Funcoes psiquicas superiores

JucemarFormigoniCandido 6,880 views 6 slides Feb 07, 2013
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1 de 6
Quais são as “funções psíquicas superiores”?*
anotações para estudos posteriores
Achilles Delari Junior**

uem estuda as obras de Vigotski e seus colabora-
dores talvez tenha notado que, ao exporem quais
são as funções psíquicas propriamente humanas,
muitas vezes terminam a lista com um lacunar e intri-
gante “etc.”. Ou seja, a lista fica incompleta, e o autor
demonstra ter por pressuposto, que nos seria simples
completá-la com nosso conhecimento anterior na área.
Infelizmente não é sempre assim que acontece, e muitos
de nós ficamos sem saber quais outros processos fariam
parte daquele mesmo grupo. O objetivo dessas breves
anotações é o de levantar do modo mais detalhado
possível os nomes de funções psíquicas citadas pelo
próprio Vigotski, e com isso lançar um pequeno convite
ao leitor a realizarmos buscas mais detalhadas sobre esse
assunto, seja na mesma obra de cujos primeiros capítulos
eu parto – “História do desenvolvimento das funções
psíquicas superiores” (Vygotski, 1931/2000) – ou em
outras que a ela venhamos acrescentar no futuro.
***

Recentemente, Nikolai Veresov disse, em uma de suas
conferências, que o objeto de estudo da psicologia de
Vigotski não são as “funções psíquicas superiores”
1
, mas
sim “o processo de desenvolvimento das funções
psíquicas superiores”. Como já sabemos, Vigotski nos
orienta a “estudar não ‘objetos’ mas sim processos”. A
entender o objeto no seu processo de mudança. Não se
pode compreender as funções psíquicas, e o entrelaça-
mento dialético de suas linhas genéticas biológica e
cultural, se não for historicamente. No que estamos de
pleno acordo. Entretanto, em Vigotski, nem sempre se vê
assim tão explícito qual seja “o” objeto de estudo da
psicologia. Podemos ver claramente a “consciência”
tomar esse lugar, no famoso texto de 1925. Mas mesmo
que toda função superior seja (pela leitura de Wertsch,
1985, e.g.), “consciente”, “social”, “mediada” e “volun-
tária”, não se pode fazer uma identificação direta da
consciência, em seu conjunto, com apenas a soma ou
justaposição das funções superiores como suas partes.
Há algo de especial na categoria “consciência” que é
seu caráter “duplicado” – em diferentes definições pode-

*
Para referência: DELARI JR., A. (2011) Quais são as funções
psíquicas superiores? Anotações para estudos posteriores. Mimeo.
Umuarama. 6 p. Disponível em: http://www.vigotski.net/fps.pdf
Críticas e sugestões de correção envie para [email protected]
**
Psicólogo desde 1993 pela UFPR, mestre em Educação pela
Unicamp, desde 2000. Professor universitário aposentado.
1
Ele usou os termos “higher mental functions” – mas manteremos
“psíquicas” e não “mentais”, apenas porque no próprio russo temos
“psikhítcheskii” que é um adjetivo cognato em relação ao nosso
“psíquico”. “Mental” não é incorreto, evidentemente, talvez o autor
entenda ser um termo mais “moderno”, não temos como saber. Mas
existe também uma palavra russa para dizer “mental”/”intelectual”
que é “umstvennii”, e não é essa usada por Vigotski nesse caso, ao
menos na obra que consultamos (Vygotski, 1931/2000).
mos notar isso: “reflexo de reflexos” (Vygotski, 1924/
1991; 1925/1991), “vivência de vivências” (Vygotski,
1925/1991). E também, como lembra Leontiev (1982/
1991), Vigotski gostava de dizer que a consciência
[soznanie] é “co-conhecimento”.
2
Ao mesmo tempo, não
podemos assumir como objeto da psicologia uma
consciência abstrata que paira acima de qualquer
processo e/ou função psíquica, o que soaria como uma
forma de idealismo. Mesmo sendo a consciência um
processo reflexivo mais geral, as funções psíquicas “em
particular”, também são de interesse como objeto de
estudo. Desde que consideremos as formulações mais
tardias de Vigotski sobre o caráter interfuncional e
sistêmico da consciência, na relação entre as variadas
funções, as quais só ganham sentido na atividade de um
homem concreto, e num dado jogo de relações sociais.
3

