INSTRUTOR : JOSÉ ARMANDO Uma equipe de físicos da Universidade de Harvard anunciou ter conseguido armazenar um raio de luz em matéria submetida a uma temperatura muito baixa e reiniciá-lo à distância em outro concentrado de matéria. As duas concentrações de matéria estavam separadas por uma brecha de 160 micrômetros, uma distância ínfima para a escala humana, embora seja substancial para a física quântica, que rege o mundo do infinitamente pequeno. Em um artigo que será publicado na edição desta quinta-feira da revista científica britânica Nature , Naomi Ginsberg e seus colegas afirmam ter capturado, usando um laser, átomos resfriados a baixíssimas temperaturas. Acima do zero absoluto (273 graus Celsius negativos), no contexto dos misteriosos condensados Bose-Einstein , a matéria adquire uma forma que se distingue dos tradicionais estados sólido, líquido e gasoso. Uma partícula atômica submetida a tais temperaturas se refugia no estado de energia mais baixo possível. As características dos condensados Bose-Einstein são tão particulares que por alguns momentos parecem contrariar a física clássica. De acordo com a experiência americana, os fótons de laser sofrem uma drástica desaceleração, como se atravessassem algo viscoso, passando da velocidade da luz (300.000 km/ seg ) a 20 km por hora, para em seguida parar . "A informação" - a amplidão e a fase do sinal luminoso - ficou impressa como um holograma na matéria do condensado. "Encontramos uma cópia absolutamente perfeita da pulsação da luz, mas em forma de matéria" , explicou uma das encarregadas do estudo, Lene Vestergaard Hau , entrevistada por telefone pela AFP. Neste ambiente tão particular, a matéria se comporta de forma muito similar à das ondas e os especialistas falam, inclusive, de "ondas de matéria" . A "onda de matéria" carregando as características do sinal luminoso saiu do primeiro condensado para alcançar, algumas frações de milímetro mais longe, o segundo condensado, do qual emerge um raio idêntico ao primeiro. Em um comentário publicado na mesma edição da Nature , Michael Fleischhauer , cientista da Universidade de Kaiserslautern , destacou que os dois condensados foram preparados de forma independente. Por isto, a experiência só pode ser interpretada se os átomos dos dois condensadores forem considerados objetos absolutamente idênticos do ponto de vista quântico. A investigação poderá resultar em inovações tecnológicas maiores, como computadores quânticos, nos quais o fóton substituiria o elétron como vetor de informação. "Para poder tratar dados quânticos, é preciso construir uma rede. Os fótons da luz poderiam servir para transmitir informação quântica e os átomos são ideais para o armazenamento e o tratamento", explicou Fleischhauer . CIENTISTAS ARMAZENAM RAIO DE LUZ E O REINICIAM À DISTÂNCIA (PARIS - AFP)