HISTÓRIAS DAS QUADRILHAS JUNINAS

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About This Presentation

Nos Arraiais da Memória: As quadrilhas juninas escrevem diferentes histórias


Slide Content

1
Nos Arraiais da Memória
As quadrilhas juninas escrevem diferentes histórias
Mário Ribeiro dos Santos
Recife, 2010

3
Anavantu - 2010

4
Prefeito do Recife
João da Costa
Vice-prefeito do Recife
Milton Coelho
Secretaria Especial de Relações
com a Imprensa
Ceça Britto
Diretoria de Jornalismo
Fábio Araújo
Secretaria de Comunicação
Ceça Britto (Interina)
Diretoria de Propaganda e Criação
Kássia Araújo
Secretaria de Cultura
Renato L
Fundação de Cultura Cidade do Recife
Presidente
Luciana Félix
Coordenação Geral do São João
Bode Valença
Diretoria de Desenvolvimento e Descentrali-
zação Cultural
Luciana Veras
Gerência de Artes Cênicas
Albemar Araújo
Gerência de Formação Cultural
Zélia Sales
Gerência de Serviços Pedagógicos
Mário Ribeiro dos Santos
Gerente de Serviços de Produção Gráfica
Lúcia Helena N. Rodrigues
Equipe Técnica
Coordenação
Zélia Sales
Supervisão
Mário Ribeiro dos Santos
Entrevistas e Pesquisa de Campo
Graça Xavier, Paulinho Mafe e Perácio Gondim
Guimarães Junior
Textos
Mário Ribeiro dos Santos
Revisão de Textos
Karolina Ferreira
Design Gráfico
Ana Helena S. Cavalcanti
Lúcia Helena N. Rodrigues
Colaboração
Anderson Carlos, Dionísia, Leandro Souza
e Vera Regina Marques
Fotografias
Paulinho Mafe e acervo das quadrilhas
Agradecimentos
Alexandre Macedo, Brito (Catirina), Carlos
Varella, Carmem Lélis, Carminha Lins,
Conceição Camarotti, Didha Pereira, Eduardo
Pinheiro, Eliane Meireles, Fernando Augusto
Santos, Galeana Brasil, Geraldo Vital, Graça
Xavier, Haja Teatro, Ivan (Mateus), José Cleto
Machado, Leda Alves, Magdalena Almeida,
Marco Camarotti, Patrícia Reis, Prazeres Barros,
Normando Roberto Santos, Rosana, Rosival
Santos (Mano), Rudimar Constâncio, Sesc
Piedade, Sônia Medeiros, Telma Nunes, Tiago
Lopes de Andrade Lima, Uel Silva e a todos os
quadrilheiros consultados.
Apoio
Sesc Piedade

5
Deveras - 1993
São João na Roça - 1990
Truaka - 1992
Dona Sinhá - 1991
Pelo Avesso - 1993Boko Moko - 1990
Flor do Abacate Mirim - 1995

6
Lumiar - 1995
Truaka
Explosão Pernambucana - 2004
Origem Nordestina - 1998
Quarenta Graus - 1997
Boa Vista Show
Dona Matuta - 2007

7
As Quadrilhas Juninas constituem uma das manifestações culturais mais
representativas do São João do Recife. Elas ocupam os diferentes espaços
da festa, transformando o cotidiano da cidade com a singularidade de es-
petáculos artísticos que dizem de nós, o que somos e fomos, reafirmando
as nossas riquezas e diversidade cultural.
Nos Arraiais da Memória: as quadrilhas juninas escrevem diferentes histórias
é um trabalho que documenta o nosso reconhecimento, a valorização e a
perpetuidade de uma expressão cultural, que particulariza as festividades
juninas e a história da nossa cidade.
Essa publicação dialoga com o que acreditamos ser importante para o re-
gistro da memória de um bem cultural. É um trabalho que apresenta um
diferencial: o ineditismo da escrita da história do Festival Pernambucano
promovido pela Prefeitura do Recife, juntamente com a trajetória de qua-
renta e uma quadrilhas juninas. Aqui, são contadas peculiaridades dos gru-
pos, costumes em comum, além do reconhecimento de numerosos talentos
que se revelam e se superam a cada São João.
Que essa pesquisa se multiplique nos encontros dos quadrilheiros pelos
arraiais da cidade, que tome novo fôlego nas conversas dos moradores das
comunidades de origem dos grupos; que estimule a concretização dos so-
nhos e a formação de novas quadrilhas, na esperança de que novas histórias
sejam escritas.
João da Costa
Prefeito do Recife

8
Arrastapé no Asfalto - 2009

9
“Olha pro céu, meu amor, veja como ele está lindo...”. Foi em noites de São
João, com os versos de Luiz Gonzaga e José Fernandes a embalar casais nos
bairros recifenses, que uma brincadeira praticada em todos os arraiais se
afirmou como legítima manifestação cultural. Assim como não se pensa
o Carnaval sem os blocos e troças que o mantêm vivo, não existe o ciclo
junino sem a criatividade e a tradição das quadrilhas.
Observar a apresentação dos pares requer a mesma atenção e, por que não?,
reverência que se devota a um espetáculo teatral. Há uma dramaturgia pró-
pria no enredo, há uma narrativa coesa nas coreografias e há uma estética
peculiar nos adereços, da mesma maneira que há um modo particular de
cada quadrilha se descortinar ao público.
À plateia, ora empolgada com a evolução da dança, ora surpresa com as
revoluções propostas e incorporadas ao longo dos anos, cabe o prazer de
apreciar aquela encenação e reter na memória os personagens, o casamento
e os passos da montagem. Impossível não associar o anavantu, anarriê e o
balancê de uma quadrilha à lembranças acalentadas por todos nós, como os
ecos de “foi numa noite igual a esta que tu me deste o teu coração...”.
“Havia balões no ar, xote e baião no salão” e as quadrilhas juninas se multi-
plicaram, renovaram-se e potencializaram seu alcance, tornando cada noi-
te de São João uma festa multicultural, colorida, democrática e plural. A
Prefeitura do Recife, por meio da Fundação de Cultura Cidade do Recife,
orgulha-se de registrar essa história. Nossa cidade é a gente quem faz. E
nossa cultura é a gente quem faz questão de preservar.

Luciana Félix
Presidente
Fundação de Cultura Cidade do Recife

10
Flor do Abacate - 1995

11
Ai que saudade que eu tenho das noites de São João ...
Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas
Histórico das Quadrilhas Juninas
Anarriê Junina
Arraialzinho do Cordeiro
Boa Vista Show
Brigões de Suape
Brincant’s Show
Cambalacho
Chiclete com Banana
Deveras
Dona Matuta
Dona Sinhá
Fogo na Noite
Flor do Abacate
Forró Moderno
Geração 2000
Junina Tradição
Lumiar
Matutinho Dançante
Moderna Fuzarca
Nóis Sofre Mais Nóis goza
Olodum Mirim
Origem Nordestina
Pé Dentro, Pé Fora
Pelo Avesso na Roça e na Raça
Pingo D’Água
Pisa na Fulô
Pisa no Espinho
40 Graus
Raio de Sol
Raízes do Pinho
Rancho Alegre de Camaragibe
Rosa Linda, Linda Rosa
Sanfona Branca
Sempre Kita
Tradição City
Trapiá Pernambucana
Traque de Massa
Truaka
Vai-Vai na Roça
Xique Xique no Remelexe
Xilindró de Ritmos
Zabumba
Sumário
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17
32
34
36
39
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45
48
52
56
60
63
64
66
69
71
77
81
83
86
88
91
94
97
101
103
105
108
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116
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125
127
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131
132
135
137
142
144
148

12
Traque de Massa - 2007

13
Ai que saudade que eu tenho das noites de São João ...

“Ai que saudade que eu tenho
Das noites de São João
Das noites tão brasileiras das fogueiras
Sob o luar do sertão
Meninas brincando de roda
Velhos soltando balões
Moços envolta fogueira
Brincando com o coração
Eita São João dos meus sonhos
Eita saudoso sertão ai ai”
(Luiz Gonzaga e Zé Dantas)
A lembrança nos traz à memória a mais remota passagem que temos da
festa de São João quando ouvimos essa música de Luiz Gonzaga e Zé Dan-
tas. Quantas imagens vêm na tela da mente? Lembranças do cheiro de fu-
maça no ar; do gosto de milho cozido, do sabor da canjica, que se mistura
ao cravo e à canela do bolo pé de moleque... Versos, que propõem uma
profusão de sentidos, que não se curvam às definições de um dicionário
limitado. As histórias das quadrilhas juninas também esbanjam muitos
sentidos. Elas não se revelam completamente... Dormem no mais íntimo
das memórias dos quadrilheiros; repousam nos bairros, nas ruas e nos
arraiais, onde meninas brincam de roda e velhos soltam balões em noites
tão brasileiras das fogueiras...
Nos Arraiais da Memória nasce, portanto, com um primeiro desafio:
relacionar, num mesmo trabalho, história e memória, considerando suas
múltiplas temporalidades, visto que, nos depoimentos dos entrevistados,
falam os jovens do passado pela voz dos adultos, ou dos idosos do tempo
presente. Quadrilheiros que revelam as memórias de suas experiências e
também lembranças a eles repassadas; pessoas que falam de um tempo
sobre um outro tempo; que registram sentimentos e interpretações
entrecortadas pelas emoções do ontem, renovadas ou ressignificadas pelas
emoções do hoje.

14
Nas páginas que seguem, identificamos como história e memória se co-
nectam e se misturam, numa relação na qual se entrelaçam o passado e o
presente; a lembrança e o esquecimento; o pessoal e o coletivo; o público e
o privado; o sagrado e o profano.
Nesse diálogo entre memória e história existe uma relação de poder, que
tanto revela como oculta. Talvez, esse tenha sido o nosso segundo desafio,
quando adotamos (pelas próprias circunstâncias da pesquisa) o método
da história oral como procedimento para o desenvolvimento do trabalho.
Nesse sentido, entre as pessoas que foram entrevistadas (testemunhas dos
acontecimentos vividos pelos grupos), muitas lembranças foram reveladas
de forma explícita, outras vezes de forma velada, chegando em alguns casos
a ocultá-las, talvez para se proteger dos traumas e das emoções que marca-
ram as suas vidas.
Depoimentos únicos e fascinantes em sua singularidade e potencialidade
de revelar emoções. Momentos, que não se reduzem ao simples ao ato de
recordar, mas que revela o mais íntimo dos referenciais de um grupo social
sobre o seu passado e presente, fornecendo significados e evitando que seus
membros percam as suas raízes e identidades. Apesar de compreendermos
a memória como um fenômeno coletivo e social, submetido a flutuações e
mudanças constantes, identificamos nos relatos, a existência de marcos ou
pontos relativamente invariáveis, imutáveis. Um desses marcos é o Festival
Pernambucano de Quadrilhas Juninas, que aparece em todas as falas como
uma história de vida individual, algo relativamente íntimo, como se fizesse
parte da própria essência da pessoa.
Nos Arraiais da Memória também registra o reconhecimento, na sua justa me-
dida, da contribuição de muitas pessoas que participaram do processo de escrita
da história das quadrilhas juninas em Pernambuco. Nomes de quadrilheiros,
gestores, jurados, professores, entre outros personagens, que são encontrados ao
longo da narrativa e se misturam na busca de interesses comuns.
Paralelamente a essas pessoas, cujas lembranças alimentam a construção
desse trabalho, destacamos os diferentes lugares da memória que se reve-
lam durante a pesquisa. Lugares dotados de significados, particularmente

15
ligados a uma lembrança pessoal: os arraiais de bairro, o Sítio Trindade, a
festa de São João, o Festival Pernambucano, os outros concursos.... Espaços
múltiplos e comuns, que ficam nas memórias, empiricamente fundados em
fatos concretos.
Uma leitura mais atenta do trabalho possibilita, ainda, identificar as mu-
danças que ocorreram na forma de fazer quadrilha junina no Estado nas úl-
timas três décadas. Percebemos que elas iniciam como uma brincadeira de
São João entre vizinhos do mesmo bairro e se transformam em espetáculos
artísticos com uma ética própria, técnica e profissionalismo. Outras trans-
formações identificadas dizem respeito ao próprio formato dos trabalhos
dos grupos, como por exemplo: a criação de novos passos e movimentos
coreográficos; as mudanças nos estilos musicais adotados; novos forma-
tos, texturas e pigmentações dos figurinos; a gravação dos casamentos; a
importância atribuída ao tema, novos personagens, entre outras inovações
consideradas comuns quando se trata de uma manifestação cultural em
contínuo processo de mudanças e permanências.
A pesquisa também revela ao leitor, como se configura a geografia da festa
de São João no Recife e Região Metropolitana, desde a organização dos
arraiais de bairro, onde as quadrilhas e a própria Prefeitura do Recife pro-
moviam concursos nos anos 1980, até o formato atual de descentralização
do Festival Pernambucano nas seis RPAs.
Considerando as evidências reveladas, a Gerência de Formação Cultural
da Fundação de Cultura Cidade do Recife certifica-se de que apresenta à
sociedade, pela primeira vez, um trabalho que registra e atribui valor cien-
tífico à história das quadrilhas juninas e do Festival Pernambucano Adulto
e Infantil. Uma produção de credibilidade, construída a partir dos depoi-
mentos e das experiências de quem faz a manifestação cultural quadrilha
junina ter histórias importantes, que agora se encontram documentadas.
Contribuições singulares que possibilitam a construção de novas fontes,
que subsidiarão pesquisas, qualificando acervos de bibliotecas públicas, es-
colares, museus, ONGs e centros de documentação, pesquisa e memória
histórica do Recife e Região Metropolitana.

16
Nos Arraiais da Memória possibilita também novos desdobramentos que
se fazem pertinentes. Dos sessenta grupos selecionados para esta primeira
edição, apenas quarenta e um tiveram suas histórias documentadas. A au-
sência dos outros textos deve-se a dois fatores: a dificuldade de encontrar os
representantes e/ou componentes das quadrilhas que não mais participam
do São João e a inexistência de documentos que comprovem empiricamen-
te momentos da história de vida dos grupos atuantes (situação comum no
universo das manifestações de cultura popular). Essa realidade dificultou a
concretização da ideia inicial do trabalho, porém, contribuiu para estimu-
lar a organização da segunda edição dessa pesquisa, contemplando outras
quadrilhas que igualmente contribuem para o enriquecimento da história
cultural dessa cidade.
Mário Ribeiro dos Santos
Gerente Pedagógico (GOFC / FCCR)
Zélia Sales
Gerente de Formação Cultural (GOFC / FCCR)

17
Festival Pernambucano
de Quadrilhas Juninas

18
Meados dos anos 1980, a sociedade civil se reúne (entidades de classe, sin-
dicatos), num movimento histórico de reivindicação por eleições presiden-
ciais diretas, que devolva ao Brasil a liberdade de expressão política depois
de um longo período de censura oficial. Nesse clima efervescente que do-
mina o cenário nacional, cresce no Recife outro movimento, também civil,
protagonizado por jovens, que encontra nas expressões culturais do Ciclo
Junino, uma forma de se manifestar publicamente por meio da arte de brin-
car quadrilha junina.
Os grupos são formados, na sua maioria, por pessoas da mesma família ou
moradores da mesma rua, que desejam se reunir, congregar amigos, fami-
liares e vizinhos numa animada festa de São João. Um modelo de diversão
que tem como cenário principal um arraial, enfeitado com bandeirolas, ba-
lões, palhas de coqueiro, fogueiras, entre outras estruturas, que se repete em
diversos bairros dos subúrbios do Recife. Cada qual com sua programação
própria, maneiras específicas de dialogar com as estruturas sociais vigentes,
de despertar emoções e reações, expressando-se livremente e disseminan-
do para a sociedade o que de fato querem através da brincadeira.
Os arraiais de bairro ocupam o espaço da festa na cidade e dão visibilida-
de às expressões culturais existentes nos bairros. As quadrilhas juninas se
revestem de maior importância, revelando talentos, estreitando as relações
de troca com a comunidade, além de gerar trabalho, renda e promover,
por meio da arte, crianças, jovens e adultos, moradores de áreas de grande
vulnerabilidade social.
Consciente das potencialidades que emanam dessa manifestação e da sua
popularidade na cidade, a Prefeitura do Recife organiza, em 1985, um con-
curso de quadrilhas juninas, que visa, sobretudo, ampliar a participação
popular, valorizar e estimular as diferenças culturais das festas juninas na
capital. Sob a coordenação da historiadora Sônia Medeiros, o Festival Per-
nambucano de Quadrilhas Juninas (nome oficial do evento), acontece pela
primeira vez no Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães, popularmente co-
nhecido como Geraldão, no bairro da Imbiribeira. Entre dezenas de grupos
que participaram, consagra-se a primeira campeã do concurso a quadrilha

19
São João do Carneirinho (Engenho do Meio) e, em segundo lugar, a Xique
Xique no Remelexe (Brasília Teimosa).
Em 1986, o Pernambucano (forma popular de chamar o concurso) assume
um formato descentralizado, realizado nos dias de São João, em diferentes
arraiais espalhados pelo Recife e Região Metropolitana. “O concurso era re-
alizado nos arraiais das quadrilhas Boko Moko (UR 5), Kokota (Associação
dos Moradores da UR 11), Pelo Avesso (UR 6), Deixa Meu Pé Quieto (Ipsep),
no Vasco da Gama, em Brasília Teimosa, no Encanta Moça (Pina), Centro
Social Urbano Bidu Krause (Totó). A etapa final acontecia no Pátio de São
Pedro”, diz Graça Xavier, na época, integrante da equipe do concurso.
O Festival adota um formato, que obedece aos dois modelos de quadrilhas
da época: as tradicionais e as estilizadas, avaliadas por duas comissões jul-
gadoras formadas por indicação direta dos organizadores. Entre os jurados
que percorrem os arraiais assistindo às apresentações das quadrilhas (cerca
de oitenta) nesse período, destacam-se: Carlos Varella, Alfredo Borba, Ci-
rinéia Amaral, Jurandir Austtermann, Lula Gonzaga, Liane Borba, Hermó-
genes Araújo, Paulo Fernando, Albemar Araújo, Osvaldo Araújo, entre ou-
tros, que se dividiam no julgamento dos itens: entrada e saída da quadrilha,
marcador, animação, alinhamento e figurino.
Kokota na Roça

20
Não demora e o Pernambucano se consolida como o principal concurso de
Quadrilhas Juninas do Estado, cujo modelo repercute e estimula empre-
sas e associações particulares a estruturarem os seus próprios concursos, a
exemplo do Festival de Quadrilhas Juninas da Rede Globo Nordeste (1989)
e o concurso do Sesc, em 1991.
Testemunha do processo de mudanças e permanências dos grupos, a coor-
denação do Pernambucano, em acordo com os dirigentes das quadrilhas,
decide organizar um único concurso, extinguindo as categorias tradicional
e estilizada. Essa nova fase do concurso (1993) é coordenada por Carlos
Varella e tem como principal cenário o arraial do Sítio Trindade, em Casa
Amarela. É o início da construção do sentimento de identidade dos qua-
drilheiros com o local, considerado referência pelos seguidores da mani-
festação.
A popularidade alcançada pelo Festival entre o universo dos quadrilheiros
leva a coordenação do concurso a organizar a primeira reunião geral com
os grupos. O encontro, coordenado pelo arte-educador Carlos Varella, em 1993, contou com a participação de quadrilheiros e integrantes da equipe
organizadora do concurso, os quais analisaram os diferentes itens de julga-
mento. Dessa maneira, ficaram estabelecidos os seguintes itens: marcador,
casamento, vestuário, música, coreografia e conjunto. “Esse momento foi
muito importante para a história do concurso, pois registrou-se em docu-
mento (o regulamento) os principais aspectos que caracterizam a manifes-
tação cultural quadrilha junina. As várias coordenações que teve o Pernam-
bucano (Graça Xavier (1995); Paulinho Mafe (1996-1997); Telma Nunes
(1998-2000); Zélia Sales (2001 e 2002) e Albemar Araújo juntamente com
Zélia, a partir de 2003, seguiram como parâmetro esse modelo de análise
para nortear o trabalho da comissão julgadora”, diz Paulinho Mafe.
Após catorze anos de realização do Festival Adulto, a Fundação de Cultura
cria, em 1999, o Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas Infantis.
“Nós fizemos o concurso na época com R$ 2.000,00. Foi muito importante.
Logo no primeiro ano, concorreram 20 quadrilhas, consagrando-se a 1ª
campeã do Pernambucano a quadrilha Rancho Alegre”, diz Paulinho Mafe,

21
idealizador e coordenador da ação durante oito anos. Assim como no con-
curso adulto, no infantil as quadrilhas são avaliadas por uma comissão jul-
gadora, composta por três membros. Entre os nomes que fizeram parte da
primeira comissão do infantil, citamos: Carmem Lélis, Rogério Fernandes
de Castro e Verônica Ferreira.
O novo milênio inicia e outras mudanças contribuem para transformar a
escrita da história das quadrilhas juninas. Em junho de 2000, o Departa-
mento de Documentação e Formação Cultural publica a plaquete Quadri-
lha Junina: história e atualidade. Um movimento que não é só imagem, um
estudo preliminar com vinte e duas quadrilhas, destacando a importância
da manifestação como formadora de mão de obra na área cultural. A pes-
quisa coordenada por Zélia Sales e organizada pela historiadora Magdalena
Almeida resultou em vários momentos de reflexão com os quadrilheiros,
entre os quais se destaca o seminário realizado no Teatro Barreto Junior, em
agosto do mesmo ano.
Xilindro de Ritmos

22
Nesse encontro, organizado pelos dirigentes de quadrilha com o apoio da
Fundação de Cultura, discutiu-se, entre outros assuntos, sobre os aspectos
históricos da manifestação; mudanças e permanências; a existência de um
concurso, suas potencialidades e dificuldades e a importância de sistema-
tizar os trabalhos desenvolvidos pelos grupos. Desse primeiro momento,
participaram alguns representantes de quadrilhas como: Dayvison Bandei-
ra (Vem Que Tem Nordeste), Fábio Andrade (Lumiar), Itamar Coutinho
(Flor do Abacate), Ivanildo Plínio (Brigões de Suape), entre outros, junta-
mente com os palestrantes: Zélia Sales, Magdalena Almeida, Carmem Lélis,
José Manoel, Didha Pereira, Paulinho Mafe e Willams Santana.
O encontro resultou na criação da Federação de Quadrilhas Juninas de Per-
nambuco (FEQUAJUPE), em 30 de agosto de 2000 (registrada oficialmente
dois anos após). Uma entidade civil sem fins lucrativos, que nasce com o
intuito de valorizar e fortalecer o movimento junino no Estado. Entre os
quadrilheiros que se afirmaram como defensores dos interesses dos grupos
na luta pelo reconhecimento público e pela conquista do espaço político do
segmento, destacamos aqueles que presidiram a entidade: Fábio Andrade
(2000-2002); Antônio Amorim (2002-2003); Rejane Santana (2004-2006);
Gilcley Paiva (2007- atual). Outros nomes (membros da diretoria) também
deixaram suas marcas na história da Federação. São eles: Francisco Santa-
na, Hugo Menezes, Manoel Alexandre, Sérgio de Barros, Ivanildo Plínio,
Dayvison Bandeira, Itamar Coutinho, Gustavo Medeiros, Patrícia Babalu,
Fábio Jardel, André Perreli, Michele Miguel, Sérgio Murilo (estes três últi-
mos integrantes da atual gestão).
As discussões entre a Fequajupe e a Prefeitura do Recife avançaram e um
conjunto de ações foi estabelecido, a partir do estreitamento do pensamen-
to comum. Segundo Albemar Araújo, entre os trabalhos realizados em
parceria com a Federação, podemos destacar: “I Seminário Junino de Per-
nambuco com discussões de temas como empreendedorismo, marketing
das quadrilhas, captação de recursos, elaboração de projetos e subvenção.
Esse encontro aconteceu em 2005, no auditório da Universidade Salgado de
Oliveira (UNIVERSO) e contou com a participação de aproximadamente
duzentas pessoas, entre quadrilheiros, representantes da Prefeitura do Re-

