardecer. Os últimos quilômetros foram percorridos no escuro. Menos mal. A rodovia tem asfalto impecável e o movimento de veículos era zero. Às 17h 58 avistei uma placa indicando Congonhas do Campo e BH à direita. Desci a
alça de acesso à BR-040 e me senti quase no hotel, tomando aquele banho merecido. Minhas pernas estavam negras da fuligem do minério de ferro que cai dos caminhões que circulam pela região. Entrei na BR-040. Teria que pedalar 3 quilômetros até a
entrada de Congonhas. Senti a bicicleta instável. O que eu menos queria naquela hora era um pneu furado, faltando tão pouco para chegar. O que não tem remédio, remediado está. Empurrei a bike até um posto à beira da rodovia, tirei os alforjes, saquei a roda
traseira e substituí a câmara furada por uma nova. Fui à borracharia, providenciei o remendo e enchi o pneu. Essa operação levou uns 30 minutos. Eram 18h 30 quando voltei a pedalar por uma rua paralela à BR-040, que me levou ao centro de Congonhas do
Campo. Ainda faltava subir uma ladeira de três quilômetros para alcançar o Hotel Colonial, situado em frente à Igreja Matriz do Bom Jesus do Matosinhos. Empurrei a bike. Creio que nem o Monte Calvário era tão inclinado. Encerrei a jornada daquele Dia das
Mães degustando uma deliciosa macarronada no restaurante anexo ao hotel. Antes de dormir, fui tirar fotos da igreja. A lua quase em quarto crescente. Primeiro (e único) pneu furado.
Paraty a 500 quilômetros. Metade do caminho foi vencido.
PONTE FERROVIÁRIA DA MRS
CONGONHAS À NOITE
CONGONHAS À NOITE
Foto: F. Mendes
Fotos: F. Mendes

S A N T U Á R I O B A S Í L I C A D O S E N H O R B O M JE S U S D E M A T O S I N H O S.
C O N G O N H A S D O C A M P O ( M G ) .
O santuário barroco de Bom Jesus de Matosinhos é o célebre
monumento histórico e artístico de Congonhas. Patrimônio da
Humanidade foi tombado pelo IPHAN em 1985. Construído em várias
etapas, nos séculos XVIII e XIX, por vários mestres, artesãos e
pintores, como o Aleijadinho e Manuel da Costa Ataíde, é uma das
maiores realizações do barroco brasileiro. O santuário mineiro
começou a ser construído como pagamento de uma promessa feita
pelo fiel português Feliciano Mendes em 1757. Espelha-se no
Santuário do Bom Jesus de Braga. Aleijadinho foi o responsável
apenas pela parte escultórica do pátio, sendo o projeto
arquitetônico de responsabilidade de Tomás de Maia Brito. Fonte:
itaucultural.org.br.
Entre 1800 e 1805, Aleijadinho
(1730-1814) realizou o conjunto de
esculturas monumentais, marcando
definitivamente sua obra: os 12
profetas em pedra-sabão de
tamanho quase natural, feitos para o
adro dianteiro do Santuário do
Senhor Bom Jesus de Matosinhos de
Congonhas do Campo. Exemplo
contundente do desenvolvimento do
barroco no Brasil, e talvez a sua
última grande manifestação. Fonte:
itaucultural.org.br.
Foto: F. MendesFoto: F. Mendes
SANTUÁRIO BASÍLICA DO SENHOR BOM JESUS DE MATOSINHOS.
CONGONHAS DO CAMPO (MG).

09/05/2011 (2ªf)
CONGONHAS DO CAMPO (MG) A SÃO JOÃO DEL REI
(MG).
100 KM PERCORRIDOS.
Noite mal dormida não tem preço. O restaurante anexo ao Hotel Colonial é ponto de balada. E a música tocou alto até às 3h da manhã. Como desgraça pouca é bobagem, a cozinha se localiza bem em baixo do meu quarto. Cheiro de comida, fritura e óleo queimado. Quando a farra acabou, consegui
dormi, mas por pouco tempo. Às 6h da manhã, o telefone da recepção do hotel começou a tocar e não apareceu ninguém para atendê-lo. E tocou, tocou e tocou um pouco mais. Enfurecido, levantei-me, fui ao balcão e tirei-o do gancho. Isso me garantiu mais duas horas de sono. Às 8h, muito
contrariado e sen tindo-me nada descansado, levantei-me. O dia parecia nublado e cin za. Quando abri a janela do quarto, não vi nada. Uma neblina espessa e sinistra tomava conta de tudo. Tomei café e fiquei à espera de melhoras nas con dições do tempo. Sabendo que no outono esse tipo de
formação é comum em regiões serran as e que a única maneira de haver dissipação é com o aumento da temperatura, esperei o tempo melhorar. Às 10h 30, o sol aqueceu o ar e a neblina foi-se. Comecei a pedalar com mais de duas horas de atraso. Me vi obrigado a executar o P lano B. Com o avançar
da hora, seguir para São João Del Rei pela ER significava chegar a meu destino por volta das 22h. Optei, então, por um caminho alternativo. Saí de Congonhas (às 11h 10) pela BR-040 (direção Rio) e três quilômetros à frente virei à direita (eram 11h 30), ingressando na BR-383, que liga Congonhas a
São João Del Rei. Mesmo não pedalando pelo tramo principal da ER, a BR-383 faz parte da R E G . E S T R A D A R E A L (Região da Estrada Real). Até São João Del Rei foram 100 quilômetros pelo asfalto, acostamento razoável e movimento fraquíssimo.
Fotos: F. Mendes
Fotos: F. Mendes

CONGONHAS DO CAMPO (MG) A SÃO JOÃO DEL REI (MG).
Após pedalar 16 quilômetros pela BR-383, cheguei a São Brás do Suaçuí, localizada na microrregião da Serra do Espinhaço. O
município tem uma altitude em torno de 1000m, é servido pela Ferrovia do Aço e está na Zona Metalúrgica de Minas Gerais. Pausa
para delicioso almoço às 13h 11. Comida boa, mas o recinto do restaurante estivava envolto em muita fumaça do fogão à lenha.
Por volta das 14h, voltei à lida no pedal. Próxima cidade: Entre Rio de Minas, 18 quilômetros à frente, alcançada às 15h 30. Mais
31 quilômetros e cheguei à cidade de Lagoa Dourada, a terra do rocambole. Eram 16h 30.
O povoamento local começou por volta de 1625, quando a bandeira comandada por Oliveira Leitão descobriu ouro nas águas de uma pequena lagoa. Por volta de 1717,
a região estava bem povoada e o arraial foi se formando com a chegada de novos “oureiros”.
Em 1734, Dom Frei Antônio de Guadalupe ergueu, então, uma capela dedicada a Santo Antônio. Em 1750, o arraial foi elevado a “Distrito da Paz”. Em 1832, o nome
original de Alagoa Dourada foi alterado para Lagoa Dourada, uma referência à lagoa ali existente, muito rica em ouro. Após o esgotamento das jazidas auríferas, o
arraial buscou alternativa na agricultura, principalmente, no milho e na produção do leite.
Em 1892, o distrito passou a pertencer a Prados, e em 1911, foi finalmente emancipado. A comunidade é habilidosa na produção de licores, vinhos e doces caseiros,
que também recheiam os famosos rocamboles. De fato, os deliciosos pães-de-ló recheados de doces variados fazem jus à fama.
Passar por Lagoa Dourada significa provar e comprar rocamboles para levar. Essa receita, que vem sendo passada de geração em geração, tem as dicas que lhe
garantem o irresistível sabor.
Fonte: lagoadouradaonline.com.br
Optei por não comer rocambole. Estava muito quente.
Fotos: F. Mendes
Fotos: F. Mendes