As anotações que se seguem estão organizadas em
apenas quatro partes: (I) levantamento geral em quatro
passagens distintas; (II) “o conceito de funções psíquicas
abarca dois grupos de fenômenos”; (III) funções
psíquicas rudimentares; (IV) referências; e uma tabela em
anexo. Aguardo a colaboração do leitor para ampliar a
discussão.



I – Levantamento geral em quatro
passagens distintas

(1) “funções psíquicas das crianças”

Logo na página 12, temos que são “funções psíquicas das
crianças” (Vygotski, 1931/2000, p. 12):

 A linguagem (oral, entende-se)
 O desenho
 (O domínio da) leitura e da escrita

2
A palavra russa para consciência, tal como usada por Vigotski
envolve os radicais: (1) “so_” = partícula de duplicação e/ou acompa-
nhamento, muito próxima ao nosso “co_” (comando, cooperação,
etc.); e (2) “znanie” = de “znat’” = saber; conhecer.
3
Vigotski chegará a assumir que as próprias funções são “relações
sociais”, nas quais somos conosco tal como somos com os demais.
Restaria então a questão: poderíamos dizer que as “relações entre as
funções” são “relações entre relações sociais”? É complexo esse tema
pois as funções são sociais, podem ser consideradas relações sociais
do ser humano consigo mesmo, mas não é fácil sustentar um
“paralelismo” psico-social, de modo que minha memória por exemplo
seja tal e qual minha relação social com meus pais ou meus alunos...
Há um percurso a percorrer para dar mais solidez a tal definição. Fica
aqui pontuada a necessidade de retornar a este tema posteriormente.

Q

2 de 6
 A lógica (da criança)
 A (sua) concepção de mundo
 A representação
 As operações numéricas (inclusive a “psicologia
da álgebra”)
 Os conceitos*
* Ele diz “a formação de conceitos”. Fica ambivalente.
Pode ser uma ênfase casual, pois se supõe que tudo se
“forma”, já que é do desenvolvimento de todas essas
funções que se trata. Então por que não dizer “formação
da representação”, “formação da lógica”, etc.? Pode ser
que “formação” no original tenha outra acepção, tal como
“arranjo”, “modo de disposição” (por exemplo, as
formações de uma banda, as formações de um pelotão
militar, etc.). Mas eu não penso, com toda a sinceridade,
que possa ser aqui o segundo caso, para mim está mais
para uma redundância mesmo. De modo que as funções
psíquicas superiores seriam “os conceitos” (científicos e
cotidianos, e.g.), ou até o “pensamento conceitual”, os
quais como o desenho, a lógica, a representação, se
formam, se desenvolvem. Qual o entendimento do leitor?


(2) Funções superiores versus funções elementares

Mais adiante (Vygotski, 1931/2000, p. 18), há uma lista
de funções superiores em diferenciação com as elementa-
res para criticar que sua separação era feita de modo
estanque e idealista na psicologia tradicional.**

 Memória lógica | Memória mecânica
 Atenção voluntária | Atenção involuntária
 Imaginação criadora | Imaginação reprodutora
 Pensamento em conceitos | Pensamento figurativo
 Sensações superiores | Sensações inferiores (!!!)
 Vontade previsora | Vontade impulsiva