23
cife, Governo do Estado e Sesc. Outra atividade relevante foi a primeira ca-
pacitação dos jurados dos Arraiais Comunitários, em junho desse mesmo
ano, lá no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM). Mais
de cinquenta pessoas estiveram presentes. Outra atividade foi a palestra
que participamos (Rivalidade não Rima com Violência), no Teatro Hermi-
lo Borba Filho. Além de outras ações como o Pré-Junino, o Quadrilhão, o
Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas da FEQUAJUPE (Adulto e
Infantil), organização de Cartões Postais das Quadrilhas, exposições como
a realizada na Casa do Carnaval, em novembro de 2005, Quadrilha Junina:
do fazer cotidiano ao espetáculo.”
Nesse contexto de aproximação entre a política cultural da cidade e os pro-
dutores diretos das manifestações de cultura popular, a Casa do Carnaval
(na época uma divisão do Departamento de Documentação e Formação
Cultural/ FCCR) abre as suas portas para as quadrilhas juninas interes-
sadas em desenvolver trabalhos fundamentados em estudos e pesquisas.
Em pouco tempo, a Casa torna-se um reduto dos quadrilheiros. “As visitas
eram constantes, principalmente quando se aproximava o período junino.
Os grupos iam lá, marcavam uma reunião com Carmem Lélis e ela atendia
a todos, sugerindo leituras, documentários, imagens, outras ideias. Era de
fato um dos trabalhos de formação de grande visibilidade da Fundação de
Cultura”, diz Zélia Sales (na época Chefe do Departamento de Formação
Cultural e Coordenadora Geral do Festival de Quadrilhas).
A demanda contribui para a qualificação e ampliação do acervo do espaço,
o qual passa a atender diferentes grupos em busca de material para consulta
(livros, periódicos, DVD’S, Fitas VHS, fotografias, entre outros documen-
tos). Outras formas de garantia de visibilidade da manifestação quadrilha
junina são as exposições temáticas, realizadas no período junino, no espaço
térreo da Casa do Carnaval. Entre as exposições do espaço, destacam-se:
Fogo é Louvor, fogueira é símbolo (2001); Quadrilha Junina: tradição, arte e
ousadia (2002), São João: festa da fertilidade da terra e do homem (2003),
São João: manifestação de fé, celebração da alegria (2004); Quadrilha Juni-
na: do fazer cotidiano ao espetáculo (parceria com a Fequajupe, 2005). “As
exposições, visitadas por mais de duas mil pessoas, serviam de inspiração

24
para as quadrilhas e também como um instrumento de pesquisa não só
para os quadrilheiros, mas para os estudantes, pesquisadores e outras pes-
soas interessadas que passavam pelo Pátio de São Pedro e eram atraídas
pelos textos, objetos e sons oriundos do espaço. Produzíamos também um
folder, que o visitante levava para casa um resumo da exposição; além de
emprestar para instituições de ensino da cidade, os materiais produzidos
(banners principalmente) de exposições anteriores”, diz Conceição Fragôso
(na época, estagiária da Casa do Carnaval).
O interesse pela pesquisa e a carência de material para estudo, que desse
subsídio às quadrilhas produzirem os seus espetáculos, leva o Departamen-
to de Formação Cultural em parceria com a Casa do Carnaval e o Depar-
tamento de Artes Cênicas elaborarem um programa de formação cultural
focado nas quadrilhas juninas. “Publicamos a segunda edição da plaquete
Quadrilha Junina: história e atualidade. Um movimento que não é só imagem
Exposição Quadrilha Junina: do fazer cotidiano ao espetáculo, 2005

25
(atualizada e organizada por Carmem Lélis; realizamos a primeira oficina de
Casamento Matuto (em parceria com a Fequajupe), com material didático
(apostila) e aulas práticas no Pátio de São Pedro. Nesse primeiro trabalho,
tivemos como professores Carmem Lélis (história do ciclo junino); Albemar
Araújo (Dramaturgia e Interpretação); Willams Santana (Técnica Vocal);
Pedro Souza e Henrique (Artes Plásticas)”, recorda Zélia Sales.
As descobertas levam os grupos a ampliarem as suas necessidades e novos
cursos são organizados pela Fundação de Cultura. “Realizamos o curso de
elaboração de projetos e captação de recursos para as quadrilhas, em 2005.
No ano seguinte, continuamos com esse trabalho e realizamos no Centro
Cultural Inácia Raposo, na Boa Vista, quatro oficinas: Casamento (minis-
trada pelo ator Carlos Varella), coreografia (ministrada pelo coreógrafo
Valdir Nunes), Figurino e Adereços (ministrada pelos artistas plásticos
Américo Barreto e Fábio Costa) e Técnica Vocal (ministrado pela produ-
tora cultural Isolda Virgínia). A procura pelas oficinas refletia a lacuna na
cidade de espaços que promovessem esse tipo de atividade, indo de encon-
tro aos desejos e necessidades dos quadrilheiros”, reforça Zélia Sales, que
completa: “Desses trabalhos, muitos alunos se profissionalizaram e até hoje
atuam vigorosamente na área. Entre alguns nomes que recordo, destaco:
Perácio Gondim, Leilane Nascimento, Welligton Gomes (China), Tarcísio
Xavier, Lenildo Carvalho (Suelane), Gildo Alencar, Anderson Gomes, Sér-
gio de Barros, Cléo, Carola, Edicley, Adgelson Soares (Alegria), Andreza,
Gabriela, Epaminondas (Nondas), Elon, entre outros”.
Os trabalhos de formação ampliam a ideia primeira do Festival pautado
num espaço de concorrência e disputas acirradas entre os grupos. O Per-
nambucano consiste agora no ponto de culminância de todo o trabalho de
pesquisa desenvolvido ao longo de cinco ou sete meses pela quadrilha. “É a
apresentação do resultado final de pesquisa diluído nos adereços, figurino,
no texto do casamento, na coreografia, na música, no conjunto como um
todo. Ficamos muito gratificados quando identificamos no arraial, várias
passagens dos assuntos apresentados nas oficinas”, diz Albemar Araújo (Ge-
rente de Artes Cênicas e Coordenador Geral do Festival de Quadrilhas).

26
Compreendendo o Festival como um sistema em processo, a Fundação de
Cultura amplia o seu olhar até a outra extremidade da situação: a comissão
Oficina Casamento Matuto, 2004
Oficina Casamento, 2006

27
julgadora. A ideia consiste em preparar o jurado, do ponto de vista teórico,
para os diferentes discursos apresentados pelas quadrilhas nos arraiais. Um
espaço, que na pluralidade de temas diversos, dialoga de forma integra-
da com todas as áreas que compõem o espetáculo. “O primeiro seminário,
de fato, aconteceu, em 2002, no Auditório da Prefeitura para mais de 250
participantes. Estiveram presentes jurados, representantes do Orçamen-
to Participativo e quadrilheiros. Em 2005, retomamos com esse trabalho,
dessa vez no Teatro de Santa Isabel, onde se discutiu, durante quatro dias, com mais de 60 candidatos (historiadores, jornalistas, atores, músicos, pro
-
fessores, pesquisadores de cultura popular, figurinistas e quadrilheiros),
os itens de julgamento do Festival (coreografia, marcador, música, casa-
mento, figurino e conjunto). Passamos pela Livraria Cultura (2007 e 2008)
e somente em 2009, já na Faculdade Maurício de Nassau, adotamos uma
nova metodologia: separamos os itens por sala e os alunos passaram a se
inscrever de acordo com a afinidade do assunto. Esse diálogo com todas
as áreas do conhecimento aprimora o processo de formação, qualifica a
comissão julgadora e o próprio Festival, que não apresenta uma nota fria
ao quadrilheiro, mas sim, com uma análise que justifica a nota atribuída.
Esse é o nosso diferencial”, diz Zélia Sales. Entre os jurados que contribuem
para a qualificação do Festival, destacamos: Geraldo Vital, Ivone Cordeiro,
Rudimar Constâncio, Galeana Brasil, Mônica Cordeiro, José Cleto Macha-
do, Ana Miranda, Luiz Souza, Hermógenes Araújo (in memorian), Willams
Santana, Alexandre Macedo, Carlos Varella, Odilex, Socorro Almeida, Ge-
raldo Berardinelli, Carlos Sales, Roberto Carlos, Ester Monteiro, Eduardo
Pinheiro, Sérgio Barros, Antônio Fernando, Vado Luz, Patrícia Breda, Ivo-
nete Melo, Anderson Gomes, Perácio Gondim, Carlos Melo (in memorian)
entre outros.
O ano de 2006 trouxe mais uma modificação para o Festival: as quadrilhas
adultas se dividem em grupos Um e Dois. De acordo com Paulinho Mafe,
“essa divisão foi estabelecida pela classificação do ano anterior, passando
para o Grupo Um as trinta quadrilhas mais pontuadas. Com essa inovação,
a primeira campeã do Grupo Dois foi a Quadrilha Junina Moderna Fuzar-
ca (Campina Barreto), depois foi a vez da Dona Matuta (San Martin, em

28
2007); Pisa no Espinho (Rio Doce, 2008) e Sanfona Branca (Areias, 2009)”.
Ainda em 2006, destacamos o curso de figuras do casamento (com dezoi-
to quadrilheiros e a participação da fonoaudióloga Leila Freitas, no Teatro
de Santa Isabel) e o trabalho de consultoria sobre Casamento Matuto com
trinta quadrilhas do Recife e Região Metropolitana.
Na vigésima segunda edição do Festival Adulto, o Pernambucano volta a
ser realizado de forma descentralizada. Os locais escolhidos para a monta-
gem dos polos espalham-se entre quatro RPAs (Região Política Adminis-
trativa): a dois (Nascedouro de Peixinhos), a três (Sítio Trindade), a cinco
(San Martin) e a seis (Ibura). Em 2007, entre outras novidades do concurso,
destacamos o desdobramento do item conjunto para a criação de um novo
item – tema, a partir de um seminário realizado com os quadrilheiros no
Recife Praia Hotel. Ainda nesse ano, trinta e duas quadrilhas se apresenta-
ram em noventa e sete polos comunitários.
No ano seguinte (2008), após um estudo de avaliação do São João ante -
rior (infraestrutura, equipe, segurança, acessibilidade etc), novas mudanças
marcam a história do Festival: a criação dos polos da RPA um ( Colégio
IEP) e da RPA quatro (Escola Diná de Oliveira, no Barbalho). “Esse ano foi
um desafio para a Fundação de Cultura: garantir a qualidade do trabalho
de forma igualitária em todos os polos. Para a eficácia do São João de 2008,
I Seminário Junino de Pernambuco, UNIVERSO, 2005

29
contamos com a contribuição de toda uma equipe especializada, principal-
mente dos nossos coordenadores dos polos: Normando Roberto (RPA 1),
André Luiz Ferreira da Paz (RPA 2), Graça Xavier (RPA 3), Telma Nunes
(RPA 4), Mário Ribeiro (RPA 5), Cristiana Lopes (RPA 6) e Paulinho Mafe
(Infantil, na RPA 3)”, ressalta Albemar Araújo.
Seminário - Recife Praia Hotel, 2008
Zabumba RPA 5 - Praça Noel Rodrigues , San Martin, 2009

30
2009 se inicia com reuniões entre quadrilheiros e representantes da Fun-
dação de Cultura, para elaboração do novo regulamento do Festival e a
escolha de novos polos. “Nos últimos anos, o Festival ganhou uma dimen-
são diferenciada. O polo da Escola Diná de Oliveira foi transferido para a
Escola Helena Lubienska (Torre) e em 2010 para o Espaço Via-Show (Pra-
do). O mesmo aconteceu com o polo da Escola IEP, que foi transferido em 2010 para a Praça do Arsenal (Bairro do Recife). Estreitamos também nesse
período, a nossa relação com os quadrilheiros e a Fequajupe, construindo juntos os regulamentos (desde 2005), negociando valores de premiação, a
escolha da comissão julgadora, dos polos das eliminatórias e da final (este
ano voltaremos para o Geraldão realizar a final do concurso), avaliação do
São João, entre outras ações”, diz Zélia Sales.
Para 2010, ao completar vinte e seis anos do Festival Adulto e doze do In-
fantil, o Pernambucano e as Quadrilhas Juninas terão pela primeira vez as
suas histórias registradas numa publicação, que certamente entrará para
a coleção dos trabalhos mais relevantes da Fundação de Cultura, no que
compete ao processo de salvaguarda de uma das manifestações culturais
mais representativas das festividades juninas em Pernambuco: as Quadri-
lhas Juninas.

31
Histórico das Quadrilhas Juninas

32
Anarriê Junina
A ideia primeira de fundar a quadrilha Anarriê Junina foi do professor de
Educação Física e coreógrafo Walmir Souza, em 15 de março de 2005, na
comunidade do Parque Capibaribe, município de São Lourenço da Mata. A
iniciativa logo teve o apoio de duas importantes mulheres: Zenaide Rodri-
gues (tia Zenaide) e Iracilda da Silva (vovó Zilda).
Com o propósito de reunir e ocupar o tempo ocioso dos jovens da locali-
dade, a Anarriê desenvolve um trabalho de formação pedagógica, através
da dança. Essa preocupação com o papel social da quadrilha transparece
na fala do marcador e presidente do grupo Walmir Souza: “Para dançar
na quadrilha o brincante tinha que estar matriculado e frequentando
uma rede oficial de ensino. Com isso, houve uma aceitação muito grande
por parte da comunidade. Essa iniciativa ajudou muitas pessoas que esta-
vam fora da escola ou mesmo aquelas que estavam matriculadas a levar a
sério os estudos, dando prioridade ao processo de formação profissional
e educacional”.

33
A identificação da comunidade com o trabalho da quadrilha refletia na
procura dos jovens para fazer parte do grupo. No último ano da Anarriê,
participaram 70 pessoas, das quais, 90% eram moradoras da localidade.
Essa popularidade era visivelmente identificada nos ensaios, que aconte-
ciam na praça da Rua 75, Rua 62 e na Escola Leonor Porto, a partir do mês
de março, e nas oficinas de formação cultural desenvolvidas pelo grupo
ao longo do ano. Segundo Walmir,“no decorrer desses cinco anos foram
realizadas várias atividades, entre elas, oficinas de teatro, ministrada pelo
professor Jorge Gomes de Fonseca; cabelo e maquiagem ministrada pela
estilista Bárbara Finsking; criação do vestuário feita em parceria com An-
dré de Biasy e Bárbara Finsking; criação de cenário e produção em geral
pelos integrantes que direta ou indiretamente colaboraram para a constru-
ção dessa quadrilha, mas em especial a Anderson Costa (Negão), Garbson,
Diogo, Carlos Marques, Edson (Buda), Gabriela (Gabicha), Andreza Costa,
Gláucia (Chinha) Marcílio, Jhonatan, Marcelinho, Dayvison (Day), Bruno
Henrique, Alisson (Ninho), George (Binho), Lery, Junior (Boy), Acácio,
Klebson, Genildo Machado e Gilberto Monteiro.”
O esforço e a dedicação de todos que fizeram a Anarriê Junina resultaram
na conquista de vários títulos, entre eles: campeã do Concurso Municipal de Quadrilhas Juninas de São Lourenço da Mata (2005); 4º lugar no Festival
Pernambucano da Prefeitura do Recife, grupo Dois, em 2007,conquistando
os seguintes prêmios: melhor marcador (Walmir Souza), melhor Trilha So-
nora (Marcelinho, Marcilio, Chinha), melhor Maria Bonita, Gláucia (Chi-
nha), melhor Rainha, (Ceça); em 2009, o grupo é campeão do primeiro
Concurso de Quadrilhas Juninas do Sesc São Lourenço, classificada para
final do grupo Um do Festival Pernambucano. Por motivos diversos, em 2010, a Anarriê deixa de se apresentar no São João, levando grande parte
dos seus integrantes a organizarem outro grupo com o nome “Anavantu”.

34
Arraialzinho do Cordeiro

“A quadrilha junina mais antiga em funcionamento no Recife”. Assim é co-
nhecida a quadrilha Arraialzinho do Cordeiro, criada, em 13 de maio de
1979, pelo núcleo de duas famílias – Caboclo e Vicente – moradoras do
Bairro do Cordeiro. A iniciativa partiu de Seu Francisco Agostinho Cabo-
clo, o popular Chico, que reuniu a criançada, “ordenando” o seu genro, Re-
ginaldo Vicente da Silva (Regi), a marcar a brincadeira. Em comum acordo
dos dois, decidem batizar a quadrilha de Arraialzinho do Cordeiro, pelo
fato de seus “dançarinos serem pequenos e vão se apresentar em arraial, daí
colocamos o arraial no diminutivo e fica arraialzinho e Cordeiro porque é
nosso bairro”, diz Reginaldo Vicente, atual presidente.
A quadrilha se populariza na comunidade e a procura dos dançarinos au-
menta a cada ensaio, causando no grupo o desejo de aperfeiçoar o trabalho
e participar dos principais concursos do gênero na cidade. Assim, em 1986
participa pela primeira vez do concurso da Rádio Globo (Bairro de São

35
José), consagrando-se campeã. No ano seguinte, no mesmo concurso, con-
quista o bi-campeonato. Em 1992, é a vez de Seu Regi receber uma home-
nagem da TV Jornal do Commercio como o melhor marcador, fato que se
repete em 1998, na cidade de Chã de Alegria – interior de Pernambuco.
Nos anos 1990, a conquista de vários títulos nos concursos dos arraiais de
bairros torna a Arraialzinho conhecida como “a Fera do Cordeiro”, além
de contribuir para a o reconhecimento da comunidade local, que passa a
investir no grupo de diferentes maneiras: organizam bingos, rifas, piqueni-
ques, festas, entre outras formas de captar recursos.
Entre os títulos conquistados pela quadrilha nos últimos anos, destacam-se:
1º lugar na Rádio Globo (1994); 2º lugar no arraial do Córrego do Euclides
(2001); 2º lugar nos municípios de Camaragibe e Escada (2002); 1º lugar
do concurso de Carpina (2008); Melhor Marcador em Belo Jardim (2007);
1º lugar no concurso de Palmares (2009); 1º lugar nos arraiais do Alto do
Cajueiro, Sítio dos Pintos, Detran (2009).

36
Boa Vista Show
Comunidade dos Coelhos, no Bairro da Vista, centro do Recife. Essa é a
referência da localização, onde Clóvis Costa (conhecido por Nino), João
Gomes (Joãozinho da Mocidade) e outros líderes, decidem criar, em março
de 1993, a Quadrilha Boa Vista Show. A ideia era organizar uma brincadei-
ra que animasse a festa de São João da localidade, mas que também levasse
o nome do bairro para os principais concursos do gênero que existiam na
cidade e no Estado.
Homenageando o bairro de origem no seu nome, a Quadrilha Boa Vista
Show apresentou-se no seu primeiro ano de forma simples, com figurinos
custeados pelos próprios componentes. Bingos e rifas foram organizados
para conseguir dinheiro e suprir as despesas com o aluguel de caminhão-
baú, pois “não tínhamos dinheiro para alugar ônibus e éramos a única qua-
drilha que chegava nesse transporte”, diz Clóvis Costa.

37
Em 1994, duas pessoas contribuíram decisivamente para a montagem do
espetáculo da Boa Vista Show, os artistas plásticos Fábio Costa e Américo
Barreto, profissionais da cidade pioneiros no processo de inovação de uma
quadrilha junina, com temas diferentes e irreverentes. Partindo dessa pers-
pectiva, a Boa Vista foi a primeira quadrilha de Pernambuco a colocar o
casamento matuto gravado para que toda a plateia pudesse escutar o texto.
Em 1996, mais outra inovação patrocinada pela quadrilha dos Coelhos.
Com o tema Santo Antônio Casamenteiro, Fábio, Américo e Nino decidem
que o marcador iria se apresentar no arraial vestido de noiva, fato marcante
na história do movimento. A frase emblemática: “Boa Vista Show, tá lindo!”
também ficou por muito tempo nas mentes dos apaixonados por quadrilha.
A ousadia reservou para o grupo o 6º lugar nos Festivais da Rede Globo
Nordeste e Pernambucano. Neste último, a Boa Vista conquista os prêmios
de “Quadrilha Revelação do Pernambucano”, a Rainha das Quadrilhas, o
melhor marcador e o melhor casamento. Nos arraiais dos bairros, também
muitos títulos de campeã foram conquistados.

38
O ano de 1997 para o grupo foi marcado por muitas dificuldades financei-
ras, fato que refletiu nos dois anos seguintes, quando a quadrilha não se
apresentou no São João. A chegada do novo milênio reacendeu a chama de
participar novamente da festa junina, e um grupo de antigos componentes
(Nino, Eliezer, Wesley e outros) decide se organizar e colocar a quadrilha
mais uma vez nas ruas. Apesar do empenho e da dedicação dos integrantes,
as dificuldades financeiras foram crescendo a cada novo espetáculo, fato
que leva a diretoria da Boa Vista Show, a encerrar suas atividades no ano
de 2003.

39
Brigões de Suape
 
Praia de Suape, Cabo de Santo Agostinho. Coqueiros, mar, sol, calor, pes-
cadores, jovens com muitos sonhos e desejos. Esse é o cenário onde nasceu,
em 04 de abril de 1987, a quadrilha Brigões de Suape, antiga Brigões do Bu-
raco de Dentro. A ideia de criar a quadrilha nasceu de um grupo de amigos
formado por José Rildo Plínio da Silva, Ivanildo Plínio, Zildo Plínio, Maria
José de Santana, Jurandir dos Santos, Vanusa Mª de Santana, entre outros,
que, preocupados em unir os moradores da comunidade, divididos em dois
grupos rivais (os seguidores do Grus e do Estrela, dois blocos carnavalescos
da região, hoje inexistentes), decidem organizar uma quadrilha junina.
Inicialmente animando as festas de São João da localidade, a Brigões passa a disputar em diferentes concursos do Cabo a partir de 1994, quando de
-
senvolve o seu primeiro espetáculo temático: O mar e o pescador. Apresen-
tando-se com um estilo diferente, agora recriado, a quadrilha leva para o
arraial o cotidiano dos pescadores e a sua relação com o mar. Esse trabalho
marca o início dos títulos de campeã no concurso do Cabo, onde a Brigões destaca-se como a quadrilha tetra campeã (1994-1997). Em 1995, ganha
como Quadrilha Revelação, no arraial do Bira no Janga. Em 1996, conquis
-
ta o campeonato no concurso de Escada e o 2º lugar no arraial do Ibura. No
ano seguinte, classifica-se em 2º lugar no arraial de Areias.
Três anos após participando dos concursos em diversos arraiais de bairro,
a quadrilha firma uma parceria com uma Rede Hoteleira do Cabo de Santo
Agostinho, e passa a fazer parte da programação cultural do espaço. Em 1998, por solicitações de alguns dirigentes dos hotéis, a Quadrilha Matuta
Brigões do Buraco de Dentro passa a se chamar Quadrilha Junina Brigões
de Suape. Com a nova denominação, a quadrilha conquista o vice campeo-
nato no concurso do Córrego do Joaquim (1998), Quadrilha Revelação do
arraial da Tribuna (1999), campeã no arraial Urso Pé de Lã (1999).
Os trabalhos da Brigões aumentam em proporção e, em 1999, o grupo participa
pela primeira vez dos dois grandes concursos do gênero, o Festival da Rede Glo-
bo Nordeste e o Pernambucano da Fundação de Cultura Cidade do Recife.

40
A chegada do novo milênio trouxe para a quadrilha o 3º lugar no Festival
Pernambucano da Prefeitura do Recife, além de 12 títulos de campeão nos
arraiais de bairro. Em 2001, a Brigões participa pela primeira vez do con-
curso do Sesc, levando para o arraial todos os componentes vestidos de
noivos e noivas, numa alusão as festas de Santo Antônio, São João e São
Pedro, tendo em cada momento, a entrada de um andor com um desses
personagens vivo. Em 2002, foi a 5ª colocada do Festival Pernambucano.
O nome do grupo passa a fazer parte das programações culturais da festa em
diferentes cidades do estado, aumentando a responsabilidade dos diretores
com o aperfeiçoamento dos trabalhos, a qualidade dos ensaios, da escolha
dos temas, montagem do figurino, adereços etc. A comunidade contribui
de todas as formas, as casas dos componentes se transformam em ateliês; a
costureira, Dona Maria José Maciel, aumenta o ritmo de trabalho, entrando
pela madrugada, numa dedicação constante ao sucesso da quadrilha. Essa
relação com a comunidade extrapola o período do ciclo junino, levando os
moradores a participar de outras ações organizadas pela quadrilha, como o
Grupo de Dança Popular e o Projeto Arte em Geral.