CONGONHAS DO CAMPO (MG) A SÃO JOÃO DEL REI (MG).
Às 16h 45 atravessei o perímetro urbano de Lagoa Dourada. Faltavam 39 quilômetros para São João Del Rei. Como pedalava fora da ER, de nada adiantava consultar a planilha ou a altimetria. Resolvi perguntar a
um nativo acerca do trecho que tinha pela frente. “Olá”. “Boa tarde”. “Tarde moço”. “O senhor sabe me dizer se daqui até São João Del Rei tem muitas subidas”. “NNNNNNNNú”. “Daqui ni São João é uns 40
quilontro” . “Ocê vai descê dôi morro”. “ Um tirin de frobé daquilá”. E como não poderia deixar de ser, veio aquela pergunta : “Ocê nessa bicicreta lá evém dionde”? “De Diamantina e vou para Paraty”.
“NNNNNNNí”. “Cê besta sô!” “Ocê tá vindo de Diamantina mesm”? “Nú” “Não sei se ocê é doido ou animado dimaissss”. Por diversas vezes ouvi essa reação quando dizia de onde vinha e aonde estava indo. “Ocê
vai descê dôi morro”. “ Um tirin de frobé daquilá”. Isso, em linguagem minerês, quer dizer: você vai descer dois morros. É rapidinho daqui até lá. A informação foi precisa. Logo na saída de Lagoa Dourada uma
descida longa, depois um trecho plano, mais descidas e planuras até que, às 18h 30, cheguei à entrada da São João Del Rei, localizada no Vale do Rio das Mortes.
A cidade de São João Del Rei originou-se do antigo Arraial Novo do Rio das Mortes. A ocupação do arraial remonta a 1704, quando um paulista chamado Lourenço Costa descobriu ouro no ribeirão de São Francisco Xavier. A descoberta fez com que as terras fossem
distribuídas a várias pessoas, que começam a explorar as margens do ribeirão. Algum tempo depois, o português Manoel José de Barcelos encontrou mais ouro na encosta sul da Serra do Lenheiro, num local chamado Tijuco. Naquele local estabeleceu-se o primeiro
núcleo de povoamento que deu origem ao Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar, mais tarde Arraial Novo do Rio das Mortes e atual São João Del Rei.
Fonte: www.saojoaodelrei.mg.gov.br
A referência que eu tinha para chegar à Pousada Beco do Bispo era a Matriz de São Francisco de Assis. Como todos na cidade conhecem a igreja, foi fácil chegar ao local de pernoite. Mas antes, uma parada para
fotografar aquela que é a mais bela igreja barroca da ER. No dia seguinte, não haveria pedal. A bike seguiu para revisão. Paraty a 400 quilômetros.
Igreja N. S. do Rosário em Lagoa
Dourada
Igreja S. Fcº de Assis em S. J.
Del Rei
Fotos: F. Mendes

DIA EM SÃO JOÃO DEL REI (MG). 10/05/2011. (3ªf)
Beco do Bispo é uma pousada nota 10. O proprietário chama-se
Átila Godoy, o idealizador da Estrada Real. Fiz questão de me
hospedar numa das melhores da cidade, afinal passei dois dias em
São João Del Rei. Conforto é bom e eu gosto. Jantei deliciosa lasanha
e dormi numa cama enorme, onde pude me esparramar à vontade.
Foi um dia de pedal duro, sol forte e muitas subidas até Lagoa
Dourada. Felizmente havia um Plano B, no qual evitei a ER em
virtude do elevado atraso na saída de Congonhas por conta da
neblina espessa. Tudo estava dando certo. Que sensação
maravilhosa. Havia pedalado 559 quilômetros. Paraty estava a 400
quilômetros. Mais da metade do caminho havia sido vencido. No dia
seguinte, nada de pedalar. Estava programado levar a bike para
revisão e passar o dia na malandragem. Acordei às 9h (isso sim é
hora de acordar), tomei delicioso café com toda calma e fui para a
Bike Advanced cumprir a única obrigação daquela terça-feira
(10/5/2011). Voltei caminhando e sem pressa para o centro
histórico. Tirei muitas fotos e tomei delicioso café expresso numa
padaria próxima à Estação Ferroviária. Fui à Igreja de São Francisco
de Assis. Mais fotos.
Bela e imponente, a Igreja de S Fcº de Assis é a grande referência da arquitetura
religiosa colonial de São João Del Rei. Em 1749, existia uma capela dedicada ao santo.
Em 1772, essa capela encontrava-se em péssimas condições, levando a Ordem
Terceira Franciscana a iniciar um novo templo. “A autoria do projeto original é do
Aleijadinho, comprovada pelo risco existente no Museu da Inconfidência de Ouro
Preto.” (IPHAN). Mas, para executar o risco, foi contratado o mestre Francisco de
Lima Cerqueira, que fez várias mudanças no projeto original, como substituição das
torres oitavadas, modificações no desenho dos óculos da nave e alteração do arco-
cruzeiro. Os trabalhos arquitetônicos foram concluídos em 1804 .
Créditos: SETUR/MG.
Foto: F. Mendes
IGREJA DE SÃO FRANCISCO DE
ASSIS

DIA EM SÃO JOÃO DEL REI (MG). 10/05/2011. (3ªf)
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes

DIA EM SÃO JOÃO DEL REI (MG). 10/05/2011. (3ªf)
Caminhei bastante pelo Centro Histórico. Isso abriu-me o apetite. Almocei em um restaurante ao lado da Estação
Ferroviária. Comida mineira da melhor qualidade. Foi o mais saboroso feijão que degustei ao longo da ER. Tomei
delicioso café expresso numa padaria adjacente à casa de pasto e voltei para a pousada. Dormi até às 17h 30, quando
o despertador tocou e saí para buscar a bike na oficina. Fazia 10 dias que não sabia o que era dormir após o almoço.
Essa parada programada em São João Del Rei foi providencial. Café expresso, dormir à tarde, são coisas que não têm
preço. Bike revisada, tudo em ordem, voltei pedalando para a pousada. No caminho, passei por outra loja de bikes. Na
vitrine estava exposto um par de alforjes. Foi amor à primeira vista. Comprei em substituição aos que eu levei. Àquela
altura da viagem encontravam-se surrados e puídos. Não chegariam a Paraty. À noite tomei deliciosa sopa de
mandioquinha como entrada e lasanha como prato principal. Voltei para o quarto e assisti TV detendo o monopólio
do controle remoto. Que maravilha! Diversos canais – entre abertos e a cabo – para meu deleite. Antes de dormir,
deixei as tralhas arrumadas, agora em alforjes novos. Adormeci antes das 22h. Paraty a 400 quilômetros.
Estrada de Ferro Oeste de Minas é uma ferrovia com 12
quilômetros de extensão e bitola de 762mm entre São João
Del Rei e Tiradentes. Foi tombada pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional em 1989. A ferrovia original foi
construída em 1881, pela Estrada de Ferro Oeste de Minas,
para ajudar na colonização do oeste mineiro. A linha foi
abandonada e retirada em 1983. A etapa São João Del Rei -
Tiradentes, no entanto, foi executada de forma contínua
desde 1881, embora seja apenas uma linha turística e
patrimônio histórico. É um dos poucos lugares no Brasil que
viu o uso contínuo de locomotivas a vapor. Junto à estação
encontra-se o Museu Ferroviário, inaugurado em 1981, ano do
centenário da Estrada de Ferro Oeste de Minas. O museu
reúne equipamentos, peças, painéis didáticos e fotografias
que contam a história da ferrovia no Brasil e na região. Além
disso, estão expostas a EFOM nº 1, primeira locomotiva da
ferrovia e um vagão de luxo utilizado para uso da
administração, construído nas oficinas da EFOM em 1912.
Fonte: www.fcasa.com.br/trens-turisticos

