LIÇÃO DE VIDA

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About This Presentation

100 Histórias de vitória inspiradas no programa apresentado por Paulo Alexandre Barbosa na Tv Canção Nova


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Lição de Vida
100 histórias de vitória inspiradas no programa apresentado
por Paulo Alexandre Barbosa

Lição de Vida4
Título: Lição de Vida, 100 histórias de vitória inspiradas no programa apresentado por Paulo Alexandre Barbosa
Autor: Paulo Alexandre Barbosa
Organizadoras da obra: Renata Ferrarezi e Viviane Pereira
Editoras: Cristiana Negrão e Renata Ferrarezi
Assistente Editorial: Jocelma Cruz
Fotografia: Renata Ferrarezi
Revisão: Lilian Miyoko Kumai e Patricia Bernardo de Almeida
Projeto Gráfico: Celeiro.BMD
®
Ilustração: Osvaldo da Silva DaCosta
Editora Canção Nova
Rua São Bento, 43 - Centro
01011-000 São Paulo SP
Telefax [55] (11) 3106-9080
e-mail: [email protected]
[email protected]
Home page: http://editora.cancaonova.com
Todos os direitos reservados.
ISBN: 978-85-7677-209-5
© EDITORA CANÇÃO NOVA, São Paulo, SP, Brasil, 2010

5Paulo Alexandre Barbosa
Lição de Vida
100 histórias de vitória inspiradas no programa apresentado por
Paulo Alexandre Barbosa
1ª edição
São Paulo
Editora Canção Nova
2010

Dedicatória
Lição de Vida6

Dedicatória
7Paulo Alexandre Barbosa
A minha eterna gratidão ao Monsenhor Jonas Abib, ao Eto e à Luzia
Santiago, que me proporcionaram a oportunidade de integrar o contexto de
evangelização do Sistema Canção Nova de Comunicação e de enriquecer a
minha vida e o meu espírito por meio da apresentação do Programa Lição
de Vida; à Glaucya Tavares pela confiança; à equipe técnica e de produção
da TV Canção Nova pelo empenho e a todas as pessoas e entidades sociais
que compõem este livro pelas lições de amor e solidariedade. Dedico este
livro ao fundador desta grande obra, Monsenhor Jonas Abib, a toda família
Canção Nova, em especial aos sócios evangelizadores, sem os quais nada
seria possível.

Sumário
Lição de Vida8
Prefácio
Introdução
Programas gravados em 2007
Associação Equoterapia – O conhecimento aliado à natureza
Associação Comunitária Despertar – Amor para mudar o mundo
Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto – Acreditando para fazer sempre mais
Associação Educacional e Assistencial “Casa do Zezinho” – Devolvendo o direito de sonhar
Lar das Moças Cegas – Abrindo portas para um novo mundo
Projeto Jovem Profissional – Educação para o trabalho
Projeto Arrastão – Fazendo o bem
Casa Cactos – Devolvendo a liberdade
Associação Cultural Poder Negro – A força de um sonho
Associação da Casa dos Deficientes de Ermelino Matarazzo – ACDEM – A felicidade de ajudar
Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer – GRAACC – Apoio e alegria para as horas difíceis
Jockey Instituição Promocional – JIP – Oportunidade de vida aos jovens
Casa da Esperança de Cubatão – Cuidando com carinho
Casa do Sol – Um lugar para o bem viver
Obra Social Dom Bosco – Um presente divino
BRASCRI – Construindo relacionamento
Associação de Amigos dos Autistas – AMA – Trabalhando com amor
Associação Casa da Criança – Bom filho a casa torna
Casa Vó Benedita – Dedicação que muda vidas
Projeto Tesourinha – Das palavras à ação
Lar de Assistência ao Menor – LAM – Grandiosidade de abrigar os pequenos
Fundação Cafu – Alimentando sonhos
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE Cajamar – Ajuda de coração aberto
Especial de Natal com Lu Alckmin – Amor em cada ação
Especial de Ano Novo na Fundação Pagoba – Construindo hoje um novo amanhã
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Sumário

Sumário
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Programas gravados em 2008
Comunidade Assistencial Irmãos de Emaús – Casa Abrigo – A chance de recomeçar
Casa Crescer e Brilhar – Um novo lar
Fundação Educacional e Cultural de Praia Grande – Agindo pelo bem estar
República da Vida – Fé na caminhada
Unidade Vicentina Promocional – Repouso para a terceira idade
Creche Lar Padre Vita – Preservando as crianças
Casa do Amor Fraterno – Vontade de mudar o destino
Associação Assistencial Nosso Lar de Fernandópolis – Uma grande família
Obra de Serviço Social Pio XII – Presença Divina em todo lugar
Especial Dia Internacional da Mulher com Mônica Serra – Força feminina
Lar dos Velhinhos – Lugar para viver feliz
Centro Educacional Catarina Kentenich – Trabalho que nasceu de um sonho
Associação dos Amigos da Criança com Câncer ou Cardiopatia – AMICC – Uma nova família
Lar Nossa Senhora da Salette – Recuperando o prazer de viver
Recanto Vida – O resgate da dignidade
Creche Jesus de Nazareth – Servindo para transformar
Casa João Paulo II – A garantia de novas perspectivas
Associação de Amigos e Moradores de Áreas Verdes – AAMAVI – Cidadania para promover felicidade
Recanto Colônia Veneza – Promovendo união e harmonia nas famílias
Especial de 1º aniversário do Lição de Vida com o Eto da Canção Nova – Vencendo desafios
Posto Médico Padre Pio – A humanização da saúde
Instituto Canção Nova – Construindo homens novos para um mundo novo
Projeto Geração Nova – Progen – Comunicar como ato divino
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE Bertioga – Exemplo de persistência
Grupo de Apoio a Criança – GAC – Descobrindo o tesouro dos pequenos
Casa Abrigo Madre Assunta Marchetti – Abrigando gerações
Serviço Social Bom Jesus – Clube da Turma M’Boi Mirim – Criando um novo cenário

Sumário
Lição de Vida10
Associação Prato de Sopa Monsenhor Moreira – Do assistencialismo à geração de renda
Especial Dia dos Pais – Amor paterno
Associação Beneficente Nossa Senhora de Guadalupe – Vidas renovadas
Projeto Educacional de Conscientização e Educação – PROECO – Apontando caminhos para a juventude
Gravação com a vencedora da promoção “Eu ajudo a construir homens novos para um mundo novo” – Momentos especiais, pessoas especiais
Centro de Capacitação Comunitária – CEC – Qualidade de vida para as famílias
Casa de Emaús – Comunidade que acolhe
Creche São Miguel Arcanjo – Vivenciando a caridade
Casa da Esperança de Santos – Uma atenção especial
Grupo Amigo do Lar Pobre – GALP – Preparando para a vida
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE São Vicente – Fé e realização
Lar da Bênção Divina – União para transformação
Especial de Natal com o Pauê – Exemplo de superação
Especial de Ano Novo com Elza Batalha – Nunca é tarde
Programas gravados em 2009
Núcleo de Amparo a Criança e Adultos com Câncer – NACAC – Estímulo para lutar com alegria
Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro – CAMP – Futuro promissor
Estrela da Mama – Força para vencer o medo
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE Atibaia – Uma ação elevada
Projeto Quixote – Da rua para a vida
Associação Poiesis – Experiência que faz a diferença
Associação Beneficente Nossa Senhora do Bom Conselho e São Luis Gonzaga – Devolvendo a força para a batalha cotidiana
Instituto Arte no Dique – A perfeita expressão da arte
ONG Pró-Viver – Uma fábrica de sonhos
Centro de Aprendizagem Cultural e Profissional do Perequê – Oferecendo oportunidades
Projeto Anjos do Senhor – Um chamado de Deus
Instituto Esporte & Educação – Mudando rumos
Instituto Neo Mama – Apoio amoroso
ONG Tia Lucia – Fazendo a sua parte
ONG Grupo da Solidariedade – Quando a dor vira amor
Liga Solidária – Formando novos cidadãos
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Sumário
11Paulo Alexandre Barbosa
Fundação Gol de Letra – A arte de realizar sonhos
Instituto São José – Ação pelas crianças
Associação Projeto TAM TAM – Inclusão pela arte
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais- APAE Cubatão – Superando limites
Vila Ponte Nova Instituição Promocional- VIP – A mulher que plantou esperança
Instituto Evolução – Sonho realizado
Instituto Dom Bosco – Formando a juventude
Creche Comunitária Cantinho da Criança – Proteção e aconchego para as crianças
Assistência Vicentina da Ilha de Santo Amaro – Promovendo alegria aos idosos
Educandário Anália Franco – Abrigando com o coração
A Alternativa – Oportunidade especial
ONG Cia. de Artes Tribus – Um convite à imersão no mundo da arte
Especial com a secretária de Assistência Social do Estado de São Paulo, Rita Passos – Cuidando do terceiro setor
Creche Padre Lucio Floro – Preparando o amanhã
Projeto Cubatão Sinfonia – Música abrindo caminhos
Associação Beneficente Maria da Paz – Bondade sem fronteiras
Creche Menino Jesus – Educação por um mundo melhor
Instituto Oswaldo Ribeiro de Mendonça – Referência em responsabilidade social
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Prefácio
Lição de Vida12
Durante seis anos da minha vida missionária, vivenciei uma experiência fantástica, apresentando o
programa ‘Resgate Já’ pela TV Canção Nova. As gravações ocorriam todas as quartas-feiras em lugares nos
quais o ser humano é chamado a um estado constante de superação, lugares como: presídios de segurança
máxima, casas de apoio aos soros positivos (HIV) em fase terminal, casas para menores abandonados, idosos,
bebês com síndromes etc...
Esta trajetória me proporcionou um amadurecimento espiritual missionário, pois tive a oportunidade
de tocar na essência do ser humano e da misericórdia de Deus, através daqueles que por algum motivo
conheceram o fracasso. Por meio do programa, pude dar visibilidade nacional às obras sociais maravilhosas
que receberam a solidariedade de muitas partes do Brasil e, é claro, contagiar muitas pessoas a fazerem
parte dessa corrente do BEM.
Vivi essa experiência tão intensamente que Deus me presenteou com uma grande inspiração: depois
de ver tanta gente lutando para recuperar um tempo perdido e/ou pagando um preço muito alto pelos erros
de percurso, Deus colocou em meu coração “ENSINA ESSE POVO A DIZER NÃO AO PECADO PARA QUE NÃO
NECESSITEM PAGAR NO PRÓPRIO CORPO POR AQUILO QUE JÁ PAGUEI NO MEU!”. Assim nasceu a frase “POR
HOJE EU NÃO VOU PECAR”, e a sigla “ PHN”, que se tornou o maior movimento atual da juventude no Brasil,
chegando a reunir na sede da Canção Nova, comunidade católica carismática em Cachoeira Paulista, cerca
de 150 mil jovens, num encontro anual que representa a sede que a juventude tem de fazer a coisa certa.
Esta corrente também tem sido levada aos jovens por meio dos programas de TV, rádio, Web TV, shows, blogs,
twitter, entre outros meios.
Minha alegria hoje é saber que o programa o qual originou tudo isso está tendo continuidade com meu
amigo e parceiro nessa linda história de superação e inspiração, Paulo Alexandre Barbosa, que apresenta o
mesmo formato de programa, porém com o nome “Lição de Vida”. Na condição de homem público, ele tem
RESGATE, UMA LIÇÃO DE VIDA

Prefácio
13Paulo Alexandre Barbosa
feito um trabalho maravilhoso, pois além de apresentar o programa, assim como eu o fiz durante seis
anos, também orienta e ajuda concretamente as entidades visitadas. É bom ver que um homem bem
formado, com uma família fantástica, a qual eu tive a chance de conhecer pessoalmente e que possui
um histórico também de superação, traz em si uma sensibilidade ao sofrimento do próximo.
Vejo que se trata de um plano fantástico de Deus se realizando na vida de alguém que resolveu se
lançar em uma aventura que desinstala o homem, impulsionando-o a ir em direção ao próximo. E uma
vez capacitado pelo próprio Deus, por onde passa e em todos os projetos que realiza, deixa a marca
dos que foram chamados para fazer a diferença num mundo tão necessitado de exemplos de atitudes
sinceras e honestas, e de preferência direcionada aos mais necessitados.
Esse livro mostra a ação contínua do bem na vida de pessoas que se tornaram alvos da
misericórdia e também outras pessoas que são ferramentas nas mãos de Deus para que o bem nunca
deixe de ser um objetivo a ser buscado por todos os homens.
Estou feliz em ver que aquilo que comecei, hoje se dá em continuidade na vida e
através da vida desse homem talhado pelo exemplo de seus pais e lapidado pelas
intervenções de Deus no caminho trilhado.
Que o ‘Resgate’ e as ‘Lições de Vida’ continuem a acontecer através de homens
e mulheres relatados nesse livro e que o mundo se contagie com a caridade que
Deus plantou no coração de todo ser humano.
Parabéns, Paulo Alexandre Barbosa. Estamos unidos pela força do BEM!!!
Dunga, missionário da Comunidade Canção Nova,
cantor e apresentador do PHN pela TV Canção Nova

Introdução
introdução
Lição de Vida
14
Este é um livro de história.
Em tempos de outrora, havia a estória e a história. A primeira referia-se aos contos, fábulas, ensinamentos
repassados através das gerações. A segunda explicava os fatos, cronologicamente, dentro de um contexto
político, econômico e social. O sentido de uma nos induzia à compreensão da outra.
As melhores estórias nem sempre ilustraram as páginas da história. Sabemos que a palavra da história
fica um pouco mais ao lado daqueles que venceram suas disputas e impuseram seus interesses.
Nossa rica língua portuguesa houve por bem unificar a palavra, agregando-lhe ambos os sentidos. Ao
escrever essa introdução, sinto a ausência daquela que mais combinava com as verdadeiras lições de vida.
As páginas seguintes apresentam personagens anônimos, protagonistas de fatos que merecem entrar
para a história, sob o signo da Paz. Nosso cotidiano nem sempre permite o registro, e talvez a percepção, dos
acontecimentos mais sublimes. Certamente, a simplicidade desses personagens não atrai a atenção da massa,
pois sobre eles não recai a luz da exposição.
Melhor assim. Os grandes exemplos de dedicação, generosidade, coragem e realização são construídos
sob o manto da discrição de homens e mulheres, fiéis ao pensamento de Santo Agostinho, que amaram sem
medida e assim encontraram a medida do amor. O conteúdo de tais obras, entretanto, não merece resguardo,

Introdução
15Paulo Alexandre Barbosa
mas serve de motivação para o surgimento de novos personagens de mesmos ideais, exatamente como nos
ensinou Jesus na passagem retratada por São Mateus (5,15) “Não se acende uma lâmpada para colocá-la
debaixo de uma caixa, mas sim no candelabro, onde ela brilha para todos os que estão em casa.”
Este é o objetivo principal do livro. Retratar, ainda que em linhas gerais, a fábula de personagens
reais, que modificaram o mundo ao seu redor, melhoraram as suas condições pessoais, desenvolveram suas
potencialidades e nos deixam uma mensagem de otimismo e fé na capacidade de superação do ser humano.
Nosso programa “Lição de Vida”, exibido pela TV Canção Nova, desde 2007, coleciona esses aprendizados
e os multiplica levando-os ao lar de milhares de pessoas. Agradecemos ao Monsenhor Jonas Abib, ao Eto e à
Luzia, por esta grande oportunidade de poder testemunhar os resultados proporcionados pelo trabalho das
pessoas que participaram do programa e nos servem de exemplo para o crescimento pessoal.
Agradeço também pela colaboração das jornalistas Renata Ferrarezi e Viviane Pereira, grandes
personagens na história deste livro.
Bons Exemplos!

Paulo Alexandre Barbosa

Lição de Vida16
O que poderia ser um sonho impossível tornou-se realidade com as atitudes de uma pessoa que ousou fazer o
que era possível para ajudar. Formada em pedagogia para excepcionais, a pedagoga Daniela Perrí sempre teve muito
interesse e uma ligação forte com cavalos. Quando soube que havia um pessoal em São Paulo utilizando esses animais
para tratar crianças com deficiência, resolveu conhecer o projeto e foi trabalhar como voluntária.
Surgiu uma possibilidade de estágio em equoterapia em Milão e na Suíça e Daniela foi com um grupo. “Na Europa,
o tratamento é muito difundido. Na Suíça, pouco se vê consultório de psicologia; o trabalho é muito feito ao ar livre e
com cavalos. Lá eu enxerguei melhor minha área, como pedagoga, dentro da equoterapia”, conta. Depois dessa expe-
riência de três meses conhecendo o trabalho fora do país, Daniela retornou ao Brasil decidida a levar essa alternativa
para sua região, onde montou os centros de equoterapia em Santos e São Vicente.
“Conseguimos essa realização porque o trabalho foi amparado por pessoas que se sensibilizaram. É importante as
pessoas voltarem um pouco o olhar e ajudar a quem precisa”, diz a pedagoga.
O trabalho coordenado por Daniela ajuda pessoas como Tiago, que tem deficiência e, pela segunda vez, passou
pelo tratamento de um ano. Já entrosado com os animais, o menino vai de baia em baia dando comida na boca dos
cavalos, fazendo carinho. “Eu sou corajoso, mas quando vou dar comida para os cavalos, digo a eles: ‘calma, calma
que eu não vou fazer nada’. Também converso com eles quando ando”, conta Tiago, que
adora a equoterapia. A mãe do garoto, Anália, revela que o filho é audacioso e nunca teve
medo, nem na adaptação. “Eu é quem ficava com medo no começo”, revela Anália, que
cita os principais benefícios conquistados por Tiago. “Melhorou muito o equilíbrio
dele e tanto em casa quanto na escola melhorou a atenção, além de ajudar para a
cirurgia que ele precisou fazer de alongamento do tendão. Até o comporta-
mento dele melhorou”, comemora.
Associação Equoterapia - Santos
O conhecimento aliado à natureza
“Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de
repente você estará fazendo o impossível.”
São Francisco de Assis

17Paulo Alexandre Barbosa
Método terapêutico que utiliza cavalos nas abordagens de educação, saúde e equitação, a equoterapia é usada para
tratamento de portadores de necessidades especiais. Trazida para o Brasil há mais de uma década por um grupo do Exército
de Brasília, que foi ao exterior aprender a técnica, a equoterapia chegou à Baixada Santista em 1997, em São Vicente. A
entidade foi criada em 2000, sendo inaugurado em 2004 o centro de Santos, onde são atendidos anualmente 72 crianças e
jovens, de 3 a 19 anos.
Depois de um ano de tratamento, novos alunos são chamados para participar, fazendo um rodízio. Daniela Perrí explica
que com esse tempo é possível trabalhar aspectos importantes do desenvolvimento, fixando o aprendizado. Assim, quando
as crianças voltam, pelo sistema de rodízio, o tratamento segue de onde tinha parado. “Quem já fez o trabalho em anos
anteriores começa outro processo, com maior autonomia sobre o cavalo, conduzindo sozinho; nessa fase, junto com a reabi-
litação, eles aprendem técnicas de equitação.”
“Atendemos crianças com comprometimento neurológico,
comprometimento motor, síndromes e sequelas de
meningite, entre outros casos. Elas se inscrevem na
prefeitura e nossa equipe faz a seleção. É um trabalho
que exige envolvimento. Nossa diretoria é toda
voluntária .”
C
larice Esteves, Presidente
“O primeiro ponto para tratar o cavalo é ter amor pelo animal , precisa passar
carinho. Eu chego de manhã, trato, lavo, limpo a baia dele e depois monto, passo trote
e galope para que fiquem mais calmos para a equoterapia .”
M
aciel Moreira, Tratador de Cavalos
Associação Equoterapia - Santos
Local: Avenida Francisco Manoel, s/nº
Jabaquara- Santos (SP)
Fundação: 2004
Contato: (13) 3221-7706
Site: www.associacaoequoterapia.com.br
Programa exibido em: 25/05/07

Lição de Vida18
Quem ama ao próximo como a si mesmo ajuda não só ao outro, mas traz benefícios para sua própria
vida. O amor ao próximo possibilita que sejam realizadas grandes transformações, como as que aconte-
cem diariamente na Associação Comunitária Despertar.
Testemunha das mudanças trazidas por esse amor, Cleusa, ex-aluna da entidade, fez vários cursos,
como modelagem e costura, o que lhe permitiu conseguir um sustento. Estabilizada financeiramente,
passou a ensinar, compartilhando o que aprendeu e transmitindo o amor recebido.
A Despertar transformou também a vida de Maria do Carmo, ex-aluna que aprendeu
na entidade diversos tipos de artesanato, como bijuteria, bordado em pedraria, tricô etc.
Com o dinheiro conquistado com a venda dos produtos, ela conseguiu realizar um antigo
sonho: visitar a mãe, a qual Maria do Carmo não via havia dez anos, em Salvador. A filha
pagou as passagens e se manteve na cidade com o dinheiro que conseguiu com seu
trabalho.
Além de gerar renda com o artesanato que aprendeu a fazer nos cursos
promovidos pela entidade, Neusa conquistou um bem mais precioso: a von-
tade de viver. Depois de aposentada, ela começou a entrar em depressão,
sentia-se desanimada. Foi na Associação que encontrou a motivação
que precisava, tornando-se frequentadora assídua: faz dança de sa-
lão, ginástica, alongamento. Às amigas que têm problemas em casa
ou depressão, Neusa não hesita em recomendar que frequentem a
entidade, para que elas despertem para um novo mundo, transforma-
do pelo amor.
Associação Comunit ária Despertar
Amor para mudar o mundo
“Ame ao próximo ou porque ele é bom ou para
que ele se torne bom.”
Santo Agostinho

19Paulo Alexandre Barbosa
Essas histórias e tantas outras ilustram como o amor ao próximo pode trazer à tona o bem que o outro tem para oferecer.
Esse foi o vislumbre que a idealizadora dessa instituição, Milú Villela, teve quando pensou que gostaria de desenvolver alguma
atividade na área educacional, com arte, cultura e formação, para ajudar comunidades carentes da Zona Sul de São Paulo.
A entidade, que atende cerca de 3 mil pessoas por ano, promove cursos de formação profissional para adultos, ajudando-
os a encontrar uma forma de geração de renda, e para adolescentes, auxiliando-os na iniciação profissional, facilitando sua
inserção no mercado de trabalho. A família também é amparada com a creche da associação, na qual as crianças podem
participar de atividades esportivas e culturais.
Um dos destaques da Despertar é o Projeto Sociocultural Charanga, uma orquestra de percussão onde os jovens
aprendem sobre várias tradições brasileiras, além de ter aulas sobre consciência, cidadania e musicalidade. A orquestra faz
várias apresentações, recebendo destaque nacional e internacional.
“Nesse trabalho observamos que não há grandes
problemas para realizá-lo; basta que alguém realmente
tenha o desejo de oferecer algo à comunidade , que venha
somar conosco. É possível implantar um trabalho assim
através de soluções simples – não precisa ostentar
muito e nem de grandes aparatos . Basta oferecer para a
comunidade o que ela tanto necessita .”
N
anci Marilena Marques Pereira Gorni, diretora
“As alunas passam pelo curso de aperfeiçoamento
e, depois que terminam , selecionamos algumas para
atuar na produção. Elas vão produzir materiais e
poderão gerar suas rendas .”
M
aria Cardoso, coordenadora pedagógica
“Uma coisa que acontece no comportamento do jovem é a questão
da integração . A gente os tira da ociosidade , de só ficar na escola ;
muitas vezes eles ficam na rua e no lugar disso colocamos uma
atividade cultural , que traz uma brasilidade pra dentro da cabeça
dele, pra poder afastar um pouco do consumismo americano . Então,
damos um objetivo para a vida deles, um objetivo voltado para o
lado artístico. Outro ponto bom é a educação , que é dirigida não
só ao profissionalismo , mas para a parte educacional e esporte
também . A gente está mudando coisas concretas , dando uma vida
melhor, mais saudável, com mais educação , uma vida com mais
cultura , com mais relação cultural brasileira .”
M
aurício Alves de Oliveira, professor responsável pelo projeto Charanga
Associação Comunitária Despertar
Local: Rua Antonio Machado Sobrinho, nº 220
Jardim Villas Boas- São Paulo (SP)
Fundação: 1994
Contato: (11) 5621-0901
Site: www.despertar.org.br
Programa exibido em: 01/06/07

Lição de Vida20
Acreditar que tudo é possível é o primeiro passo para realizar. Gilberto voltou a acreditar no seu potencial,
na sua vida, quando atravessou as portas do Centro Comunitário São Martinho de Lima, uma das 57 unidades
do Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto. Morador de rua, Gilberto foi buscar um pouco de comida, um
teto e, quem sabe, alguma esperança na entidade que acolhe moradores de rua.
Ficou assim alguns meses, frequentando o centro, e logo começou a ajudar na cozinha. Mostrou que era
bom no serviço e por isso foi chamado para trabalhar: no começo, ganhou uma bolsa e, com o tempo, foi ofi-
cialmente contratado, com carteira assinada. Gilberto tornou-se o chefe da cozinha, responsável por preparar
a refeição das mais de 500 pessoas que passam diariamente pela casa.
Por ter frequentado a casa, ele sabe muito bem a importância que aquela comida tem para cada um dos
que chegam ali procurando auxílio – muitas vezes a única refeição que terão em dias. Por isso, faz tudo com
muito carinho; sua alegria é chegar e ver as pessoas esperando sua comida, apreciando, elogiando. “Isso dá
uma grande alegria. Elaboramos cada dia um cardápio diferente, com muita higiene e carinho. Tem comida
para todo mundo e para todos gostos.”
Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto
Acreditando para fazer sempre mais
“Pois todo aquele que pede recebe,
quem procura encontra, e a quem
bate, a porta será aberta.”
(Mt 7,7)

21Paulo Alexandre Barbosa
A grandiosidade é a principal marca dessa obra criada na Zona Leste de São Paulo por iniciativa de um grupo
de senhoras católicas, com apoio de Dom Luciano Mendes de Almeida. Uma das maiores obras sociais da capital
paulista, o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto reúne 57 unidades de atendimento, que acolhe pessoas de
várias idades e com diferentes necessidades.
São realizados mais de 8 mil atendimentos, envolvendo cerca de 1 mil educadores. A orientadora pedagógica
responsável por toda obra do centro social, Sueli, explica que a equipe está distribuída em todas as unidades, mas há
formações mensais para disseminar os valores e a missão da organização.
A entidade atende crianças de 0 a 6 anos nos centros educacionais infantis – creches –, de 6 a 15 anos nos
centros educacionais comunitários, jovens nos centros pré-profissionalizantes e idosos nas casas-lares. Há ainda
centros para atender a população de rua. Referência em atendimento, a entidade já ganhou inúmeros prêmios.
“Para nós é importante cuidar não só do desenvolvimento
da criança , mas também propiciar uma relação de víncu-
lo com a família , procurando o bem-estar dessa criança .
T
emos encontros mensais com os familiares para nos
mantermos próximos e favorecer não só a criança , mas a
família em geral .”
S
ueli, orientadora pedagógica da entidade
“Trabalhamos com o portão aberto para atender a todos. Esse é um dos nossos diferenciais . Nossa única exigência ética é o
respeito à vida e à comunidade . A casa tem a tradição de acolher a todos e tem como fator principal a pedagogia da convivência e
a hospitalidade . É a metodologia do nosso trabalho . Temos atividades socioeducativas , há o grupo de leitura , o espaço cidadão,
reflexão ecumênica , oficina de panificação . É um espaço alternativo ao da rua. Aqui os moradores de rua encontram acolhimen
-
to, hospitalidade , convivência . É um espaço onde eles se encontram .
V
emos o resultado tanto na aparência física quanto nos que conseguem deixar a situação de rua. Em média são 70 por ano que
voltam para a família . Há muitos casos de pessoas que passaram a trabalhar conosco.”
S
andro, coordenador do Centro Comunitário São Martinho de Lima
Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto
Centro Comunitário São Martinho de Lima
Local: Rua Siqueira Bueno, nº 667- Belenzinho- São Paulo (SP)
Fundação: 1946
Contato: (11) 6696-3200
Site: www.acolhe.org.br
Programa exibido em: 08/06/07

Lição de Vida22
Vontade de lutar foi o que mais motivou a pedagoga Dagmar Garroux, a agir, indignada com a situação de
crianças e jovens carentes. Sua história de batalha começa na década de 1970, época da ditadura militar, quando
a TV entrou na favela e começou a levar sonhos consumistas para jovens sem poder aquisitivo para comprar o
que a TV estimulava. “Todo mundo via na TV uma criança comendo iogurte, escrevendo com canetinha especial,
usando tênis. O jovem da favela queria participar dessa história, então o pai começa a perder a autoridade e eles
começam a roubar dentro da comunidade e criar o grupo de extermínio”, recorda Dagmar, a tia Dag, como é
carinhosamente chamada. “Eles colocavam no poste dentro da favela a relação de nomes das pessoas que iam
morrer em sete dias – eu estou falando de crianças de 11, 12 e 13 anos.”
Dagmar começou a esconder as crianças marcadas para morrer em sua casa – logo a casa começou a ficar
pequena e foi preciso adquirir um imóvel. Ela notava que as crianças – filhos de negros, de
índios, de imigrantes – tinham perdido sua cultura e, por isso tentava mostrar-lhes suas
origens. A pedagoga conta que se uniu com cinco amigas da USP, todas com o desejo de
mudar o país através da educação, e criaram a casa do Zezinho, com sete “Zezinhos”.
“Nossa grande preocupação é com o menino que está preso em gueto. Você pergunta
para algum menino de periferia: ‘Você é brasileiro?’ Ele responde: ‘Não.’ ‘Paulistano?’
‘Não.’ ‘Paulista?’ ‘Não’. Então ele é periferia, ele perde a identidade primeira que é o
direito civil”, diz Dagmar explicando que o objetivo da casa é fazer esses meninos
atravessarem a ponte para a sociedade. “Esse jovem foi o país quem criou e agora o
jovem é problema. Jovem para mim é solução; por meio do jovem vêm as grandes
mudanças. Já que somos um país democrático, tem que ter democracia na edu-
cação, democracia na saúde, na moradia. Em tudo meu jovem tem que estar na
mesma condição que o jovem de classe média: para competição, para o mercado de
trabalho, para o que ele quer ser.”
Esse é o trabalho que Dagmar desenvolve há mais de 30 anos. Esta é a mis-
são da Casa do Zezinho: devolver a esses jovens o direito de sonhar e a esperan-
ça de um dia vencer.
Associação Educacional e Assistencial “Casa do Zezinho”
Devolvendo o direito de sonhar
“Enquanto houver vontade de
lutar haverá esperança de vencer.”
Santo Agostinho

