Geografia volume 2

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About This Presentation

Geografia volume 2 vivá


Slide Content

2
Geografia
Geografia
«VOLUM E 2 | ENSIN O MÉDIO»
IGOR MOREIRA
Licenciado em Geografia pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor no núcleo de pós-graduação da Faculdade Porto-Alegrense (Fapa-RS).


1
a
edição
Curitiba, 2016
Vivá Geografia - Volume 2
© 2016 - Igor Moreira

Direitos de publicação
© 2016 Editora Positivo Ltda.

Direção de programas de governo e governança editorial Márcia Takeuchi

G er ênci a edit ori al Sandra Cristina Fernandez
Supervisão editorial Cláudia Carvalho Neves
Coordenaçã o editorial e edição Jaqueline Paiva Cesar
Edição Flávia Garcia Penna, Angélica Campos Nakamura
Elaboração de conteúdo Angélica Campos Nakamura, Dirceu Franco, Elizabeth Auricchio
Leitura crítica Júlio César Suzuki
Autoria Igor Moreira. Reformulação dos originais de Igor Moreira e Elizabeth Auricchio
Assistência editorial Emilia Yamada, Karina Miquelini
Revisão Kátia Scaff Marques (superv.), Maya Indra Souarthes Oliveira,
Edilene Rodrigues
Supervisão de arte Juliano de Arruda Fernandes
Edição de arte Alexandre Francisco da Silva Pereira, Juliana Medeiros de Albuquerque
Capa Megalodesign
Projeto gráfico Pedro Gentile com ilustrações de Daniel Cabral

Editoração eletrônica Muiraquitã Editoração Gráfica
Supervisão de iconografia Janine Perucci
Iconografia Tassiane Tokarski, Jéssica Miara
Produção gráfica Danilo Marques da Silva
Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)
(Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil)

M838 Moreira, Igor.
Vivá : geografia : volume 2 : ensino médio / Igor Moreira – Curitiba: Positivo, 2016.
: il. (Coleção Vivá)

1. Geografia. 2. Ensino médio – Currículos. I. Título.

CDD 373.33





ISBN 978-85-467-0712-6 (Livro do estudante)
ISBN 978-85-467-0713-3 (Manual do professor)
1ª edição
2016


Todos os direitos reservados à Editora Positivo Ltda.
R. Major Heitor Guimarães, 174
80440-120 – Curitiba – PR
Fale com a gente: 0800 723 6868
Site: www.editorapositivo.com.br

Impressão e acabamento:
Gráfica Posigraf S.A.
R. Senador Accioly Filho, 500
81310-000 – Curitiba – PR
E-mail: [email protected]



Apresentação
Caro estudante:
Vivemos num mundo cada vez mais complexo em todas as áreas: relações internacionais, ciência,
tecnologia, economia. Hoje, um acontecimento particular se inscreve numa teia de relações de alcance
globalizado. Estamos na era do conhecimento, usado de modo intensivo em todas as esferas sociais,
seja na escola, seja no trabalho, seja na convivência cotidiana.
Como decifrar uma atualidade tão múltipla e em constante transformação? Como saber o que é
mundo e como ele fu186nciona? Como formar alunos-cidadãos conscientes, capazes de atuar no
presente e construir o futuro?
O objetivo desta coleção é contribuir com referências essenciais para que você possa ampliar seus
conhecimentos geográficos, compreendendo as transformações do espaço geográfico como produto
das relações socioeconômicas, culturais e de poder.
Este segundo volume da coleção se inicia com estudos sobre região e regionalização,
indispensáveis ao entendimento da dinâmica de formação e construção do território nacional, bem como
sobre a inserção do país no sistema internacional; aborda os elementos físicos integrantes na
construção do espaço brasileiro, os aspectos sociais e culturais, e, finalmente, os circuitos brasileiros de
produção, circulação e consumo.

O autor.

Conheça seu livro
< imagem >
Abertura de unidade
Apresenta uma imagem ampla, relacionada com os assuntos que serão estudados na unidade. Contém um texto introdutório e algumas
questões para você refletir.

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Abertura de capítulo
Os capítulos começam com uma imagem e um texto introdutório sobre os principais assuntos que serão abordados.

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Ampliando o conhecimento
Apresenta infográficos que ampliam alguns temas relacionados aos conteúdos estudados ao longo dos capítulos.

< imagem >
Pensando bem
Propõe atividades para você checar o que aprendeu, retomar os conteúdos estudados e aprofundar seus conhecimentos.


< imagem >
Para saber mais
Oferece informações complementar es e interessantes sobre um conteúdo estudado no capítulo.

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Conexões
Possibilita o aprofundamento de seus conhecimentos por meio de textos relacionados aos temas estudados no capítulo.
Texto & contexto
Traz questões para serem respondidas no caderno. Elas incentivam a interpretação de textos, fotografias, mapas, tabelas e gráficos.

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Para ler, pesquisar e assistir
Apresenta sugestões de livros, sites e filmes sobre os assuntos estudados.
Glossário
Apresenta o significado de palavras e expressões de difícil compreensão.

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Desafios & debates
Contém atividades diferenciadas para pesquisa, reflexão e debate sobre um tema.

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Projeto
No final do volume, há um projeto que valoriza práticas de pesquisa associadas ao conhecimento geográfico e suas relações com outras
áreas do saber.

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Índice remissivo
No final do volume, você encontra uma relação de conceitos, categorias e termos importantes para a Geografia e as respectivas páginas
em que as ocorrências são mais significativas.
Ícone

Interdisciplinaridade
Indica atividades e propostas interdisciplinares, para que você possa estudá-las de modo integrado com as demais áreas.


Sumário
Unidade
1
Brasil: um país no mundo

CAPÍTULO 1
Construção e integração do território 10
U m país-c onti ne nte...................................................... 11
Di me ns ões ter ri tor iai s................................................. 12
A c ons tr uçã o de um país............................................ 13
D o “a r qui péla go” a o c onti ne nte ............................... 19
Des c once ntraç ã o es pac ial ......................................... 22
C o ne xõ es .................................................................... 23
Pe nsa n d o be m .......................................................... 24
D esafi os & d eb ates ................................................. 26
CAPÍTULO 2
Regionalização e planejamento ..... 27
O que é r e gi onali z ar ? .................................................. 28
Re gi ões do I B GE .......................................................... 28
Re gi ões ge oec onôm i cas .............................................30
O s “ qua tr o B ra si s”....................................................... 34
IDH e re gi onal iz aç ã o do Br as il .................................. 35
Amplia nd o o conhec im ent o – Síntese das
re gi ões do I B G E ........................................................... 36
A e str utura ce ntr o-pe ri fe ri a ....................................... 50
C o ne xõ es .................................................................... 51
Pe nsa n d o be m ......................................................... 52
D esafi os & d eb ates ................................................. 54
CAPÍTULO 3
O Brasil no sistema internacional .... 55
Ec onom i a gl obal : bre ve his tóri c o ............................ 56
Tra ns for m a ç õe s r ec e nte s do E sta do br asil ei r o .... 57
Inve s ti m e ntos ex ter nos no B ra sil............................. 65
C o ne xõ es .................................................................... 71
Pe nsa n d o be m ......................................................... 72
D esafi os & d eb ates ................................................. 74

< imagem >
FOT O S P ÚB LI C A S / A G Ê N CI A B RA S IL / M A R C E L O CAMA R G O

Unidade
2

Brasil: paisagens naturais e ação da sociedade
CAPÍTULO 4
Geologia, relevo e águas do Brasil 78
Arc a bouç o ge ol ógi c o bra sil ei r o ............................... 79
S ubs ol o bra sil eir o: r ec urs os m i ne rai s .................... 80
For m as do r ele v o bra sil ei r o....................................... 84
Á gua s do Br asi l ............................................................ 88
C o ne xõ es .................................................................... 97
Pe nsa n d o be m ......................................................... 98
D esafi os & d eb ates ............................................... 100
CAPÍTULO 5
Clima, solo e paisagens vegetais do Brasil 101
Te m po e cli m a............................................................. 102
Di nâ m ic a das m a ss as de ar no B ra sil ................... 102
Bi om as do B ra sil ........................................................ 108
For m aç ões ve ge tai s do B ras il................................. 109
Ex tra ti vis m o ve getal no B ra sil ................................ 115
E m de fe sa dos bi om as.............................................. 118
Domíni os morfocli m á ti c os : a paisage m
natur al e m c onj unto................................................... 121
C o ne xõ es .................................................................. 125
Pe nsa n d o be m ....................................................... 126
D esafi os & d eb ates ............................................... 128
Unidade 3
Brasil: sociedade e cultura

CAPÍTULO 6
Dinâmica populacional ......................... 132
Q ua ntos s om os ? O nde viv e m os ? .......................... 133
Amplia nd o o conhec im ent o – Crescime nto
da popul aç ã o............................................................... 134
Ida de s e gê ne r o .......................................................... 136
Ativi da de s da popula çã o .......................................... 141
U m país de des i gua l da des ....................................... 144
U ma popul aç ã o e m m ovi m e nto .............................. 146
C o ne xõ es .................................................................. 155
Pe nsa n d o be m ....................................................... 156
D esafi os & d eb ates ............................................... 158

CAPÍTULO 7
Um país multicultural ...............................159
For m aç ã o é tnic a do Br asi l ....................................... 160
C ul tur a .......................................................................... 164
N oçã o de pa tri m ôni o ................................................. 165
Pa tri m ôni os br asi lei r os............................................. 166
O utra s m a ni fe s ta ç õe s c ul tur ais .............................. 175
G eogr af ia dos s ab ores bras ileiros.............................. 178
C o ne xõ es .................................................................. 181
Pe nsa n d o be m ....................................................... 182
D esafi os & d eb ates ............................................... 184

Unidade
4
Brasil: trabalho, circuitos de produção
e urbanização
CAPÍTULO 8
Espaço agropecuário brasileiro ....188
M ode r ni z aç ã o da a gr ope c uári a............................... 189
Es tr utur a fundi ár ia ..................................................... 203
C o ne xõ es .................................................................. 211
Pe nsa n d o be m ....................................................... 212
D esafi os & d eb ates ............................................... 214

< IMA GE M >
Pulsar Imagens/Gerson Gerloff

< IMA GE M >
P ULS A R IMA GE N S / E D S O N S A TO

CAPÍTULO 9
Espaço industrial brasileiro e matriz energética 215
Ca fé e i ndús tria........................................................... 216
Pa pel do Es ta do ......................................................... 217
M ul ti naci onai s e c once ntra çã o i ndus tri al............. 217
Es tr utur a i ndus tr ial br asi lei ra.................................. 222
Tra bal ho na i ndús tria ................................................ 227
Fontes de e ne r gi a, i ndús tria e c ons um o .............. 228
Pr oduç ã o de e ner gia el étri ca no B ra sil ................. 237
Ma tri z e ner gé ti ca bra sil ei ra...................................... 238
C o ne xõ es .................................................................. 239
Pe nsa n d o be m ....................................................... 240
D esafi os & d eb ates ............................................... 242
CAPÍTULO 10
Espaço urbano brasileiro ................... 243
R um o às ci da de s........................................................ 244
Me tr opoli z aç ã o ........................................................... 246
Bra sil : um país ur ba no.............................................. 251
C o ne xõ es .................................................................. 257
Pe nsa n d o be m ....................................................... 258
D esafi os & d eb ates ............................................... 260
Pr ojet o: M ul her e tra balh o ................................. 262
Índice re mis sivo ..................................................... 267
R eferê ncias biblio gr áficas ................................. 270



UMIDAD E

1
Brasil: um país no mundo
A Geografia e a História revelam que o Brasil já foi bem diferente daquele que observamos nos
mapas atuais. Explorado economicamente desde o século XVI, o território brasileiro foi forjado
com base no modelo colonial de exportação. Subordinação de populações locais, apropriação de
espaços e exploração de recursos naturais são características desse modelo.
Como você verá nesta unidade, foi somente no fim do século XIX que o espaço brasileiro deixou de
apresentar uma economia fragmentada, voltada para o exterior, para se constituir em um espaço
integrado.
Mas como se deu a ocupação econômica e a expansão territorial do Brasil? Será que o país
ainda revela diferenças regionais? Ao longo desta unidade, você vai refletir sobre essas
questões, sobre o espaço geográfico brasileiro e suas múltiplas paisagens.

< imagem >
Acervo Instituto Moreira Salles/Coleção Gilberto Ferrez

No século XIX, o principal produto das exportações brasileiras era o café. A secagem dos grãos é a primeira etapa de seu processamento. Nesse período,
a secagem era feita de modo natural, por meio da ação do sol. Na foto, mulheres e homens escravizados trabalham no processamento do café na região do
Vale do Paraíba, Rio de Janeiro (RJ), 1882.


Um primeiro olhar


As grandes façanhas históricas brasileiras foram a conquista de um território continental e a construção de uma
população que ultrapassa os
150 milhões. Nenhum desses feitos foi gratuito. Portugal, que viveu mil anos na
obsessão de fronteira, temeroso de ser engolido pela Espanha, aqui, desde a primeira hora, tratou de marcar e
alargar as bases de suas posses territoriais. Plantou fortalezas a mil léguas de qualquer outro povoador. [...]
RIBEIRO, Darcy . O povo brasileiro: a f ormação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 149.

▸ Converse com os colegas e o professor sobre a ocupação econômica e a expansão do território brasileiro.
▸ Em sua opinião, como é a participação brasileira nos fluxos da economia global?
▸ De acordo com Darcy Ribeiro, a conquista de um território continental foi uma grande façanha histórica do Brasil. A que
se deve esse fato?

capítulo 1

< IMAGEM >
Nasa

Imagem de satélite mostrando parte do território da América do Sul à noite, em 2012. A linha amarela contínua destaca os limites
do Brasil.

Você sabe que o Brasil é um dos países mais extensos do mundo e que, por isso, tem grandes diferenças regionais,
bem como acentuadas desigualdades sociais. Não obstante, é também um país em desenvolvimento, que faz parte dos
chamados países emergentes, os quais apresentam crescente participação e importância nos intercâmbios
internacionais.
Como o presente sempre tem raízes no passado, conhecer o Brasil de hoje implica saber como se deu sua
construção ao longo da história. Por isso, é importante compreender que a ocupação do atual território brasileiro
ocorreu de modo desigual no tempo e no espaço. Assim, torna-se relevante entender o significado da exploração de
certos produtos, como o açúcar, o ouro e o café, na história e na geografia brasileiras; bem como o papel decisivo da
industrialização na atual configuração do espaço nacional.
Este capítulo trata dessa temática, cujo estudo representa uma contribuição inicial para a compreensão do Brasil
de hoje, país com grandes desafios a serem vencidos, mas com imensas possibilidades de vir a ser uma grande
nação, com menos desigualdades e melhores condições de vida para todo o seu povo.

Um país-continente
Com mais de 8 514 876 km², o Brasil é o quinto maior país do mundo em extensão territorial, ocupando 1,66% da
superfície total da Terra (cerca de 6% das terras emersas do globo). Confira, no mapa abaixo, a dimensão e a
localização geográfica do Brasil em relação aos quatro países maiores que ele: Rússia, Canadá, Estados Unidos e
China.

Mundo: países mais extensos
< mapa >
Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 34.

João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora

A expressão “país-continente” deve-se a uma comparação entre as áreas do Brasil e da Austrália, a qual praticamente
engloba o menor dos continentes, a Oceania, com aproximadamente 7,7 milhões de quilômetros quadrados. Na
verdade, outras comparações também podem ser feitas. Para você ter uma ideia, a área de pelo menos vinte países
europeus poderia ”caber” no território brasileiro e a área de pelo menos nove deles poderia ”caber” na área da
Amazônia brasileira.
A dimensão continental do território brasileiro também pode ser observada nas distâncias que
separam os pontos extremos e na grande extensão do litoral. Observe o mapa ao lado.
O Brasil ocupa 47% do território da América do Sul e está localizado em sua porção centro-oriental. Ele faz
fronteira com quase todos os países sul-americanos, exceto Chile e Equador. São 15 719 km de fronteira terrestre
com nove países vizinhos e um departamento ultramarino francês (Guiana Francesa), e 7 367 km de fronteira marítima,
totalizando 23 086 km de extensão.


Brasil: pontos extremos
< mapa >
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 91.


PU L S A R IM A G E N S / R I C A R D O AZ O U R Y
Dimensões territoriais

Observando o mapa a seguir, você pode retomar alguns aspectos relacionados à posição geográfica e à
extensão territorial do Brasil.
Note que a linha do equador atravessa o território brasileiro em sua porção norte, passando pela cidade de
Macapá, capital do estado do Amapá (veja a foto ao lado). O trópico de Capricórnio, por sua vez, atravessa a
cidade de São Paulo, o norte do estado do Paraná e o sul do estado do Mato Grosso do Sul. Observe também que
o Brasil está localizado a oeste do meridiano de Greenwich.

< imagem >
Monumento Marco Zero do equador, em Macapá (AP), em 2013.

Posição geográfica do Brasil no mundo
MA P A S : JOÃ O MI G U E L A . MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A

Fonte: Adaptado de SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. 34. ed.
São Paulo: Ática, 2013. p. 10 e 110.


Desse modo, podemos concluir que:
▸ a quase totalidade do território brasileiro (93%) situa-se ao sul da linha do equador, ou seja, no hemisfério sul,
também chamado austral ou meridional;
▸ o território brasileiro está totalmente situado no hemisfério ocidental, ou oeste;
▸ a maior parte das terras brasileiras está localizada entre os trópicos, onde predominam climas quentes;
▸ apenas o sul do país faz parte da zona temperada, com climas mais amenos.

Texto & contexto
1. Ao comparar a extensão territorial do Brasil com a de outros países do mundo, o que chama a sua atenção?
2. O lugar onde você mora localiza-se próximo à linha do equador?
3. Em qual zona climática localiza-se o estado onde você vive?

A construção de um país
Como qualquer país do mundo, o Brasil também tem uma história. Ela nos mostra que o território que hoje
compreende o país em que vivemos foi formado durante um longo processo de ocupação iniciado pela Coroa
portuguesa no século XVI. Indígenas, portugueses, africanos, alemães, italianos, japoneses e tantos outros povos
participaram desse processo que, como você sabe, sempre esteve ligado a questões econômicas.
Comparando o território atual do país com a área inicial da colonização portuguesa na América no século XVI,
delimitada pelo Tratado de Tordesilhas, conclui-se que aquela área praticamente triplicou, pois nem chegava perto dos
atuais 8,5 milhões de quilômetros quadrados.
Estruturado a partir do modelo colonial de exploração, somente no fim do século XIX o espaço brasileiro deixou de
apresentar uma economia fragmentada, dividida em ilhas de exportação, para se constituir em um espaço integrado,
com uma dinâmica interna que liga as diversas regiões e envolve os vários setores da economia.
A seguir, veja alguns dos principais aspectos desse longo e complexo processo histórico.

Instituto Socioambiental (ISA)
<http://www.socioambiental.org>. Acesso em: 9 set. 2015.
Fundado em 1994, o objetivo principal do ISA é defender bens e direitos sociais e coletivos, como o meio ambiente, o patrimônio cultural e os
direitos humanos. Também dedica especial atenção para os povos tradicionais, como os indígenas e quilombolas.


Povos nativos
A produção do espaço brasileiro começou muito antes da chegada dos colonizadores portugueses. Embora não
fizessem a menor ideia de que, posteriormente, fariam parte do Brasil e de muitos outros países, milhares de povos
nativos habitavam a América do Sul.
Não há consenso entre os estudiosos sobre o número exato de indígenas que habitavam o território antes da
chegada dos portugueses. Há estimativas de que havia cerca de 5 milhões de nativos.

Agrupados em comunidades espalhadas pelo imenso território, eles eram Tupinambá, Cariba, Tucano, Tupi-Guarani
e tantos outros. Viviam em relativa harmonia com a natureza, retirando dela o necessário para sua sobrevivência, sem
causar grandes impactos ao meio ambiente.
Escravizados e quase eliminados pelos brancos durante praticamente trezentos anos, em 2010 restavam cerca de
817 mil indígenas no Brasil, de acordo com o IBGE, concentrados, principalmente, nas regiões Norte e Nordeste.
Segundo o instituto, cerca de 315 mil indígenas viviam em áreas urbanas e 502 mil, em áreas rurais. Ainda existem
alguns grupos que vivem isolados, ou seja, que não estabelecem contato com o restante da sociedade brasileira,
como os Korubo.
Observe, no mapa ao lado, a distribuição original dos indígenas (de acordo com as famílias linguísticas) em
território brasileiro e a localização de grupos remanescentes.

Brasil: distribuição original dos indígenas de acordo com as famílias linguísticas
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. 34. ed. São Paulo: Ática, 2013. p. 125.

Para saber mais
Índios se preparam para resistir a despejo na zona norte [do município] de São Paulo
Cidade de várias culturas, São Paulo preservou pouco espaço para a mais antiga delas. Confinados na menor
terra indígena do Brasil, cerca de 700 guaranis lutam para ampliar seu território no entorno do pico do Jaraguá, na
zona norte de São Paulo.
A ofensiva se intensificou no ano passado [2014], quando algumas famílias deixaram a congestionada comunidade
à beira da Estrada Turística do Jaraguá, de 5,2 hectares, para ocupar uma propriedade privada de 72 hectares [...].
O grupo, liderado pelo cacique Ari Martim, 74, é a ponta de lança da estratégia para pressionar o governo federal a
regularizar 532 hectares de uso tradicional guarani, segundo estudo antropológico reconhecido pela Funai (Fundação
Nacional do Índio) em abril de 2013. [...]
Os guaranis reclamam que a regularização está parada há dois anos [...].
Do lado dos guaranis, a promessa é de “resistir com vidas”: “A demarcação que nós pedimos é muito pouco perto
de tudo que os brancos tomaram de nós, e não podemos abrir mão de nem mais um palmo de terra”, afirmam, em
carta aberta publicada na sexta-feira [24/04/2015] [...].
MAISONNAVE, Fabiano. Índios se preparam para resistir a despejo na zona norte de São Paulo.
Folha de S.Paulo, São Paulo, 26 abr. 2015. Cotidiano, p. C6.

Ocupação do território
Com a chegada dos colonizadores, iniciou-se uma nova etapa na história da ocupação e do povoamento do
território. Como você deve ter estudado nas aulas de História, a ocupação do território que hoje compreende o Brasil
começou, efetivamente, em 1530, já que até então os portugueses, mais interessados nos lucros obtidos no comércio
com as Índias, limitaram-se a explorar o pau-brasil.
Para garantir a posse das terras, por decisão de dom João III, rei de Portugal, o território foi dividido em porções
chamadas de capitanias hereditárias. Conquistar, explorar, povoar e comercializar os produtos encontrados nas
terras eram tarefas dos donatários, que detinham todos os poderes sobre suas capitanias.
O conjunto de mapas a seguir mostra que, nos primeiros tempos do século XVI, o território da colônia que
pertencia a Portugal era bem diferente do Brasil da atualidade.

Brasil: capitanias hereditárias (1534-1536)
< mapa >
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: CINTRA, Jorge Pimentel. Reconstruindo o mapa das capitanias hereditárias. Anais do Museu Paulista. São Paulo, v. 21, n. 2, p. 39, jul.-dez. 2013. Disponível em:
<http://www.scielo.br/
pdf /anaismp/v21n2/a02v21n2.pdf>. Acesso em: 6 nov . 2015.

Duas viagens ao Brasil
Hans Staden. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2008.
Em 1549 e 1550, o viajante alemão Hans Staden veio à recente colônia descoberta, o Brasil. Na segunda vez, acabou preso pelos portugueses e
capturado pelos Tamoio, um grupo indígena. A partir daí, ele relata suas aventuras com a visão de um europeu da época, contando tudo que viu e
vivenciou nessas novas terras.

No mapa ao lado, destaque para as capitanias hereditárias e o meridiano do tratado de Tordesilhas, que demarcava as terras que
pertenciam a Portugal; todas as terras a oeste de Tordesilhas pertenciam à Espanha.



No tempo do açúcar
Durante o século XVI, o cultivo da cana‑de-açúcar foi a grande fonte de riqueza produzida pela colônia portuguesa
na América. Praticada em grandes propriedades de terra (latifúndios) com o emprego do trabalho escravo, a
monocultura da cana teve, sem dúvida, um papel fundamental nos primeiros tempos da ocupação e do povoamento
do território que hoje compreende o Brasil.
Cultivada em vários pontos do território, a cana-de-açúcar obteve bons resultados no Nordeste, mais precisamente
na Zona da Mata, onde o clima quente e úmido e o solo massapé favoreceram o rendimento das lavouras.
Com o desenvolvimento da economia canavieira, a Coroa portuguesa passou a obter lucros com a colônia, que se
integrou ao comércio mundial da época, constituindo, pela primeira vez na história, um verdadeiro espaço mundial.
Observe, no mapa abaixo, a localização das principais vilas, das áreas de cultivo de cana-de-açúcar e das áreas
de pecuária, durante o século XVI.
Como indicado no mapa, a ocupação do território do Brasil privilegiou o litoral, fato que deixou marca na atual
forma de organização do espaço brasileiro, como você verá no decorrer deste livro.

< imagem >
FR A N S PO S T / C O L E Ç Ã O PA R T I C U L A R , AM S T E R D Ã

Era nos engenhos que a cana-de-açúcar era processada para a fabricação do açúcar e de derivados, como o melaço. POST,
Frans. Engenho. 1661. Óleo sobre madeira. Dimensões: 47,7 cm × 71,3 cm.

América portuguesa: extensão territorial, povoamento e economia (século XVI)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: ATLAS histórico escolar. Rio de Janeiro: MEC/FAE,
1991. p. 20.
Expansão e diversificação econômica
Foi somente durante o século XVII que o interior da colônia começou a ser explorado de forma mais intensa. A
partir desse século, incentivados pela Coroa portuguesa, bandeirantes paulistas realizaram longas expedições à
procura de ouro, pedras preciosas e indígenas que seriam escravizados.
Numerosos pequenos povoados, que atualmente são importantes municípios paulistas, foram fundados pelos
bandeirantes ou originaram vilas nos caminhos abertos por eles: Iporanga, Santana do Parnaíba, Taubaté, São
Carlos, etc.
Os bandeirantes também foram os primeiros a povoar os atuais estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.
No mapa abaixo, observe que os bandeirantes chegaram à Amazônia e ao nordeste do território. Em suas longas
viagens pelo interior, missionários e bandeirantes foram além da linha do Tratado de Tordesilhas, avançando sobre
terras povoadas por indígenas e que pertenciam à Espanha. O resultado desse longo processo histórico foi a
ampliação do espaço brasileiro tanto para o oeste como para o sul.
Ainda no século XVII, os portugueses desenvolveram no Brasil outras atividades econômicas que, embora com
menor expressão que o cultivo da cana-de-açúcar, também tiveram papel importante na construção do território. Veja
algumas:
▸ a cultura do fumo, em alguns pontos do litoral nordestino, sobretudo nas proximidades de Salvador, na área do
Recôncavo Baiano;
▸ a criação de gado no Nordeste, que ultrapassou em muito os limites da região de Salvador, estendendo-se
principalmente ao longo do rio São Francisco;
▸ a busca de drogas do sertão (cravo, canela, castanha, cacau, madeira, etc.), que, juntamente com as atividades
dos missionários, deu início à ocupação da Amazônia;
▸ a pecuária, que, a partir da região de São Paulo, ultrapassou a fronteira portuguesa, seguindo para o sul.
Nas andanças em busca de ouro e indígenas para aprisionar, os bandeirantes chegaram a lugares distantes e
expandiram as fronteiras das terras da América que pertenciam a Portugal. A exploração econômica do interior não
implicou necessariamente a formação de cidades e vilas. Elas continuaram surgindo ao longo do litoral.

Brasil: economia no século XVII

< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: ATLAS histórico escolar. Rio de Janeiro: MEC/FAE,
1991. p. 24 e 28.

No tempo do ouro
Ouro! Ouro! Encontraram ouro! No fim do século XVII, as notícias sobre a descoberta de ouro em Minas
Gerais provocaram um grande alvoroço. Milhares de pessoas de vários lugares da colônia, e até mesmo vindas
de Portugal, deslocaram-se para a região das minas. Com uma espécie de ”febre do ouro”, a região foi
rapidamente povoada.
Ao contrário da sociedade açucareira, tipicamente rural, a atividade mineradora possibilitou a formação de
numerosos povoados e vilas, como Sabará, Mariana, Vila Rica, Congonhas do Campo, entre outros. Uma nova
civilização urbana se formava com numerosas atividades comerciais e desenvolvimento cultural. Nas vilas mineiras
desse período, arquitetos, pintores, escultores, músicos e poetas produziram obras importantes, que fazem parte do
patrimônio cultural brasileiro.
No século XVIII, com a mineração, o centro político e econômico da colônia deslocou-
-se do Nordeste para o Centro-Sul, e a capital foi transferida de Salvador para a cidade do Rio de Janeiro.
Durante todo o século XVII e o XVIII, os portugueses e espanhóis continuaram disputando os territórios em
conflitos e guerras. Em resumo, o atual território brasileiro foi se configurando lentamente, como consequência das
atividades econômicas coloniais, da expansão do cristianismo pela atuação de religiosos e em função de tratados
diplomáticos assinados entre Portugal, Espanha e outros países da América espanhola.
Observe, no mapa a seguir, a grande expansão do povoamento da colônia durante o século XVIII, sobretudo nas
principais áreas de exploração de ouro: Minas Gerais e a porção central do território.

Brasil: economia no século XVIII
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fontes: Adaptado de ATLAS histórico escolar. Rio de Janeiro: MEC/FAE, 1991. p. 34; ARRUDA, José Jobson de A.
Atlas histórico básico.
São Paulo: Ática, 1994. p. 38.
Com a mineração e o crescimento da população, aumentaram as necessidades de carne e couro. A pecuária expandiu-se nas áreas que atualmente representam o
Centro-Oeste. A cultura do algodão f oi introduzida no Norte-Nordeste v isando abastecer as nascentes indústrias têxteis europeias. Apesar da decadência, a cultura
da cana no Nordeste não f oi abandonada e continuou tendo importância nas exportações coloniais.

O café e o início da integração
O espaço brasileiro, na forma como o conhecemos atualmente, foi forjado a partir do período da independência
política do país, no início do século XIX. Nessa época, uma nova riqueza agrícola começava a despontar: o café.
Das primeiras plantações no Rio de Janeiro, os cafezais expandiram-se para Minas Gerais e, mais tarde, para São
Paulo. Por volta de 1830, o café já era o principal produto exportado pelo Brasil, e, em 1840, o país tornou-se o maior
produtor mundial.
A economia cafeeira fez do Sudeste um mercado crescente para produtos vindos do Rio Grande do Sul, de Minas
Gerais e do Nordeste em geral. Criou-se, assim, uma rede comercial articulada, marcada pela ampliação das
relações de dependência entre as regiões do país.
Com o avanço do cultivo e o aumento de sua produção, o café tornou-se o elemento essencial para a posterior
integração territorial, portanto, para a formação de um espaço nacional integrado.
Além do café, outros produtos continuavam a ser exportados na mesma época, principalmente o açúcar e o
algodão.
Ainda no século XIX, o cacau no sul da Bahia e a exploração da borracha na Amazônia também faziam parte da
economia brasileira. A chamada economia da borracha teve grande importância, pois, entre outras coisas, atraiu
milhares de nordestinos para a região, fato que contribuiu para acelerar o povoamento do norte do país. No início do
século XX, a borracha era o segundo produto mais importante nas exportações brasileiras.
O sul do país continuava voltado sobretudo para a pecuária, única atividade articulada à economia do restante do país.
Os bovinos eram fornecidos para a zona de mineração, e o charque, para o Rio de Janeiro e São Paulo. Já as áreas de
criação do Sertão e do Vale do São Francisco abasteciam a Zona da Mata açucareira.
Observe o mapa abaixo.

Charque: tipo de carne salgada, típico da região Sul do Brasil. É preparado de modo similar ao da carne-seca.

Brasil: um arquipélago econômico no século XIX
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de ATLAS histórico escolar. Rio de Janeiro: MEC/FAE, 1991. p. 38.

O café: uma moeda forte para o país São Paulo: Folha de S.Paulo, 2012. (Coleção Folha fotos antigas do Brasil; v. 16).
O volume, que faz parte da coleção Folha fotos antigas, traz fotos históricas das fazendas de café, dos negros escravizados que começaram a trabalhar
nessas plantações e foram substituídos pelos imigrantes europeus, do processamento e também da venda do café. As fotos são acompanhadas por
textos breves, que explicam e contextualizam esse momento do Brasil.
Texto & contexto
1. Retome o texto das páginas 16 e 17 e explique o papel dos bandeirantes no povoamento do interior da América do Sul entre
os séculos XVII e XVIII.
2. Compare o mapa desta página com o da página 17. Procure identificar as diferenças e as semelhanças entre eles.
3. Qual foi a importância do café para a ocupação do território brasileiro no século XIX?
4. Qual foi o papel da borracha para o povoamento da Amazônia? Explique.
Do “arquipélago” ao continente
Como estudamos anteriormente, até as primeiras décadas do século XX, o espaço geográfico brasileiro era
formado por diversas áreas independentes, que não mantinham ligações estreitas entre si. Nessas áreas, a maior
parte da produção econômica destinava-se, prioritariamente, à exportação, e não ao mercado interno.
Quase todas as áreas tiveram um período de esplendor, que ocorria quando seu principal produto alcançava
grande destaque no mercado internacional. Foi assim com a cana-de-açúcar do litoral nordestino nos séculos XVI e
XVII; o algodão do Maranhão e o ouro de Minas Gerais no século XVIII; a borracha da Amazônia no fim do século
XIX e início do século XX; o café do Vale do Paraíba no fim do século XIX e do estado de São Paulo nas primeiras
décadas do século XX.
Uma área economicamente menos expressiva como o sul da Bahia, com a produção de cacau, também tinha a
sua produção destinada ao mercado externo. Por outro lado, a pecuária desenvolvida no Sertão nordestino e no Vale
do São Francisco voltava-se para o comércio interno, abastecendo de couro principalmente a Zona da Mata
açucareira. A Campanha Gaúcha, por sua vez, era grande fornecedora de bovinos para a zona de mineração e de
charque para o Rio de Janeiro e São Paulo.
Além das áreas citadas acima, o território brasileiro constituía-se de enormes extensões de terras pouquíssimo
povoadas pelo interior afora, nas quais predominavam paisagens naturais e povos nativos. As estradas geralmente
ligavam as zonas produtoras aos portos de embarque das mercadorias, e eram poucas as vias de interligação interna
no país. As fronteiras econômicas e demográficas estavam muito aquém das fronteiras políticas do Brasil, pois a
economia e a imensa maioria da população restringiam-se à fachada oriental do território. Assim, não havia uma
articulação entre as diversas áreas produtivas.
Por essas razões, não havia um espaço geográfico integrado, ou seja, um verdadeiro espaço nacional. Daí dizer-
se que o Brasil se assemelhava a um arquipélago, composto de diversas áreas isoladas, como se fossem ilhas
dentro do imenso território.
Essa desarticulação territorial se modificou ao longo do tempo, especialmente a partir da queda pela procura dos
produtos de exportação no mercado internacional. Esse fato praticamente obrigava os produtores, antes
independentes, a voltar suas atividades para as vendas no mercado interno. Em cada área de produção o processo
se deu de uma maneira diferente e teve um desfecho próprio, caracterizando-se pelo esvaziamento, pela retração ou
pelo declínio da atividade produtiva principal.
Um exemplo de declínio de área produtiva foi o que aconteceu com a exploração de ouro nas regiões de Goiás e
Mato Grosso. Outro exemplo foi o declínio ocorrido nas áreas de produção de borracha no norte do país (leia o boxe
Para saber mais na próxima página).
No segundo caso (retração), a atividade produtiva não desapareceu, mas se retraiu, deixando de ocupar o papel
principal na organização socioeconômica da região. Um exemplo de retração foi o que ocorreu na área de mineração
de Minas Gerais, em que a população acabou se dispersando para as áreas rurais ou mesmo para outras regiões do
país. Nessas áreas, a economia de mercado sustentada por essa atividade principal foi quase totalmente substituída
por atividades de subsistência.
Em certas áreas, a atividade produtiva se retraiu, mas continuou a sustentar a economia. Um exemplo é a Zona da
Mata nordestina (veja a foto abaixo), onde o açúcar continuou a ser produzido para exportação, embora adaptado à

forte concorrência de novas zonas produtoras, muito mais competitivas internacionalmente.
No terceiro caso (substituição), a atividade produtiva principal foi substituída por outra, como ocorreu com o
desenvolvimento da industrialização na região Sudeste do país.
< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / R U B E N S CH A V E S
Lavoura de cana-de-açúcar em Itambé (PE), 2015. Atualmente, a paisagem da Zona da Mata nordestina ainda é marcada pela
presença dos canaviais, destacando-se por sua indústria sucroalcooleira, isto é, de produção de açúcar e álcool.

Para saber mais
Patrimônio abandonado na selva
[...] O tempo, as ruínas e o descaso com o patrimônio da história quase inacreditável parece tão trivial quanto o
cheiro acre das mangas caídas perto do campo de futebol, na parte alta da vila, onde garotos jogam bola e gritam
emulando nomes de jogadores dos times do distante Sudeste do país. Surreal, fantástico e outros adjetivos para
hiperbolizar as sensações não dão conta de descrever o que é o empreendimento de Henry Ford – um dos pais do
automóvel e criador do pilar do capitalismo: o fordismo – no Centro-Oeste do Pará, no final da década de 1920.
Ford, o homem que dá nome à empresa, construiu uma cidade com a arquitetura [...] típica do interior dos Estados
Unidos, à margem do Tapajós. Trouxe trabalhadores dos EUA, de outros países da América e de diversas regiões do
Brasil, tentou criar uma plantação de seringueiras para abastecer suas fábricas de borracha, mas fracassou. Fez um
acordo com o governo brasileiro e, em 1945, foi indenizado e abandonou o local que carrega até hoje seu nome.
Setenta anos depois da saída da Ford, esse pedaço de história está completamente abandonado. Do hospital, que
foi o maior da região Norte do Brasil e o primeiro a realizar um transplante de pele no país, só restam algumas
paredes, um aspecto macabro de abandono e o mato crescendo entre as brechas do concreto. As casas construídas
para os trabalhadores foram modificadas, tiveram detalhes de madeira trocados por paredes de tijolo e até uma praça
[...] foi edificada, alterando a paisagem bem na entrada da vila [...].
As cinco casas que compunham a Vila Americana, dispostas em uma alameda de mangueiras e com hidrantes
ianques vermelhos nas calçadas, abrigavam a diretoria da empresa e eram a esperança da Prefeitura de Aveiro e do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para tombar a vila. Porém, quatro casas estão ocupadas
por colonos. Da quinta residência só restam ruínas. [...]
“O Iphan tem clareza de que apenas tombar não adianta, pois não há ninguém que possa fazer a gestão do local”,
afirma a superintendente do Iphan no Pará, Maria Dorotéa Lima. Já se passaram mais de cinco anos desde que foi
cogitada a possibilidade do tombamento de Fordlândia, que pertence ao município de Aveiro. Porém, após a decisão
ser tomada, as casas da Vila Americana foram ocupadas. [...]
Fordlândia foi construída pelo idealismo de Henry Ford e depois vendida ao governo brasileiro. Entre as décadas
de 1950 e meados de 1980, funcionaram no local instalações do Ministério da Agricultura, com fazendas de diversas
raças de gado. As casas foram habitadas por funcionários do ministério e a maioria segue com as famílias desses
funcionários, já aposentados e que continuam na região. Com a desativação da operação, o local ficou abandonado.
As pessoas ocupam as terras, mesmo sem ter a documentação, e com o passar dos anos tentam conquistar a posse.
[...]

CAMARGOS, Daniel. Patrimônio abandonado na selv a. Estado de Minas, [s.d.]. Disponív el em: <http://www.em.com.br/especiais/fordlandia/>. Acesso em: 2 dez. 2015.

< imagem >
Kino.com.br/Haroldo Palo Jr.
Vista do rio Tapajós e de construções abandonadas, ao fundo, em Fordlândia, Aveiro (PA), 2011.

Indústria e integração
Como você viu anteriormente, a economia cafeeira do fim do século XIX contribuiu para a posterior integração
do território nacional, que ocorreu mais adiante, com a industrialização. O dinamismo dessa atividade
econômica e a extrema especialização produtiva fizeram do Sudeste um mercado crescente para produtos do
Rio Grande do Sul, de Minas Gerais e do Nordeste. Criou-se, assim, uma rede comercial articulada que ampliou
as relações de dependência inter-regionais.
Quando a produção cafeeira sofreu um declínio, no início do século XX, o mercado interno, sobretudo do estado
de São Paulo, já era forte o suficiente para continuar atraindo a produção de outras regiões. Além da imigração, o
estado apresentava grande crescimento populacional e altos índices de urbanização.
O crescente mercado interno e o capital gerado pelo comércio do café incentivaram a diversificação da produção
local, e as atividades fabris em expansão serviram para estimular o intercâmbio comercial.

Cada vez mais a região Sudeste apresentava as condições necessárias para sustentar um processo de
industrialização. A partir do Sudeste, mais especificamente do estado de São Paulo, começou a estruturar-se a
formação de um mercado interno de âmbito nacional. As demais regiões brasileiras articulavam-se à zona de
maior dinamismo econômico do país pela venda de determinadas matérias-primas e alimentos, mas sobretudo
como compradoras de produtos industrializados. A partir de então, estruturou-se no país a chamada divisão
inter-regional do trabalho.
Cabe ressaltar a participação do governo federal em todo esse processo, desde a expansão da economia cafeeira
até o desenvolvimento industrial. Por meio de investimentos de recursos públicos e políticas de imigração, as
decisões do governo brasileiro desse período acabaram favorecendo a concentração espacial da atividade
econômica do país na região Sudeste.

Mauá, o imperador e o rei
Direção de Sérgio Rezende. Brasil: Riofilme, 1999. 132 minutos.
Na localidade de Arroio Grande, Rio Grande do Sul, vivia Irineu Evangelista de Sousa, o futuro barão e visconde de Mauá. Com a morte do pai, mudou-se
para o Rio de Janeiro, onde foi trabalhar no armazém do tio. Anos depois, foi contratado para trabalhar com Richard Carruthers, um escocês que vivia no
Brasil. Com o passar do tempo, Irineu construiu a primeira indústria brasileira.

Ministério da Integração Nacional
<http://www.mi.gov.br>. Acesso em: 9 set. 2015.
O Ministério da Integração Nacional tem como competência a formulação e condução de políticas, planos e programas de desenvolvimento
regional, entre outros. Na página da internet, é possível acessar mais informações a respeito do que está em andamento, além de haver uma
central de conteúdo com áudios, vídeos, publicações, etc.

< imagem >
ACE R V O INS T I T U T O MO R E I R A SAL L E S / F O T Ó G R A F O DE S C O N H E C I D O

Vista panorâmica do bairro do Brás, em São Paulo (SP), em 1910. No início do século XX, o Brás se tornou um dos bairros
industriais mais importantes da cidade. Grande parte da mão de obra empregada nas indústrias era formada por trabalhadores
imigrantes, notadamente italianos.

Desconcentração espacial
A partir das décadas de 1950 e 1960, a industrialização brasileira tomou novos rumos, com o investimento na
chamada indústria pesada e a instalação de multinacionais no país.

Indústria pesada: ligada principalmente aos ramos siderúrgico, metalúrgico, petroquímico e de cimento. Também chamada de indústria de bens de produção ou
indústria de base, é aquela que produz matéria-prima para outras indústrias (como máquinas, peças, etc.).
Capital produtivo: de modo geral, corresponde ao capital aplicado diretamente na produção, principalmente em empresas industriais ou do agronegócio; é
essencial para o crescimento da economia e a geração de empregos.

Nesse período, os produtos industrializados eram distribuídos e comercializados em regiões cada vez mais distantes
de São Paulo, ampliando, assim, os circuitos comerciais e estimulando o processo de urbanização. A produção
industrial começou a se desconcentrar, instalando-se em Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Recife,
Fortaleza e Belém, sobretudo no fim da década de 1960. Essas cidades, capitais administrativas de seus estados,
tornaram-se metrópoles nacionais, em virtude de exercerem funções de importância administrativa e econômica no
espaço geográfico brasileiro. Nos locais onde o capital industrial se estabeleceu, condições favoráveis à instalação de
novas empresas – pequenas e médias –
foram criadas. Também nesse momento a atuação do governo federal foi fundamental, pois ele contribuiu para atrair o
capital estrangeiro para a região Sudeste com incentivos fiscais e com a criação de uma rede de transportes que
interligava as diversas regiões. Essas medidas facilitaram o acesso de pessoas e de mercadorias de todo o país ao
centro econômico que se consolidou de maneira relativamente rápida: o eixo São Paulo-Rio de Janeiro.
Ainda a partir da década de 1960, o governo federal implantou políticas regionais de desenvolvimento, sobretudo
na Amazônia e no Nordeste.
A criação das Superintendências de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene, 1959), da Amazônia (Sudam, 1966),
do Centro-Oeste (Sudeco, 1967) e a própria construção de Brasília tiveram por objetivo promover a integração.
Transferida para o Centro-Oeste, a capital serviria de elo entre o centro econômico do país e o Norte.
Nas décadas de 1980 e 1990, depois da grande expansão da economia brasileira ocorrida na primeira metade
dos anos 1970 – o chamado “milagre econômico” –, o processo de desconcentração espacial das atividades
produtivas acelerou-se. Desde então, outras regiões passaram a atrair cada vez mais o capital produtivo, e as
economias regionais mais atrasadas ganharam posição em relação ao Sudeste.

Como consequência da integração do mercado nacional, muitas empresas tiveram de se adequar às novas formas de
concorrência, adotando medidas como redução de custos, encontrando outras áreas para instalação de fábricas,
disputando consumidores, etc.
Nos últimos anos, o ritmo de desconcentração espacial diminuiu, embora novas atividades tenham se desenvolvido
em regiões interioranas, com a inclusão de algumas áreas entre as frações de espaço mais produtivas do país. No
entanto, a formação de um espaço nacional já estava completa. Como mostra o mapa ao lado, o Brasil já se constituía
em um espaço geográfico integrado, composto de um centro e de diversas áreas a ele ligadas com maior ou menor
intensidade.

Brasil: integração do espaço geográfico (2013)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. 34. ed. São Paulo: Ática, 2013. p. 144.

Conexões
Conhecer um país em sua totalidade inclui o exame de seu território e de sua configuração espacial. No caso do
Brasil, como se deu a formação histórica do território? Qual é a importância da dimensão territorial do país na
atualidade? E no passado? Leia o texto abaixo para descobrir.

“Gigante pela própria natureza”
Esse verso do Hino Nacional pode referendar a dimensão territorial do Brasil, de 8 514 876 km² [...]. Ao contrário
do que ocorreu na América Espanhola, que após as lutas pela independência se partiu em diversos Estados
nacionais, o Brasil manteve a integridade do antigo território colonial português.
Ainda na atualidade, o continente apresenta amplas extensões territoriais de densidades populacionais muito
baixas, assim como muitos centros populacionais fracamente conectados entre si. No século XIX, tal quadro,
muito mais acentuado, influiu para o surgimento de movimentos centrífugos, regionalistas, que impediram a
realização do sonho de Bolívar: fazer da América do Sul Espanhola um único país independente. Soma-se a esse
quadro, de tendência fragmentária, o fato de que nas Américas, como um todo, não se apresentaram previamente
“nações fundadoras” dos seus países. Implantados, os Estados independentes passaram a construir as suas
nações, com as populações presentes e provenientes de diversas origens, incluindo os imigrantes que
continuavam chegando e dos quais se aceitava a naturalização. Aos filhos dos imigrantes nascidos na América,
ao contrário do que ocorria na Europa, era assegurada de imediato a plena cidadania. Por todos esses fatos, há
quem diga que “na América, a geografia toma o lugar da história”. [...]
No passado, a dimensão do Brasil não alcançou a importância política que hoje apresenta. No início de sua
expansão, o capitalismo industrial se instalou na Europa ocidental, em países hoje considerados pequenos, como a
Bélgica, ou de porte médio, como a França. Promovia o adensamento populacional desses países e a integração
espacial interna de cada um por meio dos transportes e comunicações. Apertados uns contra os outros, os países
europeus procuraram espaços transoceânicos, ampliando impérios, no que foram seguidos, depois, pelo Japão. Até
meados do século XX, o sistema capitalista mundial apresentou um quadro em que algumas metrópoles dominantes
comandavam imensos impérios coloniais. [...]
As grandes distâncias e os grandes vazios entre os centros de povoamento, obstáculos para a maior integração,
contribuíram para dificultar a industrialização dos países de grande extensão, entre os quais se incluía o Brasil. No
caso brasileiro, o atraso do desenvolvimento em relação aos países centrais foi motivo para pequenas ironias
utilizando expressões do Hino Nacional, como “deitado eternamente”. O fato é que, do mesmo modo como nas
histórias para crianças os príncipes sempre vencem os gigantes, no passado os grandes países eram considerados
mais fracos, e propícios a serem dominados por países menores. [...]
O quadro geopolítico acima mudou totalmente. O primeiro passo foi a ascensão dos Estados Unidos à condição de
uma economia nacional capitalista avançada e de dimensão continental. O processo foi montado sobre o contínuo
progresso tecnológico, compressor do tempo/espaço, e sobre o constante influxo de capitais e imigrantes. [...]
GEIGER, Pedro. As formas do espaço brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. p. 12-17.
Respo nd a no caderno
1. De acordo com o texto, qual é a principal diferença entre a América Espanhola e a América Portuguesa em se tratando da
configuração territorial após a Independência?
2. Que fatores contribuíram para dificultar a industrialização de países de grande extensão como o Brasil?
3. Por que, no passado, os “grandes países” eram considerados mais fracos?

Pensan d o Bem
Respo nd a no caderno
1. Desde o início da colonização do Brasil, muitos indígenas foram dizimados. Com isso, grande parte de sua cultura, seus hábitos e
sua língua se perdeu. Leia a notícia a seguir.

Índios lutam para salvar 2 línguas da extinção no interior
“Ithók rerre nógam”. As três palavras da língua crenaque poderiam ser traduzidas para: “A língua ainda resiste”.
Na tribo Vanuíre, em Arco-Íris, no oeste paulista, 200 indígenas de duas etnias tentam manter a tradição viva. Por lá,
os idiomas kaingang e crenaque estão em processo avançado de extinção. Em toda a tribo, apenas três índios
idosos são falantes fluentes dos dialetos. [...]
Em 1500, especialistas estimam que havia 1 175 línguas no país. Hoje, são cerca de 180 dialetos vivos, mas todos
em risco de extinção [...].
Embora fluente, o trio preferiu deixar os idiomas em silêncio. Por anos, tiveram medo de repassá-los às novas
gerações. “Isso foi provocado por uma política de Estado. O SPI [Serviço de Proteção ao Índio, atual Funai] proibia as
populações de falarem suas línguas. A coerção era a principal arma. Os índios chegavam a ser presos se ousassem
se comunicar na língua materna”, conta o arqueólogo Robson Rodrigues.
MACIEL, Edgar. Índios lutam para salv ar 2 línguas da extinção no interior. Estado de S. Paulo, 15 mar. 2015, p. A30. Metrópole.
a) Por que os indígenas eram proibidos de se comunicar em sua língua materna?
b) Por que é importante preservar a língua original de um povo?
2. Leia o texto abaixo. Depois, responda às questões propostas.

São Paulo e a desconcentração industrial
O processo de desconcentração industrial no estado de São Paulo, iniciado na década de 1970, alterou
profundamente seu mapa e território: a mancha metropolitana da capital se expandiu em direção ao Vale do Paraíba,
Sorocaba e às regiões de Campinas e Ribeirão Preto, conglomerados urbanos especializados se formaram ao longo
de uma densa malha rodoviária e as cidades médias assumiram a liderança do mercado em seu entorno. “O interior
não é mais um espaço plano. Tem ‘relevo’ econômico”, afirma Eliseu Savério Sposito, do Departamento de Geografia
da Faculdade de Ciência e Tecnologia (FCT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente. À
frente de um grupo de pesquisadores, Sposito coordenou um projeto que mapeou o movimento e as características
do processo de desconcentração da indústria no estado. Eles constataram, por exemplo, que muitas empresas
deslocaram fábricas para o interior, mas mantiveram a sede, assim como o seu board, na cidade de São Paulo.[...]
IZIQUE, Claudia. O relev o econômico do interior. Pesquisa Fapesp, n. 197, p. 72-73, jul. 2012. Disponív el em: <http://rev istapesquisa.fapesp.br/wp-
content/uploads/2012/07/Pesquisa_197-24.pdf >.
Acesso em: 10 set. 2015.


São Paulo: expansão da indústria
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: HERVÉ, Théry ; MELO, Neli Aparecida de. Atlas do Brasil: disparidades e dinâmicas do território. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2008. p. 157.
a) Qual é o significado da expressão relevo econômico no texto?
b) Que relação pode ser estabelecida entre a distribuição das empresas e os eixos de transporte no estado de
São Paulo?

3. Observe o gráfico ao lado e responda às questões a seguir.
a) Qual é a região do Brasil com maior participação no PIB? E a região com a menor?
b) Apesar da diminuição da participação do Sudeste no PIB ao longo dos anos retratados, é possível dizer que não existe mais
concentração espacial da economia no Brasil? Justifique.

Brasil: participação das grandes regiões no PIB (1970-2012)
< mapa >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A

Fontes: IPEA. Desconcentração industrial no Brasil 2008; IBGE. Brasil em números 2008; IBGE. Contas regionais do Brasil 2012. Disponív el em:
<http://biblioteca.ibge.gov .br/visualizacao/liv ros/liv89103.pdf >. Acesso em: 9 set. 2015.

4. Enem (2014)
< imagem >
E NE M / R E P R O D U Ç Ã O
Fon-Fon!, ano IV, n. 36, 3 set. 1910. Disponív el em:
<objdigital.bn.br>.
Acesso em: 4 abr. 2014.

A charge, datada de 1910, ao retratar a implantação da rede telefônica no Brasil, indica que esta
a) permitiria aos índios se apropriarem da telefonia móvel.
b) ampliaria o contato entre a diversidade de povos indígenas.
c) faria a comunicação sem ruídos entre grupos sociais distintos.
d) restringiria a sua área de atendimento aos estados do norte do país.
e) possibilitaria a integração das diferentes regiões do território nacional.

5. Enem (2014) Ao deflagrar-se a crise mundial de 1929, a situação da economia cafeeira se apresentava como se segue. A
produção, que se encontrava em altos níveis, teria que seguir crescendo, pois os produtores haviam continuado a expandir as
plantações até aquele momento. Com efeito, a produção máxima seria alcançada em 1933, ou seja, no ponto mais baixo da
depressão, como reflexo das grandes plantações de 1927-1928. Entretanto, era totalmente impossível obter crédito no exterior
para financiar a retenção de novos estoques, pois o mercado internacional de capitais se encontrava em profunda depressão, e o
crédito do governo desaparecera com a evaporação das reservas.
FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1997 (adaptado).
Uma resposta do Estado brasileiro à conjuntura econômica mencionada foi o(a)
a) atração de empresas estrangeiras.
b) reformulação do sistema fundiário.
c) incremento da mão de obra imigrante.
d) desenvolvimento de política industrial.
e) financiamento de pequenos agricultores.


Desafios & Debates
Em grupo


Por meio da análise de documentos cartográficos antigos podemos conhecer o passado e, assim, compreender
melhor o presente. Mapas antigos da América do Sul retratam, por exemplo, a visão que os colonizadores europeus
tinham das terras que hoje formam o Brasil. Ao comparar, por exemplo, o mapa abaixo com o mapa da América do
Sul da página 11 você vai notar, dentre outras coisas, que o mapa antigo não era tão preciso como o atual; por isso,
as dimensões e o contorno aparecem bastante diferentes.
Descobrir pistas sobre o passado do Brasil com o apoio do mapa ao lado é o desafio desta atividade. Por meio
dela você vai poder ampliar seus conhecimentos sobre o território onde vive. Para começar, analise o mapa com
atenção e, depois, faça o que se pede.

< imagem >
Biblioteca do Ministério das Relações Exteriores

Detalhe do planisfério de Pierre Descellier (1546), manuscrito colorido em pergaminho. O texto que acompanha o
original foi redigido em latim.

1. Que elementos do mapa mais chamaram a atenção do grupo? Que título vocês dariam ao mapa?

2. De acordo com o mapa, que visão os colonizadores europeus tinham, no século XVI, dos nativos e das terras da atual América
do Sul?
3. Ao examinar o mapa, o que vocês diriam sobre seu contorno? Na resposta, considerem as atuais dimensões e fronteiras da
América do Sul e do território brasileiro.

Em debate
Leia o texto abaixo.

Para os que chegavam, o mundo em que entravam era a arena dos seus ganhos, em ouro e glórias. Para os
índios que ali estavam, nus na praia, o mundo era um luxo de se viver. Este foi o encontro fatal que ali se dera. Ao
longo das praias brasileiras de 1500, se defrontaram, pasmos de se verem uns aos outros tal qual eram, a selvageria
e a civilização. Suas concepções, não só diferentes mas opostas, do mundo, da vida, da morte, do amor, se
chocaram cruamente. Os navegantes, barbudos, hirsutos [com cabelos longos], fedentos, escalavrados de feridas de
escorbuto, olhavam o que parecia ser a inocência e a beleza encarnadas. Os índios, esplêndidos de vigor e de
beleza, viam, ainda mais pasmos, aqueles seres que saíam do mar.


RIBEIRO, Darcy . O povo brasileiro: a f ormação e o sentido do Brasil. 2. ed. São Paulo: Cia das Letras, 1995. (contracapa).

Com base no texto e sob orientação do professor, forme uma roda de conversa na sala e discuta com os colegas a seguinte questão:

Atualmente, é possível conviver com as diferenças culturais presentes na sociedade e no território brasileiro?



2
Regionalização e planejamento
< imagem >
Pulsar Imagens/Palê Zuppani

Em países com históricas desigualdades sociais, como o Brasil, o desenvolvimento geralmente realça as duas faces de um
mesmo processo, visíveis nas paisagens. Isso ocorre em muitas cidades do país, como em Florianópolis (SC). Na foto, de 2014,
veem-se, em primeiro plano, moradias de população de baixa renda e, ao fundo, na orla litorânea livre de afloramentos rochosos,
modernos edifícios destinados a ocupantes de renda média e alta.


Você já sabe que o espaço em que vivemos é constituído por elementos naturais e por elementos humanos ou
sociais. Todos esses elementos variam de um lugar para outro e, por isso, o espaço geográfico é muito diverso. É
possível, portanto, regionalizar, ou seja, formar conjuntos espaciais, cada um com determinadas características
(quanto ao relevo, ao clima, às atividades econômicas, à densidade da população, etc.). Esses conjuntos espaciais
podem ser chamados de regiões geográficas.
Como você viu no capítulo anterior, o Brasil é frequentemente chamado de país-continente. Pelos mesmos
motivos, o país apresenta consideráveis diferenças internas. Além das desigualdades populacionais e sociais, há
grandes contrastes na paisagem natural e nas formas de ocupação do espaço. Ao lado de uma área quente e
úmida, como a Amazônia e o litoral, há áreas quentes e secas, como o Sertão nordestino; não muito distante das
áreas industrializadas e urbanizadas do estado de São Paulo, encontram-se grandes áreas rurais nos estados de
Goiás e Mato Grosso. No decorrer deste capítulo, vamos conhecer um pouco melhor as características regionais
brasileiras.

O que é regionalizar?
A tarefa de organizar o território brasileiro em conjuntos espaciais não é fácil. Quais são os limites das áreas
economicamente mais importantes? E onde começa ou termina a periferia imediata, contígua ao centro econômico
com o qual tem ligações de toda ordem?
Na raiz das dificuldades de regionalizar o espaço brasileiro está a opção pelos critérios a serem adotados. Que
elementos ou características do espaço devem ser considerados na delimitação regional? Os elementos econômicos
e sociais são, sem dúvida, os mais importantes e adequados. O Brasil, porém, também possui áreas onde as
paisagens naturais não foram muito modificadas pela ação humana. Além disso, no âmbito da economia e da
sociedade, que aspectos servem de base para fazer a divisão do território? E como é possível medi-los com
precisão?
As respostas a essas interrogações não são simples e dependem das posturas políticas e teóricas de quem
propõe os critérios para a regionalização. Veja a seguir algumas formas de regionalizar o espaço brasileiro, cada uma
com determinados critérios.
Regiões do IBGE
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão ligado ao governo federal, tem como uma de suas
atribuições elaborar divisões regionais do território brasileiro com a finalidade básica de agrupar e viabilizar dados
estatísticos.
No início da década de 1940, o IBGE propôs a primeira divisão regional oficial do território nacional. Nessa
ocasião, a proposta do órgão era a de comparar dados estatísticos relacionados a agrupamentos estáveis, que
seriam as regiões. Na época, essa proposta foi criticada por vários estudiosos, porque, segundo eles, dava mais
importância aos critérios de localização do que às características econômicas, físicas e sociais das áreas que
agrupava. Observe essa divisão no primeiro mapa abaixo.
Em 1945, o IBGE elaborou uma nova divisão regional do Brasil tendo como critério o quadro físico do território.
Essa divisão baseou-se no conceito de região natural. Observe-a no segundo mapa.

Atlas geográfico escolar
IBGE. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012.
Apresenta planisférios temáticos do mundo e variados mapas do Brasil. Uma boa fonte de dados e informações com mapas temáticos que
regionalizam o Brasil e o mundo sob variados temas e perspectivas.

Brasil: divisão regional (1940)
< mapa >
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: Elaborado com base em IBGE. Ev olução da div isão territorial. Disponív el em:
<f tp://geof tp.ibge.gov.br/organizacao_territorial/div isao_territorial/ev olucao_da_div isao_territorial_do_brasil_1872_2010/ev olucao_da_div isao_territorial_mapas.pdf >.
Acesso em: 3 dez. 2015.

Brasil: divisão regional (1945)
< mapa >
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar: ensino f undamental – do 6
o
ao 9
o
ano.
Rio de Janeiro, 2010. p. 11.

Graças ao processo de transformação do espaço brasileiro impulsionado pelo desenvolvimento industrial, o
IBGE elaborou, em 1968, uma nova divisão regional do território. A nova regionalização baseou-se tanto nas
semelhanças físicas das paisagens como nas características econômicas e sociais do espaço. Nessa divisão, a
região Leste deixou de existir, os estados da Bahia e de Sergipe foram agregados à região Nordeste, e a região
Sudeste passou a ser formada por São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Essa nova divisão
regional baseou-se no conceito de região homogênea.
Em 1988, o IBGE criou a divisão regional do Brasil que vigora atualmente e é considerada oficial. Observe-a no
mapa ao lado. Essa divisão é a mais utilizada em livros, revistas, jornais e na mídia em geral, pois os dados
estatísticos do IBGE consideram essas cinco grandes regiões.

Brasil: divisão regional atual
< imagem >
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora

Fonte: Adaptado de IBGE.
Atlas geográfico escolar. 6. ed.
Rio de Janeiro, 2012. p. 94.

Para saber mais
Críticas à divisão regional do IBGE
Com base no conceito de macrorregiões, isto é, grandes conjuntos espaciais definidos segundo uma
combinação de características econômicas, naturais e demográficas, a divisão regional proposta pelo IBGE
recebeu inúmeros questionamentos. Os críticos afirmam que a atual divisão se baseia nos limites dos estados
brasileiros e que nem sempre as divisas entre eles são adequadas para delimitar os conjuntos espaciais.
Assim, o critério de homogeneidade adotado pelo IBGE tem sido questionado por vários estudiosos, uma vez que
as características regionais não acompanham necessariamente o traçado dos estados. Tamanhas são as diferenças
no interior de uma mesma região que, nos últimos anos, várias propostas para a criação de novos estados e
territórios têm surgido. Entre elas, destaca-se a criação dos estados de Araguaia (norte de Mato Grosso), Carajás e
Tapajós (a serem desmembrados do Pará). Os novos territórios seriam: Alto Solimões, Rio Negro e Juruá
(desmembrados do Amazonas). Observa-se que a maioria das propostas – cercadas dos mais diferentes interesses
econômicos e político-estratégicos – refere-se ao desmembramento da região Norte do país.
Ainda segundo alguns estudiosos, a divisão atual elaborada pelo IBGE contém algumas distorções, por exemplo:
• o limite entre as regiões Sul e Sudeste não deveria ser traçado na divisa entre São Paulo e Paraná. Se a divisão
fosse mais rigorosa, a porção setentrional do estado do Paraná deveria pertencer à região Sudeste, pois a
paisagem não se modifica na linha exata da divisa;
• no limite com a Bahia, o estado de Minas Gerais apresenta características mais semelhantes ao Sertão nordestino
do que ao Sudeste, região da qual ele faz parte.
Regiões geoeconômicas
Outra divisão do Brasil em espaços regionais foi apresentada por Pedro Pinchas Geiger (1923-) em 1967. Esse
geógrafo propôs três grandes complexos regionais, sem considerar as divisas dos estados. Para defini-los, Pinchas
Geiger utilizou como critérios a formação histórica do Brasil e seus aspectos econômicos.
Segundo alguns geógrafos, embora os complexos regionais contem com inúmeras diversidades locais, eles
também possuem características comuns que são eficazes para entender as ligações e a interdependência entre as
diversas porções do território brasileiro. Observe a localização dos três grandes complexos regionais no mapa ao
lado e, a seguir, conheça algumas características de cada um deles.

Brasil: regiões geoeconômicas
< mapa >
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: Rev ista Brasileira de Geograf ia, Rio de Janeiro, v .31,
nº 1, p.5-25, Jan./Mar. 1969. Disponív el em: http://biblioteca.ibge.gov .br/visualizacao/periodicos/115/rbg_1969_v 31_n1.pdf . Acesso em: 29 jun. 2017.
Nordeste
Além de todos os estados que compõem a região Nordeste segundo a classificação oficial do IBGE, esse espaço
regional abrange o extremo norte do estado de Minas Gerais. Reúne aproximadamente 30% da população brasileira
e, desde o processo de integração econômica, destacou-se por ser uma zona de refluxo demográfico, que fornece
mão de obra às outras regiões do país.
O Nordeste é a região onde mais nitidamente se percebem os traços da colonização, pois foi a primeira região de
povoamento europeu e a principal área econômica do Brasil colonial durante quase três séculos.
A partir de 1959, as políticas regionais de desenvolvimento, com incentivos fiscais e investimentos realizados pelo
governo federal, criaram formas de integração do Nordeste ao restante do país.
A desconcentração, que teve início no fim da década de 1960, intensificou-se a partir da década de 1980,
graças à iniciativa privada. No século atual, destacam-se a instalação de um polo automotivo junto a Salvador e a
consolidação da indústria de bens intermediários: setor químico, particularmente em Recife; setor petroquímico na
Bahia, com o Polo Petroquímico de Camaçari; e indústrias tradicionais de produtos têxteis e alimentícios, como a
indústria açucareira. Fortaleza, Recife (Grande Recife) e Salvador (Centro Industrial de Aratu), como metrópoles
nacionais, concentram as principais atividades produtivas da região. Nos últimos anos, foram construídos dois
grandes portos: o de Suape, em Pernambuco, e o do Pecém, no Ceará.
O setor agropecuário, tradicionalmente composto pelos latifúndios canavieiros da Zona da Mata, pela

policultura do Agreste e pela pecuária extensiva do Sertão, iniciou seu processo de modernização sobretudo no
fim da década de 1980. Atualmente, destacam-se a produção de grãos no oeste baiano e a agricultura irrigada
do vale médio do rio São Francisco (Bahia e Pernambuco).

< imagem >
iStockphoto/rmnunes

Em algumas capitais nordestinas, como Salvador, Recife e São Luís, existem igrejas e sobrados erguidos no período da
colonização. Na foto, rua do centro histórico de Salvador (BA), em 2015.

Para saber mais
Ferrovia Transnordestina
A Ferrovia Transnordestina, que terá 1 753 km de extensão, irá ligar o interior dos estados do Ceará, Pernambuco
e Piauí aos portos de Pecém (CE) e Suape (PE). O trajeto da ferrovia irá percorrer 81 municípios dos três estados. O
objetivo do projeto é aumentar a competitividade da produção agrícola, além de permitir a exploração das jazidas
minerais do interior do Nordeste, já que contará com uma moderna logística que vai unir uma linha férrea de alto
desempenho e portos de calado profundo que podem receber navios de grande porte.
Para a construção da ferrovia Transnordestina, serão usados 3,2 milhões de dormentes e 290 mil toneladas de
trilhos. Em toda a região Nordeste, 5 945 pessoas trabalham em obras da ferrovia.
A ferrovia deverá ser concluída em 2017. A Transnordestina terá capacidade para transportar até 30 milhões de
toneladas por ano, com destaque para minério de ferro, grãos (soja, farelo de soja, milho, algodão) e gipsita (gesso
agrícola que tem aplicação como corretivo do solo e como gesso industrial). A ferrovia estimulará investimentos em
outros setores, como o de combustíveis, fertilizantes, além de ser uma nova opção para o escoamento da produção
do polo de fruticultura irrigada de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA).
Outra característica importante desse sistema logístico é a localização estratégica dos portos de Pecém (CE) e
Suape (PE) em relação ao mercado europeu, um dos principais destinos da soja brasileira.
O empreendimento surgiu como uma proposta articuladora do desenvolvimento regional do Nordeste, com a
redução dos custos de transportes dos produtos provenientes dos polos industriais, minerais e de agronegócios
existentes na região.
BRASIL. Ministério dos Transportes. Ferrovias: mais um lote da f errov ia Transnordestina recebe ordem de serv iço. Disponív el em:
<http://www.transportes.gov .br/ultimas-noticias/3225-mais-um-lote-da-f errov ia-transnordestina-recebe-ordem-de-serv i%C3%A7o2.html>.
Acesso em: 2 mar. 2016.


Ferrovia Transnordestina: localização
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: REVISTA Ferrov iária. Nov o reajuste para Transnordestina.
Disponív el em: <http://www.rev istaf erroviaria.com.br/ index.asp?InCdEditoria= 2&InCdMateria=14680>. Acesso em: 8 dez. 2015.
Amazônia
A Amazônia brasileira abrange mais de 5 milhões de quilômetros quadrados, que representam cerca de 47% da
superfície do país. Em 1953, o governo criou a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia
(SPVEA), definindo por lei os limites da sua área de atuação – a Amazônia Legal. Em 1966, foi criada a
Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) para atuar na mesma área da SPVEA, que deixou de
existir. Em 2001, a Sudam foi extinta, mas foi recriada em 2007. A Amazônia Legal inclui todos os estados da região
Norte, mais a porção norte do estado de Mato Grosso e o oeste do Maranhão.
A integração da Amazônia ao centro econômico do país ocorreu em virtude de uma forte intervenção dos
sucessivos governos com a criação da Sudam, do Banco da Amazônia (Basa) e da Superintendência da Zona
Franca de Manaus (Suframa).
A Zona Franca foi criada em 1967 com o objetivo de incentivar a industrialização da cidade e de sua área adjacente,
além de ampliar seu mercado de trabalho. Trata-se de uma área de livre-comércio, na qual não são cobrados impostos
de importação sobre os produtos comprados do exterior (observe a foto abaixo). Além de contribuir para o
desenvolvimento do comércio local, a isenção alfandegária favoreceu a formação de um expressivo distrito industrial
junto à capital do Amazonas. A maioria das indústrias, contudo, é apenas montadora de produtos.
As estratégias de ocupação da Amazônia envolveram projetos militares preocupados com a identificação das
riquezas minerais e a segurança nacional, por exemplo, com o controle das fronteiras. Com o objetivo de
ocupar e anexar definitivamente a região ao restante do país, o governo implementou, a partir dos anos 1970,

grandes projetos rodoviários, ao mesmo tempo que desenvolveu políticas de atração de migrantes.
Entre as grandes rodovias federais construídas, as principais foram a Transamazônica, que cruza a região de leste
a oeste e a interliga ao Nordeste; a Cuiabá-Santarém e a Brasília-Acre, as quais, com o asfaltamento da já existente
Belém-Brasília, conectaram a Amazônia ao centro econômico do país.
Além das políticas regionais, outro fator importante para o desenvolvimento de atividades produtivas da
Amazônia foram os investimentos de grandes grupos econômicos nacionais e estrangeiros interessados nas
atividades de extração mineral – ferro, manganês, bauxita, ouro, etc. A preocupação dos governos em explorar
as matérias-primas para a siderurgia e a metalurgia do alumínio também estava relacionada com a necessidade
de aumentar as exportações para pagar a dívida externa do país.

< imagem >
Pulsar Imagens/Rubens Chaves

A criação da Zona Franca de Manaus, favorecida pela isenção de impostos, atraiu grande contingente populacional, levando a
capital amazonense a ter hoje mais de 2 milhões de habitantes. Na foto, vista aérea de fábrica na Zona Franca de Manaus (AM)
em 2014.

Centro-Sul
A região Centro-Sul compreende o sul de Mato Grosso, Goiás, o sul de Tocantins, a maior parte de Minas Gerais,
Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro.
Trata-se do complexo regional mais importante do Brasil, pois engloba o centro econômico do país, bem como
as áreas ligadas a ele. Concentra mais de 60% da população brasileira, o principal parque industrial, a mais
moderna produção agropecuária, as maiores redes ferroviária e rodoviária, as principais universidades e centros
de pesquisa científica de ponta.
Além de reunir a maioria das áreas metropolitanas do país, como as de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Belo
Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, e outras menores, é no Centro-‑Sul que se localiza a capital federal, Brasília.
Como você viu no capítulo anterior, foi no interior desse complexo regional que teve início o processo de
desconcentração econômica do país, especialmente da atividade industrial, a partir de São Paulo.
Outras sub-regiões também se integraram a partir do desenvolvimento de complexos agroindustriais – soja,
laranja, carne e cana-de-açúcar –, particularmente o Oeste paulista. Também houve ampliação da diversificação
industrial de Minas Gerais e Espírito Santo (indústrias de bens de produção).
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul deixaram de ter uma estrutura produtiva fundamentada particularmente
na agropecuária e passaram a desenvolver também diferentes ramos industriais, como indústrias de bens de capital
(implementos agrícolas, máquinas), indústrias de bens de consumo não duráveis, indústrias de madeira, couro e
calçados.
O dinamismo industrial do Centro-Sul continuou associado ao desenvolvimento de complexos agroindustriais,
destacando-se a produção granjeira e a de grãos e carnes, diretamente vinculadas às indústrias de bens de consumo
não duráveis. Localizam-se na região alguns dos mais importantes abatedouros de gado e frigoríficos do país. A
proximidade geográfica do Centro-Sul com os países do Mercosul é um dos fatores que beneficiam as atividades
produtivas e a exportação.
Na porção centro-oeste desse grande espaço regional, a disponibilidade de terras, os incentivos fiscais e
financeiros , além da crescente atração exercida pela capital do país, contribuíram para a expansão da fronteira
agrícola. A moderna produção agropecuária (soja, milho, carne) destina-se, principalmente, ao comércio externo.
A integração de transportes rodofluviais no conjunto da hidrovia Tietê-
-Paraná também tem possibilitado ao Centro-Sul ampliar diversas atividades produtivas e gerar mudanças
significativas na ocupação do espaço e na rede de comunicação. Observe a foto ao lado.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / T H O M A Z VIT A NE T O
A hidrovia Tietê-Paraná integra um grande sistema de transporte multimodal, pois é interligada às malhas rodoviária e ferroviária.
Constitui um importante corredor de exportação, pelo qual é escoada boa parte da produção nacional destinada a países do
Mercosul. Na foto, de 2013, vista de embarcação transportando grãos pela hidrovia Tietê-Paraná nas proximidades do município
de Barbosa (SP).

Os “quatro Brasis”

De acordo com os geógrafos Milton Santos e Ana Clara Torres Ribeiro, o espaço brasileiro pode ser dividido em
quatro regiões: a Amazônia, o Centro-Oeste, o Nordeste e a região Concentrada, que abrange Minas Gerais, São
Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Essa divisão considera o grau de acumulação de ciência, tecnologia e informação no território nacional e as
heranças do passado. Ela também considera a localização dos centros de decisões políticas, a robotização das
indústrias e a tecnologia aplicada ao setor agropecuário, a existência de numerosas instituições de pesquisa e a
localização das sedes de instituições financeiras ligadas ao mercado global. Sendo assim, a região Concentrada
possui os setores econômicos mais avançados do país. Observe-a no mapa a seguir.

Atlas nacional do Brasil Milton Santos
IBGE. Rio de Janeiro, 2010.
Atlas com diversos mapas temáticos do Brasil. Nele você vai encontrar tanto mapas sobre aspectos físicos do país como mapas sobre economia,
diversidade cultural e qualidade de vida da população. É uma interessante fonte de pesquisa que vai ajudar você a compreender melhor o país
onde vivemos.

Brasil: quatro Brasis
< mapa >
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: SANTOS, Milton; SILVEIRA, María Laura.
O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio
de Janeiro: Record, 2001.

Texto & contexto
1. Que mudanças ocorreram na regionalização do Brasil desde a criação do IBGE? Que critérios as nortearam?
2. Identifique uma das críticas feitas à atual divisão regional elaborada pelo IBGE. Você concorda com essa crítica? Justifique.
3. Que inovação a divisão em regiões geoeconômicas trouxe para a regionalização do Brasil? Comente-a.
4. Na regionalização geoeconômica, quais são os critérios utilizados para agrupar as áreas que pertencem ao Nordeste, à
Amazônia e ao Centro-Sul?
5. Como é a divisão regional proposta por Milton Santos e Ana Clara Torres Ribeiro? Que critérios eles utilizaram?

IDH e regionalização do Brasil
Com o término da Guerra Fria, o fim do socialismo, os altos índices de desemprego e o aumento da miséria social
em inúmeros países, a visão dos estudiosos e da população sobre o conceito de desenvolvimento se transformou
bastante. De acordo com o novo enfoque, o desenvolvimento de um país não pode ser medido somente levando em
conta a expansão de sua base produtiva.
A realização de uma série de fóruns internacionais ao longo da década de 1990 apontou importantes perspectivas
sociais, políticas, culturais e ambientais para o desenvolvimento interno das nações e para as relações
internacionais.
Assim, desde os anos 1990, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) tem utilizado um
conceito de desenvolvimento baseado em um indicador expresso numericamente: o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH). Esse índice varia de 0 a 1: quanto mais próximo de 1, mais elevado é o desenvolvimento.
Esse conceito de desenvolvimento passou a ter como referencial o poder de consumo
das pessoas e o seu acesso à educação e à saúde. Em outras palavras, o desenvolvimento humano inclui tudo
aquilo que possibilita aos cidadãos a ampliação da participação na vida econômica, política e cultural do país em que
vivem.
Com base nesses novos paradigmas, o Pnud, em conjunto com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), publica relatórios sobre o desenvolvimento humano do Brasil desde 1996. Eles apontam para outra
estruturação do espaço brasileiro que não se baseia somente nos critérios administrativos ou de integração
econômica como fonte de regionalização. Aquilo que se pode chamar de “nova regionalização” parte de diferentes
dimensões do desenvolvimento humano, como a expectativa de vida, a escolaridade e a renda.
O IDH, originalmente criado para classificar países, no Brasil tem sido calculado para cada município – o Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). Com base nesse índice, é possível classificar o desenvolvimento
humano brasileiro por estado e por região. Observe o mapa ao lado, que regionaliza o Brasil utilizando o IDHM como

critério.

Atlas do desenvolvimento humano no Brasil
Atlas com o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de todos os municípios brasileiros, unidades da federação e regiões
metropolitanas. Além dos índices do IDHM, há outros indicadores de educação, renda, trabalho, habitação e demografia.
Versão digital disponível em: <http://www.atlasbrasil.org.br/2013>. Acesso em: 23 set. 2015.

Brasil: regionalização com base no IDHM (2010)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: ATLAS do Desenv olv imento Humano no Brasil. Ranking – todos os estados (2010). Disponív el em: <http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/ranking>. Acesso em:
21 set. 2015.


Ampliando o conhecimento

Infográfico: alex argozino/Arquivo da editora
Fonte do mapa: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 95.
Fonte dos dados: IBGE. Área territorial brasileira. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/
geociencias/cartografia/default_territ_area.shtm>. Acesso em: 6 maio 2016/Sinopse do Censo Demográfico 2010.
Os gráficos desta página foram elaborados com base em: 1. MAGALHÃES, João Carlos. Emancipação político-administrativa de municípios no Brasil. IPEA. Disponível em:
<http://ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/livros/Capitulo1_30.pdf>. Acesso em: 12 abr. 2016; 2. IBGE. Contas Regionais do Brasil 2002/Contas Regionais do Brasil 2012/Séries
histórias e estatísticas/Tábuas abreviadas de mortalidade por sexo e idade – 2010/Sinopse do Censo Demográfico 2010.

Região Sudeste
A região Sudeste do Brasil é formada pelos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito
Santo. Ela abrange pouco mais de 10% do território nacional e abriga cerca de 40% da população brasileira. A
supremacia econômica do Sudeste no conjunto do Brasil se baseia no aproveitamento mais intensivo do território
com a maior concentração de capitais e de tecnologia do país. Boa parte das lavouras comerciais brasileiras mais
importantes situa-se na região, como as do café, do algodão, da cana-de-açúcar, da laranja (veja foto ao lado) e
da banana. Também a pecuária de corte e a leiteira são desenvolvidas de maneira intensiva.
Um dos fatores que sustentaram o desenvolvimento industrial do Sudeste foi a existência de uma grande área
de mineração, com destaque para a extração de ferro e manganês no Quadrilátero Ferrífero, área localizada no
centro-leste do estado de Minas Gerais.
Por abrigar o maior parque industrial da América Latina, o Sudeste ocupa posição hegemônica em relação às
demais regiões do país, condição que faz de São Paulo a grande metrópole nacional e do Rio de Janeiro uma
metrópole nacional, ambas com área de influência por todo o território brasileiro.
É no Sudeste que se localizam os dois principais portos nacionais: o de Santos (SP) e o do Rio de Janeiro (RJ),
além dos portos de São Sebastião (SP) e de Vitória (ES).
Apesar de haver certa integração entre os estados do Sudeste, as características econômicas de cada um
determinam significativas desigualdades intrarregionais. Quando se fala em Sudeste, em geral considera-se o
chamado Sudeste geoeconômico, o que exclui a zona semiárida do norte de Minas Gerais e inclui o norte do Paraná
(área de Londrina e Maringá), um prolongamento do Oeste paulista.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / J O Ã O PR U D E N T E
Na região Sudeste, há grandes lavouras comerciais, como essa de laranja em Santo Antônio de Posse (SP). Foto de 2014.

Desigualdades internas no Sudeste
Mesmo reduzindo nas últimas décadas sua importância relativa no país, em face do maior crescimento de outros
estados, São Paulo permanece como o grande motor da economia nacional, respondendo por mais de 30% do PIB
brasileiro e de 55% da riqueza do Sudeste.
O estado do Rio de Janeiro, embora não tenha mais a relevância que teve no passado, detém o segundo PIB entre
os estados brasileiros, contribuindo com mais de 10% da riqueza nacional e de 20% da produção regional. Destaca-
se pela indústria de petróleo, gás natural, química, metalúrgica, automobilística e construção naval. Recentemente,
foi implantado na Baixada Fluminense um complexo petroquímico (Comperj), constituindo no país mais um polo
indutor do desenvolvimento industrial de derivados de petróleo. No entanto, a atividade agropecuária fluminense
enfrenta problemas por causa da pequena disponibilidade de terras, da topografia irregular, da má qualidade dos
solos e do alto preço das terras. Uma área de destaque é o norte do estado, com expressiva produção de cana-de-

açúcar.
A participação de Minas Gerais na produção industrial e agropecuária teve um aumento significativo nos
últimos anos. Esse foi o estado da região que mais se beneficiou com a desconcentração econômica de São
Paulo. Desde a década de 1970, a presença de recursos minerais tem atraído investimentos na área de
indústrias de bens intermediários, indústrias mecânicas, de material elétrico e de transporte.
A presença de montadoras de automóveis incentivou o desenvolvimento da indústria de autopeças.
Paralelamente, as indústrias tradicionais, têxteis e alimentares modernizaram-se.
No setor agropecuário, a participação do estado na produção nacional também aumentou, destacando-se a
produção de café no sul e de grãos na área do cerrado. Os índices de produção mais baixos estão no norte do
estado, no chamado Vale do Jequitinhonha, região com indicadores econômicos e sociais que a aproximam
mais do Nordeste do que do Sudeste.
O estado que apresenta menor participação na economia regional e nacional é o Espírito Santo, onde as
indústrias de bens intermediários – aço e celulose –, bem como a cafeicultura no norte do estado, estão
voltadas diretamente para o mercado internacional.

< imagem >
FO L H A P R E S S / M A R C I O BR I G A T T O
Montadora de automóveis em Juiz de Fora (MG), em 2012.

Descentralização das atividades produtivas
De 1970 até o fim do século XX, a participação relativa do estado de São Paulo na produção industrial brasileira
caiu de 57% para 43% em virtude da redução da atividade na região metropolitana e, principalmente, do
desenvolvimento da atividade fabril em outros estados. Em 2012, o estado era responsável por 36% dessa produção.
Por outro lado, houve grande expansão de indústrias no interior paulista, facilitada pela densa rede rodoviária.
Observe, no mapa a seguir, o eixo rodoviário formado pela Anhanguera e pela Castelo Branco, importante para a
interligação de diferentes áreas do estado. A rodovia Fernão Dias faz a ligação entre os espaços econômicos paulista
e mineiro, e a rodovia Régis Bittencourt (BR-116) faz a ligação de São Paulo com o sul do país.

São Paulo: grandes eixos rodoviários (2012)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 146.

Vale ressaltar que o processo de desconcentração das atividades produtivas perdeu fôlego já a partir do fim da
década de 1990, não porque outras regiões tenham deixado de crescer, mas por causa da recuperação econômica
da região metropolitana.
Historicamente, o maior crescimento econômico da região metropolitana de São Paulo ocorreu a partir da
incorporação das cidades industriais do ABC, juntamente com Osasco e Guarulhos.

Considerando a concentração demográfica, financeira e tecnológica, a disponibilidade de recursos humanos
qualificados e os indicadores de renda da população, os economistas concluíram que, apesar do desenvolvimento que
ocorre no interior paulista, com destaque para a área de Campinas, é na região metropolitana de São Paulo que estão
as condições mais favoráveis para o capital. Contudo, diante dos preços dos imóveis e graças às facilidades de
comunicação, muitas empresas de grande porte instalam suas unidades produtivas no interior, mas mantêm sua sede
administrativa junto à capital paulista.
Quanto à produção agropecuária, ela é extremamente modernizada e atrelada a grandes complexos
agroindustriais, como é o caso da laranja e da cana. Entre as unidades federativas, São Paulo e Minas Gerais
respondem por grande parte das exportações brasileiras. Também é importante destacar a posição de São Paulo no
Mercosul, sendo esse estado um componente fundamental no eixo de integração com Montevidéu e Buenos Aires. A
pauta das exportações entre os países do Mercosul, principalmente na linha de produções industrializadas, teve um
salto de 2,5 bilhões de dólares em 1991 para mais de 20 bilhões de dólares em 2014 (dados do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior).
Vale destacar, no entanto, que a maior parte desse intercâmbio corresponde a comércio intragrupos, ou seja,
realizado entre unidades que, embora localizadas em países diferentes, pertencem aos mesmos conglomerados
multinacionais. Esse fenômeno é característico dos tempos atuais e denota uma das vantagens da formação de
blocos para os agentes da globalização econômica – as multinacionais. Apesar disso, o incremento do comércio

entre os países do Mercosul traz múltiplos benefícios, particularmente para os estados do Sudeste e parte do Centro-
Oeste do país.
Grande parte das exportações da Argentina é feita para São Paulo, destacando-se o trigo, os produtos
alimentícios, os automóveis e as autopeças. Por outro lado, isso garante a São Paulo uma grande penetração
na área do Mercosul. Além das trocas comerciais, os investimentos são importantes nesse mercado regional.

< imagem >
© W I K I M E D I A CO M M O N S / L E A N D R O R. M. DE MA R C O
Vista de parte da cidade de Campinas (SP), em 2012. Por abrigar um grande número de empresas de alta tecnologia, Campinas é conhecida como o Vale
do Silício brasileiro.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / P A U L O FRI D M A N
Colheita mecanizada de cana-de-açúcar no município de Cerqueira César (SP), em 2014.

Texto & contexto
1. Identifique algumas desigualdades internas existentes na região Sudeste e comente cada uma delas.
2. Explique a redução da participação de São Paulo na produção industrial do Brasil, pois caiu de 57% para 36% entre 1970 e
2012. Se necessário, realize uma pesquisa na internet.
3. Enumere alguns fatores responsáveis pela retomada do crescimento industrial em São Paulo, inclusive a região metropolitana
da capital, após um período de desconcentração fabril.
Região Sul
Formada por Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, a região Sul abrange cerca de 6,8% do território
brasileiro, onde vivem 14,3% da população do país.
A ocupação do Sul teve início com a criação de gado para a produção de charque e de couro, mas só se
efetivou com a imigração europeia no século XIX. Italianos, alemães e eslavos foram alguns dos imigrantes
europeus que introduziram novas formas de aproveitamento econômico do espaço regional, como a pequena
propriedade, o policultivo, a associação agricultura-pecuária e a exploração direta da terra. Juntamente com
uma enorme bagagem cultural relativamente bem preservada, os imigrantes mantiveram a unidade familiar,
fazendo com que a região viesse a se tornar um dos esteios agrícolas do país.
Na região Sul, a produção agropecuária é muito diversificada: soja e trigo, plantados no planalto; arroz e lã, no Rio
Grande do Sul, estado responsável por quase toda a produção nacional dessa fibra; couro e carne, milho, feijão,
batata, fumo e outros produtos.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / G E R S O N GE R L O F F
Colheita mecanizada de arroz em Santa Maria (RS), 2013. No Rio Grande do Sul, a rizicultura (ou orizicultura), altamente produtiva, tem grande
destaque na agricultura nacional.


< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / D E L F I M M A R T I N S
Colheita mecanizada de trigo em Nova Fátima (PR), 2015.

Apesar desse desempenho, entre as décadas de 1970 e 1990 a participação do Sul na produção agropecuária do
país reduziu em quase 50%: em 2012, a região contribuiu com 23,5% do total nacional. Algumas das causas desse
declínio foram o fim da expansão da fronteira agrícola nos três estados e a incorporação de novas terras às áreas
agrícolas das regiões Centro-Oeste e Norte. Apenas Santa Catarina aumentou sua participação relativa na produção
agropecuária nacional. O abate automatizado de frangos faz desse estado um importante exportador de aves.
A região Sul também se beneficiou do processo de desconcentração econômica em virtude da proximidade com
o Sudeste e da criação de uma significativa rede de transportes e comunicações. Em função da presença de
carvão em certas áreas dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, nas últimas décadas do século XX a
região articulou-se às indústrias siderúrgicas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Entre 1970 e 2013,
segundo o IBGE, a participação da região no total da produção industrial brasileira subiu de 11% para 20%.
No Paraná, o principal parque industrial localiza-se em torno da capital, Curitiba, onde se destacam, além das
tradicionais indústrias alimentícias e madeireiras, as indústrias químicas, de material elétrico, de transporte e
automobilística.
Em Santa Catarina, a produção industrial também se diversificou bastante a partir dos anos 1990. A indústria

alimentícia e a de vestuário, que operam desde o início do século XX, modernizaram-se graças à aplicação de
capitais agroindustriais. Indústrias mecânicas e de material elétrico também foram atraídas para o estado.
Diferentemente dos outros dois estados do Sul, em Santa Catarina o parque industrial não se concentra na capital,
mas está disperso pelas áreas de colonização alemã, sobretudo em Blumenau e Joinville.
Já o Rio Grande do Sul beneficiou-se menos da desconcentração industrial, em consequência de seu maior
distanciamento territorial em relação ao Sudeste. Entretanto, quanto mais os setores de transportes e comunicações
avançam tecnologicamente, mais essa tendência se reverte. Após 1970, desenvolveram-se os setores
manufatureiro – particularmente o de calçados –, mecânico, petroquímico e siderúrgico. A produção industrial do
Rio Grande do Sul está concentrada na região metropolitana de Porto Alegre, secundada pela área de Caxias do
Sul, importante polo metal-mecânico.
Nos últimos anos tem ocorrido um maior desenvolvimento das atividades primárias e secundárias no Sul do Brasil,
em virtude da proximidade da região com os países do Mercosul. A integração estimula que todos os estados
invistam na qualidade e na redução dos custos da produção em virtude da semelhança entre os produtos agrícolas e
industriais da região Sul, da Argentina e do Uruguai. Por enquanto, máquinas e implementos agrícolas produzidos
nos três estados têm sido os principais produtos a conseguir boa aceitação no Mercosul.