** Nota-se, no texto, que Vigotski critica o dualismo
entre estas funções, mas não demonstra explicitamente
que não haja qualquer distinção real entre elas. Qual a
posição do leitor? Será que alguma das ditas funções
inferiores poderia ser considerada como fundida à
superior correspondente já nos momentos mais iniciais do
desenvolvimento? Tenho impressão de que não seja o
caso. Cada par, por sua própria adjetivação já dá muito
que discutir. Não é o mesmo critério que sempre
diferencia uma das outras. Fala-se em “memória lógica
versus mecânica”, mas a atenção superior não é nomeada
como “lógica” e sim como “voluntária”. Às vezes o
caráter intelectualizado, lógico, se destaca, às vezes o
caráter voluntário, volitivo. E o mesmo para “criação
versus reprodução”, no caso da imaginação; “previsão
versus impulsividade”, no caso da vontade. O que gera
uma reentrância. Digamos que a atenção seja voluntária,
ela poderá ser, por sua vez, “voluntária previsora” ou
“voluntária impulsiva”? Forma-se uma rede conceitual
um tanto sincrética, por assim dizer, no estabelecimento
de critérios para o que seja uma função psíquica superior.
Embora esta não seja uma lista assumida pelo próprio
Vigotski, mas lembrada por ele desde a psicologia tradi-
cional.


(3) Funções complexas inadequadamente estudadas

Várias páginas à frente (Vygotski, 1931/2000, p. 53), o
autor fala de “processos e funções complexos e
superiores” que foram estudados inadequadamente. Tais
seriam estes “processos complexos”***:

 reconhecimento
 diferenciação
 eleição
 associação
 juízos

*** Gostaria que o leitor confirmasse se minha impressão
é correta ou não... Mas mesmo eu saiba que “reconhe-
cer”, por exemplo, um padrão de códigos com a finalida-
de de decifrá-los, ou “diferenciar” entre matrizes episte-
mológicas historicamente distintas, etc., possa ser algo
bastante complexo e de caráter de função psíquica supe-
rior, não se nota que esta lista é um tanto distinta das
anteriores? Não se parecem tais processos, de algum
modo, mais com algo do plano das “operações” do pen-
samento e/ou das funções psíquicas? A “eleição”, por
exemplo, é tipicamente um processo inerente à volição.
Apenas se acrescenta que o próprio Vigotski, anterior-
mente, cita a diferença entre vontade previsora e vontade
impulsiva, o que poderia fazer pensar em eleições previ-
soras e outras impulsivas, do mesmo modo. “Associa-
ções”, por sua vez, geram ainda mais desconforto, pesan-
do que há toda uma crítica em Vigotski (1934/2001) à
concepção de que as relações entre palavra e seu
significado sejam só associativas. Mas entende-se, e.g.,
que uma associação no sentido daquela que se dá no divã
do analista não pode ser uma função elementar. Quanto
aos “juízos” já se torna mais difícil pensá-los senão como
funções psíquicas superiores, e o fato de figurar nesta
lista assim não causa estranheza. Que me dizem os
leitores? Poderia haver, digamos, funções mais genéricas
que são capazes de compor a organização de outras, sem
serem as primeiras elementares por definição? Por
exemplo, o “pensamento por conceitos” ser composto por
“diferenciação”, “reconhecimento” e “associação”: uma
função superior composta por outras funções superiores?


(4) Tentativas de extrair elementos do indivisível.

Retornando mais ao início do livro (Vygotski, 1931/2000,
p. 15), já notamos, inversamente, que o autor se referia a
“elementos primários”, que a velha psicologia****

3 de 6
tentava extrair, separar, abstrair, de “vivências indivisí-
veis”. Tais seriam:

(a) “Fenômenos psíquicos elementares”
 sensações
 sentimento de prazer e desprazer
 esforço volitivo