41
Ousadia é a palavra, que talvez marque o perfil dos trabalhos que a Brigões
realiza. Em 2003, leva, pela primeira vez, na história das quadrilhas, um
ônibus e um painel eletrônico para os arraiais. No ano seguinte, com o tema
Olha pro céu meu amor, chocou o público com o beijo de dois homens e
duas mulheres em pleno casamento no arraial. A ousadia garantiu o prêmio de “Melhor Casamento” no Festival Pernambucano.
Festa de São Pedro foi o tema de 2005, uma homenagem ao padroeiro da
quadrilha, que lhe rendeu a classificação, pela primeira vez, para a etapa
final do concurso da Rede Globo Nordeste. A conquista funciona como es-
tímulo para a criação de espetáculos mais elaborados, como, por exemplo,
os trabalhos realizados nos últimos quatro anos: São João nas cores de um
balão (2006); Quadrilha é francesa, e junina é brasileira (2007); O compadre
de São João (2008) e São João para turista ver (2009).
É importante destacar na trajetória da Brigões a formação de jovens pro-
fissionais qualificados para o mercado de trabalho por meio da quadrilha
junina, fato que garante ao grupo o respeito e a admiração dos moradores
do Cabo, assim como dos diferentes lugares onde a quadrilha se apresenta.

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Brincant’s Show
Em janeiro de 2001, surgiu um projeto de Animação Cultural na Escola
Municipal Eng. Guilherme Diniz, na UR-06, Ibura, oferecido pela Prefeitu -
ra do Recife. Foi o início do mundo de fantasias e de desejos de uma comu-
nidade marcada pela violência e marginalidade. Nascia, timidamente, um
movimento cultural na localidade, ainda sem nome, mas com o propósito
principal de satisfazer, por meio das manifestações culturais, as necessida-
des das crianças e dos adolescentes.
Inexperiente, o grupo que se deparou com o seu primeiro desafio: a esco-
lha do nome para a iniciativa. Segundo Kátia Marinho, presidente da qua-
drilha, “fomos influenciados pelo espírito de todas as crianças que partici-
pam, fizemos pesquisas que permitiram a nós lermos de forma mais clara
a cultura que está arraigada em nós. O marcador, também cooperador do
projeto, é de fato um brincalhão e junto com as crianças formam um time
perfeito. Então esse título caiu como uma luva para o que queríamos”. As-

43
sim, após dois anos de existência, o grupo recebe o nome de Brincant’s. En-
tre as pessoas idealizadoras desse projeto, destacam-se: Maria de Lourdes
Nunes; Kátia Marinho; Geovana; Giselly Santos; Delmo Jefferson, Alberto
Almeida, Daniel Silva, Ramon Milanês, Marcella Navarro, Alessandra Pa-
trícia, Reginaldo Salles, Rafael Henrique, Alexandre Magno, entre outras,
que direta ou indiretamente contribuíram para o grupo avançar nos seus
objetivos e conquistas.
Sem uma sede própria, a Brincant’s faz do espaço disponível da Escola Mu-
nicipal Engenheiro Guilherme Diniz (dentro do projeto Escola Aberta) o
seu local de ensaios e reuniões, estendendo-se até as casas dos seus dire-
tores, muitas vezes transformadas em verdadeiros ateliês de produção de
cenários, de figurinos e de adereços.
É interessante ressaltar na história do grupo o trabalho desenvolvido cons-
tantemente na comunidade com os moradores. Segundo Kátia Marinho, “a
Brincant’s não para quando o ciclo junino passa, na verdade, ele é celebrado.
Um dos fundadores que ocupa a função de marcador da quadrilha aprovei-

44
ta os espetáculos durante o São João para analisar e fomentar o que já vem
sendo formulado em seus registros. Nesse ritmo, a comunidade reage com
muita força, cabendo a nós organizadores promover eventos na intenção
de capitação de recursos para fortalecer esse vínculo, traçando metas in-
dispensáveis na utilização desses recursos advindos de eventos, tais como:
bingos temáticos com prêmios doados pela própria comunidade; festas
com bilheteria que favorecem a integração do grupo e comunidade (dia da
criança, folclore, halloween, Dia da Consciência Negra, festa natalina, entre
outras); Rifa pela Loteria Federal. [...] a dimensão é muito grande quando
se trata de quadrilha junina [...] a tradição nas comunidades da UR-06 e
UR-11 é muito forte diante de muitos exemplos que temos, como a KoKota
na Roça; Pelo Avesso; Picuí; Formiga; Boko Moko,... Por isso que o envol-
vimento do povo, posso dizer, é quase impossível não acontecer”.
O trabalho coletivo e o espírito guerreiro das crianças que fazem a Brincant’s
resultaram, nesses nove anos de atuação, em títulos muito importantes para
o segmento, tais como: 4º lugar no Festival Pernambucano de Quadrilhas
Juninas Infantis (2003); campeã do Arraial do Verdura, em Águas Compri-
das; campeã do Festival de Quadrilhas Juninas Infantis de Jaboatão, 4º lugar
no Pernambucano (2004); Bi campeã do Arraial do Verdura, campeã do
Pernambucano, campeã do Festival do Alto José do Pinho, em Casa Ama-
rela, campeã do arraial de João Dino, em Casa Amarela, 3º lugar no Arraial
de Ouro Preto (Tostão), 4º lugar no Festival de Quadrilhas da FEQUAJUPE
(2005); campeã no Arraial da Praça do ABC na Mustardinha, vice - campeã
do Arraial do Verdura, 4º lugar no Pernambucano, campeã no Arraial do Ca-
beça, 3º lugar no 1º Festival de Quadrilhas Juninas da Globo, 3º lugar no Fes-
tival de Quadrilhas do Sesc, vice-campeã do Festival em Santo Amaro, vice- campeã do Arraial do Cabeça, na Bomba do Hemetério (2006); bi- campeã
do Pernambucano, campeã do 2º Festival de Quadrilhas Juninas da Globo,
vice-campeã do Festival de Quadrilhas do Sesc, vice - campeã do Arraial do Verdura, participação no Regional, em Campina Grande – PB (2007); 4º lu
-
gar no Festival de Quadrilhas da Globo e no Sesc (2008); bi- campeã do
Festival de Quadrilhas da Globo, bicampeã do Festival de Quadrilhas Infantis de Jaboatão, 4º lugar no Pernambucano (2009).

45
Cambalacho
A Quadrilha Junina Cambalacho foi fundada em 02 de março de 1982 pelas
irmãs Gecilene e Gecijane Lopes Barbosa. A ideia era formar uma quadrilha
de familiares para animar a Rua da Campina, em Goiana, PE. Inicialmente
uma quadrilha formada só por mulheres, incluindo a marcadora – fato que
causou admiração, popularizou o trabalho do grupo e resultou na conquis-
ta de muitos prêmios como melhor marcadora. A origem do nome está
vinculada ao nome de uma novela que passava na televisão, fazendo muito
sucesso nas conversas das mulheres da quadrilha.
No São João de 1988, a Quadrilha Cambalacho conquista o seu primeiro
título de campeã goianense no arraial da Rua da Conceição. No município,
tem a fama de ser a Quadrilha Casamenteira, pois “geralmente quem dan-
çava nela, no ano seguinte, tinha no mínimo 30% do seu elenco casados e
outro noivos”, diz Maria do Socorro Lopes da Cruz, presidente e dona da
Quadrilha.

46
A relação da quadrilha com a comunidade extrapola o ciclo junino, dia-
logando com as experiências do cotidiano dos seus integrantes, a maioria
filhos, sobrinhos, primos, netos e bisnetos das fundadoras, que, somados
com os componentes da vizinhança, transformam os ensaios e as apresen-
tações num ambiente, particularmente, familiar.
Na história da Cambalacho, o ano de 1999 marcou a memória dos seus
integrantes, que deixaram o seu figurino “matuto” e se apresentaram pela
primeira vez como uma quadrilha recriada. Em 2002, aderem ao formato
de quadrilha estilizada, permanecendo assim até a atualidade.
No Festival Pernambucano de Quadrilhas realizado pela Prefeitura do Re-
cife, a Cambalacho participa desde 2003, trazendo para o arraial a garra de
um grupo, formado por quase cem pessoas, entre brincantes e profissionais em geral que se envolvem na produção do espetáculo. Em 2009, conquistou
o tricampeonato no concurso de Goiana, o 1º lugar nos festivais de Caaporã
(PB) e Condado (PE).

47
A seriedade do trabalho ultrapassou o período junino e conquistou a cre-
dibilidade da comunidade, que procura e participa ativamente do Grupo
de Artes e Produções de Eventos Cambalacho, o (GAPEC), o ano inteiro.
A partir desse grupo, a quadrilha promove aulas de computação e recur-
sos humanos para os jovens da redondeza, oficinas de chapéus e flechas
(parceria com os grupos de caboclinhos da localidade – uma das marcas
culturais de Goiana), entre outras atividades destinadas a arrecadar verba
para ajudar nas despesas, como rifas, bingos e shows de pagode, brega, for-
ró, entre outros.

48
Chiclete com Banana
A Quadrilha Chiclete com Banana foi fundada em 19 de abril de 1987 no
Bairro da Vila Rica/Cohab 1 - Jaboatão dos Guararapes. A ideia de organizar
o grupo nasceu com Manoel Andrade (Pato), Wildo Lucena, Joseane da Sil-
va, Jeilton da Silva, Quitéria e Marcus, que insatisfeitos com as discórdias de
uma quadrilha que existia no bairro, resolvem criar uma nova brincadeira.
O nome foi sugerido por Pato, marcador do grupo no seu primeiro ano,
em referência a música de Jackson do Pandeiro: Chiclete com Banana. Esse
período também era marcado pelo sucesso das músicas baianas no país,
em especial, o grupo Chiclete com Banana, cujo LP com músicas do ritmo
junino (Sonhei que eu era balão dourado, Riacho do navio corre pro Pajeú...)
inspirou o repertório de toda quadrilha.
No período de 1989 a 1991, a quadrilha ficou sem sair devido à falta de
componentes, estes atraídos pelo trabalho de outro grupo da comunidade
de Vila Rica. Em 1992, Chiclete volta aos arraiais com 22 casais, deixando

49
seu estilo matuto e adotando uma forma mais moderna de fazer quadrilha.
Desde então, passam a adotar um formato de trabalho diferenciado, modi-
ficando o modelo tradicional de trilha sonora, colocando músicas baianas
no repertório (Daniela Mercury, Netinho, entre outros), figurinos com co-
res vibrantes em tons de verde-limão, amarelo-limão e laranja-limão.
Entre os nomes responsáveis por essas mudanças, o casal de noivos Rejane
Santana e Michel Kleber, Wildo Lucena e Alexandre Mórmon (conhecido
como Alexandre Baluarte), marcador, coreógrafo e estilista, destacam-se
na condução do grupo que ganhou o seu primeiro concurso fora do bairro
de origem, conquistando espaço na programação dos principais festivais
de quadrilhas juninas do Recife e Região Metropolitana: o Pernambucano
(Sítio Trindade, pela Prefeitura do Recife) e o da Rede Globo Nordeste.

50
O ano de 1994 foi marcante para o grupo. Chiclete com Banana conquistou
o 2° lugar do concurso de Quadrilhas Juninas da Rede Globo e seu casal
de noivos ganhou suas primeiras medalhas como melhores noivos do Per-
nambucano. Desse ano em diante, muitas conquistas marcaram a história
do grupo. Em 1995, Alexandre Baluarte ganhou como melhor marcador,
Fabiana Teixeira foi eleita a primeira Rainha das Quadrilhas Juninas de
Pernambuco, pelo Festival da Prefeitura do Recife; Rejane e Michel con-
quistaram mais um prêmio de melhor casal de noivos, além de muitos ou-
tros títulos nos arraiais de bairros como Casa Amarela, Ibura e Olinda. Dos 46 concursos que participaram, ganharam o 1° lugar 38 vezes. Com nove
anos de existência, Chiclete com Banana perde um dos seus fundadores:
Alexandre Baluarte deixa o grupo devido a discordâncias entre a diretoria,
desestruturando a equipe. O tempo prossegue e a Chiclete volta a conquis-
tar títulos. O grupo cresce, reúne jovens de diversas localidades carentes
do Recife e Região Metropolitana, como Curado, Cavaleiro, Casa Amarela,
Moreno. Determinados, transformam o desejo de mudança da condição
social na qual vivem, em atitude no arraial, na hora de dançar quadrilha, de sair do anonimato, mesmo que seja por alguns momentos. Em 1998,
recebem, pelo 1º lugar no Palhoção de Tia Lú, um troféu com 2.95 cm – o
maior de sua coleção –, além de muitas medalhas de destaques, a exemplo
de Fagner Luiz de Souza como melhor cigano, Batgirl (Jairo Miguel do Nas-
cimento) como melhor intérprete de casamento, Mário Aiala como melhor componente e Michel Kleber como melhor noivo do Pernambucano. 1999
é mais uma data significativa para a Chiclete: conquista a medalha de “Res-
gate a Cultura” no Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas.
No novo milênio, o que se observa é o crescimento entre os grupos, pelo
interesse em pesquisar e estudar temas relacionados ao ciclo junino, os quais
passam a elaborar e desenvolver projetos de pesquisas, que determinam to-
das as etapas do processo de criação de uma quadrilha. A Chiclete com Ba-
nana não faz diferente. Ela cria equipes e sistematiza a divisão dos trabalhos:
uns ficam responsáveis pela concepção do tema; outros elaboram o desenho
do figurino, estudam as diferentes tonalidades das cores, escolhem tecidos;
outro grupo se responsabiliza pela trilha sonora, articulada ao coreógrafo,

51
que junto com o marcador desenvolve os passos, amarrando tudo com a
história do casamento – mote maior para a festa acontecer no arraial.
Entre os temas trabalhados pela Chiclete, destacam-se: “Aboios e Vaqueja-
das (1995), Um vôo nas asas dos quatro pássaros do Sertão: acauã, carcará,
assum preto e asa branca (1996), São João: festa da fogueira e balão, faz
a festa só no meu coração (1997), Eu vou contar pra você... homenagem a
Luiz Gonzaga (1998), Quadrilha: tradição que se renova (1999), Viva São
João (2000), Uma Viagem pela Cultura Popular (2001), São João das minhas
tradições (2002), Noite de São João (2003), O Ciclo Junino e suas Tradições
(2004), Festa Junina: vou cair na brincadeira (2005), Eu quero ver, vocês vão
ver: 20 anos de Chiclete com você (2006). Neste último espetáculo, a quadri-
lha levou para o arraial um enorme bolo humano, cuja primeira fatia foi
oferecida ao público, em sinal de agradecimento pelo reconhecimento de
todo o trabalho durante as duas décadas. Uma retrospectiva da trajetória
da Chiclete e uma homenagem a todos os marcadores (Pato, Rivaldo, Ale-
xandre Falcão, Angelus Guilherme, Wagner Macklayton, Ednaldo (Nanau),
Anderson (Black), Marquinhos, Marcelo (Miau), Wildo Lucena), compo-
nentes, amigos e familiares da quadrilha, encheu de emoção todo o arraial,
que se despediu com muitas lágrimas assistindo ao último espetáculo da
Quadrilha Chiclete com Banana.

52
Deveras
Fundado na comunidade de Brasília Teimosa - Recife, em 1980, o balé Deve-
ras surge com o propósito de dar visibilidade às danças populares de Pernam-
buco e formar profissionais para atuar no mercado da dança no Estado.
Utilizando a dança como instrumento de inclusão social, o “Deveras”, du-
rante 12 anos, montou vários espetáculos de dança com jovens da comu-
nidade praieira de Brasília Teimosa. Conquistou espaço e reconhecimento
social apresentando seus trabalhos (resultados de estudos e pesquisas sobre
as manifestações populares) em teatros do Recife e em outras cidades, em
eventos turísticos promovidos pela EMPETUR, no Programa FREVANÇA
da Rede Globo Nordeste, do qual participou durante uma década, além de
outros festivais de dança organizados pela Prefeitura do Recife.

53
Em 1991, monta o espetáculo “Bandeira de São João”, baseado no disco de
Antônio Brito e Zoca Madureira. O espetáculo montado para teatro, mas
com desenhos coreográficos em forma de quadrilha recebe o incentivo da
produtora cultural Thelma Chase para transformá-lo numa quadrilha juni-
na e concorrer nos concursos realizados no Recife.
Acompanhando o movimento de quadrilhas estilizadas que crescia no
Bairro do Ibura - Recife e os trabalhos do Balé Popular do Recife, através do
qual dizia recriar a danças populares, o diretor e coreógrafo do espetáculo,
Mika Silva, percebe que o trabalho montado relacionava-se com uma nova
proposta de quadrilha junina, e decide criar, em 1992, a Primeira Quadrilha
Junina Recriada.
Segundo Mika Silva, “a Deveras iria apresentar a história do Matuto que
deixa sua cidade de origem (o interior) e vem para a cidade grande tentar
uma vida melhor, sem deixar suas origens e seus brinquedos (a quadrilha
junina). Chegando à cidade grande, encontra outra realidade, onde o rit-
mo de vida é mais acelerado e as músicas juninas ganham outros arranjos.
A dança receberia complemento de outros brinquedos populares, como: o
coco, o xaxado, a ciranda, o bumba meu boi, o cavalo marinho, entre outras
danças típicas do ciclo junino.”

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Obedecendo ao formato a quatro (quadrilha), mas tendo a liberdade de va-
riar, o grupo trouxe para o espetáculo algumas inovações, como: a liberdade
do marcador no arraial que assume a função de animar e incentivar a ale-
gria dos componentes, uma vez que os movimentos estão coreograficamen-
te ensaiados; as músicas utilizadas também trazem um diferencial, são mais
eletrizantes, no estilo do ritmo baiano (Chiclete com Banana); os figurinos
não traziam aquele matuto caricato do interior com pedaços de retalhos, es-
tereotipado pelo olhar urbano, mas sim, representado com todos os brilhos
possíveis e fazendo referência ao tema proposto; adereços eram utilizados o
tempo todo; trocar figurinos dentro do arraial era a marca da Deveras, pro-
vocando no público um sentimento de identificação com o brinquedo.
A Quadrilha Deveras sempre trouxe para os arraiais muitas inovações. Na
sua primeira apresentação, trouxe uma mudança na concepção de rei e rai-
nha do milho, apresentando um dos primeiros casais de reis negros; ino-
vando também com a criação de coreografias específicas para os destaques.
A frente da quadrilha, no lugar de uma faixa com o nome do grupo, apre-
sentava as Gêmeas Siamesas, simbolizando a união das Quadrilhas Tradi-
cional e Estilizada, que resultou na Quadrilha Recriada. As gêmeas traziam
no figurino o nome da quadrilha, anunciando a sua chegada. Figuras como
São João, São Pedro e Santo Antônio sempre apareciam como personagens
do espetáculo, interagindo com o público e com os próprios brincantes.
Em 1998, colocou em cena, pela primeira vez, um transformista no casa-
mento. Orama, uma transexual, fazia o papel da irmã da noiva, que tentava
roubar o noivo. “Nossos casamentos, desde o início, eram montados com
histórias do cotidiano das pessoas, mas fazendo referência às brincadeiras
populares, e utilizávamos trechos de músicas conhecidas”.
Como toda forma de inovação, a proposta da Deveras despertou opiniões
divergentes no segmento das quadrilhas juninas, porém, a expectativa dos
quadrilheiros, mesmo os não afeiçoados com o modelo, aumentava a cada
dois anos, quando o grupo trazia à rua um novo espetáculo. “Sempre saía-
mos um ano sim outro não. O propósito dessa parada era para não repetir
as mesmas coisas e poder respirar e pesquisar para o próximo trabalho”.

55
Entre os títulos conquistados, destacam-se: os vários anos em que se classi-
ficou entre as três quadrilhas mais pontuadas do Festival de Quadrilha Juni-
nas da Rede Globo Nordeste; campeã do concurso do Sesc (1994); campeã
do concurso da Brahma (1996); campeã do concurso do Arraial Zé da Sopa
(Ibura); campeã do Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas da Pre-
feitura do Recife (1996); campeã de diversos arraiais espalhados pelo Recife
e Região Metropolitana; além da conquista da medalha de reconhecimento
pelo melhor marcador do São João do Recife, entregue pela Fundação de
Cultura a Ladimir Ferreira da Silva (Mika Silva), em 1997. No ano seguinte,
a Deveras decide continuar com as atividades do balé (grupo existente até hoje), não se apresentando como quadrilha junina há 12 anos.

56
Dona Matuta
Fundada em 16 de maio de 2006, no bairro de San Martin - Recife, Dona
Matuta nasceu da união de jovens “veteranos” em quadrilha, que tinham
como objetivo brincar o São João. Dos desejos e sentimentos joaninos de Sérgio
Trindade (presidente e marcador), George Araújo, Vivia Amanda (Katuxa), Sér-
gio Barros, André Perreli, Henrique Tenório, Edilze Belo, Cezar Augusto, entre
outros, numa conversa no bar Dona Matuta (Ipsep), nasceu a ideia de criar uma
quadrilha que reunisse amigos e contribuísse para a preservação dessa manifes-
tação da cultura popular em Pernambuco.
Os sonhos não demoraram em se concretizar. A conversa se estendeu até
a casa do marcador, em San Martin, que até hoje funciona como a sede da
quadrilha. Um espaço onde inexiste as fronteiras entre o público e o priva-
do. A calçada e a rua constituem uma extensão da casa, onde se conversa e
se respira São João o ano inteiro. Um clima festivo, regado de bolo, bolachas
e café, vinho, cerveja, risadas e muitas conversas descontraídas atravessan-
do a madrugada.

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Estabelecida uma relação de identidade da rua e do bairro com a quadrilha,
dois nomes talvez se destaquem como os personagens, que, apesar de não
aparecerem em público, constituem verdadeiros destaques. É o casal Dona
Lúcia Trindade e Seu Basta, moradores antigos do bairro e pais do marca-
dor da quadrilha, que se tornou conhecido na localidade pelo movimento
festivo, que agita cotidianamente a frente de sua casa. “É a casa da quadri-
lha”, dizem os moradores da vizinhança que passam pelo animado trecho
da Rua Pedro Melo.
O slogan do grupo “Aqui é só Alegria” é a mola mestra dos trabalhos que
tem duração o ano inteiro. A diretoria (formada por 12 pessoas) se reúne
sistematicamente uma vez por mês no período entre julho e dezembro. A
partir de janeiro, os encontros passam a ser semanais, envolvendo agora
um grupo mais amplo, os dançarinos, cuja procura aumenta a cada ensaio
nas ruas e escolas do bairro.
Em 2007, Dona Matuta conquista o seu primeiro título: campeã do Grupo
2 do Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas promovido pela Prefei-
tura do Recife. No ano seguinte, já integrando a programação de quadrilhas
do grupo Um, com o tema A Grande Festa de Santa Fé conquista a 6ª posi-
ção no Pernambucano e o 5º lugar no Festival da Rede Globo.

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A originalidade do seu figurino, artesanalmente confeccionado pelas cos-
tureiras do grupo e alguns integrantes, é a marca da Matuta. Filé, fuxico,
favos de mel, juta, estão sempre presentes no seu visual. Outra referência é
a trilha sonora. A maioria, composições do seu marcador, Sérgio Trindade,
autor de mais de 10 músicas, que integram o repertório da Dona Matuta em
seus recentes quatro anos.
Em 2009, Dona Matuta entra para a história das quadrilhas campeãs de um
dos concursos mais esperados pelos quadrilheiros: o Festival de Quadrilhas
da Rede Globo Nordeste. Com o tema A Festa do Pau da Bandeira, seus 116
integrantes levaram o resultado de um trabalho de pesquisa para Fortaleza,
onde ganhou o título de melhor marcador e melhor destaque com o padre
no Concurso Regional, e conquistou alguns títulos nos arraiais do Recife e
Região Metropolitana.
Uma marca da Dona Matuta, que segue o modelo corriqueiro no interior
do movimento quadrilheiro nos últimos cinco anos, são as festas que orga-
niza para arrecadar dinheiro para pagamento das despesas do grupo (com-
pra de tecidos, aviamentos, material para cenários, gravação das músicas,
do cd do casamento, comprar sapatos das damas e cavalheiros, arranjos de

59
cabeça, traque de massa, chapéus, alugar os ônibus e caminhões-baús para
transportar a produção). Essas festas também funcionam como espaços de
sociabilidade entre a comunidade de quadrilheiros. Jovens de diferentes
grupos que se encontram e falam de quadrilha. Relembram fatos engraça-
dos, alguns cômicos, outros trágicos, mas que existiram e ficaram registra-
dos em suas memórias individuais e coletivas.
Entre as festas promovidas pela Matuta, destacam-se o Baile à Fantasia da
Matuta batizado com o tema Aqui todo mundo faz, em 2010, realizado du-
rante as prévias carnavalescas na sede do Bloco do Batutas de São José, em
Afogados. Esse baile marcou a história do movimento e a sua importante
atuação no Carnaval da cidade. Foi o 1º baile do gênero organizado por
uma quadrilha. Nos últimos tempos, muitas quadrilhas juninas são contra-
tadas pelas agremiações carnavalescas para compor alas nas troças, clubes, maracatus e escolas de samba. Ainda em 2010, a festa da Quadrilha rea
-
lizada no Armazém 14 - Bairro do Recife foi mais um sucesso do grupo,
que reuniu no mesmo espaço mais de 600 pessoas, que se divertiram até as
primeiras sete horas do dia.