Para saber mais

Festival de Cinema de Gramado
O Festival de Cinema de Gramado (RS)] é, de acordo com os organizadores, o maior evento cinematográfico da
América Latina. Todos os anos reúne, na serra gaúcha, artistas, diretores e produtores para divulgar, debater e premiar
o cinema nacional. O famoso tapete vermelho do Palácio dos Festivais é uma atração à parte na mostra, por ele
desfilam astros e estrelas. Os vencedores da competição recebem o Troféu Kikito, um dos prêmios mais importantes do
cinema brasileiro. [...]

CENTRO Técnico Audiovisual. Festival de Cinema de Gramado. Disponível em: <http://www.ctav.gov.br/festival-de-cinema-de-
gramado/>. Acesso em: 8 mar. 2016.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / F E R N A N D O BU E N O
Réplica do T roféu Kikito, prêmio entregue aos destaques do Festival de Cinema de Gramado (RS). Foto de 2015.

Região Centro-Oeste
A região Centro-Oeste é formada pelos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e pelo Distrito Federal.
O Centro-Oeste do Brasil passou por grandes transformações depois da construção de Brasília, inaugurada em
1960. Antes disso, era uma região com baixa densidade demográfica. A abertura da rodovia Belém-Brasília, em
1962, e a posterior construção de outras grandes estradas atraíram capitais e migrantes de outras regiões
brasileiras. Assim, a agropecuária comercial se expandiu e algumas indústrias foram implantadas nas principais
cidades, o que resultou em um crescimento urbano significativo; a região integrou-se ao Sudeste e ao espaço
geográfico brasileiro como um todo.
Além da transferência da capital para Brasília, outro fator que contribuiu de modo decisivo para a integração do
Centro-Oeste ao espaço brasileiro foi a política estatal de incentivos fiscais para a produção agrícola e para
programas de colonização.
A pecuária extensiva é uma das atividades econômicas mais importantes da região. As principais áreas pastoris
localizam-se no Pantanal Mato-Grossense e na zona de Campo Grande, onde os campos naturais são de qualidade
superior ao cerrado. A maior parte da produção pecuária se destina ao mercado do Sudeste; a outra parte é exportada.
Como é comum em áreas de pecuária tradicional, as lavouras de subsistência também estão presentes nas fazendas
da região Centro-Oeste, dominada por grandes propriedades. A agricultura comercial é desenvolvida em Goiás, na
área de Brasília, Goiânia e Anápolis, e na parte meridional de Mato Grosso do Sul. Os produtos mais cultivados são o
arroz, o milho, o café e a cana-de-açúcar.
A partir da década de 1980, diversos programas agrícolas estimularam o desenvolvimento da porção sul da região
Centro-Oeste, com grande aplicação de capital e utilização de técnicas avançadas.
Utilizando variedades especialmente selecionadas e adaptadas às condições peculiares de clima e solo do
cerrado, as lavouras de soja e até mesmo de trigo foram introduzidas na região. Goiás tornou-se grande produtor de
leguminosas, assim como Mato Grosso do Sul.
O aproveitamento de terras com poucos anos de cultivo, onde a recuperação dos solos ainda não é muito cara,
proporcionou condições para que o estado de Mato Grosso se tornasse o maior produtor nacional de grãos, com

destaque para a soja. Como a produção destina-se quase inteiramente ao mercado externo, a atividade agrícola mato-
grossense é classificada como especulativa.
Apesar do desenvolvimento agrícola ocorrido no Centro-Oeste, ainda há na região extensas propriedades
improdutivas que acirram os conflitos entre grandes fazendeiros, especuladores, sem-terra, povos indígenas e
pequenos proprietários.
Entre as regiões brasileiras, a Centro-Oeste é aquela onde a indústria tem menor participação na estrutura
produtiva. A atividade industrial desenvolveu-se a partir da produção de alimentos e insumos para o setor
agropecuário, desdobrando-se em indústrias de transformação nos gêneros alimentício, têxtil, madeireiro,
farmacêutico, de borracha e de papel, que se concentram ao longo do eixo Campo Grande-Goiânia-Brasília.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / C E S A R DIN I Z
Pecuária extensiva em Mundo Novo (GO), 2013.

Texto & contexto
1. De que maneira a região Sul se beneficiou do processo de desconcentração econômica do país?
2. Procure explicar por que a agropecuária do Sul sofreu uma redução de suas atividades, se comparada ao total do país.
3. Entre 1970 e 2013, a participação da região Sul no total da produção industrial brasileira aumentou. Por quais motivos tem
ocorrido a expansão industrial no Sul?
4. Alguns fatores influenciaram as transformações na região Centro-Oeste a partir da década de 1960. Identifique-os.
5. Descreva a forma de uso da terra e o sistema agrícola praticados no norte de Mato Grosso.

Região Nordeste
A região Nordeste compreende os estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, da Paraíba, do
Pernambuco, de Alagoas, de Sergipe e da Bahia.
No Nordeste, a atuação do governo federal por meio de incentivos fiscais e investimentos diretos de empresas,
como a Petrobras, na Bahia, e a Companhia Vale do Rio Doce (privatizada em 1997), no Maranhão, contribuiu para
atrair indústrias nacionais e multinacionais para a região. Segundo o IBGE, entre 1970 e 2010, a participação do
Nordeste no produto industrial brasileiro subiu de 7% para 13,8%.
O setor industrial nordestino beneficiou-se não só do processo de desconcentração econômica a partir do Sudeste,
mas também de sua especialização na fabricação de produtos intermediários voltados diretamente para o mercado
externo. O moderno setor agropecuário instalado em determinadas áreas especializou-se na exportação, como é o
caso da fruticultura irrigada, junto ao Vale do São Francisco.
No mesmo período, contudo, a participação do Nordeste na produção agropecuária nacional caiu de 22% para
15%, sobretudo em função da modernização agrícola ocorrida no Centro-Sul.
No grande espaço regional do Nordeste, que representa cerca de 20% do território brasileiro e reúne
aproximadamente 28% da população do país, os setores industrial e agropecuário se desenvolvem de maneira muito
heterogênea. Assim, quatro sub-regiões diferenciadas por fatores naturais e socioeconômicos podem ser
consideradas: o Meio-‑Norte, o Sertão, o Litoral e o Agreste. Observe no mapa a seguir a localização das quatro sub-
regiões nordestinas e conheça algumas de suas características.

Região Nordeste: sub-regiões
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de ANDRADE, Manuel Correia de. A terra e o homem no Nordeste. 6. ed.
Recif e: Editora Univ ersitária da UFPE, 1998. p. 276.

Meio-Norte
Formado pelo Maranhão e por parte do Piauí, o Meio- -Norte compreende uma área de transição entre a
Amazônia, úmida e coberta de floresta, e o Sertão, de clima semiárido e vegetação xerófila.
As atividades mais antigas do Meio-Norte são a pecuária, os cultivos de subsistência e o extrativismo do babaçu (veja a
foto ao lado). Nos últimos anos, o cerrado do sul do Maranhão, o Piauí e o oeste baiano passaram a desenvolver lavoura
comercial, principalmente de soja, com investimentos de agricultores do sul do país.

Associadas à modernização trazida pela soja, surgiram atividades como a avicultura e a suinocultura, além da
produção de insumos e equipamentos necessários à produção.
No Maranhão, destaca-se também o complexo minero- -metalúrgico associado ao Projeto Grande Carajás do
Pará.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / C E S A R DIN I Z
Os babaçuais oferecem significativa riqueza vegetal ao Meio-Norte. Na foto, mulher quilombola quebrando coco de babaçu em Caxias (MA), em 2014.

Sertão
Caracterizado por clima semiárido e vegetação de caatinga, o Sertão ocupa a área mais extensa do Nordeste. De modo
geral, coincide com o chamado Polígono das Secas, que teve seus limites fixados legalmente e estende-se por nove
estados: Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais,
ultrapassando, portanto, os limites da região Nordeste.
Ao contrário do que muitos podem pensar, a maior adversidade natural do Sertão não é a reduzida quantidade de
chuva (entre 250 e 600 mm anuais), mas sua distribuição irregular. As chuvas concentram-se em apenas um período do
ano (de dezembro a maio), regionalmente chamado de inverno, e esse fato influencia a vida econômica dessa sub-
região que, não raro, se desestrutura quando as tão esperadas chuvas não ocorrem.
No entanto, os graves problemas do Sertão não podem ser atribuídos somente a fatores naturais. Mesmo após a
criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), em 1959, não foi elaborado um plano geral de
irrigação e de alteração da estrutura fundiária, altamente concentrada. Vale lembrar que a Sudene, extinta em 2001, foi
recriada em 2007, com a principal função de administrar um fundo de recursos destinado a financiar empreendimentos
produtivos na região.
No Sertão, a tradicional prática da pecuária extensiva contribui para acentuar a concentração de terras, que tem
aumentado nos últimos anos. Instalada desde a fase de ocupação do Sertão, no século XVII, a criação de gado tem
baixo rendimento, embora constitua a base econômica da sub-região. Paralelamente, desenvolve-se uma agricultura
de subsistência baseada em cultivos como milho, mandioca, feijão e arroz.
Nos últimos anos, graças à construção de açudes e ao relativo sucesso de alguns projetos de irrigação
implantados pelo governo, a paisagem sertaneja tem-se modificado. Exemplos disso são a fruticultura
desenvolvida ao longo do rio São Francisco e no vale do rio Açu (RN), destinada à exportação, e o complexo
agroindustrial de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) – que exigiu um amplo projeto de irrigação –, voltado para o
mercado interno regional e para o mercado externo. Iniciado na década de 1970, esse complexo atraiu
investimentos de empresas nacionais e estrangeiras ligadas à agricultura, como as de transformação de
alimentos, maquinários para irrigação e material de construção.
Está em fase adiantada de construção uma gigantesca obra destinada a levar água do rio São Francisco para uma
grande área do Sertão, capaz de ensejar, além de benefícios sociais, o desenvolvimento da agropecuária regional.
Leia mais sobre isso no boxe a seguir.

Central do Brasil
Direção de Walter Salles. Brasil: Europa Filmes, 1998. 112 minutos.
Uma mulher que escreve cartas para analfabetos na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro, ajuda um menino, cuja mãe foi atropelada, a
tentar encontrar o pai, que nunca conheceu. Juntos, empreendem uma viagem ao interior do Nordeste em busca do pai do garoto e, ao longo
dessa viagem, desenvolvem uma relação de amizade.

Para saber mais
São Francisco: polêmica em curso
Rio-mar, rio dos Currais, rio da Integração Nacional, Velho Chico. Passam os anos, os topônimos, os governos, e a
polêmica sobre o rio São Francisco persiste: vale a pena transpor suas águas? É a melhor maneira de combater a
seca? De aliviar a miséria dos sertões? De estimular o desenvolvimento? O debate é antigo – data do Brasil Império.
Mas só ganhou de fato agenda nacional no governo Lula, justamente por meio de um ministério que leva o nome e
mesma responsabilidade que também já batizou o São Francisco, a de integrar o país. [...]

Entenda o projeto
O projeto de transposição das águas do rio São Francisco [...] [tem o objetivo de] conectar a bacia do São Francisco, rio
perene, a regiões com déficit hídrico. Para tanto, são construídos 720 quilômetros de canais.
A tecnologia empregada na transposição já vem sendo usada no Brasil para abastecimento de regiões
metropolitanas, onde o consumo de água pode superar em muito a capacidade dos sistemas hídricos locais. No caso

do São Francisco, as águas irão suprir bacias no Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas.
A previsão do projeto é captar uma pequena parte da água do São Francisco, apenas 26 m
3
/s de forma contínua.
Da água captada, 70% será para utilização na agricultura irrigada e 30% para usos urbanos e industriais.

Transposição do rio São Francisco
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Disponív el em:
<www.mi.gov .br/image/image_gallery ?uuid=5c9898c1-c8d1-4372-856f-d6daae78ed59& groupId =4710 9&t=138 67918 63943 >. Acesso em: 8 dez. 2015.


Dois canais serão construídos para levar água até as outras bacias. No canal Norte, o bombeamento da água
vencerá uma altura de 160 metros até alcançar rios como Jaguaribe, no Ceará, o Piranhas, na Paraíba, e o Apodi, no
Rio Grande do Norte.
No canal Leste, a altura de bombeamento é mais elevada (300 metros para a Paraíba e 500 metros para o Agreste
pernambucano). Um dos principais rios que receberão água deste canal é o Paraíba. Neste caso, a água será mais
utilizada em regiões urbanas – que, a rigor, não são as mais carentes, mas as que podem pagar pelo abastecimento.
O governo assume que haverá perda na geração de energia nas usinas implantadas ao longo do São Francisco.
Argumenta, porém, que esta redução pode ser controlada, uma vez que a região está integrada ao sistema
nacional de distribuição de energia. Os críticos do projeto alegam que o potencial hidrelétrico será muito afetado e,
justamente por causa da integração da rede elétrica, o custo da energia aumentaria não só no Nordeste, mas em
todo o Brasil.
LAVIGNATTI, Felipe. São Francisco: polêmica em curso. O Estado de S. Paulo – edição digital.
Disponív el em: <http://www.estadao.com.br/ext/especial/extraonline/especiais/saofrancisco/>. Acesso em: 8 mar. 2016.

Litoral
O Litoral nordestino abrange parte da planície litorânea que vai desde o Rio Grande do Norte até o sul da Bahia. O
clima é quente e úmido, com chuvas predominantemente nos meses de junho a agosto. Como o Litoral era quase
todo coberto pela Mata Atlântica, a região ficou conhecida como Zona da Mata. Desde o início da colonização,
contudo, a floresta começou a ser devastada e deu lugar a extensos canaviais. Como sua principal atividade
econômica continua sendo a agroindústria canavieira, a Zona da Mata conserva uma das estruturas produtivas mais
tradicionais de todo o Nordeste, fato que tem contribuído para o aumento da concentração fundiária na sub-região.
Na década de 1970, o setor ganhou novo impulso com o lançamento do Programa Nacional do Álcool, o Pró-Álcool,
que visa estimular a produção de álcool combustível.
Também no Recôncavo Baiano a lavoura comercial foi introduzida no período da colonização, com o cultivo do
fumo. Posteriormente, outros tipos de lavoura se desenvolveram, mas a economia local se baseia na extração de
petróleo e nas indústrias da área de Salvador.
No sul da Bahia predomina a monocultura do cacau, responsável pelo desenvolvimento dos centros urbanos de
Ilhéus e Itabuna.
No conjunto, o Litoral é uma faixa alongada de alta densidade demográfica e de forte influência étnica e cultural
africana, em contraste com o Sertão, menos povoado e onde se destaca a influência indígena. Das três metrópoles
nacionais do Nordeste, duas estão localizadas no Litoral, Recife (veja foto ao lado) e Salvador, cujas áreas
metropolitanas abrigam diversas indústrias. Junto à capital da Bahia localizam-se o Polo Petroquímico de Camaçari e
o Centro Industrial de Aratu. Também em Camaçari foi instalada, no início deste século, uma montadora de
automóveis. Em 2015, uma nova fábrica de carros foi inaugurada em Pernambuco.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / H A N S VO N M A N T E U F F E L
Na foto, de 2015, vista de Recife, capital de Pernambuco, uma das metrópoles brasileiras. Localizada junto à foz do rio Capibaribe, com território cortado
também pelo rio Beberibe, Recife é conhecida como a Veneza brasileira.

Agreste
O Agreste é uma sub-região nordestina que corresponde à zona de transição entre o Litoral, úmido, e o Sertão,
semiárido. É uma faixa de clima semiúmido, identificada economicamente por cultivos alimentares e pela criação de
gado, com estrutura fundiária marcada pelo minifúndio e densidades demográficas elevadas. Campina Grande, na
Paraíba, que se destaca pela produção de softwares, e Caruaru, em Pernambuco, que faz parte do Polo Têxtil do

Agreste, são os centros regionais dessa zona.

Texto & contexto
1. Identifique alguns dos fatores que beneficiaram a indústria do Nordeste.
2. Quais são os principais problemas que assolam o Sertão? Explique-os.
3. O Litoral do Nordeste compreende parte da planície litorânea desde o Rio Grande do Norte até o sul da Bahia. Qual é a
principal atividade econômica do Litoral nordestino?
4. Em sua opinião, a estrutura fundiária do Agreste é semelhante à de outras sub-regiões do Nordeste? Justifique.

Região Norte
A região Norte compreende os seguintes estados: Pará, Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá e Tocantins.
Pertence ao domínio da mais rica floresta pluvial do mundo, associada a um clima quente e úmido e com o território
drenado pela maior bacia hidrográfica do planeta.
Até algumas décadas atrás, a frágil economia da região era baseada no extrativismo, principalmente na coleta
vegetal de látex (observe a foto ao lado), castanha-do-pará, madeira, etc. Depois de um período de apogeu, entre
1880 e 1914, o látex extraído na região foi superado no mercado internacional pelos seringais plantados por ingleses
no Sudeste Asiático. Apesar disso, ainda hoje essa atividade tem uma relativa expressão na economia regional,
principalmente no Acre e no Amazonas.
Até os anos 1970, predominava na região a agricultura de subsistência, constituída de roças de milho, arroz, feijão
e mandioca, com melhor rendimento nas várzeas. Também era expressivo o cultivo de juta e pimenta-do-reino, que
assumiram um peso econômico considerável para a região: a juta nas proximidades de Manaus e, sobretudo, em
Belém; a pimenta, a leste de Belém, na chamada Zona Bragantina.
A pecuária só era desenvolvida em algumas das poucas áreas campestres da região, particularmente nos campos
de Marajó (búfalos) e de Roraima, pois o ambiente da floresta não era favorável a essa atividade.

< imagem >
KIN O . C O M . B R / R-P
Extração de látex em Rio Branco (AC), 2011.

Projeto de Integração Regional
A partir de meados dos anos 1970, a região deixou de ser um imenso espaço quase inteiramente dominado pela
natureza. O governo federal vem tomando uma série de medidas para ocupar a região, como o incentivo à imigração
e a aplicação de investimentos diretos em infraestrutura, como a construção de grandes rodovias. Outras medidas
aplicadas na região são os incentivos fiscais e financeiros e os investimentos de empresas estatais para exploração
de recursos minerais.
As ações do governo na região tinham por objetivo não apenas integrar a região Norte ao restante do país, como
parte do projeto de modernização da economia brasileira, mas também exercer um controle mais efetivo sobre a
fronteira norte do país. Vários projetos militares tiveram por propósito o controle geopolítico do que se considerava
um extenso território vazio. A população indígena, desconsiderada, passou cada vez mais a ser confinada em
reservas.
Uma das primeiras atividades econômicas a se desenvolver na região foi a agropecuária. Grandes fazendas e
empresas passaram a derrubar a mata para a criação de gado. Lavouras de arroz e de cana-de-açúcar também foram
implantadas. Um exemplo foi o Projeto Jari (1971-1982), que ocupou imensa área às margens do rio de mesmo nome,
no Pará e no Amapá.
Como aconteceu no Centro-Oeste, vários foram os projetos financiados pelo governo que nunca chegaram a se
efetivar. Muitas terras na Amazônia até hoje são mantidas como reserva de valor, ou seja, permanecem ociosas à
espera de valorização. Já o projeto militar de maior expressão na região foi o Calha Norte. Criado em 1985, sua
finalidade era vigiar a fronteira com a Venezuela, a Colômbia, a Guiana, o Suriname e a Guiana Francesa. Essa é
uma região rica em minerais, e cerca de 20% de sua população é indígena.

Com o desenvolvimento do setor agropecuário, a participação relativa do Norte na produção nacional elevou-se
de 4% para 10,2% entre 1970 e 2012, principalmente em virtude do fim da expansão da fronteira agrícola no sul do
país. Com o processo de industrialização, a participação do setor industrial no PIB regional elevou-se de 17% para
40% entre 1960 e 2012.
Desde então, o dinamismo econômico tornou a região um polo de atração populacional. Migrantes,
principalmente pequenos produtores rurais oriundos das regiões Nordeste, Sudeste e Sul, estabeleceram-se nos
estados de Rondônia e Roraima. Particularmente no estado de Rondônia, definiu-se uma dinâmica área de
ampliação da fronteira agrícola.
Apesar da expansão econômica, deve-se salientar que tanto a produção agropecuária quanto a industrial estão
polarizadas por três estados: Rondônia, com a atividade produtiva centrada na agropecuária; Amazonas, cuja
economia se concentra na produção industrial (produtos eletrônicos de Manaus); e Pará, com as atividades minero-
metalúrgicas.
A exploração mineral
A grande responsável pela expansão industrial no Pará e pela atração de investimentos estrangeiros para a região
Norte foi a mineração, especialmente a partir da década de 1980. Antes disso, a atividade mineradora limitava-se à
extração de manganês na serra do Navio, no Amapá.
A descoberta da alumina (alumínio) e a criação do importante complexo mineralógico de Carajás foram fortes
elementos de atração em direção ao estado do Pará, estendendo-se até o Maranhão. Assim, a partir de 1980,
desenvolveu-se o complexo Albrás-Alunorte, ligado à alumina (da bauxita), bem como as produções de ouro,
manganês e ferro do Projeto Grande Carajás.
A partir do mapeamento realizado pelo Projeto Radam (Radar da Amazônia), órgão criado em 1970, descobriu-se
a existência de grandes reservas minerais na região: bauxita (minério de alumínio) na área da bacia do rio
Trombetas, no estado do Pará; ouro em serra Pelada, no mesmo estado; manganês, cobre, níquel, bauxita e,
sobretudo, ferro na serra dos Carajás, ao sul de Belém (PA) e a sudoeste de Marabá (PA).
Nos últimos anos, a preservação da Floresta Amazônica tornou-se bandeira dos principais grupos ambientalistas
do mundo. Cada vez mais se percebe que a riqueza da região Norte não está no solo, com baixa fertilidade em mais
de 80% da região, nem na tão difundida qualidade de “pulmão do mundo” que a Floresta Amazônica teria – pois são
os fitoplânctons os principais responsáveis pela produção de oxigênio do mundo. O valor está em seu enorme
potencial como banco genético, graças à grande diversidade de vida animal e vegetal, de possibilidades
inimagináveis, como matéria-prima para a farmacologia e diversos outros ramos industriais.
Também o turismo tem sido muito valorizado desde o início da década de 1990, particularmente o ecoturismo, pela
importância da Floresta Amazônica entre os movimentos ambientalistas internacionais.

Texto & contexto
1. Explique as ações que o governo federal desenvolveu na região Norte para ocupá-la e integrá-la à economia do país.
2. Explique a expressão “banco genético” e sua importância econômica para a região Norte.
3. Em sua opinião, é possível conciliar a exploração mineral da região Norte com a preservação da Floresta Amazônica? Por
quê?
A estrutura centro-periferia
Ao analisar a estruturação regional do Brasil sob a ótica de sua economia, pode-se concluir que o espaço
geográfico do país está organizado segundo um modelo centro-periferia, característico da fase atual do sistema
capitalista.
O centro é formado por São Paulo e Rio de Janeiro, cada qual com suas respectivas áreas metropolitanas e
adjacências, bem como pela faixa que une essas metrópoles – o vale do rio Paraíba do Sul, sobre o qual passa a
rodovia Presidente Dutra.
Esse espaço geográfico, altamente industrializado e urbanizado, forma uma megalópole que começa na
Depressão Periférica Paulista, nas cidades de Limeira, Americana e Piracicaba. Ao longo desse eixo, estão
localizados a sede de grandes empresas nacionais (privadas e estatais) e multinacionais, os grandes bancos, as
mais importantes bolsas de valores, serviços médicos especializados e universidades de ponta. Observe, no mapa
abaixo, as principais ocupações urbanas daquele que podemos chamar de centro econômico do país.

Brasil: centro econômico (2013)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A

Fonte: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 131.

As regiões periféricas do Brasil são constituídas de diversas áreas, cada qual com características e paisagens
próprias, mas todas ligadas por laços de dependência econômica, política e cultural ao eixo São Paulo-Rio de Janeiro.
Observa-se, portanto, que, apesar do processo de desconcentração econômica, particularmente do setor
industrial, a organização do espaço geográfico brasileiro ainda é comandada por um centro estruturado a partir de
São Paulo. Esse centro tem a mais completa estrutura produtiva de todo o território nacional, ou seja, modernos e
desenvolvidos setores agropecuário, industrial e de serviços.
Essa estrutura revela o “comando” exercido pelo grande capital monopolista que, representado por grandes
empresas e conglomerados, é capaz de articular os segmentos produtivos regionais ao direcionar os investimentos nas
regiões periféricas segundo seus interesses.
Nesse sentido, podemos concluir que a atual divisão inter-regional do trabalho é basicamente a mesma desde
meados do século XX.
O processo de desconcentração pouco alterou a divisão do trabalho, pois as economias periféricas tiveram de se
adaptar aos interesses da região mais industrializada, especializando-se em produzir aquilo que é necessário para a
moderna estrutura produtiva do Sudeste. Essa é justamente a característica que faz do território brasileiro um espaço
articulado, com as economias regionais muito mais voltadas para as trocas internas do que para o mercado
internacional. Vale ressaltar que essa estruturação espacial começou a mudar a partir de 2002, com a retomada mais
intensa das exportações. Com isso, a dinâmica da economia do país passou a apresentar um novo perfil, com um
número cada vez maior de setores voltados para o mercado internacional.
Conexões
Ao longo deste capítulo, vimos que é possível regionalizar o espaço brasileiro de diversas maneiras, de acordo com
determinados critérios. Definir regiões para compreender melhor o espaço é algo fundamental para a Geografia.
O texto a seguir trata dos diferentes sentidos que muitas vezes são atribuídos ao termo região. Também destaca a
importância da regionalização para os estudos geográficos. Leia-o e, em seguida, responda às questões propostas.

Região: um conceito polissêmico
O que marca a trajetória do conceito de região, a começar pela amplitude que adquire no senso comum, é uma
grande polissemia. Essa ambiguidade do termo fica muito clara nas próprias definições reconhecidas por grandes
dicionários, como o Oxford English Dictionary. Ali encontramos mais de sete concepções básicas de região, sendo
que em algumas delas ainda aparecem subdivisões. [...] o dicionário traz as seguintes definições:
1a. [...] um domínio ou reino (ultrapassada);
1b. [...] uma ampla extensão de terra; um país; uma porção mais ou menos definida da superfície da Terra;
1c. [...] terra, território;
1d. [...] uma área, espaço ou lugar com extensão ou caráter mais ou menos definido;
2. [...] o comando de um governo ou reino;
3a. [...] uma parte separada ou divisão do mundo ou do Universo, do ar, do paraíso, etc.;
3b. [...] um lugar, estado ou condição que tem certo caráter ou que está sujeito a certas influências; esfera de
domínio de algo;
4a. [...] uma das porções sucessivas em que o ar ou a atmosfera está teoricamente dividida de acordo com a
altitude [...]. Também similar ao que ocorre com o mar de acordo com a profundidade; [...]
5a. [...] uma divisão administrativa de uma cidade ou distrito;
5b. [...] uma subdivisão relativamente extensa de um país para propósitos econômicos, administrativos ou culturais,
que frequentemente implica um sistema alternativo à organização centralizada; [...]
6. [...] uma parte ou a divisão do corpo e suas partes;
7. [...] espaço ocupado por alguma coisa. [...]
A polissemia de que o termo se revestiu torna-se bastante evidente a partir de concepções muito amplas [...],
ligadas à relação parte/todo, a direção e localização, como nas definições “esfera de domínio de algo” ou “espaço
ocupado por alguma coisa”. Por outro lado, o sentido mais restrito, originalmente ligado a relações de poder,
vinculado à própria raiz do termo, “regere”, comandar (região como área de comando ou reino), acabou
gradativamente perdendo terreno [...].
É muito interessante perceber, entretanto, a recorrência de uma característica fundamental, a da região como
parcela ou “recorte” do espaço, em múltiplas escalas, desde o corpo humano [...] até o globo terrestre (“regiões”
climáticas, geopolíticas, econômicas...) e o próprio Universo [...], passando pelos níveis urbanos [...], intranacional ou
provincial [...] e supranacional ou continental [...].

Em analogia à História, podemos afirmar que, correspondendo aproximadamente ao que representa a
periodização como questão central para os historiadores, a regionalização aparece como uma problemática central
para os geógrafos. [...]
Pensar em região, assim, é pensar, antes de tudo, nos processos de regionalização – seja focalizando-os como
simples procedimento metodológico ou instrumento de análise proposto pelo pesquisador, seja como dinâmicas
efetivamente vividas e produzidas pelos grupos sociais. [...]
HAESBAERT, Rogério. Regional-global: dilemas da região na Geograf ia contemporânea. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010. p. 20-25.

Responda no caderno
1. Por que o conceito de região pode ser considerado polissêmico?
2. De acordo com o texto, qual é a característica fundamental que o conceito de região apresenta?
Responda no caderno
1. Como você estudou neste capítulo, é possível regionalizar o Brasil de diversas maneiras. Observe os mapas a seguir.

Brasil: malária (2008)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 119.


Brasil: aids (2008)
< mapa >

JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 119.

a) Qual é o tema principal desses mapas?
b) O que se pode concluir sobre as informações dos dois mapas?
c) Com base nos mapas acima, sugira uma nova regionalização para o Brasil.
d) Reúna-se com quatro colegas e pesquisem em jornais, revistas e sites informações sobre as doenças mencionadas nesses
mapas. Procurem saber: as principais causas e os locais de ocorrência dessas doenças, principais sintomas, tratamento,
medidas de prevenção, etc. Ao final, montem um cartaz com essas informações e apresentem à turma.

2. Observe os gráficos a seguir.

Brasil: IDHM (1991, 2000 e 2010)
< imagem >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: PNUD; IPEA; FJP. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal brasileiro: Atlas do Desenv olv imento Humano no Brasil 2013. Brasília, 2013. p. 40.
Disponív el em: <http://www.pnud.org.br/arquiv os/idhm-brasileiro-atlas-2013.pdf >. Acesso em: 25 set. 2015.
a) Qual era o valor do IDHM no Brasil nos anos de 1991, 2000 e 2010? Como eles eram classificados?
b) Indique dois motivos que ajudaram o Brasil a alcançar a classificação de 2010 do IDHM.

3. Leia o texto a seguir e responda às questões propostas.

Como surgiram os diferentes sotaques do Brasil?
As origens dos sotaques brasileiros estão na colonização do país feita por vários povos em diferentes momentos
históricos. O português, como se sabe, imperou sobre os outros idiomas que chegaram por aqui, mas sofreu
influências do holandês, do espanhol, do alemão, do italiano, entre outros.
Além disso, havia diferença no idioma português falado entre os colonizadores que chegavam aqui, vindos de
várias regiões de Portugal e em distintas décadas. “Os portugueses vinham em ondas, em diferentes épocas. Por
isso, o idioma trazido nunca foi uniforme”, explica Ataliba Teixeira de Castilho, linguista e filólogo, consultor do Museu
da Língua Portuguesa e professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp).
Os primeiros contatos linguísticos do português no Brasil foram com as línguas indígenas e africanas. “A partir do

século XIX, os imigrantes europeus e asiáticos temperaram essa base portuguesa, surgindo o atual conjunto de
sotaques”, diz o professor Ataliba.
É só reparar o sotaque e a região para lembrar os vários imigrantes que contribuíram para a história do país. No
Sul, os alemães, italianos e outros povos vindos do Leste Europeu. No Rio Grande do Sul, acrescenta-se a estes a
influência dos países de fronteira, de língua espanhola. São Paulo e sua grande comunidade italiana, misturada a
pessoas vindas de várias partes do Brasil e do mundo; Pernambuco e os holandeses dos tempos de Mauricio de
Nassau. Os exemplos são muitos e provam que os sotaques são parte da história da formação do país.
Por isso mesmo, não se pode dizer que haja um sotaque mais “correto” que outro. “Quem acha que fala um
português sem sotaque, em geral não se dá conta de que também tem o seu próprio, já que ele caracteriza a
variação linguística regional, comum a qualquer língua”, afirma o professor.
COSTA, Renata. Como surgiram os dif erentes sotaques do Brasil? Nova Escola, [s.d.]. Disponív el em: <http://revistaescola.abril.com.br/lingua-
portuguesa/f undamentos/como-surgiram-dif erentes-sotaques-brasil-492066.shtml>. Acesso em: 8 nov . 2015.
a) Por que existem diferentes sotaques no Brasil?
b) O modo de falar da região em que você mora sofreu influência de quais povos? Faça uma pesquisa e converse com os
colegas sobre o assunto.

4. Enem (2013)

JK – Você agora tem automóvel brasileiro, para correr em estradas pavimentadas com asfalto brasileiro,
com gasolina brasileira. Que mais quer?
JECA – Um prato de feijão brasileiro, seu doutô!
THÉO. In: LEMOS, R. (Org.). Uma história do Brasil através da caricatura (1840-2001). Rio de Janeiro: Bom Texto; Letras & Expressões, 2001.
A charge ironiza a política desenvolvimentista do governo Juscelino Kubitschek, ao
a) evidenciar que o incremento da malha viária diminuiu as desigualdades regionais do país.
b) destacar que a modernização das indústrias dinamizou a produção de alimentos para o mercado interno.
c) enfatizar que o crescimento econômico implicou aumento das contradições socioespaciais.
d) ressaltar que o investimento no setor de bens duráveis incrementou os salários de trabalhadores.
e) mostrar que a ocupação de regiões interioranas abriu frentes de trabalho para a população local.

< imagem >
E NE M / R E P R O D U Ç Ã O

Desafios & debates
Em grupo
Em um país tão diversificado como o Brasil, a literatura também pode ser um instrumento para a percepção e
identificação de regiões. Considerando esse aspecto, segundo o IBGE, é possível identificar no país seis regiões
literárias distintas, conforme você pode observar no mapa ao lado.
As regiões literárias são aquelas popularmente conhecidas e descritas em obras nas quais os autores expressam
costumes, histórias e artefatos existentes em determinada região do país.
O desafio desta atividade é conhecer melhor as regiões literárias do Brasil por meio da leitura das obras usadas
para a elaboração desse mapa. Para começar, analise o mapa ao lado e, depois, faça o que se pede.

Brasil: regiões literárias (2012)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Sertão do Cariri – O romance da pedra do reino, Ariano Suassuna.
Zona do Cacau – Terras do Sem-Fim, Cacau e São Jorge dos Ilhéus, Jorge Amado.
Gerais – Grande sertão: veredas, João Guimarães Rosa.
Sertão dos Confins – Vila dos Confins e Chapadão do Bugre, Mário Palmério.
Sertão de Goiás – O tronco, Ermos e Gerais e A terra e as carabinas, Bernardo Elis.
Campanha Gaúcha – Trilogia O tempo e o vento, Érico Veríssimo.
Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 153.

1. Reúna-se em grupo e escolham juntos uma das obras literárias indicadas na legenda do mapa. Anotem o título e o autor da

obra.
2. Verifiquem na biblioteca da escola ou do município se o livro escolhido está disponível. Vocês também podem conversar com
amigos e familiares para verificar se alguém já leu essa obra e se pode emprestá-la. O objetivo é que todos os integrantes do
grupo leiam o livro.
3. No decorrer da leitura, anotem trechos em que o autor apresenta descrições das paisagens, da cultura e dos costumes da região
literária que o livro retrata.
4. Em grupo, socializem as anotações e conversem sobre o que mais gostaram na obra. Além disso, destaquem alguns aspectos
da região literária a que o livro pertence.
5. Elaborem um cartaz com os registros do grupo. Vocês podem ilustrá-lo com desenhos ou fotos das paisagens mencionadas na
obra.
6. Combinem com o professor uma data para apresentação do trabalho e exponham os cartazes na escola.

Em debate
Leia o texto abaixo.

A construção das regiões e da regionalidade brasileira
[...] Num quadro tão diversificado, cada região brasileira refletirá nos seus hábitos e costumes este universo da
reprodução cotidiana da relação do homem com seu meio. Da fala e de seu sotaque, passando pela música e pela
literatura, o Brasil vai construindo suas culturas locais, suas identidades regionais. Onde o universo é mais rural que
urbano, será a realidade do campo a marcar a cultura, e quando a cidade for mais presente, o inverso ocorre. Frevo,
maracatu, samba, milonga, são expressões regionais, reflexos de realidades locais. Neste cenário os brasileiros vão
construindo suas identidades regionais.
CASTELLAR, Sonia Maria Vanzella; MARTINS, Elvio Rodrigues. Geografia.
Disponível em: <http://www.cienciamao.usp.br/dados/pru/_modulo1.apostila.pdf>. Acesso em: 8 dez. 2015.

Com base no excerto que você acabou de ler, converse com os colegas sobre a identidade regional à qual vocês
pertencem.



capítulo
3
O Brasil no sistema internacional
< imagem >
FO L H A P R E S S / R O S E N A MA R I N H O
Manifestação de funcionários do Banerj contra a privatização do banco. Rio de Janeiro (RJ), 1997.

No fim da década de 1970, a expansão do consumo superou a produção de bens e serviços, principalmente na
Europa. Diante disso, o Estado do bem-estar social (também conhecido como welfare state, em inglês), propiciado por
governos intervencionistas na economia, deu mostras de esgotamento.
Na década seguinte, com o fim do welfare state, antigos princípios liberais voltaram a protagonizar o cenário
internacional, particularmente nos países ricos, sob a denominação de neoliberalismo.

De acordo com a concepção neoliberal, a produção e a distribuição de bens e serviços devem ser geridas pelo
mercado, cabendo ao Estado apenas a função de regulador das relações econômicas e sociais.
Essa concepção difundiu-se pelo mundo no decorrer da década de 1990, após o fim do socialismo na Europa. No
Brasil, onde o Estado progressivamente assumiu forte presença na economia, controlando direta ou indiretamente
um elevado número de empresas, houve a privatização de centenas de estatais, embora parte da população tenha
manifestado sua contrariedade a esse processo, como mostra a foto acima.
Desde então, sob inspiração neoliberal, a globalização tem se intensificado. Diversos países, como o Brasil, estão
fortemente inseridos no sistema internacional, mediante intensas relações comerciais, financeiras e informacionais.
No decorrer deste capítulo, vamos compreender melhor como tudo isso acontece.

Estado do bem-estar social: tipo de governo no qual o Estado desempenha papel fundamental na proteção e na promoção do bem-estar social e econômico dos
cidadãos. Baseia-se nos princípios da igualdade de oportunidades e na distribuição equitativa da riqueza, devendo o Estado garantir para todos os cidadãos padrões
mínimos de educação, saúde e habitação.
Economia global: breve histórico
O fim do século XX e os primeiros anos do século XXI são marcados pelo desenvolvimento de um mercado
globalizado; cada vez mais, ampliam-se as trocas internacionais e a interdependência das nações. No processo de
transformação da economia mundial, a década de 1970 foi fundamental, em virtude da grave crise do capitalismo
deflagrada pelo aumento dos preços do petróleo. O aumento do preço do barril de petróleo foi um dos fatores que
geraram o endividamento de muitos países e interrompeu o ciclo de grandes investimentos estatais e privados nos
diversos ramos do setor produtivo.
Paralelamente, o desenvolvimento de novas tecnologias e de novos materiais mostrou ser uma eficiente resposta
à crise gerada pelo petróleo, na medida em que permitiu a criação de novos produtos e a superação gradativa das
dificuldades do comércio internacional.
A partir da década de 1980, competitividade passou a ser a palavra de ordem da nova fase do capitalismo
mundial. Nesse novo contexto, a formação de vários blocos regionais rompeu as barreiras representadas pelas
fronteiras entre os países.
Ainda nos anos 1980, vários Estados-Nações passaram por grandes mudanças. Pela primeira vez desde a década
de 1930, os governos – inicialmente o da Inglaterra e o dos Estados Unidos – modificaram sua forma de atuação na
economia interna e externa.
Nesse período, uma das grandes marcas do capitalismo monopolista – a intervenção do Estado por meio da
criação de empresas e da presença em áreas econômicas estratégicas, como energia, transportes e comunicações –
passou a ser encarada como obstáculo ao livre desenvolvimento do comércio e das relações econômicas entre os
países e entre empresas privadas.
Nessa nova concepção, as ações de muitos Estados representavam uma espécie de entrave ao
desenvolvimento econômico, principalmente porque detinham o controle de setores da economia em que as
empresas privadas poderiam atuar com melhor desempenho. Além disso, a crescente elevação do deficit
público de alguns países impedia a continuidade dos investimentos dos governos em alguns setores da
economia.
A nova mentalidade marcou o fim do chamado Estado do bem-estar social, com a redução dos investimentos dos
governos em áreas como educação e saúde. Segundo a nova concepção, caberia ao Estado somente algumas
tarefas, como regular o mercado por meio de legislação pertinente, formular políticas de desenvolvimento e, segundo
algumas tendências, orientar a distribuição de renda.
Com relação às áreas estratégicas, tornou-se comum a diferenciação entre a provisão e a produção de serviços
públicos. Ao Estado caberia prover os serviços, implementando e controlando políticas de desenvolvimento nas
diferentes áreas. A produção desses serviços seria transferida à iniciativa privada, que não se limitaria mais a
executar obras a mando do Estado, mas administraria os empreendimentos públicos, estimulando a viabilidade dos
investimentos.
Com tais mudanças, a competitividade ampliou-se, pois as grandes empresas passaram a ter mais liberdade
para
atuar no mercado de forma cada vez mais eficiente.

< imagem >
GL O W IM A G E S / A P PH O T O / J O H N DU R I C K A
Casa de repouso em Bound Brook, no estado de Nova Jersey, Estados Unidos, em 1968. O senhor sentado na cadeira recebeu flores e outros presentes em
razão de seu 90º aniversário.

Cabe ressaltar que a maior competitividade das empresas esteve ligada diretamente ao acesso a novas
tecnologias, novas matérias-primas e a sofisticadas formas de produção decorrentes da informatização. Tudo isso se
tornou possível graças à realização de grandes investimentos em pesquisas e produção em diferentes ramos do
setor industrial. Nesse contexto, acentuou-se outra característica marcante do capitalismo monopolista: o processo
de concentração de capital com a expansão de monopólios e oligopólios.
Atualmente, várias grandes empresas estadunidenses, europeias, japonesas e chinesas detêm amplo poder
econômico e político para competir no mercado internacional e são elas os principais agentes econômicos atuantes
em áreas que antes eram privilégio dos governos dos países.
A eliminação de fronteiras externas e internas tornou-se a principal preocupação das nações no fim do século XX,
e a característica predominante da economia global nesse período é o surgimento de uma nova fase do capitalismo –
o capitalismo neoliberal.
Transformações recentes do Estado brasileiro
A maioria dos países da América Latina, inclusive o Brasil, não escapou às influências das novas tendências
econômicas internacionais que você estudou no item anterior. O país também foi afetado pela alta do preço do
petróleo e pela grave crise mundial da década de 1970.
Além da conjuntura internacional desfavorável em função dos elevados preços do petróleo, naquele período o
governo brasileiro também investia nos setores de eletrônica, telecomunicações e informática, o que, aliado aos
subsídios e incentivos dados a empresas privadas desses e de outros ramos, contribuiu para a elevação da dívida
pública.
Nos anos seguintes à década de 1970, a dívida privada de vários setores foi estatizada, ou seja, o governo
brasileiro assumiu o prejuízo de muitas empresas que, para atravessar a crise, haviam feito empréstimos
internacionais.
Foi somente a partir dos anos 1990 que as práticas típicas do capitalismo monopolista (de Estado) começaram a
ser abandonadas pelo governo brasileiro, que aderiu às principais tendências da política neoliberal e passou a tomar
algumas medidas, como: privatizações de empresas, eliminação de monopólios estatais, atração de investimentos
externos, abertura ao comércio exterior e fim da ingerência nas relações trabalhistas.

Dívida pública: é a dívida contraída pelo governo com entidades ou pessoas da sociedade para financiar parte de seus gastos ou captar dólares no exterior, por
exemplo. A classificação mais comum nesse tipo de dívida é entre a dívida interna e a dívida externa.
Dívida privada: corresponde aos títulos de dívida emitidos por empresas de capital privado, misto ou público.

BMW Vermelho
Direção de Reinaldo Pinheiro e Edu Ramos. Brasil, 2000. 21 minutos.
O filme se passa
na época do governo Collor. Conta a história de uma família de São Paulo que ganha um BMW vermelho em um sorteio. Para a família, o prêmio
não é interessante, já que ninguém sabe dirigir, tampouco têm dinheiro para a gasolina. No entanto, descobrem uma boa utilidade para o
automóvel quando, em um dia de chuva, decidem usá-lo como residência.

< imagem >
AG Ê N C I A O GL O B O / C U S T O D I O COI M B R A
José Serra, então ministro do planejamento, bate o martelo na privatização da empresa de energia Light, do Rio de Janeiro (RJ), em 1996.

O Brasil e as privatizações
Desestatização ou privatização é a venda de empresas estatais, ou a concessão de serviços públicos de
determinado país, a empresas particulares ou privadas.
Na década de 1990, o governo brasileiro iniciou um amplo processo de privatização de várias empresas estatais
distribuídas por todo o território. Entre os principais argumentos do governo a favor da venda de empresas estatais
para a iniciativa privada, destacaram-se: o elevado deficit público, que limitava a capacidade de investimento do
governo, e a falta de eficiência no gerenciamento estatal para reduzir custos, garantir a qualidade dos produtos e
administrar a aplicação dos recursos. Vale lembrar que o deficit público de um país se eleva quando a capacidade
de arrecadação do governo, oriunda principalmente da cobrança de impostos, é menor que suas despesas.
Até a década de 1980, o governo cobria o deficit fazendo grandes empréstimos em bancos internacionais.
Nessa época, a dívida externa do Brasil e de outros países menos desenvolvidos era bastante elevada, e os juros
cobrados eram tão altos que os devedores não conseguiam sequer pagar o chamado serviço da dívida (juros e
outros encargos). Por isso, o México, o Brasil e a Argentina chegaram a declarar moratória, ou seja, a suspensão
do pagamento da dívida.

Sem capacidade de investimento e gerenciando empresas públicas deficitárias, o governo brasileiro resolveu
instituir, em 1990, o Programa Nacional de Desestatização (PND), cujas medidas também foram implantadas por
alguns governos estaduais e municipais.
A venda das Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas), em outubro de 1991, inaugurou o PND, cuja
aplicação intensificou-se nos anos seguintes. As indústrias siderúrgicas estatais foram as primeiras a ser privatizadas.
Entre as primeiras três dezenas de empresas estatais privatizadas, oito eram do setor siderúrgico.
Em toda a história do setor siderúrgico, o investimento estatal foi de 26,1 bilhões de dólares, mas gerou um
rendimento para o Estado de apenas 600 milhões de dólares (2,3% do capital investido). Com as privatizações, a
produtividade das siderúrgicas (toneladas/ano por funcionário) aumentou consideravelmente. Na Usiminas, por
exemplo, o crescimento foi de 85% nos três primeiros anos de gestão privada. Com tal desempenho, os prejuízos do
setor siderúrgico transformaram-se em lucros.
Também durante a década de 1990, o governo privatizou numerosas estatais do setor petroquímico, do setor
químico e do setor de fertilizantes.
De todas as empresas estatais brasileiras submetidas ao processo de privatização, a maior controvérsia envolveu
a venda da Companhia Vale do Rio Doce, que a partir de 2007 passou a ser chamada apenas de Vale e que opera
em quatorze estados brasileiros com tecnologia de ponta e moderno sistema de administração. Considerada uma
das maiores mineradoras do mundo, a empresa controla mais de trinta subsidiárias que atuam em diversas áreas:
usinas de alumínio, minas de ouro, reservas de manganês, estradas de ferro, projetos de reflorestamento, fábrica de
fertilizantes, frota de navios, portos e siderúrgicas.

< imagem >
FU T U R A PR E S S / H O J E E M DIA / R E N A T O CO B U C C I
A primeira estatal privatizada foi a Usiminas, em 1991. Na foto, interior da siderúrgica, no município de Ipatinga (MG), em 2011.

Texto & contexto
1. Identifique os fatores que contribuíram para a elevação da dívida pública brasileira nas décadas de 1970 e 1980.
2. Que medidas neoliberais foram tomadas pelo governo brasileiro a partir da década de 1990?
3. Quais foram os argumentos utilizados pelo governo brasileiro para colocar em prática as privatizações?

O fim dos monopólios
A existência de monopólios estatais, ou seja, a exclusividade da atuação do Estado em determinados setores, foi
um dos pontos fundamentais do modelo de financiamento e intervenção do poder público durante a fase do
capitalismo monopolista.
No Brasil, a estruturação desse modelo ocorreu principalmente ao longo da década de 1950, com a criação da
Petrobras, da Eletrobras e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Por intermédio do BNDES, o governo brasileiro financiou a expansão dos sistemas de transporte, energia e
comunicações, contribuindo, assim, para a rápida industrialização que caracterizou o governo do presidente
Juscelino Kubitschek (1902-1976), de 1956 a 1960.
Quando os monopólios estatais começaram a ser questionados em vários países desenvolvidos, a iniciativa
privada ganhou mais espaço para atuar. Muitos estudiosos acreditavam que o monopólio estatal comprometia o
desenvolvimento dos países pela falta ou escassez de investimentos do Estado e pela inexistência de
competitividade em setores estratégicos da economia, particularmente nos relacionados com a infraestrutura:
serviços públicos (energia, telecomunicações, fornecimento de água encanada e gás natural, coleta de lixo), setor de
transportes (construção de rodovias, ferrovias, portos), além de obras de represamento, irrigação, etc.
Nos países menos desenvolvidos, as pressões pela quebra do monopólio estatal também foram geradas pela
ineficiência dos setores estratégicos e pela necessidade de adquirir novas tecnologias.
Alguns países adotaram a parceria do governo com a iniciativa privada ou a privatização total de algum setor
estratégico, como o México, em relação ao sistema de telefonia, e o Chile, com a energia elétrica. No Brasil, o
governo promulgou, em 1995, a Lei de Concessão de Serviços Públicos, que prevê a associação do Estado com
empresas privadas para a realização de obras públicas, como usinas de geração de energia e investimentos em
infraestrutura de transportes e comunicações. Em seguida, incluiu esses setores na pauta do programa de
privatizações, em um sistema de concessão em que a administração do serviço público é privatizada, com total
liberdade financeira, o que não implica perda de controle por parte do Estado.

Para saber mais
Estado × mercado: o papel da sociedade
Debates ideológicos têm frequentemente dificultado a análise dos papéis relativos ao Estado e ao mercado no que
se refere ao desenvolvimento. Enquanto alguns defendem a necessidade de intervenção do Estado para corrigir
constantemente os efeitos perversos do mercado, outros destacam as virtudes deste último, argumentando que a
economia deveria livrar-se da mão pesada da burocracia estatal. Ambos acreditam que o Estado e o mercado são
necessariamente separados e até mesmo antagônicos – que um é benevolente e o outro não. Na prática, tanto o
mercado quanto o Estado são dominados pelas mesmas estruturas de poder.
Daí surge outra opção, muito mais prática: a sociedade deveria guiar tanto o mercado quanto o Estado, os quais
deveriam trabalhar em conjunto, com a população devidamente dotada de mecanismos de poder para exercer uma
influência mais efetiva sobre ambos.
Para isso, algumas condições são necessárias. Os membros de uma sociedade necessitam de padrões mínimos de
educação e saúde para assegurar sua inclusão no mercado. Da mesma forma, também é necessária uma distribuição
mais justa do acesso aos recursos produtivos (principalmente a terra), de maneira a assegurar a todos igual oportunidade
de ingresso no mercado de trabalho. Por fim, é importante que redes de proteção social (por exemplo, seguro-
desemprego, programas de alimentação, esquemas de suplementação de renda) sejam estabelecidas para proteger as
vítimas do processo competitivo.
RELATÓRIO sobre o desenv olv imento humano no Brasil. Rio de Janeiro/Brasília: Ipea/Pnud, 1996. p. 108.

Rede de energia elétrica
A Eletrobras, empresa de economia mista subordinada ao Ministério de Minas e Energia do Brasil, é responsável
pela execução da política nacional de energia que inclui atividades como: planejamento, financiamento e
coordenação dos programas de construção, ampliação e operação dos sistemas de geração, transmissão e
distribuição de energia (observe no mapa a seguir como se dá essa transmissão). Porém, o sistema Eletrobras,
composto pela Eletronorte, pela Chesf, por Furnas e pela Eletrosul, entre outras, tem se mostrado incapaz de realizar
sozinho todos os investimentos necessários, de modo a acompanhar o crescimento da demanda no setor. Assim,
várias usinas hidrelétricas foram incluídas no Programa Nacional de Desestatização, e diversas foram vendidas.

Brasil: transmissão de energia (2012)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O D A E DI T O R A
Fonte: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 129.
A venda de maior repercussão, realizada no fim dos anos 1990, foi a da Light, fornecedora de energia elétrica para
o Rio de Janeiro. O curioso na venda dessa estatal foi que o controlador do consórcio que assumiu a Light é uma
empresa pública francesa – a Électricité de France –, com mais de 1/3 das ações.
Nos últimos anos, grandes investimentos têm sido feitos na construção de hidrelétricas, às vezes em parcerias do
governo com a iniciativa privada. Para a construção da Usina de Belo Monte, no Pará, foi constituído um consórcio de
empresas, mormente privadas, em face do volume de recursos necessários a tamanho investimento.
No Brasil, a oposição à venda de estatais ganhou força em 2001, quando a necessidade de racionamento do
consumo de energia elétrica mostrou que não bastava entregar as empresas públicas do setor elétrico à iniciativa
privada para resolver os problemas energéticos do país. Nesse ano, a palavra “apagão” tornou-se comum entre os
brasileiros. Ela surgiu como referência à falta de eletricidade na crise energética de 2001.
Em 2015, o Brasil esteve próximo a uma nova crise energética. Após três anos de chuvas aquém do esperado, as
represas de muitas usinas do Centro-Sul tiveram o nível de suas águas rebaixado a níveis críticos. Com isso, as
hidrelétricas reduziram a produção de energia, pois tiveram de desligar alguns dos seus geradores. Para compensar
a queda na geração de hidreletricidade, de maneira a suprir o sistema integrado nacional, foi necessária a reativação
da termeletricidade, cuja energia tem um custo de produção mais elevado do que aquela gerada nas hidrelétricas. A
consequência disso foi o aumento do preço das tarifas de energia elétrica pago pelos consumidores.

Rede de transportes
O sistema de transportes do Brasil é considerado deficiente, pois não atende adequadamente à demanda.
Historicamente, o país não deu prioridade aos sistemas mais baratos, como o ferroviário e o hidroviário, apesar
da grande dimensão do território e da riqueza das bacias hidrográficas. É verdade que a implantação de uma
ferrovia custa em média sete vezes mais que a construção de uma rodovia pavimentada. No entanto, para o
transporte de carga, o trem é três vezes mais econômico que o caminhão. O fato é que, para interligar o

território brasileiro, foi dada prioridade ao transporte rodoviário.
O desenvolvimento da rede rodoviária foi uma das estratégias utilizadas pelo governo federal para atrair as
indústrias automobilísticas internacionais a partir da década de 1950. Desde então, o modelo de modernização do
país esteve pautado nesse tipo de transporte, especialmente na década de 1970, quando a extensão da rede de
tráfego do Brasil praticamente dobrou, passando de 800 mil para 1,3 milhão de quilômetros. Em 2014, a rede
rodoviária estava com aproximadamente 1,7 milhão de quilômetros, dos quais cerca de 13% pavimentados, de
acordo com o Ministério dos Transportes.
Confira, no mapa a seguir, a localização e a distribuição geográfica dos principais aeroportos, estradas, hidrovias e
ferrovias do Brasil.

Ministério dos Transportes
<http://www.transportes.gov.br>. Acesso em: 28 set. 2015.
Página do Ministério dos Transportes com informações sobre as principais características dos diferentes tipos de transporte (hidroviário, ferroviário
e rodoviário). Também disponibiliza acesso ao banco de informações e mapas de transportes de todo o território nacional.

Brasil: rede de transportes (2013)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de DEPARTAMENTO Nacional de Inf raestrutura de Transporte (DNIT). Disponív el em: <http://
www.dnit.gov .br/download/mapas-multimodais/mapas-multimodais/BRASIL.pdf >. Acesso em: 9 nov . 2015.
Ferrovias
A extensão das ferrovias brasileiras praticamente estacionou desde o seu auge na época do café (metade do
século XIX) e, em 2015, mal ultrapassava 30 mil quilômetros, respondendo por cerca de 30% do transporte de cargas
no país.
Em 1996, o governo iniciou leilões para a privatização da Rede Ferroviária Federal, sob o regime de concessão
por trinta anos. Desde então, já foram privatizadas as malhas ferroviárias do Sul, do Centro-Oeste e do Sudeste –
essa última a mais importante delas. Entre os principais projetos do governo para o setor, e que também devem
contar com a participação da iniciativa privada, está a criação da ferrovia Leste-Oeste (ligando Goiás e Mato
Grosso) e da polêmica ferrovia Norte-Sul, que vai de Goiânia em direção a Açailândia, no Maranhão. Nesse local,
ela se interliga à estrada de ferro que une a serra dos Carajás ao porto de Itaqui, junto à capital maranhense. Em
2008, o seu traçado foi estendido até a cidade de Panorama (SP), totalizando, assim, 2 760 km de extensão.
Em 2015, já haviam sido construídos mais de
1 500 km de linha férrea, dos quais mais de 700 km
estavam em operação. A finalidade principal dessa ferrovia é facilitar o escoamento e a exportação da crescente
produção agrícola do Centro-Oeste. De Panorama, a ferrovia Norte--Sul será estendida até o porto de Rio Grande
(RS), totalizando, então, 4 787 km de extensão.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / M A U R I C I O SI M O N E T T I
Transporte de grãos na ferrovia Norte-Sul, no município de Porto Nacional (TO), em 2015.

Hidrovias
O transporte hidroviário compreende o fluvial e o marítimo. Apesar de ser ainda mais econômico que o ferroviário, o
transporte hidroviário movimentava apenas cerca de 13% das cargas que circulavam em território brasileiro em 2014, de
acordo com o Ministério dos Transportes.
Ao longo do tempo, com a prioridade dada ao transporte rodoviário, muitas linhas de navegação interior foram
desativadas em benefício de caminhões e de ônibus. Somente nos rios Amazonas e São Francisco e nas bacias do
Paraná e do Paraguai é que a navegação fluvial conservou sua importância regional. Nessas últimas, com o objetivo
de facilitar a ligação entre os países do Mercosul, por meio da hidrovia Tietê-Paraná são transportados milhões de
toneladas de produtos como soja, cana-de-açúcar, combustíveis e fertilizantes. Observe-a no mapa ao lado.

Hidrovia Tietê-Paraná (2014)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: MINISTÉRIO dos Transportes. Bacia do Tietê e Paraná. Disponív el em: <http://www.transportes.gov .br/conteudo/1445-bacia-do-tiete-e-parana.html>. Acesso
em: 10 dez. 2015.

Na mesma bacia, encontramos a hidrovia Paraná-Paraguai, que se estende desde a cidade brasileira de

Cáceres, situada no estado de Mato Grosso, até a cidade uruguaia de Nueva Palmira. Essa hidrovia tem 3 442 km
de extensão. Por ora, funciona o trecho entre Corumbá (MS) e Nueva Palmira, no Uruguai, de grande importância
para a economia do Mato Grosso do Sul.
A transformação de um rio em hidrovia requer consideráveis investimentos, pois é necessário fazer dragagem,
balizamento e sinalização do canal. Inaugurada em 1998, a hidrovia do Madeira, que liga Porto Velho (RO) a
Itacoatiara (AM), tornou-se o principal caminho de escoamento da produção regional de grãos e minérios. Além da
projetada hidrovia Manaus-Boa Vista, já está parcialmente implantada a hidrovia Araguaia-Tocantins, que, uma vez
concluída, permitirá o escoamento de grãos do Brasil Central até o porto de Itaqui, no Maranhão.
A implantação da hidrovia do São Francisco, melhorando o histórico caminho fluvial entre Pirapora (MG) e Juazeiro
(BA), diminuiu o custo do transporte de cargas entre o Sudeste e o Nordeste. Em 2015, porém, a navegação sofreu
limitações, por causa da redução do nível das águas, em consequência da diminuição das chuvas no Sudeste em
anos anteriores.
Ainda no século passado, e com o intuito de dinamizar o transporte hidroviário, diversas empresas estatais de
navegação fluvial foram privatizadas pelo governo.

Rodovias
Com relação às rodovias, na segunda metade da década de 1990 foram feitas numerosas concessões à iniciativa
privada. Assim, por exemplo, desde 1996, a manutenção e os projetos de ampliação da rodovia Presidente Dutra (via
Dutra), que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, são realizados por empresas privadas nacionais. Essas empresas têm
direito aos recursos gerados pela cobrança de pedágios.
Em sintonia com a nova concepção de que o Estado deve ser enxuto, o governo federal e o governo de alguns
estados têm cedido a administração de rodovias à iniciativa privada. Em troca do pedágio que arrecadam dos
usuários, as empresas concessionárias se encarregam de sua restauração e conservação.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / R U B E N S CH A V E S
A via Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, é uma das inúmeras rodovias pedagiadas no país, isto é, o usuário paga pedágio para trafegar.
Na foto, trecho da rodovia no município
de T aubaté (SP), em 2014.

Texto & contexto
1. Em sua opinião, possíveis crises de energia elétrica podem ser resolvidas apenas pela privatização? Por quê?
2. Historicamente, o governo brasileiro deu prioridade ao transporte rodoviário. Por quê?
3. Como é feito o transporte hidroviário no Brasil? Comente.
4. Há, no local onde você mora, transporte hidroviário ou ferroviário? Como é seu funcionamento? Esses tipos de transporte são
importantes para a economia local?

Telecomunicações
Com o avanço da globalização, o setor das telecomunicações tornou-se um dos negócios mais lucrativos do
mundo. Daí o interesse do capital privado em quebrar o monopólio estatal sobre os diversos segmentos da área,
antes exercido no Brasil pela Telebras.
Poderosas companhias telefônicas estrangeiras, articuladas com grupos nacionais em torno do Instituto Brasileiro
para o Desenvolvimento das Telecomunicações (IBDT), deram início, em 1993, a uma forte pressão privatista.
Embora a Telebras fosse uma estatal lucrativa, a proposta de desestatização teve êxito. Assim, em 1995, foi
aprovada a emenda constitucional que acabou com o monopólio estatal dos serviços de telecomunicações no
Brasil e, em 1996, começou o processo de privatização do setor, primeiro com a telefonia celular. Em 1998, a
Telebras foi vendida a grandes grupos empresariais de telefonia fixa, constituídos majoritariamente por capital
estrangeiro. Seguiu-se a venda das empresas estaduais, de modo que o grande mercado brasileiro acabou
dividido entre dezenas de operadoras, cada qual atuando em uma área (Telesp, Telepar, Telebahia, etc.).
Com o sistema Telebras, a Embratel foi privatizada em 1998. Ela detém a maior rede de telecomunicações da
América Latina, controlando a infraestrutura que possibilita o funcionamento dos serviços de comunicações de
longa distância, como ligações interurbanas e internacionais, sinais de rádio e televisão, entre outros. Também é
da responsabilidade da Embratel o sistema de linhas, satélites, canais de fibras ópticas e antenas de micro-ondas

que permitem o funcionamento da internet.
Graças a enormes investimentos de capital estrangeiro, a abertura do mercado e as privatizações permitiram uma
grande expansão da telefonia fixa, com um considerável aumento da densidade telefônica – o número de terminais
instalados por 100 habitantes passou de 8,6 em 1994 para 21,58 em 2015. Observe, no mapa ao lado, os
percentuais de domicílios com telefonia fixa nos estados brasileiros.
A telefonia móvel celular teve um incremento ainda mais expressivo, pois sucessivas concessões provocaram forte
competição entre inúmeras operadoras, do que resultou uma redução de custos e, por conseguinte, maiores
facilidades ao usuário. O número de aparelhos saltou de 1,4 milhão em 1995 para 33,3 milhões em 2003, e para
cerca de 281 milhões em 2015.
Paralelamente ao desenvolvimento da telefonia, ocorreu o avanço da infraestrutura das telecomunicações. Assim, há
numerosas empresas habilitadas a utilizar satélites, embora a Embratel opere a maioria deles. As capitais e as grandes
cidades já estão interligadas por uma rede de fibras ópticas que progressivamente substituem os cabos convencionais.
Cabos de fibras ópticas submarinos unem o Brasil à América do Norte, à Europa e à África.
Com tais condições, o Brasil ganha reconhecimento como país moderno e integra-se ao mundo globalizado,
embora parcela expressiva de sua população permaneça distante de diversos benefícios oportunizados pelo avanço
tecnológico.

Brasil: telefonia fixa (2015)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: AGÊNCIA Nacional de Telecomunicações (Anatel). Telef onia Fixa – Acessos. Disponív el em:
<http://www.anatel.gov .br/dados/index.php?option=com_content&v iew=article&id=271>. Acesso em: 10 dez. 2015.
Técnico em telecomunicações: ajuda a elaborar projetos de telecomunicação. Também instala, opera, faz a manutenção e
supervisiona os sistemas e serviços de telecomunicações de acordo com as regulamentações existentes.
Investimentos externos no Brasil
No século XXI, o desenvolvimento da economia mundial, o acúmulo de capitais e o avanço das telecomunicações
e da informática permitiram um acentuado aumento dos fluxos de capitais em escala internacional – uma verdadeira
globalização financeira.
Por meio de investimentos, empréstimos, financiamentos, remessa de lucros, etc., imensos volumes de capitais
movimentam-se de um país para outro. Os recursos financeiros destinados à atividade produtiva – na indústria, na
agricultura, nos serviços – são chamados de investimentos diretos. No fim do século XX, os investimentos externos
diretos saltaram, no mundo todo, de 200 bilhões em 1991 para 1,1 trilhão de dólares no ano 2000. No Brasil, a
entrada de investimentos externos diretos líquidos no período de junho de 2013 a junho de 2014 foi de US$ 63,3
bilhões de dólares, de acordo com o Banco Central. A imensa maioria desses recursos tem sido aplicada por
empresas de países ricos em empresas de países igualmente desenvolvidos. Os Estados Unidos e os países da
União Europeia estão entre aqueles que mais recebem recursos externos.
Os investidores internacionais direcionam recursos financeiros para determinado país considerando as possibilidades
de lucro e a segurança do capital aplicado. Daí a preferência dos investimentos produtivos aplicados em países
desenvolvidos, onde a estabilidade (econômica e política) garante segurança ao capital, mesmo que os lucros sejam
pequenos. Os investidores aplicam recursos em países considerados de risco somente quando a possibilidade de
lucros elevados for muito atrativa. Por isso, grande parte do capital que ingressa em países menos desenvolvidos
assume a forma de investimentos especulativos, ou seja, recursos aplicados para obtenção de lucros a curto prazo,
propiciados por altas taxas de juros ou por negócios rápidos em bolsas de valores. Também são chamados de capital
volátil, pois, assim como chegam, podem ausentar-se rapidamente, a qualquer momento, gerando crises de proporções
variáveis.
As crises financeiras, que geralmente ocorrem em países de economia muito dependente do exterior, provocam
retração de investimentos. Foi o que aconteceu, por exemplo, no México entre 1994 e 1995 e, mais notadamente, na
Ásia entre 1997 e 1998.
De modo geral, no Brasil e na América Latina os investimentos externos têm aumentado após a superação da crise
mexicana. Deve-se esse aumento a vários fatores presentes nos principais países do continente: maior articulação na
economia global, com participação mais intensa no comércio internacional; privatização de empresas públicas; reformas
do Estado, facilitando a entrada e a saída de capitais e flexibilizando as relações de produção e de trabalho.
A entrada de recursos financeiros externos no Brasil acentuou-se a partir da segunda metade dos anos 1990, em
função de alguns fatores, como a política de estabilização da moeda e a quebra dos monopólios estatais com a venda
de empresas públicas.
De fato, a política implantada pelo governo em 1995, com a adoção de uma nova moeda, conseguiu controlar a

inflação e dar certa estabilidade à economia do país. Essa condição foi essencial para a atração de investimentos
externos.
Os leilões de privatização, seja para a venda de empresas, seja para a concessão de direitos de exploração de serviços
públicos, representaram um fascinante atrativo ao capital estrangeiro, que entrou em expressiva escala no país,
comprando estatais ou constituindo novas empresas.

< imagem >
GL O W I M A G E S / A F P / A N D R E W BU R T O N
As bolsas de valores são redutos em que empresas, bancos, fundos de investimentos, especuladores em geral negociam papéis de vários tipos, como
ações, títulos de crédito, etc. Utilizando sistemas eletrônicos, permitem a agentes do mundo todo efetuarem a compra e venda, por exemplo, de uma
companhia, pública ou privada, sediada em qualquer localidade. Na foto, de 2015, bolsa de valores de Nova York, Estados Unidos, uma das mais
importantes do mundo.

Entre 1997 e 1998, no auge das privatizações, o capital externo foi atraído principalmente pelo setor de serviços,
com destaque para as telecomunicações e a distribuição de energia elétrica. As multinacionais que compraram
estatais ou adquiriram concessões de serviços públicos no Brasil fizeram investimentos indubitavelmente lucrativos.
No entanto, os pagamentos recebidos pelo governo brasileiro com os leilões de privatização foram usados, em sua
maior parte, para o pagamento da dívida externa do país, restando pouco para obras de interesse econômico ou
social.
Nos primeiros anos do século XXI, o Brasil vivenciou uma fase de expressiva prosperidade, apoiada em dois
fatores principais:
▸ sucessivos superavit comerciais, ensejados pelos bons preços de commodities que o país exporta, como minério
de ferro e soja;
▸ incentivos governamentais ao consumo interno, mediante benefícios fiscais concedidos às indústrias, em
especial a automotiva, simultaneamente com a facilitação de crédito aos consumidores.
Essa situação de desenvolvimento com distribuição de renda, graças a programas sociais do governo, continuou
atraindo o capital internacional. Em 2010, por exemplo, o Brasil recebeu mais de 40 bilhões de dólares de
investimentos externos.
Na segunda década deste século, contudo, a conjuntura global se modificou, principalmente em razão da crise
europeia de 2010 e 2011 e da redução do crescimento econômico da China, diminuindo suas vultosas importações.
Com isso, o preço das commodities caiu e o Brasil passou a ter deficit em sua balança comercial. Ao mesmo tempo,
o mercado interno esgotou sua capacidade de expansão e o governo acentuou seu desequilíbrio fiscal, pois gastava
muito além das receitas, que encolhiam. Por essas razões, em 2014 o país mergulhou em uma crise, agravada em
2015, quando a economia entrou em recessão, expressa pelo encolhimento do PIB.
Por causa da crise, o Brasil perdeu credibilidade internacional e deixou de ser atraente para o capital estrangeiro,
cujos investimentos no país encolheram bastante.
Grande parte do capital de origem externa atuante no Brasil é de empresas estadunidenses, as quais, com
empresas europeias, são responsáveis pelos maiores investimentos estrangeiros no país. Entre as firmas
europeias, destacam-se as alemãs, as francesas, as italianas, as espanholas e as portuguesas. É de se registrar,
contudo, a crescente presença de capitais asiáticos, particularmente japoneses e, sobretudo, chineses. A propósito,
em 2015, a China formalizou importante acordo com o Brasil, envolvendo parcerias comerciais e empréstimos para
investimentos.

< imagem >
FO T O S PÚ B L I C A S / A G Ê N C I A BRA S I L / M A R C E L O CA M A R G O
À esquerda, o primeiro-ministro chinês Li Keqiang; à direita, a presidente do Brasil Dilma Rousseff em encontro realizado no Palácio do Planalto, em
Brasília (DF). Durante a visita de Li Keqiang, Brasil e China anunciaram uma parceria comercial bastante significativa: foram assinados 35 acordos que
somam mais de US$ 50 bilhões em investimentos chineses no país, em áreas de tecnologia, infraestrutura, energia e agricultura. Foto de 2015.

Texto & contexto
1. Que grupos, no Brasil, defenderam a quebra do monopólio estatal e as privatizações no setor de telecomunicações,
especialmente a partir dos anos 1990? Por quê?
2. Explique o que são investimentos diretos e quais são os tipos de capital que circulam no Brasil.
3. O investimento internacional na América Latina vem aumentando nas últimas décadas. Que fatores influenciaram esse
aumento?

Formação de oligopólios
No início da Revolução Industrial (século XVIII), o processo de produção capitalista dependia, em grande parte, do
trabalho de um grande número de operários. Desde então, para atender a sucessivas reivindicações de empregados
com relação aos salários, empresários de vários países procuram obter maiores lucros mediante o aumento da
produtividade, isto é, produzir mais utilizando menos tempo de trabalho. Dessa necessidade resultaram contínuos e
crescentes investimentos em estudo, pesquisa e treinamento de pessoal que propiciaram avanços no conhecimento,
nas técnicas e na qualificação da mão de obra.
No pós-guerra, esse avanço atingiu notável evolução em alguns países, a ponto de, atualmente, sua atividade
produtiva depender fundamentalmente da ciência e da tecnologia.
A intensificação do processo produtivo tem um custo considerável que, geralmente, é mais acessível às empresas
maiores, aquelas que dispõem de mais recursos financeiros. Desse fato resulta uma decisiva vantagem das grandes sobre
as pequenas empresas, pois, em geral, a empresa que investe mais produz melhor e compete no mercado com mais
eficiência. Por isso, as grandes empresas tendem a “engolir” as competidoras menores por meio de aquisições ou
incorporações. Esse processo de concentração de capital, inerente ao capitalismo, é responsável pela formação de
oligopólios, isto é, grupos reduzidos de empresas que dominam certos setores do mercado.
Com a globalização, a economia mundial torna-se cada vez mais oligopolizada, em que grupos de empresas
multinacionais gigantescas controlam fatias ou segmentos importantes do mercado internacional. No atual momento
da evolução capitalista, a competição assume a forma moderna de concorrência, que admite, até mesmo, alianças
estratégicas entre empresas para conquistar o mercado.
Embora “modernizada”, a competição entre as empresas multinacionais não desaparece, pois competitividade é o
motor principal da globalização. Para alcançar maior produtividade e lucro, fatores indispensáveis a novos
investimentos, é comum a fusão de duas ou mais empresas, geralmente de grande porte, para formar outra empresa
de maior dimensão e alcance no mercado mundial.
Essas fusões podem ocorrer entre empresas do mesmo ramo ou de ramos afins (por exemplo: entretenimento e
rede de televisão). As fusões são menos frequentes entre empresas de ramos ou de setores distintos. Nesse caso, é
mais comum ocorrer aquisição ou incorporação, como a compra de uma indústria por um banco.
A quase totalidade dos investimentos diretos realizados nos países desenvolvidos destina-se a incorporações e
fusões de empresas. Nos países em desenvolvimento ou emergentes, os investimentos produtivos estrangeiros são
dirigidos basicamente para a compra ou aquisição de empresas públicas ou privadas.
Integrado na economia global, o Brasil é parte do espaço onde ocorrem os processos de concentração de capital.
No país em que vivemos, os diversos segmentos do mercado tendem a ser oligopolistas, controlados por poucas
mas grandes empresas, quer sejam multinacionais, quer sejam estrangeiras associadas ao capital nacional. No
Brasil, os oligopólios estão presentes no setor automobilístico, de equipamentos de informática e de
telecomunicações, entre outros.

< imagem >
PO L I C Y M I C

Ao fazer compras no supermercado, por exemplo, encontramos centenas de marcas e temos a impressão de que muitas empresas diferentes são
concorrentes. Contudo, diversas marcas existentes pertencem ao mesmo grupo empresarial, formando um verdadeiro oligopólio. A imagem ao lado
mostra as dez corporações que controlam a maior parte dos produtos industrializados consumidos no mundo.

O Brasil e o mercado global
A competitividade de um país costuma ser aferida de várias formas. Uma delas é o risco-país, expressão
muito utilizada pela mídia quando o assunto é economia. O nome completo desse indicador econômico é
Emerging Markets Bond Index Plus (EMBI+). Criado pelo banco JP Morgan, o índice indica o grau de perigo
que cada país emergente representa para o investidor aplicar seu dinheiro. Em outras palavras, ele indica quanto
o investidor deveria ganhar a mais para compensar o risco de investir em determinado país e serve como
medida comparativa para avaliar as opções menos “perigosas”. Assim, quanto menor o risco, maior a
capacidade do país para atrair investidores.

País emergente: é assim chamado o país em desenvolvimento que se destaca não só pelo crescimento da economia e pela participação no mercado mundial, mas
também por sua influência política regional e mesmo global, bem como por seus avanços na melhoria da qualidade de vida da população. Como exemplo, pode--se
citar: Rússia, África do Sul, Índia, Brasil, México, entre outros.

Para medir o risco-país, o JP Morgan observa vários indicadores econômicos e sociais dos países emergentes,
como o crescimento da economia, a solidez das instituições, etc. Com base nisso, atribui uma pontuação periódica.

Quando um país apresenta risco baixo, cerca de 100 pontos, abre as portas para investimentos estrangeiros mais
sólidos.
Para atrair investimentos diretos e obter financiamentos externos, um país precisa oferecer alguma segurança, isto
é, apresentar uma expectativa sólida de que o capital investido retorne ampliado de alguma forma. Estabilidade
política e econômica, equilíbrio das finanças públicas, investimentos em infraestrutura, em tecnologia e em
capacitação da força de trabalho são algumas variáveis que entram na definição do risco que um país representa ao
capital internacional.
O fator que mais pesa na classificação de risco do Brasil é a dívida pública, muito elevada em relação às
receitas que o país tem a receber em dólar, provenientes das exportações. No início do século XXI, por exemplo, o
Chile e o México, dois concorrentes latino-americanos, figuravam na frente do Brasil em matéria de risco e, em
consequência, ofereciam maior atração para o capital estrangeiro.
Quanto aos preços, considerados fator decisivo da competitividade, cabe esclarecer que eles dependem dos
custos de produção, acrescidos do lucro das empresas, indispensável a novos investimentos. No Brasil, as
empresas são oneradas com despesas adicionais ou exageradas, representadas por uma pesada carga
tributária (muitos impostos e taxas) e por encargos trabalhistas (FGTS, INSS, etc.) que aumentam as despesas
com mão de obra.
Além disso, os exportadores brasileiros estão submetidos a elevadas despesas portuárias, que encarecem
ainda mais o preço final dos produtos vendidos ao exterior. O projeto de modernização dos portos e o processo de
privatização do direito de exploração das operações de embarque e desembarque têm sido insuficientes para
provocar redução significativa de despesas. As tarifas do porto de Santos, por exemplo, são em média quatro
vezes maiores que as dos principais portos mundiais.
A incidência de despesas adicionais ou exageradas caracteriza o denominado custo Brasil, que compromete a
competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional.

Brasil: risco-país (2001-2015)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: BANCO Central do Brasil. Risco-país: com inf ormações até março de 2015. p. 7. Disponív el em: <http://www4.bcb.gov .br/pec/gci/port/focus/faq%209-
risco%20pa%C3%ADs.pdf >. Acesso em: 28 set. 2015.

Fluxo do comércio brasileiro
A partir da década de 1980, com o avanço da industrialização em diversos países menos desenvolvidos e a
consequente alteração na divisão internacional do trabalho, várias empresas brasileiras aumentaram
substancialmente as exportações de produtos manufaturados, principalmente aqueles de médio
desenvolvimento tecnológico, como têxteis e calçados, que, na década de 1990, ainda utilizavam mão de obra
relativamente barata. Atualmente, essa vantagem, altamente questionável do ponto de vista social, desapareceu
diante do avanço tecnológico de empresas europeias, como as da Itália, ou sobretudo em face de países
concorrentes onde os salários são ainda mais baixos, como a China. Como indica o gráfico ao lado,
aproximadamente metade das vendas do Brasil ao estrangeiro é, na atualidade, composta de produtos
industrializados.
Vale ressaltar que as commodities também compõem grande parte das exportações brasileiras, ou seja, granéis
cuja competitividade depende mais do acesso à matéria-prima que de conhecimentos tecnológicos, como óleo de
soja, suco de laranja, celulose e alumínio (extraído da bauxita). Na tabela ao lado, observe os produtos mais
exportados pelo Brasil em 2013.
Entre as importações brasileiras, têm destaque o petróleo e seus derivados, circuitos eletrônicos e peças para
veículos. Grande parte dessas importações é feita por subsidiárias de empresas multinacionais, o que revela o
grau de inserção do país na economia mundial. As tabelas abaixo indicam os produtos mais importados pelo
Brasil e as principais origens das importações.
Brasil: principais produtos importados (2013)
Produtos
Matérias-primas e intermediários
Bens de capital
Combustíveis e lubrificantes: petróleo
Bens de consumo duráveis
Bens de consumo não duráveis

Em milhões de dólares
106,5
51,6
24,1
22,2
18,7

Fonte: MINISTÉRIO do Desenv olv imento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Balança comercial brasileira 2013.


Brasil: exportação (2014)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Elaborado com base em MINISTÉRIO do Desenv olv imento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Secretaria de Comércio Exterior. Departamento de Estatística e
Apoio à Exportação. Disponív el em: <http://sistemas.mre.gov.br/kitweb/datafiles/Berlim/pt-br/file/balan%C3%A7a%20comercial%20brasileira%202014.pdf >. Acesso em:
11 dez. 2015.

Brasil: produtos mais exportados (2013)
Produtos
Soja em grão
Farelo de soja
Carne bovina
Milho
Automóveis
Celulose
Couro
Veículos de carga
Minério de cobre

Em bilhões de dólares
22,8
6,7
6,6
6,2
5,4
5,1
2,4
2,2
1,8
Fonte: MINISTÉRIO do Desenv olv imento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Balança comercial brasileira 2013.



Brasil: origem das principais importações (2013)
País
China
Estados Unidos
Argentina
Alemanha
Nigéria

Em bilhões de dólares
37,3
36,0
16,1
15,1

9,6
Fonte: MINISTÉRIO do Desenv olv imento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Outras estatísticas de comércio exterior. Disponív el em:
<http://www.desenv olv imento.gov .br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=608>. Acesso em: 28 set. 2015.

Os principais parceiros comerciais do Brasil em 2013 foram os Estados Unidos, a China e a Argentina. Em termos
de blocos regionais, as exportações brasileiras são expressivas para a União Europeia e para o bloco asiático.
Balança comercial
A balança comercial de um país relaciona o valor das exportações – as mercadorias vendidas para outros
países – e das importações – as mercadorias compradas de outros países. O resultado da balança comercial é
obtido subtraindo-se o segundo valor do primeiro. Assim, se um país exporta mais do que importa, o resultado é
positivo e chama-se superavit comercial. Se a situação for inversa, o resultado é negativo e chama-se deficit
comercial.
Na década de 1980, vivendo uma grave crise e com enorme dívida externa, o Brasil fez grande esforço para obter
superavit comerciais, a fim de conseguir dólares necessários ao pagamento dos juros cobrados pelos credores
internacionais. Assim, de 1981 a 1994, a balança comercial do país apresentou uma sucessão de expressivos saldos
favoráveis.
Esse desempenho superavitário, contudo, foi obtido em função de uma política que incluía não só estímulos às
exportações, mas também a redução das importações mediante restrições à compra de produtos estrangeiros. Ao
limitar o ingresso de equipamentos e materiais necessários à modernização do parque produtivo do Brasil, essa
política acabou retardando o avanço tecnológico de muitas empresas brasileiras e, com isso, comprometeu a
competitividade dos produtos nacionais, com inevitáveis reflexos nas exportações do país.
Em 1995, a balança comercial brasileira inverteu-se. A implantação do Plano Real provocou o barateamento dos
produtos estrangeiros, pois o dólar – moeda em que são cotadas as transações internacionais – ficou mais acessível
às empresas brasileiras. Assim, as importações aumentaram, mas as exportações ficaram mais difíceis, em virtude
do elevado valor da moeda nacional. De 1995 a 2000, então, a balança comercial registrou sucessivos deficit.
A pressão cambial, representada pela compressão do valor do dólar, impôs uma desvalorização da moeda
nacional, o que foi feito pelo governo em 1999. A partir de 2001, com a desvalorização do real em relação ao dólar,
que barateou os produtos brasileiros no exterior, a balança comercial brasileira passou a apresentar superavit.
Observe, no gráfico abaixo, a evolução da balança comercial brasileira.

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)
<http://www.mdic.gov.br>. Acesso em: 29 jun. 2017.
O MDIC é responsável por políticas públicas voltadas para o comércio exterior. No site encontram--se dados da balança comercial brasileira, dos principais
produtos importados e exportados pelo país e os maiores parceiros comerciais brasileiros.


Brasil: balança comercial (1980-2014)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: MINISTÉRIO do Desenv olv imento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Estatísticas de comércio exterior.
Disponív el em: <http://www.desenv olv imento.gov .br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=1161>. Acesso em: 28 set. 2015.

Conexões
No Brasil, as privatizações sempre suscitam discussões acaloradas, principalmente em períodos eleitorais. Para alguns,
representam uma saída que desonera o Estado, melhora os serviços, elimina os “cabides de emprego”, etc. Para outros,
as privatizações objetivam apenas lucro, causam desemprego, provocam fuga de recursos para o exterior, etc.
E você, é contra ou a favor das privatizações no país? Leia o texto a seguir, ele vai ajudá-lo a refletir sobre isso. Depois,
responda às questões propostas.

Por que privatizar: uma análise lógica
A ideia da sociedade ter o estado como empresário é antiga, assim como é a ineficiência das empresas estatais.
Não é difícil entender a razão das empresas geridas pelo estado serem tão ineficientes: faltam-lhes os incentivos
adequados. Por outro lado, para poderem sobreviver e prosperar, as empresas privadas precisam oferecer bons
produtos ao mercado fazendo com que a satisfação do consumidor seja a prioridade. Além de focar nos clientes, a
empresa privada prioriza o retorno sobre o investimento e a necessidade de operar com eficiência.
O mesmo não acontece em empresas estatais. Por vezes, o objetivo das empresas controladas pelo governo não
é prestar o melhor serviço ao consumidor. Para garantir a sua prosperidade precisa atender aos interesses políticos
dos burocratas. [...] Isso reforça a necessidade de atender aos objetivos dos políticos que controlam o orçamento do
estado.
Acionistas privados têm o longo prazo como foco nas empresas, já que seu patrimônio depende diretamente de
seus investimentos gerarem retorno ao longo do tempo. O horizonte de futuro que um político enxerga são as
próximas eleições. Políticos pilham as estatais e loteiam seus cargos diretivos como ativos a serem trocados por
favores com outros homens públicos.
Para os que ainda não se convenceram, trago os gargalos da economia brasileira para o conjunto da análise. O
que eles têm em comum com a razão de privatizar? São exatamente os setores dominados pelo estado: os
aeroportos, as estradas, os portos e as poucas ferrovias.
Apenas lembremos como as privatizações dos anos 1990 foram cruciais para o avanço do Brasil. Reduzir a
participação do estado em setores como o de telecomunicações gerou mais empregos, riquezas e, pasmem, mais
impostos. Privatizar não é feio, ruim e nem mesmo pecado. É crucial para garantir o bom desempenho, o serviço de
qualidade aos consumidores e [a] competitividade para as empresas brasileiras. Mais importante, limita o estado para
focar nas suas funções básicas.
JARRO, Mateus. Por que priv atizar: uma análise lógica. Jornal do Comércio, 28 jul. 2015. Disponív el em: <http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=203545>. Acesso
em: 15 mar. 2016.

< imagem >
AG Ê N C I A O GL O B O / M A R C O S AL V E S
Grupo comemora compra do aeroporto de Guarulhos na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), em 2012.

Responda no caderno
1. Anote no caderno dois argumentos citados no texto a favor das privatizações. Você concorda com eles? Justifique.
2. Em sua opinião, o processo de privatização é benéfico para o país? Por quê?
3. Em alguns estados brasileiros, a distribuição e o abastecimento de água são responsabilidade de empresas privadas. No
entanto, em 2015, diversos estados do Centro-Sul do país sofreram com a falta de água nas torneiras. Em sua opinião, a
privatização sempre é a melhor solução? Por quê?

Pensando bem
Respo nd a no caderno
1. Leia o texto abaixo e observe o gráfico a seguir. Depois, responda às questões.

Conexão para todos
A inclusão digital pode ser medida de três formas: pelo uso da telefonia (fixa ou celular), pela utilização de computadores e pela
conexão dos computadores à internet. “Como a internet depende do uso do computador e da telecomunicação (telefonia ou
cabeamento de dados), entende-se que o acesso à internet é a culminância da inclusão digital”, diz Alcimar Queiroz, pesquisador
da USP [Universidade de São Paulo]. […]
O futuro aponta uma distribuição que perpetua a concentração de população e renda já existente no Brasil, pois o acesso
continuará sendo maior em torno do eixo centro-sul do país e menor em direção ao norte-nordeste. Mas o litoral do Nordeste
tende a se tornar mais conectado também, inclusive com infraestrutura de cabeamento interligando as capitais litorâneas
nordestinas ao eixo centro-sul. Também as franjas da Amazônia, aos poucos, vão se integrando à infraestrutura já estabelecida,
acompanhando a expansão populacional e desenvolvimentista que pressiona as margens da floresta.

ALMANAQUE Abril 2008. São Paulo: Abril, 2008. p. 180.

Brasil: internet banda larga nos domicílios (2013)
< gráfico >

Fonte: IBGE. Acesso à internet e à telev isão e posse de telef one móv el celular para uso pessoal – 2013. In: Pesquisa Nacional por amostra de domicílios. Rio de
Janeiro, 2015. Disponív el em: <http://biblioteca.ibge.gov .br/visualizacao/liv ros/liv93373.pdf >. Acesso em: 11 dez. 2015.
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
a) Como se pode medir a inclusão digital?
b) Onde está a maior concentração de domicílios com acesso à internet banda larga fixa? E a banda larga móvel?

2. Você sabe o que são commodities e qual é a sua importância para a economia de um país? Leia os textos a seguir.

Commodities
Commodity é um termo de língua inglesa (plural commodities), que significa mercadoria. É utilizado nas transações
comerciais de produtos de origem primária nas bolsas de mercadorias.
O termo é usado como referência aos produtos de base em estado bruto (matérias-primas) ou com pequeno grau
de industrialização, de qualidade quase uniforme, produzidos em grandes quantidades e por diferentes produtores.
Estes produtos “in natura”, cultivados ou de extração mineral, podem ser estocados por determinado período sem
perda significativa de qualidade. Possuem cotação e negociabilidade globais, utilizando bolsas de mercadorias.
MINISTÉRIO do Desenv olv imento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Exportações de commodities.
Disponív el em: <http://www.mdic.gov .br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=1955&ref r=608>. Acesso em: 6 out. 2015.