(b) “processos e funções psíquicos elementares”
 a atenção
 associações

**** Entende-se que é uma classificação da velha
psicologia empírica subjetiva. No subitem “3”, havíamos
acabado de ver as “associações” como funções superiores
erroneamente vistas como elementares. A “atenção” por
sua vez não é apenas elementar, também pode ser volun-
tária. Sensações já foram citadas nas duas categoriais
(veja a página 2 destas anotações). Um tanto mais
intrigante é o “esforço volitivo”, que seria? Quanta ener-
gia se gasta para tomar uma decisão? Realmente é algo
abstrato demais para talvez sobreviver no conjunto de
funções do próprio Vigotski, mas fica mais evidente ser
algo elementar, se puder ser entendido assim como
esforço físico (nervoso, etc.) para a realização de um ato
volitivo. Ora, não poderia, do mesmo modo, haver
“esforço atencional”, “esforço cognitivo”, etc? Essa
categoria do esforço como função psíquica mesmo que
elementar é algo novo para mim. Por outro lado,
estudando “perejivánie” (“vivência”), notamos que Vigo-
tski, “ao falar da chamada ‘perejivánie de esforço’, rela-
cionada ao domínio da atenção, diz que se trata de algo
incompreensível mediante a análise subjetiva. Tal ‘pereji-
vanie’ consiste em ‘orientar processos de atenção em
outro sentido’ (idem, p. 223)” (Delari Jr. e Bobrova
Passos, 2009, p. 24).


II – Dois grupos de fenômenos psíquicos
em três passagens.

Segundo o próprio Vigotski “O conceito de funções
psíquicas abarca dois grupos de fenômenos” (1931/2000,
p. 29). Aqui citarei três passagens, duas de “A história do
desenvolvimento...” e uma complementar de “O método
instrumental em psicologia”.


(1) O uso do “e” para falar de coisas distintas?

O autor, já bem no início do texto, vale-se da partícula
aditiva “e” para compor uma série de dois termos, dando
a entender que os está “somando”, “diferenciando”, não
se vale do “ou”, indicando sinônimos. Digo “dando a
entender uma diferenciação”, pois é uma passagem de
difícil tradução. Mesmo no contexto, não é simples saber.
Muitas vezes os significados de “e” e “ou” se imbricam
mesmo em português. E não analisaremos o russo nesse
momento. (cf. Vygotski, 1931/2000, p. 12). No meu
entendimento são conceitos diferentes*****:

 “As funções psíquicas superiores”
E
 “As formas culturais complexas de conduta”

***** Gostaria de dizer que a diferença não me parece
trivial. Seriam as formas culturais complexas de conduta
(praticamente infinitas em número, qualidades e modos
de ser) o mesmo que as “próprias funções psíquicas
superiores”? Digamos: uma apresentação teatral não seria
uma forma cultural complexa de conduta? Uma
cerimônia religiosa? A pilotagem de um avião? Claro
está que não todos os seres humanos terão domínio de
todas as formas complexas de comportamento cultural, é
impossível, é infinito. E quando se fala, por exemplo, que
o processo de “instrução” (“obutchenie”) leva ao desen-
volvimento das funções psíquicas superiores? (Vygotsky,
1935/1987; Vigotskii, 1935/1988) Sim, ele leva, simulta-
neamente, à aquisição de formas complexas de conduta
cultural. Mas são o mesmo? Não foi o próprio Vigotski
que criticou a tendência behaviorista de identificar o
desenvolvimento com a simples acumulação quantitativa
de novos aprendizados? Ou seja, na linha criticada pelo
autor, muito bem poderíamos dizer que “ao aprender a
dançar eu me desenvolvi em dançar”, “ao aprender
matemática eu me desenvolvi em matemática”. Seriam o
mesmo processo: aprender/instruir-se e desenvolver-se.
Mas não parece ser isso que Vigotski propõe pensar.
Vejo que aqui há algo a ser discutido com mais cuidado,
mas minha hipótese inicial é a de que ao falar de
“instrução” (“obutchenie”) e “desenvolvimento”, seja ao
desenvolvimento das funções psíquicas superiores que o
autor se refere. Mas se as próprias “formas culturais
complexas de conduta” já forem funções psíquicas
superiores, algo precisará ser teoricamente ajustado.