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Dona Sinhá
A Quadrilha Dona Sinhá da comunidade do Encanta Moça – Pina – nasceu
de uma brincadeira de criança “no quintal de Dona Anita”, no dia 29 de
abril de 1982. A escolha do nome remete à influência de uma personagem
de novela muito popular na época. Como a maioria dos grupos, Dona Sinhá
começou com poucos casais da própria vizinhança, amigos da rua, que nos
intervalos das brincadeiras decidem dançar quadrilha. Entre os primeiros
componentes do grupo, destacam-se: “Nadjane, Andréa, Ceça e Robson”,
recorda Dona Marileide Almeida de Lucena, uma das fundadoras.
Dona Sinhá cresce e passa a atrair outro tipo de público, com novos desejos
e sonhos. “O espaço ficou pequeno para a quantidade de pessoas que queria
dançar. Então, aterramos um terreno cheio de buraco na frente da casa de
seu José Felix Cavalcanti (meu sogro) e fizemos um arraial com a ajuda
de um político”, comenta Sílvio Marques de Lucena, também fundador do
grupo.

61
A animação dos ensaios atrai a população da redondeza para a Rua Itaiçuba,
no Pina, e o grupo inicialmente “inexperiente”, formado por familiares e
vizinhos, organiza a sua primeira diretoria. Assim, para prosseguir com
os trabalhos da quadrilha, foram eleitos: “José Anchieta de Melo para
presidente; como vice, Ornilo Galdino de Aguiar; Silvio Marques de Lucena
(1ª tesoureiro); Marileide Almeida de Lucena (2ª tesoureira) e Lucy Maria
de Aguiar (a secretária). Como primeiro marcador, escolhemos Geraldo”,
lembra Sílvio Lucena.
Em 1983, Dona Sinhá participa do primeiro concurso do gênero,
conquistando o primeiro troféu de campeã no concurso de quadrilhas
realizado pela Igreja Católica do Pina. Foi o início de uma trajetória com
muitos campeonatos. Com um estilo próprio, nos moldes tradicional de
quadrilha junina, Dona Sinhá deixa a sua marca nos arraiais do Estado. “A
nossa quadrilha era muito tradicional, com passos das danças regionais. Foi
assim que Dona Sinhá ficou conhecida, como a quadrilha mais tradicionais
de Pernambuco”, recorda orgulhoso Sílvio Lucena, que completa: “Após a
nossa saída da diretoria, a quadrilha estilizou-se”.

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Durante o seu tempo de existência, muitas são as pessoas e as situações
pitorescas que enriquecem a história da Dona Sinhá. Basta citar as
habilidades de Dona Dida, “que fazia os modelos dos vestidos das damas em
manequins de bonecas”, e o episódio da dentadura que aconteceu no arraial
do Ipsep, “quando o coronel, na hora do casamento, ao falar de sua filha,
a sua dentadura pulou da boca e caiu no chão. Todos os jurados olharam
para a cena, quando o guarda chegou e prendeu a dentadura do coronel.
Todos os jurados morreram de rir, aplaudindo de pé, pensando eles que
aquela cena fazia parte do casamento, e, no entanto, não foi. Improvisamos
na hora para não dar vexame. Resultado: tiramos dez e ganhamos o melhor
casamento”, recorda Sílvio Lucena.
Entre os títulos da Dona Sinhá no Festival Pernambucano destacam-se:
vice-campeã (1987); vice-campeã (1990 e 1992) e campeã (1991 e 1993) da
categoria tradicional, além de outros campeonatos nos arraiais da Xique
Xique no Remelexe, Boko Moko, Truaka, Pelo Avesso, e outros.

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Fogo na Noite

A História da Quadrilha Fogo na Noite no São João do Recife é muito bre-
ve. Existiu durante seis anos apenas (1990-1996), e surgiu da iniciativa de
um grupo de amigos decididos em animar as noites de junho no Bairro do
Ipsep, Zona Sul da cidade. Entre os seus fundadores destacam-se: Welder
Lacerda (Dido) – seu primeiro marcador, Flávio Guardia, Fernando Gon-
çalo, Onésimo Lacerda (Nelsinho), Sandoval Gonçalo (Nanau), e Antônio
Amorim (Toninho). No meio de tantos homens, um nome feminino so-
bressai na história do grupo, a coreógrafa e também marcadora, Ana Suely
de Oliveira Mendes.
O nome do grupo nasceu em função de um filme chamado Botando Fogo
na Noite, embalado pelo ritmo da lambada, que animava a juventude da
época, aparecendo até em algumas trilhas sonoras de quadrilhas.
Em 1991, com aproximadamente 40 componentes, a Fogo na Noite iniciou
a sua trajetória junina oficialmente e passou a participar dos principais fes-
tivais de quadrilhas juninas do Recife e Região Metropolitana, sendo cam-
peã no arraial do Gabriel – Morro da Conceição, em 1993.
Nas noites de apresentação da quadrilha, o bairro do Ipsep transformava-se
numa grande festa junina, com músicas, comidas típicas, fogos de artifício
e muitos momentos de descontração e entrosamento entre os vizinhos e
moradores da redondeza. Nessas ocasiões, outras quadrilhas, de diferentes
comunidades, também participavam da programação do arraial. Em 1996, por diversos motivos, principalmente financeiros, a diretoria de
-
cide não mais colocar a quadrilha na rua. No entanto, o arraial continuou
em atividade até o São João do ano seguinte.

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Flor do Abacate
Em abril de 1981, os moradores da Rua do Abacate, situada na 3ª etapa
do Bairro de Rio Doce – Olinda, ao observarem a grande quantidade de
crianças que brincava na rua, resolveram fazer uma quadrilha junina. A
brincadeira foi ganhando forma e atraindo o público da redondeza, que
assistia aos ensaios do grupo, sob o comando do seu primeiro marcador
- José Carlos, o popular Cal.
De todas as etapas do bairro chegavam crianças e a Quadrilha Flor do Aba-
cate Mirim tornou-se o xodó da comunidade. Pelas suas características
próprias, conquistou os mais importantes títulos do Recife e Região Me-
tropolitana: o tri-campeonato do Sesc Santo Amaro (1993 a 1995), além de
alguns campeonatos espalhados nos arraiais comunitários. Nesse período,
o Festival Pernambucano de Quadrilhas Infantis da Prefeitura do Recife
ainda não existia.
Entre os nomes que merecem destaque na história da Flor do Abacate, res-
saltamos: Dona Gilda Batista (costureira), Seu Andrelino Mendonça (dire-
tor), José Jaida Figueira Priston (presidente), Elizabete Simões (costureira
e diretora), Elinete Lins, Jerson Lins, Itamar Coutinho (3º e último mar -

65
cador) entre outros apaixonados pela Flor. É importante ressaltar, que a
maior parte dos diretores e envolvidos diretamente com a quadrilha eram
moradores da Rua do Abacate.
Em 1989, muitas das crianças que iniciaram o grupo cresceram, surgindo
a necessidade de criar uma quadrilha Flor do Abacate Adulta, que também
adotou um estilo próprio, conquistando importantes títulos no estado. São
eles: 1º lugar no Festival Pernambucano de Quadrilhas da Prefeitura do
Recife (1995), 1º lugar no concurso do Sesc (1995), 1º lugar no arraial do
G.E.R.A. (Areias, 1994 e 1995), 1º lugar no Arraial do Morro da Conceição
(Casa Amarela, 1994 e 1995), 1º lugar no Arraial do Zé do Pinho (1994
e 1995), 1º lugar no Arraial Zé da Sopa (Ibura, 1993 a 1995), 1º lugar no
Arraial Vila Tamandaré (Areias, 1995), 1º lugar no Arraial K te Espero (Jar-
dim Uchoa), 1º lugar no Arraial Nóis Sofre Mais Nóis Goza (Jardim São
Paulo, 1994 e 1995), 1º lugar no concurso Olindão (1992, 1993 e 1995), 1º
lugar no Arraial Enfeitiçou meu Coração (Abreu e Lima, 1991).
Em 1995, por diversos motivos (muitas despesas, desentendimento interno,
etc) a diretoria decide que a Flor do Abacate encerraria as suas atividades,
ficando a saudade das emocionantes apresentações do grupo que registra-
ram na história numerosos talentos da Rua do Abacate, em Rio Doce.

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Forró Moderno

Inconformados com o encerramento das atividades da Quadrilha Flor do
Abacate, alguns diretores, entre eles, Itamar Coutinho (marcador), Jerson
Lins, Andrelino Mendonça e outros, decidem criar um novo grupo, que
continuasse com o trabalho de valorização e preservação das nossas ma-
nifestações da cultura popular. Assim, nasce, em 17 de janeiro de 1996,
na Rua Maria do Carmo Vieira, 31, Rio Doce, a Quadrilha Junina Forró
Moderno.
A escolha do nome é uma junção do ritmo forró, dançado pelas quadrilhas,
e do novo estilo da quadrilha, agora mais moderna, ousada, diferente do
modelo matuto comum até os anos 1980. O grupo ficou conhecido entre
os quadrilheiros, “como a continuação de uma história ou o seu segundo
capítulo – a Flor em nova versão”, diz Itamar. Dessa forma, a Forró Moder-
no seguiu sua trajetória conquistando muitos títulos, tais como: campeã do Festival de Quadrilha da Rede Globo (1996); Vice-campeã do Festival

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Nordestino de Quadrilhas Juninas da Rede Globo (1996); 1º lugar do Fes-
tival de Quadrilhas do GERA (Areias, 1999 e 2001); 1ºlugar do Festival de
Quadrilhas do Arraial São Gabriel (Bomba do Hemetério - Recife); 3º lugar
do Festival Pernambucano de Quadrilhas da Prefeitura do Recife (1996); 1º
lugar do Festival de Quadrilhas da Ilha de Itamaracá (2001), 3º lugar do
Festival Pernambucano de Quadrilhas da Prefeitura do Recife (2003); Bi -
campeã do Concurso de Quadrilhas do Arraial do Liba (2007/2008); cam -
peã do Festival de Quadrilhas do Município de Joaquim Nabuco – Zona da
Mata Sul - PE (2009).
Em 1996, uma reorganização administrativa transformou a quadrilha em
Grêmio, diversificando as suas atividades para as áreas do esporte e lazer,
visando a geração de renda e a formação artística, com responsabilidade
social, para um público formado na sua maioria por jovens moradores em
áreas de comunidades carentes e grande vulnerabilidade social. “Com o

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nosso trabalho tentamos diminuir dessa forma o acesso ao crime e às dro-
gas”, diz Itamar.
A quadrilha recebe o apoio da comunidade. Conta com a participação efe-
tiva dos pais e familiares, que se dedicam na campanha de manter o grupo
na ativa. Dessa forma, realizam periodicamente, eventos festivos, bingos,
rifas, entre outras atividades que visam, sobretudo, arrecadar recursos fi-
nanceiros. Destaca-se também nesse trabalho coletivo, o importante papel
da Escola Estadual Professora Inês Borba, que disponibiliza a sua estrutura
para a realização de muitas ações, integradas ao Programa Escola Aberta.

69
Geração 2000
A quadrilha Geração 2000 foi fundada em 15 de março de 1993, por um
grupo de moradores do loteamento Céu Azul, no bairro do Timbi, em Ca-
maragibe. A iniciativa partiu dos amigos Lúcia Pedrosa, Edvaldo Pedrosa,
Jadilene Santana dos Santos (Nena), Rosimar de França, Luiz de Castro
Alexandre (Lula) e Severino Biu (in memorian).
Inicialmente formada por 12 casais (hoje são 26), a Geração nasceu com o
intuito de animar a festa de São João da vizinhança, numa simples brinca-
deira de rua. O grupo cresceu, aperfeiçoou o trabalho e passou a disputar
nos principais concursos da localidade. Em 1995, conquista o seu primeiro
campeonato no concurso de Quadrilhas Mirins de Camaragibe. O título
estimula o grupo, que passa a investir nas coreografias, nos figurinos, nos
cenários, atraindo cada vez mais os moradores da região.
Com o intuito de otimizar o tempo livre da meninada, a equipe de diretores
inicia, em 1999, um trabalho de formação sociocultural na comunidade,
aproveitando os profissionais envolvidos com o grupo e estimulando novos
talentos. “Essa é a função da quadrilha Geração 2000. O carro chefe aqui é

70
a oficina de marcenaria, que já foi tema de programas de TV, rádio, entre
outros, além de oficinas de artesanato, massa fria (porcelana), bisquit e re-
ciclagem”, salienta Edivaldo Pedrosa – presidente da quadrilha. Sem uma
sede própria, as oficinas acontecem na residência de seu Edivaldo, onde
também se transforma em espaço de palestras para gestantes, idosos e jo-
vens componentes da quadrilha, que periodicamente assistem a apresenta-
ções de temas diversos: drogas, doenças sexualmente transmissíveis, entre
outros assuntos.
Nesses 17 anos de atuação, a Geração 2000 coleciona títulos importantes,
que traduzem o esforço, o espírito de trabalho coletivo e o compromisso
de transformar vidas por meio do ensino da arte. Entre os seus principais
campeonatos, destacam-se: bi campeã do concurso oficial de Camaragibe
(2004 e 2005); tri campeã do concurso mirim de Camaragibe (2006 a 2008);
1º lugar em Surubim (2005); 2º lugar no Sesc de Casa Amarela (2005).

71
Junina Tradição

A ideia primeira de criar a Quadrilha Junina Tradição nasceu numa mesa
de bar entre conversas e sonhos de quatro amigos (Fabiano Ferreira, Mau-
rício Francisco, Ademário Ferreira (Xoxo) e Jimmy Glauber) moradores
do Morro da Conceição, Recife. O pensamento só se concretizou, em 04 de
fevereiro de 2004, quando se somaram ao grupo, os primos Joselito Costa
e Perácio Jr. e os amigos Gildo Alencar, Anderson Gomes, Cleyton Santos
(Buda), Sandro Sá, Diogo Luís, Adeilda (Tetei) e Lúcia (Nena), todos dissi-
dentes da Quadrilha Origem Nordestina da mesma localidade. O nome foi
inspirado na escola de samba Tradição do Rio de Janeiro, que também foi
fundada a partir da dissidência com outra escola.
“No início foi tudo muito difícil, faltavam espaço para ensaio, recursos fi-
nanceiros, componentes, mão de obra especializada [...] e o principal, a
credibilidade das pessoas. [...] mas a Tradição tinha o essencial: a coragem
e a força de vontade de um grupo de pessoas, que tinha certeza que era

72
possível fazer uma quadrilha democrática onde todos e todas pudessem
ter vez e voz. Uma quadrilha que contribuísse na superação dos problemas
comunitários e que a produção artística cultural fosse algo construído cole-
tivamente”, ressalta Joselito Costa, presidente da Tradição.
A experiência adquirida na “Origem Nordestina” ajudou na condução dos
trabalhos com o novo grupo. Os dançarinos passaram a desenvolver outras
habilidades, novos talentos foram revelados, “surgindo grandes coreógra-
fos, projetistas, figurinistas, cenógrafos, compositores, marcadores, tudo o
que precisava para colocar uma quadrilha junina na rua”, diz Joselito.
A Tradição reúne um público bastante diversificado, com faixa etária que
varia entre 15 e 50 anos. São mulheres, homens, crianças, adolescentes, jo-
vens e adultos, com destaque para o grande número de homossexuais, que
encontra na quadrilha um espaço de respeito mútuo e valorização das suas
potencialidades artísticas. Nesse sentido, fazer parte da família Tradição é
sentir-se pertencente à comunidade do Morro da Conceição, um espaço,
que na pluralidade dos seus talentos, trava uma batalha diária contra a vio-
lência, as drogas, a prostituição e o preconceito de residir em morros, pelo
poder de enunciação dos seus moradores através da arte. O trabalho que
a quadrilha realiza, por meio do teatro e da dança, é fundamental para a
elevação da autoestima dos moradores da comunidade e do entorno, pois
desenvolve e promove visibilidade às potencialidades artísticas da localida-
de, cuja expressão maior é manifestada no período do São João e da Fes-
ta do Morro, em dezembro. “A Quadrilha é um espaço cultural atraente e
que envolve a juventude, preenchendo o seu espaço ocioso e favorecendo a
descobertas de suas potencialidades e a elevação de sua auto estima. É um
espaço onde a juventude se sente valorizada e se reconhece como artista,
como alguém que independente de sua situação sócio-econômica tem algo
de muito valioso para dar à sua comunidade e isso tem feito toda diferença.
As relações de amizades e os vínculos afetivos construídos na Tradição são
de fundamental importância no combate a violência, pois os adolescentes
e jovens não se sentem mais sozinhos sentem-se acolhidos pela família Ju-
nina Tradição”, diz Joselito.

73
A estrutura organizacional da quadrilha gira em torno de aproximadamen-
te 20 pessoas, que envolve: o presidente e o vice-presidente, o 1º e o 2º
tesoureiros, o 1º e o 2º secretários, além dos diretores que ocupam funções
específicas, como: diretor de ensaio (que trata de todas as questões refe-
rentes aos ensaios), diretor de produção (responsável pela construção dos
cenários e dos adereços até a sua utilização nos arraiais), diretor de tema
(conhecido como projetista junino, responsável pela pesquisa e desenvol-
vimento do tema), os dançarinos, os contrarregras, coreógrafos, composi-
tores e cantores do repertório, figurinistas, diretor teatral (responsável por
escrever o texto e dirigir o casamento junino), marcador, entre outros.
A montagem do espetáculo “é fruto de um longo processo de pesquisa que
se inicia com um ano de antecedência. Primeiro montamos uma comissão
de tema que juntamente com o diretor de tema vai definir o que tem a ser
abordado no São João. Depois se inicia uma pesquisa aprofundada sobre
o tema escolhido, e a partir daí começam ser construídas as primeiras
propostas de figurino, cenário, adereços, letras de músicas, texto de
casamento, coreografias etc. Após essa fase, se inicia a implementação das
propostas: é hora de começar os ensaios para os dançarinos aprenderem as
coreografias, de confeccionar o figurino, de construir o cenário, de gravar
as músicas no estúdio etc. Depois que tudo está pronto, é hora da melhor
parte, a estreia”.
Essa forma de pensamento compartilhado leva a comunidade a participar
ativamente da quadrilha, desenvolvendo diferentes formas de parcerias:
“temos parceria com o Conselho de Moradores, com o clube Acadêmico
do Morro, com a Escola de Samba Galeria do Ritmo e com a escola estadual
Padre João Barbosa (locais onde realizam os ensaios). Fora da Comunidade
temos parcerias com a Escola Estadual Governador Carlos de Lima Ca-
valcante, com a Federação das Quadrilhas Juninas de Pernambucana (FE-
QUAJUPE), além das contribuições políticas, que dialogam com os grupos.
Sem um espaço próprio, a quadrilha faz da sua sede as casas dos diretores
e o barracão, que alugam para realizar a confecção dos cenários. Essa é a
realidade de muitas quadrilhas, que “sem uma sede própria, não favorece a
conservação dos nossos materiais. Depois do São João somos praticamente

74
obrigados a desfazer dos nossos materiais, pois não temos local apropriado
para guardá-los, muito menos recursos financeiros para alugar um espaço”,
diz Joselito Costa.
Todos os sonhos desse grupo de jovens tornaram-se realidade no mesmo
ano em que decidiram formar a quadrilha, em 2004. Com o tema Ciclo
Junino: Ritual e Festa, a Tradição realiza o seu primeiro espetáculo no São
João. Trabalho que lhe rendeu vários títulos, tais como: Campeã do Festival
de Quadrilhas da Rede Globo Nordeste, Campeã do Festival Pernambuca-
no de Quadrilhas Juninas da Fundação de Cultura do Recife e vice-campeã
do festival Regional de Quadrilhas Juninas da Rede Globo Nordeste.

75
Essa data transformou a história do Morro da Conceição. O bairro passava a
ter agora duas grandes quadrilhas, inicialmente rivais. Disputavam-se com-
ponentes, espaço para ensaio e apresentações, apoio comunitário, costurei-
ras. “A comunidade se dividiu para torcer, as lideranças comunitárias histó-
ricas e as instituições populares, por mais que tivessem a sua preferência se
mantinham neutras vibrando sempre pelas duas representantes da comuni-
dade. A disputa até certo ponto era saudável só que em alguns momentos
a rivalidade ultrapassava os limites gerando um mal estar na comunidade.
Várias foram as vezes que o conselho de moradores precisou intervir nas
relações entras as duas quadrilhas. Hoje em dia as duas quadrilhas do Morro
convivem pacificamente ajudando-se uma a outra, na medida do possível,
sendo assim exemplo para outras comunidades. Contudo a comunidade se
sente orgulhosa em saber que das dez melhores quadrilhas de Pernambuco,
duas estão no Morro da Conceição”, diz orgulhoso Joselito Costa.
Desde então, a Tradição passou a investir na formação política, social e
cultural de seus integrantes, estimulando a participação em cursos, ofici-

76
nas, seminários e palestras de caráter formativo desenvolvidos na cidade.
Segundo alguns diretores do grupo, “a gestão pública municipal nos últi-
mos anos tem tomado várias iniciativas de formação para os quadrilheiros
e incentivado cada vez mais as produções culturais. Ganhamos muito na
gestão do prefeito João Paulo no que diz respeito às quadrilhas no Recife,
mas precisamos avançar ainda mais” comenta o diretor Fabiano da Silva.
O resultado dos investimentos foi satisfatório. Espetáculos bem-avaliados,
conquistando muitos prêmios. São João: Festa da Fertilidade e da Fartura
foi o título do trabalho em 2005, que deu a Tradição o bi-campeonato
do Festival da Globo; São João: a Grande Festa do Povo, em 2006, trouxe o
3º lugar do Festival da Globo. Quentão, tradição que esquenta o São João,
foi o título do espetáculo em 2007. Em 2008, conquista o vice-campeonato
na Globo com o trabalho Daqui Pra Lá, de Lugar em Lugar a Tradição Vem
Festejar, abordando a história do teatro Mambembe. Em 2009, Geninha
da Rosa Borges, dos palcos aos arraiais, traz para a Tradição o 3º lugar no
concurso do Sesc e a 4ª colocação nos Festivais Pernambucano e Rede
Globo.
A direção da Tradição avalia com muita satisfação os resultados alcan-
çados nesses seis anos de história. “As conquistas dos títulos nesses seis
anos nos deu visibilidade e fez da Tradição uma quadrilha de ponta, res-
peitada em Pernambuco e fora do estado, mas o mais importante nesses
anos foi a implementação de uma gestão democrática, participativa onde
todos e todas tem vez e voz, uma gestão que não está só preocupada em
colocar uma quadrilha competitiva na rua, mas sim criar condições que
favoreçam o desenvolvimento comunitário do Morro da Conceição”, fi-
naliza Joselito Costa.

