Igreja corpo de_cristo

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Slide Content

IGREJA:
CORPODE CRISTO
(Umestudodaepístolaaosefésios)
JoãoParahybaDaronchdaSilva
Publicação da Junta Geral de Ação Social
Da Igreja Metodista do Brasil
1966
OBS:Há algumas notas e adaptações do texto do livro em vermelho, feitas
especialmente para essa edição eletrônica.

ÍNDICE
APRESENTAÇÃO
REFLEXÕES SOBRE A EPÍSTOLA DE EFÉSIOS
1-Natureza da Igreja
2-Caráter da Epístola
3-Conteúdo da Epístola em resumo
4-Questões que oferecem problemas especiais
I-A PROCLAMAÇÃO D OS ATOS DE DEUS
1. A Separação destruída em Jesus Cristo
2. Confessar Jesus Cristo
3. A Ressurreição: um sobre todos
4. O Espírito: poder paracomunicação.
II-A COMUNHÃO DO POVO DE DEUS
1. Revelação: nossa Salvação da morte
2. Igreja e Conhecimento
3. AIgreja não é do mundo,masé no mundo
4. A Igreja: Povo constituído por Deus
III-A PRESENÇA DA IGREJA
1. Solidariedade: “Justificados e Pecadores”
2. Dimensões da Éticano“Evangelho da Paz”
3. O Ministério da Igreja
Conclusão:Unidadee Renovação daIgreja

APRESENTAÇÃO
"Mas, seguindo a Verdade em amor,
cresçamos em tudo naqueleque é o
Cabeça, Cristo".
(Efésios 4:15)
Em momento mui oportuno o Gabinete Geral está sugerindo o estudo na
Epístola do apóstolo Paulo àcomunidadecristã na cidade de Éfeso. Dentro das
linhas mestras do PlanoQüinqüenalem que se objetiva não apenas uma
redescoberta da mensagem que motivou e dinamizou o Movimento Wesleyano do
século XVIII, mas, em que se busca, acima de tudo, uma reafirmação inequívoca da
ResponsabilidadeCristã da Igreja Metodista do Brasil na conjuntura
contemporânea, seguramente que umareflexãosobreo grande documento aos
Efésios virá enriquecer a mente da Igreja abrindo-a para uma compreensão mais
ampla de sua Natureza e de sua Missão conferidas uma vez para sempre em Jesus
Cristo,o Senhor da Igreja e do Mundo.
Todo o panorama eclesiástico atual confirma a necessidade inadiável de um
re-exame da Igreja até à raiz mesma da totalidadede sua vida e de suas formas de
expressão na sociedade brasileira. Somos desafiados hoje comonunca a um
testemunho integral do "Evangelho do Reino de Deus" afim de que "a suprema
riqueza de Sua graça" seja comunicada aos séculos e não seja confundida comas
pequenas riquezas de "evangelismos de reinos religionistas". Pois, em verdade,
Jesus pregava o Evangelho do Reino de Deus contra todas as formas e
interpretações que pretendessem usurpar o lugar exclusivo da pessoa e da
autoridade graciosa de Deus. Devemos nos perguntar sempresobreque tipo de
evangelhoestamosmostrando como Igreja!
Estere-exame não pode ser feito pela Igreja à luz de si mesma, de sua própria
história mas à luz mais alta que é a Palavra viva do Deus vivo; é à Luz da Palavra de
Deus que a Igreja pode ver-se a si mesma e ver corretamente o que está
acontecendo no século ediscernir o relevantedoirrelevante,o significativo e
criativo de tudo quantoévazio de significado ediscernirosfundamentosda
verdadedosrudimentos do mundo.
"NaturezaeMissãoda Igreja"constituio ponto de partida da eclesiologia
contemporânea porqueestetema nos atira para dentro do fundamental que é a
Cristologiaque dávalidez e justificativa à existência da Igreja no mundo.
Seguramente o erro capital que podemos perceber na História da Igreja é a
resistência eclesiástica ao governo renovador e permanente de Jesus Cristo;
decisões de concílios que afetam o sentido da natureza e do ministério da Igreja
tomadasem completo divórcio dos fundamentos bíblicose teológicos.

Dai todo umcomprometimentoalienante da Igreja com estruturas superadas e
que, de modo algum, constituem a Igreja de Jesus Cristo. Talvez a contribuição
máxima de Lutero para o pensamento teológico tenha sido precisamente o fato de
conseguir desvincular"Reino de Deus"de sua pecaminosa identificação com a
hierarquia eclesiástica.Aliás,estaé uma tensão permanente para a qual não
podemos estar desprevenidos, pois nunca poderemos capturar a realidade da
Igreja que é o Corpo de Jesus Cristo em nossas estruturas e tradições
denominacionais. Assim, antes de qualquer decisão nossa, antes de qualquer
Concílio em que se vai "definir" a Ordem da Igreja e o sentido das formas de sua
presença na sociedade,éimprescindível o estudo profundo da Natureza e da
Missão da Igreja a partir do Ministério de Jesus Cristo—oServo de Deusque
determina a forma permanente da Igreja e a amplitude de sua presença no mundo
afim de que "a suprema riqueza de sua graça seja mostrada aos séculos
vindouros".
É exatamente o espírito de obediência reverente à Palavra do Servo de Deus,
queéo Senhor da Igreja, ofatordeterminante da medida de humildade própria da
Igreja para confessar-se arrependida a Jesus Cristoa fim deser renovada porEle
para Seu Serviço. Tal disposição nãoéuma simples opção para a Igreja; é um
imperativo de sua Natureza e de sua Missão dadas na Palavra Viva de Deus, que
cria, transforma, julga, salva e sustenta a Igreja.
A Igreja somenteéseu verdadeiro ser quando existe para os membros da
humanidade "mundana": isto é, o homem na sociedade éconcretamente o
endereçodo amor de Deus em Jesus Cristo. Existir para os outros, existir em Jesus
Cristo, compartir o sofrimento de Deus pelo mundo, "descer até às partes mais
baixas da terra",transporas"paredes de separaçãoe inimizade", é a graça mais
cara e mais preciosa que foi dada à Igreja, A graça de Deuséuma graça "custosa",
seu alto preço consiste em arrancar o homem decisivamente de si mesmo,
incorporando-o à comunhão da família de Deus—Corpo de Cristo—onde impera
uma nova ordem de relações e uma nova e permanente possibilidade de vida.
A carta do apóstolo Paulo aos cristãos em Éfeso indica seguramente o
caminho do discipulado para a presente situação tanto da Igreja quanto do mundo.
Estediscipulado não é uma nova forma de mérito humano ou alguma maneirasutil
de se alcançar a "santidade" e a "perfeição"; é uma disciplina concreta:isto é, uma
disciplina no Corpo de Cristo,uma disciplina em Cristo, que incluíbasicamente
uma relação sacrificial com acomunidadecristã queéo corpo do amor em cujas
águas vivas somos batizados para não pertencermos mais a nós mesmose não
vivermos mais para nós mesmos: "Se algumaIgrejaquiservir após Mim, negue-se
a si mesma...".
Assim, esperamos humildemente, que este estudo faculte, pela proteção e
direção do Espírito, em cada congregação onde dois ou três estiverem reunidos em
Cristo, uma crescente compreensão do ministério total da vida da Igreja bem como
auspicie uma tomada de consciência da imensa possibilidade aberta na situação
brasileira e em cujos tormentos o Senhor está supremamente interessado.

Este manualéapenas 'uma ferramenta para o serviço. Nele está o resultado
de uma tentativa de exegese do texto bíblico em que vão extraídas e sublinhadas
em simples esboço as grandes realidades do "mistério revelado no Evangelho".
Destas realidades nos poderemos alimentar em comunhão uns com osoutros para
a responsabilidade cotidiana de servir ao Senhor;épão para a jornada, mas é pão
que demanda meditaçãocomunitáriacom o mais alto sentido de não nos
alimentarmos para nós mesmos, denão nos apascentarmos a nós mesmossenão
para vivermos no Corpo de Cristo que é o Corpo que existeem amorpara com
todos os demais.

REFLEXÕESSOBREAEPÍSTOLA
A carta do apóstolo Paulo aos "santos em Éfeso" é um documento a respeito
da Igreja de Jesus Cristo; não é uma carta sobre problemas particulares da
congregação, mas é uma carta capital cujo conteúdo versa sobre as dimensões
essenciais da Natureza e da Missão daEcclesiade Jesus Cristo sublinhando:
a) SuaUnidade(Efésios4);
b) Sua Integridade (Ef1:4;Ef5:27;
c) Sua Apostolicidade (Ef2:20;Ef3:1; Ef4:7,11;Ef6:15);
d) Sua Catolicidade (Ef2:19;Ef4:13;Ef6:8 e 1:1).
1) NATUREZA DA IGREJA:
A natureza da Igreja é dada naepístolapelas relações que estabelecem
dependência permanente, constituindo laços indissolúveis entre a Igreja e:
1. Deus—o Pai (Ef3:14)
2. Jesus Cristo—o Cabeça (Ef1:22;Ef4:13;Ef5:29-32)
3. Espírito Santo—de quem procedem os carismas(Ef1:13; 4:7).
d)Comunidadede Israel—(Ef2:12,19 e 22)
e)Comunidadegentílica—(Ef4:17;Ef5:5-13;Ef6:11)
f) Com todos os santos—(Ef1:15; 3:15;Ef4:13;Ef6:18-24)
Destas relações éque decorre a natureza da Igreja; é a natureza destas
relações que constituí a IgrejacomoIgreja.Todaverdade a respeito da Igreja (para
não dizer o próprio sentido da palavraEcclesianos é comunicada emtermosdestas
relações, destaordem de relações criadas por Deus em Jesus Cristoeno Espírito
Santo. É na epístola aos Efésios que aparece pela primeira vez uma doutrina
especialsobreIgreja. A verdade "relacional" (ou dialógica)sobrea Igreja que
aparece emEfésiosaparece em Colossenses onde se afirma que Cristo é a cabeça
da Igreja e que a Igreja é o corpo de Cristo. EmEfésios3:21 e 5:32 Cristo e a Igreja
são colocados lado a lado, como que na mesma ordem; por outro lado, em outras
passagens fala-se de uma relação de subordinação da Igreja a Cristo).Esta
linguagem figurada parece serempregada sem nenhum rigor lógico: Cristo é a
própria Igreja e esta é o seu corpo; eainda:Cristo está acima da Igreja como sua
cabeçaecomoAqueleque é antes detodasas coisas e para quemtodas
"convergem".
Todasessas fórmulas são intimamente relacionadas entre si.EmEfésios
Eclesiologia é Cristologiaevice-versa. Tudo o que se refere a Cristo e à Igreja é
pensamento de Deus, é obra de Deus, é resultado da ação de Deus. Oclímaxde
tudo é atingido no hino final nocapítuloEf5:25-32. As imagensempregadasaí são
provenientes da linguagem míticadaquelaépoca. As expressões da carta aos
Efésiossobrea Igreja e Cristo mostram uma visãounitária do mundo daquela
época e seu autor fala a linguagem de círculos gnósticos. O salvador que sobe aos
céusvenceem seu caminho ospoderescelestes (Ef4:8ss) e rompe o muro de

divisão que separa o mundo do Reino de Deus (Ef2:14ss); volta para junto de si
mesmo comooanthropos(o ser humano)supremo (Ef4:13ss) . Contudo Ele éa
Cabeça sob cujogovernotodasas coisas são reunidas; sendo assimEleeleva os
seus membros, cria o "homem novo" e edifica seu corpo em que se revela a obra
inteira de Deus (Ef3:8-19).O salvador ama e atende, purifica e salva a sua Igreja.
Ela é suaesposa,Eleé seuesposo,unidos um ao outro em obediência e amor (Ef
5:22-32). Este mundo de idéias, figuras e imagens empregadas naepístolasão
adequadas a finalidade primordial de exprimir a relação indissolúvel entre Cristo e
Igreja; ainda mais; para explicar a realidade de que a Igreja não é instituição ou
sociedade humanaapreensível pelas leis da sociologia e sim a resultante da ação
de Deus. O ponto decisivo da eclesiologia em Efésios é a comunhão com Cristo.
Somentea partir dessa comunhão com Cristo passa a existir a comunhão dos
homens entre si como irmãos. Contra as tentativas sociológicas em solver(explicar)
a questão da Igreja, devemos anotar que Paulo em suas epístolas não concebe
Eclesiologia senão em função da Cristologia.
Cristo alimentae cuida da Igreja.Tem-se a impressão de que, numa
representação tão complexa, e ao mesmo tempo grandiosa pelas imagens usadas,
se encontram divagações em que a fé em Deus e em Sua assembléia divina é
interpretada dentro de uma moldura especulativa. Por mais que tal impressão se
imponha, é preciso repeli-la resoluta e radicalmente. A maneira como se fala da
Igreja mostra que não se trata de especulações sem base e muito menos de
afirmações esotéricas. Assim, quando o apóstolo trata da sabedoria e do
conhecimento de Deus nãoestá tratando de intelectualismo e sim daquele
"conhecimento do coração", (Ef1:18), que se realiza na obediência da fé que
relaciona o homem com os atos de Deus. É uma linguagem muito rica que não está
em função de si mesma, nem a serviço de especulação intelectual, mas é a aptidão
em que se expressa a verdade sobre a Igreja em sua natureza derivada da obra de
Deus em Jesus Cristo.
2) CARÁTER DAEPÍSTOLA:
a) Mais intensiva e extensivamente do que qualquer outro livro do Novo
Testamento,Efésios tem o caráter e a forma da oração. Não somente a primeira
metade (Ef1:3a3:4), mas a exortação à conduta cristã e àunidadedo Espírito na
segunda parte (Ef4:1) são basicamente oração em sua forma; além dessas
expressões de adoração e de intercessão, a epístola nos dá vários chamados à
oração (Ef5:14,19;Ef6:18). "Lex orandi, lex credendi"—isto é, a verdade da fé tem
sentido somente como um ato de culto; Efésios nos dá um sentido bem profundo de
dogmática cristã que é o sentido da comunhão com Deus, pois a verdadeira fé é
matéria da mais verdadeira comunhão com Deus. Tudo o que a epístola nos
oferecesobreFé e Vida, sabre Dogmática e Ética é precisamente na forma da
oração.
b) Efésios não apresenta o Evangelho na forma polêmica tradicional,a
despeito de estar emjogotodo o tremendo conflito entre cristianismo judaico e
étnico; também não nos dá o Evangelho peloscaminhosda argumentação racional
nem com lugares comuns de compaixão sentimentalista. Há apenasumabase que
parao autor é suficiente e que constituia única possibilidade de preservação do

"mistério revelado em Jesus Cristo": são os grandes atos de Deus. Os atos de Deus
são a sua palavra, isto é, o que Deus tem feito e revelado em Jesus Cristo. A
sabedoria e a vontade, o amor e opropósito deDeus, a pregação, a morte a
ressurreiçãode Cristo, o poder doEspírito—na forma de carismassobrea Igreja
para o desempenho do ministério. Qualquer outra base é passageira, vem e vai,
mas, os atos de Deus são, para empregar uma linguagem deAgostinho,"começos
absolutos ou eternos"—sãopermanentes, não sofrem nenhuma variação.Efésios
celebra oágapede Deus (o amor) que ultrapassatodaforma de sabedoria (Ef3:19)
; é exatamentenesteamor que se apóia o Evangelho da Paz que prescinde, que
abre mão de todo e qualquer argumento paradefendê-lo; o autor da epístola
dispensou inclusive a forma tradicional dos argumentosescriturísticos. Os atos de
Deus são proclamados e não argumentados apologeticamente. Efésios não é a
defesa de um Evangelho cheio de informações interessantes para nós, mas é a
proclamação do Evangelho em que estão dadas uma vez portodasas bases novas
a respeito de nós e detodaa criação em JesusCristo:o que Deus fez em nosso
favor e que nova situação a obra de Deus criou graciosamente paratodasas
esferas e relações da vida.
3) CONTEÚDO DAEPÍSTOLAEM RESUMO:
Capítulos 1 e 2:
Sãoconstituídosbasicamentedo que Deus, em Seu Amor e Vontade
soberana, tempropostodesde a eternidade;
Capítulos 3a4:1-24:
São expressivos dos grandes atos de Deus; isto é: aquilo que Deus tem feito e
revelado como o "mistério do Evangelho" presente de forma total em Jesus Cristo;
Capítulos 4:24 até o final da epístola:
Estelongo trechoéuma repercussão dos Atos de Deus: Seu amor, Sua luz
através da vida da Igreja esobreo mundo. É exatamente—após tratar das obras
de Deus que aqui dão a medida exata daNaturezada Igreja como resultado da
ação de Deus (a Igreja é obra de Deus em Jesus Cristo)—que a carta vai tratar da
Missãoda Igreja no mundo também como resultado da mesma presença e obra de
Deus em Jesus Cristo; o sentido da presença da Igrejaemtodasas esferas e em
todasas fronteiras da vida é dado como uma resultante dos atos de Deus em Jesus
Cristo que criarama nova ordem derelações (acomunidadecristã) e que constitui a
nova vida ou aboanova de salvação para todos.
É muito extraordinário que o conteúdo deEfésiosnos ofereça o mesmo
movimento teológico que temos no Evangelho segundo João e que se resume no
versículo 16 do terceiro capítulo: "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que
deu o seu Filhounigênito, para que todoaquelequenelecrê nãopereça, mas tenha
a vida eterna". Os cristãos não vivem daquilo que negam, mas daquilo que podem
afirmar e confessar como osatos de Deus.SobreDeus esobreo homem,sobrea
comunidadee arespeitodepessoas, quanto a extensão do Reino de Jesus Cristo
sobreos poderes do século(aeon),aos cristãos é dado conhecer as novas de
salvação como atos praticados por Deus mesmo. Daío método que a epístola

seguena proclamação do Evangelho apoiando-se não nas bases da argumentação
lógica que pode ter seuvaloralterado como variável é o coração humano.
Se Deus mesmo é a base e o motivo, nenhuma variação deve ser receada. A
Igreja está edificadasobreo fundamento dos apóstolos e dos profetas sendo Jesus
Cristo mesmo a pedra angular (Ef2:20). A Igrejaobviamenteestá dispensada de
alicerçar-se e de fundamentar sua responsabilidade senão nos atos de Deus
mesmo. Há epístolas paulinas emque o apóstolo parecetomar uma posição
defensiva porque a verdade do Evangelho mesmo, a Igreja visada na carta ou a
própria pessoa do apóstolo estão sendo atacados seriamente. Em Efésios,
entretanto, um tom de júbilo triunfal, "falandoentre vós com salmos, entoando e
louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais" (Ef5:19),
determina ocaráterde cada pensamento e de cada sentença. É o júbilo de quem
vive pelo privilégio de conhecer asboasnovas concernentes a todos os homens,
tanto gentios como judeus que induz o autor a omitir até mesmo as "provas
escriturísticas" usadas nas outras cartas de modo geral.
Temos no caráter e na forma da epístola aos Efésios uma imagem muito rica
do apóstolo como "evangelista":elemostraum Evangelho noqual confia
inteiramente, pois a dimensão do mesmo coincide com a Pessoa dopróprio Deus.
Não há nenhum perigo de que falte realcomunicaçãoou amor pelo homem,
quandoum evangelista como Paulo testifica confiar no Evangelho como
SUFICIENTE!
Forade qualquerdúvida, esta confiança faz parte inseparável da Missão da
Igreja—é umdos sentidos do próprio testemunho da Igreja. Tratar da restauração
desta confiança já em si seria uma verdadeira renovaçãodentro da Igreja e,
especificamente, uma totalrenovaçãode nossas formas tradicionais de 'pregação'
do Evangelho como 'sermões' dados dos púlpitos. Efésios nos auspicia pela forma
em que nos mostra o Evangelho(formaestaque o próprio Evangelho determina)a
possibilidade de exame dos métodos e do conteúdo bemcomo dos objetivos
daquilo que nós chamamos hoje de evangelização ou de responsabilidade
evangelística da Igreja.
4) QUESTÕES QUE OFERECEM PROBLEMAS ESPECIAIS:
Apresenta-nos a epístola algumas questões cuja solução racional nos escapa.
Todavia, não podemos deixar de encará-las humildemente. Aliás, devemos tratar
dessas questões para nos tornarmos mais conscientes da impossibilidade humana
em transformar a Palavra de Deus em mero objeto depesquisae curiosidade
intelectual. Os problemas levantados pela Epístola nos auspiciam uma atitude de
humildade perante o fato "invulgar" do Evangelho, mostrando-nos a medida exata
de nossa contingência humana e levando-nos a desistir da pecaminosa tentativa
em "desnaturar" o mistério da Palavra e violar o "escândalo" da mesma. Temos que
nos convencer de que os limites da razão humana não são os limites da Vida e
muito menos ainda os limites da Palavra de Deus. Nenhuma palavra humana pode
capturar a Palavra e esgotá-la em sua plena significação. Esta tentativa
pecaminosagerou muito conflito ao longo da História por se pretender com uma

palavra (geralmenteum conceito filosófico) aprisionar a Livre Palavra de Deus em
Jesus Cristo revelada para sempre.
1."ELEIÇÃO"(erradamente chamada depredestinação)—é muito claro na
Epístola que o apóstolo proclama o Evangelho como a revelação de uma "decisão"
e uma "eleição" por iniciativa de Deus "antes da fundação do mundo" (Ef1:11-14).
Há uma série de verbos indicativos desta realidade. Numa leitura superficial do
texto e mesmonum estudo mais cuidadoso do sentido etimológicoépossível a
conclusão "fácil" de que o autor esteja tratando de um determinismo filosófico e
esteja de plenoacordocom a mentalidadetradicional da "dupla" ou "simples"
predestinação. Será real esta conclusão? As referências à eleição em Cristo podem
ser consubstanciadas numa doutrina ou crença determinista? Na simples fidelidade
ao texto, sem pretender solucionar a questão, devemos sublinhar certasrealidades
que o autor busca explicitar:
a)osujeito dos verbos empregados—Paulo emprega uma terminologia em
que procura comunicar precisamente a "gratuidade absoluta" do ato em que Deus
nos torna"herdeiros do seu amor"ou“filhos adotivos"; istoéos verbos conjugam o
amor(ágape),totalmente determinado porDeus em nosso favor. Entretanto, Paulo
empregatais verbos (inclusiveo verboproorisasque aparece emEf1:11),com o
grande propósito de adorarnesteato redentivo (a eleição em Cristo), o amor
soberanamente livre de Deus revelado."Eleitos em Cristo"e"em amor"são
absolutamente sinônimos.
b)a fonte detodasas bênçãos—Paulo, por outro lado, comunica com este
sentido de"salvação antecipada"—a eleição na eternidade da vontade de Deus
em seu amor—que é o amor de Deus a fonte exclusiva detodasasbênçãos
concedidas à Igreja e que a Igreja é um resultado precisamente dessa decisão do
amor de Deus.Esteéo sentido maior da grande palavra do Evangelho—a "graça"
que redime o pecador.
c)"proorisas hemas"-(“nos predestinou paraEle”-Ef1:5)—Este particípio
subordinado ao verbo principal indicacomofoi que Deus noselegeue, com uma
precisão totalmente nova, indica afinalidadede nossa eleição. A eleição não
constituium fim em si nem mesmo um fim para os eleitos. Ela é efetivada dentro do
movimento total e do propósito total do amor de Deus que determina tudo.
2."CONHECIMENTO" E "INTELECTUALISMO" —Efésiosapresentauma
ênfasesobrecertas palavrasque podem induzir a uma noção intelectualista da fé
cristã. São as palavras gregas“apokalypsis"(revelação),"sophias”(sabedoria),
“katalabesthai" (compreensão) e a palavra"gnosei"(conhecimento).Entretanto
esta palavra"gnosei"que teria dado margem paratodaa confusão de gnosticismo
bíblico, não aparece como uma simples "glosei",pois Paulolhe antepõe um"epi"e
emprega"epignosei"(que é muitofreqüenteem suas epístolas e é como aparece
no Evangelho de João). Não há então possibilidade de confusão, pois se trata
daquele conhecimento“que vem decima”,que vem por revelação de Deus e não
por conquista humana. Paulo ora a Deus para que os cristãos sejam dotados do