(2) Processos diferentes, mas que se relacionam

Já mais adiante na mesma obra (Vygotski, 1931/2000, p.
29) aparece explicitamente uma diferenciação entre (a)
“processos de domínio dos meios externos do
desenvolvimento cultural e do pensamento”; e (b)
“processos de desenvolvimento das funções psíquicas

4 de 6
superiores especiais”. Como é comum no pensamento de
Vigotski ele aborda as duas séries como processos que
são diferentes, mas se relacionam dialeticamente.

(a) “processos de domínio dos meios externos do
desenvolvimento cultural e do pensamento”

 a linguagem
 a escritura
 o cálculo
 o desenho
 noutra parte do texto ele fala da “pintura”

(b) “os processos de desenvolvimento das funções
psíquicas superiores especiais”

 atenção voluntária
 memória lógica
 formação de conceitos
 etc. (esse etc. é de Vigotski)

(a+b) nenhuma das duas partes pode ser resolvida em
separado.


(3) Processos semelhantes aos do item “a” da
passagem“2”

Para finalizar essa parte, eu gostaria de lembrar outros
processos semelhantes aos que vão na letra “a” da
passagem imediatamente anterior (2). Pergunto ao leitor
se não vê na lista abaixo algum ar de semelhança com os
“processos de domínio dos meios externos do desenvolvi-
mento cultural e do pensamento”. A questão é pratica-
mente a de diferenciar entre quando se acrescenta “pro-
cesso de domínio dos tais meios”, ou quando se lista um
conjunto possível de meios culturais que podem ser
dominados ou não em função das condições sociais e
históricas de cada povo, sistema educacional e vida social
de cada ser humano. Citarei do texto “O método instru-
mental em psicologia” (Vygotski, 1930/1991, p, 65). O
autor diz: “Como exemplos de instrumentos psicológicos
e de seus complexos sistemas podem servir:

 a linguagem
 as diferentes formas de numeração e cômputo
 os dispositivos mnemotécnicos
 o simbolismo algébrico.
 as obras de arte
 a escritura
 os diagramas
 os mapas
 os desenhos
 todo o gênero de signos convencionais
 etc.”


III – Funções psicológicas rudimentares

Esse é praticamente um capítulo à parte, mas é a base
para toda a argumentação metodológica de Vigotski
contra o modelo S-R predominante na pesquisa experi-
mental desde a velha psicologia (Wundt, e.g. tinha três
tipos de experimentos diferentes baseados no mesmo
paradigma S-R). As funções rudimentares, por princípio,
são “funções psíquicas superiores rudimentatres”, às
quais James Wertsch, e.g., contrasta com as “funções
psíquicas superiores avançadas”, ou “propriamente
ditas”. Diferenciação que no meu ponto de vista é útil,
pois Vigotski está tratando de formas culturais de
organização das funções psíquicas propriamente humanas
tão arcaicas que poderiam inadvertidamente ser
confundidas com funções elementares, mas são na gênese
e no funcionamento funções psíquicas superiores. São
trabalhados os três seguintes exemplos:

 jogar a sorte para decidir
 usar um nó para lembrar
 usar os dedos para contar

Poderia ser dito, de passagem que “jogar a sorte”, “usar o
nó”, “usar os dedos” pode estar mais próximo do que
acima foi chamado de “processo de domínio de meios
externos”, entretanto, “lembrar” e “decidir” (ato volitivo)
talvez se aproximem mais das funções psíquicas “espe-
ciais”. Embora partamos do princípio da indissociabi-
lidade, entende-se que o princípio da indiferenciação
também não seja o mais apropriado. E a discussão fica
lançada nesse sentido, para a compreensão das sutilezas
das relações entre cultura e constituição do psiquismo, na
dialética biológico e cultural.


* * *

Por Achilles Delari Junior.
Umuarama-PR, 02 de março de 2011.
Produção voluntária.
Este material passará por revisões posteriores.