77
Lumiar
Com um nome que remete a luz, brilho, resplendor, nascia, em 1992, na
comunidade de Brasília Teimosa, o Grupo de Dança Lumiar. A iniciativa
parte do coreógrafo Erinaldo Souza, popularmente conhecido como Na-
nau, juntamente com alguns amigos da localidade apaixonados pela dança
(Maria Izabel Vasconcelos (Bebê), Norma Vasconcelos, Paulo Brito de Bar-
ros, Maria José de Barros (Zezé)).
Sem espaço próprio para reuniões e ensaios, o grupo socializa a sua exis-
tência nos diferentes pontos da localidade, onde se encontrava para ensaiar:
“no Patronato Nossa Senhora da Conceição, na Sede do Bloco Carnavales-
co Banhistas do Pina, na União dos Moradores do Pina, na Escola Munici-
pal Novo Pina e nas ruas do bairro”, lembra Nanau.
Em 1994, nasce a ideia de transformar o grupo em quadrilha junina, apre-
sentando-se em diversos arraiais de bairro. No comando do grupo, como

78
marcador e coreógrafo, Nanau inscreve a Lumiar, em 1995, para participar
pela primeira vez do Festival Pernambucano, onde o componente Marcos
França recebe o título de 1º Rei das Quadrilhas Juninas. Era o início de uma
história com importantes premiações para o segmento.
Em 1997, Nanau deixa a direção da Lumiar, assumindo os trabalhos, o qua-
drilheiro, ator e coreógrafo Fábio Andrade (posição que desempenha até
a atualidade). Não demora, e a Lumiar torna-se reconhecida pelo público
como a quadrilha “Escola de Artistas”, pela criatividade, seriedade, profis-
sionalismo e pompa dos espetáculos produzidos.
Em 1999, com o espetáculo: Acorda Povo, a quadrilha conquista o vice-
campeonato do Festival Pernambucano e o 4º lugar no Festival da Rede
Globo Nordeste. Em 2000, com o trabalho Adivinha, adivinhação na festa
de São João, consagra-se campeã no Festival Pernambucano, no Sesc Recife
e o 3º lugar na Rede Globo Nordeste. Em 2001, é o ano do espetáculo Festa
de Casamento, que mais uma vez dá o título de campeã do Pernambucano e
da Rede Globo, além do bi-campeonato do Sesc Recife. O 1º lugar na Rede

79
Globo leva a Lumiar a participar do Festival Regional de Quadrilhas Juninas
em Caruaru. Em 2002, é a vez do trabalho Fogueira é símbolo, fogo é louvor,
que dá o título de campeã do Festival Pernambucano do Recife, o tri-campe-
onato do Sesc Recife e os campeonatos do Festival da Rede Globo Nordeste e
do Festival Regional de Quadrilhas Juninas (Rede Globo – Mossoró – RN).
Para 2003, a Lumiar prepara o espetáculo Festa e Devoção, que proporciona
os títulos de 5º lugar do Festival Pernambucano, 2º lugar do Sesc-Recife,
2º lugar da Rede Globo, campeã do Festival Regional de Quadrilhas (Rede
Globo – Jaboatão-PE), campeã do 1º Festival da Federação de Quadrilha
Juninas de Pernambuco FEQUAJUPE e campeã do 1º Festival Nordestão
de Quadrilha Juninas, em João Pessoa- PB, uma realização da CONFE-
BRAQ – Confederação Brasileira de Quadrilhas Juninas. 2005 foi o ano
do trabalho Uma Noite de São João na Cidade de Lumiar, que trouxe os
seguintes títulos: campeã do Pernambucano, tetra-campeã do Sesc-Recife, vice-campeã da Rede Globo, 4º lugar no Festival Regional de Quadrilhas

80
Juninas (Rede Globo – Caruaru), campeã do 3º Festival da FEQUAJUPE e
vice-campeã no 3º Festival Nordestão de Quadrilha Juninas, em João Pessoa
– PB, uma realização da UNEJ – União Nordestina de Entidades Juninas.
Em 2006, com o espetáculo Brincando de soltar balão, a Lumiar espalha os
sentimentos no São João, a quadrilha conquista o 3º lugar no Festival Per-
nambucano e no Sesc- Recife, o 6º lugar na Globo e no Concurso Interesta-
dual de Quadrilhas, em Mossoró/RN. Em 2007, o trabalho Uma Quadrilha
Junina feita pelo povo e para o povo traz para a Lumiar o 4º lugar no Per-
nambucano, o penta-campeonato do Sesc e o 2º lugar na Rede Globo Nor-
deste, além da 6ª colocação no Concurso Interestadual de Quadrilha, em
Mossoró/RN. Para 2008, a Lumiar preparou o espetáculo Sonhos de uma
noite de inspiração, que trouxe os seguintes títulos: 2º lugar no Pernambu-
cano, o hexa-campeonato no Sesc- Recife, o 1º lugar no Festival da Rede
Globo Nordeste e o 2º lugar no Concurso Regional de Quadrilhas. Nos anos de 2004 e 2009, a quadrilha Lumiar não participa do São João,
voltando em 2010, com o tema
Eu vou mostrar pra vocês, numa produção
grandiosa encenada por mais de 200 artistas quadrilheiros.

81
Matutinho Dançante
Em meios aos fogos, fogueiras e simpatias em homenagem a Santo Antô-
nio, surge, em 12 de junho de 1986, a Quadrilha Matutinho Dançante na
Roça. Seus idealizadores, os moradores brincantes da Rua Ascânio Lopes,
na UR-6, decidem criar o grupo, faltando apenas doze dias para o São João,
em virtude da triste notícia do fim da quadrilha Siriri na Roça, na qual todos os participantes dançavam. “Para não ficarmos sem dançar no São
João, na tarde do dia dos namorados, daquele ano, nos reunimos e decidi-
mos colocar os componentes na rua dando um outro nome a quadrilha”.
Em 2003, o nome da quadrilha reduz-se para Matutinho Dançante, mas a
intensidade dos seus trabalhos na comunidade permanece com o vigor e
a vontade de sempre crescerem. Para superar as dificuldades financeiras,
a Matutinho não poupa esforços: “fazemos bingos, rifas, pagodes e desfi-

82
lamos em agremiações carnavalescas, além de vendermos espaço aos co-
merciantes em camisetas. É assim que conseguimos o dinheiro”. O bom
relacionamento com a comunidade é outra grande conquista da quadrilha,
que participa de forma ativa de vários eventos festivos do Ibura. Hoje, a
Matutinho é a quadrilha mais antiga em atividade do Ibura e conserva a
primazia de manter, entre os seus integrantes, a mesma costureira desde a
sua formação, Dona Iraildes Pereira da Silva (Tia Nem).
Entre os títulos que fazem parte da história do grupo, destacam-se, ainda
na categoria infantil (até 1994), o bicampeonato no Sesc de Santo Amaro
(1992), o campeonato na Casa da Cultura, também em 1992, além de vários
prêmios como campeã nos vários arraiais de bairro. Em 1997, foi tetracam-
peã do concurso do arraial de Dois Unidos.
Na categoria adulta, conquistou o titulo de campeã do São João de Gravatá - PE (2000), além de muitos títulos em arraiais de diferentes bairros do
Recife e Região Metropolitana. Desde 1995, participa do Festival Pernam
-
bucano de Quadrilhas Juninas realizado pela Prefeitura do Recife.

83
Moderna Fuzarca
A Quadrilha Junina Moderna Fuzarca foi fundada em 09 de setembro de
1998 por Adgelson Soares, José Cláudio, Flávio Néri Azevedo, Sebastião
Carneiro e Ademar Freire. A ideia nasceu do desejo desses jovens de pre-
servar a tradição de brincar quadrilha junina. Herança familiar, guardada
na memória e perpetuada nas futuras gerações.
Assim, da fusão dos dois grupos dos bairros de Cajueiro e Campina do
Barreto, chamados (Forró Pilha e Tô à Toa), nasceu a Moderna Fuzarca. O
nome surge em função da irreverência e da mistura de movimentos core-
ográficos (dança clássica, contemporânea e passos de quadrilha), que mar-
cam o estilo do grupo ao ponto de ser apelidada de “a quadrilha do balé”.
Traz como cores oficiais o azul e o branco, mas, em virtude da valorização
dos espetáculos temáticos, as cores do figurino variam conforme o tema.
Sem uma sede própria, a Fuzarca integra nos seus ensaios uma considerá-

84
vel parcela da população jovem da localidade e arredores como: Chão de
Estrelas, Água Fria, Cajueiro, Fundão, Arruda, Peixinhos, Beberibe, Caixa
d’Água, Campo Grande, Santo Amaro, Sítio Novo e outros.
Em 2006, o campeonato conquistado, no Grupo 2 do Festival Pernambuca-
no de Quadrilhas Juninas da Prefeitura do Recife, altera a história dos brin-
cantes da Fuzarca, que passam a carregar em suas memórias as lembranças
da viagem para Belo Horizonte, onde o grupo seguiu para representar o
estado de Pernambuco no Concurso Nacional de Quadrilhas Juninas.
Participante ativa da programação cultural do São João do Recife e Região
Metropolitana, a Fuzarca coleciona muitos títulos. São eles: bicampeã, em
2000, do Arraial da Tribuna (Urso Pé de Lã), em Casa Caiada; 3ª colocada
em 2001 no concurso de quadrilhas de Caruaru; 5ª colocada no Arraial
(Rede Globo Nordeste) em 2002; vice-campeã no Arraial do Max, Jabo-
atão, em 2003; 5º lugar no Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas
da Prefeitura do Recife, em 2004; campeã do Concurso promovido pela
Faculdade Universo e FEQUAJUPE, em 2004; campeã do Concurso pro-

85
movido pela Oficina do Sabor e FEQUAJUPE, em 2004, no Amparo; 5ª
colocada no Arraial da FEQUAJUPE em 2004; 5ª colocada no Arraial Rede
Globo Nordeste, em 2004; campeã dos arraiais São Gabriel, Prefeitura de
Moreno, Guabiraba, Cidade Tabajara, Arraial do Liba, em Campo Grande,
todos em 2004; vice-campeã no Arraial da Rede Globo Nordeste, em 2006
e, em 2007, a 5ª colocação; em 2008 e 2009, no Festival Pernambucano de
Quadrilhas Juninas da Prefeitura do Recife, conquista o 5º lugar.

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Nóis Sofre Mais Nóis goza
Fundada em 20 de abril de 1982, a quadrilha Nóis Sofre Mais Nóis Goza foi
criada por um grupo de amigos do Bairro de Jardim São Paulo que fazia
parte de uma quadrilha chamada Arraial Oxente My Love. A ideia do nome
surgiu devido às dificuldades para montar o arraial, no qual os próprios
brincantes se reuniam para buscar madeiras e palhas de coco na Mata do
Curado, bairro próximo à Jardim São Paulo. Numa dessas ocasiões de arru-
mação do arraial, “um deles gritou: nois sofre mais nois goza! Nascia assim
a mais nova quadrilha do bairro para fazer frente às muitas que existiam na
época”, diz Sérgio de Barros, um dos fundadores do grupo.
Não demora, e a quadrilha logo participa de concursos no bairro, saindo
campeã. Com uma equipe de diretores empenhados em captar recursos para
dar visibilidade ao trabalho, Nóis Sofre sempre trazia novidades em suas apre-
sentações, fortalecendo os festejos juninos da localidade e atraindo pessoas
de comunidades vizinhas. O esforço e a determinação de todos da quadrilha
resultava em espetáculos grandiosos, que logo atraiu os interesses de empre-
sas privadas como cervejaria, indústria alimentícia, destilarias e redes de co-
municação como a Rádio e TV Globo e a Rádio Jornal do Commercio.

87
Nos anos 1990, auge do grupo, a Nóis Sofre conquistou vários títulos, tais
como: o bicampeonato do Festival de Quadrilhas da Rede Globo (1991 e
1992); o bicampeonato do Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas
da Prefeitura do Recife (1991 e 1992); o hexacampeonato (1989 à1994) do
concurso da Rádio Globo; campeã do concurso promovido pela Prefeitura de Paulista, o Paulistar, em 1992. Devido a esses títulos, a quadrilha rece
-
beu um convite da FUNDARPE para realizar apresentações nos principais
hotéis do estado de Pernambuco e nas cidades de Aracaju, Natal e Maceió, em 1993.
Nóis Sofre Mais Nóis Goza foi a primeira quadrilha a desenvolver um tema
no arraial, em 1992. A Saga do Vaqueiro foi contada no arraial, conduzindo
todos os momentos do espetáculo, inclusive a entrada e a saída do grupo, formado em duas fileiras com seus 120 componentes.
Ao completar vinte anos de história, em 2002, a diretoria da quadrilha re
-
solve não mais sair no São João, em virtude dos compromissos do grupo
que foram crescendo, a falta de interesse dos jovens e a ausência de patro-
cínio para fazer os espetáculos.

88
Olodum Mirim
A quadrilha junina Olodum Mirim nasceu em 20 de março de 1996 de um
sonho de dois jovens quadrilheiros: Ana Paula e João Paulo, ambos compo-
nentes da Quadrilha Adulta Olodum (1992).
O grupo inicialmente composto por 36 componentes reunia-se para ensaiar
na Rua Agamenon Magalhães, onde residia Ana Paula. Teve como primeiro
marcador, Edson Junior, que permaneceu no comando do grupo por dois
anos. Como a maioria dos grupos, formou-se com o propósito de animar
as festas de São João da vizinhança. A dimensão dos trabalhos realizados
e o incentivo da comunidade levaram a diretoria da quadrilha a encarar o
desafio, e apresentar os seus espetáculos para além das fronteiras locais.
Assim, em 1996, a Olodum Mirim participa pela vez de concursos fora do
bairro de origem, conquistando várias premiações. No ano seguinte, já sem
a presença de Ana Paula no grupo, a quadrilha conquista o campeonato do
Sesc e o vice-campeonato no concurso realizado pelo banco Bandepe.

89
Em 1998, mais uma mudança no grupo: João Paulo assume a posição de
marcador da quadrilha e a Olodum é consagrada campeã do Concurso
Regional de Quadrilhas Mirins em Igarassu. No ano seguinte, João Paulo
deixa o grupo, assumindo o comando da quadrilha a senhora Maria do
Carmo Barbosa.
Em 1999, a Olodum adota como marcador uma mulher, Shimene Mayara,
que na época, com 12 anos, comandou a quadrilha como “gente grande,
arrancando aplausos por onde passava e recebendo inúmeros convites para
fazer parte de outras quadrilhas”, diz Jéssica Michaela Barbosa. A inovação
trouxe para a quadrilha o 3º lugar no Pernambucano, além da medalha de
melhor marcadora do Festival.
A falta de apoio para manter a quadrilha leva a presidente, dona Maria do Carmo, a encerrar as atividades da Olodum em 2000. Passados quatro anos,
o grupo volta a fazer parte da festa de São João no Recife, com a mesma direção, composta por 30 crianças, entre 6 e 12 anos, e preservando a sua
característica de ter como marcadora uma menina, dessa vez, Íris Nayane, também com 12 anos de idade. A volta da Olodum lhe rendeu o título de 3º
lugar no Pernambucano, além das medalhas de melhor figurino e melhor
coreografia, assinados por Clóvis Bézer.

90
A dimensão dos espetáculos da quadrilha cresce a cada ano, e, em 2005, a
Olodum ganha no Pernambucano dois prêmios: Melhor Casamento Junino
e Melhor Rainha das Quadrilhas Mirins. Em 2006, conquista pela primeira
vez, o título de campeã do Festival Pernambucano. “Foi a primeira vez que
uma quadrilha mirim viajou para fora de Pernambuco. A Olodum fez uma
participação especial no concurso de quadrilhas adultas do Nordeste onde
representou as quadrilhas mirins do nosso estado”, diz Jéssica Michaela Bar-
bosa. Em 2007, mais prêmios para o grupo. Com o tema Festa de São João,
faça três pedidos, a quadrilha vence o concurso infantil do Sesc pela segun-
da vez, ganha o prêmio de melhor marcador (Clóvis Bézer) e conquista o 3º
lugar nos concursos da Rede Globo Nordeste e no Pernambucano.
Ao completar 12 anos de existência, com o tema Sofrido Nordeste rico.
Fé, alegria e esperança, a Olodum tornou-se a primeira quadrilha infan-
til a ganhar os três principais concursos do gênero no Estado, sendo eles:
o Pernambucano, a Rede Globo Nordeste e o Sesc. Foi campeã em todos
os arraiais de bairros nos quais participou. Viajou para Aracajú, fazendo a
abertura do concurso Regional de Quadrilhas Adultas do Nordeste junta-
mente com o palhaço Chocolate. Em 2009, conquista o tricampeonato no Pernambucano, o tetracampeona
-
to no Sesc e na Rede Globo fica em 3º lugar. O resultado do Pernambucano
proporcionou a Olodum a representar o Estado no Nordestão (concurso
que reúne todas as quadrilhas campeãs de cada estado do Nordeste e pela
primeira vez aconteceu em Pernambuco, no Ginásio do Geraldão, Recife.

91
Origem Nordestina
“Será que daria certo fazer uma grande quadrilha na comunidade do Mor-
ro da Conceição?” Esse foi o questionamento feito por Lenildo Moreira de
Carvalho (popularmente conhecido como Suelane), em 14 de setembro de
1994, num gesto profundo de religiosidade, intimidade e fé com a Santa
mais popular do Recife.
Assim, “criada através de uma promessa feita aos pés de Nossa Senhora da
Conceição”, a Origem Nordestina foi a primeira quadrilha junina organi-
zada no Bairro do Morro da Conceição, Zona Norte do Recife. Um lugar
onde o sagrado e o profano se misturam, fortalecendo um ao outro, numa
estreita relação de reciprocidade. Essa aproximação é percebida, sobretudo,
nas diferentes formas de expressões culturais que dão vida ao bairro, entre
elas, a Quadrilha Junina. “A maioria dos componentes são devotos de Nos-
sa Senhora. Os que não são, a gente tenta puxar para ela pela fé”, diz Lenildo

92
Moreira, que ainda acrescenta: “Na nossa quadrilha colocamos um casal
para representar a promessa, vestido de azul e branco, sendo denominados
padrinhos da nossa quadrilha”.
O sentimento de devoção que une o grupo e a importância do trabalho
social que realiza no Morro, estimulando os talentos locais, gerando renda
e formando cidadãos, ultrapassam as fronteiras da quadrilha e ganham o
reconhecimento dos moradores e da vizinhança, que passam a atuar junto
ao grupo, não só como admiradores do seu trabalho, mas também como
parceiros. É o caso, por exemplo, da Escola de Samba Galeria do Ritmo, que
abre as portas de sua sede no bairro para a quadrilha ensaiar; a Escola Padre
João Barbosa, também na localidade, contribui emprestando seu espaço ao
grupo, assim como a área disponível do Pagode do Tel, na Avenida Norte.
“A nossa relação com os carnavalescos é boa. A gente desfila na escola e a
escola cede o espaço (Galeria do Ritmo ou Gigante do Samba, esta última
na Bomba do Hemetério). Aí, organizo a comissão de frente, coloco as alas
com os integrantes da quadrilha. Na verdade, é uma troca de favores”, diz
Lenildo.
A determinação, o esforço, a dedicação e a fé, são os elementos norteadores,
que asseguram, há 16 anos, o sucesso do grupo. Inicialmente uma quadri-
lha pequena, com 14 casais, formados na sua maioria por jovens talentos
moradores do Morro. Nomes como Welligton Gomes (China), Tarcísio Xa-
vier, Cleyton Santos (Buda), Nena, Ademário (Xoxo), Cleidinha (a noiva),
destacam-se como grandes incentivadores do grupo, convidando vizinhos,
parentes, amigos de escola e de trabalho para fazerem parte da “família
Origem Nordestina”. O nome da quadrilha ganha fama e ultrapassa os li-
mites geográficos do Morro, passando a disputar com grupos renomados,
o título de campeã, nos mais importantes concursos do gênero espalhados
pela cidade e Região Metropolitana.
A primeira grande classificação da Origem foi em 1996, quando conquis-
tou o 4º lugar no Festival de Quadrilhas Juninas da Rede Globo Nordeste
e o 1º lugar no concurso promovido pelo Playcenter (atual Mirabilândia).
Em 1998, a Origem conquista o vice-campeonato nos dois concursos mais

93
disputados pelas quadrilhas, o Festival Pernambucano e a Rede Globo Nor-
deste, além do 3º lugar no Sesc, vários títulos de campeão nos arraiais de
bairro: Gonzagão (Ibura), Burra Namoradeira (Rio Doce – 1ª etapa), Alto
Santa Isabel, arraial do Forró, Jaboatonense, Córrego do Euclides, Rua do
Rio (Bomba do Hemetério), entre outros. Em 1999, conquistaram o 5º lu-
gar no Festival Pernambucano e na Rede Globo.
2000 foi o ano da sorte da Origem Nordestina. Ela consagra-se campeã do
Festival de Quadrilhas da Rede Globo Nordeste. Em 2001, conquista o vice-
campeonato na Globo e no Pernambucano. Em 2002, repete o vice-campe-
onato do Pernambucano, obtendo o 3º lugar no Sesc e na Rede Globo. Em
2003, mais uma vez, a chama da Origem se acende, o grupo conquista o 1º
lugar em três disputados concursos: no Festival Pernambucano de Quadri-
lhas Juninas da Prefeitura do Recife, no Sesc de Santo Amaro e no Arraial
da Chave, em Paratibe. O título de primeiro lugar no Pernambucano leva o grupo para a Paraíba, onde disputa o Nordestão, conquistando o 4º lugar.
De 2004 a 2009, a Origem vem se mantendo entre as cinco quadrilhas mais
pontuadas nos concursos do gênero no Recife e Região Metropolitana.

94
Pé Dentro, Pé Fora
A Quadrilha Pé Dentro, Pé Fora nasceu de uma brincadeira de jovens nas
ruas do Bairro de Pirapama, Cabo de Santo Agostinho, em 12 de junho de
1977. Rogério Ramos Ferreira, Roberto Moura e outros amigos da vizi-
nhança, inspirados no sucesso da quadrilha Soca Soca, também da loca-
lidade, decidem se organizar e criar a Pé Dentro, Pé Fora. “Na época era
comum as quadrilhas montarem seu repertório de um só disco de vinil.
No entanto, o disco que a quadrilha ensaiava quebrou, e [...] foi, então, que apareceu um disco chamado
Rio Antigo, com faixas que continham algu-
mas músicas de maxixe. Isto então causou o maior fuzuê, porque a dança mostrava algo muito ousado pra época e era então considerada uma pouca
vergonha, por tratar-se de dançar perna entre perna. Daí o nome Pé Dentro
Pé Fora”, diz Roberto Moura (Beto).
O grupo fazia apresentações na comunidade, nas vilas, bairros do muni -
cípio e até mesmo em cidades vizinhas como Escada, Ipojuca, Jaboatão,
Recife, Olinda.
Na década de 1980, a Pé Dentro Pé Fora começou a participar do concurso
de quadrilhas promovido pelo CSU (Centro Social Urbano), conquistan-
do, por várias vezes, o 1º lugar. O título levou a quadrilha a representar o

95
Cabo de Santo Agostinho no concurso do gênero realizado no Geraldão
pelo Governo do Estado, onde as quadrilhas de outros Centros Sociais se
apresentavam numa disputa bastante acirrada.
Nos anos 1990, o grupo ultrapassou as fronteiras do município em direção à
capital e ao interior do Estado. Entre os principais títulos, destacam-se:  em
1993, vice-campeão do Festival Pernambucano da Fundação de Cultura Ci-
dade do Recife e campeão do concurso de quadrilhas da Casa da Cultura
no Recife; 1994, campeão do Pernambucano e campeão do concurso da
cidade da Escada; 1995, vice-campeão do Pernambucano e bicampeão em
Jardim Uchôa e Hipódromo; 1996, vice-campeão da Rede Globo Nordeste,
campeão no arraial em Ouro Preto (Olinda), e campeão no Polo Junino de
Cajueiro (Recife); 1998, bicampeão no Pólo Junino de Cajueiro (Recife),
vice-campeão em Paulista e no Pátio do Terço, no Recife e campeão no
Clube das Águias (Piedade).
Nos anos de 1997 e 1999, a quadrilha não se apresentou no São João, re-
tornando aos arraiais em 2000, quando conquistou o 3º lugar no Sesc de

96
Santo Amaro, o 5º lugar na Rede Globo Nordeste e o 4º lugar em Catende,
interior de Pernambuco. Em 2001, o grupo foi campeão em Prazeres, Porta
Larga e no Pacheco, 4º lugar no Sesc Santo Amaro, Rede Globo Nordeste e
no Festival Pernambucano. No período de 2002 a 2004 e de 2006 até hoje, o
grupo esteve e estará ausente dos festejos juninos de Pernambuco.  Em 2005,
conquistou o título de 1º lugar no Arraial do Vigia, em Afogados, Recife.