23Paulo Alexandre Barbosa
Criada para abrigar crianças e jovens de baixa renda, a Casa do Zezinho recebe hoje mais de 1200 pessoas, de 6 a 21 anos, na
sede própria que tem área construída de 2.900 m². A entidade oferece várias opções de aprendizagem, com mais de 18 oficinas e
ateliês de arte, quadras poliesportivas, piscina, refeitório, padaria, cabeleireiro, auditório, ambulatório médico, consultório dentário e
horta. Há oficinas de capacitação profissional, orientação em saúde e atendimento às famílias, entre outras iniciativas.
“O jovem tem muita energia positiva que precisa ser canalizada e com ações como as oficinas de mosaico e esporte, realiza-
das na casa, a gente consegue direcionar este jovem para o caminho do bem”, conta a tia Dag.
“Na Casa do Zezinho a primeira
coisa que fazemos é olhar , obser-
var, cheirar , ouvir. Esse é o nosso
primeiro ato. Afeto e carinho são
muito importantes aqui e a equipe
toda acredita neste projeto e vê
resultados . Hoje tenho mais de 50
Z
ezinhos em faculdades , Zezinhos
com pós-graduação , temos Zezinhos
fazendo pedagogia porque querem
ser educadores da Casa do Zezinho.
E
sta semente foi jogada e brotou;
não é mais meu sonho: é o sonho de
uma comunidade inteira .”
D
agmar Garroux, presidente e fundadora
“Estamos trabalhando como será
nosso futuro, pensando nesta questão
do meio ambiente para criar pessoas
conscientes desde agora . Assim vamos
mudar este futuro.”
V
ivian Venâncio Santana Souza, educadora social
“Comecei aqui na casa com 12 anos,
como Zezinho, e aos 16 me tornei vo
-
luntário da sala de informática . Fiquei
dois anos e passei a ser educador – dei
aula por quatro meses, até surgir
uma oportunidade no banco, onde já
trabalho há quase um ano. Agora
venho todo sábado fazer trabalho
voluntário.”
M
arcio Gieso Rodrigues, ex-aluno
“No mosaico eles focam a atenção no
momento. A cada caco que colocam é um
pedaço da sua vida; eles juntam suas
experiências nesses pedaços e, criando
coisas novas , eles criam novas possibili
-
dades para suas vidas.”
A
na Maria Sandoval, professora da oficina de artes
“A família pode ter, na Casa do Zezinho,
uma referência de apoio, de acolhimento,
de escuta , de respeito e não de julgamento ;
então ela se dispõe a rever as próprias
atitudes no desafio que é educar , vem
fazer parte desse processo e começa a se
perceber, podendo intervir na própria his
-
tória, no próprio destino e entender que a
dificuldade , seja ela de que ordem for, pode
sofrer todo tipo de intervenção possível.
E
les vão descobrindo a possibilidade de
serem autores da própria história , do pró
-
prio caminho e podem reescrever quantas
vezes for preciso.”
A
na Beatriz Fernandes Nogueira, coordenadora
pedagógica
Associação Educacional e Assistencial Casa do Zezinho
Local: Rua Anália Dolácio Albino, nº 30
Parque Maria Helena- São Paulo (SP)
Fundação: 1994
Contato: (11) 5512-0878
Site: www.casadozezinho.org.br
Programa exibido em: 15/06/07

Lição de Vida24
Saber viver é saber recomeçar, superar os obstáculos da vida e sorrir, buscando a felicidade onde quer
que ela esteja. Acreditar que sempre é possível, porque a vida pode surpreender com uma boa oportunidade,
uma chance de reaprender a ler o mundo ou com um grande amor.
Milena Ribeiro Simões perdeu a visão aos 19 anos, por causa de diabetes. Ela precisava redescobrir
a vida, recuperar sua independência e procurou o Lar para começar uma nova etapa. “Comecei a fazer os
cursos e me adaptar. Uma das coisas mais importantes que eu aprendi foi andar com a bengala, ter a minha
independência, porque a bengala ajuda muito”, conta a moça, com 24 anos.
Além da independência reconquistada, Milena conquistou no Lar também um grande amor, quando
conheceu Gilmar Ribeiro dos Santos, ex-aluno e professor da entidade. Ela descobriu que a felicidade vem
para todos, independentemente das dificuldades enfrentadas. “O Lar foi uma das coisas mais importantes da
minha vida depois que eu perdi a visão. Eu tenho uma deficiência, mas sou uma pessoa super feliz, pratico os
esportes que eu gosto e, graças a Deus, eu conheci o Gilmar aqui, que é uma pessoa maravilhosa pra mim e
me faz feliz.”
Lar das Moças Cegas
Abrindo portas para um novo mundo
“Tudo é possível para quem crê.”
(Mc 9,23)

25Paulo Alexandre Barbosa
A cidade de Santos (SP) não tinha nenhum atendimento voltado aos deficientes visuais. Para preencher essa lacuna, foi
fundado o Lar das Moças Cegas, que atende deficientes visuais de toda a região. No começo, a entidade atendia somente
mulheres, com o tempo, foi abrangendo os homens. “Nosso atendimento vai do primeiro mês de vida até a terceira idade.
Entidade que atenda dessa forma, só o Lar das Moças Cegas”, esclarece o presidente, Carlos Antonio Gomes, o Caluxo, que
segue o caminho do pai, que foi presidente da instituição por 25 anos.
O primeiro passo de quem entra no Lar é fazer os cursos básicos fundamentais, como o AVD – Atividade da Vida Diária,
em que o deficiente visual irá reaprender a ser independente, desde a hora que acorda até deitar-se. Eles aprendem a arrumar
cama, organizar gavetas e armário, utilizar fogão, ligar equipamentos eletrônicos, andar com bengala, ler no sistema braile,
enfim, aprendem desde ações mais básicas do dia a dia às mais complexas. Há ainda diversas oficinas, atividades esportivas,
banda, coral, além dos cursos de capacitação, como informática, telefonia, massagem, culinária, entre outros. São mais de 30
cursos.
“No primeiro momento, quando o deficiente passa por aque-
la porta, o olhar dele é mais entristecido, uma postura mais
comedida ; e depois dos primeiros dias de aula, da convivência , a
postura já muda, o olhar já muda. Ele começa a perceber que é
um deficiente, mas que ele é eficiente em todos os sentidos da
sua vida.”
M
yrina Paiva Gomes, coordenadora pedagógica
“Comecei a frequentar o Lar ano passado , no curso de
telefonia , e tive a oportunidade de entrar no mercado
de trabalho . Também decidi fazer o curso de culinária
porque acho que o deficiente tem que ser independente em
todas as funções, desde cozinhar , trabalhar , estudar .”
S
oraia Lisboa Salgado, aluna
“Cheguei aqui sem saber nada e aprendi o braile, a andar de benga
-
la, a cozinhar . A gente sai daqui preparado pra enfrentar a vida
lá fora. Eu já leio livros, já leio tudo.”
M
aria Dilma, aluna
“No curso de orientação e mobilidade a gente procura trabalhar os
sentidos remanescentes - tato, audição, olfato, a percepção, que é um
sentido muito importante que a gente vai trabalhar com o deficiente.
T
ambém trabalhamos o lado emocional e psicológico, até que ele se
sinta seguro em estar pegando a bengala pra desenvolver as ativida
-
des dentro da escola . Ele aprende a lidar com ambientes internos e
externos. A gente treina travessias , uso de transporte e comércio em
geral , até que chega num ponto em que o deficiente visual esteja indo e
voltando da casa dele pra escola sem precisar de um guia vidente ou de
usar nosso transporte . Aí ele vai estar totalmente independente pra
voltar pra sociedade .”
G
ilmar Ribeiro dos Santos, professor
Lar das Moças Cegas
Local: Avenida Ana Costa, nº 19
Vila Mathias- Santos (SP)
Fundação: 1943
Contato: (13) 3226-2760
Site: www.lardasmocascegas.org.br
Programa exibido em: 22/6/07

Lição de Vida26
Preparar o jovem para o mercado de trabalho é mais do que ensinar a profissão – é necessário ter uma
visão global, como faz o Projeto Jovem Profissional. Esse é um dos segredos para o sucesso da iniciativa,
que tem boa empregabilidade, oferecendo a oportunidade especial do primeiro emprego aos jovens. Pode ser
um passo modesto, mas essencial para afastá-los dos problemas sociais e levá-los para o bom caminho. “A
oportunidade que damos aqui muitas vezes substitui toda deficiência que a família anteriormente não pôde
suprir. Eu procuro resgatar a autoestima e mostrar que se chegou até aqui, já é vencedor”, explica a psicóloga
Edwiges Lucia Howath.
O diferencial do projeto é trabalhar o jovem por inteiro, preparando-o tanto como profissional quanto
como ser humano, comprova a coordenadora pedagógica Regina Célia. “Percebemos que quando o aluno
chega à fundação, precisa ser trabalhado em seu comportamento, seu intelectual e conteúdo. Sem isso, pode
encontrar dificuldades no mercado de trabalho. Por isso, trabalhamos postura, higiene, saúde e se comportar
quando numa entrevista de emprego.”
Com esse direcionamento, o Projeto Jovem Profissional prepara
os jovens para o futuro, ajudando-os a esquecer os problemas do
passado, superar as limitações da vida, além de ensiná-los a olhar para
frente, para a capacidade de fazer, transformar e agir. Quem passa pela
entidade aprende realmente a seguir o ensinamento do papa João 23: a
caminhar em direção ao que ainda há para fazer.
Projeto Jovem Profissional
Educação para o trabalho
“Preocupe-se não com aquilo que você
tentou e falhou, mas sim com aquilo que
você ainda há de fazer.”
João
XXIII, Papa de 1958 a 1963

27Paulo Alexandre Barbosa
Criado para ajudar jovens a ingressar no mercado de trabalho, o Projeto Jovem Profissional oferece oportunidades aos
adolescentes de 14 a 17 anos em três cursos: auxiliar de escritório, serigrafia e solda plana em PVC, com aulas teóricas e
práticas. A entidade funciona embaixo do Viaduto 9 de Julho, em São Paulo.
“Esses alunos passam o dia conosco, recebem refeições, reforço escolar, tratamento psicológico. Nossa meta é que
cada vez mais jovens tenham a oportunidade na vida de serem profissionais conscientes”, afirma a presidente da enti-
dade, Ana Maria de Andrade. A inserção dos alunos no mercado de trabalho acontece graças à parceria com mais de 100
empresas. “Os jovens começam como estagiários, mas a maioria é efetivada. Nossos ex-alunos mantêm laços fortes com a
fundação através do balcão de empregos. Quando eles estão no mercado de trabalho, procuram a fundação e nós encami-
nhamos esses jovens.”
“A gente oferece toda preparação para que os alunos se de-
senvolvam na área administrativa da empresa . A gente procura
qualificá-los. As oficinas abrem um leque grande de possibilidades
de um futuro trabalho . Ressaltamos que o melhor estímulo é a
vontade : vontade de progredir, de crescer, de evoluir, de ter um
futuro melhor e, o principal , dar um futuro melhor para os pais,
pois é nisso que eles pensam mais, na família .”
W
elma Carlos Oliveira, instrutora
“Nós vendemos o que produzimos e a renda ajuda a man
-
ter o projeto. Temos clientes fidelíssimos que compram
conosco pela causa social , por manter o projeto e isso
é bem explicado no primeiro contato – de que eles não
estão apenas comprando o produto: estão ajudando uma
causa .”
J
aqueline Barros Barbosa, ex-aluna e Assistente de Vendas do Projeto
Projeto Jovem Profissional
Local: Avenida Nove de Julho, 399- Bela Vista- São Paulo (SP)
Fundação: 1937
Contato: (11) 3241-5588
Site: www.jovempro.org.br
Programa exibido em: 29/06/07

Lição de Vida28
Fazer o bem é a melhor forma de ver o bem se multiplicar, muitas vezes atingindo proporções
inimagináveis, transformando vidas, criando histórias, como a de Denis Calazans Silva. Antes de entrar no
projeto, Denis levava uma vida sem novidades: ficava em casa, assistia à televisão, ia para a escola.
“Esse projeto mudou minha vida, meu jeito de falar com os amigos. É importante porque você nunca
está sozinho, aprende, ensina, participa”, conta animado o garoto, que achou importante as amizades que
conquistou, a convivência com o grupo e, sobretudo, o aprendizado obtido no projeto de dança e na oficina
Arrasta Lata. Graças à sua participação no grupo e ao aprendizado, foi convidado para atuar em uma
companhia de dança, garantindo-lhe novas experiências e uma grande oportunidade.
A chance conquistada por Denis deve-se ao seu esforço pessoal e também à visibilidade do grupo Arrasta
Lata, que soma em seu currículo diversas apresentações, inclusive com famosos, como o cantor Gilberto Gil e
o maestro Julio Medaglia.
Crianças conhecem um mundo que, pelas limitações sociais, não teriam acesso; pais e mães recebem
capacitação para proporcionar uma vida melhor para as famílias. É a multiplicação de coisas boas promovida
pelo Projeto Arrastão.
Projeto Arrastão
Fazendo o bem
“Tudo posso naquele que me dá força.”
(Filipenses 4,13)

29Paulo Alexandre Barbosa
Criado em 1968, o Projeto Arrastão tem o objetivo de promover atividades sociais, culturais e educativas no Campo
Limpo Paulista, Zona Sul de São Paulo. A entidade se destaca pela variedade no atendimento, desde crianças a idosos,
somando 1200 atendimentos diretos diários e quase 5 mil indiretos.
O projeto nasceu com um grupo de mães de classe alta e média que foi para a periferia a fim de capacitar mulhe-
res para a geração de renda. Esse conceito de capacitação continua ao longo da existência da entidade, promovendo
oficinas de culinária, corte e costura, entre outras. Em virtude da necessidade das mães de um local onde deixar os
filhos para irem trabalhar, surgiu a ideia de acolher as crianças.
Hoje, o Arrastão recebe crianças de 2 a 6 anos com projetos educacionais, brinquedoteca, crianças de 7 a 14 anos
no núcleo socioeducativo, oferece formação para jovens e faz um trabalho social com a comunidade do entorno. Na área
cultural, destaca-se o programa Arrasta Lata, que une música e conscientização ambiental.
“Atendemos crianças e jovens na área pedagógica ; o núcleo
social e os trabalhos culturais envolvem os jovens e a comu-
nidade. Sempre buscamos envolver as famílias porque achamos
importante chegar na casa dessas crianças . É importante essa
família estar aqui conosco; é um aprendizado mútuo.”
R
egina M. Barros, coordenadora de comunicação
“Nós unimos os conceitos da educação física, desenvolvendo o
corporal , e a música como terapia . Tem a coordenação motora , o
ritmo, a questão corporal e a conscientização do meio ambiente. No
programa percebemos mudanças no comportamento dos participan
-
tes, como melhora nas notas .”
J
oilson Bispo dos Santos, coordenador do grupo Arrasta Lata
“Na cozinha experimental usamos as receitas para de
-
senvolver as técnicas que são passadas para os alunos
e apresentamos a cozinha internacional . Priorizamos
também a higiene e a segurança , fator fundamental nessa
função. É uma forma de orientar os jovens que têm habili-
dade para o mercado de trabalho , para que tenham uma boa
qualificação .”
F
ernando Martins, professor da oficina de culinária
Projeto Arrastão
Local: Rua Dr. Joviano Pacheco de Aguirre, nº 255
Campo Limpo- São Paulo (SP)
Fundação: 1968
Contato: (11) 5841-3366
Site: www.arrastao.org.br
Programa exibido em: 06/06/07

Lição de Vida30
O antigo sonho de liberdade está sempre presente na vida do homem. Liberdade de ir e vir, de escolher, de fazer. Quem se
envolve com vícios perde liberdade e vira prisioneiro das drogas. Ajudar a retomar essa liberdade é o grande desafio enfrentado pela
Casa Cactos, que recebe dependentes para auxiliá-los em sua recuperação. Juntos, jovens, adultos e a equipe da entidade travam
uma batalha no combate à dependência química, e muitas vezes é vencedora, especialmente graças àqueles que persistem e vão
até o final do tratamento. Os que param antes sentem falta e acabam voltando para fazer o processo completo, como Reinaldo.
Ele era um garoto normal, praticava esportes, até conhecer as drogas aos 12 anos. “De repente eu notei que a vida estava se
acabando, perdendo tudo e principalmente quem me ama estava se afastando de mim.” Em 1996, conheceu a comunidade Cactos,
começou o tratamento, mas não o terminou – ficou cinco meses. “Esse foi talvez o maior erro da minha vida”, lamenta. Com a base
que recebeu na entidade, conseguiu ficar “cinco anos de pé”, como ele chama o tempo em que não usou drogas. “Faltava alguma
coisa e realmente era completar a programação, os ensinamentos que nos passam aqui”, diz. Reinaldo acabou recaindo. “Ano
passado reconheci a minha impotência e minha derrota perante as drogas e estou agora há cinco meses, passando para uma nova
fase.”
No quinto passo do tratamento, ele aprende a admissão perante Deus e os outros semelhantes. “Aprendemos a natureza exata
das nossas falhas, vem a crença, acreditar e entregar a Deus nossas vidas e vontades. Depois, colocamos no papel toda aquela
bagagem, boa ou ruim, os nossos defeitos, nossas qualidades, tudo que nos aflige, e o quinto passo é expor verbalmente para um
coordenador, um padre ou um psicólogo, e receber um retorno desse coordenador, desse padrinho. Após o quinto passo, depois de
algum tempo, a gente segue para a ressocialização.”
Reinaldo se prepara para voltar para casa, com a esposa e os filhos. “Deus permitiu meu livre-arbítrio, que eu perdesse tudo;
só não permitiu que eu perdesse meu maior tesouro, que é minha baixinha, minha esposa e meus dois filhos. Em breve, vou para a
ressocialização com uma chance de estar com eles diariamente, acostumar-me novamente à vida lá fora. A expectativa é grande.”
Casa Cactos
Devolvendo a liberdade
“Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta,
não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.”
Cecília Meireles, escritora e poetisa brasileira

31Paulo Alexandre Barbosa
Um grupo de dependentes químicos procurou o monsenhor Ciro Fanha, então pároco da Igreja Nossa Senhora Aparecida,
porque precisavam de um local para realizar o trabalho de recuperação. O pároco abriu as portas da igreja para a realização
das reuniões. Durante os encontros, um pai comentou que havia um lugarzinho no meio do mato, um terreno, que foi doado e
nele montada a Casa Cactos, na fazenda que recebeu o nome do monsenhor, em homenagem ao seu apoio. “Monsenhor Ciro
Fanha trabalhou muito firme com os jovens e as famílias. Ele trazia um linguajar todo especial para os jovens, era uma coisa
maravilhosa”, comenta o presidente do instituto, Marcelo Souza Nascimento.
A Casa Cactos atende homens a partir de 16 anos, visando recuperar dependentes de álcool e outras drogas, para
reintegrá-los à sociedade. O trabalho é referência no Brasil e na América Latina, recebendo jovens de outros países.
O processo começa com uma triagem e realização de exames para verificar se a pessoa tem condições de ir para a
fazenda, onde irá ficar por um período de seis meses a um ano. “Quando eles chegam, primeiro passam por uma fase de
adaptação, e depois fazemos um trabalho de desintoxicação. Conseguimos isso através do processo de laborterapia, onde
eles trabalham com as plantas, com os animais, com a mata. Esse trabalho faz com que transpirem bastante, para que as
toxinas saiam do seu organismo e, consequentemente, tenham mais sede, urinem mais, tendo assim uma desintoxicação mais
rápida”, explica Marcelo. “A partir daí vamos conscientizá-los de que eles têm uma doença. Como diabetes, pressão alta, pode
ser controlada e mostramos os valores da sociedade e os valores cristãos, que são muito enraizados nessa obra através da
espiritualidade.”
“Eu comecei a usar drogas com 15 anos; em
1999
admiti minha primeira derrota e re
-
solvi me internar no Cactos. Não conclui o
tratamento , um dos grandes erros da minha
vida - fiquei quatro meses e devido a fatores
alheios resolvi ir embora , uma decisão comple-
tamente errada . Depois de nove anos e muitas
perdas familiares e espirituais , eu vim parar
aqui de novo, com a graça de Deus. Dessa vez
com o intuito de me recuperar , fazendo uma
programação séria, buscando uma convenção
de vida. O mais importante é conhecer a Deus,
conhecer o projeto que Ele tem para minha
vida e fazer uma mudança . Já estou aqui há 8
meses e vivo a programação “só por hoje vou
melhorar ” e meu intuito é fazer o dia de hoje
o melhor possível, para que eu possa colher
bons frutos amanhã .”
F
ernando , Residente
“Essa atividade é uma das mais importantes , faz parte do tripé da nossa recuperação .
T
odos os dias pelas manhãs nós iniciamos , após o café da manhã, com oração e estudo
bíblico, para nos fortalecer durante o dia. Os louvores também nos ajudam bastante ;
quem louva , canta , e quem canta está orando duas vezes. Nossa mensagem é: o único
salvador é Jesus Cristo; é Ele quem tem me ajudado no dia a dia. Ele guia minha casa,
minha família , tem me sustentado nas horas difíceis e só Ele, somente Ele, preenche o
vazio que as drogas deixam .”
M
aurício, Residente e responsável pelo estudo bíblico
Casa Cactos
Local: Rodovia Padre Manoel da Nóbrega,
km 286- São Vicente (SP)
Fundação: 1989
Contato: (13) 3234-8548
Programa exibido em: 13/07/07

Lição de Vida32
Um dia um homem ousou sonhar com uma vida melhor para seus iguais, para os jovens da periferia
que não têm oportunidades. Com a força desse sonho, ele começou a construir uma vida melhor para jovens
como Diego, 17 anos, aluno da Associação Cultural Poder Negro.
Quando não está na escola, Diego está na entidade – diariamente. Apesar da rotina desgastante, ele se
sente motivado e garante que continuará frequentando a instituição até completar seus cursos. “Vejo aqui no
núcleo coisas que nunca vi em nenhum lugar. O curso de videomaker, por exemplo. Nunca tinha visto. Onde
eu iria conseguir fazer um curso desses? Ainda gratuito”, anima-se o rapaz, que se interessa por fotografia.
Uma das vantagens da entidade, segundo Diego, é que eles tentam mostrar o mundo como ele é, não
como “um conto de fadas com coisas maravilhosas. Tem que ter jogo de cintura, e eles preparam a gente
para entrar no mercado de trabalho a todo vapor.”
Entrar no mercado de trabalho com força total foi também a oportunidade que Evandro Damasceno Souza
e Natália Amâncio Milanez tiveram quando fizeram cursos na instituição. Dedicados, ambos conseguiram um
espaço especial e agora voltam à entidade para partilhar o que aprenderam, como professores.
“É uma sensação maravilhosa poder passar o que a gente aprendeu”, comenta Natália. Evandro
complementa: “O principal é ter força de vontade. Sem força de vontade não se adquire nada.”
Associação Cultural Poder Negro
A força de um sonho
“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”
Fernando Pessoa, poeta português

33Paulo Alexandre Barbosa
A entidade nasceu voltada para o movimento negro. Entretanto, seu fundador e presidente, Sidnei Cândido Kondhi, conta
que com o tempo foi começando a perceber que a questão negra não está ligada à cor da pele, mas à condição socioeconô-
mica. “A gente se baseou em Palmares, que já era periferia. Quando em 13 de maio surgiu a Lei Áurea, no dia 14, milhares de
comunidades escravas foram jogadas nas ruas e o Estado não criou políticas públicas para essas comunidades.”
Para oferecer oportunidades a esses jovens e qualificá-los para o mercado de trabalho, foi criada a associação. Para a
formação profissional há cursos de foto e vídeo, artes visuais, informática, serigrafia, culinária (buffet), beleza e cidadania e
designer de formas. A questão cultural também é desenvolvida com percussão, dança, teatro e artesanato.
O diferencial é o Plano de Desenvolvimento Intelectual – PDI – que envolve aulas de sociologia, filosofia, história e cida-
dania, para proporcionar formação integral.
“Propomos alguns cursos de qualificação profissional para que a gente
consiga trabalhar atividades culturais . Foto e vídeo, por exemplo, além de
ensinar o trabalho técnico, começamos a fazer o jovem enxergar o mundo,
perceber que com a câmera podem escolher deixar algo bonito ou feito, depen-
de de como fotografam . As artes visuais ensinam a criatividade , a perceber a
periferia e como criar mecanismo de mudança .”
S
idnei Cândido Kondhi, presidente
“A principal mudança que conseguimos com os jovens –
como foi no meu caso – é a disciplina , porque a aula de
percussão exige disciplina e trabalho integrado . Se cada
um bate em um lugar , não tem produtividade .”
J
osué Silva Soares, professor de percussão
“Temos muita batalha desde o início, mas trabalhamos
contentes vendo o crescimento dos jovens saindo da rua,
tentando dar algo melhor para eles. Sinto muito orgu
-
lho. Formamos o cidadão de amanhã para cuidar da velha
guarda .”
M
aria Helena M. Nunes, voluntária da cozinha
Associação Cultural Poder Negro
Local: Rua Fernão Mendes Pinto, nº 1306
Ermelino Matarazzo- São Paulo (SP)
Fundação: 1966
Contato: (11) 6944-5684
Programa exibido em: 03/08/07

Lição de Vida34
Viver não apenas em função dos projetos pessoais, mas pela missão
que Deus designou para cada um. Essa é a essência da frase “Feliz é aque-
le que serve” que norteia os trabalhos da ACDEM e que inspirou o padre
Ticão a criar essa associação.
A entidade serve a todos que precisam; a ACDEM atende pessoas
como Laerte, que em cinco meses de participação nas atividades já apre-
sentou melhoras tão significativas que fez sua mãe sentir-se revigorada.
Bárbara Maria do Nascimento conta que Laerte, de 15 anos, ficava
parado em casa, sentado, sozinho, apático. A experiência na associação
fez o menino mudar em menos de meio ano. O rapaz, que antes comia e
deixava o prato e o copo na mesa, tornou-se mais participativo: hoje leva
o prato e o copo até a pia. Um ato que pode parecer simples, mas é uma
enorme conquista para quem enfrenta limitações tão grandes como a que
o fez parar de falar aos dois anos.
A evolução desperta em Laerte o sentimento de conquista e por isso
ele mostra-se animado quando a mãe o acorda para ir à ACDEM – ele pula
da cama e corre para o banheiro, pedindo que ela o ajude com o banho
para que ele logo possa estar aprendendo mais. Ao ver a disposição do
filho, a mãe confessa que seu coração também pula de alegria, percebendo
que seu menino está vencendo as limitações, com o carinho e atenção que
recebe. Bárbara fica feliz em ver que agora ele até se preocupa em ajudá-
la em casa, aprendendo também essa importante lição, que é a alegria de
servir.
Associação da Casa dos Deficientes de Ermelino Matarazzo (ACDEM)
A felicidade de ajudar
“Feliz é aquele que serve.”
Frase retirada do portal da instituição

35Paulo Alexandre Barbosa
Em 1985, na Zona Leste de São Paulo, um grupo de mães se revezava nos cuidados de seus filhos com necessidades
especiais, apoiando-se umas nas outras. A partir dessa união, elas conseguiram um espaço no salão comunitário da igreja,
onde formaram um grupo de mães voluntárias. Foi dessa força, com o apoio do padre Antonio Luiz Marchioni, também conhe-
cido como padre Ticão, que nasceu a ACDEM.
A entidade desenvolve um trabalho voltado para jovens portadores de necessidades especiais, tendo como diretrizes o
carinho, o amor e o afeto. O objetivo é desenvolver as potencialidades dos jovens, ajudando-os a superarem suas limitações
nas atividades cotidianas, para que, pouco a pouco, sejam inseridos na sociedade, ensinando-lhes atividades cotidianas.
Assim como os jovens, também, aos poucos a ACDEM foi se desenvolvendo, ampliando sua atuação, ajudando mais
famílias, em um trabalho integrado com a comunidade católica. A entidade cresceu e atende mais de 500 crianças e jovens,
de 4 a 24 anos, em suas cinco unidades.
“Nosso principal objetivo é tratar o jovem como ele realmente é. Ele
é especial , mas tem capacidades . É gratificante ver as conquistas .
E
ssas crianças e jovens nos dão uma lição de vida o tempo inteiro,
porque por mais dificuldade e limitação que tenham , todos os dias
estão felizes, sorrindo. Eles sentem que são diferentes e isso nos
contagia . Eles trazem esse estímulo para nossa vida.”
F
abiana Silveira, diretora
“Trabalhar com esses jovens é gratificante . Nós sabemos
que só o fato de eles aprenderem a escrever o próprio nome
é uma conquista preciosa . E eles ficam muito felizes.”
N
úria Pontes dos Santos, educadora
“O foco principal do projeto é a reabilitação e rein
-
tegração social . Nós os ensinamos a ser o mais
autônomo possível.”
S
ilvana Maria de Oliveira, coordenadora pedagógica
Associação da Casa dos Deficientes de
Ermelino Matarazzo (ACDEM)
Local: Rua José Lopes Rodrigues, nº 510
Ermelino Matarazzo- São Paulo (SP)
Fundação: 1985
Contato: (11) 6545-4055
Site: www.acdem.org.br
Programa exibido em: 10/08/07

Lição de Vida36
Humanizar o tratamento médico para aliviar um momento tão difícil para as crianças e
adolescentes é o grande objetivo do GRAACC, que ajuda os pacientes e os pais a enfrentarem os
obstáculos do câncer de maneira mais positiva, para que eles sejam superados. Fazer a criança e o
jovem sentirem-se bem é essencial para promover a cura, pois assim conseguem resistir às dores
da quimioterapia, às injeções, e as reações provocadas no corpo. “Desistir do tratamento é quase
igual a uma sentença de morte, porque se parar de tratar, a doença volta. É importante tratar o tempo
adequado para curar realmente. Hoje, graças a Deus, essa taxa de abandono é de zero por cento”,
comemora Sergio Petrilli, superintendente da entidade, citando ainda outro índice conquistado, de
cerca de 80% de cura. Para conquistar esses números, toda equipe se envolve fazendo o possível, com
brincadeiras, atividades, diversão, tudo para que os pequenos pacientes se sintam à vontade e queiram
voltar e se tratar.
Enquanto os filhos ficam à vontade e se divertem, muitas vezes esquecendo-se até que estão em um
hospital, as mães se sentem amparadas com o acolhimento e a troca de informações com outras pessoas que passaram
por situação semelhante e superaram essa fase. Partilhar a experiência e dar a ajuda que só é possível por alguém que
entende o que o outro está passando – essas foram algumas das motivações que levaram
Ana Maria Bittencourt a voltar para o grupo.
Quando procurou a entidade, ela vivia um momento muito difícil: o filho, de 21
anos, teve linfoma. “Foi muito rápido e quando nós descobrimos, ficamos desesperados,
porque para nós, leigos, o câncer é como uma sentença de morte. Como a gente não
tem muita informação, acha que vai morrer quando recebe um diagnóstico desses”,
desabafa. Mãe e filho enfrentaram com força essa batalha. Mesmo se tratando, doente,
ele não parou de trabalhar ou estudar. “Quando fazia quimio, que era muito pesada,
muito sofrida, a cada 15 dias, ele não trabalhava só na semana que fazia a quimio; na
outra, ele trabalhava, e também continuou estudando e se formou em publicidade ano
passado.” Com o filho recuperado, Ana quis retribuir toda ajuda que teve e atua como voluntária
no GRAACC. “Só sabe como é quem passa por isso. Agora eu vim para cá com essa
noção de como é passar por isso, então, entendo melhor as pessoas.”
Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (GRAACC)
Apoio e alegria para as horas difíceis
“Crer para entender e entender para crer.”
João Paulo
II, Papa de 1978 a 2005

37Paulo Alexandre Barbosa
Idealizado pelo médico Sergio Petrilli, o Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (GRAACC) nasceu com
uma casinha e evoluiu muito. Hoje conta com um hospital de 11 andares voltado para o tratamento de crianças e adolescen-
tes com câncer, e tem 350 voluntários.
O diferencial, além do tratamento especializado em oncologia pediátrica, é o atendimento especial aos pequenos, que
têm disponível até uma brinquedoteca para se sentirem melhor. “Os médicos cuidam da doença e a gente cuida da parte
saudável, porque criança continua sendo criança, doente ou não”, diz Patricia Percoraro, coordenadora da brinquedoteca.
Outro atendimento especial do GRAACC é a quimioteca, uma forma lúdica de ajudar a criança a vencer a etapa dolo-
rosa da quimioterapia. A ludotecária Sandra Witkowski explica a proposta: “Trouxemos o conceito de brinquedoteca para a
quimioterapia, por isso o nome quimioteca. Nós atendemos as crianças que estão recebendo a quimio cada uma em sua
poltrona e fazemos brincadeiras, jogos. Eles têm aparelhos eletrônicos, DVD portátil, gameboy, tudo direcionado de acordo
com a idade.”
“Durante muitos anos a gente trabalhou atendendo
crianças com câncer, com muitas dificuldades econômi-
cas, predominantemente com pacientes do SUS e a doença
evoluiu de uma maneira que nos últimos 15 anos nós
tivemos aumento das chances de cura. Então, já não é mais
como antigamente , que se a criança não tivesse remédio ,
não tivesse condições para ser tratada , não fazia muita
diferença porque ela ia morrer mesmo. Hoje é ao contrá-
rio; as chances de cura estão muito elevadas - estamos
falando em 70, 80% de chance de cura.”
S
ergio Petrilli, superintendente do GRAACC
“P
or favor, não chorem porque vocês têm câncer. O câncer
pode ser curado e a vida se cura com muito amor e carinho.”
M
ateus Petrilli, voluntário
“M
eu filho teve leucemia – ele está se tratando há um ano
e 5 meses. Aqui a gente brinca , se descontrai . Esse espaço
tem me ajudado bastante , tanto com meu filho como na
minha vida. A gente vai na brinquedoteca e eu participo com
ele dos jogos, teatro, videogame . Ele fica muito feliz.”
A
ndréia Corrêa, mãe de paciente
“A brinquedoteca ajuda no tratamento das crianças . É o
único lugar do hospital em que as crianças vêm e não tem
remédio . A gente tem um espaço físico que funciona como
uma grande sala de espera . Tem atividades para as crian
-
ças de todas as idades, desde o cantinho do bebê até os com-
putadores e é um lugar que a comunidade pode vir e fazer
oficinas – oficinas de pinturas , de artes -, as mães novas
conversam com as mais antigas que dão força, a gente faz
grupos terapêuticos , tudo para a qualidade e humanização
do hospital .”
P
atricia Percoraro, coordenadora da brinquedoteca
Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer - GRAACC
Local: Rua Botucatu, nº 743- Vila Clementino- São Paulo (SP)
Fundação: 1991
Contato: (11) 5080-8400
Site: www.graacc.org.br
Programa exibido em: 17/08/07

Oportunidades
Lição de Vida38
Investir na juventude é a melhor forma de mudar a realidade do país e do mundo. Melhorando a vida de cada jovem,
mudando um pouquinho de cada história, o JIP contribui para fazer um país melhor.
Os sinais dessa melhora multiplicam-se na mesma medida em que se multiplicam os jovens que passam pelo JIP e
mudam sua história. Alguns seguem outros caminhos – outros até vão, mas voltam e acabam partilhando a experiência
que tiveram, além de demonstrar toda a gratidão a quem lhes deu a primeira oportunidade.