Balança comercial tem melhor setembro desde 2011
A balança comercial brasileira registrou superávit de 2,944 bilhões de dólares em setembro [de 2015], melhor
marca para o mês em quatro anos, consolidando uma das poucas frentes em que o país tem registrado dados
positivos.
O resultado veio acima da expectativa de 2,4 bilhões de dólares apontada em pesquisa Reuters com economistas,
ajudando o superávit no acumulado do ano a alcançar 10,246 bilhões de dólares, o mais alto para o período de janeiro a
setembro desde 2012, quando o saldo ficou positivo em 15,695 bilhões de dólares.
O desempenho, contudo, segue refletindo a deterioração econômica, com as importações recuando mais do que
as exportações. [...]
Respondendo a essa dinâmica mas também à expressiva derrocada no preço do petróleo, a conta de petróleo e
derivados ficou negativa nos primeiros nove meses do ano em 3,555 bilhões de dólares, expressiva redução ante o
déficit de 12,884 bilhões de dólares de janeiro a setembro de 2014.
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, estimou que o superávit no ano
chegará a cerca de 15 bilhões de dólares, ante estimativa anterior de saldo positivo de 12 bilhões de dólares.
A balança comercial no azul vem diminuindo o déficit brasileiro em conta corrente, apesar da vertiginosa queda de
preços de importantes commodities para a pauta comercial brasileira continuar ofuscando o aumento dos volumes
exportados. Foi o que aconteceu em setembro com o minério de ferro e o farelo de soja que, apesar do aumento dos
volumes embarcados, os valores arrecadados em dólares recuaram 40,4 por cento e 23,7 por cento, respectivamente, na
comparação com igual mês do ano passado. [...]
AY RES, Marcela. Exame.com, 1
o
out. 2015. Economia. Disponív el em: <http://exame.abril.com.br/economia/
noticias/balanca-comercial-tem-melhor-setembro-desde-2011>. Acesso em: 6 out. 2015.

a) O que são commodities? Dê exemplos.
b) Em setembro de 2015, qual foi o resultado da balança comercial brasileira?
c) Em relação apenas ao petróleo e derivados, qual foi o resultado da balança comercial nos primeiros nove meses de 2015?
d) Qual é a relação das commodities com o nível de desenvolvimento de um país e seu comércio exterior?

3. Enem (2010) Os meios de comunicação funcionam como um elo entre os diferentes segmentos de uma sociedade. Nas últimas
décadas, acompanhamos a inserção de um novo meio de comunicação que supera em muito outros já existentes, visto que
pode contribuir para a democratização da vida social e política da sociedade à medida que possibilita a instituição de
mecanismos eletrônicos para a efetiva participação política e disseminação de informações.
Constitui o exemplo mais expressivo desse novo conjunto de redes informacionais a
a) Internet. b) fibra óptica. c) TV digital. d) telefonia móvel. e) portabilidade telefônica.
4. Enem (2012) A soma do tempo gasto por todos os navios de carga na espera para atracar no porto de Santos é igual a 11 anos
– isso, contando somente o intervalo de janeiro a outubro de 2011. O problema não foi registrado somente neste ano. Desde
2006 a perda de tempo supera uma década.
Folha de S.Paulo, 25 dez. 2011 (adaptado).

A situação descrita gera consequências em cadeia, tanto para a produção quanto para o transporte. No que se refere à
territorialização da produção no Brasil contemporâneo, uma dessas consequências é a
a) realocação das exportações para o modal aéreo em função da rapidez.
b) dispersão dos serviços financeiros em função da busca de novos pontos de importação.
c) redução da exportação de gêneros agrícolas em função da dificuldade para o escoamento.
d) priorização do comércio com países vizinhos em função da existência de fronteiras terrestres.
e) estagnação da indústria de alta tecnologia em função da concentração de investimentos na infraestrutura de circulação.

Desafios & debates
Em grupo

Celulares, jogos eletrônicos, computadores, roupas, automóveis... Centenas de contêineres chegam diariamente aos portos
brasileiros carregados de produtos estadunidenses, indianos, vietnamitas, japoneses e de outras nacionalidades. Uma incrível
variedade de itens enche as prateleiras de lojas e supermercados localizados nos mais distantes rincões do vasto território do
Brasil. Sacolas de plástico, bandejas de isopor, caixas de papelão e de outros materiais embalam os produtos e viram lixo em
poucos minutos. Você já pensou sobre isso?
É bom lembrar que a maioria dos produtos e embalagens que consumimos faz parte do gigantesco fluxo de
comércio internacional do qual o Brasil é integrante. Esse circuito global de produção e consumo é alimentado por
recursos naturais nem sempre renováveis. Estudos indicam que precisaremos de 4,5 planetas se continuarmos nos
padrões de consumo atuais.
O desafio proposto nesta seção é desenvolver uma campanha de consumo consciente. A ideia é estimular você a
refletir sobre o que consome e sobre o que descarta no dia a dia. Para começar, leia o texto a seguir e, depois, com
os colegas, faça o que se pede.

12 princípios do consumidor consciente

1
Planeje suas compras. Não seja impulsivo nas compras. A impulsividade é inimiga do consumo consciente.
Planeje antecipadamente e, com isso, compre menos e melhor.
< imagem >

2
Avalie os impactos de seu consumo. Leve em consideração o meio ambiente e a sociedade em suas escolhas de
consumo.
< imagem >

3
Consuma apenas o necessário. Reflita sobre suas reais necessidades e procure viver com menos.
< imagem >

4
Reutilize produtos e embalagens. Não compre outra vez o que você pode consertar, transformar e reutilizar.
< imagem >

5
Separe seu lixo. Recicle e contribua para a economia de recursos naturais, a redução da degradação ambiental
e a geração de empregos.
< imagem >
Fotoarena/Lucas Lacaz Ruiz

< imagem >
IL U S T R A Ç Õ E S : SH U T T E R S T O C K / A L E X KA P L U N

Em muitas localidades do Brasil, existem cooperativas de reciclagem, onde o lixo aproveitável é separado de acordo com o tipo de material. Após essa
separação, os itens são enviados para a reciclagem propriamente dita e se tornam novos produtos. Na foto, separação de materiais recicláveis em São José

dos Campos (SP), em 2012.

6
Use crédito conscientemente. Pense bem se o que você vai comprar a crédito não pode esperar e esteja certo de
que poderá pagar as prestações.
< imagem >

7
Conheça e valorize as práticas de responsabilidade social das empresas. Em suas escolhas de consumo, não olhe
apenas preço e qualidade. Valorize as empresas em função de sua responsabilidade para com os funcionários, a
sociedade e o meio ambiente.
< imagem >

8
Não compre produtos piratas ou contrabandeados. Compre sempre do comércio legalizado e, dessa forma, contribua
para gerar empregos estáveis e para combater o crime organizado e a violência.
< imagem >

9
Contribua para a melhoria de produtos e serviços. Adote uma postura ativa. Envie às empresas sugestões e
críticas construtivas sobre seus produtos/serviços.
< imagem >

10
Divulgue o consumo consciente. Seja um militante da causa: sensibilize outros consumidores e dissemine
informações, valores e práticas do consumo consciente. Monte grupos para mobilizar seus familiares, amigos e
pessoas mais próximas.
< imagem >

11
Cobre dos políticos. Exija de partidos, candidatos e governantes propostas e ações que viabilizem e aprofundem
a prática do consumo consciente.
< imagem >

12

Reflita sobre seus valores. Avalie constantemente os princípios que guiam suas escolhas e seus hábitos.
< imagem >

IL U S T R A Ç Õ E S : SH U T T E R S T O C K / A L E X KA P L U N
Fonte: INSTITUTO Akatu. 12 princípios do consumidor consciente. Disponív el em:
<http://www.akatu.org.br/Content/Akatu/Arquiv os/file/NOV-AKATU-VALEq_4_Fold.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2015.

1. Na opinião do grupo, o que significa consumo consciente?
2. Quais são os impactos causados pelo elevado grau de consumo da população?
3. Com base nos 12 princípios do consumidor consciente, elaborem uma campanha na escola para divulgá-los. O objetivo é
compartilhar essas informações com toda a comunidade escolar. Para fazer a campanha, sigam as instruções abaixo:
a) Sob orientação do professor, cada grupo deve escolher 3 ou 4 princípios para divulgar.
b) Elaborem folhetos, cartazes ou murais com imagens que ilustrem esses princípios e divulguem-nos na escola.
c) Conversem com os colegas de outras turmas e com funcionários da escola sobre o consumo consciente e expliquem a eles a
importância de reduzirmos a quantidade de produtos consumidos.
Em debate

Após a realização da campanha, formem uma roda de conversa na sala de aula e discutam a seguinte questão:

Por que o consumo consciente é importante no lugar onde vivemos?


unidade
2
Brasil: paisagens naturais e ação da
sociedade
País de dimensões continentais, o Brasil é campeão mundial de biodiversidade. Para se ter uma
ideia, de cada cinco espécies de animais e vegetais conhecidas, uma encontra-se aqui.
No entanto, no decorrer de sua história, sobretudo nas últimas décadas, o país vem assistindo, de
maneira quase impassível, à deterioração de seus ambientes naturais como fruto das
interferências humanas.
Geologicamente, como se deu a formação do espaço natural brasileiro? Qual é a situação atual
das formações vegetais primitivas desse território?
Nesta unidade, você vai aprofundar seus conhecimentos sobre as dinâmicas da natureza no Brasil
e também vai refletir a respeito da necessidade de cuidar dos patrimônios naturais.

< imagem >
Fabio Colombini/Acervo do fotógrafo
Moradia de população ribeirinha no Parque Ecológico do Janauary, em Manaus (AM), em 2014.

Um primeiro olhas
Todos os que se iniciam no conhecimento das ciências da natureza – mais cedo ou mais tarde, por um caminho ou
outro – atingem a ideia de que a paisagem é sempre uma herança. Na verdade, ela é uma herança em todo o sentido
da palavra: herança de processos fisiográficos e biológicos e patrimônio coletivo dos povos que historicamente os
herdaram como território de atuação de suas comunidades.
AB’SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas.
São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. p. 9.

▸ Segundo o geógrafo Aziz Ab’Sáber, por que a paisagem pode ser considerada uma herança?
▸ O que você sabe sobre a situação atual da Amazônia?
▸ Em sua opinião, o que pode ser feito para garantir a utilização não predatória das paisagens naturais brasileiras?




capítulo
4
Geologia, relevo e águas do Brasil
P U LS A R I MA G EN S /JO Ã O P RU D EN TE
Vista aérea de jazida em exploração de minério de ferro em Itabira (MG), 2014.

Para compreender as características do espaço natural brasileiro, bem como os processos que lhe deram origem,
é necessário primeiramente conhecer o substrato litosférico do território nacional, ou seja, a parte exterior da crosta
terrestre sobre a qual o Brasil se localiza.
A camada sólida da Terra, com poucas dezenas de quilômetros de espessura, é formada por imensos blocos
rochosos, encaixados uns nos outros, tal qual as peças de um quebra-cabeça depois de montado. Esses blocos são
chamados de placas tectônicas e se deslocam lentamente devido a pressões exercidas pelo magma (massa interior
fundida), sobre o qual flutuam.
As faixas de contato entre placas em colisão sofreram, há dezenas de milhões de anos, movimentos orogênicos
(oros = montanhas; genes = origem), isto é, de formação de grandes montanhas, mediante a ocorrência de dobras,
fraturas e soerguimento das rochas atingidas. É o caso da cordilheira dos Andes, por exemplo. Ainda hoje, as zonas
de contato entre as placas estão sujeitas a terremotos e erupções vulcânicas. Isso acontece com menos frequência
no interior das placas, onde a estrutura rochosa, por ser muito antiga, permanece em relativa estabilidade.
O território brasileiro está localizado na área central de uma dessas placas, a placa Sul-Americana. Por isso, não
há vulcões ativos nem tremores de terra violentos, como acontece, por exemplo, nos países andinos.

Arcabouço geológico brasileiro
Como vimos, o Brasil está situado na placa Sul-Americana e ocupa parte considerável dela, apresentando
basicamente dois tipos de estruturas geológicas: os escudos cristalinos, que constituem 36% do território, e as bacias
sedimentares, alojadas sobre eles, as quais abrangem cerca de 64% da área do país.

Escudos cristalinos
Gerados há milhões de anos, os escudos cristalinos (ou maciços antigos) correspondem aos primeiros núcleos de
rochas que se originaram da solidificação de materiais magmáticos desde o início da formação da crosta terrestre.
Os escudos cristalinos brasileiros mais antigos se formaram na Era Arqueozoica. Eles não sofreram tectonismo
orogênico desde o final dessa era, há cerca de 2,5 bilhões de anos. Constituídos por rochas magmáticas intrusivas
(como o granito) e metamórficas (como o gnaisse) muito antigas, correspondem a 32% das áreas de escudos
cristalinos e são também chamados de áreas cratônicas ou crátons. Desde a Era Pré-Cambriana, os terrenos
arqueozoicos estão sujeitos a intensos processos de erosão; daí o predomínio de formas arredondadas no relevo
brasileiro.
Os 4% restantes de escudos cristalinos brasileiros formaram-se na Era Proterozoica e são constituídos,
principalmente, de rochas metamórficas. Ao contrário dos escudos arqueozoicos, têm grande importância econômica.
As jazidas de ferro do Quadrilátero Ferrífero (MG), da serra dos Carajás (PA) e do maciço de Urucum (MS) localizam-
se nessas áreas cristalinas.
Em síntese, podem-se dividir os escudos cristalinos brasileiros em dois blocos: escudo das Guianas e escudo
Brasileiro. Esse último está subdividido em vários núcleos: Sul-Amazônico, Atlântico, Goiano, Nordestino, Sul-Rio-
Grandense, Bolívio-Mato-Grossense e Gurupi.
Observe, no mapa ao lado, a localização geográfica do escudo das Guianas, do escudo Brasileiro e das
principais jazidas minerais do território brasileiro em áreas cristalinas. A formação das principais jazidas de
minerais metálicos deu-se com a formação dos escudos cristalinos.

Brasil: estrutura geológica e recursos minerais
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de CUNHA, Sandra Baptista da; GUERRA,
Antônio José Teixeira (Org.). Geomorfologia do Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. p. 18.


Texto & contexto
1. O Brasil apresenta estabilidade geológica e sente pouco os efeitos de terremotos e vulcanismos. Explique por que isso
acontece.
2. De acordo com o mapa acima, quais são as principais reservas minerais presentes no estado onde você vive?

Bacias sedimentares
As bacias sedimentares ocupam 64% do território brasileiro. Essas grandes depressões na crosta foram, ao longo do
tempo geológico, preenchidas por sedimentos de várias origens (fragmentos minerais de rochas erodidas, restos de
animais, fragmentos de conchas, de ossos, etc.).
Quanto à extensão, as maiores bacias sedimentares brasileiras são: Amazônica, Meio-Norte, São-Franciscana,
Pantanal Mato-Grossense, Paranaica e Central. As bacias sedimentares do Recôncavo Baiano, de São Paulo e de
Curitiba são as de menor extensão. Com relação à idade, o território brasileiro apresenta bacias antigas, formadas na
era Paleozoica (como a São-Franciscana e a Paranaica), e recentes, formadas nos períodos Terciário (Central) e
Quaternário (Amazônica e do Pantanal Mato-Grossense).
A bacia Amazônica destaca-se pela imensa área que ocupa entre o escudo das Guianas e a porção central do
escudo Brasileiro. Com mais de 200 quilômetros de largura e área total aproximada de 1,2 milhão de quilômetros
quadrados, apresenta sedimentos cuja origem remonta a diferentes eras geológicas. Nas bordas norte e sul da grande
bacia, afloram, por exemplo, sedimentos muito antigos depositados na era Paleozoica. Já em sua parte ocidental, estão
os sedimentos mais recentes do Holoceno, ainda não consolidados totalmente.
É nas bacias sedimentares que estão duas importantes riquezas minerais do Brasil: o petróleo e o carvão (este
último, no sul do país). Também é nos terrenos sedimentares que há grande variedade de registros fósseis, de pelo
menos 500 milhões de anos. Observe, no mapa da página anterior, a localização das bacias sedimentares
brasileiras.

Subsolo brasileiro: recursos minerais
O Brasil possui grande extensão territorial e sua estrutura geológica contém tanto áreas cristalinas quanto bacias
sedimentares. Por isso, é natural que seja um dos países com maior potencial mineral do mundo ao lado de Rússia,

Estados Unidos, Canadá, China e Austrália. Os principais minerais encontrados no subsolo do país são bauxita,
cobre, estanho, ferro, manganês, níquel, ouro, potássio e zinco.
A produção mineral brasileira tem aumentado desde o final da década de 1990, em função do crescimento de
investimentos externos no setor. Isso foi possível principalmente a partir de 1995, quando uma emenda constitucional
eliminou várias restrições impostas à aplicação de capital estrangeiro, que vigoravam desde a Constituição de 1988.
Assim, várias multinacionais adquiriram o controle ou associaram-se a empresas estatais nacionais, injetando recursos
financeiros na atividade mineradora.
Segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), em 2013, os produtos minerais corresponderam
a cerca de 21% do total das exportações brasileiras, e os combustíveis e lubrificantes, a cerca de 7%. Observe, no
gráfico ao lado, os principais minerais exportados pelo setor.
De acordo com a Constituição brasileira, é obrigatória a recomposição dos solos e da cobertura vegetal de áreas em
que a mineração é praticada, qualquer que seja o tipo de minério extraído. Assim, todo rejeito sólido, não biodegradável
e estranho à biosfera como resultado das atividades mineradoras deve receber cuidados que o isolem dos seres vivos e
do ecossistema original de onde foi extraído. No entanto, nem sempre a legislação é cumprida com rigor e não há
fiscalização efetiva por parte dos órgãos competentes para coibir a degradação ambiental provocada pela exploração
de minérios.
Em 2015, ocorreu em Mariana (MG) o rompimento de uma barragem de rejeito de uma grande mineradora, o
que causou o maior desastre ambiental já ocorrido no país, além de enormes danos humanos e materiais.

Ministério de Minas e Energia (MME)
<http://www.mme.gov.br>. Acesso em: 15 out. 2015.
Página do ministério brasileiro voltado para a mineração e a energia do país. Apresenta dados e publicações, como balanços energéticos, boletins
mensais e relatórios.

Brasil: exportações de minerais (2013)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: BRASIL. Departamento de Produção Mineral. Sumário mineral 2014. Brasília: DNPM, 2014. p. 10. Disponív el em:
<http://www.dnpm.gov .br/dnpm/sumarios/sumario-mineral-2014>.
Acesso em: 12 out. 2015.

Reservas de ferro
A mineração de ferro é a principal atividade extrativa do Brasil. O país tem a quinta maior reserva de minério de
ferro do mundo, com um total estimado de 40 a 50 bilhões de toneladas; em 2013, foi o terceiro maior produtor
mundial, atrás apenas de China e Austrália.
As maiores reservas de ferro estão no Quadrilátero Ferrífero (MG), no maciço de Urucum (MS) e na serra dos Carajás
(PA). Os maiores produtores são Minas Gerais, que responde por mais de dois terços da produção, e o Pará, que participa
com mais de um quarto do total nacional.
Para explorar o minério de ferro na serra dos Carajás, os recursos financeiros vieram de outros países, na forma de
empréstimos, e foram aplicados no projeto Grande Carajás. Obras como a usina hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, a
estrada de ferro Carajás-São Luís, que conecta os estados do Maranhão e do Pará, e o porto Ponta da Madeira, na
capital maranhense, favorecem a exportação não apenas do ferro de Carajás, mas também de manganês e alumínio.
Atualmente, cerca da metade do minério de ferro do Brasil é exportada para a China. Outra parte vai para o Japão,
Coreia do Sul e países da União Europeia. A produção que não é exportada abastece as indústrias siderúrgicas
instaladas no território brasileiro. No maciço de Urucum, por exemplo, grande parte da produção de ferro é destinada
para o mercado interno.
Siderurgia e carvão
Quanto ao beneficiamento do minério de ferro e à produção de aço, a siderurgia brasileira enfrenta algumas
dificuldades, como a reduzida quantidade de carvão para aquecer os altos-fornos de várias usinas siderúrgicas. As
reservas brasileiras de carvão nem sempre são suficientes, e grande parte das que existem não é adequada para a
siderurgia, pois o carvão nacional apresenta certas impurezas, como pirita e cinzas, e tem baixo teor calorífico.
Embora as maiores reservas de carvão mineral estejam no Rio Grande do Sul, o grande produtor nacional é Santa
Catarina. É nesse estado que estão localizadas as jazidas de melhor qualidade; além disso, a área de ocorrência
(próxima à superfície) possibilita a exploração a céu aberto. A zona carbonífera catarinense situa-se no sudeste do
estado e inclui os municípios de Criciúma, Siderópolis, Lauro Müller e Urussanga. O produto é escoado pelo porto de
Imbituba. O carvão rio-grandense é usado na termeletricidade. A formação do carvão no Sul do país deu-se na Era
Paleozoica, quando se formaram as bacias sedimentares antigas.

Além de ser usado como coque metalúrgico em mistura com carvões importados, o carvão mineral brasileiro é
utilizado como fonte energética em usinas termelétricas. No entanto, como sua produção é insuficiente, a solução
preferencial tem sido a importação. Vale lembrar que o uso de carvão vegetal, altamente condenável por estimular o
desmatamento, ainda é uma prática verificada em algumas usinas termelétricas brasileiras.
As produções brasileiras de ferro e de aço têm aumentado. Atualmente, o Brasil é autossuficiente na maioria dos
produtos siderúrgicos, alguns dos quais também são exportados.
O Sudeste é o grande centro da siderurgia no Brasil, pois é onde se concentram grande parte das fontes de
matérias-primas e o maior mercado consumidor do país. Nessa região, estão instaladas a Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN), no estado do Rio de Janeiro, e as Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas).

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / R E N A T A ME L L O
Movimentação de minério de ferro no terminal portuário da Ilha Guaíba, em Itaguaí (RJ), 2014.

Técnico em metalurgia: profissional que pode atuar na indústria metalúrgica em geral, especialmente na siderurgia. É responsável
por acompanhar o processo de transformação e tratamento dos metais. Pode também projetar, planejar e supervisionar todos os
processos.

Produção de manganês
A reserva de manganês do Brasil é a quarta maior do mundo (veja a tabela ao lado), e o país é o quinto maior
produtor, superado apenas por África do Sul, Austrália, China e Gabão. As maiores reservas nacionais estão
localizadas no Pará (serra dos Carajás), no Mato Grosso do Sul (maciço de Urucum) e em Minas Gerais (Quadrilátero
Ferrífero), mas Bahia e Mato Grosso também dispõem desse mineral, essencial para a fabricação de um tipo de aço
pela indústria siderúrgica. Os depósitos de manganês da serra do Navio (AP) estão em grande parte exauridos. No
lugar da serra, hoje resta praticamente um grande buraco.
Durante muitos anos, a maior parte da produção brasileira era obtida no Amapá. Ali operou a Indústria e Comércio de
Minérios S. A. (Icomi), empresa associada à estadunidense Bethlehem Steel Corporation. No início da década de 1950, a
Icomi obteve do governo autorização para explorar a jazida de manganês da serra do Navio por 50 anos, isto é, até 2003.
Praticamente toda a sua produção foi exportada para os Estados Unidos. Entretanto, a empresa encerrou suas atividades
em 1997, anos antes da data prevista, alegando exaustão da jazida. Pouco tempo depois, a Icomi sofreu denúncias de
degradação ambiental por ter armazenado toneladas de resíduo de manganês em tanques que não eram seguros, o que
teria permitido a contaminação de cursos de água que abasteciam a população de áreas próximas à serra do Navio.
Atualmente, restam apenas reservas localizadas a grandes profundidades, cuja extração requer altos investimentos.
O abastecimento do mercado interno é feito principalmente pelas jazidas de Minas Gerais, que fornecem
manganês às siderúrgicas instaladas na região Sudeste.
Atualmente, a produção de manganês da serra de Carajás é destinada ao mercado externo, mas há projetos
para o abastecimento também do mercado nacional.
No maciço de Urucum, a reserva de manganês é considerável, mas a produção é pequena e visa ao mercado
externo, em especial a Argentina e o Paraguai, para onde o minério é levado pelo rio Paraguai, depois de embarcado
no porto de Corumbá. Retome, no mapa da página 79, a localização das reservas de manganês no Brasil.

Mundo: maiores reservas de manganês (2013)
País
África do Sul
Ucrânia
Austrália
Brasil
Índia
China

Reservas (em milhões de toneladas)
150
140
97
50

49
44

Produção de cassiterita e bauxita
O Brasil tem 10% das reservas mundiais de cassiterita, único minério comercializável de estanho, utilizado na
confecção de latas para acondicionar alimentos e bebidas. Segundo o DNPM, o estado do Amazonas é responsável
por 63% da produção nacional e Rondônia, por 26%. O metal é aproveitado internamente e também exportado para
vários países.
Com relação à bauxita, principal minério de alumínio das jazidas do Brasil, o país detém modesta parte das
reservas mundiais conhecidas. Ocupa o sexto lugar em reservas e o terceiro em produção.


Fonte: BRASIL. Departamento de Produção Mineral. Sumário mineral 2014. Brasília: DNPM, 2014.
p. 86. Disponív el em: <http://www.dnpm.gov .br/dnpm/sumarios/sumario-mineral-2014>.
Acesso em: 13 out. 2015.

Produção mundial de cassiterita (2013)
< gráfico >
Edição de arte/arquiv o da editora
Fonte: BRASIL. Departamento de Produção Mineral. Sumário mineral 2014. Brasília: DNPM, 2014. p. 68. Disponív el em:
<http://www.dnpm.gov .br/dnpm/sumarios/sumario-mineral-2014>. Acesso em: 13 out. 2015.

Produção mundial de bauxita (2013)
< gráfico >
Edição de arte/arquiv o da editora
Fonte: BRASIL. Departamento de Produção Mineral. Sumário mineral 2014. Brasília: DNPM, 2014. p. 30. Disponív el em:
<http://www.dnpm.gov .br/dnpm/sumarios/sumario-mineral-2014>. Acesso em: 13 out. 2015.

Ouro brilha em Carajás
As maiores reservas mundiais de ouro localizam-se na Austrália e na África do Sul, mas o Brasil ainda tem
reservas consideráveis em diversos estados, principalmente em Minas Gerais, Goiás, Bahia, Rondônia, Mato
Grosso e Pará.
Minas Gerais é considerado o produtor tradicional e estável, onde, em geral, a exploração é feita de modo
empresarial, com técnicas modernas. Nos demais estados, ao contrário, tem predominado a exploração cíclica ou
migratória: quando uma jazida é descoberta, centenas ou até milhares de pessoas costumam dirigir-se para a
região, empregando-se em mineradoras ou em cooperativas, ou trabalhando como garimpeiros independentes.
Esgotada a jazida, desfaz-se a comunidade formada em torno dela, e muitos trabalhadores costumam voltar à
terra de origem ou partem em busca de novas jazidas.
A exploração do ouro é realizada pelos garimpeiros, geralmente de maneira rudimentar e sem os cuidados
necessários com o ambiente e a própria saúde. O mercúrio, altamente prejudicial, por se acumular no organismo e
causar mutações genéticas, ainda é muito utilizado para separar o ouro da rocha. Primeiro, o garimpeiro lança o
mercúrio na lama recolhida do fundo do rio, para que ele se fixe na rocha que contém ouro. Depois, aquece o bloco
para dissolver o mercúrio, que, ao derreter, retira os resíduos da rocha, deixando o minério puro. A poluição,
portanto, ocorre em vários momentos: no rio, contaminando os peixes; no solo e no ar, em forma de vapores que o
garimpeiro aspira.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / M A R I O FRI E D L A N D E R
Estudos indicam que, a cada ano, as atividades de garimpo chegam a despejar mais de 200 toneladas de mercúrio no ambiente. Na foto, garimpo de ouro em
Pontes e Lacerda (MT), 2015.

Texto & contexto
1. Em que estados se localizam as principais reservas brasileiras de manganês? Qual é o principal destino da produção?
2. Realize uma pesquisa sobre a exploração mineral no estado onde vive e o destino da produção.
3. Em sua opinião, é possível conciliar a exploração mineral com a preservação do meio ambiente no Brasil? Por quê?

Formas do relevo brasileiro
Você viu que os escudos cristalinos e as bacias sedimentares são as principais estruturas que “sustentam” o
território brasileiro. Pode-se dizer que o arcabouço natural do país formou-se em tempos geológicos muito antigos.
Em função disso, o tectonismo (pressões do magma sobre a crosta, sem chegar à superfície) ocorreu em eras
geológicas remotas. Em virtude da predominância de formações geológicas antigas, admite-se que as manifestações
tectônicas estão muito diminuídas sob o território do Brasil.
Como já foi dito, o relevo de determinada área corresponde às formas da superfície terrestre constituídas pela
atuação de agentes internos e esculpidas por agentes ou fatores externos.
As grandes formas atuais do relevo brasileiro foram esculpidas principalmente ao longo do Terciário e no início
do Quaternário, períodos pertencentes à atual Era Cenozoica. Durante o Terciário, enquanto movimentos
orogênicos formavam a cordilheira dos Andes, a placa Sul-Americana era soerguida por epirogênese. Esse
levantamento atingiu desigualmente toda a plataforma. Durante esse processo, ocorreram falhamentos, que formaram
o Vale do Paraíba (entre São Paulo e Rio de Janeiro), por exemplo, e escarpas abruptas, como as da serra do Mar.
No relevo brasileiro, a atividade geológica interna é reduzida e o clima é tipicamente quente e úmido. Os fatores
que mais interferem nesse relevo são os agentes externos (chuvas, ventos, temperatura, rios, etc.) e as atividades
humanas, originando grande variedade morfológica, como serras, planaltos, chapadas, depressões e planícies.

Epirogênese: deslocamento vertical de grandes estruturas, sem dobras ou falhas significativas. Quando o deslocamento é para cima, chama--se soerguimento;
quando é para baixo, subsidência.
Falhamento: termo referente à falha; quando os blocos de rocha fraturados deslizam, deslocando-se um em relação ao outro, surge uma falha ou falhamento.
Paleoclima: clima ocorrido em tempo geológico passado, em determinada área do planeta.


Para compreender essas formas de relevo, devem-se considerar, portanto, a atuação conjunta de todos os
fatores internos (tectonismo, abalos sísmicos e vulcanismo) e a atuação do clima nos diferentes tipos de rocha.
Além disso, é necessário observar a evolução do clima, ou seja, as alterações ocorridas ao longo do tempo
geológico. Portanto, a análise do relevo atual envolve o estudo dos chamados paleoclimas, uma vez que fatores
climáticos do passado contribuem para explicar o modelado atual.
Em geral, as áreas úmidas são caracterizadas por formas de relevo suaves e arredondadas, de topos convexos,
como os pães de açúcar e as meias-laranjas das zonas tropicais, típicas das serras elevadas do Sudeste brasileiro.
O intemperismo, as águas das chuvas e dos rios são os principais modeladores desse relevo.
Já nas áreas áridas, destacam-se as formas abruptas, em razão da desagregação mecânica do material rochoso e
da ação torrencial das chuvas irregulares, características do clima semiárido nordestino, por exemplo.
Além disso, o Brasil tem uma densa rede hidrográfica, o que faz dos rios importantes agentes de erosão (em
formas elevadas) e sedimentação (em planícies).

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / Z I G K O C H
Vista aérea do conjunto Marumbi, na serra do Mar, em Morretes (PR), 2015.

O relevo brasileiro apresenta, de modo geral, altitudes relativamente modestas. Uma exceção é o pico da
Neblina, próximo à fronteira do Amazonas com a Venezuela, com 2 993 metros de altitude. Mais de 99% do território
tem altitudes inferiores a 1 200 metros. Vale lembrar que o predomínio de altitudes relativamente baixas não significa
que o território é formado, predominantemente, por planícies. As altitudes modestas denotam a inexistência de
dobramentos modernos e a atuação de mecanismos do intemperismo e da erosão sobre rochas cristalinas e
sedimentares. Observe o mapa hipsométrico ao lado e os perfis topográficos abaixo.

Brasil: hipsometria
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. 34. ed. São Paulo: Ática, 2013. p. 112.

Brasil: perfil topográfico (oeste-leste)
< imagem >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A

Fonte: Adaptado de SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. 34. ed. São Paulo: Ática, 2013. p. 112.

Brasil: perfil topográfico (noroeste-sudeste)
< imagem >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. 34. ed. São Paulo: Ática, 2013. p. 112.

Classificações do relevo brasileiro
Classificar o relevo implica agrupar suas diferentes formas em compartimentos de acordo com a semelhança de
características externas, com base em determinados critérios. Até meados do século XX, as classificações do relevo
brasileiro prendiam-se basicamente à estrutura geológica, de modo que, muitas vezes, as formas de relevo (unidades
geomorfológicas) eram definidas conforme o tipo de rocha. Tornaram-se comuns, por exemplo, denominações como
planaltos cristalinos e planaltos sedimentares. Mas, como você verá a seguir, estudos de importantes geógrafos
brasileiros mudaram essa visão.
Classificação de Ab’Sáber
A classificação do geógrafo Aziz Nacib Ab’Sáber (década de 1960) foi a primeira a romper, de forma mais
definitiva, com certa confusão existente entre estrutura geológica e relevo. O relevo terrestre modela-se a partir do
contato das rochas que o compõem com a atmosfera.
No mapa abaixo, pode-se perceber que os compartimentos do relevo são divididos basicamente entre
planaltos e planícies, caracterizados como superfícies expostas, respectivamente, a processos erosivos e de
deposição.
O mais significativo dessa classificação é o fato de as unidades receberem denominações regionais, e não
geológicas, sem desconsiderar a importância da litologia (estudo das rochas) para a caracterização de cada uma
delas.
Planaltos de origem sedimentar, como parte do planalto Central e o planalto do Maranhão-Piauí, apresentam
muitas chapadas, pois o desgaste em área sedimentar expõe os vários estratos da rocha, mantendo-se sempre
sua feição tabular. Já as elevadas altitudes do planalto das Guianas, bem como das serras e dos planaltos do
leste-sudeste, são explicadas não apenas pela intensa atividade tectônica passada, sobretudo nas serras do
sudeste, mas também pela presença de rochas cristalinas mais resistentes à erosão.
Examine, no mapa a seguir, a classificação do relevo brasileiro proposta por Ab’Sáber.

Relevo do Brasil: classificação geomorfológica de Ab’Sáber
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de AZEVEDO, Aroldo de (Coord.). Brasil, a terra e o homem. São Paulo: Nacional, 1968. v . 1.

Classificação de Jurandyr Ross
A classificação elaborada pelo geógrafo Jurandyr Luciano Sanches Ross (década de 1990) tem como base os
estudos dos paleoclimas.
Ela é fruto de uma pesquisa realizada com imagens de radar e levantamentos dos recursos naturais efetuados pelo
Projeto Radambrasil, do Ministério das Minas e Energia, desenvolvido de 1970 a 1985. São identificadas quatro
variedades de planaltos (descritas a seguir) e unidades de depressão e de planície.
I. Unidades do planalto: são terrenos antigos, relativamente planos, situados em altitudes mais elevadas em
relação às áreas vizinhas. Há milhares de anos, os planaltos de todo o mundo sofrem processos de destruição, que
superam os de construção.
1. Planaltos em bacias sedimentares: são quase inteiramente circundados por depressões periféricas ou
marginais. Também se caracterizam por apresentar nos contatos (planaltos e depressões) relevos escarpados.
2. Planaltos em intrusões e coberturas residuais de plataforma: formam conjuntos de morros isolados e serras que
indicam intrusões ou blocos de granito que afloram à superfície, intercalados a outros terrenos.
3. Planaltos em cinturões orogênicos: ocorrem nas faixas de orogenia antiga e correspondem a relevos residuais
sustentados por litologias diversas, quase sempre metamórficas associadas a intrusivas. Nesses planaltos, encontram-se
inúmeras serras.
4. Planaltos em núcleos cristalinos arqueados: representados pelo planalto da Borborema, na parte oriental do
Nordeste, e pelo planalto Sul-Rio-Grandense, no sudeste do Rio Grande do Sul. Ambos fazem parte do cinturão

orogênico da faixa atlântica; entretanto, receberam essa denominação por se encontrarem isolados e
corresponderem a segmentos dos dobramentos antigos soerguidos em forma de abóbada.
II. Unidades da depressão: são áreas rebaixadas em relação aos relevos circundantes ou situadas abaixo do
nível do mar (absolutas). Sua origem pode estar ligada a processos de erosão ou a afundamentos provocados
por falhamentos.
III. Unidades da planície: são superfícies mais ou menos planas, de baixa altitude. Geralmente, não ultrapassam 150
metros em relação ao nível do mar. Nelas, os processos de deposição superam os de erosão. No Brasil, predominam as
planícies costeiras e fluviais.
Depressão periférica: faixa de terras rebaixadas que se alongam junto às bordas ou à periferia de um planalto. É formada por terrenos sedimentares que foram
deprimidos por processos erosivos.
Residual: o que restou de numerosas ações internas e externas sobre a litosfera. É importante, nesse caso, observar as transformações sofridas pelas rochas
componentes.

Relevo do Brasil: classificação de Jurandyr Ross
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de ROSS, Jurandy r Luciano Sanches. Os f undamentos da geograf ia da natureza.
In: ______ (Org.). Geografia do Brasil. 5. ed. São Paulo: Edusp, 2005. p. 53.

Águas do Brasil
A rede hidrográfica brasileira é uma das mais densas e caudalosas do mundo, possui cerca de 15% da água
superficial do planeta. Influenciada principalmente por climas úmidos e semiúmidos, é uma rede em que predominam
rios perenes (que nunca secam totalmente), em razão dos elevados índices pluviométricos. No Brasil, a pluviosidade
varia entre 1 000 e 3 000 mm por ano em cerca de 90% do território e chega a atingir 4 000 mm em determinadas
áreas. Assim, são as chuvas que alimentam a maioria dos rios brasileiros, com exceção do Amazonas, que também
recebe a água do derretimento de neve da cordilheira dos Andes. Apenas no Sertão nordestino há rios intermitentes,
isto é, que ficam secos em alguns meses do ano.
Combinadas com o clima, as formas de relevo que você viu anteriormente também interferem na rede
hidrográfica brasileira, em que a maioria dos rios pode ser considerada de planalto. Os pontos mais altos do
relevo brasileiro cumprem o papel de divisores ou dispersores de águas. Entre os divisores, formam-se bacias
de captação nas quais toda a água que escoa pela superfície ou pelo subsolo converge para um mesmo local,
formando várias bacias hidrográficas, que são áreas abrangidas por um rio principal e sua rede de afluentes e
subafluentes.
Em função das elevadas altitudes do oeste da América do Sul (cordilheira dos Andes), todos os rios do território
nacional deságuam no oceano Atlântico. Assim, seu padrão de drenagem é exorreico, ou seja, o destino das águas é
o oceano.

Como cuidar da nossa água
Equipe BE˜I . São Paulo: BE˜I , 2014.
O livro traz informações sobre a água, recurso tão importante para a vida no planeta. São abordados assuntos como saneamento básico, doenças,
geração de energia, poluição e desperdício de água, etc. Além disso, apresenta soluções criativas para o enfrentamento da escassez hídrica.

Regiões hidrográficas do Brasil
Com a finalidade de orientar, fundamentar e estabelecer o Plano Nacional de Recursos Hídricos, o Conselho
Nacional de Recursos Hídricos, ligado ao governo federal, criou, em 2003, a Divisão Hidrográfica Nacional. Assim, o
território brasileiro foi dividido em 12 regiões hidrográficas, com diferentes tamanhos e composições, além de
características naturais, sociais e econômicas mais ou menos similares. Cada região abrange uma bacia hidrográfica
ou um grupo de bacias próximas em que o rio principal flui até o oceano ou país vizinho. No conceito de região
hidrográfica, estão incluídos os biomas, as águas subterrâneas e seus aquíferos, diferentes ecossistemas terrestres,
etc.
Observe, no mapa ao lado, a localização das 12 regiões hidrográficas brasileiras e alguns de seus principais rios.

Brasil: regiões hidrográficas
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de IBGE.
Atlas geográfico escolar. 6. ed.
Rio de Janeiro, 2012. p. 105.

Região hidrográfica Amazônica
Com clima predominantemente equatorial úmido, o rio Amazonas, típico de planície, é o destaque dessa região
hidrográfica. Estudos indicam que o rio começa na área do nevado de Mismi, uma montanha no sul do Peru, e
recebe vários nomes ao longo de seu curso: Marañon, no Peru; Solimões, desde sua entrada no Brasil até o encontro
com o rio Negro; Amazonas, desde o encontro entre Solimões e Negro até a foz, no oceano Atlântico.
Em 2008, o Instituto Nacional de Estudos Espaciais (Inpe), em parceria com entidades brasileiras e internacionais,
concluiu medições com imagens de satélites que indicaram que o rio Amazonas tem 6 992,06 km de extensão;
portanto, é o rio mais extenso do mundo, superando até mesmo o Nilo, com 6 852,15 km.
Em seu longo percurso, o rio Amazonas recebe dezenas de afluentes que também estão entre os mais extensos do
mundo. Entre eles, destacam-
-se: Javari, Juruá, Purus, Madeira, Tapajós e Xingu (margem direita); Japurá, Negro, Trombetas e Jari (margem esquerda).
Em razão do volume de água, as margens do rio Amazonas estão sempre se modificando. Sua largura varia de quatro a
cinco quilômetros, mas pode chegar a dez quilômetros.
A região hidrográfica Amazônica apresenta condições adequadas para a navegação fluvial. Manaus, Rio Branco,
Porto Velho, Macapá, Santarém e Sinop são alguns dos mais importantes centros urbanos da região. Entre os
aspectos considerados relevantes para a proteção dessa região hidrográfica, estão: contenção de queimadas e
desmatamentos; melhorias nas condições de saneamento dos centros urbanos; recuperação de áreas poluídas pelo
garimpo e pela mineração; etc.

Várias hidrelétricas estão localizadas na região hidrográfica Amazônica, como a de Jirau (RO), sobre o rio Madeira. Ela começou a operar parcialmente em
2012 e o seu funcionamento pleno estava previsto para 2016. Na foto, a hidrelétrica ainda em construção, em 2014.

< imagem >
©C R E A T I V E CO M M O N S / P A C / D I V U L G A Ç Ã O / J A N E I R O 20 1 4


Região hidrográfica do Tocantins-Araguaia
Com clima tropical, temperatura média anual de 26 °C e precipitações que aumentam do sul para o norte (média
anual de 1  869 mm), o rio Tocantins e seu grande afluente, o Araguaia, são os destaques dessa região hidrográfica.
Ambos nascem na região Centro-Oeste e tomam o sentido norte, atravessando os estados do Pará e do Tocantins,
até desaguar no oceano Atlântico.
A maior usina hidrelétrica da região é Tucuruí, cuja construção formou um imenso lago artificial que provocou
alterações no ambiente e destruiu parte da fauna e da flora locais. Mesmo assim, ocorre na região uma grande
expansão do turismo relacionado à pesca, principalmente no rio Araguaia. Vale ressaltar que Tucuruí é fundamental na
geração de energia para as regiões Norte e Nordeste.
Como na região hidrográfica Amazônica, a do Tocantins-Araguaia também apresenta queimadas, desmatamentos
e áreas poluídas por fontes difusas (agrotóxicos, adubos, matéria orgânica de matadouros e frigoríficos, etc.).

Narradores de Javé
Direção de Eliane Caffé. Brasil: RioFilme, 2002.
102 minutos.
Os moradores de Javé descobrem que a pequena cidade pode desaparecer sob as águas de uma usina hidrelétrica. Diante disso, resolvem
escrever um documento contando a história da cidade, para justificar sua preservação.

Texto & contexto
1. Que motivos estimularam a criação da Divisão Hidrográfica Nacional?
2. Explique em que consiste uma região hidrográfica.
3. Com base no mapa da página anterior, cite as regiões hidrográficas brasileiras.
4. A que região hidrográfica pertence o município onde você vive?

Região hidrográfica Atlântico Nordeste Ocidental
A região é formada pelas sub-bacias dos rios Gurupi, Mearim, Itapecuru e Munin, que são caudalosos e perenes
em virtude da alta pluviosidade. Assemelham-se a rios amazônicos. Nascem no interior do Maranhão e deságuam no

oceano Atlântico.
O clima da região é quente e úmido, com pouca ou nenhuma restrição de umidade para a vegetação. As sete
unidades que formam essa região hidrográfica têm rios com vazões específicas, que variam entre 4,9 e 21,2 L/s/km².
Na região, há mangues e florestas equatoriais, onde vivem milhões de pessoas. Um dos principais problemas é o
lançamento de esgoto não tratado, sobretudo, na área metropolitana de São Luís. Parcela expressiva dos domicílios
urbanos ainda não dispõe de água tratada.

Região hidrográfica do Parnaíba
O clima predominante é quente, com chuvas de verão e outono, notadamente no litoral e baixo Parnaíba. No sul,
ocorre o clima semiárido, com temperaturas sempre superiores a 18 °C, baixas precipitações médias anuais e má
distribuição das chuvas. Esse clima corresponde às áreas de Caatinga.
Depois do São Francisco, o rio Parnaíba é o mais importante do Nordeste. Percorre extensões semiáridas e pouco
populosas. A pobreza da região revela-se por meio dos elevados índices de mortalidade (se comparados aos de
outras áreas do país) e da pouca oferta de serviços de coleta e tratamento de esgoto. Essa pobreza está associada,
entre outros fatores, à crônica falta de água e à má distribuição das águas superficiais.
Todos os rios da margem direita do Parnaíba – Canindé, Piauí, Poti, etc. – são temporários. Em contraste com os
poucos recursos de águas superficiais, no subsolo da região, localiza-se o aquífero Maranhão.
Nos maiores centros populacionais da região, há sérios problemas ambientais provocados pelo lançamento de
esgoto doméstico nos rios. Na área litorânea (cidade de Parnaíba), esse fato tem afetado as atividades econômicas e
turísticas, além de aumentar a propagação de doenças.

Região hidrográfica Atlântico Nordeste Oriental
Fortaleza, Recife, Maceió, João Pessoa, Natal, Caruaru, Mossoró e Campina Grande são alguns dos grandes
centros urbanos incluídos na região hidrográfica Atlântico Nordeste Oriental, que é 100% brasileira. Os rios Jaguaribe
e Capibaribe abastecem as duas maiores capitais da região, Fortaleza e Recife, respectivamente. Mas há outros
cursos de água menores nessa região hidrográfica.
Por sofrer a influência de diversos fatores, por exemplo, do relevo e da maritimidade, o clima da região é variado:
quente, com chuvas de verão e outono no litoral norte; tropical, com chuvas de inverno no litoral oriental; semiárido
no interior. Em decorrência da intensa radiação solar, a temperatura anual média na região é elevada: 24,5 °C.
Na região, há Floresta Tropical, Caatinga e Cerrado, amplamente destruídos ao longo do processo de povoamento
pela cultura canavieira, pela pecuária e pela extração madeireira. A região também se caracteriza pela sazonalidade
de seus rios, curtos e pouco caudalosos, que secam durante parte do ano.
Nas áreas litorâneas da região, o impacto do esgoto doméstico nos rios causa problemas ambientais, restringindo
o uso para abastecimento e prejudicando as atividades turísticas. A falta de infraestrutura sanitária também
compromete a balneabilidade das praias.

A região hidrográfica Atlântico Nordeste Oriental encontra-se em uma área bastante urbanizada, sobretudo em sua foz. Por conta disso, a poluição de
suas águas é intensa, como se verifica em Recife (PE), junto ao
rio Capibaribe.
Foto de 2015.

< imagem >
FO T OA R E N A / V E E T M A N O PR E M

Região hidrográfica do São Francisco
O estado de Minas Gerais tem 36,8% de seu território inserido na região hidrográfica do São Francisco, junto com
Bahia (48,2%), Pernambuco (10,9%), Alagoas (3%) e Sergipe (1,1%).
Nessa região hidrográfica, destaca-se o rio São Francisco, fundamental para o Nordeste em razão do volume de
água transportado por áreas semiáridas. Com 2 700 quilômetros de extensão, esse rio nasce na serra da Canastra
(MG) e atravessa toda a Bahia no sentido sul-norte, infletindo para leste até alcançar o oceano Atlântico. Ao
atravessar boa parte do Sertão nordestino, o rio tem afluentes temporários, como o Verde Grande e o Salitre. Pela
margem esquerda, recebe afluentes perenes, como o rio Carinhanha e o rio Grande.
Em seu trecho inicial, o São Francisco tem muitas cachoeiras e corredeiras, tornando-se navegável a partir do município
mineiro de Pirapora. Para regularizar o nível das águas do rio e permitir a produção de energia elétrica, foi construída a
represa Três Marias. Assim, tornou-se possível controlar o volume de água nas cheias, e as enchentes e as secas, que

dificultavam o aproveitamento agrícola da região. Itaparica, Paulo Afonso, Moxotó e Xingó são hidrelétricas instaladas no
terço final do curso do rio, responsáveis pelo fornecimento de energia para grande parte do Nordeste.
Em 2015, após sucessivos anos de chuvas escassas nas suas cabeceiras, o volume das águas do São Francisco
diminuiu sensivelmente, comprometendo o tradicional aproveitamento do rio para navegação e pesca, por exemplo.
Não obstante, prosseguiam as obras do grandioso projeto de levar água do rio, através de dutos, para combater os
efeitos das longas estiagens no Sertão nordestino.
Como acontece em outras regiões hidrográficas do país, na do São Francisco também é necessário melhorar as
condições de navegabilidade, racionalizar o uso da água para irrigação, implementar sistemas de tratamento de esgoto e
controle de erosão, etc.


Para saber mais
Final da obra de transposição do Rio São Francisco está prevista para 2017
O estado de Pernambuco é um dos mais castigados pela estiagem no Nordeste. Cento e vinte e seis municípios estão
em situação de emergência por causa da falta de água. A situação é tão complicada que muitos sertanejos não param de
pensar em tentar a vida em outro lugar. Um dos motivos é o atraso nas obras de transposição do rio São Francisco.
O Ministério da Integração Nacional diz que o atraso é culpa da burocracia na escolha das empresas, da adaptação
dos projetos iniciais, coisas que acontecem desde o começo da obra, em 2006.
Parnamirim, no sertão de Pernambuco, já devia ter água, se tudo tivesse dado certo. No local tem seca pesada há
mais de cinco anos. O prefeito se mostra sem esperança.
“Chegamos a uma situação insustentável, a nossa esperança é este ramal da transposição, mas a gente não vê obra,
a gente não vê maquinário; por aqui andaram uns técnicos pra fazer levantamento para desapropriação e parou nisso”,
conta o prefeito Ferdinando Lima.
Os dois principais açudes de Parnamirim estão praticamente secos, com menos de 10% da capacidade, e isso
preocupa muito. Cerca de 25 mil famílias dependem da água armazenada nos reservatórios. [...]
Com os atrasos, tudo na obra vai ficando mais caro. O custo passou de R$ 4,58 bilhões para
R$ 8,2 bilhões e tudo vai ficando cada vez mais desolador. Milhares de hectares de caatinga foram devastados para
construção dos canais. O canal por onde começa a transposição ficou pronto,
mas só pode ser operado quando as bombas começarem a puxar a água e assim melhorar a vida de
12 milhões de pessoas.
O Ministério da Integração Nacional prometeu entregar a obra de transposição do Rio São Francisco em 2017.
Segundo o projeto, moradores de Pernambuco, da Paraíba e do Ceará devem se beneficiar.
ROQUE, Giuliano. Final da obra de transposição do Rio São Francisco está prev ista para 2017. G1, 28 jul. 2015. Disponív el em: <http://g1.globo.com/jornal-
hoje/noticia/2015/07/f inal-da-obra-de-transposicao-do-rio-sao-f rancisco-esta-prev ista-para-2017.html>. Acesso em: 14 out. 2015.

Texto & contexto
1. Explique a importância das regiões hidrográficas que percorrem áreas semiáridas do território brasileiro.
2. De acordo com o texto, “muitos sertanejos não param de pensar em tentar a vida em outro lugar”. Explique por que isso ocorre e
cite algumas medidas que, em sua opinião, poderiam ser adotadas para evitar essa situação.

Região hidrográfica Atlântico Leste
De modo geral, é formada por rios de pequena extensão e com importância local. Alguns são temporários nas
nascentes e perenes junto à foz, como os rios Vaza-Barris, Paraguaçu, das Contas e Pardo.
O destaque dessa região hidrográfica é o rio Jequitinhonha, que nasce no nordeste de Minas Gerais e, antes de
atingir o oceano Atlântico, percorre parte do estado da Bahia.
Com clima quente e úmido e temperatura média anual de 27 °C, a região hidrográfica Atlântico Leste apresenta
possibilidades reduzidas de navegação e atividade pesqueira de subsistência familiar, praticada por populações
ribeirinhas.
O lançamento de esgoto doméstico nos rios causa perdas ambientais e restringe o abastecimento das cidades. O
impacto do esgoto é maior nas áreas litorâneas em virtude da grande população. Os despejos das usinas alcooleiras
(fertilizantes e agrotóxicos) também prejudicam a qualidade das águas dos rios da região.

T ravessia de balsa no rio Jequitinhonha, no município de Botumirim (MG), 2014.
< imagem >

Terrastock/Gerson Sobreira

Região hidrográfica Atlântico Sudeste
Paraíba do Sul, Doce e Ribeira de Iguape são os rios que se destacam nessa região hidrográfica.
O rio Doce nasce nas terras altas de Minas Gerais e vai para o Atlântico, atravessando o estado do Espírito Santo.
Em Minas Gerais, o rio passa pela área mais rica de mineração do país. A estrada de ferro Vitória-Minas, que
transporta o minério de ferro de Minas Gerais para o porto de Tubarão, no Espírito Santo, foi construída no vale
desse rio.
Em 2015, aconteceu um dos maiores desastres ambientais do país, quando, por deficiência de monitoramento e
fiscalização, rompeu-se uma barragem de rejeito de uma grande mineradora que opera no Quadrilátero Ferrífero.
Depois de arrasar povoados e causar perdas humanas, um imenso caudal de lama mineral desceu lentamente pelo
rio Doce até o oceano, provocando danos incalculáveis ao longo do leito fluvial e de suas margens: destruição da
flora e da fauna; suspensão da pesca e da captação de água para o abastecimento de importantes cidades, como
Colatina e Linhares, ambas no Espírito Santo; entre outros.
O rio Paraíba do Sul drena uma área industrial de grande importância ao país. É usado para o abastecimento de
água das indústrias e recebe resíduos produzidos por elas.
Já o rio Ribeira de Iguape nasce no Paraná e percorre o estado de São Paulo até desaguar no Atlântico. Drena
áreas produtoras de chá e de banana.
A alta densidade demográfica, a forte urbanização e a intensa atividade econômica, aliadas à carência de medidas
adequadas de preservação ambiental, ocasionam graves problemas nessa região hidrográfica. Por exemplo: o
lançamento de esgotos domésticos nos rios restringe a captação de água para abastecimento; o desmatamento e o uso
continuado do solo favorecem a erosão, que, por sua vez, causa assoreamento de rios e propicia a ocorrência de
enchentes; o uso abundante de água na mineração, bem como a extração de argila e areia na calha e nas margens de
rios, responde por seguidos danos ambientais e pela degradação da qualidade da água fluvial.



O rio Paraíba do Sul drena uma das mais importantes áreas industriais do país. Na foto, vista aérea do Paraíba do Sul em Barra Mansa (RJ), 2013.
< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / R E N A T A ME L L O

Região hidrográfica Atlântico Sul
Nessa região hidrográfica, destacam-se os rios Itajaí, Jacuí e Camaquã, os quais, em geral, correm em áreas onde
dominavam matas pluviais. O vale do Itajaí concentra importante área industrial de Santa Catarina, porém a
população enfrenta ocasionais problemas com as cheias do rio.
O potencial hidráulico do rio Jacuí é aproveitado por usinas hidrelétricas e seu curso é usado para navegação.
Com o lago Guaíba, no qual deságua, e a laguna dos Patos, constitui importante hidrovia.
As unidades hidrográficas constituídas pelo lago Guaíba e pelas lagunas dos Patos e Mirim, além de outras
menores do litoral norte-rio-grandense e sul-catarinense, estão frequentemente envolvidas em um conflito de
interesses: de um lado, o abastecimento humano; de outro, a utilização de grandes volumes de água para a
rizicultura irrigada.
O problema reside no descompasso que ocorre nos meses de irrigação (dezembro a fevereiro), quando a descarga
hídrica não atende à demanda das lavouras. Essa dessincronia exige disciplinamento do uso da água, por meio de
práticas agrícolas que impliquem um manejo adequado da irrigação e da construção de barragens para a
regularização de vazões no período de maior necessidade hídrica. Além disso, a moderna rizicultura, principalmente
no Rio Grande do Sul, é praticada com farto emprego de insumos químicos, que acabam drenados para os rios, o
que significa fonte de poluição difusa.

Região hidrográfica do Uruguai
Parte dos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul está na região hidrográfica do Uruguai. Com clima
subtropical e chuvas bem distribuídas ao longo do ano, essa região apresenta grande potencial hidrelétrico,
destacando-se as usinas de Barra Grande, Itá, Machadinho e Foz do Chapecó.
Incluída em áreas originalmente de Floresta Tropical e de Pampa, nessa região hidrográfica destaca-se o rio
Uruguai, formado pelos rios Canoas e Pelotas. O rio Uruguai separa o Rio Grande do Sul do estado de Santa

Catarina e da Argentina (observe a foto a seguir).Alguns de seus trechos são navegáveis no Rio Grande do Sul e
seus afluentes são pouco extensos, destacando-se os rios Ijuí, Ibicuí e Quaraí; esse último constitui uma divisa
natural entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai.
No Rio Grande do Sul, a zona regionalmente chamada de fronteira oeste é grande produtora de arroz; a irrigação
é feita, na maior parte, com água retirada do rio Uruguai e de afluentes da margem esquerda. A alta demanda de
água para as lavouras é motivo de frequentes conflitos, porque, na época da irrigação (dezembro a fevereiro), o
volume desviado dos rios é superior às suas descargas hídricas. Na área do Quaraí, brasileiros e rizicultores
uruguaios têm entrado em conflito por causa da captação de água do rio fronteiriço.

< imagem >
©G O O G L E E A R T H / I M A G E © 2 0 1 6 CNE S / A S T R U M

Ponte sobre o rio Uruguai ligando Chapecó (SC), à direita, a Nonoai (RS), à esquerda.
Imagem de 2016.

Texto & contexto
1. Os rios da região hidrográfica Atlântico Leste são afetados por problemas ambientais. Identifique os principais problemas e
explique-os.
2. Qual é a relação entre os principais rios da região hidrográfica Atlântico Sudeste e as indústrias localizadas na região?
3. Escreva um comentário sobre os principais conflitos que envolvem a água nas regiões hidrográficas do Sul do país.

Região hidrográfica do Paraná
Abarca áreas originalmente de Floresta Tropical, incluindo boa parte da Mata Atlântica, e de Cerrado em avançado
estágio de fragmentação.
Nessa região hidrográfica, destaca-se o rio Paraná, que separa as terras do estado paranaense das do Mato Grosso
do Sul e do Paraguai. Seus principais afluentes são os rios Tietê, com expressiva presença nas paisagens paulistas;
Paranapanema, que forma uma divisa natural entre os estados de São Paulo e do Paraná; Ivaí e Iguaçu, onde se
encontram as famosas cataratas do Iguaçu. O rio Paraguai pode ser considerado um afluente do Paraná, formando, com
o rio Uruguai, a bacia Platina, já que todos fluem para o rio da Prata. Vale lembrar que o potencial hidrelétrico do rio
Paraná é aproveitado pela usina binacional de Itaipu, uma das maiores do mundo, construída pelo Brasil e pelo Paraguai.

PU L S A R IM A G E N S / E R N E S T O RE G H R A N
< imagem >
Na foto, vista aérea da usina hidrelétrica de Itaipu em Foz do Iguaçu (PR), 2015.

A maioria dos rios da região hidrográfica do Paraná é muito castigada pelo lançamento de efluentes domésticos nos
reservatórios construídos para abastecimento humano, o que compromete a qualidade da água e restringe seu
aproveitamento. Isso acontece principalmente na região metropolitana de São Paulo (reservatórios Guarapiranga e
Billings), onde também ocorre um problema gerado pela retirada de água do Piracicaba para abastecimento urbano,
causando um deficit hídrico nas cidades ao longo do rio, como Campinas e Piracicaba. Diante dessa situação, impõem-
se a ampliação e o tratamento dos esgotos domésticos nos principais centros urbanos, o que não tem sido feito na
medida necessária.
Também é importante aumentar o tratamento de efluentes industriais antes de serem lançados aos rios. O Tietê,
por exemplo, permanece muito poluído em um extenso trecho do seu curso, a despeito das continuadas, mas
ineficazes, tentativas de despoluição do rio.
Itaipu Binacional
<https://w ww.itaipu.gov.br>. Acesso em: 15 out. 2015.
Apresenta informações sobre a construção de Itaipu, o complexo, seus projetos voltados para o meio ambiente, a tecnologia empregada no
funcionamento da hidrelétrica e na geração de energia, entre outras.

Região hidrográfica do Paraguai
O rio Paraguai, que atravessa o Pantanal Mato-Grossense, é um dos mais importantes da região. Nasce em área do
planalto e da chapada dos Parecis, no estado do Mato Grosso, e toma o sentido norte-sul. Na época das cheias, o rio
Paraguai inunda uma vasta área, formando lagos. Na maior parte de seu curso, é um rio de planície, sendo navegável
desde Corumbá (MS) até o rio da Prata. Por ele, são escoados produtos como minério de manganês. Seus principais

portos são Corumbá e Porto Murtinho.
A principal atividade econômica do Pantanal é a pecuária extensiva, na qual o manejo do gado geralmente está
adaptado ao regime de cheias e vazantes das águas. No entanto, a região é afetada por problemas cuja origem está na
forma de uso do solo nas áreas elevadas de onde descem os rios que irrigam o Pantanal. O desmatamento para a criação
de gado e, principalmente, para as lavouras, sobretudo de soja, causa erosão dos solos, cujo material transportado pelas
chuvas assoreia os rios, alterando a dinâmica das águas. Além disso, o uso de insumos químicos nas lavouras do planalto
acaba contaminando rios e lagos das terras pantaneiras.
Somente programas voltados para o combate ao desmatamento e à erosão, bem como para a melhora das
práticas agrícolas no planalto, poderão minimizar os problemas de assoreamento e contaminação das águas do
Pantanal.


Texto & contexto
1. Qual é a importância econômica do rio Paraguai?
2. Quais são os principais problemas ambientais na região hidrográfica do Paraná?

Rios brasileiros: usos, abastecimento e poluição
Os rios brasileiros são utilizados de várias maneiras: atividade pesqueira, navegação, geração de energia elétrica,
irrigação, uso industrial e consumo urbano, sobretudo doméstico.
A navegação fluvial, comum na Amazônia, tem sido impulsionada nos últimos anos graças à construção de
grandes hidrovias, como a Tietê-Paraná e a do Madeira.
No que diz respeito à geração de energia, vale lembrar que mais de 65% da eletricidade produzida no país provém
de diferentes usinas hidrelétricas.
A disponibilidade e o consumo de água no Brasil apresentam grande desigualdade regional. Quase 70% das águas
correntes do país estão na região Norte, onde ocorre o menor consumo regional com irrigação. Por outro lado, na região
com menos recursos hídricos – o Nordeste –,
70% da água consumida destina-se à irrigação. Como consequência da modernização do campo, a irrigação tornou-se
o maior consumidor de água no país (72%), superando o consumo urbano (9%) e o industrial (7%).
Como você viu, o Brasil possui uma imensa reserva de recursos hídricos, pois abriga em seu território uma das
maiores redes hidrográficas do planeta. Apesar de todo esse potencial, o país não está livre de problemas de
escassez, poluição e desperdício de água.
Segundo o IBGE, as empresas brasileiras de abastecimento de água apresentam índices de perda do produto de até
37%. Nos países desenvolvidos, esses índices não chegam a 20%.
Habitantes de grandes cidades brasileiras, sobretudo das regiões metropolitanas, são, por enquanto, os maiores
afetados com a escassez e a poluição das águas. Nessas áreas, muitos mananciais estão sendo prejudicados sobretudo
por resíduos domésticos e industriais. Percentualmente, os resíduos domésticos são os maiores responsáveis pela
poluição dos recursos hídricos urbanos, pois sobre as indústrias incide uma fiscalização mais eficiente para a realização de
tratamento da água.
Em todo o país, mais de 3 milhões de domicílios não estão ligados à rede de abastecimento de água; boa parte deles
está nas regiões Norte e Nordeste e na periferia de grandes cidades. As camadas mais pobres da população são as mais
afetadas, pois não têm condições de habitar áreas urbanas com melhor infraestrutura de abastecimento, saneamento e
qualidade ambiental. Estudos revelam que há relação entre maior oferta de água potável e queda da mortalidade infantil.
No aspecto ambiental, a preservação dos rios, em geral, não atrai tanto interesse da mídia quanto a preservação das
florestas, a não ser quando causa sérios danos às populações urbanas, como é o caso do rio Tietê, em São Paulo.
Depois de sucessivas enchentes e praticamente sem resquícios de vida em várias partes do seu curso, o Tietê passa
por obras de despoluição, financiadas, em parte, por capital estrangeiro. A meta é resgatar a original utilidade de suas
águas.
Atlas Brasil: abastecimento urbano de água
<http://atlas.ana.gov.br/Atlas/forms/Home.aspx>. Acesso em: 30 mar. 2016.
A Agência Nacional de Águas (ANA) é um órgão do governo federal que coordena o uso de águas no território, tendo dirigido a confecção do Atlas
Brasil, cujas informações são organizadas por regiões geográficas, hidrográficas, aglomerados urbanos, estados e municípios.

Brasil: rede geral de esgotamento sanitário (2010)
<mapa>
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A

Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 149.

Para saber mais
Maior aquífero do mundo fica no Brasil e abasteceria o planeta por 250 anos
Imagine uma quantidade de água subterrânea capaz de abastecer todo o planeta por 250 anos. Essa reserva
existe, está localizada na parte brasileira da Amazônia e é praticamente subutilizada.
Até dois anos atrás, o aquífero era conhecido como Alter do Chão. Em 2013, novos estudos feitos por
pesquisadores da UFPA (Universidade Federal do Pará) apontaram para uma área maior e deram uma nova
definição.
“A gente avançou bastante e passamos a chamar de SAGA o Sistema Aquífero Grande Amazônia. Fizemos um
estudo e vimos que aquilo que era o Alter do Chão é muito maior do que sempre se considerou, e criamos um novo
nome para que não ficasse essa confusão”, explicou o professor do Instituto de Geociência da UFPA Francisco
Matos.
Segundo a pesquisa, o aquífero possui reservas hídricas estimadas preliminarmente em
162 520 km³ – sendo a maior de que se tem conhecimento no planeta. “Isso considerando a reserva até uma
profundidade de 500 metros. O aquífero Guarani, que era o maior, tem 39 mil km³ e já era considerado o maior do
mundo”, explicou Matos.
O aquífero está posicionado nas bacias do Marajó (PA), Amazonas, Solimões (AM) e Acre – todas na região
amazônica –, chegando até a bacias subandinas. Para se ter ideia, a reserva de água equivale a mais de 150 quatrilhões
de litros. “Daria para abastecer o planeta por pelo menos 250 anos”, estimou Matos.
O aquífero exemplifica a má distribuição do volume hídrico nacional com relação à concentração populacional. Na
Amazônia, vive apenas 5% da população do país, mas é a região que concentra mais da metade de toda água doce
existente no Brasil.
Por conta disso, a água é subutilizada. Hoje, o aquífero serve apenas para fornecer água para cidades do vale
amazônico, com cidades como Manaus e Santarém. [...]
Para o professor, o uso da água do aquífero deve adotar critérios específicos para evitar problemas ambientais.
“Esse patrimônio tem de ser visto no ciclo hidrológico completo. As águas do sistema subterrâneo são as que
alimentam o rio [...]. Está tudo interligado. É preciso planejamento para poder entender esse esquema para que o uso
seja feito de forma equilibrada. Se fizer errado, pode causar um desequilíbrio”, disse.
Mesmo com a água em abundância, Matos tem pouca esperança de ver essa água abastecendo regiões secas,
como o semiárido brasileiro. “O problema todo é que essa água não tem como ser transportada para Nordeste ou
São Paulo. Para isso seriam necessárias obras faraônicas. Não dá para pensar hoje em transportar isso em
distâncias tão grandes”, afirmou.

Brasil: Sistema Aquífero Grande Amazônia (Saga) – 2015
<mapa>
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de MADEIRO, Carlos. Maior aquíf ero do mundo f ica no Brasil e abasteceria o planeta por 250 anos. UOL notícias, 21 mar. 2015. Disponív el em:
<http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/03/21/maior-aquifero-do-mundo-fica-no-brasil-e-abasteceria-o-planeta-por-250-anos.htm>. Acesso em: 15 out.
2015.

Conexões
Na lógica da mercantilização do meio natural, as riquezas do território brasileiro são vistas, há muito tempo, como
fonte inesgotável de commodities. Em função das atividades mineradoras, por exemplo, são muitos e variados os
impactos negativos visíveis nas paisagens e na sociedade brasileiras.
Qual é o custo da mineração extensiva no Brasil? Na região Sudeste, em especial em Minas Gerais, quais são os
principais impactos socioeconômicos e ambientais negativos que atingem comunidades locais, fruto de práticas de
mineração não adequadas? Leia mais sobre o assunto no texto a seguir.

O peso da mineração na Região Sudeste
Segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), existem 8 870 empresas mineradoras no país, e,
na região Sudeste, este número alcança 3 609, cerca de 40% do total [...].
Desde o século XVIII, o Sudeste não parou de receber contingentes populacionais vindos de outras regiões e de
fora do país, e a mineração foi a atividade econômica que deu início ao processo de atração populacional [...].
Minas Gerais é o maior estado minerador brasileiro. Com atividade de mineração em mais de 250 municípios e mais
de 300 minas em operação, o estado possui 40 das 100 maiores minas do Brasil. Além disso, dos dez maiores

municípios mineradores, sete estão em Minas, sendo Itabira o maior do país. É responsável, ainda, por,
aproximadamente, 53% da produção brasileira de minerais metálicos e 29% do total de minerais, além de extrair mais
de 160 milhões de toneladas/ano de minério de ferro [...].
A partir da análise dos estudos de casos, foi possível identificar os principais impactos socioeconômicos e
ambientais negativos que atingem a comunidade local, fruto das práticas de mineração não adequadas. A principal
questão socioeconômica levantada diz respeito aos danos causados à saúde da população (doenças respiratórias,
de pele, cardíacas e outras). Logo após, [...] avulta o crescimento desordenado e, consequentemente, o inchaço
populacional. Com isso, tem-se uma ausência de infraestrutura para atender a tal demanda populacional. Somado
a estes problemas, aparecem também as questões trabalhistas, as fundiárias, o aumento da violência e a
utilização de mão de obra infantil.
Os principais impactos ambientais negativos apontados na região dizem respeito à poluição das águas, do ar e os
prejuízos ao ecossistema local. Em segundo lugar, são apontados o assoreamento dos rios, a disposição inadequada
de rejeitos e a poluição dos solos. Também têm destaque os relatos sobre a poluição do lençol freático, os impactos
na paisagem e a extinção de espécies vegetais/animais. Já desmatamento, rompimento de barragens, atuação em
áreas de preservação ambiental, utilização inadequada de rejeitos e extração ilegal de madeira nativa são relatados
com menos frequência. Finalmente, ainda levando em consideração os impactos ambientais, aparecem os problemas
de contaminação por deposição no meio ambiente de substâncias perigosas. [...]
FERNANDES, Francisco Rego Chav es; ALAMINO, Renata de Carv alho Jimenez; ARAUJO, Eliane.
Recursos minerais e comunidade: impactos humanos, socioambientais e econômicos. Rio de Janeiro: Cetem/MCTI, 2014. p. 227-232.

< imagem >
FO T O S PÚ B L I C A S / A G Ê N C I A BRA S I L / A N T O N I O CR UZ
O rompimento de uma barragem de rejeitos de mineradora, no município de Mariana (MG), em 2015, provocou um dos maiores desastres ambientais do
país. Na foto, o que restou do povoado de Bento Rodrigues, após a avalanche de lama tóxica que o destruiu.

Responda no caderno
▸ Elabore uma lista dos principais impactos socioeconômicos e ambientais negativos que atingem dezenas de
comunidades locais da região Sudeste do Brasil, mais especificamente de Minas Gerais. Depois, converse com o
professor e os colegas sobre as medidas que podem ser adotadas para evitar esses impactos.

Pensando bem
Responda no caderno
1. Os dados dos gráficos a seguir mostram o consumo de água no Brasil e as perdas na distribuição.

Brasil: consumo de água per capita (2008-2013)
< gráfico >
Edição de arte/arquivo da editora

Brasil: perdas na distribuição (2008-2013)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A

Brasil: consumo de água per capita por estado (2013)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte dos gráf icos: Adaptado de ASTA, Eduardo. Crise da água. Folha de S.Paulo.
Disponív el em: <http://www1.f olha.uol.com.br/inf ograficos/2015/01/118521-agua-no-brasil.shtml>. Acesso em: 15 out. 2015.

a) Como foi o consumo de água no Brasil entre 2008 e 2013?
b) Que estados brasileiros gastam menos água que o recomendado pela OMS?
c) Quais estados gastam mais que o dobro recomendado pela OMS?
d) Realize uma pesquisa sobre possíveis soluções para a redução do consumo de água. Discuta-as com seus colegas e,
juntos, elejam as que podem ser mais eficientes.

2. Observe o mapa ao lado.
a) O que a área colorida em marrom do mapa representa?
b) Por onde são escoados os produtos minerais provenientes de Minas Gerais?

Minas Gerais: principais jazidas minerais (2012)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de: SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. 34 ed. São Paulo: Ática, 2013, p. 117.

3. A maior parte da nossa energia elétrica é proveniente das hidrelétricas e há vantagens e desvantagens nesse tipo de fonte de
energia. O texto a seguir apresenta esses dois lados. Leia-o com atenção.

Vantagens e desvantagens das hidrelétricas causam polêmica
Com a crescente demanda por energia elétrica, o país precisa aumentar a produção. Para isso, o governo está
investindo na construção de grandes usinas, como Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, na Amazônia. De um lado,
defensores dos projetos destacam fatores como baixa emissão de gases poluentes como um dos principais fatores a
favor de sua construção. De outro, críticos ressaltam impactos socioambientais relativos às áreas alagadas.
Erik [Eduardo Rego, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo] destaca que as usinas
hidrelétricas realmente emitem menos gases provocadores do efeito estufa [...] do que as fontes de energia térmicas.
Mas faz uma ressalva: as hidrelétricas não são totalmente isentas da poluição, em especial, aquelas que têm
grandes reservatórios. “Quando uma área é alagada, a vegetação é submersa e morre. Quando essa vegetação é
decomposta, ela emite os gases responsáveis pelo efeito estufa”, comenta. [...]
Outra questão importante relativa à construção de hidrelétricas é o fato de os municípios onde elas estão
localizadas receberem uma série de benefícios dos consórcios que mantêm as usinas, incluindo a chamada
Compensação Financeira pela Utilização dos Recursos Hídricos. [...]
Ele comenta que, quando a usina vai ser construída, o consórcio construtor se reúne com a prefeitura e negocia
uma série de benefícios para o município. “O consórcio é obrigado a construir vilas para abrigar os ribeirinhos. Vilas
de casas com alvenaria e saneamento básico. Ele pode construir também escolas, clínicas, estações de tratamento
de água e esgoto.”
[...] outro problema é o econômico: “Muitos ribeirinhos tiram seu sustento do rio, da pesca. Se a construção da
hidrelétrica altera o ciclo dos peixes, a pesca será afetada”, alerta Erik. Ele comenta que, por mais que sejam
construídas estruturas que permitam que os peixes subam o rio no período da piracema, por exemplo, existem grandes
chances de o ciclo ser alterado, trazendo prejuízo para a fauna local. [...]
VANTAGENS e desv antagens das hidrelétricas causam polêmica. Globo.com, 28 jun. 2014. Disponív el em:
<http://redeglobo.globo.com/globoecologia/noticia/2013/08/v antagens-e-desv antagens-das-hidreletricas-causam-polemica.html>. Acesso em: 15 out. 2015.

a) Quais são os pontos positivos com relação à construção de hidrelétricas? E os pontos negativos?
b) Em sua opinião, construir hidrelétricas é melhor do que investir em outras formas de geração de energia? Por quê?

4. Enem (2012) O uso da água aumenta de acordo com as necessidades da população no mundo. Porém, diferentemente do que
se possa imaginar, o aumento do consumo de água superou em duas vezes o crescimento populacional durante o século XX.
TEIXEIRA, W. et al. Decifrando a Terra. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 2009.

Uma estratégia socioespacial que pode contribuir para alterar a lógica de uso da água apresentada no texto é a
a) ampliação de sistemas de reutilização hídrica.
b) expansão da irrigação por aspersão das lavouras.
c) intensificação do controle do desmatamento de florestas.
d) adoção de técnicas tradicionais de produção.
e) criação de incentivos fiscais para o cultivo de produtos orgânicos.

5. Enem (2013) Nos últimos decênios, o território conhece grandes mudanças em função de acréscimos técnicos que renovam a
sua materialidade, como resultado e condição, ao mesmo tempo, dos processos econômicos e sociais em curso.
SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2004. (Adaptado.)
A partir da última década, verifica-se a ocorrência no Brasil de alterações significativas no território, ocasionando impactos sociais,
culturais e econômicos sobre comunidades locais e, com maior intensidade, na Amazônia Legal, com a
a) reforma e ampliação de aeroportos nas capitais dos estados.
b) ampliação de estádios de futebol para a realização de eventos esportivos.
c) construção de usinas hidrelétricas sobre os rios Tocantins, Xingu e Madeira.

d) instalação de cabos para a formação de uma rede informatizada de comunicação.
e) formação de uma infraestrutura de torres que permitem a comunicação móvel na região.


Desafios & debates
Em grupo
No dia 5 de novembro de 2015, o rompimento das barragens de rejeitos de uma mineradora no município de Mariana
(MG) causou um gigantesco “tsunami de lama”. A lama tóxica causou a morte de pessoas, contaminou a bacia do rio
Doce, afetou o abastecimento de água de cidades da região, impactou as águas do oceano por quilômetros.
Leia o poema a seguir, escrito por Carlos Drummond de Andrade em 1973. A ideia é refletir sobre as
responsabilidades das empresas mineradoras e dos órgãos de fiscalização dos governos com relação aos impactos
socioambientais nas áreas de mineração.

A montanha pulverizada
Chego à sacada e vejo a minha serra,
a serra de meu pai e meu avô,
de todos os Andrades que passaram
e passarão, a serra que não passa.
Era coisa dos índios e a tomamos
para enfeitar e presidir a vida
neste vale soturno onde a riqueza
maior é sua vista e contemplá-la
De longe nos revela o perfil grave.
A cada volta de caminho aponta
uma forma de ser, em ferro, eterna,
e sopra eternidade na fluência.
Esta manhã acordo e não a encontro, britada
[em bilhões de
lascas deslizando em correia transportadora
[entupindo 150 vagões
no trem-monstro de 5 locomotivas
– o trem maior do mundo, tomem nota –
foge minha serra, vai
deixando no meu corpo e na paisagem
mísero pó de ferro e este não passa.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 2000.

1. “[...] britada em bilhões de/lascas deslizando em correia transportadora entupindo 150 vagões/no trem-monstro de 5
locomotivas”. Os versos se referem a qual atividade econômica desenvolvida em Itabira?
2. “Esta manhã acordo e não a encontro [...]”. O verso se refere a uma forma de relevo que dominava a paisagem de Itabira. Qual
era essa forma de relevo? O que Drummond quis dizer com esse verso?
3. O desafio agora é elaborar um painel fotográfico.
1º) Pesquisem, na internet, em revistas e em jornais, imagens das consequências sociais e ambientais do rompimento das
barragens em Mariana (MG).
2º) Selecionem pelo menos seis imagens e elaborem uma legenda para cada uma delas.
3º) Com o auxílio do professor, decidam como elaborar o painel. Pensem na melhor forma de inserir as imagens encontradas por
toda a turma.
4º) Conversem sobre estas e outras questões relativas ao tema: Que impactos o rompimento das barragens causou nas populações
locais? E no meio ambiente local e regional? Que sentimentos as imagens causam nos observadores? Como vocês imaginam o
futuro na vasta região afetada pelo desastre?
5º) Fixem o painel em um local da escola com grande visibilidade.

Em debate
O Brasil é grande produtor e exportador de minério de ferro. O produto é vendido apenas beneficiado, constituindo,
assim, mercadoria relativamente barata. Se o país industrializasse sua matéria-prima e exportasse os produtos
siderúrgicos, certamente os ganhos econômicos seriam bem maiores.
Discuta com seus colegas a seguinte questão:

Por que o Brasil não aproveita mais intensamente seu minério de ferro, incentivando a indústria e tendo em vista aumentar a
exportação de produtos siderúrgicos?
Fonte: Adaptado de IBRAM. Principais países compradores do minério de ferro brasileiro (2012). Disponível em:
<http://www.ibram.org.br/sites/1300/1382/00004035.pdf>.
Acesso em: 11 dez. 2015.

Principais países compradores do minério
de ferro brasileiro (2012)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A


capítulo
5
Clima, solo e paisagens vegetais do Brasil

< imagem >
FA B I O COL O M B I N I/ A C E R V O DO FO T Ó G R A F O

Resultante da inter-relação de um clima tropical com uma estação seca bem definida, solos relativamente
pobres e uma formação vegetal dominada por ervas, arbustos e árvores de pequeno porte, com galhos retorcidos e poucas folhagens, o Cerrado é um bioma rico
em biodiversidade. Na foto, Cerrado em Bocaiúva (MG), 2014.

Os grupos humanos transformam cada vez mais a natureza, moldando-a conforme seus interesses e seus
recursos técnicos. Apesar disso, as ações antrópicas sofrem limitações e condicionamentos que precisam ser
respeitados, sob pena de colocarem em risco a sustentabilidade do meio ambiente.
Para uma consciente postura conservacionista, as pessoas precisam conhecer as dinâmicas naturais que regulam
a definição dos tipos de clima e suas influências; dos solos e suas potencialidades; das formações vegetais, com sua
riqueza florística e expressão nas paisagens.
Os temas que envolvem esses assuntos são objeto de estudo deste capítulo.

Tempo e clima
A todo instante, você pode ver ou ouvir notícias sobre o tempo e o clima. É só ligar o rádio ou a televisão, ler
jornais ou acessar a internet. Mapas, gráficos, tabelas e animações variadas mostram a temperatura, a previsão de
chuvas, a ocorrência de temporais, etc. em diversas áreas do Brasil e do mundo. Os fenômenos ligados ao tempo e
ao clima podem interferir em diferentes atividades humanas.
Ligados à circulação geral da atmosfera, que redistribui a energia solar pelas zonas térmicas do planeta, o tempo e
o clima, embora não sejam a mesma coisa, referem-se aos mesmos fenômenos atmosféricos: temperatura e
insolação, pressão atmosférica, ventos, umidade do ar e precipitações (chuva, neve, geada, orvalho, granizo).
O tempo atmosférico refere-se ao estado da atmosfera em determinado instante e pode variar rapidamente. O
clima, por sua vez, depende do estudo do tempo atmosférico durante pelo menos 30 anos. Segundo o geógrafo
francês Max Sorre (1880-1962), o clima pode ser definido como “uma sucessão habitual dos tipos de tempo num

determinado local da superfície terrestre”. Ao contrário do tempo atmosférico, a alteração climática se dá em um
período muito longo, em centenas de milhares de anos.
Vale destacar que os fenômenos ligados ao tempo e ao clima interferem diretamente no relevo, nos solos, no
desenvolvimento de plantas e animais, nas águas continentais, etc. Por outro lado, há uma série de fatores naturais
que fazem o tempo e o clima variar de uma localidade para outra. A latitude, a altitude, a continentalidade e,
principalmente, a dinâmica das massas de ar são os fatores que mais influenciam as variações climáticas.

Dinâmica das massas de ar no Brasil
Para explicar as mudanças do tempo e do clima, é importante compreender, principalmente, a dinâmica das
massas de ar. Semelhantes a grandes “bolsões” de ar, elas constituem volumes de atmosfera com
características próprias no que se refere à pressão, temperatura, umidade, etc. Os mapas abaixo mostram as
principais massas de ar que atuam no Brasil.

Brasil: atuação das massas de ar (verão)
< mapa >
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora

Brasil: atuação das massas de ar (inverno)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte dos mapas: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 122.

Ao se deslocarem de uma zona de alta pressão atmosférica (anticiclonal) para outra de baixa pressão (ciclonal), as
massas de ar levam consigo as características adquiridas na região de origem.
Como a maior parte do Brasil está localizada na zona intertropical, os climas são controlados, sobretudo, pelo
sistema dos ventos alísios, que dão origem a massas de ar equatoriais e tropicais. Retome os mapas da página
anterior e observe a atuação das principais massas de ar no Brasil durante o verão e o inverno.
No caso do Brasil, os ventos alísios de nordeste são oriundos do anticiclone dos Açores, e os alísios de sudeste
vêm do anticiclone do Atlântico Sul.
Ao longo do ano, a posição das massas de ar se modifica pela ação das altas pressões polares combinada com o
deslocamento do equador térmico.
A linha do equador térmico não coincide exatamente com a linha do equador geográfico. Esta une pontos de
latitude zero (0°) e aquela, os pontos de maior temperatura (observe a linha tracejada nos mapas abaixo). Em virtude
da inversão das estações nos hemisférios e da ação de deslocamento dos centros anticiclonais (Açores e Atlântico
Sul) e das massas de ar, a linha do equador térmico se move para o norte e para o sul em relação à do equador
geográfico.
Além disso, a linha do equador térmico não é regular como a do equador geográfico. Essa irregularidade está
relacionada com as formações especiais que assumem os centros de altas e baixas pressões atmosféricas,
chamadas de células.

Ventos alísios: sopram das zonas de alta pressão subtropicais em direção às zonas de baixa pressão equatoriais, formando a chamada faixa de convergência
intertropical, que se caracteriza por chuvas abundantes, de tipo convectivo.

América do Sul: pressões e ventos (verão)
< mapa >
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora

América do Sul: pressões e ventos (inverno)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte dos mapas: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 122.

Tempo e clima no Brasil
No verão, com o deslocamento do equador térmico para o sul, em virtude da continentalidade do território, forma-
se uma zona de baixa pressão no sudoeste do Brasil chamada depressão do Chaco, para a qual tendem a convergir
os alísios de nordeste. Como esses ventos são carregados de umidade, ocorre uma estação chuvosa no Brasil

central.
Já os ventos oriundos do anticiclone do Atlântico Sul são responsáveis pelas chuvas de verão no Sudeste e no Sul
do Brasil. Ao mesmo tempo, a faixa de convergência intertropical provoca chuvas no Norte e no Nordeste do país.
No verão, os ventos de origem polar pouco atingem o território brasileiro, sendo sua atuação mais presente na
parte meridional do país. Mesmo nessa região, as quedas de temperatura provocadas por eles costumam ser pouco
significativas, embora sua influência seja nitidamente perceptível pelas chuvas frontais que ocasionam, muitas vezes
precedidas de fortes ventanias.
Desse modo, o Brasil é quase inteiramente dominado por massas de ar quente, apresentando altas temperaturas
no verão em todo o território.
Já no inverno, quando o equador térmico está localizado em latitudes da América Central (retome o segundo mapa da
página anterior), a faixa de convergência intertropical encontra--se sobre o Norte do Brasil, provocando chuvas frequentes
nessa região. Entretanto, nessa estação, o anticiclone do Atlântico Sul aproxima-se bastante do litoral do Sudeste, fazendo
com que as altas pressões subtropicais se instalem sobre o território brasileiro. Como as altas pressões são dispersoras de
ventos, estes são, na maior parte do Brasil, de origem continental, portanto secos. Por essa razão, o inverno é seco na
maior parte do interior do país.
No Nordeste, as encostas do planalto da Borborema são responsáveis pela ocorrência de chuvas orográficas no
litoral, típicas de áreas de maior altitude e, consequentemente, de menor temperatura. O ar quente e úmido se eleva
nas encostas do planalto, resfria-se e o vapor de água se condensa. O ar de origem marítima, no entanto, chega quase
seco ao interior, de modo que a estação seca (estiagem) não se restringe aos meses de inverno, estendendo-se de
maio a outubro.

Frentes frias
As altas pressões polares deslocam-se para o norte no inverno, instalando-se sobre a porção austral da América do
Sul e atingindo frequentemente o Brasil meridional. A cada deslocamento para o norte, empurrando o ar quente das
latitudes menores, o ar de origem polar forma uma frente fria, que é a zona de contato entre as duas massas de ar: o ar
frio, que avança, e o ar quente, que recua.
Por onde passa, a frente fria provoca inicialmente chuva e, em seguida, queda de temperatura. Após sua
passagem, seguem-se alguns dias de tempo bom, durante os quais o ar frio vai aos poucos se aquecendo, até que
uma nova frente fria realimente o ciclo chuva – frio – lento aquecimento – nova frente. Assim, os invernos no Brasil
meridional geralmente são frios e chuvosos. Observe, no esquema ao lado, parte desse processo.

Ao passar por determinada localidade, a frente fria inicialmente provoca chuvas frontais e, em seguida, queda de temperatura. Esse processo é muito
comum no Sul do Brasil.

Esquema de uma frente fria
< imagem >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Elaborado pelo autor para f ins didáticos.

Às vezes, o ar polar não tem força para avançar mais para o nordeste do território brasileiro, e o ar quente não
consegue empurrar a massa polar para o sul. Formam-se, dessa maneira, as chamadas frentes estacionárias, que
param em determinada área do território por vários dias e ali provocam chuvas continuadas. Quando isso acontece,
podem ocorrer enchentes, que costumam causar prejuízos às populações das áreas atingidas.
No Brasil, a atuação das frentes polares é mais intensa nos meses de julho e agosto. No seu trajeto para o norte, o
ar polar vai progressivamente se aquecendo conforme a latitude diminui, de modo que, ao chegar a São Paulo, já
não está tão frio como estava quando a frente fria atingiu o Rio Grande do Sul. Pelo mesmo motivo, chega menos frio
ainda ao Rio de Janeiro.
Muitas vezes, depois de bifurcar-se nos planaltos da porção central do país, o ar polar avança para o norte. Um
ramo segue pela costa e outro penetra pelas planícies centrais do continente sul-americano, podendo atingir a zona
equatorial (retome o mapa da página 102, que mostra a atuação das massas de ar no Brasil no inverno).
O ar polar que segue pela costa, penetrando na massa de ar tropical, é responsável pela ocorrência de chuvas
frontais nos litorais leste e nordeste do Brasil durante o inverno. Já o ar polar que penetra pelo corredor formado
entre os planaltos brasileiros e a cordilheira dos Andes provoca, na Amazônia, o fenômeno conhecido como friagem.
A friagem constitui uma queda bastante acentuada da temperatura, de curta duração.

Climatempo

<http://www.climatempo.com.br>. Acesso em: 19 out. 2015.
Por meio de imagens de satélite, vídeos, mapas e ilustrações, o site apresenta a previsão do tempo para as cidades e regiões brasileiras.

< imagens >
IM A G E N S : INP E / C P T E C
Imagens de satélite feitas pelo Centro de Previsão de T empo e Estudos Climáticos (CPT EC). Elas mostram o movimento das massas de ar na América do
Sul entre os dias 6 e 8 de julho de 2015. No dia 6 (primeira imagem), destaca-se uma grande concentração de nuvens sobre o centro-oeste da América do
Sul, que causaram instabilidades e chuvas sobre Mato Grosso do Sul, Rondônia, Acre e grande parte de Mato Grosso. Observa-se também uma frente fria
sobre o Atlântico sul e parte da Argentina.
No dia 7 (segunda imagem), essa frente fria atinge em cheio a região Sul, onde ocasiona instabilidades e chuvas. Simultaneamente, juntou-se com a
nebulosidade de origem equatorial, que provocou tempo chuvoso também em grande parte da região Centro-
-Oeste. Por fim, no dia 8 (terceira imagem), observa-se um enfraquecimento dos sistemas de instabilidades atmosféricas e dos conjuntos de nuvens que
os acompanham, bem como um deslocamento das massas de ar para leste.