97
Pelo Avesso na Roça e na Raça

Fundada em 04 de junho de 1979, no Bairro da UR-06 Ibura, a Quadri-
lha Pelo Avesso na Roça e na Raça nasceu do desejo de um grupo de ami-
gos (Joel Antônio dos Santos (seu 1º marcador), Beto, Marcos Antônio dos
Santos, Adilma Maria da Silva e Sônia), moradores da localidade, que ti-
nham um pensamento de criar uma quadrilha diferente. “Queríamos uma
quadrilha que a cada ano modificasse seus estilos de dança e seus tipos de
música. E que seus figurinos fossem bem luxuosos para chamar atenção.
[...] Esse propósito trouxe para a quadrilha a rejeição em alguns arraiais por
apresentar um estilo de dança diferente das demais. Hoje a quadrilha tem
o título de 1º quadrilha estilizada de Pernambuco, justamente por esse seu
caráter inovador e diferenciado no modo de apresentar-se. Uma das marcas
da quadrilha foi que em um ano, houve uma troca, onde meninas dançavam
de meninos, e os meninos dançavam de meninas, depois dessa brincadeira
surgiu a coincidência de se usar as calças pelo avesso”, diz Joel Santos.
Ousada para um período conservador nos seus hábitos, a Quadrilha Pelo
Avesso criou um estilo próprio de trabalho. Seguindo o modelo das grandes
quadrilhas de organizarem arraiais nos seus bairros, o palhoção da quadri-

98
lha tinha espaço disputado pela vizinhança e moradores dos arredores, em
noites de apresentação. Quadrilhas convidadas completavam a programa-
ção da festa, que rapidamente popularizou-se no Ibura.
No seu 3º ano de existência, a Pelo Avesso participa do seu 1º concurso de
quadrilhas, conquistando o 4º lugar, num arraial organizado na Rua Pedro
Lins, no Ibura. O jeito diferente de dançar e de se vestir dos seus componen-
tes rapidamente atrai uma torcida fiel na comunidade e nos arraiais onde
disputava. “A quadrilha saía com três ônibus, um para os cavalheiros, outro
para as damas e o terceiro para os pais e acompanhantes”, diz Joel. Em 1983, a diretoria da quadrilha decide não mais organizar o arraial na
comunidade e passa a investir na criação de quatro novos destaques, muitos
questionados na época por outros grupos. São eles: a Madrinha da Quadri-
lha, a Princesa do Agreste, a Cigana e a Miss Pelo Avesso. Outras inovações
foram acrescidas ao grupo, como, por exemplo, as personagens da Sinhazi-
nha e da Dama de Preto. A quadrilha também lançou “a brecada” na lamba-
da das mulheres, além de lenços nas mãos, meia-arrastão, roupas bordadas
com vidrilhos, franjas, lantejoulas, galão, bicos bordados de cambraia. O
seu repertório era composto com músicas baianas da banda Chiclete com
Banana e outros artistas do gênero.
Com um estilo definido, provocador e ousado, a Pelo Avesso entra no mun-
do da competição, sabendo das diferentes opiniões do público com o seu
trabalho. Na sua trajetória, alegrias e tristezas merecem ser registradas. Em
1984, ganha o 2º lugar no concurso da Churrascaria do Pedro, na UR-06;
no Bar do Galo (Bairro do Engenho do Meio) foi desclassificada; no arraial da Quadra na UR-11, entre as 8 quadrilhas participantes, obtive o 2º lugar.
1985 foi uma data muito especial para a quadrilha. Os ensaios começaram
em março, com muita garra e determinação. A comunidade se uniu no
intuito de ajudar o grupo, organizando bingos, rifas e pedágios. Foi a pri-
meira vez que a Pelo Avesso conquista o troféu de 1º lugar num arraial do
Bairro da Estância. Entre as 10 concorrentes, conseguem o título de cam-
peã. No Bairro do Ipsep, entre as 9 quadrilhas, mais um 1º lugar e no arraial
do Engenho do Meio, conquista o vice-campeonato.

99
Mais experientes, o grupo conquista em 1986, 17 troféus de primeiro lugar.
Campeã das campeãs do Engenho do Meio, do Ipsep, da Estância, da Vila
do Sesi, da Torre e da UR-5. Apresentação exclusiva no XXIX Congresso
COTAL, indicado pela EMPETUR, participação na Feira dos Municípios
organizada pela EMPETUR. A quadrilha também realizou apresentações
nas cidades de Paulista, Amaragi, Primavera e Ribeirão.
Outra data que entrou para a história da Pelo Avesso foi o ano de 1987,
quando, no Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas promovido pela Prefeitura do Recife, conquistou entre as 84 quadrilhas concorrentes, o
1º lugar, além do título de Melhor Quadrilha de Pernambuco. A diretoria também recebeu o troféu dos 450 anos da Cidade do Recife. Nesse ano, o
grupo também fez parte da abertura dos Festejos Juninos do Circo Voador,
Estação Recife, PE.
Ao completar nove anos de existência, a Pelo Avesso cria a sua versão mirim
e começa a participar dos arraiais de bairro com outras quadrilhas da cate-
goria. A Pelo Avesso Adulta conquista nesse ano o campeonato do Centro
Social Urbano do Ipsep.
Para o aniversário do 10º ano, a quadrilha comemorou a sua festa com apre-
sentações em diversas cidades do interior de Pernambuco, como: Amaragi,

100
Paudalho, Carpina, entre outras dezenas de municípios que convidavam o
grupo para participação nos eventos culturais. Nesse mesmo ano, a popula-
ridade da quadrilha ultrapassou as fronteiras do estado e chegou à Paraíba,
a convite do Secretário de Turismo de Campina Grande, para realizar a
abertura do São João, no Parque do Povo, por dois anos consecutivos. Em
1989, a quadrilha também recebe o título de Campeã das Campeãs no Ar-
raial da Tradição City, no Bairro do Ipsep.
Nos anos 1990, a quadrilha repete o sucesso da década anterior obtendo
muitos títulos de campeã em diferentes concursos do gênero. São eles: bi-
campeã no Estado de Pernambuco; bicampeã na Truaka (1992); tricampeã
do Arraial Deixa Meu Pé Quieto, no Ipsep; campeã no Arraial das Lavadei-
ras (Areias), ganhando o maior troféu do Recife, com 3,40m; bicampeã do
Arraial do Galo, no Engenho do Meio, em (1991/92); bicampeã do Arraial
da Quadrilha Boko Moko, na UR-05; bicampeã no Gonzagão na UR-O3,
(1992-1993); campeã no Arraial da Bomba do Hemetério (1993); campeã no
Arraial Carrossel, no Barro (1992); campeã no Arraial de Floresta, no Barro
(1993); campeã no Arraial do Tio Chico (Olinda); campeã no São João na
Roça, em Afogados; campeã no Arraial São João, na Cauvinha (1993).
Em 1993, identificada a necessidade de oportunizar o tempo dos compo-
nentes para além do período do São João, a quadrilha organiza, juntamen-
te com alguns membros da diretoria, o Grupo Cultural Pelo Avesso, com
atuação durante todo o ano. Entre as realizações do grupo, destacam-se as
apresentações na Festa dos Motoqueiros, na Praça do Pilar, em Itamaracá. Em 1996, a diretoria da
Pelo Avesso decide encerrar seu trajeto, devido
a outros interesses que passaram a fazer parte da vida dos componentes
(família, trabalho, estudos), impossibilitando o grupo de continuar com a
brincadeira. Durante 17 anos de existência, muitos nomes importantes pas-
saram pela quadrilha: Joelson (o 2º marcador), popularmente conhecido
como “Chinha”, Welma, Dona Cila, entre outros figurinistas, dirigentes e
dançarinos, que reunidos numa grande família, orgulhosamente ostentam a condição de ser uma quadrilha que coleciona 215 troféus e mais de 300
medalhas.

101
Pingo d’Água

Do desejo de animar as noites de São João na comunidade do UR-11 -
Ibura, um grupo de amigos decide criar uma quadrilha infantil, em 6 de
junho de 1994, chamada Pingo d’Água na Roça. A ideia do nome tem ori-
gem nos “pequenos pingos de gente que dançavam, e aos pingos de chuvas,
que teimavam sempre a cair em nossos ensaios. Foram os pingos que nos
inspiraram”.
Com o apoio da comunidade que participa ativamente das atividades da
quadrilha, assistindo aos ensaios nos finais de semana, comprando bingos
e rifas, fazendo doações, mutirão para juntar latinhas e trocar por dinheiro,
entre outras formas de incentivo, a vizinhança contribui direta e indireta-
mente para a quadrilha levar para os arraiais um novo trabalho.
Desde a sua fundação, a Pingo d’Água participa ativamente de concursos
oficiais e apresentações realizadas em arraiais e shoppings centers do Reci-
fe e Região Metropolitana. Entre os seus títulos, destacam-se: campeã do

102
concurso da Casa da Cultura, em 1995; campeã do concurso da Prefeitura
de Jaboatão, em 1995; bicampeã do concurso organizado pelo Shopping
Center Recife (1996 e 1997); vice-campeã do Sesc Piedade (1996); ganha o
Reciforró em 1998 e o título de oconcur do concurso do Shopping Center
Recife; em 1999 e 2000, conquista o 5º lugar no Festival Pernambucano de
Quadrilhas Juninas da Prefeitura do Recife, e em 2003, é vice-campeã do
mesmo concurso. No ano de 2006, conquista várias premiações em arraiais
de bairros, como o arraial do Verdura, o Operário, Alegria, Santo Antônio,
entre outros.
Em 2009, devido à falta de recursos financeiros, a quadrilha não participa
dos festejos juninos, porém organiza, com o apoio da comunidade, o Gru-
po Cultural Pingo d’Água, no qual 14 quadrilheiros desenvolvem trabalhos
com jovens e crianças da localidade, entre 5 e 17 anos, que estimulam as ap-
tidões artísticas e incentiva as práticas de preservação da nossa diversidade
cultural, principalmente a quadrilha junina.

103
Pisa na Fulô
Há 28 anos, que a quadrilha Pisa na Fulô anima o São João da criançada e
dos moradores em geral do bairro do Ipsep, no Recife. Sob o comando da
presidente Josefa Maurícia Soares, popularmente conhecida como Dona
Nely, uma senhora de 79 anos, a quadrilha foi criada para atender a um
pedido de sua neta, Isabelle de Souto Castro, “que com apenas seis anos de
idade queria participar de uma quadrilha, sendo que nesta época não havia
quadrilha para sua faixa etária. Daí criei uma para sua alegria e de toda a
criançada do bairro”, diz a presidente da Pisa na Fulô.
O nome foi sugestão de Seu Antônio Oliveira, antigo vizinho e morador
da Rua José Fernandes Portugal, onde a quadrilha até hoje realiza os seus
ensaios, a partir de maio. Inicialmente com sete casais, a Pisa na Fulô não
concorria nos arraiais comunitários, apresentava-se somente para diver-
são dos moradores da localidade, os quais colaboravam com prêmios de

104
incentivo, na realização de bingos, entre outras ações com o propósito de
arrecadar verba para o grupo.
Em 1996, sai pela primeira vez para concorrer em outros arraiais fora do
bairro de origem e conquista o 3º lugar no concurso do Palhaço Chocolate.
Nos anos de 1997, 1998 e 2000, conquista o vice-campeonato do mesmo
concurso, e em 1999, ganha o título de campeã. Em 1997, conquista o vice-
campeonato no concurso da Só Mel e do Ipiranga. No primeiro ano do
Festival Pernambucano de Quadrilhas Infantis, Dona Nely recebe a placa
da Fundação de Cultura Cidade do Recife pela importância do trabalho
desenvolvido junto às crianças (1999). Em 2000, no Sesc Piedade, conquis-
ta o 2º lugar, e em 2004, no Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas
Infantis da Prefeitura do Recife, conquista o vice-campeonato e o prêmio
de Rainha das Quadrilhas com a Cigana Fernanda.

105
Pisa no Espinho

A Quadrilha Pisa no Espinho foi fundada em 09 de abril de 1980, no bair-
ro de Rio Doce, Olinda. Entre os seus principais fundadores, destacam-se:
Manoel da Rocha, Silas Júnior, Marcos Valério, Romildo e Sílvio.
A origem do nome está relacionada com a seguinte história: “um grupo de
amigos foi na mata de Rio Doce à procura de madeira para construir um
palhoção, que na época era coberto com palhas de coqueiro. No caminho,
estavam discutindo qual seria o nome da quadrilha, e em um determinado
momento, o último da fileira deu um enorme grito, e todos lhe pergunta-
ram o que aconteceu. O mesmo respondeu que havia pisado no espinho,
daí todos decidiram que o nome da Quadrilha seria Pisa no Espinho”, diz
Silas Júnior, marcador do grupo.

106
A Pisa no Espinho durante toda a sua trajetória possui mais de 500 troféus e
muitos títulos que a classificam como uma das melhores quadrilhas do Es-
tado de Pernambuco, tendo como sua maior conquista o tetracampeonato
do Festival de Quadrilhas da Rede Globo Nordeste, nos anos de 1993, 1994,
1995 e 1999. Outros títulos também entraram para a história da quadrilha.
São eles: 3º lugar no Festival Regional de Quadrilhas Juninas do Nordeste
(1995), tricampeã no Concurso de Quadrilhas da Fundação de Cultura de
Caruaru, nos anos de 1995, 1996 e 1999, tricampeã do Festival de Qua-
drilhas da cidade de Catende, nos anos de 1998, 1999 e 2000, campeã do
Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas da Prefeitura do Recife, pelo
Grupo 2, em 2008, sendo premiada ainda com o melhor figurino e a melhor
coreografia.
A dimensão do trabalho realizado pela quadrilha teve ampla repercussão,
levando o grupo a participar de importantes eventos culturais, como por
exemplo, o Seminário contra a seca e a fome do Sertão, com o tema Brasil Nordeste, que aconteceu na cidade de Ouricuri, em 1993. A FUNDARPE,
por meio da historiadora Sônia Medeiros (in memorian) também reconhe-
ce a amplitude do trabalho que a quadrilha desenvolve em prol da valoriza-
ção e preservação das manifestações culturais do Estado, e convida o grupo
para integrar a programação cultural do Festival de Inverno de Garanhuns, por três anos consecutivos (1993 a 1995).
Em 2002, a falta de incentivo e os altos custos para montagem dos espe
-
táculos juninos levam o grupo a encerrar as atividades da Pisa. Seis anos
depois, um grupo de amigos e antigos dançarinos (Andreia, Janaína, Flávio
da Hora, Patrícia, Cézar e outros) toma a iniciativa de reativar a quadrilha,
e decidem convidar Silas Junior, seu eterno marcador, para transformar o
sonho em realidade. O empenho dos componentes foi intenso: trabalho de
pesquisa para desenvolvimento do projeto, pagamento de mensalidades,
realização de bingos, rifas, doações, piquenique... Tudo foi criado para a
quadrilha arrecadar dinheiro e colocar o novo espetáculo na rua.
Com mais de 80 componentes, entre dançarinos e a equipe de produção,
a volta do grupo em 2008 foi ansiosamente esperada pela comunidade de

107
quadrilheiros. Com o tema Sertão, povo tipo exportação, a Pisa no Espinho
conquista o 1º lugar do Grupo 2, no Festival Pernambucano de Quadrilhas
Juninas da Prefeitura do Recife, além de várias premiações em arraiais co-
munitários.
Em 2009, com o tema Do imaginário indígena, uma ópera popular – seja
Garantido ou Caprichoso, é festa de Boi Bumbá, a quadrilha obteve o 6º
lugar no Concurso da Rede Globo Nordeste.

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40 Graus
A Quadrilha 40 Graus foi criada em 1983 por um grupo de jovens da Igreja
Católica Santo Cristo do Ipojuca com o propósito de animar as festas da
quermesse do Convento de Santo Antônio, município de Ipojuca. A qua-
drilha formada por coroinhas e jovens integrantes dos grupos da Cruzada,
Shalon e Raça Negra, apresentava-se com coreografias tradicionais e roupas
improvisadas, seguindo o estilo matuto. A origem do nome surgiu em reu-
niões, onde alguns nomes foram sugeridos, como por exemplo, Pinga Fogo.
No entanto, da ideia de relacionar o nome do grupo com a fogueira junina,
nasceu 40 graus, como uma referência à música do grupo As Ramonicats.
Durante os cinco primeiros anos de existência, a quadrilha limitava-se a se apresentar no município. A partir de 1994, com a chegada do coreógrafo
Jorge Henrique, um jovem ipojucano de 17 anos de idade, o grupo passou
a assumir o modelo de quadrilha estilizada e a se apresentar em bairros do
Recife e Região Metropolitana, conquistando vários títulos.

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1995 marcou a história da 40 Graus. Pela primeira vez, o grupo participava
do concurso promovido pela Rede Globo Nordeste, no qual conquistou o
3º lugar com o tema Sou Pernandestino. Dois anos depois, com uma histó-
ria intitulada Meu orgulho é ser pernambucano da gema, a quadrilha reúne
86 componentes e 15 pessoas da produção, resultando num grandioso es-
petáculo em homenagem ao Estado, fato que garante a quadrilha o títu-
lo de campeã do concurso da Rede Globo Nordeste. Nesse mesmo ano, a 40 Graus viaja para Rio Grande do Norte, representando Pernambuco no
Concurso Regional de Quadrilhas e consagra-se a primeira quadrilha do
Estado a trazer o título de campeã para Pernambuco. A importância dessa
conquista proporciona a quadrilha reconhecimento e prestígio, a qual rece-
be da Prefeitura de Ipojuca, um fax do então Vice-Presidente da República,
Marco Maciel, parabenizando o grupo.
A popularidade da quadrilha resultou em torcidas por onde o grupo passa-
va. Diversos arraiais espalhados pelos bairros do Recife, Olinda e Caruaru,
deram o título de campeã à quadrilha, carinhosamente esperada pelos seus
admiradores. “Algo muito interessante que acontecia era o grupo chegar
em arraiais, às três horas da madrugada, e senhoras de idade estarem com
cartazes cochilando, esperando a apresentação da quadrilha”, diz Josemar
Marcio dos Anjos.

110
Como no município só existiam duas quadrilhas, a Remelexo e a 40 Graus,
a Prefeitura de Ipojuca supria todas as despesas dos grupos, proporcionan-
do apoio para a execução do projeto, na contratação de transporte para os
brincantes, que dançavam na quadrilha e residiam em cidades circunvizi-
nhas, como Cabo de Santo Agostinho, por exemplo. Os moradores também
tinham laços bastante estreitos com a quadrilha, a qual organizava a sua
agenda de apresentações, tentando atender as solicitações de todos os mo-
radores da cidade, que a contratava para animar festas de rua organizadas
no período junino.
Ao completar 17 anos de existência, devido ao afastamento de muitos inte-
grantes antigos e à falta de comprometimento dos novos componentes, a
40 Graus resolve parar as suas atividades.

111
Raio de Sol
A Quadrilha Junina Raio de Sol foi fundada em 1996, a partir da iniciativa
de Alana Nascimento e José Bonifácio (Boni). Formada inicialmente por
alunos da Escolinha Pantera Cor de Rosa, da comunidade de Águas Com-
pridas, Olinda, foi criada apenas com o objetivo de animar a festa de São
João da Escola. Devido ao sucesso da primeira apresentação, recebeu con-
vites para participar de outros eventos e no arraial do bairro, conquistando
a comunidade e o público. A cada ano, a Raio de Sol aperfeiçoava seu figu-
rino, coreografias e casamento matuto, destacando-se entre as quadrilhas
mirins e conquistando o seu primeiro grande título em 2000, como campeã
do Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas Infantis promovido pela
Prefeitura do Recife.
As crianças foram crescendo junto com a quadrilha, que passou a categoria de quadrilha adulta, em 2002. Desde então, tem se classificado nos princi
-
pais concursos de quadrilha do Estado. A partir de 2006, com marcador e

112
coreógrafos que cresceram e se profissionalizaram em função da quadrilha,
e devido à concepção diferenciada de fazer quadrilha dos produtores Fábio
Costa e Américo Barreto, a Raio de Sol tem se destacado bastante. Con-
quistou o tricampeonato Pernambucano de Quadrilhas da Prefeitura do
Recife (Sítio da Trindade, 2006-2008), o Campeonato do Sesc (2006) e o
Concurso da Rede Globo Nordeste (2007). Além de participar dos diversos
arraiais espalhados pelos bairros do Recife e Olinda, a Raio de Sol tem re-
presentado o Estado de Pernambuco em Concursos Regionais de Quadri-
lhas: Nordestão (Natal-RN, 2006), Regional da Globo (Campina Grande-
PB, 2007), Nordestão (Maceió-AL, 2007), Nordestão (Fortaleza-CE, 2008)
e Iguatufest (Iguatu-CE, 2009).
Além de participar dos concursos, a Raio de Sol foi convidada para diver-
sos eventos: Casa da Cultura (1998, 1999, 2004), Shopping Tacaruna (2000 a 2003), Globo News (2002), Globo Comunidade (2002), Programa Mais
Você (2004), Reportagem – TV Jornal (2005), Reportagem – TV Globo
(2007) e Mostra Brasileira de Dança (Teatro Santa Isabel, 2009), sendo a
única quadrilha junina a participar de um evento nacional de dança.

113
Os ensaios da Raio de Sol ocorrem semanalmente (aos sábados e domingos
das 19 às 21 horas) na Escola Padre Francisco Carneiro, em São Benedito,
Olinda e na Escola Paulo VI, na comunidade do bairro Linha do Tiro, Re-
cife. As reuniões de planejamento, criação, avaliação e demais atividades,
como confecção de adereços, feirinhas e bingos, acontecem na Escolinha
Pantera Cor de Rosa, Águas Compridas, Olinda.
Construindo arte, conhecimento e cidadania, a Raio de Sol vem formando
dançarinos, atores e coreógrafos que hoje participam de diversos outros segmentos artístico-culturais. Atualmente é formada por 96 dançarinos,
marcador, coreógrafos, diretoria, produtores, costureiras, grupo de apoio e muita torcida. São mais de 150 pessoas diretamente envolvidas.
Somados aos integrantes do bairro de Águas Compridas, a Raio de Sol con-
ta com a participação de componentes de diversos outros bairros de Olin-
da: Aguazinha, Caixa d’Água, São Benedito, Alto da Bondade, Ouro Preto,
entre outros. Devido à proximidade com o Recife, a quadrilha também tem
integrantes de bairros como Linha do Tiro, Beberibe, Porto da Madeira e
Encruzilhada. Esses bairros não fogem do modelo de superpovoamento,
altos índices de violência, desemprego e pobreza da maioria dos bairros dos
subúrbios. Além de moradia e saneamento precários, quase não existem

114
áreas verdes, quadras esportivas, parques e praças para a prática do lazer.
Nesse contexto, a Quadrilha significa para os seus integrantes e para a co-
munidade uma oportunidade de canalizar as suas energias para a prática
de atividades saudáveis. Esses jovens têm a oportunidade de assumir res-
ponsabilidades, criar vínculos afetivos, profissionalizarem-se e participar
de um grupo que compartilha da mesma realidade. Longe da ociosidade,
afastam-se também das drogas e das violências urbanas, ocupam corpo e
mente na arte, transformando-se em protagonistas da cultura em sua co-
munidade.
A paixão pela quadrilha e pelos festejos juninos se fortalece no decorrer
dos ensaios e nas horas de dedicação, somando a cada ano amizade, alegria,
garra e união: é uma verdadeira família que trabalha o ano todo.
Entre os títulos da Raio de Sol, destacam-se: 3º lugar no Clube Português
(1996); tetracampeã do Arraial do Verdura (1997-2000); campeã do Arraial
Tia Elvira – Ouro Preto (1999); campeã Pernambucana Infantil – Sítio da
Trindade (2000); campeã do Arraial Pé de Lã – Casa Caiada (2000); cam -
peã do Arraial Flor do Arruda (2000); campeã do Arraial Sanfona Bran -
ca – Jardim Uchoa (2000); campeã do Concurso do Sesc (2001); campeã do Arraial do Marco Zero (2001); campeã do Arraial da Chave – Paratibe
(2001); campeã do Arraial da Torre (2002); campeã do Arraial de Rio Doce
(2002); campeã do Arraial Santo Antônio – Água Fria (2003); campeã do
Arraial Gibão de Couro – Maranguape (2004); 3º lugar no Concurso do
Sesc (2004); 4º lugar no Campeonato Pernambucano – Sítio da Trindade
(2004); 5º lugar no Arraial da Rede Globo – Cruz de Rebouças (2004); 2º
lugar no Arraial – Ouro Preto (2005); 2º lugar no Arraial Santo Antônio
– Ouro Preto (2005); 2º lugar no Arraial da Chave – Paratibe (2005); 3º
lugar no Campeonato Pernambucano – Sítio da Trindade (2005);
2006
1º lugar no Nordestão (Natal RN); 1º lugar no Campeonato Pernambuca-
no; 1º lugar no Campeonato do Sesc; 1º lugar no Arraial do Cabeça (Água
Fria); 1º lugar no Arraial da Chave (Paratibe); 1º lugar no Arraial da Mus-
tardinha; 1º lugar no Arraial Deixa Falar (Casa Amarela); 5º lugar no Con-

115
curso da Globo; Melhor Casamento – Sesc; Melhor Desenvolvimento de
tema – Sesc; Destaque Teatral (Leila e Júnior) – Pernambucano;
2007
Campeã do Campeonato Pernambucano; campeã da Rede Globo; Melhor
Casamento da Rede Globo; Melhor Casamento do Regional; Melhor Core-
ografia do Pernambucano; Melhor Trilha Sonora do Pernambucano; Me-
lhor Casamento do Pernambucano; Melhor Figurino do Pernambucano;
Rei das quadrilhas (marcador - Júnior); Melhor noiva (Bárbara); 3º lugar
no Nordestão (Maceió-AL); 3º lugar no Regional (Campina Grande-PB);
2008
Campeã do Campeonato Pernambucano; 2º lugar no Nordestão (Fortale-
za-CE); 3º lugar no Sesc; 3º lugar da Rede Globo; Melhor Coreografia do
Pernambucano; Melhor Casamento do Pernambucano; Rainha das Qua-
drilhas (Leila); Melhor noiva (Bárbara); Melhor marcador (Júnior) do Sesc;
Melhor Casamento do Sesc;
20093º lugar do Campeonato Pernambucano; 5º lugar da Rede Globo; Melhor
casamento da Rede Globo; Melhor Trilha Sonora do Pernambucano; Rai-
nha das quadrilhas (Thammiris); Príncipe das quadrilhas (Menininho).