Muitas histórias de vida acabam se fundindo à da entidade, como a de Adriana, que começou no JIP com seis anos,
no pré-primário, concluiu e voltou aos 13 anos, quando fez curso de legionária. A menina logo foi encaminhada para uma
empresa de contabilidade onde trabalhou por 13 anos. Quando chegou ao topo, aprendeu tudo que tinha para aprender,
resolveu procurar novos horizontes. “A velha casa me acolheu”, conta a mulher, que é o exemplo vivo de um trabalho que
dá certo, assim como Rosângela dos Santos.
Essa outra ex-aluna participou de diversos cursos na entidade, atuou como estagiária, entrou no mercado de traba-
lho, ficou 11 anos e há 15 anos voltou à instituição para cuidar do futuro dos jovens. “Eu passo para os meninos tudo que
o JIP me passou”, conta com satisfação Rosângela, que atua como auxiliar de escritório. “Ano que vem meus dois filhos
estarão aqui. Minha mãe também passou por aqui. Somos uma grande família. Eu sou muito satisfeita pelo acolhimento
que o JIP me deu. Espero me aposentar aqui e passar o bastão para minha filha.”
Jockey Instituição Promocional (JIP)
Oportunidade de vida aos jovens
“Os jovens não são a esperança do futuro, mas a certeza do presente.”
Bento
XVI, Papa que dirige a Igreja Católica desde 2005

Oportunidades
39Paulo Alexandre Barbosa
O sonho de um grupo de senhoras que teve o apoio do padre Júlio Lopes Lorena para ajudar os jovens sobrevive
ao tempo, e há mais de 30 anos vem criando oportunidades para uma vida melhor. O grande desafio do JIP é cuidar do
ingresso dos jovens no mercado de trabalho.
A entidade atua especialmente com jovens carentes de São Vicente. Há aulas de ética e postura profissional,
administração financeira, administração empresarial, documentos administrativos e documentos financeiros, além de
atividades esportivas e um trabalho social com a comunidade da região.
Os jovens ficam quatro meses se preparando, fazendo cursos e depois a equipe tenta inseri-los no mercado de
trabalho por meio das empresas parceiras. Além do profissionalismo, o que possibilita grande aceitação das empresas,
o JIP oferece aos jovens muito carinho em um momento importante em suas vidas. Talvez por isso tantos voltem e quei-
ram retribuir tudo o que receberam – alguns nem chegam a sair.
“Nosso trabalho vai ao encontro dos anseios da juventu-
de, que muitas vezes não são atendidos na escola , na rua
ou na família . São jovens que não têm oportunidade na vida
e nós damos. Nossa parte, fazemos com amor e carinho.”
D
arcy Moussalli, presidente
“Depois de encerradas minhas atividades profissionais , eu
atendi um anseio de ser voluntária , especialmente dedicada
aos jovens, que são o futuro do país. Os jovens precisam de
atenção especial e o trabalho que o JIP promove é impor
-
tante. Eu tenho muita alegria de participar e trabalho aqui
com muito gosto. Não tem como negar que o voluntariado é
muito gratificante : mais para quem exerce do que a quem se
destina .”
M
aria Adélia, voluntária
“N
osso objetivo é que o jovem consiga fazer uma carrei
-
ra brilhante nas empresas em que são colocados como
patrulheiros. Hoje temos uma faixa de 15% de jovens com a
faculdade custeada pela empresa onde prestam serviços. A
empresa está investindo e isso é uma gratificação imensa .”
A
ndréa Ungaretti, coordenadora pedagógica
Jockey Instituição Promocional - JIP
Local: Rua Dr. General Euclides Figueiredo, nº 110
Jóquei Clube- São Vicente (SP)
Fundação: 1970
Contato: (13) 3465- 4166
Site: www.jip.org.br
Programa exibido em: 24/08/07

Carinho Lição de Vida40
“Eu senti na pele o que é discriminação. O que é ter rótulo de aleijado.” A forte declaração de Maria
Aparecida Pieruzi de Souza, a Nêga Pieruzi, retrata a força que move a mulher que construiu uma entidade
referência em cuidados com pessoas portadoras de necessidades especiais na Baixada Santista (SP).
Com um ano e meio de idade, Nêga Pieruzi, como é conhecida, teve poliomielite e precisou vencer os
obstáculos que a vida lhe impôs para obter todas as conquistas: foi professora, pedagoga, a primeira mulher
a integrar um Rotary Clube na Baixada Santista e eleita quatro vezes vereadora em Cubatão. É membro do
Conselho Estadual de Saúde, do Conselho Estadual para Assuntos da Pessoa Portadora de Deficiência e do
Comitê de Bacias Hidrográficas – todos os cargos exercidos voluntariamente.
Quando se aposentou como professora, ela procurou transferir todo seu carinho para essas crianças
especiais. “Eu vivi todos esses momentos que você vê aqui.” Por isso, não só ela, mas todos os profissionais
da casa são levados a praticar esse amor. “Foi isso que Deus nos ensinou e nós temos que passar para as
pessoas aquilo que aprendemos em nossa família. Eu sempre digo aos nossos pais que a família é o principal.
O amor primeiro começa na família. E quando eles vêm para a Casa da Esperança, estão em sua segunda
casa.”
Casa da Esperança
Cuidando com carinho
“Quem ama cuida de perto e
promove paz, amor e esperança.”
Lema da Casa da Esperança

Carinho 41Paulo Alexandre Barbosa
Criada para atender crianças portadoras de necessidades especiais, a Casa da Esperança nasceu da
necessidade de Cubatão em ter uma instituição semelhante à que já havia em Santos. Ela foi criada por
uma iniciativa de Rotarianos da Baixada Santista, com apoio da Prefeitura.
A entidade tem mais de 400 assistidos, que recebem tratamento ambulatorial com neuropediatria,
ortopedia, pediatria e odontologia; atendimento clínico com fisioterapeuta, fonoaudióloga, hidroterapia,
psicóloga, pedagoga e terapeuta ocupacional. Há ainda esporte, cultura e lazer para crianças, jovens e
adultos de toda a região que frequentam a Casa.
“A nossa casa está de portas abertas. Não precisa ter indicação médica para vir. Se não tem solici-
tação médica – ou mesmo tendo – a pessoa vai passar pelo nosso neurologista, e ainda temos neurope-
diatra e psiquiatra infantil. Nossa porta de entrada é através do setor médico, que encaminha para qual
especialidade cada criança deve ir. Temos aqui um tratamento multidisciplinar”, conta Nêga Pieruzi.
“A finalidade do trabalho é perceber as várias carências
das crianças e encaminhar para o setor correspondente.
A
finalidade do nosso serviço não é apenas tratamento ,
mas tratamento e reabilitação – a reabilitação visa à
melhoria em geral das crianças . Precisamos também con
-
siderar que não temos apenas a doença das crianças , mas
o aspecto psicossocial , a problemática social , cultural
e tentamos , dentro do possível, trabalhar todas essas
necessidades .”
A
ntonio Gouvêa, médico pediatra
“Ele veio para cá com quatro anos,
mal andava e falava . Agora fala
frases que dá para entender. O tra
-
tamento é lento, mas tivemos vitórias
até demais. Eu já tive que pegar ele de
madrugada nos braços e levar para
o hospital sem saber se ele ia voltar
vivo ou não. Hoje em dia ele está aí,
pintando , faz capoeira , dança , compu-
tação, tudo que tem ao alcance dele eu
corro atrás para ajudar . Você olha e
nem fala que ele é especial .”
R
osilda, mãe do Jeferson, aluno da entidade
“O profissional e a família precisam trabalhar em conjunto
para que a evolução seja antecipada – é uma luta contra o
tempo. Quanto mais rápido conseguir habilitar ou reabilitar
o doente, mais chances ele terá no mercado de trabalho , na
inclusão. O objetivo final é colocar a criança de pé, promo
-
ver seu desenvolvimento ou incluir atividades da vida diária,
deixar essa criança o mais independente possível, sabendo se
vestir, se calçar , escovar os dentes.”
A
lexandre, fisioterapeuta
Casa da Esperança
Local: Rua XV de Novembro, nº 180
Vila Nova- Cubatão (SP)
Fundação: 1980
Contato: (13) 3361-1288
Site: www.casadaesperanca.org.br
Programa exibido em: 03/09/07

Bem Viver
Lição de Vida42
O sorriso estampado no rosto mostra que eles aprenderam a viver. Esses jovens com mais de 60 anos de
idade passaram por vários obstáculos, venceram dificuldades e agora vivenciam cada momento que a vida
proporciona, com vitalidade, disposição e amor à vida. Essa é a experiência que a Casa do Sol proporciona
aos seus residentes.
Quando ficou viúva, Stella Wernneck sentiu medo de continuar morando sozinha em seu apartamento e
resolveu buscar um novo lar, na Casa do Sol. “Estou aqui há dois anos e estou adorando”, conta a residente,
que coloca seu nome em todas as listas de passeio. “Quando a gente trabalha, fica cansada. Agora eu não
faço nada, quero é passear. Eles nem perguntam porque já sabem que eu vou em todos os passeios.”
Stella conta que teve uma vida boa. Foi feliz com o marido e os filhos. A tristeza veio quando perdeu o
esposo e um dos filhos, mas ela tenta superar e aproveitar o que tem pela frente. “A vida não é fácil. Eu vivi
as dificuldades da guerra – tinha bebê pequeno. Tive um maridão, médico, filhos ótimos, netos; tenho quatro
bisnetos. Estou muito feliz e graças a Deus encontrei essa casa.”
Morar na Casa do Sol foi a opção do casal Marina de Oliveira e Edilson Saraiva de Moura. Ele foi
primeiro, passou uma temporada de dois meses para se recuperar de um problema de saúde. O casal decidiu
então mudar para a instituição. Sobre a opção, Marina diz que foi o cansaço. “Estou com 71 anos e a cada
ano me sinto mais cansada. Eu estou muito bem aqui – gosto desse ar puro,
desse verde maravilhoso. É uma família maravilhosa que temos aqui.”
Casa do Sol
Um lugar para o bem viver
“A verdadeira sabedoria consiste
em saber como aumentar
o bem-estar do mundo.”
Benjamim Franklin, jornalista, cientista,
diplomata e inventor norte-americano

Bem Viver
43Paulo Alexandre Barbosa
Construída em uma área repleta de verde, no alto de um morro em Santos, Litoral Paulista, a Casa do Sol
oferece atenção, cuidados, respeito e dignidade aos moradores. Com capacidade para 150 residentes, a entidade
tem assistência médica 24 horas, fisioterapia, passeios monitorados, entre outros benefícios para os jovens com
mais de 60 anos que procuram um lar na entidade.
A instituição foi fundada em 1904 como abrigo para mendigos, denominado Asylo de Mendicidade de Santos;
20 anos depois, passou a chamar-se Asylo de Inválido de Santos. Atualmente, denominada Casa do Sol, é voltada
apenas para idosos.
A atual sede foi toda projetada para oferecer conforto e privacidade, com quartos para poucas pessoas,
armários individuais, banheiros com adequação para a necessidade dos idosos. Há ainda ambientes onde os
residentes podem se reunir, ver TV, ler jornais e revistas, além dos locais externos voltados ao lazer e o ambiente
para receber visitas.
“Temos possibilidade de atender 150 idosos, mas não temos
esse número e estamos abertos a recebê-los. Infelizmen-
te, pela realidade financeira atual, tivemos que mesclar
os atendimentos entre gratuitos e quem pode pagar .”
A
riovaldo Flosi Jorge, presidente
“Nós trabalhamos em grupos terapêuticos para melhorar a autoestima e a
interação entre eles. Outra coisa fundamental é tentar que eles mante
-
nham a autonomia . Quanto menos dependente o idoso é, melhor ele se sente.
P
or isso temos o cuidado de deixar que eles façam , escolham o que querem
fazer, vão onde queiram ir. Mesmo os que apresentam alguma dificuldade
física, como andar de cadeira de rodas , bengala ou andador , são estimula
-
dos a ter autonomia .”
M
ariângela Torres, psicóloga
“Para que o idoso se sinta inserido, nós temos a constru
-
ção do vínculo com os profissionais e atividades que propor-
cionam interação , além de eles terem uma função dentro da
instituição, onde possam estar se valorizando e valorizan -
do o espaço coletivo.”
D
ébora Oliveira, assistente social
Casa do Sol
Local: Avenida Santista, s/nº- Morro da Nova
Cintra- Santos (SP)
Fundação: 1904
Contato: (13) 3258-5100
Site: www.casadosolsantos.org.br
Programa exibido em: 21/09/07

Lição de Vida44
Um lindo presente para Deus foi o que padre Rosalvino Morán Viñayo resolveu fazer de sua vida, pela
grande graça que teve desde sua infância, quando chegou da Espanha com o pai, órfão de mãe, em Cam-
pinas e foi acolhido por um salesiano em um orfanato. A mão estendida e o grande coração mudariam para
sempre o destino do garoto imigrante que chegou à América necessitado de acolhida, de espaço, de escola,
de um lar e de uma família.
Do trabalho que fazia ajudando meninos na Praça da Sé, o padre resolveu seguir o desafio feito por Dom
Luciano e ir às periferias. Foi um chamado de Deus e assim ele chegou à Zona Leste da capital paulista, para
ajudar as crianças sofridas e maltratadas, meninas e meninos com sonhos perdidos. Rosalvino queria retribuir
tudo o que recebeu e construir para eles o lar como o que o acolheu, com o carinho que recebeu.
Assim, seguindo os passos de Dom Bosco, criou em Itaquera a obra social que leva o nome deste que
viveu para ajudar aos jovens. “Na nossa porta não tem tempo ruim. O jovem encontra casa para morar, oficina
para aprender e se capacitar, remédio para a doença e acolhida familiar”, exulta o padre, que construiu uma
das maiores obras sociais do Brasil.
O entusiasmo de padre Rosalvino contagia a todos que o conhecem e espalha-se pela comunidade. Ele
anima os que com ele trabalham, procura ajudar quem encontra pelo caminho e demonstra toda sua alegria
tocando na fanfarra. É a alegria que envolve a todos. Felicidade de quem conseguiu realizar sua missão e se
transformar no tão sonhado presente a Deus, fazendo de sua vida mais do que um exemplo, uma canção de
glória à vida.
Obra Social Dom Bosco
Um presente divino
“O que nós somos é um presente de Deus;
no que nos transformamos
é o nosso presente a Ele.”
Dom Bosco

45Paulo Alexandre Barbosa
Criada pelo padre Rosalvino para atender jovens carentes da Zona Leste, a Obra Social Dom Bosco tornou-se uma das
maiores ações sociais do Brasil, passando de 150 atendimentos em sua criação, em 1981, para 6 mil atendimentos diários
nessa região, que tem uma população de mais de 5 milhões de habitantes, metade formada por jovens que encontram na
entidade a oportunidade que procuram.
Ajudando famílias em situação de vulnerabilidade, risco ou exclusão social, a entidade tem atividades culturais – com
oficinas, fanfarra, orquestra e coral -, educacionais – para crianças, jovens e adultos, além de inclusão digital, esporte,
recreação e lazer. Há ainda projetos de geração de renda e empreendedorismo com centro de capacitação profissional,
mutirão habitacional, atendimentos de saúde e trabalhos de conscientização ambiental.
Além de receber o apoio físico que procuram, as famílias encontram novos valores para resgatar seu núcleo e forta-
lecer esse importante vínculo social. A vida de dedicação do padre Rosalvino apresenta-se como um grande presente para
Deus; essa obra que nasceu do seu sonho tornou-se um grande presente para a Zona Leste de São Paulo.
“Temos muitos exemplos de pessoas que passaram por
aqui, se formaram e estão bem empregadas . Por isso tem
tanta procura .”
J
osé Barbosa, instrutor de eletrotécnica
“O curso dura um ano e meio e ao final dele o aluno está qualifi
-
cado para trabalhar tanto informalmente como numa empresa de
grande porte. Vemos que o grande sonho dos jovens que passam
por aqui é o de se tornar empreendedores, montar seu próprio
negócio.”
J
aime, responsável pelo curso de automecânica
“V
emos que as pessoas que fazem o curso mudam suas perspectivas .
E
las entram querendo aprender algo para arrumar um empreguinho
e acabam arrumando muito mais do que um emprego, porque ganham
conhecimento e requalificação para o mercado de trabalho .”
E
laine Silva, instrutora da oficina de corte e costura
“Meu pai é também eletricista e eu sempre gostei da área, por
isso resolvi fazer o curso. Eu pretendo seguir carreira , fa
-
zer engenharia elétrica , mecatrônica e trabalhar na área.”
C
leiton Rodrigues, aluno do curso de automecânica
Obra Social Dom Bosco
Local: Rua Álvaro de Mendonça, nº 456- Itaquera- São Paulo (SP)
Fundação: 1981
Contato: (11) 2205-1100
Site: www.domboscoitaquera.org.br
Programa exibido em: 28/09/07

4elacionam Lição de Vida46
Não há amor como o de pai e mãe pelos filhos. Esse amor faz ultrapassar barreiras que parecem intransponíveis,
como quando se descobre que um filho tem problema auditivo. Elisabeth Araújo da Silva Santos descobriu quando Le-
onardo tinha dois anos que, em decorrência da rubéola que ela tivera, ele era deficiente auditivo. A comunicação com o
filho não era fácil, mas resolveu que nada iria impedir uma aproximação.
Descobriu a BRASCRI, marcou uma triagem e ele logo começou na escola, onde ela teve ajuda para descobrir tudo
aquilo que precisava para ajudá-lo e para conviver em harmonia com ele. Aos sete anos, Leonardo se comunica muito
bem – o aprendizado mútuo, tanto para mãe quanto para o filho, os aproxima cada dia mais. “Meu filho expressa seus
sentimentos – fala se está com dor, se quer um doce e diz que me ama todos os dias. Ele me beija e demonstra o
carinho, que é o mais importante”, comemora.
A comunicação só foi possível porque Elisabeth aprendeu na entidade a linguagem dos sinais e continua fazendo
aulas para estar cada vez mais próxima do filho, derrubando barreiras que poderiam se formar entre eles. Hoje, ela
sabe que ele não precisa ficar isolado: poderá seguir seus estudos, ja que foi pré-alfabetizado, poderá ter uma carreira,
família, filhos, enfim, uma vida normal. E, mais importante, ela sabe que sempre fará parte dessas conquistas.
BRASCRI
Construindo relacionamento
“Não se pode falar em
educação sem amor.”
Paulo Freire, educador
brasileiro

4elacionam 47Paulo Alexandre Barbosa
A educação com amor é a grande diferença que faz da BRASCRI uma entidade que consegue bons resultados,
possibilitando que crianças com deficiência auditiva sejam inseridas socialmente, aprendendo linguagem de sinais e
se alfabetizando. Além da pré-escola para crianças com deficiência auditiva, entre 3 e 8 anos, e de famílias de baixa
renda, a entidade mantém outros projetos, com cursos extracurriculares para que o adolescente fique mais tempo na
escola, bolsas para cursos profissionalizantes, apoio a mães adolescentes carentes e cooperativas de trabalho com
alunos e ex-alunos dos projetos profissionalizantes.
A entidade foi fundada pelo suíço Hans Jürgen Martins e sua esposa Margrit Martin, que obtiveram recursos do
exterior, especialmente da Suíça, desenvolvendo parcerias de integração entre os países. Na pré-escola, voltada para
os pequenos com deficiência auditiva, são atendidas 40 crianças.
“As crianças vêm de famílias carentes, sem condições. Na re-
gião não há escolas especializadas . As crianças aprendem os
sinais e os pais recebem aulas para aprenderem a interagir com
os filhos. Temos também inclusão digital , com jogos e softwa -
res especializados . O objetivo é incluí-las socialmente para
poderem entrar no ensino fundamental .”
H
élio Severiano de Almeida, diretor da unidade
“As crianças chegam aqui sem comunicação e esse é nosso primeiro trabalho . No
período que ficam aqui – normalmente quatro anos – têm atividades normais de pré-
escola . Focamos muito a participação da família e aprendizagem com língua de sinais,
para se comunicarem .
N
ossa meta é comunicação e alfabetização . Outro dia tive contato com um ex-aluno
que está no ensino médio, preparando -se para fazer faculdade . É muito bom quando
a família entende que as crianças têm potencial .”
D
aniela Cristina Jacob, pedagoga
“Por também ter deficiência auditiva , eu percebo as crianças mais
facilmente. Mostro desenhos em papéis, figuras , slides; uso
diferentes materiais . Acontece uma troca em língua de sinais,
diálogo com perguntas e respostas . Minha maior alegria é ver
as crianças se desenvolvendo. Fico feliz com isso.”
J
oão Luiz Nascimento, professor de libras
BRASCRI
Local: Rua Armando da Silva Prado- nº 191/271
Vila Bélgica- São Paulo (SP)
Fundação: 1993
Contato: (11) 5548- 1646
Site: www.brascri.org.br
Programa exibido em: 12/10/07

Lição de Vida48
Toda mãe tem fé e sonha com um futuro de felicidade para seu filho: um futuro com conquistas e
realizações. Quando o filho apresenta necessidades especiais, a fé e o sonho devem ser ainda mais fortes e
estarem acompanhados do trabalho, da ação para que esse futuro se torne realidade.
Essa foi a percepção que teve Andréa Kelly Vidigal, mãe de John, quando decidiu lutar e fazer tudo pelo
seu filho autista. A psicóloga que acompanhava o menino falou de um trabalho muito bem feito com autistas
e foi assim que ela e o esposo ficaram sabendo da AMA. O pai de John foi à reunião e, então, o casal perce-
beu que encontrara o que procurava. Depois de alguns meses de espera, conseguiram uma vaga na institui-
ção.
Com seis anos, John começou a frequentar a AMA e, quatro anos depois, ele consegue ter uma vivência
em família: brinca com os irmãos, diverte-se e joga videogame e, como tantos outros meninos da sua idade.
“Ele evoluiu 100%. A comunicação e a socialização melhoraram. Antes ele não ficava com outras crianças”,
comemora Andréa, que faz parte dessa conquista, já que é uma mãe atuante e está sempre presente. Em vez
de deixar o filho e ir para casa, ela o acompanha durante todo o dia, esperando a saída para voltar com John
para casa.
Aos pais que têm filhos portadores de necessidades especiais e que têm dificuldades a serem supe-
radas, ela dá o conselho de quem acompanha passo a passo a evolução do filho rumo à independência:
“Procurem uma instituição especializada em lidar com eles; é preciso correr atrás das coisas para obter
resultados. Vale muito a pena.”
Associação de Amigos do Autista (AMA)
Trabalhando com amor
“E apenas com o coração que se pode ver direito;
o essencial é invisível aos olhos.”
Antoine De Saint-Exupéry, escritor francês

49Paulo Alexandre Barbosa
Na década de 80, havia pouca informação sobre o autismo – não se sabiam exatamente as implicações e solu-
ções para que crianças e jovens com essa necessidade especial pudessem ter uma vida normal. Diante da falta de
informação, vários pais, buscando tratamento para seus filhos, formaram um grupo e foram em busca de informa-
ções. Como não havia material no Brasil, o grupo viajou para outros países, conhecendo atendimento na Dinamarca,
Estados Unidos e França, e assim, foi criada a AMA.
A coordenadora geral da entidade, Marli Bonamini, chegou à AMA há quase 20 anos, em busca de ajuda para a
filha de 15 anos. Envolveu-se como voluntária, diretora de difusão e depois passou a coordenadora. Ela explica que
a AMA trouxe para o país o método TEACCH, abordagem educacional de tratamento para crianças autistas que têm
problemas de comunicação. O método visa a dar o máximo de independência, ensinando atividades diárias para
que elas possam ter uma vida normal.
A AMA atende mais de 120 crianças e jovens de diversas regiões de São Paulo em suas duas unidades – uma
no Cambuci e outra em Parelheiros, onde ficam 20 residentes.
“O método da AMA também é dirigido aos pais, que podem
receber treinamento e participar dos cursos, porque ele
é o primeiro educador da criança . O grande problema da
família é ficar pensando na culpa que tem por ter um filho
com autismo ou qualquer outra deficiência . Acho que por
essa fase todos nós, que somos pais de pessoas especiais ,
passamos . Importante é procurar logo ajuda profissio-
nal. Não deixar o tempo passar , pois quanto mais precoce
o atendimento for feito, melhor será o prognóstico dessa
criança .”
M
arli Bonamini Marques, coordenadora geral
“Depois de uma avaliação , executamos o trabalho com
base no resultado , sempre utilizando a linguagem vi
-
sual para que as crianças possam compreender. Pela
repetição, a criança cria o hábito para desenvolver
sozinha essas atividades .
F
abio Oliveira dos Santos, monitor
Associação de Amigos dos Autistas - AMA
Local: Rua dos Lavapés, nº 1123- Cambuci- São Paulo (SP)
Fundação: 1983
Contato: (11) 3376-4400
Site: www.ama.org.br
Programa exibido em: 19/10/07

Bom Filho Lição de Vida50
Crianças que passam por grandes dificuldades em casa, que têm problemas sérios com familiares e que pre-
cisam de estabilidade para seguir o caminho, encontram na Casa da Criança a oportunidade de que necessitam
para uma vida mais promissora. Andresa é o exemplo de alguém que soube aproveitar as chances que a vida lhe
proporcionou para crescer, para avançar e para evoluir.
Junto com uma irmã, ela chegou aos oito anos na entidade, onde morou por cinco anos. Saiu aos 13 anos,
em decorrência de ter ultrapassado o limite de idade da casa. “Tive que ser transferida para outro abrigo. Fiquei lá
um tempo, depois fui para outro abrigo até completar 19 anos, quando saí de lá. Fui morar com uma família que
me acolheu e onde estou até hoje”, conta.
Dedicada, Andresa trabalhava no comércio quando conseguiu uma bolsa de estudos e começou a fazer fa-
culdade. “Eu pensava: de que adianta fazer pedagogia e não trabalhar na área?”. Como já conhecia o pessoal da
Casa da Criança, fui conversar para ver se conseguia algum trabalho. “Consegui e estou aqui até hoje”, comemo-
ra.
Como professora, Andresa usa sua experiência para dar às crianças exatamente o que elas precisam: aten-
ção, carinho, amor. “Boa parte das crianças que estudam aqui - mesmo da creche – é muito carente, porque elas
vêm de uma história meio complicada, com dificuldades. A gente vê que elas precisam de carinho, atenção, pois
às vezes em casa não recebem porque têm um monte de irmãos. Aqui a gente pode brincar, conversar e eles têm
os amiguinhos deles. Não existe coisa melhor. Além de ensinar, a gente aprende muito.”
As grandes lições que Andresa carrega de sua passagem pela Casa são de gratidão e retribuição. Agora, ela
procura oferecer essa mesma chance a outros que, como ela, procuram no local um futuro melhor.
Associação Casa da Criança
Bom filho a casa torna
“No meio de toda a dificuldade encontra-
se a oportunidade.”
Albert Einstein, físico e cientista alemão