Texto & contexto
1. Explique a diferença entre clima e tempo atmosférico.
2. O que são massas de ar? Por que sua dinâmica comanda as variações do tempo e as características climáticas?
3. Com o apoio dos mapas da página 102, responda: que massas de ar atuam no estado onde você mora tanto no verão quanto no
inverno?
4. O litoral oriental do Brasil apresenta um clima com chuvas predominantes de inverno, como acontece do Rio Grande do Norte
até a Bahia. Explique a ocorrência dessas chuvas.

Tipos climáticos do Brasil
De acordo com a movimentação das massas de ar que atuam no território brasileiro, é possível observar
diversos tipos climáticos. A classificação climática de Arthur Strahler (1918-2002) é uma das mais usadas na
atualidade. Com base nela, podem-se identificar no Brasil climas controlados por massas de ar equatoriais e
tropicais: equatorial úmido, tropical litorâneo, tropical (alternadamente úmido e seco) e tropical semiárido. O clima
subtropical úmido, por sua vez, é controlado por massas de ar tropicais e polares.
Observe, no mapa ao lado, a distribuição dos principais tipos climáticos do Brasil, conforme a classificação de
Strahler.

Brasil: tipos climáticos
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. 34. ed. São Paulo: Ática, 2013. p. 118.

Manaus (AM)
< gráfico >
CL I M O G R A M A S : E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Elaborado com base em INSTITUTO Nacional de Meteorologia (Inmet). Gráficos climatológicos. Disponível em:
<http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=clima/graficosClimaticos>.
Acesso em: 11 set. 2015.


▸ Clima equatorial úmido: Corresponde a toda a porção norte do país, englobando também áreas do Maranhão, de
Mato Grosso e do Tocantins. Sendo a zona climática brasileira onde ocorre a convergência dos alísios, apresenta
os mais elevados índices pluviométricos do país (1 500 a 2 500 mm por ano). Além disso, apresenta temperaturas
elevadas praticamente o ano todo.
▸ Clima tropical litorâneo: Também chamado de tropical úmido, é influenciado, no extremo norte, pela massa de ar
equatorial atlântica e, na maior parte da área litorânea, pela massa tropical atlântica. Essas massas de ar atuam
com maior intensidade no verão e causam chuvas constantes. Além disso, a existência de planaltos em
praticamente toda a região próxima ao litoral provoca a elevação das massas de ar, originando chuvas orográficas.
No inverno, ocorre a penetração da massa polar atlântica, que provoca queda de temperatura e chuvas frontais.

Ilhéus (BA)
< gráfico >
Fonte: CLIMATEMPO. Disponív el em: <http://www.climatempo.com.br/climatologia/49/ilheus-ba>.
Acesso em: 19 out. 2015.

▸ Clima tropical (alternadamente úmido e seco): Domina a maior parte do território brasileiro. É conhecido também
como clima tropical típico, pois apresenta duas estações bem definidas: verão úmido e inverno seco. A umidade
nos meses de novembro a abril é causada pela presença da massa equatorial continental e pela atuação da faixa
de convergência intertropical, responsável por chuvas frequentes. No inverno, a massa equatorial continental
recua para o norte e a região é dominada pelas altas pressões da massa tropical atlântica, responsável pela falta
de chuvas.
Nas áreas mais elevadas do Sudeste, as temperaturas médias são mais baixas, constituindo um clima conhecido
como tropical de altitude.

Cuiabá (MT)
< gráfico >
CL I M O G R A M A S : E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: CLIMATEMPO. Disponív el em: <http://www.climatempo.com.br/climatologia/218/cuiaba-mt>. Acesso em: 19 out. 2015.

Macau (RN)
< gráfico >
Fonte: CLIMATEMPO. Disponív el em: <http://www.climatempo.com.br/climatologia/2591/macau-rn>. Acesso em: 19 out. 2015.

▸ Clima tropical semiárido: Resulta de um prolongamento espacial da estação seca que caracteriza o Brasil central.
Assim, de abril a novembro, a massa tropical atlântica que domina o interior do país estende sua sequidão ao
Nordeste. Por ter altas pressões, impede a chegada de ar úmido, capaz de provocar chuvas. Admite-se também que a
presença do planalto da Borborema seja responsável pela perda de umidade da massa equatorial atlântica no litoral,
que chega ao Sertão seca.
A estação das chuvas vai de dezembro a março, quando a região é dominada por massas equatoriais úmidas e
recebe a atuação da faixa de convergência intertropical.
Desse modo, as principais características do clima tropical semiárido são a escassez de chuvas (menos de 750
mm por ano) e sua irregular distribuição ao longo dos meses, além da elevada amplitude térmica diária: os dias são
quentes e as noites, frias.

▸ Clima subtropical úmido: Controlado por massas de ar tropicais e polares, esse clima é típico dos estados do Sul
do país e do sudeste do estado de São Paulo. Apresenta as menores médias térmicas anuais em razão da forte
atuação da massa polar atlântica, particularmente no inverno. Em função disso, tem a maior amplitude térmica
anual, ou seja, invernos frios e verões quentes. Nas regiões serranas mais elevadas do Sul do país, chega a
apresentar, embora esporadicamente, a precipitação de neve ou de geada forte.
As chuvas são bem distribuídas ao longo do ano. No verão, a precipitação ocorre por influência da massa tropical
atlântica, com ventos de nordeste, e da equatorial continental, com ventos de noroeste. No inverno, a penetração da massa
polar atlântica provoca chuvas frontais.

Porto Alegre (RS)
< gráfico >
Fonte: CLIMATEMPO. Disponív el em: <http://www.climatempo.com.br/climatologia/363/portoalegre-rs#>. Acesso em: 19 out. 2015.

Texto & contexto
1. De acordo com o mapa da página 106, quais são os tipos climáticos predominantes no Brasil?
2. Qual é o tipo climático do estado ou da região onde você mora?
3. Qual tipo climático do Brasil apresenta a maior amplitude térmica anual? Por que isso ocorre?

Biomas do Brasil
Com origem na Biologia, o termo bioma (do grego bio = vida; oma = grupo ou massa) começou a ser usado há
pouco mais de meio século, popularizando-se nos últimos anos. Embora admita outras conceituações, segundo o
IBGE, bioma é um conjunto de vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos
e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças,
resultando em uma diversidade biológica própria.
Trata-se, portanto, de um conceito de viés biológico, essencial na Ecologia e de grande interesse para a

Geografia, na medida em que a realidade que representa tem expressão na paisagem e integra o espaço
geográfico. Nos biomas, a fisionomia da vegetação é uma das características principais.
Segundo a classificação do IBGE, o território nacional apresenta-se dividido em seis grandes biomas
continentais. Observe o mapa acima e a tabela a seguir.

Brasil: biomas (classificação do IBGE)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: IBGE. Mapas de biomas e de vegetação. Disponív el em: <http://www.ibge.gov .br/home/presidencia/noticias/21052004biomashtml.shtm>. Acesso em: 9 nov .
2015.

Biomas continentais brasileiros
Bioma
Amazônia
Cerrado
Mata Atlântica
Caatinga
Pampa
Pantanal

Área aproximada (km²)
4 196 943
2 036 448
1 110 182
844 453
176 496
150 355

Área/total Brasil
49,29%
23,92%
13,04%
9,92%
2,07%
1,76%
Fonte: IBGE. Mapas de biomas e de vegetação. Disponív el em: <http://www.ibge.gov .br/home/presidencia/noticias/21052004biomashtml.shtm>. Acesso em: 9 nov .
2015.

A denominação dos biomas, em geral, está associada ao tipo de vegetação predominante ou ao relevo, como no
caso do Pantanal, que constitui a maior superfície inundável interiorana do mundo. A Amazônia, por sua vez,
corresponde a unidade de clima, fisionomia vegetal e localização geográfica. O bioma Mata Atlântica, que ocupa toda
a faixa continental atlântica leste brasileira e se estende para o interior do Sudeste e do Sul do país, é definido de
acordo com a vegetação florestal predominante e apresenta relevo diversificado. O Pampa, restrito ao Rio Grande do
Sul, apresenta um conjunto de vegetação de campo em relevo de planície. O Cerrado, segundo maior bioma do
Brasil, recebe esse nome em virtude de sua vegetação. O mesmo ocorre com a Caatinga, bioma típico do clima
semiárido do Sertão nordestino.

Formações vegetais do Brasil
As formações vegetais referem-se ao conjunto de plantas nativas que, originalmente, dominavam extensas áreas
da Terra e podem ser identificadas visualmente com certa facilidade.
A cobertura vegetal, constantemente alterada e devastada pela presença humana predatória em vários lugares do
planeta, é extremamente importante para a vida na Terra. Além de desempenhar um papel essencial no equilíbrio
ecológico, isto é, na conservação dos elementos da natureza em equilíbrio, as plantas são fonte de alimento, de

combustíveis, de materiais de construção, de matérias-primas industriais, etc.
Como em vários países do mundo, as paisagens vegetais brasileiras são bem diferentes entre si. Essas diferenças
podem ser explicadas por diversos fatores interligados, como o relevo, a topografia, os solos e, sobretudo, os climas.
Observe, no primeiro mapa, a distribuição original das formações vegetais no território brasileiro. Aproveite para
comparar esse mapa com o da página 106. A ideia é perceber as interações entre os principais tipos climáticos do
Brasil e suas paisagens vegetais originais.
Atualmente, no Brasil, resta pouco da cobertura vegetal original, pois há imensas áreas que já sofreram grande
intervenção humana ao longo do tempo. Compare o segundo mapa desta página com o primeiro e verifique
semelhanças e diferenças entre eles.
A Caatinga do interior do Nordeste, por exemplo, estendia-se por uma área muito maior do que aquela indicada no
mapa. Trechos de Floresta Tropical estendiam-se por mais de 60% do país, e o Cerrado cobria 2 milhões de
quilômetros quadrados do território, principalmente no planalto Central.
A vegetação brasileira vem sofrendo com a ocupação humana – desmatamento, caça e pesca ilegais, invasão de
terras indígenas, ação de mineradoras, obtenção de lenha para fornalhas, introdução de lavouras e pastagens,
exploração de madeira, expansão das cidades, construção de estradas e hidrelétricas –, a ponto de algumas áreas
naturais quase desaparecerem.
A seguir, conheça as principais características de cada formação vegetal em território brasileiro.

Brasil: vegetação original
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas.
34. ed. São Paulo: Ática, 2013. p. 120.

Brasil: vegetação atual (2008)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. 34. ed. São Paulo: Ática, 2013. p. 121.

Texto & contexto
1. Examine, no primeiro mapa desta página, a distribuição espacial das formações vegetais originais do território brasileiro. Selecione
duas delas e especifique as áreas de ocorrência.
2. Compare o primeiro mapa com o da vegetação atual para responder às seguintes questões: O que vem ocorrendo com o Cerrado? E
com a Caatinga?

Mata dos Cocais
Encontrada no Meio-Norte, nos estados do Maranhão e do Piauí, em parte do Ceará e no Rio Grande do Norte, a
Mata dos Cocais é uma formação encravada entre a Floresta Amazônica, o Cerrado e a Caatinga. É formada
principalmente por espécies de palmeiras, como a carnaúba (sobretudo no Piauí), o babaçu (especialmente no
Maranhão) e o buriti.
Desde o período colonial, a Mata dos Cocais é explorada economicamente pelo extrativismo do óleo de babaçu e
da cera de carnaúba. Atualmente, vem sendo desmatada para o plantio de grãos com destino à exportação, como a
soja.
< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / D E L F I M M A R T I N S
Vista da Mata dos Cocais em Nazaria (PI), 2015.

Mata dos Pinhais
Também chamada de Mata de Araucária, originalmente ocupava vastas extensões dos planaltos da região Sul do
Brasil (submetidos a clima subtropical) e pontos altos da serra da Mantiqueira, nos estados de São Paulo, de Minas
Gerais e do Rio de Janeiro.
Formada principalmente pelo pinheiro-do-paraná ou pinheiro-brasileiro (Araucaria brasiliensis ou angustifolia), a Mata
de Araucária é típica das áreas mais elevadas, com temperaturas mais baixas. Além do pinheiro, a erva-mate, o ipê e a
imbuia são algumas das espécies da mata.
Com a colonização alemã e a italiana, teve início a devastação da mata durante o século XIX. Com as madeiras, os

colonos construíam casas, móveis e outros objetos de uso doméstico. Trechos da mata nativa também eram
substituídos pela prática da policultura de alimentos.
Mais tarde, a região da mata se transformou em importante fornecedora de madeira nativa para o comércio
nacional e internacional. Atualmente, calcula-se que restam menos de 5% da sua extensão original.
< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / M A U R I C I O SI M O N E T T I
Floresta de Araucária em General Carneiro (PR), 2014.

Mata Atlântica
Originalmente cobria as encostas litorâneas dos planaltos e das serras do leste-sudeste do país, desde o Rio
Grande do Norte até o Rio Grande do Sul (município de Osório), onde as escarpas voltadas para o oceano
constituem a Serra Geral. Em razão de sua localização, essa floresta recebeu o nome de Mata Atlântica, cuja maior
exuberância ocorre nas encostas da serra do Mar, na região Sudeste. Jacarandá, cedro, peroba, jatobá, jequitibá e o
famoso pau-brasil são algumas das espécies encontradas nessa mata.
< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / D E L F I M M A R T I N S
Na foto, aspecto da Mata Atlântica na Estação Ecológica de Jureia, em Peruíbe (SP), 2014.

Desde o início da colonização portuguesa, a Mata Atlântica é alvo de devastação. No vale do rio Paraíba do Sul,
por exemplo, o desmatamento começou no século XIX para dar lugar ao plantio de café. Atualmente, restam apenas
alguns trechos esparsos de mata, principalmente em encostas montanhosas e áreas de preservação, pois cerca de
88% de sua área original foi dizimada.

Mata Atlântica: vegetação original e remanescente (2013-2014)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
FO N T E : AD A P T A D O DE F U N D A Ç Ã O SO S MA T A AT L Â N T I C A . A TLA S DA MA TA A TLÂ N TI C A. DIS P O N Í V E L E M: <H T T P : / / W W W . S O S M A . O R G . B R / P R O J E T O / A T L A S-DA-M A T A -A T L A N T I C A / > . ACE S S O E M: 24 NO V . 201 5 .

Geralmente, chama-se de Mata Atlântica todo o conjunto de florestas tropicais que ocorriam na fachada oriental do país e se estendiam para o interior do
território, acompanhando os vales de grandes rios do Sudeste, Sul e Centro-Oeste.

Amazônia em chamas
Direção de John Frankenheimer. Brasil: Warner Bros., 1994.
122 minutos.
Apresenta a história de Chico Mendes (1944-1988), líder dos seringueiros que empreendeu ferrenha e pacífica luta contra a exploração dos
trabalhadores e o desmatamento da Amazônia.

Floresta Amazônica
É a maior floresta pluvial do planeta. Estende-se por uma área de cerca de 5,3 milhões de quilômetros quadrados, dos
quais quase 4 milhões se situam no território brasileiro. Abrange a maior parte da região Norte do Brasil e avança pelos
estados de Mato Grosso e do Maranhão, além de Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Peru,
Equador e Bolívia.
De acordo com o clima, o solo e o relevo, a floresta apresenta variações locais que podem ser classificadas em
três tipos:
▸ mata de igapó (ou caaigapó) – ocorre em terrenos junto aos rios e permanentemente inundados; bromélias,
orquídeas e vitórias-régias são espécies encontradas nessa mata, cujas árvores não passam de 20 metros de
altura;
▸ mata de várzea – ocorre em terrenos inundados somente em épocas de cheias dos rios; samaumeira, seringueira
e cacaueiro são exemplos de espécies encontradas nessa mata, menos variada, mas de maior porte que a
anterior;
▸ mata de terra firme (ou caaetê) – recobre os baixos planaltos sedimentares, em terrenos livres das enchentes
fluviais; castanha-do-pará, guaraná e caucho são espécies encontradas nessa mata, que constitui a maior parte da
floresta.
São outras características do conjunto da Floresta Amazônica:
▸ enorme variedade de plantas, com predomínio de espécies higrófilas, típicas de ambientes muito úmidos;
▸ árvores muito próximas umas das outras, com tamanhos variáveis (algumas ultrapassam 30 metros de altura),
constituindo diferentes estratos ou andares, o que confere à floresta uma fisionomia heterogênea;

▸ plantas produtoras de fibras, como a piaçava, e essências usadas na produção de medicamentos, cosméticos,
corantes, etc.

Na foto, o igapó está em época de cheia no Parque Ecológico do Janauary, em Manaus (AM), 2014.
< imagem >
FA B I O COL O M B I N I/ A C E R V O DO FO T Ó G R A F O

Cerrado
Vegetação que originalmente ocupava a maior parte do Centro-Oeste do Brasil, onde se localiza seu núcleo
central, o Cerrado estende-se também por manchas isoladas nos estados de São Paulo, de Minas Gerais, da Bahia,
do Tocantins, do Maranhão, de Roraima e do Amapá. É uma formação bastante adaptada ao clima tropical típico,
com chuvas abundantes no verão e inverno seco.
Essa formação vegetal é, do ponto de vista fisionômico, uma savana tropical, na qual o estrato de árvores e
arbustos coexistem com vegetação rasteira, formada principalmente por gramíneas.
Na flora do Cerrado, é possível reconhecer campos limpos (predomínio de gramíneas); campos sujos (predomínio de
gramíneas e arbustos); campos cerrados (predomínio de arbustos, com espécies de três a cinco metros); e cerradões
(bosques onde as copas das árvores se tocam e o estrato arbustivo é reduzido).
Entre os principais tipos vegetais do Cerrado, destacam-se a lixeira, o pequi, o barbatimão e a mangabeira. Matas
de galerias ou matas ciliares aparecem nos vales dos rios que cortam a área ocupada pelo Cerrado.
Estudos indicam que a área original do Cerrado, de aproximadamente 2 milhões de quilômetros quadrados,
está reduzida a menos da metade. A expansão acelerada da agropecuária nas últimas décadas, especialmente
o cultivo de soja, é o principal fator de devastação.
< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / R O G É R I O RE I S
No Cerrado, o fogo é um elemento natural, pois há espécies que só sobrevivem por causa dele. Durante os incêndios naturais, a camada superficial do
solo atua como isolante térmico, protegendo o sistema subterrâneo das plantas. Várias conseguem rebrotar quando o fogo acaba. Na foto, Cerrado no
Parque Estadual da Serra dos Pireneus, Pirenópolis (GO), em 2015.

Caatinga
Em tupi-guarani, Caatinga significa “mata branca”. Trata-se da vegetação típica do clima semiárido do Sertão nordestino
e constitui uma formação de xerófitos (xerós = seco; phytón = vegetação), basicamente formada por arbustos e pequenas
árvores.
As árvores da Caatinga costumam ser pequenas e tortas, de casca grossa e frequentemente espinhosa. Suas
raízes são profundas para facilitar a captação de água. Para retê-la, perdem as folhas durante o período em que não
chove. Apenas o juazeiro, que tem raízes muito profundas e consegue captar água no subsolo, e algumas palmeiras
não perdem as folhas na estação seca.
< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / A N D R É DIB
A biodiversidade da Caatinga está ameaçada pela presença humana. Em várias localidades, está se transformando em deserto. Na foto, área de Caatinga
em Cabaceiras (PB), 2014. A coloração verde dos arbustos e, em alguns casos,
a floração do cacto denotam a ocorrência de chuva recente.

Nos cactos, muito abundantes nessa formação vegetal, as folhas estão transformadas em espinhos e o caule
grosso armazena água.
Uma das características mais notáveis da Caatinga é sua capacidade de recuperação. Basta um pouco de chuva
para a mata cinzenta e ressequida se cobrir de brotos e folhas verdes.
A Caatinga não aparece em todo o Sertão, pois, em alguns lugares, não há falta de água. Esses lugares úmidos,
chamados de brejos, estão localizados nos sopés das serras e chapadas, onde chove um pouco mais.
A área original da Caatinga era de aproximadamente 840 mil quilômetros quadrados. Atualmente, cerca de 50% de
sua área encontra-se tomada por lavouras e pastagens, e o que resta, em geral, é pouco protegido por unidades de
conservação.
Caatinga: a paisagem e o homem sertanejo
Samuel Murgel Branco. São Paulo: Moderna, 2003.
A paisagem da Caatinga, a distribuição irregular de chuvas, o clima e o ambiente do sertanejo são alguns dos
temas abordados nesse livro.

Campos
Os campos são formações rasteiras constituídas por gramíneas, que atingem até
60 centímetros de altura, e por ervas baixas. No Brasil, os campos mais conhecidos localizam-se na região Sul, onde
existem dois tipos distintos: os da Campanha Gaúcha e os de planalto. Os campos limpos, formados por pradarias,
são o principal elemento da paisagem da Campanha Gaúcha, com as estâncias (fazendas de gado) e as áreas de
agricultura (arroz, milho, soja). Constituem as melhores pastagens naturais do Brasil, pois formam um verdadeiro
tapete de gramíneas cobrindo as coxilhas, suaves ondulações do terreno.
Os campos de planalto, ou campos sujos, em virtude da ocorrência de arbustos, desenvolvem-se nas áreas de
solos pobres, geralmente muito arenosos. Também são bons para a pecuária, mas sua qualidade é inferior à da
Campanha.
No Mato Grosso do Sul, destacam-se os campos de Vacaria; no Sudeste, em algumas áreas serranas, surgem
como enclaves. Também ocorrem em algumas áreas inundáveis do Maranhão, da Ilha de Marajó (PA) e do Amapá.
Desde a década de 1970, processos erosivos intensos vêm afetando áreas da Campanha Gaúcha, especialmente
nos municípios de Alegrete, Quaraí, Uruguaiana, Rosário do Sul, São Borja e Itaqui. Nessas áreas, campos verdes
contrastam com dunas de areia fina. O processo erosivo ocorre porque a cobertura vegetal do campo nativo é
retirada por meio de queimadas, pelo arado e pelo gado, trazendo o solo arenoso para a superfície.

As pradarias do sul e do sudoeste do Rio Grande do Sul constituem um tapete de gramíneas cobrindo o solo. Na foto, pradaria em Santa Maria (RS),
2015.
< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / G E R S O N GE R L O F F

Vegetação do Pantanal
Em território brasileiro, o Pantanal estende-se por cerca de 140 mil quilômetros quadrados nos estados de Mato
Grosso e do Mato Grosso do Sul, em áreas de planície inundadas periodicamente pelos rios que formam a bacia do
Paraguai.
No Pantanal, a vegetação é bastante complexa e heterogênea, pois apresenta espécies vegetais e animais das
florestas, dos campos e do Cerrado. Ao longo dos rios, há matas tropicais densas. Os campos predominam nas
áreas ciclicamente alagáveis; o Cerrado ocupa as áreas mais elevadas.
A variedade da vegetação do Pantanal está relacionada a uma maior ou menor umidade resultante das inundações
anuais dos rios da região.
O crescimento das cidades, a ocupação desordenada das áreas mais altas, onde nasce a maioria dos rios, e a
agricultura inadequada, que provoca erosão do solo e contaminação por agrotóxicos, são alguns dos problemas que
vêm transformando a vegetação e outros elementos naturais do Pantanal.

Na foto, vista do Pantanal em Poconé (MT ), 2014.
< imagem >
FA B I O COL O M B I N I/ A C E R V O DO FO T Ó G R A F O

Vegetação litorânea
O mangue e a restinga são os destaques da vegetação litorânea, que se estende por toda a faixa costeira do
Brasil.
Os manguezais ocorrem nos litorais lodosos, em solos argilosos e barrentos alagados pelas marés. Também
ocorrem em contornos de estuários de rios e baías, onde a água doce se mistura com a salgada. Apresentam
espécies arbustivas e arbóreas, com troncos finos e raízes aéreas, adaptadas às inundações.
Os manguezais têm importante função de retenção e reciclagem de nutrientes essenciais para a vida de espécies
como caranguejos, moluscos e camarões. Constituem um sistema de transição entre a vida terrestre e a marinha.
A restinga se desenvolve na areia, com predominância de arbustos e árvores de pequeno porte.
A intensa urbanização das áreas litorâneas tem provocado elevado grau de degradação da vegetação litorânea.
Derrubada de árvores, contaminação por esgotos, vazamentos domésticos e industriais e especulação imobiliária
intensa contribuem para a destruição de mangues e restingas em muitas áreas litorâneas do país.

Vista de manguezal em Barreirinhas (MA), 2013.
< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / M A U R I C I O SI M O N E T T I

Texto & contexto

1. Cite características dos três tipos de mata observados na Floresta Amazônica.
2. Cite algumas causas da devastação da Mata Atlântica e da Mata dos Pinhais.
3. No bioma Cerrado, é possível reconhecer diferentes tipos de formação vegetal. Quais são eles?
4. “No Pantanal, a vegetação é bastante complexa e heterogênea.” Explique essa frase dando exemplos.

Extrativismo vegetal no Brasil
A atividade extrativa vegetal consiste na coleta de produtos como seivas, ervas, madeiras e frutos, extraídos de
plantas da vegetação nativa.
Em território brasileiro, essa atividade econômica tem sido uma constante desde o início da colonização. De certa forma,
a enorme biodiversidade do país tem impulsionado as atividades extrativas vegetais, que, em determinados momentos
históricos, constituíram a base da economia de algumas regiões, estimulando verdadeiros ciclos, como o da borracha e o
do cacau.
Ainda hoje, a atividade extrativa vegetal permanece como a base econômica de muitas famílias, principalmente na
região Norte. A extração de buriti, murici, cupuaçu, babaçu e outros produtos da floresta continua garantindo a
subsistência de muitas comunidades, apesar das crises de preços e da concorrência.
No entanto, há estudiosos do assunto que acreditam que a tendência é o fim das atividades extrativas de certos
produtos vegetais. Segundo essa visão, quando há grande procura por eles, os produtos extrativistas tendem a ser
“domesticados” em plantações. Outro fator que pode indicar esse fim são os substitutos artificiais. No caso da
borracha, dois terços do consumo mundial são de borracha sintética.
O fato é que muitas plantas da Amazônia já estão começando a ser cultivadas, como o jaborandi e o cupuaçu
(cerca de 90% deste já é plantado).
Polêmicas à parte, o extrativismo tem sido uma das principais apostas dos governos para proteger a Amazônia. No
Brasil, em 2014, existiam cerca de 60 reservas extrativistas federais, a maior parte localizada na região Norte.
As reservas extrativistas são espaços territoriais utilizados por populações extrativistas para a exploração
autossustentável e a conservação dos recursos naturais renováveis. Elas foram criadas especialmente para a retirada
controlada de produtos da floresta, visando à preservação da mata.
< imagem >
T YB A / A N O U K GA R C I A
Colheita de açaí em reserva extrativista no município de T arauacá (AC), em 2013.


Madeira: muita mata devastada
Como você já viu, quase toda a extensão do planalto Meridional era, originalmente, recoberta pelo pinheiro da
espécie Araucaria brasiliensis. Atualmente, a chamada Mata de Araucária está reduzida a menos de 5% da sua
extensão primitiva, e praticamente todo o pinho do Sul do país provém de espécies plantadas.
A madeira é utilizada, às vezes, como lenha; outras vezes, é queimada para o preparo de carvão vegetal. A
maioria, porém, é utilizada para a fabricação de móveis.
As madeiras de lei, duras e resistentes, são as mais valorizadas no mercado internacional. Por isso, a maior parte
delas é exportada. Dispersas nas florestas pluviais, elas se esgotam rapidamente nas áreas onde são exploradas,
impondo um caráter itinerante à atividade extrativa.
Às vezes, na ânsia de encontrar determinadas madeiras, as empresas extrativas – muitas estrangeiras e outras
clandestinas – não preservam a mata que envolve as espécies procuradas, levando a um desflorestamento
generalizado.
O mogno, por exemplo, teve seu polo extrativo na região de Paragominas, no Pará. Durante a década de 1980,
anualmente, eram extraídos cerca de 2 milhões de metros cúbicos, até que a preciosa madeira se esgotasse na
região. Nos anos 1990, a atividade extrativa foi transferida para o Acre e para a região de Itacoatiara, no
Amazonas.
Estima-se que 80% da retirada do mogno é clandestina, o que acaba por incrementar o desmatamento na
Amazônia. Por isso, uma portaria do Ibama, em 2001, proibiu o corte dessa árvore por tempo indeterminado,
mesmo em áreas onde era permitido. Em 2003, o governo estabeleceu que a exploração do mogno pode ser feita
apenas mediante planos de manejo sustentável.

Manejo sustentável: exploração racional da floresta por meio de técnicas que causem o mínimo de impactos ambientais.


Borracha e castanha-do-pará
Típica da Amazônia, a borracha é extraída de forma rudimentar. Seringueiros e coletadores, muitas vezes, são
explorados pelos chamados seringalistas. Poderosos fazendeiros locais, muitos seringalistas se dizem proprietários
de terras que, não raro, são devolutas, sem dono. Comandam as atividades extrativas em diversas áreas da
Amazônia e ficam com a maior parte dos lucros.
Em 1990, o governo federal regulamentou a criação de reservas extrativistas para exploração autossustentável de
recursos naturais. Depois disso, seringueiros e coletadores formaram várias cooperativas para comercializar seus
produtos. O poder dos fazendeiros locais, no entanto, ainda impede a criação de mais reservas.
O cultivo da seringueira também é praticado em São Paulo, na Bahia e em Mato Grosso. Os maiores produtores
nacionais de borracha são os estados de São Paulo e da Bahia, graças a seringais plantados, e as maiores produções
de seringais nativos são as do Acre, do Amazonas e de Rondônia. A produção nacional de borracha, que não evoluiu
tecnicamente, não atende às necessidades internas de consumo; por isso, sua importação é necessária.
Ao contrário da borracha, a castanha-do-pará é exportada para o Japão, os Estados Unidos e diversos países da
Europa. Dela se extrai óleo vegetal, que pode ser utilizado como matéria-prima na elaboração de remédios, sabão e
cosméticos, além do uso industrial, como lubrificante de aparelhos de alta precisão. É também um alimento de alto valor
nutritivo.
Grandes castanhais localizam-se principalmente nos vales dos rios Amazonas e Tocantins, na mata de terra firme.
Assim como a extração da borracha, a coleta de castanha--do-pará é realizada de forma primitiva, por meio de catação,
na qual o trabalhador só retira as castanhas dos cocos que estão caídos no chão. Muitas vezes, o seringueiro é também
responsável pela extração da castanha-do-pará.
< imagem >
NA T U R E Z A BR A S I L E I R A / Z I G KO C H
Coleta de castanha-do-pará no município de Apuí (AM), em 2014.

Carnaúba: árvore da vida
Nos vales úmidos do Sertão nordestino, principalmente nos estados do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, é
explorada a carnaúba, conhecida como “árvore da vida”, pois dela tudo se aproveita. A cera que reveste suas folhas
tem grande aplicação industrial, sendo usada na fabricação de ceras industriais e domésticas e de graxas lubrificantes.
É empregada ainda como matéria-prima para a fabricação de discos, filmes fotográficos, papel-carbono e sabonetes. A
população local aproveita o tronco para construir casas, usando as folhas para recobrir o teto. O fruto é utilizado na
alimentação. As raízes, depois de fervidas, são transformadas em remédio. As sementes são torradas, moídas e
consumidas como bebida.

Outros produtos
No Brasil, a atividade extrativa inclui outros produtos, como a piaçava, fibra usada na fabricação de vassouras; o
açaí, fruto empregado no preparo de produtos alimentares; fibras vegetais; ervas medicinais; o palmito; e a oiticica,
da qual se extrai óleo para a fabricação de tintas, vernizes e anticorrosivos. Os maiores produtores de óleo de oiticica
são Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
No Meio-Norte, destaca-se o babaçu, palmácea nativa cujos coquilhos dão grande produção de óleo, utilizado
nas indústrias de sabão, margarina e produtos químicos.
O palmito é um exemplo de extrativismo vegetal, feito também de forma extremamente predatória. Condena-se a
derrubada das árvores para obtenção do miolo, pois o tempo de reposição das palmeiras é longo e elas demoram de
sete a oito anos para se desenvolver. A extração indiscriminada ameaça de extinção as espécies juçara e açaí.

Chico Mendes: crime e castigo
Zuenir Ventura. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
Reúne reportagens sobre Chico Mendes, um dos maiores líderes ambientalistas do Brasil. O livro é dividido em três partes: a primeira traz matérias
escritas para um jornal no começo de 1989, logo após o assassinato do seringueiro; a segunda aborda o julgamento dos culpados; e a terceira refere-
se à volta de Zuenir ao Acre, 15 anos após o julgamento.

Para saber mais
Quebradeiras de coco babaçu
Entre a Caatinga e o Cerrado, nos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Pará, vivem as mulheres quebradeiras

de coco babaçu. Elas somam mais de 300 mil mulheres trabalhadoras rurais que vivem em função do extrativismo do
babaçu, uma das mais importantes palmeiras brasileiras.
Contra uma vida de segregação, as quebradeiras iniciaram seu processo de luta – denominado por elas de babaçu
livre. O nome advém da “batalha” contra os pecuaristas, que construíram cercas em torno das áreas de incidência da
palmeira, impedindo, dessa forma, a coleta do coco. Como forma de impedir a livre circulação das quebradeiras em
suas terras, muitos criadores de gado, além do cercamento, transformaram babaçuais em áreas [...] [de] pastos,
numa atitude criminosa contra o meio ambiente e a cultura das populações tradicionais.
Fazendeiros, pecuaristas e as empresas agropecuárias cercaram as terras com consentimento e incentivos dos
governos estadual e federal. Em seu ambiente, as mulheres passaram a ser pressionadas. Mas a resistência veio a
partir da afirmação de uma identidade coletiva e da certeza de que sua atividade econômica era essencial para a vida
delas.
Para fortalecer suas reivindicações, as mulheres criaram o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco
Babaçu (MIQCB), no ano de 1995. O MIQCB luta pelo direito à terra e à palmeira de babaçu, para que possam
trabalhar e manter a natureza estável, e pelo reconhecimento das quebradeiras de coco como uma categoria
profissional.
A discussão política ganhou força em 1997, quando foi aprovada, no município de Lago do Junco, a Lei do Babaçu
Livre, garantindo às quebradeiras o direito de livre acesso e uso comum dos babaçuais e impôs restrições às
derrubadas de árvores.
A luta das quebradeiras começou no estado do Maranhão, na região do Médio Mearim, onde famílias das
comunidades Centrinho do Acrízio, Ludovico e São Manoel, no município de Lago do Junco, conquistaram, após um
longo processo de luta, áreas para morar e produzir. A região havia sido povoada no passado por posseiros,
descendentes de escravos e indígenas.
Até os dias atuais, as quebradeiras fazem mobilizações para garantir o debate sobre alternativas de
desenvolvimento para as regiões onde existe o babaçu. O movimento é predominantemente das mulheres e, por
isso, reserva aos homens um espaço somente nas danças e celebrações religiosas.
Da árvore do babaçu, as mulheres extraem o seu sustento. Transformam as palhas das folhas em cestos, a casca
do coco em carvão e a castanha em azeite e sabão. Organizadas, criaram cooperativas para produção e
comercialização de seus produtos, como farinha, azeite, sabonete e outros derivados do babaçu.
QUEBRADEIRAS de coco babaçu. Cerratinga. Disponív el em:
<http://www.cerratinga.org.br/populacoes/quebradeiras>. Acesso em: 19 out. 2015.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / F R A N C O HO F F
Quebradeiras de coco babaçu em São Miguel do T ocantins (T O), 2011.

Texto & contexto
1. Alguns estudiosos acreditam que a tendência é o fim das atividades extrativas de certos produtos vegetais. Quais são os argumentos
apresentados por esses estudiosos?
2. Quais são os usos econômicos da castanha-do-pará?
3. Por que a carnaúba é conhecida como “árvore da vida”?

Em defesa dos biomas
Nos últimos anos, pressionado por investidores, entidades internacionais, órgãos financeiros e organizações
ambientalistas, o governo brasileiro tem tomado algumas medidas para regulamentar e fiscalizar a exploração dos
recursos naturais do país.
A criação de unidades de conservação, nas quais a exploração é restrita a determinadas atividades ou mesmo
proibida em alguns casos, tem permitido ao Estado evitar a destruição total dos biomas e ecossistemas brasileiros.
Em julho de 2000, foi instituído, por lei, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc), que organizou as
unidades já existentes e criou novas categorias de áreas protegidas. Ao mesmo tempo, as unidades foram
classificadas em dois grupos: de proteção integral, destinadas exclusivamente à conservação e pesquisa, e de uso
sustentável, em que é permitida a exploração racional e controlada.
Entre as unidades de proteção integral, destacam-se:
▸ os parques nacionais, que só podem ser usados para fins recreativos, educacionais ou científicos;
▸ as reservas biológicas, onde só é permitida a visitação com finalidade educativa ou científica;

▸ as estações ecológicas, reservadas à preservação integral da biodiversidade e à pesquisa científica, em que a
visitação não é permitida.
Entre as unidades de uso sustentável, as mais comuns são as áreas de proteção ambiental, as reservas
extrativistas e as florestas nacionais, cada qual com determinadas restrições ao seu aproveitamento.
Em 2015, de acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA), existiam
954 unidades de conservação federais, sendo 143 de proteção integral e 811 de uso sustentável. A região Norte é a
que mais tem áreas de proteção integral, seguida pelo Nordeste. Muitas dessas unidades, contudo, só existem no
papel.
Por falta de fiscalização ou em consequência da caça, da pesca, da mineração ou de outras atividades
predatórias, muitas unidades de conservação têm seu equilíbrio ameaçado.
Confira a localização de algumas unidades no mapa ao lado.

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)
<http://www.icmbio.gov.br>. Acesso em: 10 nov. 2015.
Criado pela
Lei n
o
11.516, de 28 de agosto de 2007, esse instituto é vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) e ao Sistema Nacional do Meio Ambiente
(Sisnama). É responsável por cuidar, gerir, fiscalizar, monitorar e até mesmo propor e criar unidades de conservação no Brasil.

Brasil: unidades de conservação (2012)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna,
2013. p. 124.

Para que as iniciativas sejam eficazes, é necessário que o Estado esteja comprometido, em primeiro lugar, com
os interesses da população, sem nenhum tipo de favorecimento a grupos políticos e empresariais poderosos,
sejam nacionais, sejam estrangeiros. Nesse sentido, assumem cada vez mais importância os movimentos
ambientalistas, que têm se profissionalizado, constituindo organizações da sociedade civil que cumprem um papel
imprescindível na divulgação de informações, na fiscalização e na cobrança de ações pertinentes junto aos órgãos
públicos.
Em meio a um acirrado embate político, com produtores rurais de um lado e ambientalistas de outro, foi
sancionado, em 2012, o Novo Código Florestal Brasileiro. Por esse diploma legal, entre muitos outros dispositivos,
os proprietários rurais são obrigados a recompor as matas que, porventura, tenham derrubado em áreas de
nascentes e margens de rios que correm em suas terras.

Movimentos ambientalistas, ONGs e partidos políticos
As primeiras manifestações em defesa do ambiente surgiram nos países desenvolvidos, especialmente na Europa
e nos Estados Unidos, ainda nas décadas de 1960 e 1970. No início, eram denominadas “movimentos pacifistas”,
pois a conservação da natureza era apenas um dos itens na pauta dessas organizações, que lutavam também pela
paz e pela emancipação da mulher.
Com o amadurecimento da consciência ambiental, a difusão da energia nuclear e os desastres ecológicos
ocorridos no mundo inteiro, essas organizações multiplicaram-se e passaram a se dedicar principalmente às
questões ambientais.
Em 1972, a Organização das Nações Unidas (ONU) promoveu a primeira Conferência sobre o Meio Ambiente
Humano, em Estocolmo, na Suécia (observe a foto abaixo). Em 1983, o movimento se fortaleceu com a criação da
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, na Noruega, que teve a presença de 21 países. Os
membros da comissão aprovaram um importante documento chamado Nosso futuro comum, que propôs estratégias
ambientais de longo prazo para a obtenção de um desenvolvimento sustentável. Segundo essa concepção, o
crescimento econômico deve basear-se em políticas capazes de explorar os recursos naturais sem comprometer os
biomas e os ecossistemas.

< imagem >
GL O W IM A G E S / U N PH O T O / I P ARC H I V E
Conferência da ONU realizada em Estocolmo, Suécia, 1972.

O trabalho da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento foi concluído em 1987, e o
documento final reconhece a existência de um vínculo entre pobreza, desigualdade e deterioração ambiental. De
acordo com esse trabalho, os países menos desenvolvidos são constrangidos a usar excessivamente seus

recursos ambientais para sobreviver, em detrimento do meio ambiente, que se degrada cada vez mais. Os
países mais industrializados também são culpados pelo consumismo excessivo e, consequentemente, pelo uso
demasiado dos recursos naturais, a maioria oriunda de países pobres.
Ainda conforme o documento, cabe aos países desenvolvidos evitar que o crescimento industrial leve a uma disputa
pela exploração das últimas fontes naturais existentes. Caberia a eles, também, desenvolver uma tecnologia voltada
para a preservação ambiental e contribuir, no plano financeiro, para que os países menos desenvolvidos obtenham
os recursos necessários à conservação das reservas naturais.
A devastação das florestas tropicais no Brasil tornou-se o problema ambiental de maior repercussão em todo o
mundo. Nas décadas de 1970 e 1980, o governo brasileiro canalizou mais de 10 bilhões de dólares em incentivos
fiscais e financiamento de projetos econômicos na Amazônia. A maioria deles revelou-se um desastre ecológico, com
ganhos econômicos e sociais mínimos, geralmente em benefício de empresas e grupos particulares.
As preocupações ecológicas no Brasil avançaram somente nos anos 1990, em consequência de pressões
internacionais envolvendo a preservação da Amazônia. Não foi por acaso que a Segunda Conferência Mundial sobre
Meio Ambiente, em 1992 (Eco-92), foi realizada no Rio de Janeiro.
O debate sobre o meio ambiente no Brasil, no entanto, remonta aos anos 1970, quando entidades ambientalistas
começaram a desenvolver um trabalho pioneiro em defesa das reservas naturais, como a Amazônia e a Mata
Atlântica.
Por conta da integração do Brasil às preocupações com o meio ambiente, uma nova conferência mundial foi
realizada no país em 2002: a Rio+10.
No início de dezembro de 2015, o Brasil apresentou, na COP-21 (Conferência das Partes), realizada em Paris e
coordenada pela ONU, as diversas medidas que vai implementar a fim de contribuir com o combate ao aquecimento
global.
Atualmente, o Brasil conta com dezenas de entidades ambientalistas em todos os estados, as quais fazem parte
das chamadas Organizações Não Governamentais (ONGs). Uma das mais ativas é a Fundação SOS Mata Atlântica,
que não se limita a fazer campanhas de esclarecimento e advertência. Equipes técnicas da entidade elaboram e
executam projetos de desenvolvimento sustentável no bioma, aplicando recursos arrecadados nacional e
internacionalmente. Um exemplo é a cultura de ostras em Lagamar, entre Iguape, em São Paulo, e Paranaguá, no
Paraná. A atividade contribuiu para fixar no local a população caiçara e combater a pesca predatória.
Fundação SOS Mata Atlântica
<https://www.sosma.org.br>. Acesso em: 10 nov. 2015.
ONG que atua na defesa da Mata Atlântica. Criada em 1986, a SOS Mata Atlântica apresenta vários projetos voltados para a preservação
ambiental desse bioma. Em seu site, é possível encontrar diversas informações sobre a ONG e a Mata Atlântica.

Texto & contexto
1. Quais são os tipos de unidades de conservação criados pelo governo federal brasileiro?
2. Em sua opinião, por que as unidades de conservação são importantes?
3. Observe novamente o mapa da página 118. Quais são as principais unidades de conservação do estado onde você mora?
4. Qual é o tipo de unidade de conservação predominante no seu estado?

Domínios morfoclimáticos: a paisagem
natural em conjunto
Uma das formas de regionalizar as paisagens naturais de grandes áreas é por meio da identificação de domínios
morfoclimáticos (morfo = forma; climático = relativo ao clima). Trata-se de um conceito bem geográfico baseado nas
inter-relações entre estrutura geológica, formas de relevo, hidrografia, climas, solos e formações vegetais, das quais
resultam as diferentes expressões fisionômicas da natureza na superfície terrestre.
O primeiro estudo destinado a identificar domínios paisagísticos no Brasil foi realizado por Aziz Nacib Ab’Sáber
ainda nos anos 1970, sendo muito respeitado até hoje. Um domínio morfoclimático refere-se a um conjunto espacial
de grande dimensão caracterizado pelas interações dos elementos citados acima. Assim, no interior de um domínio
morfoclimático, ocorrem certas semelhanças entre os tipos de clima, relevo, solo, hidrografia e vegetação, que dão
identidade à paisagem. A denominação de um domínio morfoclimático é dada em consideração ao elemento mais
expressivo na paisagem, conforme veremos a seguir.
De acordo com Ab’Sáber, existem seis grandes domínios paisagísticos e macroecológicos no Brasil: domínio

amazônico, domínio do cerrado, domínio da caatinga, domínio dos mares de morros, domínio das araucárias e domínio
das pradarias. Além dos domínios, existem as áreas de transição, faixas intermediárias entre domínios distintos. Elas
apresentam paisagens variadas, que podem se assemelhar tanto a um quanto a outro domínio próximo. Observe o
mapa abaixo.

Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas
Aziz Nacib Ab’Sáber. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
Descreve minuciosamente as características dos domínios de natureza no Brasil. É feita, ainda, uma análise crítica sobre esses domínios e suas
formas de ocupação humana.

Brasil: domínios morfoclimáticos
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de AB’SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.

Domínio amazônico
Corresponde a uma superfície de cerca de 3,5 milhões de quilômetros quadrados, que abrange tanto a planície
do rio Amazonas quanto as depressões e os baixos planaltos sobre os quais está assentada a floresta (veja o
mapa da página anterior).
Tradicionalmente, acreditava-se que a Amazônia era uma extensa planície em que predominavam terras
baixas. No entanto, inúmeras pesquisas mostram que a planície corresponde a apenas 5% do que se supunha
anteriormente, pois as terras baixas também formam planaltos e extensas depressões. Retome o mapa com a
classificação de relevo proposta por Jurandyr Ross (página 87).
Os numerosos rios do domínio amazônico atuam como importantes agentes de sedimentação e, principalmente,
de erosão. Contudo, o elemento marcante desse domínio é a Floresta Amazônica, que, como você já viu, apresenta
grande variedade de espécies, com predomínio de vegetais de folhas largas, denominados latifoliados.
A relação entre a floresta e a rede hidrográfica, sob influência dos ventos alísios na zona de convergência
intertropical, explica a elevada umidade do domínio amazônico, típica do clima equatorial.
Os solos são pouco espessos e ácidos, e sua riqueza está na própria cobertura vegetal, que dá origem ao material
orgânico decomposto. Por isso, o desmatamento constitui a principal ameaça ao equilíbrio do domínio.

< IMAGEM >
FA B I O COL O M B I N I/ A C E R V O DO FO T Ó G R A F O
Vista aérea do domínio amazônico em Belém (PA), 2013.

Domínio do cerrado
Como se pode observar no mapa da página anterior, o domínio do cerrado abrange a maior parte da porção
central do país e é próprio de climas tropicais alternadamente úmidos e secos.
Originalmente, acreditava-se que nessa área predominavam os planaltos, com a presença de chapadas e
chapadões. Na década de 1990, porém, novas pesquisas demonstraram que esse domínio apresenta grande
diversidade geomorfológica. Além de planaltos residuais, há depressões, como a Sul-Amazônica e a do Araguaia-
Tocantins. Além disso, os rios Araguaia e Tocantins formam uma extensa área de planície. A rede hidrográfica do
domínio é de baixa densidade, e os rios de maior destaque são afluentes das bacias hidrográficas Amazônica e
Platina.
No domínio do cerrado, a vegetação herbácea e arbustiva e as árvores pequenas de troncos e galhos retorcidos
adaptam-se bem ao período de estiagem. Nos locais mais úmidos, desenvolve-se o chamado cerradão, com árvores
de grande porte; nas margens dos rios, é comum a vegetação denominada mata de galeria.
O solo do cerrado é considerado pobre e requer técnicas de correção da acidez (calagem) para o desenvolvimento
da agricultura. Foi em razão da aplicação de técnicas de correção dos solos que o cultivo de soja pôde avançar, nos
últimos anos, por todo o Centro-Oeste do país. Segundo alguns estudiosos, é o solo, e não o tipo climático, o
responsável pelas características da vegetação do Cerrado.

Domínio da caatinga
Corresponde a uma região semiárida originalmente recoberta pela caatinga (retome o mapa da página 121).

Nesse domínio, a presença de depressões já havia sido detectada desde os primeiros estudos, mas sua real
extensão era desconhecida: a depressão Sertaneja e a do São Francisco cobrem praticamente todo o semiárido
nordestino.
O relevo apresenta várias formações com modelado abrupto, uma vez que o calor é o agente intempérico mais
atuante, resultado do clima quente e seco.
A caatinga é a formação vegetal predominante, adaptada ao clima seco e a solos pouco profundos. Como você
viu anteriormente, para reter umidade durante os longos períodos de estiagem, essa vegetação arbustiva perde as
folhas e adquire uma cor branco-acinzentada. É comum as plantas terem raízes profundas e longas à procura da
água de infiltração.
A rede hidrográfica é formada principalmente por rios temporários, pois as chuvas são irregulares e os solos quase
sempre não permitem a formação de grandes lençóis freáticos.

Vidas secas
Direção de Nelson Pereira dos Santos. Brasil: RioFilme, 1963. 103 minutos.
Baseado na obra homônima de Graciliano Ramos, o filme conta a história de uma família de retirantes pressionada pela seca no Sertão brasileiro
na década de 1940.

Domínio dos mares de morros
Abrange a porção litorânea do país, desde o Nordeste até o Sul, adentrando mais para o interior do Sudeste,
particularmente em São Paulo. Corresponde, aproximadamente, aos planaltos e às serras do Atlântico Leste-
Sudeste (observe novamente o mapa da página 121).
As formas de relevo conhecidas como mares de morros dão a identidade paisagística ao domínio. A expressão
mares de morros deve-se à forma de desgaste das rochas cristalinas. A ação das chuvas e a umidade típica do clima
tropical úmido fazem da água o principal agente modelador, de modo que o relevo adquire formas arredondadas.
As grandes unidades geomorfológicas que se sobressaem são a planície litorânea e as serras elevadas, como as
serras do Mar, da Mantiqueira e do Espinhaço. A origem dessas formas de relevo escarpadas está associada a
falhas causadas por intensos movimentos tectônicos ocorridos em eras geológicas passadas.
A presença das serras determina o traçado da rede hidrográfica: rios de médio e pequeno porte desembocam
diretamente no mar, e rios mais expressivos, como o rio Grande, o Tietê e o Paranapanema, correm em direção ao rio
Paraná, contribuindo para a configuração da bacia Platina.
Como consequência da intensa devastação, a vegetação não constitui o principal aspecto desse domínio. A presença
da floresta tropical úmida, mata de encosta ou mata atlântica restringe-se hoje a pequenas áreas. Intercalados às
formações florestais, aparecem os campos de altitude.
< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / L U C I A N A WH I T A K E R
Mares de morros em Miguel Pereira (RJ), 2013.

Domínio das pradarias
Corresponde ao extremo sul do país, na região da Campanha Gaúcha, caracterizada também pela influência do
clima subtropical (veja o mapa da página 121).
O relevo é baixo, com suaves ondulações denominadas coxilhas, isto é, pequenas colinas arredondadas, típicas
da depressão Sul-Rio-Grandense, recobertas por uma vegetação herbácea, com o predomínio de gramíneas. As
árvores são esparsas e, nas margens dos rios, desenvolvem-se as matas de galerias.
A riqueza do solo, conhecido como solo de brunizens, formado a partir da decomposição de rochas ígneas e
sedimentares, possibilita a prática agrícola. Mas a principal atividade econômica da região é a pecuária mais ou
menos extensiva.
Domínio das araucárias
Abrange os planaltos e as chapadas da bacia do Paraná (conjunto antigamente chamado de planalto Meridional),
onde o clima é subtropical úmido e predominam terrenos sedimentares-basálticos (veja o mapa da página 121).
No contato com a depressão da borda leste da bacia do Paraná, surgiram formas de relevo escarpadas
chamadas frentes de cuestas. As araucárias estão normalmente associadas a elevações e encostas.
Como você viu anteriormente, as araucárias são árvores caracterizadas por folhas pontiagudas, em forma de
agulhas, que, originalmente, cobriam grandes extensões do planalto Meridional.
O domínio das araucárias, ou florestas aciculifoliadas, foi devastado em função do extrativismo e da

agropecuária em todos os estados do Sul do país. Nos dias atuais, elas são encontradas principalmente em
áreas reflorestadas.
A maior parte dos solos do domínio é de grande fertilidade, como a terra roxa, originada da decomposição do
basalto, no caso dos planaltos e das chapadas da bacia do Paraná. Associadas à vegetação das araucárias, são
encontradas imbuia e erva-mate.
As chuvas distribuídas ao longo de todo o ano abastecem os rios afluentes do Paraná e do Uruguai.
< imagem >
FO L H A P R E S S / A G . RB S / L I D I A N E MA L L M A N N
A erva-mate (Ilex paraguaiensis), cujas folhas são usadas para fazer chá e chimarrão, ocorria associada às araucárias do Sul do Brasil. Na foto,
plantação de erva-mate em Ilópolis (RS), 2014.

Texto & contexto
1. O que são domínios morfoclimáticos?
2. Qual é o elemento mais marcante do domínio amazônico?
3. Quais são as principais características do domínio do cerrado?
4. Cite as características da rede hidrográfica e dos solos do domínio da caatinga.
5. Identifique os elementos que dão identidade paisagística ao domínio dos mares de morros.
6. Qual é a principal característica do solo do domínio das araucárias?

Conexões
Até algumas décadas atrás, uma área desocupada, dotada de fauna e flora pouco conhecidas. Uma fronteira
agrícola a ser explorada. O Brasil e o mundo precisam ver o Cerrado com outros olhos. A leitura do texto a seguir
vai ajudá-lo nessa tarefa.

O futuro do Cerrado que queremos
O Cerrado, savana mais rica em biodiversidade no planeta, está ameaçado pelo desmatamento para expansão da
fronteira agrícola. No período de 2010 a 2011, a região sofreu 12% a mais de perda da vegetação natural. Os dados
foram anunciados na última quarta-feira [25/11/2015], pelo Ministério do Meio Ambiente, e são resultados do Projeto
de Monitoramento do Desmatamento dos Biomas Brasileiros por Satélite (PMDBBS), que indicam, ainda, que 66% da
degradação das áreas nativas está concentrada, principalmente, na região Matopiba – estados do Maranhão,
Tocantins, Piauí e Bahia. [...]
Recentemente, o Living Forest Report, estudo que o WWF publicou no mês de abril [de 2015], apontou que, se
não tomarmos providências, uma área de 170 milhões de hectares deve sumir nos próximos anos (principalmente
nos trópicos). Esta área é equivalente ao território da Alemanha, França, Espanha e de Portugal juntos.
A estimativa é que 15 milhões de hectares serão perdidos no Cerrado nos próximos 15 anos, cedendo lugar para a
pastagem, que já ocupa 29,5% do bioma, e a agricultura, que representa atualmente 8,5%. O problema é que o ritmo
dessa conversão foi bastante intenso nos últimos 30 anos e a pressão sobre o segundo maior bioma do país continua
intensa.
Monitorar e proteger o Cerrado é, portanto, vital para a manutenção dos recursos hídricos no país, uma vez que,
das 12 grandes bacias hidrográficas existentes, oito são abastecidas pelas águas geradas neste bioma, sendo por
isso considerado a “caixa-d’água do Brasil”. O aumento do desmatamento no Cerrado interfere na oferta de água que
abastece boa parte da população brasileira.
As unidades de conservação funcionam como verdadeiros estoques de água, e hoje, por exemplo, [...] menos de
10% de todo o Cerrado são unidades de conservação e, destas, menos de 3% está sob Proteção Integral. “Não há
fórmulas mágicas para lidar com o desmatamento. Uma série de soluções precisam ser adotadas por toda a sociedade
e pelos governos – e algumas delas já estão à nossa disposição”, afirma Carlos Nomoto, CEO [chief executive officer,
diretor executivo, em português] do WWF-Brasil.
Segundo ele, para proteger o Cerrado, o primeiro desafio é controlar e monitorar, de maneira regular e efetiva, o
desmatamento, além de criar e garantir a melhor gestão de áreas protegidas na região. “As UCs ajudam na proteção
de nascentes de água, na regulamentação do clima, na geração de renda para povos e comunidades tradicionais e
na garantia das riquezas socioculturais, por isso defendemos a instituição de mais áreas protegidas no bioma”,
defende.[...]
< imagem >

WWF. O futuro do cerrado que queremos. Disponív el em:
<http://www.wwf .org.br/inf ormacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza/?49562>. Acesso em: 31 mar. 2016.
PU L S A R IM A G E N S / R O G É R I O RE I S
Vegetação típica do Cerrado no Parque Estadual da Serra dos Pireneus, no município de Pirenópolis (GO), em 2015.

Responda no caderno
1. Por que o Cerrado é um importante bioma brasileiro?
2. Pesquisas indicam que, caso não sejam tomadas providências, cerca de 15 milhões de hectares serão perdidos no Cerrado nos
próximos 15 anos. Quais são as principais ameaças a esse bioma?
3. Cite, pelo menos, uma medida que poderia contribuir para a proteção do que resta do Cerrado.
Responda no caderno


Pensando bem
1. Os mapas a seguir trazem informações relacionadas ao clima no Brasil.

Brasil: temperatura média anual (em °C)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A

< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A

Fonte dos mapas: Adaptado de SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. 34. ed. São Paulo: Ática, 2013. p. 119.
Brasil: precipitação média anual (em mm)

a) Em qual região do país se registram:
▸ as menores médias anuais de temperatura?
▸ as maiores precipitações?
▸ as menores precipitações?
b) Estabeleça uma relação entre:
▸ precipitação e vegetação;
▸ temperatura e latitude.

2. Em 1902, Euclides da Cunha (1866-1909) lançou Os sertões, obra que marcou a literatura brasileira e, até hoje, é reconhecida
como um clássico. Euclides foi enviado à Bahia como correspondente para acompanhar a Guerra de Canudos. Em sua obra,
faz uma descrição detalhada sobre aspectos da caatinga, do sertanejo e da guerra. Leia, a seguir, trechos desse livro.

As caatingas
Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua.
Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras francas.
Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e
não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças; e desdobra-
se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvores sem folhas, de galhos estorcidos e secos,
revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um
bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante...
Embora esta não tenha as espécies reduzidas dos desertos, […] as suas árvores, vistas em conjunto, semelham
uma só família de poucos gêneros, quase reduzida a uma espécie invariável, divergindo apenas no tamanho, tendo
todas a mesma conformação, a mesma aparência de vegetais morrendo, quase sem troncos, em esgalhos logo ao
irromper do chão. É que, por um efeito explicável de adaptação às condições estreitas do meio ingrato, evolvendo
penosamente em círculos estreitos, aquelas mesmo que tanto se diversificam nas matas ali se talham por um molde
único. Transmudam-se, e em lenta metamorfose vão tendendo para limitadíssimo número de tipos caracterizados
pelos atributos dos que possuem maior capacidade de resistência.
Esta impõe-se, tenaz e inflexível.
A luta pela vida, que nas florestas se traduz como uma tendência irreprimível para a luz, desatando-se os arbustos
em cipós, elásticos, distensos, fugindo ao afogado das sombras e alteando-se presos mais aos raios do Sol do que

aos troncos seculares – ali, de todo oposta, é mais obscura, é mais original, é mais comovedora. O Sol é o inimigo
que é forçoso evitar, iludir ou combater. […]
CUNHA, Euclides. Os sertões. Brasília: Ministério da Cultura – Fundação Biblioteca Nacional. v . 1. p. 17. Disponív el em:
<http://www.dominiopublico.gov .br/download/texto/bn000153.pdf >. Acesso em: 20 out. 2015.

a) Como Euclides da Cunha descreve a caatinga?
b) São utilizadas muitas figuras de linguagem para descrever a caatinga, a ponto de aproximar o leitor da sensação de vê-la ao
vivo. Cite trechos do texto que passam essa sensação.
c) De acordo com o autor, qual é a diferença entre uma vegetação de floresta e a da caatinga?

3. Observe a foto ao lado e explique o fenômeno atmosférico identificado nela.
< imagem >
FO T O A R E N A / B R U N O FE R N A N D E S
Pedestres caminham em uma rua da cidade de São Paulo (SP) em agosto de 2015.

4. Enem (2011) Um dos principais objetivos de se dar continuidade às pesquisas em erosão dos solos é o de procurar resolver
os problemas oriundos desse processo, que, em última análise, geram uma série de impactos ambientais. Além disso, para a
adoção de técnicas de conservação dos solos, é preciso conhecer como a água executa seu trabalho de remoção, transporte e
deposição de sedimentos. A erosão causa, quase sempre, uma série de problemas ambientais, em nível local ou até mesmo
em grandes áreas.
GUERRA, A. J. T. Processos erosiv os nas encostas. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2007 (adaptado).
A preservação do solo, principalmente em áreas de encostas, pode ser uma solução para evitar catástrofes, em função da intensidade de
fluxo hídrico. A prática humana que segue caminho contrário a essa solução é
a) a aração. b) o terraceamento. c) o pousio.
d) a drenagem. e) o desmatamento.

5. Enem (2012) As mulheres quebradeiras de coco-babaçu dos estados do Maranhão, Piauí, Pará e Tocantins, na sua grande
maioria, vivem numa situação de exclusão e subalternidade. O termo quebradeira de coco assume o caráter de identidade
coletiva na medida em que as mulheres que sobrevivem dessa atividade e reconhecem sua posição e condição, desvalorizada
pela lógica da dominação, se organizam em movimentos de resistência e de luta pela conquista da terra, pela libertação dos
babaçuais, pela autonomia do processo produtivo. Passam a atribuir significados ao seu trabalho e as suas experiências, tendo
como principal referência sua condição preexistente de acesso e uso dos recursos naturais.
ROCHA, M. R. T. A luta das mulheres quebradeiras de coco-babaçu pela libertação do coco preso e pela posse da terra.
In: Anais do VII Congresso Latino-Americano de Sociologia Rural, Quito, 2006 (adaptado).

A organização do movimento das quebradeiras de coco-babaçu é resultante da
a) constante violência nos babaçuais na confluência de terras maranhenses, piauienses, paraenses e tocantinenses, região com
elevado índice de homicídios.
b) falta de identidade coletiva das trabalhadoras, migrantes das cidades e com pouco vínculo histórico com as áreas rurais do
interior do Tocantins, Pará, Maranhão e Piauí.
c) escassez de água nas regiões de veredas, ambientes naturais dos babaçus, causada pela construção de açudes particulares,
impedindo o amplo acesso público aos recursos hídricos.
d) progressiva devastação das matas dos cocais, em função do avanço da sojicultura nos chapadões do Meio-
-Norte brasileiro.
e) dificuldade imposta pelos fazendeiros e posseiros no acesso aos babaçuais localizados no interior de suas propriedades.


Desafios & debates
Em grupo
O Cerrado é um patrimônio natural e cultural que conta a história do território e da gente brasileira. Olhar para o
Cerrado é como olhar para nós mesmos, pois o bioma espelha as decisões individuais e coletivas que tomamos no
dia a dia.

1. Observem a imagem a seguir e, depois, façam o que se pede.

Fitofisionomias do bioma Cerrado
< imagem >
GE T U L I O DE L P H I M / A R Q U I V O DA E DI T O R A

Fonte: Adaptado de BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Mapeamento do uso e cobertura do Cerrado: projeto TerraClass Cerrado 2013. Brasília: MMA, 2015. p. 30.
Cores-f antasia. Sem escala.

▸ “Um domínio seco e quente o ano todo. Um território de solos pobres, uma vegetação não muito bonita, seca e espinhenta.”
Escreva um comentário sobre essa frase com base no esquema acima.
2. Nesta atividade, vocês vão elaborar um clipping sobre o Cerrado. Trata-se de uma seleção de trechos de notícias publicadas em
jornais, revistas ou sites sobre esse importante bioma brasileiro. A ideia é refletir sobre sua importância e identificar possíveis
medidas para recuperá-lo e protegê-lo. Sigam as instruções abaixo:
1º) Pesquisem notícias sobre os seguintes temas: histórico da ocupação, características físicas e biodiversidade, desmatamento e
uso da terra, cultura e populações locais, práticas sustentáveis e medidas de conservação, destaques naturais e atuação de
organizações não governamentais.
2º) Estabeleçam uma divisão de tarefas entre os membros do grupo.
3º) Façam um planejamento do trabalho, considerando os seguintes itens:
▸ onde selecionar notícias sobre o Cerrado (internet, revistas, livros, jornais, outras mídias);
▸ materiais a serem pesquisados (textos, fotos, gráficos, tabelas, infográficos, vídeos, mapas, etc.);
▸ onde, quando e como reunir os materiais (blog, slides, cartaz, mural, livro, vídeo, etc.).
4º) Sob a supervisão do professor, combinem uma data e definam a maneira como o clipping deverá ser apresentado à
turma (exposição, vídeo, seminário, etc.).
5º) Realizem as apresentações e comentem o clipping com a turma.

3. Vocês conhecem as frutas típicas do Cerrado brasileiro? Para saber um pouco sobre elas, leiam o texto a seguir com
atenção.


Delícias do Cerrado
Araticum, buriti, cagaita, ingá, jatobá, mangaba, pitaya, pitomba e pequi – esses nomes estranhos são de frutas, ilustres
desconhecidas da maioria dos brasileiros, mas que deveriam estar entre as vedetes da alimentação saudável. Quem joga os
holofotes sobre essas espécies típicas do Cerrado são cientistas de várias regiões do país, que estudam a fundo suas
propriedades terapêuticas. “As pesquisas mostram uma forte presença de nutrientes e substâncias antioxidantes, capazes de
diminuir o risco de doenças graves”, conta a nutricionista Alinne Marin, da Universidade de Brasília, no Distrito Federal.
No interior de São Paulo, a Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp, concentrou seus estudos sobre o buriti e descobriu
que, entre todos os vegetais brasileiros, ele é o grande campeão em carotenoides, substâncias responsáveis por dar origem à
vitamina A no nosso corpo. “Esses compostos ajudam a proteger a pele, os pulmões e o coração, e estão associados à redução
do risco de câncer e outros males degenerativos”, enumera a engenheira de alimentos Gláucia Pastore, autora do trabalho. Os
buritis, coquinhos amarelos produzidos por uma palmeira, são consumidos na forma de sucos e geleias, mas, como têm sabor
levemente agridoce, também caem muito bem em receitas salgadas. [...] Mas, de todas as frutas do Cerrado, o pequi foi o que
mais ultrapassou as fronteiras da fama local e ganha adeptos Brasil afora.
Ele entra como ingrediente de um arroz preparado na região central do país – uma iguaria apreciada pelo sabor marcante. Parece
incrível como uma fruta tão pequena pode conter tantos antioxidantes, as célebres substâncias que combatem os radicais livres.
“Uma das que mais aparecem no pequi é a vitamina C, mas o licopeno, composto que protege a próstata e o coração, não fica tão
atrás”, ressalta José Orlando Madalena [da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa]. [...] Por muito pouco,
porém, a riqueza de todas essas espécies não se perde antes mesmo de extrapolar os limites do Cerrado. Afinal, esse é o bioma
brasileiro que mais tem sofrido com a ação deletéria do homem. As estimativas mais otimistas dão conta de que hoje só 20% de
sua área original esteja preservada. Isso quer dizer que dezenas de espécies frutíferas podem ter sido aniquiladas sem a gente
tomar conhecimento de seu gosto e de suas propriedades. Preocupados, os cientistas apostam mesmo é no aumento do consumo
dos frutos do Cerrado como forma de evitar o extermínio. “A destruição desse ambiente está atrelada à pobreza. Quanto maior a
demanda por esses alimentos, maior também a renda para a população local, que, por falta de conhecimento e opção,
simplesmente corta as árvores. E aí elas acabam virando carvão ou dão lugar a pastos”, explica José Orlando Madalena, que
coordena ações de educação ambiental e economia para os pequenos agricultores.

MOÇO, Anderson. Planeta sustentável. Delícias do Cerrado. Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/
noticia/saude/conteudo_273282.shtml?func=2>. Acesso em: 31 mar. 2016.

a) Listem algumas frutas típicas do Cerrado e os benefícios que podem trazer à saúde humana.

b) Por que os cientistas apostam no aumento do consumo desses frutos como forma de evitar a devastação do bioma?

Em debate

Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), botânico e naturalista francês, viajou pelo vasto território do Brasil. Além de identificar e
catalogar plantas, descreveu com detalhes costumes e histórias da época. Em sua obra Viagem à província de Goiás, Saint-Hilaire
assim se refere às paisagens do Cerrado:

Nada havia para ver, nem a mais humilde choupana, nem gado, nem caçadores, e no entanto não se podia dizer que aquelas
solidões inspirassem melancolia, pois a luminosidade do céu bastava para embelezar tudo. Além do mais, o viajante encontra
permanente distração nas singulares variações da vegetação, com suas maravilhosas diferenças de forma e de folhagem.
SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem à província de Goiás. In: LEITE, Marcelo. Brasil: paisagens naturais – espaço, sociedade e
biodiversidade nos grandes biomas brasileiros. São Paulo: Ática, 2007. p. 52.

Inspirados nas palavras de Saint-Hilaire, debatam o seguinte tema: monitorar e proteger o Cerrado é vital para a manutenção dos
recursos hídricos no Brasil.


unidade
3

As transformações ocorridas na estrutura produtiva do Brasil nas últimas décadas levaram a um
redirecionamento do perfil demográfico brasileiro. A modernização da economia alterou, direta ou
indiretamente, a dinâmica populacional e também os modos de vida da sociedade. Assim, o país
vem passando por mudanças no perfil de sua população sem perder a identidade nacional e as
grandes diferenças regionais.
Quantos somos? Onde e como vivemos? Como nos movimentamos no território? O que sabemos
sobre nossas origens e raízes culturais? Gráficos, fotos, mapas, atividades e outros recursos vão
ajudá-lo a refletir sobre essas e outras questões. A meta é que, ao longo desta unidade, você
aprofunde seus conhecimentos sobre a diversidade do povo e da cultura do Brasil.

< imagem >
©C R E A T I V E CO M M O N S / M I N C / L I A D E P A U L A
Festival Folclórico de Parintins, no estado do Amazonas, em 2015.

Um primeiro olhar
Nós, brasileiros, somos um [...] povo mestiço na carne e no espírito [...]; fomos feitos [na mestiçagem] e ainda
continuamos nos fazendo. [...]
A gente brasileira é um novo gênero – resultado de uma mistura de raças.
RIBEIRO, Darcy . O povo brasileiro: a f ormação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 453.

▸ Em sua opinião, o que Darcy Ribeiro quis dizer com a frase ao lado?
▸ O que você sabe sobre as raízes da cultura brasileira?
▸ O que mais chama a sua atenção na foto?
▸ Que outras festas e danças populares brasileiras você conhece?


capítulo 6
Dinâmica populacional

< imagem >
FO T O S PÚ B L I C A S / P A U L O PIN T O

Rua 25 de Março, em São Paulo (SP), 2015. Pessoas de todo o Brasil vêm fazer compras nessa rua, famosa por seu comércio popular.

Como você viu no Capítulo 1, o Brasil pode ser considerado um país-continente, pois está entre os cinco países
com a maior extensão territorial do mundo. Com relação ao total da população que vive nesse imenso território, havia
cerca de 203 milhões de pessoas em 2014, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do
IBGE.
Uma das características da população brasileira é sua desigual distribuição pelo território. A população se
concentra numa faixa de terra relativamente estreita, próxima ao litoral. Mas, mesmo na faixa litorânea, essa
distribuição é desigual.
Entre as cidades mais populosas do Brasil, a maioria está na faixa litorânea, como Belém, Fortaleza, Salvador,
Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Poucas são as grandes cidades localizadas além da faixa
litorânea, como Brasília, Manaus e Belo Horizonte.
De modo geral, afastando-se da costa em direção ao interior, os índices demográficos diminuem
progressivamente, compondo áreas de escasso povoamento no centro e, principalmente, no oeste do território.

Quantos somos? Onde vivemos?
No mapa a seguir, que apresenta dados relativos à densidade demográfica das unidades da federação, torna-se
evidente também a irregular distribuição da população no território nacional.
Dois fatores principais explicam a concentração da população brasileira na faixa litorânea. O primeiro está ligado
ao processo de ocupação histórica do território. Como você viu no Capítulo 1, a concentração populacional nessa
área vem desde o período colonial. Como colônia de exploração, havia uma dependência econômica em relação ao
centro do capitalismo comercial da época, o que tornava necessário o contato da colônia brasileira com o exterior.
Outro fator é que o desenvolvimento das principais atividades econômicas do país, como a agricultura e a indústria,
também se concentrou na faixa litorânea, desencadeando sua intensa urbanização.
O povo brasileiro: retratos de todos nós
Folha de S.Paulo, 2012. (Folha fotos antigas do Brasil, v. 3).
Traz fotos históricas de indígenas, famílias ricas com seus empregados, pessoas escravizadas e imigrantes. Apresenta dois tipos de fotografia:
retratos e espontâneas, com pessoas em momentos de descontração.


Brasil: densidade demográfica (2010)
< mapa >
João Miguel A. Moreira/Arquiv o da editora
Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 114.

Texto & contexto
1. No Brasil, a distribuição da população pelo território é desigual. Onde a maioria da população se concentra? Por quê?
2. Observe o mapa acima e responda: Que região do Brasil tem a maior densidade demográfica? E a menor?
3. Em sua opinião, por que ocorre uma alta concentração populacional na região Sudeste?


Ampliando o conhecimento

< imagem >
INFOGRÁFICO: ALEX ARGOZINO/ARQUIVO DA EDITORA

Fontes dos dados e dos gráf icos destas páginas: IBGE. Séries históricas e estatísticas. Disponível em: <seriesestatisticas.ibge.gov .br/default.aspx>. Acesso em: 20
maio 2016 / IBGE. Projeção da população do Brasil por sexo e idade − 1980-2050. Rev isão 2008.

Idades e gênero
Para avaliar a estrutura de uma população, é necessário analisar sua pirâmide etária, isto é, o gráfico
representativo de sua distribuição por faixas de idade e sexo. Veja abaixo a pirâmide do Brasil em dois momentos,
separados por pouco mais de uma geração.
A pirâmide de 1980 (abaixo, à esquerda) mostra que o Brasil tinha, na época, uma população predominantemente
jovem (48,5%), com apenas 6,5% de idosos.
Desde então, começaram a aparecer, de modo mais significativo, os efeitos da redução da natalidade,

consequente à diminuição da fecundidade, bem como a progressiva elevação da expectativa de vida da população.
O resultado disso está expresso na pirâmide de 2015 (abaixo, à direita), que mostra a atual transição demográfica
do país, ou seja, uma fase de envelhecimento da população, passando futuramente para um modelo como o que
ocorre hoje em países altamente desenvolvidos, como França, Alemanha e Japão.
Assim, em 2015, o Brasil tinha a metade da proporção de jovens que tinha em 1980 e, ao mesmo tempo, o dobro
da proporção de idosos (13,7%), o que significa cerca de 20 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Se continuar
nesse ritmo, em 2040, aproximadamente 20% da população brasileira será composta de idosos, proporção que
caracteriza os países altamente desenvolvidos nos dias atuais.
Em um comparativo, a grande diferença é que tais países enriqueceram antes de terem uma grande população
envelhecida, ao passo que, no Brasil, a população está envelhecendo antes de o país se tornar desenvolvido.
O envelhecimento da população exige políticas públicas adequadas à nova realidade demográfica do país. O
aumento da população idosa implica a necessidade de medidas eficazes por parte da previdência social, como
aposentadoria e assistência médica satisfatórias. Além disso, como as pessoas idosas pertencerão cada vez mais a
famílias menores, a probabilidade de terem filhos ou parentes próximos com quem ficar diminui. Nesse sentido, o
país terá de combater a indiferença que, muitas vezes, caracteriza a relação da sociedade brasileira com sua
população idosa.
Por outro lado, a expansão mais lenta da população jovem diminui a pressão sobre o mercado de trabalho e
permite uma melhor preparação técnica das pessoas antes de procurarem emprego. Entretanto, para enfrentar as
novas condições apresentadas pela globalização e pelo aumento da competitividade internacional, são necessários
investimentos na área de educação.
Ao mesmo tempo, o aumento da população adulta na estrutura etária significa ampliação da força de trabalho
nacional, pois são os integrantes dessa faixa de idade que compõem o segmento das pessoas economicamente
ativas do país.
Ao contrário de alguns países, o Brasil não apresenta desequilíbrio marcante entre a população feminina e a
masculina em nenhuma faixa etária. A natalidade masculina é ligeiramente superior à feminina.

Brasil: população por faixa etária (1980)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: IBGE. Projeção da população por sexo e idade: Brasil 2000-2060 – unidades da f ederação 2000-2030. Disponív el em:
<http://www.ibge.gov .br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/00000014425608112013563329137649.pdf >. Acesso em: 18 nov . 2015.


Brasil: população por faixa etária (2015)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: CIA. The world factbook. Brazil. Disponív el em: <https://www.cia.gov /library /publications/the-world-f actbook/geos/br.html>.
Acesso em: 18 nov . 2015.

População jovem
Enquanto a parcela de idosos cresce em volume e proporção no conjunto demográfico brasileiro, a parcela de
crianças e jovens tende a diminuir, mesmo havendo um leve crescimento vegetativo geral. Essa diminuição foi mais
acentuada em décadas passadas: em meados do século XX, a percentagem da população com menos de 15 anos
era quase a metade da população brasileira; hoje, ela representa pouco mais de 20%.
Esse fenômeno é muito positivo para a nação, pois significa maiores possibilidades de oferecer às crianças e aos
jovens o atendimento que merecem, em termos de serviços voltados ao seu desenvolvimento cognitivo, físico e
emocional. A propósito, a redução do crescimento vegetativo, particularmente das taxas de fecundidade da
população, causou diminuição da demanda escolar, propiciando aumento das taxas de escolaridade.
A escolarização integral não depende apenas de fatores econômicos e sociais. Ela depende também de o poder
público oferecer uma educação de qualidade a toda a população em idade escolar, integrada à realidade local e
voltada para os interesses das comunidades onde é ofertada.
Algumas iniciativas têm sido tomadas nos últimos anos, tais como: a obrigação de os governos destinarem à
educação um percentual mínimo de sua receita em impostos; a ampliação de oito para nove anos na duração do
ensino fundamental; a multiplicação das escolas de educação infantil; estímulos à proliferação de creches, que, além
de propiciarem o trabalho externo das mães das crianças, têm um conteúdo educativo.
Mesmo com essas iniciativas, o Brasil está longe de atingir uma situação satisfatória. Isso só será possível se as
crianças e os jovens frequentarem uma escola de qualidade, como acontece, por exemplo, na Coreia do Sul, no

Japão e em Israel.
É indiscutível que o futuro de qualquer nação depende da atenção e dos cuidados dedicados às crianças e aos
jovens do presente. Sabendo disso, em 1990, o Brasil criou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no qual
estão definidos os direitos das pessoas de pouca idade e, implicitamente, as obrigações de toda a sociedade para
com elas.
Amparados no ECA, diversos órgãos públicos funcionam para dar proteção e atendimento às crianças e aos
adolescentes, como conselhos tutelares, de existência obrigatória em todos os municípios brasileiros; abrigos de
acolhimento; casas de ressocialização e seções especializadas do poder judiciário. Até mesmo os pais, que
antigamente detinham poder quase ilimitado, não podem mais, por exemplo, bater em seus filhos ou submetê-los a
maus-tratos, a título de exercerem atos educativos.
Apesar de todo esse aparato protetivo, algumas crianças ainda estão submetidas a algumas formas de agressão
aos seus direitos. As de maior visibilidade talvez sejam a prostituição e o trabalho infantil.
Embora a legislação brasileira proíba qualquer trabalho a menores de 14 anos, salvo na condição de aprendizes,
muitos deles são impelidos a alguma atividade remunerada, quase sempre a fim de completar a escassa renda
familiar. Devido a pressões exercidas por movimentos e entidades nacionais e internacionais, a começar pela
Organização das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o trabalho infantil tem decrescido no Brasil, mas ainda
persiste.

Brasil: trabalho de pessoas de 5 a 17 anos (2006-2014)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fontes: VETTORAZZO, Lucas; FANTTI, Bruna; VILLAS BÔAS, Bruno. Trabalho inf antil tem primeira alta em dez anos, aponta IBGE. Folha de S.Paulo, 13 nov . 2015.
Disponív el em: <http://www1.f olha.uol.com.br/cotidiano/2015/11/1705778-trabalho-inf antil-tem-primeira-alta-em-dez-anos-aponta-ibge.shtml>. Acesso em: 4 jan. 2015;
TRABALHO inf antil diminui no país entre 2000 e 2010, diz Censo. G1, 12 jun. 2012. Brasil. Disponív el em: <http://g1.globo.com/brasil/noticia/2012/06/trabalho-inf antil-
diminui-no-pais-entre-2000-e-2010-diz-censo.html>.
Acesso em: 4 jan. 2016.
Os jovens têm o direito de permanecer apenas se preparando para a fase adulta, o que significa realizar
atividades próprias da idade e frequentar a escola, qualificando-se para a etapa seguinte da vida.
Grande parte das mazelas que afligem a população de menor idade está ligada à pobreza de uma parcela da
população brasileira. Para erradicar esse problema, é preciso promover um desenvolvimento econômico com
preocupação social, isto é, com distribuição de renda mediante uma repartição mais justa dos frutos do trabalho
coletivo. Isso esbarra em obstáculos políticos, criados por aqueles que possam ter seus interesses contrariados.
Secretaria de Estado de Políticas para Crianças, Adolescentes e Juventude
<http://www.crianca.df.gov.br>. Acesso em: 23 mar. 2016.
O site apresenta informações sobre a atuação dessa secretaria, com destaque para as políticas e os projetos que desenvolve.
Envelhecimento da população
Uma das características atuais da população brasileira é seu rápido envelhecimento. Esse fenômeno demográfico
comporta dois aspectos, necessariamente ligados entre si. Um deles é que as pessoas, de maneira geral, estão
vivendo mais, ou seja, houve um aumento expressivo da expectativa de vida nas últimas décadas, que
progressivamente passou de 52 anos, em 1950, para 75 anos, em 2015. Nesse ritmo, chegará a 80 anos por volta de
2040. O outro aspecto é que a percentagem de idosos está aumentando no conjunto da população, na medida em
que a proporção de jovens se mantém estabilizada, devido a um crescimento vegetativo moderado, que tende à
redução.
A pessoa idosa é como qualquer outro cidadão, singularizando-se apenas por ter mais anos de vida e, em
razão disso, ser suscetível a limitações de ordem física e, em alguns casos, mental. Em compensação, por ter
mais conhecimento, proveniente da experiência, geralmente é capaz de oferecer valiosas contribuições à solução de
problemas ou desafios enfrentados pelos mais jovens. Além disso, a pessoa idosa certamente já contribuiu, de
alguma maneira, para a manutenção da sociedade, sendo merecedora, portanto, do reconhecimento e da
consideração de todos.
Por essas razões, além da motivação humanitária, quase todas as sociedades modernas reconhecem sua
população idosa como possuidora de direitos especiais. No Brasil, para evitar que o reconhecimento e a
consideração pelos mais velhos fiquem no arbítrio de cada um, foi instituído um diploma legal, conhecido como
Estatuto do Idoso (Lei Federal n
o
10.741, de 2003). Por essa lei, foram definidos os direitos das pessoas com 60
anos ou mais, que devem ser respeitados por toda a sociedade. Entre eles, estão a preferência no atendimento em
instituições públicas e privadas, o pagamento de tarifas reduzidas em transportes coletivos e a meia-entrada em
espetáculos esportivos e culturais.
Emancipação da mulher

Devido a uma formação sociocultural com perfil patriarcal, com ampla retaguarda na história da humanidade, a
mulher no Brasil sempre esteve em situação de subalternidade diante do homem. Basta lembrar que foi apenas com
a Constituição de 1932 que as mulheres obtiveram o direito de votar. Até então, elas não tinham os mesmos direitos
civis dos homens.
Na atual Constituição (1988), não existe mais o poder soberano do pai; ele foi substituído pelo poder familiar,
exercido igualitariamente por pai e mãe. Hoje, quando todas as pessoas são iguais perante a lei, independentemente
de sexo, etnia ou religião, cresce o número de mulheres que detêm a condição de chefe de família. Veja o gráfico a
seguir.

Brasil: mulheres chefes de família (2002 e 2012)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de EM DEZ anos, quadruplica percentual de mulheres que são chef es de f amília. UOL Economia, 29 dez. 2013. Disponív el em:
<http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/11/29/em-dez-anos-quadriplica-percentual-de-mulheres-que-sao-chef es-de-f amilia.htm>. Acesso em: 10 dez. 2015.

Apesar disso, o proces s o de emanci paç ão da mulher ainda está em curso, uma vez que persistem traços cultur ais
de um pass ado não muito distante, de subal ter ni dad e social e depen dênci a econômi c a. Esse process o ganhou
consistênci a quando a mulher passou a exerc er atividades extrado m ésti c as .
À semel hanç a do que acontec e u no século XIX nos países desenv ol vi dos , especi al m ente na Europa, a mulher
brasileira começ ou a ingres s ar de modo expressi v o no merc ado de trabal ho depoi s dos anos 1950, simultane am ente
com a industri ali z aç ão e a rápida urbani z aç ão do país. Assim, a taxa de ocupaç ã o da popul aç ã o femini na em idade
ativa passou de 36%, em 1980, para 67%, em 2010. Com esse crescime nto, a mulher tem contri buído mais do que o
homem para o aumento da popul aç ã o que realiza atividades econômic as .
As mulher es exercem as mais variadas ocupaç ões, tanto na sociedade quanto na economi a. Cerca de 15% delas
trabalha m como empr egad as doméstic as – mais de 90% desse univers o profissional é ocupado por mulher es . Em 2015,
entrou em vigor a chamada PEC das Doméstic as (Proposta de Emenda à Constituiç ão, pela Lei Compl em entar n
o
150),
estendendo-l hes os direitos trabal histas e previdenci ári os , dos quais, até então, estavam privadas.
Há também cada vez mais mulheres desempenhando funções de qualificação média e superior. Elas chefiam equipes de
fábrica, administram empres as, dirigem unidades político-administr ativ as da federação e assim por diante.

No entanto, ainda há discriminação, a qual se traduz principalmente na desigualdade salarial. Salvo exceções, elas
recebem menos que os homens para o mesmo tipo de trabalho executado.
Do ponto de vista social, avanços voltados para uma igualdade plena têm sido mais lentos, persistindo o
preconceito de que a mulher é inferior. É dever de todo cidadão brasileiro combater esse preconceito, que acaba
por motivar a violência contra a mulher, seguidamente praticada por homens contra suas companheiras.
O problema da violência contra a mulher é tão frequente que foi sancionada, em 2006, a chamada Lei Maria
da Penha, destinada a dar-lhe proteção e a punir o agressor. Instituído pela ONU, 25 de novembro é o Dia
Internacional de Combate à Violência contra a Mulher.

Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM)
<http://www.spm.gov.br>. Acesso em: 13 dez. 2015.
Criada em 2003, essa secretaria atua em políticas voltadas exclusivamente para as mulheres, no que diz respeito a autonomia econômica,
combate à violência e programas para saúde e educação.

Gênero e sexualidade
Ao longo da história, os seres humanos perceberam uma diferença biológica essencial entre si, responsável
pela reprodução da espécie. Essa diferença foi definida como sexo: macho e fêmea; masculino e feminino;
homem e mulher. O sexo, portanto, refere-se aos aspectos anatômicos, morfológicos e fisiológicos dos
indivíduos.
Cada grupo humano ou cada sociedade foi criando atribuições, valores, juízos e comportamentos próprios de cada
sexo, a começar pela divisão do trabalho. Nesse processo, moldaram-se, para cada sexo, papéis a serem
desempenhados na sociedade. Simultaneamente, cada indivíduo foi incorporando na sua mente o paradigma
comportamental que lhe era imposto, no seu tempo e no seu espaço de vida.
No mundo contemporâneo, chegou-se ao conceito de gênero, que se refere à identidade adotada por uma
pessoa, com base não apenas em seus órgãos genitais, mas também em seus sentimentos e em seu papel social.
Como categoria biológica, o sexo nem sempre é uma definição na qual um indivíduo consegue se enquadrar, uma
vez que ele pode ter uma ou mais características do sexo oposto, especialmente no que diz respeito ao aspecto

hormonal e, sobretudo, emocional ou afetivo. Isso significa que há tipos humanos que não estão integralmente de
acordo com os padrões dominantes de cada sexo. Em suas relações sociais, esses tipos humanos comumente
preferem aproximações íntimas com semelhantes. São as chamadas relações homossexuais (homo = mesmo),
também denominadas homoafetivas, porquanto revestidas de componentes de afeto.
Geralmente, a construção do gênero está amparada na morfologia genital, havendo sintonia entre o corpo e a
mente. Mas, às vezes, por múltiplas razões, ocorre um desencontro entre a definição biológica e a identidade
psicológica das pessoas: comportamento feminino em corpo de homem e vice-versa. Trata-se da chamada
transgenia, cujos indivíduos sofrem com a ambiguidade e a dificuldade para definir uma identidade social.
A mudança de sexo é possível, mesmo que a preparação para isso seja demorada e os procedimentos médico-
cirúrgicos, complexos. Mais difícil ainda é a mudança de gênero, que demanda cuidadoso tratamento psicológico.
< imagem >
ON U

Livres e Iguais: campanha da ONU lançada em São Paulo, em 2014, contra a homofobia no Brasil.

População LGBT
Os homossexuais quase sempre foram discriminados e reprimidos, principalmente por colocarem em questão
padrões comportamentais cristalizados como moralmente usuais. Durante muito tempo, inclusive, a
homossexualidade foi considerada uma enfermidade. Não faz muitas décadas que ela foi retirada do rol de doenças
reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A discriminação e a rejeição sofridas pelos homossexuais resultam de um preconceito que vem de longa data.
Mas, cientificamente, está provado que a homoafetividade não é uma anormalidade, muito menos uma doença.
Superar preconceito implica mudança cultural. Esse é um processo lento, uma vez que envolve alteração de
valores, de entendimentos equivocados, de crenças. Daí a necessidade do empenho de todos os interessados para
acelerar as mudanças pretendidas.
A Constituição da República, em vigor desde 1988, consagra, em seu artigo 6º, a plena igualdade de todos perante
a lei, em termos de direitos e obrigações inerentes à cidadania. Nossa Carta Magna veda expressamente qualquer
discriminação entre as pessoas, seja ela por quaisquer motivos, como origem étnica, religião, crença ou orientação
sexual.
Mas não basta que os direitos estejam garantidos na lei maior; é preciso que se plenifiquem no cotidiano da vida
social. Isso encontra obstáculos em preconceitos incrustados na mentalidade de muitas pessoas. É necessário, pois,
que todos assumam o compromisso de contribuir para uma efetiva igualdade de direitos entre seus concidadãos.
Os movimentos sociais em defesa dos direitos do segmento definido como LGBT (lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transgêneros) vêm crescendo no mundo todo. Em grandes cidades do Brasil, ocorre o desfile conhecido
como Parada Gay, com o intuito de divulgar a luta por direitos iguais e respeito às diferenças de sexo e gênero.
Trata-se de um evento cada vez mais concorrido. Isso revela que os integrantes desse segmento populacional estão
se sentindo mais encorajados a assumir sua identidade social. Ao mesmo tempo, a maior assistência de público
sugere uma ampliação do número de simpatizantes da causa ou, pelo menos, da aceitação da diversidade de sexo e
gênero.
Apesar dos avanços obtidos, os movimentos pró-LGBT ainda têm muito a conquistar, pois enfrentam a oposição
de alguns segmentos sociais muito conservadores. O casamento civil entre homossexuais, por exemplo, está
instituído legalmente em muitos países, mas, no Brasil, carece de plena igualdade em relação ao matrimônio
heterossexual.
Desde 2013, pela Resolução n
o
175 do Conselho Nacional de Justiça, os cartórios de registro civil do país são
obrigados a oficializar uniões homoafetivas. A partir de então, milhares de casais gays formalizaram sua união, mas o
fizeram com base em um instrumento judicial, não estabelecido pelo poder legislativo. Em 2015, tramitava na Câmara
Federal um projeto de lei para a instituição do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, cuja aprovação
dependeria das legítimas pressões dos movimentos sociais voltados para a defesa dos direitos humanos.
Entre as conquistas a serem obtidas pelos casais homoafetivos, está o direito à adoção de crianças, a serem
consideradas filhos para fins de constituição de família. Esse pleito também enfrenta ativa oposição de segmentos
conservadores. No entanto, cresce em todo o país o número de decisões judiciais favoráveis a essa causa.
Um dos problemas mais chocantes que envolvem a população LGBT é a violência contra gays e travestis. Isso é
inaceitável em uma sociedade que se define como civilizada.

