Prosa Completa e VI Poesias inéditas 65
Marília de Dirceu; - célebre por ter sido o alvo, a que convergiu
a vocação amorosa mais pura; - por ter sido o ímã fascinador
que atraiu os cuidados, os desvelos, toda dedicação do melo-
dioso poeta, para cuja celebridade literária também concor-
reu do modo mais poderoso, como objeto de suas únicas ins-
pirações. Analisemos, sim, essa crítica, reparo ou chiste, que
ofende tão de perto a respeitável e saudosa memória da bela
Mineira, e que, por sem dúvida, revela em seu autor, a quem,
aliás, tanto respeitamos pelos seus conhecimentos científicos,
um momento de infeliz humor.
Começa o Sr. L. de Mendonça:
“Morreu a Marília de Dirceu, cujo nome profano era Ma-
ria Joaquina Dorotéia Seixas Brandão, com 84 anos de idade!”
“Pois que, disse eu lendo a notícia num jornal, esta mu-
lher fora amada por um melodioso poeta, esse poeta dera-lhe
um nome popular, glória, celebridade, admiração, e ela deixa-
-se viver até a patriarcal idade de 84 anos? Nem a dor, nem as
mágoas, nem a recordação de tudo quanto seu amante sofre-
ra, nem a sua morte, nem a sua loucura lhe diminuíram alguns
dias de vida!...”
“Quem é que concebe a Beatriz do Dante, velha, rabu-
genta, cornos olhos amortecidos, com a voz fanhosa, encosta-
da a um bordão, curvada, trêmula, caquética?...”
Qualquer pessoa que não se sentir dominada dos sen-
timentos do Sr. L. de Mendonça, sentimentos gratuitos, sem
nenhum peso de critério, sem nenhum vislumbre de serieda-
de, ha de “necessariamente” dizer conosco que nada tem de
admirável, nada tem de miraculoso essa existência de 84 anos,
que viveu Marília de Dirceu.
Não achará prodigioso e nem excedente do possível que
uma mulher extremosamente amada, e que soube sempre cor-
responder a esse amor, pudesse viver tanto tempo, a menos
que não quisesse cair na fraqueza imperdoável de cometer um