Bom Filho 51Paulo Alexandre Barbosa
Uma epidemia de febre amarela deixou muitos órfãos na cidade de Santos. Para abrigar essas crianças e
jovens, José Xavier Carvalho de Mendonça e Aureliano de Souza Nogueira da Gama criaram em 1889 a Casa da
Criança. Ao longo da história, a entidade centenária abrigou necessitados em diferentes situações difíceis, rece-
bendo os órfãos do surto de febre amarela em 1918, desabrigados do desabamento do Monte Serrat em 1928 e
contribuindo com a Cruz Vermelha durante a Revolução Constitucionalista em 1932.
“Tivemos freiras do Imaculado Coração de Maria que por quase um século colaboraram com a obra. Elas
residiram aqui até 1985 para cuidar das crianças”, relembra o presidente, Irajá Vieira dos Santos.
Hoje, a instituição atende mais de 400 crianças e jovens, tanto em regime de abrigo como de semi-internato
– crianças de 0 a 6 anos na escola 13 de Maio e de 0 até 16 anos nos abrigos. Durante o dia, elas têm atividades
escolares e extraescolares, formando uma grande família.
“A gente procura dar um lar para essas crianças nesse período
de transição da vida delas. E fazemos isso com muito carinho,
porque lidar com o ser humano já é uma coisa delicada e lidar
com a criança é a coisa mais maravilhosa que tem. Me emociona
falar dessas coisas , lembrar as crianças que já passaram e
que a gente conseguiu dar um encaminhamento satisfatório .”
I
rajá Vieira dos Santos, presidente
“Comecei aqui há 30 anos. Eu vim tentar – nunca tinha nem trabalhado fora.
V
im aqui e consegui, graças a Deus. Falei com a Irma Dalva e ela me chamou.
P
assei na entrevista e comecei na batalha de cuidar das 180 crianças que
tinham naquela época, tudo na minha mão. Não vivo sem a Casa da Criança . Eu
recebo muitos telefonemas de pessoas que passaram por aqui. É maravilhoso .”
F
rancisca Cândida Pereira, coordenadora
“A criança fica com a gente desde a manhã, quando tem toda
a parte curricular . Ela aprende coordenação motora , per
-
cepção visual , vida prática . Toda parte de desenvolvimento
é dada pra criança . Isso sem contar que os pais sabem que
estão deixando os filhos em um lugar tranquilo, acolhe-
dor, em que são passados valores para a criança .”
C
léa Relvas Barral, diretora pedagógica
Associação Casa da Criança
Local: Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, nº 120
Macuco- Santos (SP)
Fundação: 1889
Contato: (13) 3222-4500
Site: www.casadacriancasantos.org.br
Programa exibido em: 02/11/07

Lição de Vida52
Nada é impossível para Deus. Basta ter fé e pedir para conseguir realizar, especialmente quando o pedido
é uma obra de caridade para ajudar os necessitados. A Casa Vó Benedita nasceu praticamente do nada a fim de
abrigar crianças necessitadas. Da mesma forma, ela renasceu nas mãos de uma mulher especial que assumiu
com carinho esse desafio.
Elizabeth Rovai de França, a tia Beth, como é carinhosamente chamada pelas crianças e por quem frequen-
ta o local, chegou à entidade há 29 anos como uma das muitas pessoas que vão conhecer e ajudar momen-
taneamente. Ela trabalhava na Cosipa e a turma da sala resolveu visitar algumas entidades para ajudar com
festas de Natal – uma delas foi a Casa.
A experiência de ajudar o próximo foi tão gratificante que Elizabeth e o marido passaram a realizar todo
ano a festa, levando junto o filho, que era pequeno. Daí em diante sua história se confundiu com a da entida-
de – Beth foi se envolvendo, ajudando cada vez mais, até que um dia o coração bateu mais forte e ela resolveu
adotar uma menina, Bianca, que vivia no abrigo. “A gente confunde a nossa história com a daqui. Eu comecei,
não parei mais e não dá para ficar sem”, conta. “Eu não entendo a minha vida sem a Casa Vó Benedita e a coisa
se confunde mesmo.”
Desses quase 30 anos envolvida com a instituição, em mais da metade – 15 anos – Beth está na direção.
O trabalho foi ampliado, ganhou atendimento noturno para aumentar a ajuda às famílias. “Normalmente as
mães saíam pra trabalhar, algumas estudavam, outras trabalhavam durante a noite e elas deixavam as crianças
trancadas ou pagavam alguém para ficar com os filhos. Muitas vezes, eles fica-
vam em situação de risco, se machucavam sozinhos e, nessa
situação, acabavam sendo abrigados. Nós iniciamos o trabalho
de creche noturna aqui”, comenta. Contando que a ideia da
instituição surgiu no abrigo, onde chegam crianças vítimas de
maus tratos e em situação de risco, Beth fala do seu sonho.
“A gente sabe que lugar de criança não é em abrigo. O grande
sonho é não ter abrigo nenhum e ter as crianças em família”.
Enquanto as crianças precisam de ajuda, a tia Beth faz o que
pode para cuidar delas com carinho.
Casa Vó Benedita
Dedicação que muda vidas
“Façamos o que pudermos e, se não
pudermos, peçamos a Deus para que possamos.”
Santo Agostinho

53Paulo Alexandre Barbosa
A história da entidade começa em meados da década de 70, por volta de 1976, com uma senhora, Benedita, que cuidava
das crianças carentes que eram deixadas em sua residência – algumas totalmente abandonadas pelos pais. Quando ela fale-
ceu, em 1984, havia 19 crianças na entidade, a qual ficou sendo cuidada pelo médico Carlos de Azevedo e pela filha adotiva
de Benedita, Maria Odila de Oliveira. Juntos, eles fundaram oficialmente em 1986 a Casa Vó Benedita.
Anos depois, problemas pessoais levaram ao afastamento de Odila e mais tarde, dificuldades financeiras provocaram
a desativação da instituição. As atividades voltaram em 1994 e desde então, a entidade conta com um abrigo 24 horas para
crianças de 0 a 6 anos e o Espaço Noturno, creche noturna para bebês e crianças, cujas mães trabalham ou estudam à noite.
O objetivo é incentivar mulheres a deixar a prostituição e, por isso, para colocar as crianças na entidade, elas devem participar
de um curso profissionalizante no projeto Reconstruindo a Família, com aulas de culinária, costura, artesanato, cabeleireiro,
manicure, alfabetização de adultos, entre outros.
“Algumas mães já estão colocadas no mercado de trabalho . Duas
mães aqui mesmo na Vó Benedita , como funcionárias , e elas, além do
curso, saem a passeio, vão ao teatro com as monitoras e o mais baca-
na de tudo é que quando a gente precisa delas pra alguma atividade da
casa, elas estão sempre prontas pra ajudar - então acabam virando
parceiras também .
D
epois de algum tempo você já vê que a autoestima melhora , elas come
-
çam a fortalecer a personalidade delas e até as crianças , a gente vê
o reflexo nos filhos mesmo.”
E
lizabeth Rovai de França, a tia Beth, presidente da entidade
“Essa creche veio pra fazer a diferença mesmo. Muitas
mães deixavam as crianças sozinhas em casa, e elas cor
-
riam riscos. A creche noturna acolhe essas crianças e
elas recebem um tratamento diferente de tudo que vivem.
M
uitas vezes elas chegam sujas, mal vestidas e aqui a gen
-
te consegue dar um tratamento bom. Elas chegam , tomam
banhinho, se sentem em casa.”
T
atiana Santana Freitas, monitora da creche
“Para resgatar a autoestima , a gente trabalha com um grupo de mães
do espaço noturno quinzenalmente . Esse grupo tem até um nome, o
grupo Esperança . A gente procura trazer palestra sobre sexualidade
feminina , violência infantil, a gente fala sobre educação saudável para
os filhos, sempre trabalhando na orientação , dando apoio, fazendo
com que elas estejam perto da gente e se sintam fortes para as difi
-
culdades do dia a dia.”
S
ilvia Helena Mauri, psicóloga
Casa Vó Benedita
Local: Rua Carlos Caldeira, nº 675
Jardim Santa Maria- Santos (SP)
Fundação: 1976
Contato: (13) 3299-5415
Site: www.casavobenedita.org.br
Programa exibido em: 09/11/07

Lição de Vida54
Revoltado com a situação do país, com as favelas, com a sujeira, o cabe-
leireiro Ivan Stringhi, na década de 80, foi morar no Canadá. Ele voltou dez anos
depois, com a mesma revolta. “Eu era aquele tipo de pessoa que reclamava, re-
clamava e não fazia absolutamente nada”, diz. Quando chegou ao Brasil, o taxista
que o pegou no aeroporto de Guarulhos, ouvindo-o lamuriar, disse a Ivan que ele
devia ser daquelas pessoas que falam muito e não fazem nada. “Aquilo me bateu
tão forte que eu pensei o que eu poderia fazer por alguém. Ali mesmo, dentro do
táxi, com as malas no carro, eu fui numa comunidade, numa favela e comecei a
pensar em como eu poderia ajudar alguém.”
Ivan começou a ensinar sua profissão às segundas-feiras, mas percebeu que não
seria suficiente, num universo tão grande, somente esse trabalho. Conseguiu um centro co-
munitário abandonado na favela e começou ali o trabalho que é feito até hoje. “O projeto nasceu
da vontade de fazer alguma coisa por alguém. Minha vontade era poder contribuir com a minha profissão,
passar pra frente isso e ajudar alguém com um trabalho.”
Quase 20 anos depois, o Tesourinha já atendeu 23 mil jovens, garantindo a eles a oportunidade de entrar
no mercado de trabalho. “A grande vantagem desses jovens é a procura por profissionais dessa área - posso
garantir que estão todos trabalhando. Há uma demanda muito grande na área que nós formamos: manicure,
pedicure, depilação, assistente de cabeleireiro e inicial, quer dizer, iniciante e, que tem o básico para
fazer uma escova, uma tintura. Essas profissões são muito procuradas pelos salões, onde todos os
nossos alunos estão trabalhando e empregados. Não temos ninguém ocioso e procurando emprego
- essa é a grande vantagem do resultado do nosso trabalho.”
Projeto Tesourinha
Das palavras à ação
“A arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal.”
Machado de Assis, escritor brasileiro

55Paulo Alexandre Barbosa
Com a consciência de que precisava fazer mais pelas pessoas e para acabar com a pobreza que o incomodava, Ivan
Stringhi criou o Projeto Tesourinha, preparando profissionais para atuar na área de beleza. A ideia era elevar a autoestima
das pessoas e dar oportunidade para o futuro dos jovens. O Projeto Tesourinha cresceu e conta com duas unidades – uma
no Arpoador e outra em Indianópolis, que funciona embaixo do viaduto. O trabalho consiste na realização de cursos gratuitos
para jovens a partir de 16 anos.
Maria Cristina, coordenadora do projeto, explica o funcionamento dos cursos: “O maior é o de assistente de cabeleireiro,
com duração de seis meses, realizado duas vezes ao ano; depois vem manicure, três vezes ao ano; depilação, quatro vezes
ao ano e o mais rápido é maquiagem, cinco vezes ao ano, com duração de um mês e meio, mais ou menos.” São formados
por ano mais de mil profissionais.
Para dar maior abrangência, foi criada a “franquia social”, que permite o uso do sistema e da marca do Projeto Te-
sourinha. “Ela funciona como uma franquia comum comercial, só que sem fins lucrativos, para poder dar a todo o Brasil as
condições que nós temos dado pra esses jovens. Nós já fechamos a franquia em Bauru, interior de São Paulo, e estamos ne-
gociando com Bahia, Recife, Fortaleza, Belém do Pará, enfim, umas oito cidades que já estão prestes a serem beneficiadas.”
“Às vezes o jovem está com 18, 20 anos e nesse período ele
não foi lapidado ainda para a vida. Você tem uma obrigação ,
pelo menos na profissão, de lapidá-lo e deixá-lo pronto e esse
é o pior trabalho , o mais difícil, e o mais gostoso de fazer, de
um resultado fantástico.”
I
van Stringhi, idealizador
“V
oltar para ajudar é uma forma de agradecimento , mas eu ainda
sinto que não retribui tudo o que eles me deram até hoje e tenho
muito pra fazer ainda.”
V
iviane de Moraes, ex-aluna
“É gratificante estar nas ações sociais , nos mutirões do
projeto porque aqui também estamos vindo de uma ação social e
estamos sendo ajudados . É muito bom poder devolver isso pras
pessoas .”
K
elly Moreira da Silva, aluna
Projeto Tesourinha
Local: Avenida Ibirapuera, nº 3501- Indianópolis-
São Paulo (SP)
Fundação: 1991
Contato: (11) 5096-5806
Site: www.projetotesourinha.org.br
Programa exibido em: 16/11/07

Lição de Vida56
Transformar a grandiosidade da vida em algo que vai além de si mesmo, doando tempo, dedicação
e amor. Esse poderia ser o resumo da história de vida de Lucélia Bello Djrdjrjan, que há mais de 25 anos
atua no LAM – mais da metade como presidente. Dando exemplo de como um trabalho feito com amor
pode ajudar muitas vidas, Lucélia trabalha cercada por anjos humanos, como ela, que se dedicam a essa
causa, como a diretoria formada por 35 voluntários, além dos muitos que prestam serviços voluntariamen-
te na casa, dando carinho a crianças tão carentes, que moram no Lar por enfrentar problemas familiares
ou ficam na casa enquanto os pais vão trabalhar.
É preciso muito amor para receber crianças que enfrentam tantas dificuldades, que precisam passar
por tal superação. Famílias que necessitam de apoio para retomar sua estrutura, como a de Adriana, com
três filhos que foram amparados, junto com a mãe, em um momento difícil.
Depois de 11 anos trabalhando em uma contabilidade, Adriana foi demitida e viu-se em desespero.
Teve síndrome do pânico, depressão e só conseguiu começar a enxergar uma nova possibilidade na vida
com a ajuda da terapeuta da entidade. No próprio Lar, começou a fazer curso de bordado, a recuperar a
autoestima e retomar o controle da própria vida, comemorando a conquista de conseguir voltar a sair de
casa. Para ela, o melhor da entidade, além do carinho com que são recebidos, é ter sempre atenção de
todos. “A dona Lucélia, por exemplo, é presidente do LAM, mas eu, como mãe, tenho acesso a ela. Em
outro local você não conseguiria falar com a presidente da entidade. Aqui você tem livre acesso”, conta
emocionada Adriana, comprovando a importância da dedicação de
uma líder para iluminar a grandiosidade da vida.
Lar de Assistência ao Menor (LAM)
Grandiosidade de abrigar os pequenos
“O líder é alguém que nos inspira a não
apequenar a vida, o trabalho, a empresa, a
comunidade, a nação, o mundo.”
Mário Sergio Cortella, educador e filósofo
brasileiro

57Paulo Alexandre Barbosa
Criar um lar para crianças separadas das famílias por maus tratos ou orfandade era o objetivo do juiz da Infância e Ju-
ventude, Hélio Del Porto, quando fundou o LAM. Na época, a entidade servia apenas como abrigo. Com o passar do tempo,
surgiu a necessidade de ampliar esse atendimento, montando uma creche para ajudar as famílias carentes da região. O
LAM foi crescendo e atualmente tem capacidade para receber 140 crianças de 0 a 7 anos – sendo 100 na creche e 40 no
abrigo.
O principal cuidado é receber a criança que chega – especialmente a que vai para o abrigo – com muito carinho, para
ajudá-la a superar a dificuldade de ser separada da família. Normalmente a criança é encaminhada para o abrigo do LAM
porque a família tem algum tipo de problema e não pode, pelo menos naquele momento, ficar com a criança. Então, para
tentar amenizar essa mudança, essa ausência, a equipe conta com o amor e as atividades lúdicas para dar aos peque-
nos o respaldo emocional, afetivo e físico de que eles precisam nesse momento tão difícil.
“As crianças ficam o dia todo com a gente. É um desafio
muito grande porque, na verdade , nós ajudamos na forma -
ção e educação dessas crianças . É um grande trabalho ,
feito em conjunto com toda a equipe.”
D
ébora Cristina Vaz, administradora
“Estou há 13 anos aqui. Eu era voluntária ,
colaborava levando as crianças para passear
e acabei me apaixonando por elas. Já passaram
muitas crianças por aqui – até crianças que fo
-
ram adotadas e voltaram para ver como estava
a instituição.
E
u falo para o meu marido que passo mais tem
-
po no Lar do que em casa. Aqui eu me formei,
me casei e se um dia eu for trabalhar em outro
lugar , vou continuar aqui como voluntária
sempre.”
I
vanúzia Santos, funcionária
“Nós trabalhamos com o aprendizado e com o brincar , para
não ficar massacrante o dia inteiro. É muito importante
para nós ver o prazer das mães e dos filhos que estudam
aqui. A proposta pedagógica é muito importan
-
te, a administração é fundamental , mas o
carinho é essencial para que as mães vejam
seus filhos se sentirem bem, verdadeira -
mente acolhidos.”
M
irela Coelho Martins, coordenadora pedagógica
Lar de Assistência ao Menor (LAM)

Local: Rua: Nicolau Patrício Moreira, nº 225- Cidade
Naútica- São Vicente (SP)
Fundação: 1965
Contato: (13) 3464-3373
Site: www.lamsaovicente.com.br
Programa exibido em: 30/11/07

Lição de Vida58
Cafú é o exemplo vivo da capacidade de sonhar e realizar os sonhos. Criado em uma região
carente da periferia de São Paulo, o menino ganhou o Brasil e o mundo com a bola no pé, defen-
dendo a seleção brasileira. Foi no seu 100º jogo pela seleção que ele resolveu que era hora de
ajudar os sonhos de outras crianças da região necessitada onde cresceu. Sua ação mudaria a
realidade do bairro Jardim Irene, na Zona Sul de São Paulo, com a criação da Fundação Cafú.
“A fundação nasceu de um sonho que, graças a Deus, eu consegui realizar. Procuramos
desenvolver esse projeto social de beneficiar crianças do Jardim Irene porque a gente sabe
que a maioria das periferias do Brasil tem carência grande de um local onde elas possam
ficar”, diz. A grande alegria do jogador é chegar à fundação e ver a felicidade estampada no
rosto das crianças. “O que me anima é ver aquele monte de crianças dentro da fundação, ver
que eles realmente estão levando a sério o trabalho.”
O sonho do jogador é oferecer a essas crianças a oportunidade que ele não teve, de um
lugar para ficar quando não estão na escola, um local para aprender, para se desenvolver, para
que possam seguir o caminho certo na vida. Para desenvolver o trabalho, ele conta com o apoio
da família, como o irmão, que preside a entidade, e segue o exemplo da mãe, que sempre ajudou
a comunidade carente do bairro. “Família é tudo, é a peça fundamental, o conforto, o carinho,
tudo que a gente precisa nos momentos de maior dificuldade.”
Aos jovens, ele deixa sua mensagem para que valorizem o que realmente importa para conquistar
os maiores sonhos. “A mensagem que eu gostaria de deixar pra todo mundo que está batalhando, que
está procurando seu espaço, é que não desista nunca. As barreiras são colocadas para que a gente possa
superá-las. Temos que superar barreiras com muita humildade e dedicação.”
Cafú é o exemplo de alguém que saiu de uma comunidade carente, de um lugar muito simples, conseguiu
atingir seus objetivos na vida, teve sucesso profissional e soube retornar, retribuir todo sucesso alcançado,
proporcionando oportunidades para os jovens através dessa fundação.
Fundação CafU
Alimentando sonhos
“Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.”
Carlos Drummond de Andrade, poeta brasileiro

59Paulo Alexandre Barbosa
Proporcionar atividades de educação, cultura, esporte, lazer, saúde e muito mais é o objetivo da
Fundação Cafú, que atende crianças e jovens, dos 7 aos 17 anos, da comunidade carente do Jardim
Irene, em São Paulo. A entidade realiza 1.600 atendimentos por mês em diversas áreas. Há um sistema
alternativo de educação para cerca de 340 crianças e jovens de baixa renda e curso profissionalizante
para cerca de 100 pessoas acima de 16 anos. “Temos uma biblioteca com acervo de 4 mil livros para
atender escolas e pessoas da comunidade; há consultório odontológico, brinquedoteca, cabeleireiro,
sala de computação, sala de psicopedagogia, entre outras ações”, afirma Marcelo Evangelista, presi-
dente da fundação, irmão de Cafú.
Entre seus objetivos, a entidade visa a dar um espaço para que a criança se desenvolva ao invés
de ficar na rua, ajudando a despertar no jovem sua vocação, descobrindo talentos adormecidos e
dando oportunidades para que ele possa explorar todo seu potencial.
“A minha mãe sempre fazia bazares na região para
ajudar os mais necessitados , sempre se propôs a
trabalhar nas escolas , nas creches, coordenan -
do a parte de alimentação , fazendo sopa, mutirão.
S
empre procurou ajudar outras pessoas , seja com
palavra , gesto ou atitude. Então essa vontade
nossa de ajudar vem da raiz. E a fundação tem esse
histórico que vem da minha mãe, fazendo trabalho
junto com pessoal mais carente. A gente praticamen
-
te deu sequência ao trabalho dela.”
M
arcelo Evangelista, presidente
“Eu entrei pra fazer curso de cabeleireiro. Aju
-
dou muito porque eu era dona de casa, não tinha
profissão nenhuma e agora tenho profissão.
M
eu salão está quase montado . Minhas filhas
também estão aqui – antes, quando não estavam
na escola , estavam em casa ou na rua. Agora
ou estão na escola ou no curso. Meu marido
também está aqui para me ajudar .”
D
ionice de Jesus Soares, cabeleireira e mãe de três meninas que
participam das atividades da fundação
Fundação Cafú
Local: Rua Alves de Souza, nº 65
Jardim Irene/Amália- São Paulo (SP)
Fundação: 2001
Contato: (11) 5824.0422
Site: www.fundacaocafu.org.br
Programa exibido em: 07/12/07

Lição de Vida60
De coração aberto, o empresário Luiz Tomazin mudou toda sua vida para ajudar pessoas com necessida-
des especiais. Ele tinha uma empresa havia cerca de 30 anos quando percebeu que estava cansado de ser
empresário. “Um dia eu passei pela APAE, entrei e acabei ficando. Foi amor à primeira vista”, conta ele, que
deixou a empresa para os filhos e se dedicou de corpo e alma à entidade. “Acho que a gente tem que fazer
alguma coisa para as pessoas que precisam. A gente tem que se doar um pouco. Não adianta correr atrás de
riqueza, de ser milionário. A gente tem que preencher aquilo que faz bem pra gente. O coração da gente é que
manda.”
Quando ele começou a atuar, a APAE fazia parte de um departamento da Prefeitura de Cajamar. Por meio
de negociações, conseguiu desvincular a entidade para que ela caminhasse “com os próprios pés”, como ele
ressalta.
Luiz tornou-se presidente da entidade, bastante atuante, participando das ações, dando atenção a cada
detalhe. A equipe segue seu exemplo e se dedica, desenvolvendo um trabalho profissional. “A equipe alia o
interesse profissional, a necessidade da criança e a filosofia da APAE, que é voltada exclusivamente para o
bem estar da criança.”
Sentindo-se inserido em uma grande família, Luiz diz que é uma satisfação se doar. “Dizer que não temos
dificuldades seria uma mentira, porque temos muitas. Mas a gente vai superando com muita fé em Deus e
muito trabalho. Parece que estamos aqui em um ambiente abençoado. Às vezes não temos dinheiro para
pagar isso, para apagar aquilo e de uma hora para outra o dinheiro aparece. Deus manda o dinheiro.”
Apae Cajamar
Ajuda de coração aberto
A pior das prisões
é o coração fechado.”
João Paulo
II, Papa de 1978
a 2005

61Paulo Alexandre Barbosa
A unidade de Cajamar faz parte do movimento da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE – fundado há
mais de 40 anos e que reúne mais de duas mil APAEs no Brasil. A APAE de Cajamar atende 113 pessoas na parte pedagógica
e cerca de 600 no ambulatório, recebendo desde bebê, crianças, jovens até adultos.
O principal objetivo da entidade é desenvolver ao máximo as potencialidades das pessoas com necessidades especiais,
com um trabalho especializado. No setor educacional, há a estimulação essencial, para crianças de 0 a 3 anos e 11 meses;
estimulação escolar, para crianças de 4 a 6 anos e 11 meses; ensino fundamental e EJA, de 7 a 50 anos; pré-profissionali-
zante para inserção no mercado de trabalho; educação física e educação artística. O setor ambulatorial conta com psicologia,
fonoaudiologia, fisioterapia e neurologia.
“Eu tenho oito filhos, seis especiais . O senhor Luiz arrumou
esse emprego para mim e eu trabalho com muita alegria , gosto
muito dessas crianças . Vejo os benefícios da APAE pelos
meus filhos, principalmente o Wellington, que estudou aqui
10
anos. Quando ele entrou tinha uns sete anos e não falava
quase nada. Ele saiu daqui falando , sabe assinar o nome dele,
já está até trabalhando . É um ótimo menino. Como ele venceu,
eu creio que os outros vão vencer também . Através da APAE
nós vamos conseguir bastante evolução para os meus filhos.
E
u creio.”
I
zilda Santos Silva, mãe e funcionária
“A criança pode ter uma evolução excelente se a família
contribuir com todos os terapeutas , trabalhar junto,
estimular em casa. A gente tenta conscientizar os pais de
que essa criança realmente tem dificuldade e que precisa de
um lugar especial , adequado , adaptado às suas dificulda
-
des, para desenvolver seu potencial – caso contrário, não
consegue. Eles ficam cinco, seis anos na rede de ensino e
não conseguem sequer aprender a ler e escrever o próprio
nome. O mais importante é a aceitação dos pais, a participa -
ção e a crença de que o filho deles pode se desenvolver.”
S
ilvana de Souza, psicopedagoga
“É simples trabalhar com eles, porque eles são felizes e a cada dia que passa a gente
vê o resultado do nosso trabalho , a evolução de cada um a toda hora.”
T
herezinha de Freitas, coordenadora administrativa
Apae Cajamar
Local: Rua Manoel Antônio Gomes, nº 377
Jordanésia- Cajamar (SP)
Fundação: 1984
Contato: (11) 4447-4555
Site: www.apaecajamar.com.br
Programa exibido em: 14/12/07

Lição de Vida62
Natal é tempo de expressar o amor em todas as suas formas. O Programa Lição de
Vida Especial de Natal trouxe diferentes manifestações de amor. Primeiro retratou uma
mulher que com amor fez uma verdadeira revolução social no estado de São Paulo,
promovendo grandes transformações com padarias artesanais, programa de geração de
renda e recordes na campanha do agasalho. Um trabalho referência na área social.
Em seguida, o programa mostrou que o amor sempre nos surpreende e se mani-
festa de forma mais inusitada, comprovando que mesmo nos momentos mais difíceis é
possível descobrir as coisas mais importantes da vida.
Especial de Natal
Amor em cada ação
“Não é o quanto fazemos, mas o quanto de amor colocamos
naquilo que fazemos. Não é o quanto damos, mas quanto de
amor colocamos em dar.”
Madre Teresa de Calcutá, religiosa macedônia, naturalizada
indiana

63Paulo Alexandre Barbosa
Maria Lúcia Ribeiro Alckmin, a Lu Alckmin, presidente do Fundo Social de Solidariedade do Estado de
São Paulo (FUSSESP) de 07/03/2001 a 31/03/2006
Ela nasceu em uma família humilde, sendo a sétima de onze filhos. Filha do senhor Ademar e da dona Renata, Lu Alckmin
teve na mãe um grande exemplo de solidariedade, com quem aprendeu a praticar desde cedo ações solidárias diariamente. “Tudo
na nossa vida são exemplos. Minha mãe e meu pai foram exemplos de solidariedade para mim. Mesmo com tantos filhos, nunca
nos faltou carinho, nunca nos faltou amor, e minha mãe ainda tinha tempo de cuidar das pessoas carentes”. Lu conta que sempre
quis ser igual a mãe, desenvolver o trabalho social, porque aprendeu em casa a importância de se doar aos outros. “Minha mãe ti-
nha cozinheira, mas ela ia para a cozinha, gostava dela mesma ir fazer um bolo e levar para uma pessoa carente. Ela fazia muitas
visitas. Isso é doação, é amor.”
Os valores que aprendeu e praticou desde cedo, na base familiar, ela levou pela vida afora, desenvolvendo seu trabalho social
e colocando amor em cada ação. O amor opera milagres e ajudou a promover a multiplicação na campanha do agasalho, que
antes de Lu assumir arrecadava 500 mil peças por ano e, quando ela deixou o FUSSESP, eram mais de 18 milhões de peças por
ano. É também com amor que Lu mostra relatos emocionantes de pessoas que enfrentaram grandes desafios e mudaram suas
vidas no programa Histórias de Solidariedade, que ela apresenta na TV Canção Nova.
Padarias Artesanais
“Um dia, caminhando na Zona Leste de São Paulo e falando para mulheres muito carentes, eu percebi que elas não pres-
tavam muita atenção em mim, até que uma delas falou que estava com fome e que ainda não tinha comido. Aquilo me cortou o
coração, e eu perguntei o que eu poderia fazer por elas - elas falavam que tinham vontade de comer pão e eu nunca mais me
esqueci daquilo. Quando o Geraldo assumiu o Governo do Estado, e eu o Fundo Social, a primeira coisa que fiz foi chamar toda a
equipe e pedi que nós, juntos, desenvolvêssemos um projeto em que iríamos ensinar a população carente a fazer pães - não só
a fazer pães, mas também levar noções de higiene, de cidadania, e geração de emprego e renda. Foi um projeto maravilhoso do
qual hoje colhemos frutos. São nove mil padarias artesanais espalhadas pelos 645 municípios do estado de São Paulo.”

Lição de Vida64
Felicidade
“Acho que todo mundo busca felicidade – mas onde está a felicidade? Ela está dentro de nós - Mas o que é felici-
dade? Felicidade é quando a gente faz o bem para o nosso semelhante, porque aí nós esquecemos dos nossos proble-
mas e quando a gente se doa e ajuda alguém, por menor que seja o nosso ato, isso nos faz um bem imenso, e isso é
felicidade. Eu aprendi com os meus pais a ser feliz e, para mim, felicidade é isso: doar, ajudar aos nossos semelhantes.”
Milena Ribeiro Simões, aluna do Lar das Moças Cegas
Gilmar Ribeiro dos Santos, professor do Lar
O amor às vezes aparece nos momentos mais surpreendentes. Milena tinha 19 anos quando perdeu a visão por
causa de diabetes. Para aprender a enfrentar esse novo momento em sua vida, ela foi buscar ensinamentos na institui-
ção Lar das Moças Cegas, que cuida de deficientes visuais em Santos (SP). Foi lá que ela conheceu Gilmar, que começou
na entidade aos oito anos. Ele teve perda visual por causa de um erro médico no tratamento de uma catarata. “Eu passei
pelos cursos de reabilitação, depois eu passei um tempo como voluntário, foi quando nosso presidente me convidou para
trabalhar na parte da administração como office-boy, auxiliar de escritório e, depois de oito anos trabalhando na admi-
nistração, surgiu uma oportunidade para dar aula de orientação de mobilidade”, comenta Gilmar. Ele lembra que isso
aconteceu na mesmo época em que ele ingressou na faculdade e queria usar um pouco da experiência de vida como
deficiente para tentar ajudar outras pessoas.
Da convivência, foi começando uma amizade entre Milena e Gilmar. “A gente tinha uma amizade muito legal. Eu era
aluna e ele ainda não era professor”, revela Milena. Segundo Gilmar, a conquista aconteceu na rotina – ele dava carona
para Milena no braço, ambos iam para suas respectivas atividades. Trocaram telefones, saíram e estão juntos há três
anos.

