•As crianças de hoje brincam como as de antigamente?
Sim, porque a capacidade da criança se lançar no desafio é a mesma
- a capacidade da criança mergulhar na investigação é a mesma. Mudam
os contextos, mudam as tecnologias, muda a sociedade, muda a maneira
da pessoa se compreender – mas a postura da criança diante do brincar é,
na essência, a mesma. Entretanto, não podemos aceitar que as crianças de
hoje não conheçam a cultura dos brinquedos milenares e planetários. E
elas não conhecem porque, nós, adultos, não valorizamos e, por isso
mesmo, não passamos adiante. Precisamos re-significar esta cultura e
colocar nas mãos das crianças – deslocar estes brinquedos do espaço da
memória para o espaço familiar, comunitário, escolar. Para a criança, não
existe contradição entre a alta tecnologia dos computadores e estes
brinquedos feitos com madeira, barbante, palavra, imaginação. Esta
contradição está na cabeça do adulto. A criança adoraria transitar dos
videogames para os corrupios, da internet para os jabolôs. Portanto, na
verdade verdadeira, não são os jogos eletrônicos que tomaram o lugar da
brincadeira – somos nós, adultos, que não estamos incluindo outros jogos
na vida das crianças. As crianças estão, sempre, sempre, sintonizadas nos
adultos. Elas estão sempre aprendendo com os adultos – quer tenhamos
consciência disso ou não. Elas dão valor às coisas que os adultos
valorizam de fato – daí as atenções exageradamente voltadas para a alta
tecnologia, o consumo, a sexualidade, a violência... Portanto, não adianta
mudarmos apenas o verniz, o glacê, a casca - precisamos mudar
profundamente até trazer a infância à superfície.