Secretaria de Direitos Humanos (SDH)
<http://www.sdh.gov.br>. Acesso em: 13 dez. 2015.

Atua em frentes variadas, voltando-
-se principalmente a crianças e adolescentes, pessoas com deficiência, idosos e LGBT. Além disso, visa ao combate às violações e ao trabalho
escravo. A secretaria tem como objetivo implementar, fortalecer e aprimorar os direitos humanos no Brasil.

Passeata em defesa dos direitos LGBT em Belém (PA), 2015.
FO T O S PÚ B L I C A S / A G . P A R Á / C LÁ U D I O SA N T O S

Atividades da população
Denomina-se População Economicamente Ativa (PEA) o conjunto de pessoas de uma sociedade que exercem
atividades extradomésticas e recebem por elas algum tipo de remuneração. De modo geral, essa população vai dos
15 aos 64 anos.
Cabe distinguir população ocupada de população empregada. Esta compreende o conjunto de pessoas que possuem
vínculo empregatício e respondem a um patrão, uma firma ou uma empresa, exercendo suas atividades nos termos
prescritos pela legislação pertinente. A população ocupada refere-se a todas as pessoas que estão exercendo alguma
atividade econômica, seja ela formal, como empregados e autônomos, seja ela informal, como vendedores ambulantes
e guardadores de carro, geralmente à margem da legislação trabalhista e previdenciária; portanto, quase
necessariamente, engloba um número maior de trabalhadores.
Na Pnad de 2014, o IBGE estimou em 62% os brasileiros inseridos no mercado de trabalho, com uma taxa de
desemprego de 7,2%. Segundo o mesmo instituto, desempregado é quem perdeu o emprego e quem está à procura de
algum trabalho remunerado sem consegui-lo.
As taxas de ocupação estão diretamente ligadas ao desempenho da economia de um país. Num período de
expressiva prosperidade do Brasil, por exemplo, no início do século atual, enquanto aumentavam os empregos
formais no país, diminuía a porcentagem de trabalhadores em ocupações informais.
Já a parcela da população teoricamente sustentada pelo conjunto das pessoas classificadas como ativas é chamada de
dependente ou economicamente inativa. Ela é composta de dois segmentos: o das crianças e jovens, até 14 anos, e o dos
idosos, com 65 anos ou mais.

A relação entre ativos e dependentes é muito importante para o presente e o futuro de uma sociedade. Em
geral, quanto mais ativos tiver um país e quanto maior for a sua qualificação para o trabalho, mais positiva será a
situação econômica e social da nação. Entretanto, quanto maior for a proporção da população dependente no
conjunto demográfico, maiores serão os ônus ou os encargos a recaírem sobre a população ativa. Se os ativos
forem pouco qualificados, com fraco rendimento em seu trabalho, haverá mais dificuldades e carências no
atendimento aos idosos e no investimento para crianças e jovens, tendo em vista prepará-los para uma fase adulta
produtiva e socialmente satisfatória.
A proporção entre ativos e inativos está diretamente ligada à estrutura etária da população de um país. Hoje,
quase dois terços da população brasileira estão em idade ativa, isto é, na faixa entre 15 e 64 anos, havendo,
portanto, pouco mais de um terço de dependentes. Isso significa que, no Brasil atual, há quase dois ativos para
sustentar cada inativo. Essa relação já é positiva, mas ficará ainda melhor por volta de 2025 a 2040, período em
que deverá ocorrer a menor proporção de inativos como encargo para a população ativa. Há mais de um século,
os países europeus passaram por período semelhante, chamado de janela demográfica.
A partir de meados do século atual, o aumento da proporção de idosos deverá provocar um discreto crescimento
da população inativa no Brasil, quando a fecundidade deixará de cair e a população absoluta do país ficará
estabilizada em torno de 250 milhões de habitantes.

T YB A / R I C A R D O OL I V E I R A
A população economicamente inativa corresponde àquelas pessoas que não estão trabalhando nem procurando emprego. Na foto, turistas idosos em visita
ao T eatro Amazonas, em Manaus (AM), 2014.

Distribuição setorial das atividades
Um dos indicadores da situação socioeconômica de um país é representado pela distribuição proporcional da
população por setores de atividades econômicas. No Brasil, 14% da população encontra-se no setor primário; 22%,
no secundário; e 64%, no terciário.
Como país industrializado e em desenvolvimento, o Brasil não tem tanta mão de obra ocupada na agricultura,
como acontece na Bolívia, em Moçambique e em Bangladesh, por exemplo, onde a maioria da população ativa (mais
de 50%) trabalha no setor primário da economia. Entretanto, também não há tão poucos ativos na agropecuária,
como ocorre em países altamente industrializados e desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá e Alemanha,
onde são obtidos elevados rendimentos agrícolas com reduzidíssima e qualificada mão de obra (menos de 5%),

graças ao avanço tecnológico.
Por ter realizado uma industrialização tardia, mas relativamente acelerada, o perfil setorial da população ativa
brasileira se aproxima do de países altamente desenvolvidos: a maior parte está ocupada no setor terciário,
principalmente nos serviços, que também responde pela maior parcela do PIB nacional.

Terciarização e novas ocupações
Nos países industrializados, notadamente nos mais desenvolvidos e nos países em desenvolvimento, classificados
como emergentes, há uma tendência de crescimento do setor terciário – já há algum tempo, o de maior participação
no PIB nacional – e na porcentagem da população ativa nele ocupada.
Denomina-se terciarização o processo de ampliação e diversificação de atividades terciárias, principalmente de
serviços, as quais passam a absorver parcelas cada vez maiores da população ativa. Esse processo está ligado à
chamada Terceira Revolução Industrial, alimentada pelo extraordinário avanço tecnológico, ocasionando
modernização agrícola, automatização e robotização industrial e, sobretudo, informatização das atividades em geral.
A consequência disso é o aumento da produtividade nos setores criadores de riqueza real, isto é, primário e
secundário: agricultura e indústria produzem mais com menos mão de obra. A força de trabalho liberada do campo e
das fábricas desloca-se, então, para o setor de serviços, no qual aumenta a população ocupada à medida que se
diversificam. A diversificação e a criação de serviços respondem pelo surgimento de novas ocupações profissionais.
Nesse contexto de diversificação, dinamismo e inovação, abrem-se inúmeras oportunidades para o
empreendedorismo, principalmente nas áreas de tecnologia da informação, cultura, lazer e entretenimento.

Empreendedorismo: iniciativa de criar ou incrementar um novo serviço, atividade ou produto, a ser oferecido no mercado por pequenas firmas ou trabalhadores
autônomos.

Mundo: taxa de empreendedorismo (2014)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: ALVES, Murilo Rodrigues. Brasil é o primeiro em ranking de empreendedorismo. Exame.com,
29 mar. 2015. Disponív el em: <http://exame.abril.com.br/pme/noticias/brasil-e-o-primeiro-em-ranking-de-empreendedorismo>.
Acesso em: 4 jan. 2015.

Essa situação pode comprometer a divisão clássica da economia em três setores, pois cresce o número de
ocupações cujo enquadramento setorial não é fácil. O agronegócio, por exemplo, embora tenha sua base no campo, é
uma cadeia produtiva que envolve atividades industriais, comerciais e de serviços. E em qual setor da economia deve
ser enquadrada a criação de softwares e de aplicativos? Em princípio, no setor terciário, pois originalmente é um
serviço. Mas os produtos não são suscetíveis de uso na indústria, que é a essência do setor secundário?
A divisão da sociedade em classes perde a nitidez. A dualidade burguesia e proletariado, assentada no binômio
patrão e empregado, tende a ser mascarada, na medida em que aumenta o número de profissionais autônomos ou
reunidos em pequenas firmas, mesmo que realizando atividades terceirizadas para grandes empresas. De certo modo,
esses trabalhadores são patrões de si mesmos.
Em países desenvolvidos, aumenta o número de empregados que participam não só dos lucros, mas também da
gestão das empresas em que trabalham.
Paralelamente, o capital financeiro internacional tem, entre seus agentes, um grande número de fundos de
investimentos, criados com dinheiro de trabalhadores, com o propósito de maximizar lucros, seja por meio de
investimentos produtivos, seja mediante operações especulativas, principalmente. No Brasil, por exemplo, alguns
fundos de pensão de grandes empresas, como as estatais, têm ativa presença na principal bolsa de valores do país:
a Bovespa.

< imagem >
FO L H A P R E S S / R E N A T O L U I Z FE R R E I R A
T rabalhadora informal comercializando ervas no mercado Ver-o-Peso, em Belém (PA), 2013.

Nessas condições, cabe indagar: um operário de uma grande empresa, com dinheiro aplicado no fundo de pensão
da sua corporação, sem se importar que um eventual ganho especulativo signifique prejuízo aos perdedores no jogo
financeiro, é um burguês ou um proletário?
A complexa organização da sociedade atual se reflete no plano político, com partidos que se confundem pela falta
de clareza em seus propósitos.

Trabalho informal
Em geral, a informalidade é uma situação negativa sob diversos aspectos. Por um lado, o trabalhador está em
permanente risco de ficar sem renda, bastando, para isso, que pare de trabalhar por qualquer motivo, como doença.
Além disso, não tem direito a férias, décimo terceiro, entre outras vantagens. Por outro lado, ao não fazer suas
contribuições mensais, a Previdência deixa de arrecadar, mas não se desobriga a prestar-lhe serviços de saúde e a
conceder-lhe um benefício financeiro na velhice, por mais irrisório que seja. Assim, a informalidade contribui para que
a Previdência Social no Brasil seja deficitária e, consequentemente, preste deficientes serviços a seus segurados.
Mesmo assim, muitas pessoas aceitam trabalhar informalmente. Seduzido pelos poucos reais a mais que vai
receber no seu salário, correspondentes ao valor que deixa de descontar, relativo à sua contribuição previdenciária
mensal, o empregado aceita que o patrão não assine sua carteira profissional; como maior beneficiado, o
empregador tem suas despesas com encargos sociais diminuídas e, com isso, pode aumentar seus lucros. Ambos,
porém, incidem em uma ilegalidade e prestam um desserviço à nação.
No entanto, apesar desses aspectos negativos, há casos em que o trabalhador informal tem ganhos relevantes,
como o do revendedor de produtos de beleza e o do cabeleireiro em início de carreira: ambos vão de casa em casa
para oferecer seus produtos ou prestar seus serviços.



Um país de desigualdades
Num país de economia de mercado como o Brasil, a qualidade de vida da população está diretamente relacionada
à renda. No que se refere à distribuição de riquezas, o Brasil está entre os países mais desequilibrados do mundo.
A concentração de renda no Brasil tem raízes históricas que remontam à própria construção de sua sociedade.
Até a década de 1930, por exemplo, a posse da terra ainda era a principal fonte de poder econômico e político, o
que excluía grande parcela de brasileiros. Mais tarde, mesmo com a modernização da agricultura, os problemas
sociais no campo não diminuíram. A mão de obra necessária para impulsionar o desenvolvimento urbano-industrial
se apoiou no êxodo rural e no crescimento vegetativo, fato que permitiu a manutenção de baixos salários em todos
os setores de atividade. Nesse contexto, houve uma expansão das classes médias urbanas, mas a concentração de
renda perdurou e até aumentou.
Atualmente, verificam-se mudanças com relação à distribuição de renda no país. Mas, como você verá a seguir,
ainda há muito a se fazer para mudar esse quadro.

Concentração de renda
O Brasil é um dos países onde há mais desigualdades socioeconômicas e uma maior concentração de renda.
Segundo o IBGE, em 2013, 10% da população mais rica detinha 40% da renda total do país. Por outro lado, os
40% mais pobres viviam com apenas 10% da renda nacional. Embora a concentração de renda tenha melhorado
nos últimos anos, ainda hoje, os ganhos do 1% mais rico correspondem à renda total dos 33% mais pobres.

Outra maneira de refletir sobre a questão da distribuição de renda no Brasil é examinando o Coeficiente de Gini. O
coeficiente consiste em um número entre
0 (zero) e 1: 0 (zero) corresponde à completa igualdade de renda (todos têm a mesma renda) e 1, à concentração
absoluta (uma pessoa tem toda a renda, e as demais nada têm).
Segundo a Pnad 2012, o índice de Gini passou de 0,545, em 2004, para 0,498, em 2012. De acordo com
pesquisadores, o crescimento real do salário mínimo e a expansão dos programas oficiais de
complementação de renda tiveram impacto sobre essa diminuição. No entanto, esses números ainda não
tiram do Brasil o título de um dos países mais desiguais do mundo, pois ainda falta muito para a distribuição
de renda chegar a patamares mais justos. Observe o gráfico abaixo.

Brasil: Coeficiente de Gini (2004-2012)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de O ESTADO de S. Paulo, p. A26, 28 set. 2015. Metrópole.

A redução do Coeficiente de Gini, no período representado no gráfico, mostra uma melhoria na distribuição de
renda em todas as regiões do país. Verifica-se que, nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, a concentração de renda é
maior do que a média brasileira.
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
Como já foi estudado no Capítulo 2, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma das mais importantes
ferramentas para avaliar as condições de vida das populações nos diversos países. O IDH baseia-se em três
indicadores: um de renda (per capita), um de saúde e outro de educação. As condições de saúde da população
são aferidas pela sua expectativa de vida, fortemente influenciada pelas taxas de mortalidade infantil, e as
condições de educação são medidas pelas taxas de alfabetização e pelo número de anos de escolaridade dos
adultos.
O IDH varia de 0 (zero) a 1 – quanto mais próximo a 1, maior o desenvolvimento humano. De acordo com esse
índice, os países são classificados em quatro níveis de desenvolvimento humano: baixo, médio, elevado e muito
elevado.
Anualmente, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) divulga o ranking dos países. Em
2014, por exemplo, o país de mais alto desenvolvimento humano foi a Noruega, com IDH 0,944. O Níger ocupou o
último lugar entre 188 países, com IDH 0,348.

O Brasil figurou na 75ª posição, com IDH 0,755, índice que representa um desenvolvimento humano elevado. Na
América do Sul, está atrás apenas de Chile, Argentina, Uruguai e Venezuela. Entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul) – países em desenvolvimento e emergentes destacados –, o Brasil só perde para a Rússia no
que se refere a desenvolvimento humano.

Brasil: IDH (1990-2014)
< gráfico >

E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de HUMAN Dev elopment Reports.
Brazil. Disponív el em: <http://hdr.undp.org/en/countries/profiles/BRA>. Acesso em: 4 jan. 2016.

Vale destacar que o IDH não reflete as condições de vida da população brasileira como um todo, pois são grandes
as diferenças regionais, conforme pode ser observado no gráfico e no mapa abaixo.

Brasil: taxas de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais (2013 e 2014)
< gráfico >
Fonte: Adaptado de IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: síntese de indicadores 2014. Rio de Janeiro, 2015.
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A

Brasil: mortalidade infantil (2011)
< gráfico >

JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 132.

Texto & contexto

1. O Brasil está entre os países mais desequilibrados do mundo no que se refere à distribuição de riquezas. Comente as raízes
históricas da concentração de renda no Brasil.
2. Explique o que é o Coeficiente de Gini.
3. Com base no gráfico da página 144, responda: Em 2012, ocorreu um aumento da concentração de renda em que região? E em
qual região a melhora da distribuição de renda foi mais acentuada?
4. É possível perceber a existência de concentração de renda no município onde você vive? Em caso afirmativo, dê exemplos.
5. Por que se diz que o IDH do Brasil não reflete as condições de vida de toda a população do país?

Uma população em movimento
A todo o momento, grupos de pessoas se movimentam, deslocando-se de um lugar para outro. Os tipos de
deslocamento humano são muito variados: migrações internacionais (imigração e emigração); migrações internas
(inter-regionais ou intrarregionais); migrações rural-urbanas ou êxodo rural; migrações pendulares ou diárias;
nomadismo e transumância. Em diferentes épocas e situações, o Brasil vivenciou todos esses tipos de migrações.
Imigração: alemães e suíços
No Brasil, a imigração foi muito importante no período de 1850 a 1934. Nos anos 1980, ela se tornou menor que a
emigração. Atualmente, graças à fase de prosperidade do início do século, o balanço migratório do país voltou a ser
positivo, ou seja, a imigração é maior que a emigração.
Durante o Brasil Império, o estímulo à imigração foi um recurso adotado pelo governo para expandir o contingente
populacional e obter mão de obra para as atividades econômicas. O processo prolongou-se pelo Período
Republicano, notadamente até a década de 1930, quando a imigração passou a ser controlada.
Pode-se dizer que, em grande medida, a imigração não foi espontânea, mas, sim, induzida. Na primeira metade do
século XIX, por exemplo, o governo prometia terras e boas condições de trabalho aos europeus que quisessem se
instalar no planalto Meridional. O objetivo era criar uma base de apoio para as incursões das tropas brasileiras na região
do Prata, disputada com os países platinos.
Os primeiros imigrantes foram os portugueses, mas, para fins estatísticos, eles são considerados como tais
apenas a partir de 1822, quando se deu o rompimento formal entre Brasil e Portugal. Quanto aos não ibéricos, os
primeiros imigrantes foram os suíços de língua alemã, que se instalaram em Nova Friburgo (RJ) em 1818 e 1819.
Alguns anos depois, os alemães começaram a chegar ao Rio Grande do Sul. O primeiro grupo desembarcou nas
margens do rio dos Sinos, em 1824, onde hoje se localiza a cidade de São Leopoldo. Ocupando os vales de alguns
rios, os alemães desenvolveram uma economia agrícola diversificada e fundaram diversos núcleos populacionais,
alguns dos quais são hoje importantes cidades, como Novo Hamburgo e Lajeado. Algumas décadas depois,
dirigiram-se ao planalto.

< imagem >
ACE R V O ICO N O G R A P H I A
Na foto, de 1880, escola exclusiva para meninas, fundada por colonos alemães em Blumenau (SC). No século XIX, muitos imigrantes alemães
instalaram-se nos atuais estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.

A partir de 1850, os alemães também se dirigiram a Santa Catarina e se instalaram no Vale do rio Itajaí,
desenvolvendo a agricultura de gêneros alimentícios e originando núcleos populacionais, como Blumenau, Joinville,
Brusque e Itajaí.
Porém a guerra de unificação da Alemanha (1870-
-1871) reduziu esse fluxo migratório, e as autoridades imperiais brasileiras empenharam-se em atrair imigrantes de
outras nacionalidades. A tabela a seguir mostra as principais correntes migratórias por período de entrada no Brasil,
desde 1851.


Brasil: contingentes migratórios por período de entrada, em milhares (1851-1960)
Período
1851-1885

1886-1900
1901-1915
1916-1930
1931-1945
1946-1960
Total

Portugueses
237
278
462
365
105
285
1732

Italianos
128
911
323
128
19
110
1619

Espanhóis
17
187
258
118
10
104
694

Japoneses
-
-

14
85
88
42
229

Alemães
59
23
39
81
25
23
250

Total
441
1399
1096
777
247
564
4524

Fonte: RIBEIRO, Darcy . O povo brasileiro: a f ormação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 242.

Imigração: italianos, eslavos e japoneses
Assim como os alemães, os italianos também se deslocaram para o Brasil. Dirigiram-se inicialmente a São Paulo,
onde trabalhavam como empregados nas fazendas de café, em substituição à mão de obra escrava, que deixava de
ser utilizada.
A partir de 1875, instalaram-se também em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, onde fundaram cidades como
Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi. No início do século XX, muitos italianos foram adquirindo suas próprias
terras.
O que diferenciou a imigração italiana paulista da sul‑
-rio-grandense foi a relação estabelecida com a terra. Enquanto os italianos vieram a São Paulo para trabalhar como
empregados nas grandes fazendas de café, só conseguindo adquirir suas próprias terras décadas depois, no Rio
Grande do Sul eles eram proprietários das terras, desenvolvendo a policultura e a criação de animais.
Os eslavos começaram a chegar ao Brasil em 1875. Originários de Belarus, Rússia, Ucrânia e Polônia, instalaram-
se basicamente no Paraná.
Já o início da imigração japonesa no Brasil se deu em 1908, quando os primeiros imigrantes japoneses chegaram
ao estado de São Paulo. Muitos trabalharam nas fazendas de café das regiões de Marília e Tupã. Outros se
instalaram nas redondezas da capital, onde praticavam a horticultura. Outros ainda se dirigiram para o Vale do
Ribeira, onde desenvolveram a fruticultura e o cultivo de chá.
< imagem >
MU S E U DA IMI G R A Ç Ã O D O E ST A D O DE SÃ O PA U L O , SÃ O PA U L O (SP )
Imigrantes japoneses desembarcando no porto de Santos (SP) na década de 1930.

Alguns grupos de japoneses foram para a Amazônia, fixando-se na Zona Bragantina, no Pará, onde introduziram o
cultivo da juta e da pimenta-do-reino. O litoral sul da Bahia também recebeu alguns grupos, que se instalaram nas
proximidades de Itabuna, onde desenvolveram o cultivo de pimenta-do-reino e de cravo-da-índia.

O Brasil recebeu outros grupos de imigrantes, como espanhóis, árabes, chineses, coreanos e judeus. Além
disso, recebeu outro grupo de alemães, que se fixou na cidade de São Paulo. Num movimento migratório lento e
gradativo, esses grupos foram diretamente para as cidades, onde passaram a desenvolver atividades urbanas,
como o pequeno comércio.
Em 1934, o governo brasileiro passou a restringir a imigração para o país, pois os imigrantes já não eram tão
importantes para suprir as necessidades de mão de obra para a lavoura cafeeira. As migrações, principalmente de
nordestinos, já ultrapassavam o número de imigrantes. O sistema de cotas estabelecia que só poderia entrar no
Brasil, anualmente, o correspondente a 2% do número de imigrantes (de cada nacionalidade) que haviam chegado
nos 50 anos anteriores.
Em 1938, foram criadas diversas leis reguladoras, segundo as quais não seriam aceitos imigrantes com
deficiência física ou moléstia que os impedisse de trabalhar; o imigrante não poderia professar crenças
estranhas ao regime político da época; entre os imigrantes, deveria haver um mínimo de 80% de agricultores.
Em 1939, um acordo assinado entre Brasil e Portugal excluiu os portugueses desse sistema de cotas.

Gaijin: os caminhos da liberdade
Direção de Tizuka Yamazaki. Brasil: Scena Filmes Ltda., 1980. 112 minutos.
Narra a trajetória dos imigrantes japoneses no Brasil: suas angústias, as dificuldades de aculturação e a saudade da terra natal.


Texto & contexto
1. No caso do Brasil, pode-se dizer que, em grande medida, a imigração não foi espontânea, mas, sim, induzida. Escreva um
comentário sobre essa frase.
2. São muitas as influências dos imigrantes na cultura brasileira. Quais são os vestígios da presença de imigrantes no
município onde você vive?

Migrações recentes
Depois de ser classificado durante um século como país de imigração (1820 a 1934), nos anos 1980, o Brasil teve
um expressivo deficit em seu balanço migratório, tornando-se temporariamente um país de emigração.
Em razão de dificuldades econômicas e sociais, que caracterizaram a chamada década perdida – sob o ponto de
vista do desenvolvimento –, milhares de brasileiros emigraram, principalmente para os Estados Unidos, o Japão e
países europeus, em busca de melhores condições de vida e de empregos que lhes propiciassem uma renda mais
alta.
No início dos anos 1990, o número de brasileiros emigrados chegou a quase 2 milhões. No entanto, a partir do
final da década, em consequência da crise econômica que se alastrou pelo mundo, agravada após o abalo financeiro
ocorrido nos Estados Unidos em 2008, a tendência migratória se inverteu, acentuando-se com o colapso de
economias europeias em 2010-2011. Com isso, muitos brasileiros emigrados retornaram à sua terra natal, atraí­dos
pela fase de prosperidade que o Brasil desfrutou no início do século atual.
Ao mesmo tempo que muitos brasileiros retornavam, o país voltou a atrair imigrantes, que fugiam da pobreza, de
catástrofes ou de guerras em seus países de origem. Nos últimos anos, milhares de bolivianos, por exemplo, vieram
para o Brasil, muitos clandestinamente, fixando-se sobretudo em São Paulo e trabalhando notadamente em
pequenas confecções de vestuário.
Favorecidos por uma política externa sensível ao drama de refugiados, muitos haitianos, africanos e sírios também
migraram para o Brasil.

Rota dos haitianos para o Brasil
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
FO N T E : AD A P T A D O DE F O L H A DE S. P A U L O , P. A2 2, 6 AB R. 20 1 4 . MU NDO.

Na rota mais comum, haitianos saem do país para a vizinha República Dominicana. De lá, seguem para o Panamá e, do Panamá, para o Peru; alguns
fazem escala em Quito, no Equador. Atravessam a fronteira do Brasil pelo Peru ou pela Bolívia. De Brasileia, seguem para Rio Branco, onde tiram a
carteira de trabalho, e partem para outros estados.


Para saber mais
Imigrantes haitianos sofrem racismo e xenofobia no Brasil

Muitos haitianos vêm para o Brasil em busca de emprego e de condições mais seguras do que as de seu país, que
sofre desde 2010 com as consequências de um terremoto que causou a morte de 300 mil pessoas. O Brasil optou
por acolher esses imigrantes, oferecendo auxílio como alimentação, moradia e vistos provisórios de trabalho. [...]
A Casa do Migrante, pertencente à paróquia Nossa Senhora da Paz, acolhe há 75 anos pessoas de diversos
países, como Senegal, Paquistão, Congo e Haiti. Segundo a assistente social Monica Quenca, eles estão passando
por diversas situações de preconceito no Brasil. Muitas empresas que recrutam esses migrantes estão fora da cidade
de São Paulo, e é comum que alguém da Missão acompanhe os grupos até a estação rodoviária. Em uma dessas
ocasiões, Monica estava com um grupo de 20 haitianos no metrô quando, ao sinal de fechar as portas, uma senhora
pegou a bolsa de um deles e saiu. “Os outros passageiros acharam errada a minha indignação com a situação e me
disseram que eu não tinha que ter pena de uma pessoa que nem deveria estar ali”, se referindo aos haitianos, e que,
“se eu estava com dó, deveria levar ele pra minha casa”, diz.
Segundo ela, só ao ver um grupo grande de estrangeiros, as pessoas já gritam coisas como “por que está
trazendo essa gente pra cá?” e defendem que eles têm que ir embora daqui. Monica conta que isso é frequente e
que a questão é muito complexa, porque a imigração não vai parar, já que o Brasil tem interesse na vinda desses
trabalhadores. De acordo com a assistente social, os haitianos são pessoas extremamente pacíficas, que
demonstram uma capacidade de resiliência muito grande. [...]
Muitos dos estrangeiros que ficam na Casa do Migrante vivenciam situações de preconceito, segundo a assistente
social Josicleide Barbosa de Souza. A maioria tem medo de falar, mas dois deles aceitaram conversar [...] por
telefone com a condição de não terem seus nomes publicados.
Os dois haitianos falam um pouco de português, estão aqui há cerca de seis meses. Eles têm 21 e 24 anos e
vieram do Haiti para o Brasil porque querem estudar medicina e engenharia civil. Ambos são solteiros, mas têm
família no Haiti. Um deles pensa em trazer os parentes para o Brasil depois de terminar os estudos; o outro diz que
não pensou nisso ainda, que primeiro quer conseguir um emprego que lhe permita estudar ao mesmo tempo.
O preconceito, segundo eles, se manifesta de diversos modos – alguns brasileiros têm o hábito de chamá-los de
gays. Um deles conta que, em uma dessas situações, um grupo de crianças, rindo muito, perguntou se ele não
tinha sabonete, referindo-se à cor escura de sua pele. O outro conta que muitos aqui o chamam de “macaco” e de
“outras coisas assim”. Ambos dizem que tentam ignorar o preconceito, fingem que não ouvem ou tentam não
prestar atenção.
Segundo o mais novo, no Haiti, as pessoas não têm esse costume, riem dos outros, mas fazem por
brincadeira, entre amigos e não para ofender. Um deles diz que as pessoas que fazem isso são “más”, mas,
quando acontece, tenta se manter tranquilo. Sentem falta da família e dos amigos, mas dizem que há brasileiros
sempre dispostos a ajudar. Falam com esperança quando dizem que “um dia isso (o racismo) vai parar e eu vou
continuar a viver aqui”. Até lá, dizem torcer para que “tudo vá do melhor modo”.
MIGRANTES haitianos sof rem racismo e xenof obia no Brasil. Terra, 13 maio 2014. Disponív el em: <http://noticias.terra.com.br/brasil/imigrantes-haitianos-sof rem-
racismo-e-xenof obia-no-brasil,a55e260ac95f 5410VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html>. Acesso em: 19 nov . 2015.

< imagem >
FO T O A R E N A / C O R B I S / R E N A T O ME N D E S
Imigrantes haitianos alojados em paróquia no centro de São Paulo (SP), em 2015.

Brasileiros no mundo
Durante a década de 1980, a crise econômica provocou um movimento migratório inverso: o Brasil,
tradicionalmente um país de imigração, converteu-se em país de emigração. Desde então, milhares de brasileiros
emigraram para vários países. Muitos são “refugiados econômicos” que trabalham como prestadores de serviços
urbanos. No Japão, é muito comum os imigrantes brasileiros descendentes de japoneses trabalharem como
operários, sob contrato por tempo determinado.
Observe, no mapa abaixo, a distribuição de brasileiros em diversos continentes.

Mundo: distribuição regional das comunidades de brasileiros (2015)
< mapa >
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: Adaptado de BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Brasileiros no mundo. Disponív el em: <http://www.brasileirosnomundo.itamaraty .gov .br/
a-comunidade/estimativ as-populacionais-das-comunidades>. Acesso em: 19 nov . 2015.

Apesar de o número de emigrados representar um percentual modesto diante das grandes ondas migratórias
mundiais, há várias comunidades plenamente instaladas no exterior, que continuam atraindo mais pessoas para além
das fronteiras nacionais. Ademais, a busca por melhores empregos insere o Brasil no crescente fenômeno do

trabalho migrante mundial, mais uma das várias facetas da globalização.

Para saber mais
Comunidade brasileira no Japão volta a crescer pela 1ª vez em seis anos
[...] Em 2015, a comunidade brasileira no país voltou a crescer, após ter encolhido ano a ano, desde a crise
econômica de 2008.
Em seis anos, mais de 150 mil brasileiros retornaram ao Brasil. Até 2014, muitos brasileiros já haviam entrado
novamente no Japão, mas o número de saídas ainda superava o de chegadas.
A comunidade brasileira diminuía, em média, cerca de 2 mil pessoas por ano, com picos entre 2009 e 2011,
segundo dados do Ministério da Justiça do Japão.
No entanto, nos três primeiros meses deste ano [2015], a comunidade teve um pequeno – mas relevante –
crescimento de 2 625 brasileiros, e a tendência, segundo especialistas, [...] é aumentar cada vez mais por causa da
alta produtividade da indústria japonesa. [...]
TOBACE, Ewerthon. Comunidade brasileira no Japão v olta a crescer pela 1
a
v ez em seis anos. BBC Brasil, 5 jun. 2015. Disponív el em:
<http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/06/150605_brasileiros_japao_retorno_et_rb>. Acesso em: 4 jan. 2016.

Migrações inter-regionais
No processo histórico de povoamento e ocupação econômica do Brasil, as migrações internas sempre tiveram um
papel de destaque.
Já no século XVI, a ocupação das áreas marginais à região açucareira do Nordeste assinalou o início do
movimento migratório interno no Brasil.
No século XVII, foi a atividade pecuária nas regiões do Agreste e do Sertão do Nordeste que atraiu a população do
país, seguindo o eixo do Vale do São Francisco e vindo a definir os contornos do Maranhão e do Piauí, numa
ocupação do interior para o litoral, singular na história brasileira.
A descoberta de jazidas de metais e pedras preciosas no século XVIII atraiu populações e investimentos no planalto
Mineiro, em Mato Grosso e em Goiás. Para lá, afluíram grupos populacionais do Nordeste e do planalto Paulista,
efetivando a ocupação do interior do Brasil.
No século XIX, a migração interna foi motivada pela expansão da fronteira agrícola a partir do Rio de Janeiro. A
cafeicultura expandiu-se pelo Vale do rio Paraíba do Sul, entre 1810 e 1860, e, em 1850, prosseguiu para o oeste de
São Paulo, alcançando o norte do Paraná. Nesse processo de expansão, atraiu populações do Nordeste e de Minas
Gerais para o estado de São Paulo, estabelecendo importante fluxo migratório.
Outro movimento populacional interno que merece destaque foi o impulsionado pela expansão econômica na
Amazônia, entre 1870 e 1912, baseada na produção de borracha natural. A ampliação dessa atividade coincidiu com
um momento em que o Nordeste enfrentava longo período de seca, que arrasou a produção algodoeira na região.
Essa situação estimulou o deslocamento de mais de 200 mil nordestinos em direção ao oeste para trabalhar como
seringueiros na Amazônia, extraindo látex para a produção da borracha.
Entre 1935 e 1940, a expansão da produção algodoeira em São Paulo também contribuiu para atrair um grande
contingente populacional da Bahia e de Minas Gerais.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / D E L F I M M A R T I N S
Embora sem a importância que teve entre o final do século XIX e o início do século XX, a extração da borracha ainda ocupa muitos seringueiros na
Amazônia. Na foto, ribeirinho mostrando a turistas como se faz a extração do látex. Belterra (PA), 2014.

< imagem >
ACE R V O ICO N O G R A P H I A
Além de mineiros e baianos, a cultura do algodão no oeste de São Paulo atraiu imigrantes japoneses, como os que são vistos nessa foto (c. 1940).

Fluxos migratórios a partir de 1950
A mobilidade da população brasileira aumentou na segunda metade do século XX. Entre a década de 1950 e o final
dos anos 1990, aproximadamente 60 milhões de brasileiros mudaram de cidade ou região. Entre as razões dessa
mobilidade, está a diferença de desenvolvimento econômico existente no país, que leva a população a se deslocar para
as regiões que oferecem mais oportunidades de trabalho e perspectiva de melhor qualidade de vida.
Na história das migrações internas do Brasil, os maiores contingentes partiram do Nordeste: na década de 1950,
para a construção de Brasília; entre 1950 e 1985, para as grandes cidades do Sudeste, contribuindo para a expansão

da economia urbano-industrial; e, a partir dos anos 1970, para a Amazônia.
No entanto, o padrão de migrações internas alterou-se
profundamente na década de 1990. A emigração do Nordeste apresentou uma expressiva redução, ocorrendo até
mesmo um movimento de retorno do migrante à região de origem. Esse processo refletia não só a situação
econômico-social que limitou as oportunidades de trabalho no Sudeste, mas também a expansão da economia
urbana nas grandes cidades nordestinas, onde aumentaram as oportunidades de trabalho. Com isso, algumas
cidades, como Recife, Fortaleza e Salvador, passaram a receber migrantes de outras regiões.
Outra alteração significativa no perfil migratório do Brasil é a redução do fluxo populacional para as grandes capitais e
o aumento do fluxo inverso, ou seja, cada vez mais pessoas estão deixando as grandes capitais em busca de melhores
condições de vida nas cidades médias.
Observe, nos mapas desta página, os movimentos inter‑regionais brasileiros descritos anteriormente.

Brasil: migração (1950-1970)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas.
34. ed. São Paulo: Ática, 2013. p. 135.

Brasil: migração (1970-1990)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas.
34. ed. São Paulo: Ática, 2013. p. 135.

Brasil: migração (década de 1990)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas.
34. ed. São Paulo: Ática, 2013. p. 135.

Hoje, a Amazônia constitui um grande polo de atração migratória. Esse não é um movimento recente, pois
acompanhou a expansão da fronteira agrícola brasileira em direção ao Centro-Oeste. Foi estimulado pelas políticas
desenvolvidas pelo governo federal a partir do início dos anos 1970, como a construção de grandes rodovias, o apoio
à implantação de projetos agropecuários, os incentivos às atividades de mineração e a venda de pequenos lotes de
terra pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Esse deslocamento ainda ocorre e, atualmente, grande parte da população do estado de Rondônia é de origem
paranaense. Do Rio Grande do Sul também partiram grupos em direção à Amazônia, ao Centro-Oeste e à Bahia, em
consequência do desemprego na zona rural. Outro fator que explica o deslocamento é o processo de concentração
de terras, que acompanhou a modernização da agricultura e levou ao esgotamento da estrutura fundiária da região
Sul.

São Paulo: centro de atração de migrantes
São Paulo, centro dinâmico da economia brasileira, tem, historicamente, um poder atrativo muito grande; por isso,
transforma-se num território de intensas entradas e saídas de contingentes populacionais, principalmente de
nordestinos.

< imagem >

PU L S A R IM A G E N S / A L E X A N D R E T O K I T A K A
Monumento ao Migrante Nordestino, na cidade de São Paulo (SP), 2014.

No entanto, em 2004, pela primeira vez, o número de pessoas que deixaram
São Paulo (cerca de 456 mil), a maioria rumo ao Nordeste, foi superior ao de pessoas que se dirigiram ao estado
(em torno de 400 mil). Em geral, a volta para casa está ligada aos efeitos da desconcentração econômica, ao
desenvolvimento de economias regionais e ao avanço de políticas sociais voltadas para as populações de baixa
renda.
Apesar de o saldo migratório continuar negativo, São Paulo permanece como centro atrativo da migração, ficando

no imaginário dos migrantes das regiões menos desenvolvidas como um local de oportunidades.

Texto & contexto
1. Cite dois exemplos de migrações inter-regionais ocorridas até a década de 1950 no território brasileiro.
2. A mobilidade da população brasileira aumentou a partir da década de 1950. Por quê?
3. Com o apoio dos mapas da página anterior, escreva um comentário sobre as tendências da migração interna no Brasil entre
1950 e 1990.
4. Explique por que, em 2004, tantos migrantes deixaram o estado de São Paulo rumo ao Nordeste.
Migração rural-urbana
As migrações rurais-urbanas em território brasileiro ficaram conhecidas como êxodo rural, pois envolveram um
grande contingente de pessoas que, em ritmo acelerado, saíram do campo para viver nas cidades. O gráfico abaixo
dá uma ideia da importância desses movimentos da população brasileira.
Em geral, costuma-se explicar o êxodo rural brasileiro considerando fatores de expulsão e também fatores de
atração.
Entre os fatores de expulsão, destacam-se as transformações ocorridas no meio rural brasileiro devido à sua
modernização. A modernização do campo libera mão de obra, que é substituída, em parte, pelo uso de tecnologia
aplicada às atividades agrárias. Foi o que aconteceu, principalmente, no Centro-Sul do país.
Outro fator importante de expulsão está ligado às pressões que o crescimento demográfico exerce sobre a
disponibilidade de terras cultiváveis. Em determinadas áreas do país, há insuficiência de terras cultiváveis ou elas se
encontram concentradas com os grandes proprietários rurais.
Por outro lado, as cidades exercem grande atração sobre os habitantes do campo, e muitos cultivam a ilusão de
que elas oferecem mais oportunidades de trabalho, escolas, assistência médica, lazer, etc. No entanto, ao chegar
às cidades, nem sempre encontram as facilidades que esperavam. A falta de moradia é um dos principais
problemas que enfrentam.

Brasil: evolução da população rural e urbana (1940-2014)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fontes: Adaptado de TELÓ, Fabrício; DAVID, Cesar de. O rural depois do êxodo: as implicações do despov oamento dos campos no distrito de Arroio do Só, município
de Santa Maria/RS, Brasil. Mundo Agrário, v . 13, n. 25, 2012. Disponív el em: <http://www.scielo.org.ar/scielo.php?pid=S1515-59942012000200005 &script=sci_arttext>.
Acesso em: 19 nov . 2015; IBGE. Pnad 2014.
Disponív el em: <http://www.ibge.gov .br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2014/def ault_sintese.shtm>. Acesso em: 16 nov . 2015.

Para saber mais
Migração
Os processos migratórios têm profundos impactos nas qualidades dos aglomerados urbanos, que sofrem pressões
em termos habitacionais, transportes e serviços públicos tais quais saúde e educação. Os indivíduos migram, mas é
possível dizer que os grupos e famílias migram com eles, tecendo redes de apoio que se estendem dos “polos
repulsores” aos “polos atratores” de populações. Portanto, os fluxos migratórios deixam marcas importantes nas
relações sociais e nos processos econômicos, e é nesse enquadramento analítico, que implica impactos variados nas
solidariedades sociais e nas políticas públicas, que os fenômenos demográficos devem ser percebidos [...]. Dessa
maneira, é importante atentar para o fato de que a migração é um “fato social total” e que as explicações para o
fenômeno não se restringem a motivações e causalidades econômicas, sendo a tradução de suas expressões
espaciais e históricas complexas.
IPEA. Comunicado da Presidência, n. 31, p. 32, 7 out. 2009.

Texto & contexto
1. Identifique dois fatores que explicam o êxodo rural no Brasil e comente-os.
2. Você conhece pessoas que deixaram áreas rurais para viver nas cidades? Em caso afirmativo, relate por que deixaram o campo
e as dificuldades que encontraram.

Conexões
Pirâmides etárias, mapas, gráficos e quadros comprovam: o Brasil está cada vez mais urbano, feminino, mestiço e
envelhecido. Nesse contexto, os arranjos familiares também estão ficando mais complexos e diversificados. Tudo

isso indica que, no século XXI, a população brasileira será bem diferente da do passado.

Nupcialidade e novos tipos de arranjos familiares
O casamento é praticamente um evento universal no Brasil, mas somente se considerarmos todos os tipos de
matrimônio. [...]
Os casamentos, no entanto, ficaram mais instáveis. Nos últimos quarenta anos, cresceu o número de separações
e divórcios, consequentemente, aumentando o número de recasamentos, especialmente para o caso dos homens.
[...]
O aumento das separações e dos divórcios interfere nas mudanças das estruturas familiares, na formação das
chamadas famílias reconstituídas, por exemplo, que são cada vez mais frequentes no cenário nacional. Crescem as
famílias em que tanto o marido quanto a esposa trazem para a nova união os filhos de casamentos anteriores, vindo a
se somar com novos filhos que surgem do novo enlace. De repente, juntam-se filhos, enteados, irmãos, madrasta,
padrasto, ex-esposo, ex-esposa e diversos avós. Costuma-se dar o nome de “família-mosaico” ao arranjo familiar em
que os filhos do casal compõem um quadro formado por irmãos, meios-irmãos e não irmãos, pois os filhos de união (ou
uniões) anteriores do marido e da esposa não são irmãos, mas ambos são meios-irmãos dos novos filhos do casal. [...].
A “família-
-mosaico” é apenas mais um tipo de arranjo familiar entre o leque de arranjos possíveis em uma sociedade cada vez
mais marcada pela pluralidade e por dinâmicas inovadoras que vão além do modelo-padrão, como as famílias
homoafetivas [...].
[...] O Censo 2010, do IBGE, pela primeira vez, abriu a possibilidade de os casais do mesmo sexo, que moram no
mesmo domicílio, serem considerados um núcleo familiar. [...]. As mulheres são maioria nos arranjos homoafetivos
declarados, inclusive na homoparentalidade. Portanto, já existem crianças com dupla “maternidade” ou dupla
“paternidade”. [...]
De modo geral, pode-se afirmar que o modelo hegemônico de família nuclear era formado por um homem e uma
mulher, que se uniam em um matrimônio por toda a vida e praticavam sexo com finalidade generativa. [...]
Esse modelo de família trazia embutida uma forte desigualdade de gênero. A menor autonomia das mulheres na
família era, geralmente, reforçada pela desigualdade social, em especial, pela baixa taxa de atividade laboral e pela
segregação no mercado de trabalho. [...]. Essa “família-padrão”, contudo, começou a ruir na mesma época do fim da
padronização fordista de produção, ou seja, com a revolução sexual dos anos de 1960, com a disponibilidade de
métodos contraceptivos, com a entrada crescente da mulher no mercado de trabalho, com a reversão do hiato de gênero
na educação e com a aceitação mais ampla de novos arranjos familiares. Cresceu o número de domicílios comandados
por mulheres e a chefia compartilhada. Em grande parte, isso se deve ao processo de empoderamento feminino, mas,
em outros casos, a chefia feminina é decorrência da ausência do cônjuge e da falta de responsabilização dos pais
(homens) com os filhos. [...]

ALVES, José E. D.; CAVENAGHI, Suzana. Transições urbanas e da f ecundidade e mudanças dos arranjos f amiliares no Brasil.
Cadernos de Estudos Sociais, Recif e, v . 27, n. 2, p. 91-114, jul./ago. 2012.

AG Ê N C I A O GL O B O / M A R I Z I L D A CR U P P E
Mães e filho. Rio de Janeiro (RJ), 2011.

Responda no caderno
1. O Brasil está cada vez mais urbano, feminino, mestiço e envelhecido. Nesse contexto, que mudanças são verificadas nos
arranjos familiares?
2. Qual é a sua opinião sobre os diferentes arranjos familiares verificados na atual população brasileira?
Responda no caderno

Pensando bem
Responda no caderno
1. Vamos traçar um perfil das famílias dos alunos da sua sala de aula? Para isso, você fará um trabalho de campo em que terá de
entrevistar membros de sua família. O trabalho será dividido em três etapas.
Etapa 1: Levantamento de dados
Reúna-se com nove colegas. Cada um terá de entrevistar dez membros de sua família, com idades e ocupações variadas.
Elaborem um questionário que já contenham as possíveis respostas; assim, o entrevistado precisará apenas indicar a categoria
em que se encaixa.

O questionário pode abordar:
▸ faixa etária (de 11 a 20 anos, de 21 a 30 anos, etc.);
▸ escolaridade (ensino fundamental, ensino médio, etc.);
▸ setor de ocupação (agricultura, indústria ou comércio e serviços). O questionário deve considerar também os não ocupados,
como pessoas que cuidam da casa, aposentados e estudantes;
▸ faixa salarial (de 1 a 5 salários mínimos, de 6 a 10, etc.);
▸ número de filhos;
▸ quantidade de moradores na residência;
▸ condições da moradia (água encanada, luz, coleta de lixo, casa própria ou alugada, etc.);
▸ bens que a família possui (geladeira, fogão, televisão, computador, etc. – quantidade de cada item);
▸ quantidade de membros da família que têm celular;
▸ quantidade de membros da família com acesso à internet.
O roteiro indicado acima é apenas um exemplo. Se quiser, acesse, com seu grupo, o site <http://censo2010.ibge.gov.br>
(acesso em: 16 dez. 2015) e veja os tipos de informações levantados pelo IBGE.
Etapa 2: Consolidação dos resultados e análise
Após a realização das entrevistas, reúnam os dados de acordo com as perguntas e organizem-nos em uma planilha, de
preferência, criada no computador. Com base nessa planilha, criem gráficos (de setores, barras, linhas, etc.) para representar as
informações.
Para finalizar esta etapa, analisem conjuntamente os resultados:
▸ O que eles mostram a respeito das famílias?
▸ Quais são os dados mais interessantes?
▸ Há algo em comum entre as diversas famílias entrevistadas?
Etapa 3: Apresentação dos dados e conclusões
Com os resultados em mãos, montem uma apresentação contemplando as três etapas do trabalho:
▸ início – Como o grupo decidiu quais perguntas iam fazer aos entrevistados?
▸ desenvolvimento – Como foi a experiência de reunir e tabelar os dados? Por que escolheram determinados gráficos em vez
de outros?
▸ conclusão – Com base nos dados levantados e analisados, qual foi o perfil traçado pelo grupo?
Ao final de todas as apresentações, anotem os perfis traçados pelos grupos, atentando-se às semelhanças e às diferenças entre
eles. Verifiquem ainda se, ao juntar todos os resultados, é possível traçar um grande perfil das famílias dos alunos da classe.

2. Observe o mapa a seguir.
Brasil: índice de envelhecimento (2010)
< mapa >
Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas do Censo demográfico 2010. Rio de Janeiro, 2013. p. 40.
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A

a) O que é possível concluir observando esse mapa?
b) Qual é o índice de envelhecimento na maioria dos municípios brasileiros?

3. Enem (2013)
< imagem >
E NE M / R E P R O D U Ç Ã O
IBGE. Censo demográfico 2010: resultados gerais da amostra.
Disponív el em: <f tp://ftp.ibge.gov.br.> Acesso em: 12 mar. 2013.

O processo registrado no gráfico gerou a seguinte consequência demográfica:
a) Decréscimo da população absoluta.
b) Redução do crescimento vegetativo.
c) Diminuição da proporção de adultos.
d)Expansão de políticas de controle da natalidade.

e)Aumento da renovação da população economicamente ativa.


Em grupo
Muitos músicos, fotógrafos, poetas, escritores, pintores e artistas costumam revelar, em suas obras, as tristezas e
as alegrias de quem vive longe de sua terra natal.
1. Leiam o texto e respondam às questões.

[...] Antes de mais nada, devemos considerar que os movimentos migratórios, o ato de emigrar, significam a existência de dois
problemas: tanto uma ruptura do emigrante com o seu lugar de origem quanto a necessidade de reintegração social na condição
de imigrante em seu lugar de destino. O primeiro é marcado pelo distanciamento físico nas relações familiares e de amizades,
assim como pelo abandono das imagens dos lugares que marcam o cotidiano das pessoas: bairros, ruas, povoados, etc. O
segundo representa a condição de forasteiro, de estranho, e a consequente necessidade de integração com o novo espaço físico
e social.
Ruptura e reintegração são processos que acompanham os migrantes, quase sempre junto com conflitos, tanto de natureza
psicológica como sociocultural. O sentimento de perda em relação ao lugar de origem é vivido conjuntamente com o da esperança
de conquista em relação ao novo. Seus traços culturais, que se expressam pelas diferentes formas de linguagem (fala, modo de
vestir, música, etc.), acabam transformando-se, no lugar que os recebe, em sinais identificadores de forasteiro. Negar ou persistir
no cultivo dessa linguagem é um dos dilemas que se colocam para o migrante.

< imagem >
Borges, José Francisco/Museu Oscar Niemeyer
José Francisco Borges. Fugindo da seca. Xilogravura.
Dimensões: 47 cm × 35 cm.

SCARLATO Francisco Capuano. População e urbanização brasileira.
In: ROSS, Jurandy r L. Sanches (Org.). Geografia do Brasil. 5. ed. São Paulo: Edusp, 2008. p. 395.


a) De modo geral, qual é o sentimento das pessoas que migram?
b) Você já presenciou situações preconceituosas em relação a migrantes? Qual é sua opinião sobre isso?

2. Nesta atividade, vocês vão elaborar uma coletânea de imagens sobre as migrações no Brasil.
1º)
Em revistas, jornais, livros e na internet, pesquisem pinturas, fotografias, desenhos e esculturas que retratem o fenômeno das
migrações (internas ou de estrangeiros) no Brasil, no passado e/ou no presente.
2º)
Providenciem uma cópia dessas imagens e organizem a coletânea. Para isso, elaborem um blog, slides, um vídeo, um
seminário ilustrado, um álbum, cartazes, etc.
3º)
Identifiquem cada um dos materiais pesquisados com legenda, na qual devem constar o nome do autor e a data em que a obra
foi produzida.
4º) Em data previamente combinada, apresentem o trabalho ao professor e aos outros grupos.

Em debate
Leiam atentamente a declaração a seguir.

Eu considero o direito de migrar como um dos direitos humanos. Qualquer ser humano tem direito de procurar
melhorar sua vida e de sua família. O mundo é da humanidade. Aqueles que deixam seu país não deixam por qualquer
razão. Deixam porque não têm condições de sobrevivência e querem sobreviver com dignidade em algum outro lugar.
Então eles devem ser recebidos de modo ordenado, organizado e digno e viver no nosso país. Eles trarão uma boa
contribuição cultural e econômica para o desenvolvimento do país.
Nilson Mourão, secretário de Direitos Humanos. In: SANTINI, Daniel.
Medo de ebola agrava preconceito contra imigrantes negros. Disponív el em: <http://imigrantes.webflow.io/>. Acesso em: 19 jan. 2015.
Vocês concordam com o ponto de vista do autor da frase? Por quê?

capítulo
7
Um país multicultural
FO T O S PÚ B L I C A S / S E I / R O B E R T O PE R E I R A
Desfile do bloco Galo da Madrugada, no Recife (PE), em 2015.

Você conhece alguns aspectos importantes da população brasileira. Mas, para uma boa compreensão da
sociedade em que vivemos, precisamos estudar outros aspectos do contingente demográfico do Brasil.
Todos nós, por falarmos a mesma língua, termos uma história comum e cultivarmos alguns costumes e tradições
semelhantes, constituímos o povo brasileiro. Ao mesmo tempo, ao ocuparmos um mesmo território, sermos regidos
pelo mesmo ordenamento jurídico (constituição, leis, governo) e termos o sentimento de pertencer a uma mesma e
grande comunidade, fazemos parte da nação brasileira.
A homogeneidade fisionômica e cultural do povo brasileiro não é como a de outros povos (árabes, japoneses,
judeus). Isso acontece não só por ele ser historicamente jovem, mas, sobretudo, por ter se formado pela mistura de
povos diferentes, cujo processo de caldeamento permanece ativo. Daí a composição étnica variada e a grande
diversidade de manifestações culturais no Brasil.
Composição étnica: refere-se à etnia, conceito usado para designar uma coletividade humana que se identifica por traços culturais comuns, como língua, religião,
costumes e tradições. O termo tem sido usado no lugar de raça, cuja existência, como categoria biológica, é discutível, devido a seculares miscigenações. Para
alguns estudiosos, a etnia tem uma base biológica. Há quem sustente que o termo deve ser evitado, em razão de sua imprecisão conceitual.

Formação étnica do Brasil
Ao longo de cinco séculos, a população brasileira constituiu-se pela miscigenação de três principais grupos
étnicos: o indígena, o negro e o branco. Esses grupos são definidos pela origem geográfica e comunitária e por
traços culturais comuns. Assim, a etnia não é definida pela cor da pele, mas sim pelo sentimento de pertencimento a
determinada comunidade.
Segundo dados da Pnad, em 2014, 45,5% da população brasileira era composta de brancos; 45%, de pardos; 8,6%,
de pretos; e 0,9%, de amarelos, indígenas, entre outros.
A mesma pesquisa também apontou que, enquanto nas regiões Norte e Nordeste as pessoas se declaravam
predominantemente pardas, na região Sul, 76% se classificavam como brancas. Observe o gráfico a seguir.

Brasil: cor da população por região (2014)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de IBGE. Pnad 2014. Disponív el em: <http://www.ibge.gov .br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2014/def ault_sintese.shtm>.
Acesso em: 16 nov . 2015.

As estatísticas a respeito da composição étnica do Brasil são sempre acompanhadas de polêmicas. Muitos
argumentam que os dados obtidos por meio de entrevistas não levam em consideração as heranças genéticas, mas,
sim, a cor da pele. Somente no Censo de 2000, por exemplo, os indígenas foram agrupados separadamente dos
orientais, que compõem o grupo denominado amarelos.
Quanto à população parda, é importante ressaltar que nem sempre os dados refletem a realidade, pois, muitas
vezes, o preconceito racial leva a pessoa a declarar-se integrante do grupo de população branca.

Indígenas
Como você deve saber, o território brasileiro era habitado por povos nativos quando da chegada do colonizador
europeu, a partir do século XVI. Estima-se que, na época do descobrimento, a população nativa do país podia
alcançar mais de 5 milhões de habitantes, os quais formavam centenas de comunidades, com costumes e línguas
diferentes.
Atualmente, depois de submetidos a um longo processo de extermínio, restam cerca de 817 mil indígenas no
Brasil, conforme dados da Funai. O extermínio de indígenas não foi apenas físico, deliberado e procedido pelo
dominador europeu. Foi também um brutal extermínio cultural, chamado de etnocídio, resultante da integração
forçada do indígena à sociedade do branco. Esse processo começou com a colonização, por meio da catequese dos
nativos e de sua exploração como mão de obra. Apesar do surgimento do mestiço de branco e indígena – o caboclo
ou mameluco –, presente hoje na composição étnica da população brasileira, a cultura indígena foi quase totalmente
aniquilada. Os costumes e a língua nativa foram desaparecendo, abafados pela cultura do branco.
Somente em 1910, foram reconhecidos o direito do indígena à posse de terra e o respeito a seus costumes, com
a instituição do Serviço de Proteção ao Índio (SPI). Em 1967, esse órgão federal foi substituído pela Fundação
Nacional do Índio (Funai), que até hoje se ocupa das questões indígenas. Em 1973, foi promulgado o Estatuto do
Índio, que consagrou os direitos indígenas sobre as terras ocupadas. A atual Constituição, de 1988, reitera esses
direitos. Pela Carta Magna, os indígenas não são proprietários das terras, que pertencem à União, sendo-
-lhes garantido apenas seu usufruto. Mesmo assim, a legislação não tem sido plenamente cumprida.

Os dados do gráfico mostram o resultado do intenso processo de miscigenação ocorrido no Brasil: a proporção de
pardos é praticamente igual à dos que se declaram brancos. Somando-se os pardos, que são mestiços, com os
pretos, que são afrodescendentes, pode-se dizer que a parcela da população brasileira de origem europeia é
minoritária no país.
Nas regiões Sul e Sudeste, o grande percentual de população branca deve-se à expressiva imigração de europeus
a partir do século XIX. As maiores percentagens de negros são encontradas no Sudeste e no Nordeste, para onde
foram levados grandes contingentes de trabalhadores trazidos da África, em função da lavoura tropical e da
mineração apoiada no trabalho escravo, nos períodos Colonial e Imperial. A presença mais expressiva de pardos
ocorre no Norte, graças à forte influência indígena.

Segundo a Funai, há hoje no país 305 etnias e 588 áreas indígenas. Porém mais de um terço dessas áreas
não foi ainda demarcado e devidamente regularizado.

Brasil: distribuição da população indígena (2010)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / AR Q U I V O DA E DI T O RA
Fonte: Adaptado de IBGE.
Atlas do Censo demográfico 2010.
Rio de Janeiro, 2013. p. 55.


Muitos estudiosos apontam aspectos paternalistas e contraditórios na legislação brasileira no que se refere à
questão indígena. Um exemplo é o ordenamento legal que defende a preservação da cultura indígena e o acesso à
terra, contudo, não reconhece o indígena como constituinte de outro povo, diferente do brasileiro. Visa a sua
integração à sociedade nacional, mas, ao mesmo tempo, trata-o como ser incapaz de gerir seu destino, precisando
ser tutelado pelo governo.
Além disso, os atuais descendentes dos antigos povos nativos enfrentam diversos problemas. O mais grave talvez
seja a invasão de suas terras por garimpeiros, posseiros e empresas madeireiras e de mineração. De qualquer modo, a
contribuição indígena na formação étnica e cultural do Brasil foi muito grande, principalmente na Amazônia. A influência
indígena aparece em muitos aspectos da cultura brasileira: na culinária; em festas populares; em certos hábitos, como o
de banhar-se diariamente; nos nomes de localidades; etc.

A maior parte das áreas indígenas reconhecidas pela Funai situa-se na região Norte. Na foto, homens Yanomami se pintando para as comemorações dos 20 anos
de demarcação da T erra Indígena Yanomami (TIY), no município de Barcelos (AM), em 2012.
< imagem >
Fundação Nacional do Índio (Funai)
<http://www.funai.gov.br>. Acesso em: 13 dez. 2015.
Criada em 1967, a Funai é o órgão indigenista oficial do Brasil. É ela quem delimita, demarca e regulariza as terras indígenas, além de monitorá-
las e fiscalizá-las.
PU L S A R IM A G E N S / E D S O N SA T O

Karipunas, Warow ornos e Waiãpis: a construção social do índio amapaense Instituto Amazônia, 2009.
Apresenta a história de três povos indígenas do estado do Amapá: Karipuna, Galibi Marow orno e Wajãpi.



Europeus
Entre os vários povos europeus constituintes da população brasileira (comumente chamados de brancos, devido à
cor da pele), os portugueses foram o mais importante, tanto do ponto de vista numérico quanto por sua
responsabilidade no processo de colonização e formação do território nacional. Eles vieram de várias províncias de
Portugal e também das ilhas dos Açores e da Madeira.
Os portugueses imprimiram traços dominantes da cultura brasileira, como a língua portuguesa e a religião católica.
No decorrer do processo de colonização, misturaram-se com indígenas e negros, espalhando-se por todo o território
que hoje forma o Brasil.
No período colonial, outros grupos também vieram para o Brasil, como os espanhóis, durante a chamada União
Ibérica (1580-1640), quando Portugal ficou sob o domínio da Espanha, e os holandeses, durante a ocupação do
Nordeste (1630-1645).
De 1820 a 1934, outros povos brancos vieram para o Brasil, como italianos, alemães e eslavos. Por meio da
imigração, especialmente nas regiões Sul e Sudeste do país, eles contribuíram para a formação étnica do povo
brasileiro.
< imagem >
D. A PR E S S / E S P . CB/ L U I S XA V I E R DE FR A N Ç A
As festas juninas, típicas da cultura brasileira, têm na sua origem influências da cultura europeia. Na foto, apresentação de grupo de quadrilha em Brasília
(DF), 2013.

Negros
Com o objetivo de abastecer mercados europeus com metais preciosos e produtos tropicais, a exploração do
território que hoje compreende o Brasil se apoiou no trabalho escravo de milhões de africanos e afrodescendentes.
Trazidos da África em navios negreiros e leiloados, os indivíduos escravizados foram a mão de obra utilizada nos
cultivos de cana-de-açúcar, algodão, tabaco, café e nas áreas de mineração.
Estima-se que, entre 1532 e 1850, entraram no Brasil mais de 5 milhões de africanos pertencentes a diferentes
nações, como Banto, Hauçá, Kanembu, Fulas e Iorubá. Com tal contingente, a contribuição do negro foi decisiva
na formação da população e da cultura brasileira, originando outros tipos de mestiços, como o mulato (branco com
negro) e o cafuzo (negro com indígena).
A influência da cultura africana pode ser observada na culinária, nas artes, nos esportes, no misticismo e na
própria religião.
Contudo, a convivência aparentemente amistosa entre os diferentes grupos étnicos pode ser enganosa. Embora a
Constituição brasileira proíba a discriminação racial, os negros nem sempre recebem o mesmo tratamento que os brancos.
Muitas vezes, enfrentam barreiras para conseguir bons empregos e recebem remuneração inferior à dos brancos.

<E X C E S S O DE T IP O S VA R I Á V E I S >
< imagem >
A capoeira, considerada uma expressão cultural brasileira, tem elementos de origem africana e mistura luta, música e dança. Na foto, roda de capoeira em
Salvador (BA), 2015.

De acordo com o IBGE, em 2013, um trabalhador negro ganhava, em média, um salário de R$ 1.374,79, enquanto
um branco recebia R$ 2.396,74. Com relação ao analfabetismo, 11,5% dos negros não sabiam ler nem escrever, ao
passo que a taxa de brancos era de 5,2%.
Nos últimos anos, porém, tem crescido a consciência de que é preciso incrementar o combate ao preconceito e à
discriminação, ao mesmo tempo que se tenta resgatar a imensa dívida histórica que a sociedade brasileira tem com
os afrodescendentes. Para isso, diversas iniciativas têm sido tomadas pelo poder público, como a legalização de
terras de quilombolas e a instituição de cotas raciais para o ingresso em universidades e serviços públicos.
A decretação de 20 de novembro como o Dia da Consciência Negra visa a estimular a reflexão sobre as injustiças
cometidas contra os afrodescendentes e o compromisso social com a afirmação da igualdade entre todos os
brasileiros.

Outros grupos
Além dos grupos principais, outros povos contribuíram para a formação da população e da cultura brasileira, como
japoneses, sírio-libaneses (árabes), coreanos e chineses.
Os japoneses começaram a chegar ao Brasil em 1908, inicialmente a São Paulo. É aí que seus descendentes
constituem, nos dias atuais, a maior comunidade nipônica fora do Japão.
A influência japonesa está mais presente em São Paulo e no Paraná, podendo ser observada na denominação de
bairros; em festas, como o Tanabata Matsuri; e notadamente na culinária. Mas ela também aparece em outras
regiões do Brasil.
Os sírio-libaneses que vieram para o Brasil, geralmente dedicando-se a atividades comerciais, introduziram no
país alguns elementos da cultura árabe, sobretudo na culinária.


Histórias do movimento negro no Brasil
Verena Alberti. Rio de Janeiro: Pallas, 2007.
Coletânea de entrevistas com lideranças do movimento negro no Brasil a partir da década de 1970. A obra apresenta etapas importantes desse
movimento, como a criação do grupo Palmares, no Rio Grande do Sul, em 1971, e a fundação do primeiro bloco afro na Bahia, o Ilê Aiyê, em
1974.

< imagem >
FO T O S PÚ B L I C A S / P A U L O PIN T O

T odos os anos, no bairro da Liberdade, na cidade de São Paulo (SP), ocorre o T anabata Matsuri, celebração baseada em uma lenda japonesa. As ruas são
decoradas e há apresentações de dança e de música, além de venda de comidas típicas. Na foto, celebração em 2015.

Texto & contexto
1. As estatísticas referentes à composição étnica do Brasil são sempre acompanhadas de polêmicas. Explique-as, emitindo sua
opinião sobre o assunto.
2. O extermínio de indígenas não foi apenas físico, mas também cultural. Comente essa afirmação.
3. Com base no mapa da página 161, responda: Em que região se encontra a maioria da população e das terras indígenas
reconhecidas pela Funai?
4. Cite dois exemplos da influência da cultura africana na sociedade brasileira.

Cultura
Há várias maneiras de um povo transmitir seus conhecimentos de geração a geração. Festas, objetos artesanais,
culinária, danças e outras manifestações são expressões da criatividade humana. Muitas permitem às pessoas
contarem sua própria história e a do lugar onde vivem.
Com base em fatos do cotidiano ou em lembranças guardadas na memória, muitos artistas brasileiros expressam,
em saberes e fazeres, diferentes paisagens e lugares do imenso território. Modos de viver, de se divertir e de
trabalhar se entrecruzam, revelando a mistura de etnias que formam a população brasileira, com sua diversificada
cultura.

Cientista social: pode atuar em três linhas – na Sociologia, na Antropologia e na Ciência Política. Para ser um cientista social, é
preciso graduar-se em Ciências Sociais. Esse profissional estuda fenômenos da sociedade; movimentos e conflitos sociais;
organizações sociais, econômicas, políticas e culturais; etc. É ele quem interpreta, analisa e questiona a sociedade, seus
costumes, suas mudanças, seus problemas, entre outras questões.

Para saber mais
Artistas do sertão
Na região sertaneja do Cariri, artistas locais reforçam a tradição do artesanato
Composta de 12 municípios do sertão cearense, a região do Cariri tem no artesanato uma de suas principais
manifestações artísticas. [...] artesãos locais ganham maior visibilidade ante os olhares curiosos daqueles que tomam
contato com suas obras pela primeira vez. Muitos desses olhares convergem para a sede da Associação dos
Artesãos de Juazeiro Mestre Noza, localizada no antigo prédio da cadeia pública de Juazeiro do Norte, onde funciona
desde sua criação, em 1985.
O nome é uma homenagem ao pernambucano Inocêncio Medeiros da Costa (1897-1983), o mestre Noza, cuja arte foi

estimulada por Padre Cícero nos primórdios de Juazeiro. Fundada a cidade, Padre Cícero buscava desenvolver a
economia local, incentivando os moradores a desenvolverem suas aptidões; e foi por meio desta iniciativa que Noza se
tornou o primeiro artesão do município. [...] Esculturas em madeira ou argila, xilogravura, literatura de cordel, todas as
obras são compradas pela associação, política que, embora dispendiosa, garante a renda de muitos artistas: “seria melhor
que os trabalhos ficassem consignados, mas aí não haveria mais artesãos, porque a maioria tem como única fonte de
renda a produção da arte popular”, explica Hamurábi Bezerra da Cruz, 39 anos, presidente da associação. [...]
Com o dinheiro das vendas, aliado ao fomento estatal (a associação mantém um convênio com o governo do
Ceará e o Ministério da Cultura), o intuito é manter viva uma tradição que se arrasta por gerações, sem se deixar
seduzir por “modernas” técnicas de aprendizado, conforme argumenta Hamurábi: “a gente se sente invadido quando
chega alguém para dar oficinas de design, porque querem dizer para a gente como tem que fazer. Acredito muito no
que é nato. A gente precisa desenvolver a aptidão, mas ninguém pode ensinar o outro a ser artista”. [...]
< imagem >
SOUSA, Wilker. Artistas do sertão. Revista Cult. Disponív el em: <http://rev istacult.uol.com.br/home/2010/11/artistas-do-sertao>.
Acesso em: 5 jan. 2016.
PU L S A R IM A G E N S / R O G É R I O RE I S

Parte do acervo permanente do Centro da Cultura Popular Mestre Noza, em Juazeiro do Norte (CE). Foto de 2015.

Noção de patrimônio
A partir da ideia de memória, valor afetivo, identidades, vivências e saberes, foi criada, no século XIX, a noção de
patrimônio histórico e artístico. Todavia, no Brasil, a legislação em torno do assunto data apenas de 1937. Nela, o
patrimônio é definido como o conjunto de construções e monumentos relacionados a fatos memoráveis, considerados
de valor histórico, arquitetônico, artístico, arqueológico ou etnográfico. Por exemplo: o Pelourinho, em Salvador, ou o
Museu do Ipiranga, em São Paulo, por representarem momentos da história nacional, mereceriam ser preservados.

< imagem >
IST O C K P H O T O / F I L I P E F R A Z Ã O
Rua do Pelourinho, em Salvador (BA), 2014.

< imagem >
©C R E A T I V E CO M M O N S / C A R L O S VA R E L A
Museu do Ipiranga, em São Paulo (SP), 2012.

Porém, na prática, na década de 1930, consideravam-se dignas de preservação apenas edificações pertencentes
às altas camadas da sociedade.
Com o tempo, a noção de patrimônio passou a englobar outras dimensões passíveis de preservação, próprias de
diversos grupos integrantes da história e da identidade nacional, como comunidades indígenas ou quilombolas.
Pesquisas e discussões sobre patrimônio inspiraram a criação de um documento pela Unesco, na Convenção para
a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, ocorrida em 1972. Esse documento define dois tipos de
patrimônio passíveis de proteção. O primeiro diz respeito ao Patrimônio Cultural; nessa categoria, estão os
monumentos, as construções arquitetônicas e os sítios arqueológicos. De acordo com a Unesco, o Patrimônio
Cultural é muito importante para a memória, a identidade e a criatividade dos povos. O segundo tipo é o Patrimônio
Natural; essa categoria busca preservar os monumentos e os sítios naturais de valor científico ou estético e os
habitats de espécies em extinção.
A esses dois tipos de patrimônio, a Unesco acrescentou, em 2002, um terceiro: o Patrimônio Imaterial, ou
Patrimônio Cultural Imaterial, entendido como o conjunto de expressões de vida, tradições e conhecimentos que
grupos ou indivíduos compartilham, passados de geração a geração.

Ministério da Cultura (MinC)
<http://www.cultura.gov.br>. Acesso em: 13 dez. 2015.
Criado em 1985, incentiva e desenvolve políticas voltadas para as expressões culturais brasileiras (no cinema, nas artes, na pesquisa, etc.). Além
disso, financia projetos, filmes e exposições, para promover a cultura e as artes no Brasil.
Patrimônios brasileiros
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), também criado em 1937, é uma instituição
governamental responsável pela preservação e pelo tombamento de bens materiais, naturais e imateriais em todo o

território brasileiro.
Em 1977, a Unesco firmou um convênio com o Iphan para preservar bens localizados em território brasileiro,
inserindo-os na lista do Patrimônio Mundial, que reconhece bens de importância para toda a humanidade. A
responsabilidade de preservá-los é do país onde se localizam, mas cabe à Unesco garantir apoio na preservação por
meio de assessoria técnica e projetos.
Entre os Patrimônios Naturais do Brasil que fazem parte da lista da Unesco, podem-se citar: Parque Nacional do
Iguaçu, em Foz do Iguaçu (PR), desde 1986; Mata Atlântica – Reservas do Sudeste (SP/PR), desde 1999; Costa do
Descobrimento – Reservas da Mata Atlântica (BA/ES); Áreas Protegidas do Cerrado, como Chapada dos Veadeiros e
Parque Nacional das Emas (GO), desde 2001; etc.
Alguns exemplos de Patrimônios Culturais são: Cidade Histórica de Ouro Preto (MG), desde 1980; Centro Histórico
de Olinda (PE), desde 1982; Missões Jesuíticas Guarani – Ruínas de São Miguel das Missões (RS), desde 1983; Plano
Piloto de Brasília (DF), desde 1987; Centro Histórico de Goiás Velho (GO), desde 2001; Parque Nacional da Serra da
Capivara, em São Raimundo Nonato (PI), desde 1991; Praça de São Francisco, em São Cristóvão (SE), desde 2010;
Rio de Janeiro (RJ) e suas paisagens entre a montanha e o mar, desde 2012.
Quanto ao Patrimônio Cultural Imaterial no Brasil, de acordo com o Iphan, alguns exemplos são: Ofício das
Paneleiras de Goiabeiras (ES), desde 2002; Arte Kusiwa – Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi (AP), desde 2002;
Círio de Nossa Senhora de Nazaré (PA), desde 2005; Samba de Roda do Recôncavo Baiano (BA), desde 2004; Ofício
das Baianas de Acarajé (BA), desde 2005; Frevo (PE), desde 2007; Roda de Capoeira e Ofício dos Mestres de
Capoeira, desde 2008; Toque dos Sinos de Minas Gerais, desde 2009.

T ombamento: registro de fatos ou coisas referentes a uma especialidade ou a uma região; inventário.
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
<http://portal.iphan.gov.br>. Acesso em: 13 dez. 2015.
Vinculado ao Ministério da Cultura, é responsável por preservar, proteger e promover os bens culturais do Brasil. O site do Iphan traz informações
sobre os patrimônios culturais da humanidade que foram tombados no país.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / A N D R É DIB
Jardim de Maytrea, um dos pontos mais conhecidos do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO), 2014.


< imagem >
FO T O A R E N A / J O Ã O CA R L O S MA Z E L L A
Dançarinos de frevo no Recife (PE), 2012.

Texto & contexto
1. Na década de 1930, patrimônio referia-se ao conjunto das construções e dos monumentos relacionados a fatos memoráveis, de
valor histórico. Explique as mudanças ocorridas na noção de patrimônio entre a década de 1930 e os dias atuais.
2. A Unesco, considerando pesquisas e discussões recentes, definiu três tipos básicos de patrimônio. Explique cada um deles.
3. Qual é a principal instituição brasileira responsável pela preservação e pelo tombamento de bens materiais, naturais e
imateriais?
Patrimônio Cultural Imaterial
Como você já viu, a ideia de Patrimônio Cultural Imaterial está ligada a expressões de vida, tradições e
conhecimentos que grupos ou indivíduos compartilham, transmitidos de geração a geração.
Arte Kusiwa
Há mais de dois séculos, o povo Wajãpi ocupa uma vasta área próxima à fronteira entre o Brasil e a Guiana
Francesa. No Brasil, os Wajãpi estão distribuídos em 48 aldeias, localizadas na região do rio Amapari, no estado do
Amapá.
Os Wajãpi desenvolvem, há muito tempo, uma arte especial formada por elementos gráficos e orais chamada
Kusiwa (“caminho do risco”). Os grafismos são feitos com tinturas vegetais aplicadas no corpo e também em outros
suportes, como cestos, cuias, objetos de madeira e tecelagem. Tudo é feito com o auxílio de pincéis de bambu. A
tinta vermelha é extraída das sementes e da polpa do urucum; o preto, por sua vez, é obtido do suco de jenipapo.
Os temas dos grafismos (jaguar, serpente, borboleta, peixe) são ligados à natureza. Cerca de 20 padrões de arte
Kusiwa constituem um sistema de comunicação e uma linguagem gráfica, cujos múltiplos significados expressam sua
visão de mundo e sua maneira de compreender o Universo e interagir com ele.

Grafismo: traçado, desenho.

Samba de Roda no Recôncavo Baiano
Essa expressão musical, coreográfica, poética e popular está presente em todo o estado da Bahia, mas é ainda
mais marcante no Recôncavo Baiano. Essa faixa de terra, que contorna a Baía de Todos-os-Santos, reúne 33
municípios, nos quais são desenvolvidas atividades tradicionais, como a agricultura de subsistência, o artesanato, a
coleta de mariscos e a pesca e secagem de camarão.
No passado, o Recôncavo concentrou ricas culturas de cana‑de-açúcar e fumo, além de se constituir em via de
escoamento da produção agrícola vinda do sertão para Salvador ou destinada à exportação. Ainda hoje, a cultura
tradicional se mantém em vários lugares do Recôncavo, onde estão presentes o caruru, a moqueca, o vatapá,
reisados, ranchos, bumba-bois, etc. Nesse cenário, que pode ser chamado de complexo cultural afro-baiano
tradicional, o Samba de Roda se destaca desde 1860 e continua se mantendo como uma diversão coletiva, realizada
a qualquer momento ou ligada ao calendário religioso.
Dentro de casa ou ao ar livre, em uma praça ou um terreiro de candomblé, o samba desenvolve-se numa roda em
que várias pessoas cantam, tocam e batem palmas. No meio da roda, há um espaço para as evoluções da dança. De
caráter essencialmente lúdico, o mais importante instrumento de acompanhamento é a viola de timbre agudo, chamada
machete. Seu substituto mais comum, de fabricação industrial, é a viola paulista.
O Samba de Roda do Recôncavo Baiano é considerado por vários historiadores de música popular uma das fontes do
samba carioca, um dos símbolos da identidade brasileira. Ele está presente nas obras de Dorival Caymmi, João Gilberto e
Caetano Veloso.

< imagem >
©C R E A T A I V E CO M M O N S / R O S I N O
Grupo de Samba de Roda no município de Cachoeira (BA), 2011.

Toque dos sinos de Minas Gerais
São João del Rei, Congonhas, Ouro Preto, Mariana, Diamantina, Serro, Sabará, Tiradentes e Catas Altas. Há
muito tempo, os toques dos sinos fazem parte da história e da memória dessas nove cidades mineiras, onde as
badaladas influenciam a vida dos moradores num cenário arquitetônico razoavelmente preservado.
Em São João del Rei, por exemplo, 31 sinos badalam anunciando missas, falecimentos, enterros e alertas da
defesa civil. Um sino “pergunta” e outro “responde” por meio de sons, de forma semelhante a uma “conversa”, com
linguagem própria do século XVIII.
Os toques dos sinos têm diferentes nomes, criados, segundo o Iphan, pelos sineiros, ainda no tempo colonial, e
preservados na tradição oral. Alguns dos toques mais conhecidos são: Ângelus, A Senhora É Morta, Toque de Exéquias,
Toque de Cinzas, Toque de Finados, Toque de Passos, Toque de Treva, Glória de Quinta-feira Santa e Toque da
Ressurreição.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / R U B E N S CH A V E S
Sineira da catedral de Nossa Senhora da Assunção, no município de Mariana (MG), 2015.

Círio de Nazaré
Considerado a maior procissão católica do mundo, que chega a reunir mais de dois milhões de pessoas na
cidade de Belém, o Círio de Nazaré é uma expressão da religiosidade da população amazônica. A devoção à
Nossa Senhora de Nazaré foi introduzida no Pará pelos jesuítas, no século XVII. A palavra círio quer dizer “vela
grande de cera”.
A procissão originou-se a partir de um milagre que teria ocorrido em outubro de 1700. Conta-se que o mulato
Plácido José de Sousa achou uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré às margens do rio Murutucu. Era uma
réplica da estátua que se encontra em Portugal, esculpida em madeira, com 28 centímetros de altura. Diz a tradição
popular que Plácido a levou para sua choupana, mas, para sua surpresa, a imagem misteriosamente retornava ao
lugar onde havia sido encontrada. Foi então que ele decidiu erguer uma pequena capela às margens do igarapé. A
história se espalhou na região e acabou atraindo muitos fiéis. Mais tarde, naquele local, foi construída a basílica de
Nossa Senhora de Nazaré.
No Círio de Nazaré, milhares de pessoas percorrem as ruas da cidade de Belém em uma grande procissão, que
chega a durar sete ou oito horas. Os fiéis carregam a imagem da Virgem de Nazaré, sempre enfeitada com muitas
flores. A procissão tem início na catedral de Belém e termina na basílica Santuário de Nazaré.
Além dos habitantes de Belém, turistas, romeiros e promesseiros chegam de todos os cantos do Brasil para tomar

parte nas festividades. Esses dois últimos, em geral, participam do Círio em agradecimento a uma graça alcançada.
Na atualidade, o Círio de Nazaré tem, para os paraenses, uma importância tão grande como o Natal. É comum, por
exemplo, as pessoas desejarem “Feliz Círio” umas às outras. Os pratos tacacá e pato no tucupi são muito consumidos
na época do Círio.

< imagem >
FO T O S PÚ B L I C A S / A G . P A R Á / R O D O L F O OL I V E I R A
Procissão durante o Círio de Nazaré, em Belém (PA), 2014.

Ofício das Paneleiras de Goiabeiras
Peça fundamental para fazer os pratos mais tradicionais da culinária capixaba, a panela de barro é um dos
pilares da raiz cultural do Espírito Santo. A cerâmica de argila queimada já era fabricada pelos povos indígenas
antes mesmo da colonização portuguesa na região.
Situada ao norte da ilha de Vitória, a região das Goiabeiras foi o local tradicional da produção das panelas de
barro. No início, o trabalho era de cunho familiar, e as panelas eram feitas nos quintais das casas.
Graças à criação da Associação das Paneleiras de Goiabeiras, essa tradição se mantém viva. Homens e
mulheres continuam fabricando artesanalmente as autênticas panelas de barro, que, em 2002, se tornaram o
primeiro bem registrado como Patrimônio Imaterial pelo Iphan.

PU L S A R IM A G E N S / E D S O N GR A N D I S O L I
< imagem >
Reconhecida nacional e internacionalmente como objeto de arte popular, a panela de barro está associada à genuína culinária do Espírito Santo,
principalmente no preparo da moqueca e da torta capixaba. Na foto, moqueca de peixe com coentro picado. Vila Velha (ES), 2014.

Roda de capoeira e ofício dos mestres de capoeira
A capoeira teria surgido no Brasil do século XVII com os bantos, etnia da África Central. Embora de origem
remota e controversa, o termo capoeira teria vindo do tupi e significaria “mato ralo”, dando nome às clareiras
onde os africanos escravizados costumavam praticá-la.
Estudiosos do assunto indicam que a origem mais remota da capoeira tem ligação com o ritual n’golo, também
conhecido como “dança da zebra”, espécie de disputa entre rapazes para decidir qual deles deveria ficar com uma
moça na idade de casar.
No Brasil, a ladainha, cântico trazido pelos malês do norte da África, foi incorporada à capoeira. No início do século
XX, o berimbau, vindo de Angola, também foi agregado. Perseguida e marginalizada por quase 300 anos, a capoeira
era praticada às escondidas.
A capoeira é uma expressiva contribuição africana para a diversidade cultural brasileira. Foi aqui que ela fincou
suas raízes, inclusive como forma de resistência contra a opressão escravocrata.
Nas últimas décadas, novos golpes, movimentos e variações locais vêm sendo incorporados à capoeira. Essa
prática, que reúne várias linguagens artísticas, está presente em todos os estados brasileiros e em mais de 150
países.

Mestre Bimba: a capoeira iluminada
Direção de Luiz Fernando Goulart. Brasil: Lúmen Produções Ltda., 2007. 78 minutos.
Por meio de depoimentos de antigos alunos e de imagens inéditas, conta a história de Mestre Bimba, que dedicou sua vida ao ensino da capoeira.

Ofício das Baianas de Acarajé
O Ofício das Baianas de Acarajé está registrado como Patrimônio Cultural no Livro dos saberes, do Iphan. É por
meio dessa antiga atividade que muitas mulheres baianas obtêm o sustento de suas famílias.
O ofício consiste em preparar acarajé para, depois, vendê-lo nas ruas de Salvador e de outras cidades. O
famoso bolinho é originário da África Ocidental, particularmente de certos locais do Golfo de Benin, onde é
chamado de acaré, que, na língua iorubá, quer dizer “comer fogo”, em alusão à pimenta com que costuma ser
recheado.
O preparo do acarajé demanda conhecimento e habilidade. Ele é feito com feijão-fradinho, que inicialmente é
colocado de molho. Depois de inchado, o feijão é descascado (grão por grão), tem seu olho preto retirado e, só
então, é amassado. A massa resultante é temperada com sal e cebola ralada. O bolinho é moldado manualmente
e frito em azeite de dendê bem quente.

As baianas colocam os bolinhos em uma cesta ou um tabuleiro para oferecê-los aos possíveis consumidores. No
momento de servir, o acarajé é cortado no sentido do seu comprimento e recheado de acordo com o gosto de cada
um, e inclui molho de tomate, vatapá, camarão e pimenta, em doses variáveis. O acarajé também é usado nos
terreiros de candomblé, onde pode ser utilizado como oferenda aos santos e ser consumido por fiéis.
O registro do Ofício das Baianas de Acarajé é um ato de reconhecimento da importância de mais um legado cultural
africano na formação da sociedade brasileira, ao mesmo tempo que valoriza o papel da mulher nesse processo.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / R U B E N S CH A V E S
O Ofício das Baianas de Acarajé é Patrimônio Cultural Imaterial desde 2005. Na foto, Baiana de Acarajé em Salvador (BA), 2013.


Patrimônio Natural
Como você viu anteriormente, é considerado Patrimônio Natural um sítio ou área de grande riqueza em termos de
biodiversidade e de paisagem, o que não falta no Brasil.
A proteção dessas áreas requer um esforço da sociedade como um todo. Por um lado, cabe às autoridades
governamentais propor a inclusão de certos sítios na lista de Patrimônio Mundial Natural; por outro, cabe à sociedade
conhecê-los e mobilizar-se para mantê-los como tal. Essa também é uma forma de garantir a identidade do país.

Costa do Descobrimento – Reservas da Mata Atlântica
Situada a leste da costa brasileira, na faixa litorânea que vai desde o norte do Espírito Santo ao sul da Bahia, a
Costa do Descobrimento, junto com a Mata Atlântica Sudeste, destaca-se não apenas pelas belas paisagens, mas
também por sua imensa biodiversidade.
Essa foi a primeira faixa de terra avistada pelos portugueses em 1500, motivo pelo qual se tornou conhecida
como Costa do Descobrimento. Foi aí que, numa enseada protegida por recifes, ocorreram os primeiros contatos
entre os marinheiros portugueses e os nativos da terra.


Texto & contexto
1. Desde quando se conhece o Samba de Roda da Bahia? Qual é a sua relação com o samba carioca, um dos principais elementos
da identidade cultural brasileira?
2. Explique a origem do Ofício das Paneleiras
de Goiabeiras . Qual é sua importância na atualidade?
3. Originária da África, a capoeira desenvolveu-se
no Brasil como uma luta. Progressivamente, transformou-se em uma atividade de múltiplas habilidades, de reconhecido valor
como recurso educativo no desenvolvimento físico e mental dos jovens. Quais são os aspectos envolvidos na capoeira?
4. O Ofício das Baianas de Acarajé é considerado um Patrimônio Imaterial brasileiro. Além de sua importância cultural, qual é o
papel desse ofício na atualidade?

A primeira missa do Brasil também foi realizada nesse trecho da Costa Atlântica. Povoados e cidades históricas,
como Santa Cruz de Cabrália e Porto Seguro, são testemunhos da primeira ocupação do território, estimulada pelo
interesse português na madeira de pau-brasil.
Localizadas no núcleo de uma reserva da biosfera da Mata Atlântica, as oito áreas-núcleo da Costa do
Descobrimento, com suas variadas condições climáticas, de solo e de altitude, são as seguintes: Reserva Biológica do
UNA, Estação Ecológica de Vera Cruz, Estação Experimental Pau-Brasil Ceplac, Parque Nacional Pau-Brasil, Parque
Nacional do Monte Pascoal (próximo a esse parque, há uma reserva de indígenas Pataxó), Parque Nacional do
Descobrimento, Reserva Biológica de Sooretama e Reserva Florestal de Linhares.
Originalmente, a Costa do Descobrimento era formada por vários ecossistemas naturais, com características que
variavam conforme a gradual diminuição das chuvas, no sentido da costa para o interior. Restinga, mata higrófila,
mata mesófila e mata de cipó faziam parte da exuberante paisagem.
Observe, no mapa a seguir, a localização da Costa do Descobrimento.

Brasil: Costa do Descobrimento
< mapa >

JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de PATRIMÔNIO mundial no Brasil. Brasília: Unesco/Caixa Econômica Federal, 2000. p. 82.

A biodiversidade da área é caracterizada por uma mescla de endemismos regionais da Mata Atlântica e da
Floresta Amazônica, sobretudo espécies de aves e de
vegetais. Esse fato leva a crer na existência passada
de corredores de ligação entre as duas florestas.
Grande parte dos ecossistemas sofreu com as interferências humanas, especialmente após a abertura de
estradas que interligam a região ao Sudeste do país. O conjunto das oito áreas que compõem a Costa do
Descobrimento forma um ecossistema bastante ameaçado.

< imagem >
FO T O A R E N A / N E R E U JR.
Vista da faixa litorânea e, ao fundo, o Monte Pascoal, no estado da Bahia. Foto de 2012.



Parque Nacional do Iguaçu
Localizado no oeste do Paraná, na fronteira entre o Brasil, a Argentina e o Paraguai, o Parque Nacional do
Iguaçu tem 170 mil hectares. Faz parte de um grande planalto formado por lavas basálticas, há 140 milhões de
anos, na Era Mesozoica, quando a bacia do Paraná era cenário de intensa atividade vulcânica. O derramamento
de lava através de falhas tectônicas e a alternância de climas úmidos e secos, no Período Quaternário, são
responsáveis pela atual fisionomia da área.
Um clima subtropical úmido, associado à floresta pluvial subtropical, forma a paisagem do parque, caracterizada
por árvores de grande porte, destacando-se o cedro, o louro, o angico, os ipês, o pau-rosa, etc. Mas há outras
espécies que marcam a diversidade da flora, como palmitos, samambaias, cipós, bromélias e orquídeas.
O parque também abriga uma fauna diversificada, com onça-pintada, jaguatirica, gato--do-mato, tamanduá-colete,
morcego, gavião e papagaio.
Observe a localização do Parque Nacional do Iguaçu no mapa ao lado.
As Cataratas do Iguaçu são o destaque do parque e representam um ponto de interseção entre os três países. São
formadas no ponto em que o rio Iguaçu adentra um cânion, resultado de falha tectônica e alargado pela ação das águas.
Seu ponto alto chama-se Garganta do Diabo, por onde escoa o principal rio, afluente do Paraná.
A primeira expedição colonizadora que menciona as cataratas foi liderada pelo coronel espanhol Alvar Nuñez Cabeza
de Vaca, que deu a elas o nome de Cachoeira de Santa Maria. As cataratas estavam incluídas no domínio territorial de
povos nativos Kaingang até 1881, quando foi efetivada a ocupação da região, com a extração da erva-mate e de
madeiras nobres. Em 1888, com a instalação da Colônia Militar do Iguaçu, ocorreu o povoamento definitivo da região,
originando a Vila de Iguaçu, mais tarde, município de Foz do Iguaçu.
Embora protegido pela legislação, o Parque Nacional do Iguaçu ainda sofre com atividades clandestinas, por exemplo,
extração de madeira e de palmito e caça. O incremento de atividades agrícolas nas áreas que o circundam, assim como a
presença de estradas e de redes subterrâneas de alta tensão, coloca em risco os ecossistemas.