"espírito de sabedoria" e de "revelação". Paulo está convencido de que os eleitos
são os que ouviram a "palavra da verdade" (Ef1:13) e podem crescer em
conhecimento (Ef1:17;Ef3:19;Ef4:13) e que são responsáveis pelacomunicação
ao própriouniverso (Ef2:7;Ef3:10) desta "multiforme sabedoria de Deus". Que
atitude de arrogância pode derivar dai para a Igreja em relação ao mundo?Será
que épelo conhecimento de certas coisas extraordinárias que se justifica a conduta
de prioridade da Igrejasobreo mundo? Esta questão de suma gravidade vamos
tratar naexegesesobrea Igreja especificamente.
3.)"MISTÉRIO" ou "SUPERSTIÇÃO"? —É na Epístola aos Efésios que
encontramos certas realidades cuja ênfase tem sido dada pela melhor teologia
reformada; por exemplo: "que Deusatuapor grande amor e graça" (Ef2:4,7); que
"Deus ama" a Igreja até ao pontode "entregar-se a si mesmo" em Jesus Cristo por
ela (Ef5:2,25), e torna-se um exemplo deque cada um deve amar assimao seu
próximo com mútua sujeição (Ef5:21). Mas, Efésios apresenta um apelo com
respeito a Cristo num sentido e numa dimensão que se poderia chamar de uma
"cristologia redentiva de alcance cósmico"! Exatamente na Epístola em que se trata
tão intensamente da presença de Cristo "pela fé" no coração humano, apontando
certa noção deinterioridadeda fé cristã, é que somos surpreendidos com
expressões que apontam para "regiões celestes", para "habitantes dos ares", para
"potestades domaligno" e para as "hostes da maldade" (Ef1:19;Ef2:1;Ef4:8;Ef
6:11).
Em Efésios temos duas ênfases:o amor de Cristo e o caminho de Cristo no
ser humano; a outra é a que assiná-la a Cristo como "aqueleque desce às partes
inferiores da terra e que sobe às alturas celestiais" (Ef4:8,10); Cristo éaqueleem
quem Deus exerceu a eficácia do Seu poder a ressurreição tendo-o colocado à Sua
direita acima de todo poder, dando-lhe todo o domínio e submetendo tudo a seus
pés(1:20-22).Isto é, em Efésios,Jesus é maior que tudo e tudo está submetido à
sua autoridade, mesmo aqueles que se rebelam, tais como os"principados e
potestades (1:21; 3:10 6:12), os séculos(aeon)e das gerações (Ef2:7;Ef3:5), do
príncipedo ar, maldade ou maligno (Ef2:2;Ef4:27;Ef6:11).
A totalidade do mundo (Ef1:10), o ar, até regiões celestes (Ef2:2), parecem
estar cheios e .dominados por tais espíritos. É muito impressionante que a epístola
fale tanto na "sabedoria e no conhecimento da verdade" e ao mesmo tempo use
uma constelação de expressões de conotação supersticiosa. Tal fato levanta
problemas muito sérios para a nossacompreensãoda Cristologia dada na epístola
em que Cristo éa "cabeçasobretodo ouniverso" (Ef1:10)—temos aí sem dúvida
uma dimensão cósmica da fé cristã. Mas, como em Colossenses, Cristo não está
em guerra com oUniverso e sim "reconciliando todas as forças e fazendo a paz".
4)ECLESIASTICISMO: (OU VIDA COMUNITÁRIA)?—É, como já
dissemos, a epístola que trata, em sua verdadeiraessência, da Igreja. Muitas
epístolas do Novo Testamento sãoendereçadas a uma ou outraIgreja em alguma
cidade do mundo Mediterrâneo;Efésiostambém. Mas, em adição, Efésioséuma
cartasobrea Igreja,sobrea Igreja com“I”Maiúsculo segundo podemos discernir
no grande documento do apóstolo. Nãosobreos problemas de determinada

congregação local, mas da IGREJA em suaUnidade(Ef4:3), em sua Santidade (Ef
1:4;Ef5:27), em sua Apostolicidade (Ef2:20;Ef3:1;Ef4:7,11;Ef6:15-20) e em sua
Catolicidade (Ef2:19;Ef4:13;Ef6:18). No foco da epístola está, mais uma vez, a
IgrejaUniversalemtodasas Suas relações. A concentração de Efésios no tópico
"Igreja", encontra alguns paralelos no Evangelho de Mateus, na primeira Epístola
aos Coríntios, nas epístolas endereçadasa Timóteo e a Tito, em I Pedro e nas sete
cartas do Apocalipse em seus capítulos2e 3. Quanto mais a Igreja tem crescido
mais tem crescido o interesse dos estudiosossobrea questãoda"Natureza da
Igreja". Atualmente a Igreja Católica Romana e a Comissãode Fé e Ordem do
Conselho Mundial de Igrejas estão fascinados por este tema. Haverá apóio na
epístola aos Efésios para as noções deuma Igreja Mundial de acordo com o
pensamento Católico Romano e o pensamento Protestante?
Efésios nos ensina que a Igrejaé o Corpo de Cristo (Ef1:23;Ef4:4,12;Ef
5:30); que a Igrejaéa "plenitude daquele que é tudo em todos" (Ef1:23). Dai, será
possível concluir que a Igreja seja a 'extensão da encarnação',a "sociedade
redentiva" ou a expressão histórica da 'naturezadivina'? Leitores que por natureza,
nascimento ou inclinação pessoal sejam Católicos Romanos ou Anglicanos parece
que sempre se regozijam em justificar com Efésios todo o seu eclesiasticismo! De
qualquer forma, ansiosos ou jubilosos, o fatoéque todos nóstemos a tendência de
justificar "nossa" Igreja como a portadora da real presença de Cristo e chegamos
até a tomar a decisão de determinar tal presença... Entretanto, face a tal problema
convém lembrar sempre que dois evangelistas narram o estranho acontecimento
em que a "assembléia em torno de Cristo" foi o obstáculo para queumapessoa
tivesse acesso a Cristo (Lc 5:18-19 e Mc 2:1-4)! É possível que a Igreja constitua
uma parede a separar o homem de Cristo impedindo-lhe comunhão com Deus?
Haverá possibilidade de tal problema? A Igreja pode chegar à terrível tentação de
colocar-se como Igreja no lugar de Cristo? Tudo o que Efésios nos oferece sobre a
Igreja se refere à obra de Deus em Cristo em que a Igreja se deve inteiramente à
obra da graça do Senhor.
5)MORALISMO: (OU ÉTICA "EM AMOR")? —Nenhum pesquisador sério
da verdade e da sabedoria no campo da ética pessoal e comunitáriapode
questionar o valor de termoscomocrescimento e perfeição amor e justiça, poder e
unidade.Tais conceitos brotam naepístolacontra toda a mentalidade da impureza
do paganismo que contrasta com a nova vida que se abre em Jesus Cristo: (Ef
4:13,17-24;Ef5:3,8). Paulo, entretanto, vai até ao detalhe especialmente no
chamado "código doméstico" (Haus-Tafeln) em que nos dá exortaç ões
concernentes à vida cotidiana do homem e da mulher, pais e filhos, senhores e
servos (Ef5:21 6:9). Tais exortações são dadas e fundadas em duas palavras
chaves do texto: "submissão" e "obediência" (Ef5:21,33;Ef6:1,5). Tal fato tem
feições que tendem a uma espécie de autoritarismo e conservadorismo moral que
não incluem justiça e possibilidade de mudança ou "revolução" nas relações
humanas. Parece agravar-se o problema quando alguns estudiosos observam
certa omissão da epístola quanto a doutrina da segunda vinda de Cristo.Embora
não se possa negar o silêncio da carta quanto a dimensão escatológica em
específico, pode-se pelo menos constatar uma ênfaseunilateral na realidade da
vida terrena. No capítulo seis, especialmente, o autor dá claramente a idéia de uma

aceitaçãototal, em submissão, do servo ao seu senhor sem encorajar qualquer luta
por modificação.
Parece, por outro lado, que o autor de Efésios ignora que "nós não temos aqui
nossa última cidade" (Hb 13:14) e parece esquecer que "nós somosestrangeiros e
peregrinos sobre a terra" (Hb 11:13;1Pd 2:11). Enquanto outros livros do Novo
Testamento tratam claramente dadispersão da Igrejaou da vida cristã no mundo
como uma vida em "diáspora" (Tg 1:1;1Pd 1:1), o autor de Efésios ensina
explicitamente que "vós não sois mais estrangeiros e forasteiros, mas sim
concidadãos dos santos e família de Deus" (Ef2:19)! Que estranha parece ser esta
"casa de Deus"! Quão aprisionante sujeição (Ef5:21 eEf6:5)! Que grande
inspiração para conselhos legalistas quando não há nem possibilidade de uma
porta aberta pata libertar o escravo do seu senhor autoritário, nem mesmo
possibilidade de emancipação da mulher ou do homem quando vítimas da injustiça
ou impiedade!
Aí estão as questões que oferecem os principais problemas para a exegese
nesta epístola do Novo Testamento. Os grandes perigos e problemas de
determinismo, intelectualismo, superstição demonológica, eclesiasticismo, e,
finalmente moralismolegalista! Referi assim cada problema não somente para
provocar nossa reflexão mais profunda e criativa, mas, especialmente, por
fidelidade aos textos e para desafiar-nos a uma visão mais integral de um estudo
bíblico que nos liberte da fragmentação da Palavra de Deus. Um dos mais sérios
problemas no estudo bíblico estáprecisamente nas interpretações que violentam o
sentido do Evangelho e o reduzem a "evangelhodo nosso pobre reino individual,
deixando de ser o "Evangelho do Reino de Deus".
O único método de "preparação para o Evangelho da paz" (Ef6:15) e a
correspondente tarefa da evangelização nãoéo estudo de "métodos de
evangelismo" e sim a comunhão com o Evangelho mesmo. É este o plano da
epístolaaos Efésios; daí sua relevância para a nossa presente situação.
Tentaremos nas páginas seguintes acompanhar o autor naapresentação do
Evangelho que ele nos dá naproclamaçãoaos "santosem Cristoeem Éfeso".

CAPÍTULOI
A PROCLAMAÇÃO DOS ATOS DE DEUS
"PorqueEleé a nossa paz, o qual de ambos, fez
um; e, tendo destruído a parede de separação que
estava no meio, a inimizade, aboliu na sua carne a lei
dos mandamentos na forma de ordenanças para que
dos dois criasse em si mesmo novo homem, fazendo a
paz, e reconciliasse ambos em um só corpo em Deus,
por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade."
(Ef2:14-16)
Efésios não parte de abstrações ou de princípios especulativos, mas sim de
eventos indicativos da Ação de Deus na História em Jesus Cristo especificamente.
É uma epístola que parte da conjugação dos verbos que proclamam, que
comemoram osgrandes atos de Deus praticados em e por Jesus Cristo. Aqui, nesta
carta de Paulo, temos a explícita referência a"mão de obra"de Deus (Ef2:10), a
"perfeita humanidade" (Ef4:3), a um "novo homem" criado conforme à imagem de
Deus (Ef4:24) ou"nova natureza",segundo atradução RSV e conforme Cl 3:9). O
Evangelho que Paulo é comissionado a proclamar aos gentios (Ef3:8), como "das
insondáveis riquezas de Cristo",éapresentado basicamente como a morte, a
ressurreição e o domíniouniversal de Jesus Cristocomo expressão do amor de
Deus para com a humanidade no contexto do mundo "judeu-gentílico".
1.a) ASEPARAÇÃO DESTRUÍDA PORJESUS CRISTO
"PAREDE DA SEPARAÇÃO " (mesotoichon)-Ef2:14
Estas duas expressões são chaves do conteúdo total da epístola: a chamada
"parede de separação" que foi removida ou aniquilada,tendoperdido totalmente
sua significação (por tersido anulada) por Cristo. Na totalidade da carta o apóstolo
nos mostra que o Evangelho é a ação de Deus que se movesobreeste eixo: Cristo
fez aPaz destruindo o muro de divisão. Eis porque a própria compreensão da Igreja
comoumarealidade de"relações"não nos pode escapar no estudo desta epístola.
O eixo da ação de Deus em Filipenses, Colossenses e Romanos são argumentos
Cristológicos—o eixo em Efésios é arealizaçãoda Paz pela destruição da parede
de separação: (Cl 1:15-20;Cl2:14; Fp2:6-11; Rm 3:1-26,etc.)

QUE SIGNIFICA ESSA "PAREDE DE SEPARAÇÃO"?
Podemos examinar primeiramente quatro possibilidades de sua significação
na epístola:
a) Aparede de separação pode ser uma alusão à parede divisória do
templo de Jerusalém que separava os judeus adoradores dos ge ntios
visitantes.Aquela paredesem dúvida,selouaos pagãos como aqueles que são
"do lado defora". Pode também ser uma alusão ao anjo dando guarda em volta da
terra prometida em Gênesis 32:1-2. Há tambémumareferência na parábola
profética do Livro de Isaías5:5 em que a Casa de Israel é chamada a "vinhado
Senhor" e Deus promete derrubaro seu muro afimde ser pisada.
Alguns estudiosos do Novo Testamento sustentam que a carta aos Efésios foi
escrita pelo ano 70.Nestecaso Paulo não seria então seu autor. Oelementomais
forte paraestescomentaristas é exatamente o nosso texto emEf2:14 que,
segundo eles, se refere à destruição de Jerusalém e do templo, emconseqüência,
pelos romanos. Mas, neste caso, nos parece muito estranho que a catástrofe
histórica que foi a queda de Jerusalém esteja servindocomoobjeto adornado com
um argumento da obra de JesusCristo, isto é, um argumentocristológico da mais
alta relevância poissobreElerepousa o sentido da obra de JesusCristo como autor
da paz, sendo usado para simplesmente adornar a queda de Jerusalém! O fato é
que o muro do templo e os muros de Jerusalém não esgotam o fundamento do texto
em sua significação.
b) Outra possibilidade de compreensão do pensamento de Paulo aos
Efésios éa referência à leimosaica.A lei havia assumido uma função divisionista
segundo a interpretação rabínica que havia erigidoumcorpo de ordenanças e
estatutos estabelecidosemcerto modo para facilitar o cumprimento da Lei. Tal
corpo de ordenanças era causa de divisão muito forte. Em Romanos, Gálatas e
Efésios há uma distinção idêntica entre a Lei do Senhor e as "interpretações" dos
rabinos fariseus (Rm 7:13; 3:31; Gl 3:19). Além do problema destas
"interpretações", denunciadas como verdadeira corrupção da Lei, o autor de
'Gálatas trata da função "tutelar" da Lei, implicando nisso, umsentido transitório da
Lei em relação ao sentido permanente da revelação da fé (Gl 3:23). A parede
abolida por Jesus Cristo poderia significar para o autor as ordenançasrabínicasou
a própria Lei, em sua função detutoraaté a chegada de Cristo. O capítulo terceiro
da segunda epístola aos Coríntios parece apoiar esta interpretação quando trata da
"remoção do véu" na antiga aliança pela nova aliança; ali o autor trata exata e
explicitamente da Lei como sendo o "ministério da condenação" escrito em tábuas
de pedra"—"glorioso", mas inferior à glória do "ministério da justiça"!
Paulo mostra,sem sombra de dúvida, emGálatase em Romanos que a paz
com Deus e aliberdade da vida dos filhos de Deus não se alcança à glória de
maneira nenhuma pela prática estatutária das "obras da lei".Somenteuma atitude
escravizadaà mentalidade legalista e formalista poderia sugerir a noção de que
haja alguma possibilidade de se alcançar "méritos" perante Deus mediante a
observação de certos deveres rituais. Com efeito, deacordocom Efésios 2:14-16
—a "lei de ordenanças e estatutos"—seconstituinum instituto divisionista entre

Judeus e Gentios,colocando-os numa situação de inimizade mútua em face de
Deus. Na discussão das "obras" (Ef2:5,8), Paulo focaliza a mesma perspectiva das
Epístolas aos Romanos eGálatas.
Realmente, o ensino a respeitoda Leiéo mesmo nas trêsepístolas paulinas.
A parede ou o murodestruídopor Cristo pode significar precisamente a anulação
da função divisionista da Lei (motivada pela mentalidade legalista) sem ferir de
maneira alguma a validez da Lei na economia da redenção.
c)A "parede"que divide os homens uns dos outros e de Deus e que foi
removida por Cristo, pode ser uma referência à "cortina" ou "véu" do templo
de Jerusalém que separava o Santo dos Santos.Em Marcos 15:38 o incidente
em que se rompe o "véu do santuário" está relacionado diretamente à "hora" em
que Jesus Cristo "expira na cruz". Afirma o texto literalmenteque o "véu rasgou-se
em duas partes de alto a baixo". Isto porque a morte de Cristo é o evento que
possibilita a abertura docaminhode acesso ao Pai. Em Hb 10:19-22há a referência
precisamente a este sentido aqui mencionado.
d)Finalmente,a "parede abolida"—pode significar as barreiras entre
o homem e Deus, entre o homem e o homem, que consistem em "figuras" de
poder nomeados como "a njos", "principados", "potestades", "hostes do
maligno".O autor parece ter em mente um "reino invisível", formado de poderes
incontroláveis, idéias, normas, ordens deforçasque verdadeiramente dividem e
separam a terra dos céus que Deusgoverna. Entretanto, Paulo também afirma a
presença desta "ordem deforças" nas "esferas celestiais". Aquilo que nós
chamamos pela palavra "inferno" pode significar este "reino" deforçasde
separação. Então a "parede" de que Efésios trata afirmando que Cristo destruiu,
pode ser uma perfeitametáforapara os poderes dominantes de caráter angélico e
demoníaco que tornam a vida humana uma vida miserável.Estespoderes, na
Epístola aos Efésios não aparecem apenas em relação ao homem, massão
tratados em sua relação cósmica. A"parede" de separação pode tambémenvolver
os níveis "racionais", "irracionais", "mágico", "religioso", "individual" e "coletivo",
enfimtodasas esferas de que participa a vida humana como as esferas de que ela
não participa. Efésios declara a "atuação"destespoderes sem discutir a natureza
dos mesmos.
Temos uma indicação cheia de significado para nossa compreensão, embora
não nos ofereça muita segurança, de que a compreensão"legalista e meritória" das
relações com Deus e os chamados "rudimentos cósmicos" são coisas idênticas. É
uma possível conclusão a que chegamos da leitura em Cl2:8 e Gl4:3-9—onde a
"Lei" (como ordenação legalista) e os "rudimentos do mundo" (stoicheia tou
Kosmou) são a mesma coisa. Em Efésios 2:14 não só a parede da assim chamada
"lei natural", e das "obras meritórias", mas também a "parede" no sentido de
mentalidade ou de estruturas mentais da vida são declaradas dissolvidas. Parece
haver um relacionamento da "parede abolida" com a totalidade dasforçasquede

uma forma ou de outra, atingem a vida humana tanto de fora para dentro como de
dentro parafora.
A seleção de um dos quatro significados acima apontados para a expressão
do apóstolo que procuracomunicar o significado da própria morte de Jesus Cristo
na Cruz, é muito improvável que possa ser feita.A variedade de significação de sua
linguagem e o fato de nela estar referido o sentido mais central da mensagem da
Igreja—o significado da morte do Senhor—nos adverte seriamente a não
limitarmos a realidade do textopaulinosobrea "parede destruída" à esfera
"religiosa". É inquestionável, quando lemos Efésios e, especificamente o versículo
quatorze do segundo capítulo, que se trata do Evangelho cujo poder e implicações
são concernentes às esferas políticas, cósmicas, intelectuais, morais ou éticas até
às distinções físicas e metafísicas detodasas estruturas da vida do homem e da
sociedade. Traduzindo na linguagemcontemporânea: Efésios proclama o que
JesusCristo temfeitocom as divisões existentes entre raças e nações, entre
ciência e ética, entre leis naturais e códigos sociais, povos primitivos e povos,
progressistas, os deforae os de dentro, entretodasas instituições onde se joga
com o ser humano. O testemunho de Efésios a JesusCristo é inequívoco quanto ao
poder desua morte para quebrar, destruir e superartodasas fronteiras e divisões
entre os homens. Ainda mais, Efésios proclama que Jesus Cristo reconciliouo
homem com Deus e criou a ordem nova das relações para todos os homens.
1.b.)CONFESSAR JESUS CRISTO .
Tal é o alvo fundamental. Éafirmar em novas relações, a destruição definitiva
detodasas formas de forçasdivisionistas, de hostilidade, de inimizade, de
segregação e a nulidade detodasorte de "gueto".
Nem rico, nem pobre, judeu ou grego, homem ou mulher, de qualquercorou
raça, pode pretender superioridade e, muito menos, apropriar-se de JesusCristo
com alguma ambição de exclusividade (Ef 4:22). Não tem sentido vermos o homem
pelos critérios divisionistas e artificiais que criamos—Deus revelou em JESUS
CRISTO uma NOVA HUMANIDADE, é através deste ato grandioso de Deus, que
se chama JESUSCRISTO, que podemos e devemos saber o que é o HOMEM. O
"velho homem" estabelecido pelos elementos da "concupiscênciaenganosa" foi
declarado irreal, totalmente vão, anulado e com eletodaordem de relações que tal
"humanidade" estabeleceu.
JesusCristo criou uma realidade para todos os homens, uma vitória em
benefício de todos—para ambos—(Ef2:14;Ef4:21-24); não pode haver
discriminação alguma que já não haja sido condenada e anulada por JesusCristo.
Há agora um novo rosto de homem perante todos os homens. Podemos repetir com
Efésios que agora "há um novo homem criado segundo Deus" (Ef4:24)! Não há
mais nenhum significado em permanecermos em nossas próprias obras, pois já
temos a "mão de obra" de Deus (o novo homem) criado em Jesus Cristo para as
"boasobras" (Ef2:9)! É inteiramente vão chamarmos JesusCristo "Senhor,
Senhor", a não ser quesignifiquemospor "Cristo" este novo homem, o fim das
divisões separatistas, "uma realidade nova feita deambos", um "novo corpo" onde
morrem os dois antagonistas de Deus (Ef 2:14-16).

Dizer "Senhor,Senhor" significa afirmar o império de umReino novo, uma
nova ordem de relações cujo critério é aquele "homem novo"; isto é,dizer Jesus
Cristo, significa dizer: RECONCILIAÇÃO, ou PAZ (Ef2:16 eEf2:14,17). Em termos
negativos, significa dizer "abolição" e "ab-rogação" de cadahostilidadee detodas
as hostilidades (Ef2:14)!
Abolição e Paz—estas grandes palavras nos arrancam da utopia, ou do
escárnio, de que o Cristianismo deve produzir uma espécie de humanidade sem
sexo, sem raça, sem diversidade de ocupação e situação social —um
"super-homem". As palavras "nem judeu, nem grego, nem escravo, nem livre, nem
homem ou mulher; todos sois um só em Jesus Cristo" (Gl 3:28; Cl 3:11; 1Co 12:13)
pelas quais Paulo descreve a obra de Cristo, não significam a inexistência de sexo,
nacionalidades, classes e ocupações. De outra forma Paulo não incluiria em suas
cartas exortações especificas a judeus e gregos (Rm 2:17;Rm11:13), aesposas
(Ef 5:22; Cl 3:18), servos e senhores (Ef 6:5), etc. Mas, a fé em Jesus Cristo,
enquanto se trata de Cristo mesmo, significa as duas coisas—existem as
distinções—e, exatamentenele, elas são transformadas e incorporadas na
possibilidade de uma vida comum: os que estavam formalmente em oposição, que
se excluíammutuamente, separados por circunstâncias que pareciam ser um
"muro" intransponível.
Confessar JesusCristo, de conformidade com Efésios significa afirmar
simples e redentivamente: COMUNIDADE, CO -EXISTÊNCIA, NOVA VIDA,
RECONCILIAÇÃO, PAZ (Ef2:14).
As implicações desta equação para a totalidade da vida da Igreja hoje são
enormes (JESUS CRISTO —RECONCILIAÇÃO —COMUNIDADE —
CO-EXISTÊNCIA—PAZ)!Podemos, graças àdádivada Palavra de Deus em
Jesus Cristo, e devemosrepensarsempresobrea Natureza e a Missão da Igreja
como relevante em qualquer situação e face aqualquerovelha ou nova fronteira
que desafie a nossa fé. Podemos pensarsobrea Natureza e a Missão exatamente
como a "nova humanidade" (esta forma que o amor de Deus tomou em Jesus Cristo
para estar presente na história e expressar-se como "nova humanidade serva"; aí
teremos a perspectiva para um re-exame fecundo e renovador (revitalizante) da
Missão Cristã frente às tensões reais e artificiais do mundo contemporâneo:-a
desordem das relações internacionais, a pré-potência de qualquer Nação sobreas
demais, desordem das relações eclesiásticas, a tensão das gerações e das
diferentes classes sociais, as tensões entre os diversos "mundos" que estão
tentando em“coisificar”o homem (transformar o homem reduzindo-o a uma coisa,
um objeto como, por exemplo, mão de obra, uma ficha, um número, etc.).
Efésios confessa e celebra com júbilo intenso(éuma carta cheia de melodia!)
a grandiosidade do Ato de Deus chamado JESUSCRISTO em cuja realidade da
morte e da ressurreição temos a criação da Nova Ordem das Relações.
Confessar Jesus Cristo é afirmar a nulidade detodasas formas e critérios de
relações que segregam e fragmentam a vida humana;é afirmar que, uma vez por

todas, Deus aniquilou,que Deus anulou a força de todos os "rudimentos do
mundo", reduziu a nada as "potestades" do século emtornoàs quais estava
estruturada a vida etodasas relações humanas.
Mas, COMO é que Cristo destruiu o "muro de separação" entre o homem e
Deus? Seguir o significado de Efésios é ir bem mais longe do que simplesmente
afirmar que Jesus Cristo é o "evento" de unificação social! Efésios coloca a maior
ênfase nofato de que "somente JesusCristo é aquele que traz a Paz e a
Reconciliação entre Deus e o homem". Isto é,somenteJesus Cristo é o EVENTO
REDENTOR.
Como é que Efésios proclama a efetividade da Paz? A resposta a esta
pergunta básica é uma resposta múltipla: "em seu sangue"(Ef2:13); "em sua
carne", (Ef2:15); "através da cruz", (Ef2:16); "em si mesmo" (conforme o texto
gregode Ef2:15-16) ; "em um espírito" (Ef2:18). As palavras "sangue", "carne",
"um corpo", "umespírito" nenhuma outra realidade circunscrevem senão JESUS
CRISTO MESMO! Isto significa que a totalidade de sua humanidade, e, mais
especificamente, sua morte na cruz, seu sacrifício é o caminho único em que nos
vem a Paz. As palavras "em sua carne", "em seu sangue", em um corpo", são as
brutais palavras em que se traduz o concreto sacrifício do amor substitutivo—é
exatamente por "substituição" que somos redimidos e reconciliados com Deus e
paraDeus—isto é—"EM JESUS CRISTO" somos salvos e não "EM NÓS
MESMOS"!
Em Efésios, a morte de Cristo na cruz não resulta em miséria, mas naquilo
que, se chama "at-one-ment",istoé,o resultado redentivo, reconciliador do homem
com Deus, a Paz do homem com Deus e com o homem é o saldo da morte de Cristo
para a humanidade. A epístola aos efésios não apresenta uma doutrina elaborada
da Encarnação ou da Expiação. Mas, trata a morte de Cristo explicitamentecomo
"uma entrega de si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus" (Ef5:2)! Trata,
entãodos resultados, dos efeitos permanentes da morte de Cristo, da ressurreição
de Cristo, de CRISTO MESMO, como o "evento" da reconciliação e da Paz!Eleé a
nossa Paz". Contudo, a cruz é mencionada como o meio da reconciliação; as
palavras sacrificiais "sangue" e "carne"expressamo tom do argumento (Ef
2:13-18).A dádiva de si mesmo "como oferta e sacrifício", em Efésios (Ef5:2) é
afirmada exatamente para estampar perante seus leitores o "paradigma de Cristo"
para a nova vida inaugurada: da mesma forma como "Cristovos amoue se
entregou a si mesmo por nós..."Em semelhante caminho podemos discernir em
Cl1:22, em Hb 2:14e no Evangelho segundo João 1:14, que a carne e o sangue e a
morte de Cristo (isto é a totalidade da humanidade de Cristo sacrificada), são o
meio em que a Graça e a Verdade, a Reconciliação e aVida, o Amor e a Paz, são
dadosao homem. Paulo é extremamente explícito:Eledeclara em palavras que
não deixam dúvida alguma, que pregar significa "tornar conhecido eproclamado",
nada senão "JesusCristo e este crucificado" (1Co 1:23;1Co2:2).
Os termos sacrificiais"sangue" e "carne" usados em Efésios 5:2, afreqüência
com que a morte de Jesus Cristo no Novo Testamento é situada em referência ao
capítulo 53 do livro Isaías—taisfatosindicam claramente que temos, numa

compreensãoconjunta dos textos do Antigo e do NovoTestamento, a mais vivida
resposta à questão do "por que e do como que a morte de Cristo "faz a Paz"!
Enquanto no Antigo Testamento o "muro"(o véu do templo!)está construído e
o rompimento do mesmo tem que ser feito por um "mediador", em Efésios o próprio
resultado da "dádiva" do mediador é apresentado. Nãosomentepara Israel ("os
que estavam perto"—Ef2:17), mas igualmente para os Gentios ("vós que antes
estáveislonge"—Ef2:13)—a salvação é alcançada.
No Antigo Testamentoo "muro" permanece para o povo de Israel enquanto
que no Novo Testamentoeleé abolido. Esta éa diferença entre ambos. Contudo
em ambos, há o elementoessencial que lhes é comum: o homem escolhido por ato
de Deus como o "mediador", o "intercessor".Eleintercede perante Deus pelo
oferecimento de si mesmo e a totalidade de sua vida finalmente.Elese coloca não
ao lado de Deus contra os pecadores a acusá-los, mas,ao contrário,Eleestá,
estranhamente, ao lado dos“inimigos” (os que não têm comunhão e se rebelram
contra Deus na condição depecadores)de Deus para orar, para interceder porEles
diante de Deus—sua intercessão, sua oração é o oferecimento de si mesmo, seu
corpo, sua vida, sua honra, sua bênção, sua eleição, seu amor total a Deus "pelos
transgressores", os malfeitores (Isaias 53:12 eEfésios5:2), "por nós"!
Como os Efésios têm "Paz" com Deus em Jesus Cristo"?Nós agora podemos
responder estapergunta: porqueEles podem contar com UM que, do seu lado,
intercede por eles perante Deus. Elesnão estão maissozinhos. Poreles tem orado
Aquele que é Justo (1Jo 2:1) e que é "amado" (Ef 1:6). Aquilo que Efésios não diz
explicitamentesobrea intercessão de Cristo é claramente refletido em João
17:1-26; 1Jo 2:1, e Hb 5:7;Hb7:25, e é dramaticamentedescrito emtodasas
narrativas dos evangelistas quando mostram aJesus Cristonuma cruz entre dois
criminosos e ao mencionar as "últimas" palavras do crucificado. A intercessão feita
porJesus Cristoé a soma total de sua vida e sofrimento que o símbolo dos
apóstolos expressou no uso dramático do verbo "Padeceu...". Esta realidade do
intercessor é totalmente nova, é inauditaaIsrael. No antigo Testamento temos a
confissão de Moisés: "Eu não possosozinholevar todoestepovo, pois me é
pesado demais" (Nm11:14-15 e Ex 18:18).
Efésios denuncia como completamente inúteis, estéreis, todos os meios e
engenhos do homem em fazera Paz. Ela é a grande decorrência, a máxima
palavra, que vem do sacrifício de Jesus Cristo;é a realidade "pré-determinada" por
Deusem "seu filho amado" (Ef1:4-6), o que efetivamente temos "em seu corpo"...
"através da cruz" (Ef2:13) em que o "seu sangue", a "sua carne" aboliram a
muralhade separação entre o homem e Deus e entre homem eos demaishomens:
"Paz aos que estavam longe eaos que estavam perto".
A profundeza, a verdade e o poder desta confissão do nosso próprio pecado e
a "entrega que Cristo fez de si mesmo" por nós é que nos torna possível
compreender a redenção como uma dádiva para todos que necessitam e não como
uma possessão privada de certa "classe" de pessoas (os do lado de dentro)! Se não
podemos crer que Jesus Cristo intercede, ora morre pelos "estrangeiros", pelos

