Brasília, 30 de maio de 2006
Jornalista Ricardo Wegrzynovski entrevista o Diretor Geral de Jornalismo da Radiobras, José Roberto Garcez.
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Brasília, 30 de maio de 2006
Jornalista Ricardo Wegrzynovski entrevista o Diretor Geral de Jornalismo da
Radiobras, José Roberto Garcez.
1) Diz o site oficial “A Radiobras veicula com objetividade informações
jornalísticas sobre Estado, Governo e vida nacional”. Vocês
procuram dar também voz a pensamentos contrários ao governo ?
Por exemplo, fazendo determinada reportagem sobre saúde pública,
também procuram planos de governo de partidos que estão fora do
governo?
Exatamente, não necessariamente por serem contrários, mas como a
Radiobrás presta um serviço público e tem como sua missão atender o direito
a informação do cidadão, nós veiculamos nas nossas emissoras e agências,
informações que estão dentro desse tripé: Governo, Estado e Vida Nacional.
Entendendo aí justamente ‘Vida Nacional’ como os movimentos da sociedade
organizada. Respondendo as políticas públicas que são do Estado e executas
por governo. Então na medida que nós temos esse enfoque, essa visão, se
alguém tem alguma opinião contra ou a favor de uma política pública de
governo, não é o importante. O importante é que como nós estamos focados
no cidadão, ele precisa ter todo o conjunto de visões, opiniões que cercam
determinado fato. Se nós temos uma ação de governo na implantação de uma
reforma, seja na área previdenciária, tributária, política, administrativa ou outra,
ou se ele implanta um projeto na área da saúde, da educação, sempre há do
lado da sociedade, quem seja beneficiado ou prejudicado dentro da sua visão
por aquela política. Portanto é preciso que o cidadão tenha essa visão plural,
para que ele possa então, bem informado, formar a sua opinião.
2) Pelo fato da Radiobras estar diretamente ligada a Presidência da
República, isso não interfere na linha editorial?
Essa é uma questão interessante, porque na verdade tradicionalmente a
comunicação pública, de governo, ela é tratada quase sempre, ou muitas
vezes, pelo enfoque da propaganda, e pelo enfoque da promoção pessoal. Ou
seja, a comunicação em órgãos de governo muitas vezes infelizmente ainda é
vista como um instrumento privado de um governante para benefício seu ou de
seu grupo político, de sua agremiação, do seu partido. Essa é uma visão
absolutamente distorcida, porque nós, órgãos de comunicação de governo,
isso vale tanto para a Radiobrás como para outros órgãos do mesmo tipo,
prestamos um serviço público. É inadmissível, por exemplo, soa como
absurdo, nós pensarmos que um hospital público atenderá apenas as pessoas
que fazem parte de um determinado partido ou seguem uma corrente política
que está no poder num determinado momento. Ou que, numa escola todos os
professores apenas sejam também dessa agremiação ou do partido que está
no poder naquele momento. E ainda só ensinem a partir da ótica desse partido.
Com a comunicação não se pensa assim. A comunicação aceita isso muitas
vezes. A sociedade não adquiriu a consciência de que esse também é um bem
e um serviço público que deve ser praticado em benefício do cidadão e não do
governante. Eu faço essa introdução porque para essa questão da
Presidência, na realidade, a Radiobrás é uma empresa pública, de economia
mista, uma SA, que tem todo o capital pertencente ao Governo Federal, à
União. E somos sim um órgão diretamente ligado à secretaria geral da
Presidência da República. No entanto, isso não significa que nós, a existência
da Radiobrás, seja para fazer promoção do governo. Existem inclusive outros
órgãos dentro da estrutura da comunicação que sim, cuidam das políticas de
propaganda, de relações públicas. São outras áreas da comunicação. Nós
praticamos aqui jornalismo, portanto nem assessoria de imprensa que também
existem outras estruturas dentro do governo que o fazem. Como dentro da
própria Presidência da República que fazem isso. A própria Ministra Marina
Silva disse, e eu concordo, acho que ela está absolutamente certa, que “a
informação é a melhor propaganda”. Isso porque uma informação correta, ela
atinge o cidadão de uma forma com muito mais credibilidade, e podendo,
portanto reverter. Eu diria até que essa ação da Radiobrás nesse sentido de se
firmar como uma empresa de comunicação que atende esse direito do
cidadão, é, faz parte, integra uma política de comunicação do governo. Assim
como o Ministério da Educação tem suas políticas específicas para atender os
direitos dos cidadãos, nós também como comunicação de governo estamos
fazendo isso porque é uma política.