Acordei às 8h com a sensação de que estava chovendo. Continuei deitado ouvindo aquele barulho de água caindo. Mas logo percebi que não era chuva. O jardim interno da pousada estava sendo regado. Mas o dia amanheceu nublado e havia previsão de pancadas isoladas para a região. Tomei
delicioso café da manhã, com frutas, pão de queijo e omelete. Quando estava pagando a conta, o funcionário da recepção perguntou-me qual era o meu destino naquele dia. De pronto, respondi: “Carrancas”. Foi ai que ele me deu uma notícia nada animadora. A ER entre Capela do Saco e Carrancas
está muito ruim para quem pedala com bagagem. Além disso, a Fazenda Traituba – local de possível pernoite entre Carrancas e Cruzília – foi fechada. Mais uma vez tive que recorrer ao Plano B. Deixei São João Del Rei pela BR-265 e pedalei até o trevo de acesso à BR-383, que levou-me a Cruzília pelo
asfalto, passando por Madre de Deus de Minas e São Vicente de Minas, cidade de pernoite daquela 4ªf, dia 11/05/2011. Foi um dia de pedal tranqüilo, sol entre nuvens, almoço em Madre de Deus de Minas e chegada a São Vicente de Minas às 17h 30, junto com o pôr do sol.
Desde 1888 o município é cruzado por uma ferrovia, que até 1931 era de responsabilidade da Estrada de Ferro Oeste de Minas. Durante as décadas seguintes passou a ser propriedade de outras três ferrovias, até ser abandonada, quando era liderada pela Rede Ferroviária Federal S.A (RFFSA). A estação ferroviária de São Vicente de Minas foi inaugurada em 1912, porém está desativada. Créditos: SETUR/MG.
Em São Vicente de Minas, a terra dos queijos finos, começou a esfriar. Saí para jantar por volta das 19h. Quando voltei para o quarto, deitei-me sob um cobertor que estava no armário. Foi meu primeiro dia de pedal pelo Circuito Terras Altas da Mantiqueira. Sabia que desse ponto em diante, as
temperaturas iriam cair. E caíram. A lua entrou em quarto crescente. Faltavam 6 dias para chegar a Paraty. Seis dias para a Lua Cheia. O termômetro do GPS marcava 14ºC. Paraty a 300 quilômetros.
11/05/2011 (4ªf)
SÃO JOÃO DEL REI (MG) A SÃO VICENTE DE MINAS
(MG).
100 KM PERCORRIDOS.
Fotos: F. Mendes
Fotos: F. Mendes

12/05/2011 (5ªf)
SÃO VICENTE DE MINAS (MG) A CAXAMBU (MG).
70 KM PERCORRIDOS.
Até então, foi a noite mais fria da viagem. Pela manhã, o termômetro do GPS marcava 16ºC. Às
10h deixei São Vicente de Minas. Não saí antes porque estava muito frio. Pedalei forte para
aquecer e cheguei à pequena Minduri, distante 23 quilômetros de São Vicente, às 11h 12.
Em setembro de 1912 a antiga Estrada de Ferro Oeste de Minas inaugurou uma estação com sete residências em
volta, nas proximidades do Pico Minduri, que deu o nome à cidade. Até 1920, muito pequeno era o movimento daquela
estação, que servia mais como um posto de abastecimento de água, lenha e carvão, às locomotivas da época. Em 12
de dezembro de 1953, Minduri foi elevado à categoria de município. Em 1940, passou a ser chamada de Minduri, nome
indígena que significa "quem faz casa no chão", referência a uma abelha, também chamada manduri, típica da região.
A estação fechou para passageiros em 1996, quando o trem Barra Mansa a Ribeirão Vermelho deixou de operar. Hoje
é um centro cultural do município. Atualmente, a Concessionária FCA (Ferrovia Centro-Atlântica) opera a linha férrea
da antiga Estrada de Ferro Oeste de Minas, transportando apenas cargas. A principal é o minério de ferro, que segue
para a CSN, em Volta Redonda (RJ). Fonte: www.fcasa.com.br/trens.
Fotos: F. Mendes
Foto: F. Mendes

SÃO VICENTE DE MINAS (MG) A CAXAMBU (MG).
M in d uri ficou para trás. A próxima cid ade, Cru zília, foi alcan çad a às 1 3h , ap ós 3 3 q uilômetros de fortes on du lações. Er a como se a Serra d a M an tiq u eira estivesse me av isan do: “camarad a, isso é ap enas o começo do sob e e d esce in tenso qu e en con trarás pela frente”. Cruzília fic a dentro d e u m bu raco fu n d o. Desci muito par a alcan çar o “Down T ow n” e ch egar a um
restau ran te, n o q u al sab oreei uma refeição d eliciosa e merecida. O sol b rilh ava forte e a temp eratura era b em agrad ável. O GPS marcava 2 3ºC. Foi u ma b oa op ção o meu Plan o B. Con segu i ch egar a Cru zília sem p recisar me exp or ao trech o d u ro da ER en tre Carrancas e Cru zília. Essa etap a tem 65 q uilômetros em leito natu ral (isso não é p rob lema) e sem apoio algum
(isso é um p rob lemão). A Fazen da T raitu ba, n a metad e desse camin ho deserto, fu ncion a como u m “cais d o p orto p ara q uem p recisa ch egar.” Fun cionav a. Foi fec had a. Por isso segu i p ara Cr uzília p elo asfalto. Qu an do se p edala sozinh o é imp erioso ev itar situ ações como essa. Para mim, não ch egou a ser d ecep cion an te ter p ed alado esse p ercurso fora do camin ho dito
“oficial” d a ER. O caminh o d essa estrad a nu n ca foi estático. Variantes ou d escaminh os para fu gir à cob ran ça d o “qu in to”, desmoron amen tos, lamaçais, alternân cia d as estações do ano, su rgimen to de cid ad es, fazend as q u e foram d esmemb rad as, pas sagen s ou trora liv res, hoje estão restritas às mineradoras, são algu mas exp licações para en tend er o p orq uê de a ER,
q ue aparece n os map as de hoje, N Ã O ser exatamente aq u ela ab erta n os sécu los XVII e XVIII. Por isso as p lacas in d icativas de d istân cias, p or exemp lo, trazem semp re, n a parte su p erior , os dizeres: “R E G . E S T R A D A R E A L”, qu e significa q ue o v iajan te N Ã O está – q uem sabe, n a p róp ria Estrad a Real, mas na R E G I Ã O I N F L U E N C I A D A p or ela, na qu al ex istem p olos
tu rísticos q ue englob am vilas (M ilh o Verd e-M G), d istritos (Camp os d e Cun ha- SP) e até mu nicípios (Par aty -RJ). H oje, as estradas q u e chamamos rod ov ias são estátic as. BR- 11 6 , BR- 04 0 , SP- 3 30 e p or ai v ai. Naqu ela época N Ã O era assim. Quan d o u ma barr eira caía, ab ria- se uma v arian te e o caminh o mud av a.
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes

SÃO VICENTE DE MINAS (MG) A CAXAMBU (MG).
Hoje, quando uma barreira cai, máquinas limpam tudo e a estrada não tem seu trajeto alterado. Durante as pesquisas
para realizar minha viagem, encontrei esse alerta em várias publicações acerca da Estrada Real. Eis o que diz Marcelo
Ribas em “A História do Caminho do Ouro em Paraty”, página 7, que adquiri na Casa da Cultura de Paraty, em junho
de 2006: “como resultado desse empenho na difícil busca de respostas às tantas
indagações que, em sua maioria, encontram-se até hoje em aberto com relação
ao traçado do caminho, ou dos caminhos, traçado que variou no espaço, no
tempo e nos descaminhos”.
Outra dificuldade para se estabelecer por onde passa (ou passou) o caminho dito “oficial” deve-se ao fato de o Brasil
ser um país sem memória histórica. Nação que não prima por registrar hoje o que será história amanhã. Esse
movimento de penetração do litoral para o interior em busca de riquezas talvez tenha sido o mais importante,
mudando definitivamente a cara do País, até então escassamente povoado em alguns trechos do litoral. Foi a grande
corrida provocada pela descoberta do ouro no sertão de Cataguás, atual Estado de Minas Gerais que, em ato sem
precedentes, interiorizou o povoamento do Brasil. Mas registros históricos acerca dessa interiorização, dessa corrida
do ouro e dos mapas da época, por exemplo, se perderam. Somos um país sem memória, haja vista o pouco que se
sabe sobre Tiradentes e muitos acreditam que Santos Dumont foi o inventor do avião. País que não cataloga sua
história, não sabe contá-la; e quando tenta contá-la, recheia-a de lendas e inverdades. Mas nem tudo está perdido,
afinal ganhamos cinco Copas do Mundo.
Após almoçar muito bem, encarei os 23 quilômetros finais até Caxambu sob um espetacular céu sem nuvens e a
esplendorosa Serra da Mantiqueira completando o cenário. Depois de 10 quilômetros, a BR-383 termina e
desemboca na BR-267, que segue para Caxambu, passando por Baependi. Eram 16h 30 quando cheguei à cidade das
águas minerais..