5 de 6
IV - Referências

DELARI JR., A.; BOBROVA PASSOS, Iu. V. (2009).
Alguns sentidos da palavra perejivanie em L. S.
Vigotski: notas para estudo futuro junto à
psicologia russa. Mimeo. Umuarama/Ivanovo. 40 p.
Disponível em: http://www.vigotski.net/
perejivanie.pdf

LEONTIEV, A. N. (1982/1991) Artículo de introducción
sobre la labor creadora de L. S. Vygotski. In:
VYGOTSKI, L. S. Obras escogidas - Tomo I.
Madrid: Visor Aprendizaje y Ministerio de Educación
y Ciencia. p. 417-449.

VYGOTSKI, L. S. (1924/1991). Los métodos de
investigación reflexológico y psicológicos. In:
______. Obras escogidas - Tomo I. Madrid: Vysor
Aprendizaje y Ministerio de Cultura y Ciencia. p. 3-
37.

VYGOTSKI, L. S. (1925/1991) La consciencia como
problema de la psicología del comportamiento. In:
______. Obras escogidas - Tomo I. Madrid: Visor y
Ministerio de Educación y Ciencia. p. 39-60.

VYGOTSKI, L. S. (1930/1991) El método instrumental
en psicología. In: ______. Obras escogidas - Tomo I.
Madrid: Visor y Ministerio de Educación y Ciencia. p.
65-70.

VYGOTSKI, L. S. (1931/2000) Historia del desarrollo de
las funciones psíquicas superiores. In: ______. Obras
escogidas - Tomo III. 2. ed. Madrid: Visor. p. 11-
340.

VIGOTSKI, L. S. (1934/2001) A construção do
pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins
Fontes. 496 p.

VYGOTSKY, L. S. (1935/1987) Interação aprendizado e
desenvolvimento. In: ______. A formação social da
mente. São Paulo: Martins Fontes. P. 89-103.

VIGOTSKII, L. S. (1935/1988) Aprendizagem e
desenvolvimento intelectual na idade escolar. In:
LEONTIEV, A. N.; LURIA, A. R.; VIGOTSKII, L. S.
Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São
Paulo: Edusp, Ícone. p. 103-107.

WERTSCH, J. V. (1985b) Vygotsky and the social
formation of mind. Cambridge, Massachusetts and
London, England: Harvard University Press

6 de 6
ANEXO ÚNICO

No quadro abaixo, apenas a primeira linha após os títulos está tal e qual Vigotski explicitamente “separa” os processos. Nas demais
linhas formam encaixadas as funções citadas em proximidade com essa “separação”. Não pretendermos categorização estanque, mas
assim fica visível a repetição de termos, alguns deles em categorias divergentes (marcarei com asteriscos o número de vezes que o
termo aparece). Um estudo mais detalhado de diferentes obras talvez venha nos ajudar a fazer um “mapa” mais fidedigno.

1 “processos de domínio dos meios
externos do desenvolvimento cultural e
do pensamento”
2.a “os processos de desenvolvimento
das funções psíquicas superiores
especiais”
2.b funções psíquicas elementares

 a linguagem* (1931/2000, p. 29)
 a escritura* (1931/2000, p. 29)
 o cálculo* (1931/2000, p. 29)
 o desenho* (1931/2000, p. 29)
 a pintura* (1931/2000, cf. página)

 atenção voluntária* (1931/2000, p. 29)
 memória lógica* (1931/2000, p. 29)
 formação de conceitos* (1931/2000, p. 29)
 etc. * (1931/2000, p. 29)



[no texto de 1930/1991, p. 65]

 a linguagem**
 as diferentes formas de numeração e
cômputo **(cálculo?)
 os dispositivos mnemotécnicos*
 o simbolismo algébrico.*
 as obras de arte * [vide “pintura”]
 a escritura **
 os diagramas *
 os mapas *
 os desenhos **
 todo o gênero de signos convencionais [...
envolve o já citado antes]
 etc.”