3) Entre os valores da Radiobrás estão: “Respeito à cidadania, ao
assumir um compromisso permanente com a universalização do
direito à informação, com a verdade e com a qualidade da
informação, por meio de canal direto com o público” Quais são os
canais de acesso do público? Como esta participação influencia a
cobertura?
Bom a nossa visão de direito a informação, ela inclui também a população
como um agente, um protagonista na elaboração da notícia. Damos voz para
que a população se manifeste. É uma busca constante nossa de abrir espaço
para que a população não seja somente sujeito, mas protagonista.
Nos estamos perto de inaugurar uma emissora de rádio que será uma
inovação no país. Na Amazônia, na cidade de Tabatinga, na fronteira com a
Colômbia, que é o início de uma rede que deve contar com mais nove
emissoras. Essa de Tabatinga é uma emissora AM, nós vamos também criar
mais nove FMs na região do Alto Solimões. Essa rede terá a participação da
população na gestão da sua programação. Nós estaremos lá com a população
participando diretamente das decisões sobre programação.
4) Vai ser um misto de Comunitária com Pública?
Exatamente, ela vai nessa linha aí. De ter a participação da comunidade.
5) O presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci afirmou na última reunião
do Conselho de Comunicação do Congresso que a empresa tem
verba de aproximadamente R$ 110 milhões por ano. Com essa
quantia, no geral, o jornalismo deve ter uma boa porcentagem.
Diante disso, é possível fazer grandes reportagens, com
investimento alto mesmo, se comparado com alguma emissora
regional?
Desse total, a grosso modo, a área do jornalismo consome por volta da metade
ou um pouco mais. Não tenho os números precisos porque nós não temos uma
administração financeira que separe os centros de custos exatamente. Só pra
dar um exemplo, nós temos um contrato com a xerox, que engloba tudo,
jornalismo e administração. Mas certamente metade dos funcionários da
Radiobrás está na diretoria de jornalismo. Nós também implantamos nessa
gestão um processo muito claro de que essa é uma empresa de comunicação,
portanto a sua estrutura ela existe para dar suporte à comunicação. Isso fez
com que a gente tivesse um acréscimo importante nas despesas de
manutenção na área de jornalismo. Nos temos hoje a possibilidade de exercer
um bom padrão de jornalismo aqui. Com recursos para viagens, mas temos
ainda carência, mas isso é uma dependência do Tesouro, de investimentos.
Nós precisaríamos certamente investir mais em equipamentos, principalmente
na área de televisão que é uma área que consome muitos recursos. Ainda
mais num momento da pré-digitalização, onde nós já temos alguma coisa em
equipamentos, mas precisaria muito mais. Mas em fim a gente vai conseguindo
trabalhar. Mas na área de captação da informação, de notícias nós temos sim
a possibilidade de acompanhar com muita competência, hoje nós somos o
veículo com maior capacidade de informar o cidadão sobre as políticas
públicas do governo. Nós também deixamos de fazer algumas coisas,
recentemente por exemplo, eliminamos a cobertura de futebol. Porque não é o
nosso foco. Esse é um serviço que é muito bem prestado pelas emissoras
privadas. Nós não acrescentamos nada a isso. O cidadão não tem uma
informação exclusiva nossa. Ao passo que sim, aqui ele encontra informações
profundas, de qualidade sobre políticas públicas. Mesmo que sejam na área do
esporte por exemplo. Temos uma equipe aqui na diretoria de jornalismo de
cerca de 550 pessoas, incluindo toda a estrutura de apoio. E podemos dizer
em relação a grande maioria dos veículos de comunicação do Brasil nós
acompanhamos. Por exemplo, nós acompanhamos o presidente da república
onde ele estiver, não importa em que cidade, seja ela a mais distante do
interior da Floresta Amazônica, nós estamos lá e transmitimos ao vivo essas
cerimônias e todos os eventos que o presidente participa. Isso tem vários
motivos. Nós temos uma emissora de televisão que se dedica apenas a cobrir
o poder executivo. Assim como temos as tevês do Senado, da Câmara, do
STF e porque é um registro histórico importante. E esse material que é feito
por nós, é distribuído para todas as emissoras do Brasil. Uma das nossas
diferenças para todos os demais veículos é que a nossa distribuição é gratuita.
Nós, como prestamos serviço público, ele é de livre acesso por todas as
pessoas e todos os veículos de comunicação.
6) Bucci também afirmou que a Radiobras não diminuiu o número de
funcionários. No entanto diminuiu o número de cargos de comissão,
e no lugar colocou concursados. Os funcionários em cargos de
comissão tentam ou mesmo influenciam na linha editorial? No
produto final?