Brasil: Parque Nacional do Iguaçu
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de PATRIMÔNIO mundial no Brasil. Brasília: Unesco/Caixa Econômica Federal, 2000. p. 82.

< imagem >
©C R E A T I V E CO M M O N S / N I K O L A S M O Y A
Cataratas do Iguaçu, em Foz do Iguaçu (PR), 2013. As quedas-d’água desenvolvem-se ao longo de aproximadamente 2 700 metros.

Patrimônio Cultural
Como você deve saber, o Patrimônio Cultural refere-‑se à soma dos bens culturais de um povo, que pode ser
legada a gerações futuras. Sua preservação garante a continuidade das manifestações culturais do país, sendo de
grande importância para a memória, a identidade e a criatividade de seu povo. Mas a principal razão para preservá-lo
é a melhoria da qualidade de vida da sociedade, que implica seu bem-estar material e espiritual e a garantia do
exercício da cidadania.

Parque Nacional da Serra da Capivara
Situado no sudeste do Piauí, em uma área de 130 mil hectares, abrange os municípios de São Raimundo Nonato,
São João do Piauí e Canto do Buriti.
No Parque Nacional da Serra da Capivara, há uma densa concentração de sítios com pinturas rupestres que
revelam conhecimentos de 500 séculos de pré-história indígena, conhecidas como tradição Nordeste. Carvões e
artefatos de pedra lascada encontrados no Sítio do Boqueirão da Pedra Furada, na Serra da Capivara, levantam a
hipótese de que o ser humano poderia ter vivido aí 50 mil anos atrás.
O parque abrange uma área entre a planície da depressão periférica do rio São Francisco e a bacia sedimentar
Piauí-Maranhão, cortada por cuestas ou serras contínuas. Entre o fundo dos vales e os paredões da borda da
chapada, há um desnível que chega a cerca de 250 metros. Nesses paredões, os processos erosivos originaram as
“tocas”, ou seja, abrigos sub-rochosos que chegam a aproximadamente 70 metros de comprimento e 80 metros de
altura.
Observe, no mapa abaixo, a localização do parque.
Brasil: Parque Nacional da Serra da Capivara
< imagem >
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Fonte: Adaptado de PATRIMÔNIO mundial no Brasil. Brasília: Unesco/Caixa Econômica Federal, 2000. p. 68.

Embora situado em área de clima semiárido, o relevo faz com que, no fundo dos vales, a vegetação do parque
seja mais exuberante, típica de floresta tropical úmida. Nos vales profundos, há matas de galeria, e o cerrado
aparece no alto das chapadas. A caatinga marca o restante da paisagem.
Muitos dos caminhos que ainda existem no parque eram trilhas utilizadas pelas antigas populações. Ao
andar por elas, os visitantes podem observar os sítios arqueológicos e entrar em contato com um passado
distante. É possível ver pinturas rupestres representando danças, caça, rituais, plantas, animais e figuras
humanas.

< imagem >
©C R E A T I V E CO M M O N S / G U I L H E R M E JOF I L I
Os desenhos do veado e do filhote foram escolhidos como símbolo do Parque Nacional da Serra da Capivara. Na foto, figuras rupestres no Boqueirão da
Pedra Furada, um dos vários sítios arqueológicos existentes no parque. Foto de 2011.

Pesquisas arqueológicas indicam que esses grupos pré-históricos desapareceram há mais ou menos 6 mil anos,
devido ao clima, que foi se tornando mais árido e provocou a escassez de recursos. Assim, os sítios pré-históricos do
parque são importantes não só do ponto de vista estético, mas também como testemunhos das primeiras ocupações
humanas na região e na América.
Paleofauna: conjunto de animais próprios de um período geológico.

O Museu do Homem Americano, em São Raimundo Nonato, expõe vestígios da paleofauna, encontrada em
escavações, e uma coleção de objetos de pedra lascada e cerâmica.


Cidade de Goiás
Visitar a Cidade de Goiás, também chamada de Goiás Velho, ou apenas Goiás, é como entrar num túnel do
tempo e regressar a uma paisagem do século XVIII. O conjunto arquitetônico da cidade, com seu casario colonial
e calçamento de pedra, é um dos mais belos do país, tanto que, em 2001, o Centro Histórico recebeu da Unesco
o título de Patrimônio Cultural da Humanidade.
A origem da cidade está ligada aos bandeirantes paulistas, que, durante o século XVII, desbravavam o interior brasileiro
em busca de ouro. Nas incursões pelo território, eles erguiam acampamentos para mineração. Goiás nasceu de um
desses acampamentos, quando Bartolomeu Bueno da Silva, em 1727, organizou um pequeno arraial às margens do rio
Vermelho, que foi denominado Arraial de Sant’Anna. Por volta de 1750, o arraial recebeu o nome de Vila Boa de Goiás e
tornou-se a capital da recém-criada capitania de Goiás. Somente em 1937, o poder político do estado retirou-se da cidade
e instalou-se na nova capital, Goiânia. Assim, a história de Goiás Velho se confunde com a própria história da região
Centro-Oeste do Brasil.
Andar por suas ruas, entrar nas igrejas e capelas, admirar os casarões, visitar o Museu das Bandeiras e o Colégio de
Sant’Anna são experiências únicas, que dizem muito sobre uma cidade que viveu o auge da exploração do ouro.
Nas manifestações religiosas, como a impressionante Procissão do Fogaréu, na Semana Santa, também se

mantêm vivas as tradições culturais goianas.

©C R E A T I V E CO M M O N S / M I N C / D A N I E L L E RIB E I R O
Casas históricas em Goiás Velho (GO), 2014.

Brasil: localização do município de Goiás
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 180.

Texto & contexto
1. Onde se localiza a Serra da Capivara? Qual é sua importância cultural?
2. Que elementos aparecem representados nas pinturas rupestres encontradas na Serra da Capivara?
3. Quais são as raízes históricas de Goiás Velho?
4. Quais são os elementos de maior destaque na paisagem dessa cidade?

Outras manifestações culturais
Ponto de encontro de várias culturas – indígena, portuguesa, africana e de imigrantes vindos de diversos
países –, o Brasil se destaca por seus sotaques, costumes e modos de viver, sentir e se divertir. Todos esses
elementos se entrelaçam no território, e o resultado é uma surpreendente variedade de expressões culturais.
Festas, folguedos, ciclos festivos e outras celebrações acontecem o ano todo, de norte a sul do país. As festas
dizem muito sobre nós mesmos, sobre como nos relacionamos uns com os outros e com a natureza. As festas
populares reforçam a identidade e a solidariedade das pessoas nas comunidades.

Folia do Divino
Estudos indicam que a Festa do Divino foi instituída em Portugal pela rainha Isabel, nos primeiros anos do século
XIV, na época da construção da igreja do Espírito Santo, em Alenquer.
Originalmente, a Festa do Divino constituía-se no estabelecimento do chamado Império do Divino, montado com a
construção de palanques, de coretos e do assento do Imperador. Um momento importante da festa era a escolha de
uma criança ou um adulto para presidi-la. O escolhido gozava de poderes de Rei (ou Imperador). Em certas localidades
do Brasil e de Portugal, o Imperador tinha o direito, inclusive, de ordenar a libertação dos presos comuns.
Para organizar a festa, era costume arrecadar recursos. Assim, fazia-se antecipadamente a Folia do Divino, em
que grupos de cantadores visitavam as casas dos fiéis para pedir donativos e todo tipo de auxílio. Eles sempre
carregavam uma bandeira com o desenho de uma pomba branca, que simboliza o Espírito Santo. Recebidos com
grande devoção em toda parte, percorriam grandes áreas durante semanas e até meses.
No Brasil, a Festa do Divino foi introduzida pelos primeiros povoadores portugueses. Há documentos escritos que
atestam sua realização em diversas localidades brasileiras desde o século XVII. Segundo vários autores, ela foi
sofrendo transformações gradativas com o passar do tempo e adquirindo características específicas de cada município
onde é celebrada.
É considerada uma festa religiosa móvel, que dura em torno de dez dias e termina, geralmente, no domingo de
Pentecostes, no mês de maio. Esse dia corresponde à data em que a Igreja católica comemora a presença do Espírito
Santo entre os apóstolos, 50 dias após a Páscoa.
De modo geral, a festa ainda se caracteriza por missa cantada, procissão, leilão de prendas e manifestações
folclóricas peculiares de cada localidade. Portando a bandeira do Divino, homens com violas, pandeiros, caixa e
triângulo homenageiam o Espírito Santo. Na atualidade, a festa é celebrada em diversos municípios dos estados de São
Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Maranhão, Amazonas, Espírito Santo e Goiás.
Em Diamantina (MG), por exemplo, os festejos do Divino incluem cortejo com participantes em trajes de época do
Império, missa e espetáculo de fogos de artifício. Em Paraty (RJ), a festa é caracterizada pelo boi do Divino, uma
variação do bumba meu boi. Em Pirenópolis (GO), a maior atração é uma cavalhada, que representa as lutas entre
cristãos e mouros durante a invasão árabe na península Ibérica. Em Piracicaba (SP), a festa data de 1826 e acontece
nos calçadões da rua do Porto, no largo dos Pescadores e na capela do Divino. A tradição conta ainda com o Encontro
das Bandeiras, no rio

Piracicaba, e com a cerimônia da Derrubada dos Barcos.
< imagem >
T YB A / C A R L O S DE L A G U S T A
Cavaleiro cristão durante a Festa do Divino no município de Pirenópolis (GO), em 2014.

Carnaval de Salvador
Apesar de sua origem incerta, o carnaval, em suas múltiplas formas, é uma das festas populares mais famosas
do mundo ocidental. Alguns dizem que sua origem está ligada às festas do início da primavera no Egito antigo.
Para outros, o carnaval tem origem nas festas greco-romanas realizadas para comemorar as colheitas, ocasião em
que os escravos podiam se divertir sem restrições. O costume chegou a Portugal no século XIV e recebeu o nome
de Entrudo.
A principal característica do carnaval é a representação do cotidiano das sociedades. A festa, que antecede o
período da Quaresma, é um espetáculo público marcado por extravagâncias e, muitas vezes, pela inversão das
categorias sociais.
Até a metade do século XX, o carnaval em Salvador era realizado para as elites, em espaços fechados, como
salões e mansões.
Os trios elétricos surgiram na década de 1950, com a adaptação de caminhões que passaram a ter espaço para
tocar música. Os pioneiros nessa empreitada foram os artistas Dodô e Osmar. Com o passar do tempo, a ideia se
disseminou e, nos dias de carnaval, inúmeros artistas passaram a interpretar suas canções em cima desses
caminhões. Eles eram seguidos pelos foliões, fato que deu origem aos blocos. Foi para exprimir essa nova forma de
carnaval em Salvador que Caetano Veloso cantou, em 1969, os famosos versos: “Atrás do trio elétrico / Só não vai
quem já morreu”.
A partir dos anos 1990, com a ascensão da axé music e o aumento do número de blocos particulares e camarotes,
o carnaval de Salvador sofreu transformações. Os blocos passaram a ser separados da rua por cordas, seguradas
por “cordeiros”, responsáveis por isolar os que pagam por uma fantasia (“abadá”) daqueles que não pagam –
chamados “foliões pipoca” –, mantendo os primeiros próximos ao trio elétrico.
Atualmente, os blocos e camarotes de prestígio se concentram em duas áreas de Salvador: uma próxima à praça
2 de Julho – circuito Osmar – e a outra entre as praias da Barra e Ondina – circuito Dodô. Além disso, inúmeras
atividades acontecem no Pelourinho, conhecido como circuito Batatinha, e nos bairros periféricos da cidade.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / I N Á C I O T E IX E I R A
Desfile de trio elétrico no carnaval de rua de Salvador (BA), em 2013.

Congada
Também denominados autos ou danças dramáticas, os folguedos são manifestações populares que, além da
dança, da música e dos personagens com vestimentas específicas, frequentemente apresentam algum enredo ou
forma de dramatização. Boi-bumbá, bumba meu boi, cavalhada, reisado, caiapó e folia de reis são expressões
culturais espalhadas por todo o Brasil.
A congada, ou conga, é um folguedo muito antigo ainda preservado em diversos municípios mineiros, como
Uberlândia, Serro, Conselheiro Lafaiete, Araguari e Serra do Salitre.
Em algumas cidades, o folguedo acontece todos os anos. Um bom exemplo é Araguari, que, no início do século
XIX, recebeu um grande contingente de escravizados fugidos, os quais se estabeleceram em quilombos da região.
Até hoje, conservam-se as danças e os festejos do tempo da escravidão. Nessa cidade, a festa dura três dias, mas
os preparativos demoram cerca de três meses para ficarem prontos, tempo necessário para confeccionar as fardas
coloridas e bordadas. Em outubro, os grupos dos diferentes bairros se apresentam e cantam na Igreja do Rosário,
formando um cordão colorido. A alma dos festejos é representada pelo trança-fitas, que, após a missa, se transforma
numa grande brincadeira entre os participantes. É o momento em que fica mais claro o significado da festa:
integração de portugueses, africanos e indígenas, que formam a base cultural do país.
Em Serra do Salitre, também se realizam periodicamente festas religiosas em louvor a Nossa Senhora do Rosário
e a São Benedito. Nesses momentos, a população local se reúne em coloridos congados, que tomam conta das ruas
e praças da cidade, tocando, dançando e cantando versos em exaltação aos referidos santos. Essas pessoas
perpetuam, assim, uma maneira específica de devoção herdada dos africanos.
A congada também está presente em cidades do Vale do Paraíba, do interior paulista e de várias outras partes do
Brasil que receberam, nos tempos coloniais, indivíduos escravizados; bantos, vindos de lugares como os atuais
Congo, Angola e Moçambique; etc.

Originalmente, a congada seria uma recriação das celebrações que marcavam a entronização dos reis africanos e
do costume dos potentados bantos de animar suas excursões com danças e cânticos. Com o tempo, recebeu a
influência das procissões católicas do Brasil colonial. Segundo estudiosos, as congadas deram origem aos ranchos,
que, posteriormente, se transformaram nas escolas de samba do Rio de Janeiro, no início do século XX.
Alguns pesquisadores dizem que a congada é próxima dos reisados e a organização dos grupos é tipicamente
militar, tanto que se autodenominam “batalhão”. A vestimenta se parece muito com o uniforme usado pelos homens da
antiga milícia nacional. Há grupos que usam quepe no lugar do chapéu. As figuras características são o Rei e o
General. O congueiro General se veste de forma semelhante à dos demais elementos do grupo, mas se diferencia pela
sua função. O Rei, por sua vez, tem uma participação decorativa. Ele caminha vagarosamente entre os súditos com
uma capa vermelha de seda e uma coroa de papelão pintado. Às vezes, carrega um estandarte do santo padroeiro da
congada, como São João ou São Benedito. Outras vezes, carrega um cedro representado por um guarda-chuva.
Os passos e o ritmo são sempre os mesmos, porém o grupo se desloca constantemente e, a cada minuto, faz
figurações que até parecem um caleidoscópio humano. Os passos lembram vagamente o samba. A primeira parte da
congada é a dança propriamente dita. A segunda, chamada de Embaixada, é uma espécie de auto popular, em que
se declama em meio à dança e à repetição do refrão.
< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / R I C A R D O T E L E S
Apresentação de congada no município de Serro (MG), em 2013.

T rança-fitas: dança folclórica composta de casais segurando fitas em volta de um mastro.

Carimbó
É uma das expressões artísticas mais interessantes da região Norte do país. Originário dos Tupinambá e, ao
longo do tempo, aperfeiçoado pela influência africana, o carimbó tornou-se uma vibrante dança de roda formada
por homens e mulheres. No centro da roda, um solista baila com requebros, trejeitos e passos miúdos, arrastados
e ligeiros. Não há enredo verbal.
O que vale é o ritmo contagiante.
Descalços, os participantes do carimbó usam trajes coloridos. As mulheres vestem-se com saia bem rodada e
franzida e usam pulseiras e colares feitos com sementes da região. Os cabelos são enfeitados com flores. Os
homens apresentam-se de calça e camisa. Em geral, o apogeu é quando uma dançarina cobre o parceiro com sua
saia, volteando-o. Caso jogue a saia e não consiga cobri-lo, é substituída por outra.
O nome da dança deriva de um dos instrumentos acompanhantes: um tambor de origem africana feito de tronco
de árvores escavadas e recoberto, em uma de suas extremidades, com pele de animal silvestre.

FO T O S PÚ B L I C A S / C O M U S / N I D / A L E S S A N D R A SE R R ÃO
< imagem >
Comemorações da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel) pela declaração do carimbó como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo
Iphan, em 2014.

Geografia dos sabores brasileiros
Descobrir a culinária brasileira é uma tarefa difícil. De norte a sul do país, são muitos os aromas, cores e
sabores, herdados de indígenas, portugueses, africanos, espanhóis e muitos outros povos.
Dos indígenas, vieram os conhecimentos sobre as ervas, os peixes e a mandioca. Com os portugueses,
aprendemos a fazer doces e a apreciar pratos, como a bacalhoada e a galinha de cabidela. Dos africanos, pegamos
o gosto pelos temperos fortes, pelo dendê e pelo vatapá. Dos italianos, herdamos pratos como polentas e massas.
Assim, o cardápio brasileiro é um legado da miscigenação e também um elemento de identificação. É só viajar pelo
país para ver algumas preferências regionais. No Centro-Oeste, destacam-se arroz, feijão, fubá, café e carnes suína e
bovina; no Nordeste, carne de sol, arroz, feijão e farinha de mandioca; no Sul, carne, mate e pratos trazidos pelos
imigrantes; no Norte, peixes, frutas, etc.; no Sudeste, as preferências variam muito de estado para estado.
Há um grande número de pratos regionais típicos, como o pato no tucupi, no Pará, e o churrasco, no Rio Grande do
Sul, hoje difundido em quase todo o país. Veja, a seguir, dois exemplos de pratos da culinária brasileira consagrados
nacionalmente.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / T AL E S AZ Z I
O churrasco, uma das principais marcas da cultura gaúcha, espalhou-se por todo o Brasil. Na foto, churrasco em fogo de chão em Cambará do Sul (RS),

2015.


Feijoada à brasileira
Até não muitos anos atrás, era corrente a ideia de que a origem da feijoada – como a conhecemos hoje – estava
associada à dieta a que os escravizados eram submetidos nas senzalas, junto aos engenhos de açúcar (séculos
XVI e XVII), às minas de ouro no planalto mineiro (século XVIII) e às fazendas de café (século XIX). Ela seria uma
criação genuinamente popular, surgida no contexto da sociedade escravista e aristocrática do Brasil: as partes do
porco e do boi desprezadas na cozinha senhorial (pés, orelhas, etc.) eram aproveitadas para a alimentação dos
escravizados, sendo cozidas com feijão-preto, nativo da América; daí resultava uma mistura fervida de carnes com
a leguminosa. Mais tarde, as demais camadas da sociedade teriam se apropriado da original feijoada,
incrementando-a com outros elementos e consagrando-a como um dos principais pratos da culinária brasileira.
No entanto, essa versão não tem sustentação histórica, como demonstram pesquisas e trabalhos publicados por
alguns estudiosos do assunto. Desde então, sabe-se que a base da alimentação dos escravizados era a farinha de
mandioca e o fubá de milho, tendo o feijão apenas como complemento e a carne como alimento ocasional.
A feijoada tem sua origem no norte de Portugal, de onde se espalhou para os atuais países lusófonos,
destacadamente o Brasil. Com o passar do tempo, ela foi aprimorada com novos ingredientes e assumiu particularidades
próprias de cada região ou país. No nordeste de Portugal, por exemplo, a feijoada denominada “à trasmontana” é feita
com feijão-vermelho. A feijoada poveira, muito apreciada em Moçambique, é preparada com feijão-branco.
A feijoada à brasileira é feita com feijão-preto, cozido com linguiça defumada, paio, pé e orelha de porco, costelinha
suína e outros produtos animais. Ela pode ter variações regionais, dadas pela presença ou ausência de um ou outro
ingrediente. À mesa, a mistura de feijão e carnes é acompanhada de arroz branco, couve refogada e laranja fatiada.
Por demandar algum tempo e muitos insumos em seu preparo, a feijoada não é prato para consumo diário e para
poucos comensais. Por isso, está comumente associada a atos sociais festivos, de comemoração, celebração ou
confraternização.
Em certas áreas da região Sudeste, a feijoada tem presença destacada na cultura popular, como acontece no Rio de
Janeiro. Nesse estado, reduto consagrado do samba, frequentemente serve de mote para encontros vespertinos de
sambistas, músicos e apreciadores desse gênero musical. Esses eventos ocorrem geralmente em fins de semana, nos
meses que antecedem o carnaval. Nas grandes cidades da região, quase todo restaurante popular tem, uma vez por
semana, em geral no sábado, feijoada à brasileira no cardápio.
< imagem >
©C R E A T I V E CO M M O N S / A G E C O M / C A R O L GA R C I A
Feijoada à brasileira. Salvador (BA), 2011.

Virado à paulista
Em São Paulo, como em vários estados brasileiros, os hábitos alimentares indígenas – peixes envoltos em folhas
para assar, mandioca, milho socado no pilão – juntaram-se aos ingredientes e temperos das culinárias portuguesa e
africana. Os bandeirantes acrescentaram o feijão, o toucinho e a carne-seca.
Com os bandeirantes e tropeiros, veio a culinária de outras regiões do Brasil, como Minas Gerais, Mato Grosso,
Goiás e Rio de Janeiro. Foi nessa época que surgiu uma mistura de farinha de milho com galinha ou feijão.
Embrulhada num pano pelos viajantes durante as longas jornadas pelo interior do território brasileiro, essa espécie
de ração para viagens, provavelmente, deu origem ao virado.

Comensais: pessoas que comem juntas.

Considerado um dos pratos mais tradicionais da cozinha de São Paulo, o virado à paulista é bastante popular na mesa dos brasileiros. Alguns de seus
acompanhamentos são arroz branco, ovo e couve. São Paulo (SP), 2016.
< imagem >
FO T O A R E N A / J A L E S VA L Q U E R

Para saber mais
Um pouco da variada culinária nordestina
Ceará
Os pratos à base de frutos do mar são o carro-chefe da culinária local, e a peixada cearense é um dos mais
tradicionais pratos da região litorânea. O Ceará, por ser o maior exportador de lagosta do Brasil, é reconhecido como
o lugar onde se preparam os melhores pratos feitos com esse crustáceo. Ainda dessa região, vindos das casas de
farinha, temos a tapioca, feita com goma de mandioca e coco; o grude, feito também de goma e coco; e a rosca de

goma. Dos engenhos de cana-de-açúcar, vêm a cachaça (consumida em vários países), o melado, a rapadura e o
caldo de cana.
< imagem >
IST O C K P H O T O / BD S P N
Caldo de cana.

Maranhão
A cozinha do Maranhão é uma das mais saudáveis do Nordeste. Pouca gordura e muito peixe fresco com moderado
tempero à base de tomate, cebola, pimentão, pouco alho e cebolinha verde caracterizam sua culinária. Ao contrário
dos baianos, não gostam de exagerar na pimenta e raramente a usam como ingrediente. Um dos principais
ingredientes trazidos pelos europeus para essa região foi o arroz. [...] Com tanta produção, é muito natural que os
maranhenses criem excelentes pratos à base de arroz. Os mais conhecidos são o arroz de toucinho, o arroz de
jaçanã, o arroz de carne, o arroz de caranguejo, o arroz com camarão e vinagreira e o famoso arroz de cuxá, usado
como acompanhamento, principalmente, de peixe frito.
< imagem >

FA B I O COL O M B I N I/ A C E R V O D O FO T Ó G R A F O
Arroz de cuxá.

Paraíba
[...] No litoral, logo após a pesca, podem ser preparados pratos como a agulhinha frita, pratos à base de
camarão, peixada e pratos vindos dos mangues – os famosos caldinhos de caranguejo com leite de coco.
O angu é um prato dos mais populares, ocupando lugar comum nas
mesas profanas e nos cardápios votivos de divindades cultuadas nos terreiros afro-brasileiros. Outro prato muito
consumido na região é o
arroz-doce, típico da nossa região, associando o leite de coco e o de vaca.
Em 1720, na região compreendida entre o centro-norte paraibano e as cidades do seridó norte-rio-grandense,
surgiu a carne de sol, a qual é, sem dúvida, um dos pratos mais característicos do estado, como também de toda a
região Nordeste. [...]
De influência indígena, a gastronomia paraibana herdou pratos feitos a partir de raízes e de milho, que, nas festas
juninas, enchem nossas mesas com pamonhas, canjicas, mungunzá, entre outros. Há também a sopa de cabeça de galo,
o chouriço, a maxixada e o sarapatel de porco. [...]
< imagem >
IST O C K P H O T O / I G O R PE R E I R A
Pamonha.

Sergipe
Na gastronomia sergipana, a carne de sol tem destaque, servida com feijão--verde e mandioca, podendo ser
encontrada em todo o estado e nos principais restaurantes da capital. Outras delícias típicas da região são a buchada, o
sarapatel e a galinha cabidela. Nas cidades litorâneas, surge a culinária à base de peixes e frutos do mar, principalmente
com camarão, incrementados com leite de coco. É também caracterizada pelo tradicional café nordestino, que traz o
indispensável cuscuz de milho, mingau de puba, bolo de macaxeira, macaxeira cozida, queijo coalho feito artesanalmente,
sucos de diversas frutas, ovo de capoeira e muito mais.
< imagem >
©C R E A T I V E CO M M O N S / M A R C E L O T R Ä S E L
Carne de sol com pirão de leite.

CAMPOS, Roberta F. Falcão et al. Gastronomia nordestina: uma mistura de sabores brasileiros. XI Encontro de Iniciação à Docência. Disponív el em:
<http://www.prac.uf pb.br/anais/xenex_xienid/xi_enid/monitoriapet/ANAIS/Area6/6CCSDNMT01.pdf >. Acesso em: 11 jan. 2016.


Conexões
Traços étnicos, linguísticos, históricos, socioculturais, intelectuais, míticos e religiosos. A África nos legou não
somente os primeiros humanos, mas também um vasto conjunto de saberes e de valores.

Os tambores falam

Desde crianças, nós, os(as) brasileiros(as), somos induzidos a compor uma imagem de África. O imaginário
social construído, incutido e internalizado por muitos de nós remete a uma África exótica, povoada por animais
selvagens, sem seres humanos, sem gente, como se o continente africano fosse a extensão da própria natureza,
portanto, uma África sem história e sem cultura. Outra imagem é a de uma África mítica e idílica, sem espaço para a
produção de uma crítica. A imagem mais comum e mais propagandeada pelos sistemas globais de comunicação,
hegemonizados pelas grandes corporações midiáticas pelo mundo, especialmente no Brasil, é a de uma África
afundada na pobreza e na miséria, uma África sem solução, fadada ao fracasso, sem futuro.
Mas uma imagem que nós, brasileiros, temos da África, incutida no nosso inconsciente, na nossa memória coletiva, é
a imagem do tambor. A musicalidade, os tambores e os ritmos africanos são a representação dessa imagem.
Entretanto, o potencial musical africano é tão rico quanto a variedade de instrumentos percussivos e da percussividade
dos tambores. A criatividade musical africana – a sonoridade singular das vozes, o canto, a execução de instrumentos
musicais dos mais diversos timbres – é tão diversa quanto intensa, como sentimos durante o III Festival Mundial das
Artes Negras, realizado em Dacar, no Senegal.
Os ritmos musicais africanos são a base da musicalidade brasileira. Se pensarmos a música como um valor cultural
civilizatório fundamental, poderíamos afirmar que pelo menos nos últimos 150 anos a música negra rege com sua
pulsação rítmica os povos e os territórios que vão do sul dos Estados Unidos ao sul da linha do Equador, atravessando
todo o Caribe, a América Latina e irrigando incessantemente o Brasil, amalgamando o Nordeste, a Bahia, Minas Gerais
e o Rio de Janeiro como sínteses irradiadoras e de um potencial criativo inesgotável.
A musicalidade africana integra em plenitude o patrimônio cultural negro brasileiro, na medida em que a
memorização dos padrões rítmicos pelo africano, na condição de escravo no Brasil, fez com que essa musicalidade
fosse incorporada pelo povo ao nosso cotidiano, à nossa memória coletiva. Nem a violência racial nem a violência
desumanizadora da escravidão foram capazes de suprimir a força musical dos que para cá vieram e aqui iniciaram o
toque do tambor.
Os tambores, com os seus timbres, tipos e formatos variados, são usados nas mais diversas manifestações e
expressões religiosas e profanas, bem como em uma profusão de atividades culturais. Os tambores são
confeccionados, muitas vezes, em troncos únicos de árvores sagradas, encontradas nas florestas ou matas
remanescentes em várias partes do Brasil, como os ilus do Maranhão ou os tambores batás cubanos. [...]

NOGUEIRA, João Carlos; NASCIMENTO, Tânia Tomázia do (Org.). Patrimônio cultural, territórios e identidades.
Florianópolis: Atilènde, 2012. p. 25-27.

< imagem >
SE C O M-P R / R O B E R T O FU R L A N
As raízes africanas estão muito presentes na cultura brasileira. Na foto, exposição de instrumentos musicais africanos e afro-brasileiros em Maringá (PR),
2013.

Responda no caderno
1. De acordo com o texto, “desde crianças, nós, os(as) brasileiros(as), somos induzidos a compor uma imagem de África”. Qual é
essa imagem?
2. Selecione um parágrafo em que se menciona um exemplo do patrimônio cultural negro no Brasil.

Pensando bem
1. Como você estudou nesta unidade, o Brasil apresenta grande variedade cultural e diversidade étnica. Porém ainda existem
muitos problemas, como o desrespeito aos mais velhos e o não cumprimento dos direitos sociais voltados para a população
jovem e idosa. Também há preconceito em relação às minorias, a manifestações culturais e religiosas, ao papel da mulher na
sociedade, à cor da pele de uma pessoa, entre outros.
Para tentar combater preconceitos, governos, ONGs e veículos de comunicação com grande abrangência criam campanhas
para conscientizar a sociedade dos problemas do país. Veja os exemplos a seguir.

< imagem >
©2 0 1 4 MI N I S T É R I O DA SA Ú D E
Campanha contra o racismo no Sistema Único de Saúde (SUS), 2014.

< imagem >
©2015 Ministério da Saúde
Campanha de equidade: mulheres lésbicas e bissexuais, 2015.

1º) Reúna-se com cinco colegas e, juntos, escolham um dos grupos abordados nos capítulos 6 e 7: jovens, idosos, mulheres,
indígenas, afrodescendentes, LGBT, estrangeiros, etc. Pesquisem os problemas que mais afligem o grupo escolhido: Há
preconceito contra esse grupo? Como o preconceito aparece na sociedade brasileira? O que vem sendo feito pelos governos
e pela sociedade para acabar com o problema?
2º) Se preferirem, pensem em um problema que aflige mais de um grupo da sociedade. Por exemplo: o não cumprimento dos
direitos dos jovens e dos idosos, estabelecidos pela legislação brasileira, e a violência contra gays ou mulheres. Realizem
uma pesquisa para entender melhor as raízes desse problema, como ele se manifesta no país, o que vem sendo feito para
resolvê-lo, etc.
3º) Com base nos exemplos acima, produzam uma campanha sobre algum problema da sociedade brasileira. Pensem em um
slogan que resuma a ideia contida nessa campanha. Além disso, criem ou encontrem uma imagem para representá-la.
4º) Criem um cartaz, apenas com o slogan e a imagem, e apresentem a campanha aos outros colegas. Expliquem como a ideia
surgiu, por que escolheram esse tema, por que consideram importante a conscientização da população, etc. Comentem
também se há um público-alvo ou se a campanha foi pensada para atingir a todos.
5º) Depois das apresentações, os cartazes podem ser espalhados pela escola para que tal campanha se torne real.

Responda no caderno
2. Enem (2014)

Parecer CNE/CP nº 3/2004, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-
Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Procura-se oferecer uma resposta, entre outras,
na área da educação, à demanda da população afrodescendente, no sentido de políticas de ações afirmativas. Propõe
a divulgação e a produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas que eduquem cidadãos orgulhosos de
seu pertencimento étnico-racial – descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos
– para interagirem na construção de uma nação democrática, em que todos igualmente tenham seus direitos
garantidos.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Disponív el em: <www.semesp.org.br>. Acesso em: 21 nov . 2013 (adaptado).
A orientação adotada por esse parecer fundamenta uma política pública e associa o princípio da inclusão social a
a) práticas de valorização identitária.
b) medidas de compensação econômica.
c) dispositivos de liberdade de expressão.
d) estratégias de qualificação profissional.
e) instrumentos de modernização jurídica.
3. Enem (2014)

Queijo de Minas vira patrimônio cultural brasileiro
O modo artesanal da fabricação do queijo em Minas Gerais foi registrado nesta quinta-feira (15) como Patrimônio
Cultural Imaterial brasileiro pelo Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O veredicto foi dado em reunião do conselho realizada no Museu de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte. O presidente
do Iphan e do conselho ressaltou que a técnica de fabricação artesanal do queijo está “inserida na cultura do que é
ser mineiro”.
Folha de S.Paulo, 15 maio 2008.

Entre os bens que compõem o patrimônio nacional, o que pertence à mesma categoria citada no texto está representado em:
a)
< imagem >
ENEM/Reprodução
Mosteiro de São Bento (RJ).

b)
< imagem >
E NE M / R E P R O D U Ç Ã O
Tiradentes esquartejado (1893), de Pedro Américo.

c)
< imagem >
Ofício das Paneleiras de Goiabeiras (ES).
E NE M / R E P R O D U Ç Ã O


d)
< imagem >
E NE M / R E P R O D U Ç Ã O
Conjunto arquitetônico e urbanístico da cidade de Ouro Preto (MG).

e)
< imagem >
E NE M / R E P R O D U Ç Ã O
Sítio arqueológico e paisagístico da Ilha do Campeche (SC).


Desafios & debates

Em grupo
O Patrimônio Cultural Imaterial abrange as expressões culturais e as tradições que um grupo de indivíduos
preserva em respeito à sua ancestralidade e que são transmitidas às gerações futuras. São exemplos de patrimônio
intangível: os saberes, os modos de fazer, as formas de expressão, as festas e danças populares, as lendas, as
músicas, os costumes, etc.
Leiam o texto a seguir e comentem-no com o professor. Depois, façam o que se pede.

Cultura afro-brasileira
No passado e no presente, as manifestações culturais representam uma forma de resistência. Para os
escravizados, preservar a língua, as músicas, as histórias e a religião trazidas da África significava não aceitar
passivamente sua condição. Hoje, os movimentos negros utilizam a cultura também como uma demarcação de sua
identidade e, por consequência, de sua luta. Apesar disso, muitas de suas manifestações não são conhecidas da
maior parte da população. [...]
A ideia do Brasil como um país miscigenado, que predominou durante boa parte do século 20, teve consequências
também na negação da participação negra no que se convencionou chamar cultura brasileira. Diversas
manifestações típicas dos descendentes de africanos, como o samba, foram incorporadas à perspectiva nacional e
não são reconhecidas mais como originadas em grupos específicos. “A partir da década de 1930, no Brasil, houve
um processo de clareamento de uma série de elementos culturais identificados com o protagonismo negro. Assim, o
batuque e a feijoada deixaram de ser coisas de escravos e se tornaram símbolos nacionais, da mesma forma a
capoeira, que não mais foi reprimida pela polícia, sendo considerada modalidade esportiva nacional”, explica Juliano
Custódio Sobrinho, professor da Universidade Nove de Julho (Uninove).
Até hoje, discute-se a existência ou não de uma cultura negra. “A cultura não tem cor, mas é importante discutir
quem produz e também o contexto em que ela é feita”, explica Martha Abreu, docente da Universidade Federal
Fluminense (UFF). [...]
Fonte: CULTURA af ro-brasileira. Nova Escola. Disponív el em: <https://acervo.novaescola.org.br/arquivo/africa-brasil/cultura-afro-brasileira.shtml>.
Acesso em: 29 jun. 2017.

< imagem >
DI CA V A L C A N T I / C O L E Ç Ã O PA R T I C U L A R
Di Cavalcanti. Roda de samba, 1929. Óleo sobre tela. Dimensões: 63,5 cm × 49 cm. O samba é um gênero de música popular com raízes essencialmente
afro-brasileiras.

Nesta seção, o desafio é elaborar um álbum coletivo intitulado “Legado africano”. A ideia é pesquisar e reunir

materiais sobre o legado científico, artístico e cultural africano que influencia a sociedade brasileira.
1º) Pesquisem as contribuições africanas na formação da sociedade e da identidade brasileira (música, dança, religiosidade,
literatura, artes plásticas, língua, construções, conhecimentos medicinais, etc.).
2º) Com a supervisão do professor, selecionem apenas um dos personagens retratados na página 185 para pesquisar sua vida e
obra. Todos eles têm ancestrais africanos. O mesmo personagem não pode ser escolhido por dois grupos.
3º) Combinem quando e como organizar o material pesquisado pelo grupo.
4º) Por último, reúnam as pesquisas da turma e, com o professor, organizem o álbum “Legado africano”.
5º) Se possível, pensem em um modo de fazer esse álbum circular entre as demais turmas da escola.

< imagem >
© W I K I M E D I A CO M M O N S
Aleijadinho, escultor.
Euclásio Ventura. Retrato de Aleijadinho, século XIX. Óleo sobre madeira.

< imagem >
© W I K I M E D I A CO M M O N S
Machado de Assis, escritor, 1896.

< imagem >
Acervo Iconographia
Pixinguinha, músico, década de 1950.

< imagem >
D.A Press/CB/Marcos Fernandes
Milton Santos, geógrafo, 2000.

< imagem >
ACE R V O ICO N O G R A P H I A
Heitor dos Prazeres, pintor e compositor, c. 1950.

< imagem >
©WIKIMEDIA COMMONS/DCOETZEE
André Rebouças, engenheiro.
Rodolfo Ernardelli. André Rebouças, século XIX. Óleo sobre tela.

Em debate

[A] mestiçagem que amorenou a nossa pele, alongou nossa silhueta, encrespou nossos cabelos, nos conferiu a
originalidade de gestos macios e andar requebrado. Ao incorporarem elementos africanos ao seu dia a dia, [...]
construíram uma nova identidade e nos legaram o que hoje chamamos de cultura afro-brasileira.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 3. ed. São Paulo: Ática, 2013. p. 7.
Discuta com seus colegas a seguinte questão:

Como lidar com a discriminação racial e desenvolver valores e comportamentos de respeito, solidariedade e tolerância?


unidade

4
Brasil: trabalho, circuitos de produção e
urbanização
A partir da segunda metade do século XX, com o desenvolvimento industrial e a modernização do
campo, a estrutura produtiva brasileira passou por profundas alterações. No contexto do
capitalismo internacional, o país passou por uma reorganização econômica e geográfica, marcada
por uma nova divisão inter-regional do trabalho e uma intensa urbanização.
Nesta segunda década do século XXI, o país vive um novo período de transformações
econômicas, fortemente vinculadas à globalização.
Como se deu a expansão da agropecuária brasileira? Como é a estrutura fundiária? O que as
mudanças climáticas têm a ver com a produção agrícola do país? Quais são as características da
estrutura industrial e da matriz energética do Brasil? O que dizer sobre a rede urbana e os
espaços metropolitanos? Mapas, gráficos, fotos, atividades e textos vão ajudá-lo a refletir sobre
essas e outras questões. A meta é que, ao longo desta unidade, você compreenda melhor os
circuitos produtivos do Brasil e seus desdobramentos no espaço geográfico.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / J O Ã O PR U D E N T E
Vista do município de Campos Gerais (MG), em 2015. Em primeiro plano, observa-se parte da zona rural e, ao fundo, vê-se a cidade.

Um primeiro olhar
Em qualquer momento, o ponto de partida é a sociedade humana realizando-se. Essa realização se dá sobre uma
base material: o espaço e seu uso; a materialidade e suas diversas formas, as ações e suas diversas feições.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção.
São Paulo: Edusp, 2008. p. 54.

▸ O que você sabe sobre a expansão da fronteira agrícola e a estrutura fundiária do Brasil?
▸ Qual é o papel da região Sudeste na organização do espaço brasileiro?
▸ Em sua opinião, o que a foto tem a ver com os temas desta unidade?

capítulo

8
Espaço agropecuário brasileiro

< imagem >
KIN O . C O M . B R / W E R N E R R U D H A R T
Colheitadeiras em lavoura de soja em Caarapó (MS), 2013.

A aceleração do desenvolvimento industrial brasileiro, a partir da década de 1960, implicou uma redução paulatina
da participação do setor agropecuário na produção da riqueza nacional. A própria agropecuária, as relações sociais e
as formas de trabalho no campo subordinaram-se, cada vez mais, ao capitalismo industrial.
O capitalismo imprime ao campo uma série de alterações, processo genericamente conhecido como modernização
agrícola. Entre suas principais características, estão: subordinação ao mundo urbano-industrial, ao qual se estrutura
para fornecer alimentos e matérias-primas; aumento do cultivo de certas culturas voltadas à exportação em
detrimento das tradicionais; concentração de terras e redução no número de pequenos proprietários.
Em vários países da Europa e nos Estados Unidos, as transformações do espaço agrário estiveram ligadas às
novas imposições do capitalismo monopolista no início do século XX. No Brasil, essa fase do capitalismo
desenvolveu-se somente após a década de 1950, quando grandes empresas nacionais e estrangeiras começaram a
atuar mais diretamente no setor agropecuário. Estas, além de tornar a agricultura grande consumidora de produtos
industrializados, passaram a adquirir terras e a investir capital também no campo. A diversificação dos investimentos
produtivos é uma das principais características das grandes empresas.

Modernização da agropecuária
Para sustentar o processo de industrialização e urbanização, que se acelerou após a década de 1950, era necessário
que o campo se tornasse cada vez mais produtivo e se atrelasse à modernização da economia brasileira.
Como característica dessa fase, o Estado tornou-se importante agente econômico, intervindo diretamente por meio
de suas próprias empresas, regulamentando o mercado de trabalho, etc.
Diversas medidas governamentais estimularam a modernização da agropecuária brasileira. Por exemplo:
▸ facilidades concedidas às empresas para obtenção de empréstimos bancários e incentivos a certas lavouras, como
a de soja, para exportação, e a de cana-de-açúcar, para produção de álcool;
▸ incentivos para a compra de terras no Centro-Oeste e na Amazônia, paralelamente à construção de grandes
rodovias ligando essas regiões ao Sudeste e ao Sul do país.
Essas medidas, associadas à implantação de vários projetos de colonização, contribuíram para uma considerável
dilatação do espaço agrário brasileiro.
Como resultado desse processo de modernização, a produção agrícola nacional tem apresentado um crescimento
significativo nas últimas décadas, caracterizado, no início, pela incorporação de novas áreas ao processo produtivo e,
ultimamente, pela intensificação dos sistemas de cultivo. Atualmente, cerca de dois terços da expansão agrícola no
Brasil se devem ao aumento da produtividade (crescimento qualitativo) e um terço, à incorporação de novas áreas
(crescimento quantitativo).
Observe, no gráfico abaixo, a participação da agropecuária, entre 2001 e 2010, no valor adicionado bruto do Brasil
(valor total da produção durante determinado tempo, geralmente um ano, descontando-se as despesas com elementos,
ou insumos, utilizados no processo produtivo).

Brasil: participação da agropecuária no valor adicionado bruto (2001-2010)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de ESTATÍSTICAS do meio rural 2010-2011. Brasília: MDA/Dieese/Nead, 2011. p. 239. Disponív el em:
<http://www.dieese.org.br/anuario/2011/anuarioRural10-11.pdf >. Acesso em: 23 nov . 2014.

Agropecuária e fatores naturais
Mesmo com a mecanização e o avanço tecnológico, as atividades agrícolas estão sujeitas à influência dos fatores
naturais, destacando-se as restrições impostas pelo clima e pelo solo.
Como no país predominam os climas quentes, na maior parte das lavouras são cultivados produtos tropicais, com
exceção das lavouras do Sul, em que se destaca uma agricultura adaptada ao clima temperado. Assim, o Brasil é
exportador de café, milho, soja, açúcar de cana e algodão, e importador, entre outros produtos, de trigo, pois a
produção desse cereal não satisfaz o consumo nacional.
Quanto aos solos, o Brasil dispõe de tipos muito ricos, como o massapê, na Zona da Mata nordestina, aproveitado
desde o início da colonização para a lavoura canavieira; a terra roxa, no oeste de São Paulo, norte do Paraná e sul de
Goiás, ideal para a cultura do café; e as terras de várzea, marginais aos rios e ótimas para culturas irrigadas. Esses
solos, em geral, permitem boas colheitas até mesmo quando as técnicas de cultivo não são as mais indicadas.
Os solos considerados de boa potencialidade agrícola são os mais profundos, bem drenados, com boa fertilidade
natural e de topografia plana ou levemente ondulada.
Já os solos que têm aproveitamento agrícola que vai de regular a bom apresentam a maioria das características
acima, mas precisam de adubação artificial para o pleno desenvolvimento dos cultivos, pois ou são menos profundos
ou contêm maior quantidade de areia do que de argila. A associação da qualidade do solo à topografia plana favorece
a mecanização, mas somente 13% dos solos brasileiros podem ser considerados planos.
Parcela expressiva do território brasileiro tem solos com utilização restrita ou até mesmo completamente
desfavoráveis à utilização agrícola. Requerem técnicas mais aprimoradas conforme suas características naturais:
solos rasos; pedregosos; de textura muito arenosa; sujeitos a inundações; com drenagem natural deficiente; com
fortes declives; etc.
Os solos classificados como tipicamente regulares correspondem a 30,5% do total do país.
Embora haja um crescimento da implementação de técnicas de correção, quase metade dos solos brasileiros não é
muito apropriada às práticas agrícolas, resultando em baixo rendimento. Muitos são pobres e ácidos (pH baixo) e
apresentam problemas comuns ao ambiente tropical, como a lixiviação, com o consequente empobrecimento do solo;
a erosão e a laterização.

Expansão da agropecuária
Como você deve saber, os conhecimentos oriundos da engenharia genética, da biotecnologia e da
zootecnologia, assim como a modernização dos instrumentos de trabalho, possibilitam a intensificação da produção
agropecuária.
No Brasil, já na década de 1970, as regiões Sudeste e Sul caracterizavam-se por um grande aproveitamento da
superfície agrícola, apresentando elevados índices de mecanização: utilização de tratores, arados mecânicos,
colheitadeiras, etc.
A modernização agrícola teve início em São Paulo e no Rio Grande do Sul. A partir do fim da década, com o
processo de desconcentração econômica, a mecanização foi se ampliando para outras regiões brasileiras. Chegou
ao Centro-Oeste – primeiro a Mato Grosso do Sul, depois ao sul de Goiás e, em seguida, a Mato Grosso – e, no fim
da década de 1980, ao Nordeste. Apesar do avanço da mecanização, menos de 20% dos estabelecimentos rurais do
país utilizam tratores nas lides agrícolas.

< imagem >
Pulsar Imagens/Delfim Martins
Aplicação de agrotóxico em plantação de feijão em Guaíra (SP), 2013.

No Centro-Oeste, a agricultura brasileira incorporou extensas áreas de cerrado no planalto Central, onde a
topografia plana favorece a mecanização, embora as deficiências do solo exijam emprego maciço de corretivos e
fertilizantes. Um dos problemas decorrentes do uso desses insumos é a ameaça que eles podem representar ao
equilíbrio do meio ambiente quando usados em excesso e sem as devidas precauções, por conterem substâncias
tóxicas. As mesmas substâncias podem causar o envenenamento das pessoas que trabalham com elas, além de
comprometer a saúde dos consumidores. Por isso, convém promover a difusão de técnicas que envolvem o uso de
adubos orgânicos e estabelecer uma maior fiscalização do uso de fertilizantes e agrotóxicos.
No período de 1960 a 1970, partindo do Sudeste e do Sul, a expansão da fronteira agrícola atingiu de forma mais
significativa os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, que, até hoje, apresentam áreas de ocupação
extensiva. A procura de novas terras continuou nas direções norte e nordeste, chegando aos estados do Tocantins,

da Bahia, do Piauí e do Maranhão.
Já na década de 1980, os estados de Rondônia e do Pará passaram a integrar o espaço agropecuário. Ainda hoje,
observa-se que tanto as ocupações extensivas quanto as intensivas seguem em direção ao cerrado do Meio-Norte e
à Floresta Amazônica. Nos dois casos, a incorporação é feita principalmente com a ampliação dos cultivos de arroz e
de soja, de alto valor comercial.
O cultivo de soja é responsável por grandes alterações no espaço agrário brasileiro. Dominou antigas áreas
coloniais do Rio Grande do Sul e do Paraná, onde se praticavam a policultura e a criação de animais. Como a
demanda de soja crescia no mercado internacional, alguns produtos alimentares deixaram de ser cultivados em
determinadas áreas do país; de certa forma, a produção interna diminuiu, como a de feijão e a de batata-inglesa.
No sul de Mato Grosso do Sul e de Goiás, também áreas de policultura, ocorreu fenômeno semelhante. As
áreas de tradicional criação bovina desses dois estados foram parcialmente tomadas por culturas comerciais,
como o arroz, o milho e, sobretudo, a soja.

Engenharia genética: conjunto de técnicas que envolvem a manipulação de genes de determinado organismo. A manipulação pode envolver, por exemplo, transferência e
isolamento de genes, com o objetivo de produzir organismos geneticamente melhorados.
Zootecnologia: conjunto de saberes técnicos sobre aperfeiçoamento genético e criação
de animais.


Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
<https://www.embrapa.br>. Acesso em: 16 dez. 2015.
Desenvolve pesquisas e tecnologias importantes na área agropecuária. Em sua base de dados on-line, há milhares de documentos sobre
pesquisa agropecuária.
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)
<http://www.agricultura.gov.br>. Acesso em: 16 dez. 2015.
É responsável por criar políticas públicas voltadas para o agronegócio e incentivar essa atividade no Brasil. No site do Mapa, há informações
variadas sobre a política agrícola no país.


As regiões e o espaço agrário
Em virtude da influência de fatores naturais, econômicos e histórico-sociais, as características do espaço agrário
brasileiro apresentam muitas variações.
No Centro-Sul, que engloba as regiões Sudeste e Sul e a porção meridional do Centro-‑Oeste, o aproveitamento
da terra é mais intensivo, e as diversas áreas que o compõem estão mais integradas em comparação com os demais
espaços agrários do Brasil.
A região Sudeste, particularmente o eixo São Paulo-Rio de Janeiro, funciona como o centro de comando das
atividades agrárias, influenciando intensamente o Centro-Sul e, em menor escala, o restante do espaço nacional.
Isso acontece por diversos motivos:
▸ a concentração populacional e o elevado nível de urbanização fazem do Sudeste o grande mercado de consumo
do país, para o qual se volta boa parte das atividades agrárias organizadas com fins comerciais;
▸ a concentração industrial no Sudeste exige grande quantidade e diversidade de matérias-primas;
▸ a concentração de capital no Sudeste estimula maiores investimentos na melhoria das técnicas agrícolas, que, por
sua vez, são tomadas como exemplo pelos produtores rurais de outras áreas do país;
▸ no Sudeste, as empresas procuram crescer, fazendo investimentos fora de sua sede territorial e, ao mesmo tempo,
mantendo com ela fortes laços de dependência;
▸ as lavouras voltadas para a exportação desenvolvem-se e modernizam-se cada vez mais. A maioria delas
concentra-se na região Sudeste e em áreas próximas, como o Sul e o Centro-Oeste.
Por esses motivos, as maiores alterações do espaço agrário brasileiro são irradiadas a partir do Sudeste, região
com maior participação no PIB do setor agropecuário brasileiro.
A região Sul apresenta grande dependência em relação à região Sudeste, à qual fornece numerosos produtos
agropecuários, como trigo e lã. Nos últimos anos, porém, a participação dos estados do Sul no produto interno do
setor agropecuário vem se reduzindo. Isso se explica basicamente pelo fim da expansão da fronteira agrícola nos
três estados, ou seja, esgotou-se a disponibilidade de novos espaços para cultivo.
A porção meridional do Centro-Oeste é a principal área responsável pela produção agrícola dessa região. Os
principais produtos cultivados são cana-de-açúcar, soja e milho.
Os laços de dependência do Nordeste com o centro econômico do país se reforçaram nos últimos anos. Em
consequência da ampliação de sua área agrícola, tornou-se um importante fornecedor de alimentos para o
Sudeste.

Apesar da crescente influência polarizadora do Sudeste, algumas áreas do país estão ligadas diretamente ao
mercado exterior. É o caso de parte da agroindústria açucareira da Zona da Mata nordestina, da lavoura cacaueira do
sul da Bahia e da cultura fumageira no Rio Grande do Sul. De modo geral, as atividades ligadas à soja também estão
voltadas para a exportação.

Criação de ovelhas em confinamento no município de Concórdia (SC),
em 2011.
< imagem >
KIN O . C O M . B R / L A R A S. A . I W A N I C K I

Texto & contexto
1. A expansão da fronteira agrícola incorporou diversas áreas do território brasileiro, em diferentes épocas. Caracterize essa
expansão nas décadas de 1960 e 1970 e a partir de 1980.
2. Escreva um comentário sobre a seguinte afirmação: “A região Sudeste, particularmente o eixo São Paulo-
-Rio de Janeiro, funciona como o centro de comando das atividades agrárias, influenciando intensamente o Centro-Sul e, em
menor escala, o restante do espaço nacional”.

Uso da terra
Considerando a divisão espacial das atividades e o papel de fatores históricos e naturais, podemos examinar o uso
da terra no Brasil com o auxílio do mapa abaixo.

Brasil: padrão de ocupação do território pela agropecuária (2006)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de IBGE. Censo agropecuário 2006. Disponív el em: <http://www.ibge.gov .br/home/
estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/brasil_2006/tab_brasil/cart7.pdf >. Acesso em: 22 jan. 2015.

Observe no mapa que praticamente todo o estado de São Paulo e o do Rio de Janeiro, o norte do Paraná e a
metade sul de Minas Gerais são áreas de agricultura e de pecuária, atividades que aparecem associadas quase
sempre. Os sistemas agrícolas e de criação são mais ou menos intensivos, a policultura é razoavelmente difundida e
os rendimentos são elevados, tanto por trabalhador quanto por área cultivada.
Embora tenha algumas características comuns, esse espaço não é homogêneo, constituindo-se de
diferentes áreas:
▸ área de policultura intensiva, nas proximidades da capital paulista, em que se destacam atividades de
hortifruticultura associadas à criação de gado leiteiro;
▸ área de agricultura comercial especializada (cana-de-açúcar, algodão, laranja), no leste do planalto Paulista,
também associada a uma pecuária geralmente leiteira;
▸ área de policultura melhorada (café, algodão, amendoim, cana-
-de-açúcar) e criação intensiva de gado, no oeste de São Paulo e no norte do Paraná;
▸ área agroleiteira, no sul de Minas Gerais, sudoeste do Espírito Santo, noroeste do Rio de Janeiro e Vale do Paraíba,
onde são cultivados diversos produtos e a pecuária geralmente é intensiva ou semi-intensiva.
Na região Nordeste, o abastecimento do mercado de consumo do litoral é feito pelo Agreste, área tradicional de
policultura (milho, frutas, etc.) e criação de gado leiteiro.
Entre as áreas predominan­temente agrícolas, a mais importante é a do planalto Meridional (planaltos e chapadas da
bacia do Paraná), na qual se destaca a lavoura mecanizada de soja, às vezes associada ao trigo. Ali, as antigas áreas de
policultura colonial (feijão, milho, batata-inglesa) e criação de gado leiteiro sofreram modificações com a introdução da
soja e da criação comercial de aves.
A faixa atlântica do Nordeste e do Sudeste tem uma tradição histórica de cultivos para a exportação que ainda se faz
presente: cana-de-açúcar no litoral nordestino, fumo no Recôncavo Baiano, cacau no sul da Bahia, laranja no Rio de
Janeiro e banana em São Paulo.
Os brejos, áreas úmidas do interior do Nordeste, são manchas agrícolas em meio ao Sertão pastoril, nas quais
predomina a policultura (feijão, milho, mandioca, cana-de-açúcar, algodão, etc.).
Na Amazônia, com exceção das áreas de ocupação recente, onde o produto principal é o arroz, destaca-se a Zona
Bragantina, assim chamada porque fica entre as cidades de Belém e Bragança. Essa área é famosa por suas plantações de
pimenta, embora ali se realizem também outros cultivos.

A maior extensão do espaço agrário brasileiro é formada por áreas predominantemente pastoris. Porém, nos últimos
anos, elas estão sendo modificadas pela expansão das lavouras comerciais, em muitos casos, para a exportação. Com
isso, em inúmeras áreas, a agricultura tornou-se tão importante quanto a pecuária, ou até mais.
Assim como a agricultura, as áreas pastoris apresentam muitas variações. Na Campanha Gaúcha, por exemplo,
os bovinos são de origem europeia, ao contrário dos bovinos do restante do país, onde predomina o gado zebu, de
origem indiana. Nessa área do extremo meridional, os animais são criados com muitos cuidados, as pastagens
cultivadas estão sendo difundidas e a bovinocultura está associada à criação de ovelhas. Ao mesmo tempo, as
culturas mecanizadas estão alterando as antigas pastagens, em virtude do cultivo de arroz nas baixadas e vales
dos rios e, principalmente, de soja nas coxilhas.
A pecuária no Sertão nordestino e nos chapadões do leste de Goiás e do Tocantins, sul do Meio-Norte e oeste
baiano é tipicamente extensiva. O gado é criado solto e não recebe maiores cuidados. Por isso, os rendimentos
pastoris são muito inferiores aos obtidos, por exemplo, no Rio Grande do Sul e no Triângulo Mineiro. Nessa última
área, a pecuária zebuína conserva uma tradição de qualidade e muitos cuidados com os rebanhos.
Na maior parte do Maranhão e do Piauí, o chamado Meio--Norte, o extrativismo do babaçu e da carnaúba, há muito
tempo associado à criação de gado bovino, tem grande importância regional. Além dos tradicionais cultivos de
subsistência, a agricultura comercial ampliou-se muito nos últimos anos, com destaque para o arroz e o algodão. Por
isso, dizemos que se trata de uma área agropastoril e extrativa.
Para completar o painel da agropecuária no Brasil, é necessário considerar as imensas áreas da Amazônia, em
grande parte, desvinculadas do restante do país. No entanto, por meio das frentes pioneiras orientadas para o norte-
noroeste, elas vêm sendo incorporadas ao espaço agrário nacional.
Com relação às áreas de florestas em estabelecimentos agropecuários, o Censo Agropecuário 2006 revelou uma
redução de 12,1 milhões de hectares. Quanto às áreas de pastagens naturais, houve uma diminuição de 20,7
milhões de hectares. Já com relação às pastagens plantadas, o Censo revelou um crescimento de 5,8 milhões de
hectares na região Norte do país, sobretudo, em Rondônia e no Pará. Quanto às lavouras, verificou-se um aumento
em todas as regiões. Observe os mapas a seguir.

PU L S A R IM A G E N S / R U B E N S CH A V E S
Criação extensiva de gado no município de T aquarana (AL), em 2015.

Brasil: evolução do uso da terra (1996-2006)
< mapas >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 143.

Principais cultivos
País de tradição agrícola e de dimensões continentais, o Brasil obtém da terra uma grande variedade de produtos,
com predominância dos que são próprios de climas quentes: algodão, arroz, cacau, café, cana-de-açúcar, feijão,
milho e soja.
Algodão
Um dos primeiros produtos comerciais introduzidos no país, o algodão conheceu alguns períodos de
esplendor no Nordeste, em especial no Maranhão, no final do século XVIII e início do XIX. Apesar de adaptar-se
bem às áreas nordestinas de clima quente e semiúmido, o produto não resistiu à concorrência do algodão
cultivado nos Estados Unidos, que teve aumento em sua produtividade graças ao descaroçador mecânico.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / D E L F I M M A R T I N S
A produção nacional de algodão destina-se, sobretudo, à indústria têxtil. Na foto, colheita de algodão no município de São Desidério (BA), em 2013.

Após a erradicação de cafezais em consequência da Crise de 29, os cultivos de algodão difundiram-se no oeste de
São Paulo e no norte do Paraná, onde estão associados ao café, quase sempre cultivado nas mesmas terras e em
rotação com pastagens ou oleaginosas. As variedades cultivadas são selecionadas, de baixo custo e de alto
rendimento, razões pelas quais esses estados são importantes produtores de algodão no Brasil, ao lado de Mato
Grosso e do oeste da Bahia – estes dois estados são responsáveis por 82% da produção nacional. A fibra produzida
em Mato Grosso está entre uma das melhores do mundo.
Nos últimos anos, essa cultura difundiu-se também pelos estados de Goiás e Minas Gerais, que alcançaram
posição de destaque. No Nordeste, embora a produção seja modesta quando comparada à do Sudeste, a cultura
algodoeira aparece em todos os estados, notadamente no Ceará e na Paraíba. Na região Norte, tem se destacado

a produção do Tocantins e de Rondônia.
Além da fibra, as sementes do algodão são aproveitadas para a fabricação de óleo comestível, e o bagaço serve
para o preparo de adubo e forragem para o gado. O Brasil é exportador do produto e figura como um dos grandes
produtores mundiais, ao lado de China, Índia, Estados Unidos e Paquistão. Observe, no gráfico ao lado, a
evolução da produção de algodão no Brasil.

Brasil: produção de algodão (1976-2015)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de ASSOCIAÇÃO Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). Disponív el em:
<http://www.abrapa.com.br/estatisticas/Paginas/area-producao-produtiv idade-brasil.aspx>.
Acesso em: 9 mar. 2016.

Arroz
Originário da Ásia, o arroz é o cereal de maior rendimento quantitativo por unidade de superfície.
Há o arroz de várzea, cujo cultivo exige grande quantidade de água, e o arroz de sequeiro ou de planalto, plantado
sem irrigação. No Rio Grande do Sul – o grande produtor nacional –, o arroz é cultivado em terrenos inundados. No
restante do país, são difundidas as culturas de sequeiro, principalmente no Centro-Oeste.
Por ser um alimento de consumo generalizado, o arroz é plantado em praticamente todos os estados brasileiros.
Merecem destaque os cultivos de Mato Grosso, Santa Catarina, Maranhão, Tocantins, Pará e Goiás.

Brasil: produção de arroz (2012)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial.
4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 144.

Cacau
A difusão do cacau se deu, provavelmente, a partir da América Central. O cultivo desse fruto se estendeu por diferentes
áreas. No Brasil, o cacau encontrou no sul da Bahia o ambiente mais favorável à sua produção, a qual se expandiu a partir
do início do século XX, atingindo também o norte do Espírito Santo.
Como produto tipicamente tropical, exige solos ricos e precisa ser semeado à sombra. Pode ser colhido por muitos
anos, já que sua cultura é permanente. Constitui uma lavoura de plantation, isto é, produção monocultora em que há
beneficiamento do produto, voltada, em grande parte, para a exportação, feita pelo porto de Ilhéus.
A Bahia é responsável por mais de 90% da produção nacional, seguida do Pará e de Rondônia. A cacauicultura
tem sido estimulada na Amazônia, mas vem se reduzindo no Espírito Santo e em outras áreas do país, em benefício
de culturas temporárias.
< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / P A U L O FRI D M A N
Seleção dos frutos do cacaueiro logo após a colheita. Ilhéus (BA), 2015.

Café
Originário da Etiópia, o café foi introduzido no Brasil em 1727, inicialmente no Pará, onde sua cultura não teve
sucesso. Após lenta migração, chegou ao Rio de Janeiro no começo do século XIX, no Vale do rio Paraíba do Sul,
iniciando sua grande marcha para o interior paulista.
As plantações se alastraram em sistemas típicos de plantation, já que se desenvolvia o mercado internacional para o
produto. Encostas eram desmatadas para dar lugar a cafezais, que, embora fossem cultivados sem maiores cuidados,
traziam riqueza aos grandes fazendeiros.
Esse plantio, no entanto, causou erosão do solo e a consequente decadência da cultura. O esgotamento dos
solos impôs a procura por novas terras. O resultado disso foi um rastro de terras abandonadas e uma economia
estagnada, que, só bem mais tarde, iria se reerguer.
O apogeu da lavoura cafeeira ocorreu na segunda metade do século XIX e início do XX, quando atingiu as ricas
terras roxas dos interflúvios do planalto Paulista. Em 1894, o Brasil alcançou o primeiro lugar na produção mundial,
posição em que se mantém ainda hoje, apesar da concorrência da Colômbia, de países africanos, do Vietnã e da
Indonésia.

Em consequência da crise econômica mundial de 1929, o mercado de café foi afetado pela falta de compradores, e
as antigas fazendas monocultoras acabaram desmembradas, dando origem a propriedades médias. Os novos
proprietários, muitos deles imigrantes, dedicaram-se à policultura associada à criação, mantendo apenas os bons
cafezais. Desse modo, a grande propriedade monocultora foi substituída pelo sítio, e o fazendeiro, pelo sitiante, o que
gerou resultados positivos à economia paulista e à do Sudeste em geral.
Teve início, então, uma nova fase na história do café, marcada por sua associação com outros produtos agrícolas e
com a pecuária, especialmente, para corte. Foi assim que o café penetrou no norte do Paraná, que posteriormente se
tornou importante área produtora.
Nos últimos anos, porém, temperaturas muito baixas têm ocorrido nessa área e também no oeste paulista,
incompatíveis com a natureza subtropical do café. Diante disso, muitos produtores substituíram seus cafezais por
outros cultivos, como de soja ou cana-de-açúcar, ao lado da pecuária. Em compensação, o governo estimula o
desenvolvimento da cafeicultura na Bahia e, principalmente, em Minas Gerais, onde a geada é fenômeno quase
desconhecido.
Apesar das adversidades climáticas, o Brasil continua sendo um grande exportador mundial do produto e, há
muitos anos, também é exportador de café solúvel.
Os maiores produtores nacionais são Minas Gerais, em processo de expansão acelerada nos últimos anos; Espírito
Santo, com significativa ampliação do cultivo no norte do estado; São Paulo; Paraná; Bahia e Rondônia. Neste estado, o
café foi o produto estimulador da expansão da fronteira agrícola na direção norte e fator de povoamento regional.

Brasil: produção de café (2012)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial.
4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 144.

Cana-de-açúcar
Nativa da Ásia, essa planta, adaptada ao clima quente e úmido, é indissociável da história do Brasil colônia. Foi
introduzida no país já nos primórdios da colonização e desenvolveu-se nos ricos solos argilocalcários do litoral
nordestino, dando origem à conhecida fase do açúcar.
Em São Paulo – o grande produtor nacional –, a cana-de-açúcar é cultivada em sistemas rotativos. Apesar de ser
uma planta semiperene, que pode ser colhida por mais de dez anos, é cortada anualmente – no máximo, até três
vezes –, o que resulta em maiores rendimentos. A recuperação dos solos é feita pelo plantio de outras culturas ou
pastagens.
Na Zona da Mata nordestina, bem como na área de Campos, no Rio de Janeiro, a lavoura conserva, em parte,
suas características originais com a prática da monocultura. Mesmo assim, as técnicas são melhoradas, e o cultivo
de variedades selecionadas permite bons rendimentos.
O Brasil ocupa lugar de destaque como produtor e exportador mundial de açúcar de cana. Além de São Paulo, os
maiores produtores nacionais são: Alagoas, Minas Gerais, Pernambuco e Mato Grosso.
Em consequência do Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool), lançado na década de 1970, a lavoura canavieira
expandiu-se muito, substituindo até mesmo os cultivos alimentares em algumas áreas e ganhando destaque no
Paraná, no Mato Grosso do Sul e em Goiás.

Brasil: área plantada com cana-de-açúcar, em hectares (1980-2015)
São Paulo
Minas Gerais
Alagoas
Pernanbuco
Mato Grosso
Goiás
Paraná
Mato Grosso do Sul

1980
1 088 480
222 295

349 059
345 285
8 704
28 013
59 887
11 976

1990
1 811 980
301 710
561 217
473 726
65 034
106 826
159 420
67 921

2000
2 484 790
292 571
461 912
359 662
135 029
139 186
327 165
98 958

2010
5 071 205
746 527
434 370
361 937
212 498
578 666
625 885
399 408

2015
5 728 285
1 071 934
399 230
320 942
300 177
967 936
678 290
692 300

Fonte: União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). Disponível em: <http://www.
unicadata.com.br/historico-de-area-ibge.php?idMn=33&tipoHistorico=5&acao=visualizar
&idTabela=1613&produto=%C3%81rea+Plantada&anoIni=1980&anoFim=2015&estado
=PR%2CSP%2CMG%2CMS%2CMT%2CGO%2CAL%2CPE>. Acesso em: 28 dez. 2015.

Feijão
É largamente cultivado no país, pois não exige solo específico e tem um ciclo vegetativo curto, prestando-se à
associação e à rotação com outras culturas.
Tradicionalmente, o feijão era plantado em pequenas propriedades e para autoconsumo; apenas o excedente era
vendido. Com a ampliação do mercado interno, surgiram as condições para o crescimento da produção e o aumento
dos cultivos comerciais.
No entanto, alguns fatores impedem o pleno desenvolvimento da produção:
▸ a leguminosa é muito sensível às adversidades climáticas;
▸ existem numerosas pragas que atacam o feijão, mas não há muitas pesquisas voltadas para a obtenção de
variedades mais resistentes;
▸ por envolver altos riscos, muitos agricultores abandonam a lavoura de feijão, preferindo outro cultivo de alto valor
comercial, como o da soja.
Esses fatores explicam a instabilidade da produção de feijão, que, muitas vezes, se torna escasso nos locais de
venda ao consumidor. Apesar disso, o Brasil é um dos grandes produtores mundiais de feijão, cultivado em todas as
unidades da federação. Os maiores produtores nacionais são: Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Santa
Catarina e Goiás.

Texto & contexto
1. O cultivo de algodão está presente em que estados brasileiros? Quais são os possíveis usos desse produto?
2. Qual é a relação entre o plantio de café, especialmente entre o final do século XIX e o início
do XX, e o esgotamento do solo?
3. Observe a tabela acima e indique em qual
estado brasileiro se encontra a maior área de cana-de-açúcar cultivada.
4. Há usinas de açúcar ou de álcool no município onde você vive? Em caso afirmativo, qual é a importância delas para a
economia local?

Milho
Nativo da América – do Chile ao Canadá – e de fácil adaptação ambiental, o milho tem grande difusão no Brasil,
que, por sua vez, mantém destaque na produção mundial. O país é superado apenas por Estados Unidos e China.
Vinculado originalmente a culturas de subsistência, é cultivado em todas as unidades da federação. Como cultura
comercial, estava geralmente associado à
suinocultura. Porém, com o desenvolvimento da indústria de produtos alimentares e da produção de ração animal, a
lavoura de milho se modernizou e o produto tem sido exportado. Os grandes produtores nacionais são: Paraná, Goiás,
Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Soja
Em virtude de seu alto valor proteico, a soja tem grande procura no mercado internacional. É utilizada tanto para a
alimentação humana, principalmente na forma de óleos e gorduras vegetais, quanto para a fabricação de ração
animal.
A partir da década de 1970, o preço compensador da soja foi responsável pela expansão de seu cultivo, e um
novo espaço agrário se configurou no Centro-Sul do país. Iniciada no Rio Grande do Sul, a sojicultura rapidamente
conquistou áreas do planalto Meridional, do Centro-Oeste e, mais recentemente, do Nordeste. Trata-se de uma
lavoura mecanizada, voltada essencialmente para a exportação. No Rio Grande do Sul, a difusão da soja foi
favorecida pelo fato de ocupar as mesmas terras utilizadas para o trigo, já que é plantada no verão. No entanto, com
o passar dos anos, acabou se tornando a cultura principal, tendendo, não raro, à monocultura.
Em sua trajetória expansiva, o cultivo da soja provocou o abandono de outras culturas, dominou extensas áreas e
se tornou o preferido para a ocupação agrícola no domínio do cerrado. Há alguns anos ela é um dos principais
produtos brasileiros de exportação, sendo vendida em grãos e na forma de óleo, farelo e ração. A China é o maior
importador da soja produzida no Brasil, o qual, por sua vez, é o maior produtor mundial. As principais lavouras estão
no Paraná, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia e São Paulo.
Como commodity de grande procura no mercado mundial, a soja está muito sujeita aos ditames da
competitividade, que impõem uma permanente busca de menores custos de produção. Os produtores tornam-

-se muito sensíveis às inovações tecnológicas criadas e exportadas por países altamente desenvolvidos.
Nesse contexto, há alguns anos, foram introduzidas no Brasil variedades de soja transgênica (sementes
geneticamente modificadas), resistentes a pragas e aos agrotóxicos destinados a combatê-las. Ocorre que tanto as
sementes quanto os agrotóxicos são monopolizados por multinacionais, e estas cobram royalties dos agricultores que
compram seus produtos. Uma vez que passam a comprar e a usar as sementes, os lavoureiros ficam na
dependência das multinacionais para realizar as safras seguintes, pois somente elas detêm o produto e a tecnologia
que envolvem sua utilização.
Além disso, os produtos transgênicos sofrem rejeição de grupos e entidades ambientalistas, sob alegação de que
podem ser prejudiciais à saúde dos consumidores e ao equilíbrio da natureza. Em alguns países europeus, por
exemplo, a produção de transgênicos é proibida ou submetida a sérias restrições. No Brasil, no entanto, a soja
transgênica está cada vez mais difundida; para isso, conta com a propaganda de multinacionais produtoras de
insumos agrícolas.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / M A U R I C I O SI M O N E T T I
O Paraná está entre os maiores produtores de soja do país. Na foto, plantação de soja no município da Lapa (PR), em 2014.

Trigo
Cereal típico de clima temperado, o trigo foi introduzido no Brasil pela colonização europeia e encontrou no
Sul do país razoáveis condições para o seu
plantio. Mesmo assim, as lavouras sofrem com frequentes irregularidades climáticas. Em 2015, por exemplo,
calor e umidade além do habitual originaram não apenas uma colheita reduzida, mas também um produto de
baixa qualidade, inadequado à panificação. O trigo é cultivado principalmente em lavouras comerciais
mecanizadas, em geral, associado à soja. A produção brasileira não satisfaz o consumo interno, o que torna o
país um dos grandes importadores do cereal, particularmente dos Estados Unidos, do Canadá e da Argentina.
Os maiores produtores nacionais são Paraná e
Rio Grande do Sul, seguidos por Mato Grosso do Sul e Santa Catarina.
Agricultura agroecológica
Como alternativa à agricultura empresarial, desenvolve- -se no mundo todo um conjunto de práticas agropastoris
que constitui a agricultura agroecológica. Como o nome indica, trata-se do cultivo da terra e da criação de animais
respeitando os ciclos da natureza, sem lhe causar danos ou desequilíbrios. Simultaneamente, visa à produção de
alimentos saudáveis, livres de qualquer adulteração antropogênica.
Frequentemente, a agricultura agroecológica é chamada de agricultura orgânica, porque se baseia no emprego
apenas de insumos orgânicos, não admitindo, portanto, qualquer agente inorgânico, como agrotóxicos. Mas a
agricultura agroecológica tem um alcance maior, pois inclui desde o sistema de rotação de terras e de cultivo até a
forma de embalagem dos produtos, que deve utilizar apenas elementos biodegradáveis. Desse modo, caracteriza-
se por:
▸ empregar apenas adubos orgânicos e sementes sem manipulação genética;
▸ realizar o combate às pragas utilizando apenas predadores naturais, evitando o desequilíbrio biológico.
Basicamente, rejeita o emprego de fertilizantes químicos e de qualquer tipo de agrotóxico (herbicidas,
praguicidas, fungicidas) e de sementes transgênicas. As práticas agroecológicas não admitem, por exemplo, a
adubação química das pastagens que alimentam os bovinos, mesmo os de corte, nem a adição de hormônios e
anabolizantes à ração de aves e outros animais.
Em grande medida, a agricultura agroecológica se contrapõe à agricultura comercial moderna, integrante do
chamado agronegócio. Enquanto o foco de uma é produzir alimentos saudáveis respeitando a natureza, o da outra é
produzir visando ao lucro.
Nos últimos anos, a agricultura agroecológica tem se desenvolvido no Brasil, estimulada principalmente por
segmentos de mercado de países desenvolvidos, interessados em importar produtos saudáveis para o consumo.
Mas, também no mercado interno, aumenta a procura por alimentos orgânicos.
Assim, pouco mais da metade da produção de orgânicos no Brasil destina-se à exportação, sobretudo, para o
Japão, os Estados Unidos e países da União Europeia. É muito variado o rol de produtos exportados pelo país: a
chamada carne verde, isto é, de bovinos alimentados apenas em pastagens naturais; carne de frango com
certificação de qualidade; produtos lácteos; soja não transgênica; frutas; mel; palmito; entre outros.
A agricultura agroecológica geralmente aparece na agricultura familiar, praticada por pequenos proprietários,
muitas vezes, associados em cooperativas, notadamente no Sul do país. Por demandar qualificados trabalhos

manuais, ela não se incorpora à grande propriedade agroexportadora, cujo sistema agrícola é intensivo por
mecanização.
Embora em expansão, a agricultura agroecológica é praticada em menos de 3% dos mais de cinco milhões de
propriedades rurais do país.
< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / G E R S O N GE R L O F F
Produção agroecológica de hortaliças em Arroio Grande (RS), 2014.


Principais rebanhos
Em cerca de 70% dos imóveis rurais brasileiros, a principal atividade é a criação de animais, principalmente de
bovinos, mas também de suínos, ovinos e outros rebanhos, além de aves.
A pecuária sofreu expressivas mudanças a partir do final dos anos 1990, quando foi revestida de um perfil
empresarial moderno, apoiado no emprego de tecnologia, desde a criação e o abate dos animais até a
industrialização dos produtos. Desde então, foram organizadas eficientes cadeias produtivas de carnes, não só para
o abastecimento do mercado interno, mas, sobretudo, para a exportação. Há alguns anos, o Brasil exerce liderança
mundial no mercado de carne bovina e de frango.

Bovinos
Entre os rebanhos brasileiros, o de bovinos é o maior, com um total de 212 milhões de cabeças em 2014.
Observe, no gráfico ao lado, os estados que mais abateram cabeças de gado no referido ano.
No Brasil, o crescimento da bovinocultura é estimulado pela ampliação do mercado interno e, nos últimos tempos,
pelo aumento da demanda internacional, motivo pelo qual o país figura como grande exportador de carne.
Na década de 1980, esse crescimento esteve associado, em grande parte, à ocupação de novas áreas no Centro-
Oeste, no Nordeste e também na Amazônia, onde a criação é tipicamente extensiva e de espécies para corte. Essa
ocupação se fez quase sempre à custa de danos ao meio ambiente.
Favorecido pela natureza do cerrado, o Centro-Oeste foi a região que presenciou o mais expressivo crescimento
da bovinocultura nas últimas décadas.
Na região Norte, a ausência de facilidades naturais condicionou o desmatamento de grandes áreas para a
instalação de fazendas de criação. Mesmo com essa dificuldade, o número de bovinos nessa região tem aumentado
mais do que no restante do país.
No Centro-Sul, o crescimento numérico do rebanho é acompanhado de melhoria da qualidade, o que permite um
maior rendimento por cabeça. Na região Sul e, principalmente, na Sudeste, embora predomine a criação para corte,
ganha cada vez mais espaço a pecuária leiteira, estimulada pelo crescimento da indústria de laticínios. A criação de
raças produtoras de leite é intensiva e semi-intensiva e, geralmente, associada à agricultura.

Brasil: abate de bovinos por estado (2014)
< grágico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de IBGE. Indicadores IBGE.
Estatística da produção pecuária, mar. 2015. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/producaoagropecuaria/abate-
leite-couro-ovos_201404_publ_completa.pdf>. Acesso em: 26 nov. 2015.

Suínos
Apesar de corresponder ao segundo maior rebanho do país, a suinocultura teve um crescimento lento nas últimas
décadas, principalmente quando comparada à bovinocultura.
Contudo, na região Sul, que detém cerca de 40% do rebanho nacional, tem-se obtido significativa melhoria na
qualidade dos animais. Ao mesmo tempo, a antiga criação de porco-banha, tradicionalmente associada à
policultura colonial, foi substituída pela criação de raças destinadas à produção de carne. Com a instalação de
frigoríficos na região, a suinocultura se desenvolveu. A atividade criatória deixou de ser de subsistência e tornou-
se comercial, com investimentos em genética, manejo, nutrição e sanidade animal para aumentar a produtividade
e, assim, atender à demanda.

Criação de suínos em confinamento em T unápolis (SC), 2015.
< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / C E S A R DIN I Z

Além dos três estados sulinos, a suinocultura tem destaque em Minas Gerais, São Paulo e Bahia. Nos demais
estados, a criação é geralmente de subsistência, embora alguns apresentem um número expressivo de suínos,
como Maranhão, Piauí, Ceará e Goiás.

Ovinos
A ovinocultura é praticada em grande escala no Rio Grande do Sul, que detém mais de 30% do rebanho
nacional, abastece de lã o mercado interno e exporta o produto. Aí, as condições são as mais favoráveis do país,
pois os ovinos preferem climas temperados e frios. A criação é associada com a pecuária de corte na Campanha,
à base de um bovino e três ovinos por hectare.
No Nordeste, a criação de ovinos é tipicamente extensiva e com baixos rendimentos, com destaque para os
rebanhos da Bahia, do Ceará e do Piauí.


Aves
Postura: ave destinada à produção de ovos.
A partir da década de 1960, a criação de aves para abate e postura teve grande desenvolvimento em alguns estados,
notadamente em São Paulo, Minas Gerais e toda a região Sul.
Progressivamente, a criação deixou de ser uma atividade de “fundo de quintal” e assumiu caráter comercial, sendo
praticada em estabelecimentos equipados com a mais moderna tecnologia. Com isso, a produção de carnes e ovos
cresceu substancialmente, acompanhando o aumento do consumo nacional e, sobretudo, da demanda internacional.
Em 2015, ao superar a China, o Brasil se tornou o segundo produtor mundial de carne de frango, perdendo
apenas para os Estados Unidos. Mas, na exportação, é o líder global.
Brasil: evolução do abate anual de frangos (1997-2014)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de IBGE. Indicadores IBGE. Estatística da produção pecuária, mar. 2015. Disponív el em:
<http://www.ibge.gov .br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/producaoagropecuaria/abate-leite-couro-ov os_201404_publ_completa.pdf >. Acesso em: 26 nov .
2015.


Outros rebanhos
Além de bovinos, suínos e ovinos, outros rebanhos são criados no Brasil. Embora considerados
secundários em termos nacionais, assumem importância regional, como os caprinos, os asininos e os muares,
no Nordeste, e os equinos, nas áreas tradicionais de pecuária. É o que ocorre em Minas Gerais e no Rio
Grande do Sul, por exemplo.

Asininos: relativos a jumentos.
Muares: relativos a mulos.

Texto & contexto
1. Cite algumas mudanças ocorridas na pecuária brasileira a partir do final da década de 1990. Explique a principal
consequência de cada uma delas.
2. De acordo com o gráfico da página anterior, quais os três estados que mais abateram cabeças de gado em 2014?
3. Entre 1997 e 2014, de quanto foi o crescimento no abate de frangos?

Para saber mais
Indústrias brasileiras fazem abate religioso de carnes para
garantir mercados estrangeiros

As agroindústrias brasileiras com foco no mercado consumidor estrangeiro estão se especializando em realizar o
abate religioso, para conquistar povos nos quais a fé rege também os hábitos alimentares. [...]
As exigências religiosas variam conforme o povo. Os hindus, por exemplo, não comem carne bovina, por
considerarem a vaca um animal sagrado [...]. Judeus e muçulmanos, por sua vez, não aceitam a ingestão de carne
suína, já que, para os padrões dessas religiões, o porco é um animal impuro.
O incremento das exportações para o Oriente Médio, onde a maioria da população (90%) segue os preceitos do
líder espiritual Maomé, despertou o interesse de frigoríficos [...]. Carnes com abate diferenciado, conhecido como
halal, ganham espaço nas linhas de produção de grandes empresas.
Exigências do abate
Na prática, o termo halal significa “permitido para consumo”, mas o conceito ultrapassa o simples consentimento, tratando
de princípios que vão do respeito a todos os seres vivos até questões sanitárias. [...]
Para os islâmicos, o ritual de abate do boi ou do frango deve ser feito apenas pela degola, para garantir a morte
instantânea do animal. [...] Todos os procedimentos com o abate devem ser realizados por um muçulmano praticante,
[...] treinado especificamente para essa função.
O ofício do degolador é estritamente ligado às tradições religiosas e ao abate e envolve diversos ritos. Um deles
estabelece que cada animal que passa pela mão desse profissional seja oferecido a Alá antes de ser morto. Nesse
momento, ele pronuncia, em árabe, a frase “em nome de Deus” e sacrifica o animal.
Omar Chahine, supervisor islâmico do frigorífico Minerva, em Barretos (SP), explica que esse oferecimento ocorre na
intenção de que o animal não sofra e que o sacrifício seja apenas para o sustento de quem dele se alimenta. “É um
agradecimento pelo alimento e mostra que o trabalho é voltado exclusivamente à alimentação humana, sem crueldade
pela morte de outro ser vivo”, afirma.
[...] o animal deve estar posicionado na direção da cidade sagrada de Meca (Arábia Saudita), intensificando o
caráter ritualístico do ato. [...]
Abate para judeus
Em menor escala no Brasil, mas seguindo princípios semelhantes aos do halal, a certificação kosher (ou kasher) é
feita especificamente para atender consumidores judeus. O abate de bois e aves é supervisionado por um rabino e,
assim como na religião muçulmana, denota a conexão entre o homem e Deus por meio da alimentação.
De acordo com a doutrina judaica, os alimentos ingeridos são absorvidos por todo o corpo, afetando atributos da
personalidade. Para os praticantes da religião, aves de rapina e suínos têm o poder de acentuar a agressividade e
estão proibidos pela Torá, o livro sagrado dos judeus.
A degola também é a base do abate kosher, realizado com instrumento específico para o corte das artérias
carótidas e veias jugulares. [...]
[...] a lei judaica proíbe o abate na presença de outros animais para evitar que presenciem a aflição da espécie. A
ingestão do sangue também não é bem vista pela religião. Após a morte do animal, a carne é salgada com o
propósito de absorver todo o líquido, conservá-la e protegê-la de micróbios. [...]
INDÚSTRIAS brasileiras f azem abate religioso de carnes para garantir mercados estrangeiros. Portal Brasil, 17 jan. 2011.
Disponív el em: <http://www.brasil.gov .br/economia-e-emprego/2011/01/industrias-brasileiras-f azem-abate-religioso-
de-carnes-para-garantir-mercados-estrangeiros>. Acesso em: 29 nov . 2015.

< imagem >
AL I M E N T O S HA L A L BR A S I L / C E N T R O ISL Â M I C O N O BRA S I L
Abatedouro halal em São Paulo (SP), 2012.

Estrutura fundiária
Refere-se à forma como os imóveis rurais estão distribuídos segundo tamanho, dimensões e condição de
ocupação.
Um dos mais graves problemas do campo no Brasil é a distorção da estrutura fundiária, marcada por forte
concentração. O grau de concentração de terras está praticamente inalterado desde 1985, ano importante no
processo de democratização do país. A concentração fundiária é característica central da história da ocupação do
território e formação da sociedade brasileira. A desigualdade na distribuição da terra evidencia processos
passados e contemporâneos relacionados ao modo de apropriação dos recursos naturais no Brasil.
Como é possível observar na tabela abaixo, as diferenças verificadas na área dos estabelecimentos rurais,
quando comparados os diferentes estratos fundiários, continuam caracterizando a desigualdade na distribuição da
terra. Note que, enquanto as unidades de até 10 hectares ocupam menos de 1,4% da área total compreendida
pelos estabelecimentos rurais, as unidades de mais de 2 000 hectares concentram mais de 42% da área total.

Brasil: área dos estabelecimentos rurais segundo estrato de área (2009)
Estrato de área total em hectares (ha)
Até 10
De 10 a 25
De 25 a 50
De 50 a 100
De 100 a 500
De 500 a 1 000
De 1 000 a 2 000
Mais de 2 000
Total


Nº de imóveis
1 316 237
814 138
578 783
563 346
85 305
40 046
39 250
5 181 645

Área dos estabelecimentos rurais
Em ha
8 215 337
21 345 232
28 563 707
40 096 597
116 156 530
59 299 370
55 269 002
242 795 145
571 740 919
Em %
1,4
3,7
5,0
7,0
20,3
10,4
9,7
42,5
100,0
Fonte: Adaptado de ESTATÍSTICAS do meio rural 2010-2011. Brasília: MDA/Dieese/Nead, 2011. p. 30.

Segundo o IBGE, um dos potencializadores da estrutura fundiária com as características indicadas anteriormente é
a produção de grãos (soja, milho, etc.) em grande escala, além da expansão da lavoura mecanizada do algodão e da

incorporação de áreas em direção à fronteira agropecuária ao norte de Mato Grosso.
Ainda de acordo com o órgão oficial, a monocultura da soja ou do binômio soja-milho, além da do algodão, “fez por
reforçar a desigualdade que marcava a propriedade da terra em uma região historicamente ocupada por uma pecuária
ultraextensiva”.
Na visão de diversos especialistas, a concentração de terras verificada pelo IBGE também reflete processos
ligados diretamente à entrada de capital estrangeiro no meio rural, como: expansão dos agrocombustíveis, em
especial do etanol; corrida de capitais na compra de terras em países em desenvolvimento com potencial
agrícola; e formação do chamado “mercado de carbono”, de certo modo, ligado a investimentos com expectativa
de especulação.

Texto & contexto
1. Com base na tabela acima, elabore um pequeno texto sobre a realidade fundiária no Brasil.
2. Explique a relação entre a monocultura da soja (ou do binômio soja-milho) e do algodão e a concentração de terras no
Brasil.
Concentração de terra, movimentos sociais e êxodo rural
A acentuada distorção fundiária no Brasil ocasiona sérios problemas. Por mais que se esforcem, os pequenos
produtores, em geral, não conseguem rendimentos significativos. Além de não dispor de área suficiente para a
produção em larga escala, eles não têm recursos para adquirir máquinas e outros insumos modernos que lhes
permitiriam maior produtividade e, consequentemente, maior renda. Considerando que grande parte da mão de obra
rural está ocupada nas pequenas propriedades, é possível entender:
▸ as precárias condições de vida de considerável parcela da população do campo, cuja pobreza foi fator
preponderante no forte êxodo rural, principalmente nas décadas de 1970 e 1980;
▸ a venda de terras por parte dos pequenos proprietários para os produtores maiores ou para as grandes empresas,
o que significa reaglutinação imobiliária e, consequentemente, maior concentração fundiária.
A reaglutinação de pequenas propriedades é um dos fatores responsáveis pelo advento e pela multiplicação do
agricultor sem terra. Paralelamente à mecanização das propriedades maiores, com a consequente liberação de mão
de obra – também inerente à modernização agrícola e alimentadora do êxodo rural –, a reaglutinação dá origem a um
elevado número de pessoas sem a posse da terra, proporcionando o surgimento de movimentos sociais organizados.
Diante dessa realidade, aumentam as pressões pela redistribuição fundiária, que deve ser feita à custa de
desapropriações de terras, ao lado da ocupação de áreas devolutas.

Brasil: evolução do número de famílias assentadas (1995-2010)
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de ESTATÍSTICAS do meio rural 2010-2011. Brasília: MDA/Dieese/Nead, 2011. p. 159.

