Entrevista
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Correio do Sul
Segunda-feira,
2 de fevereiro de 2015
[PeloEstado] - O que o mo -
tiva a continuar se dedi-
cando tanto ao serviço pú-
blico de Santa Catarina?
Nelson Serpa - São várias ra -
zões. Estamos vivendo um mo-
mento ímpar no Estado, pelo
perfil do governador Raimundo
Colombo, pela harmonia que se
conseguiu construir. Harmonia
política e de relacionamento
entre as instituições, entre os
poderes. Isso gera oportuni-
dade para você desenvolver
trabalhos e implementar ações
que só são possíveis dentro de
um clima que não sei se tere-
mos em outras oportunidades.
Vivemos um momento mui-
to desafiador e aí é que surge
a oportunidade de buscar as
transformações que precisam
ser feitas. O governador sem-
pre diz que o modelo que está aí
chegou à exaustão, mas o novo
ainda está por acontecer. E nós
queremos ajudar a construir
esse novo. Quando se fala em
reforma, sempre enfatizo que
a mais importante é simplificar
procedimentos, é retirar entra-
ves da administração para que
a decisão, uma vez adotada,
tenha consequência imediata,
se desenvolva, aconteça. Achar
que isso é possível de se alcan-
çar é uma das minhas motiva-
ções para continuar.
[PE] - Mas o senhor chegou
a pensar nessa possibilida-
de, agora nessa mudança
de governo, de mandato?
Serpa - Várias vezes. Mas op-
tei por continuar. Não me per-
gunte até quando, mas há essa
disposição de continuar, de
contribuir e vamos avaliar para
frente como as coisas aconte-
cem. Eu me coloco, hoje, na
missão de ajudar para o cum-
primento dos objetivos do go-
vernador.PeloEstado Entrevista NELSON ANTÔNIO SERPA
No governo Raimundo Colombo, já foi procurador-geral do Estado e secretário
da Fazenda. Desde janeiro de 2013, comanda a Secretaria de Estado da Casa
Civil. Advogado especialista em direito administrativo, foi vereador e prefeito
de Campos Novos. Há 15 anos desenvolve atividade de pecuarista. É presidente
do Núcleo Catarinense de Criadores de Angus e vice-presidente da Associação
Brasileira de Angus. Apesar de ter quase 50 anos dedicados à vida pública e
70 de idade, ele se rendeu aos apelos do governador Colombo para ao menos
organizar a casa nesse início de segundo mandato. Às vezes chega a trabalhar 12
horas por dia, recebendo demandas, encaminhando soluções e, principalmente,
dando suporte aos secretários e ao governador, com quem fala várias vezes ao
dia. Nesta entrevista exclusiva à
Coluna Pelo Estado ele conta de onde vem a
motivação para isso. “Vivemos um momento muito desafiador e aí é que surge a
oportunidade de buscar as transformações que precisam ser feitas.”
[PE] - Gestão por fluxo de
caixa. Como isso pode im-
pactar o governo?
Serpa - Essa alternativa de-
corre da constatação de que
as outras medidas de gestão
financeira não vêm dando res-
posta. Nas outras o corte era
linear, “tem que reduzir 20%,
tem que reduzir 15%”, fixava-
se uma meta. Mas isso ficava
muito abstrato, porque o ges-
tor dizia não ter como reduzir
15% ou 20% e ficava por isso.
A meta ia perdendo consistên-
cia. Houve resultados positi-
vos, mas aquém do projetado.
Esse fluxo de caixa que esta-
mos implantando agora é uma
experiência muito positiva, vi-
vida pelo próprio Colombo na
prefeitura de Lages e com su-
cesso. Um tanto empírico, mas
com a lógica irrefutável: não se
pode gastar mais do que se ar-
recada. Se você tem que pouco,
tem que gastar bem o que tem.
E quem tem que dizer quanto e
em que é o gestor. É um fluxo
de caixa construído de baixo
para cima. Primeiro, tem um
levantamento da realidade de
hoje em comparação à média
dos últimos três anos. Cada se-
cretário vai verificar o recurso
de que dispõe e para onde vai
esse dinheiro. No mês seguinte,
vai alinhando, enxugando, de
tal modo que saiba onde está
gastando, porque está gastan-
do, com o quê está gastando e
quais os resultados que está al-
cançando com isso.
[PE] - Existe disposição de
o Executivo conversar com
o Legislativo e o Judiciário
para que colaborem nesse
esforço de economia?
Serpa - Dentro da característi-
ca do governador, nós estamos
em trabalho de convencimento
e eu acho que está tendo recep-
tividade dos poderes de que há
necessidade de redimensionar
os gastos. E estamos tendo al-
gumas respostas. A Assembleia
devolveu recursos, assim como
o Tribunal de Contas, e o Judi-
ciário foi parceiro na questão
relativa aos precatórios (antes,
os precatórios dos outros pode-
res eram pagos pelo Executivo.