"desesperados", pelos "a teus no m u n d o" (Ef 2:12), então não cremos queEle
morreu por "nós".
Sua morte e seu chamado, a Paz e a Reconciliação queElecriou são para
ambos e entre ambos: os de "perto" e os de "longe". Ou Cristo é a "boanova" para
qualquer um ou, então, seu sacrifício será nulo e vão. Em Efésios2:13-18, Paulo
proclamainequivocamente, e nós somos chamados a crer que a morte de Jesus
Cristo não foi em vão—que o muro de separação entre o homem e Deus, entre o
homem e o homem, foi destruído.
Aboanova da "destruição da parede de separação" e a "nova humanidade"
criada para a vida de paz é incondicional.Venenoé injetado no "Evangelho da Paz"
se nós limitamos sua validez por qualquer condição ou restrição.
Para falar em termos de Efésios:nós fomos eleitos em Jesus Cristo (fomos
aproximados a Deus e temos paz uns com os outros) nã o porque sejamos
"irrepreensíveis e santos", mas para que o sejamos "peranteEle" (Ef 1:4).
Cristo morreu por nós não porcausa de "nossa pureza ou santidade", mas, ao
contrário, pela nossa impureza einiqüidade, afim de "santificar a Igreja pela
purificação... e apresentá-la peranteEleem glória, sem mácula, ou ruga, nem
cousa semelhante, porém santa e sem defeito" (Ef5:26,27). Temos que observar
nestas sentenças tão explícitas a completa ausência de qualquer condicional. A
obra de Cristo proclamada emfavor do homem na carta aos Efésios desconhece
por completo o condicional "se"!E, por outro lado, não podemos deixar de observar
o uso freqüente das conjunções finais e consecutivas: "de modo que" e "afim de
que"!
A morte de Cristo, sua efetividade histórica, sua significação total é a
possibilidade suficiente da nova ordem de relações. Primeiro e sempre as "boas
novas": nós fomos alvo de intercessão e oração, do amor e do sacrifício de Jesus
Cristo; então, o chamado a "andarmos de maneira digna da vocação a que fomos
chamados" (Ef4:1). Em primeiro lugar a eterna vontade e o eterno plano de Deus
em redimir-nos no "sangue" de Cristo "em amor" (Ef1:7) é "acesso ao Pai" (Ef2:18;
3.12).Antes de tudoJesus Cristo desce "às partes mais baixas" e "ascende às
partes mais altas" com o propósito de "cumprirtodasas cousas" (Ef4:8-10;Ef
1:20); então, nós podemos ter esperança e intercede para que "sejamos cheios de
todaa plenitude de Deus" (Ef3:19) . Em primeiro lugar somos "salvos pela graça...
então, segue: "afim de que andemos nelas" (Ef2:10;Ef4:1ss).
A novidade de vida e a retidão do nosso caminho são o propósito e a
conseqüênciados atos deDeus que celebramos na morte e na ressurreição de
Jesus Cristo (exatamente como em Romanos 6:3ss). Não existe nada que
estabeleça condicionamento do Evangelho. Qualquer tentativa em promover um
"evangelismo" que aprisione a mensagem da cruz a qualquer condição, que a
"suspenda" até que certos preparativos "espirituais" sejam feitos na Igreja e o
mundo possa observar, será sempre "um evangelismo nosso" e uma traição ao
Evangelho—atos de Deus—que coloca a cruz antes e acima de tudo. A

proclamação deJesus Cristos crucificado é a pré-condição e o fundamento
exclusivo para a proclamação da nova vida e do novo caminho "de antemão
preparado" para que andemos segundo as "boas obras" que Deus mesmo
preparou (Ef 2:10. "Cristo crucificado" é muito mais do que certaqualificaçãoda
mensagem dos cristãos para o mundo e de sua vida no mundo. Realmente, a
"crucificação do Senhor da Glória" (1Co2:8), isto é, a suprema humilhação do Filho
de Deus" (Fl 2:6), é averdadeiramotivação, fundamento, centro e sentido de "tudo"
que os cristãos têm para testificar por palavras e por obras no mundo em todos os
tempos. E há apenas um evento, único em equivalência à crucificação de Cristo,
que permanece, uma vez para sempre, no coração mesmo do Evangelho que a
Igreja proclama: A RESSURREIÇÃO.
1.c. A RESSURREIÇÃO: UM SOBRETODOS.
A ressurreição é o evento por excelência. Não nos é possível argumentá-la;
não podemos explicá-la; não podemos reduzi-la a um objeto de comprovação.
Podemos receber e participar, segundo a mensagem do Novo Testamento, de sua
significação. É básico sabermos que Efésios, como os demaislivrosdo Novo
Testamento, nãose preocupa em tratar de como foi que Cristo ressuscitou.
Em contraste com a literatura apócrifa e outros documentos de grupos
sectários, Efésios não pretende penetrar no secreto de "um evento" sem paralelo
algum nahistória e na experiência humana. Contudo, a significação, o poder e as
conseqüênciasdemandam interpretações e proclamação. Podemos questionar
como pode a morte de um homem afetar e mudar o curso dos séculos e as vidas de
milhões e milhões de pessoas em todo o mundo!
A ressurreição de Cristo pelo poder de Deus é a solene aceitação do
"oferecimentosacrificial" de Cristo em favor do homem. O oferecimento feito a Deus
permanecena dependência da aceitação divina: (Ef 5:2; Gn 8:21; Ex 29:18; Ez
20:14). O caminho em que osacrifíciode Cristo éaceito por Deus corresponde à
totalidade da sua morte e àunicidade absoluta da crucificação. Esta é a
significação da ressurreição em Efésios; significa que o "mesmo Jesus Cristo que
desceu às partes mais baixas da terra" (Ef4:9), é por um ato poderosode Deus
levantado ao mais alto lugar de honra (Ef1:19-22; Hb 2:9). Não somente as
palavras, (ensinos), os atos e os sofrimentos, mas a totalidade,Jesus Cristo
mesmo, é recebido por Deus e elevado à mão direita de Jesus (Ef1:20) . Tudo que
encontramos noNovoTestamento é conexão inseparável com a morte de Cristo
torna permanente o evento da sua crucificação.
A ressurreição revela que o sacrifício feito na cruz é para Deus "aroma
aceitável". A ressurreição é a resposta de Deus à oração intercessória da
crucificação de seu Filho pelos pecadores. A ressurreição é a manifestação
gloriosa do amor que fez Jesus Cristo entregar-se até à morte na cruz; eEleé a
fonte do nosso amor para com Deus e uns para com os outros.
Em Efésios três aspectos da significação daressurreiçãosãoenfatizados

especificamente:
1º)A ressurreição de Cristo por Deus é um ato de tal graça e de tal
magnitude de poder que só-mente Deus pode mostrar."A suprema grandeza
do seu poder" (Ef1:19) e a "suprema riqueza da sua graça" (Ef2:7). A ressurreição
significa que tal poderetal graça se manifestam em "supremacia" como o
reverso da ordem normal "vida-morte" sob a qualestávamoscativose sem
nenhuma esperança (Hb 2:15), estabelecendo a nova ordem: "morte -vida"!
"Aqueleque desceu... é o mesmo que subiu..."(Ef4:10); "Vós... nós os que
estávamosmortos... Ele deu vida... com o propósito de mostrar nos séculos
vindouros a suprema riqueza da sua graça em bondade para conosco em Jesus
Cristo" (2:1,5,7). "Pelo que diz: desperta tu quedormes, levanta-te de entre os
mortos e Cristo te iluminará" (Ef5:14). Isto é, para o autor de Efésios, falar de Deus
significa falar do poder e da graça de Deus em favor do homem escravo na morte
sem nenhuma possibilidade de libertar-se! Efésios trata daquela graça que se
manifestou, o Deus que se revelou a si mesmo, pela derrota da morte no "evento"
daressurreiçãode Cristo. Se silenciamossobrea ressurreição não podemos falar
de Deus. Nossa "fé será fútil", ainda mais: "se nossa esperança em Cristo se limita
apenas a esta vida somos os mais infelizes de todos os homens" (1Co 15:17,19).
Dizer "DEUS", segundo Efésios, no vale da morte e das tribulações da vida,
significa crer em e dizer: "RESSURREIÇÃO "!
2º)A Ressurreição é um ato de Deus com dimen sãoe relevância
cósmica.Entre todos os principados, potestades e poderes que influenciam e
determinam o curso da vida, danatureza e da história da sociedade e da mente,
nenhum parece ser tão onipotente, final e devastador como a morte. A despeito de
todos os expedientes "atenuadores" e "embelezadores",apesarde todos os
subterfúgios religiosos, a morte não é chamada injustamente pela Palavra de Deus
como o "último inimigo" (1Co 15:26).Viverno presente mundo não significa nada
melhor do que viver para morrer, isto é viver sob o estigma, sob o espetro da morte;
isto significa viver "miseravelmente"! Mas, eis o "inaudito para os escravos da
morte": há um Deus que estabelece algo totalmente novo—"a eficácia da força do
seu poder exercido em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e fazendo-o
sentar à sua direita... acima de todoprincipado, e potestade, domínio e poder, e de
todo nome que se nomeia não só nesteséculo (aeon), mas tambémno vindouro"
(Ef1:19-21). Dizer "ressurreição" significa que há UM DEUS (para quemnenhuma
das esferas da vida humana é alheia) cujo domínio é soberano às leis da natureza a
que nós estamos submetidos. A Ressurreição é o triunfosobrea morte.
3º)A Ressurreição é um ato "final", um ato de confirmação.De "onde"
Cristo está "assentado" (Ef1:20), pode e tem o propósito de "levartodasas coisas à
plenitude" (Ef1:23; 4:10), até mesmo o lugar da maior resistência—o coração ea
compreensão humana (Ef3:17,19).
Não é aqui que devemos tratar da razão pela qual Efésios não menciona
explicitamente a segunda vinda de Cristo (Parousia). O julgamento final certamente
não foi esquecido (Ef5:6;Ef6:8), pois a vida do cristão é uma vida sob o "tronodo

Senhor". Em Colossenses (Cl3:4) uma direta referência, como em outros
documentos do Novo Testamento, ao aparecimento futuro de Cristo é feita. Em
Efésios o propósito da ressurreição e daascensãodo Senhor é lançar "luz",
iluminar com sua própria luz, todos os eventos futuros. Que significa, por exemplo,
o fato de Cristo ser "elevadoà direita de Deus? Paulo explicitou o propósito: "afim
de levartodasas coisas à plenitude de Deus", ou, "afim de enchertodasas cousas
com a plenitude de Deus". Porque nenhum outro senão o "crucificado", o
"intercessor", o Cristo que quebrou o muro e que triunfousobrea morte",é que
pode responder a tais perguntas: a intercessão feita por Cristo tomou lugar à mão
direita de Deus! Ele vive sempre para interceder por nós" (Hb 7:25). Ele não
conquistou tal glória para si mesmo, ao contrário, sua glorificação, comodecorrente
de sua humilhação até à morte na cruz, tem o propósito do amor de Deus em favor
do homem, para o homem pecador. A glorificação deJesus Cristonão resultou de
nenhum plebiscito popular, não é um acidente da história ou um fato decorrente do
julgamentohumano: "Deus o exaltou soberamente e lhe deu "o nome que está
acima de todo o nome" (Fp2:15) .
O resultado da ressurreição é freqüentemente descrito em umaterminologia
de conotação "política". Se Cristo está "entronizado" (Ef1:20) notrono de Deus,Ele
nãoapenas está numa relação de soberania com todas as formas de domínio e
com todas as expressões de poder, mas Ele está para serreverenciadopor todos
como Rei e Senhor (Fp2:9-11). Em tal situação o "seu reinado",invariavelmente,
afeta a vida de todos os habitantes. Assim, Cristo exerce sua autoridade "acima de
todos" (Ef1:21), nãosomente sobre poderes demoníacos ou angélicos,mas a
totalidade dos homens estão sujeitos ao domínio de seu poder. Nos relatos do
Evangelho assim como na epístola aos Efésios, o "Evangelho de Cristo", é
introduzido e apresentado como uma série de "novas" ou declarações "políticas".
Ele anuncia mudanças profundas que atingem o governo e que atingem a
situação social e concreta das comunidades humanas. Tal atuação tem aquele
sentido expresso nas símiles do Reino de Deus com o "fermento" e com a
"semente" e o "sal" (Mc 4:27). Éumaobra de Deus; é completa. Mas é uma obra
que de princípio a fimenvolve o homem. Em Efésios, termos como "estrangeiros"
(xenoi); "peregrinos" (paroikoi—"paroquianos"); "concidadãos" (sympolitai);
"comunidade" (politeia), são termos que assinalam muito claramente o caráter
"político" ou o sentido "citadino" (de“polis”), que o Reino de Deus implica. Paulo
afirma a nova ordem criada em Jesus Cristo como determinante da seguinte
relação: "vós não sois mais "paroquianos" (paroikoi), mas sois "concidadãos"
(sympolitai) dos santos..."(Ef2:19). Na Epístola aos Colossenses Paulo usa a
mesma terminologia e indica claramente a ação de Jesus Cristo como a ação
"libertadora" que transfere a vida deumaesfera de domínio para outra, de um reino
para outro (Ef1:13). Enfim, a ressurreição e entrosamento de Jesus Cristo são
eventos que revelam o domínio de Deus sobre todas as esferas de poderna
conseqüentecriação deumanova "humanidade", de umanova "cidadania". Temos
que discernir aqui que Jesus Cristo é o "método" e o "espírito" do governo de Deus.
A ressurreição significa que Deus identifica solene e singularmente, demaneira
exclusiva epara sempre, o seu poder e o seu governo com a pessoa do
"intercessor" que destrói a "parede de separação".

O tema da ressurreição de Cristo é tratado em Efésios intensivamente. Os
termos"sofrimento","tentação" e "tribulação", freqüentementeempregadosnos
relatos dos evangelhos e das epístolas, são omitidos na carta aos Efésios. A morte
de Cristo que dátodaa perspectiva da "Teologia Crucis" éfocalizadadesde o
sentido mais profundo do triunfo da vida eterna no evento singular da ressurreição.
Enquanto aênfaseda Epístola aos Colossenses é o "morrer em Cristo" (Ef2:20),
em Efésios é "em Cristo nós ressuscitamos". Caberia aquiumestudo bem
aprofundado desta realidade, pois a Epístola aos Efésios sublinha o "Já" da obra da
redenção—isto é, os resultados efetivos, atuais do Reino de Deus presente em
Jesus Cristo. O sentido em que aressurreiçãoé proclamada, bem comotodaa
Cristologia dada na Epístola, indica um sentido de oposição à mentalidade
"dualista" a respeito do mundo; Paulo parece questionar aquilo que nós nos
habituamos superficialmente (conforme a filosofia medieval), a chamar e designar
por "milênio".
A oposição a essa mentalidade "milenarista" é indicada na carta aos Efésios
de maneira muito radical e profunda no fato de que a obra deDeus em Jesus Cristo
—"o Evangelho da Paz"—é a destruição das "separações", a "anulação da parede
de divisão", é um ponto final na mentalidade "departamentalizada" da vida; ainda
mais positivamente, ela é a "congregação", a "unificação" detodasas coisas em
Jesus Cristo como "cabeça de tudo! Estarealidadeemtodaa amplitude de sua
dimensão está indicada em Efésios 1:10 onde o apóstolo emprega uma expressão
de tradução muitodifícile sempreincompleta, mas que no original parece abarcar o
significadodo "Evangelho da Paz"—é otermogrego que o autor nos dá na
composição de "anakephalaiosasthai"—"convergir em Cristo (cabeça)todasas
coisas", reduzir tudo aogovernode Cristo", "unificando nEletodasas coisas" tanto
as que estão nos céus como asque estãosobrea terra! Este mesmo sentido de
"unificação",esterompimentoradicaldo dualismo expresso na filosofia medieval, é
dado quando Paulo trata da morte (equivalente em Efésios à encarnação de
Cristo), e da ressurreição como "descer" e "subir"... para... (Ef4:10).
1.d.) OESPÍRITO: PODER PARACOMUNICAÇÃO
A "descida" e a "ascensão" de Cristo, a suaentregatotal e sacrificial, sua
morte intercessória pelos mortos em pecado, a fé e a esperança de todos os que
vivem por meiodele, podem ficar reduzidos a nada mais do que símbolos a
despeito da firmeza do pensamento, da proclamação e dos escritos do apóstolo
Paulo.
A menos quetodaesta realidade histórica e sua relevância permanente da
obra de Deus em Jesus Cristo sejam comunicados em sua validez, ela será vazia e
infrutífera. Neste ponto é que nos encontramos numa decisiva .encruzilhada Sem a
"comunicação" nos encontramos no abismo insuperável entre o que é verdadeiro
"nos lugares celestiais" e o que deve ser verdadeiro "sobrea terra", entre os
eventos e as dádivas de Deus e a nossa nebulosa apreensão desta revelação.

A vitória, a transposição deste abismo só é possível mediante uma genuína
"comunicação". Nós estamossuper acostumados ao uso de "meios de
comunicação" que já chegamos mesmo a confundi-los com "evangelização". Meios
psicológicos, estatísticos, meios de propaganda, etc, não são o Evangelho nem a
evangelização. Efésios não faz uso deles. De acordo com Efésios, o problema da
comunicação é solucionado pelo próprio Deus e permanece emSuas mãos. O
poder do Espírito de Deus é que conduz o homem à compreensão, a aceitação e
obediência do que Deus tem feito. "Deus nos abençoou comtodas as bênçãos
espirituais" (Ef1:3);“...ouvistes a palavra, o evangelho da vossa salvação, e nele
crendo,fostes selados com o Espírito Santo da promessa, que é o penhor da nossa
herança" (Ef1:13-14); "emum mesmo espírito temos acesso ao Pai" (Ef2:18);
"estaissendo edificados para habitação de Deus noEspírito" (Ef2:22); "...o
mistério... como agora foirevelado pelo Espírito" (Ef3:3,5); "...esforçando-vos por
preservar aunidade do Espírito no vínculo, da paz" (Ef4:3); "não entristeçais o
Espírito de Deus em que fostes selados" (Ef4:30); "...mas enchei-vos doEspírito"
(Ef5:18); "orai em todo o temponoEspírito" (Ef6:18).
O Espírito também é significativoquando fala do "dom de Cristo" como dádiva
aele mesmo e a cada um dos membros dacomunidade—Igreja (Ef3:7;Ef4:7e
cf. 1Co 12:7). As riquezas e a medida dos dons dispensados em diferentes
ministérios entre ossantos com o propósito de "equipá-los para o serviço a que
cada um é chamado (4:11) e na continuidade da edificação e crescimento do "corpo
de Cristo" (a Igreja)—(Ef 4 :12-16 eEf2:20-22).
Que mensagem podemos receber destasreferênciasao Espírito na carta aos
Efésios? A ênfase aoEspíritoparece ser equivalente a ênfase na ressurreição de
Cristo. Para o autor de Efésios, o dom do Espírito é a evidência da ressurreição de
Cristo. Este dom, eSomenteeste, prova o interesse de Cristopelos homens, e seu
poder para criar a comunhão entre o homem e Deus, para criar comunidade e o
serviço aceitável a Deus.
Sem a realidade do Espírito estamos sempre tentados a relegar a crucificação
e a ressurreição de Cristo ao mesmo plano de qualqueracontecimentohumano;
podemos considerá-lassimplesmentecomo qualquer outra história religiosa, lenda
ou mito. Ou, então,sem o Espírito, podemos considerá-las como eventos
"espúrios" e de uma era pré-científica ou de uma época de crenças miraculosas. É
exatamente o dom doEspíritoque impede que um criticismo falso prevaleça
expressando-as como "não científicas"—"mitológicas" ou "antiquadas". Pela
dádivado Espírito, Deus está sempre apto a surpreender o homem, por mais
superior que possa ser a feição científica que o homem tenha do mundo.
Nas obras do Espírito,Deus ainda está operando no "coração" da própria
história e experiência, nacomunidadedos homens como em suas mentes. Os
grandes eventos da crucificação e da ressurreição, tornam-secontemporâneosno
Espírito. A atuação do Espíritosobrea terra na riqueza de seus ministérios são
provas para nós de que a obra redentora de Deus está se efetivando, não é um fato
passado, não é um "fato" completo da história.É pela sua própria continuidadee pela
suaauto-comunicaçãoque aperfeiçãoda obra de Deus é revelada mais claramente.

Quatro características desta permanente obra de Deus devem ser
assinaladas, quando lemos o testemunho de Efésios ao Espírito Santo:
d.1.)O Espírito Santo é o Poder de Deus—poder demonstrado pela
ressurreição de Cristo de maneira suficiente (Ef1:19) e do Cristoressurreto(Ef4:7):
Efésios pressupõe, naliberdade com que fala do Espírito de Deus e do poder do
Cristoressurreto, que Cristo e adádivado Espírito são inseparáveis. A glória de
Cristo é declarada pela dádiva do Espírito a Cristo e pela dádiva que Cristo faz do
Espíritoaos membros dacomunidadecristã. O Espírito Santo éomesmo Espírito
do poder da ressurreição. Sua santidade é identificada com o poder peculiar que
realiza a dádiva da vida onde e quando a morte parece triunfar.
d.2.)O Espírito Santo é a poderosa "manifestação" de Deus. Deacordo
com o Evangelho de João, oEspíritoé o "Espírito da Verdade".Ele cumpre a
missão de "revelar", "ensinar","lembrar", "testificar", "falar", "proclamar" e "conduzir
àtodaa verdade" (Ef14:17,26;Ef15:26;Ef16:7). Deacordocomolivro de Atos dos
Apóstolos (At2:33;At 2:14) o Espírito "derrama" coisas para serem "vistas" e
também "ouvidas". Na primeira epístola aosCoríntiosodom de Deus é chamadode
"a manifestação doEspírito" (1Co12:7). Efésios chama o Espírito Santo como o
"Espírito deSabedoria e de Revelação no conhecimento" (conforme Isaías 11:2). A
revelação do"mistério" é efetuada por meio do Espírito(Ef3:5) e o "selo" do
Espírito (Ef1:13;Ef4:30) éobviamenteum evento de que Efésios está consciente.
O fato da manifestação doEspírito, segundo o NovoTestamento, sempre
implica como indispensável acomunicaçãodo conhecimento da Verdade ou a
revelação; colocando num plano mais objetivo podemos dizer que acomunicação
do Espírito implica na informação para a inteligência do homem, para a mente
humana. Em Efésios o Espírito é a própria Sabedoria de Deus que se comunica,
como em João: "Ele vos ensinarátodasas coisas e vos guiará emtodaa Verdade
(Jo14:26;Jo16:13).
NãoSomenteno Evangelho de João e em Atos 2, mas também em Efésios, a
essência doEspíritocomo "revelador" pode ser assinalada como a ação através da
palavra", isto é, falar, testemunhar e ouvir! Claro está que não se trata de qualquer
palavra, mas sim daquela palavra que é a "espada do Espírito" (Ef6:17). "Ouvindo
a Palavra da Verdade, o Evangelho... e crendo", e "sendo selados pelo Espírito...”
(Ef1:13) são realidades que não podem ser separadas como sefossemdiferentes
manifestações da "eleição de Deus". Efésios trata dos "ministériosda palavra":
"apostolado", "profecia", "evangelismo", "pastorado" e "ensino" quando trata do
"dom" do Cristo ressurreto à Igreja (Ef4:7,11).
Também "orar" e "salmodiar" noEspírito, indicam que a Palavra e o Espírito
são inseparáveis. Tal fato traz implicações muito grandes para a Missão da Igreja,
pois condiciona ao evento do Espíritotodaa atividade da mesma.
d.3.)O Espírito Santo é o poder daunificação.Elecongrega os homens
pela obra de Deus e debaixo da obra de Deus. OEspírito, que equipa a Igreja para

o ministério já dado em Jesus Cristo, atesta de maneira suprema o que temos
denominado a "perfeita obra de Deus" que é o próprio Cristo crucificado e
ressuscitado, e como já descrevemos, (com base em Efésios 2:13-18), como a
criação da Paz e a criação do novo homem em relação a Deus (que tem acesso ao
Pai).
O amor de Deus por seu Filho (Ef1:6), e por nós (Ef1:4;Ef2:4;Ef5:1), e o
amor entre os homens (Ef1:15;Ef4:2;Ef5:25,33;Ef6:21,23)—esteamor—não
é assunto desimples palavras ou afetos apenas, mas é o amor em que fomos
amados em Jesus Cristo, criativo e efetivo! Conforme Romanos (Rm5:5) "o amor
de Deus tem sido derramadoem nossos corações peloEspíritoSanto" e conforme
Gálatas(Gl6:2) "levai as cargas uns dos outros, desta maneira cumprireis a Lei de
Cristo" que vem em seqüência atodo um capítulodedicado aos "frutos do Espírito".
Esteamor tem o poder de criar a comunhão, de congregar o que estava separado
deunir o que estavadesunido;Eleé o criador daUnidade(na língua inglesa háuma
palavra muito adequada a expressar esta realidade: "atonement" que traduz o ato
sacrificial de Cristo na cruz e ao mesmo tempo seuefeito na criação daunidade—
at-one-ment): RECONCILIAÇÃO. Éprecisamente oEspírito"o vínculo da paz" a
que estamos chamados a guardar com diligência (Ef4:3).
Conhecer, pelo poder do Espírito, quais são as riquezas da glória de Deus, e
encontrar acesso aElepelo mesmo Espírito (Ef1:18;Ef2:18;Ef4:7),esteéo dom
de Deus que "edifica" e que causa o "crescimento" de umacomunidadesobrea
terra—que se chama "IGREJA" (Ef2:22). A Igreja é obra do Espírito Santo; e a
Igreja—tal Igreja—aevidênciaexplícita paraa ressurreição do Cristo crucificado.
Agora podemos formular uma terceira significação para a expressão inicial:
"comunicaçãopelo Espírito". Ela significa nãosomente a ação de um poder que
"suplanta" e que "informa" com a Verdade tantosobrea vida comosobrea morte;
significa também a criação de umacomunidade—umacomunidadecom Deus e
com "aqueles" homens que eram estranhos uns aos outros.
O Cristo ressurreto manifesta-se a si mesmo na criação e sustentação, na
equipação (construção) e no crescimento da Igreja que é talcomunidade. A Igreja é
o povo que "vive em Cristo" como o "novo homem" (Ef2:15). Ela permanece
peranteEle"gloriosa" (Ef5:27). Dia a dia seus membros—defrontados pela
hostilidade do velho homem—são renovadosnoespíritode seus entendimentos
(Ef4:22). Como "casa de Deus" e "família de Deus"—acomunidaderesultante da
obra de Deus—constitui o "corpo de Cristo" que manifestaumavida como o
apóstolo descreve em Colossenses 3:12: "eleitos de Deus, santos eamados",—
emafetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de
longanimidade...".O sentido desta vida decomunidade, segundo Colossenses e
Efésios, se expressacomoresultado do amor que éo"vínculo da perfeição" (Cl
3:12-14).A Igrejaé a "fraternidade" criada por Deus (Ef 2:1)) ou a "armadura de
Deus" (Ef6:11).
Acomunidadeda Igreja, criada pelo Espírito de Deus, é uma "unidade" que
cresce e que esta sendo "construída" (Ef2:21;Ef4:12-16); ela não é de modo