Pela Constituição, promulgada em 1988, só podem ser desapropriados pela União, para fins de reforma agrária, os
imóveis que não cumprirem sua função social. Conforme a Carta Magna, a função social da propriedade é cumprida
quando esta é aproveitada de modo racional e adequado; os recursos naturais são devidamente utilizados; o meio
ambiente é preservado; as leis trabalhistas são cumpridas e a terra é explorada para favorecer o bem-estar dos
proprietários e dos trabalhadores. Além disso, um imóvel só pode ser desapropriado se estiver classificado como
grande propriedade e desde que não seja produtivo – não se considera apenas a dimensão do imóvel, mas também
as condições naturais e potenciais para seu aproveitamento.
A classificação de uma propriedade em produtiva ou não produtiva, excluindo-a ou tornando-a legalmente passível
de desapropriação, dá origem a discussões, até mesmo na Justiça. A possibilidade de questionar em juízo a
classificação feita pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) permite a muitos latifundiários que
evitem ou retardem a desapropriação de suas terras.

Apesar disso e das resistências políticas da chamada classe ruralista, a reforma agrária tem avançado, embora timidamente,
ganhando mais visibilidade quando aumentam as pressões reivindicatórias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST), principalmente por meio da ocupação de terras desapropriáveis. Num cenário de luta pela posse da terra, não são raros os
eventos de violência.

Brasil: violência no campo contra a pessoa (2010)
Violência
Conflitos
Pessoas envolvidas em situações violentas

Assassinatos
Tentativas de assassinato
Mortos em consequência dos conflitos
Ameaçados de morte
Torturados
Agredidos fisicamente
Presos

Em números absolutos
1 186
559 401
34
55
19
125
4
90
88

Fonte: Adaptado de ESTATÍSTICAS do meio rural 2010-2011. Brasília: MDA/Dieese/Nead, 2011. p. 265.


Terra para Rose
Direção de Tetê Morais. Brasil: Sagres Filmes, 1987. 84 minutos.
O documentário mostra 1 500 famílias no Rio Grande do Sul que lutavam pelo acesso à terra na década de 1980, logo após o fim do regime militar
no Brasil. Retrata a jornada de várias mulheres – uma delas era Rose –,
além do papel de mobilização exercido pelo MST na luta pela terra.

A concentração de terras é um importante fator do êxodo rural, cujo apogeu ocorreu nos anos 1960-1970. Embora
seu ritmo tenha diminuído sensivelmente, na medida em que a população rural encolhia, a migração do campo para a
cidade permanece até hoje. Em 1996, a população rural era de 33,9 milhões de pessoas (22% do total); em 2006,
esse número caiu para 28,7 milhões, o que equivale a 15% da população.
A distorção fundiária e os problemas a ela ligados exigem, há muito tempo, mudanças que possam estimular o
crescimento da produtividade e da produção primária, facilitar o aumento da renda da população rural e propiciar o
bem-estar social no campo. Faz-se necessária, enfim, uma reforma agrária que garanta assistência técnica ao
produtor rural, crédito bancário para a aquisição de insumos, facilidade de estocagem e transporte do produto,
ensino rural, assistência médica ao agricultor, entre outras medidas.
Especialmente no caso brasileiro, espera-se que a reforma agrária resulte em uma redistribuição fundiária,
diminuindo a ociosidade de muitas grandes propriedades e, fundamentalmente, permitindo o acesso à terra a quem
nela quiser trabalhar.
< imagem >
FO T O A R E N A / V E E T M A N O P R E M
O MST foi criado em 1984 com o objetivo de organizar a luta pela terra e pela reforma agrária. Ao mesmo tempo que recebe apoio de diversos setores
da sociedade, o movimento também recebe críticas. Na foto, protesto do MST em Recife (PE), 2014.

Texto & contexto
1. Explique um dos fatores que, associados à distorção fundiária do Brasil, causam dificuldades aos pequenos proprietários rurais.
2. Com base na tabela acima, escreva um comentário sobre os movimentos de ocupação de terras no Brasil.
3. A realização de uma reforma agrária deve resultar, principalmente, numa redistribuição fundiária. Que outros resultados
podem ser esperados?

Tipos de propriedades rurais
Em 1970, foi criado o Incra, entidade que, desde 2000, está vinculada ao Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA). Ao Incra, cabe classificar e cadastrar os imóveis rurais do país, como procedimento essencial
para a pretendida reforma agrária. Essa classificação é feita com base no módulo rural, que, de acordo com o
Estatuto da Terra (Lei n
o
4.504, de 30 de novembro de 1964), pode ser entendido como a área suficiente para
garantir ao trabalhador e à sua família (média de quatro pessoas) o rendimento mínimo necessário para a
sobrevivência e o progresso econômico e social. A extensão do módulo rural varia conforme a localização do

imóvel, as condições naturais da região e o tipo de produto cultivado. Assim, uma zona hortigranjeira próxima a
uma grande cidade terá um módulo rural muito menor do que uma zona de pecuária extensiva ou de exploração
florestal na Amazônia, por exemplo, onde a grande propriedade realmente é necessária.
Os imóveis rurais são classificados em:
▸ Minifúndio – classificação dada a uma extensão de terra inferior a um módulo rural, antieconômica, portanto, e que
necessita de reanexação. Grande parte dos estabelecimentos rurais brasileiros está nessa categoria,
principalmente nas regiões Sul e Nordeste.
▸ Latifúndio por dimensão – imóvel que tem mais de 600 vezes o módulo rural da região, independentemente de seu
uso. Em geral, é um estabelecimento agroindustrial que pertence a uma grande empresa e cuja produção está
voltada, pelo menos em parte, à exportação.
▸ Latifúndio por exploração – propriedade (com mais de uma vez e menos de 600 vezes o módulo regional)
▸ explorada de modo inconveniente e que apresenta problemas de ordem econômica ou social. É o imóvel mais
improdutivo e geralmente voltado à especulação imobiliária.
▸ Empresa rural – propriedade que tem de uma a 600 vezes o módulo rural da região; é explorada adequadamente
e apresenta bons resultados econômicos e respeito à legislação. É a categoria dominante entre as propriedades
médias, geralmente dedicadas à produção de matéria-prima para abastecer agroindústrias (de soja, cana, laranja,
entre outras).
Com base nessa classificação, são realizados periodicamente cadastramentos e recadastramentos dos imóveis
rurais no Brasil. Diante das dificuldades de aferição e das discussões que envolvem os índices de produtividade, o
Incra tem usado o módulo fiscal como referência para classificar as propriedades rurais e mapear as áreas passíveis
de reforma agrária.
Trabalho no campo
Em decorrência da modernização agrícola e do avanço do capitalismo no campo, ocorreu no Brasil uma
considerável mudança nas relações de produção, isto é, na condição do produtor rural. Em 1985, a força de trabalho
agrícola (pessoal ocupado) totalizava 23,3 milhões de pessoas. Dez anos depois, esse número diminuiu para 17,9
milhões, ou seja, 23% da população ativa do país. Em 2006, o Censo Agropecuário registrou 18,9% da população
ativa ocupada em estabelecimentos rurais. Nos dias atuais, evidências sinalizam uma porcentagem ainda menor.
No Brasil, o pessoal ocupado em atividades agrícolas mantém vários tipos de relação de trabalho. Veja a tabela a
seguir.




Brasil: distribuição dos ocupados em atividades agrícolas por posição na ocupação, em 2006 (em %)
Posição na ocupação
Empregado permanente
Empregado temporário
Conta própria
Empregador
Trabalhador não remunerado
Trabalhador na produção para o próprio consumo
Total (em 1 000 pessoas)

Norte
8,7
12,5
29,6
3,0
22,5
23,7

1511

Nordeste
9,3
14,6
28,0
2,3
23,5
22,3
7918

Sudeste
25,9
19,1
16,2
3,7
11,0
24,1
3708

Sul
9,6
5,7
28,4
3,5
26,9
25,9
3076

Centro-Oeste
27,1
12,6
22,0
4,9
11,4
22,0
1051

Brasil
14,0
13,7
25,3
3,0
20,6
23,4
17264
Fonte: Adaptado de ESTATÍSTICAS do meio rural 2008. Brasília: MDA/Dieese, 2008.

No que se refere às relações de trabalho no campo, as principais modalidades são o trabalho familiar e o trabalho
assalariado.
Além de contar com a mão de obra familiar, pequenos e, principalmente, médios proprietários contratam um ou
mais empregados, conforme a necessidade ou para alguma tarefa específica, como a colheita.

Agricultura familiar
Vinculado à elevada proporção de minifúndios e pequenas propriedades entre os imóveis rurais, há predomínio do
trabalho familiar na agricultura brasileira, ou seja, emprego dos membros da família nas lidas do campo. Em um
contexto de tendência à redução de pessoas ocupadas na agropecuária, a agricultura familiar, devido a suas
características, tem sido capaz de reter um maior número de ocupações do que a agricultura não familiar.
Com efeito, o percentual de pessoal ocupado na agricultura familiar é quase três vezes o percentual de pessoal
ocupado nas atividades agrícolas não familiares. Os dados do Censo Agropecuário 2006 também revelam uma
estrutura agrária fortemente concentrada, como se pode ver no gráfico abaixo: apesar de representarem apenas
15,6% do número de estabelecimentos, as unidades não familiares perfaziam 75,7% da área total dos
estabelecimentos.

Brasil: distribuição dos estabelecimentos e da área da agricultura familiar e não familiar (2006)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de ESTATÍSTICAS do meio rural 2010-2011. Brasília: MDA/Dieese/Nead, 2011. p. 182.


No Brasil, há grandes contrastes entre as propriedades exploradas pelo trabalho familiar. No cinturão verde das
grandes cidades e em algumas áreas agroindustriais, como a da laranja, no noroeste de São Paulo, há famílias que
obtêm bons índices de produtividade e apreciáveis rendimentos, desfrutando de boas condições de vida. Por outro
lado, em propriedades onde a família pratica uma agricultura extensiva, de subsistência, não é raro os baixos
rendimentos implicarem precárias condições de vida. É o caso de muitos minifúndios explorados por famílias, cujos
membros são obrigados, por vezes, a complementar a renda com outra atividade, como o trabalho temporário em
alguma grande agroindústria.
Vale destacar que o incentivo à agricultura familiar deve fazer parte de um programa sério de desenvolvimento
agrário para o país. Apesar de cultivar uma área menor, a agricultura familiar é a principal fornecedora de alimentos
básicos para a população brasileira.
Observe o gráfico a seguir.

Brasil: agricultura familiar e produção de alimentos (2006)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de AGRICULTURA f amiliar no Brasil e o Censo Agropecuário 2006. Brasília: MDA, 2009.

Além da importante função de produtora de alimentos, a agricultura familiar é uma forma de fixar o pequeno agricultor
no campo. Desse modo, evita-se engrossar ainda mais os cinturões de pobreza das grandes e médias cidades e aumentar
a legião de desempregados e subempregados urbanos. Segundo pesquisas, o fluxo em direção às cidades está articulado
com o declínio das propriedades que têm tamanho inferior a 10 hectares, a chamada miniagricultura familiar, sobretudo
nas regiões Norte e Nordeste.
Outra forma de melhorar o desempenho e as condições de vida das pequenas propriedades familiares é estimular a

formação de cooperativas. Por meio delas, tem sido possível a compra conjunta de implementos agrícolas e o
estabelecimento de pequenas agroindústrias, capazes de constituir fontes complementares de renda.

Texto & contexto
1. A classificação dos imóveis rurais é feita com base no módulo rural, definido em lei (Estatuto da Terra). Quais são os tipos de
imóvel rural existentes no Brasil?
2. Com base no gráfico “Brasil: agricultura familiar e produção de alimentos”, comente a afirmação: “A agricultura familiar é a
principal fornecedora de alimentos básicos para a população brasileira”.

Trabalho assalariado no campo e precariedade
O salariado é a relação de trabalho típica do capitalismo, por meio da qual o trabalhador vende sua mão de obra
em troca de um salário. Sua presença tem aumentado na agropecuária brasileira à medida que ocorre a
modernização agrícola no país.
O trabalho assalariado tem destaque na porção industrializada do campo, o Centro-‑Sul. Nesse grande espaço
regional, notadamente no Sudeste, é expressiva a presença de modernas empresas, geralmente agroindústrias, cujo
trabalhador é um proletário rural, mesmo que resida em um bairro de uma cidade próxima.
No conjunto do país, contudo, o trabalho assalariado rural é minoritário em comparação ao trabalho familiar,
embora tenha aumentado nas últimas décadas.
A modernização agrícola não só implica a expansão das empresas rurais, com o avanço do salariado, mas
representa também mecanização da agroindústria, o que, por sua vez, significa redução de postos de trabalho.
Em São Paulo, a proibição da queimada da cana, indispensável para a realização da colheita manual, abriu
caminho para a substituição do trabalhador pela máquina colheitadeira, contribuindo para o desemprego rural.
Muitos trabalhadores agrícolas desempregados buscam a sobrevivência em algum
subemprego urbano ou mesmo rural. Outros, porém, são impelidos ao trabalho temporário.
Trabalho temporário
A tendência à monocultura em muitas áreas do Brasil acentua a sazonalidade do trabalho agrícola, pois não há
colheita em todas as épocas do ano. Ao mesmo tempo, os encargos financeiros da relação de emprego imputados
ao empresário rural, justamente quando ele precisa baratear custos para oferecer seu produto no mercado pelo
menor preço, contribuem para o incremento do trabalho temporário, geralmente sazonal.
Por sua vez, as difíceis condições de vida de grande parte da população ocupada nos minifúndios e pequenas
propriedades, aliadas ao desemprego no campo, em consequência da reaglutinação fundiária e da mecanização
agrícola, criam uma oferta de mão de obra barata, visto que é abundante e de baixa qualificação.
Assim, a modernização do campo trouxe consigo, especialmente no Sudeste, a expansão do trabalho temporário,
em parte informal, porque é sem carteira assinada. Os trabalhadores são diaristas, isto é, recebem por dia, e têm
serviço apenas em determinada época do ano. Geralmente sem vínculo com a empresa onde estão exercendo sua
atividade, são intermediados por um empreiteiro de mão de obra, o chamado “gato”, que lhes fornece o transporte.
Ao final da longa jornada de trabalho, voltam para casa, na periferia de uma cidade de interior ou em uma pequena
propriedade familiar.
Trata-se de uma mão de obra ocupada especialmente pela agroindústria da cana, da laranja, do café e do
algodão, e o período de trabalho coincide com a época de corte, colheita ou plantio. Ao fim da temporada de
ocupação, os trabalhadores ficam desempregados ou envolvidos em algum subemprego urbano ou na pequena
propriedade familiar que possuem. Se nada têm, muitas vezes, tornam-se “volantes”, ou seja, passam a se deslocar
periodicamente de um lugar para outro em busca de trabalho.
Pesquisas do IBGE e do Incra estimam em cerca de 30% a porcentagem da mão de obra agrícola que exerce
trabalho temporário.
< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / D E L F I M M A R T I N S
T rabalhadores rurais cortando cana em T eresina (PI), 2015.

Trabalho informal
Cerca de dois terços dos ocupados em atividades agrícolas no Brasil não têm carteira profissional assinada. Trata-
se de trabalhadores informais, permanentes ou temporários, que exercem suas atividades sem o amparo da
legislação trabalhista e previdenciária. Esse grave problema social e econômico é mais acentuado nas regiões Norte

e Nordeste, como se pode ver no gráfico a seguir.

Brasil: distribuição dos empregados em atividades agrícolas segundo registro em carteira de trabalho (2006)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de ESTATÍSTICAS do meio rural 2008. Brasília: MDA/Dieese, 2008.

Executado à margem da lei, frequentemente em estabelecimentos bem interiorizados, o trabalho informal costuma
escapar da fiscalização dos órgãos competentes, facilitando, assim, a exploração de uma mão de obra
tradicionalmente mal paga. Os abusos patronais mais comuns são a dilatação da jornada de trabalho, que pode ser
de 10 e até de 12 horas, e a ausência de repouso semanal remunerado.
A insuficiente fiscalização governamental, a inoperância do sistema sindical, a frouxidão da legislação penal, a
ignorância dos trabalhadores e a falta de escrúpulos dos patrões favorecem a permanência de trabalhos precários e
desumanos no campo. Não raro, ocorrem denúncias da existência de trabalhadores submetidos a situações laborais
semelhantes às de escravidão, em propriedades rurais localizadas geralmente em zonas de expansão da fronteira
agrícola do país.

Texto & contexto
1. O que a modernização do campo tem a ver com a expansão do trabalho temporário e, muitas vezes, informal?
2. Você conhece algum trabalhador rural? Ele tem carteira de trabalho?
3. Qual é a forma de trabalho no campo mais comum no município onde você vive?
4. Quais são as três regiões do Brasil com maior porcentagem de empregados rurais com carteira assinada?
5. O trabalho informal no campo é um grave problema social e econômico do Brasil. Explique essa afirmação.

Arrendatários e parceiros
O arrendamento é um contrato de aluguel, por meio do qual o dono da terra a cede a quem pretende explorá-la – o
arrendatário –, por tempo determinado e mediante o pagamento de quantia fixa, seja com dinheiro, seja com parte da
produção obtida. Essa forma de exploração agrícola está disseminada pelo Centro-Sul do país, destacando-se na
lavoura de arroz, no Rio Grande do Sul. Na parte meridional desse estado, a rizicultura é uma atividade moderna,
praticada nas baixadas e nos vales dos rios, predominantemente por arrendatários que usam terras menosprezadas
pelos fazendeiros. Já na parceria, não há quantia fixa a ser paga, e a produção é dividida entre o produtor ou parceiro
e o dono da terra, conforme a proporção estabelecida em contrato escrito ou verbal.
É difícil precisar a porcentagem de arrendatários e parceiros na agropecuária brasileira, sobretudo, porque muitos
deles são também pequenos proprietários. Apesar disso, de acordo com dados do Censo Agropecuário 2006, estima-
se que eles representam 8% do total de produtores rurais do país.
A geografia das lutas no campo
Ariovaldo Umbelino de Oliveira. São Paulo: Contexto, 1997.
Apresenta os mais importantes conflitos ligados à terra, desde a chegada dos portugueses ao território que hoje compreende o Brasil até a
formação das ligas camponesas do Nordeste e as lutas pela terra no Paraná.

Posseiros e grileiros
Diante da disponibilidade de terras desocupadas no interior do país, geralmente devolutas, isto é, pertencentes ao
poder público, muitos agricultores, sem ter onde trabalhar, ocupam ou tomam posse de pequenas áreas, tornando-
se, assim, posseiros. Segundo estimativas oficiais, cerca de 15% dos imóveis rurais do país estão em mãos de
posseiros, que aparecem nas imprecisas estatísticas com a denominação de ocupantes.
Depois de algum tempo, quando as terras se valorizaram pela utilização produtiva ou, mais frequentemente,
pelo avanço da fronteira agrícola do país, grandes fazendeiros da região passam a cobiçá-las. Esses fazendeiros,
muitas vezes, moram na cidade e administram seus imóveis rurais a distância.
Munidos de escritura de propriedade, comumente falsa ou obtida por meios fraudulentos, os esbulhadores do
alheio procuram apossar-se da terra dos posseiros, desalojando-os por intimidação ou força. Para isso, valem-se
de homens armados de sua confiança, conhecidos como jagunços, ou mesmo de pistoleiros contratados.
< imagem >
FU T U R A PR E S S / J. SO B R I N H O MA R A B A
Protesto em frente ao fórum de Marabá (PA), em 2013, durante o julgamento dos acusados de assassinar extrativistas que denunciavam a extração ilegal

de madeira e a grilagem de terra no assentamento onde viviam.


O processo de desapossamento de terras em benefício próprio chama-se grilagem, e seus responsáveis são os
grileiros. A grilagem é mais frequente na faixa setentrional do Centro-Oeste e na região Norte, na franja pioneira da
expansão agropastoril do espaço nacional. Ela ocorre também em terras indígenas e de quilombolas, que, há mais de
um século, vivem em locais herdados de seus antepassados.
Nos últimos anos, ajudados por entidades de defesa de direitos humanos, os posseiros esboçam alguma
organização para lutar por seus interesses, engrossando conflitos que se traduzem por atos de violência, com a
ocorrência de mortes. No sul do Pará, por exemplo, há áreas de tensão permanente que envolvem a disputa por
terras: de um lado, poderosos grileiros e seus asseclas e, de outro, pequenos agricultores, que vivem do que
produzem nos lotes que ocupam.

Esbulhadores: aqueles que se apropriam de terras de forma ilegal, violenta e por meio de fraude.
Asseclas: partidários, membros do mesmo grupo.


Conexões
Você sabe de onde vem a carne que está no seu prato? A carne que você compra está destruindo a Amazônia?
Uma complexa cadeia produtiva envolve a pecuária no Brasil. A leitura do texto a seguir vai ampliar seu
conhecimento sobre esse tema.

Amazônia em brasa?
Nas últimas décadas, mais de 750 mil quilômetros quadrados da floresta Amazônica brasileira foram destruídos.
Aproximadamente 60% desta área virou pasto para gado. Esta tendência não tem apenas impactos nas mudanças
climáticas, mas também está associada a crimes e violações de direitos humanos. Entretanto, quando os consumidores
brasileiros vão ao supermercado escolher a carne para o fim de semana, mal sabem que o produto pode estar
associado ao desmatamento, trabalho escravo ou invasão de terras indígenas. Afinal, existem frigoríficos
comprometidos com o Desmatamento Zero. Mas você saberia dizer se a carne que você consome está contribuindo
com isso? Em outras palavras, o desmatamento está no seu prato?
A pecuária extensiva ainda é a maior responsável pela derrubada de floresta na Amazônia brasileira. Em 2013,
esta atividade foi responsável por 62% do total de gases do efeito estufa emitidos pelo Brasil, enquanto contribuiu
com apenas 5,4% do PIB do país entre 2010 e 2013.
Para piorar, o meio ambiente não é o único afetado pelo desmatamento – que poderia ser evitado se a produção
de gado usasse as áreas já abertas. O desenfreado uso de trabalho escravo e a ocupação ilegal de terras (como a
apropriação indevida de terras indígenas) andam lado a lado com a devastação ambiental. A escala de
desmatamento e a alta incidência de miséria humana, ligadas à criação de gado na Amazônia, tornaram-se uma
preocupação central para o Greenpeace, para outras ONGs, movimentos sociais e para algumas companhias
privadas, que estão se conscientizando sobre os riscos associados a esta cadeia de produção.
Mas, enquanto há uma grande variedade de estratégias que estão colaborando para o declínio do desmatamento
durante a última década, muitas empresas da indústria de carne no Brasil ainda contribuem (direta ou indiretamente)
com a devastação. A maioria dos frigoríficos ainda não se comprometeu com o Desmatamento Zero e não tem um
sistema confiável para o monitoramento das fazendas que lhe fornecem gado. Ainda é “mais barato” desmatar novas
áreas do que reabilitar áreas já degradadas para a pecuária. [...]
Um dos principais fatores que fazem da devastação da Amazônia uma realidade é que os maiores compradores de
produtos bovinos não estão exigindo de seus fornecedores que produzam carne livre de desmatamento. Tudo
começa ainda na fazenda, onde violações ambientais e sociais podem ocorrer. Frigoríficos compram gado
diretamente dessas fazendas ou de algum intermediário. E é dali que a carne vai parar nas prateleiras dos
supermercados, antes de chegar à sua mesa.
GREENPEACE. Amazônia em brasa? Disponív el em: <http://carneaomolhomadeira.org.br/docs/
relatorio_greenpeace_carne_ao_molho_madeira_n ov 2015.pdf>. Acesso em: 29 dez. 2015.

< imagem >
GL O W I M A G E S / N E W S C O M / K RT
A abertura de pastagens na Amazônia é responsável por grande parte do desmatamento na região. Na foto, pecuária extensiva próximo a Apiaú,
município de Mucajaí (RR), em 2014.

Responda no caderno
1. A devastação da Amazônia está associada a diversos fatores. Com base no texto, explique uma das principais causas desse
problema.
2. O que o projeto de lei Desmatamento Zero institui?
Responda no caderno


Pensando bem

1. O trecho a seguir faz parte de uma reportagem sobre o cacau produzido no sul da Bahia. Leia-o com atenção e, em seguida,
responda às questões.

Fruto do mato
São as manhãs úmidas os momentos que o agricultor José Antônio dos Santos, 65, acha mais graciosos para
caminhar sob as florestas de cacau. [...]
A sombra das roças ainda é um alento a seu José, homem que cresceu, se casou, teve filhos e netos, dedicando a vida
ao fruto de origem amazônica. Por causa do trabalho puxado, não seguiu adiante com os estudos. Deu um basta aos
livros ainda precoce, na segunda série. Costurou a vida, então, sempre trilhando os caminhos do cacau.
Segue colhendo e mostrando frutos a turistas na fazenda Yrerê. Situado entre Ilhéus e Itabuna, no sul da Bahia, o
espaço aposta no turismo como estratégia de sobrevivência, prática esta que vem se alastrando por outras
propriedades.
Na Yrerê, seu José também é meeiro, como são chamados os parceiros agrícolas, num tipo de associação tão
comum que passou a ser largamente adotado após a escalada do fungo chamado vassoura-de-bruxa, gerando um
novo paradigma para a cultura do cacau.
A partir de 1989, a praga devastou a produção. Apesar dos solavancos enfrentados pela “bruxa má”, a região
continua sendo a principal fornecedora de cacau do Brasil. [...]
O fruto se adaptou muito bem ao clima quente e úmido da região. Ilhéus mantém-se à frente como polo regional.
Foi lá que se deu, do fim do século 19 às primeiras décadas do século 20, o período de constituição da economia
cacaueira, sendo que o apogeu do cultivo e do comércio ocorreu durante a chamada República Velha (1889-1930).
Nesse período de riquezas, a cidade prosperou. Dominada por coronéis e sua política escravocrata, a zona cacaueira
assistiu à explosão da riqueza e ao intercâmbio econômico e cultural com estrangeiros, seguidos por confrontos
sangrentos pela posse da terra, até culminar num declínio cruel e generalizado.
Fungo que ataca especialmente frutos e brotos, a vassoura dizimou a produção – em 1990, caiu de 400 mil para
100 mil toneladas, gerando dívidas impagáveis e levando agricultores à falência. [...]
Numa cultura de métodos arcaicos e tradicionalmente masculina, as mulheres vêm ganhando espaço, ainda que
em decorrências das vicissitudes. As lavradoras costumavam entrar em cena só na hora da bandeirada, ou seja, para
juntar em montes o fruto espalhado durante a colheita.
Hoje, aos 46 anos de vida, a fazendeira Sara Netto Mello rompe com esse protocolo histórico: é ela quem
comanda, com mãos delicadas e pulso firme, a produção de cacau da fazenda São Rafael, na pequenina Nova Ibiá.
[...]
A São Rafael também ambiciona seguir as pegadas do turismo. Para diversificar sua oferta de produtos, a aposta
inclui ainda o cacau gourmet. Desde a colheita manual até a secagem das sementes, o processo de produção do
gourmet visa maximizar o afloramento de notas de sabores nas amêndoas.
Em meio às tentativas de sobrevivência, as florestas de cacau continuam a manchar de verde as margens das
rodovias que cortam o sul baiano. A gente olha e parece mato puro, mas o que aquela imensidão esconde é o “cacau
cabruca”, um sistema de plantio sob a sombra de espécies da mata atlântica, como pau-brasil, jequitibá e jacarandá.
“Cabruca” é uma corruptela de “cabrocar”, ou seja, furar, retirar, abrir. As árvores menores foram cortadas para o
plantio, preservando as maiores, donas do sombreamento. Esse sistema é usado na região há mais de dois séculos,
segundo Durval Libânio, 42, presidente do Instituo Cabruca, ONG que trabalha com projetos de sustentabilidade.
Pela ótica da biodiversidade, ele aposta em alternativas aos agricultores, apoiadas no convívio entre produção,
conservação de árvores e o desenvolvimento do turismo em bases comunitárias. Naquelas florestas, há bichos como
macaco, capivara, paca e tatu, somados a uma diversidade colorida de pássaros. [...]
OLIVEIRA, Roberto de. Fruto do mato. Serafina, São Paulo, p. 44-49, set. 2015.
Disponív el em: <http://arte.folha.uol.com.br/serafina/2015/08/30/fruto-do-mato>. Acesso em: 16 dez. 2015.

a) O agricultor José Antônio dos Santos é meeiro. O que isso significa?
b) O que culminou no declínio do cacau em 1990?
c) O que é “cabruca”? Qual é a sua importância?
d) Que atividade econômica é realizada em conjunto com a agricultura?

2. Observe a charge abaixo.
< imagem >
FO L H A P R E S S / J E A N GAL V ÃO
Charge do artista Jean Galvão, publicada em 2000.

a) A charge remete a um dos assuntos tratados no capítulo. Que assunto é esse?
b) Selecione um parágrafo deste capítulo para explicar a situação representada na charge. Escreva também um pequeno texto
justificando sua escolha.


3. Enem (2010) O gráfico representa a relação entre o tamanho e a totalidade dos imóveis rurais no Brasil. Que característica da
estrutura fundiária brasileira está evidenciada no gráfico apresentado?
a) A concentração de terras nas mãos de poucos.
b) A existência de poucas terras agricultáveis.
c) O domínio territorial dos minifúndios.
d) A primazia da agricultura familiar.
e) A debilidade dos plantations modernos.
< imagem >
E NE M / R E P R O D U Ç Ã O
Fonte: INCRA, Estatísticas cadastrais 1998.

4. Enem (2011) No estado de São Paulo, a mecanização da colheita da cana-de-açúcar tem sido induzida também pela legislação
ambiental, que proíbe a realização de queimadas em áreas próximas aos centros urbanos.
Na região de Ribeirão Preto, principal polo sucroalcooleiro do país, a mecanização da colheita já é realizada em 516 mil dos
1,3 milhão de hectares cultivados com cana-de-açúcar.
BALSADI, O. et al. Transf ormações tecnológicas e a f orça de trabalho na agricultura brasileira no
período de 1990-2000. Revista de Economia Agrícola. v . 49 (1), 2002.
O texto aborda duas questões, uma ambiental e outra socioeconômica, que integram o processo de modernização da
produção canavieira. Em torno da associação entre elas, uma mudança decorrente desse processo é a
a) perda de nutrientes do solo devido à utilização constante de máquinas.
b) eficiência e racionalidade no plantio, com maior produtividade na colheita.
c) ampliação da oferta de empregos nesse tipo de ambiente produtivo.
d) menor compactação do solo pelo uso de maquinário agrícola de porte.
e) poluição do ar pelo consumo de combustíveis fósseis pelas máquinas.

Desafios & debates
Em grupo
O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), em Belém, monitora o desmatamento na Amazônia
há mais de 20 anos. Um levantamento divulgado em 2015 revelou que foram derrubados 1 700 quilômetros
quadrados de floresta nativa entre agosto de 2014 e fevereiro do ano seguinte. A área desmatada é maior do que a
cidade de São Paulo. Segundo o Imazon, quase metade do desmatamento ocorreu em áreas particulares, onde a
floresta veio abaixo para a expansão da pecuária.
Refletir sobre a cadeia produtiva da pecuária na Amazônia é o objetivo desta seção. A ideia é ajudá-los a
compreender como essa atividade econômica está ligada ao desmatamento do bioma e a identificar possíveis
medidas para interromper os processos destrutivos.

1. Analisem o gráfico a seguir e exponham as conclusões do grupo a toda a turma.
Evolução da pecuária nos estados da Amazônia (1987-2013)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Disponív el em: <http://csr.ufmg.br/pecuaria/portfolio-item/historico-3/>. Acesso em: 29 dez. 2015.

2. Após a análise do gráfico, façam o que se pede.
1º)
Pesquisem, na internet, em jornais, livros e revistas, materiais que retratem a relação entre a pecuária na Amazônia e o
desmatamento.
2º)
Anotem as informações que mais chamaram a atenção do grupo e elaborem cinco frases de impacto sobre o tema. Por
exemplo: Destruição de florestas não é sinônimo de desenvolvimento.
3º)
Reúnam as frases escritas por todos os grupos e, sob a supervisão do professor, selecionem as cinco melhores.
4º)
Divulguem as frases por meio de cartazes elaborados pelo grupo, expondo-os nas dependências da escola, e/ou por meio do
jornal escolar.
Em debate
Observem atentamente o gráfico a seguir.

Número de cabeças nos estados da Amazônia (2013)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Disponív el em: <http://csr.ufmg.br/pecuaria/portfolio-item/historico-3/>. Acesso em: 29 dez. 2015.

Como a pecuária na Amazônia está ligada ao desmatamento, ao trabalho escravo e à invasão de terras indígenas?

capítulo
9
Espaço industrial brasileiro e matriz energética

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / P A U L O FRI D M A N
Linha de produção em fábrica de motores em Camaçari (BA). Foto de 2015.

Indústria é uma atividade econômica que consiste em transformar matérias--primas (naturais ou não) em
produtos comercializáveis.
Ao estudar o desenvolvimento da indústria como a conhecemos na atualidade, é importante relembrar o processo de
transição do artesanato e da manufatura para o sistema fabril.
Na Inglaterra, o sistema fabril foi gerado a partir da evolução do chamado artesanato capitalista, em que os
operários ficavam dispersos em várias unidades de produção e recebiam as matérias-primas de um empresário
capitalista, que, por sua vez, recebia de volta as matérias-primas manufaturadas e fazia a venda dos produtos.
No Brasil, a evolução teve início a partir da estrutura produtiva desenvolvida nos engenhos de açúcar do século
XVI, sobretudo no litoral do Nordeste. Porém a indústria moderna, que teve início no Brasil no final do século XIX, foi
estruturada tendo o vapor como fonte básica de energia e, depois, a eletricidade. Seu desenvolvimento não se deveu
apenas à importação de máquinas. As máquinas utilizadas no Brasil foram importadas da Europa, mas, em certos
locais do país, já havia uma base eficiente para sua utilização, no sentido de organizar o trabalho, aumentar a
produtividade e maximizar a acumulação de capital.
As primeiras indústrias instaladas no Brasil foram as de bens de consumo não duráveis (alimentícias e têxteis). As
indústrias têxteis, principalmente, contribuíram para criar novas formas de organização do trabalho por meio de outros
mecanismos de controle e disciplina.
Café e indústria

A economia agroexportadora cafeeira teve contribuição decisiva na geração do capital necessário para impulsionar
o processo de industrialização no Brasil.
Os recursos econômicos para fazer avançar a instalação das primeiras fábricas no século XX, sobretudo a partir
da década de 1930, foram gerados principalmente pela economia cafeeira e sua crescente expansão no estado de
São Paulo. A transição do trabalho escravo para o trabalho livre, especialmente do imigrante, também foi fator
decisivo para o surgimento das primeiras fábricas.
O trabalho livre, do ponto de vista dos empresários ligados ao setor cafeeiro, passou a ser vantajoso, pois não era
mais necessário despender grande quantidade de dinheiro para adquirir escravizados. Além disso, muitos
empresários continuaram a se beneficiar da exploração do trabalho, porque os imigrantes não recebiam salários
integralmente em dinheiro, como ocorria nas relações de produção capitalistas. Eles recebiam um pagamento fixo
pelo trato do cafezal e uma parcela proporcional à quantidade de café colhida, além de poderem produzir para sua
subsistência nas terras do proprietário. Contudo, o mais importante era que o trabalho dos imigrantes era familiar – e
não individual – e isso significava que o dono da fazenda cafeeira tinha à sua disposição toda a família como força de
trabalho.
Outro aspecto a ser destacado é que, em virtude da abolição da escravidão em território brasileiro, ampliou-se o
número de consumidores, ainda que de modo limitado, e as novas formas de organização do trabalho
possibilitaram grande acúmulo de capital.
O estado de São Paulo, mais precisamente sua capital, foram por muito tempo a localização ideal para a
instalação das primeiras fábricas no Brasil. Além do dinheiro gerado pelo comércio do café, da presença de
estradas de ferro e do porto de Santos, nas terras paulistas havia mão de obra de muitos imigrantes, vindos de
diferentes países. No final do século XIX, a população paulistana crescia muito e aumentava a procura por
alimentos, roupas e outros produtos.


< imagem >
FU ND A Ç Ã O GE T Ú L I O VA R G A S ‒ CP D O C / L I N D O L F O COL L O R
Para instalar as primeiras fábricas, os novos empresários industriais aproveitaram a experiência das muitas oficinas paulistas que já produziam máquinas
agrícolas, peças de reposição para trens, sacos para embalar e transportar café e outros produtos que atendiam ao setor agrícola. Na foto, fábrica de tecidos de
juta em São Paulo (SP), em 1931.

Texto & contexto
1. Na Inglaterra, o sistema fabril evoluiu a partir do artesanato capitalista. E, no Brasil, como se deu essa evolução?
2. A economia agroexportadora cafeeira teve contribuição decisiva no processo de industrialização do Brasil. Escreva um
pequeno texto para explicar a relação entre indústria e café, especialmente, a partir do início do século XX.
Papel do Estado
Desde o início da industrialização brasileira, a participação do Estado foi fundamental para a obtenção de capitais
necessários à instalação das primeiras fábricas.
Segundo vários autores, a Primeira Guerra Mundial e a Crise de 29 contribuíram para a ocorrência da
industrialização brasileira, visto que a desorganização econômica internacional favorecia a substituição das
importações pela fabricação de mercadorias nacionais. Porém, o crescimento industrial brasileiro, no início do século
XX, ocorreu antes da guerra. Muitas das fábricas que já existiam no país faliram durante a crise e foram adquiridas
posteriormente por outros capitalistas.
A partir da década de 1930, além das indústrias de bens não duráveis, instalaram-se, paulatinamente, indústrias
ligadas aos setores de bens de consumo duráveis, bens intermediários e bens de capital. Nessa fase do
desenvolvimento do capitalismo, o Estado passou a atuar como agente planejador da economia, formulando políticas
específicas para favorecer a instalação dos diferentes setores industriais e organizando o mercado de trabalho.
Ao longo das décadas de 1940 e 1950, os governos atuaram na implantação da infraestrutura necessária ao
avanço da industrialização. Isso ocorreu com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional e da Petrobras, a
organização da legislação trabalhista, etc.
Os bens industrializados, produzidos principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, difundiram-se por todo o país. A
competição desigual com as mercadorias fabricadas em outras regiões brasileiras resultou na predominância das
indústrias do Sudeste, que detinham tecnologia superior e produção em grande escala.
Com a industrialização, a agricultura brasileira também se transformou, pois a produção para exportação deixou de
dominar o setor a partir da ampliação da agricultura comercial direcionada para o mercado interno. A região Sul passou
a ser o que muitos chamaram de “celeiro agrícola”, cuja principal função era o abastecimento do Sudeste industrial. A
agropecuária do Centro-Oeste também conheceu grande desenvolvimento, ligando-se,

cada vez mais, ao mercado paulista. Com relação ao Nordeste, a região viu sua participação na agricultura nacional
declinar e, paralelamente, passou a fornecer mão de obra às cidades e fábricas do Sudeste por meio de conhecido
movimento migratório.
A economia nacional assumiu uma nítida orientação centro-periferia: o Sudeste passou a ser o núcleo econômico do
país; o Sul e o Nordeste firmaram-se como regiões periféricas; o Centro-Oeste e o Norte passaram a representar regiões
de expansão demográfica e agrícola.

Multinacionais e concentração industrial
A partir da década de 1950, a industrialização
expandiu-se principalmente na região Sudeste do Brasil, graças ao capital nacional, estatal e privado e aos
investimentos de empresas estrangeiras, sobretudo na produção de bens de consumo duráveis, como televisores,
eletrodomésticos e automóveis.
Vale destacar o governo do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961), lembrado pela famosa frase publicitária
“50 anos em 5”, em que a abertura do país aos investimentos industriais estrangeiros ganhou grande impulso. O
Plano de Metas, importante programa de industrialização e modernização desse período, tinha como foco a
implantação de um parque automobilístico. Para tanto, a tecnologia dos Estados Unidos e da Europa foi
transplantada diretamente no Brasil. Dessa forma, o modelo agroexportador, característico da economia brasileira, foi
deixado para trás e o país passou a ter uma economia urbano-industrial impulsionada pela presença das filiais de
grandes empresas multinacionais.
Com a internacionalização da economia, o capital produtivo a ser aplicado na instalação de indústrias foi atraído pela
existência de mão de obra barata; pela riqueza de matérias-primas e recursos minerais; por um mercado consumidor
em expansão; por programas rodoviários, energéticos e siderúrgicos; etc. Com a participação de empresas de capital
internacional, o Brasil pôde exportar mais produtos manufaturados do que matérias-primas.
Hoje, as multinacionais atuam no país em vários setores, como o mecânico, particularmente o automobilístico, o
químico e o eletroeletrônico. O crescimento industrial permitiu que o Brasil desenvolvesse um dos mais importantes
parques industriais da América Latina.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / P A U L O FRI D M A N
O polo industrial de Camaçari (BA) abriga diversas indústrias químicas e petroquímicas, além de fábricas de marcas internacionais importantes. Foto de
2015.

Distribuição espacial das indústrias
O Sudeste é a região de maior concentração industrial do país. Também existem concentrações industriais no Sul;
nas áreas de influência das capitais nordestinas, como Salvador e Fortaleza; e em pequenas áreas das regiões
Centro-Oeste e Norte.

Brasil: distribuição das indústrias (2013)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. 34. ed. São Paulo: Ática, 2013. p. 130.
Como você viu, a raiz da concentração industrial na região Sudeste está ligada à economia cafeeira no estado de
São Paulo. Vários fatores atraíram a instalação de novas indústrias: concentração demográfica e de capital; presença
de densas redes ferroviária e rodoviária; amplo mercado consumidor; aproveitamento energético dos cursos de água;
proximidade dos dois principais portos (Santos e Rio de Janeiro); etc.
A partir de 1980, muitos municípios do interior de São Paulo passaram a oferecer vantagens para atrair as
indústrias, como infraestrutura de transportes e oferta de terrenos –
atualmente, a oferta de terrenos para a instalação de fábricas concentra-se nas regiões oeste e noroeste do estado.
Apesar desse movimento, ainda é na capital paulista e em seus arredores que ocorre a maior concentração e
diversificação fabril, estendendo-se em direção a Santos. Essa área inclui a região conhecida como ABCD (Santo
André, São Bernardo do Campo, São Caetano e Diadema) – que se destaca pelas indústrias de base, pesadas e de
material de transporte – e Mogi das Cruzes. Quanto à expansão industrial ocorrida na direção noroeste, foram
criados centros de atividades diversificadas, como Jundiaí, Campinas, Piracicaba, Americana, São Carlos, Ribeirão
Preto e Bauru.

Observe, no mapa a seguir, a distribuição das indústrias no estado de São Paulo.
São Paulo: indústrias (2007)
< mapa >
Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 136-138; FIESP; SEADE.
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A

A segunda maior área industrial do país é formada pelo Rio de Janeiro e áreas próximas que abrangem Niterói, São
Gonçalo, Duque de Caxias, São João do Meriti, Nilópolis e Nova Iguaçu.
Entre essas duas grandes áreas, está o eixo formado pelo rio Paraíba do Sul, que, por ligar o Rio de Janeiro a
São Paulo, constitui uma zona de acentuada industrialização.
A área de Belo Horizonte também se destaca, sobretudo pela presença de recursos minerais, pelo aproveitamento
hidráulico do estado e pela proximidade dos principais centros do país. A indústria minerometalúrgica orienta seu
crescimento ao longo do Vale do rio Doce, com atividades industriais diversificadas na capital e em Contagem,
desenvolvendo-se também na cidade de Conselheiro Lafaiete e, principalmente, em Juiz de Fora.
O acidente com as barragens no município de Mariana, em novembro de 2015, é considerado o maior desastre
ambiental do Brasil e causou graves danos ao rio Doce. Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), os
prejuízos aos dependentes da bacia do rio Doce, tanto em Minas Gerais quanto no Espírito Santo, são
indeterminados e imprevisíveis.
< imagem >
FO L H A P R E S S / L UC A S L A C A Z RUI Z
Fábrica de automóveis no município de T aubaté (SP), no Vale do Paraíba, em 2011.

Texto & contexto
1. Observe o mapa da página anterior e responda: em que estados se encontram as maiores concentrações industriais? O que isso
pode indicar a respeito da distribuição espacial da indústria no país?
2. Que tipo de indústria predomina no estado e/ou no município onde você vive?

Para saber mais
Tido como morto, rio Doce “ressuscitará” em 5 meses, diz pesquisador
Embora esteja considerado atualmente “morto”, o rio Doce, que recebeu mais de 25 mil piscinas olímpicas de lama
proveniente do rompimento da barragem da mineradora Samarco, em Mariana (MG), “vai ressuscitar” em até cinco
meses, no final da época de chuvas, em abril do próximo ano.
A afirmação é de Paulo Rosman, professor de Engenharia Costeira da COPPE/UFRJ e autor de um estudo
encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente para avaliar os impactos e a extensão da chegada da lama ao mar,
ocorrida no último domingo e que afeta a costa do Espírito Santo.
Embora especialistas tenham divulgado previsões de danos catastróficos, que incluiriam danos à reserva marinha
de Abrolhos, no sul da Bahia, e um espalhamento da lama por até 10 mil km², Rosman afirma que os efeitos no mar
serão “desprezíveis”, que o material se espalhará por no máximo 9 km e que em poucos dias a coloração barrenta
deve se dissipar.
Para ele, há três diferentes cenários de gravidade do desastre e de velocidade de recuperação. No alto, onde a
barragem se rompeu, próximo ao distrito de Bento Rodrigues, deve durar mais de um ano e dependerá de operações
de limpeza dos escombros e de um programa de reflorestamento. Para ele, a sociedade e os governos mineiro e
federal precisam cobrar de Vale e BHP Billiton, donas da Samarco, o processo de reflorestamento e reconstrução
ambiental, de custo “insignificante” para as empresas.
Ele diz que, na maior parte do percurso do rio Doce, as próprias chuvas devem limpar os estragos e os peixes
devem voltar ao rio no período de cinco meses, e, no mar, a diluição dos sedimentos deve ocorrer de forma mais
rápida – até janeiro do próximo ano.
Ao mesmo tempo, o especialista considera “inaceitável” que o governo permita que as pessoas voltem a morar nas
regiões afetadas e que seria “criminoso” não retirar os outros povoados que se encontram nas linhas de avalanche
de outras barragens.
[...]
BBC Brasil – Nos últimos dias, especialistas, ativistas, moradores, pescadores e indígenas
têm repetido que o rio Doce “está morto”. O senhor diz que ele “vai ressuscitar”. Como isto deve acontecer?
Paulo Rosman – Eu vou repetir um chavão muito conhecido: o tempo é o senhor da razão. Há a visão quantitativa
e fria do pesquisador, do cientista, e a visão emocional e por vezes desesperada do morador, do pescador e do índio.

Os dois estão expressando as suas razões. Nenhum dos dois está certo ou errado.
No caso da ciência, as coisas são mais factuais, quantitativas, mais numéricas. No caso do indígena, ele constata
e sofre com a “morte” do rio. A diferença é que o rio está morto neste momento, é verdade, mas ressuscitará muito
rapidamente, e eles vão poder comprovar isso.
Há muitos exemplos de acidentes muito mais graves e mais sérios do que este da barragem de Mariana. Veja a
erupção vulcânica do monte Santa Helena, nos Estados Unidos (em 1980). Foi tudo devastado e destruído, numa
área imensamente maior. Você vai lá hoje e vê que os animais voltaram e a mata voltou. [...]
As fortes chuvas entre novembro e abril “lavarão” o rio Doce, num processo natural.
[...] Então essas coisas são relativamente rápidas, a natureza se adapta, se reconstrói, se modifica.
[...]
PUFF, Jef f erson. Tido como morto, rio Doce “ressuscitará” em 5 meses, diz pesquisador. BBC Brasil, 28 nov . 2015. Disponív el em:
<http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/151127_entrev ista_coppe_jp>. Acesso em: 8 jan. 2016.

< imagem >
FO L H A P R E S S / F A B I O BR A GA
Peixes do rio Doce, mortos pela chegada da lama com rejeitos de minério de ferro, em Resplendor (MG), 2015.

Desconcentração industrial
Levando em conta que a concentração industrial no Sudeste acentuava as diferenças entre as regiões brasileiras,
o governo federal deu início, a partir de 1965,
à implantação de várias medidas com o objetivo de dispersar as atividades industriais no país. O mecanismo de
isenção parcial ou total de impostos e o desenvolvimento de programas de industrialização de áreas do Norte,
Nordeste, Sul e Centro-Oeste foram algumas dessas medidas.
Das políticas de desconcentração espacial das atividades industriais resultaram, por exemplo, os polos
petroquímicos de Camaçari, na Bahia, e Triunfo, no Rio Grande do Sul; os complexos portuário-industriais de Suape,
em Pernambuco, e Itaqui, no Maranhão; e o programa Grande Carajás, no Pará.

< imagem >
T YB A / M A U R I C IO SI M O N E T T I
O complexo portuário do Itaqui, em São Luís, favorece o desenvolvimento econômico e social do Maranhão. Foto de 2013.

Assim, além da desconcentração intrarregional, em que as indústrias passaram a se instalar fora da região
metropolitana de São Paulo, em cidades do interior ou em outros estados da região Sudeste, ocorreu uma
desconcentração no âmbito nacional.
Sul – a região já havia se beneficiado com o processo de desconcentração econômica do Sudeste, graças à
proximidade geográfica e à densa rede de transportes e comunicações. Nos últimos anos, com a criação do
Mercosul, várias empresas nacionais e estrangeiras têm sido atraídas para a região. Nos três estados, o setor
secundário foi o que mais se desenvolveu ao longo das últimas décadas. A região nordeste do Rio Grande do Sul,
assim como a área metropolitana de Porto Alegre, tem aumentado sua participação na produção industrial do
estado (eixo Porto Alegre-Caxias do Sul).
O parque industrial de Curitiba é um dos mais importantes e diversificados da região, com a presença das
tradicionais indústrias alimentares e madeireiras, além de empresas dos setores químico, de material elétrico, de
transportes e automobilístico. As indústrias tradicionais de Santa Catarina também se modernizaram, atraindo
empresas dos setores mecânico e elétrico. Recentemente, uma montadora de automóveis foi instalada no norte do
estado.
Nordeste – a desconcentração iniciada na região graças à forte intervenção estatal acabou desenvolvendo, nos
últimos anos, vários setores industriais, quase todos muito dependentes do mercado da região Sudeste. As empresas
da região adquirem do Sudeste cerca de dois terços das matérias-primas e mais da metade dos serviços de que
necessitam. Do total produzido no Nordeste, grande parte é remetida ao Sudeste, principalmente para o estado de
São Paulo. Essa forte dependência marcou a orientação do desenvolvimento industrial nordestino e explica a
expansão das indústrias de bens intermediários dos setores químico (Recife), petroquímico (Bahia) e de material
elétrico, bem como a modernização das indústrias de bens de consumo (bebidas, couro e peles, têxteis e produtos
alimentares em geral).
Centro-Oeste – a indústria dessa região consiste, sobretudo, de atividades ligadas ao setor agropecuário. As
indústrias de alimentos que se destacam são aquelas que se expandiram para a região a partir do Sudeste. Ao longo
do eixo Campo Grande-Goiânia-Brasília, há indústria madeireira, farmacêutica, automobilística, de borracha e de
papel.

Norte – a participação da região Norte no total produzido pela indústria brasileira elevou-se com a expansão da
Zona Franca de Manaus. O maior crescimento ocorreu nas indústrias de produtos eletroeletrônicos e do setor
óptico e nas atividades industriais extrativas (minerometalúrgicas) ligadas à riqueza mineral do Pará. Tanto no
Amazonas quanto no Pará, o setor industrial tem se expandido mais do que o agropecuário, e o mercado
consumidor caracteriza-se
por ser extrarregional, de modo que a maior parte da produção está voltada para a região Sudeste.

Estrutura industrial brasileira
O Brasil é um dos poucos países que conheceram
um processo tão rápido e intenso de industrialização-
-urbanização.
Constituída basicamente de um tripé – formado pelo capital estatal (concentrado no setor de bens de produção), pelo
capital estrangeiro (mais concentrado no setor de bens duráveis) e pelo capital privado nacional (mais concentrado no
setor de bens não duráveis) –, a industrialização foi essencial para a internacionalização da economia brasileira e teve
grande responsabilidade na passagem de um país agrário para um país urbano-industrial.
O processo de industrialização acarretou profundas mudanças nos demais setores de atividades econômicas e
também na distribuição da população no território.
Vale destacar que o crescimento da produção industrial provocou o desenvolvimento do setor de serviços,
dinamizando o comércio, os bancos, os transportes, etc. Além dos serviços, quase todas as atividades econômicas,
como a agropecuária e o extrativismo, acabam dependendo direta ou indiretamente das atividades industriais.
Observe, na tabela abaixo, os principais setores industriais em 2013.

Brasil: principais setores industriais (2013)
Indústria
Produtos alimentícios
Coque, derivados do petróleo e biocombustíveis
Veículos automotores, reboques e carrocerias
Extração de minerais metálicos
Produtos químicos
Extração de petróleo e gás natural
Máquinas e equipamentos
Metalurgia
Produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos
Produtos de borracha e material plástico
Produtos de minerais não metálicos
Bebidas
Celulose, papel e produtos de papel
Máquinas, aparelhos e materiais elétricos
Equipamentos de informática e produtos eletrônicos e ópticos
Outros

Participação no total das indústrias extrativas e de transformação (em %)
14,9
9,7
8,6
6,7
6,5
5,1
4,8
4,7
3,8
3,6

3,5
3,0
2,8
2,6
2,5
17,2

As indústrias de produtos alimentares têm acompanhado o aumento quantitativo do mercado interno, ao qual
destina quase toda a sua produção. Grande parte das indústrias do setor localiza-se perto dos centros de consumo,
embora também haja muitos estabelecimentos em zonas produtoras de matérias-primas. Subsistem, contudo,
numerosas e pequenas unidades fabris dispersas pelo território, vinculadas às necessidades de consumo diário da
população.
A indústria têxtil compreende a fiação e a tecelagem – esta se destaca no Brasil pela quantidade de pessoal
ocupado. Em vários países, o setor têxtil vem evoluindo para uma maior mecanização, principalmente na área de
fiação. No Brasil, porém, ainda não são muitas as indústrias que têm capacidade de investimento em tecnologia. Elas
se concentram no Sudeste; São Paulo e Rio de Janeiro respondem pela maior parte da produção nacional.
Também existem as indústrias modernas, que utilizam menor quantidade de mão de obra e operam, sobretudo,
com base na aplicação de tecnologia (tradicional e de ponta).


Portal da indústria
<http://www.portaldaindustria.com.br>. Acesso em: 18 dez. 2015.
Apresenta informações a respeito do Sesi, Senai, CNI e IEL, instituições voltadas para a indústria, cada uma atuante em uma área. Também traz
publicações e estatísticas sobre a indústria brasileira, com séries históricas, perfis industriais dos estados, etc.
Fonte: IBGE. Pesquisa Industrial, v . 32, n. 1, 2013. Disponív el em: <http://biblioteca.ibge.gov .br/visualizacao/periodicos/1719/pia_2013_v 32_n1_empresa.pdf >. Acesso
em: 1
o
dez. 2015.
Indústrias siderúrgica e metalúrgica
Com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em 1942, na cidade de Volta Redonda (RJ), no Vale do
Paraíba, as indústrias siderúrgica e metalúrgica expandiram-se no Brasil. O caráter relativamente tradicional dos dois
setores fica expresso por sua dependência em relação à localização das matérias-primas – jazidas de carvão no Sul
do país e de ferro em Minas Gerais –, além da proximidade dos mercados consumidores do Rio de Janeiro e de São
Paulo.

< imagem >
T YB A / A L E X L AR B A C
Usina da Companhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda (RJ), 2012. Privatizada em 1993, a CSN apresenta capacidade
de produção anual de
5,6 milhões de
toneladas de ferro e
aço, concentrando
suas atividades em
siderurgia, mineração
e infraestrutura.

Como o carvão brasileiro é de baixa qualidade, muitas usinas siderúrgicas e indústrias metalúrgicas utilizam o
carvão vegetal, o que tem estimulado o desmatamento de muitas áreas de Cerrado e de outros biomas. Entre as
novas alternativas, destacam-se a eletrossiderurgia, que consiste no preparo de ferro e aço com o uso de
eletricidade, como ocorre em Belo Horizonte, e a utilização do gás natural, na Usina Siderúrgica da Bahia (Usiba).
A exploração de ferro no Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, tem se elevado, e novas jazidas foram
descobertas, como a de Carajás, nos anos 1970, permitindo que o Brasil se tornasse autossuficiente em relação à
maior parte dos produtos siderúrgicos e até exportasse alguns deles.
As siderúrgicas do país concentram-se no Sudeste. Depois da CSN, as principais usinas construídas foram a
Usiminas, na bacia do Vale do rio Doce, que começou a operar em 1962, e a Companhia Siderúrgica Paulista
(Cosipa), em Cubatão, inaugurada em 1963 e adquirida pela Usiminas em 1993.
Até 1990, as siderúrgicas brasileiras eram geridas pelo Estado ou por empresas das quais o poder público tinha a
maioria das ações, pois o setor era considerado estratégico para o desenvolvimento econômico do país. Nos anos
1990, teve início o processo de privatização das indústrias siderúrgicas nacionais, cujo objetivo declarado pelos

governos era diminuir a intervenção do Estado na economia e, assim, reduzir o deficit público.
Embora o parque siderúrgico brasileiro tenha sido considerado moderno em meados da
década de 1980, um dos principais argumentos para sua privatização foi a necessidade de o setor acompanhar o
desenvolvimento tecnológico mundial, principalmente como forma de manter ou até mesmo ampliar a exportação do
aço. No Brasil, o grau de automação ainda é considerado relativamente baixo, e a concorrência com as novas ligas e
aços especiais tem sido cada vez maior, embora técnicos brasileiros já estejam realizando pesquisa tecnológica de
alto nível. Em 2014, o Brasil ocupou a 14
a
posição entre os maiores produtores de aço do mundo.
Indústria mecânica
A indústria mecânica também representa uma contribuição significativa para o valor da produção brasileira e,
desde a década de 1980, recebe grande estímulo fiscal para importar equipamentos que possibilitem seu
desenvolvimento tecnológico. Apesar disso, o setor ainda é relativamente atrasado na produção de equipamentos
pesados, e muitas pequenas e médias empresas enfrentam problemas na produção de ferramentas. A indústria
automobilística, porém, que faz parte do setor mecânico, acelerou a modernização tecnológica, principalmente
na área da automação, a partir de meados da década de 1990. No entanto, com a globalização, a produção do
setor automobilístico viu aumentar a competitividade internacional. Isso, de certa maneira, compromete as
exportações brasileiras, pois o setor ainda deixa a desejar em tecnologia, em organização do trabalho e nas
relações entre indústria e governo.
Desde a expansão das indústrias siderúrgica e mecânica, o setor tem recebido incentivos do governo federal,
como a criação de infraestrutura e a ampliação dos recursos energéticos. Entre 1980 e 1990, a instabilidade da
moeda e a constante intervenção do Estado na economia comprometeram a expansão industrial, mas o setor voltou
a crescer quando a economia se estabilizou, em meados da década de 1990.
Observe, no gráfico abaixo, dados relativos à balança comercial brasileira de autoveículos.

Brasil: exportação e importação de autoveículos (1980-2013)
< gráficos >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de ANFAVEA. Anuário da indústria automobilística brasileira 2015. São Paulo, 2015. p. 46. Disponív el em: <http://www.anf av ea.com.br/anuario.html>.
Acesso em: 1
o
dez. 2015.


Indústria química
O período de maior expansão da indústria química no Brasil foi a década de 1970, quando foram criados os polos
petroquímicos em São Paulo, em Triunfo (RS) e em Camaçari (BA). O setor é controlado basicamente por empresas
estrangeiras, que ainda preferem importar muitas matérias-primas e alguns produtos finais a produzi-los no Brasil.
Assim, a balança comercial do setor tem sido deficitária, principalmente por causa da importação de fertilizantes.
Mesmo assim, a indústria química tem apresentado certa expansão para atender aos setores mecânico,
eletroeletrônico, extrativo-mineral e agrícola, para os quais produz termoplásticos, solventes, corantes, produtos
orgânicos e inorgânicos, fibras, detergentes, fertilizantes, plásticos diversos, entre outros produtos, em suas unidades
concentradas nas regiões Sudeste (70%) – mais especificamente em São Paulo – e Sul (16%).
Indústria de material eletroeletrônico
No Brasil, a indústria eletroeletrônica expandiu-se até os anos 1980, graças a avanços da própria engenharia
nacional. A partir de então, a política de incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus atraiu muitas empresas
nacionais para a Amazônia, mas elas acabaram se especializando na montagem de kits eletrônicos importados. A
importação de peças prontas desestimulou o desenvolvimento tecnológico na Amazônia.
No restante do país, no início dos anos 1990, tentava‑
-se dificultar a importação de eletrônicos para incentivar o desenvolvimento tecnológico no Brasil. Desse modo, a
indústria de bens eletroeletrônicos voltou a crescer nos anos 2000, apoiada principalmente na importação de
componentes e equipamentos para a montagem de produtos no Brasil.
Indústria de telecomunicações
Atrelada à indústria eletroeletrônica, a indústria de telecomunicações praticamente inexistia no país até 1950. A
instalação de um parque industrial do setor começou com investimentos de empresas estrangeiras. Em 1972, o
governo militar criou uma empresa estatal de telecomunicações, a Telebrás, contribuindo para a ampliação dos
serviços de telégrafo, telex, rádio e televisão.
Na década seguinte, as atenções do governo voltaram-se para a área da informática, e a Telebrás associou‑se às

multinacionais de telecomunicações que atuavam no Brasil para desenvolver a tecnologia digital.
A partir da segunda metade da década de 1990, junto com as privatizações de empresas estatais, houve uma
considerável expansão das telecomunicações no país, graças a vultosos investimentos das multinacionais que atuam
no setor. Retomando o mapa da página 64 (Capítulo 3), você pode ter uma ideia da expansão do setor de telefonia
móvel e fixa no Brasil.


Novas tecnologias
No parque industrial da região Sudeste do Brasil, as indústrias tradicionais convivem com as mais avançadas
tecnologicamente: indústrias de armamentos, informática, telecomunicações, biotecnologia, etc.
Os investimentos em pesquisa científica e tecnologia, característicos do capitalismo do pós-guerra, são essenciais
para o desenvolvimento desses setores. Diante disso, a partir de 1945, os militares brasileiros não ficaram
indiferentes. Ao perceber a importância da superioridade tecnológica para a vitória dos Estados Unidos na Segunda
Guerra Mundial, influenciaram na criação de três instituições: o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), em 1947;
a Escola Superior de Guerra (ESG), em 1948; e o Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), em 1951.

FU T U R A PR E S S / L U C A S L AC A Z RUI Z
< imagem >
O IT A é uma instituição universitária especializada principalmente na pesquisa aeroespacial, sob a jurisdição do Comando da Aeronáutica
(Comaer). Na foto, estudantes de Engenharia, acompanhados por professores, participam de um evento realizado nas dependências do campus do
IT A, em São José dos Campos (SP), em 2011.

Armamentos – em vários países, a aceleração tecnológica do setor de armamentos sempre esteve atrelada aos
interesses geopolíticos de dominação continental ou mundial. No Brasil, a perspectiva geopolítica era a ampliação da
área de influência na América Latina, razão pela qual as três instituições supracitadas tinham uma preocupação
especial com o desenvolvimento do setor de armamentos. Além delas, destacam-se no setor a Empresa Brasileira
de Aeronáutica (Embraer), criada em 1965 e privatizada em 1994, e a Indústria de Material Bélico do Brasil
(Imbel), criada em 1975, de propriedade do Ministério do Exército, que incorporou uma série de estabelecimentos
fabris do Exército, todos localizados no Sudeste. Vale ressaltar também o papel da Engenheiros Especializados S.
A. (Engesa) na década de 1980. Atuando desde 1965 no setor de veículos militares, a empresa chegou a ser uma
das maiores fabricantes e exportadoras de produtos bélicos, mas requereu falência em 1993, depois do fim da
guerra do Golfo. Em 1987, foi criada a Órbita – Sistemas Aeroespaciais S.A., especializada na fabricação de
mísseis antitanques e antiaéreos, numa associação de várias empresas, como a Engesa e a Embraer.
Desde 1970, o setor recebe grandes incentivos federais para a pesquisa tecnológica e financiamentos, com o
objetivo de exportar armamentos. Durante toda a guerra entre o Irã e o Iraque de 1980 a 1988, o líder iraquiano
Sadam Hussein importou do Brasil blindados leves, lançadores, foguetes, aviões de treinamento e munição.
A indústria de armamentos concentra-se em São José dos Campos (SP), no Vale do Paraíba, conhecido como
Vale da Morte. O polo de desenvolvimento do setor foi resultado da integração dos institutos do Centro Técnico
Aeroespacial, que engloba o ITA, com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e indústrias de ponta
fornecedoras de produtos para as indústrias bélicas.
O apoio do Estado ao setor foi cortado na década de 1990, e a estagnação tecnológica levou ao aumento da
dependência em relação ao exterior. No entanto, o fim da Guerra Fria também gerou uma crise internacional.
Por isso, várias indústrias converteram total ou parcialmente sua linha de montagem para a produção civil,
transferindo a tecnologia militar para outros setores.

Texto & contexto
1. O setor químico industrial no Brasil é controlado por empresas estrangeiras. Entretanto, a indústria química nacional tem
apresentado certa expansão. Por quê?
2. O que a especialização na montagem de kits eletrônicos importados tem a ver com o atraso no desenvolvimento da tecnologia
nacional?

Informática – desde sua criação, o ITA esteve ligado à pesquisa também na área de informática. Em 1970,
especialistas brasileiros em eletrônica voltada para a informática começaram a atuar nos centros de pesquisa
militares, na Universidade de São Paulo (USP) e em empresas estatais, repassando a tecnologia absorvida em

centros tecnológicos dos Estados Unidos e da Inglaterra.
As empresas brasileiras despontavam no setor, sobretudo a partir de 1980, quando a importação de determinados
componentes foi proibida como forma de proteger a indústria nacional. Nesse período, a maior parte do faturamento
do setor, obtido principalmente com microcomputadores, era proveniente de indústrias nacionais. O Brasil já
representava o sexto maior mercado consumidor do mundo.
No final da década de 1990, com o fim da reserva de mercado e a consequente liberação das importações, o
setor de informática ampliou-se consideravelmente, em grande parte, graças a investimentos estrangeiros. Com
isso, a indústria genuinamente nacional perdeu a expressão que teve anteriormente.
As atividades são realizadas sobretudo no estado de São Paulo, onde há importantes universidades e centros de
pesquisa (ITA, USP, Universidade Estadual de Campinas, Universidades Estadual e Federal de São Carlos),
infraestrutura e mão de obra especializada.
Além dos polos industriais de São Paulo, São José dos Campos, Campinas e São Carlos, a pesquisa em
informática é realizada nas Universidades Federais do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e de Pernambuco.
Telecomunicações – os centros de pesquisa do Sudeste favoreceram também o desenvolvimento tecnológico do
setor de telecomunicações. Em associação com a Telebrás, empresas nacionais e estrangeiras criaram centrais
telefônicas digitais, comunicações ópticas (fibras de vidro e equipamentos de transmissão), estações terrestres para
comunicação por satélites, novos materiais para redes telefônicas externas, etc.
Como o setor está ligado às indústrias de eletrônica e informática, concentra-se também no estado de São Paulo,
especialmente em Campinas. Nos últimos anos, porém, o estado de Minas Gerais tem recebido algumas pequenas
indústrias de telecomunicações.
Biotecnologia – concentrado no estado de São Paulo, esse setor consiste no emprego de técnicas e processos
biológicos para a produção de materiais e substâncias de interesse humano. Assim, tem utilizações diversas na
indústria, na medicina, na pecuária, na agricultura e nas fontes de energia. Em resumo, tem aplicação em tudo o que
envolve a manipulação de seres vivos para a obtenção de substâncias necessárias ao ser humano, como matérias-
primas para as indústrias químicas, alimentares, farmacêuticas e de fermentação; produção de antibióticos, hormônios
e vacinas; clonagem de organismos ou de órgãos; produção de alimentos transgênicos; enriquecimento do solo e
produção de adubos.
Apoiado particularmente na engenharia genética, o desenvolvimento da biotecnologia é recente no Brasil, onde
as atividades biotecnológicas só despontaram com o lançamento do Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool), ou
seja, no momento em que o objetivo do governo federal era encontrar uma alternativa de fonte de energia. Desde
então, multiplicaram-se os projetos voltados para a obtenção de variedades melhores de cana-de-açúcar,
principalmente no Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

FO T O A R E N A / V E E T M A N O P R E M
O Porto Digital, situado no Recife (PE), é um dos principais polos de tecnologia da informação e comunicação do Brasil. Ele foi implantado com a
missão de alavancar a economia da capital pernambucana. Foto de 2014.

Trabalho na indústria
Como você viu, o desenvolvimento das atividades industriais no território brasileiro, além de fundamental no processo
de integração nacional, acarretou mudanças profundas nos demais setores de atividades econômicas do país e na
distribuição da população. As relações econômicas no território modificaram-se porque a concentração de capital e de
meios de produção e a capacidade de consumo do Sudeste afetaram as demais regiões brasileiras.
Parte da população ativa foi dispensada do trabalho no campo em função da introdução de máquinas agrícolas e
deslocou-se para as metrópoles (São Paulo e Rio de Janeiro) da “região-núcleo”, refletindo as novas relações entre
as regiões do país e engrossando o contingente de trabalhadores urbanos. O maior contingente de migrantes era
proveniente do meio rural e urbano do Nordeste.
Entre as décadas de 1940 e 1950, por exemplo, os migrantes foram responsáveis por cerca de 60% do crescimento da
população do município de São Paulo. No entanto, não havia emprego suficiente para todos, porque o processo de
industrialização chegou ao Brasil com o capitalismo em sua fase monopolista, quando a tecnologia industrial já apontava
para a redução da mão de obra. Além disso, a maioria dos migrantes que deixaram o Nordeste eram trabalhadores com
pouca qualificação. Mais tarde, após um período de grande aceleração industrial, as migrações para o Sudeste
diminuíram.
Ao longo do tempo, a especialização do trabalho na indústria se aprofundou e chegou a tal nível de sofisticação que,
atualmente, seu novo perfil técnico-científico exige trabalhadores altamente qualificados.
No Brasil, a deficiência do sistema educacional e o baixo investimento das empresas em treinamento têm como

consequência uma composição afunilada da mão de obra, que resulta em uma parcela ínfima de trabalhadores
especializados, os quais recebem bons salários, e uma imensa maioria de pouco qualificados, que trabalham por
salários nem sempre adequados. Para manter o emprego, muitos trabalhadores aceitam até reduzir salários e
perder direitos trabalhistas. Em 2015, por exemplo, as montadoras de automóveis reduziram a jornada de trabalho
para evitar o desemprego generalizado no setor. Como resultado de todos esses fatores, o custo do trabalhador na
indústria brasileira é um dos mais baixos do mundo.
A economia competitiva do século XXI impõe a necessidade de aumento contínuo da produtividade, isto é,
obtenção do máximo rendimento por tempo de trabalho empregado. Isso é buscado por meio da modernização
tecnológica e da qualificação da mão de obra. Observe o mapa abaixo.

Brasil: pessoal ocupado na indústria (2009)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 145.

Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai)
<http://www.senaipr.org.br/>. Acesso em: 18 dez. 2015.
Presente em vários estados brasileiros, o Senai oferece cursos profissionais, de graduação e pós-graduação voltados principalmente para o
desenvolvimento tecnológico e a indústria.
Serviço Social da Indústria (Sesi)
<http://www.sesisp.org.br>. Acesso em: 18 dez. 2015.
Criado em 1946, o Sesi tem o intuito de promover a educação, a cultura, o esporte, a qualidade de vida e o bem- -estar do trabalhador da indústria.

Texto & contexto
1. Quais são as indústrias responsáveis pelas novas tecnologias? Em que região do país se desenvolveram?
2. De acordo com o mapa acima, em que estados brasileiros se localiza a maior parte do pessoal ocupado na indústria?
3. O custo do trabalhador na indústria brasileira é um dos mais baixos do mundo. Por quê?
Fontes de energia, indústria e consumo

As fontes de energia movem a economia moderna. Elas movimentam os meios de transporte e as indústrias,
dão suporte imprescindível às atividades comerciais e de serviços e alimentam centenas de equipamentos, como
telefones celulares, relógios a bateria, equipamentos de som, computadores e eletrodomésticos.
Encontradas na natureza, as diferentes fontes de energia precisam ser transformadas nas refinarias, usinas
hidrelétricas, termelétricas, termonucleares e carvoarias e são transportadas por gasodutos, linhas de
transmissão, rodovias, ferrovias, hidrovias, etc.
Como você deve saber, o processo de industrialização envolve a produção e o consumo de produtos
energéticos, uma vez que a indústria é a atividade econômica que mais consome energia. Por isso, a indústria
está muito subordinada à energia, particularmente quanto à localização dos recursos energéticos, à viabilidade
de utilização econômica das fontes e à contabilização dos custos. Dependendo do tipo de indústria, a
localização da fonte de energia pode determinar a concentração ou a dispersão dos parques industriais.
Entre as diversas fontes de energia, como os ventos (energia eólica), as águas (energia hidráulica) e os raios
solares (energia solar), as mais utilizadas são as geradoras de energia térmica e de energia elétrica. No primeiro
caso, as principais fontes são o petróleo e o carvão, combustíveis de alto potencial energético; no segundo, os
geradores das usinas são acionados por água (hidreletricidade) ou pela própria energia térmica (termeletricidade),
por meio da queima de carvão ou óleo. Há ainda a fissão nuclear, liberação de energia pela divisão do núcleo do
átomo, aproveitada para movimentar geradores de eletricidade nas usinas nucleares.
Entre as chamadas fontes alternativas, destacam-se o álcool; a biomassa, principalmente um subproduto da
cana – o bagaço; e o xisto betuminoso, rocha que contém uma substância semelhante ao petróleo.
A energia primária tem como fonte produtos energéticos derivados diretamente da natureza: petróleo, gás
natural, carvão, energia solar, energia eólica. A energia secundária é resultado do processamento de energia
primária nos centros de transformação, como óleo diesel, gasolina e querosene.
Observe, no gráfico ao lado, o consumo final energético por setor em 2014.

Um futuro com energia sustentável: iluminando o caminho
Fapesp, 2010.
Obra gratuita disponível em: <http://www.fapesp.br/publicacoes/energia.pdf>. Acesso em: 18 dez. 2015.

Mostra um panorama da demanda e do fornecimento de energia, os desafios para a implantação de energia
sustentável, o papel dos governos e a importância da ciência e da tecnologia para se pensar sobre o tema energia
sustentável.

Biomassa: material ou massa derivada de produtos orgânicos.

Brasil: consumo energético por setor (2014)
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
< gráfico >
Fonte: Adaptado de BALANÇO energético nacional 2015: ano-base 2014. Rio de Janeiro: EPE, 2015. p. 24. Disponív el em:
<https://ben.epe.gov .br/downloads/S%C3%ADntese%20do%20Relat%C3 %B3ri o%2 0Final_ 2015 _Web.pdf >. Acesso em: 2 dez. 2015.


Petróleo
O petróleo é uma mistura de hidrocarbonetos causada pela ação de bactérias em meios com baixo teor de oxigênio.
Essa composição foi se acumulando no fundo dos oceanos, mares e lagos durante milhões de anos. Soterrada por
sedimentos e pressionada pelos movimentos da crosta terrestre, veio a se transformar na substância oleosa chamada
petróleo. Pode ser encontrado em bacias sedimentares específicas, constituídas de camadas ou lençóis porosos de
areia, arenitos ou calcários.
A exploração de campos e a perfuração de poços de petróleo tiveram início somente em meados do século XIX.
Tal substância passou a ser utilizada em larga escala, mesmo com a forte concorrência do carvão e de outros
combustíveis considerados nobres.

Hidrocarboneto: composto constituído apenas por carbono e hidrogênio. Tem origem na decomposição de matéria orgânica,
sobretudo plâncton –plantas e animais microscópicos em suspensão nas águas.

O primeiro poço de petróleo do Brasil, denominado poço Lobato, foi instalado em 1939, no Recôncavo Baiano.
Essa área de bacia sedimentar com terrenos da Era Mesozoica foi líder da produção de petróleo durante várias
décadas, chegando a produzir 60% do total do país. No entanto, a produção comercial de petróleo brasileiro só
começou efetivamente em 3 de outubro de 1953, com a criação da Petrobras, empresa estatal que exerceu, até
1997, o monopólio de pesquisa, lavra, extração, refino e transporte do óleo e seus derivados. Em 1997, foi criada a
Agência Nacional de Petróleo (ANP), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, com a finalidade de promover
políticas relativas ao petróleo, como regulação, contratação e fiscalização dessa indústria no Brasil.
Até a década de 1970, a produção nacional era obtida de poços terrestres, a maior parte localizada no Recôncavo
Baiano. Desde 1979, após o segundo choque do petróleo (retome o Capítulo 3), foram feitos pesados investimentos em
pesquisas, o que resultou na descoberta de importantes jazidas na plataforma continental brasileira.
Nos dias atuais, a principal fonte petrolífera do Brasil está nos poços submarinos da plataforma continental e
águas profundas, especialmente na região do Rio de Janeiro, responsável por mais de 70% da produção. A produção
dos demais estados, como Rio Grande do Norte, Sergipe (poços terrestres), Ceará (poços submarinos), Espírito
Santo, Bahia e Amazonas, é muito inferior à do Rio de Janeiro.

< imagem >
KIN O . C O M . B R / M A R C O ANT Ô N I O SÁ
Extração de petróleo no município de Divina Pastora (SE), em 2012.


Conforme você pode observar no gráfico ao lado, a produção de petróleo cresceu nos últimos anos, permitindo ao
Brasil exportar o produto. No entanto, o país importa parte do que consome, o chamado petróleo leve, de melhor
qualidade. No balanço comercial, as exportações superam as importações.
A localização das refinarias é determinada pela proximidade dos centros de consumo e, na medida do possível, do
litoral, uma vez que, até alguns anos atrás, a dependência do petróleo importado era muito maior e o sistema de
oleodutos era menos eficiente. Apenas no caso da refinaria Landulpho Alves, em Mataripe (BA), o critério foi a
proximidade de uma zona produtora.
A matéria-prima fornecida pelas refinarias abastece a indústria petroquímica brasileira, que se concentra em três
polos: Cubatão, em São Paulo; Camaçari, na Bahia; e Triunfo, no Rio Grande do Sul.

Brasil: evolução da produção de petróleo por localização – terra e mar (1999-2013)

< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de ANUÁRIO estatístico brasileiro do petróleo, gás natural e biocombustív eis: 2014. Rio de Janeiro: ANP, 2014. p. 79.

Texto & contexto
1. Consulte o gráfico da página anterior e responda: quais são os três setores que mais consomem energia no Brasil?
2. A maior parte da produção de petróleo no Brasil é marinha ou terrestre? Justifique sua resposta utilizando os dados do gráfico
desta página.


Pré-sal
Quando o assunto é petróleo, surge a inevitável polêmica sobre a questão do pré-sal. Presente na mídia brasileira
e internacional, esse tema ainda merece muitos estudos. Mas o que é o pré-sal? Onde está situado? Qual é sua
importância para a economia do país?
A exploração do pré-sal encontra-se em fase inicial. Quando for intensificada, o Brasil poderá se tornar um dos
grandes exportadores mundiais do produto. Para que isso aconteça, no entanto, os preços internacionais do petróleo
precisam estar em valores que compensem os elevados custos da extração.
Os recursos do governo federal obtidos com a exploração do pré-sal deverão ser aplicados em programas de
combate à pobreza, em inovação científica e, principalmente, na educação.

Para saber mais
Pré-sal e outras áreas estratégicas
O que é o pré-sal?
Convencionou-se utilizar o termo “pré-sal” para definir as camadas rochosas que ocorrem abaixo de uma espessa
camada de sal na plataforma continental brasileira, distinguindo-as das descobertas petrolíferas que ocorrem acima do
sal – pós-sal. Pré-sal, do ponto de vista geológico, são áreas cujos sedimentos foram acumulados antes do depósito da
camada de sal. São, portanto, mais antigas do que o sal. As descobertas do pré-sal foram possíveis com base em
novos levantamentos sísmicos de alta resolução realizados pela Petrobras, agregados ao desenvolvimento de
tecnologia específica [...].
Qual a área de ocorrência do pré-sal?
A região da província petrolífera chamada pré-sal, localizada na Plataforma Continental Brasileira, estende-se do litoral do
Estado do Espírito Santo até Santa Catarina, em área de aproximadamente 149 mil km². Os limites dessa área foram
definidos a partir de interpretações geológicas e poderão ser alterados com a obtenção de novos dados de poços que
vierem a ser perfurados e a aquisição de novos dados sísmicos. A área de ocorrência do pré-sal, cujo potencial petrolífero
não se iguala a nenhum outro descoberto até este momento, representa em torno de 2,3% do total das bacias
sedimentares brasileiras, que totalizam 6,4 milhões de km², somando-se as bacias terrestres e marítimas.

Brasil: localização da camada pré-sal
< mapa >
Fonte: Adaptado de UM DESAFIO atrás do outro. Petrobras Magazine. Disponív el em:
<http://www.hotsitespetrobras.com.br/petrobrasmagazine/edicoes/edicao56/pt/internas/pre-sal/>. Acesso em: 21 out. 2014.
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A


Qual é a espessura da lâmina de água na região do pré-sal?
A espessura da lâmina de água na região de ocorrência das rochas do pré-sal varia entre 800 metros e 3 mil metros,
sendo classificada como “águas profundas” ou “águas ultraprofundas”. Nestas condições, poucas empresas no mundo
possuem tecnologia para executar as atividades de exploração e produção, sendo uma delas a Petrobras. [...]

BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Pré-sal: perguntas e respostas. p. 10. Disponív el em: <http://www.mme.gov .br/documents/10584/1256544/Cartilha_prx-
sal.pdf /e0d73bb0-b74b-43e1-af 68-d8f 4b18cb16c>. Acesso em: 14 mar. 2016.

Gás natural
Como outros combustíveis fósseis, o gás natural é uma mistura de hidrocarbonetos gasosos originados da decomposição

de matéria orgânica fossilizada ao longo de milhões de anos. Em seu estado bruto, é formado especialmente por metano,
com proporções variadas de etano, propano, butano, hidrocarbonetos mais pesados, CO2, N2, H2S, água, ácido clorídrico,
metanol, etc.
A densidade em relação ao ar, o poder calorífico e os teores de carbono, CO2, hidrogênio, oxigênio e compostos
sulfurosos estão entre as principais propriedades do gás natural. Segundo a Aneel, outras características importantes
são os baixos índices de emissão de poluentes em comparação a outros combustíveis fósseis, a rápida dispersão em
caso de vazamento e os baixos índices de odor e de contaminantes.
O gás natural é uma fonte de energia que, no Brasil, ocorre geralmente associada ao petróleo. Se comparado aos
demais combustíveis fósseis, é mais barato e facilmente transportável em dutos; além disso, sua queima, que libera
boa quantidade de energia, polui menos a atmosfera. É usado em indústrias, ônibus, automóveis, fogões domésticos,
etc. Por esses motivos, seu consumo é estimulado pelo governo e vem aumentando. Conforme a Aneel, a inclusão
do gás natural na matriz energética nacional, conjugada com a necessidade de expansão do parque gerador de
energia elétrica e com o esgotamento dos melhores potenciais hidráulicos do país, tem despertado o interesse de
analistas e empreendedores em ampliar seu uso na geração termelétrica.
Na atual matriz energética do país, o gás natural representa menos de 10%, mas o governo pretende aumentar essa
percentagem. Para isso, a Petrobras tem investido nessa fonte energética em parceria com a iniciativa privada, e,
consequentemente, a produção nacional tem crescido. Os grandes produtores são o Rio de Janeiro e a
Bahia, seguidos de longe por Sergipe, Rio Grande do Norte e Amazonas.
Paralelamente, o Brasil importa gás natural da Bolívia através de um extenso gasoduto, que vai de Santa Cruz de la
Sierra, na Bolívia, a Guararema, em São Paulo, e daí à região industrial de Porto Alegre. No Rio Grande do Sul, outro
gasoduto permite a importação de gás natural da Argentina.
Na tabela abaixo, observe a importação de gás natural pelo Brasil e, no mapa ao lado, a rede de gasodutos.

Brasil: gasodutos (2015)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de COMPANHIA de Gás do Ceará (Cegás). Disponív el em: <http://www.cegas.com.br/imagens/graf brasilboliv ia.gif>. Acesso em: 15 dez. 2015.

Brasil: importação de gás natural em milhões de m
3
(2004-2013)

Bolívia
Argentina
Total

2004
7 635
451
8086

2005
8648
350
8998

2006
914
478
9789

2007
10168
166
10334

2008
11178
135
11313

2009
8108
-
8108

2010
9820
-
9820

2011
9796
-
9796

2012
10082
-
10082

2013
11589
59
11648

Fonte: ANUÁRIO estatístico brasileiro do petróleo, gás natural e biocombustív eis: 2014. Rio de Janeiro: ANP, 2014. p. 129.

Carvão mineral
Como ocorre com todos os combustíveis fósseis, o carvão é uma mistura de componentes orgânicos sólidos,

fossilizados ao longo de milhões de anos. É o conteúdo de carbono que determina sua qualidade, e esta varia
conforme o tipo e o estágio dos componentes orgânicos. Um dos primeiros estágios do carvão é a turfa, com baixo
conteúdo carbonífero e teor de carbono na ordem de 45%. O linhito apresenta um índice que varia de 60% a 75%. O
mais puro dos carvões, o carvão betuminoso (hulha), contém cerca de 80% de carbono e é mais utilizado como
combustível. O antracito apresenta um conteúdo carbonífero superior a 90%.
Os depósitos de carbono se encontram tanto nas camadas próximas à superfície do solo quanto nas camadas
profundas, de difícil extração.
Apesar dos sérios impactos no meio ambiente, o carvão ainda é uma importante fonte de energia, por causa de
diversos fatores: abundância e distribuição geográfica das reservas, custos inferiores aos de outros combustíveis,
estabilidade nos preços, etc.
Embora insuficiente, o carvão mineral constitui uma importante fonte de energia térmica para o país. As reservas
nacionais localizam-se em terrenos sedimentares antigos, na borda oriental da bacia do Paraná, no baixo Amazonas
e na bacia do Parnaíba, mas apenas o carvão do Sul é explorado. Lá, a formação do carvão teve início no ambiente
das glaciações dos períodos Carbonífero e Permiano (Era Paleozoica). Em Santa Catarina, o carvão aparece em
pequena profundidade. Já no Rio Grande do Sul, embora haja jazidas a céu aberto, as melhores são as em que o
carvão está a mais de 30 metros, exigindo exploração por meio de poços e galerias.

Região Sul: jazidas de carvão mineral
< mapa >
Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 142.
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A

No Brasil, a produção é insuficiente para atender à demanda interna, razão pela qual a indústria siderúrgica do
Sudeste importa coque – resíduo da destilação do carvão –, usado na indústria metalúrgica. Além disso, o carvão é
do tipo betuminoso e sub-betuminoso, que tem baixo teor calorífico, e apresenta outros fatores negativos, como
umidade, cinzas e sulfeto de ferro.
Apenas parte do carvão catarinense é coqueificada e remetida para a Companhia Siderúrgica Nacional. Ele só tem
uso siderúrgico depois de lavado e misturado a carvões estrangeiros.
Um dos maiores problemas da utilização do carvão como combustível é a agressão ao ambiente. A fuligem polui o
ar, e os resíduos desprezados são levados pelas chuvas e poluem os rios.

Hidrelétricas
A rede hidrográfica do Brasil é a mais densa do mundo, com enorme potencial hidrelétrico. Isso explica por que
mais de 60% da potência elétrica instalada corresponde à de geradores hidráulicos, cabendo aos geradores térmicos
menos de 20%. O restante cabe a fontes alternativas, como energia eólica, solar, etc. Em nenhum outro país
industrializado, a fonte hidráulica predomina na geração de eletricidade. Somente no Sul do país a termeletricidade é
mais significativa, devido à disponibilidade regional de carvão. No entanto, as maiores usinas termelétricas são as de
Piratininga, em São Paulo, e de Santa Cruz, no Rio de Janeiro.
O Norte, representado principalmente pela bacia hidrográfica Amazônica, é a região com o maior potencial hidrelétrico
nacional – 46% (incluindo a bacia dos rios Araguaia e Tocantins). Mas, somente nos últimos anos, esse potencial começou
a ser mais bem aproveitado, com a construção de novas e grandes hidrelétricas, como as de Jirau e de Santo Antônio,
sobre o rio Madeira, e a de Belo Monte, sobre o rio Xingu. Entre as mais antigas, destacam-se as usinas de Balbina, nas
proximidades de Manaus, e de Tucuruí, no rio Tocantins, que foi construída para abastecer o Projeto Carajás, no Pará, e
para alimentar a produção de alumínio na região de Belém, além de fornecer energia a outras regiões do país.
As regiões Sudeste e Sul apresentam grandes empreendimentos hidrelétricos: o complexo de Urubupungá,
localizado no rio Paraná, entre São Paulo e Mato Grosso do Sul, e formado pelas usinas de Jupiá e Ilha Solteira; as
hidrelétricas do rio Grande; a usina de Três Marias, no rio São Francisco; a usina de Itaipu; entre outros.

Na região Nordeste, destacam-se as usinas do rio São Francisco, como Sobradinho, Moxotó e Paulo Afonso,
construídas como parte do projeto de desenvolvimento da região nas décadas de 1960 e 1970. Nos anos 1980, foram
construídas as hidrelétricas de Itaparica e Xingó para atender à maior demanda de energia, sobretudo com o processo
de desconcentração industrial.
No total, o Brasil só aproveita cerca de um terço de seu potencial hidrelétrico. Muitos ambientalistas criticam a
inundação de áreas florestais para a formação do lago de uma usina hidrelétrica, porém são contrários ao uso de
energia nuclear para gerar eletricidade. Cabe ressaltar que o fornecimento de energia elétrica é irregular em épocas
de poucas chuvas. Veja, no esquema a seguir, como funciona uma hidrelétrica.

Funcionamento de uma usina hidrelétrica
< imagem >
GE T U L I O DE L P H I M / A R Q U I V O DA E DI T O R A
De modo geral, as usinas hidrelétricas têm uma barragem (estrutura de represamento) e uma casa de força. A energia potencial hidráulica é transformada
em energia elétrica.

Elaborado pelo autor com f ins didáticos. Cores-f antasia. Sem escala.