É uma cidade rica em águas minerais gasosas e medicinais. Caxambu se desenvolveu ao compartilhar suas dádivas. Através do Parque das Águas
com 12 fontes diferentes e do Balneário de Hidroterapia, inaugurado em 5 de Junho de 2010, Caxambu sempre ofereceu saúde e bem estar aos seus
visitantes. Outrora, os negros vindos de Baependy e da vizinhança, costumavam se reunir nas referidas Águas Minerais e aí celebravam batuques
memoráveis, ao som dos seus caxambus e, assim, do hábito do convite veio à tona “Vamos ao caxambu. Ficou o termo aplicado ao próprio sítio da
festa. Outra: as águas das fontes daqui, principalmente quando ainda um grande brejo ali dominava, produziam, borbulhando, um murmuro mais ou
menos violento e de certo modo comparável ao rufar do tambor dos escravos. Mas a explicação mais cabível faz derivar a designação da cidade de
“Caxambu” do morro existente, Morro de Caxambu como é conhecido hoje, de forma cônica e exuberante, exatamente como o instrumento africano,
o Caxambu. Fonte: descubracaxambu.com.br

SÃO VICENTE DE MINAS (MG) A CAXAMBU (MG).
Hospedei-me no Grande Hotel de Caxambu. Infelizmente o estabelecimento está muito mal cuidado, principalmente a parte interna. Os tacos estão
soltos no assoalho, os móveis velhos e sem manutenção. O Glamour de outrora foi substituído pelo abandono. Depois do banho, dei umas voltas pela
cidade, tomei café expresso e fui visitar a Igreja Matriz.
Em estilo gótico, Igreja Matriz teve sua pedra fundamental lançada em 1892 no mesmo local da velha capelinha de N. Senhora dos Remédios, do século XVIII, ficando pronta
em 1º de janeiro de 1906. Atualmente, a Igreja é palco das grandes celebrações religiosas da cidade. A festa da padroeira - Nossa Senhora dos Remédios - acontece no dia
15 de agosto, com missas, procissão e atividades de barracas. Outra grande procissão ocorre no dia de Corpus Christi, quando as principais ruas, enfeitadas com tapetes
coloridos feitos com serragem, sementes e pó de café. Durante a Semana Santa realizam-se encenações de quadros vivos que lembram os passos de Cristo, além das
tradicionais procissões de Ramos e do Encontro.
Fonte: www.explorevale.com.br/aguasdeminas/caxambu/turismo.htm
Aproveitei a saída e passei por uma loja de bike. Agendei uns ajustes nas marchas e nos freios para o dia seguinte. Durante a execução do
planejamento da viagem, programei um dia em Caxambu para conhecer a cidade e, principalmente, passear pelo Parque das Águas.
O Parque das Águas em Caxambu é o único a concentrar, no mesmo local, fontes de água mineral, com propriedades químicas diferentes umas das outras. Dentro do limite do parque, há o
suntuoso complexo arquitetônico do Balneário. Uma luxuosa construção datada de 1912 com seu imenso vitral, abrigado diversificados banhos, duchas, saunas e piscinas térmicas de água
mineral. Caxambu está sobre o maior manancial de águas minerais carbogasosas da Terra. São mais de dois milhões e meio de litros fluindo diariamente através de doze fontes.
Foto: F. Mendes

SÃO VICENTE DE MINAS (MG) A CAXAMBU (MG).
São as mais ricas águas em teor mineral e gasoso, com indicações terapêuticas específicas a cada uma delas. Através de análises precisas no começo do século XX,
cientistas de renome comprovaram o efetivo poder dessas águas e passaram a ser seus maiores divulgadores. Desde então, o Parque das Águas de Caxambu se tornou um
sofisticado SPA (estação hidromineral) de projeção internacional. O prédio da hidroterapia, com seus banhos, saunas, duchas e piscinas de água mineral, em meio a salões,
vitrais, clarabóias e afrescos de época, se projeta imponente entre os jardins exuberantes e as fontes, abrigadas em quiosques de delicada beleza. A pressão do gás do
subsolo é tão intensa que podemos observar um espetáculo único: o gás lifte (*) elevando periodicamente uma coluna de água mineral a três metros de altura com um
volume de 4m
3
. O belo lago, o bosque remanescente da Mata Atlântica, um expressivo acervo botânico, o teleférico e inúmeras quadras de esporte, completam o ambiente de
paz, tranqüilidade e lazer.
Fonte: www.grandehotelltda.com.br
(*) método de elevação artificial que utiliza a energia de um gás pressurizado para elevar fluidos (óleo e água) até a superfície.
Jantei delicioso nhoque à bolonhesa numa casa de massas. Voltei à cafeteria e tomei outro expresso. Recolhi-me ao Grande Hotel, pois a
temperatura, segundo um termômetro da rua – era de 15ºC. Caxambu fica no coração da Mantiqueira na cota de 900m. Essa altitude é
suficiente para rebaixar as temperaturas, principalmente à noite. Assisti ao jogo do Santos pela Copa Libertadores. Nenhuma preocupação
em dormir cedo, pois o dia seguinte foi de malandragem. Acordar tarde e sem o compromisso de pedalar, não tem preço. O hotel estava
vazio e quando apaguei a luz do quarto, mais parecia um cenário de filme de terror. Lembrei-me da película “O Iluminado”. Faltavam cinco
dias para a Lua Cheia. Paraty a 230 quilômetros e a viagem estava maravilhosa. Pena que o fim aproximava-se.
PRÉDIO DA
HIDROTERAPIA
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes

13/05/2011 (6ª feira treze)
DIA EM CAXAMBU (MG).
Pela manhã, café com frutas e omelete. Deixei a bike para ajustes na oficina e saí para conhecer o Parque das Águas. Pelas ruas vi muitas charretes, paisagem
característica de cidades que não perderam seu ar rural e bucólico, apesar da grande urbanização pela qual Caxambu vem passando. Caminhei até a portaria do
Parque. Paguei e entrei. Segui por uma alameda bem arborizada até a Fonte D. Pedro.
É a fonte mais antiga e simbólica do Parque das Águas. Possui interessante construção em estilo greco-romano sendo  um dos cartões postais da cidade de Caxambu. A captação ocorreu em meados
do séc. XIX, e o pavilhão atual, de inspiração neoclássica, foi construído no início dos anos 60 do século XX. O prédio em que ela se encontra possui cúpula apoiada por pilastras grossas, não tendo
paredes. Em seu interior, encontra-se uma réplica da coroa que pertenceu a Dom Pedro II. A Fonte Dom Pedro em Caxambu MG, está em uma pilastra de mármore encimada pela Coroa Imperial. A água
sai de uma torneira de aço inox. O acesso à fonte se dá por escada. A fonte D. Pedro é, atualment,e considerada a mais importante pelo engarrafamento de sua água. De teor radioativo e carbônico e
altamente gasosa, é indicada como água de mesa por sua natureza digestiva.
A origem do nome é uma homenagem ao Imperador D. Pedro II, representado também pela réplica da coroa imperial sobre o pilar de mármore.
Água mineral tem características carbogasosa, bicarbonatada, alcalina terrosa, fluoretada e radioativa forte.
A ação e os efeitos da água reforçam o estímulo da digestão, esvaziando rapidamente o estômago. Indicada para as dispepsias e digestões lentas e insuficientes. Estimulante do apetite. Sua forte
radioatividade purifica o sistema hepto-renal, diluindo a bile e a urina, facilitando a expulsão de resíduos da vesícula biliar e das vias urinária.
Depois de beber a saborosa água da Fonte D. Pedro fui conhecer o prédio da Hidroterapia. Havia um pequeno movimento de pessoas que usavam a sauna e as
salas de banho. Fazer uma sauna seria uma boa pedida. Mas eu deveria ter atestado médico. Deixei para outra ocasião.
Pedalinhos. Foto: F.Mendes.
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes

13/05/2011
DIA EM CAXAMBU (MG).
Creio que andei pelos 210.000 m
2
do Parque ou quase isso. O movimento era
pequeno. As águas do lago estavam espelhadas e as fotos renderam belos
dublês de imagem. Deixei o Parque ao meio-dia. Mas antes de almoçar, fui
conhecer a IGREJA DE SANTA ISABEL DA HUNGRIA. Para alcançá-la é preciso
subir uma escadaria com 126 degraus.
Igreja oferecida pela Princesa Isabel, em agradecimento ao pedido atendido. A construção foi
iniciada em novembro de 1868. A consagração do templo aconteceu em 1897, quando o Brasil era
República, e a Família Real se encontrava no exílio. A arquitetura da igreja é em estilo neogótico,
utilizado a partir da segunda metade do século XIX para a construção de templos religiosos. Um dos
acessos para a igreja é feito por uma escadaria de 126 degraus. Ao longo do caminho, estão passos
da Via Sacra, iluminados por lanternas; no topo, há um cruzeiro se cinco metros de altura. Fonte:
www.descubraminas.com.br
Subi os 126 degraus e conheci a igreja por fora. Lá do alto, tem-se uma bela vista da
cidade de Caxambu. Desci e fui almoçar delicioso arroz com feijão, salada e bisteca de
porco. Após a refeição, café expresso e ida à lotérica fazer uma fé na Mega Sena
acumulada. Foi uma manhã cheia. Começou a bater aquele soninho. Dormi
deliciosamente até o fim da tarde. Ao despertar, fui à oficina buscar a bike. Limpa,
revisada, sem marchas pulando e com pastilhas de freios novas. Quando dei aquela
voltinha para testar, senti vontade de pegar a ER. Mas havia anoitecido e começava a
esfriar. Voltei ao hotel, deixei a bike na garagem, agasalhei-me e fui jantar na mesma
casa de massa da noite anterior. Dessa vez comi uma pizza portuguesa de qualidade.
Tomei mais um expresso, saquei $$$ para a etapa seguinte e terminei o dia querendo
beber uma água mineral Caxambu. Não logrei êxito na busca por delicioso líquido.
Em Caxambu não se encontra água mineral Caxambu. A explicação é que os tributos
que incidem sobre a água mineral que leva o nome da cidade são elevados. Assim, os
comerciantes preferem vender outras marcas, como a São Lourenço. Toda a
produção de Água Caxambu é comercializada para outras Unidades da Federação.
Fotos: F. Mendes
Foto: F. Mendes

14/05/2011 (SÁBADO)
CAXAMBU (MG) A PASSA QUATRO (MG).
50 KM PERCORRIDOS.
Embasado n a tese de que toda viagem deve começar depois das 8h da manhã, deixei Caxambu às 9h 30. Fui pela BR-354 até Pouso Alto, onde acessei a MG-158, passando por Itanhandu e chegando a Passa Quatro. Se seguisse pela ER, não chegaria a Passa Quatro naquele sábado. Isso significava perder o passeio de
Maria Fumaça, que acontece aos sábados e domin gos na cidade simpatia. Os 32 quilômetros que separam Caxambu de Pouso Alto são percorridos em subidas que pareciam intermináveis. A paisagem da Mantiqueira é exuberante. A rodovia é sombreada pela Mata Atlântica e como o movimento era pequeno, o canto
da passarada deu o tom para as pedaladas. Passei por Pouso Alto às 12h 30. Hora do almoço. Parti às 13h e pedalei 9 quilômetros para alcançar Santana do Capivari. Nesse ponto, deixei a BR-354 e ingressei na MG-158. Mais 9 quilômetros – agora em descidas – até passar por Itanhandu e mais 12 quilômetros, entre
descidas e subidas moderadas, até Passa Quatro. Cheguei às 14h 51. O dia estava esplendoroso. Aquele céu com poucas nuvens, típico do outono tropical brasileiro. Hospedei-me na Pousada Ecos da Mon tanha. Excelente. Fui à Estação Ferroviária de Passa Quatro e adquiri o bilhete para o passeio de trem do dia
seguinte, às 10h. Em seguida, fui conhecer a cidade. Era preciso aproveitar a luz natural. No dia seguinte, após o passeio de trem, segui viagem. Então, a hora era aquela. Fui visitar a Igreja Matriz de São Sebastião, a 4º capela construída na cidade, em 1850, pelos fundadores de Passa Quatro, Ana Motta Paes e José
Ribeiro Pereira. A imagem de São Sebastião foi trazida de Portugal. Fotografei o casario colonial e as ruas de paralelepípedos. Passa Quatro é daqueles lugares que não dá vontade de ir embora. Faltavam 180 quilômetros para Paraty e três dias para a Lua Cheia.
Fotos: F. Mendes
Foto: F. Mendes

15/05/2011 (DOMINGO)
PASSA QUATRO (MG) A GUARATINGUETÁ (SP).
70 KM PERCORRIDOS.
Dei um pulo da cama às 9h. Pensei ter perdido a hora. Ou melhor, o trem. Passado o susto, tomei café, arrumei as tralhas, paguei a conta na pousada e deixei a bike na garagem para pegá-la na volta do passeio de Maria Fumaça e
seguir viagem até Guaratinguetá. Cheguei à Estação Ferroviária uns 20 minutos antes de o trem partir. Tirei fotos da Locomotiva 332 (da marca Baldwin 1929) e às 10h o apito soou alto e encheu o ar da cidade com a nostalgia dos
tempos da RMV (Rede Mineira de Viação). Assista ao vídeo com a saída da 332 de Passa Quatro em http://www.amantesdaferrovia.com.br/video/maria-fumaca-passa-quatro-mg
Também conhecido como Trem da Serra, o passeio começa na histórica estação de Passa Quatro, com uma parada para compras na Estação do Manacá, seguindo até à Estação Cel. Fulgêncio, na boca do Túnel da Mantiqueira, na
divisa de MG/SP, onde ocorreu uma memorável batalha durante a Revolução Constitucional de 1932 (ou Guerra Paulista). O movimento armado, ocorrido no Estado de São Paulo entre 9 de julho e 4 de outubro de 1932, teve por
objetivo derrubar o Governo Provisório de Getúlio Vargas e promulgar uma constituição para o Brasil. São Paulo, depois da revolução de 32, voltou a ser governado por paulistas. Dois anos depois, foi promulgada a Constituição de
1934. O percurso feito pela Locomotiva 332 é histórico. Foi inaugurado por D. Pedro II, no século XIX. O cenário deslumbrante visto da janela do trem é formado pela Mata Atlântica recobrindo a Mantiqueira, vales e riachos. Às
12h, a Locomotiva 332 retornou a Passa Quatro, desembarquei, voltei à pousada, subi na bike e parti rumo a Guaratinguetá. Na próxima vinda a Passa Quatro, terei que ficar mais um dia para curtir esse lugar especial.
" ...a única passagem tranquila depois de uma garganta profunda de onde deve-se galgar a serra e passar quatro vezes o rio que se escorrega por um verde e espaçoso vale. Chegarás assim a um pouso".
Transcrição dos Manuscritos da Expedição de Fernão Dias Paes, 1674
O Túnel da Mantiqueira
tem 997 m de extensão.
Foto: F. Mendes
Fotos: F. Mendes