[divisão da psicologia tradicional]

 memória lógica (1931/2000, p. 18)
 atenção voluntária** (1931/2000, p. 18)
 imaginação criadora (1931/2000, p. 18)
 pensamento em conceitos **
4
(1931/2000, p.
18)
 sensações superiores (1931/2000, p. 18)
 vontade previsora (1931/2000, p. 18)


[divisão da psicologia tradicional]

 memória mecânica* (1931/2000, p. 18)
 atenção involuntária* (1931/2000, p. 18)
 imaginação reprodutora* (1931/2000, p.
18)
 pensamento figurativo* (1931/2000, p. 18)
 sensações inferiores* (1931/2000, p. 18)
 vontade impulsiva* (1931/2000, p. 18)

[“funções psíquicas das crianças”]
5


 a linguagem *** (1931/2000, p. 12)
 o desenho *** (1931/2000, p. 12)
 leitura e escrita *** (1931/2000, p. 12)
 As operações numéricas *** (inclusive a
“psicologia da álgebra”)

[“funções psíquicas das crianças”]

 a lógica* (da criança) (1931/2000, p. 12)
 a (sua) concepção de mundo* (1931/2000,
p. 12)
 a representação* (1931/2000, p. 12)
 os conceitos** (1931/2000, p. 12)

[“Fenômenos psíquicos elementares”]

 sensações ** (1931/2000, p. 15)
 sentimento de prazer e desprazer*
(1931/2000, p. 15)
 esforço volitivo* (1931/2000, p. 15)


[funções complexas mal estudadas]

 reconhecimento* (1931/2000, p. 53)
 diferenciação* (1931/2000, p. 53)
 eleição* (1931/2000, p. 53)
 associação* (1931/2000, p. 53)
 juízos* (1931/2000, p. 53)

[“processos e funções psíquicos
elementares”]

 a atenção**
6
(1931/2000, p. 15)
 associações**
7
(1931/2000, p. 15)


[funções psíquicas rudimentares]

 jogar a sorte para decidir
8

 usar o nó para lembrar [mnemotécnica**]
 usar os dedos para contar ****


[funções psíquicas rudimentares]

 decidir está ligado à “eleição”**, portanto, à
vontade.



4
“Pensamento em conceitos” e “formação de conceitos” não é o mesmo, mas considerando que a antiga psicologia os via de modo mais estático e
Vigotski os via em processo de formação, pode-se manter que seja a mesma função, embora vista de maneiras diferentes.
5
Aqui, como era previsto, não é simples utilizar a própria diferenciação de Vigotski feita noutra passagem de “História do des. das f.p.s” – pois
alguns processos que noutro lugar se poderia entender como recursos culturais a serem dominados socialmente no processo de desenvolvimento,
aqui já não se distinguem claramente das chamadas “funções especiais”.
6
A “atenção” nesse mesmo quadro figurou nas formas complexa e elementar. Mas nesse momento está se discutindo processos elementares.
7
Note-se que no mesmo quadro, na célula à esquerda, a “associação” figura como uma função erroneamente estudada como “elementar”. Isso
mostra apenas que, na página 15, Vigotski enumera processos tidos como inferiores na psicologia tradicional mas não faz uma discussão mais
detalhada sobre o que está incluído nesse grupo, nesse momento.
8
As funções rudimentares, por enigmáticas que pareçam ser, aqui podem lançar uma luz para a “indissociabilidade sem indistinção” entre as
práticas culturais complexas e as funções psíquicas especiais. Por exemplo, “jogar sorte para decidir”. A função é “decidir”, “eleger”, um “ato
volitivo”, mas jogar a sorte está como recurso cultural para a realização material dessa função. Lembrar pode ser uma função especial elementar
(imediata) ou superior (em sua forma lógica), mas aqui temos o nó como recurso cultural para lembrar. São indissociáveis, mas não são o mesmo.
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