nenhum uma "sociedade histórica" cuja finalidade seja a de preservar o "status quo"
. Ela não é uma assembléia com compromissos de timidez, que, pormedonão se
atreva a correr riscos, mas é acomunidade"fortalecida pelo Senhor e pelaforçado
seu poder" (Ef6:10). A Igreja é aevangelista que, por sua presença, proclama a
remoção detodasas formas de "muros" entre os de dentro e os de "fora" do Reino
de Deus. Tal forma de presença da Igreja tem o sentido oposto à mentalidade que
somente julga e aceita como correto aquilo que está conforme ao seu próprio
interesseoubenefício. Com a mentalidade desomente "buscar o seu interesse"a
Igreja não seria IGREJA, mas seria "capitalismo" que procura e aceitasomente o
que lhe traz vantagens e benefícios próprios.
A Igreja não pode justificar sua presença e sua segurança futura pela
construção e observação de demarcações e "cortinas" entre nações,
denominações, congregações, ou ordens leiga e clerical. Pelo contrário, sua
presença deve seguir, pela segurança do Espírito já derramado, apresença de
Cristo em sua solidariedade total, sua identificação com os famintos, os que têm
sede, os que são escravos, os explorados, até com os criminosos epresosque,
obviamente, não parecem ser seusdiscípulosnem membros da Igreja (Mt
25:31-46; Lc 23:32-43).
Peloselodo Espírito Santo (Ef1:13;Ef4:30), não somente acomunidadedos
santos,mas a totalidade da humanidade está selada de certa forma, como a
circuncisão era um sinal que todos os judeus permaneciam para Deus (Ef2:11). A
Igreja que vivepelo Espírito, no seio do mundo, é uma "estampa", um "sinal" de
Deus. Ela mostra que a totalidade do mundo, a totalidade da humanidade é
propriedade de Deus e que não há nenhuma chance de escapar ao fato de que
todasas coisas foram entregues ao domínio de Jesus Cristo como "Cabeça" (Ef
1:22). A menos que a Igreja creia na presença do Espírito atualmente na vida da
humanidade, sua missão não terá nenhum sentido.
d.4.)O Espírito Santo é a "fiança" da futura consumação.A mensagem
de Paulo em Efésios nãoé de modo algum uma perfeição individual ou de uma
felicidade pessoal. Sua prospectiva, sua meta é: "Jesus Cristo é o tudo emtodasas
coisas" (Ef1:23;Ef4:10). Éa esperança de que "todos" cheguem até à estatura da
plenitude de Cristo" (Ef4:13). Paulosublinha de forma tal a palavra “todos”, que
seria um grave pecado tentar ignorá-laou desprezá-la. O triunfo do propósito de
Deus está manifestonestamesma dimensão e direção futura de "totalidade em
Cristo": "um só Deus e Pai de todos, que ésobretodos, por todos e em todos" (Ef
4:6).
Efésios nãoencoraja nenhuma esperança futura na linha em que tal
esperança é alimentada pelos tradicionais "sistemas meritórios". Efésios é uma
epístolaem que a "escatologia" (palavra do vocabulário bíblico que significa a
doutrinasobreas "últimascoisas", finais dos tempos), é colocada num outronívele
numa outra perspectiva. A questão não é se haverá ou não um julgamento final (Ef
6:8), mas sim o fato da vitória de Cristosobre"todasas coisas" (Ef1:10;Ef4:10),a
unidadefinal de "todos" perante e em o Único Filho de Deus (4:13). É uma tal
amplitude de esperança cristã assegurada para todos pelavitóriade Cristo que nos

dá a linha básica em que Efésios trata da escatologia: a "promessa" (Ef1:13;Ef
2:12;Ef6:2), a "esperança" (Ef1:18;Ef2:12;Ef4:4) e a "herança" (Ef1:14,18;Ef
5:5) não apontam em vão para a mesma direção. PeloEspíritoSanto, a esperança
e o triunfo da obra de Deus não servem de apoio a nenhuma pretensão deinteresse
privado e egoísta. SeDeus "é tudo em todos", não tem sentido algum qualquer
ansiedade quanto a existência individual futura. Efésios não promete "pastagens
celestiais" para determinadas pessoas, mas assegura eproclamao triunfo
completo da causa de Deus revelada em Jesus Cristo. OEspíritoSanto é oselode
que esta realidade não pode ser removida.
Temos que assinalar que a Obra que Deusrealizaatravésde Jesus Cristo e
pelo Espírito Santo não significa apenas um aspecto ou um segmento de Deus. Em
Efésios não há nenhuma base para a idéia da Obra de Deus como manifestação ou
operação de Deus para Deus mesmo. Não podemos falarexcetofalando deste
amor, desteplano, deste mistério e desta "palavra-ação" que tem sidorevelada
pelo seu Filho e pelo seu Espírito. E não há uma forma de rendermos graças a Deus
ou delouvarSeu Nomeexcetoem referência ao que Ele nos tem dado no passado,
no presente e ao que está antecipado nas bênçãos futuras, em nome de Jesus
Cristo e com oselo do Espírito Santo (Ef5:20).
Em Efésios o autor doque Deus tem feito e o que Ele tem feito corresponde
exatamente a expressão do "conselhode sua vontade" e o "seu beneplácito" (Ef
1:5,9,11). Esta vontade não é motivada por nenhumfatoraparte de Deus mesmo
em seu amor. "Antes da fundação do mundo" (Ef1:4), "de conformidade ao seu
beneplácito (1:5,9), "conforme às riquezas de sua graça" (Ef1:7;Ef2:7), "em
misericórdia", exatamente "por causa do seu grande amor com que nos amou" (Ef
2:4), tudo exclusiva e justamente por uma única forma e um único homem—"Jesus
Cristo",isto é, "em Cristo" (Ef1:3-13) .
Devemos observar quenenhumanecessidade ou ansiedade humana é
apresentada como motivação paraaObra deDeus. Isto significa, por outro lado,
que não hánecessidadehumana que possa condicionar, anular ou mudar o
"beneplácito" de Deus. Amisericórdiade Deus não está à mercê ou na
dependência da nossa miséria humana. Verdadeiramente segundo todo o Novo
Testamento, o que determina o curso da ação de Deus éexclusivamenteo seu
"beneplácito" para nos amar. Daí o fato básico de Paulo não cessar de adorar
através da chamada "eleição" ou "predestinação" ainflexívelgratuidade,a absoluta
gratuidade da redenção.
O plano de Deus referido em Efésios muitasvezes(1:10; 3:2,9)aparece em
conexão a umtermogrego (oikonomia)que pode ser traduzido pela palavra
"economia". Essetermo grego significaadministraçãode uma casa defamília,
principiogovernamental, estratégia ou dispensação. Seja qualforo sentido que
preferirmos, Efésios torna claro que Jesus Cristo e a revelação de sua obra nãosão
uma parte, mas é o coração mesmo do Eterno plano de Deus.

CAPÍTULO II
A COMUNHÃO DO POVO DE DEUS
A Igreja em sua origem, constituição e vida depende de três elementos
básicos:
a) A auto-revelação de Deus, que manifesta seu beneplácito eterno para
salvar os homens da morte criando-lhes uma nova ordem de vida;
b) O conhecimento domundo que procede de Deus, conhecimento que
determina o que é fundamentalmente necessário para que o homem participe
vitalmente do que éverdadeiro e bom;
c) A graça de Deus, que, de homens formalmente hostis uns aos outros, dá
origem uma "assembléia" (comunidade) que consciente e jubilosamente adora a
Deus e busca que os demais façam o mesmo.
Não há possibilidade de tratarmos da Naturezada Igreja sem redescobrirmos
o que está em sua base original:
1)REVELAÇÃO: nossa salvação da morte. Em Cristo, Deus planejou
eternamente nos amar; em Cristo a perfeita obra de Deus em seu amor foi
consumada; em Cristo "o mistério" da sua vontade nos foidado a conhecer (Ef
1:19). Nelenós fomos selados pelo "evangelho da nossa salvação" (Ef1:13). Mas,
uma eleição eterna, uma promessa e uma herança, uma obra perfeita, ficaria sem
valorse não tornasseconhecido que tal amor é real, ativo e efetivo. Amorque não
se declara a si mesmo e falha em criar uma livre resposta de amor não é totalmente
amor, ou, mais concretamente, não é o amor de Deus.
Este "propósito eterno" (Ef3:11) realiza-se no momento histórico escolhido
por Deus: "Quando chegou a plenitudedo tempo" (Gl 4:4), "na dispensação da
plenitude dos tempos" (Ef 1:10)"Cristo foi (constituído) cabeça de tudo. Mas, foi o
seu "beneplácito"... "para revelar nos séculos vindouros a suprema riqueza de sua
graça em bondade para conosco... em Cristo Jesus"(Ef2:7), que "aEleseja a
glória na Igreja e em CristoJesus portodasas gerações e para todo o sempre" (Ef
3:21).
Muito se tem dito e escritosobreanecessidadedo homem conhecer-se a si
mesmo afim de poder participar do seu ser "autêntico". O autorde Efésios,
entretanto, está pouco interessado no assunto do eu como objeto de conhecimento.
Este conhecimento é um objeto para oração e é uma questão de fé,Elenão nega,
masassentaenfaticamente: "O Pai da glória vos conceda espírito desabedoriae
derevelação no pleno conhecimentoDele..." está claro que não se trata do
conhecimento do "eu", conhecimento de mim mesmo, mas de "conhecer com todos
os santos".

Lendo Efésios percebe-se a insistência de Paulo na "revelação do mistério"
(Ef3:3) etodasassuas "dimensões" como a totalidade do amor de Deus (Ef3:18)
que "ultrapassa todo o entendimento" (Ef3:19),—o "mistério de Cristo" (Ef3:4), o
poder que atuou naressurreição (Ef1:19), e a esperança da herança dada aos
santos (Ef1:18).
A revelação deDeus questiona e desafia arazãoem lugar de negá-la. Ela não
exige de nós um "sacrifício da inteligência" para compreendermos "qual é a largura
e o cumprimento, a altura e profundidade do amor de Deus" (Ef3:18). Pois, o amor
de Deus "ultrapassa o conhecimento", e exatamente essatranscendênciado amor
de Deus é conhecida (Ef3:19), realmente permanece um "mistério". Mas, nos foi
dado a conhecer pela"pregação do Evangelho" e, por meio da Igreja, "a multiforme
sabedoriade Deus" é manifesta ao mundo (Ef3:4-10). A totalidade da obra de Deus
tem o caráter e o propósito da revelação. Aquilo que Ele fez em Cristo é com o
propósito de manifestação (o mesmo em Romanos 3:25-26 como em Ef 2:7). Afinal,
como é que podemos conhecer Deus? Somente pela Sua obra erevelação. Quão
impotentes e incompetentes somos nós para conhecer a grandeza da obra de Deus
que "não vem dos homens, mas procede de Deus"—"é dom de Deus" (Ef2:8).
A natureza da revelação de Deus é proclamada emtermosclaros. Nunca em
proposições a respeito dos atributos de Deus (dizendo, por exemploque Deus é
imortal, invisível, etc.), nem através de um código de vida moral, nem ainda como
uma lei perfeita de liberdade (como em Tiago 1:25); ao contrário, o que tem sido
revelado por Deus só o pode ser com base no fato de que: "Deus é rico em
misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou" (Ef2:4).
Eleé o Pai, cuja riqueza foi "derramadasobrenós" (Ef1:8).EleéEspírito
Único, o Único Senhor, o Único Deus e Pai (Ef4:3-6), revelou se a si mesmona
criação de um novo homem (Ef2:15), chamando-nos para sermos "um corpo" em
"uma esperança" e "em uma fé" (Ef4:4) e na promessa de que "cheguemos à
unidadeda fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus" (Ef4:13). Deus aceita o
sacrifício como um"aroma agradável" que é oferecido pela Paz e que proclama a
Paz (Ef2:14-18;Ef5:2). Através de CristoElefaz com que os que estavam perto e
os que estavam longe sejam aproximados e tenham acesso ao Pai de todos (Ef
2:13-18;Ef4:6).Eleconcede ao homemas "armas" para uma luta contra poderes
sobre-humanos (Ef6:10)—tudo isto e mais,é "revelado" como manifestação do
mistério do Deus que crioutodasas coisas (Ef3:9).
Observemos que é sempre um ato do Deus vivente, e não uma série de
informações a respeito de um "inativo" ser de Deus, quando Paulo trata da
"revelação" e do "conhecimento". Estarealidadenão é exclusiva daepístolaaos
Efésios: "... o que de Deus pode ser conhecido é evidente ... porque Deus o tem
manifesto. ...assim a criação do mundo, sua essência invisível (seu poder e
divindade eternos), são conhecidos por meio de suas obras" (Rm 1:19). "Conhecer
a Cristo" é "conhecer o poder de sua ressurreição e (a) comunhão em seus
sofrimentos" (Fp3:10). "... mas temos recebido oEspíritoque vem de Deus, para
que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente" (1Co 2:12).

EM SEUS ATOS—na fidelidade ao seu eterno propósito, ao Cristo
crucificado, e às promessas dadas a Israel—é que Deus revela quem é: sempre
"Nosso Pai" (Ef1:2, etc),e o que Ele é: quão pleno de graça, de riqueza e de poder!
É precisamente nesta auto-manifestação de Deus que o homem tem a sua
mais ampla possibilidade de vida. Pensar que o homem não é nada porque Deus é
"tudo em todos", é um enorme absurdo. Pois, em verdade, o homem é o único
beneficiário (herdeiro) desta grande ação de Deus em sua revelação de si mesmo
ao homem. Morte, impureza, injustiça, solidão, divisão, hostilidadeetodaa
situação humana que tais palavras ou outras possam expressar,encontramda
parte de Deus a mais inaudita expressão de amor que destrói aforçamá detodas
estas coisas transformando de maneira completa a situação do homem: (Ef2:4,7;
Ef5:2)!
Sentença após sentença, tudo o que Deus torna conhecido através de sua
revelação é asua ação, são as suas obras, na salvação do homem. "O Evangelho...
é o poder de Deus para a salvação" (Rm 1:16)! A "palavra da verdade" é
identificada com o "Evangelho da nossa salvação" (Ef 1:13). A glória própria e
devida para Deus "na Igreja" e "em Jesus Cristo" é uma e a mesma glória (Ef3:21).
Aquilo que Deus fez "em Cristo" Ele o fez para os homens como a existência da
Igrejasobrea terra deve manifestar.
Devemos também assinalar que pela revelação os homens se tornam
"participantes" e "beneficiários" na vida doDeus Triuno. "Não mais" são alienados
(separados) da "vida de Deus" como nostempos da "ignorância, da vaidade dos
pensamentos, da dureza dos corações" em que viviam "antes" (Ef4:17-18). Como
filhos, "como crianças", participam da "sabedoria do Pai" (Ef1:17), da "sua
bondade" (Ef2:7;Ef4:32), a tal ponto que podem ser chamados de "imitadores de
Deus" (Ef5:1)!RessuscitadosemCristo, são "colocados notronocomEle" (Ef2:5).
Como "membros do seu corpo", são "um só corpo" (Ef5:30;Ef2:16;Ef3:6;Ef4:4).
"Fortalecidos pelo Espírito" podem lutar contra os principados e potestades do
século (Ef6:10). Para usar a mesma sentença em 2Pe1:4—"são participantes da
natureza divina".
Unindo-os a si mesmo como em "sua morte na cruz", em tomandosobresi os
"pecados que eram nossa exclusiva propriedade", fazendo-nos "sua propriedade"
(Ef1:14;Ef4:8), tornando-nos santos em relação aEle, exatamente nós que
andávamos "segundo a vontade da carne" (Ef1:4;Ef2:3;Ef5:26)—desta maneira
é queDeus tem operado e tem se revelado ao homem.Ele"mostrou isso" para todo
o sempre (Ef2:7). É "isso" que deu a saber às potestades e aos principados (Ef
3:10) e, através da Igreja, Suamultiformesabedoria se torne conhecida.
Essa revelação "pelo Evangelho" (Ef3:4), mostra a solidariedade de Deus
com o homem e cria a possibilidade da participação do homem nas "riquezas de
Deus", que "ultrapassam a sabedoria" (Ef3:19). Nenhum homem pode falar de tal
confiança arespeitodo serviço de Deus pelo homem e suaesperançaparatodaa
humanidade senão aquele que recebeu a revelação de Deus. Paulo como os

demais "santos"e também com todos os apóstolos e profetas de Deus, recebeu a
mesma revelação (Ef 3:5; Cl 1:26). Mas,Elenão resiste à consciência de que aEle
"o último e o menor de todos os santos" em especial foi dado o privilégio de
participar do apostolado do mistério, isto é, "a graça de pregar aos gentios o
Evangelho das insondáveis riquezas de Cristo" (Ef3:3,8;Ef6:19).
Deus se torna conhecidopela obra da salvação dos pecadores em Cristo.A
fim depenetrarmos na plena significação desta realidade necessitamos
acrescentar algumasobservações mais quanto ao sen tido dostermos
"conhecimento" e "conhecer" nos livros da Bíblia. Aquilo que hoje é chamado o
conceitogrego deconhecimento corresponde à compreensão "racional" e
"científica" que imperou no mundo ocidental no século dezenove! "Conhecimento"
neste sentido pode ser definido como a soma do objetivo, do impessoal, do
controlável e do conveniente comoinformação a respeito de pessoas, de fatos ou
de cousas. É a habilidade com fatos, verdades, princípios, leis, métodos adquiridos
pelo estudo, pela pesquisa,investigação ou exercício intelectual. É o tipo de
conhecimento que "reduz" a verdade e até a própria realidade da vida a "conceitos"
e, exatamente esta parece ser uma das marcas da cultura humanista:a tirania do
seuconceptualismo, olvidando-se sempre que os limites da razão não são os
limites da vida! Não devemos hoje estranhar a falta de "humanidade" desta cultura.
"Conhecimento" no sentido bíblico,obviamente, não se ajustaaessa mentalidade
da culturaconceitualista. O conhecimento deumobjeto ou de um esqueleto implica
em que o homem é livre para dispor dele como "algo" submetido ao seu interesse e
opinião. Mas, a Verdade não éumobjeto nem umesqueleto, pois se fosse teria já
perdido o último de suas possibilidades e de suas credenciais.A pessoade Deus,
a Verdade e o conhecimento de Deus segundo a Bíbliasomente são identificados
numa perspectivabíblica total e profunda.
Na Bíblia as relações justas entre Deus e o homem (Mt 11:27;Jo 6:69;Jo
17:3-5;Gl 4:9;1Co 8:13;1Co13:12; etc.) são chamadas "conhecimento". Deus ou
Cristo "conhece" os que são seus e os que são seus o "conhecem" (Jo10:14). A
pior forma de separação é confessada quando uma pessoa diz a outra: "eu não te
conheço" (Dt33:9; Mt 25:12). No Antigo Testamento a relação maisíntima entre a
comunhão do esposo e sua esposa é descrita pelo verbo "conhecer" (Gn4:1,17,25,
etc.).De acordo comOs2:16,20; Jr 31:31-34 e Ez16, há uma analogia entre o
conhecimento de Deus no sentido da uniãoentre Deus e o homem e o
conhecimento que une esposo e esposa. Em ambos os casos "conhecimento" é
"comunhão" euniãoentre pessoas, uma que chama e responde, entre uma,que
recebe, entre uma e outra pessoa que se completam mutuamente. Do
conhecimento de Deus o homem aprende o quesignifica ser solidário e o que
necessita saber parachegar a ser uma pessoa solidária.
Em Efésios o plano de Deus derevelar-seaohomem, “fazer o homem
conhecer o mistério de suavontade", de "Jesus Cristo", e do "Evangelho" (Ef1:9;Ef
3:4;Ef6:19) é motivado pelo amor e pela graça de Deus (Ef2:4-7). A seus leitores,
aos quais Paulo escreve em grego, várias vezes ele explica o que é queElequer
dizer por "conhecimento" e "mistério".Eleo diz em plenas e profundas palavras: os
santos são os que recebem conhecimento de Deus, ou melhor ainda, são os que

são conhecidos por Deus (Gl 4:9;1Co 8:2;1Co13:12; conforme João 10:14 e2Tm
2:19).Eletem em mente exatamente o sentido de conhecimento que encontramos
no Antigo Testamento e não as noções de conhecimento da cultura helênica.
Paulo não nos dá uma série lógica de proposições, de axiomas, de princípios
objetivos, deatributos definidores dos quais nos possamos apoderar como uma
"soma" de conhecimento intelectual sobre Deus. Conhecimento de Deus, pelo
contrário, é uma "forma de vida"—é "nova existência", é "nova criação", é "nova
ordem de relações" (2Co 5:16-17ss)—não mais em "alienação", mas "perto" da
comunidadee da aliança de Israel" (Ef2:12). Tanto emOseías, Jeremias, Ezequiel
como na carta aos Efésios (Ef5:21-32) as relações entre esposo e esposa são
tratadas como uma analogiadarelação entre o Senhor e seu povo escolhido.
Não podemos fugir à conclusão de que emEfésiosos verbos "conhecer" e
"fazer conhecer"—excetonuma única alusão feita ao helenismo em que aparece
conhecimento (gnosis) (Ef3:19), denotam uma relação existencial entre Deus e o
homem que estava prometida no Antigo Testamento: "...porque todos me
conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor. Pois, perdoarei as
suasiniqüidadese dos seus pecados jamais melembrarei" (Jr 31:34). Isaías
afirmara: "A terra será cheia do conhecimento do Senhor" (Is11:9) ; " o meu Servo,
o Justo, com o seu conhecimento justificará a muitos, porque asiniqüidades deles
levará sobre si" (Is53:11).
No cântico de Zacarias (Lc1:77) lemos na mesma direção: "... para dar ao seu
povo o conhecimentoda salvação no redimi-lo de seus pecados, graças a
entranhável misericórdia de nosso Deus. O "conhecimento de Deus" é inseparável
do "amor a Deus"; Deus é para ser amado "com todo o nosso coração, comtodaa
nossa alma, comtodaa nossa força" (Dt 6:4-5) ;"comtodaa nossamente" (Lc
10:27). A totalidade do homem é escolhida para amar a Deus.
O conhecimento de Deusnunca pode ser um "manual" que possamos
carregar no bolso e que possa ser adquirido como adquirimos objetos de segunda
mão. NuncaElese restringe a uma parte da personalidade, é sempre emreferência
ao seu ser total. Enfim, o conhecimentode Deus é "o vínculo da Paz", a "nova
ordem derelações" que nos é auspiciada pelo "Evangelho daPaz", a salvação a
que fomos chamados" e na qualdevemos andar em relações cuja dimensão seja
dada por "toda humildade e mansidão, com longanimidade" e que nos "suportemos
uns aos outros emamor" (Ef4:1-2). Tal conhecimento em que sabemosque "Deus
é tudo em todos", não é uma negação dohomem, e sim a sua total libertação para a
amplitudeda vida de novas relações em Cristo.
2. É imprescindível que anotemos que na carta aos Efésios mais do que
em outro livro bíblico trata-se da "Igreja" e do "conhecimento".Estesdois
tópicos permanecem inseparáveis na epístola. AIgreja é o primeiro fruto da
revelação de Deus. Ela conhece aquiloque deve ser mostrado para a humanidade
inteira numa amplitudeuniversal. Aqui é o lugar certo para assinalarmos que esta
mesma realidade determina que a Igreja não viva para si mesma. Elanão recebeu
esteconhecimentosomentepara seu benefício privado. "A multiformesabedoriade

Deus se torne conhecida agora dos principados ... pela Igreja" (Ef3:10)
A IGREJA É O CANAL, É A FERRAMENTA DE TRABALHO PARA DEUS. É
enorme a sua responsabilidade pelo conhecimento que lhe foi confiado. Em Efésios
o privilégio imenso da Igreja (dos cristãos) por receber o conhecimento de Deus é
descrito sob a metáfora da luz: "antes éreis trevas; agora sois luz no Senhor. Andai
como filhos da luz" (Ef5:8). Tal sentença torna mui claro que a Igreja é um resultado
da ação de Deus que transformou "filhos das trevas" em "filhos da luz" com a
missão de que "caminhem como filhos da luz".
O mais responsável título e a mais séria comissão com que a Igreja é tratada
noNovo Testamentoencontramosna epístola aTimóteo:"...casa de Deus, que é a
Igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade" (1Tm 3:15). Tais títulos têm
alimentado não "pequenas pretensões" quando tomadosforada dimensão
profunda da responsabilidade esubmissão que lhes são implícitas. Quando
perguntamossobreanatureza da "verdade" de que a Igreja é "coluna",temos que
humilhar-nos para encontrarmo-nosde novo com Ela numa morte de cruz—é a
verdade que se humilha até à morte e morte de cruz (Fp2:7,8). O fato de "sermos
filhos da luz", sermos gerados pela verdade, implica em que nos devemos
totalmente à Verdade, à Luz que nos tornou filhos.
Auniãoentre "conhecimento" e Igreja pode ainda ser visto à luz do que lemos
naepístolaaosCoríntios(1Co8:1-3):"... o saber ensoberbece, mas o amor edifica.
Se alguém julga saber alguma coisa,com efeito, não aprendeu ainda como importa
saber". De conformidade a Efésios, o conhecimento de Deus não é um sistema de
pensamento ou de informações para serem rece bidos, possuídos e
convencionados. É muito mais do que isso. Conhecimentoou "iluminação dos
olhos do coração" é epermanece uma dádiva de Deus, pela qual devemosorar:
"não cesso de dar graças por vós... para que Deus... vos conceda o espírito de
sabedoria e de revelação no pleno conhecimentodele" (Ef1:16,17). Desta
realidade só podemos concluir que oconhecimentoé uma "forma de vida", uma
existência total como participante de Deus e como recipiente de sua graça, sendo
impossível o seu enclausuramento (sua prisão) em conceitos ou em instituições. A
"igreja" corre o grande risco de deixar de ser "Igreja" porcometer o pecado da
apropriaçãoindébita, apoderando-se da verdade, o que seria um fruto não do
Espírito da Verdade, mas um fruto da enganosa concupiscência.
A palavra da verdade e o conhecimento do mistério de Cristo nunca são ou
serão uma propriedade da Igreja. A Igreja é chamada a permanecer na verdade, a
amar a verdade, a respeitar a verdade com muito maior humildade do que a mais
sériapesquisacientífica deva fazer. A Igreja permanece um discípulo, ao lado do
mundo, na escola de Deus em que há "um só Senhor e Mestre" (Mt 23 :8).
Conhecimento só existe onde existe "crescimento em sabedoria". Os cristãos são
"luz" (Ef5:8)somenteenquanto continuam sendo "iluminados" pelo Espírito (Ef
1:17) e por Cristo (EF5:14). A Igreja só é a Igreja enquanto permanece no caminho
em que possa "conhecer o amor de Cristo que excede todo oentendimentoe para
que seja tomada de toda a plenitude de Deus" (Ef3:19).Claro, então, que daí
decorre para a Igreja uma enorme responsabilidade. Toda a sua reflexão teológica,

seu estudo da História, da Educação, da sociedade enfim, serão estudos em
função de sua Natureza e Missão como Igreja de Jesus Cristo.
O conhecimentono sentido bíblico é "vida comum" e "responsabilidade
mútua" oucomunitária.Elecria formas, funções e ministérios. Mas, não
esqueçamos jamais, que, vidacomunitária, belos programas de ação, formas de
organização (estruturas epragmatismo), não podem jamais colocar-se no lugar do
aprendizado, do "crescer em sabedoria" dos poderosos atos de Deus.
3. A Igreja não é do mundo... mas, a Igreja é no mundo...—É exatamente
o que lemos na "oraçãosacerdotal de Cristo" (Jo 17:14,16;Jo15:19). Cristo roga
que seusdiscípulosnão sejam "tirados" do mundo. Semelhantemente, em Efésios,
a Igreja é acomunidadeque vive na terra. Efésios trata da Igreja "católica"
(Katholica, que em grego significa universal), isto é, da una,universal(íntegra),
comunidadede amplitude mundial, em que permanecem todos os membros de
uma região, de uma assembléia local e de uma congregação. Há uma só Igreja em
Jesus Cristo, pois há um só corpo com uma única Cabeça! A questão eclesiológica
(doutrina ou estudo sobre a Igreja) não pode serfocalizadamais dentro da distinção
tradicional das "duas naturezas" da Igreja, a Igreja terrena e a Igreja celestial,
mentalidade que conduz à distinção fatal entre Igreja "visível" e Igreja "invisível".
Não há uma eclesiologia bíblica senão partindoepermanecendona
"Cristologia"; ou se trata da Igreja emCristo ou não se trata da Igreja! O dualismo da
Igreja concebida emtermostradicionais (medievais) reflete a tensão que há
atualmente entre diferentesescolas—a Igreja que "já é" e a Igreja que "aindanão
é"; ou a tensão entre a "aparência" e a "essência" da Igreja (distinção filosófica); ou,
entre a Igreja de "fato" e a "ideal"; ou, finalmente, entre aIgreja "histórica" e a
"escatológica".
Que contribuição há na epístola aos Efésios para meditarmossobreesta
questão que é fundamental quanto à Natureza da Igreja e a sua relação com o que
chamamos "mundo"? No manuscrito grego do texto de Efésios encontramos logo
no endereço da carta um elemento significativo. No versículo primeiro lemos: "aos
santos que vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus" (Ef1:1). Em Éfeso e em Cristo
podem pareceraumaanálise superficial uma simples referência geográfica. Éfeso
e Cristo não são meras localidades.
Esferas de poder, canais de pressão, e certo "status" resultantes sãodescritos
pela pequena palavra "em" e pelos nomes que lhe seguem. Se "Cristo" permanece
para a "perfeita obra de Deus", "Éfeso" para o "mundo" e suas influências. Os
destinatários desta epístola são ambos "efésios" (deacordocom o título) e "santos
fiéis" em Jesus Cristo. A mistura dos dois não é feita no texto. Para Paulo não há
algo parecido com "cristãos efésios"; ou o que modernamente conhecemos como
"Cristandade Católica", "Cristandade Germânica" ou "Cristandade Americana".
Mas, a relaçãoé estabelecida: os santos vivem "em Eféso" e são "fiéis em Jesus
Cristo". Paulo não endereça sua carta a cristãos abstratos ou imaginários e
suspensos no ar. É característico do seu pensamento falar da Igreja como a Igreja