Hoje nós temos o mesmo número de funcionários, mas fazemos muito mais
coisas. Nós temos uma televisão nova, temos a Rádio Agência e várias
estruturas que aumentaram. Conseguimos melhorar a eficiência da Radiobrás.
E também praticamos, como temos convicção que o espírito republicano seja
que o serviço público seja feito por pessoas concursadas que tenham acesso.
Estamos procurando reduzir e estamos quase conseguindo que os cargos de
confiança estejam apenas localizados na estrutura de gestão e direção da
empresa. Que isso é republicano. Nesse caso esses cargos influenciam sim a
linha editorial porque eles estão nos cargos chaves. Como é o caso próprio de
direção. Da nossa direção temos apenas um diretor que é do quadro. Nosso
diretor operacional técnico. Os demais são contratados em regime de
comissão e nós temos os chefes de departamento, temos alguns que são de
carreira, mas boa parte dos cargos de gestão e chefia está nas mãos dos
funcionários de confiança. Portanto eles exercem. Mas todos alinhados com
essa visão que isso aqui é um serviço público, não nos pertence, nós estamos
aqui de passagem para defender os interesses da população brasileira e não
os nossos pessoais.
7) Diante disso, é possível dizer que antes a linha editorial era mais
factível aos governos constituídos? Digamos assim não
especificamente do Lula, mas do FHC ou fosse de quem fosse?
Essa como eu disse infelizmente é a prática ainda bastante comum em muitas
estruturas públicas. É justamente contra isso que nós tentamos criar os
mecanismos para que a estrutura da Radiobrás não seja utilizada em benefício
de um governante. Essa é uma discussão profunda que merece uma análise
sobre o crescimento da comunicação pública no Brasil. Nós tínhamos até
quinze, vinte anos atrás, apenas a comunicação privada e a estatal. Com a
nova constituição de 1988 é que surge o conceito de que a comunicação é um
serviço praticado complementarmente entre as estruturas públicas, privadas e
estatais. Nós acreditamos que a estrutura de comunicação pública no Brasil
cresceu muito nos últimos anos. Cresceu conceitualmente no sentido de que
cada vez mais estruturas estão se criando e passam a ter foco no cidadão que
é o verdadeiro dono e proprietário desse serviço. E menos do governante.
Ainda é preciso avançar muito nisso, nós entretanto, aqui na Radiobrás temos
absoluta clareza que o nosso papel não é o de fazer a promoção e a
propaganda dos atuais governantes. E sim prestamos um serviço ao cidadão,
lhes informando corretamente sobre as políticas públicas do governo, e
acreditamos que esse é sim o melhor serviço que podemos prestar para o
governo também. Porque a informação, a sua característica fundamental para
a sociedade é ter credibilidade. Se a informação não tiver credibilidade, ou
seja, se as pessoas que lêem uma notícia não acreditam naquilo que estão
lendo, e elas conseguem diferenciar isso, que aquilo ali tem um cheiro de
propaganda. Elas não acreditam naquilo vão sempre desconfiar. Agora ao
passo que se acreditam naquilo... e nós acreditamos, felizmente nesse período
três anos e pouco, nós aumentamos em muito a imagem da credibilidade da
Radiobrás e a gente vê por um motivo. Cada vez mais veículos de
comunicação usam as nossas informações. Seja assim uma emissora de rádio
do interior de um estado, que tem pouco acesso aos meios de Brasília, até os
grandes veículos de comunicação. Nós já assinamos convênios com grandes
veículos. As nossas informações das agências são constantemente veiculadas
nos maiores veículos, jornais e emissoras de rádio. Que com certeza não vêem
nas informações veiculadas por nós, informações chapa branca.
8) Falando na Rádio Agência Nacional. Qual o lugar que ela ocupa na
Radiobrás em termos de valorização, de espaço? E porcentagens de
coberturas comparadas com as tevês, em fim, com os outros
veículos?
Talvez uma das coisas mais importantes que se tenha feito nessa gestão tenha
sido a valorização nas estruturas de rádio que nós temos. A Radiobrás possuía
uma grande rede de rádio que foram desmanchadas por sucessivos governos.
E quando nós assumimos as rádios estavam sucateadas. Nós fizemos
parcerias e hoje melhoramos em muito nossos equipamentos e estúdios.
