das águas, etc., que eram agraciados com oferendas diversas e apropriadas.
As invocações, digo eu, eram feitas em seus rituais e acreditavam que os
Orixás-ancestrais, os ditos como “donos dos elementos”, não podiam “baixar” –
incorporar em um médium – chegar ao “reino”, mas mandavam seus enviados,
em seus nomes, representando suas forças. Eram os Orixás-intermediários.
Ora, “zi-cerô”, pensa bem: quem, eventualmente, podia mesmo “baixar”,
levando-se em conta que sempre houve médiuns e mediunidade em toda parte
ou em todos os agrupamentos?
Eu respondo: -Os seres desencarnados e afins a seus graus de entendimento,
ou seja, de atração mental. Quais seriam, então, logicamente, os espíritos que
poderiam “baixar” representando os Orixás? Na certa, “zi-cerô”, estás com essa
pergunta na ponta da língua, não é mesmo?
Bem, por força da lei de atração ou de afinidade, só poderiam, mesmo,
“baixar”, os espíritos afins às suas práticas ou ritos. Nesse caso, eram os
desencarnados de sua raça – antigos sacerdotes, babalaôs e mesmo espíritos
do que foram seus chefes e outros que tivessem condições para se aproximar
dizendo-se enviados de Ogum, Xangô, Iansã, Yemanjá, etc., afim de não
serem repelidos, caso se identificassem como um desses desencarnados, pois,
nos cultos africanos, todos os espíritos considerados como eguns eram e são
repelidos. Por eguns, identificam os espíritos dos desencarnados, almas dos
antepassados, enfim, todos os que já se tinham ido, ou que passaram pela vida
terrena...
Cícero: -Então, “pai-preto”, o que se pode deduzir ou concluir disso?
Preto-velho: -É claro, “zi-cerô”, que não era do conhecimento consciente dos
irmãos africanos, que invocavam em seus rituais os Orixás – a verdadeira
qualidade ou classe dos espíritos que “baixavam” nas “filhas ou filhos de
santo”, dizendo-se ou se identificando como Iansã, Xangô, etc. E foge também
ao conhecimento dos que ainda praticam atualmente muito do culto africano,
embora misturado, essa questão dos espíritos que eles dizem “receber” como
os seus Orixás.
Cícero: -Dê licença, meu bom “preto-velho”: dentro dessa explicação, lógica,
sensata, pois se firma na lei de afinidades, começo a penetrar cada vez mais
na questão. Assim é que tenho assistido em vários “terreiros” os ditos como
“paisde-santo”, receberem, por exemplo, Iansã, que é muito festejada. Eles se
paramentam todos quando ela “baixa”, em saias rendadas, colares, etc. Queira
repisar mais este ponto. Quem estará mesmo “baixando”?
Preto-velho: -Foi bom mesmo você ter insistido nesse ângulo. Aí, “zi-cerô”, há
dois aspectos a considerar: no primeiro pode ser que o “pai-de-santo” tenha
mesmo mediunidade ativa e dê passividade para um espírito feminino que
esteja na sua faixa vibratória e afim às suas práticas e rituais. Posso assegurar,
entretanto, que, na maioria dos casos, o que se passa e está dentro do
segundo aspecto é o seguinte:
Comumente, o dito como “babalaô” ou “pai-de-santo” cria em si uma condição
anímica, plasmando em seu campo mental as “qualidades” do Orixá que ele
pretende personificar e que, geralmente, é o daquele a quem se devotou.
Entendeu, “zi-cerô”? Mesmo porque essa questão de mediunidade, nos
agrupamentos que ainda conservam alguma coisa de culto africano puro – que
praticam algum ritual de nação, não é levada tão a sério, não é tão importante
assim...