sobre a terra. Entre Efésios e Apocalipse há uma distinção bem nítida de ênfase
teológica: a primeira trata da vida da Igreja na terra, enquanto a segunda trata da
assembléia dos anjos e dos mártires na esfera celestial. A ênfase de Efésios se
explica pelo fato de que a epístola está justamente tratando daquilo que "era" e que
"agora" já "não é mais"; a obra de Deus em Jesus Cristo é o divisor de águas, é a
fronteira entre o antes e o agora. "Agora" a ressurreição, o entronamento
(colocação no trono, glorificação), a comunhão da casa de Deus e do seu reino, a
revelação do mistério de Deus, o testemunho da nova forma da vida teve lugar, tudo
isto lugar daquiloque imperava "antes": o reinoda morte, do pecado, do
estrangeirismo, da inimizade, da ignorância—tudo isto não é mais válido (Ef
2:1ss.;Ef3:1ss; Ef4:17ss. eversículo28)!
Claro está que a consumação da obra de Deus, a participação final na
herança agora garantida (Ef1:13) no "dia da redenção" (Ef4:30), não é ignorado
pelo autor da epístola. Já mencionamos que Efésios contémuma "escatologia",
umadoutrina das últimas cousas. A Igreja vive, mas é em esperança que ela vive
(Ef4:4).
Mas, a Igreja não é descrita primeiramente em temos futuros. A escatologia de
Efésios trata muito mais da Igreja no presente mundo em que ela vive.A verdadeira
doutrina das "últimas cousas", aescatologiabíblica, mostra nãosomenteo futuro,
mas principalmente a totalidade da obra em que Deus manifesta sua eterna
vontade plenamente no tempo. "Últimas cousas" e "últimos dias", realmente
tornam-sepresentes quando o Espírito deDeusé derramado sobre a Igreja (Atos
2:17);quando o Evangelho da plenitude das promessas de Deus éproclamado (Lc
4:18-21); quando a "hora vem" e "agora é", em que os mortos podem ouvir a voz de
Deus (Jo 5:25). Estas realidades, a presença do Espírito, a presença do Evangelho,
a presença da ressurreição na terra, entre os Efésios e outros que estavam "longe",
são anunciadas na epístola. A Igreja vive desta presença e do cumprimento das
promessas dadas para os últimos tempos. Estudiosos do Novo Testamento têm
denominadoestesentidoda escatologiacomo"escatologia realizada".
Vivendo do Espírito e sendo selada pelo Espírito, a Igreja é, sem dúvida, um
sinal"escatológico" erigido no mundo. Entretanto, a consciência das bênçãos já
recebidas, o "agora", não esconde aquilo que está apenas antecipado. A Igreja
sabe que a revelação de Deus estácontinuamentese expressando e através da
Igreja (Ef3:10)! A Igreja é umsinal para o mundo; por sua existência verdadeira, ela
é um sinalvivo para o mundo de que, definitivamente, nada senão o plano de Deus
revelado em Cristo para ahumanidadeinteira permanecerá.
A santidade e a irrepreensibilidade da Igreja (Ef1:4;Ef5:27), são dádivas e
comissão que Deus mesmo lhe tem feito, e está fazendo agora ao reuniros homens
sobre a terra em Cristo Jesus. Os cristãos não se podem fazer ou se chamarem a si
mesmos de santos. Seria mais do que ridículo intentar fazê-lo. Mas, nós somos
chamados como cristãos a compreender o que é que a "Palavra" tem dito e tem
feito para todos. "Pela Palavra" somos purificados. Paulo o afirma explicitamente
que a Igreja é "purificada na água pela Palavra" (Ef5:26). E no evangelho de João
(Jo15:3) Jesusafirma:"vós já estais limpos pela palavra que Eu vos tenho falado".

Os reformadores chamaram esta pureza como a "Justiça imputada" e, em fazendo
assim,estão sendo fiéis aos textos bíblicos e, especialmente, ao que Paulo afirma
em Romanos 4:3. É a santidade dádiva de Deus e que permanece em relação a
Deus na missãoconfiada à Igreja.
Mas, poderia a santidade ser limitada a um "verbalismo" ou a uma simples
questão de palavras? Claro que não se trata disso. Ao referir-se à palavra,os textos
tratam daquela "Palavra" que traduz os atos poderosos do Deus poderoso que se
revela em Jesus Cristo. Ouvindo a palavra da verdade, o evangelho da nossa
salvação..." (Ef 1:13). É palavra redentiva, criativa de comunhão e de paz. Assim, a
despeito de tudo quanto os "efésios" necessitavam para sua vida de adoração, de
testemunho, deconduta,eles são realmente eleitos por Deus para serem santos.
Eles são comissionados e chamados a serem santos e o são porque são
chamados. Estes estão responsabilizados a proclamarqueDeus,a despeitode
todo o pecado einiqüidadedo homem, cria um povo chamado santo.
Podemos agora indicar duasconclusões que contêm a alternativa para as
duas posições que conhecemos como "dualismo" e "perfeccionismo". Igreja do
Senhor não é Deus e não é o mundo, mas Deus revela sua amorável soberania
pela criação e edificação da Igreja no mundo. E a Igreja é, então, "Una", "Santa" e
"Católica" não por suascapacidadesadquiridas, possuídas através dos anos, mas
por causa da obra que oEspíritorealiza nela e por ela por intermédio da Palavra e
em fé. Ela não é uma assembléia perfeita, masuma "fraternidade"em crescimento
constante e em "comunhão" ininterrupta. Ela vive sempre em processo de
"formação", está permanentemente sendo formada e porisso mesmo renovada
pela obra doEspírito.
Se a santidade da Igreja é umadádivade Deus, então ela é indivisível. Então
aunidade da Igreja é incorruptível, como quer e onde quer que estejam os seus
membros. A“catolicidade” (universalidade)da Igreja é real a despeito de todos os
problemas regionais e as diferenças confessionais. A santidade e a catolicidade da
Igreja permanecem inseparáveis—uma édecorrenteda outra.Todo o escândalo
dos pecados denominacionais, sectaristas, de grupos eindivíduosnão podem
anular a dádiva de Deus, sua promessa e sua comissão. A dádiva de Deusestá
selada pelo Espírito de tal forma que não há nada que possa anulá-la.
Onde a Igreja está presente tornam-se visíveis os sinais da presença do
Espírito—há "crescimento" e há construção". É característica da natureza da
Igreja não somente "ser arraigada e fundada em amor" (Ef3:17) ou "construída
sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Jesus Cristo mesmo a
principal pedra angular" (Ef2:20), mas também o crescimento visível.Raízese
alicerces permanecem invisíveis. Há, entretanto, as evidências visíveis da
presença da Igreja no mundo: umacomunidadeque cresce como um "edifício bem
ajustado"—um "corpo de santos" sendo equipado para o serviço (Ef2:21;Ef
4:12,16) . É da natureza da Igreja que ela se assemelha em parte ao crescimento
do corpo humano, em parte a uma casa em processo de construção. As metáforas
(figuras) de "raiz", (arraigados) e "crescimento" se referem ao mistério do
crescimento e da vidadaIgreja como realidade que setorna visível, mas cuja causa

original permanece oculta. Com tais figuras quer o apóstolo traduzir o mais
profundo do ser da Igreja que não está nela mesma e sim em Deus que a sustenta.
As metáforas “corpo”, “juntas”, “crianças”, são medidas que traduzem a
“maturidade” (Ef 4:13-16), com as quais quer o autortraduzir a realidade da obra de
Deus na criação da nova humanidade, do novo homem que não mais permanece
atado aos sinais próprios da infância (Ef 4:14 e1Co 13:11).Finalmente, a metáfora
do "edifício" ou do "templo", torna muito claro o fato de que oselementos exteriores
são não só o resultado do crescimento que se efetuou interiormente, mas que
elementos de fora também são encaixados para ocrescimento da construção.
Nenhuma destas metáforas pode ser tomada isoladamente para se pensar na
Igreja; elassecompletame se corrigem umasàs outras. A realidade "interior" e a
realidade "visível", a vida da Igreja, o poder dado por Deus, e a atividade ou o
ministério de cada membro não podem ser separados. Esta é a Igreja:a plantação
de Deus no mundo, novahumanidade criada por Deus de forças inimigas, a
construção de Deus sobre a terra. Sempre a Igreja de que Paulo trataassinalaa
obra de Deus na terra e não em algum lugar imaginário.
4. A Igreja e sua relevância "política".Não é sem sentido público ou de
relevância social e política que a Igreja vive sobre a terra da sabedoria que vem de
Deus. A Igreja é o povo de Deus que "cresce" em conhecimento e no desempenho
de "ministérios"recebendo assim uma "cabeça", uma "forma" e uma "assembléia
religiosa"; elaé um "povo" entre os povos; ela não é a simples soma deindivíduos
cristãos isoladamente vivendo sem ultrapassar a dimensão do valor individual. O
conceito da "nação" talvez seja o mais próprio para expressar o que significa
quando o povo da Deus é chamado "comunidade" na qual os gentios são admitidos,
ou quando os efésios são chamados "concidadãos dos santos e membros da
família de Deus" (Ef2:12,19). Claro que Paulo não está pensando no absurdo de
estabelecer uma "Igreja-Estado" (como o Vaticano, por exemplo). Mas, quandoele
fala da nossa "cidadania" (Fp1:27); quando Paulo lembra aosefésios de sua
"herança no Reino de Deus"; também quando a Igreja é chamada "cidade" (polis)
ou "campo" (Hb 12:22;Hb13:14 e Ap 3:12;Ap20:9), não resta dúvida que está bem
assinalada a dimensão, pela terminologia e pelo seu significado, de relevância
"citadina" da Igreja.
Paulo chama ainda a Igreja de "Israel de Deus" (Gl 6:16; Rm 2:29). O termo
grego para Igreja (ekklesia) que éfreqüentementeusado no Novo Testamento
descrevia antes e durante os tempos de Paulo uma "assembléia do povo". A
simples menção desta palavra poderia ser suficiente para indicar-nos que a Igreja
será a Igreja à medida de seu envolvimento vital com as nações e com o mundo. Se
ela é continuamente acomunhão crescente dos que conhecem o mistério de Cristo,
a abolição das separações e a criação da paz entre o homem e Deus e entre as
criaturas de Deus, ela nãopode de maneira alguma permanecer fechada emsi
mesma.
Cristo "desceu às partes mais baixasda terra" (Ef4:9). Ele suportou a luta e
sustentou a luta com "os poderososdesteséculo" que o crucificaram (1 Co 2:8). Os
cristãos são "co-herdeiros", membros do mesmo corpo, participantes da mesma

promessa" (Ef3:6) com Israel e com Cristo, somente quando crescemcomCristo e
em Cristo (Ef4:15), como umacomunidadeativa e visível, responsável dentro da
vida do mundo.
"Guardar-se a si mesmo isento da corrupção do mundo" com o propósito de
manter a "religião pura e sem mácula" (Tg 1:27), não quer dizer lavaras mãos
quando escândalos e injustiças sociais, políticas eeconômicasestão gritando aos
mais altos céus! Mesmo porque o próprio texto de Tiago afirma que é verdadeira a
"religião que visita asviúvase os órfãos". A Igreja está responsabilizadaa
envolver-se (tratando "da verdade em amor") na importância das questões da paz,
da justiça e da verdade—pois "o fruto da luz consiste em toda a bondade, justiça e
verdade" (Ef5:8).
É claro que a existência da Igreja na terra como uma "nação" implicaem que
ela está chamada aos riscos dos conflitos com todos os poderes deste século, com
osinteressesdas nações. A nação, o estado, acultura, os propósitos de uma
determinada sociedade estão envolvidos na linguagem do apóstolo aoreferiràs
potestades eos poderes deste século comoforças que a Igreja deve enfrentar e às
quais teráque "resistir no dia mau" (Ef6:12).
Devemos recordarque a cidade de Eféso erauma das mais famosascidades
do mundohelenístico e do Império Romanoeque a "mãe", o "amor",o "comércio" e
o "culto das massas" davam à cidade um destaqueforado comum (Atos 19:23-40).
Temos que observar,entretanto, que Paulo não trata da Igreja envolvido num
conflito político e que os ataques não partem da Igreja e sim das "potestades" e dos
"principados", então, Paulo exorta os cristãos a "não andarem como eles andam" e
lhes afirma: vede prudentemente como andais, não como néscios, e, sim como
sábios" (Ef5:15); "remindo o tempo porquanto os dias são maus" (Ef5:16).Ele
encoraja os cristãosa se "fortaleceremno Senhor e na força do seu poder" (Ef
6:10), e éclaro que é a fortaleza do mesmo poder que operouo"Evangelho da
Paz". A Igreja aparece finalmente como e exército militante de Deus, além de ser a
"assembléia dos cidadãos" (Ef2:19) que é a "luz" no mundo e para o inundo (Ef5:8)
exército equipado comoespírito certo e a armadura certa para enfrentar a batalha
com os dardos "confusos" e inflamados do maligno (Ef6:16). Aarmadura determina
anaturezada vida da Igreja e do conflito que ela manterá no mundo. Tal é a Igreja
"em Éfeso" e "em Cristo".
5. A Igreja: Povo constituído por Deus.Até aqui temos observado que a
Igreja é uma realidade de que podemos tratarsomenteem função de eventos que
tiveram lugar dentro dahistória. Resumidamente e em específico: a confirmação da
obra de Deus através da nova ordem de vida, a comunhãoeo comissionamento de
um Povo sobre a terra, e asubmissão de toda forma de necessidades do mundo ao
julgamento e à graça da sabedoria de Deus. A Igreja é onde estas cousas
acontecem.
Tais eventos têm a natureza e o aspecto de semeadura, de serviço que
demora, de frustração duradoura, mais do que a aparência de vitória retumbante e
de frutos abundantes e muito rápidos. Pela sua natureza em permanente formação

e informação, sua incessante mudança (arrependimento) e seu crescimento
ambíguodentro da história do mundo, a Igreja não pode ser medida como se fora
um dos clubes planejados pela habilidade e pelo interesse humano, como se fora
umfenômenonatural, poisela é o Povo que escuta e segue o chamado que Deus
mesmo profere no Evangelho da Paz.
Qualquer pessoa conserva sua nacionalidade sem queatuecomo um cidadão
responsável. Mas, um cristão não permanece um cristão sem que atue
cotidiamente em testemunho deobediênciaresponsável. A Igreja é um "corpo" vivo
e dinâmico. Os sinais da Igreja são evidentes e, se não forem evidentes, não é a
autênticaIgrejado Senhor Jesus.
A irrevogável constituição pela qual a Igreja é afamília, a nação de Deus de
conformidade com sua vida e existência, não é uma carta ouqualquer outro
documento escrito no papel. Nunca será um atestado que a Igreja possua e possa
exibir como sua credencial permanente e dentro de sua própria história. Não é um
passado glorioso ou um futuro que possa ser atestado por ela como documento de
comprovação. A constituição da Igreja é a sua Natureza e a Natureza da Igreja é a
sua relação. AepístolaaosEfésios torna esta verdade suficientemente clara. Em
Efésios a Igreja é tratada, como já apontamosnas reflexões iniciais, numa "ordem
de relações":em sua relação com "Deus,o Pai", com "Cristo", com o "Espírito", com
a "comunidadede Israel", com os "gentios" e com "todos os santos". Somente
quando estas relações são vivas e justas é que a Igreja é Igreja. Na Bíblia inteira
"justo" ou "justiça" nunca é uma virtude individual ou abstrata, mas é sempre viva,
vivida de conformidade ao espírito de um pacto de relação pessoal.
a) Em Efésios a relação entre Cristo e a Igreja aparece como naunidadedo
corpo e pelo título "cabeça" que é dado a Cristo, na metáfora do "corpo de Cristo"
que se usa para a Igreja, e nostermosde "membros do corpo" que é empregado
para descrever os "santos" (Ef1:22;Ef4:4,12,15,25;Ef5:23,30). Paulo usa uma
terminologia paralela em outrasepístolas (Cl 1:18,24;Cl2:19; 1Co 11:3; Rm 12:4).
Em Efésios e na carta aos Colossenses o foco primeiro, não o exclusivo, está na
inter-relação "Cristo-Igreja", enquanto nasepístolas aos Romanos e 1Coríntioso
foco estána mútua relação entre os cristãos.
Cabeça, corpo e membros, de acordo com a mentalidade grega emoderna
são preliminarmente partes do homem. Mas, quando o Antigo Testamento faz
referência a qualquer parte do corpo (cabeça, alma, olhos), é a totalidade humana
que está sendofocalizada antes que subdivisõesanatômicas. Na Bíblia, o homem
não tem uma alma, uma cabeça, umcorpo. Mas,Eleé uma alma,umcorpo, e é o
que seus olhos e suas mãos fazem ou o que seu coração ama (Mt 5:24-30;Mt
6:22-23; Lc19:22). Quando, em Efésios,Paulo chama Cristo de Cabeça da Igreja
elenão quer significar com isto que Cristo é a parte mais nobre do corpo. E sim que
Cristo éidentificadocom aquela realidade que é mais indispensável para o domínio
total da vida do corpo, como o Senhor que protege, dirige, e que nutre todos os atos
do corpo como a "mente" do mesmo. É desta maneira que a Igreja pode "manifestar
a sabedoria de Deus" (Ef3:10). Temos, então, aqui a significação básica da
equação, "A Igreja é o corpo de Cristo". A Igreja é a manifestação do Cristo

ressurreto na terra.Quandoela é perseguida, ele mesmo é perseguido (Atos 9:4).
Quando Cristo que "é a nossa vida for manifestado em glória, nós seremos
manifestados comEleem glória" (Cl 3:4). "Nós carregamos sempre no corpo o
morrer de Jesus para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo..." (2Co
4:10ss).
Nós temos que concluir que enquanto Cristo é o "homem perfeito"(Ef4:13), o
corpo de Cristo (Igreja) ainda está sendo construído, ainda não está perfeito. Em
Efésios é muito clara a noção de que a Igreja vive em uma relação de permanente
"crescimento" em submissão à Cabeça. Não há naepístolaqualquer apoio às
pretensões de um eclesiasticismo que se proclama "bene" ou "plene" Igreja. A
Igreja não é inaccessível, poderosa ou rica,ou um corpo fechado, mas ela é o corpo
de Cristo que viveem crescimento. A Igreja, por natureza, incluivirtualmente os que
ainda são descrentes. Além disso, está claro em Efésios (como na carta aos
Colossenses) que Cristo não ésomenteCabeça da Igreja.Eleétambém Cabeça
de cada homem ainda que seja um homem que não creia nEle (aqui nos referimos
novamente a Efésios 1:10). Como a todos os textos daepístolaem que se sublinha
tão positivamente a amplitude total da obra de Deus em Cristo. (Devemos ler
Colossenses1:20 que nos dá a mesma realidade).
A intenção, aforçado propósito e da obra que Deus cumpre em Jesus Cristo
não tem limites. Esta verdade concede à Igreja o sentido e a amplitude de sua
responsabilidade missionária "Cristo é para todos". A palavra grega que aparece Ef
1:10é"anakephalaiosasthai", que significareduzir tudo sob um único chefe.
Embora seja considerada a ambivalência que o verbo tenha,para o autor da
epístola, não há dúvida queeleassinala o alcance total dopropósito de Deusde
submeter toda a criatura à vontade e ao amor expressos em Jesus Cristo como
Cabeça de todas as coisas. Está aí uma noção bem ampla da esperança da fé
cristã em seu alcance cósmico.
b) A Igreja vive em relação especial com Israel. Esteeloespecialpode ser
melhor chamado "solidariedade" ou "comunhão". Por "Israel" não entendemos
apenas o antigo Israel ao qual fora prometido e dado o Messias. Nem ainda os
judeus dehoje em sua dispersão no mundoounojovemestado de Israelcriado em
1948esgotam o que"Israel" significa. Nem mesmo podemos tomar como definição
exclusiva o "Israelsegundo o Espírito", os que "adoram em Espírito e em 'Verdade"
de todas as épocas, referidos por PauloeJoão (Rm 2:29; Gl 6:16; João 1:47;João
4:22). O que devemos ter emmente é a totalidade das possíveis descrições do
Israel que devem estar envolvidas quando temos diante de nós os textos da
epístola aos Efésios.
"...o qual em outras gerações não foi dado a conhecer aos filhos dos homens,
como agora foireveladoaos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito, a saber
que os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da
promessa em Cristo Jesus por meio do Evangelho" (Ef3:5-6). De conformidade
comestetexto, o mistério do Evangelho é a "fraternidade" e "co-cidadania" dos
Gentios com Israel!Esta realidade estabeleceocompromisso de sérias
ponderações a que não nos podemos furtar. A obra total de Cristo, "fazendo a paz"

e sendo "Ele a nossa paz" pela "destruição da inimizade" (Ef2:14-16) não é apenas
em relação a, mas consiste também da anulação, da derrubada do muro de divisão
entre os judeus e os gentios. Observemos que ela não é relacionada,
primariamente, à divisão entre raças e classes, nações e pessoas, idades e
culturas. Pareceria melhor a nós que tensõesecontrastespolíticos, sociais,
raciais, morais, espirituais, educativos e psicológicos mereceriam maior atenção do
que qualquer outra cousa ao tratar-se da relação entre a Igreja e Israel. Textos
como Gl3:28; Cl 3:11;1Co12:13 tratam daunidadeentre judeus e gregos, homens
escravos e livres, bárbaros e citas, mulher e homem. Agora os judeus e os gentios
são contados como "UM" entre muitos dos pares de inimigos que tem sido
reconciliados (at-one-ment) em Cristo.
Este é o momento em que devemos alcançar as implicações daquilo que
Paulo diz quando fala da criação da "nova humanidade". Nesta epístola a "mão de
obra de Deus" (Ef2:10), o "novo homem" (Ef2:15;Ef4:24), é criadosomentedos
dois—Judeus e Gentios (Ef2:11-22).Que ambos, Judeus e Gentios, estão
divididos também em homem e mulher, jovem e velho, servos e senhores, é um fato
que não podemos esquecer no pensamento do autor. Mas, a paz social entre
sexos, entre gerações e entre diferentes classes não é substituto para aquela Paz
única que põe fim a hostilidade entre os de "dentro" e os de "fora", entre os de
"perto" e os "que estavam longe" da "casa de Deus".
De conformidade com o texto de Efésios, a paz social de forma alguma é uma
conseqüênciada paz que foi estabelecida entreJudeus e Gentios. A grande obra
de Deus (somos feituradele, cf. Ef2:10) e a proclamação do sangue de Cristo (Ef
2:13-17) busca a paz entre os que são estranhos àcomunidadede Israel e aos
Israelitas. Mas,unicamentea paz estabelecida em Cristo entre Judeus e Gentios,
que permita a ambos, alcançarem juntos a paz com Deus (Ef2:16-18) é o
fundamento, é o leito em que a "co-existência pacifica" é possível em todos os
níveis e em todas as esferas da vida.
Por que razão os que crêem em Cristo não podem terpaz com Deus e uns
com os outros senão juntoscom Israel? Efésios responde esta pergunta: não é
porque Israel não necessite ressurreição ereconciliação, comunhão e crescimento
para ser "templo santo do Senhor". Ao contrário, afirma Paulo, nãosomentevós
(Gentios) "estáveismortos em vossos delitos e pecados... segundo o curso deste
século" (Ef2:1);"mas, entre os quais(filhos da desobediência)também todos nós
(Judeus)andávamos nos desejos da nossa carne e... éramos(Judeus),por
natureza filhos da ira, como todos os demais. Mas Deus... estando nós mortos em
nossos delitos e pecados nos deu vida juntamente com Cristo... em Cristo.(Ef
2:3-6). "De ambos(Judeus e Gentios)Cristo fez um e dos dois criou um novo
homem" (Ef2:14-16). "VindoEleevangelizoua paz aos que estavam longe e aos
que estavam perto" (Ef2:17). Não em um diferente, mas sim "em um mesmo
Espírito" está facultado o acesso ao Pai (Ef2:18), e "juntamente vós estais sendo
edificados para habitação de Deus em Espírito" (Ef2:22).
O quePaulo proclama na carta aos Efésios não é nenhuma superioridade dos
Judeus em seu caráter racial ou histórico, nem ainda uma "fraternidade" entre

Gentios e Judeus a qualquer preço. Aspalavras "em Cristo" e "em um Espírito" nos
impedem encarar o problema de uma perspectiva puramente humanista e histórica!
A indissolúvel e transcendente solidariedade entre Judeus e Gentios formando o
"corpo de Cristo" está assegurada precisamente na obra de reconciliação que se
espelha de forma exclusiva edefinitivana morte e na ressurreição de Cristo.
A conotação profunda em que Judeus e Gentios são reconciliados em Cristo
indica a grande realidade de que a Igreja está relacionada com cada um e com
todos os homens. A posição em que Israel aparece na economia divina da salvação
apresenta a mesma ambigüidade em que a parábola do "filho pródigo" nos
apresenta o "irmão mais velho" (Lc 15:25-32). Enfim sobre esta relação da Igreja
com todos os demais trataremos em seguida no próximo capítulo do nosso estudo
em que o texto de Efésios nos levará a refletir sobre a presença da Igreja no Mundo
e as implicações entre a Fé Cristã e a Ética.