PASSA QUATRO (MG) A GUARATINGUETÁ (SP).
Deixei Passa Qu atro, a ú ltima cid ad e mineira da ER, p ela M G- 15 8, às 1 3 h. Os 1 2 q u ilômetros até a divisa M G/SP são feitos em forte decliv e con tínu o. Haja pernas p ara p or em movimen to a b ike com 15 q uilos d e bagagem. Cheguei à divisa às 13 h 4 4 . Par ei n o M iran te d a Serra, d e on de é possível ver a Garganta d o Embaú , (n a cota 1 .20 0 m) p on to mais b aixo
em toda a exten são d a Serra da M an tiqu eir a, pelo q ual os trop eiros su b iam rumo às regiões au ríferas da antiga Gu atagu á (atual M G) . O Tú nel da Mantiq ueira foi con stru íd o emb aixo da Gargan ta do Embaú p or d eterminação d o Imp erad or Dom Ped ro II , n o an o d e 1 8 82 , e in augurad o em 5 d e março d e 1 88 3. N o M iran te da Serra existe u ma imagem de Nossa
Senh ora Ap arecida. De lá é p ossív el, através da Garganta d o Embaú, av istar a cidade de Cru zeiro (SP), localizada n o Vale do Paraíb a, 6 00 m abaixo em relação à cota altimétrica d o M iran te. Quan d o voltei ao ped al, u ma d escid a alu cin ante d e 2 0 q uilômetros me aguard av a. Fu i à forra após tan tas sub id as desde Diamantin a. M aior adrenalina. Quan d o a estrad a
estab ilizou , parei nu m restau rante e almocei d eliciosa macar ronada. Eram 1 4h 30 . Desci 6 0 0m em 2 0 q uilômetros. Ao voltar à estrad a, consu ltei a p lan ilh a e Gu aratinguetá es tav a a 3 6 q u ilômetros. Ped alav a agora p or uma região plana, intervalad a p or cur tas d escid as e su b idas. E assim o per fil d o terren o se man teve até acessar a Via Du tra. Eram 15 h 3 0.
O s 2 5 qu ilômetros até Guaratin gu etá foram p ed alados na BR-1 1 6 (Via D utra), movimentad íssima, mas com acostamento largo e pav imen tação excelente. Ap ós p assar p or Cachoeira Pau lista, p erceb i q ue o temp o, q u e estava b astan te abafad o, d ava sinais d e q ue mu d aria. E mud ou rap id amente. Faltand o três q uilômetros p ara ch egar a Gu aratin guetá,
d esab ou u m d ilú vio bíblico. Foi o temp o d e alcançar u ma passarela p ara ped estres e me ab rigar d eb aix o d ela. A chu va foi ráp ida, mas inten sa. Logo à fren te, atrav essei outra p assarela, cru zei a Du tra por cima e saí em fren te ao Hotel Patu ri, en cerran do a jorn ad a do penú ltimo d ia d e viagem. Paraty a 1 10 km. Faltavam 2 dias p/ a Lu a Cheia.
Garganta do Embaú
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes

No dia anterior (15/05/2011) desci 20 quilômetros na Serra da
Mantiqueira e ingressei no Vale do Paraíba. Agora era preciso sair do
Vale subindo a Serra do Mar até seu ponto mais alto para, no último dia
de viagem, descê-la e chegar a Paraty. Comete ledo engano quem
imagina que o trecho Ouro Preto a Paraty é mais fácil de percorrer, em
virtude de o viajante descer a Serra da Mantiqueira e a Serra do Mar. A
diferença total em aclives é de 1.228m, 12% a menos em relação ao
trajeto Paraty a Ouro Preto.
Os primeiros oito quilômetros na SP-171 foram planos e sombreados.
Existem pequenos sítios e comércio modesto. Vencido esse tranquilo e
refrescante trecho inicial, uma placa informa
O Hotel Paturi fica às margens da
Via Dutra (KM 59). Isso facilitou as
coisas. Não foi preciso entrar na
cidade de Guaratinguetá. Gasta-se
muito tempo para encontrar
hospedagem e muito tempo para
sair. Atravessei a passarela para
pedestres, que fica em frente ao
hotel, saindo na pista sentido SP.
Quatro quilômetros à frente, deixei
a Dutra e, pela alça de acesso à
direita, ingressei na SP-171, a
Rodovia Guaratinguetá-Cunha, que
pertence à ER. Trata-se de uma
rodovia asfaltada e trânsito
tranqüilo. Eram 10h 46.
16/05/2011 (2ªf)
GUARATINGUETÁ (SP) A CUNHA (SP).
53 KM PERCORRIDOS.
ACLIVE
S
DECLIVES DIFERENÇ
A
OURO PRETO –
PARATY
9.411
m
10.639 m 1.228 m
Fonte: Guia Cicloturismo Estrada Real, Caminho Velho.
Antonio Olinto e Rafaela Asprino, p. 155 a 157.
Foto: F. Mendes

GUARATINGUETÁ (SP) A CUNHA (SP).
“faixa adicional nos próximos 12 quilômetros”. Encarei 12 ininterruptos quilômetros em forte ângulo de subida. E sobe, sobe e sobe mais um pouco. O acostamento virou 3ª faixa, mas o movimento
de veículos era muito pequeno. Nesse trecho, a altimetria foi de 600m para 1.100m. Duas horas para vencer essa etapa. Ao final da subida, uma churrascaria. Era tudo que eu precisava para
abastecer as caramalholas com água. Quebrei a cara. Estava fechada. Mais um pouco e a estrada inclinou para baixo. Quando comecei a me animar para descer forte o declive que começava, avistei
uma lanchonete à esquerda. Parei, comprei água e bati uma tigela de açaí. Eram 13h 12. Havia percorrido exatos 24 quilômetros desde a saída de Guaratinguetá (terra das garças brancas). Os 26
quilômetros finais até a cidade de Cunha, marcados por longas descidas e curtas subidas, foram vencidos em 1h e 44 minutos. Cheguei à antiga Freguesia do Falcão às 14h 56.
A Estância Climática de Cunha tem suas origens por volta de 1695. Naquela época, muitos aventureiros subiam a serra pela trilha dos Guaianás, com destino ao Sertão de Minas Gerais, atraídos pela notícia de que havia ouro e pedras preciosas naquela região. Com isso, Cunha, que
era conhecida como “Boca do Sertão”, tornou-se parada obrigatória para descanso e reabastecimento das tropas. Em 1730, os viajantes que se fixaram na região, construíram um povoado no qual a família portuguesa Falcão ergueu uma capela chamada Sagrada Família. Devido à
contribuição dessa família para o povoado, durante muito tempo a cidade foi chamada de Freguesia do Falcão. No início do século XVIII, a grande movimentação de tropas pelo local atraiu bandidos e saqueadores. Muito ouro que vinha de Minas Gerais para embarcar em Paraty-RJ,
rumo à Portugal, foi desviado. Devido à necessidade de se criar um posto para vigiar o local, surgiu a Barreira do Taboão, localizada entre a Freguesia do Falcão e Paraty. Com o declínio do ciclo do ouro, muitos desbravadores acabaram ficando na região atraídos pelo clima e pela
fertilidade do solo. Essa intensa movimentação gerou um rápido desenvolvimento local. É o maior município interiorano do estado de SP, com 1.410 km
2
.
Fonte: www.portaldecunha.com.br
Foto: F. Mendes
Fotos: F. Mendes

GUARATINGUETÁ (SP) A CUNHA (SP).
Hospedei-me na Pousada Clima da Serra. Recomendo. Tomei banho e
não tive coragem de sair à rua. Depois que o corpo esfriou das pedaladas escalando a Serra do Mar, pude sentir como estava esfriando. O termômetro do GPS marcava, fora do chalé, 15ºC. Eram 16h. Me acomodei sob um delicioso cobertor e tentei ver TV. Mas o sono me
venceu em menos de 3 minutos. Acordei por volta das 18h. Havia escurecido. Senti que a temperatura havia caído mais um pouco. Saí do chalé para conferir. Diante de mim, a lua quase cheia. Faltava um dia. Tirei fotos. Entrei e me preparei para sair e jantar. Começou a
chover. Uma chuva forte, grossa, intensa. Há dez minutos o tempo estava limpo e a lua visível. Cunha, com 1.100m de altitude, está localizada em uma ferradura formada pela Serra do Mar e duas serras do seu sub grupo: Bocaina e Quebra-Cangalha. O Oceano Atlântico fica a
apenas 50 quilômetros na direção sul. A umidade vinda do mar ascende pela serra e provoca chuvas – do tipo orográficas – quase que diárias na cidade. A explicação para tanto frio é simples: estávamos numa estação intermediária (outono) associada à elevada altitude.
Resultado: muito frio, principalmente à noite. Quando voltei do restaurante para a pousada, a temperatura havia caído para 10ºC. Foi a segunda (e última) vez que usei calças compridas e casaco. A primeira foi na noite que dormi em Passa Quatro. A chuva ficou moderada
e, aos poucos, foi parando. Por volta das 22h, ouvi um barulho de algo que batia insistentemente na porta do chalé. Fui verificar. Era o rabo de um cachorro. Ele estava todo molhado, tremia de frio e parecia me pedir ajuda. Usei um toalha velha, que sempre levo na bagagem
para qualquer imprevisto. Enxuguei-o e fui buscar comida no restaurante da pousada. Lá fiquei sabendo que o animal é da dona da pousada. Ela me deu um pote com ração, levei para o cão. Ele comeu muito e passou a noite na varanda do meu chalé, deitado sobre a toalha
que virou cama. Dormi relembrando cada trecho que percorri da ER até Cunha e imaginei a minha chegada a Paraty no dia seguinte. Era forte a sensação de ter sido “ontem” que a viagem começou em Diamantina. Paraty a 57 km. Estava quase conseguindo.
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes

17/05/2011 (3ªf)
CUNHA (SP) A PARATY (RJ).
57 KM PERCORRIDOS.
antes mesmo que eu completasse o primeiro quilômetro pedalado. A subida
foi inclinando na mesma proporção que o ritmo pedalado diminuía.
Parei para tirar a camisa ensopada e suada e colocar outra, limpa e seca.
Vesti, pela primeira e única vez na viagem, o casaco de chuva. Foi
agradável a sensação de estar usando uma roupa seca e limpa sob uma
vestimenta impermeável. Parei para descansar. Consultei o GPS. Estava
na cota 1.300. Faltavam 240m de ascensão. Foram os mais difíceis do
dia. Naquele ponto, a estrada inclinou mais um pouco. A chuva bailava
no ar ao sabor do vento. Eram 11h 35 e nenhum veículo havia passado
por mim, nem indo, tampouco vindo. Faltavam 10 km para a divisa.
SP-171
E chegou o último dia. Ele sempre
chega. Às vezes demora, mas chega.
Eram 10h quando comecei a
pedalar pela Alameda Francisco da
Cunha Meneses em direção ao
portal da cidade, o mesmo por
onde entrei no dia anterior. Ao
entrar na SP-171, repeti o mesmo
ritual que faço ao iniciar um dia de
pedal. Zerei o ciclo computador da
bike e liguei o GPS de pulso, que
me informa a temperatura,
altitude, proa seguida, hora do
nascer do sol, hora do pôr do sol e
os batimentos cardíacos.
Instrumentos funcionando, parti.
Sabia que teria um dos dias mais
duros a percorrer. De Cunha à
divisa SP/RJ são 23 quilômetros de
ascensão. Saí da cidade na cota
1.100m e cheguei à cota 1.540m, a
mais alta da ER, que marca a divisa
dos Estados de SP e RJ. Subi 440m
em 23 quilômetros. E tudo isso sob
chuva fina, que começou a cair
Fotos: F. Mendes

CUNHA (SP) A PARATY (RJ).
Esses 10 quilômetros restantes foram percorridos em incríveis 90 minutos (1h e 30). Às 13h 05, avistei uma placa. A distância que em encontrava dela não me permitiu ler a informação devido à moderada neblina. Aproximei-me mais um pouco e, sobre a
superfície enferrujada, li: divisa SP/RJ a 500m. Era o fim do martírio daquele dia. Da divisa SP/RJ até Paraty, a estrada inclina para baixo. São 23 quilômetros em declive contínuo. Parei para registrar a passagem pela última divisa estadual. Chovia e fazia frio.
Minha blusa estava ensopada, mas de suor. Apesar da temperatura baixa, o esforço dos últimos quilômetros me aqueceram. Naquela ponto a SP-171 termina e começa a RJ-165, que tem os 10 quilômetros inicias em leito natural em virtude de atravessar o Parque
Nacional da Serra da Bocaina (sub grupo da Serra do Mar). As chuvas dos últimos verões deixaram a RJ-165 impraticável para veículos de passeio e de carga. Somente 4X4 (e fusca) trafegam por tão precária estrada. Após registrar em fotos minha passagem,
iniciei a descida, sem pedalar e driblando as crateras abertas no solo da rodovia. Nesse trecho, as copas das árvores da Mata Atlântica se abraçam e formam uma imensa galeria de troncos e folhas. Percebi que a chuva havia aumentado. Mas logo notei que não era
chuva; era a transpiração da mata. Igualmente à Amazônia, as raízes das árvores da Mata Atlântica funcionam como bombas de sucção, que retiram o excesso de água da chuva do solo e nutrem os vegetais. Ao transpirar, as plantas jogam umidade no ar –
processo conhecido como evapotranspiração –. Essa umidade que as plantas jogam no ar, somada à umidade proveniente da Atlântico provocam as intensas chuvas que caem na região. A mesma água cai repetidas vezes. O sol de hoje evaporou a chuva que caiu
ontem, que subirá para cair novamente amanhã. Os índices pluviométricos no trecho Cunha-Paraty são os mais elevados da ER e um dos mais elevados do País.
O Município de Calçoene (AP) é a localidade mais chuvosa do País.
Paraty a 23 km
FIM DO ASFALTO. INÍCIO LEITO NATURAL
Fotos: F. Mendes
Foto: F. Mendes

CUNHA (SP) A PARATY (RJ).
Gastei uma hora para descer os 10 quilômetros inicias da RJ-165, em leito natural. A rodovia está em petição de miséria. O prometido asfaltamento dessa etapa da estrada
depende de várias licenças ambientais do IBAMA, pois trata-se de uma área de Parque Nacional. Quando o leito natural deu lugar ao asfalto, avistei a Baía de Paraty.
Faltavam 13 quilômetros. Parei para fotos. Desci mais um pouco e, a 8 quilômetros do Portal de Paraty, fiz outra parada, no Bairro de Penha, onde existe uma igreja sobre
uma pedra, como são todas as igrejas da Penha pelo Brasil. Tomei deliciosa Coca-Cola no Bar da Marlene e percorri os derradeiros quilômetros, descendo, sem pedalar e
sentindo o ar ainda molhado pela chuva que havia dado uma trégua. Quando a estrada voltou a ficar plana, atravessei a ponte sobre o Rio Perequê-Açu, passei pelo Bairro
Pantanal e entrei na ciclovia. Parei numa placa que indicava “Paraty”. Comemorei minha triunfal chegada, às 15h 32, após 17 dias de viagem e 959 quilômetros pedalados.
Atravessei o maior conjunto de terras altas do País, formado pela Serra do Espinhaço, pela Serra da Mantiqueira e pela Serra do Mar. No século XVII, esse percurso
(Diamantina-Paraty) era feito em até 95 dias. Não sou tropeiro, sou ciclista. Não vim a cavalo, vim pedalando. Cheguei a Paraty pedalando.
Eu consegui.
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes

CUNHA (SP) A PARATY (RJ).
Quando a RJ-165 terminou, atravessei a BR-101 e, pela Rua Roberto da Silveira, parei a alguns metros do Portal de Paraty, onde está o último marco da Estrada Real. Foram as
últimas pedaladas da viagem, vagarosas e observando o movimento. Nenhuma daquelas pessoas podia imaginar a aventura que eu acabara de realizar, muito menos a sensação
de dever cumprido e meta alcançada. Mais uma aventura para meu portfólio. Essa viagem foi tão maravilhosa quanto as demais que concluí. Ela não foi a mais longa, porém foi a
mais especial e encantadora. Senti alegria e emoção, iguais quando o time do coração faz um gol que decide o campeonato. Silenciosamente dediquei a conquista a meu querido e
saudoso pai que, certamente, viaja comigo aonde quer que eu vá. E de onde ele está agora, deve ser orgulhar igualmente se orgulhava enquanto esteve entre nós. Também
agradeci a todos que, a distância, me acompanharam, me apoiaram e me incentivaram. Depois do banho fui à Bike Shop Show, desmontei a Guerreira e embalei-a para a viagem de
volta para casa. Comprei uma passagem de ônibus para SP. Da capital paulista embarquei em outro ônibus para Brasília, chegando no sábado, dia 21/05/2011. Percorri a ER
rápido demais em cima da minha bike. Na próxima edição, irei a pé para bebericar demoradamente as belezas e singularidades do caminho.
“O m e l ho r nã o é che g a r, m a s a p r ov e i t a r o c a m i nho”
Brasília, Maio de 2011.
A GUERREIRA
ÚLTIMO MARCO DA ER
Foto: F. Mendes
Foto: F. Mendes