65Paulo Alexandre Barbosa
Especial de Natal
Local: Estúdio da TV Canção Nova de São Paulo (SP)
Programa exibido em: 21/12/07
Experiência“Eu tinha muita insegurança , muito medo de andar , até mesmo
na instituição. Tinha receio, vergonha , e quando eu conheci o
G
ilmar, ele andando e fazendo tudo sozinho, isso foi uma gran
-
de ajuda para mim. O fato de ele estar ao meu lado me ensinou
muita coisa, comecei a perder o medo de andar na rua. Foi muito
bom para mim.” - M ilena
Esporte
“Poder passar a experiência para outras pessoas é muito grati-
ficante. Além de ter conhecido o amor da minha vida na entidade ,
o Lar possibilita que eu ajude com orientação de mobilidade e
golbol, que é o esporte que eu pratico.” - G ilmar

Lição de Vida66
A produção do Programa Lição de Vida fez uma surpresa ao seu apresentador um pouco antes da
virada do ano de 2007, ao realizar uma gravação especial na sede da Fundação Paulo Gomes Barbosa,
trabalho social idealizado por sua família, no Morro do Pacheco, em Santos, litoral paulista. A edição,
excepcionalmente apresentada na ocasião pelo Pe. Cleidimar Moreira, da Comunidade Canção Nova,
foi marcada por muita emoção e boas lembranças.
Em vez de crianças nas ruas expostas aos riscos da violência, aos problemas com drogas, vemos
crianças jogando xadrez, capoeira, praticando esportes, lendo. Essa foi a transformação social que a
Fundação Pagoba provocou na comunidade carente do Pacheco. O local não foi escolhido por acaso:
foi ali que cresceu o homenageado que dá nome à entidade, Paulo Gomes Barbosa.
Paulo Gomes Barbosa perdeu o pai quando tinha oito anos. Como filho mais velho, precisou
trabalhar para ajudar a mãe. Começou como engraxate de sapatos, vendeu palhinha nas feiras livres,
foi vendedor ambulante, vendedor de pipoca no cinema. Com determinação, Paulo Gomes Barbosa
mudou o rumo de sua história - foi trabalhar no ramo de café, formou-se em Direito, tornou-se político
e chegou a ser prefeito de sua cidade, um exemplo de que força de vontade e perseverança são os
ingredientes do sucesso.
Fundação Paulo Gomes Barbosa - Pagoba
Especial de ano novo
Construindo hoje um novo amanhã
“Quando vejo uma criança, ela inspira-me
dois sentimentos: ternura pelo que é, e respeito
pelo que pode vir a ser.”
Louis Pasteur, cientista francês

Paulo Alexandre Barbosa 67
Apesar das conquistas e do novo caminho, Barbosa sempre esteve presente e preocupado com
a comunidade que foi sua base. Por isso, em seu aniversário de 65 anos, ganhou o melhor presente
que os filhos poderiam lhe dar: “Compramos essa casa onde ele residiu, compramos mais algu-
mas casas no entorno e fizemos a Fundação Paulo Gomes Barbosa, a qual leva o nome dele e que
atende crianças do Morro do Pacheco, em Santos, um lugar carente, com crianças que precisam
de oportunidades. Assim como meu pai recebeu uma oportunidade quando precisou, nós queremos
cumprir com nossa obrigação, que é retribuir para essas crianças, para as famílias, a oportunidade
que meu pai teve”, explicou Paulo Alexandre Barbosa, que nesta edição passou de apresentador a
entrevistado.
Entre as crianças do morro, distribuindo abraços e beijos, Paulo Gomes Barbosa transparece
toda alegria que sente, podendo retribuir tudo o que a vida lhe deu, ajudando as crianças que vivem
a mesma dificuldade que ele vivenciou. “Esse morro é meu porto seguro. Foi aqui que eu comecei
a minha vida. Foi esse morro que me ensinou; aquele porão que me ensinou a trabalhar, a engraxar
sapato na rua, a vender palhinha nas feiras de Santos. Foi aqui que eu aprendi muita coisa da práti-
ca da vida, que meus sonhos se realizaram. Eu descia e subia o morro seis vezes por dia. Quando eu
descia, dizia: ‘preciso ser alguém na vida para melhorar a vida das pessoas que aqui moram’. E foi
feito.”

Lição de Vida68
Oferecer atividades educativas e lazer para as crianças no horário em que elas estão fora da escola.
Esse é o principal objetivo da Fundação Paulo Gomes Barbosa – PAGOBA. O trabalho é dividido em cinco
eixos principais: educação, cultura, esporte, saúde e geração de renda.
Recentemente, a entidade também ganhou uma creche- Maria Ignez Barbosa, onde as mães podem
deixar os filhos com tranquilidade e sair para ganhar o sustento da família.
No eixo esporte, os alunos fazem capoeira, dança, futsal, voleibol e jogos cooperativos. É o momento
em que se trabalha a questão da cooperação e do trabalho em equipe. No eixo da educação, a entidade
disponibiliza aulas de reforço escolar, inglês e informática. O eixo cultural visa ao desenvolvimento de novas
potencialidades e promove atividades de canto, dança e artesanato.
Com o objetivo de oferecer mais qualidade de vida à população, a instituição realiza palestras sobre
como prevenir gravidez na adolescência e doenças, de uma forma em geral. A Pagoba também promove
com frequência mutirões de cidadania e ações sociais que mobilizam a comunidade do Morro do Pacheco.
Garantir um ofício é a proposta do eixo geração de renda, através de cursos profissionalizantes para os
familiares.

Paulo Alexandre Barbosa 69
“Nós procuramos fazer um trabalho aqui para
acolher a comunidade . Queremos que a fundação seja
uma extensão do lar, extensão da casa de cada uma
dessas pessoas . Esse é o grande objetivo – sempre
acolher as pessoas com muito amor, muito carinho,
que esse deve ser o principal caminho, sempre no
intuito, como nosso monsenhor Jonas diz, de ‘formar
homens novos para um mundo novo’. É a grande filo-
sofia desse trabalho também .”
P
aulo Alexandre Barbosa, que fundou a Pagoba em homenagem ao
pai, Paulo Barbosa, junto com as suas três irmãs Rosane, Christine,
A
driane, seu irmão Paulo Eduardo e sua mãe Maria Ignez Barbosa.
“E
ssa fundação é um orgulho, o melhor orgulho da
minha vida. É uma satisfação ímpar. Eu nunca imaginei
que no fim da minha vida, com 70 anos, os meus filhos
me fizessem essa surpresa . Deus me deu muito mais
do que eu merecia e todos os dias eu rezo, agradeço
a Deus por tudo aquilo que eu tenho: eu tenho cinco
filhos belíssimos, eu tenho tudo que eu quis na vida .
D
eus me deu a possibilidade , inclusive, de poder ajudar
os moradores do Morro Pacheco. Eu vejo essa meni
-
nada descendo o morro, esses meninos que amanhã
também poderão ser advogados , dentistas , médicos.
N
aquela oportunidade nós já pensávamos em estudar
para poder comandar alguma coisa nessa cidade.”
P
aulo Gomes Barbosa, homenageado da fundação
“Há um tempo as crianças iam do colégio para casa e da casa para
o colégio. Depois que o Paulinho e o pai deram de presente essa
fundação , elas ocupam o tempo todinho lá. Elas têm lazer, saem
para passeios, estudam , aprendem computação , capoeira , tudo. A
rotina do morro melhorou muito e não digo só pelos meus netos,
mas pelas crianças todas. O coração fica aliviado porque é uma
coisa que a gente idealizava há muito tempo, essas crianças ten
-
do o lugarzinho delas para não ficar na rua.”
R
egina, moradora do morro do Pacheco há 35 anos
“A fundação veio em um momento muito bom – a
gente pode trabalhar tranquila deixando nos
-
sos filhos lá. Tem muito lazer para as crian-
ças e ao mesmo tempo eles aprendem muita
coisa. Deixo minha filha lá e venho trabalhar ,
tendo a certeza de que ela está segura , fa-
zendo bastante atividade . Não tem vida ociosa .
M
inha filha está aprendendo computador , que
poderá ajudar no futuro dela.”
V
era, moradora do morro do Pacheco e mãe de aluna
Fundação Paulo Gomes Barbosa - Pagoba
Local: Rua 5, ligação 15 - Morro do Pacheco - Santos (SP)
Fundação: 2003
Contato: (13) 3219-1531
Site: www.fundacaopagoba.com.br
Programa exibido em: 28/12/07

Lição de Vida70
A mão de Deus se manifesta a cada momento; depende do empenho de cada um aproveitar a
oportunidade. Natalino Ferreira da Cruz soube se esforçar quando a vida lhe acenou com uma nova
oportunidade.
Ele estava em Cosmorama, indo para Santa Fé do Sul, quando começou a conversar com uma senhora
que se ofereceu para ajudá-lo. Ela lhe deu um dinheiro para chegar até Votuporanga e disse que procurasse
seu filho. Natalino nem imaginava que conversava com a mãe do padre Edemur, responsável por uma obra
referência na região por ajudar desabrigados.
Natalino chegou a Votuporanga, foi direto à igreja falar com o padre, que lhe colocou no carro e o levou
para a Casa Abrigo. “Ele chegou comigo e disse: ‘aqui tem mais um companheiro para vocês, meus amigos’.
Tinha umas 10 pessoas”, lembra Natalino, que foi permanecendo na instituição, ajudando, até o dia em que
o padre perguntou se ele sabia mexer com horta – era um convite, logo aceito por Natalino, que começou a
tratar o terreno, plantar alface, almeirão, couve, repolho.
Onde antes era só mato, hoje se vê uma grande horta, que conta com o trabalho de outros residentes.
“Quando a gente faz o serviço com amor, planta com amor, recebemos das plantas amor também”, diz,
acrescentando que faz o que pode pela casa porque sempre é tratado com muito carinho.
O carinho foi a fórmula mágica também para mudar a vida de Isaac Alexandre Damásio, ex-
residente. “Eu andava pelo mundo trabalhando aqui e ali e por um problema
de saúde e, não tinha mais condições para trabalhar”, afirma. Foi quando
encontrou a entidade, onde ficou por dois anos e meio, até reunir condições
para sair.
Comunidade Assistencial Irmãos de Emaús- Casa Abrigo
A chance de recomeçar
“Toda reforma interior e toda mudança para melhor dependem
exclusivamente da aplicação do nosso próprio esforço.”
Immanuel Kant, filósofo alemão

71Paulo Alexandre Barbosa
Preocupados com a situação de pessoas desabrigadas, alguns fiéis da Paróquia Nossa Senhora
Aparecida se uniram e junto com o padre Edemur José Alves, fundaram a Casa Abrigo, da Comunidade
Assistencial Irmãos de Emaús. “Tudo aconteceu graças a Deus, a casa está aí e hoje é um sucesso,
suprindo a necessidade de pessoas que têm procurado”, comenta o presidente da entidade, Jorge
Ribeiro Serão.
Ele explica que as pessoas geralmente chegam em um estado ruim, com barba por fazer, sem
banho, em “situação de rua”. Logo tomam banho, recebem roupa nova e, se precisam de atendimento,
são encaminhadas ao médico e ao dentista. Na entidade, os residentes participam da terapia profissio-
nal, fazendo serviços na horta, jardinagem ou pintura.
A Casa Abrigo tem 43 leitos – 30 para internos e 13 ficam à disposição da migração, para receber
os que passam pela cidade. Há ainda três leitos reservados para mulheres. Em 10 anos de trabalho, já
foram realizados mais de 8 mil atendimentos a desabrigados que passam pelo programa “Resgatando
a Cidadania”, que visa a preparar os residentes para se reintegrarem à sociedade.
“Casa pessoa que passa aqui é uma história,
uma situação, é um irmão. Nós acolhemos e
vemos o que podemos fazer. A espiritualidade
é trabalhada nas orações feitas por voluntá -
rios, que vêm participar . Temos uma capela, mas
respeitamos a religião de cada um.”
P
adre Edemur José Alves, fundador
“Temos uma parceria grande com as entidades
de Votuporanga , principalmente com a Casa
A
brigo. Desenvolvemos um projeto em que
vamos buscar apoio, doações, para arrecadar
alimento para a entidade.”
O
swaldo Carvalho, colaborador da Casa Abrigo
Comunidade Assistencial Irmãos de Emaús- Casa Abrigo
Local: Rua José Messias da Silva, nº 1880
Jardim Nossa Senhora Aparecida- Votuporanga (SP)
Fundação: 1997
Contato: (17) 3421-6918
Site: www.nossasenhoravotuporanga.com.br (Casa Abrigo)
Programa exibido em: 04/01/08

Lição de Vida72
Transformar cada dia em um momento melhor, fazer da vida uma grande inspiração. O desafio dessa ideia
é ainda maior quando se trata de crianças e jovens que não têm mais um lar e precisam de um abrigo. Esse é o
trabalho da Casa Crescer e Brilhar.
Para vencer esse desafio, a instituição conta com o apoio e a força da comunidade católica de São Vicen-
te, cidade onde está instalada. “A Igreja Nossa Senhora das Graças tem uma participação muito forte; vários
diretores daqui são encontristas da igreja. Eu também participei durante muitos anos dessa paróquia”, revela a
presidente da instituição, Célia Regina Morais.
Considerando a importância da família como base da sociedade, o direcionamento dos trabalhos é voltado
para tentar um resgate entre essas crianças, jovens e seus parentes, promovendo um reencontro. A presidente
explica como funciona: “A gente trabalha prioritariamente a família de origem, e se não conseguimos formar
esse vínculo, tentamos um apadrinhamento afetivo”. A dedicação em realizar essa tarefa difícil tem garantido
bons resultados, inclusive em um quesito considerado bastante difícil, que é a adoção de adolescentes. “Não é
comum a adoção de adolescentes, não é? Mas a gente tem conseguido algumas adoções e isso é importante.
A criança vai para um apadrinhamento com uma pessoa de referência e de repente se transforma em uma
adoção.”
Conseguir uma adoção, uma casa, uma família, um lar para uma criança que se
encontrava em situação de abandono é uma grande alegria. Mas a emoção maior vem
quando esses ex-internos retornam, dando boas notícias. “Muitos passam um bom tempo
aqui na casa, que acaba se tornando uma referência em suas vidas. Por isso, quando
chegam à fase adulta, quando têm seus filhos, eles retornam para mostrar, para contar
o sucesso que tiveram. Temos adolescentes de muita referência na cidade, que
estão com a vida organizada. Há uma garota que passou quase dez anos conosco
e hoje está fazendo medicina em Cuba.” Esses retornos mostram que as crianças
e jovens recebem na entidade a base necessária para a formação, seguem suas
vidas, constroem suas histórias e comprovam que o trabalho vale a pena.
Casa Crescer e Brilhar
Um novo lar
“Não devemos permitir que ninguém saia de
nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz.”
Madre Tereza de Calcutá, religiosa macedônia, naturali-
zada indiana

73Paulo Alexandre Barbosa
A entidade nasceu na década de 70, denominada Casa de Triagem e Recuperação de Menores, depois mudando
para Casa do Menor de São Vicente, até chamar-se Casa Crescer e Brilhar. “A casa é um programa de abrigo, embora
hoje tenha outra função, pois também trabalha com a comunidade”, explica Célia Regina Morais.
Segundo a presidente, as crianças vão para o abrigo como medida de proteção, encaminhadas pelo Juiz da Infân-
cia e da Juventude, para serem cuidadas. “Nós formamos uma família e vamos unindo cada um que chega.” A institui-
ção abriga 40 crianças de 7 a 17 anos e 11 meses, que recebem não só abrigo, mas oportunidades de desenvolvimento
com cursos de teatro, artes circenses, capoeira, judô, entre outras atividades. As famílias também são acompanhadas
para tentar promover um retorno das crianças e jovens ao lar.
“Para ajudar as mães temos o projeto ‘Bem me quer’, com
quatro oficinas : cabeleireiro profissionalizante , expres-
são corporal, artesanato e atendimento terapêutico em
grupo. São mulheres em situação de risco, vulnerabilida -
de social e arrimo de família, e nosso objetivo é trabalhar
a cidadania , o resgate da autoestima, desenvolver o senso
crítico .”
A
na Paula Ferraz, psicóloga
“Estou feliz por ter a oportunidade de transmitir às pesso
-
as a felicidade que é a gente estar junto, trabalhando com
amor pelas crianças . A relação com os jovens também é
muito produtiva. No convívio com as crianças e os jovens , eu
me sinto jovem, fortaleço meu espírito, eu penso que estou
doando , mas sei que estou recebendo . A nossa idade não é
a cronológica , é a mental. E na minha idade mental eu sou
bastante jovenzinha .”
E
lza Batalha, escritora e voluntária
“É uma satisfação trabalhar aqui. A gente se sen
-
te bem em fazer algo que deixa as pessoas felizes.”
J
ares Maximiano, seresteiro e voluntário
“Primeiro a gente tem que diagnosticar qual é o problema
da criança e depois nós vamos em busca da família para
ver qual é o problema - se é de saúde ou social. Já tivemos
casos de reintegração familiar, casos que a rede do muni
-
cípio considerava perdidos e quando houve a reintegração
familiar foi muito gratificante .”
M
aria Aparecida Araújo, assistente social
Casa Crescer e Brilhar
Local: Rua Dom Duarte da Costa, nº 341
Vila Jóquei Clube- São Vicente (SP)
Fundação: 1974
Contato: (13) 3464-1177
Site: www.casacrescerebrilhar.org.br
Programa exibido em: 11/01/08

Lição de Vida74
Agir pela própria felicidade e para promover a felicidade da comunidade é a meta alcançada pelo padre Joseph
Thomas, que veio da Índia e realizou um belo projeto em Praia Grande, na Baixada Santista. Ele trabalhava nas áreas
sociais – especialmente na educacional – na Índia. Chegou ao Brasil em 27 de outubro de 1994, ficou dois anos em
Itanhaém, até chegar à paróquia onde criaria a fundação. “É uma paróquia pequena, com quatro comunidades. Eu
estou construindo a nona igreja agora, tenho 14 comunidades formadas, completas. Quando comecei a trabalhar
com a parte social, educacional, na área da saúde, nós começamos várias pastorais, mais 30 pastorais sociais”,
conta o padre.
O grande orgulho de Joseph é a rádio educativa, que conta com uma grande abrangência, permitindo evange-
lizar pelos meios de comunicação. “Tudo que fiz até agora não é nada perante essa rádio educativa. É uma grande
vitória, um grande presente de Deus para a Baixada Santista. Temos mais de 20 países cadastrados, acompanhando
pela internet nossa rádio (www.radioboanova.net). É um grande trabalho de 24 horas por dia de evangelização”,
comemora.
Com sua ação, padre Joseph Thomas demonstrou que é possível fazer muito pela
comunidade e, de passo em passo, obter grandes conquistas como uma das
poucas rádios autorizadas de comunidade. E, dessa forma, promover a
alegria e satisfação dos moradores de toda uma região, comprovando
que a felicidade está mesmo na atividade de quem faz ajudando ao
outro pelo amor ao próximo, em nome de Deus.
Fundação Educacional e Cultural de Praia Grande
Agindo pelo bem estar
“Felicidade é atividade.”
Aristóteles, filósofo grego

75Paulo Alexandre Barbosa
A Fundação Educacional e Cultural de Praia Grande é ligada à Paróquia Nossa Senhora das Graças, coordenada
pelo padre Joseph Thomas. O objetivo é promover a saúde física, moral, cívica, cultural, educativa e religiosa da popu-
lação da cidade.
Para atingir sua meta, a entidade desenvolve várias atividades artísticas, culturais e educativas, com oficinas, pa-
lestras, cursos, entre outros. “Nós temos vários cursos pré-vestibular, centenas de jovens já passaram por eles e temos
até alunos que hoje estão na USP. Os cursos são realizados numa casa de formação do padre Ramiro e todos os alunos
já entraram na faculdade”, explica padre Joseph. “Temos também aulas de teclado, violão, música, corte e costura,
pintura, teatro, dança, vários tipos de cursos e também convênios com faculdades e escolas particulares. Noventa por
cento dos jovens da igreja estão no mercado de trabalho e ainda temos grandes projetos para o futuro, como parcerias
com grandes empresários. Estamos sonhando isso.”
O diferencial da fundação é a Rádio Boa Nova, a primeira rádio católica da Baixada Santista.
“O que mais falta hoje são cursos profissionalizantes . Muitos
não sabem ler e escrever; por isso nós temos centenas de alunos
no projeto de alfabetização, um trabalho muito grande que faze-
mos e gostaria de agradecer a todos que me ajudam, seja através
de oração, de ajuda financeira , de elogios ou críticas também.”
P
adre Joseph Thomas, presidente
“Aqui tem vários cursos e todos participam
do coral dos coroinhas e também tem o co
-
ral Advento , que é o coral das crianças ,
que toca na missa das 10 horas de domin-
go. Todos aqui cantam um pouquinho .
E
u gosto de cantar. Desde pequena , dos 6
anos de idade, eu faço homenagem pro pa
-
dre. Lembro que eu subia nos banquinhos
pra cantar, porque eu era muito baixinha .
E
ntão, desde os meus 6 anos de idade eu
canto sozinha .”
B
runa Tavares Baptista, 13 anos, aluna que representa
todos os alunos do ministério dos coroinhas, da paróquia
N
ossa Senhora das Graças
“Eu comecei como qualquer outra pessoa, indo à igreja, parti
-
cipando , fui durante dez anos coroinha , fui ganhando a con-
fiança do padre, das pastorais. Então eu me preparei porque
eu quis estar neste projeto. Fiz cursos e estou aqui há dois
anos, junto com o Marcos, que é administrador , fazendo tudo
sempre com muito amor.
A
rádio é educativa e cultural - temos uma programação
jornalística e 99% evangelizadora . Nós queremos passar
informação e transformar os corações das pessoas.”
W
illian Oliveira Roemer, responsável pela rádio
Fundação Educacional e
Cultural de Praia Grande
Local: Rua Oceânica Amábile, nº 100
Cidade Ocian- Praia Grande (SP)
Fundação: 2001
Contato: (13) 3494-5242
Site: www.fundacaodepraiagrande.org
Programa exibido em: 18/01/08

Lição de Vida76
Um portal em uma alameda de árvores anuncia a proposta da República: “Caminho da Liberdade”. A gran-
de liberdade da vida é sonhar com dias melhores, acreditar em um futuro possível. Liberdade para sonhar uma
nova vida é o que a República proporciona a quem se dispõe a atravessar o portal.
Felipe ousou atravessar e descobriu uma nova vida que o esperava do outro lado, que vai além dos nove
meses de tratamento. Ex-residente, ele se recuperou e hoje ensina artesanato na entidade. Antes do tratamen-
to, ele já sabia um pouco. Aprendeu mais e agora partilha com os outros residentes a experiência. “O artesana-
to ajuda a ter mais paciência. Me ajudou bastante no tratamento e eu me esforcei para aprender o máximo”, diz
Felipe. “Eu vou continuar ensinando muito o que aprendi e vou procurar aprender mais também.”
Partilhar a experiência que o ajudou a realizar o sonho de liberdade para que tantos outros alcancem
também esse sonho. Essa é a lição de Felipe e também de Mauro, que coordena as oficinas de laborterapia na
entidade. “Eles têm que trabalhar pensando no que fizeram na vida. Eu já fui dependente químico, já passei por
comunidades terapêuticas e hoje me encontro como coordenador”, exemplifica, demonstrando que alcançar a
liberdade está ao alcance de todos.
República da Vida
Fé na caminhada
“Verdadeiramente imoral é
desistir de si mesmo.”
Clarice Lispector, escritora ucrania-
na, naturalizada brasileira

77Paulo Alexandre Barbosa
Desde 1993, a cidade do Guarujá, no litoral de São Paulo, contava com um programa de DST/AIDS em que se verifi-
cou que a maioria das pessoas que frequentava o local tinha problemas com dependência química. “Havia um grupo de
profissionais, assistentes sociais, psicólogos e médicos, que discutia a problemática da AIDS com familiares e portado-
res”, recorda Maria Cecília Peres Neves, assistente social que há 10 anos atua na República da Vida.
O grupo precisava de uma casa de apoio e, fazendo contatos com a Secretaria de Saúde e a Febem, conseguiram a
ajuda necessária. “Desde o início, trabalhamos com os 12 passos do cristão, com o tripé espiritualidade, disciplina e tra-
balho, porque a gente busca resgatar tudo que o dependente perdeu: disciplina, respeito por ele mesmo. É um trabalho
de conscientização”, informa Maria Cecília.
A entidade atende 25 residentes que passam por um tratamento de nove meses. Os que não podem voltar para
casa, por questões pessoais, são encaminhados para a Casa Dois, que funciona como uma república, abrigando-os até
que se reestruturem.
“A gente tenta, com a família, reestabelecer os laços familia-
res. Precisam entender que é uma doença que não tem cura. Eles
têm que prevenir . Nós trabalhamos as emoções deles enquanto
pessoa, mostramos que têm que se amar. O tratamento depende
de cada um. Quem se recupera é porque quis mudar de vida. Por-
que tem que querer. É fácil ficar aqui nove meses sem cair no
vício. Mas a gente trabalha com eles a mudança de vida para o
retorno .”
M
aria Cecília Peres Neves, assistente social
“Alguns novatos abaixam a cabeça e não tem coragem de olhar
nos olhos da gente. Depois de alguns dias eles têm um olhar com
um sorriso diferente e a gente vê que eles têm amor e fé no cora
-
ção. No Evangelho , Jesus disse: ‘se você se unir a mim, você não
fica nas trevas porque a minha luz ilumina teu caminho .’ Quando
nós aceitamos, encontramos essa luz e o nosso coração muda.”
J
osé de Oliveira, voluntário e coordenador dos estudos bíblicos
“Nós temos uma terra boa, fértil, que produz nosso alimen
-
to. Nosso trabalho é ver o fruto crescendo , regando . É bom
poder comer alimento plantado pela nossa própria mão. Esse
trabalho eu aprendi aqui, com o pessoal da casa.
T
odos que passam por aqui têm curiosidade e vontade de apren
-
der a trabalhar na horta. O bom é que é um serviço que não é
praticado só aqui dentro. Vai servir também quando a pessoa
tiver terminado o tratamento e estiver lá fora.”
J
oão, residente e responsável pelas hortas
República da Vida
Local: Avenida Ademar de Barros, nº 777
Santo Antônio- Guarujá (SP)
Fundação: 1994
Contato: (13) 3386-5211
Programa exibido em: 25/01/08

Lição de Vida78
Um gesto de carinho, um olhar, atenção para ouvir sobre a trajetória de vida. Às vezes é bem pouco o que
precisa ser feito para dar uma grande alegria a um idoso. Essa é a receita que mantém o sorriso nos lábios
de Honorina Ribeiro, residente do Lar São Vicente de Paulo. Ela morava sozinha no Alto de Santana e mesmo
tendo ouvido a sugestão do padre da paróquia e amigo de que não deveria continuar sozinha, Honorina não
queria mudar-se. Foi depois de um tombo que ela percebeu que o padre tinha razão e ele a encaminhou à
entidade.
Sua primeira alegria com a instituição foi saber que poderia levar sua cama e seu radinho, onde escuta
e acompanha as orações, junto com os santinhos que mantém no seu quarto no Lar. “Fiquei contente porque
eu tenho muito medo das camas altas”, revela. Essa liberdade de poder continuar sendo ela mesma é um dos
fatores que a ajudam a manter a alegria e ter a certeza de ter feito a escolha certa. “Temos liberdade para
sair, para deitar depois do almoço. Aqui eu me sinto em casa, graças a Deus”. Como não pode ficar muito
tempo em pé, nem sentada, quando não está com os amigos que fez na entidade, nem com as visitas, gosta
de deitar e deixar o radinho bem perto, para orar.
A oração é também a forma que José Alves Neto, residente, encontra para agradecer tudo que teve na
vida, tudo que tem, orar pelos amigos que o visitam e pela família. “Rezo por tudo”. Mineiro, José, 94 anos,
chegou a São José dos Campos a trabalho, quanto tinha pouco mais de 30 anos, e se estabeleceu na cida-
de. Seu novo lar é a entidade. “Faço minhas orações e gosto de assistir à missa da Canção Nova. Não gosto
de sair daqui - só para os passeios: fomos ao Zoológico, à Aparecida. Aqui é um lugar onde a gente é feliz,
melhor que se estivesse em casa. Para mim, é o paraíso.”
Unidade Vicentina Promocional
Repouso para a terceira idade
“Dez vezes vocês irão aos pobres,
dez vezes encontrarão a Deus.”
São Vicente de Paulo

79Paulo Alexandre Barbosa
Conhecida como Lar São Vicente de Paulo, a Unidade Vicentina Promocional nasceu em 1974 com o objetivo de
abrigar famílias carentes; a partir de 1978, passou a atender idosos. O Lar acolhe 36 idosos acima de 60 anos, viúvos ou
solteiros que recebem tratamento, cuidados especiais e fazem passeios.
O Lar faz parte da Sociedade São Vicente de Paulo – SSVP – organização que atua em todo o Brasil. “Quando a
Sociedade chegou ao Brasil, há mais de 100 anos, passou a ver a necessidade de cada comunidade. Há lugares em que
temos hospitais, por exemplo. Se aparecer outra necessidade aqui, estamos juntos”, diz Anésio Ramos de Araújo, que faz
parte do conselho da entidade. Anésio conta que o maior carisma do vicentino é a visita nas casas, para ouvir os anseios
dos mais carentes. “Nas catástrofes, também somos chamados a colaborar”. Ouvindo o chamado dos mais necessitados,
os vicentinos encontram Deus, como ensinou São Vicente de Paulo.
“Muitos chegam tristes, sem esperança na vida. Dá impressão
que vai chegar aqui e ser o fim. Eles se animam quando per-
cebem que têm convivência aqui dentro, bom tratamento , são
bem alimentados . Eles voltam a sentir vontade de viver. Te-
mos, por exemplo, o senhor Benedito, que toca violão. Quando
chegou, não conversava , não falava, era triste. Ouvindo
música eles voltam às coisas do passado, a alegria volta ao
coração. A mudança aqui é grande . É uma outra família que
eles têm. Trabalhar com eles é muito bom, traz uma alegria
grande no coração da gente porque a gente vê o próprio Deus
neles. Nosso maior objetivo é levar alegria no coração deles
e eles devolvem pra gente.”
J
oana D´Arc Pereira de Toledo, presidente
“A maioria dos idosos não tem ninguém e nós somos a
família. Há também muitas pessoas da comunidade que
adotam os idosos. Fazemos daqui um verdadeiro lar, uma
casa onde vivem bem. Aqui é a casa, o lar desse idoso e
onde ele acaba constituindo nova família.”
M
aria Inês de Andrade, assistente social
Unidade Vicentina Promocional
Local: Rua Monteiro Lobato, nº 95
Santana- São José dos Campos (SP)
Fundação: 1974
Contato: (12) 3921-5085
Programa exibido em: 01/02/08

