vários outros aspectos extra-econômicos envolvidos na prática concluindo que ela não
se resumia sumariamente a uma troca sem sentido de ornamentos corporais entre os
nativos tal qual alguns observadores diziam constatar. Na realidade, várias atividades,
com sua respectiva diversidade de funções sociais, estavam envolvidas nesse ato. A
troca dos ornamentos nem apresentavam em si um aspecto puramente econômico
estando muito mais relacionado ao valor histórico dos objetos e às relações diádicas e
permanentes mantidas entre os sujeitos massim. Os objetos trocados nem sequer
entravam em posse absoluta dos indivíduos envolvidos, pois estavam sempre em um
ciclo incessante de troca. Não obstante, Malinowski não deixava de reparar que, durante
o exercício dessa tradição, cumpriam-se outros costumes tais como relações
diplomáticas entre tribos, cerimônias diversas, rituais mágicos, transação de objetos
escassos para cada uma das tribos em negociação etc. O pensador também se
preocupava com o caráter subjetivo de que se impregnava o kula, afinal de contas, os
nativos atribuíam um significado que, superficialmente, não seria possível detectar.
Desta maneira, o kula cumpriria várias funções interligadas e de várias ordens que
satisfariam necessidades biológicas das tribos massim, ao menos na visão do autor.
Já Radcliffe-Brow se coloca em um patamar muito mais positivista e radical que
Malinowski. No entanto, além do caráter funcionalista e organicista de sua teoria, ele
introduz uma novidade a esta tradição ao tomar analiticamente a sociedade a partir de
um viés estruturalista – isto é, considerando os seus indivíduos como que dispostos em
uma estrutura social que os alinha em redes de relações complexas e que lhes aloca em
categorias específicas (homem, mulher, professor, jurista etc) diferenciando-os entre si
no que respeita ao tratamento que recebem e às funções que devem executar. Seu
pensamento, portanto, é comumente considerado funcional-estruturalista por agregar
tanto a concepção organicista quanto a concepção de estrutura. Uma diferença ainda
mais essencial entre os dois pensadores é que, assim como Durkheim, ele tem a função
de uma instituição social como “a correspondência entre ela e as necessidades da
organização social” (RADCLIFFE-BROW, 1973, p. 220). Ao contrário de Malinowski
(que pensa a função como satisfação de necessidades biológicas), Radcliffe-Brow a
pensa como voltada para a satisfação de necessidades sociais. Daí pra frente, o autor faz
com que suas duas perspectivas analíticas se complementem. Pra ser mais claro: ainda
em analogia orgânica, ele toma a estrutura social apenas como a disposição dos órgãos
dentro de um organismo (por organismo, entenda o corpo de indivíduos que ocupam um
lugar e que desempenham atividades de modo a preservar o funcionamento orgânico, ou
seja, a vida e a estabilidade do sistema). Desse modo, as células que compõem os
órgãos obviamente cessarão sua atividade ao morrer. Não obstante, novas células
nascerão e serão especializadas para exercer a mesma função na mesma localidade
substituindo aquelas que morreram conservando, por fim, o sistema. Por pensar desta
maneira, dir-se-ia que o sociólogo estaria unicamente preocupado com a estabilidade e a
manutenção dos grupos sociais tais como são. No entanto, ele também considera que
sistemas possam sofrer alterações ao longo do tempo, embora ele não aparente dar a
mesma atenção a este aspecto. Radcliffe-Brow, por considerar os fenômenos sociais
como fenômenos essencialmente naturais (ele não fazia distinção entre ciências