Agora cada poder paga o seu).
Estamos conseguindo avançar
e acho que o momento é pro-
pício para isso. Por isso eu falo
que quando há harmonia, o di-
álogo flui com mais viabilidade,
o diálogo flui com mais facili-
dade. Quando os argumentos
são bons e há um clima bom de
diálogo, é possível convencer.
E os nossos argumentos, aqui
do Executivo, são tão fortes que
eu tenho certeza que neste ano
de 2015 todos os outros pode-
res também vão apertar o cinto
para devolver mais dinheiro. É
uma questão de postura peran-
te as demandas sociais.
[PE] - O que será o Núcleo
de Projetos Estratégicos?
Serpa - É um grupo de traba-
lho ligado à Casa Civil, com não
mais do que cinco pessoas, tal-
vez dois ou três bolsistas, sob a
coordenação da Lucia Dellag-
nelo (ex-secretário de Desen-
volvimento Econômico Susten-
tável). Vai selecionar aqueles
projetos que efetivamente têm
impacto no presente e no futu-
ro do estado, articular as áreas
que têm interface com esses
projetos, buscar dotá-los de
recursos, de meios para eles
poderem ser desenvolvidos, e
acompanhar a sua execução.
[PE] - O grupo gestor já
não cumpre esse papel?
Serpa - Também, mas não
com tanta especificidade. Esse
núcleo de projetos visa exata-
mente sair da rotina para poder
pensar e dar condições de exe-
cução ao que de fato transfor-
ma o estado. Nós temos alguns
desafios. Temos regiões ainda
com vulnerabilidade, com de-
senvolvimento econômico mui-
to inferior ao de outras regiões
e por isso vão demandar ações
específicas. Dentro do trabalho
do núcleo, vamos organizar um
conjunto de ações que façam
com que o Estado possa liderar
o processo de fortalecimento
da atividade econômica nas re-
giões, para que se dê mais con-
forto social para as pessoas que
estão ali. É um desafio.
[PE] - O Fundo de Apoio
aos Municípios vai ser re-
tomado?
Serpa - O Fundam foi uma
das iniciativas que mais sur-
preenderam. Pelo resultado e,
de novo, pela simplicidade. A
equipe que comandou isso foi
formada por apenas seis pesso-
as, com o apoio do BRDE (Ban-
co Regional de Desenvolvi-
mento do Extremo Sul). A acho
que foi uma das parcerias mais
bem sucedidas que tivemos e
com certeza vai ter que ser re-
plicado. O programa era para
ser temporário e tinha limite
de 500 milhões de reais, mas
ficou em 580 milhões, porque
tinha obras que não podería-
mos deixar pela metade. Então,
é um desejo do governo e uma
orientação do governador de
retomar o Fundam. Devemos
começar a lançar as bases de
um novo programa, sim, mas
isso é para o segundo semestre
desse ano.
[PE] -O que muda nas se-
cretarias de Desenvolvi-
mento Regional? Apenas
o nome para Agências de
Desenvolvimento?
Serpa - Muito mais que o
nome. Permanecem as mes-
mas 36 secretarias, mas rece-
berão mais atribuições para
estruturas que serão enxutas.
Vamos reduzir o número de
cargos comissionados nessas
secretarias e o gestor deixa de
ser secretário de Estado para
ser secretário Executivo da
agência. Isso corrige algumas
distorções. Nenhuma empresa
bem governada tem uma es-
trutura de comando tão ampla
que você tenha dificuldades
para reunir. É preciso uma
governança que permita você
colocar os dirigentes ao re-
dor de uma mesma mesa para
tratar os problemas de forma
conjunta. Vamos reduzir o
colegiado para não mais que vinte pessoas e aí é possível fa- zer reuniões frequentes, pode evitar o passeio de processos e documentos. Vamos ganhar bastante governança. Quanto à atribuição dos secretários, todos os órgãos estaduais que estão na jurisdição da agência vão estar de certo modo sendo monitorados e acompanhados pelo secretário. Tudo aquilo que for do Estado, é o secretá- rio que vai acompanhar e vai ter condições para atuar.
[PE] - O senhor acredita
que isso pode fazer com
que se reduzam as críticas
a essas estruturas?
Serpa - Sim. Fizemos algumas
avaliações sobre isso. Pensa-
mos em reduzir, mas se você
pergunta para a população de
uma determinada cidade sede
de região “extingo a Secretaria
ou não?”, 90% dizem que não.
Ou seja, o pessoal é favorável
que acabe com as outras, mas
não com a sua. Então, optamos
por ajustar as estruturas, enxu-
gar e dar mais atribuições.
“O mais importante é simplificar
procedimentos e retirar entraves”
Andréa Leonora| Foto: Maiara Gonçalves | Leia a íntegra da entrevista em www.centraldediarios.com.br/cnr Florianópolis - 02Fev15
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