Lição de Vida80
A sensibilidade do padre Vita transparece nessa frase em que ele nos mostra a importância de termos
cuidado com nossas crianças, flores perfumadas, bonitas, frágeis, que precisam de nossa atenção para cres-
cerem fortes. Padre Vita quis garantir que essas flores estivessem sempre bem cuidadas, por isso plantou esse
sonho.
O sonho dessa fundação nasceu bem antes da criação da creche. Padre Vita tinha fundado um hospital,
em Campos de Jordão, para crianças tuberculosas. Como as crianças saíam de lá e não tinham para onde ir,
ele teve a ideia de fundar uma casa em Pindamonhangaba.
O padre faleceu em1972, mas deixou germinando a semente da creche, que brotou no ano seguinte e se-
gue até hoje ajudando mães como Tatiana Lima, que tem uma filha na instituição e um filho que já passou por
lá. Tatiana conta que encontra na creche a tranquilidade que precisa para deixar seus filhos e poder trabalhar,
ajudar no sustento da família. “Aqui eles são muito bem cuidados, recebem bastante carinho e a gente percebe
isso em casa”, diz. “Eles também complementam a formação da religião e o caráter das crianças. Eles pas-
sam coisas boas para eles e a gente vê isso no dia a dia”. Tatiana, como outras mães, percebe que o amor e o
carinho aparecem no cotidiano em casa na forma como as crianças se comportam; o ensinamento religioso, os
valores ensinados às crianças, ajudam a levar harmonia e paz para dentro de casa, como o perfume das flores
que invadem o ambiente onde elas estão.
Creche Lar Padre Vita
Preservando as crianças
“As crianças são as flores
perfumadas no jardim de Deus.”
Padre Vita

81Paulo Alexandre Barbosa
Criada para abrigar meninas carentes de 0 a 14 anos, abandonadas ou sem condições de sobrevivência, a Creche Lar
Padre Vita, que recebe o nome de seu idealizador, começou como abrigo e depois passou a funcionar como creche para
atender famílias de baixa renda. A entidade é filiada ao Instituto das Filhas Nossa Senhora das Graças.
A instituição, que recebe crianças de 2 a 6 anos, atende 120 crianças – o equivalente a 11% das crianças do municí-
pio. “O padre Vita deixou alguns meios para mantermos a casa. O próprio Instituto das Filhas de Nossa Senhora das Graças
mantém os funcionários aqui na creche, assim como as contas de água, luz e outras despesas, e nós temos uma pequena
parceria com a Prefeitura”, explica a diretora da creche, irmã Eva Ribeiro Lopes.
Mais do que abrigar as crianças, a creche mantém sua missão de oferecer melhores condições de vida a elas e às
famílias, cuidando da sociabilidade, disciplina, raciocínio e dando a base religiosa com apoio moral, preparando-as para
serem adultos mais conscientes.
“As famílias participam bastante . Fazemos algumas
atividades com as mães, principalmente na educação . A
gente também chama profissionais para orientar as mães
e a própria assistente social dá orientações em reuniões
periódicas .”
I
rmã Eva Ribeiro Lopes, diretora
“Nós usamos muitas atividades dirigidas e muitas atividades
lúdicas . A criança aprende através da brincadeira e nós
temos os nossos combinados . Cada criança sabe os horários
de cada atividade e com isso o trabalho flui normalmente . A
gente acolhe as crianças com muito carinho e elas sentem
segurança no nosso trabalho. Nós respeitamos cada fase da
criança e cada uma vai desenvolvendo seu potencial de acordo
com as necessidades que a gente propõe. Assim o trabalho
flui e a leitura vai acontecendo e a gente sempre intervém
através de atividades, brincadeiras e combinados .”
L
ucimara Oliveira, professora
“A gente tem mais de 120 crianças que precisam de apoio e esse
apoio é muito importante , porque o problema social é de todos
nós; pra gente arrumar esse Brasil, precisa de apoio. Essas
entidades têm dificuldade de sobreviver porque têm salários,
têm que pagar conta de água e luz. Muitas vezes as pessoas
ficam distantes do problema social e a gente sabe que o proble
-
ma social está ligado a nós. Tirar uma criança da rua é muito
importante .”
V
ito Ardito Lelário, colaborador
“Trabalhar aqui é muito bom porque as crianças trazem alegria e
o ambiente fica iluminado . Aqui, nós não atendemos 120 crianças e
sim 120 famílias. O contato que nós temos é um relacionamento de
total confiança porque os pais confiam em deixar as crianças sob
nossos cuidados. Na medida do possível, nós envolvemos os pais nos
projetos que temos.”
T
atiana Derrico, assistente social
Creche Lar Padre Vita
Local: Rua João Antônio da Costa Bueno, nº 410-
Santana- Pindamonhangaba (SP)
Fundação: 1973
Contato: (12) 3642-6063
Programa exibido em: 08/02/08

Lição de Vida82
Às vezes, falta em nossa vida uma oportunidade para que Deus possa estar presente e precisamos abrir
espaço para Ele entrar. Há casos em que é preciso deixar o passado e acreditar que é possível um futuro
diferente, construído com base na fé.
José resolveu dar a si mesmo uma segunda chance quando procurou a Casa do Amor Fraterno para se
livrar da dependência. Há dois meses na entidade, ele já se sente diferente, esperançoso, certo de que uma
vida melhor o espera quando acabar o tratamento. “Estou aqui por vontade minha. Tem pessoas que falam
que até o terceiro mês é o momento mais difícil, mas o trabalho continua depois disso. E tem também o pri-
meiro mês, o primeiro dia”, revela, destacando que cada dia é importante, uma conquista diária na luta contra
a dependência. “Eu digo que vou carregar para o resto da minha vida esse problema. Tenho que estar sempre
em tratamento, sempre me vigiando e correndo atrás das coisas que eu quero. Importante é a gente saber
que tem solução, é só procurar.”
Uma solução para o grande problema de sua vida foi o que Gabriel encontrou na casa quando entrou lá
pela primeira vez, há 23 anos. Alcoólatra, Gabriel conseguiu se livrar da dependência e, recuperado, passou
a sentir que as famílias precisavam muito de alguém que ajudasse. Tornou-se voluntário na Casa do Amor
Fraterno.
Na entidade, ele dá apoio, orientação com base na experiência que tem por ter vivido a dependência e
superado. “Nós mostramos que ser dependente é a coisa mais fácil que tem. Mas ser ex-dependente também
é fácil, basta querer. Não existe obstáculo que não possamos ultrapassar com fé em Deus”, comenta. “Cada
pessoa que nos procura, que vem para a casa e consegue deixar a bebida, a gente sente a mesma alegria
que sente quando nasce o primeiro filho – porque vê um
ser humano, um irmão nosso se recuperando. É a obriga-
ção que temos como cristãos de levantar o próximo.”
Casa do Amor Fraterno
Vontade de mudar o destino
“Na medida em que nós nos esvaziamos de nós
mesmos, Deus nos preenche com o Seu espírito.”
São Vicente de Paulo

83Paulo Alexandre Barbosa
Preocupado com dependentes químicos e alcoólatras, o padre Mauro Ziati Pereira criou a Casa do
Amor Fraterno. “O objetivo era formar um lugar para acolher essas pessoas”, conta o padre. Primeiro
surgiu o ambulatório, depois o centro de triagem onde há uma equipe com psicólogos, clínicos, psi-
quiatra, assistente social, enfermeiros e equipe de profissionais que dão suporte aos trabalhos.
No centro, o dependente passa por um processo de triagem com duas ou três etapas e, havendo
vaga e possibilidade, ele é internado para um tratamento de nove meses. Um dos pontos importantes
para determinar a internação é a vontade do dependente em fazer o tratamento.
“É uma grande satisfação resgatar vidas. Depois de nove
meses é uma vida que a gente devolve para a sociedade.”
P
adre Mauro Ziati Pereira, presidente
“Eu cheguei à casa através de uma tia minha. Eu queria me
internar , ela me trouxe e eu me internei . Tem que ter força
de vontade é fé em Deus em primeiro lugar. Agora, como
monitor, tento ajudar ao máximo os que estão aqui. Nós
conversamos bastante sobre a experiência de cada um. Aos
jovens que estão nessa vida do vício, digo para pôr consciên
-
cia na cabeça e parar com essa vida. Nada é impossível. Com
fé em Deus consegue .”
A
ndré Corrêa Leite, monitor
“Eu cheguei aqui de livre e espontânea vontade e passei dois
anos na casa. Hoje estou empregado e vou tocando minha
vida. Se Deus quiser, vou vencer na vida. Eu estraguei
minha vida, minha família, tudo com bebida alcoólica . Peço
para quem bebe procurar uma casa de recuperação . Tem que
pensar positivo no dia de amanhã .”
B
artolomeu Pereira, ex-residente
Casa do Amor Fraterno
Local: Rua Piratininga, nº 55
Jardim Das Amoreiras- José Bonifácio (SP)
Fundação: 1999
Contato: (17) 3245-1306
Programa exibido em: 15/02/08

Uma grande família Lição de Vida84
Conquistar a felicidade de uma criança é um dos melhores presentes que se pode ter e. muitas vezes,
não é preciso muito: um lar em paz, uma família unida. Por isso, a equipe da Associação Assistencial Nosso
Lar criou na entidade uma grande família e o resultado é a felicidade revelada no rosto de cada criança que
encontra ali seu abrigo.
Garantir uma boa base para um crescimento saudável, elevar a autoestima, oferecer carinho. São muitos
os desafios para manter o brilho nos olhos dos pequenos que, logo cedo, são colocados à prova nos obstácu-
los da vida. “Tentamos evitar, de todo jeito, que a criança se sinta responsável ou culpada pela situação dela,
porque não é. A criança é a maior vítima disso tudo, e a maior carência, o maior problema está na estrutura
familiar”, afirma o juiz da infância e juventude Evandro Pelarin. As crianças e jovens são encaminhados para a
entidade pelo Poder Judiciário, que atua como parceiro da Associação, avaliando as carências, dificuldades e
necessidade dos pequenos em ir para abrigos.
“As famílias dessas crianças que chegam até aqui, muitas vezes, são desestruturadas, os pais ou não
vivem juntos ou, se vivem juntos, fazem uso de drogas, álcool; temos vários casos nessas condições, sem ne-
nhuma referência religiosa, enfim, é muito difícil lidar com pessoas que vivem somente da ajuda dos outros,
acomodadas, colocam as crianças nessas condições. Alguns até colocam as crianças para fazer pedidos nas
ruas, usam os próprios filhos e abusam dos próprios filhos. A desestrutura familiar é a maior responsável por
isso, aliás, a existência do orfanato é consequência de uma desestrutura familiar.”
Aliviar um pouco o peso dessa criança, dar-lhe esperança, devolver o sorriso ao seu rosto – esse é o
desafio e o sonho de toda a equipe da associação, que atua conjuntamente para fazer da entidade mais que
um simples abrigo, transformando-a em uma grande família.
Associação Assistencial Nosso Lar de Fernandópolis
Uma grande família
“Nunca ninguém conseguirá ir
ao fundo de um riso de uma criança.”
Victor Hugo, escritor, poeta e dramaturgo francês

Uma grande família 85Paulo Alexandre Barbosa
Há 12 anos, um grupo de mulheres com filhos adotivos resolveu se unir e montar uma entidade para ajudar crianças
em situação de risco que precisavam de um abrigo, crianças que tiveram problemas com suas famílias e necessitavam de
um novo lar para continuar sua vida. Embora o estatuto preveja abrigo de crianças de 0 a 10 anos, a associação não estipula
data para que elas saiam, e por isso há crianças de até 13 anos. “A integração deles não se dá por idade, porque somos
como uma família e o vínculo que se forma é muito grande”, comenta a diretora financeira, Rosa Maria Furlan. “Os maiores
acabam cuidando dos menores, estabelecendo essa relação de irmãos, de fraternidade que nós vivemos aqui.”
A associação abriga 35 crianças e jovens que são encaminhados pelo Conselho Tutelar, Sentinela e Juizado da Infância
e Juventude. O objetivo é oferecer aos abrigados condições mínimas para a dignidade humana: sobrevivência, convivência e
transcendência.
Na casa, as crianças e jovens recebem aulas de reforço escolar, informática, tratamento odontológico, fisioterápico,
fonoaudiológico, médico e passeios.
“Eu sou voluntária , como todas as pessoas da diretoria, mas isso faz
um bem enorme, mais pra mim do que para as próprias crianças , porque
quando você trabalha pra alguém é muito mais reconfortante . Graças
a Deus e com a ajuda da população, nós conseguimos desenvolver nosso
trabalho. Eu falo que tem um anjo da guarda nos protegendo porque
tudo o que nós fazemos dá certo. Nós temos uma diretoria que participa
das reuniões da escola, do reforço escolar, e tudo o que nós fizemos
para os nossos filhos, nós fazemos pra essas crianças , nós nos senti-
mos mães de todas as crianças que passaram por aqui.”
E
lisabete Viana, presidente
“Cada criança tem uma história que a gente tem que levar em
conta. E a gente tenta resgatar a autoestima dessas crian
-
ças, pra não ficarem institucionalizadas . Todo nosso traba-
lho vale a pena quando a gente vê uma criança sorrindo , uma
criança feliz, uma criança contente , quando elas estão indo
para um lar, quando estão bem.”
M
ilene Carolina Attili, psicóloga
Associação Assistencial Nosso Lar de Fernandópolis
Local: Rua Silvio Mioto, nº 848- Jardim Eldorado- Fernandó-
polis (SP)
Fundação: 1996
Contato: (17) 3442-5959
Programa exibido em: 22/02/08

Lição de Vida86
Em um ambiente de calma, amor e paz se desenvolvem os trabalhos nessa verdadeira obra de Deus feita por mãos
humanas. Em cada canto das instalações, seja no hospital, na creche ou no recanto de idosos, é possível sentir a presença
Divina amparando a todos que ali são acolhidos.
Esse sentimento se revela nas palavras do residente que tem o mesmo nome do homenageado no recanto, João de
Deus, 70 anos, que teve vida difícil, mas não desaprendeu a sorrir. “Passei por muitas adversidades; foi bom para aprender
na vida. Estou aqui para aprender mais ainda”, diz o homem que veio de Belém para São Paulo e, então, para Taubaté. João
aprecia a religiosidade do recanto e o cuidado e preparação que têm as pessoas que cuidam dos residentes. Sentindo-se
em paz, ele comenta. “Se eu morrer aqui, vou direto para o céu.”
O carinho das irmãs é o que mais encanta dona Manuela Borges, outra residente. Ela fica feliz em receber essa aten-
ção e também em poder doar, ajudando outras pessoas com seu trabalho de costureira. Manuela reforma roupas, costura
lençóis e toalhas, uma forma de continuar partilhando e retribuindo o amor recebido.
Enquanto a presença Divina se faz presente em cada espaço da entidade, ela aparece também forte em toda a vida
da Irmã Luzia, primeira enfermeira do hospital Pio XII. Nas lembranças do início, ela recorda as dificuldades, o sentimento
bom de construir uma obra para ajudar e o companheirismo e ajuda mútua entre todos que atuavam. “Eu tomava conta da
enfermagem, da cirurgia e maternidade. A Madre Teresa, fundadora da Congregação, me pôs como responsável pela
enfermagem do hospital.”
Luzia lembra também dos desafios, como a vez em que chegou a ficar 36 horas
revezando-se dentro do centro cirúrgico e da maternidade. “O anestesista me olhou
e disse: ‘vai descansar um pouco que eu tomo conta da cirurgia para a
senhora’”, recorda-se, constatando que o mesmo sentimento de
solidariedade permeia a obra há 50 anos.
Obra de Serviço Social Pio XII
Presença Divina em todo lugar
“A verdadeira ciência descobre Deus
à espera atrás de cada porta.”
Pio
XII, papa de 1939 a 1958

87Paulo Alexandre Barbosa
Uma obra social referência no Vale do Paraíba, cuja amplitude envolve desde crianças a idosos. Esse é o trabalho da
Obra de Serviço Social Pio XII, que abrange a Creche Maria Izabel de Oliveira Alves Cavalheiro, o Hospital Pio XII e o Recanto
São João de Deus. A entidade nasceu do ideal de monsenhor Luiz Cavalheiro de servir as pessoas, ajudar a comunidade.
O hospital começou com um ambulatório, depois ganhou maternidade. Hoje tem como diferencial atendimento
específico em transplante de medula óssea, cardiologia e oncologia. Depois do hospital, veio o recanto e, então, a creche.
No recanto, são atendidos 60 idosos e, na creche, há 92 crianças. O Hospital conta com 98 leitos e há outra unidade na
região, o Hospital Antoninho da Rocha Marmo. “Quando o movimento no Pio XII cresceu muito e o espaço não era suficiente,
transferimos a maternidade para a outra unidade”, explica a presidente da entidade, Irmã Teresa Isabel.
“Quando cheguei aqui em 2004, já
tinham sido realizados, em média, dez
transplantes com sucesso. O trabalho
estava parado porque não havia enfer-
meira. Começamos uma luta e no ano de
2006
comemoramos 50 transplantes .
E
m 2007, realizamos 25. Nossa meta
é expandir para outros transplantes
e devagarzinho vamos conseguindo
transpor obstáculos . Atendemos o
litoral norte, o Vale do Paraíba e sul
de Minas Gerais.”
I
rmã Lúcia Maria, responsável pelo Setor de
O
ncologia
“Temos várias atividades e uma terapeuta ocupacional que trabalha
conosco e que é muita zelosa. Os idosos fazem vários trabalhos, de
bordados, bijuterias. Os homens fazem tapete de tear e trabalho de
madeira. Eles cuidam da horta e outro dia comemos curau do milho que
eles plantaram . Há também diversos passeios. Aqui formamos uma
família. As pessoas precisam pensar que não adianta ter casa, conforto
e não ter humanização . Nós procuramos fazer com que os funcionários
pensem e vivam isso.”
I
rmã Aparecida Ferraz, diretora do Recanto São João de Deus
Obra de Serviço Social Pio XII
Local: Rua Paraguassu, nº 51
Santana- São José dos Campos (SP)
Fundação: 1932
Contato: (12) 3928-3300
Site: www.hpioxii.com.br
Programa exibido em: 29/02/08

Lição de Vida88
Para homenagear todas as mulheres, o programa Lição de Vida Especial Dia Internacional da Mulher
escolheu uma mulher guerreira, sensível às questões da autonomia feminina, que tem história de luta pelas
mulheres e pelas causas sociais. Ela é mulher múltipla, que realiza várias atividades: é presidente da ONG
Arte sem Fronteiras, idealizadora e presidente de honra do Instituto Se Toque; mãe, avó, esposa, lecionou
durante 20 anos na USP, deu aula na Unicamp e presidiu o Fundo de Solidariedade e Desenvolvimento Social
e Cultural do Estado de São Paulo. É também uma mulher atuante, moderna e dinâmica.
Especial Dia Internacional da Mulher
Força feminina
“Há sempre uma mulher na origem das grandes coisas.”
Alphonse de Lamartine, escritor e político
Monica Serra, presidente do Fundo de Solidarie-
dade e Desenvolvimento Social e Cultural do Estado de
São Paulo no período de 01/01/2007 a 31/03/2010:
Nascida no Chile, Monica Serra foi bailarina inte-
grante do Corpo Nacional de Ballet daquele país. Foi lá
que conheceu o governador José Serra e conta que só
casou porque o então noivo aceitou sua condição: “Só
caso se não me obrigar a sair do ballet” – para ela,
trabalho é realização pessoal e a mulher precisa lutar
por esse direito. “Se ela quiser ser dona de casa, tudo
bem. Mas precisa ser decisão dela”. Monica considera
a atuação da mulher importante em todas as ativida-
des. “Quando se reuniram as oito comissões nas Oito
Metas do Milênio, depois de terem estudado separa-
damente, acabou resultando que os trabalhos em que
crianças eram apoiadas teriam que ter a participação
da mulher, e nos que foram trazidos como exemplo, a
participação da mulher era vital.”
A vinda de Monica para o Brasil, logo após o
casamento, foi inusitada: ela veio sozinha conhecer
os sogros porque José Serra não podia entrar no país:
“Eu não tive lua de mel – eu vim passar a lua de mel
com meus sogros. Eles são de família simples, não
podiam viajar para o Chile, para o nosso casamento.” A
mudança definitiva para o Brasil aconteceu em 1979 e
ela sentiu-se bastante acolhida. “Eu me senti em casa
desde o primeiro dia em que vim morar aqui. Parece
que o Brasil já morava na minha alma.”
Mulher e criança – “Já na prefeitura, eu me
preocupei com a criança e a mulher. Meu primeiro
empenho como presidente do Fundo da Prefeitura de
São Paulo foi conseguir 20 toneladas de leite junto
à população e às grandes empresas, para poder
distribuir leite para as crianças. Nessa distribuição,
conversando com diretoras de creches, eu percebi que
muitas dessas crianças eram órfãs em decorrência de

89Paulo Alexandre Barbosa
Especial Dia Internacional da Mulher
Local: Fundo de Solidariedade e Desenvolvimento
Social e Cultural do Estado de São Paulo
Programa exibido em: 7/3/08
muitas mulheres terem morrido por câncer de mama. Isso
me impactou demais porque eu estava vendo o outro lado
da questão, o efeito nas crianças. Eu descobri que existe
um mito em relação à morte, que impede as mulheres de
receberem as mensagens das inúmeras campanhas sobre
câncer de mama. Era uma questão de prevenção. Nasceu
a ideia do colar para simbolizar e ser instrumento educa-
tivo, com as pérolas diferentes simbolizando o tamanho
dos nódulos, assim poderíamos nos dirigir às mulheres
com um instrumento educativo que fosse vinculado à
beleza e não à morte. Aí tivemos a ideia de nos dirigir às
crianças, que já são os melhores agentes antitabagistas,
para levar também essa informação para dentro de casa.
Assim é o trabalho do Instituto Se Toque.”
Pedalando e aprendendo – “Esse projeto tem dois
eixos: um que é o ‘Pedalando’, de doar bicicleta para
crianças de 11 a 14 anos da zona rural, para que eles
consigam chegar à escola. Muitas dessas crianças andam
de 3 a 10 km para poder ir à escola e esse projeto permi-
te diminuir a erradicação escolar. Vivemos em uma cidade
em que 60% das crianças moram na zona rural. Na parte
‘Aprendendo’ são crianças um pouco mais velhas, de 14 a
17 anos. É um trabalho de geração de renda. Elas apren-
dem, em uma parceria com o SENAI, a consertar e montar
bicicletas. É uma qualificação que ajuda a tirar o jovem
das mãos de maus elementos que poderão tentá-los com
ganho fácil de dinheiro.”
José Serra, governador do Estado de São Paulo
no período de 01/01/2007 a 31/03/ 2010 e marido de
Monica Serra:
“A homenagem às mulheres é uma homenagem
óbvia. As mulheres são aquelas que, do ponto de vista
do governo, mais vivem as questões públicas, que tem
a ver com educação, saúde da família, tem a ver com as
condições de vida e elas têm valor muito especial, porque
nossas mulheres aqui no Brasil são de luta. Quanto à
Monica, ela é uma típica militante do terceiro setor; é uma
mulher que já tem atividade no plano cultural há muitos
anos e que agora, a frente do governo, toca projetos
sociais bastante importantes, com muita dedicação, muito
carinho, muito cuidado. Com muito empenho.”

Lição de Vida90
Juventude não é a idade cronológica, mas o estado de espírito. Sob essa perspectiva, podemos apre-
ciar o sorriso dos jovens que vivem no Lar dos Velhinhos e demonstram grande vontade de viver e prazer no
cotidiano.
“Aqui não pode ter ninguém mal. Pode ter lugar igual aqui, mas melhor não existe, não”, comenta feliz
Gervásio Alves Siqueira, residente. Para ele, o Lar é uma grande família onde se sente muito feliz.
A ideia de Gervásio é reforçada pelo amigo, José Rodrigues de Oliveira, que não hesita em afirmar: “Eu
estou no céu. Estava doente, sem poder trabalhar, sem recursos, praticamente passando fome, e hoje não
me falta nada. Temos um bom tratamento, comida boa, durmo na minha cama em um quarto bom”. José
Rodrigues teve um problema de saúde, ficou dois meses em cadeira de rodas na entidade e foi aos poucos se
recuperando. Voltou a andar e agora aproveita a vida no Lar, onde viveu uma das grandes surpresas da sua
vida. “Eu casei em 1961 e, depois de um tempo, nos separamos, sem brigar. Ela foi embora com uma menina
de dois anos, eu segui meu destino e vim para cá. Eu não tinha notícias dela havia 42 anos. Fiz minha apo-
sentadoria aqui na cidade. Minha ex-mulher foi se aposentar, achou meu nome no INSS e veio aqui me ver.”
Sentados na varanda da casa, os dois senhores conversam sobre mulher e vida como dois jovens
partilham experiências. Ali perto, outro jovem desenvolve sua criatividade fazendo artesanato em madeira.
Irisvaldo Pinheiro Alves faz quadros, carros de boi, caminhões, peças de todos
os tipos. Quando não está na sala de artesanato, pode ser visto brincando e
alimentando o bezerro que nasceu gêmeo, foi abandonado pela mãe e só
deixa Irisvaldo cuidar dele. “Sou feliz demais”, comemora.
Lar dos Velhinhos
Lugar para viver feliz
“Cada idade da vida tem a sua juventude.”
Honoré de Balzac, escritor francês

91Paulo Alexandre Barbosa
Criado por um grupo de rotarianos de Jales, o Lar dos Velhinhos nasceu em 1969 e abrigava oito idosos. Uma década
depois, a Sociedade São Vicente de Paulo assumiu a responsabilidade pela casa, que foi crescendo e ampliando o atendi-
mento.
Com uma área construída de dois mil metros, o Lar abriga mais de 60 idosos. Há ala masculina, ala feminina, capela e
refeitório. “Todos os espaços físicos a gente conseguiu, graças a Deus, com muita luta. Porém, o grande objetivo, que existe
desde o início, nunca foi abandonado por nenhuma diretoria: nos tornarmos a família dos idosos que aqui residem”, esclare-
ce o presidente, Alísio Frassato. “Nosso objetivo é abraçado não só pelos diretores, mas por todos os vicentinos.”
No Lar, os velhinhos fazem fisioterapia, recebem medicamentos e tratamento, têm assistência moral e espiritual, além
de trabalhos manuais.
“Temos certas atividades ligadas à religião. Antes
de cada refeição oramos o pai-nosso. Essa espiritu-
alidade ajuda os idosos a aceitarem melhor o fato de
estarem em uma entidade.”
A
ntonio Cláudio Francisco , gerente administrativo
“O idoso merece respeito. Nós que temos 60, 70 anos,
sabemos a dificuldade que os idosos têm. Sabemos o
preconceito que há com idosos. Fazemos de tudo para
que eles se sintam pessoas incluídas na sociedade, que
possam fazer parte de uma coletividade, mostrando que
eles têm muito a dar aos mais jovens .”
N
ilson Alves, ex-presidente da instituição
“Os idosos normalmente ficam muito parados, muito ociosos. Nós fazemos uma ligação do trabalho físico com o mental: vai
melhorando a parte física – eles vão conseguindo comer sozinhos , ir ao banheiro sozinhos – e com o mínimo de atividade que
consegue fazer sozinho , a cabecinha melhora automaticamente . Não é fácil porque eles vêm com o conceito de que têm que
ficar parados. Os que se viram sozinhos gostam de passear; já para os cadeirantes há brincadeiras lúdicas .”
A
driana Moraes Bogaf, fisioterapeuta
Lar dos Velhinhos
Local: Rua 15, nº 2819- Centro- Jales (SP)
Fundação: 1969
Contato: (17) 3632-3947
Site: lardosvelhinhosjales.org.br
Programa exibido em: 14/03/08

Lição de Vida92
Só quem sonha pode transformar sonhos em realidade. Quando a pessoa sonha e trabalha por esse sonho, vê que
é possível realizar, como fez o padre Antonio Maria Borges, que há 20 anos sonhou com um trabalho onde as crianças
pudessem ser abrigadas, que recebessem bom alimento, educação. Ele sonhou com essa obra e hoje vê seu sonho
materializado.
Mais do que presidente da entidade, ele se considera pai de todas as crianças que moram na instituição. Quando
padre Antonio Maria voltou de Portugal e foi para o Jaraguá, a creche tinha acabado de ser fundada. “Eu fui me en-
trosando nessa creche, fui assumindo a direção espiritual das pessoas e chegou o dia que assumi a creche mesmo”,
recorda. O centro juvenil veio depois e a obra continuou. “Após vários anos, nosso Senhor pediu que a gente construísse
uma casa não só para a criança ficar um dia, mas para ficar a vida, para aquelas que não têm
ninguém, que por um motivo ou outro foram abandonadas.”
O padre lembra que as primeiras crianças chegaram no dia 12 de
abril, há 12 anos, no mesmo dia em que 100 anos antes o menino
José Kentenich entrava em um orfanato na Alemanha. “Ele é funda-
dor do instituto ao qual pertenço, movimento Apostólico de Scho-
enstatt. José tornou-se padre”. Catarina Kentenich era a mãe de
José, que precisou deixar o filho em um orfanato e quando o fez, ao
despedir-se do filho, levou-o diante da imagem de Nossa Senhora
e disse: “Agora tu é a mãe. Cuida dele”. O nome foi dado como ho-
menagem, registrando a história. “Eu penso que toda criança que
entrar aqui tem que ser um novo José Kentenich, tem que ser visto
com a possibilidade de ser um santo, de ser um grande homem,
uma grande mulher. Independente do fato de ser abandonada, de
estar machucada, essa criança nasceu para ser grande. A cada
criança que entra aqui, a cada filho ou filha nova, eu digo à Nossa
Senhora – ‘mãe, é teu, é tua, cuida porque eu sozinho não posso.
Mas a Mãe pode’”, diz, emocionado, o padre.
Centro Educacional Catarina Kentenich
Trabalho que nasceu de um sonho
“A medida dos nossos sonhos é
a medida das nossas realizações.”
Padre José Kentenich, sacerdote
católico alemão

93Paulo Alexandre Barbosa
A necessidade da comunidade da região incentivou a criação do Centro Educacional Catarina Kentenich, que com-
preende o orfanato, a creche e o núcleo socioeducativo. A história da entidade começa com a fundação de uma pequena
escola paroquial, que se transformou na Creche Mãe Rainha, fundada pelo casal Guilherme e Rosália.
A instituição foi se expandido e ao lado da creche foi construído o Centro Juvenil. Anos depois, realizando um sonho
do padre Antonio Maria, foi construído, ao lado da creche, um lar. A creche atende 120 crianças de 2 a 5 anos, o núcleo
socioeducativo recebe 90 crianças e adolescentes de 6 a 15 anos no contraturno escolar, com a realização de atividades
culturais, esportivas e artísticas; e o abrigo atende 50 crianças de 0 a 18 anos, vítimas de maus tratos, abandono e em
situação de risco.
O lema da entidade, “Educar, amando sempre”, resume a missão, as intenções e os ideais de todos os envolvidos
nessa obra.
“Nossa primeira preocupação é a adaptação não só para
a criança - que nem entende que tem que ficar na creche ,
longe dos pais - mas também para a mãe, que vai deixar
a criança na creche com pessoas que ela não conhecia .
T
oda nossa preocupação é com a adaptação da famí
-
lia, para que confiem, deixem as crianças e trabalhem
tranquilamente durante o dia. O padre Antonio é o anjo
enviado por Deus para nossa região e nossa creche .”
M
aria Lucilene Rodrigues, diretora da creche
“Nós promovemos atividades recreativas , educacio
-
nais, de artesanato , tudo para que eles não fiquem
na rua após o período escolar. A criança , o jovem,
fica conosco e acaba aprendendo uma profissão,
tendo uma qualidade melhor de vida.”
K
arina Aparecida da Silva, diretora do núcleo socioeducativo
Centro Educacional Catarina Kentenich
Local: Dona Gertrudes Jordão, nº 324- Jaraguá- São Paulo (SP)
Fundação: 1967
Contato: (11) 3941-3628
Programa exibido em: 23/03/08

Lição de Vida94
Quando a esperança é afetada, quando a dor é insuportável, a fé se abala. Não é fácil descobrir que um
filho, neto ou uma criança que conhecemos tem uma doença grave que a fará sentir dores terríveis, passar
por tratamentos longos e difíceis. A pessoa fica perdida, sem rumo.
Foi assim, desnorteada, que Lucinéia Sarter chegou com o filho Leandro, 13 anos, de Cuiabá, em São
José do Rio Preto. Encaminhada por profissionais do Hospital de Base, ela não sabia o que a esperava na casa
onde moraria pelos próximos meses com o filho, que precisaria passar por um tratamento médico para fazer
um transplante de medula.
Sem ter onde ficar na cidade desconhecida, Lucinéia enfrentou o medo do desconhecido para estar ao
lado do filho. Tinha receio do que iria encontrar, de como seria tratada. A insegurança logo deu lugar à tran-
quilidade e à confiança quando percebeu que encontrou um lar onde teria apoio nas horas difíceis, conviveria
com outras pessoas na mesma situação e descobriria que é possível superar as dificuldades e vencer.
Quatro meses depois da chegada, Leandro, completamente ambientado, brinca com os outros garotos
que, como ele, estão hospedados na entidade durante o tratamento. Com o filho se recuperando e prestes
a voltar a ter uma vida normal, Lucinéia não poupa agradecimentos a todos que a auxiliaram nessa fase tão
Associação dos Amigos da Criança com Câncer ou CardiOp atia (AMICC)
Uma nova família
“A tua fé te salvou.”
(Lc 7,50)
difícil de sua vida, cuidando do seu filho, dando-lhe abrigo
e, sobretudo, ajudando-a a recuperar a fé. Confiante, a mãe
consegue afirmar sem dúvida: “Eu vim em busca da cura e
vou voltar com ele curado. Se Deus quiser.”

