A cena : A filha quer um carrinho. O filho quer uma boneca. E o pai quer convencer as crianças a
optarem por outros brinquedos. Embora se preocupem com brincadeiras de conteúdo violento ou racista, muitos
adultos mantêm uma orientação sexista na hora de brincar com as crianças.
Comentário : Ao brincar, a criança faz projeções da sociedade em que vive, que tem tanto homens
quanto mulheres. Assim como as mulheres dirigem e os homens cuidam dos filhos, a menina pode brincar de
carrinho e o menino, de boneca. Segundo especialistas, isso não interfere de forma alguma na sexualidade da
criança. "O problema ocorre se os adultos ficarem recriminando-a e reforçando que 'isso é coisa de
mulherzinha'. A gente precisa largar alguns paradigmas", afirma Marilena Flores.
6 INTERVIR NOS CONFLITOS
A cena : O pai vê seu filho discutindo com outra criança durante um jogo. Em seguida, entra no meio da
confusão, briga com todo mundo e avisa que a brincadeira acabou.
Comentário: Mais uma vez, o ideal é estimular a autonomia das crianças. Um dos benefícios de brincar
é desenvolver o autocontrole e aprender a negociar com o outro até encontrar uma solução.
Nem sempre, porém, essa liberdade é possível. Até os dois anos, a criança não tem noção dos limites
entre ela e outras pessoas e, quando frustrada, vai reagir fisicamente.
À medida que cresce, ela entende melhor esses limites e pode resolver os problemas com os coleguinhas
por meio da fala, mas isso vai depender da capacidade de comunicação da criança.
Se houver agressão física, o pai deverá intervir. O erro, porém, é adotar uma postura violenta. "Depois, é
importante chamar a criança para analisar a situação. Perguntar por que o coleguinha ficou bravo, o que ela
sentiu, o que poderia ter feito de diferente. Isso favorece a reflexão", afirma Vera Zimmermann, da Unifesp.
7 SER POLITICAMENTE CORRETO
A cena: Bater no coleguinha, claro, é errado. Mas e brincar de luta? O conteúdo violento de algumas
brincadeiras deixa muitos pais em dúvida na hora de permitir ou não que os filhos façam algo.
Comentário: "Muitas vezes, os pudores dos adultos limitam a criança. Eles não percebem que a
brincadeira pode ser uma leitura crítica que ela faz de algum assunto", afirma Gisela Wajskop. Ela explica que,
quando a criança canta "atirei o pau no gato", por exemplo, isso a ajuda a lidar com uma violência simbólica e a
ter controle sobre isso. O mesmo vale para o castigo à bruxa ou aos ogros no final dos contos de fadas.
Além disso, afirma ela, os jogos de guerra, tradicionais em todas as culturas, "oferecem contato físico,
ajudam a criança a lidar com a idéia de força e fraqueza e a testar a resistência à dor."
Mas é preciso prestar atenção para saber se a agressividade manifestada nas brincadeiras não reflete uma
exposição do filho a uma realidade violenta. "O pai não deve ficar preocupado, mas atento. Se a criança estiver
muito violenta, pode estar repetindo o que vê."
ACOMPANHE O DESENVOLVIMENTO LÚDICO DE SEU FILHO*
* as faixas etárias assinaladas correspondem a uma média; é preciso lembrar que cada criança tem seu próprio
ritmo de desenvolvimento
Conheça as atividades indicadas para cada etapa
Até 2 anos
Quanto mais nova, mais a criança tende a brincar isoladamente, explorando o próprio corpo e os objetos
-atividades que estimulem a parte sensório-motora são bem-vindas. À medida que cresce, a criança começa a
sentar-se, a engatinhar, a andar e a desenvolver seu senso de equilíbrio e de percepção espacial, podendo
acompanhar brinquedos que se deslocam.
Dicas : brincadeiras que estimulem os sentidos e que envolvam noções de forma, tamanho e textura,
objetos de puxar ou de empurrar e brinquedos que flutuem na água ou de encaixe são interessantes