116
Raízes do Pinho
Um dos principais celeiros culturais do Recife, o Alto José do Pinho – Zona
Norte da cidade – é o berço da Quadrilha/Grupo Cultural Raízes do Pinho,
fundado em 04 de abril de 1996.
A ideia inicial nasceu de um grupo de cinco amigos (Wellignton Menezes,
Esdras Veloso, Carmelita Simone, Dona Liu e Ednaldo) que pretendiam
formar uma quadrilha para brincar o São João na comunidade. A brinca-
deira toma proporções maiores, e os amigos, agora diretores da iniciativa, decidem organizar o Grupo Cultural Raízes do Pinho, fundado com 40
pessoas, ainda em 1996.
Atualmente o grupo conta com a participação de mais de 500 pessoas, entre
moradores da comunidade e bairros adjacentes. Com o objetivo de preser-
var a diversidade das nossas manifestações culturais, e de tirar as crianças e

117
os jovens da marginalidade, das drogas e da prostituição, o Grupo coloca à
disposição da população várias atividades de formação cultural, tais como:
Quadrilha Junina, Balé Clássico, Teatro, Percussão, Dança de Salão, aulas
de Frevo, Maracatu, Caboclinho, Hip-hop entre outros. Cursos e oficinas,
que visam, sobretudo, a geração de renda também são oferecidos no es-
paço, como: Corte e Costura, Doces e Salgados, Bijuteria, Artesanato com
Materiais Reciclados etc.
Pela dimensão do seu trabalho, o Grupo Raízes do Pinho tem o seu nome
reconhecido nacionalmente, principalmente por meio da quadrilha, que
tem conquistado vários campeonatos no gênero, além de participar de mui-
tas reportagens em jornais de grande circulação no estado, programas de
televisão e telejornais (Rede TV, NE TV, Jornal Nacional, Fantástico, entre
outros).

118
Rancho Alegre de Camaragibe
A Quadrilha Rancho Alegre (Mirim e Adulta) surge da iniciativa de jovens
amigos (Sérgio Murilo - fundador e atual marcador -, Euclides Júnior, Au-
rélio Soares, Evandro Silva, Sandra Souza e Roseane Coelho) do bairro do
Timbi, em Camaragibe, no dia 04 de março de 1990.
A ideia de criar a Rancho dialoga com o contexto que se repete nas histórias
de formação da maioria dos grupos de cultura popular: ocupar o tempo
ocioso das crianças e dos jovens de comunidades pobres economicamente,
com atividades culturais, que despertem os talentos e as habilidades ar-
tísticas dos componentes, incentivando-os nos trabalhos com a dança e a
música. Esse desejo se multiplica entre os moradores da Rua Treze de Maio,
ganhando adeptos nas diferentes direções do bairro do Timbi.“Já nos pri-
meiros ensaios se concentravam uma verdadeira multidão de pessoas para
prestigiar a Quadrilha. Percebia-se que a coisa não era brincadeira, pois a
mesma já se tornaria vice-campeã de Camaragibe nas categorias Adulto e Mirim, com apenas 16 pares”, diz Sérgio Murilo.

119
Em 1991, consagra-se pela primeira vez campeã do concurso da comuni-
dade de Cosme e Damião, e, em 1992, nos concursos de Camaragibe e do
Clube Bandeirante.
No terceiro ano de existência, a Rancho Alegre deixa o seu estilo tradi-
cional de fazer quadrilha e adota o modelo estilizado, seguindo as novas
tendências da manifestação. Nesse mesmo ano (1993), um grupo de com -
ponentes da Rancho (Karina Barros, Adriana Maria, Renata Barros, José
Mário, Manoela Barros e Fernanda Helena), estimulados em aperfeiçoar a
arte da qual fazem parte, participam pela primeira vez de cursos de danças
populares oferecidos pelo Sesc Santo Amaro.
Em 1997, após uma parada com o grupo infantil, a Rancho Mirim vol-
ta, dessa vez, assumindo o estilo recriado juntamente com o grupo adulto.
Nesse mesmo ano foi fundado, em Camaragibe, pelos componentes da pró-
pria quadrilha, a Camarás Cia. de Danças – uma iniciativa inspirada na ofi-
cina de Pastoril ministrada pelo coreógrafo Otacílio Júnior do Balé Trapiá.
Ao completar nove anos de atuação, a quadrilha Rancho Alegre Mirim con-
sagra-se pela primeira vez campeã do Festival Pernambucano de Quadri-
lhas Infantis da Prefeitura do Recife, título que se repete em 2001.

120
O ano de 2002 marcou a trajetória da Rancho e a história do movimento de
quadrilhas juninas em Camaragibe. Alguns componentes se desvinculam
da Rancho e criam a Quadrilha Junina Zabumba. O acontecimento trans-
forma a realidade do grupo, que busca nos jovens componentes da Rancho
Mirim, os talentos para reestruturar a Rancho Adulta. “Em 2003, a quadri-
lha passou para a categoria Junina. Daí a importância de ter uma quadri-
lha mirim, pois foram eles (os pequeninos) que tiveram a oportunidade e
deram conta do recado. Muitas crianças daquela época fazem parte desse
grupo atual. Elas construíram projetos, figurinos, coreografias, cenários,
repertórios, entre outras coisas. Cresceram a assumiram o papel de quadri-
lheiros responsáveis, dando continuidade ao excelente trabalho implantado
nesse grupo. Entre eles se destacam: João Paulo Miguel, Alexandre Ricardo,
Deivson Santana, Adrianne Jackeline, Kassia Regina”, comenta orgulhoso
Sérgio Murilo.
Em 2007, a quadrilha traz uma inovação para o São João: apresenta-se com
dois marcadores: Sérgio Murilo e um dos nomes mais representativos do
movimento junino no Estado, Alexandre Falcão (o popular Alexandre Ba-
luarte, assassinado brutalmente, em 2008).

121
Na trajetória da Rancho Alegre, muitos nomes merecem destaque, além
dos já citados. São eles: Beto Hortis (sanfoneiro), Alexandre Coelho, Cris
Feliz, Mário Sergio, André Santos, Walter Santos, Wellington Santos, João
Rodrigues, Givanildo Rodrigues, Luiz Cruz, Helena Cruz, Adriana e Sandra
de Marlene, Flávio Silva, Sandra Regina, Suzy e Yone, Ernando Mendonça,
Charles Carvalho, Janaína Carvalho, Neto Barros, Renato Júnior, Marlone
Guedes, Débora Guedes, José Josemberg(Gueta), João Henrique (Ruhanna
Fontinelly), Erivaldo Eugionio (Shayna Lesley), Josemar Monteiro, Jailson
Monteiro, Deybe Roberto, Sirando Paraguaio, Gustavo Cavalcanti, Bruno
Beltrão, Renato Rodrigues, José Miguel, Adeildo Miguel, Cleide Cristina,
Kátia Miguel, Wandersom Pontes, Débora Cristina, Mário do Pinho, Die-
go Francisco, Tais Maria, Thays Monique, Fernanda Helena, Josué Silva
(UEL), José Severino (Zié), José Manoel, Carminha Lins, Dr. Paulo Roberto
de Santana, Gilcley Paiva, Rejane Santana, Antônio Amorim, Fábio Andra-
de, Ismael Sales, Luiz Carlos Soares (Fequajuca – Federação de Quadrilhas
Juninas de Camaragibe), entre outros.
Entre os títulos colecionados pela Rancho, destacam-se: campeã dos con-
cursos de Camaragibe (1993 a 1995; 1997 a 2002; 2005); campeã de São
Lourenço da Mata (1993); campeã do concurso de Tiúma (1994 a 1996);
campeã do Carneiro Leão (1993, 1994 e 1996); campeã do clube Estrela
(1996). Com o tema “Folgança de Criança”, a quadrilha conquista o vice-
campeonato no Pernambucano, na Rede Globo e o campeonato no arraial
de Areias (2000); no ano seguinte, repete o campeonato no arraial de Areias,
acrescentando na sua coleção, os troféus de primeiro lugar dos arraiais Flor
do Arruda, Morro da Conceição e Jordão. Nesse mesmo ano, conquista o segundo lugar no Sesc Piedade e Santo Amaro. Em 2004, é campeã no con
-
curso de quadrilhas de Abreu e Lima.

122
Rosa Linda, Linda Rosa
Dona Elvira do Nascimento Gusmão é a grande responsável pela brinca-
deira que, em 2010, completa 33 anos. Mulher de espírito festivo, organiza
no dia do seu aniversário, 20 de maio, uma Quadrilha Junina, a qual batiza
com o nome Rosa Linda, Linda Rosa. A ideia surge em 1977, no Alto da
Bela Vista, 192, Paudalho, PE, onde existe até os dias hoje.
Mãe de 11 filhos e amante das manifestações culturais brasileiras, dona
Elvira cria seus discípulos ensinando a valorizar e a preservar as diferentes
formas de expressões culturais existentes na sua comunidade e áreas
circunvizinhas. “No dia a dia tudo é na casa da minha mãe, a concentração é
tudo lá: o “atelier da quadrilha”, onde é tudo confeccionado, passa pela mão
dela. Assim, a gente acorda quadrilha, dorme quadrilha, vive quadrilha” diz
Bugo Gusmão. 
Vinte anos depois da fundação da Rosa Linda, Linda Rosa Adulta, os irmãos
Winderbug (Bugo) e Alampark Gusmão, juntamente com Luiza Valquíria

123
Gusmão - esposa de Bugo - , resolvem plantar uma semente da quadrilha
e formam, em 20 de maio de 1997, a quadrilha Rosa Linda, Linda Rosa
Infantil.
Não demora, e a comunidade logo abraça a ideia, reforçando a importância
de continuação de um trabalho que atravessa gerações. “Os pais dos dança-
rinos da mirim eram dançarinos da quadrilha adulta”, diz Bugo.
O esforço coletivo, a perseverança e a vontade de realizar um trabalho so-
cial mais amplo, que proporcione benefícios à maioria, fazem parte do co-
tidiano do grupo Rosa Linda, que busca transformar a realidade dos seus
integrantes por meio da arte, possibilitando múltiplas opções de escolhas.
“Temos o nosso próprio espaço, no quintal da casa da minha mãe. Fize-
mos um palhoção, um espaço para ensaio, que no ano todo é usado pela
comunidade [...] Fazemos festas, aniversários de quinze anos e até velório.
A comunidade ajuda como pode, na energia, por exemplo [...] A quadrilha
infantil fora do São João é um cavalo marinho durante o ano”.

124
Organizados juridicamente (CNPJ), o grupo investe na formação dos seus
integrantes, que elaboram projetos, escrevendo a quadrilha em editais de
fomento a montagem dos seus espetáculos. Manter a documentação em
dias também facilita a sua relação com a Prefeitura de Paudalho, a qual
disponibiliza, por meio da subvenção pública, quatro mil reais para todas
as quadrilhas do 1º grupo. Esse valor é empregado na compra de tecidos,
pagamento das costuras dos figurinos, montagem da produção, gravação
em estúdio, entre outras despesas, algumas até custeadas, com muito sacri-
fício, pelos próprios pais dos componentes. “Muitos pais dos componentes
compram calçados e meiões. O resto eles não têm condições. A maior parte
é comprada com a aposentadoria da minha mãe”, Bugo Gusmão.
O trabalho da Rosa Linda é pensado e realizado coletivamente. “A coreo-
grafia é feita por um grupo de seis pessoas, outros pensam no tema, minha
esposa pensa no figurino. Não tem uma pessoa que faz tudo, todos ajudam
inclusive as pessoas do Recife que vem”.
Entre os campeonatos que a Rosa Linda participou, destacam-se: o concur-
so de Paudalho, no qual obteve o tricampeonato (1995, 1996 e 1997) para a
quadrilha adulta; o bicampeonato (2008 e 2009) para a quadrilha infantil,
no concurso realizado pela Escola São José no município de Frei Migueli-
no-PE, entre outros prêmios de participação nos arraiais espalhados pelas
cidades de Feira Nova, Passira, Surubim, Vitória de Santo Antão, Glória do
Goitá, Lagoa do Carro, Limoeiro, e outras.

125
Sanfona Branca
Fundada em 05 de janeiro de 1999 por Marcelo Vinícius Santos, Roberto
Pereira da Silva, Maria da Conceição Cordeiro, entre outros, no bairro da
Estância, Recife, a Quadrilha Sanfona Branca ganhou esse nome em home-
nagem a primeira sanfona de Luiz Gonzaga, o popular Rei do Baião.

126
Empenhado em fazer um trabalho que modifique a realidade dos jovens
da comunidade e arredores, por meio do estudo, da pesquisa e das vivências
com a cultura popular, oferecendo oportunidades de qualificação de vida, na
escolha de uma profissão decente, o quadrilheiro Marcelo dirige um grupo
de 60 pessoas, entre brincantes que se apresentam diretamente, aqueles que
trabalham nos bastidores para o espetáculo acontecer e outros profissionais
contratados (costureiras, marceneiros, eletricistas, motoristas, entre outros).
Durante dez anos de história no ciclo junino do Recife, a Sanfona obteve algumas conquistas bastante significativas. São elas: 2º lugar no Arraial do
Gerbrás, (Imbiribeira) em 2000; 1º lugar no arraial da Rede Bompreço e 4º
lugar no Concurso Rede Globo Nordeste, em 2002; campeã do concurso
do Gonzagão (Ibura), concurso do SESI do Ibura (2002), concurso oficial
de Jaboatão dos Guararapes (1999), bicampeã do Bompreço, campeã do
Arraial da Chave (Paratibe, 2001), campeã do Arraial do Buriti (Macaxeira-
Recife, 2005), campeã do Grupo 2 do Festival Pernambucano da Prefeitura
do Recife, em 2009.

127
Sempre Kita
A Quadrilha Sempre Kita (inicialmente chamada Sem Periquita) foi fun-
dada no ano de 1989, no Bairro de Jardim Paulista Baixo, em Paulista, PE.
A ideia nasceu de um grupo de amigos (Erivaldo Nunes (Bilinga), Nilson
Rafael (Maguinho), Ildson Oliveira Diniz, André Gomes, Luana, e outros)
que jogava vôlei na quadra do bairro e decide formar uma quadrilha, fal-
tando apenas duas semanas para o São João. “A gente achava que não ia dar
certo, daí decidimos chamar os meninos que estavam jogando para dançar
de homens e a gente de dama”, diz Ildson Diniz (Dilcinho).
A quadrilha era formada exclusivamente por homens da comunidade, que
levavam para os arraiais um figurino luxuoso, com coreografias ousadas
e uma trilha sonora que mesclava músicas do ciclo junino, “dance music,
mangue beat e até mesmo Gal Costa cantando a música “Brasil mostra a tua
cara”, no ano da Copa de 1994”, diz Ildson Oliveira.
Em 1996, homenageando o Estado de Pernambuco, pela primeira e úni-
ca vez, a quadrilha apresentou-se somente com os ritmos do ciclo junino.
Em 1998, período do auge das quadrilhas estilizadas, “a Sempre Kita veio
luxuosíssima e o público, onde chegávamos, confundia a gente com uma
quadrilha estilizada de nome, como a Vai Vai na Roça, Origem Nordetina e
outras”, diz Dilcinho.

128
A irreverência é a tônica da quadrilha, que junto com o nome, despertava a
curiosidade do público onde o grupo chegava. Em 1995, como participação es-
pecial, apresentou-se pela primeira vez no Sítio Trindade, encerrando o Festival
Pernambucano. O convite da coordenação do Festival para apresentação do es-
petáculo do grupo repetiu-se até o ano de 1999. A Sempre Kita apresentava-se
em outras cidades do estado como Caruaru, Paudalho, Jaboatão, entre outras.
Ao completar 12 anos de existência, a diretoria do grupo, por diversos mo-
tivos, decide não mais levá-la aos arraiais.

129
Tradição City

A Tradição City nasce, em 1987, de uma dissidência da Quadrilha Deixa
Meu Pé Queto (1981-1989), ambas no bairro do Ipsep – Recife. O nome
surge como uma referência ao seu local de ensaio, os blocos residenciais do
“Chico City”. “Com uma proposta de competição, que existia na época, es-
tava claro para a diretoria que a mesma não seria uma quadrilha caseira, ou
seja, durante o período junino não ficaria no seu bairro. O seu foco princi-
pal eram os grandes concursos, para a época uma tarefa árdua, uma vez que reinavam absolutas, nos anos 1980 a 1990, as quadrilhas Pelo Avesso, Dona

130
Sinhá, Boko Moko, Cocota, Xique Xique no Remelexo, Quatro de Outubro,
entre outras”, diz Washington Barbosa de Lima, ex-componente do grupo.
Adotando o modelo estilizado de fazer quadrilha, a Tradição City levava
para as ruas componentes com figurinos ousados, rico em detalhes, e core-
ografias que desafiavam os limites do corpo dos componentes. “O início da
produção dos elementos cênicos e a estruturação dramatúrgica dos textos e
roteiros, também eram novidades, que algumas quadrilhas, por vários mo-
tivos, não conseguem acompanhar as mudanças, e assim lamentavelmente
ficaram pelo caminho”, salienta Washington. Nesse sentido, a garra e a de-
terminação da Tradição City são importantes na consolidação do formato
estilizado que se populariza na época, juntamente com outros grupos, que
deram um novo fôlego à manifestação, como a Nóis Sofre Mais Nóis Goza,
Origem Nordestina, Flor do Abacate, Pisa no Espinho, entre outras.
Não demora, e a Tradição passa a dividir com outras quadrilhas já con-
solidadas na cidade, diversos títulos nos arraiais de bairro e concursos do
gênero.

131
Trapiá Pernambucana
Promover a cidadania e a valorização da cultura junina em Pernambuco.
Eis as principais preocupações da Quadrilha Mirim Trapiá Pernambucana,
fundada em 10 de junho de 1999 pelo marcador e presidente Clécio Barbo-
sa da Silva. O cenário para essa história, que em 2010 completa 11 anos, é
a comunidade de Prazeres em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropoli-
tana do Recife. O nome do grupo surge das lembranças de infância da mãe
do marcador, quando recorda de uma fruta muito comum no interior do
Estado e pouco conhecida na capital.
Atualmente, 48 crianças fazem parte do espetáculo da Trapiá Pernambuca-
na, que leva para os arraiais o resultado de um trabalho coletivo, que envol-
ve educação, cultura, lazer, cidadania e profissionalismo. Segundo Clécio
Barbosa, “a Quadrilha Trapiá Pernambucana tira crianças e adolescentes
das ruas, colocando-as nas escolas e socializando-as através da dança, lan-
çando bailarinos qualificados no mercado nacional”.
A relação com a comunidade se fortalece a cada montagem de um novo trabalho, que
participa das festas do grupo, compra rifas e bingos, vende camisas, além de se envol-
ver com a produção dos elementos cênicos levados pela quadrilha aos arraiais.
Na trajetória da Trapiá, os anos de 2004 a 2006 ficaram nas lembranças de seus
participantes. A quadrilha deixa a categoria infantil e assume os traços de um
grupo adulto, devido à falta de adolescentes com idade inferior a 15 anos. Em
2007, a quadrilha volta na categoria mirim e se mantém até a atualidade. Entre
os títulos conquistados pela Trapiá, destacam-se: melhor coreografia do concur-
so do Sesc Piedade, em 2000; o vice-campeonato no Festival Pernambucano de
Quadrilhas Juninas Infantis da Prefeitura do Recife, em 2002, além de campeo-
natos dos arraiais São Gabriel (Bomba do Hemetério) e Flor do Arruda, e cam-
peã no Circuito Junino em Jaboatão, ganhando a melhor coreografia e o melhor marcador; em 2004, é vice-campeã no Arraial Cabra da Peste (Caxangá); entre
2007 e 2009, conquista vários campeonatos e vice-campeonatos nos arraiais de
bairros e nos concursos oficiais de Quadrilhas Juninas realizados no Recife e
Região Metropolitana.

132
Traque de Massa
A trajetória da Traque da Massa é curta, porém protagonista de trabalhos
significativos, que abrilhantaram os capítulos da história do movimen-
to Quadrilha Junina no Recife e Região Metropolitana nos últimos anos.
O grupo foi fundado em 20 de março de 2004, na comunidade de Águas
Compridas, Olinda, da junção das quadrilhas Tradição na Roça e Moder-
na Caruá. Entre os seus idealizadores, destacam-se Sérgio Ricardo Silva
Lins, presidente, e José Roberto da Silva Neto, vice-presidente. A escolha
do nome foi consenso, pois “queriam um nome que caísse na boca do povo,
porque todas as quadrilhas jogavam traque de massa”, diz Sérgio.

133
A Traque de Massa ficou na memória dos quadrilheiros pela singularidade
e ousadia dos trabalhos que levava para os arraiais. Quem não se lembra do
ano da casinha de fogos? Da representação do Alto do Moura em pleno ar-
raial repleto de “bonecos de Vitalino”? Produções suntuosas que entraram
para a história do movimento de quadrilhas juninas em Pernambuco. O
custo desse trabalho (aluguel de barracão, ônibus, caminhão-baú, várias cos-
tureiras, bordadeiras, eletricistas, marceneiros, maquiadores etc.), que ficou
em torno de trinta e dois mil reais (em 2007), era captado por um pequeno
grupo de pessoas liderado pelo presidente Sérgio, que deu a vida pela quadri-
lha, fazendo do seu trabalho, sua casa e sua família – a Traque de Massa.
Nos cinco anos de existência, muitos nomes são importantes e merecem
ser lembrados (o pessoal de produção, os dançarinos, os marcadores, os
coreógrafos, as costureiras – profissionais que passaram e fizeram história
na quadrilha). No entanto, destacaremos também neste documento os no-
mes de Anderson Gomes e Perácio Junior. Anderson foi o responsável pela
concepção e desenvolvimento de temas que ficaram na memória de quem assiste e gosta de quadrilha. Em 2006, com o tema
Fogos de artifício, pólvora

134
e povo, o grupo conquista o seu primeiro campeonato: vencedor do Festival
de Quadrilhas da Rede Globo Nordeste e do Festival Regional, na Paraíba.
Vitalino: sem barro o homem, com barro o Mestre foi o título do espetáculo
de 2007, que definitivamente apresentou um novo modelo de quadrilha
junina, inspirando muitos grupos a realizarem um trabalho de qualificada
pesquisa. Com esse tema, a Traque conquistou o vice-campeonato no Per-
nambucano da Prefeitura do Recife, no Sesc e o 3º lugar na Rede Globo.
Grande parceiro de Anderson e coautor do sucesso da Traque, Perácio foi o
criador de movimentos e desenhos coreógrafos de tirar o fôlego do público,
levando ao delírio muitas arquibancadas. Quem não se lembra da coreo-
grafia das cabecinhas, da catraca humana em pleno arraial, do tabuleiro
vivo de Vitalino e do bailado sobre a ferradura do jegue? Essas inovações
garantiram muitos prêmios a Traque de Massa, entre eles o de melhor core-
ografia do Pernambucano (2006 – as cabecinhas).
O ano de 2009 chegou com muitos títulos para a Traque de Massa. Com o
tema Jegue: cinzas de um herói, a quadrilha conquistou o primeiro título
de campeã do Pernambucano, além de obter o 1º lugar no Nordestão, o 3º
lugar no Brasileiro (Ceará) e vários títulos de campeã em diversos arraiais
que concorreu, como: Alto José Bonifácio, Cajueiro Seco, Mirueira, Moran-
guinho (Caetés), Alto José do Pinho, Córrego do Euclides, Chave (Parati-
be), Prazeres, Jaboatão Velho, Muribeca, entre outros.