95Paulo Alexandre Barbosa
Com um trabalho respeitado, a Associação dos Amigos da Criança com Câncer ou Cardiopatia – AMICC serve de
lar para jovens e crianças que chegam de outros locais e precisam ser submetidos a tratamentos contra o câncer e
doenças cardíacas. A entidade nasceu com um grupo de médicos de São José do Rio Preto que pretendia impedir que
os pacientes interrompessem o tratamento por dificuldades financeiras.
A AMICC hospeda crianças e adolescentes de outros locais, além de dar medicação, alimentação, cesta básica,
suporte psicológico e até presentes em datas comemorativas. “Para as crianças da cidade, que não têm casa própria,
desenvolvemos um projeto para construir uma”, afirma a presidente, Claudia Bassitt Silva. “Fazemos tudo para atender
tanto a carência financeira quanto emocional.”
Para desenvolver o trabalho, a entidade conta com parcerias em todas as universidades da cidade, com hospitais,
médicos e empresas.
“No começo, a família tem dificuldade de aceitar que o filho
tem câncer ; não entende , acha que câncer é o final. Ten-
tamos fazer entender que não é assim, que um tratamento
no início pode salvar. Temos índices altos de recuperação ,
principalmente quando a doença é diagnosticada no início:
cerca de 70% de cura. Depois de um mês ou dois, a mãe co-
meça a aceitar e a tratar diferente ; vê que não é só o filho
dela. Aqui na casa, ela descobre que há outras crianças
também passando pelos mesmos problemas, o que ajuda a
não se sentirem sozinhas . Temos casos de crianças que,
em um ano, obtêm êxitos maravilhosos no decorrer do
tratamento . Mas sabemos que o câncer não cura da noite
para o dia.”
M
aria Regina Modernel, assistente social
“Nosso foco de trabalho é a orientação sobre a
doença , o tratamento . As mães passam por um proces
-
so adaptativo. Primeiro têm o choque da doença e vão
descobrir o que é. Depois vão se adaptando a uma nova
rotina e a gente vai tratando , geralmente em grupo e,
quando há necessidade, fazemos atendimento individual.
P
ara as crianças , o acompanhamento também é impor
-
tante, porque a doença interrompe o processo de desen-
volvimento natural. Ela deixa de ir à escola, de brincar
com os amigos, e vai para uma cidade onde não conhece
nada e muitas vezes não sabe o que está se passando .
E
ntão a gente trabalha esse processo adaptativo e a
interação com outras crianças é importante .”
P
riscila Regina Torres Bueno, psicóloga
Associação dos Amigos da Criança com Câncer ou Cardiopatia – AMICC
Local: Rua Lino Braile, nº 355- Jardim Fernandes
São José do Rio Preto (SP)
Fundação: 1996
Contato: (17) 2137-0777
Site: www.amicc.com.br
Programa exibido em: 04/04/08

Superação
Lição de Vida96
Quem olhava o Alan sempre deitado, de cabeça caída, usando fralda e andando de cadeira de rodas não
imaginava a transformação que ele vivenciaria, ou, como diz a mãe, Maria de Fátima Bernardo, o milagre que
aconteceu depois que ele passou a frequentar o Lar Nossa Senhora da Salette. Pouco mais de um ano depois,
o rapaz joga bola, basquete, empina pipa. “É uma pessoa normal para mim”, afirma emocionada Maria de
Fátima, que compartilha a felicidade com os outros filhos e todos que conheceram o garoto e acompanharam
sua mudança.
A evolução de Alan é fruto não somente das técnicas utilizadas na entidade, mas especialmente do cari-
nho com que são tratados todas as crianças e jovens com deficiências múltiplas que procuram ajuda da casa
para ter uma vida melhor em sociedade. O Lar busca resgatar o prazer deles de se comunicar e aprender. O
prazer de estar em grupo e até o de voltar para casa. O prazer de viver.
E quando todos lutam juntos - pais, profissionais e entidade -, o resultado é tão gratificante quanto é
intenso o brilho no olhar do menino que, junto com os amigos, corre e joga bola. Nesse momento, o coração
da mãe bate mais forte e ela se sente agradecida a Deus por não ter desistido, por ter acreditado e confiado.
Como afirma Maria de Fátima, “Agradeço ter encontrado pessoas como eu encontrei para cuidar comigo do
meu filho.”
Lar Nossa Senhora da Salette
Recuperando o prazer de viver
“Só o que faz bem ao homem,
pode fazê-lo feliz.”
Santo Agostinho

Superação
97Paulo Alexandre Barbosa
A primavera de 1992 se aproximava quando, naquele mês de setembro, o capelão do Centro Técnico Aeroespacial
(CTA), Padre Alfredo Granzotto, decidiu fundar no Vale do Paraíba um espaço para ajudar crianças e jovens com dificulda-
des. Iluminado por Deus e cercado de boas pessoas que se preocupam em fazer o bem todos os dias, o Lar dá mostras de
exemplos de superação. O segredo do trabalho, além da técnica e estrutura, é o amor, o carinho que a equipe dedica.
“O trabalho começou com uma casa aqui mesmo no bairro, atendendo algumas crianças. Depois foi crescendo,
expandindo, como todo trabalho bem feito que se inicia com uma boa intenção”, explica o presidente da entidade, Celso
Luis de Carvalho.
Atualmente, o Lar atende 20 crianças com deficiências múltiplas, em regime de abrigo – que ficam 24 horas – e
semi-abrigo – voltam para casa à noite ou aos finais de semana. Essas definições e o encaminhamento para a entidade
são definidos pelo Juizado da Infância e pelo Conselho Tutelar.
“Nosso objetivo com a família é resgatar vínculos, para que no futuro as crianças e os jovens do abrigo possam retor-
nar para casa. No semi-abrigo, a família vem, ajuda a dar banho, comida, para manter o vínculo e participar do desenvolvi-
mento do filho. Nós tentamos mostrar a importância dos familiares na vida do deficiente. Nós podemos oferecer o melhor,
mas o principal é o afeto que a família oferece.”
“Trabalhar aqui é um privilégio porque é uma oportunida -
de de estar mais perto de Deus. Essas crianças são uma
lição de vida. Aqui nós somos mais do que profissionais ,
somos escolhidos por Deus para uma missão.”
M
aria de Cássia D. Pereira Silva, assistente social
“Nós temos aqui uma boa estrutura, mas sabemos que não
adianta a técnica . Posso ter o melhor currículo do mundo;
se não tenho paixão pelo que estou fazendo , minha técnica
é fria. A técnica eu tenho obrigação de aprender , preciso
aprender . Mas o amor nasce dentro de mim.”
S
ilvana Elisabete M. Pinto, psicóloga
“Quem não tem contato com esse tipo de trabalho não
tem noção como é prazeroso acompanhar os resultados.
E
special não é apenas a criança , mas todos nós. Somos
especiais . O prazer de dar é grande , mas o maior prazer
é o de receber. Quando eles nos dão um sorriso, não há
dinheiro que pague essa felicidade imensa .”
S
andra Regina de Freitas Batista, fonoaudióloga
Lar Nossa Senhora da Salette
Local: Rua Edílson Sabino dos Santos, nº 520
Conjunto Dom Pedro I- São José dos Campos (SP)
Fundação: 1992
Contato: (11) 3966-1899
Site: www.larsalette.org.br
Programa exibido em: 11/04/08

Lição de Vida98
“Jesus Cristo! Jesus Cristo! Jesus Cristo, eu estou aqui!” – a música de Roberto Carlos embala
a roda formada por dependentes químicos em recuperação. Eles pedem um olhar do Senhor, uma
oportunidade para recomeçar suas vidas. Eles perseveram e buscam em Deus a força que precisam
para a vitória.
Perseverança é o sentimento que move Rafael, que tenta novamente a recuperação. Depois de
passar três anos sem usar drogas, uma recaída o levou de volta a esse mundo. “Se recaí é porque
preciso aprender algo. Nunca devemos achar que sabemos tudo; eu sempre estarei aprendendo”,
diz. O Recanto busca trazê-lo de volta à vida nos quatro meses de tratamento.
Rafael conta que para chegar à entidade teve que aceitar que perdeu para as drogas, mas
tomando consciência de que enquanto há vida, há esperança. Esperança de deixar de fazer parte do
mundo das drogas e buscar uma nova vida, como ele diz, acreditando que existe um Deus que pode
nos ajudar e que tudo depende também da atitude de cada um.
A motivação para perseverar ele encontra na vontade de voltar à família, aos filhos, à esposa.
Por eles, Rafael luta contra si mesmo. A seu favor tem o apoio da equipe do Recanto Vida e toda a
natureza que cerca o lugar, uma importante aliada para promover a reintegração dos que procuram
ajuda da entidade.
Recanto Vida
O resgate da dignidade
“A vitória pertence aos perseverantes.”
Napoleão Bonaparte , imperador da França

99Paulo Alexandre Barbosa
Em meio à rica natureza de Peruíbe, no litoral de São Paulo, uma equipe realiza um trabalho especial para ajudar
dependentes químicos a se recuperar – com a união, eles dão esperança de uma nova vida. A entidade teve sua semente
lançada no final de 1996, quando um grupo de jovens resolveu encarar esse desafio, criando o Recanto Palmeiras – que
depois seria chamado de Recanto Vida e Associação Padre Leonardo Nunes.
De 12 internos, passou a atender de 25 a 30, que vivenciam um trabalho de quatro meses de recuperação. Com
um histórico de defesa da vida, atuando como presidente do Conselho Municipal Anti-Drogas da cidade, o presidente do
Recanto Vida, Marcelo Lourenço, conta que a maioria chega desacreditada e vai entrando aos poucos dentro do que eles
chamam de tripé para recuperação: oração, disciplina e trabalho. De manhã, participam de atividade espiritual e depois
realizam trabalhos no sítio – os trabalhos têm um processo terapêutico, começando com serviços mais leves e aumentan-
do, com a abstinência, para desintoxicar e tirar a atrofia muscular. À tarde, são feitas reuniões dos grupos de autoajuda.
“A pessoa chega desacreditada . Por isso, temos que fazer um trabalho mais amoroso no começo, amparando e
tentando mostrar a importância de se tratar. Na hora que a pessoa manifesta o desejo de ajuda, não se pode perder
tempo, porque pode não ter esse momento novamente . Nós não temos muros, nem portão e isso torna o trabalho mais
difícil. A gente precisa que a pessoa crie seus próprios muros dentro dela. Tentamos mostrar que Deus nos deu op-
ção de escolha. Não adianta culpar o destino : é você quem faz o seu destino . Não importa o que aconteceu de errado.
N
asça de novo na sua vida sabendo que existe um Deus amoroso que cuida de todos nós e está aqui presente , mas você
precisa fazer a sua parte. Ele não faz nada sozinho .”
M
arcelo Lourenço, presidente
“As atividades no campo ajudam a mostrar que todos são
cidadãos e podem ser úteis para a sociedade pelo trabalho.
E
u voltei a trabalhar aqui por gratidão. O que eu recebi
de graça, tenho que dar de graça. Quero retribuir o que
recebi.”
A
lmir Alves da Silva, ex-residente e monitor
“Eu vim para fazer tratamento , mas fui me identificando ,
gostando de estar junto com meus iguais. Estando com eles,
estou sempre em constante recuperação . Não é bom que eu
retome minha vida profissional . Minha profissão era muito
solitária – eu era motorista de caminhão . Aqui eu me realizo
até profissionalmente . Eu me fortaleço com o aprendizado e a
permanência . Estou ficando por aqui, tendo sempre em mente:
só por hoje.”
J
oel Brosselin, ex-residente e monitor
Recanto Vida
Local: Rua Estrada Armando Cunha, nº 1336
Jardim dos Prados- Peruíbe (SP)
Fundação: 1997
Contato: (13) 3458-4256
Site: www.recantovida.org.br
Programa exibido em: 18/04/08

Lição de Vida100
Comer, correr, brincar – desejos simples de criança, atendidos graças ao amor de quem quer resgatar a
beleza da infância, auxiliar os necessitados, unir a família de Deus na qual todos são irmãos e se ajudam. Esse é
o olhar benevolente das irmãs que atuam na Creche Jesus de Nazareth e também o olhar da equipe que sabe a
importância do carinho na vida dos pequenos.
A importância dessa atitude se reflete no exemplo de doação amorosa que vem da irmã Adriana, diretora
geral da entidade, fundadora da obra e responsável pelo trabalho social. Adriana veio da Itália há 30 anos e se
instalou de coração no Brasil. Chegando à Região do ABC Paulista, começou no local um trabalho de auxílio aos
necessitados. A irmã ajuda a melhorar a saúde de bebês com desnutrição em áreas de extrema pobreza, auxilia
famílias que enfrentam alcoolismo, oferece auxílio material e espiritual aos necessitados. “No Jardim Laura
tivemos um piloto de recolher nas favelas bebês desnutridos - naquela época havia 20 crianças. Hoje elas estão
no centro comunitário, algumas são líderes, estão trabalhando”, fala, com um largo sorriso estampado no rosto.
“O que eu posso querer mais? Nada. É minha grande alegria.”
Nos gestos, nas palavras, nas atitudes, irmã Adriana demonstra que vive para levar alegria, promover bem
estar entre os carentes – é a sua missão, para a qual se entregou de corpo e alma no país que adotou, na
comunidade que escolheu como família. “Amo o Brasil. Sou mais brasileira que italiana. Amo muito as famílias,
as crianças. Quando sei que tem uma família precisando, me organizo para dar uma força para ajudar a sair
daquela situação. Precisamos resgatar a verdadeira família que Deus criou. Agradeço a Deus por ele me ter me
enviado aqui para o Brasil. Eu me sinto realizada junto com Deus.”
Creche Jesus de Nazareth
Servindo para transformar
“Ensina o adolescente quanto ao caminho a seguir; e
ele não se desviará, mesmo quando envelhecer.”
(Pr 22,6)

101Paulo Alexandre Barbosa
Irmã Adriana veio para o Brasil desenvolver trabalhos na Pastoral de São Bernardo do Campo. Primeiro ficou 16
anos na Paróquia São Geraldo Magella, depois foi para a Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe. Vendo a necessidade
da comunidade local, pediu a ajuda de amigos para construir a Creche Jesus de Nazareth.
A obra cresceu, ganhou outra unidade, possibilitando ampliar o atendimento, que abrange quase 300 crianças.
“Temos um trabalho pedagógico com as crianças da faixa etária de 3 a 6 anos. Essas crianças têm monitoramento
diário da pedagoga”, explica irmã Deuzelina, presidente da creche e responsável pelas atividades. Ela conta que, como
há muita procura, a prioridade de atendimento é para famílias necessitadas, cujos pais precisam trabalhar e deixar os
filhos em período integral.
“Nós procuramos transmitir para as crianças valores do amor, do companheirismo . A participação dos
pais é muito importante nesse processo e, por isso, a gente procura trazer os pais, a comunidade , para que
nosso trabalho aconteça da melhor forma. Essa é nossa meta. Conseguir trazer os pais, a comunidade e
propiciar às crianças um local educativo .”
M
aria Márjore de Freitas Araujo, pedagoga
“A gente trabalha visando o social, mas também o individual, porque cada
criança é única, cada criança traz seus conhecimentos . Outro aspecto
é que nós trabalhamos a aprendizagem com a brincadeira , de maneira
lúdica , diferenciada , diversificada . Eles amam. E é bom ver o avanço das
crianças , cada um do seu jeitinho , de sua forma. O trabalho da creche
visa o desenvolvimento da criança e quando notamos esse resultado, é
muito gratificante pra nós.”
E
dvânia Maria da Silveira, professora
Creche Jesus de Nazareth
Local: Rua Rita Mendes de Oliveira, nº 419
Jardim das Orquídeas- São Bernardo do Campo (SP)
Fundação: 1994
Contato: (11) 4358-3006
Programa exibido em: 23/04/08

Lição de Vida102
Em um mundo tão carente, a obra social da Igreja ganha cada vez mais importância para ajudar as
pessoas a saírem de uma situação difícil, a levarem uma vida com dignidade ou até mesmo para se trans-
formarem, se redescobrirem, possibilitando o autoconhecimento. Mônica Pinheiro da Costa não imaginava a
mulher forte que descobriria, quando deu o primeiro passo para um futuro novo, batendo à porta certa para
pedir ajuda.
Mônica chegou à Casa João Paulo II há 13 anos, como muitas outras pessoas, necessitada não só de
auxílio material, mas principalmente espiritual. “Naquele momento, era o que eu mais precisava”, diz. Ela
agarrou a oportunidade que lhe deram; transformou o carinho que recebeu em força para lutar; usou o amor
para transformar sua vida.
Hoje, Mônica é assistente social da casa e aproveita sua história para ajudar outras mulheres que, como
ela, chegam tão necessitadas. “Eu vim como uma assistida e sempre digo isso para as mãezinhas que eu
atendo aqui: ‘eu sou igual a vocês, não existe diferença. Não é porque tenho curso superior que tem alguma
diferença’”, comenta. Ela relata que conseguiu vencer a necessidade material que tinha quando chegou à
casa porque recebeu uma oportunidade de voltar ao mercado de trabalho. Entretanto, apesar de reconhecer a
importância desse apoio, revela o que mais lhe ajudou. “A ajuda espiritual foi a que mais contribuiu para que
eu voltasse a ser uma pessoa alegre, com muita motivação para auxiliar essas pessoas que estão chegando
com essa necessidade, como eu cheguei, e acabei encontrando aqui essa acolhida espiritual.”
Casa João Paulo II
A garantia de novas perspectivas
“A Igreja é a carícia do
amor de Deus ao mundo.”
João Paulo
II, papa de 1978 a 2005

103Paulo Alexandre Barbosa
Ligado à Paróquia Nossa Senhora do Rosário – Catedral, o Centro Comunitário João Paulo II, conhecido como Casa
João Paulo II, começou a funcionar nas dependências da Catedral de Santos em 1976, atendendo mulheres carentes,
marginalizadas e idosas. Com o tempo, aumentou o número de atendimentos e o serviço se expandiu. “Nós temos dois
trabalhos: um com as famílias - a gente atende as crianças, as mães, as mulheres da família e temos vários cursos - e
outro é um trabalho com as idosas. Então, nós atendemos, fazemos curativos, socorremos rapidamente e depois encami-
nhamos para casa ou para o lugar devido”, explica o presidente da entidade, padre José Myalil Paul.
Com as mulheres, é feito um trabalho de produção e geração de renda, em que são selecionadas as mães que
têm mais habilidades para fazer tricô e crochê, pintura em tecido e trabalho artesanal com fitas. O material produzido é
encaminhado para bazares e grande parte da renda é revertida para as mães que atuaram na produção.
“As irmãs canossianas são uma peça importantíssima ,
porque o pároco da Catedral é presidente nato da obra,
mas diariamente ele não pode, nem deve, estar presente .
E
ntão, as irmãs é que coordenam o trabalho da Casa João
P
aulo II. Nós trabalhamos pelas famílias. A família é um
santuário de Deus, um dos centros mais importantes da
sociedade.”
P
adre José Myalil Paul, presidente
“N
ossa fundadora sempre dizia que da educação depende toda a vida da pessoa.
A
gente tenta, através desse princípio, que essa proposta seja realmente um
diferencial na vida delas. Por isso, a gente amarra a família, pra fazer com que
essa família seja um elo entre a comunidade e a obra.
N
ós trabalhamos com três ramos: a educação , a evangelização e a assistência
à pessoa que sofre. Inclusive, estamos completando 200 anos de congregação ,
num ano jubilar, com várias atividades no mundo inteiro. Aqui em Santos foi a
primeira casa, foi aqui que a Congregação entrou no Brasil.”
I
rmã Maria Tereza Sestari, pedagoga
“Em nosso trabalho com as idosas nós achamos
por bem dar esse enfoque de uma maneira mais
evangélica , enaltecendo os valores evangélicos ,
fazendo com que elas, através desses valores,
valorizem a própria vida, acreditem no potencial
que têm dentro de si. Elas vêm só pra pedir ajuda,
elas acham que não têm nada pra dar. Durante
nossas reuniões vamos detectando valores, as
qualidades dessas senhoras , e vemos que elas
têm muito a nos ensinar .”
I
rmã Cecília Maríngolo, coordenadora dos cursos de reflexão
comunitária
“A casa tem três eixos de trabalho: assistencial , promocional e
educacional . O educacional é um trabalho coordenado pelas re
-
ligiosas, as irmãs canossianas , e abrange 80 crianças , que têm
várias atividades, como reforço escolar, artesanato , computa-
ção. O centro é uma complementação do lar e da escola.”
P
ilar Garcia dos Santos, administradora
Casa João Paulo II
Local: Rua Sete de Setembro, nº 45
Centro- Santos (SP)
Fundação: 1976
Contato: (13) 3234-2500
Programa exibido em: 02/05/08

Lição de Vida104
Uma mulher veio de outro ponto do nosso planeta para nos mostrar que ninguém é feliz sozinho e, por
isso, é fundamental buscar não só a própria felicidade, mas proporcioná-la também para o outro. Ela acabou
transformando a comunidade em que se instalou.
A espanhola Concepcion Rodriguez Garcia, a Conchita, que veio ainda pequena para o Brasil, idealizou a
associação que ajudou moradores de áreas verdes da cidade de Itanhaém a não serem desalojados, auxi-
lia crianças no processo escolar e conscientiza sobre meio ambiente. Tudo começou no quintal da casa de
Conchita, mais precisamente onde era o galinheiro. “Começamos um trabalho simples. Na casa dos fundos,
numa área de terra. Iniciamos um trabalho com a comunidade e aí fomos crescendo pouco a pouco e, com a
graça de Deus, estamos aqui”, conta. “Onde nós estamos hoje era um galinheiro, uma granja, e aí eu e minha
família, com a ajuda de alguns amigos, adquirimos essa área e a transformamos de galinheiro em moradia.
Ficamos todos no ‘puleirinho’ de alegria, e lá no fundo eu deixei um pedacinho para minha residência, e a
maior parte ficou para a comunidade. Aqui as crianças brincam e estão vivendo”, revela a mulher, que é mãe
de treze filhos, sendo onze legitimados e dois legítimos.
Conchita luta pelos filhos e pela comunidade que adotou, além do país em que resolveu viver. Cada obs-
táculo é uma batalha para oferecer mais à sociedade. “Da cozinha de madeirite, conseguimos uma cozinha
mesmo; do pedaço de chão, temos um teto; mas, acima de tudo, das crianças estamos fazendo cidadãos,
sem deixá-las perdidas na maledicência da rua ou da violência. Esse é o maior desafio, é a vitória, é nossa
maior alegria”. Com seu trabalho, Conchita oferece cidadania às crianças – a felicidade a gente comprova
estampada no rosto delas.
Associação de Amigos e Moradores de Áreas Verdes (AAMA VI)
Cidadania para promover felicidade
“Cidadania é um direito. Felicidade
é uma conquista.”
Lema da AAMAVI

105Paulo Alexandre Barbosa
A Associação de Amigos e Moradores de Áreas Verdes - AAMAVI – nasceu para defender o direito dos moradores do
bairro Jardim Umuarama, em Itanhaém (SP), que eram acusados de ter invadido áreas verdes.
Para ajudar a população, Conchita idealizou a entidade, que luta pela implantação da justiça social, desenvolve
projetos sociais e promove a conscientização ambiental. “Mostramos para as crianças que meio ambiente não é só o que
está longe. Nós precisamos preservar a baleia, mas não é só isso: nós precisamos ver o nosso chão, o nosso dia a dia,
como nós estamos tratando o lixo. Se eu não uso, eu vou deixar para que alguém possa usar - é o reciclável”, diz Mirian
Pardini, presidente da associação. “Então, esse material, que pode ser reciclável, muitos acabam indo vender e conse-
guem o dinheirinho para uma bala a mais ou para colocar o pãozinho a mais em casa, e a criança vai adquirindo esse
senso. Não só ela preserva o meio ambiente, mas acaba tendo lucro, então o meio ambiente também traz lucro. O meio
ambiente é não jogar lixo na rua, é plantar alguma coisa no seu próprio quintal. Não é só prestar atenção na árvore lá do
Amazonas que está sendo desmatado. Começa desde o quintal da gente.”
A entidade conta com projetos para crianças, jovens, adultos, idosos, pessoas com necessidades especiais, envol-
vendo toda a família.
“Nós procuramos dar exemplo de mudança de comportamento ,
de enxergar o outro de forma menos agressiva, porque o ser
humano hoje se tornou mais agressivo por conta desse mundo
competitivo, da competição excessiva. O competir saudável é o
que leva ao progresso, que é eu querer estar sempre me supe-
rando, eu estou competindo comigo mesma, quero me superar nas
coisas boas. É esse exemplo e essa semente que a gente planta
com as crianças .”
M
irian Pardini, presidente
“As atividades são lúdicas - através de música , brincadei
-
ras, teatro, a gente ensina sobre meio ambiente , respeito
ao ser humano , solidariedade, harmonia , conceitos que
não são muito vistos hoje em dia. Eu procuro dar enfoque
nesses sentimentos que hoje em dia já não são muito prati-
cados.”
M
árcia Priante Pinto, professora e coordenadora geral
AAMAVI – Associação de Amigos e
Moradores de Áreas Verdes
Local: Alameda Francisco André de Lima, nº 11
Jardim Umuarama- Itanhaém (SP)
Fundação: 1997
Contato: (13) 3426-0784
Programa exibido em: 09/05/08

Lição de Vida106
União é o que mantém forte os laços de Valdo Jesus Pereira Leite e suas cinco filhas e torna possível
superar os obstáculos da vida. O apoio, a família encontra na Colônia Veneza. É a entidade que proporciona a
Valdo a tranquilidade de acolher Rosângela, Amanda, Raíssa, Ana e Carina no horário em que elas não estão
na escola e enquanto ele trabalha.
A educação rígida, o incentivo à prática de esportes, as oportunidades de estudo oferecidas pela Colônia,
garantem ao paizão o apoio de que ele precisa desde que se viu sozinho com as cinco meninas. Exemplar, ele
oferece sua contraparte sendo um pai presente, acompanhando de perto o desenvolvimento das filhas. Valdo
conversa com os professores, pergunta como elas estão, quer saber cada detalhe. “Se me ligam por qualquer
emergência, eu posso estar onde estiver, que o mais rápido possível largo o que estiver fazendo e venho. Em
primeiro lugar, são minhas filhas”, diz.
As filhas sabem disso, sentem esse amor e tentam retribuir, apoiando o pai esforçado. A mais envolvida é
Rosângela, filha mais velha que acabou assumindo, em parte, o papel de “mãe” das menores. Apaixonada por
esportes, ela gosta de jogar futebol na Colônia e garante cuidar direitinho das irmãs: “a gente sempre procu-
ra trabalhar com união, porque a união faz a força e é isso que a gente tenta fazer”. A paixão pelo futebol é
dividida com a irmã Raíssa. Já Amanda, gosta mesmo é de matemática.
Independente da preferência, a família atua unida, como um verdadeiro time que se ajuda, se ampara e
luta junto pelos objetivos, como deve ser a base de uma família.
RECANTO COLÔNIA VENEZA
Promovendo união e harmonia nas famílias
“Paz e harmonia, estas são as verdadeiras riquezas de uma família.”
Benjamin Franklin, jornalista, cientista, diplomata e inventor norte-americano

107Paulo Alexandre Barbosa
Em meados dos anos 80, o frei dominicano Giorgio Callegari criou o Centro Ecumênico de Publicações e Estudos Frei Tito
de Alencar Lima para atender a comunidade carente de Peruíbe, educando e promovendo os direitos humanos. Com a compra
de um terreno de 10 km, começava o sonho de acolher os necessitados. Esse é o local onde hoje funciona a Colônia Veneza, que
atende em suas duas unidades mais de 400 crianças e jovens, de 6 a 16 anos.
A diretora administrativa, Ormezinda Santana, conta que a obra foi resultado de uma luta do Frei Giorgio, que teve toda sua
vida voltada ao trabalho social com crianças e adolescentes.
A Colônia promove a transformação pela música e pela arte. A entidade desenvolve atividades socioeducativas, oferecendo
aulas de arte, atividades esportivas, reforço escolar, música e ensinando valores familiares e sociais. Os alunos também
recebem orientação sobre defesa do meio ambiente. A capela, decorada em mosaico com cerâmica italiana, é ponto turístico no
litoral sul de São Paulo.
Em 1993, foi construída a unidade II da entidade, a Escola Família Agro-Ecológica, para atender jovens filhos de
agricultores.
“Aos 13 anos eu fui aluna e a equipe me mostrou um caminho diferente , me
incentivou a querer e buscar sempre mais. Hoje estou na faculdade graças
ao apoio da entidade e coordeno uma equipe de educadores maravilhosa, que
acredita muito no trabalho. A grande maioria é formada por ex-alunos . A
gente fica aqui porque sonha junto e vira parte disso. E isso não acontece
só comigo, mas com todos os funcionários . A gente acredita no que faz,
que pela educação podemos ajudar a construir uma mundo melhor e fazer a
diferença na vida dessas crianças . No nosso trabalho tentamos mostrar
às crianças que todos têm um talento e só precisamos de oportunidade para
desenvolvê -los.”
E
liana de Souza Torres, coordenadora pedagógica e ex-aluna
“Eu entrei aqui com seis anos e participei de todas
as atividades. Com 13 anos passei para a padaria,
aprendi panificação e confeitaria, e aos 16 me tornei
funcionário . Hoje sou formado em hotelaria com
a ajuda da Colônia, que me auxiliou com bolsa na
faculdade e exerço minha profissão como garçom,
controlando estoque. Estou fazendo um curso de
inglês, me aperfeiçoando para embarcar no transa
-
tlântico e trabalhar um tempo lá.”
M
urilo Paixão Pereira, ex-aluno e funcionário da entidade
Recanto Colônia Veneza
Local: Rua Darcy Fonseca, nº 181- Jardim dos
Prados- Peruíbe (SP)
Fundação: 1986
Contato: (13) 3458-1717
Site: www.coloniaveneza.com.br
Programa exibido em: 16/05/08

Lição de Vida108
A comemoração de um ano do Programa Lição de Vida trouxe uma entrevista, realizada na sede da Can-
ção Nova, em Cachoeira Paulista, revelando momentos importantes, desde sua fundação, os principais desafios
enfrentados nos 30 anos de existência e os projetos para o futuro da Canção Nova, que começou pequena e, com
a força de Deus, se tornou grande.
O programa também marcou o início de uma série especial sobre as obras sociais da Canção Nova.
Especial de primeiro aniversário
Vencendo desafios
“Onde a pobreza se une à alegria, não existe cobiça nem avareza.”
São Francisco de Assis
Wellington Silva Jardim, Eto, vice-presidente da
Fundação João Paulo II
Eto conheceu o padre Jonas em 1973, em um encontro da
Renovação Carismática em Bananal (SP). Sediado em Lorena
(SP), o movimento começava a crescer. “Precisavam de alguém
que administrasse esses encontros, que saísse pelo Brasil todo a
falar da Renovação Carismática. E foi a mim que ele procurou. A
Luzia foi a primeira a estar com ele, quem iniciou tudo com ele”,
comenta Eto. Ele recorda dos primeiros momentos, quando Luzia
conseguiu uma fazenda em Areias (SP), onde teve início todo
movimento da Canção Nova. Eto começou a administrar as idas
e vindas do padre Jonas e da equipe que ia trabalhar na casa
em Areias. “Começou a casa de Queluz – fui eu quem construiu
a casa de Queluz. Depois eu vim para Cachoeira Paulista, passei
uma situação financeira difícil, e vim parar nesta cidade.”