Dentro desse espírito de que o rádio é um veículo fundamental para atender
esse direito a informação, muitas vezes os cidadãos se informam apenas pelo
rádio. Tem nele o seu único veículo de informação. Nós percebemos que há
um grande número de emissoras que tem carência, deficiência de informação,
de captação, de jornalismo, principalmente da área que nós atendemos. Bom,
juntado essa visão com as possibilidades da tecnologia, foi meio que natural
criarmos a Rádio Agência. Ela hoje é um caso de sucesso rápido, que nós
conseguimos apenas com a racionalização e a busca da eficiência. Em síntese
a Rádio Agência deve colocar a disposição de todas as emissoras de rádio que
assim quiserem, toda a produção de jornalismo que nós praticamos na
Radiobrás. Ou seja, temos uma equipe de repórteres que é multimídia e toda
essa produção é transformada em boletins que ficam a disposição. Da mesma
forma as entrevistas que são feitas nas emissoras de rádio são transformadas
em boletins. Isso tudo sem que a gente tenha criado uma grande estrutura.
Normalmente se fala em contratar um monte de gente e tal. Mas a estrutura é
muito enxuta e tem um efeito de racionalidade muito grande.
9) Em tempos de denuncismo, como a Radiobrás trabalha com essas
questões? Qual o critério de noticiabilidade nessas questões?
Nós podemos dizer que não deixamos de informar qualquer fato que tenha
acontecido. Já estamos quase completando um ano dessas denúncias
nascidas lá com o ex-deputado Roberto Jéferson. Nós temos hoje publicadas
sobre o assunto mais de cinco mil notícias a respeito de todos os fatos que
envolveram as denúncias, as CPI’s, as investigações da Polícia Federal, da
Controladoria Geral da União, dos Tribunais de Conta. Nós acompanhamos
todas as informações. Nós por exemplo, transmitimos o depoimento do
Roberto Jéferson para nossa emissora oficial que é a NBr. Fizemos notícia
disso, está tudo lá em arquivo, qualquer pessoa pode acessar e verificar, e
checar inclusive quais foram os enfoques.
10) É verdade que em reunião interna aqui os funcionários foram
informados que não podem manifestar tendências políticas?
O que dissemos é que a estrutura física da Radiobrás não ode ser utilizada
em benefício ou prejuízo de algum candidato, então portanto os funcionários
não poderão utilizar bótons, adesivos nos computadores no horário de
trabalho. Ou usar o microfone, principalmente o conteúdo, quer dizer não será
admitido que nenhum programa da Radiobr as seja utilizado para fazer
propaganda.
11) O que na cultura da Radiobras é diferente dos veículos que o senhor
participou?
Eu trabalhei, por exemplo, na imprensa privada, comecei minha carreira faz
trinta anos. Passei por rádio, jornais e televisão. Mas depois de um tempo pra
cá, desde 1993 venho trabalhando no serviço público. Acho que isso me faz
ver e estimular muito minha vontade de fazer um trabalho que incentive cada
vez mais a comunicação pública, porque a privada embora evidentemente
tenha espaço e méritos indiscutíveis num processo democrático, ela está
baseada na relação comercial, se sustenta a partir do comercial e busca o
lucro. Então são os interesses de mercado que mandam. Da mesma forma a
comunicação estatal se mantém pelos cofres públicos. É, portanto, essa
administração pública que manda naquela estrutura, mesmo.
12) Daí é o governo que manda?
Exatamente, é o governo que manda. E se um governo tem uma visão de
aparelhamento, de instrumentalização da estrutura de comunicação ele vai
utilizar essa estrutura em seu benefício. Quer dizer, não vai adotar um princípio
republicano de atendimento a necessidade do direito à informação do cidadão.
Ele vai utilizar sim isso aí. É por isso muitas vezes que as estruturas públicas
de comunicação estão dominadas pelos interesses privados também. São
privados porque são daquela autoridade, daquele momento. Portanto acho que
há um grande campo para que se desenvolva uma comunicação
verdadeiramente pública que tenha autonomia diante do mercado e do
governo. Mas que esteja sob controle da sociedade, que tenha um
financiamento, que seja realmente público que não dependa desses dois tipos
de financiamento.
12) E as pautas são diferentes?
A pauta é bastante diferente. Estou falando da experiência aqui da Radiobrás.
Por exemplo, a nossa pauta busca se diferenciar da pauta normalmente
utilizada pelos veículos privados, por não dar a única visão do fato em si e da
sua espetacularização. Essa é uma característica assim da mídia privada. Nós
aqui acreditamos que essa é uma diferença que temos em relação a privada, é
que nós estamos muito mais preocupados com os processos. O fato nunca é
isolado, ele tem causas e gera consequências. Portanto ele precisa ser
apresentado para o cidadão no seu contexto. Uma outra diferença, é que a
pública, como não está preocupada com o lucro, tem uma capacidade de
experimentação muito maior. Podemos experimentar formas que são
inovadoras e exclusivas. Testar e errar inclusive.