CAPÍTULO III
A PRESENÇA DA IGREJA
Temos visto até aqui as duas grandes secções em que se move o conteúdo
teológico da carta aos Efésios. Na primeira sublinha-se o que Deus, em seu
soberano amor e vontade tem proposto na eternidade. Temos visto então uma série
muito fecunda de verbos em que o autor comemora a total iniciativa divina na
salvação e na reconciliação do mundo ou da totalidade das cousas. Temos
examinado ainda na mesma série de verbos o fato de que Paulo e os cristãos não
cessam de adorar a gratuidade absoluta do ato em que Deus nos torna seus filhos.
Sua soberania é uma soberania em Cristo, isto é, uma soberania de amor que inclui
a totalidade das criaturas como o endereço pessoal da obra perfeita de Deus, a
"mão de obra de Deus".
Na segunda grande secção temos visto exatamente a Revelação de Deus—
a "multiforme sabedoria" que se revela no evento"Jesus Cristo" que"destrói o muro
da separação" e que "faz a paz". Aqui numa série de verbosque conjugam a
revelação de Deus sublinha-se o conteúdo pessoal da Palavra de Deus
(palavra-ato) e a sua relação inseparável com o evento da Igreja como a
comunidadeem relação de dependência permanente da ação da "sabedoria" ou do
"conhecimento de Deus" que ultrapassatodacompreensão humana. Então, a
constituição da Igreja como "Povo de Deus" em Jesus Cristo,a Igreja como "Corpo
de Cristo",comissionado a manifestar "as insondáveis riquezas de Cristo" (Ef3:10)
que se constituem no "mistério revelado"(o qual é o "Evangelho da Paz"!),"a
Palavra da Verdade" em que a Igreja foi selada "pelo Espírito Santo da promessa".
Daí, da constituição da Igreja no evento "Jesus Cristo", que criou o "novo homem",
decorre a missão da Igreja, o ministério da Igreja no mundo como aquela
comunidadeque torna evidente a paz com Deus e a paz do homem com o homem.
Assinalemos mais uma vez quetodaestarealidadenos é dada em Efésios
numa forma singular em relação às demais epístolas paulinas. PoisEfésiosé
verdadeiramente uma liturgia dos grandes atos praticados por Deus em sua
revelação ao homem. Daí a insistente forma de oração, podendo-se mesmo afirmar
que tudo é, na epístola, assunto de oração, de comunhão com Deus. A verdade
revelada é, não uma verdade formal ou lógica, que é dada na forma de princípios ou
proposições estáticas, a verdade é uma relação pessoal. A Igreja é também uma
relação, uma nova ordem de relações, uma nova ordem de vida, de vida
comunitária. Os adjetivos e não os substantivos é que indicam "as virtudes" da vida

cristã; isto é, a vida cristã é uma vida em relação a Deus—é uma relação, uma
comunhão permanente. A participação na obra de Deus—a vida em Cristo que é a
vida da Igreja implica realmente numa atmosfera de ininterrupta adoração. Esta
natureza tão pessoal em que os atos de Deus são proclamados na epístola e a
natureza da Igreja que decorre da natureza dos atos de Deus cria verdadeiramente
a "liturgia cristã"—assim, Efésios é a doutrina cristã transmitida como música de
adoração, de harmoniauniversal, de paz no seu sentido de reconciliação pelo
sangue de Cristo como a "justiça imputada" no dizer dos grandes reformadores.
A Natureza da Igreja determina assim a Missão da Igreja de maneira tal que é
um absurdo dizer que a Igreja tem uma missão ou que muitas são as
responsabilidades da Igreja. Igreja é Missão. O que Deus fez em Cristo está
relacionado com Israel e com o mundo Gentio, como está relacionado comtodasas
criaturas e com todas as cousas na terra e nos céus.
Devemos então, agora, estudar a terceira parte da Epístola que trataporum
lado, da "Igreja equipada", e, de outro lado, da Igreja equipada para o mundo".
Devemos dizer queestecapítulo do nosso estudo e que é o capítulo final, assinala
a repercussão dos atos de Deus no mundo através da Igreja. Necessitamos
considerar como acomunidadedos que"ouvem e crêem ... no Evangelho" (Ef1:13)
está presente e "anda" no mundo.
Na segunda metade da epístola vimos que o autor está sempre indicando que
a conduta dos cristãos em Éfeso não era diferente dos não cristãos."...entre os
quais também nósandávamostodos, segundo as inclinações danossacarne,
fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; eéramospor natureza filhos da
ira,como também os demais" (Ef2:3). Agora, entretanto, nos capítulos 4a6, está
uma realidade totalmente nova, determinada pela obra de Deus—um povo para
Deus mesmo, que é "comunhão", que é "construído" e recebe "crescimento em
sabedoria, em amor, em santidade"—estepovo para Deus é a Igreja.Todaesta
assembléia, estacomunidadeestá vocacionada a "andar retamente de
conformidade com a vocação que foi chamada" (Ef4:1).
Como "nova humanidade" a Igreja foi criada através da obra de Deus em
Cristo (Ef2:15). Ela é constantemente "renovada" desde dentro e defora(Ef
4:23-24). Ela é "vestida de novo" (Ef4:23-24;Ef6:11,13) das "cousas que Deus
mesmo tem criado e preparado de antemão" para que a Igreja "ande nelas" (Ef
2:10). Portanto, isto é, como natural conseqüência de tudo quanto Deus já fez (após
todos os Indicativos do Evangelho), os cristãos são chamados a "não andar mais
como andam os Gentios" (Ef4:17)—então, seguem-se aos Indicativos do
Evangelho os seus grandes Imperativos.
Esta ordem que não pode ser alterada, senão para cairmos no“religiosismo”
(religiosidade)farisaicoque tenta invalidar a "Palavra da cruz", é proclamada na
Epístola aos Romanos de forma inequívoca. Vamos aqui abrir um pequeno
parêntesis para a inclusão do texto de Romanos com um pequeno comentário
exegético e alguma observação quanto à tradução que tem sido feita do mesmo.
Refiro-me aos primeiros dois versículos do grande capítulo em que Paulo trata

precisamente da "nova vida" segundo asmisericórdias de Deus : "Eu vos exorto,
portanto, irmãos, pelasmisericórdias de Deus, a oferecer vossoser(ta somata),
como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus:esteé o vosso culto verdadeiro. E
não vosesquematizeisaesteséculopresente, mas que a renovação da vossa
mente (metanoia) vos transforme e faça discernir (dokymassein) qual é a vontade
de Deus, o que é bom, o que lhe éagradável, o que é perfeito" (Rm12:1-2).
Amisericórdiade Deus é o apoio em que Paulo está sempre alicerçando as
conjunções conclusivas queeleemprega com tantafreqüência. Em Romanos o
contexto da conclusiva empregada no versículo acima mencionado (portanto) se
constituide onze capítulos em que o apóstolo trata dos atos praticados pela
misericórdiade Deus subordinados ao verbo "libertar". Paulo indica amisericórdia
de Deus como a causa da grande libertação que temos em Jesus Cristo: "libertação
da ira", "libertação da lei",“libertação do pecado" e“libertação da morte"—a
palavra libertação em Romanos ésinônimoperfeito de " justificação".
Amisericórdiade Deus que "justifica" e a "mão de obra de Deus" que"cria a
Paz" (Romanos e Efésios) são a mesma realidade evangélica. Esta "obra perfeita"
não torna o homem inativo ou anulado. Ao contrário,atuacomopoder permanente
e exclusivo para possibilitar a "renovação" do homem.Recordemosuma vez mais
que a ênfase da Epístola aos Efésios estásobrea obra de Deus em Cristo que cria
uma nova ordem de vida.
Paulo está sempre insistindo, pelaterminologiaque emprega, numa nova
ordem de vida cristã que consiste numa disponibilidade permanente, numa
abertura permanente ao inaudito, a algo novo, ao surpreendente e ao "crescimento
em Cristo". Devemos ler no próprio texto o que isto significa realmente:
"...discernindo sem cessar o que é agradável ao Senhor" (Ef5:10); "... por esta
razão não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do
Senhor" (Ef5:17); "...não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas
como servos de Cristo, fazendo de coração (mente), a vontade do Senhor" (Ef6:6).
Paulo está muito longe da posição simplista de submeter a "nova vida" a uma "lista"
de regrinhas fixas para a conduta dos cristãos que contemplassetodasas
eventualidades da vida em sociedade. Parece muito claro que Paulo não admite a
possibilidade de se "tomar" a vontade de Deus nas mãos ou em certos postulados.
Paulo chama aos destinatários de sua Epístola com uma expressão muito rica
de sentido: "filhos amados" (a expressão em grego "tekna" significa literalmente
"herdeiros"; é a mesma expressão usada quandoeleos chama de "filhos da luz"—
"teknafotos"—quer dizer "herdeiros cia luz"). Assim,como filhos amados"—andai
em amor e "como filhos da luz"—andai na luz (Ef5:1 e 8)! Há para esta nova
possibilidade um "paradigma" eestenão é o apóstolo, mas é o próprio Deus em
Cristo: "Sede, portanto, imitadores de Deus, como "herdeiros do amor" e andai em
amor como também Cristo vos amou e se entregou a si mesmo por nós". Além
disso, devemos acrescentarquetodasas metáforas de que o autor se serve na
Epístola para comunicar a Naturezada Igreja são "símbolos" que indicam um
aprendizado permanente, um "discipulado constante" em amor—amor cuja fonte é
Cristo. O amor de Deus em Cristo é sempre o "paradigma" para a presença da

Igreja na sociedade.
Temos aí uma realidade permanenteeinvariável. Isto é,dinâmica, capaz de
transcendertodasas melhores formas de vida de determinada "época" como de
todas as "épocas" dahistória, e, exatamente, por tal razão, a fé cristã pode
expressar-se concretamente em cada nova situação pela re levância dêste
"paradigma".
1-SOLIDARIEDADE:"JUSTIFICADOS"E"PECADORES"
Quando Paulo declara que Cristo destruiu a parede de separação entre os
que estavam "longe" e os que estavam "perto" abolindo-a (Ef 2:14), e quando
proclama que Cristo "estáentronizado acima detodasas coisas", submetendo
todasas potestades a si (Ef1:20,23), claro que o apóstolo está bem conscientedo
que tal ordem de realidade implica. E, quando a Igreja "escuta" o Evangelho (Ef
1:13), ela deve compreender quais são as conseqüências desta relação:
1.a.)Não existe "muro" entre a Igreja e o Mundo:que não existe "muro"
entre o povo eleito e as demais nações éumarealidade clara que não pode ser
esquecida. A "eleição" de um povo em Abraão foi revelada já com a finalidade
explícita: " ...em ti serão benditas todas as nações da terra" (Gn 12:). A remoção do
"muro" entre o povo eleito e as demais nações deve levar a Igreja a pensar
seriamente em toda a problemática levantada pelos "nacionalismos" do mundo
contemporâneo e o desafio que de fato representa ao testemunho, aovigordo
Evangelho da paz. Há seguramente em Efésiosumateologia dejuízodefinitivo
sobre"ordens" de mentalidade e de estrutura em quese expressam os grandes
conflitos entre os povos.
A Igrejaé criada e destinada por Deus, segundoEfésios, a tornar visível
audível, tangível, e a manifestarpublicamentea vida, o amor, a justiça
inquebrantável do Senhor ressurreto. Nenhuma apologia pode ser feita de um culto,
de uma ordemlitúrgica, em que a realidade da obra total de Deusem Cristo não é
expressada conforme nós a encontramos nostermosbíblicos e, em especial, como
encontramos em Efésios. Um culto em que Cristo, cabeça detodaa humanidade, a
Igreja e o mundonão são tomados com a seriedade devida, simplesmente não tem
nenhum sentido de culto cristão.
De outro lado, temos que re-examinar as “divisões”, os “muros” que causam,
que perpetuam as estruturas tradicionais das nossas “denominações".As divisões
causadas pelas "ordens" que se pretendem justificar com referências bíblicas
isoladas! Os conceitos de autoridade eclesiástica dentro dosnossossistemas
tradicionais que fomentam toda uma mentalidade "clericalista" de profunda
"separação". Não é sem razão histórica, muito deplorável, que estamos na época
da "laicisação", da criação da "ordem leiga" em que a Igreja busca na épocauma
possibilidade de abertura mais ampla na direção do povo! Além da profunda
tragédia das separações "internas", estas estruturas causam uma separação
"artificial" entre a Igreja e o mundo o que dificulta ainda mais a fidelidade da Igreja

em cumprir o mandato e a vocação "com que foi chamada". Entre a "identificação
de Cristo","descendo até às partes mais baixasda terra", e os "pináculos" a que se
alteiamorgulhosamente as estruturasdenominacionais,há uma enorme diferença
que deixa contra nós um saldo muito ridículo. É preciso fazer-se a distinção entre o
"Evangelho" que é o próprio Cristo e as fantasias religiosas contemporâneas que
insistem em afastar a pessoa do Redentor daquelepovo que é o objeto da
totalidade do Seu amor revelado na cruz!
A Igreja é o "Corpo de Cristo" (e "há um só corpo"!), eumadas grandes
implicações desta realidade é o fato do condicionamento da Igreja "sera Igreja" na
medida de sua aptidão em traduzir concretamente o mesmo espírito de Jesus
Cristo. Arelevânciada Igreja está na razão direta de sua "submissão a Cristo", de
sua disposição em "aceitar" a decisão de Cristo de estar presente ondeElemesmo
decide estar da forma comoElejá decidiu erevelouem seu amor soberano (Fp
2:5-8 e Mt 25:34-40). A vocação da Igreja deriva da presença de Jesus Cristo e não
resta para a Igreja maio"honra" que a de ocupar aquelemesmo lugar de "servo"
que Cristo revelou e para o qual constitui a Igreja como "Seu Corpo". A descoberta
da presença de Cristo no "preso", no "faminto", no "estrangeiro" é o inaudito do
Evangelho da paz. Cristo já tomou uma decisão eterna à Igreja nos eventos do
Evangelhoem sua totalidade.
Temos que abrir aqui um pequeno parêntesis para mencionar um dos grandes
problemas na questão da Igreja. Somos ainda vítimas de uma longa e desastrosa
confusão histórica sobre a Natureza da Igreja. A noção de Igreja sofre de uma
verdadeira "infiltração" de platonismo filosófico. Trata-se do dualismo que concebeu
a Igreja como "visível e invisível", como "militans"(militante)ou como "triunphans"
(triunfante). Partindo de tais especulações as afirmações a respeito da Igreja ficam
cada vez mais confusas. A maiorresponsabilidadenesta confusão cabe a Santo
Agostinho por ter desenvolvido amplamente essa especulação platônica que cria o
abismo entre "idéia" e "realidade". O protestantismo participa do mesmo irrealismo
dePlatão com sua distinção celebre entre "Ecclesia visibilis" e“Ecclesia invisibilis".
Precisamos retornar ao texto bíblico pararedescobrirna sua terminologia toda
a significação que temos perdido sobre a Igreja.Restauraríamostoda a riqueza do
significado de certostermose ficaríamos livres da sobrecarga de traições históricas
que nos empobrecem mais e mais. Dotermo"ekklesia" que nos dá a idéia de uma
"assembléia popular"; dotermono Antigo Testamento—"gehalá" ou do "kenishtâ"
que, segundo os estudiosos do texto hebraico é o empregado para traduzir tanto
"ekklesia" como otermo“synagogê"—que nos dá a idéia de "chamado" de
comunidadepopular"; do termo empregado no Novo Testamento "laós"(povo)
como Igreja de Deus; destas realidades da linguagembíblica ao "eclesiasticismo" e
ao "clericalismo" em que nos encontramos hoje háumadiferença que por si mesma
se condena.
1.b.)"Em Cristo"—esteé o "eixo" da ética do Evangelho. Devemos afirmar
que não hápossibilidadede se tratar nem da Igreja nem das relações com a
sociedade sem tomar-se com seriedadeeste"eixo"—"em Cristo".

A Igreja necessita ser "revestida da armadura de Deus"a fim deser
"fortalecida no Senhor e naforçado seu poder" (Ef6:10-11), isto significa não
somente uma relação de dependência permanente da Igreja ao Senhor, mas
implica na profunda precariedade da mesma em sua presença num mundo de
forças hostis. Realmente, Paulo fala de um "mundo" que é arena das "astutas
ciladas do maligno" (Ef6:11). A situação da Igreja jamais poderá ser em relação ao
mundoumasituação de superioridade ou de um "status religioso" com vantagens
sobre a vida no mundo.
Além de tudo, deve ser assinalado que, a Igreja, segundo a carta aos Efésios,
está numa relação missionária com toda a humanidade. Esta relação deixa claro
que a Igreja é uma realidade preliminarmentetransitória;é uma instituição em
serviço. Melhor dito, a Igreja não é uma "instituição" ela é "uma expedição".
Contudo, ela é o primeiro fruto, o fruto que tipifica eexemplificacomo sinal, a
manifestação e o domínio total do "Reino" presente em Cristo Jesus. Ela é a única
comunidadeque vive na consciência de que está a serviço de Deus. A igreja vive a
reconciliaçãocom Deus e com os demais. Somentea Igreja conhece esta
reconciliação e a proclama precisamente por "sua submissão a Jesus Cristo" (Ef
5:24). Ainda mais, sua submissão não é uma tarefa "privada,", mas é realmente um
"serviço público".
Deus não esgotou sua atuação divinaao constituir a Igreja; Ele não
"transferiu" o poder e a missão. Paulo assevera com firmeza: "...pelo que diz:
desperta tu que dormes, levanta-te de entre os mortos e Cristo te iluminará" (Ef
5:14). Deus não se limita de maneira nenhuma a formas, mesmo que estas formas
tenham sido dadas por Ele. Nós não podemos capturá-lo em nenhuma de "nossas"
formas e em nenhuma das "suas formas." A Igreja é o corpode Cristo enquanto
permanece "em crescimento" (Ef2:21;Ef4:15) na direção da "Cabeça"!
No Antigo Testamento temos um texto que resume esta realidade que Paulo
está proclamando aos Efésios na equação "Deus=Igreja-Mundo". Diz esse texto:
"Eu o Senhor te chamei em justiça, tomar-te-ei pela mão, e te guardarei, e te farei
mediador da aliança com o povo, e luz para os gentios" (Isaías42:6). Em Efésios
esta missão do Servo do Senhor é expressa nas palavras: "... porém, agora sois luz
no Senhor; andai como filhos da luz" (Ef 5:8). A presença da Igreja no mundo, como
resultado da Obra de Deus, "filhos da luz" (=gerados da luz) implica na permanente
disposição da Igreja de não serde si mesma, mas ser para o serviço de Deus no
mundo.
Temos agora que enfrentar uma perguntacapital: como é que a Igreja
"levanta", "anda" e "serve"?
A única possibilidade do "serviço" ser fiel e honesto, isto é, correspondente ou
"coerente" ao ser daIgreja, à natureza da Igreja como "obra de Deus"éatravés da
humildade permanente. O "andar" deve ser dirigido à meta exata, ao objetivo
inequívoco. O "permanecer", ou melhor, o "ficar em pé" pressupõe a base firme e a
decisão de "agüentar" de "resistir".

Paulo em sua epístola aos cristãos naÁsiaMenor permanece ao lado dos que
não podem acreditar que uma "igreja-muro"(fechada em si mesma)seja verdadeira
ou que possa ser a manifestação da obra redentora em Cristo que destrói a
"inimizade",todasas formas de "servidão" e a morte! A "igreja-muro" éumídolo que
se adora a si mesmo e que se serve a si mesmo e não a Cristo. Ela está presente no
mundo damaneiramais negativa que se possa conceber, servindo como muralha
intransponível de separação entre Cristo e os que necessitam de Cristo. É
impossível que nesta altura não vos venha à lembrança a cena do Evangelho
relatada em Marcos 2:1-12! Quandoumparalítico foi impedido de chegara Jesus
por "causa da multidão". Tornou-se, então, necessário que seus amigos
introduzissem pela "porta do telhado"! Este incidente encorajador revela
primeiramente que Cristo veio realmente para "perdoar" e "restaurar" os que por
conveniência percam a esperança ficando doladodefora...Mas, ele desmascara
também a devastadora função que a formação de um muro em torno da Igreja pode
assumir.
O grave do problema é que a "muralha" em torno da Igreja será mais do que
um obstáculo para os que "necessitam" de Cristo (os de "longe", os de “fora”!), mas
será um obstáculo para "ambos" tanto para a Igreja quanto para os demais, pois
Cristo não só não faz acepção de pessoas como também destruiutodas as
divisões. O texto em Efésios é suficientemente claro: "... porque por Ele (Cristo),
temos juntos acesso ao Pai em um mesmo Espírito" (Ef2:18). O Evangelho da Paz
pregado naepístola aos Efésios é uma "espadade dois gumes". Ele declara em
sua plena essência: "Cristo é nossa paz" (Ef2:14). E este gume cortatodaa
pretensão de privatividade, exclusividade e auto-promoção a que os cristãos são
tentados em relação aos demais. Em conclusão, não há, deacordo com o
Evangelho da Paz, nenhum "muro de separação" entre a Igreja e o Mundo!
Entretanto, aqui pode surgir uma pergunta, à primeira vista, muito importante:
"e que é que se pode dizer a respeito da grande e 'elevada montanha' de onde foi
avistada a 'cidade que descia do céu', a cidade santa"?(cf.Ap21:10).Se lemos o
texto em sua totalidade vamos perceber que realmente foi revelado a João, o
vidente dePatmos, não uma 'imagem da Igreja' e sim a eterna e final presença de
Deus entre os homens:"... eis a habitação de Deus com os homens. Deus habitará
com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará comEles" (Ap 21:3) .
Não há menção de templo nesta "cidade", pelo contrário, háa afirmação clara do
"santuário de Deus"."Nela não vi templo, porque o seu santuário é o Senhor, o
Deus Todo-poderoso e o Cordeiro" (Ap21:22). Entretanto, há menção de que
"alguns" ficarão do lado defora! E então? "Nela jamais entrará cousa alguma
contaminada, nem o que pratica abominação e mentira..."e "Foraficamos cães, os
feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica
a mentira" (Ap 21:27; Ap22:15). Mesmo com tudo isto, nós não podemos
transformar "esta cidade" num símbolo do nosso "templo”e da "Igreja" ou num mero
paradigma dos "muros" e das montanhas que os próprios homens têm construído
em nome de Cristo. Não temos nenhuma autoridade e nenhuma possibilidade em
identificar "aquela cidade" que "desce do Céu", "preparada por Deus mesmo" eem
que "Ele mesmo habitará com as nações", com as nossas igrejas ou as nossas
denominações.

Quando numa outra "visão" João vê Satanás junto com Gogue e Magogue e
as suas hostes, lutando contra o "acampamento dos santos" e a"cidade amada",
nenhuma "muralha" é mencionada. Este "acampamento dos santos" é,
provavelmente, acomunidadedos que foram ressuscitados eentronizadosjuntos
com Cristo (Ap 20:4 e Ef 2:5)—é a Igreja. De conformidade com esta visão Deus é
quem defende o"acampamento" de seus inimigos, não com "muros de separação",
mas sim com "fogo que desce do céu... " (Ap 20:9).
O que queremos assinalar com tudo isso é simplesmente o fato de que em
Efésios a verdadeira "distinção" entre os do lado de“fora" e os santosque "estão
em Cristo" tem um sentido muito mais sério para a Igreja do que podemos imaginar.
Façamos, por exemplo, a leitura bíblica em textos como1Ts 4:12;1Co 5:12; Cl 4:5;
1Pd 2:12-em que a relação entre a Igreja e os "do lado defora" é sublinhadade
maneira direta.
Que há uma enorme diferença entre os cristãos e os que ainda não participam
da nova vida em Cristo é óbvio em todo o Novo Testamento. O que devemos
compreender, todavia, como de fato Efésios nos ensina suficientemente, é que tal
diferença não nos dá uma situação nem de superioridade nem de privilégio. Esta
diferença, determinadaexclusivamentepela obra da graça de Deus, que nos tornou
"filhos da luz" e que dáa Natureza da Igreja. O "ser" daIgreja (natureza) é o "fazer"
da Igreja. Enquanto nós insistirmos em isolar ou em inverter esta equação, não
seremos Igreja, seremosmeroativismo farisaico. Pois, ésomentea partir da
Natureza da Igreja, dada nos atos da "longanimidade e misericórdia", na
"multiforme sabedoria de Deus, no"Evangelho da Paz", é que seinstrui, que toma
sentido a Missão da Igreja. Devemos então concluir simplesmente dizendo que a
Natureza da Igreja é uma natureza missionária. Tudo quanto Deus lhe deu ou lhe
confiou não é para si mesma, maspara todos os demais. A Igreja está apoiada no
"fundamento dos apóstolos e dos profetas" e deles "Jesus Cristo é a pedra
principal" (Ef2:20); não podemos esquecer que "apóstolos", "profetas", "Jesus
Cristo"—são outros tantos nomes para o grande nome, para a grande palavra de
nossa fé: "Graça"; nós os temos porque Deus no-los enviou, são dádivas da
misericórdia para com o mundo que "Deus amou de tal maneira que deu seu filho
unigênito... " (João 3:16). O fundamento da Igreja mencionado no NovoTestamento
(apóstolos e profetas) é "fundamento em Cristo",eles permanecem enquanto
servem à natureza missionária da Igreja (Ef 4:7-12)!
Jesus Cristo realizou a salvação havendo "descido até às partes mais baixas
da terra" (Ef4:9).Somente quando nós aceitamos o "lugar" queElecomparte
conosco é que podemos nos chamar de cristãos. "Acesso ao Pai"nóssomente
temos "em Cristo" e "juntos" (Judeus e Gentios) e "em um mesmoEspírito" que é
dádiva Sua (Ef2:18;Ef3:12;Ef4:7). Não hápossibilidade da Igreja "andar
fielmente conforme seu chamado" (sua natureza) permanecendo em si mesma e
para si mesma—o lugar e a forma da presença da Igreja já estão determinados
pela Natureza da Igreja—"em Cristo".
Em todas as esferas e em todos os níveis da vida da sociedade, desde a

insuportável miséria da fome e da nudez, da exploração e do aviltamento da
personalidade até aos grandes "centros" de decisão humana ao nível político,
econômicoe social onde se jogam com os supremos valores éticos, nenhum cristão
é capaz de carregar o pecado do mundo. Cristo é o suficientemente capaz (João
1:29,36). Mas, o cristão é um atestado da obra de Cristo na medida em que
expressa "solidariedade"em atos de ajuda, de compreensão de simpatia fraternas.
Nenhumcristão tem a chave da solução dos grandes e complexos problemas
da política e da economia, da ciência e da cultura, da sociedade e da mente
humana. Mas o cristãoparticipa totalmenteecomunitariamenteemtodasas frentes
de batalha, correndo os riscos deerro, com o esforço humano em todos os campos.
Solidariedade e comunhão com o que estão "longe" e com os que estão "perto" são
sinais da santa Igreja e dos santos que não se "envergonham" do Evangelho da
paz, mas que vivem no mundo "de modo digno da vocação com que foram
chamados (Ef 4:1). É a medida da humildade da Igreja que lhe dará esta dimensão
da relevânciano mundo.Paulo torna explícitoimediatamenteo sentido primeiro
deste"andar de modo digno" quando afirma: "com toda a humildade e mansidão,
com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor" (Ef 4:2). Com toda
certeza"em amor" não significa menos do que "em Cristo".
Podemos agora tirar algumas conclusõessobreo sentido desta solidariedade
entre a "Igreja" e o "mundo" para empregar aindaumaterminologia tradicional
emboraesvaziadade significação.
1.c.) Solidariedade entre a Igreja e o Mundo exclui qualquer pretensão
de que a Igreja seja melhor do que o mundo.Tal afirmativa nos desafia a uma
revisão mental muito profunda e completa sobre o que temos aprendido e pensado
e até "dogmatizado" arespeito do mundo. Afinal de contas já é tempo de
enfrentarmos com toda a honestidade cristã o problema do "mundo" dentro do
nosso próprio coração, da nossa mente, das nossas categorias de pensamento, de
nossos critérios de valor e até de nossas formas de"igreja". De outro lado, está
claro que há formas de vida, ordens de relações queconstituem, segundo Efésios
um mundo (aeon) que Cristo destruiu, inaugurando, revelando uma nova ordem de
relações. Daí o fato significativo de Paulo exortar aoscristãosemÉfeso que "não
andem mais segundo aqueleaeon",...pois éreis trevas, mas agora sois luz no
Senhor;andai como filhos da luz" (Ef5:7-8). Trata-se do queEles eram e não do
mundo.
Por outro lado, Paulo os exorta não porque alimentasse algumas suspeitasou
tivesse alguns pensamentos maliciosos quanto aeles, e sim porque o "mundo" em
cadaumade suas formas e de suas forças era paraeles uma constante e forte
tentação.
NãoSomenteos "gentios", mas os "cristãos" são admoestados a não
"andarem mais como meninos agitados de um lado para outro e levados ao redor
por todo o vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que
induzem ao erro" (Ef4:14); "não andeis como também andam os gentios na
vaidade dos seus próprios pensamentos(mentalidade)" (Ef4:17); "não mais

segundo as concupiscências do enganoda caricatura do homem antigo" (Ef4:22) e
"não furteis mais, mas trabalheis" (Ef4:28). Paulo recordaquetais cousas trazem a
"ira de Deussobreos filhos da desobediência" (Ef5:6), contrastando então o "fruto
da luz com as obras das trevas" (Ef5:1-15) . Detodamaneira está claro que aquilo
que precisa ser dito a respeito do mundo também é dito a respeito dos santos. E
aquilo que é concernente aos santos é também concernente aos que ainda estão
"fora". Oapelo: "de maneira digna fostes chamados" (Ef4:1), é um chamado para
"arrependimento", para "conversão", para "esperança", para "nova vida" estendida
aos que ainda não a têm. Se existe uma diferença entre os que estão "perto" e os
que estão"longe" em relação à vida e às tentações e ao pecado, a única diferença
é esta: os gentios ainda andam sem o conhecimento da salvação (e as
conseqüências desta "ignorância"), enquanto os cristãos conhecem a graça que se
revelou em Cristo e conhecem os seus pecados. Confessam e vivem de
arrependimento (Ef1:7) como escolhidos representantes do novo mundo no
mundo. Assim, é o perdão dos pecados a sólida base para a solidariedade entre
crentes e não crentes.
1.d.) A solidariedade entre a Igreja e o mundo nãodepende da amizade
nem ao menos de uma atitude de tolerância dos incrédulos para com os
crentes.Solidariedade, criada pelo Evangelho da paz, é incondicional. Pode haver
épocas em que o estado e a sociedade reconheçam a utilidade e a liberdade da
Igreja e,quando, como no caso da América, sejam favoráveis e atéencorajemo
funcionamento do "serviço da Igreja".Contudo, devemos assinalar hoje mais do
que nunca que a Igreja não depende de nada disso para sua fidelidade à sua
Natureza e à sua Missão!
Isto significa num sentido bem profundo que a Igreja não pode estar apoiada
senão em Deus; não há nenhuma ilusão para a Igreja com relação àsforçasque
constituem o mundo e que neleatuam permanentemente. Paulo adverte esta
realidade na epístola aos Efésios quando trata da necessidade do permanente
"revestimento" da Igreja e sua "adestração" para usar a "armadura de Deus", afim
de resistir "no dia mau", "ficar firme", "contra as astutas ciladas do diabo" (Ef
6:10-20. Concede inclusive seu "testemunho" como "embaixador até em cadeias"
(Ef6:20). Esta solidariedade com o mundo no sentido "incondicional" significa
precisamente a independência em que a Igreja precisa viver em relação às
respostas do mundo à Verdade.
Aqui está precisamente uma das dimensões da "glória" da Igreja: sua
participação no ministério de Cristo que, segundo o relato evangélico "padeceu" e
não foi recebido "pelos seus, tendo vindo para o que era seu" (João 1:11). Ounuma
expressão ainda mais decisiva: "no mundotereisaflição, mas tende bom ânimo, eu
venci o mundo" (João 16:33). A perseguição que Igreja deve sofrer no mundo faz
parte tanto da natureza do mundo quanto da natureza da própria Igreja. A dimensão
de sua solidariedade é determinada não pelaaceitaçãopor parte do mundo, mas
pelo caráter do amor que a Igreja deve manifestar em Cristo—ela deve viver
dentro da multiforme sabedoria de Deus e da suprema riqueza de sua insondável
misericórdia, do seu amor que "ultrapassa todo o entendimento".