INSTITUTO ESTRADA REAL (IER)
No dia de 5 de outubro de 1999 a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) criou o
INSTITUTO ESTRADA REAL (IER) , uma sociedade civil sem fins lucrativos que tem por objetivo organizar,
fomentar e gerenciar o produto turístico Estrada Real. Em abril de 2003 o Governo do Estado de Minas Gerais
resolveu transformar tal iniciativa em programa estruturante de governo, quando foi imediatamente
implantado em 177 municípios, sendo 162 de Minas Gerais, 8 do Rio de Janeiro e 7 de São Paulo, e
transformou-se em ferramenta importante para incentivo ao desenvolvimento econômico e social
sustentado, à geração de emprego e renda, e, ainda, à preservação dos patrimônios históricos, culturais,
artísticos e ecológicos dos municípios onde implantado. Imediatamente a Federação das Indústrias do Estado
de Minas Gerais e o Instituto Estrada Real firmaram um termo de cooperação com Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), envolvendo recursos da ordem de US$ 3,4 milhões, para a execução de programas de
fortalecimento das redes de turismo ao longo da Estrada Real, ou seja, com a finalidade de criar uma rede de
pequenas e médias empresas da cadeia produtiva turística, promover a qualificação e o treinamento dos
empresários locais, e, ainda, desenvolver novos produtos turísticos e comercializá-los.
Dia 1º de maio de 2006 o Instituto Estrada Real assinou um convênio de cooperação técnica, onde as Nações
Unidas, através do PNUD, incorporou-se ao projeto e se comprometeu a repassar tecnologia para a
elaboração, execução e acompanhamento de projetos de desenvolvimento.
Ainda em prosseguimento aos trabalhos de estruturação, no dia 13 de junho de 2006 foi a vez das Secretarias
de Estado de Turismo e de Planejamento e Gestão se incorporarem ao programa, ocasião que foram
assinados convênios para o repasse de R$ 1,05 milhão destinados ao desenvolvimento de projetos
envolvendo os pólos turísticos da Serra do Cipó e em Diamantina, inclusive para o levantamento de dados,
diagnóstico e elaboração do plano de gestão do Circuito das Águas.

Em paralelo, o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) criou uma linha de crédito denominada
Fundese-Estrada Real. Através dela liberou recursos para 281 empreendimentos, em 52 municípios, sendo
que tais projetos somaram R$ 12 milhões de recursos do banco e R$ 19,6 milhões dos próprios
empreendedores.
Ainda que escolhas alternativas pudessem envolver um número maior de municípios, após diversos estudos a
seleção final dos caminhos, integrantes da Estrada Real, foi decidida conjuntamente pelo Instituto Estrada
Real, Universidade Federal de Minas Gerais e Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais
(DER/MG), buscando respeitar o conceito histórico e geográfico, e a efetiva capacidade de se atrair turistas e
se instalar a infraestrutura necessária.
Atualmente a Estrada Real é o mais amplo projeto turístico em desenvolvimento no País. Ela abrange 1.400
quilômetros de rodovias e envolve 177 municípios através de três caminhos: o CAMINHO VELHO , que liga
Ouro Preto (MG) a Paraty (RJ), que foi a primeira via oficializada; o CAMINHO NOVO , que liga Ouro Preto
(MG) ao Rio de Janeiro (RJ), aberto no século XVII; e o CAMINHO DOS DIAMANTES , que liga Ouro Preto
(MG) a Diamantina (MG), criado em 1729 por ocasião da descoberta de diamantes na região do Serro Frio,
atual Município do Serro (MG). Por envolver patrimônios culturais e naturais espetaculares, a Estrada Real
rapidamente vem atraindo turistas brasileiros e estrangeiros, especialmente dos Estados de São Paulo, do Rio
de Janeiro e de Minas Gerais. Dentre os recursos naturais, a exuberância das águas torna esse circuito
singular, sendo que a parte mais significativa das atrações envolve rios, cachoeiras e lagos, destacadamente
da Serra do Cipó, de Santa Bárbara, de Diamantina e de Carrancas. Não há dúvida de que o patrimônio
histórico e cultural envolvido nesse projeto também é especialíssimo, significando uma janela para a História
do Brasil. Além dos estudos desenvolvidos, o Governo do Estado de Minas Gerais, através da Secretaria de
Estado de Turismo e da Federação das Indústrias de Minas Gerais, encomendaram de uma empresa de
consultoria especializada um amplo diagnóstico turístico, inclusive envolvendo as potencialidades do turismo
de natureza da Estrada Real, em especial o destino Serra do Cipó.
INSTITUTO ESTRADA REAL (IER)

Além do Parque Nacional da Serra do Cipó, algumas pouquíssimas e especialíssimas propriedades privadas foram
identificadas e denominadas “jóias” da região do Circuito do Diamante, em virtude do potencial que possuem
tornando-se chamarizes e atraindo um público diferenciado. Há de se destacar que para ser considerada
“jóia” não bastava a propriedade possuir alguns atrativos. É necessário que ela atenda, pelo menos, os
seguintes critérios conjuntamente:
I)reunir as qualidades básicas do atrativo;
II) possuir localização estratégica (área no entorno dos parques, dentro de corredores ecológicos);
III) reunir potencial para o desenvolvimento de produtos;
IV) ter sinergia com o destino;
V) contribuir para a variedade da oferta.
Em decorrência da importância cultural, Ouro Preto (1980), Santuário do Bom Jesus em Congonhas (1985) e
Diamantina (1999) foram inscritas na Lista de Sítios de Patrimônio da Humanidade da UNESCO. Também
merecem destaque os inúmeros festivais e eventos culturais promovidos por instituições públicas e pela
iniciativa privada, envolvendo a história, a arquitetura, a cozinha, as tradições, as belezas naturais e o calor
humano do circuito, o que torna a Estrada Real um destino verdadeiramente inimaginável para o turista de
qualquer parte da Terra. Ao percorrer o circuito, o turista rapidamente consegue estabelecer o elo entre o
passado e o presente. Ele experimenta o contato e a convivência com o legado cultural, com a expressividade
peculiar de cada comunidade, e com as tradições que sobreviveram, mesmo influenciadas e modificadas ao
longo do tempo. A Estrada Real busca reunir a todos esses inúmeros atrativos, meios de hospedagens e
alimentação de boa qualidade, além de possibilitar a prática de um turismo cultural participativo, atento aos
detalhes e peculiaridades para se entender as comunidades, seus costumes e valores.
INSTITUTO ESTRADA REAL (IER)

Nesse circuito, cada cidade tem suas características físicas, seu movimento próprio, suas emoções, seus cheiros,
seus sons e, a seu modo, cada uma delas convida o turista a vivenciar e experimentar parte de sua história.
Nos dias atuais o turismo cultural se fundamenta nos seguintes princípios:
I) gestão, qualidade, sustentabilidade e interpretação;
II) deve ser realizado por um número pequeno de visitantes, com tempo para apreciar lugares e manifestações,
recebendo mensagens detalhadas e de qualidade dos lugares;
III) o visitante deverá ser envolvido em um universo de experiências, inclusive com visitas apoiadas em atividades
práticas, através da arte, da gastronomia, das manifestações populares, das manifestações culturais, e dos
atrativos naturais.
Importantes estudos evidenciam que a partir do momento que levamos para o coração e a mente das pessoas
idéias de preservação, mexendo com as emoções de maneira a desenvolver algum tipo de afeição pelo
ambiente visitado, quer se trate de espaço público quer se trate de espaço privado, imediatamente formamos
grandes aliados para a luta pela preservação.
Para outras informações e maiores detalhes consultar o site www.estradareal.org.br, o Instituto Estrada Real
ou a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, na cidade de Belo Horizonte, MG.
Fonte: www.serradocipo.com
INSTITUTO ESTRADA REAL (IER)
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