Observe, no mapa abaixo, a distribuição das hidrelétricas pelo país.
Brasil: hidrelétricas (2008)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed.
São Paulo: Moderna, 2013. p. 129.
Energia nuclear
De maneira simplificada, pode-se dizer que o reator nuclear – o coração de uma usina nuclear – usa a energia contida
no interior do átomo para, simplesmente, ferver água. Assim, numa usina termonuclear, o calor é gerado pela fissão do
urânio no núcleo de um reator. Dessa etapa em diante, tudo funciona como numa usina a vapor qualquer, movida a
carvão ou petróleo: o vapor de água gira uma turbina, que movimenta um gerador, produzindo energia elétrica.
Nos anos 1970, o governo brasileiro elaborou uma ambiciosa política de energia nuclear. A primeira usina nuclear do
Brasil foi Angra I, no município de Angra dos Reis (RJ), comprada da Westinghouse e implantada em 1972. Em 1975, o
país assinou um acordo com a Alemanha prevendo a aquisição de oito reatores. Destes, só o de Angra II ficou pronto, e os
equipamentos de Angra III foram adquiridos. A construção de Angra III foi protelada durante décadas pela falta de
recursos. Além disso, tem sido alvo de críticas por parte da comunidade científica, por muitos ecologistas e também por
parte da população devido aos riscos que pode representar, aos custos elevados e às constantes panes. Angra II entrou
em operação em 2001 e, segundo previsão da Eletrobras Eletronuclear, Angra III deve começar a funcionar em 2018.
As usinas nucleares brasileiras foram implantadas em Angra dos Reis em razão de sua proximidade com as duas
maiores metrópoles brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro. Sua localização, em área densamente povoada, recebeu
muitas críticas de ambientalistas e outros estudiosos. Outra crítica refere-se ao problema gerado pelos resíduos dos
reatores, o chamado “lixo” nuclear, armazenado em tanques especiais até que se encontre uma solução definitiva
para a destinação dos perigosos resíduos.
Energia eólica
Em tempo de restrições crescentes ao uso de combustíveis fósseis, ganha importância o emprego de fontes
alternativas de energia, denominadas limpas, como a dos ventos.
O vento é o ar em movimento, um fluido como qualquer outro, cujas partículas estão sob a forma gasosa em vez
de líquida. Com o deslocamento do ar, as partículas que o compõem também se movimentam rapidamente, gerando
o que se chama energia cinética.
Assim como a energia da água em movimento é capturada pelas turbinas de uma hidrelétrica, a energia cinética
pode ser capturada por uma turbina eólica, cujas pás são projetadas especialmente para isso. Quando as pás da
turbina capturam a energia do vento e começam a girar, aciona-se um eixo que une o cubo do rotor a um gerador.
Por sua vez, o gerador transforma essa energia rotacional em eletricidade. Portanto, gerar eletricidade usando a
força do vento é uma questão de transferir energia de um meio a outro.
A energia eólica não é energia firme, ou seja, com fornecimento constante. Para um aproveitamento contínuo, ela
precisa ser armazenada em baterias ou, então, os geradores eólicos podem ser articulados com hidrelétricas,
contribuindo, por exemplo, para o abastecimento dos reservatórios dessas usinas.
Embora sua participação na matriz energética do Brasil ainda seja muito modesta, a energia eólica é cada vez mais
aproveitada no país, contando, para isso, com incentivos governamentais. Alguns estados se destacam na utilização da
energia eólica, como Rio Grande do Norte, Paraíba e os da região Sul.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / E R N E S T O RE G H R A N
Complexo eólico no município de São Bento do Norte (RN), 2015.

Álcool
O álcool pode ser produzido a partir de numerosos vegetais, como cana-de-açúcar, batata e cevada. Diante da
perspectiva de esgotamento das reservas de petróleo e de carvão, o álcool tem sido valorizado como combustível
alternativo.
A Rússia, por exemplo, desenvolve grandes plantações de eucalipto especialmente para esse fim, e o Brasil
produz álcool combustível da cana-de-açúcar. Nos anos 1970, com o aumento dos preços do petróleo no mercado
internacional, foi criado o Pró-Álcool, que recebeu incentivos governamentais e desenvolveu tecnologia própria. O
programa foi implantado, primeiramente, nas tradicionais áreas de cultivo de cana-de-açúcar, como a Zona da Mata,
no Nordeste; a Baixada Fluminense e o Planalto Ocidental Paulista.
Nos anos 1980, o estado de São Paulo já despontava na liderança do setor. No fim da década, contudo, os
principais motivos que determinaram a criação do Pró-Álcool deixaram de existir, pois os preços internacionais do
petróleo se reduziram e o aumento da produção interna diminuiu a dependência do produto importado.
Mesmo assim, a aceitação do carro a álcool em território nacional consolidou o Pró-Álcool, em função de algumas
vantagens: é uma energia renovável, menos poluente; permite a redução das importações brasileiras de petróleo;
representa um setor que gera muitos empregos diretos e indiretos; etc. Por outro lado, há impactos ambientais em
sua produção: erosão do solo; uso de agrotóxicos; contaminação de solos e de rios; emissões de poluentes devido à
prática de queimar a cana-de-açúcar antes da colheita; poluição de rios e lagos que recebem os subprodutos do
processo de fabricação do álcool; etc. Existem ainda outros aspectos considerados desvantajosos por muitos
estudiosos, por exemplo, a expansão das grandes propriedades canavieiras em detrimento das pequenas
propriedades e dos cultivos alimentares e o desenvolvimento do transporte individual em detrimento do coletivo.

Brasil: setor sucroalcooleiro (2008)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 128.

Texto & contexto
1. Explique o funcionamento de uma usina termonuclear.
2. Cite duas críticas feitas ao programa nuclear brasileiro. Você concorda com elas? Por quê?
3. Há alguma central eólica no estado onde você vive? Em caso afirmativo, comente sobre ela.
4. Identifique as principais vantagens e desvantagens do uso do álcool como fonte de energia.

Energia solar
Todos os dias, trabalhando como um imenso reator a fusão, o Sol irradia na Terra um potencial energético tão
elevado que não pode ser comparado a nenhuma outra fonte ou sistema de energia utilizado pela humanidade. Além
disso, quase todas as fontes de energia que utilizamos (hidráulica, biomassa, eólica, combustíveis fósseis e energia
dos oceanos) têm relação com a energia solar.
O Sol irradia, em um ano, o equivalente a 10 000 vezes a energia consumida pela população mundial no mesmo
período. Assim, o aproveitamento da energia solar como fonte de energia térmica, tanto para a geração elétrica
quanto para o aquecimento de fluidos e ambientes, é uma das alternativas energéticas mais promissoras para
enfrentar os desafios do novo milênio.
A conversão direta de energia solar em elétrica se dá pelos efeitos da radiação – calor e luz – sobre determinados
materiais, particularmente os semicondutores. Merecem destaque os efeitos termelétrico e fotovoltaico. O primeiro,
mais encontrado nas regiões Sul e Sudeste, em virtude das características climáticas, caracteriza-se pelo surgimento
de uma diferença de potencial, provocada pela junção de dois metais, em condições específicas. No segundo, mais
comum nas regiões Norte e Nordeste, em comunidades sem acesso à rede de energia elétrica, os fótons contidos na
luz solar são convertidos em energia elétrica por meio do uso de células solares.
A energia solar tem muitas vantagens sobre as outras formas de obtenção de energia, por isso é tão importante na
preservação do meio ambiente. Ela não é poluente, não influi no efeito estufa e não precisa de turbinas ou geradores
para a produção de energia elétrica. No entanto, para o seu aproveitamento, são necessários altos investimentos.
A quantidade de radiação incidente no país é um fator muito significativo para o aproveitamento da energia solar.
O atendimento de comunidades isoladas tem impulsionado a busca e o desenvolvimento de fontes renováveis de
energia. No Brasil, por exemplo, 15% da população não tem acesso à energia elétrica. Coincidentemente, essa
parcela da população vive em regiões onde o atendimento por meio da expansão do sistema elétrico convencional é
economicamente inviável. Trata-se de núcleos populacionais esparsos e pouco densos, típicos das regiões Centro-

Oeste, Nordeste e Norte.
O setor de aquecimento solar teve um crescimento considerável em meados da década de 1970, com a crise
do petróleo. A energia solar fotovoltaica teve um impulso notável, graças a projetos privados e governamentais,
atraindo o interesse de fabricantes pelo mercado brasileiro.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / J O Ã O PR U D E N T E
A energia solar é abundante e renovável. Na foto, aquecimento de água por meio de painéis de aquecimento solar em Santa Bárbara (MG), 2014.

Texto & contexto
1. Escreva um comentário sobre o aproveitamento da energia solar como fonte de energia térmica. Lembre-se de mencionar as
vantagens e desvantagens desse uso.
2. Você considera viável o uso de energia solar ou eólica no município onde você mora? Converse com seus colegas sobre o
assunto.
Produção de energia elétrica no Brasil
Desde a década de 1950 até 1995, a energia elétrica no Brasil foi quase totalmente gerada e distribuída por
empresas públicas, tanto estaduais quanto da União. Nos anos 1960, foi criada a Eletrobras, encarregada do
planejamento e da execução de uma política de energia elétrica para todo o país. A partir dessa época, sobretudo
na década de 1970, condicionado pela crise do petróleo, o governo federal pôs em prática um plano de construção
de grandes usinas hidrelétricas. Todavia, o ritmo de investimentos e a geração de energia diminuíram já no final
dos anos 1980, deixando de acompanhar o ritmo de expansão das necessidades de consumo nacionais.
Em 1995, teve início o programa de privatização do setor elétrico no Brasil, após a promulgação da chamada Lei
de Concessões. A Eletrobras e suas quatro subsidiárias de âmbito regional – Chesf, Furnas, Eletrosul e Eletronorte –
foram incluídas no programa. Em 1996, foi criada a Aneel para fiscalizar as empresas públicas e privadas que atuam
no setor.
Essa medida, no entanto, não foi suficiente para a retomada dos investimentos no montante que se esperava,
tendo em vista garantir o suprimento da demanda em expansão. Assim, em 1999, ano do histórico blecaute que
deixou sem energia milhares de brasileiros, e em 2001, quando baixou o nível da água dos reservatórios de grandes
hidrelétricas, em consequência de chuvas aquém do normal, a falta de investimentos no setor ficou evidente.
Um fato importante para o setor energético brasileiro foi quando o governo Lula interrompeu o programa de
privatizações, mantendo a Eletrobras e suas subsidiárias na condição de empresas estatais. No modelo
elaborado em seu governo, o setor elétrico passou a ser atraente aos investimentos privados na construção de
novas usinas hidrelétricas e termelétricas, com a garantia de remuneração e preços mais elevados. Esse
modelo procura substituir o investimento público no setor.
Atualmente, a geração e a distribuição de energia elétrica no Brasil são feitas por numerosas empresas, estatais e
privadas, quase todas conectadas entre si, constituindo o Sistema Interligado Nacional (SIN), cujo controle é exercido
pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Menos de 2% da energia elétrica no país é gerada por pequenos
sistemas isolados, a maioria na Amazônia. Trata-se de um dos maiores sistemas elétricos do mundo, de composição
hidrotérmica, mas com grande predominância da hidreletricidade.

O fato de estar todo interconectado permite ao ONS redistribuir quase instantaneamente a energia necessária para
suprir alguma falha local ou regional do sistema. Assim, por exemplo, diante de uma demanda excessiva em São Paulo,
representada por um grande consumo em horário de pico, o ONS automaticamente desliga os geradores
sobrecarregados, passando a região a ser suprida por energia gerada em outras partes do país. Tanto a potência
instalada quanto o consumo de energia elétrica podem indicar as desigualdades regionais do Brasil.
Observe, nos mapas a seguir, a produção e o consumo de energia elétrica no país.

Brasil: produção de energia (2012)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A

Brasil: consumo de energia (2012)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte dos mapas: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 129.

Matriz energética brasileira
Como os demais países, a economia brasileira também depende de muita energia para funcionar e crescer. Prova
disso é que, entre 1940 e 1980, a quantidade de energia consumida no país aumentou, em média, cerca de 7% ao
ano, dobrando a cada dez anos. Embora esse crescimento tenha decaído na década de 1980, em função de certa
estagnação econômica, a partir de 1990, a economia brasileira voltou a crescer, assim como a demanda de energia.
No Brasil urbano e industrial da atualidade, conhecer e discutir a matriz energética é fundamental para orientar o
planejamento do setor energético e, assim, garantir a produção e o uso adequados da energia produzida, inclusive
para o futuro.
Segundo a Eletrobras, a matriz energética corresponde a uma representação quantitativa da oferta de energia, isto
é, da quantidade de recursos energéticos oferecidos por um país ou uma região. A quantidade de recursos naturais
que está sendo utilizada também é uma informação obtida por meio da análise da matriz energética.
Observe, no gráfico à esquerda, que o percentual de energia não renovável ainda é alto, embora venha diminuindo
ao longo do tempo. Portanto, a matriz energética brasileira carece de maior limpeza, pois mais da metade de toda a
energia provém de fontes não renováveis, como petróleo e carvão mineral. Somente na matriz elétrica há um grande
predomínio de energia limpa – a hidreletricidade.

Brasil: matriz energética (2014)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: BALANÇO energético nacional 2015: ano-base 2014. Rio de Janeiro: EPE, 2015. p. 18. Disponív el em:
<https://ben.epe.gov .br/downloads/S%C3%ADntese%20do%20Relat%C3%B3rio%20Final_2015_Web.pdf >. Acesso em: 2 dez. 2015.

Brasil: matriz elétrica (2014)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: BALANÇO energético nacional 2015: ano-base 2014. Rio de Janeiro: EPE, 2015. p. 35. Disponív el em:
<https://ben.epe.gov .br/downloads/S%C3%ADntese%20do%20Relat%C3%B3rio%20Final_2015_Web.pdf >. Acesso em: 2 dez. 2015.

Outro aspecto importante no que se refere à matriz energética brasileira é a verificação do consumo final de
energia por setor. O setor industrial é o principal consumidor de energia. As peculiaridades do setor industrial
brasileiro ajudam a compreender esse fato. Ao contrário dos países desenvolvidos, que, cada vez mais, empregam
tecnologia poupando energia, no Brasil as indústrias (metalúrgicas, por exemplo) seguem consumindo grandes
quantidades de energia e eletricidade.
Texto & contexto
1. Qual é a definição de matriz energética segundo a Eletrobras?
2. Os países desenvolvidos, cada vez mais, empregam tecnologia poupando energia. Em sua opinião, isso vem ocorrendo no
Brasil? Por quê?

Conexões
A industrialização brasileira foi essencial para a transformação de um país agrário em um país urbano-industrial e
teve grande responsabilidade na internacionalização da economia do país. Passados mais de cem anos do início de
sua implantação, a indústria vem sofrendo as consequências dos problemas que afetam a economia nacional. Leia o
texto a seguir, sobre a desindustrialização do Brasil.

Perda de participação da indústria de transformação no PIB
[...]
Desindustrialização brasileira: um processo precoce e nocivo à economia nacional
A desindustrialização é um fenômeno que ocorreu em muitos países, mas o caso brasileiro chama a atenção pela
velocidade. A participação da indústria de transformação no PIB total brasileiro é atualmente equivalente às parcelas
de economias avançadas, mas a renda per capita é muito inferior, o que caracterizaria o processo de
desindustrialização brasileiro como precoce. [...] A participação da indústria de transformação no PIB brasileiro era
equivalente a países como França e Estados Unidos, com renda per capita bastante superior. Mesmo o Chile, que
apresenta participação equivalente à do Brasil, apresenta uma renda per capita superior.
O processo de desindustrialização em países desenvolvidos é resultado do crescimento da produtividade na
indústria de transformação, ou seja, esteve associado ao aumento do emprego de alta produtividade e à elevada

qualificação da mão de obra nesse setor, o que transferiu trabalhadores para os outros setores da economia. [...]
Já no caso do Brasil, o processo de desindustrialização é precoce e nocivo à economia nacional, pois se associa a
fenômenos negativos, tais como a perda de competitividade das exportações industriais [...] e o aumento das
importações [...].
Consequências da desindustrialização brasileira
Como consequência da desindustrialização brasileira, ocorreu a “primarização” de nossa pauta exportadora,
enquanto a proporção dos manufaturados importados permaneceu em patamar elevado, ou seja, houve uma
expressiva deterioração da balança comercial de manufaturados, com uma menor participação de produtos de alta
intensidade tecnológica e de maior valor agregado nas exportações totais.
Enquanto os produtos não industriais aumentaram sua participação na pauta exportadora brasileira de 16,9%, em
2000, para 39,4%, em 2014, produtos industriais de alta tecnologia perderam participação de 11,2% para 4,0% neste
período, e os de média-alta tecnologia caíram de 25,2% para 16,5% da pauta exportadora.
[...]
O processo de desindustrialização no Brasil é precoce e com velocidade mais acelerada que nos demais países,
especialmente a partir dos anos 2000. Entre as possíveis causas da intensificação do processo de
desindustrialização no Brasil, destacam-se a piora do preço relativo, a concorrência mais acirrada com produtos
importados (especialmente da China) e o descolamento entre os aumentos dos salários reais e da produtividade da
mão de obra do setor.
Como consequências da desindustrialização brasileira, temos uma expressiva deterioração da balança comercial
de manufaturados, a baixa intensidade tecnológica da pauta exportadora e a menor produtividade total da economia,
o que a torna nociva à economia brasileira.
DEPECOM. Perda de participação da indústria de transformação no PIB. p. 15-21.
Disponív el em: <http://www.f iesp.com.br/arquiv o-download/?id=191508>. Acesso em: 7 jan. 2016.
Responda no caderno
1. De acordo com o texto, por que a desindustrialização brasileira é precoce e mais acelerada do que a dos demais países do
mundo?
2. Quais são as consequências da desindustrialização no Brasil?


Pensando bem

Responda no caderno
1. Muitas vezes, vincula-se a região Nordeste ao atraso e à pobreza. Porém a região também se destaca em tecnologia, indústria e
geração de energia elétrica limpa e sustentável. Leia, a seguir, trechos de reportagens sobre esses aspectos.

Polo tech, Recife vira “Índia brasileira”
A concentração de empresas de software e telemarketing em Recife tem crescido tanto que a cidade já começa a
ser chamada de “Índia brasileira”, em alusão ao país asiático que se destaca nos dois setores.
As áreas, porém, diferem em mão de obra e salário. Enquanto a de software paga melhor, mas exige qualificação,
a de telemarketing remunera mal, mas é a chance de o jovem conseguir seu primeiro emprego. [...]
As empresas dos setores se reúnem no Porto Digital, polo no Recife cuja produção lhe rendeu o título de maior
parque tecnológico do Brasil. [...]
Numa rara conexão entre poder público, iniciativa privada e academia, a cidade atrai empresas não só para
atender o mercado local, mas também o mundo. [...]
NERY , Natuza; GOMES, Helton Simões. Polo tech, Recif e v ira “Índia brasileira”. Folha de S.Paulo, p. B17, 28 out. 2012. Mercado.

Recife: Porto Digital (2015)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de GATIS, Guilherme. Porto Digital expande perímetro do parque tecnológico. Disponív el em: <http://www.portodigital.com.br/198/4733>.
Acesso em: 8 jan. 2015.
Com a expansão do perímetro do parque tecnológico, Porto Digital passará a integrar partes dos bairros da Boa Vista, de Santo Antônio e de São José, no
Recife (PE).

Agreste tem 2º maior polo têxtil do país
O polo de confecções do agreste pernambucano, cujo motor se concentra nas cidades de Caruaru, Toritama e
Santa Cruz do Capibaribe, registrou um aumento de 8 mil novos empreendimentos ligados ao setor na última década,
além de uma expansão territorial do negócio, que agora abrange outros dez municípios da região, localizada no
semiárido. […]
Os 12 mil empreendimentos registrados em 2003 são, agora, cerca de 20 mil. O polo já é o segundo maior do país – só
perde para São Paulo. A região oferece cerca de 100 mil empregos e produz 900 milhões de peças por ano. Não há
desemprego no setor, que tem penado com carência de mão de obra qualificada. […]
LACERDA, Angela. Agreste tem 2
o
maior polo têxtil do país. O Estado de S. Paulo, p. B6, 6 jan. 2013. Economia.

Nordeste é a nova fronteira elétrica
Depois de quase esgotar o seu potencial hidrelétrico na década de 90, o Nordeste ressurge como a grande
sensação da energia alternativa. […]
Quase sempre localizados em áreas pouco desenvolvidas, os empreendimentos trazem forte melhoria da renda da
população local, que tem poucas opções de emprego. Nos últimos anos, com a construção dos primeiros parques
eólicos, várias famílias passaram a contar, do dia para a noite, com uma renda generosa para os padrões da região. A
maioria das empresas que está levantando torres gigantes no Nordeste optou pelo arrendamento das terras para
construir as usinas eólicas. Cada uma adota uma fórmula diferente. Algumas pagam por torre instalada na terra. Outras
pagam um porcentual da energia por gerador instalado. Dependendo do critério adotado, cada família pode ganhar R$ 1
mil por torre. […]
Outro benefício da chegada dos parques eólicos na região foram os avanços na infraestrutura rodoviária. Algumas
estradas foram asfaltadas pelas empresas responsáveis pelos projetos. Outras continuam de terra, mas em
condições bem melhores que as do passado […].
[…] além da força do vento, o Nordeste também começa a despontar na energia solar. […] Mas, ao contrário da
eólica, a usina solar normalmente requer a compra de terras, já que todo o espaço é usado para a instalação dos
painéis. […]
PEREIRA, Renée; SANTANA, Werther. Nordeste é a nov a f ronteira elétrica. O Estado de S. Paulo, p. B6, 11 jan. 2015. Economia.

a) Quais são os tipos de empresas instalados no polo tecnológico de Recife? Por que a cidade é chamada de “Índia
brasileira”?
b) Qual sub-região do Nordeste tem o segundo maior polo têxtil do Brasil? Por que ele é tão importante?
c) Que benefícios a energia eólica trouxe aos locais onde foi instalada?

2. Enem (2011)

Sobradinho
O homem chega, já desfaz a natureza
Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar
O São Francisco lá pra cima da Bahia
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar
E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que
dizia que o Sertão ia alagar.
SÁ E GUARABY RA. Disco Pirão de peixe com pimenta. Som Liv re, 1977 (adaptado).
.
O trecho da música faz referência a uma importante obra na região do rio São Francisco. Uma consequência socioespacial
dessa construção foi
a) a migração forçada da população ribeirinha. d) a ampliação das áreas de clima árido.
b) o rebaixamento do nível do lençol freático local. e) a redução das áreas de agricultura irrigada.
c) a preservação da memória histórica da região.
3. Enem (2012) A partir dos anos 70, impõe-se um movimento de desconcentração da produção industrial, uma das
manifestações do desdobramento da divisão territorial do trabalho no Brasil. A produção industrial torna-se
mais complexa, estendendo-se, sobretudo, para novas áreas do Sul e para alguns pontos do Centro-Oeste, do Nordeste e do
Norte.

SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2002 (f ragmento).
Um fator geográfico que contribui para o tipo de alteração da configuração territorial descrito no texto é:
a) Obsolescência dos portos.
b) Estatização de empresas.
c) Eliminação de incentivos fiscais.
d) Ampliação de políticas protecionistas.
e) Desenvolvimento dos meios de comunicação.

Desafios & debates

Em dupla
Alguns momentos da história do Brasil estão representados nas telas de Tarsila do Amaral, considerada a
primeira-dama do modernismo brasileiro. Nas pinturas a seguir, podemos observar o ingresso de nosso país no
mundo industrializado, no início do século XX.
Nesta seção, o desafio é explorar duas pinturas de Tarsila, para ampliar seus conhecimentos sobre os primórdios
da industrialização no país.

< imagem >
T arsila do Amaral. Operários, 1933. Óleo sobre tela. Dimensões: 150 cm × 205 cm.
ACE R V O ART Í S T I C O -C U L T U R A L DO S PA L Á C I O S DO GO V E R N O DO E ST A D O DE SÃ O PA U L O , SÃ O PA U L O (SP ).

< imagem >
COL E Ç Ã O GIL B E R T O DA C H E , SÃ O PA U L O (SP ).
T arsila do Amaral. A gare, 1925. Óleo sobre tela. Dimensões: 84,5 cm × 65 cm.

1. Sobre a obra Operários, respondam:
a) Em que ano ela foi produzida?
b) O que são os elementos no fundo da pintura, no canto esquerdo superior?
c) Quem são as figuras humanas? Como estão dispostas?
d) O que os semblantes das pessoas sugerem? Em sua opinião, há alguma denúncia social? Em caso afirmativo, qual?
2. Observem a pintura A gare para responder às questões.
a) Em que ano essa tela foi produzida?
b) O que a obra representa?
c) O que vocês diriam sobre as formas e as cores utilizadas pela artista?
d) Na obra, há elementos característicos de um ambiente urbano. Quais são eles?

Em debate
O mundo vive atualmente a realidade da manufatura avançada, que prevê concepção, desenvolvimento e
implantação de processos industriais inteligentes e sistemas integrados de tecnologia de informação e
comunicação.
A indústria vem passando por um intenso crescimento em seus níveis de produção e eficiência. O tempo para um
produto chegar ao mercado está cada vez mais curto. É preciso capacitação para lidar com os desafios e os
acelerados ciclos de inovação.
Sob a supervisão do professor, debatam os seguintes temas:

▸ Educação é fator decisivo para o desenvolvimento industrial.
▸ A chave para acompanhar o desenvolvimento tecnológico atual é a educação de qualidade.

capítulo

10
Espaço urbano brasileiro
< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / D E L F I M M A R T I N S
Em Belém, construções antigas, muitas delas completamente restauradas e revitalizadas, dividem espaço com construções recentes, que evidenciam o
atual desenvolvimento da capital paraense. Nessa foto, de 2014, mercado Ver-o-Peso, inaugurado em 1901, e edifícios construídos mais recentemente.

O processo de urbanização no território brasileiro acentuou-se após a Segunda Guerra Mundial, quando houve a
industrialização do país e a formação de um mercado integrado comandado pelas atividades industriais na região
Sudeste. Portanto, no pós-guerra, sobretudo em razão do processo de industrialização da década de 1950, a rede
urbana do Brasil foi efetivamente integrada; cada centro urbano faz parte de várias redes de cidades.
Nos estudos sobre a origem do centro urbano brasileiro, o geógrafo Roberto Lobato Corrêa indica que o primeiro
padrão espacial da rede urbana do país foi o padrão dendrítico, isto é, aquele em que uma cidade litorânea criada para
a defesa do litoral adquire, posteriormente, a função de ponto de penetração e conquista do interior. Ao longo do tempo,
a partir das cidades litorâneas, foram criadas outras cidades a elas subordinadas.
Um exemplo do processo citado por Corrêa é a rede urbana amazônica, que, até aproximadamente 1960,
apresentava um padrão espacial dendrítico comandado por Belém. Segundo ele, as transformações verificadas na
Amazônia, principalmente a partir de 1970, introduziram maior complexidade à rede urbana, criando padrões
espaciais não mais definidos pela rede fluvial nem por ligações exclusivas com a capital paraense.
Rumo às cidades
Ao abordar a questão urbana no Brasil, é interessante refletir, inicialmente, sobre o significado de crescimento
urbano e urbanização. Esses são processos distintos que representam indicadores fundamentais da geografia do
mundo e do Brasil contemporâneo.
O crescimento urbano diz respeito ao aumento da população que vive nas cidades e resulta apenas do
crescimento natural ou vegetativo da população urbana. A urbanização, por sua vez, corresponde à transferência de
populações originárias das áreas rurais para as cidades. Esse processo ocorre somente quando a população das
cidades cresce mais do que a rural, como resultado da migração campo-cidade.
Em 1970, a maioria da população brasileira já vivia nas áreas urbanas, refletindo, assim, a modernização
econômica e o grande desenvolvimento industrial do país. A partir de 1970, quando chegou a 41 milhões, a
população que vivia nas áreas rurais passou a diminuir sem parar (retome o gráfico da página 154).
O novo modelo de desenvolvimento econômico do Brasil industrial requeria um mercado consumidor unificado
para poder se expandir. Para isso, o território brasileiro teve de ser interligado por grandes rodovias e modernos
meios de comunicação, que possibilitaram o contato entre as diferentes regiões, originando novas relações sociais e
econômicas. Essa fase correspondeu ao período inicial da articulação das atividades produtivas no país.
As empresas multinacionais instalaram-se junto às cidades, onde a concentração populacional era maior; a
infraestrutura urbana, mais moderna; e a população, mais qualificada para o trabalho urbano e industrial. As poucas
cidades que atendiam a essas condições foram privilegiadas e passaram a apresentar um crescimento ainda maior.
Atraíram migrantes originários das áreas rurais e de outras regiões do país e transformaram-se em gigantescas
aglomerações urbanas.
A industrialização gerou empregos para os profissionais especializados, expandiu as classes médias e aqueceu
o consumo urbano, estimulando o comércio e a prestação de serviços. As grandes cidades transformaram-se
numa espécie de padrão de modernidade, que o rádio e a televisão divulgavam para as mais distantes regiões do
Brasil. Atraídos pela ilusão de um padrão de vida elevado e pelo modelo urbano de consumo, muitos brasileiros
afluíram para os principais núcleos industriais do país. Assim, o processo de urbanização brasileiro apoiou-se no
êxodo rural.
Embora o processo de urbanização se manifeste em todo o país, há grandes diferenças quanto ao ritmo de

deslocamento da população rural para as cidades. Veja o gráfico ao lado.

Brasil: evolução da urbanização por regiões (1950-2010)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: IBGE. Séries históricas estatísticas: taxa de urbanização. Disponív el em: <http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=POP122>. Acesso em: 8 dez.
2015.

No Sudeste, a população urbana ultrapassou a rural na década de 1950, processo que se desacelerou após duas
décadas. Nessa região, a modernização econômica foi marcada pela forte presença das indústrias. No Sul, a
urbanização foi mais lenta até 1970, pois o sistema de propriedade familiar e a policultura resultaram em um êxodo
rural mais reduzido. No Centro-Oeste, a urbanização foi impulsionada pela fundação de Brasília, em 1960, e pela
construção de rodovias que passaram a interligar a capital federal ao Sudeste. As atividades agropecuárias, como a
cultura da soja, também influenciaram a urbanização da região. Nas regiões Norte e Nordeste, o processo de
urbanização foi relativamente mais lento.
O outro lado da urbanização
Como a modernização econômica apoiou-se principalmente no capital estrangeiro, a tecnologia adotada era
adequada, na época, à realidade dos países mais desenvolvidos, onde a urbanização já estava estabilizada e o
crescimento da oferta de mão de obra urbana era lento e gradual. No Brasil, porém, a situação era diferente.
Ao mesmo tempo que acelerou o ritmo de desenvolvimento econômico, a introdução de indústrias baseadas em
um padrão tecnológico típico dos países ricos criou problemas sociais. A modernização da economia atraiu mais
trabalhadores do que as novas atividades conseguiam absorver, resultando, não raro, em desemprego nas principais
cidades do país.
Muitos trabalhadores menos qualificados para o trabalho urbano não puderam empregar-se na nova indústria ou
no setor de prestação de serviços mais moderno. Eles acabaram por se concentrar em atividades do setor terciário
informal, como as oficinas de conserto (roupas, sapatos, veículos), que atendem as populações de baixa renda, e
passaram a trabalhar como pequenos comerciantes, biscateiros, camelôs e prestadores de serviços. Em atividades
dessa natureza, o trabalho é malremunerado e realizado sem vínculo formal, não proporcionando ao trabalhador as
garantias trabalhistas previstas por lei, como Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e Previdência Social.
Assim, o crescimento do subemprego foi um processo decorrente do modelo de modernização econômica adotado
pelo país. À parcela mais abastada da população e à classe média emergente, o setor terciário formal oferecia
serviços mais sofisticados: em hipermercados, lojas de departamento, bancos, shopping centers, escolas, entre
outros.
< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / R U B E N S CH A V E S
Venda de legumes e hortaliças em Palmeira dos Índios (AL), 2015.

Texto & contexto
1. Qual é a diferença entre crescimento urbano e urbanização?
2. O processo de urbanização brasileiro apoiou-se essencialmente no êxodo rural. Por quê? Em sua opinião, isso se configura
como algo positivo ou negativo para o crescimento do país? Justifique sua resposta.
3. Com base no gráfico da página anterior, explique por que há diferenças entre as taxas de urbanização das cinco regiões
brasileiras.

Metropolização
O modelo de desenvolvimento adotado no Brasil a partir da década de 1950 e a formação de um mercado nacional
integrado levaram a processos encadeados de metropolização, impulsionada pela conurbação, e de interiorização
urbana e demográfica.
Inicialmente, ocorreu uma metropolização acelerada, nucleada no crescimento de algumas grandes capitais, mas
que, em seguida, perdeu impulso diante da multiplicação de cidades pequenas e médias e de uma nova
metropolização, disseminada por espaços urbanos menores.

Conurbação: fenômeno urbano caracterizado pela união de duas ou mais cidades (ou municípios) e pela formação de apenas uma malha urbana, como se o espaço
resultante fosse uma única cidade. As cidades envolvidas passam a utilizar de maneira conjunta os mesmos serviços de infraestrutura, formando uma malha urbana

contínua.

As regiões metropolitanas e a megalópole
A expansão industrial acelerou o crescimento de algumas cidades, principalmente capitais, para onde afluíram os
maiores investimentos e as atividades mais modernas, transformando-as em importantes polos de desenvolvimento e
de atração populacional. Com isso, formaram-se aglomerações urbanas com mais de um milhão de habitantes,
chamadas de “cidades milionárias”.
O gráfico a seguir mostra a multiplicação dessas cidades, refletindo o processo de modernização e a tecnificação
da economia e do território brasileiro.
Com o objetivo de facilitar o planejamento nas grandes aglomerações urbanas do país, foram criadas, por lei federal,
as regiões metropolitanas, em meados da década de 1970. Estruturas territoriais especiais, as regiões metropolitanas
são regiões de planejamento governamental. Caracterizam-se pela reunião de diversas cidades numa grande mancha
urbana, marcada por integração funcional, forte concentração populacional e grande dinamismo econômico. A
integração funcional ocorre quando a população de dois ou mais núcleos urbanos vizinhos compartilham serviços e
infraestruturas, gerando, assim, movimentos diários de pessoas, chamados fluxos pendulares. Por definição legal, a
densidade demográfica de uma região metropolitana deve ser superior a 60 hab./km².
No início, foram instituídas nove regiões metropolitanas, cada qual polarizada por uma grande capital: Belém,
Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. O crescimento
dessas áreas urbanizadas entrou em desaceleração a partir da década de 1980.
Embora as primeiras regiões metropolitanas tenham diminuído seu ritmo de crescimento, os fenômenos de
conurbação não cessaram, atingindo outras cidades. Pela Constituição de 1988, os estados assumiram a
prerrogativa do reconhecimento legal de regiões metropolitanas. Com isso, ocorreu uma nova metropolização, mais
formal que prática, causando um considerável aumento no número de regiões metropolitanas.

Brasil: cidades milionárias (1960-2014)
< gráfico >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fontes: SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993; SOUZA, Beatriz. As 200 cidades mais populosas do Brasil. Exame.com, 28 ago. 2014.
Disponív el em: <http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/as-200-cidades-mais-populosas-do-brasil>. Acesso em: 8 dez. 2015.

No mapa ao lado, observe algumas das mais importantes regiões metropolitanas do país. Até 2015, existiam 66
regiões metropolitanas no Brasil.
As regiões metropolitanas da Baixada Santista e de Campinas estão muito ligadas à Grande São Paulo, com a
qual formam um eixo macrometropolitano comandado pela capital paulista. Esta é uma imensa metrópole expandida,
ligada por eixos de circulação às aglomerações urbanas de Santos, Campinas, Sorocaba e São José dos Campos.
Quando a integração funcional acontece entre centros urbanos localizados em diferentes unidades político-
administrativas, forma-se uma região integrada de desenvolvimento. É o caso de Brasília e das cidades próximas,
que formam a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride-DF). Essa região engloba 22
municípios ligados ao Distrito Federal, dos quais 19 pertencem a Goiás e 3 ao estado de Minas Gerais.
O grande desenvolvimento econômico e a intensa ocupação do espaço, aliados à pequena distância (cerca de 400
km) que separa a metrópole de São Paulo da do Rio de Janeiro, facilitam a interligação entre elas. A faixa territorial
que as une e o eixo de circulação que as conecta deram origem à primeira megalópole do país, com papel
fundamental na organização do território brasileiro. Observe o mapa abaixo.

Brasil: principais regiões metropolitanas (2010)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 147.

Megalópole: área intensamente urbanizada que, em uma pequena extensão, reúne várias metrópoles e inúmeras outras cidades.


Região Sudeste: eixo Rio-São Paulo
< imagem >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de INPE. Catálogo de imagens. Disponív el em: <www.dgi.inpe.br/CDSR/>. Acesso em: 22 abr. 2016.

Interiorização urbana e demográfica
A partir da década de 1980, em virtude da desconcentração econômica, a urbanização do território brasileiro
assumiu um novo papel: as cidades médias passaram a apresentar índices mais elevados de crescimento em
comparação às grandes concentrações citadinas, particularmente as nove regiões metropolitanas então existentes.
Assim, aumentou o número de cidades médias. Ressalvando que algumas delas faziam parte de regiões
metropolitanas, as cidades médias assumiram papel importante na estruturação do espaço geográfico nacional.
Em 1980, havia 33 cidades na faixa entre 100 mil e 500 mil habitantes e 14 na faixa entre 500 mil e 1 milhão de
habitantes. No ano 2000, já eram 66 e 17 cidades, respectivamente. Por outro lado, de 1980 a 1991, apenas duas
novas cidades ingressaram na faixa de mais de 1 milhão de habitantes – Manaus e Goiânia – e, de 1991 a 2000,
nenhuma. Perceba que, de 2000 a 2010, mais uma cidade superou 1 milhão de habitantes – São Luís – e outras
duas entraram na faixa de 500 mil a 1 milhão – Cuiabá e Londrina. Veja que o número de cidades entre 100 mil e 500
mil teve um aumento pouco expressivo, indicando redução do ritmo de urbanização. Observe os mapas a seguir.

Brasil: cidades mais populosas (1980)
< mapa >

JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A

Brasil: cidades mais populosas (2000)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A

Brasil: cidades mais populosas (2010)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte dos mapas: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 139.

Segundo dados divulgados pelo IBGE, em 2014, 17 cidades brasileiras tinham mais de um milhão de habitantes.
Veja a tabela abaixo.

Brasil: cidades mais populosas (2014)

Estado
SP
RJ
BA
DF
CE
MG
AM
PR
PE
RS
PA
GO
SP
SP
MA
RJ
AL


Cidade

São Paulo
Rio de Janeiro
Salvador

Brasília

Fortaleza

Belo Horizonte


Manaus

Curitiba


Recife


Porto Alegre

Belém
Goiânia
Guarulhos
Campinas
São Luís
São Gonçalo
Maceió

População
11 895 893
6 453 682
2 902 927
2 852 372
2 571 896
2 491 109
2 020 301
1 864 416
1 608 488
1 472 482
1 432 844
1 412 364
1 312 197
1 154 617
1 064 197
1 031 903
1 005 319


Fonte: IBGE. Os municípios mais populosos. Disponív el em:
<http://www.ibge.gov .br/home/presidencia/noticias/pdf /analise_estimativas_2014.pdf >. Acesso em: 11 jan. 2016.

Por sua vez, em conjunto, as nove maiores regiões metropolitanas cresceram, de 1940 a 1970, a uma taxa média
anual de 4,5%; de 1970 a 1980, a taxa foi de 3,8%; de 1980 a 1991, de 2%; e, na década seguinte, de 1,3%.
Em 1960 e 1970, mais de 40% de toda a população urbana do Brasil vivia nas regiões metropolitanas, mas, de 1980
a 1991, esse número caiu para menos de 30%. A partir de 2000, no entanto, graças ao reconhecimento de mais de uma
dezena de novas regiões metropolitanas no país, passaram a abranger quase a metade dos brasileiros que vivem em
espaço considerado urbano.
Verifica-se, portanto, que a urbanização no Brasil caracterizou-se, de início, por forte concentração humana nas
“cidades milionárias”, dando origem às grandes regiões metropolitanas. Posteriormente, acompanhando o processo de
desconcentração econômica, pautou-se, sobretudo, pela multiplicação de pequenas e médias cidades, configurando uma
desconcentração populacional. De fato, à medida que outras regiões, além do Sudeste,
passaram a atrair capital produtivo, outras cidades cresceram mais que as regiões metropolitanas até então existentes e
vieram a se tornar regiões metropolitanas, embora com população bem mais modesta, não milionária.

Não se pode pensar, porém, que as metrópoles originais estão perdendo importância na dinâmica econômica e social
do país. Elas continuam sediando grandes empresas de todo tipo, que exercem sua influência sobre o território nacional
por meio de sistemas de informação, comunicação e transporte.
A interiorização demográfica ainda pode ser atestada pelo fato de a população das capitais estar crescendo mais
lentamente que a do restante do Brasil. Os padrões de urbanização estão diretamente ligados ao ritmo e ao alcance do
processo de modernização do país.
Nas últimas décadas, conforme a economia e o mercado se integravam, a modernização generalizou-se,
incorporando novas áreas urbanas e agrícolas. Nos dias atuais, apesar das grandes desigualdades existentes, tanto
territoriais quanto sociais, principalmente, pode-‑se dizer que quase todo o Brasil se modernizou e que a maioria da
população está integrada aos sistemas de produção, consumo e informação. A grande produção industrial, o variado
comércio e os serviços bancários já alcançam populações que vivem em lugares longínquos, geralmente com o apoio
das empresas de publicidade, que difundem os padrões de consumo.
No entanto, como a modernização não ocorre de maneira uniforme, pois é seletiva e excludente, ela revela dupla
face. De um lado, propicia desenvolvimento e riqueza aos segmentos territoriais, econômicos e sociais por ela
incorporados, cujos beneficiários ingressam nos ativos circuitos de produção e consumo e passam a desfrutar de um
crescente conforto material. Por outro, a modernização tem aprofundado os contrastes existentes no país, aumentando
as diferenças entre ricos e pobres, sejam regiões ou lugares, sejam segmentos sociais ou pessoas.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / S E R G I O PE D R E I R A
Contraste de moradias em Salvador (BA), 2015.

Especialização urbana
Como você viu anteriormente, no processo de desconcentração das atividades econômicas, as cidades
especializaram-se em determinados ramos ou setores que propiciavam maior produtividade com menor custo.
As grandes cidades especializaram-se na administração das atividades econômicas e na produção de inovações
de todos os tipos (administrativas, tecnológicas, de consumo e comportamentais), ao passo que outras se
especializaram na produção para o mercado. Assim, por exemplo, a indústria estratégica (aeronáutica e bélica)
desenvolveu-se em São José dos Campos (SP); a indústria mecânica, em diversas cidades do interior paulista, como
Piracicaba e São José do Rio Preto; a indústria petroquímica, em Camaçari, no Recôncavo Baiano; a indústria
calçadista, em Franca (SP) e, sobretudo, nas cidades do Vale do rio dos Sinos (RS).

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / P A U L O FRI D M A N
Indústria aeronáutica em São José dos Campos (SP), 2015.

< imagem >
FO L H A P R E S S / Z A N O N E FR A I S S A T
O Rio Grande do Sul responde, atualmente, por cerca de 35% da produção nacional de calçados. Na foto, indústria de calçados em Ivoti, no Vale do Rio
dos Sinos (RS), 2015.

Texto & contexto
1. Qual foi a principal mudança no processo de urbanização brasileiro verificada a partir da década de 1980? O que ela tem a ver
com a estruturação do espaço geográfico nacional?
2. Atualmente, pode-se dizer que quase todo o Brasil se modernizou e que a maioria da população brasileira está integrada aos
sistemas de produção, consumo e informação. Você concorda com essa afirmação? Por quê?
3. Em sua opinião, as metrópoles brasileiras têm perdido sua importância na atualidade? Justifique sua resposta.

Brasil: um país urbano
A expansão de novas formas capitalistas de produção atingiu tanto as áreas urbanas quanto as rurais, que foram
se integrando gradativamente aos principais circuitos da produção econômica. Conforme se desenvolvia no campo
uma produção comercial voltada para as necessidades da cidade, como alimentos, matérias-primas e excedentes

exportáveis, difundia-se também o trabalho assalariado e expandia-se o mercado consumidor.
Em certas áreas do país, a produção rural incorporou as inovações tecnológicas produzidas na cidade.
Trabalhadores rurais foram viver em cidades, como acontece com os chamados boias-frias. Moradores do campo
passaram a trabalhar em atividades não agrícolas, como o turismo e a prestação de serviços. Parcela da população
que se dedica às atividades do setor primário assimilou os padrões de consumo urbanos e se transformou em
compradora de produtos industrializados. A própria cultura popular típica das zonas rurais converteu-se em objeto de
consumo, difundido pelos principais agentes da indústria cultural sediada na cidade.
Integração urbano-rural
Para avaliar esse novo país com fidelidade, pode-se partir das concepções de Brasil urbano e de Brasil rural.
O Brasil urbano desenvolve-se sob o comando das atividades terciárias (comércio, prestação de serviços) e
secundárias (indústria de transformação, indústrias em geral), e sua população vive em cidades. Apesar de funcionar
segundo os interesses das atividades tipicamente urbanas, é marcado também pela presença de atividades
econômicas tradicionais, como o artesanato. Contém ainda elementos tipicamente rurais, como os cinturões verdes e
as novas hortas urbanas, que abastecem as populações das regiões metropolitanas e produzem alimentos para
outros núcleos urbanos.
Já a economia do Brasil rural é comandada pelos interesses das atividades do setor primário, mas se integra
plenamente às principais formas de produção urbanas. O setor primário brasileiro absorveu, nas últimas décadas,
todos os tipos de modernização que possibilitaram a expansão da produção agrícola e da pecuária. A
produtividade aumentou, e o setor integrou-se aos principais mercados consumidores nacionais e internacionais.
Essa modernização, como você já viu, foi produzida nas cidades, onde se concentram a pesquisa científica e a
atividade industrial, que deram suporte à mecanização da agricultura.
O Brasil urbano e o Brasil rural são, em resumo, elementos de uma única realidade, constituída a partir da
aceleração do processo industrial e comandada pelos interesses das atividades urbanas, visando à plena integração
da economia nacional ao mercado mundial globalizado.
< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / E R N E S T O RE G H R A N
O Brasil rural usa cada vez mais os insumos modernos produzidos pelas atividades tipicamente urbanas. Na foto, tecnologia (drone) sendo utilizada no
campo em T ibagi (PR), 2014.

Hierarquia urbana brasileira
O conceito de hierarquia urbana está baseado na noção de rede urbana, conjunto integrado de cidades que
estabelecem relações econômicas, sociais e políticas entre si. Algumas cidades predominam e exercem influência
sobre outras, produzindo um sistema de relações hierarquizadas no interior de cada rede urbana.
No Brasil, as mudanças aceleradas no padrão de urbanização produziram, pelo menos, duas diferentes avaliações
da hierarquia urbana: uma tradicional e outra recente. A avaliação tradicional está baseada no denominado modelo
industrial, que prioriza a relação estabelecida entre as diferentes cidades por meio dos fluxos de mercadorias e de
serviços. A avaliação recente apoia-se no chamado modelo informacional, concentrando-se na relação entre as
diferentes cidades a partir dos fluxos administrativos e de informações.
Modelo industrial
Segundo o modelo industrial, as cidades não podem viver isoladas umas das outras; elas precisam estabelecer um
intercâmbio de produtos e de serviços.
A ideia de hierarquia, nesse caso, está associada à dependência dos centros urbanos menores em relação aos
centros maiores, que polarizam a rede urbana à qual estão integrados. Os centros maiores apresentam uma
economia mais diversificada e oferecem maior variedade de mercadorias e de serviços às cidades menores. Neles
concentram-se sistemas bancários, grandes centros de abastecimento, lojas de departamentos, shopping centers,
sistemas de distribuição de produtos industrializados, distribuidoras de veículos ou de máquinas agrícolas, hospitais,
escolas e universidades.
Quanto maior o centro urbano, mais diversificada a sua infraestrutura econômica e maiores as suas
possibilidades de coordenar os principais fluxos de mercadorias e de serviços, influenciando as outras cidades da
sua rede. Na hierarquia urbana brasileira, a liderança funcional cabe às metrópoles, que polarizam o conjunto das
redes urbanas nacionais ou a rede urbana de grandes regiões.
O país tem uma grande metrópole nacional – São Paulo. Em sua região metropolitana, concentra-se uma
população de cerca de 20 milhões de habitantes. Abriga a sede de grandes empresas nacionais e multinacionais,
bem como de bancos, que operam no país e proporcionam a integração de nossa economia aos principais circuitos

da economia internacional por meio de transações financeiras. Além disso, exerce controle sobre os principais
sistemas de comunicação que difundem inovação para todo o país. Por isso, São Paulo é a metrópole informacional
do Brasil e tem alcance global.
Há também duas metrópoles nacionais – Rio de Janeiro e Brasília –, assim classificadas por participarem
ativamente da gestão do território nacional. O Rio de Janeiro, antiga capital federal, reúne, em sua região
metropolitana, quase 12 milhões de habitantes, e a Ride-DF tem cerca de 3,7 milhões.

Brasil: hierarquia urbana (2007)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de IBGE. Regiões de influência das cidades 2007. Rio de Janeiro, 2008. Disponív el em: <www.ibge.gov .br/home/geociencias/geograf ia/regic.shtm>.
Acesso em: 24 out. 2014.

As regiões metropolitanas das demais nove metrópoles – Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Goiânia, Salvador,
Recife, Fortaleza, Belém e Manaus – têm uma população que varia entre 2,2 milhões e 5,5 milhões de habitantes
(Manaus e Belo Horizonte, respectivamente) e situam-se em um nível menos complexo de gestão territorial, seja em
relação à extensão da área de influência, seja pela diversidade e intensidade das funções exercidas.
Os centros urbanos menores do que as metrópoles são chamados de capitais regionais. Apesar de sua área de
influência ser apenas regional, eles abrangem um grande número de municípios. Apresentam níveis diferentes quanto a
concentração populacional e equipamentos urbanos. As maiores e mais poderosas são classificadas como nível A,
totalizando 11 cidades, segundo o IBGE. As capitais menores, classificadas como nível B, são 20.
Há ainda capitais regionais menores, classificadas como nível C. Abaixo delas, existem centros sub-regionais,
centros de zona e, no nível mais elementar, centros locais, cuja área de influência não ultrapassa os limites
municipais.

Modelo informacional
As avaliações do processo de modernização econômica resultaram na formulação de um novo modelo de
hierarquia urbana, que corresponde a um avanço em relação ao modelo industrial e contribui para um melhor
entendimento da rede urbana do país.
De acordo com o novo modelo informacional, apesar de persistirem bolsões de pobreza e atividades econômicas
tradicionais, as dinâmicas social e econômica do Brasil já são comandadas pelos fluxos de informações.
A implantação de modernos sistemas de transporte e de comunicação reduziu as distâncias e possibilitou a
desconcentração das atividades econômicas, que se difundiram por todo o país e, atualmente, são coordenadas com
base em diretrizes produzidas nos grandes centros nacionais e internacionais.
Como já foi dito, São Paulo é considerada uma metrópole informacional. Essa liderança foi conquistada ao longo das
últimas décadas e atraiu profissionais altamente qualificados de todas as regiões do país. A cidade apresenta, hoje, a
maior concentração de cientistas, engenheiros, administradores, especialistas em finanças, artistas, esportistas,
profissionais da área de comunicações e publicitários do Brasil.

As cidades pequenas e médias concentram profissionais especializados e atividades que dão suporte à produção
rural, como o comércio de insumos e maquinário agrícola, além dos centros de transportes e de distribuição de produtos
para agricultura e pecuária.
Atualmente, essas cidades não se relacionam apenas com os centros maiores aos quais se subordinavam na antiga
hierarquia urbana. Estabelecem relação direta com toda a região em que se localizam e, às vezes, com o exterior. É o
caso, por exemplo, das modernas áreas produtoras de cítricos no estado de São Paulo (Bebedouro e Matão) e de
calçados e tabaco no Rio Grande do Sul (Novo Hamburgo e Santa Cruz do Sul, respectivamente).
Desse modo, observam-se uma ruptura com a hierarquia urbana tradicional e a formulação de um novo modelo de
relações, muito mais complexo e adequado ao quadro social e econômico do Brasil contemporâneo.
A expansão da internet, com a ampliação do chamado comércio eletrônico, tende a subverter, em parte, a noção
de hierarquia urbana, na medida em que um número crescente de usuários e empresas negociam diretamente entre
si, comprando e vendendo produtos e serviços cada vez mais diversificados, independentemente de distâncias
físicas e do porte das cidades em que estão sediados.

Brasil: modelo informacional
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de SANTOS, Milton. Por uma economia política da cidade: o caso de

São Paulo. São Paulo: Hucide/Educ, 1994. p. 125.

Grandes cidades, grandes problemas
A internacionalização da economia brasileira produziu aglomerações urbanas que se transformaram, ao mesmo
tempo, em polos de atração de grandes investimentos e polos de multiplicação de pobreza e de problemas sociais.
A população dessas cidades cresceu de forma mais acelerada do que a oferta de empregos, habitações,
infraestrutura urbana e serviços sociais. Isso contribuiu para que as condições de vida das camadas mais pobres
piorassem e para que se constituísse um cenário de violência urbana.
Os gastos públicos foram orientados para a implantação de um tipo de infraestrutura que privilegiou a expansão
das atividades econômicas em detrimento da satisfação das necessidades sociais. Em muitas grandes cidades
brasileiras, foram implantadas grandes vias expressas para agilizar a distribuição das mercadorias; os sistemas de
telecomunicações se modernizaram para facilitar a administração dos negócios; grandes usinas hidrelétricas
possibilitaram a expansão econômica; sistemas ferroviários urbanos (metrôs) agilizaram o deslocamento da mão
de obra; etc.
As grandes obras beneficiaram indiretamente as populações mais pobres, mas os problemas imediatos não
foram resolvidos: desemprego; periferização; submoradia; decadência ou escassez da escola pública; deterioração
dos serviços populares de assistência médico-hospitalar; falta de transportes coletivos e de infraestrutura urbana,
como pavimentação, luz, água e coleta de esgotos; entre outros.
Um dos problemas mais graves das grandes aglomerações urbanas é a habitação. Nas últimas décadas,
multiplicaram-se no Brasil os cortiços e as favelas, onde as condições de salubridade são precárias. Em muitos
casos, a alternativa foi procurar áreas mais afastadas, o que resultou na ampliação da área urbanizada e das
distâncias no interior das grandes cidades.
Em várias regiões do mundo, como América do Sul e Central, África e Ásia, há uma grande quantidade de pessoas
vivendo em habitações precárias.
Em geral, as habitações mais pobres localizam-se próximo a indústrias, em áreas de várzea ou em morros, onde os
terrenos são desvalorizados. Em muitos casos, as favelas são construídas em terras do poder público ou em terrenos
em litígio. A implantação das moradias é feita majoritariamente pelo sistema de autoconstrução.
No Brasil, cerca de 80% da população das favelas concentra-se nas regiões metropolitanas, e 70% das moradias
são construídas pelos próprios moradores, geralmente em sistema de mutirão entre amigos e familiares.
A autoconstrução tem sido cada vez mais frequente nas grandes cidades. Os próprios moradores financiam o
material necessário nas pequenas lojas da periferia, pagando juros elevados, e utilizam os finais de semana para
levantar suas habitações.

Mundo: habitações precárias (2013)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed.
São Paulo: Moderna, 2013. p. 45.

Mobilidade urbana
Um dos maiores problemas nas grandes cidades brasileiras diz respeito à mobilidade urbana, cada vez mais
difícil e morosa. Basicamente, três fatores contribuem para essa situação:
▸ o forte afluxo de migrantes do campo e de cidades pequenas, fazendo a população urbana crescer em ritmo
muito maior do que a ampliação da infraestrutura das cidades, particularmente viária, como avenidas, viadutos,
elevados, linhas de metrô e de transporte rápido;
▸ a periferização, isto é, a implantação de sucessivos loteamentos nas bordas das grandes cidades, ampliando a
mancha urbana e dilatando as distâncias a serem percorridas pela população, que diariamente tem de se
deslocar ao centro de serviços ou ao local de trabalho;
▸ benefícios tributários concedidos à indústria automobilística, combinados com facilidades de crédito ofertadas aos
compradores de automóveis, elevando consideravelmente a frota de veículos em circulação. Isso ensejou a
ampliação do transporte individual muito mais do que a do transporte coletivo, não raro deficiente. O resultado foi um
trânsito com gigantescos engarrafamentos em horários de pico, responsáveis por tempo perdido e pelo estresse dos
motoristas, além da poluição sonora e do ar atmosférico.
A melhoria da mobilidade urbana demanda recursos de que o poder público geralmente não dispõe. Para minimizar
os problemas de mobilidade, é necessário oferecer um transporte coletivo de qualidade para convencer as pessoas a
deixarem seus carros em casa.

PU L S A R IM A G E N S / R U B E N S CH A V E S
< imagem >
Em 1997, foi implantado em São Paulo o rodízio de veículos. Essa iniciativa contribuiu para a diminuição dos congestionamentos na cidade, mas a situação
continua complicada. Na foto, avenida Vinte e T rês de Maio, na zona sul de São Paulo (SP), em 2012.

Para saber mais
Universitários usam bonecos em ação de mobilidade urbana em Sorocaba
Peças em isopor, de tamanho real, representavam cadeirantes e idosos. Intenção do trabalho é mostrar condições de
ruas e calçadas da cidade.
Cinco estudantes de uma faculdade de Sorocaba (SP) promoveram uma ação inusitada e clara, com o objetivo de
chamar a atenção do poder público sobre os problemas relacionados à mobilidade urbana na cidade. O grupo, do curso
de Arquitetura e Urbanismo, distribuiu vários bonecos laranja em uma rua na zona oeste. As peças em tamanho real
representavam idosos, deficientes físicos e visuais, além de pessoas sem nenhuma deficiência. [...]
“Precisávamos realizar uma ação a respeito de algum problema da cidade, mas o tema era livre. Acabamos unindo a
outra aula que temos, de Acessibilidade e Ergonomia. O outro desafio foi escolher um local que apresentasse todas as
situações”, disse Samuel, de 22 anos, um dos estudantes envolvidos.
Buracos e desnivelamento
Os estudantes escolheram a rua Gustavo Teixeira, no trecho que fica em frente ao Ambulatório Médico de
Especialidades (AME). “Escolhemos esse prédio público porque a guia da calçada é alta, há buracos e também
desnivelamento. Já precisei vir aqui com o meu avô e percebi que é um problema principalmente por ser um local
bastante frequentado por idosos. Mas os cadeirantes também enfrentam dificuldades e até outras pessoas, que
podem tropeçar”, destaca Samuel.
Os estudantes ficaram algumas horas no local e notaram que o trabalho gerou curiosidade e repercussão na
internet, segundo Samuel. “Estamos tendo um retorno nas redes sociais que a gente nem imaginava. Valeu a pena
todo o esforço. O objetivo era conscientizar a sociedade em geral e a gestão pública.” [...]
UNIVERSITÁRIOS usam bonecos em ação de mobilidade urbana em Sorocaba. Globo.com, 22 set. 2015. Disponív el em:
<http://g1.globo.com/sao-paulo/sorocaba-jundiai/noticia/2015/09/univ ersitarios-usam-bonecos-em-acao-
de-mobilidade-urbana-em-sorocaba.html>. Acesso em: 12 jan. 2016.





Cidade: reduto de lutas e espaço de conquistas
O fenômeno urbano no Brasil comporta análises sob, pelo menos, três enfoques.
Um deles refere-se à cidade como agente do processo de mundialização da sociedade consumista moderna,
criando, difundindo e até mesmo impondo valores, padrões de comportamento e modos de vida às pessoas.
Outro ângulo de análise é enxergar a cidade como reduto de resistências e manifestações, muitas vezes,
organizadas em movimentos sociais, voltados para variadas reivindicações, como acesso à moradia, melhoria da
assistência à saúde e escola pública de qualidade. As resistências e manifestações têm origem na grande
disparidade entre níveis de renda e na degradação das condições de vida, notadamente nas grandes cidades.
Os movimentos sociais resultam da união de indivíduos em torno de interesses comuns, tendo em vista o
atendimento a um direito que consideram legítimo ou a mudança de determinados aspectos da realidade.

À margem do concreto
Direção de Evaldo Mocarzel. Brasil:
24 VPS Filmes, 2006. 85 minutos.
Esse documentário mostra a atuação dos movimentos realizados pelos sem-teto e pelos grupos de luta por moradia urbana na cidade de São
Paulo.

< imagem >
FO T O S PÚ B L I C A S / O S W A L D O CO R N E T I
Manifestantes reivindicam o direito à moradia em São Paulo (SP), 2014.

O terceiro enfoque do espaço urbano é reconhecer a cidade como um território a ser apropriado e usado pela
coletividade, segundo seus interesses e preferências. Com relação a isso, é comum a interrupção do tráfego em
avenidas e praças, geralmente aos domingos e feriados, reservando-as exclusivamente ao lazer das pessoas.

Também se torna frequente a adoção de praças públicas por empresas ou famílias, que assumem o compromisso
de conservá-las para uso de toda a coletividade.
Nos últimos anos, hortas comunitárias têm sido implantadas em muitas cidades, aproveitando terrenos públicos.
É mais uma demonstração de que a agitação da vida urbana, a competição e os valores do individualismo não
sufocaram por inteiro o desejo das pessoas de terem espaços de convívio e de contato direto com a natureza, tão
castigada nas grandes cidades.

< imagem >
FU T U R A PR E S S / J. D U R A N MA C H F E E
Horta do Ciclista, na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), 2013.

Conexões
O que significa segregação espacial? Como você analisa a cidade onde mora? Ao ler o texto a seguir, você poderá refletir sobre
essas e outras questões. A ideia é ampliar seus conhecimentos sobre a urbanização brasileira.
Responda no caderno
Separar e reinar: a questão da segregação urbana
Nas grandes cidades, hoje, é fácil identificar territórios diferenciados: ali é o bairro das mansões e palacetes; acolá, o centro de
negócios; adiante, o bairro boêmio onde rola a vida noturna; mais à frente, o distrito industrial ou, ainda, o bairro proletário. Assim,
quando alguém, referindo-se ao Rio de Janeiro, fala em Zona Sul ou Baixada Fluminense, sabemos que se trata de dois Rios de
Janeiro bastante diferentes; [...]. É a este movimento de separação das classes sociais e funções no espaço urbano que os
estudiosos da cidade chamam de segregação espacial.

< imagens >
©IS T O C K P H O T O / M A R C H E L L O 7 4
PU L S A R IM A G E N S / R U B E N S CH A V E S
À esquerda, praia de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro (RJ), em 2015; à direita, comunidade de Manguinhos, na zona norte, em 2012.


Entre as torres envidraçadas e gestos tensos dos homens de terno e pasta de executivo, meninas pulando corda e jogando
amarelinha estariam totalmente deslocadas [...]. Não se veem vitrinas de mármore, aço escovado e néon na periferia, nem lama
ou falta de água no Leblon (Rio), Savassi (Belo Horizonte) ou Boa Viagem (Recife). É como se a cidade fosse demarcada por
cercas, fronteiras imaginárias, que definem o lugar de cada coisa e de cada um dos moradores. [...]
A segregação é manifestada também no caso dos condomínios fechados – muros de verdade, além de controles eletrônicos,
zelam pela segurança dos moradores, o que significa o controle minucioso das trocas daquele lugar com o exterior. Além de um
recorte de classe, raça ou faixa etária, a segregação também se expressa através da separação dos locais de trabalho em relação
aos locais de moradia. A cena clássica cotidiana das grandes massas se deslocando nos transportes coletivos superlotados ou no
trânsito engarrafado é a expressão mais acabada desta separação – diariamente temos que percorrer grandes distâncias para ir
trabalhar ou estudar. [...]
Finalmente, além dos territórios específicos e separados para cada grupo social, [...] a segregação é patente na visibilidade da
desigualdade de tratamento por parte das administrações locais. [...] As imensas periferias sem água, luz ou esgoto são
evidências claras desta política discriminatória por parte do poder público, um dos fortes elementos produtores da segregação.
Em qualquer dos exemplos que mencionamos, fica evidente que esses muros visíveis e invisíveis que dividem a
cidade são essenciais na organização do espaço urbano contemporâneo.
ROLNIK, Raquel. O que é a cidade. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 40-43.

Responda no caderno
1. O que significa segregação espacial? Se possível, exemplifique-a de acordo com a cidade onde mora.
2. Escolha uma destas frases e, com base no texto, escreva um comentário sobre ela.
▸ Grandes cidades, grandes problemas.
▸ O espaço é a expressão da sociedade.


Pensando bem

1. As cidades brasileiras têm problemas em vários aspectos: infraestrutura, educação, saúde, moradia, transporte, segurança pública,
etc. No local onde você vive, quais problemas mais afligem os moradores?
1º) Reúna-se com cinco colegas que morem no mesmo bairro ou distrito que você. Juntos, realizem um trabalho de campo sobre os
problemas enfrentados pelos moradores do bairro e arredores.
2º) Cada aluno do grupo precisa entrevistar cinco pessoas, de preferência, com idades distintas. Antes de iniciar as entrevistas,
elaborem um questionário com 10 a 20 perguntas voltadas para os problemas urbanos existentes nesse bairro. Algumas

perguntas podem ser mais objetivas, por exemplo:

Em sua opinião, qual destes itens deve ter mais prioridade e qual deve ter menos?
a) Mais estabelecimentos voltados para a educação e a cultura (escolas, creches, bibliotecas, etc.).
b) Mais segurança para a população.
c) Mais estabelecimentos voltados para a saúde (postos de saúde, hospitais, etc.).

As perguntas também podem ser mais subjetivas:

▸ Quais os problemas existentes no bairro?
▸ O que você melhoraria no bairro? Por quê?
É importante levantar, ainda, dados a respeito do entrevistado: idade, sexo, há quanto tempo mora no bairro, entre outros.

3º) Após a realização das entrevistas, reúnam os resultados. Quais pontos foram levantados pela maioria dos entrevistados?
Selecionem as melhores respostas.
4º) Com os resultados em mãos, redijam uma carta a um órgão público ou a um político do município contando os problemas
enfrentados pela população do bairro. Lembrem-se de utilizar uma linguagem apropriada.
5º) Ao final do trabalho, um integrante de cada grupo deve ler a carta em voz alta para toda a turma. Após a leitura de todas as cartas,
conversem sobre as reivindicações em comum e como esses problemas poderiam ser superados.
Responda no caderno
2. Leia a letra da canção a seguir.
O calibre

Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo
Sem saber o calibre do perigo
Eu não sei d’aonde vem o tiro
[…]
Por que caminhos você vai e volta?
Aonde você nunca vai?
Em que esquinas você nunca para?
A que horas você nunca sai?
Há quanto tempo você sente medo?
Quantos amigos você já perdeu?
Entrincheirado, vivendo em segredo
E ainda diz que não é problema seu

E a vida já não é mais vida
No caos ninguém é cidadão
As promessas foram esquecidas
Não há estado, não há mais nação
Perdido em números de guerra
Rezando por dias de paz
Não vê que a sua vida aqui se encerra
Com uma nota curta nos jornais
[...]
VIANNA, Herbert. O calibre.
In: Paralamas do Sucesso.
Longo caminho. EMI, 2002. Faixa 1.


a) Por que se afirma que “Não há estado, não há mais nação”?

b) De acordo com a canção, por que estamos perdidos em números de guerra?

3. Observe o mapa a seguir.

Brasil: esgotamento sanitário (2010)
< mapa >
JOÃ O MI G U E L A. MO R E I R A / A R Q U I V O DA E DI T O R A
a) O que se pode afirmar sobre os grandes centros urbanos da região Sudeste?
b) Quais capitais têm os percentuais mais altos de domicílios atendidos?
Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas do Censo demográfico 2010. Rio de Janeiro, 2013. p. 127.

4. Enem (2014) O fluxo migratório representado está associado ao processo de
a) fuga de áreas
degradadas.
b) inversão da
hierarquia urbana.
c) busca por amenidades ambientais.
d) conurbação entre municípios contíguos.
e) desconcentração dos investimentos produtivos.

< imagem >
E NE M / R E P R O D U Ç Ã O
Nota: o saldo considera apenas as pessoas que se deslocav am para o trabalho e retornav am aos seus municípios diariamente.
BRASIL. IBGE. Atlas do Censo demográfico 2010 (adaptado).

Desaf ios & debates
Em grupo
O que vocês veem ao analisar uma paisagem metropolitana? A metrópole traz a marca da sociedade que a produz
ao longo de um tempo histórico e, assim, constrói uma morfologia mutante, como o cotidiano das pessoas que a
habitam.
1. Leiam o texto abaixo e, depois, respondam às questões.

Apresentando a metrópole na sala de aula
O espaço geográfico, sob a perspectiva da cidade metrópole ou do campo, traz a marca da sociedade que o
produz ao longo de um tempo his­tórico. Em São Paulo, fica mais evidente que a cidade vai se reproduzin­do
apagando sua história, passível de ser aprendida nas construções, no desenho das vias de circulação –
construindo uma morfologia sempre cambiante –, no modo de vida e no contato entre os indivíduos, no coti­diano
metropolitano.
Isso significa que há uma relação necessária entre espaço e socie­dade, na medida em que a produção da vida
não é só produção de bens e mercadorias, mas, sobretudo, de relações sociais. Ao longo da história, os indivíduos
produzem um mundo, ideias e modos de interpretação; um modo de vida, uma cultura, a cidade e o campo. O
espaço urbano é produto humano e social em constante processo de transformação.
Logo, quando pensamos a cidade como o construído, nos engana­mos, pois a cidade é, antes de mais nada,
trabalho humano materializado em casas, prédios, praças, viadutos. É o trabalho social que produz a cidade como
espaço da vida urbana, dos contatos imediatos do dia a dia. Por­tanto, a metrópole é um produto que vai se
constituindo ao longo de uma história que, junto com sua fisionomia, transforma também a vida dos seus habitantes
e, consequentemente, suas relações com o espaço urbano.
CARLOS, Ana Fani Alessandri. A Geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2006. p. 86.
a) Qual é o papel do trabalho humano e do tempo histórico ao se pensar numa metrópole?
b) Com base nesse texto, escrevam um comentário sobre uma das metrópoles brasileiras.
c) Analisem as fotos da atividade 2 e respondam: Em sua opinião, qual é a relação entre elas e o texto de Ana Fani?

2. O desafio desta atividade é elaborar um mural fotográfico comparativo considerando o presente e o passado, as mudanças e as
permanências nas paisagens de algumas cidades brasileiras. A intenção é ajudá-los a “olhar” a cidade como a própria
sociedade ali espelhada.
1º) Pesquisem, na internet, em jornais e em revistas, paisagens antigas e atuais de cidades brasileiras. Elaborem legendas com
o nome das localidades e a data em que as fotos foram tiradas.
2º) Providenciem cópias dessas imagens e, sob a supervisão do professor, combinem uma data e um local para reunir o
material pesquisado.
3º) Montem o mural de modo que os leitores possam comparar as mudanças e as permanências visíveis nas paisagens
selecionadas pelo grupo. Uma ideia é que o mural faça parte de algum evento escolar para a comunidade poder apreciá-lo.
< imagem >
RA M I R O M. CO S T A & FI L H O S
Ponte Buarque de Macedo, inaugurada em 1890, no Recife (PE). Foto de 1913.

< imagem >
© W I K I P E D I A CO M M O N S / L A I S CA S T R O
Ponte Buarque de Macedo, no Recife (PE), 2011.

< imagem >
MU S E U DA CID A D E DE S Ã O PA U L O / B. J. DU A R T E / R U T E DU A R T E
Avenida Rebouças, em São Paulo (SP), 1939.

< imagem >
PU L S A R IM A G E N S / R U B E N S CH A V E S
Avenida Rebouças, em São Paulo (SP), 2012.

Em debate
A violência nas grandes metrópoles brasileiras tornou-se um problema crônico para seus habitantes e para a
administração pública. Entre suas causas, estão a desigualdade de renda, o tráfico de drogas, etc.
Discuta com seus colegas a seguinte questão:


A violência é inerente às grandes cidades?
Mulher e trabalho

Como vimos no Capítulo 1, o Brasil é um país de proporções continentais e tem o quinto maior território do mundo.
Abriga diversas paisagens naturais e culturais, apresenta uma cultura rica, com diferenças regionais marcantes, e
mais de 80% de sua população vive em cidades.
Nesse contexto, o território brasileiro abrange diferenças de diversas ordens, sejam sociais, econômicas,
culturais ou étnicas. Também merecem destaque as disparidades relativas à inserção de homens e mulheres no
mercado de trabalho. Você já parou para pensar sobre isso?
De modo geral, no Brasil, as mulheres recebem salários menores do que os homens, mesmo quando exercem as
mesmas funções em uma empresa. Em determinadas carreiras profissionais, como engenharia civil ou pedagogia, há
predominância de um ou outro gênero e, muitas vezes, as pessoas são discriminadas no trabalho por esse motivo.
O filme Que horas ela volta? (direção de Anna Muylaert. Brasil: Pandora Filmes, 2015. 111 minutos) suscita uma
série de questões atuais sobre a situação da mulher no mundo do trabalho. Vamos pensar acerca de algumas
delas?

< imagem >
GU L L A N E / R E P R O D U Ç Ã O
Cartaz de divulgação (acima) e cena (ao lado) do filme brasileiro Que horas ela volta?, com a atriz Regina Casé como protagonista. Na trama, Casé
interpreta a pernambucana Val,
que se mudou para São Paulo
em busca de melhores condições

de vida, deixando sua filha em Pernambuco. No decorrer da
história, Val consegue um
emprego de babá e passa a
morar na casa dos patrões.
T reze anos depois, sua
filha resolve ir para
São Paulo prestar
vestibular. Contudo,
o comportamento
da menina
surpreende os
patrões de Val.

< imagem >

GU L L A N E E ÁF R I C A FIL M E S / A L I N E AR R U D A

Vamos começar
Neste projeto, você e seus colegas vão fazer uma pesquisa sobre a participação feminina no mercado de trabalho
brasileiro e também vão entrevistar uma ou duas mulheres que atualmente estejam trabalhando.
No decorrer da realização das etapas do projeto, vocês vão aprofundar seus conhecimentos sobre o mundo do
trabalho, as desigualdades entre homens e mulheres no mercado profissional e as diferentes carreiras. Também vão
aprimorar suas habilidades de pesquisa e sistematização das informações levantadas para compreender melhor o
papel feminino no mercado de trabalho brasileiro.
Ao final da atividade, vocês vão produzir um vídeo com entrevistas e depoimentos de mulheres que estejam
trabalhando e que se disponham a contar os desafios e as dificuldades que enfrentam diariamente em suas
profissões. Para começar, observe a charge ao lado.

< imagem >
ARI O N A U R O
Charge de Arionauro, publicada em
20 de abril de 2016, sobre a situação da mulher
no mercado de trabalho. Disponível em:
<www.arionaurocartuns.com.br/2016/04/
charge-discriminacao-da-mulher-trabalho.html>. Acesso em: 21 abr. 2016.

Em casa
1. Observe o gráfico abaixo e responda:
a) Em qual região metropolitana há maior diferença de rendimento entre homens e mulheres?
b) Em qual dessas regiões a diferença é menor?
c) De acordo com o gráfico, onde o rendimento médio feminino é maior? E onde ele é menor?
d) Em sua opinião, por que a diferença entre o rendimento médio de homens e mulheres é tão significativa nessas regiões?
Rendimento médio no trabalho principal, segundo sexo (2014)

< imagem >
E DI Ç Ã O DE ART E / A R Q U I V O DA E DI T O R A
Fonte: IBGE. Indicadores IBGE: principais destaques da ev olução do mercado de trabalho nas regiões metropolitanas abrangidas pela pesquisa – Recif e, Salv ador,
Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre (2003-2014). Disponív el em:
<http://www.ibge.gov .br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nov a/retrospectiv a2003_2014.pdf >. Acesso em: 11 abr. 2016.

2. Leia o texto a seguir e responda às questões propostas.

Mulheres negras e mercado de trabalho
Abolida oficialmente a escravidão, o preconceito racial adquire nuances, interpondo obstáculos sutis, mas eficazes,
aos que sonhavam com a mobilidade social sofregamente experimentada por algumas poucas famílias de

descendentes de africanos no período imediatamente anterior.
Uma das faces mais cruéis e visíveis da exclusão deu-se no mercado de trabalho. Alijada por conta do preconceito
racial dos postos abertos na indústria, no comércio ou no serviço público, a população negra encontrou poucas
alternativas fora dos trabalhos intermitentes e pequenas atividades de baixa remuneração. Em vários pontos do país,
a seletividade racial, mesmo nas ocupações mais subalternas,
fez-se presente [...].
No final dos anos 1980, por pressão do movimento feminino negro, os estudos sobre trabalho e renda incluíram
as variáveis sexo e “cor”/“raça”, podendo, assim, identificar especificidades da trabalhadora negra. O perfil
retratado
pelos indicadores foi o de mulheres
ocupantes, maciçamente, de postos de trabalho mais vulneráveis, concentradas nas profissões tradicionalmente
femininas e menos remuneradas, e sub-
-representadas em cargos de direção, gerência ou planejamento. Em 2007, por exemplo, constatou-se que a
participação da mulher negra no mercado de trabalho caracterizava-se por “altas taxas de participação, maiores
taxas de desemprego, maior tempo médio de busca de emprego, saída tardia da força de trabalho e menor
cobertura previdenciária”. Os dados relativos ao mercado de trabalho tornam evidente que a discriminação sexual
fica agravada quando se associa à discriminação racial, mergulhando a mulher negra num ciclo de vulnerabilidade
que se caracteriza por baixos salários, jornadas de trabalho maiores e pouca escolaridade e que se estende às
gerações mais novas, obrigadas a entrar mais cedo no mercado de trabalho, predominantemente nos serviços
domésticos. De fato, as afrodescendentes são as que mais cedo entram no mercado de trabalho e as que dele
saem mais tardiamente. Em 2000, as mulheres negras com 15 anos ou mais representavam 75% do trabalho
doméstico infantil.
NEPOMUCENO, Bebel. Protagonismo ignorado. In: PINSKY , Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria (Org.). Nova história das mulheres. São Paulo: Contexto, 2012. p.
385-389.

< imagem >
AG Ê N C I A BR A S I L / E L Z A FIA Z Ã O
Infelizmente, no Brasil, grande parte das mulheres negras ainda enfrenta muitas dificuldades para ocupar cargos de destaque no mercado de trabalho. Na foto,
de 2015, Nilma Lino Gomes, primeira reitora negra de uma universidade federal no Brasil. Nesse ano, Nilma assumiu o cargo de reitora da Universidade da
Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab), localizada em Redenção (CE). Em 1884, cinco anos antes da assinatura da Lei Áurea,
Redenção foi a primeira localidade, durante a campanha abolicionista brasileira, a libertar os negros escravizados.

a) De acordo com o texto, a mulher negra tem as mesmas chances que a mulher branca de conseguir um bom trabalho? Por
quê?
b) Pergunte a um adulto que esteja trabalhando em uma empresa (pública ou privada) quantas mulheres negras trabalham no
mesmo local e quais funções elas desempenham. Procure saber, por exemplo, se elas ocupam cargos de chefia ou se
ocupam postos de trabalho que exigem menos qualificação. Depois, compare sua resposta com as de seus colegas.
Na escola
Reúna-se em grupo e, com os colegas, escolha uma profissão para pesquisar sobre a presença da mulher nessa
carreira. Vocês podem selecionar um dos exemplos a seguir ou escolher outro de acordo com a preferência do grupo.

< imagens >
ILUSTRAÇÕES: Getulio Delphim/Arquivo da editora
▸ Administradora de empresas
▸ Advogada
▸ Analista de recursos humanos
▸ Arquiteta
▸ Artista plástica
▸ Bióloga
▸ Cientista
▸ Comerciante
▸ Dentista
▸ Designer de móveis
▸ Enfermeira
▸ Engenheira
▸ Escritora
▸ Esportista

▸ Jornalista
▸ Médica
▸ Policial
▸ Professora
▸ Secretária
▸ Técnica em informática
▸ Técnica em mecatrônica

Busquem em sites, jornais ou revistas informações sobre particularidades, demandas e adversidades específicas
relacionadas à atuação feminina nessa carreira. Verifiquem com o professor se há um laboratório de informática com
acesso à internet ou uma biblioteca disponível em sua escola para a realização da pesquisa.

Em campo
Após a realização da pesquisa, procurem entrevistar uma ou duas mulheres que trabalhem na carreira analisada
pelo grupo. Lembrem-se de que a entrevista precisa ser gravada, pois, ao concluir o projeto, vocês deverão produzir
um vídeo. Por isso, é importante solicitar à entrevistada autorização para a gravação e posterior exibição do vídeo.
Leiam as instruções a seguir e façam as adaptações necessárias.
▸ Agendem com a entrevistada uma data para realização da entrevista.
▸ Escolham um local adequado para fazer a entrevista. Procurem um local bem iluminado e com pouco barulho para
não prejudicar a filmagem.
▸ Providenciem uma caderneta de anotações.
▸ Para gravar o vídeo, vocês podem usar uma câmera de celular, uma câmera fotográfica digital ou uma filmadora.
▸ Verifiquem, com antecedência, se o equipamento que será usado na filmagem tem pilhas, bateria e memória
suficientes.
▸ Combinem qual colega do grupo ficará responsável pela filmagem da entrevista.
▸ Lembrem-se de que é importante ser educado com a entrevistada. Por isso, respeitem o horário combinado e
procurem deixá-la à vontade no decorrer da conversa. Utilizem o roteiro de questões a seguir e façam as
adaptações necessárias.
Roteiro de entrevista
a) Qual é o seu nome e com quantos anos você começou a trabalhar?
b) Qual foi seu primeiro emprego?
c) Foi difícil para você ingressar no mercado de trabalho? Quais foram os maiores desafios?
d) Qual é o seu grau de instrução?
e) Qual é a sua profissão atual?
f) No seu trabalho, existem outras mulheres que exercem a mesma função?
g) Existem mais homens ou mulheres no seu trabalho?
h) Há mulheres negras? Que cargos elas ocupam?
i) De modo geral, os cargos de chefia (coordenadores, supervisores, gerentes, diretores, etc.) são ocupados por homens ou
mulheres?
j) Ao longo de sua carreira, você já sofreu algum tipo de preconceito por ser mulher? Em caso positivo, como foi essa
experiência?
k) Conhece casos de colegas mulheres que já sofreram algum tipo de discriminação no trabalho?
l) Profissionalmente, como você se imagina daqui a 10 anos?

Em casa
Após a gravação da entrevista, o vídeo deverá ser editado. Façam, para o filme produzido, uma abertura com as
seguintes informações: título do trabalho, nome da entrevistada, nome dos integrantes do grupo, nome da escola e
ano de produção.
Existem diversos softwares de edição de vídeo disponíveis; escolham o de sua preferência.

No decorrer da edição do vídeo, fiquem atentos para que o filme não seja muito longo. Façam cortes e editem o
que for necessário para que o vídeo tenha de 10 a 15 minutos de duração.

Apresentação
Com a ajuda do professor, organizem na escola a apresentação de todos os vídeos produzidos pela turma.
Verifiquem se a escola tem uma sala de vídeo com televisão ou projetor disponível. Vocês podem convidar alunos de
outras turmas para assistir e também podem estender o convite à comunidade escolar.
Depois da exibição dos vídeos, organizem uma roda de discussão para debater a presença feminina no mercado
de trabalho nos dias de hoje.
Após a conclusão do projeto, os vídeos produzidos poderão ser disponibilizados ao público na internet. A turma
pode criar um blog para veicular todos os vídeos no mesmo site ou, se preferir, pode usar um site de
compartilhamento de vídeos.
Avaliação
Um bom projeto de pesquisa termina com a avaliação dos resultados. Por isso, após o término do trabalho,
responda às seguintes questões:
1. Compreendi a diferença de rendimentos entre homens e mulheres no mercado de trabalho?
2. Identifiquei quais são as principais dificuldades que as mulheres enfrentam para ter salários e condições de
trabalho iguais aos dos homens?
3. Percebi que as mulheres negras encontram mais dificuldades do que as brancas para ocupar bons postos de
trabalho?
4. Refleti sobre as medidas que podem ser adotadas para minimizar a desigualdade de gênero no trabalho?
5. Aprendi que a entrevista é um recurso importante para o levantamento de informações?
6. Que habilidades adquiri ou aperfeiçoei ao longo do projeto? Quais foram as principais dificuldades encontradas e
como foram solucionadas?

Índice remissivo
A
agricultura, 30-49, 112, 124, 142, 143, 153,
188-210, 217, 222
agropecuária (Brasil), 33, 38, 40, 41, 43-45, 48, 49, 112, 124, 142, 188-190, 193, 203, 207, 208, 210, 217, 222
agricultura familiar, 199, 207
agricultura orgânica, 199
agronegócio, 143, 199
Censo Agropecuário 2006, 193, 206, 207, 210
estrutura fundiária, 45, 47, 153, 203
concentração de terra, 45, 153, 188, 203-205
reforma agrária, 204-206
expansão da agropecuária, 190
Aquífero Guarani, 96
B
balança comercial brasileira, 70, 224
biomas do Brasil, 108-120
Amazônia, 108, 115, 116, 120
desmatamento, 109, 115
Caatinga, 108, 117
Cerrado, 108, 117
Mata Atlântica, 108, 110
Pampa, 108
Pantanal, 108
biomassa, 228, 236
borracha, 18-20, 43

C
capitanias hereditárias, 14
castanha-do-pará, 48, 111, 116
carnaúba, 110, 116, 193
centrais eólicas em operação no Brasil, 234
choques do petróleo, 56, 57, 229
cidades médias, 152, 207, 246, 248, 249, 253
classificações do relevo brasileiro, 86, 87
classificação de Aziz Ab´Sáber, 86
classificação de Jurandyr Ross, 87
Coeficiente de Gini, 144
comunidades de brasileiros no mundo, 150
consequências do desmatamento da Floresta Amazônica, 115, 122
coxilhas, 113, 124, 193
crescimento urbano, 43, 244
culinária brasileira, 178, 179
D
domínios morfoclimáticos, 121-124
amazônico, 121, 122
araucárias, 121, 124
caatinga, 121, 123
cerrado, 121, 122
rios no Cerrado, 122
mares de morros, 121, 123
pradarias, 121, 124
E
equador térmico, 103, 104
especialização urbana, 250
esquema de uma frente fria, 104
estrutura centro-periferia, 50
estruturas geológicas (Brasil), 79-87, 228-230
bacias sedimentares, 79, 80, 81, 84, 87, 228, 230
escudos cristalinos, 79, 84
estrutura geológica e recursos minerais, 79
etanol, 203
exportação por valor agregado, 69
produtos mais exportados pelo Brasil, 69
produtos mais importados pelo Brasil, 69
extrativismo vegetal no Brasil, 115-118
reservas extrativistas, 115, 116, 118
F
festas populares, 161, 175, 176
fontes de energia (Brasil), 47, 59, 66, 81-95, 189, 226-238
álcool, 47, 189, 228, 235
consumo final energético por setor, 228
carvão mineral, 81, 232, 238
energia elétrica, 59, 60, 66, 91, 95, 228, 231, 233, 234, 236, 237
como funciona uma usina hidrelétrica, 233
Brasil: sistema de transmissão
elétrica, 60
energia eólica, 228, 232, 234, 236
energia nuclear, 119, 233, 234
energia solar, 102, 228, 232, 236
gás natural, 38, 59
petróleo, 38, 47, 56, 57, 69, 80, 228-231, 234-238
pré-sal, 230
formações vegetais do Brasil, 109-120
Floresta Amazônica, 111

Mata dos Cocais, 110
Mata Atlântica, 110
Mata Atlântica original, 111, 120
remanescentes florestais da Mata Atlântica, 109, 111
Mata dos Pinhais, 110
Cerrado, 109, 110, 112
áreas desmatadas, 109, 112
tipos de vegetação do Cerrado, 112
Caatinga, 109, 110, 112, 113
Campos, 113
Vegetação do Pantanal, 114
Vegetação litorânea, 114
fluxos da imigração europeia, 146
frentes frias, 104, ver tb. esquema de uma frente fria
fronteira agrícola, 33, 41, 49, 151, 152, 190, 191, 196, 209, 210

H
hidrovias (Brasil), 61, 62, 95, 228
hidrovia Tietê-Paraná, 33, 62, 95
hipsometria (Brasil), 85

I
indústria (Brasil), 22-49, 81, 191, 217-233
Trabalho na indústria, 227
Principais setores industriais, 222
concentração industrial, 191, 217, 218, 221
desconcentração industrial, 42, 221, 233
distribuição espacial das indústrias, 218
estrutura industrial brasileira, 222
indústria de material eletroeletrônico, 224
indústria de telecomunicações, 224

indústria mecânica, 224
indústria química, 224
indústrias modernas, 222
indústrias siderúrgica e metalúrgica, 223
indústrias tradicionais, 225
novas tecnologias, 225
produção industrial, 22, 38, 39, 41, 42, 49, 221, 222
Centro-Oeste, 221
Nordeste, 221
Norte, 221
Sul, 221
usinas siderúrgicas, 81, 223
M
massas de ar (Brasil), 102-107
matas ciliares, 112
matriz energética brasileira, 238
metropolização, 246
migrações, 146-154, 227
fluxos migratórios, 152, 154
migração rural-urbana, 154
migrações inter-regionais, 146, 151
multinacionais, 22, 44, 66, 80, 198, 217, 224, 225, 244, 252
P
país emergente, 68
paleoclimas, 84, 87

patrimônio, 165-173
patrimônios brasileiros, 166
Patrimônio Cultural, 165, 170, 173
Patrimônio Cultural Imaterial, 165, 167
Patrimônio Natural, 165, 170
placa Sul-Americana, 78, 79, 84
população (Brasil), 21, 35, 43, 47, 48, 92, 95,
133-163, 244-259
crescimento populacional, 21
crescimento vegetativo, 137, 138, 144
densidade demográfica, 43, 47, 92, 133, 246
evolução da população rural e urbana, 154
expectativa de vida, 35, 136, 138, 144

mortalidade infantil, 95, 144
população e trabalho, 141, 142
trabalho infantil, 137
mulheres no mercado de trabalho, 138
população indígena, 48, 160
população LGBT, 140
população por faixa etária, 136
população urbana, 244-246, 249-256, 258, 259
taxa de analfabetismo, 145, 163
fecundidade, 136, 137, 141
pontos extremos do Brasil, 11
privatizações (Brasil), 57-59, 64, 66, 224, 237
produção mineral brasileira, 80
carvão, 81
cassiterita e bauxita, 82
ferro, 80
manganês, 82
ouro, 83
R
rede urbana brasileira, 243-254
evolução da urbanização por regiões, 244
hierarquia urbana brasileira, 252
modelo industrial, 252
modelo informacional, 253
integração urbano-rural, 251
interiorização urbana e demográfica, 246, 248
número de favelas, 254
regiões metropolitanas, 246-249, 251, 253, 254
região, 28, 29
“quatro Brasis”, os, 34
regiões geoeconômicas, 30
Amazônia, 32
Centro-Sul, 33
Nordeste, 30
regiões (IBGE), 28
Centro-Oeste, 43
Nordeste, 44
Norte, 48
Sudeste, 38
Sul, 41

regionalização conforme o IDH, 35
regiões hidrográficas do Brasil, 88
Amazônica, 89
Atlântico Leste, 92
Atlântico Nordeste Ocidental, 90
Atlântico Nordeste Oriental, 90
Atlântico Sudeste, 92
Atlântico Sul, 93

Paraguai, 94
Paraná, 94
Parnaíba, 90
São Francisco, 91
Tocantins-Araguaia, 89
Uruguai, 93
rodovias (Brasil), 63
S
solos, 38, 43, 80, 94, 101, 102, 109, 113, 114, 121-124, 189, 195-197, 235
T
tempo atmosférico e clima, 102
terra roxa, 124, 189
tipos climáticos do Brasil, 106
equatorial úmido, 106
tropical litorâneo, 106
subtropical úmido, 107
tropical (alternadamente úmido e seco), 107
tropical semiárido, 107
transposição do rio São Francisco, 46, 91
turismo, 49, 89, 251
U
unidades de conservação, 113, 118
unidades de proteção integral, 118
unidades de uso sustentável, 118
urbanização, 21, 22, 92, 114, 133, 138, 189, 191, 243-245, 248, 249, 252
V
Vale do Jequitinhonha (cultura), 39

Referências bibliográficas
AB’SÁBER, Aziz. Os domínios da natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. Cotia: Ateliê Editorial, 2003.
. Relevo, estrutura e rede hidrográfica do Brasil. Boletim Geográfico, Rio de Janeiro, IBGE (173), 1963.
ADDA, Jacques. As origens da globalização da economia. São Paulo: Manole, 2003.
AFFONSO, Rui de Britto; SILVA, Pedro Luiz (Org.). Federalismo no Brasil: desigualdades regionais e
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ALMANAQUE Brasil Socioambiental. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2008.
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ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia, ciência da sociedade: uma introdução à análise do pensamento
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