A solidariedade da Igreja é posta à prova precisamente quando maiores são
os obstáculos que são colocados na sua jornada. Paulo encarece a indispensável
realidade da "armadura total de Deus" (Ef4:11) e acrescenta especificadamente:
"cingindo-vos com a verdade, vestindo-vos com a couraça da justiça; calçai os pés
com a preparação doevangelhoda paz; embraçando sempre o escudo da fé, com
o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno" (Ef6:14-16). Isto
significa que não háumasegurança terrena para a Igreja. Ela deverá viver mesmo
pelafé apoiando-se nos atos de Deus e não na aceitação do mundo.
2. DIMENSÕES DA ÉTICA DO “EVANGELHO DA PAZ”
O eixo "em Cristo" que nos é dado naepístola não nos permite escapar à
tentativa de conceituar a Ética do Evangelho em dois sentidos fundamentais:
-Sentido Comunitário em oposição àmentalidadedo individualismo religioso;
-Sentido Diaconal (que deriva do verbo grego "diakoneo", que significa o
servidor da cidade), em oposição à mentalidade doegoísmoreligioso que visa
sempre "a minha salvação","o meu lugar no céu".
Toda a realidade ética na epístola aos Efésios está submetida a uma
expressão muifreqüenteem todas as cartas do apóstolo Paulo—"em Cristo".É
exatamente esta a realidade que assinala a diferença entre o "antes" e o "agora não
mais" em toda a situação dos Judeus e dos Gentios. Esta oposição entre o que
eram "sem Cristo" (Ef2:12) no mundo e o que "agora não são mais" é marcada pela
totalidade e gratuidade da obra de Deus "em Cristo" (Ef2:13; Ef2:8). De maneira
que não há nenhumapossibilidade de se tratar de "ética" senão a partir da
Cristologia que encontramos como a essência mesma do "Novo Testamento", não
é apenas um "testamento", mas é um "novo" testamento—é Testamento "em
Cristo".
É muito importante que assinalemos que hána estrutura das epístolas
paulinas(como no Evangelho mesmo)uma ordem inalterável. Tomemos, por
exemplo, a epístola aos Romanos. Nela temos os primeiros 11 capítulos que tratam
dos grandes atos de Deus ("...o Evangelho é o poder de Deus"-Rm1:16),
"universalidade do pecado" (“...temos nós algumavantagem?Não, deforma
nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeuscomogregos, estão
abaixo do pecado; como está escrito: não há justo,nem sequerum, não há quem
entenda..."-Rm3:9-12). Então, o "inaudito" do evangelho: "Justificação" como um
ato da graça de Deus (Romanos4).
Seguem-se daí os grandes atos de Deus nesta "justiça imputada pela fé"
como foi tratada pelos reformadores no século XVI:
-"Libertação da ira de Deus",ondetemosentão, "paz com Deus", somos
"reconciliados com Deus" (cap. 5);e,
-"Libertação do pecado",ondetemos como resultado a amplitude da nova
vida em Deus (cap. 6:1-14);
-"Libertação da Lei", temos então como resultado a nova situação de "servos
da justiça"e não"escravos de legalismo" (cap. 6:15-18, sendo, então, "Libertados

da morte" para vivermos a Vida Eterna.
Qual o penhor de tudo isto? Paulo responde em Romanos da mesma maneira
comoresponde em Efésios: "o Espírito"! Leia-se o capítulo 8 da carta aos
Romanos. Então, agora "porque não recebestes o espírito de escravidão para
viverdes outra vez atemorizados, mas recebestes o Espírito de adoção, baseados
no qual clamamos:“Abba, Pai”. O próprio Espírito testifica ao nosso espírito que
somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros de Deus e
co-herdeiros com Cristo..." (Rm8:15-17). Então, seguem-se mais três capítulos que
tratam da "justiça soberana" de Deus e a "situação" de Israel com os "demais"
gentios.Somenteentão, isto é, apósonze capítulos que tratam da ação de Deus é
que Paulo vai tratar da "ética". Claro é que há uma ordem determosque não se
pode alterar.
O mesmo se dá nos relatos do Evangelho. Podemos notar esta ordem não no
seu sentido literárioou estrutural, mas no seu sentido exegético quando lemos em
Marcos: "Depois de João ter sidopreso, foi Jesus para a Galiléia, pregando o
Evangelho de Deus,dizendo:O tempo está cumprido e o Reino de Deus está
próximo" (Mc1:14-15),somente após é que se anuncia: "arrependei-vose crede no
Evangelho".
É exatamente porque há um "Evangelho" que é possível o arrependimento.
A expressão "em Cristo" utilizada por Paulo em suas epístolas e,
especificamente agora no caso de Efésios, significa a amplitude na qual os cristãos
podem viver; amplitude que está sempre em oposição à estreita rigidez de todas as
formulas e ordenanças legalistas. É mais do que evidente que Cristo na epístola
aos Efésios não é um "doador de leis", mas é o autor da Paz, pois, o texto afirma
com toda a clareza: "...e, vindo, Ele evangelizou a Paz a vós outros queestáveis
longe, e Paz também aos que estavam perto" (Ef2:17).
Devemos ainda sublinhar que a expressão "em Cristo" trata, em Efésios,
diretamente do Cristo que triunfou sobre a morte pela ressurreição. Estarealidade
fereo problema da liberdade, pois aressurreiçãoé a grande libertação da morte e a
inauguração de um novo "Reino", de um novo "século" (aeon) que é o "Reino da
vida". Os cristãos são tratados na epístola dentro desta nova ordem de realidades
criadas, resultantes da ressurreição do Senhor. É impressionante que a questão da
liberdade do homem não seja tratada em Efésios. Realmente não faz nenhum
sentido tratar-se da libertação "daqueles que estão mortosem seus delitos e
pecados" (Ef2:1). Paulo torna muito claro que nem a "mente", nem a "vontade" e
nem as "funções do corpo" do homem, nada está isento do pecado; a totalidade do
homem em suas relações é pecado (Ef2:3-5)! A ressurreição cria um "novo
homem": aquilo que era morte agora é vida e aquilo que era escravidão agora é
liberdade.Elevos deu vida, estando vós mortos..." (Ef2:1). "Quando Ele subiu ao
alto, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens" (Ef4:8).
Então, "sede, pois, imitadores de Deus, como filhos (herdeiros) amados; e
andai em amor,comotambém Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por

vós..." (Ef5:1-2). Paulo está sempre apontando para a generosidade do amor com
que fomos amados. Enquanto temos presente esta realidade, a generosa
compaixão de Deus para conosconão temos nenhuma possibilidade de sermos
irreconciliáveis e intolerantes e arrogantes ou orgulhosos com o nosso próximo.
Não há outro caminho em que devemos e podemos andar senão aquele caminho já
indicado "em Cristo"—"andai em amor" (Ef5:2). Aliás, convém recordar que Cristo
estabeleceuum critério para se decidir quanto a realidade de sermos ou não seus
discípulos.Eleafirmoucategoricamente: "Nisto todos conhecerão que sois meus
discípulos, se tiverdes amor uns para com os outros" (João 13:35). Esta é a
credencial. Se Cristo mesmo já tomou esta decisão não estaremos em oposição a
Elequando estabelecemos outras "credenciais" que nos identifiquem como
cristãos? Nossas formas de ritual, dedoutrinas? Não estará tudo questionado pela
irremovívelverdade que esta simples expressão "em Cristo" traduz para todos e
para sempre? "Todos conhecerão que sois meusdiscípulos...", o sentido de
universalidadeou totalidade que aí é dado não nos poderá abrir novos horizontes
quanto ao testemunho da Igreja?
Se fosse possível a compilação de umcatálogoou de uma "lista" que
relacionassetodasasexpressõesadjetivas da vida cristã segundo o Novo
Testamento não há nenhuma dúvida que todas seriam encabeçadas pelo grande
mandamento do amor. Ele é o eixo em torno do qual se move a ação de Deus e
outro não poderá ser o eixo em que se há de mover a ação da Igreja, a menos que
ela deixe de ser a Igreja edeixede "andar de maneira digna da vocação a que foi
chamada" (Ef4:1 eEf5:2).
Sem dúvida nenhuma muito dos obstáculos para o relacionamento vital e
decisivo da Igreja com a sociedade estájálocalizado na "fraqueza" ou na
"ausência”desteamor por parte da Igreja. Isto é, a Igreja estaria se recusando em
ser fiel a Cristo não amando a todos como Cristo amou e se entregou a si mesmo
por todos! Na epístola aos Efésios, como em todasas demais cartas
neo-testamentárias, há todo umvocabulárioque assinala esta dimensão de
relacionamentoem amor comumainsistência que não justifica nossa indiferença.
"Por isso, deixando amentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque
somos membros uns dos outros... não se ponha o solsobrea vossa ira. Não saia da
vossabocanenhuma palavra torpe, e, sim,unicamentea que forboapara
edificação, conforme a necessidade, e assimtransmita graça aos que ouvem ...
longe de vóstodaa amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim
toda a malícia. Antessedeuns para com os outros benignos, compassivos,
perdoando-vos uns aos outros como também Deus em Cristo vos perdoou" (Ef
4:25-32). Aí segue-se o grande texto de que estamos tratando nesta porção do
estudo: "Sede, pois, imitadores de Deus, como herdeiros amados" (Ef5:1). Esta
exortação que parece, à primeira vista,umaenorme pretensão humana, deve ser
entendida à luz do sentido indicado nas palavras precedentes e às quais se refere a
conclusiva "pois" ou "portanto".Somenteo perdão de Deus em Cristo,revelação do
amor, o Evangelho da paz, é que permite esta imitação que consiste em tomar tal
amor perdoadorcomomodelo ecomooportunidadeaberta e nãocomouma
obrigação humana.“Imitação de Deus" e "andar em amor" ou "em Cristo" ou "andar
de maneira digna da vocação" são expressões absolutamente idênticas na

epístola.
Imaginemospor um momento a audácia do homem tentar "imitar a Deus"!
Não é de maneira alguma a intenção e o pensamento de Paulocolocar-nosno
mesmo nível de Deus, o nível da igualdade com Deus! Pois, a pretensão de "ser
igual a Deus" é a pretensão básica do pecado (Gn3:5)! Paulo mesmo em sua
epístolaaos Romanos ao tratar da "idolatria e depravação humana" nos diz
exatamente isto, quando declara : "inculcando-se porsábios, tornaram-se loucos, e
mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem
corruptível..." (Rm1:22,23).
Na epístola aos Efésios o tema é tratado muitoclaramente:
a)"Sedeimitadores de Deus"!-Como? "Como herdeiros amados"! Não
somos colocados de maneira alguma numa posição de "relação de igualdade", mas
sim numa relaçãode "filiação em amor". A"semelhança"com Deus está aqui numa
oposição frontal e completa à pretensão de querer ser igual a Deus ou a tomar o
lugar de Deus; a oposição reside no adjetivo dessa semelhança que é dado
também em todo o contexto da epístola: "glorificar a Deus". Isto é algo mais doque
simplesmente ser leal à verdade, envolve minha decisão de que Deus faça a sua
vontade e envolve a mais profunda gratidão e humildade para com "aqueleque me
amou e se entregou a si mesmo por mim".
Por outro lado, não podemos esquecer o plural, a dimensão decomunidade,
de vida cristã vivida em Cristo que é dada na epístola toda. A ética decorrente do
"evangelho" se opõe de forma radical àmentalidademoralista e legalista de todos
os sistemasreligiososque formulam programas para o "indivíduo chegarao céu" ou
para o "indivíduo se santificar". O Novo Testamento desconheceestetipo de
santificação. Aliás, ela se assemelha exatamente à men talidade "farisaica"
condenada por Cristo tão severamente. Pois, é aqueletipo de religiosidade para
"mim mesmo" eque nada tem de cristã! A ética doevangelho é ética em Cristo, isto
é,comunitáriae para serviço, para a vocação da Igreja em favor dos outros. Tal
realidade transforma de maneira radical as relações do homem com Deus e com o
seu irmão, com o seu próximo. É exatamente o que Cristo faz. Cria um "novo
homem" que não vive mais para si mesmo, masque passa a viver para os outros
em Cristo, em amor.Esteé o fundamento em que se assentam todas as
declarações de conotação "moral" da epístola. A nova vida em Cristo é uma vida
libertadapara ser dos demais, para dar-se a si mesma em resgate dos outros.
Paulo está seguro que nada senão o amor de Deus revelado em Cristo é agarantia,
a fonte detodaamotivação, e o critério da existência da Igreja no mundo. No
momento em que a Igreja olvida estas duas dimensões da éticadecorrentedos
grandes atos de Deus perde sua razão de ser, pois nada foi dado a Igreja para si
mesma senão para que seja "manifesto aos demais"!
Está, pois, aí, em resumo, segundo o que se pode extrair daepístolaaos
Efésios, uma base de capitalvalorpara repensarmossobreocondicionamentoda
"conduta cristã" a certas formas e normas rígidas e individualistas estabelecidas
pelasdenominações. Parece claro que o amor de Deus em Cristo criador da

Natureza e da Missão da Igreja no mundo está sempre questionando as formas de
vida e de presença da Igreja em relação ao mundo. Efésios comemora uma nova
ordem de relações, uma nova vida que foi criada pela poderosa ressurreição de
Cristo e que está para ser compartida com toda ahumanidade. Assim o fundamento
ético é o fundamento dado na natureza missionária ou apostólica da Igreja. Sua
suprema expressão é a dinâmica do amor. A função capital eunificadora de todos
os ministérios concedidos à Igreja em Cristo é a "construção do corpo em amor" (Ef
4:15).
b)"Em Cristo" ou "no Senhor"—está a grande liberdade responsável com
que Deus nos libertou para não transformarmos o nosso próximo num "objeto" ou
numa "coisa". Esta nova ordem derelaçõesem Cristo é profunda e cotidianamente
real nas esferas da vida humana de maneira completa e permanente.O mesmo
amor com que "fomos amados em Cristo" exemplifica e possibilita as relações entre
o esposo e a esposa (Ef5:22-30); entre os pais e os filhos (Ef6:1-4); entre
empregados e patrões (Ef6:5-9)! É uma relação que deve repercutir na vida em
suas diferentes esferas sociais.
Finalmente, mais uma palavra sobre o sentidoapostólicoou missionário da
ética. Aqui vamos tratar um pouco do tema da "evangelização" ou vamosnos
aproximar do tema da "grande comissão" (Mt 28:18-20) ou do tema do sentido do
"testemunho" (Atos 1:8), em que se pode ter uma visão daamplitudemundial e toda
inclusiva da missão da Igreja em Cristo o "autor da paz".
Parece claro que Efésios impõe algumasconclusõessobreestetema e que
elas podem ser meditadas na forma de algumas declarações básicas paraefeitos
de reflexãocomunitáriaou em grupos de estudo.
c) Deus é o "seu próprio" evangelista, e constituiuma honra para a
Igreja ser usada neste "serviço".A evangelização envolve exatamente tudo o
que o evangelho significa—a "obra perfeita de Deus", "sua multiforme sabedoria",
"as riquezas incompreensíveis da sua graça", a "plenitude do seu amor".
UnicamenteDeus pode revelar-se a si mesmo através da obra que realizou em
Cristo. Cristo éoperfeito evangelista.Eleveio e evangelizou a paz aos que
estavam longe e aos que estavam perto". Já assinalamos que se trata
fundamentalmente não de palavras mas de "palavra-atos”em uma crucificação!
Cristo "evangeliza a Paz" fazendo a Paz por meio de sua morte na cruz. De
conformidade com Hebreus 2:3, "o Senhor é quem anuncia pela primeira vez a
salvação”e emHb12:24“o sangue de Jesus" fala acima de qualquer outra pessoa.
O Cristo crucificado é o "Evangelista".Ele é o "Apóstolo".
Mas, de acordo com Efésios há outros evangelistas e apóstolos, profetas,
pastores e mestres! SoboCristo crucificado e ressuscitado permanece a tarefa do
apostolado da Igreja no mundo. Aquinecessitamospenetrar, ainda que não muito
profunda ou extensamente, no estudo dos "ministérios a partir do ministério de
Cristo". É imprescindível que o façamos nãosomente porque a epístola trata de
maneira especifica o tema, mas porque é impossível tratar da Natureza e da Missão
da Igreja no mundo sem uma séria reflexão sobre os "ministérios" da mesma.

Atualmente quando se discute especialmenteotema há grandes perigos de nossa
mente se afastardo relevante significado bíblico que ai está implicado.
Antes de assinalarmos qualquer coisasobreos "ministérios" devemos ter em
mente o contexto em que Paulo trata o tema nestaepístola: "HáSomenteum corpo
e umEspírito,como tambémfosteschamadosnuma só esperança da vossa
vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos,
o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos" (Ef4:4-6) : "e a graça
foiconcedidaa cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo" (Ef 4:7)!
d) A Igreja não tem outro propósito senão o de viverpublicamentepara a
"glória de Deus".Sobre este tema muito tem sido discutido nos últimos dias. De
um lado, há os que afirmam ser dupla a tarefa da Igreja: "culto" e "missão". De outro
lado, há os que afirmam, baseados em textos como Atos 2:42-47, que há pelo
menos três propósitos definidos para a Igreja: "adoração", "comunhão" e "serviço",
sendo tudo mais decorrente e inter-relacionado aestes três.
Não há dúvida que todosestestermossãotermosbíblicos. Contudo,
devemos assinalar que eles são indicados por quatrotermosequivalentes em
grego: "eucharistia", "diakonia", "kerygma" e "koinonia" que correspondem em
nosso idioma respectivamente "ação de graças", "serviço", "mensagem"(pregação,
anúncio)e "comunhão". Claro que nenhuma destas palavras está com seu sentido
expressonas traduções. Cada uma delas valeria todo um profundo estudo bíblico
que muito edificaria a mente da Igreja. Ademais, devemos observar que outros
livros do Novo Testamento(Filipenses, 2Coríntios, 1 Pedro, por exemplo)tratam
mais específica eexaustivamente daquilo que podemos chamar de "fundamentos
da missão" da Igreja que estas palavras simplesmente assinalam.
O testemunho que Paulo dá em Efésios da vida da Igreja é rico, amplo e
profundo. Ele trata da "multiforme sabedoria de Deus" que deve sermanifestapor
intermédio da Igreja: (3.10). Mas com incomparável clareza e vigorEletambém
mostra que a Igreja foi criadae congregada, comissionada, sustentada e equipada
para o grande propósito de "glorificar a Deus" (Ef1:12;Ef1:6,14) isto é, para louvor
da glória de Deus que significa uma vida de "ação de graças" pelos dons recebidos
em Cristo (Ef5:20).
Não pode haver sombra de dúvida de que naepístolaaos Efésios toda a
missão da Igreja é "resposta" à ação de Deus—assim, louvor e ação de graças,
glorificação e adoração se expressam na amplitude da "multiforme sabedoria" de
Deus que criou a grande liberdade para uma nova vida de relações em amor. É
gratidão dinâmica criada pela natureza das obras de Deus na sujeição de "todas as
cousas" àunidadeemCristo e gratidão por "todos os homens" em favor dos quais
foi "destruída a parede de separação" (Ef1:10,22;Ef2:13-14). Tudo isto torna claro
que a Igreja em todos os seus atos está orientadabasicamentena direção de duas
frentes—Deus e o inundo. Esta realidade nos lembra que não pode haver uma
comunhão "privativa" da Igreja com Deus ficando o mundo do lado defora! Se
observamos bem os relatos que tratam da "Ceia do Senhor" veremos que se
constituem muito mais numa "festa de amor" (ágape) do que numacerimônia

ritualista ou numa"comunhão fechada" (Atos 2:42; 6:1; Lc22:12. Atos 12:12; 2Pe
2:13)! Este é o momento de nosperguntarmos até onde as Escrituras nosapóiam
na celebração de "atos" de relação "particular" entre nós mesmos como Igreja e
Deus?O que é que a Igreja pode e deve fazer para simesma,comoalgo
"incomunicável", "misterioso" e que os demais devam ser excluídos? Há
"elementos" exclusivos dos crentes?
Parece evidente que nãosomenteos "sacramentos", mas também toda a
pregação, a oração, o ensino, a fraternidade, a adoração que estão "integradas"
nos sacramentos, deveriam ser mediadores de uma exclusiva inter-comunhão
entre Deus e os "seus"! Ora, tal forma de relação com Deus implicaria
necessariamentena exclusão dos demais ou naex-comunhão dos "defora"!
Contudo, Paulo indica na sua 1ªepístolaaosCoríntiosduas realidades que
questionameste"exclusivismo" sacramental: "...tendo dado graças, o partiu e
disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim...
tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue...
porque todas as vezes que comerdesestepão e beberdesestecálice, proclamais a
morte do Senhor, até queElevenha. Por isso, aquele que comer o pão ou beber o
cálice do Senhor,indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor...
Examine-se, pois, o homem a si mesmo,edessemodo coma do pão e beba do
cálice; pois quem come, e bebe, sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe
juízopara si" (1Co11:24-29).
Está claro no texto de Paulo que o ato da ceia do Senhor em que há os
"símbolos" do "corpo" e do "sangue" do Senhor,a Igreja é colocada com o mundo
perante a grande realidade daquele "ato de entrega de si mesmo" em favor dos
pecadores todos que Cristo praticou. Paulo afirma com enorme clareza que o
sangue é "a nova aliança", é o "novoTestamento"! A quem pertence este "novo
Testamento" que neste texto não é um livro de bolso? Então, Paulo afirma que a
ceia do Senhor e a participação nela é um "ato de proclamação da mortedo
Senhor"! A quem se destina esta proclamação? Quem foi que Deus amou "de tal
maneira que deu seu Filhounigênito"?
Além disso, Paulo trata da "maneira" de se participar na ceia do Senhor que é,
sem dúvida, um ato comunitário e nunca individual, tornandoclaro em que consiste
a "participação indigna": não discernir o corpo do Senhor! Temos que perguntar
pela "significação" do corpo de Cristoa fim depodermos realmente participar
"juntos" dosbenefíciosque dele emanam.
O vocabulário, a estrutura, o conteúdo de Efésios estãoimpregnadosde
referências à oração,àIgreja, e à maneira do cristão conduzir-se no mundo. Claro
que devemos esperar desta epístola noções muito mais ricas e precisas sobre as
relações entre o serviço da Igreja a Deus e o seu serviçono mundo do quede
qualquer outro livro do Novo Testamento. Por esta razão devemos perguntar se o
apóstolo, naepístolaem que trata mais intensivamente da Igreja,estaria
encorajando e formulando uma conceituação "sacramentalda Igreja".

Efésios usa escassamente como os demais livros do Novo Testamento o
termo que poderia ser equivalente para o conceito de sacramento usado na
patrística e na escolástica. Dos dois sacramentos (Batismo e Ceia do Senhor) que
são celebrados em todas as comunidades cristãs,somenteo Batismo é
mencionado em Efésios. O nome "eucaristia" é fundado emEf5:4 (correspondendo
ao verbo usado emEf1:16;Ef5:20); mas todo o contexto mostra queelesignifica
"ação de graças" em cada uma de suas formas possíveis e não na celebraçãode
um determinado ato ritual. A menção que é feita ao Batismo está numa relação que
não podemosmenosprezar: "Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo" (Ef4:5).
3. O MINISTÉRIO DA IGREJA
Parece ser exatamente este omomento para tratar do "ministério" da Igreja,
pois Paulonos conduz nesta direção no capítulo 4 de Efésios.Eleinicia o texto em
que vai tratar do "ministério" precisamente com estas palavras: "Rogo-vos, pois, eu,
o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a quefostes
chamados" (Ef4:1), seguindo-se, então, o que eleentendepor "modo digno com as
seguintes palavras: "com toda a humildade e mansidão, com toda alonganimidade,
suportando-vos uns aos outros em amor..." (Ef4.2), segue-se, então o grande tema
daUNIDADE(Ef4:3-6) e, como decorrência natural o grande tema do
"MINISTÉRIO".
JESUS CRISTO é o protótipo de todo o Ministério da Igreja. Tratar do
ministério é tratar de JesusCristo. Sua "Pessoa-Missão" éafonte primária e o
paradigma por excelênciade ondepodemosexaurir o sentido total do ministério da
Igreja e a noção básica de que a Igreja é Missão.O batismo de Jesus no seu
significado apontapara o sacrifíciopascal. Jesus disse adiscípulosseus:"Não
sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cáliceque eu bebo, ou receber o batismo
com que eu soubatizado" (Mc 10:38)? Neste texto "baptisthenoi" ésinônimo de
"morrer"!
Os relatosda Santa Ceianos Evangelhossinóticos, a despeito das
diferenças dedetalhes, são unânimes em afirmar que, no momentoem que Jesus
"parte o pão" e "toma o cálice"eleanuncia que "seu sangue seria derramado por
muitos", e, todos os relatos contêm otermodiathéke.Em João há uma completa
relação entre o batismo de Jesus e sua morte "substitutiva":"Eis ocordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo"(Jo1:29,36).Tal relação entre Jesus e sua morte
substitutiva é o tema que permeia todo o Novo Testamento. Jesus é o "Bom Pastor
que dá a sua vida"(Jo 10:11). Tais palavras apontam para as noções de
substituição, entrega, resgate, serviço.A expressão quetemos no Evangelho de
João "cordeiro de Deus"(amnós toü theoü) é equivalente a expressãoaramaica
"Ebed Yahvé"("Servo do Senhor").
Doministério do "Servo", do autêntico "diakonos" (JesusCristo é o diácono de
Deus para o mundo!), aqueleque veio "não para ser servido, mas para servir e dar
a sua vida"(Mt 20:28; Mc 10:45),é que deriva a verdadeira dimensão do ministério
da Igreja como "laós toü theoü". O batismo de Jesus é, por assim dizer-se, uma
antecipação da totalidade do ministério. O Ministério da Igreja é o ministério de
"todos os batizados". Pois, "fomos batizados na sua morte" (Rm 6:3). "Ele mesmo

deu uns para apóstolos, outros paraprofetas, outros para evangelistas, outros para
pastores e mestres, com vistas ao equipamento (katartismón) dos santos para o
desempenho do seu serviço”(eis érgon diakonfas), diz-nos Ef 4:11. Jesus Cristo é a
fonte de todos oscarismas. Acomunidadedos carismas consiste, portanto, na
participação em Cristo.
Aqui, desta perspectiva em que Paulo nos coloca com o texto de Efésios (cap.
4), é o lugar para se tratar do sentido bíblico que nos é dado na expressão“laós toü
theoü”.A redescoberta da Natureza da Igreja nos leva à conclusão de que,
verdadeiramente, o "poder" das chaves não foi dado somente a Pedro, mas à
totalidade do "laós toü theoü" como acomunidadedos crentes ou a "comunhão dos
santos" (Mt18:17)
"... se teu irmão pecar, vai argüi-loentreti eElesó... em verdade vos digo que
tudo o que ligardes na terra, será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra
terá sido desligado no céu"(Mt 18:18). Além destetexto o Evangelho de João nos
dá outro que nos comunica a mesmarealidade:"Se de alguns perdoardes os
pecados são-lhes perdoados; se lhos retiverdes, são retidos" (Jo20:23).A Igreja foi
criadasobreo "fundamento" dos Apóstolos pelaefusãodoEspíritoSanto, que fez
com que todos os membros (batizados em Cristo) fossem testemunhas dos atos de
Deus. Portanto, a sucessãoapostólicanão pode jamais ser interpretada em linha
"unilateral", ou seja, quesomente pessoas que tenham recebido "ordenação"
especial dela possam participar. Ao contrário, a Igreja éapostólicacomo a
"comunidade" total que participa da "doutrina dos apóstolos, do partir do pão, da
comunhão fraternal e das orações". Desta forma, mediante o batismo em Cristo
todos participam da sucessão apostólica, todos participam do "ministério", todos
participam do "serviço"—a vida total da Igreja é apostolado.
Parece-nos claro que, a partir do texto mesmo, e não das especulações
sectaristas, podemos sublinhar como possível enriquecimento das noções
"tradicionais"sobreo ministério da Igreja algumas dimensões mais profundas e
mais completas:
3.a.) O Ministérioé"serviço"—isto é,diakonía, e como tal, pressupõenos
que o exercem a honesta atitude de humildade competente (é exatamente ai que
Paulo inicia o capítulo sobreo ministério: "... que andeis de modo digno da vocação
a que fosteschamadoscomtodaa humildade...").
O ministério confiado à Igreja exige, porsuanatureza em Cristo, o
despojamento por parte da Igreja de qualquer vislumbre de vaidade, de glória
prematura. A Igreja só pode exercer sua missão emtermosde uma vida de serviço,
uma vida de diácono (literalmente criado "doméstico", "garçom").
3.b.) O Ministério é serviço no mundo e para o mundo.Não é exercido em
abstrato, em "conventos" mas em concreto envolvimento nas contingências do
mundo.Esteenvolvimento é enfrentado pelo ministério como uma dasimplicações
inseparáveis da Encarnaçãode Jesuse conduz a Igreja a uma redescoberta da
dimensão positiva da História Humana.