135
Truaka
A Quadrilha Truaka foi criada em 1977 por um grupo de amigos da comuni-
dade do UR-3, Ibura. Seu nome foi inspirado numa mistura de bebidas, feita
artesanalmente, a base de vinho, cachaça, cerveja e sonrisal (Truaka), situação
inusitada que denominou uma das quadrilhas mais conhecidas do Recife.
Inicialmente restrita ao bairro de origem, animando as festas de São João
da vizinhança, a Truaka conquista, de fato, o maior número de títulos, a
partir dos anos 1990, quando ganha vários troféus de campeã nos arraiais
de bairro, além de participar do Festival de Quadrilhas da Rede Globo Nor-
deste e do Sesc Santo Amaro. Ainda nesse ano, conquista o vice-campeo-
nato no Pernambucano. Em 1991, conquista o 3º lugar no Pernambucano e
consagra-se campeã no Concurso da Aeronáutica, em Piedade.
Em meados dos anos 1990, a Truaka troca o xadrez e a chita pelo cetim, a
seda javanesa e a viscose, adotando o modelo estilizado. Com mais de 100
integrantes, envolvendo dançarinos e equipe de apoio (costureiras, artistas
plásticos, marceneiros, eletricistas etc.), a quadrilha investe em figurinos e

136
adereços pomposos, que lhe garante mais de 170 troféus e a participação
em comerciais (Supermercado Esperança, Casas José Araújo, Antarctica) e
festas de São João de empresas consagradas, como a Brahma.
A popularidade do nome Truaka faz crescer a disputa com outras quadri-
lhas consagradas no Recife, principalmente os grupos do bairro, a exemplo
do Matutinho Dançante da UR-3, seu grande rival. O clima de competição
e o estilo próprio da quadrilha contribuem para aumentar a procura dos
jovens para dançar no grupo. Segundo Neilton, “chegou uma época em que
a quadrilha ficou tão grande em número de componentes, que chegou por
diversas vezes em se dividir em duas, principalmente quando os concursos
coincidiam no mesmo dia e horário, então, pra não perder a oportunidade,
chegamos por diversas vezes a fazer isso, como se fosse um time reserva”.
Ao completar 29 anos de existência, a diretoria da Truaka, por diversos
motivos, decide encerrar as suas atividades, deixando nas lembranças dos
quadrilheiros saudades de espetáculos grandiosos, que de uma forma ou de
outra, permanecem vivos nos trabalhos dos grupos formados pelos filhos
da família Truaka, a exemplo do Milho Verde, Soca Soca e Raízes da UR-3,
este último fundado pelo marcador Mardônio (Zado), Jailson e Luiz, tendo
conquistado muitos títulos em diferentes arraiais de bairro.

137
Vai-Vai na Roça
Um grupo de jovens do Bairro de Maranguape II, município de Paulista,
PE, resolve criar uma quadrilha junina para animar o São João da rua onde
moravam. Convidaram amigos e outros jovens das proximidades e com
apenas 18 casais, nasceu em 09 de março de 1989, a Quadrilha Junina Vai-
Vai na Roça.
O nome da quadrilha foi escolhido por meio de votação entre os compo-
nentes. Seis opções foram sugeridas: Quadrilha Lampião, Espigão na Roça,
Sassá Mutema no Arraiá, Vai-Vai na Roça, Quadrilha Luar do Sertão, Qua-
drilha Faz Que Vai. A preferência dos componentes foi unânime para a
quarta opção, em função da sonoridade da expressão e de ser o nome de
um dos passos mais animados ensaiados pelo grupo.
Não demorou e o grupo logo conquistou a simpatia da comunidade. A di-
retoria mantinha contato direto com a família dos componentes, que juntos
colaboravam com o crescimento do grupo e com a educação dos jovens

138
na comunidade. Liderados por um rapaz de 16 anos, André Carneiro da
Cunha, a quadrilha realizava um trabalho de inclusão social, incentivando
os componentes a estudarem, afastando pessoas do uso das drogas.
A Quadrilha não possuía sede própria, os ensaios aconteciam aos sábados e
domingos nas praças, quadras, pátios das escolas e na rua Quarenta e Seis,
onde foi fundada. A Vai-Vai era um grupo que não tinha a participação de
profissionais envolvidos no processo de montagem dos espetáculos. Ficava
a critério dos participantes a escolha dos temas, as coreografias, o desenho
dos figurinos, as músicas e a confecção de alguns adereços. Os meios para
conseguir dinheiro para confeccionar seu vestuário, não eram diferentes
da maioria dos grupos. Promoviam-se bingos, piqueniques, festas, rifas e
algumas doações do comércio.
Durante os seus quatro primeiros anos, a Vai-Vai na Roça foi uma qua-
drilha totalmente “Tradicional”. Nesse período, já tinha conquistado um
público fiel em Paulista e queria alçar voo, conquistando outras cidades.
Dessa forma, em 1993, inicia uma nova fase. Com o tema: “Vai boiadeiros,
vai caipiras que a noite já vem”, a quadrilha participa de seu primeiro con-
curso fora da cidade de origem, realizado na Bomba do Hemetério – Recife,
conquistando o título de campeã do concurso, além de muitos prêmios em
outros arraiais do Recife e Região Metropolitana.
Em 1994, a quadrilha começa a montar suas danças e coreografias de forma
totalmente estilizadas. O grupo novamente conquista diversas premiações
em concursos juninos do Recife e Regiões Metropolitanas, em especial,
conquistou o 3º lugar do concurso “Fogo na Noite”, no Ipsep (o 1º grande
festival que participa com as melhores quadrilhas de Pernambuco), tam-
bém conquista o prêmio de Melhor Marcador do Festival. Devido a esse
concurso, a direção da Vai-Vai e seus componentes viram que poderiam ir
além dos limites de seu bairro e que poderiam conquistar Pernambuco com
a sua magia e alegria de brincar o São João.
Em 1995 a quadrilha participa pela primeira vez do Festival Pernambucano
de Quadrilhas Juninas promovido pela Prefeitura do Recife. Com o tema:
Descriminada ou não, a mulher é a razão maior da existência do homem,

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Vai-Vai classifica-se para a etapa final do concurso como uma das quadri-
lhas mais pontuadas e premiadas, conquistando o 5º lugar e o título de
“Quadrilha Revelação” do Ano, além de ganhar como o melhor marcador
(André Cunha).

140
Em 1996, a Vai-Vai conquista alguns títulos de campeã, como o concurso
do Sesc, do Playcenter, da Vila das Lavadeiras (que tinha o maior troféu
de Pernambuco, com 4m de altura), entre outros campeonatos. Participou
pela primeira vez do concurso de quadrilhas da Rede Globo Nordeste fi-
cando entre as 10 melhores do Festival. No concurso da Prefeitura do Reci-
fe, alcança o 3º lugar e as medalhas de melhor marcador (André Cunha) e
o Rei das Quadrilhas, o Cigano Fábio Cavalcanti.
1997 foi um ano de muitas dificuldades para o grupo, porém de muitas
conquistas. Sem dinheiro para completar seu vestuário, os componentes
fizeram o Livro de Ouro, indo para os sinais de trânsito pedir ajuda para
poder brincar o São João. Grande parte das despesas do ano foram pagas
pelo marcador e pelo presidente da quadrilha. O resultado do esforço do
grupo foi surpreendido com a singularidade do espetáculo. A quadrilha
apresentou coreografias, nas quais os componentes trocavam de roupa em
pleno arraial, trouxeram os destaques dançando no final da quadrilha, en-
cenando uma vaquejada com danças de chicotes, além de uma homenagem
aos sem-terras e sem-tetos. Essa nova proposta de trabalho dá a Vai-Vai o
título de Melhor Quadrilha de Pernambuco, consagrando-se campeã do
Festival da Fundação de Cultura Cidade do Recife. Nesse mesmo concurso,
André Cunha recebe duas medalhas, uma como o melhor marcador e outra
como Rei das Quadrilhas de Pernambuco. Nesse ano, o grupo conquistou
também o bicampeonato do Sesc, do Playcenter, entre outros prêmios em
dezenas de arraiais espalhados pelo Recife e Região Metropolitana. Ao completar 10 anos de resistência, a Vai-Vai preparou um grande es
-
petáculo que ficou na memória de muitos quadrilheiros. Homenageando
Luiz Gonzaga, representado pelo sósia Edilson (diretor da quadrilha Nossa
Roca, do mesmo bairro), qual brincante ou apaixonado pela manifestação
não se lembra da música de entrada do grupo? “Vai-Vai... Vai na Roça / eu
quero balançar,/quadrilha mais bonita por aqui não vai passar. / Vai-Vai...
Vai na Roça/ eu quero balançar,/ bata na palma da mão nossa quadrilha
vai cantar”. A música foi de autoria do cantor Almir Rouche, sucesso no
São João de 1999. A popularidade da música levou o artista a gravar um

141
CD com o sucesso. Esse ano foi muito importante para a quadrilha, dos 54
concursos que participou, conquistou 46 campeonatos.
O novo milênio chega para marcar o último trabalho da Vai-Vai na Roça.
Muito endividados pela grandiosidade dos espetáculos anteriores, o marca-
dor André Cunha e o presidente Almir Viana decidem não ir mais adiante
com o grupo, que crescia numerosamente a cada ano. “Pedíamos emprés-
timos em bancos, entrávamos no cheque especial e ainda antecipávamos
nossas férias e salários para investir no grupo, diz André Carneiro. Assim,
em 2000, realizam o último espetáculo com todos os componentes, intitula-
do A Noite Junina dos Cangaceiros: o maior ataque da história do cangaço. A
quadrilha aparece toda vestida de cangaceiros, comandada pelo marcador
caracterizado de Lampião. A entrada do grupo no arraial é marcada por
um xaxado que mais tarde serviria como referência para outros grupos. O
grande destaque do espetáculo era a simulação de um ataque dos cangacei-
ros e a troca de roupas dos cangaceiros do tradicional ao traje estilizado.
Em 2001 e 2002, a quadrilha, mesmo sem a participação do presidente, do
marcador e de alguns componentes antigos, realizou um trabalho, apre-
sentando-se em diversos arraiais do estado. No entanto, a saudade da com-
posição inicial do grupo e as muitas dificuldades para montar um bom
trabalho, levam os resistentes seguidores da Vai-Vai a decidirem pelo en-
cerramento da quadrilha.

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Xique Xique no Remelexe
“Alô menina, vai lá e não vacila, porque a Xique Xique é a mais quente da
Brasília, por isso não chore, esqueça a sua sina, contra tudo e contra todos,
também é melhor no Pina, de Leste Oeste, de Sul de Leste Oste, agora o povo
diz é a melhor do Nordeste, não tem confusão, não tem intriga, porque nós
somos é a melhor da Brasília.” “Quem é? quem é? quem é? O quê? O quê?
O quê? Quem é o marcador? É Wilson Lapa, o nosso marcador”. (Gritos de
Guerra da Quadrilha)
Maio de 1978, na Rua Henrique Lins, 46, em Brasília Teimosa, nascia a
quadrilha junina Xique Xique no Remelexe. Entre os seus fundadores des-
tacam-se o saudoso Salatiel Peixoto, Wilson Lapa (o único marcador do
grupo), Sandra Peixoto e Fernando (dos Correios), a estes dois últimos, a
quadrilha agradece a escolha do nome.
Referência para a comunidade de Brasília Teimosa, a Xique Xique era for-
mada por amigos, familiares e vizinhos; crianças, jovens e adultos, os quais
encontravam na arte de dançar quadrilha, os caminhos necessários para o
nascimento de novos talentos, resultando numa geração de artistas prota-
gonistas de espetáculos juninos reconhecidos pela crítica. Como semente
desse celeiro de criatividade, registramos os nomes de Wilson Lapa, Fábio
Andrade (atual presidente da Lumiar), entre outros. Em 1985, primeiro ano do Festival Pernambucano da Prefeitura do Recife,
a Xique Xique conquista o vice-campeonato numa grande festa realizada
no Geraldão. O título aumenta a popularidade do grupo, que ultrapassa as
fronteiras da área litorânea de Brasília Teimosa, conquistando seguidores
nos diferentes bairros do Recife e da Região Metropolitana. “Em 1989,
éramos 100 pares de cada lado, 200 integrantes no total, dançando. Eu mar-
cava apenas com os gestos”, diz Wilson Lapa.
Com um grupo que crescia a cada ano, a Xique Xique encontrava na pró-
pria localidade, entre amigos, vizinhos, componentes e diretores, os meca-
nismos para sua sobrevivência. “Nós não tínhamos ajuda financeira. Reali-

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závamos bingos, rifas, cotinhas entre a gente mesmo para pagar os ônibus.
Quantas vezes, por não termos dinheiro, saíamos em caminhão baú ou
aberto, até mesmo em caminhão caçamba”, diz Wilson Lapa.
Nos seus quinze anos de existência, a quadrilha colecionou mais de 300
troféus, entre os quais se destacam os seguintes campeonatos: 1º lugar no
concurso de Jardim Uchôa, o qual tinha trinta dias de duração e concor-
riam aproximadamente trezentas quadrilhas; tri campeã no arraial do Ip-
sep e no São Gabriel, na Bomba do Hemetério (1985 a 1987); bicampeã
do Pernambucano (1990 e 1992); bicampeã da Rede Globo (1990 e 1992);
Melhor Produção e Melhor Marcador do Brasil no Campeonato Brasileiro
de Quadrilhas Juninas, que aconteceu na Bahia, em 1990.
Em 1994, a Xique Xique no Remelexe decide não mais participar dos fes-
tejos juninos.

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Xilindró de Ritmos
A Quadrilha Xilindró de Ritmos, antiga Unidos Mirim, foi criada em 1986,
no Bairro do Pixete, São Lourenço da Mata. A ideia de criar o grupo nas-
ceu em função da grande quantidade de crianças que ficavam ao redor dos
ensaios da quadrilha adulta Unidos de Nova Esperança. “Muitos pais das
crianças dançavam na quadrilha, percebemos os interesses delas e fizemos
a Unidos infantil, porque eles ficavam pulando, brincando, atrapalhando os
ensaios. [...]eles ficavam imitando os pais que dançavam, puxavam as saias
das mães. Na escola, aqui do lado, eu era chamado direto porque os meni-
nos só viviam dançando e as professoras diziam que era por causa de mim e
da quadrilha. Os meninos queriam a quadrilha de todo jeito. A Xilindró foi
feita pela pressão das próprias crianças”, diz Sérgio Pereira da Silva.
O gosto pela manifestação artística encontrava-se arraigada na comuni-
dade, por várias gerações. Muitas pessoas da quadrilha se conheceram e
fortaleceram os laços de amizade e compadrio durante os ensaios para o

145
Carnaval do Caboclinho Canindé de São Lourenço da Mata, fundado em
1947. “Juntávamos todos para o carnaval, depois vimos que poderíamos
juntar para o São João, por isso formamos o grupo de dança”, acrescenta
Sérgio Pereira.
A realidade social do bairro na época (violência, crimes, drogas) inspirou
os componentes a batizar a quadrilha de Xilindró, em alusão à prisão pú-
blica. Inicialmente Xilindró da Dança, só depois chamada Xilindró de Rit-
mos, em 1998. Outro motivo para o nome do brinquedo justifica-se na
mudança do nome do grupo para participar do Festival Pernambucano da
Prefeitura do Recife, uma vez a Quadrilha Unidos Mirim deixou de sair um
ano e por isso estava impedida de disputar o concurso na mesma categoria,
com o mesmo nome.
As condições precárias da comunidade refletiam nas formas de ensaio do
grupo, que se reunia no quintal da casa de um dos diretores para passar as
coreografias e confeccionar figurinos e adereços. A situação da quadrilha
mudou, segundo Sérgio Pereira, quando “uma pessoa nos apresentou para
um empresário alemão e ele ficou encantado com o trabalho e visitou o bairro e, em 1998, se comoveu com a história do grupo e do bairro. Ele

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estruturou o grupo que treinava o ano todo. Eles montaram um esquema
de cursos comunitários, ficaram quatro anos, depois tiveram que terminar
o contrato, e perguntaram ao grupo, o que queriam? o figurino ou a sede
para os ensaios? o grupo escolheu a sede, que era uma casa bem baratinha
que tinha aqui. Eles compraram a casa e depois de um ano voltaram para
reformar tudo e há oito ano que eles não voltam”.
O trabalho de formação sociocultural desenvolvido pelo grupo não parou,
é realizado o ano inteiro. Como parte do Projeto Escola Aberta, o grupo
utiliza o espaço da Escola Conde Corrêa de Araújo para ensaiar e dar au-
las de danças populares para a comunidade, sendo os professores os pró-
prios quadrilheiros. Realizam oficinas de artesanato, cujo lucro é revertido
para a quadrilha e, em alguns casos, esse lucro é direcionado para suprir as
despesas dos próprios artistas. Aulas do Programa de Educação Projovem
também são oferecidas no espaço. Outros lugares também são utilizados
pela Xilindró para as atividades de formação, como a sede da Quadrilha e a
Escola 10 de Agosto, também na localidade.
Atualmente existem na diretoria pessoas que estão no grupo desde a sua
fundação: Sérgio Pereira, Valci Lourenço, Marcílio Ernesto, Mário Soares,
Carlos André (King), Paula Stéfane, Jaqueline Felipe, Ricardo Ferreira, en-
tre outros, que organizam os trabalhos do grupo, administrando o calendá-
rio de ensaios e apresentações, os orçamentos dos espetáculos, aluguéis de
transportes, entre outras despesas. Para manutenção da quadrilha, são or-
ganizadas rifas, bingos e festas, além de receberem subvenção da Prefeitura
do Município e ajuda de amigos da comunidade. Um fato que contribui
para a diminuição dos custos da quadrilha, é que “as costureiras, por exem-
plo, são as mães dos componentes e até algumas parentes minhas. A gente
faz com elas desde a fundação da quadrilha e a gente ajuda elas com uma
ajuda de custo, porque uma coisa que a gente faz é aproveitar as pessoas da
comunidade para fazer cenário, quem sabe pintar, cortar, serrar...”.
A relação familiar da quadrilha, uma vez que “dançarinos da mirim são
filhos e netos dos antigos componentes”, e o trabalho conjunto é a marca
da Xilindró, que anualmente se reúne para pensar o projeto do espetáculo
do São João do ano. “A gente para montar o tema faz um “concursinho” de

147
projetos (figurinos, cenários etc.). Quem faz a coreografia é um ex-compo-
nente (Marcílio), hoje tem 18 anos, cresceu com dança na comunidade. O
figurino, todos tem participação, às vezes juntam até ideias um do outro”.
Entre os principais títulos da Xilindró, destacam-se: Quadrilha Revelação
do Festival Pernambucano (2001), campeã do Pernambucano (2003), vice-
campeã do Pernambucano por três anos consecutivos (2005, 2006 e 2007),
campeã do Festival da Rede Globo Nordeste (2006) e vice, em 2007, tricam-
peã do arraial Santo Antônio, em Ouro Preto, Olinda (2002, 2003 e 2006),
10º lugar no Brasileiro, em Iguatu, CE (2005) e 5º lugar no Festival da Rede
Globo Nordeste (2009).

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Zabumba
“Passar as festas juninas comemorando e festejando todos juntos, fazen-
do o que mais gostamos: dançar quadrilha e levar para o povo grandiosos
espetáculos mostrando arte e cultura através da Quadrilha Junina”. Do de-
sejo de um grupo de amigos (Jailson Monteiro, Charles Carvalho, Ubiraci
Muniz (Bira), Gustavo Cavalcante), nasce, no dia 07 de setembro de 2001,
a Quadrilha Junina Zabumba, localizada em Camaragibe, Região Metro-
politana do Recife.
A ideia do nome remete à vontade do grupo de criar uma quadrilha que
traduzisse a alegria dos festejos juninos, daí a necessidade de um nome im-
pactante, de força: ZABUMBA – denominação de um instrumento musical
bastante utilizado nas festas de São João no Nordeste.
Em 2002, no seu primeiro São João, a quadrilha ganha as ruas de Camara-
gibe e conquista campeonatos; ultrapassa as fronteiras do bairro e participa
dos principais concursos do gênero no Recife e Região Metropolitana, clas-
sificando-se no 2º lugar do Concurso do Sesc.

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Formada por um grupo de jovens profissionais com experiências em varia-
dos segmentos das artes e da dança, a Zabumba realiza um trabalho com
características inovadoras, explorando a criatividade e as singularidades
das nossas expressões culturais. A dedicação do grupo leva para os arraiais
produções que marcaram o movimento de quadrilhas juninas no Estado.
Quem não se lembra do banho de cheiro que tomou conta dos ares dos
arraiais na festa de casamento de Corisco e Dadá, em 2007? Da enorme
zabumba que reuniu todos os componentes na entrada do arraial, em 2005?
E do marcador Charles Carvalho, com toda sua elegância e simpatia, levan-
do seus componentes ao delírio quando gritava: “canta Zabumba!”. Qual
quadrilheiro não sente o coração bater mais forte, quando todos do grupo
gritam as sílabas do nome ZA-BUM-BA?
Reunindo em sua trajetória temas bastante significativos – Vim da corte
francesa, mas sou tupiniquim com certeza (2002), O sagrado e o profano no
ritual junino no Brasil (2003), Santo Antônio nosso padroeiro (2004), Festa
à Brasileira (2005), Nos arraiais da vida, a memória é nosso par (2006), Nas
terras secas do sertão floresce o amor de Dadá (2007), Casamento de roda
(2008), A Matutada (2009) –, a Zabumba reúne em poucos anos de exis-

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tência, muitos títulos importantes, como: campeã da Rede Globo Nordeste
(2003), campeã do Concurso do Sesc (2004), vice-campeã do Nordestão /
Fortaleza, CE (2004), vice-campeã da Rede Globo Nordeste (2004), vice-
campeã do Festival Pernambucano da Prefeitura do Recife (2004, 2006 e
2009) e oito vezes campeâ do Concurso de Camaragibe.

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Referências
Esse trabalho foi elaborado a partir das informações obtidas em entrevistas com os
seguintes colaboradores:
Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas
Albemar Araújo
Conceição Fragôso
Graça Xavier
Paulinho Mafe
Zélia Sales
Fequajupe
Antônio Amorim
Dayvison Bandeira
Fábio Andrade
Itamar Coutinho
Ivanildo Plínio
Gilklei Paiva
Rejane Santana
Histórico das Quadrilhas Juninas
Anarriê Junina- Walmir Souza
Arraialzinho do Cordeiro – Reginaldo Vicente da Silva
Boa Vista Show- Américo Barreto e Fábio Costa
Brigões de Suape- Ivanildo Plínio
Brincant´s Show- Kátia Cristina Marinho de Oliveira
Cambalacho - Marlon José Lopes de Pontes
Chiclete com Banana - Wildo Lucena e Michel Kleber Dias
Deveras - Mika Silva (Texto do Autor)
Dona Matuta – George Araújo e Sérgio de Barros
Dona Sinhá- Sílvio Marques de Lucena e Marileide Almeida de Lucena
Flor do Abacate- Itamar Coutinho e Gilklei Paiva
Fogo na Noite - Antônio Amorim (Toninho)

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Forró Moderno- Itamar Coutinho e Gilklei Paiva
Geração 2000- Edvaldo José Pedrosa
Junina Tradição - Joselito Costa e Perácio Gondim G. Júnior
Lumiar - Fabio Andrade, Erinaldo Souza Gomes (Nanal) e Bebé
Matutinho Dançante- Marcos Pereira
Moderna Fuzarca- Adgelson Soares (Alegria)
Nóis Sofre Mais Nóis Goza- Sérgio de Barros
Olodum Mirim - Jéssica Michaela e Maria do Carmo Barbosa
Origem Nordestina - Lenildo Moreira de Carvalho
Pé Dentro Pé Fora - José Roberto de Moura
Pelo Avesso- Joel Antônio dos Santos
Pingo d’Água - Cristiane Elias Silva
Pisa na Fulô - Josefa Maurícia Soares (Dona Nely)40 Graus- Jorge Henrique Ramos e Josemar Marcio dos Anjos
Raio de Sol- Leilane Nascimento (Texto da Autora)
Rancho Alegre – Sérgio Murilo
Raízes do Pinho- Wellington Menezes
Rosa Linda, Linda Rosa- Widenbug Gusmão (Bugo)
Sanfona Branca- Marcelo Vinícius
Sempre Kita- Nilson Rafael Soares (Maguinho) e Ildson Oliveira (Dilcinho)
Tradição City- Washington Barbosa
Trapiá Pernambucana- Clécio Barbosa da Silva (Brisa)
Traque de Massa - Sérgio Ricardo, José Roberto e Perácio Gondim G. Júnior
Truaka - Gilson Monteiro, Neilton Ferreira e Valter Sebastião da Silva Filho
Vai-Vai na Roça - André Carneiro da Cunha
Xique Xique no Remelexe - Wilson Lapa
Xilindró de Ritmos- Sérgio Pereira da Silva
Zabumba- Jailson Monteiro da Silva