a) gêneros da ordem do narrar (contos de fadas, contos populares, contos
de literatura infantil, fábulas, mitos, lendas, crônicas, contos de acumula-
ção, contos de esperteza, contos policiais e de ficção científica, relato de
experiência vivida, relatórios de trabalho, relatórios de estudo do meio e
de experiências científicas, notícias, diário pessoal e de viagem, biografias,
testemunho, entre outros), cuja leitura requer a capacidade de prever a or-
ganização de uma “mimesis da ação por meio da criação da intriga no domínio
do verossímil”
25
, em textos cujas ações organizam-se em um eixo temporal
e prevêem uma organização de fatos/episódios, necessariamente por meio
do estabelecimento de relações de causalidade entre as mesmas;
b) gêneros da ordem do argumentar (artigo assinado, resenha crítica, ensaio,
comentário opinativo, carta de leitor, carta de solicitação, editorial, entre
outros), cuja leitura requer a capacidade de prever a organização de um
texto por meio da argumentação, o que requer o reconhecimento das
operações de sustentação, refutação e negociação de tomadas de posição;
c) gêneros da ordem do expor (artigos expositivos, verbetes de dicionário,
verbetes de enciclopédia, tomada de notas, entre outros), cuja leitura
requer o conhecimento de que os textos organizados nesses gêneros
supõem a organização lógica para apresentação de saberes;
d) gêneros da ordem do prescrever e instruir (regras de jogos, bulas, ma-
nuais de instrução, receita médica, receita culinária, instruções de monta-
gem, leis, decretos, portarias, por exemplo), cuja leitura requer o saber
de que os textos organizados nesses gêneros prevêem a regulação do
comportamento por meio de orientações para a ação;
e) poemas (sejam narrativos ou não, sonetos, cinéticos, cordel, haikais, po-
etrixes, epopeias, entre outros), cuja leitura – ou produção – supõe que
se compreenda a sua organização em versos, com ou sem rima; a sua
configuração gráfica no espaço utilizado, assim como a disposição das
palavras nesse espaço; os recursos fônicos utilizados, como assonância
26
e aliteração
27
(repetição de sons de vogais ou de consoantes – respecti-
vamente - com as mesmas propriedades fônicas); a presença significativa
de comparações, metáforas e inversões
28
; todos esses recursos utilizados
na composição semântica do texto.
25 Elaborar um texto organizado em um gênero da ordem do narrar significa criar um texto que seja verossímil, isto é, que mimetize o real
vivido – ainda que possa conter elementos mágicos ou fantásticos -, a ele se assemelhando de maneira que a história seja plausível. Um texto
como este será organizado no eixo temporal, estabelecendo relações de causalidade entre as ações que narrar, o que determinará a presença
de determinadas marcas linguísticas, algumas comuns a qualquer gênero dessa ordem (como articuladores temporais: passados alguns dias;
algum tempo depois, entre outros), outras específicas de determinados gêneros (como um léxico relacionado a descobertas da ciência, em
contos de ficção científica (nave espacial, anos luz, planeta, buraco negro, dobra espacial, p.e.), ou ao mundo de crimes, como em contos
policiais e romances noirs (detetive, escolta policial, arma, investigação, pistas...). O domínio dessas operações, assim como da utilização
dessas marcas lingüísticas, constitui a proficiência do leitor e do escritor.
26 Um exemplo: “A lua banha a solitária estrada” (A Cavalgada, de Raimundo Correia); ou “Som frio. Rio sombrio.” (Rio na sombra, de
Cecília Meireles).
27 Um exemplo:”Vozes veladas, veludosas vozes” (Violões que choram, de Cruz e Souza); ou “Como bate batucada Beto bate bola”(Beto
bom de bola, de Sérgio Ricardo).
28 Mais um exemplo: o mesmo poema de Raimundo Correia, acima citado, que começa com “A lua banha a solitária estrada” e termina com
“A lua a estrada solitária banha”, o que caracteriza uma inversão. Ao mesmo tempo, nota-se a presença de metáfora na expressão “estrada
solitária”.
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