3.c.) O Ministério"serviço" nos liberta das limitadas e pecaminosas
conotações institucionais (profissionais), individuais, e,conseqüentementede
uma noçãoerrôneade Igreja centralizada no rotineiro trabalho de um "pastor que
vive para a Igreja mesma, afim de conduzir-nos, então, a uma alta compressão de
"ministério" como o serviço queumpovo ministerial mediante todas as formas
possíveis (inclusive seculares) presta à sociedade.
Numa compreensão assim, opastor não é "vedete", nem "animador" de
programas para satisfazer a Igreja (que será sempre umaIgreja "consumidora" e
"parasita"), mas é o "servo" do povo servidor.
Podemos agora perceber a razão pela qual relacionamos nesteestudo da
Epístola aos Efésios os três temas-"sacramento","ministério" e "ética" dentro do
capítulo sobre a Presença da Igreja na sociedade.
Creio que desta perspectiva bíblica podemos ser verdadeiramente
enriquecidos numa nova compreensão do sentidoe da responsabilidade da Igreja
na situação contemporânea. A tradicional caricatura de "mandatários" ou de
"autoridades eclesiásticas”sãoquestionadasdefinitivamente numa redescoberta
daverdadeira imagem de Igreja como "serva" em Cristo que é o "Servo"até a
obediência da morte!
De outro lado, não padece dúvida que a Igreja não pode abordar a sociedade
senão partindo darealidadeque lhe é dada no "eixo" da ética,isto é, "em Cristo".
Então, toda a arrogância, todo laivo(mancha, nódoa)de superioridade é mais do
que supérfluo, é pecaminoso!
O sentido mais real do testemunho cristãonascena "fraqueza", na humildade
total de cada membro do corpo do Senhor e em cada situação concreta das esferas
de sua vida de relações.Esteé o significado de "andarcomo crianças amadas" (Ef
5.1)e "em amor” (Ef 5:2)da mesma maneira como "Cristo amou e se entregou a si
mesmo por nós" (Ef5:2)!
A única expressão da ética naepístolaaosEfésiosé a "atividade do amor". A
funçãounificadora e integradora de todos os ministérios que Cristo tem concedido à
Igreja não tem outroendereçosenãoeste: " a construção do Corpo em amor" (Ef
4:12,13,15,16).
Parece que devemos concluir esta parte dandoatenção à mensagem enviada
à Igreja "em Éfeso"conforme encontramos no livrode Apocalipse. Nestacarta
devemos fazer uma observação que é de fatoimpressiva. Há uma apreciação
sobrecertas esferasdo testemunho daquela Igreja e uma advertência
muito severa quefereo "Espírito" do seu testemunho.
"Conheço as tuas obras, assim oteu labor comoa tua perseverança, e que
não podes suportar homensmaus, e que puseste à prova os que a si mesmosse
declaram apóstolos e não são, e os achastes mentirosos; e tens perseverança e

suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer” (Ap
2:2-3). Está é uma imagem perfeita deuma igreja que busca a fidelidade à doutrina
do Senhor e que permanece ativa em seu trabalho.
Entretanto, háuma advertência muito séria à Igreja assim fiel na doutrina e no
trabalho. Eis: "Tenho, porém,contra ti que abandonaste o teu primeiro amor.
Lembra-te, pois, de ondecaíste, arrepende-te, e volta à prática das primeiras obras;
e se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teucandeeirocaso não te arrependas"
(Ap2:4-5).
Parece evidente a relaçãoque existe entre o "primeiro amor"e as "primeiras
obras". Esta advertência à renovação da Igreja no seu sentido mais fundamental
evoca a essência mesma da carta aos Efésios em que o apóstolo proclama o
"Evangelho da Paz" que nada mais é do que a força doamor com Cristo "fez a paz"
e destruiu a parede de separação, reconciliando em seu "sangue", em "seu corpo"
Judeus e Gentios.
Esta advertência está dirigida à Igreja emqualquertempo e em qualquer
lugar, poisela toca exatamente a Natureza e a missão com que foi formada pela
"entrega" que Cristo fez de si mesmo embenefíciode todos.Todaa ação e toda a
forma de presença como de estrutura da Igreja está sendoquestionada:de
momento a momento porestesoberano ato de "auto-entrega" em que Deus mesmo
nostem amado na plenitude de Cristo.
O evento ímpar da História é esta "auto-entrega" em queJesus Cristo
participa integralmente da vida humana e torna a vida humana partipante da
"suprema riqueza da misericórdia de Deus"(Ef 2:7). Dentro desta realidade
"cristológica"como Paulo nos proclama em Efésios, é que temos a Igreja e que
somos a Igreja, a Igreja em Cristo e em Éfeso.
Em face da dádiva de Deus—"o Evangelho da paz"—estão abertas para a
Igreja as portas que conduzem a novas formas de responsabilidade e a novas
dimensões de seu testemunho contemporâneo. O Evangelho é algo que é dado a
todos. Não é um conjunto de leis, deordenanças, de proibições e preceitos
negativos, masé um dom, uma afirmação, é o SIM e o AMÉM à toda a Criação que,
ainda que caída, é sua Criação em Cristo.
A Igreja é enviada como aquela "comunhão em Cristo"—o "corpo de Cristo"
—que assinala no mundo a "paz de Cristo" (shalom:Salvação emhebraico) que é
a plenitude detodasasbênçãosdivinas, a consumação de todos os dons de Deus,
a integridade perfeita de suaobra.O Evangelho é assim uma Pessoa em relação, é
Cristo mesmo em comunhão perfeita com a humanidade. Daía Natureza da Igreja
como uma "relação" e não como uma "instituição"!
Terminamos aqui com algumas observações finais para reflexão de cada um.
Estas observações vão na forma de perguntas:
1. Até que ponto por isolarmos a comunhão com o nosso próximo do

conhecimento de Deus, estamos impedindo a renovação da Igreja e a proclamação
do Evangelho da paz? Será quepodemos separar estas duas realidades como se
fossem cousas separáveis ou distintas?
2. Esforçamo-nos mais e mais por compreender a Palavra de Deus e a ela
sermos fiéis. Assim devemos realmente fazê-lo. Mas, até onde este nossoesforço
poderá separar-nosdo nosso próximo? Parece claro que Efésios nos ensina que
recebemos a compreensão da "multiforme sabedoria de Deus" exatamente para
entrarmos em comunhão e "crescermos em amor"!
3. Confessamos nossa fé como nossa Igreja nos tem ensinado e temos a
preocupação de sermos fiéis ao ensino que temos recebido. Parece não haver
dúvidas quanto ao fato de assim procedermos. Entretanto, temos que escutar
quanto a isto a pergunta básica: até que ponto esta "confissão" pode cegar-nos os
olhos? Pois, podemos tentar confessar que amamos a Deus, mas se não amamos
nosso irmão ainda permanecemos nas trevas! Ou nós é quedevemos decidir quem
é nosso irmão e quem não o é?
4. Damos grande importância ao planejamento e aos programas da
organização para a atuação da Igreja. Mas,até onde esta preocupação não estará
impedindo uma ação "espontânea" do Espírito que dirige e ilumina a Igreja? Deus
não estará dando, de dentro do Mundo, a“Agenda”para a IGREJA?

CONCLUSÃO
UNIDADE E RENOVAÇÃO DA IGREJA
O estudo daEpístolaaos Efésios nos leva nãosomenteà conclusão de que a
proclamação do Evangelho da Paz é a mais relevante resposta da Palavra de Deus
aos tormentos do mundo contemporâneo, como nos conduz ao tema daUnidadee
renovação da Igreja como umúnico tema. Além disso, o conteúdo do memorável
documento do apóstolo Paulo, coloca-nosface a face com a dimensão suprema da
Igreja como "Corpo de Cristo" e sua vocação missionária ecumênica.
O Evangelho da Paz é a armadura de Deus que exerce pressãosobre"todos
os limites da terra". AênfasedaEpístolasobre aunidadeem Cristo não pode
significar menos do que um imperativo divino para a Igreja nahistória. Dedicamos
assim a conclusão desteestudo ao tema daUnidadee Renovação da Igreja como
um imperativo do Evangelho da Paz e movido pela inabalável convicção de que a
desuniãodas igrejas e dos cristãos é um vitupério ao Evangelho e uma traição a
Jesus Cristo.
Uma leitura ainda que superficial do texto de Efésios, deixa muito claro que
existe uma relação indissolúvel entre aUnidade, a Vocação Missionária e a
Santidade da Igreja. O sentido desta relação nosé dada especificamente no
conteúdo total docapítuloquarto. Em primeiro lugar notamos as duas dimensões
daUnidadeda Igreja :
a. dimensão divina—Ef 4:1:6—aUnidadeda Fé.
b. dimensão humana—Ef4:7.16—a Diversidade de ministérios.
Ocapítulotermina, comoseqüêncianatural, com uma série de advertências
quetraduzemo testemunho da Igreja dentro domundo em que ela é o "Corpo de
Cristo", mostrando o apóstolo que a Missão da Igreja é a própria Natureza da Igreja
—Ef 4:17-32. Aqui, precisamente onde Paulo trata da Santidade da Igreja, não nos
pode escapar a relação de extraordinária significação em queelenos comunica
essa dimensão da Igreja: cada uma das advertências que ferem o testemunho do
cristão é feita em relação a responsabilidade de cada um como "irmão dos demais".
Isto é, a santidade oposta aos gentios não é apenas santidade no "plural", no
sentido comunitário, mas é dada no sentido pessoal da responsabilidade de cada
um para com os "outros". Além disso, devemos sublinhar oelementoque vincula
estas relações: é sempre o amor! Efésios trata do crescimento da Igreja "em amor"
—o amor é o vínculo das relações e a estatura donovohomem em Cristo. A

edificação cristã só existe quando é "edificação em amor" (Ef4:16,31,32).
Quando se insiste hoje nos "dons do Espírito Santo" para a renovação da
Igreja, por que razão tal insistência, via de regra, resulta em discórdia, desuniãoe
"manifestações" discutíveis do Espírito? Essa busca do Espírito que não responde
ao testemunho de obediência àUnidadeda Fé, não estará sendo rejeitada por
Deus? Haverá possibilidade de se tratar da santidade da Igreja sem tratar-se da sua
unidadeem Cristocomo vocação missionária no mundo?
Em outras palavras, nossas preocupações por renovação e restauração da
Igreja não estarão resistindo aoEspíritoSanto quando teimam em ignorar a relação
entre aunidadeda fé e a vocação missionária do Corpo de Cristo?Se há "um só
Senhor,uma só Fé, um só Batismo, um sóEspírito"(cf. Ef 4:1-7), que relação deve
haver entre aunidadeda Igreja e sua vocação? Não existirá uma relação bem
íntima entre nossas divisões, nossas amarguras, cóleras, iras, competição
"evangelística" e o sentido do perdão com que somos perdoados por Deus no
Corpo crucificado de Jesus Cristo, perdão que estamos negando uns aosoutros
(embora não seja propriedade nossa)?
Devemos meditar nestas interrogações sob a luz que emana do grande
capítuloquarto da Epístolade Efésios, em especifico, osversículosfinais: "E não
entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção.
Longe de vóstodaamargura, e cólera, ira, gritaria, blasfêmia e bem assim toda a
malícia. Antessedeuns para com os outros benignos, compassivos,
perdoando-vos uns aos outros, da maneira como Deus vos perdoou em Cristo".
Na longa e crucial caminhada ecumênica há lições muito preciosas que nos
pertencem a todos nós como membros do Povo de Deus. Entre e las está a
confissão feita em 1917 num encontro de cristãos membros de Igrejas neutras
(neutras emrelação à guerra mundial que desgraçava ahumanidade). Estavam
presentes representantes da Suécia,Suíça, Dinamarca, Noruega e Países Baixos.
Em plena guerraaquelegrupo se encontrou em torno dos seguintes temas:
"Unidadedos Cristãos","Os Cristãos e as Questões Sociais","Os Cristãos e a
Ordem Internacional". O informe da conferência, sob o espectro da guerra, nos diz
que houve a seguinte declaração quantoàUnidadeCristã: aunidadedos cristãos
não é algo exterior, que forças humanas possam realizar—ela é um ato de Deus
em Jesus Cristo. A Cruz de Cristo é o centro daUnidadedos cristãos. Estaunidade
não éuniformidade; ela éuma permanente atitude de reverência e amorrecíprocos
dos diferentes corpos eclesiásticos em sua liberdade de servir a Deus. Ela éuma
cooperação livre entre as Igrejas enfim, aunidadedos cristãos é o testemunho e a
vida de amor; não existe em função de si mesma, mas em função doserviço cristão
em todos os domínios da vida humana".
Devemos observar nestas reflexões trêsrealidadesbásicas: a primeira é a
dimensão daunidadecomo obra de Deus em Jesus Cristo; a segunda é o centro
dessaunidade(a cruz de Cristo) e não as igrejasou as doutrinas; a terceira
realidade é a relação entre aunidadee a responsabilidade da Igreja em servir à
humanidade. Estas trêsrealidadessempre estão juntas quando se pensa na

unidadecristã.
É impressionante como o ecumenismo ou a dimensão ecumênica do
testemunho da fé sempre implica numa redescoberta da relação que existe entre os
tormentos domundo e a fé em Jesus Cristo. Em outras palavras, a busca da
unidadecristã sempre conduz a Igreja a redescobrir o sentido mais profundo de sua
vocação missionária, sua relação vital com as necessidades do homem no mundo
presente.
Devemos perguntar agora: os maiores obstáculos àunidadee renovação da
Igreja hoje não residem de maneira básica no fato de que tais temas (unidadee
renovação), sejam tratados sem se tomar com a devida seriedade e fundura o tema
da "cruz de Jesus Cristo"?Afinal de contas qual é o Espírito interessado na
unidadecristã? Qual é o Espírito com poder para renovar a Igreja? Não é o mesmo
Espírito? Afinal de contas qual é o caminho daunidade? Ou não existeumcaminho
deunidade? Existe ou não o "evangelho da Paz"?
AUnidadeque buscamos não é aunidadeque somos capazes de criar!
AUnidadeque buscamos, se a buscamos segundo as Escrituras, é aquela
que já nos está dadauma vez para sempre em Jesus Cristo.
Portanto, não deve ser aunidadede "nossas" igrejas tais quais elas são, e sim
aquelaunidadeque descobrimos quando cada um de nós se volta de novo para o
Cristo crucificado e, emarrependimento, recebe uma nova comunhão de amor e
serviço com o Senhor.
QUE NOS ENSINA a UnidadeCristã segundo Efésios 4 e o fundamento
Cristológico que derivado texto no capítulo 2:11-19? Que relação há entre os dois
temas: o da morte de Cristo e aunidadeda fé?
Em outras palavras: se um só é ofundamento tanto daunidadequanto da
renovaçãoda Igreja—JESUS CRISTO CRUCIFICADO —devemos enfrentar hoje
as seguintes questões:
1. É possível haver renovação da Igreja sem aUnidadedo Espírito?
2. Será possível separar-se a realidade do perdão quenos é dado em Cristo
para todos igualmente (sendo o perdão divino a única possibilidade de sermos
membros do Corpo de Cristo) daUnidadeda Igreja?
3. Seria o Espírito de Deus infiel, concedendo "renovação" a um grupo afim de
queessegrupo se torne "juizorgulhoso", sem amor para com os demais membros
do Corpo de Cristo?
4. Deus nos permite pensar em renovação da Igreja quando o seu eterno
propósito revelado em Cristo é o de "reunir, reconciliar todas as coisas em Cristo"
(Ef 1:10;Ef1:22;2Co5:18-21)?

5. Se os grandes textos das Escrituras que tratam daUnidadetratam
igualmente das dádivas do Espírito (carismas espirituais), não estaremos sendo
infiéis à Palavra de Deus se tentarmos buscar renovação espiritual sem obediência
àUnidadeCristã (Rm 12;1Co12; Ef 4)?
Considerações finais:
Há dois vínculos do cristão com o seu próximoe com o mundo do seu
próximo. O primeiro deles é o vínculo da humanidade que nos é comum a todos
como membros da criação de Deus. O segundo vínculo é aquele que nos é dado no
"Evangelho da Paz"—a obra que Deus tem realizado em Jesus Cristo. O Senhor
do cristão é o mesmo Senhor dos demais membros da humanidade e está atuando
em todos. Portanto, o cristão ao falar a seu semelhante não fala como umestranho
a outroestranho! Fala a seu semelhantecomoparticipe comelena operação do
Espírito que comunica o amor de Deus revelado na morte de Cristo em favor de
toda a humanidade. Fala apoiado no vínculo do "Evangelho da Paz" que salva o
homem doegoísmopara a solidariedade, do ódio para o amor, da injustiça para a
justiça, da escravidão, para a liberdade, da solidão para a comunhão, das trevas
para a luz, da morte para a vida que há em Jesus Cristo.
A Igreja é o Corpo de Cristo, é o resultado do "Evangelho da Paz", é a
testemunha na sociedade destas coisas novas que Deusfezem Jesus Cristo para
ahumanidadeinteira. Isso significa que a Igreja é a Igreja quando tem as
credenciais, quando assinala no mundo essa "obra de Deus".
Claro que oEvangelhonão necessita de nenhumacomprovaçãoforadEle
mesmo. Entretanto,a finalidade do Evangelho e suas demandas para a vida
humana exigemcertas evidências, certos sinais que não só lhe sirvam de apoio,
mas que indiquem concretamente a sua significação. Tais sinais devem ser
encontrados na vida cotidiana da Igreja.
O evangelista convidahomens e mulheresa participarem de uma nova vida
que em"algum lugar" já está sendo revelada ainda que não em plenitude. Tal lugar
é a Igreja onde se traduz o testemunho do "Corpo de Cristo" que destrói todas as
paredes de separação entre os homens.
QUE SINAIS SÃO ESSES do Corpo de Cristo? Sinais que constituem as
credenciais do testemunho da Igreja no mundo e não as tradições
denominacionais! Atendo-nos à Obra de Deus realizada em Jesus Cristo mediante
a operação do Espírito, não podemos escapar de responder esta pergunta básica
senão com quatro grandes palavras: unidade, santidade, catolicidade e
apostolicidade.
Essas quatro grandes palavras são ascredenciaisda Igreja como Corpo de
Cristo e sãoas credenciais do ministério da Igreja no mundo. O ministério é servo
da Palavra e do Mundo ao qual a Palavra é pronunciada na Pessoa de Jesus Cristo,

oSenhor. O ministério é discípulo do Senhor que sefezServo de todos (Fp2:1-11).
Pois, verdadeiramentea Igreja não se prega a si mesma, senão a Jesus Cristo
como Senhor (2Co 4:5).
Os sinais sãoesses:
1. A Igreja é UNA:esta é uma declaração do que a Igreja é e não uma
exortação ao que ela deveria ser. Um só é o Corpo de Cristo. Deus tem dado
unidadeaseu povo na terra e, o Seu plano redentor, revelado uma vez para sempre
em Jesus Cristo, é trazer todos os homens àUnidadeque Ele tem criado em Cristo.
Não há outro nome entre os homens pelo qual possam ser salvos(Atos 4:12). Essa
mensagem faz parte doser da Igreja, de maneira queoshomens ao encontrarem a
salvação em Jesus(sede fato a encontram segundo as Escrituras orevelam!), não
podem escapar do outro encontroinaudito do Evangelho da Paz:—o encontro
com o seu irmão mais pequenino de qualquerparte do mundo! Esta é a conexão
última entre aunidadee a missão da Igreja.
O Evangelho é proclamado afim de que os homens cheguem àunidadeem
Cristo, àquela estatura de humanidade nova que Ele criou para todos. Essa
unidadeem Cristo determina a comunhão uns com os outros.
O Evangelho é dado ao Mundo afim de que os homens se tornem irmãos; afim
de que Caim seja o guardador, o amigo solidário do seu irmão e jamais o seu
ciumentoeinvejoso assassino. O Evangelho é dado afim de que os homens se
amemuns aos outros. A evangelização que não leva essacredencialdeUnidade
não é o Evangelho de Jesus Cristo! Quanta traição está sendo feita no mundo
moderno ao próprio conteúdo do Evangelho!
2. Igreja é SANTA:a Santidade da Igreja é a do seu Senhor e Salvador. Os
homens participam dela pela graçade Deus mediante a ação do Espírito. O santo é
aqueleque é chamado para o serviço do Senhor na diversidade de ministério do
Seu Corpo no Mundo.
A santidade é o sinal de que alguém é servo! Este sinal pertence àIgreja como
serva do Senhor. É uma dimensão missionária da Igreja Serva do Senhor; isto é, é
dado em função do serviço, em benefício dos outros e não para auto-glorificação.
Todo vislumbre de vanglória é negação da santidade. A glória da Igreja é a
glóriade Cristo (Fp2:5-11), na medida de sua participação do Corpo de Cristo
crucificado pelos pecadores. A dimensão da Santidade da Igreja desde Abraão é
em função do ministério no mundo e jamais em função de qualquer pretensão
individualista. Enfim, a santidade da Igreja está em Cristo e é dada em relação à
obra e vontade de Cristo; como "dom do Espírito" é dada a cada um para um fim
proveitoso aos demais, isto é, para o "bem comum" (1Co12:7).
3. A Igreja é CATÓLICA:Por mais que nós cristãos protestantespossamos
torcer o nariz em relação a essa expressão, por causa dela fazer parte de uma outra
igreja, essa palavra tem um sentido especial e é uma exigência de Deus para a vida

da Igreja. Não falamos da Igreja Católica Apostólica Romana, mas afirmamos quea
Igreja cristã é católica, ou seja, universal."Éa plenitudedaqueleque cumpre tudo
em todos" (Ef 1:23). Isso significa que a Igreja foi dada para todos os homens, sem
qualquer discriminação. Significa também que na Igreja éoferecidaa todos os
homensa plenitude da Graça de Deus em Cristo Jesus,o "autor da Paz".
A catolicidade é o sinal que traduz concretamente o fato de que o Evangelho é
dado para todos os homens.A catolicidade daIgrejade Jesusnão quer dizer de
maneira nenhuma que é aquela queestá em toda parte! Pois catolicidade é a
dimensão de integralidade da Igreja como Corpo de Cristo para todos. Tudo o que a
Igreja é, anuncia, faz ela o faz em nome do Senhor que amou igualmente a todos os
homens. Quando uma igreja não é umacomunidadepara todos, sem nenhuma
discriminação ou distinção, ela está negando a natureza do Evangelho que é para
todos.A catolicidade da Igreja é isso: uma igreja aberta para todos...
4. Igreja éAPOSTÓLICA: significa que a Igreja é Missão; foi enviada por
DeuscomoacomunidadeMissionária ao mundo sem solução de continuidade.
Não só "até oslimites (confins)da terra", mas "até a consumação dos séculos".
Cada crente é parte da ininterrupta ação de Deus nahistória, participando
assim de uma única sucessão apostólica. A apostolicidade da Igreja não é uma
propriedade privativa de alguns ou de alguma confissão, ela é dada na permanente
ação do Espírito de Deus. Aapostolicidade éumadimensão do ser da Igreja e não
um nome "particular" de alguma Igreja! O cristão representa a Igreja Apostólica
onde vive e trabalha cada dia. Essa dimensão apostólica da Igreja implica na sua
significação como realidade escatológica: a missão da Igreja permanece "até que
Elevenha", isto é, deve durar até que Jesus Cristo retorne.
É mais do que evidente que os "sinais dos tempos" pressionam os cristãos a
buscar uma compreensão nova de sua obediência contemporânea a Jesus Cristo.
A responsabilidade da Presença Profética da Igreja deve seguir inquietando e
questionando todas as formas queteimam em entorpecer a consciência cristã e em
marginalizar a Igreja,Corpo de Cristo,em face dos tormentos do mundo atual. O
"Espírito" está intercedendo com "gemidos inexprimíveis" afim de que a Igreja
"caminhe da maneira digna com que foi chamada". A fome, as guerras e violências
detodanatureza, adesumanidade, a negação da imagem cristã do homem, que
constituem os "sinais dos tempos" devem inquietar muito mais a Igreja do que a
questão do seu crescimento estatístico.
A Epístola aos Efésios, com todacerteza,é endereçada diretamente aos
cristãos do nosso tempo.
Esse é o tempo em cujos marcosDeus chama Seu Povo ao testemunho da
Unidade: "esforçando-vos diligentemente por preservar aunidadedo Espírito no
vínculo da paz" (Ef4:3).
Esseé o tempoem que somos chamados à uma renovação mais profunda e
realista do que até aqui se tem falado: "e vos renoveis no espírito de vossa

mentalidade, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em JUSTIÇA e
RETIDÃO procedentes da VERDADE" (Ef 4:23:24).
Esse é o tempo em que a Igreja é chamada ao crescimento numa dimensão
essencial: "Mas, seguindo a VERDADE EM AMOR, cresçamos naqu Eleque é o
CABEÇA, CRISTO" (Ef 4:15).
O Evangelho da Paz que nos é dado na própria pessoa de Jesus Cristo, o
Autor da Paz, cumpre o propósito de Deus revelado desde o principio: "Disse Deus:
Este é o sinal da minha aliança estabelecida entre mim e toda carne sobre a terra"
(Gn 9:8-17). O apóstolo Paulo declara como se revelou a natureza dessa aliança
eterna em Jesus Cristo comas seguintes palavras: "desvendando-nos o mistério da
sua vontade, segundo o seubeneplácitoqueprepuseraem Cristo, de fazer
CONVERGIR NELE TODASAS COISAS, tanto as do céu como as da terra, na
dispensação da plenitude dos tempos" (Ef 1:9-10)!
A essa natureza e propósito da obra de Deus em Jesus Cristo—Evangelho
da Paz—é que deve corresponder a presença fiel da Igreja que é o Seu Corpo na
terra.
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