109Paulo Alexandre Barbosa
Especial de primeiro aniversário
Local: Chácara Santa Cruz- Cachoeira Paulista (SP)
Programa exibido em: 23/05/08
Logo depois, o padre Jonas comprou uma rádio em Cachoeira
Paulista e convidou Eto para tomar conta da emissora. “Ali tudo
começou. Depois veio o canal de televisão e, graças a Deus, estamos
trabalhando há 36 anos juntos”. Depois de muita luta, da superação
de diversos obstáculos, a Canção Nova caminhou para sua grande
conquista, que foi o Reconhecimento Pontifício, a realização de um
sonho. “Começamos a sonhar grande quando padre Jonas falou que a
comunidade tinha que obter o Reconhecimento Pontifício. O que quer
dizer isso? Roma, a nossa sede, da nossa Igreja Católica Apostólica
Romana reconhecer a Canção Nova como Igreja.”
Lição de Vida
“A fé do monsenhor Jonas: quando ele operou, nós estávamos
começando a construção da casa de Queluz. Não tínhamos dinheiro
para nada. Para ter uma ideia, o sapato que ele vestia, quando furava,
ele ainda andava um bom tempo com ele e alguém vinha e o repunha
quando via furado. Essa era nossa situação. Ele teve um problema
de vesícula, foi operado em Lorena e chegou um momento em que
a nossa casa de Queluz, a nossa casa mãe, não ia nem pra frente
nem pra trás. Acabou o dinheiro e nós não tínhamos crédito, nem
um tostão. A casa parou. Reunimos a diretoria da associação Canção
Nova e a decisão foi: ‘vamos para o hospital falar para o padre Jonas
que nós paramos com a casa e não vai dar certo esse negócio’. Eu
era vice presidente. Pensei – ‘se o presidente está falando, vamos
lá’. Chegamos, nunca me esqueço, o padre Jonas estava sentado,
parado, com saquinho plástico na boca, respirando aquele gás da
própria boca porque ele tinha um soluço que não parava. Solu-
çava dia e noite por causa da operação. Chegou o presidente da
associação e falou: ‘olha, padre Jonas, infelizmente eu sei a situa-
ção do senhor, mas nós estamos aqui para entregar a associação
na sua mão, porque não temos condição de continuar tocando.
Acabou todo dinheiro que tinha e hoje precisamos mais do que
nunca que o senhor aceite nossa demissão’. O padre Jonas,
operado, cheio de coisas no peito, tubo no nariz, falando mais ou
menos, deu ‘um pega’ em nós. Ficou tão bravo na cadeira que eu
nunca vi o padre Jonas bravo. Ele falou: ‘Obra de Deus não para.
Se vocês não têm coragem, tudo bem, podem sair por essa porta.
Mas a obra de Deus não vai parar’. Saímos de lá desesperados.
Passaram uns dias, ele melhorou, mandou me chamar e disse:
‘Quero de hoje em diante que você assuma a construção da casa
de Queluz’. Eu falei: ‘Padre, mas eu vou começar sozinho. Como
eu faço?’. Ele disse: ‘Comece você’. Eu comecei e depois desses
anos todos eu posso dizer que a Canção Nova é uma grande obra
de Deus.”

Humanização Lição de Vida110
“O monsenhor Jonas sempre diz que somos pequenas crianças e com nossas pernas curtinhas de crianças corre-
mos atrás dos passos largos de Deus”. Essa é a frase que a médica cardiologista Rizzia Borges usa para ilustrar como os
atos e fatos foram se encaixando para a criação dessa que foi a primeira obra social da Canção Nova. A unidade começou
tímida, foi crescendo dentro da comunidade religiosa e hoje atende pessoas da região e até de outros locais do país.
Rizzia foi testemunha desse nascimento e evolução, pois está na obra desde o início, como voluntária. “Em 1997,
quando eu e a Simone entramos na Canção Nova, nossa ideia era servir a Deus, eu ia entregar minha vida a Deus e achei
que nunca mais ia trabalhar na área de medicina”, conta, explicando que nem imaginava que a Canção Nova teria assis-
tência médica. “Eu vim por um chamado.”
Com os acampamentos crescendo, pessoas vindo de longe, de ônibus, algumas passavam mal e Rizzia começou
a ser requisitada em sua vocação profissional. Era difícil cuidar de doentes sem um local próprio. “Às vezes alguém
tinha cólica renal e a gente aplicava remédio na grama. Era o que tínhamos”, recorda. “A Canção Nova foi ficando mais
conhecida no Brasil, no mundo e nós vimos que Deus estava nos pedindo um lugar mais específico para atender essas
pessoas”. Os médicos começaram a atender em uma sala de medicina do trabalho que havia na antiga rádio Canção
Nova. A rádio foi para um prédio novo e a equipe médica foi ocupando o espaço. “Deus nos deu essa estrutura para
recebermos os peregrinos que vinham nos visitar e passavam mal.”
Logo a comunidade da cidade começou a procurar atendimento no local e surgiu outra dificuldade: a falta de
laboratório para realizar exames. “Nós criamos um problema para o município porque atendíamos as pessoas e
elas precisavam fazer exames no posto de saúde”, comenta a médica. Esse obstáculo foi superado em 2004, com
a inauguração do laboratório, um marco na história do posto. Rizzia fala dos benefícios da mudança: “Nós atendía-
mos a pessoa, realizávamos os exames aqui dentro, fazíamos diagnóstico, tratávamos e a pessoa saía daqui com
o remédio nas mãos, medicada.”
Equipamentos, tecnologia, espaço, tudo isso é importante, mas o grande diferencial do Posto Médico Padre
Pio é a humanização do sistema. “Fazemos tratamento total. Se uma senhora chega aqui com diabetes 400 e
pressão 20 por 12 porque está preocupada com o neto que usa droga, nós acionamos outras obras sociais da
Canção Nova para encaminhar o jovem e ajudar a família. Saúde é bem estar físico, mental e espiritual. Por isso,
queremos atender nosso doente de forma integral, não só física, mas espiritual e emocional também.”
Posto Médico Padre Pio
A humanização da saúde
“Ofereça a Deus todas as suas ações.”
São Pio de Pietrelcina

Humanização 111Paulo Alexandre Barbosa
O Posto Médico Padre Pio realiza atendimentos diários, serviços ambulatoriais e pronto atendimento.
“Agendamos consultas, pequenas cirurgias e pré-natal. A grande maioria dos atendidos é formada pelo
pessoal carente da cidade”, explica a diretora, Roseli de Oliveira.
“Contamos com vários voluntários e missionários e temos terapias e serviços auxiliares”, diz Roseli.
“Temos de 25 a 30 voluntários, englobando todas as áreas de profissionais de saúde. Temos neurocirur-
gião, dermatologista, endócrino, temos também um cirurgião vascular que vem do Rio de Janeiro com
a esposa, que é nutricionista. Temos um casal de nutricionistas que vem toda semana. Há psicólogos
voluntários, ortopedista, reumatologista. Nosso corpo clínico cresce a cada dia.”
“Atendemos a população carente
no pronto atendimento matinal –
tratamos crianças , idosos, fazemos
prótese total.”
A
ndrea Silveira Penteado, dentista
“A população tem muita necessidade do trabalho psicológico
devido à situação que estamos vivendo no mundo, com desempre
-
go, falta de oportunidade , divórcio , famílias sendo destruídas
por vários motivos. Tudo isso faz com que nossa demanda
aumente muito, mas graças a Deus estamos fazendo um tra-
balho multidisciplinar aqui no posto. Temos psicologia, terapia
ocupacional , fisioterapia, fonoaudiologia e trabalhamos em
conjunto . Nós tentamos trabalhar o indivíduo como um todo,
dando suporte para que tenha uma qualidade de vida melhor.”
R
enata Andréia Ribeiro, psicóloga e coordenadora das terapias
Posto Médico Padre Pio
Local: Rua Sebastião Fortes, nº 200
Vila Cacarro- Cachoeira Paulista (SP)
Fundação: 1996
Contato: (12) 3103-2022
Site: www.cancaonova.com
Programa exibido em: 30/05/08

Educar e Amar Lição de Vida112
A educação tem o poder de transformar a realidade de quem aprende e de quem ensina. Com a vonta-
de de transformar o mundo, Tarcisio Aquino de Almeida viu sua vida passar por uma grande transformação
quando conheceu a instituição. Arquiteto, ele foi realizar pela empresa um serviço no Instituto Canção Nova,
conheceu e se interessou pelo que descobriu. “Eu observava e me chamava atenção; eu pensava: ali tem
uma proposta boa.”
O que chamou a atenção de Tarcisio foi a proposta do Instituto de não trabalhar somente o aluno visando
o resultado final, mas como ser humano integral, considerando o que ele é na escola, o que vivencia em casa.
“Infelizmente muitas escolas se preocupam somente com o resultado. Aqui nós cuidamos do aluno como
um todo. Vemos casos de crianças com dificuldades em casa, pais separados e nos preocupamos com isso
também. E o reflexo dessa ação aparece no resultado final, em qualidade de ensino”. Tarcísio vê nessa forma
de agir um pouco da escola antiga que não se preocupava somente com o vestibular.
Convidado a dar aula, Tarcisio ia ficar por pouco tempo, abraçou a causa e está há mais de cinco anos.
Ele dá aulas de artes para alunos de 5ª a 8ª. séries e física no Ensino Médio. “Educação não é só em sala de
aula. O aluno vai saber fazer conta, aprender literatura, mas aqui ensinamos a cuidar da vida, a dar valor à
vida, abraçar a vida, especialmente a juventude precisa acreditar. Isso é o que buscamos: fazer com que acre-
ditem neles, se valorizem e saibam que têm potencial para fazer um mundo melhor. Eu continuo exercendo a
atividade de arquiteto, mas dou aula no instituto porque acredito na proposta. É uma realização pessoal.”
Instituto Canção Nov a
Construindo homens novos para um mundo novo
“Ganhai o coração dos jovens por meio do amor.”
Dom Bosco

Educar e Amar 113Paulo Alexandre Barbosa
O Instituto Canção Nova é um trabalho idealizado para transformar crianças e jovens pela educação, que começou tímido
e foi crescendo. “Começou pequeno, com 78 alunos e funcionava da 1ª a 4ª série. A demanda era tanta e nosso objetivo de dar
educação diferenciada fazia com que a gente visse necessidade de crescimento”, conta Shirléia Nunes de Santana, diretora do
Instituto. “A disputa para entrar é grande: temos 490 pessoas esperando vaga e se Deus quiser logo conseguiremos atender.”
Hoje são mais de 1100 alunos, com 28 salas e quase 50 professores que ensinam da Educação Infantil ao Ensino Médio,
atendendo 35% da população de Cachoeira Paulista nesta obra social mantida pela Canção Nova.
Um dos principais diferenciais da entidade – além do ensino de qualidade – é a preocupação em ensinar princípios e
valores. O ensino religioso é matéria obrigatória. Shirléia explica as diretrizes da educação no Instituto: “O ensino religioso aqui
não é catequese. Buscamos trabalhar valores da sociedade, de respeito, que muitas vezes se encontram trocados, confundidos
por valores que são impregnados em nós pela sociedade. Trabalhamos também a filosofia junto com o ensino religioso, desde a
1ª série fundamental, com pesquisas, diálogos e filmes. A gente busca trabalhar com projetos onde os alunos possam colocar na
prática o que é essencial na vida do ser humano.”
“Temos um sonho de oferecer também ensino superior
para que nossas crianças , jovens e adultos se tornem
melhores para a sociedade. Como a mensagem do coração
de Jonas Abib, formar homens novos para um mundo novo.
Q
uem acredita na educação , acredita na esperança .”
S
hirléia Nunes de Santana, diretora
“Estou muito satisfeita porque é um colégio em que eu
acredito – estou há quase sete anos como professora. É um
sonho como professora e como mãe poder dar qualidade não
só para meus alunos , mas também para meus filhos.
T
emos no instituto o objetivo de atingir a individualidade da
criança , estando atento aos alunos , às suas necessidades
específicas . Nosso diferencial é olhar para cada criança
sabendo que cada um tem seu jeito, seu modo e respeitar isso
acima de tudo.”
A
na Paula Magalhães Gomes Maruco, professora e mãe de aluno
Instituto Canção Nova
Local: Rua Carlos Pinto Filho, s/nº- Vila Cacarro
Cachoeira Paulista (SP)
Fundação: 2000
Contato: (12) 3186-2034
Site: www.cancaonova.com
Programa exibido em: 13/06/08

Lição de Vida114
Usar o dom da comunicação, de abranger multidões, para levar a palavra de Deus, evangelizar. Essa é a
missão da Canção Nova, por isso esses dois projetos são, em grande parte, dedicados a esse fim.
Comunicar-se com parentes, amigos, pessoas que conhecemos e até com quem não conhecemos. Poder
se comunicar com o irmão foi a oportunidade que Aline Maria da Silva conquistou fazendo o curso de libras do
projeto Mãos que Evangelizam.
Irmã de Leandro, 22 anos, que tem deficiência auditiva, Aline sentia falta de ter uma comunicação mais di-
reta com ele. “Sempre que o Leandro queria falar alguma coisa em casa, nós pedíamos para ele desenhar. Acho
que por isso ele é um grande desenhista”, comenta. Aline achava insuficiente; queria mais: entrar no mundo do
irmão, conhecê-lo melhor, poder conversar com ele como conversa com as outras pessoas.
Enfrentar o curso não foi fácil: ficava ansiosa para aprender logo, nervosa, com dificuldade de utilizar as
mãos para dizer o que pensava. Ela vivenciou na pele as dificuldades que o irmão vive e assim ficou mais próxi-
ma dele. Aproximou-se também de forma direta, conversando, não só com ele, mas
com os amigos do irmão que também têm deficiência auditiva. Aline comemora
hoje poder fazer parte desse universo, ser amiga dos amigos do irmão. O dia em
que aprendeu a cantar uma música na linguagem de sinais chegou animada em
casa e sentou os pais na sala para mostrar. “Outro dia, o Leandro queria falar
alguma coisa e ninguém estava entendendo. Minha mãe foi me acordar para
eu dizer o que ele queria e eu consegui. Olha que maravilha o curso fez por
mim.”
Projeto Geração Nov a (Progen) E Mãos Que Ev angelizam
Comunicar como ato divino
“A comunicação serve para unir as pessoas
e enriquecer as suas vidas.”
João Paulo
II, Papa de 1978 a 2005

115Paulo Alexandre Barbosa
A comunicação é também um dos pontos fortes do Projeto Geração Nova, que oferece oficinas de
qualificação socioeducativas para jovens de 12 a 18 anos. Há aulas de violão, dança, canto, inglês, espa-
nhol; na área de comunicação social, o projeto conta com oficinas de rádio, TV e laboratório de TV. Tem
também informática, artesanato e elétrica. O Progen atende 200 jovens.
Em parceria com o Senai, a entidade desenvolve o Projeto Aprendiz, inserindo jovens no mercado
de trabalho. “Mais do que inserir no mercado, nosso objetivo é tentar trabalhar de forma integral os
jovens para serem bons cidadãos, bons profissionais, boas mães e bons pais de família. Para nós, isso
é importante e passa pela profissão”, explica Mara Silva Martins Lorenço, psicóloga e coordenadora do
Progen. “Nós acompanhamos o adolescente que chega até nós, priorizando o desenvolvimento integral
dele, na sua dimensão biológica, psicológica, social e espiritual. É apaixonante. Quem entra aqui acaba se
apaixonando pelo projeto, pelos adolescentes, porque eles nos ensinam muito.”
“O Progen foi uma benção de Deus na minha vida. Eu pude
conferir pessoalmente a influência do projeto na vida do
meu filho. Como foi importante . Mateus tem 14 anos, é
abençoado , responsável . Sou uma mãe participativa ; tenho
formação aqui também toda semana , na terapia com os
pais. Por isso que digo: quando o Progen precisa de mim
eu participo , porque a gente não pode só receber, também
precisa doar. E eu estou aqui para servir.”
M
aria de Lourdes Ventura Moura, mãe de quatro filhos, um deles participante
do projeto
“É uma grande alegria ensinar libra. As pessoas ficam
ansiosas para aprender e eu explico que é preciso ter calma,
pois a evolução acontece devagar. No final, o objetivo da
troca da comunicação sempre é atingido. Tudo deve ser feito
com calma porque Deus dá a benção, dá a graça para que a
gente possa se manter calmo, tranquilo , para eliminar toda
barreira de comunicação e ir evoluindo .”
E
dimilson Alves de Mattos, instrutor de libras
PROJETO GERAÇÃO NOVA - PROGEN
Local: Avenida Brasil, nº 120
Cachoeira Paulista (SP)
Fundação: 1999
Contato: (12) 3186-2051
Site: www.cancaonova.com
Programa exibido em: 20/06/08

Lição de Vida116
A perseverança permitiu que um grupo de mães mudasse o rumo da vida dos seus filhos e de muitos
outros que vieram depois se beneficiar da conquista. Essa história começa quando Mirian Pereira de Farias
da Silva, mãe de Diogo, especial, ouviu na reunião da escola em que ele estudava que as mães precisavam
fazer alguma coisa, pois logo estariam sem escola, sem local para frequentar, já que a unidade só atendia
as crianças até 18 anos. Com um irmão na APAE de Suzano, Mirian foi se informar sobre o que poderia fazer
para levar uma APAE para Bertioga. Primeiro, reuniu um grupo de mães e com a ajuda da diretoria da APAE
Guarujá começou o trabalho.
Era o início de uma nova trajetória na vida de Diogo e de tantos outros filhos de mães e pais lutadores,
que batalham para alcançar o objetivo de dar o melhor para os filhos. “Tudo vale a pena quando diz respeito a
nossos filhos. O meu se tornou mais do que eu esperava. Diogo é um garoto especial até demais”, comemora
Mirian, com razão.
Diogo Sérgio da Silva é um rapaz dedicado, que adora ficar na APAE com os amigos, mas passou a ga-
nhar o mundo quando conseguiu emprego de empacotador de supermercado. Ele conta que quando não tem
muito movimento no mercado, faz um pouco de tudo: abastece geladeira, ajuda no balcão. Como ele diz, não
tem mais a vida tranquila de antes, pois agora trabalha e tem responsabilidades. “Eu achei que ia ser depen-
dente sempre da minha mãe e, no fim, passei até meus irmãos. Eu sou empacotador, faço de tudo. Agradeço
a Deus e à APAE, que me deu muita força. Antes eu não tinha praticamente nada. Agora eu tenho até meu
quarto, que eu mesmo montei, com televisão e um monte de coisas.”
APAE Bertioga
Exemplo de persistência
“Aquele que perseverar até o fim será salvo.”
(Mt 24,13)

117Paulo Alexandre Barbosa
Em 2002, um grupo de mães montou a APAE de Bertioga, mas as dificuldades quase acabaram com o grupo. Em 2003,
Edson Pereira da Costa, pai de uma deficiente auditiva e física, foi juntar forças ao grupo, que ganhou novo ânimo, conseguin-
do móveis e instalações. “Hoje somos uma grande família”, diz Edson, presidente da entidade.
Ele gosta de salientar que a APAE é um meio e não um fim – o grupo espera que os alunos passem pela entidade, mas
não fiquem. Que possam ter rendimento, autonomia e busquem cidadania. Para isso são realizadas na APAE atividades de vida
diária, prática, além de um trabalho de inclusão profissional. Com essa iniciativa, três alunos foram inseridos no mercado de
trabalho – um deles, inclusive, conquistou tanta autonomia que avisou a família que não precisaria mais frequentar a APAE.
“Temos profissionais que são grandes parceiros . A me-
lhor resposta do nosso trabalho é ver nossos alunos
inclusos. É o nosso grande estímulo.”
E
dson Pereira da Costa, presidente
“O trabalho de terapia ocupacional é focado desde a inde
-
pendência do corpo – ensinando o aluno a se vestir sozinho

até ir no comércio fazer compra. A gente é uma família
aqui dentro; ficamos mais tempo aqui do que na nossa pró
-
pria casa. Muitas vezes a gente vem sábado, fica depois do
expediente , porque é uma grande satisfação.”
H
ellen Cristina Verginazio, terapeuta ocupacional
“Se não tivéssemos recebido apoio, não estaríamos traba
-
lhando . Se não tivesse trabalho, não poderia ser um cara
trabalhador. Adoro meu trabalho, meus amigos. A gente
se diverte no escritório.”
V
aldir Camilo, aluno da APAE e auxiliar de escritório
“É gratificante ver o resultado. Começamos com 13 alunos
e hoje estamos com 62 e tem uma fila de espera de 30. É
ruim não poder atender todos, mas um dia a gente consegue
suprir as necessidades da cidade.”
F
ernanda Casagrande de Oliveira, fisioterapeuta e coordenadora geral
APAE Bertioga
Local: Avenida Anchieta, nº 544- Bertioga (SP)
Fundação: 2002
Contato: (13) 3317-2940
Site: bertioga.apaebrasil.org.br
Programa exibido em: 27/06/08

Lição de Vida118
Quem vê o garoto Edson Pereira Júnior, 11 anos, tocando a música Brasileirinho em seu cavaquinho per -
cebe que com dedicação, amor e esforço é possível tirar o melhor das pessoas. Essa é a missão do Grupo de
Apoio à Criança – GAC – que procura ser uma extensão do lar, um espaço para os pequenos ficarem enquan-
to os pais trabalham pelo sustento da família.
A música, aliás, é bastante presente na entidade, incentivando as crianças com cantos, danças e instru-
mentos musicais. Esse estímulo, somado ao incentivo do pai, faz com que Edson queira ser músico no futuro.
Talento e determinação o garoto demonstra ter enquanto toca para animar os colegas.
Foi também do tesouro do coração que Luana Gonçalves tirou a vontade de voltar à entidade e educar.
Ela, que no passado foi aluna, volta como professora, realizando o sonho de ensinar onde a mãe trabalhou
como voluntária. Como aluna, Luana fazia atividades de matemática, reforço para a matéria que era um de-
safio. Ela retorna para promover recreação com crianças de 6 a 11 anos, oferecendo atividades educacionais
lúdicas, com brincadeiras pedagógicas. “Desde pequena eu sempre quis ser professora. Estando de volta ao
lugar onde aprendi muitas coisas, para ensinar, sinto uma alegria imensa”, comenta a jovem, que quer ajudar
a descobrir novos tesouros.
Grupo de Apoio à Criança (GAC)
Descobrindo o tesouro dos pequenos
“O homem bom, do bom tesouro
do seu coração tira o bem.”
(Lc 6,45)

119Paulo Alexandre Barbosa
A Vila dos Pescadores, em Cubatão, é uma comunidade bastante carente, com 11 mil habitantes – quase 3 mil famí-
lias –, formada especialmente por migrantes que foram buscar na cidade melhores condições de vida. Com rendimento
familiar baixo, 44% da população vive em palafitas e a maioria em construções precárias.
Nesse cenário, em 1994, o padre Antônio Olivieri, junto com mulheres da comunidade, fundou o GAC, que nasceu es-
pecialmente para tirar do lixão os filhos que acompanhavam os pais na procura de alimentos para subsistência e recolher
resíduos para conseguir uma renda. A entidade nasceu na Paróquia São Judas Tadeu e com esforço da comunidade foi
comprada a primeira sede, um pequeno barraco.
O lixão acabou, porém a entidade continuou operando, ajudando as famílias da comunidade, acolhendo seus filhos
no horário em que não estão na escola, para que não fiquem nas ruas. Com o empenho de apoiadores, o GAC cresceu e
conquistou um local melhor, que permite atender cerca de 100 crianças.
“As crianças ficam no GAC para ter uma
jornada ampliada nos estudos e recreação .
O
intuito é tirá-las da ociosidade e criar
um conceito de cidadania , de solidariedade e
de humanidade . Para aproximar os pais, re
-
alizamos cursos de artesanato , culinária ,
corte e costura, atividades que de alguma
forma podem ajudar a ampliar o orçamento
da família. Nosso objetivo é levar boa ali-
mentação , educação e um carinho especial a
essas crianças . Em comunidades carentes ,
uma entidade como o GAC é essencial . Eu
considero hoje o terceiro setor a personi -
ficação da solidariedade e do compromisso
com o próximo. Para nós, cristãos católi-
cos, é uma forma de transformar nossa fé
em gestos concretos .”
M
ary Inês Dias de Lima, presidente
“Os ensinamentos são passados de maneira lúdica
e o dia a dia é bem diversificado . Dos dois aos 12
anos eles participam da jornada ampliada ou da
recreação . Na adolescência , entram nas oficinas
artesanais . Temos uma equipe completa, com assis
-
tente social que visita as casas, psicóloga que au-
xilia esse acompanhamento . Como oferecemos uma
boa estrutura, logo percebemos uma evolução no
comportamento da criança que começa a frequen -
tar a entidade. Tem crianças que chegam aqui e não
sabem falar, pelo que sofreram – muitos nem con-
seguem rir. Aqui eles ficam diferentes , conversam ,
riem. É uma realização.”
R
osana Soares Dantas, coordenadora geral
Grupo de Apoio à Criança - GAC
Local: Avenida Ferroviária II, nº 187
Vila dos Pescadores- Cubatão (SP)
Fundação: 1994
Contato: (13) 3363-3780
Site: gaccubatao.blogspot.com/
Programa exibido em: 06/07/08

Lição de Vida120
Uma pessoa futurística. Assim a pedagoga irmã Alvarina Aparecida Rezende descreve o padre José Mar -
chetti. “Dio Gracias, dizia ele, que dava graças por tudo. Ele acreditava e a coisa aparecia”, comenta Alvarina,
citando o fato da instituição conseguir um terreno que engloba todo o quadrante do bairro. “Ele fazia aconte-
cer o projeto, ele idealizava, ele sonhava, queria e ia pra frente.”
Padre Marchetti idealizou o orfanato ao ver crianças órfãs de imigrantes que perdiam seus pais na vinda
de navio para o Brasil. Para viabilizar a obra, ele voltou à Itália e pediu ajuda à sua irmã, Assunta, que aceitou
o convite e se dedicou totalmente ao projeto. Assunta Marchetti chegou ao país com duas colegas e a mãe,
e passou a trabalhar na obra, que começou como Instituto Cristóvão Colombo. “Esse orfanato era referência
para todo bairro, porque aqui era uma capela aberta para as pessoas. Aqui se fizeram muitos batizados, casa-
mentos, era praticamente a referência de igreja”, explica Alvarina.
José Marchetti faleceu com 27 anos e Assunta precisou assumir e fazer acontecer o projeto. Alvarina dá
testemunho da dedicação com que a madre realizou a obra. “Ela não conseguia falar nem português, não era
catedrática, ela tinha praticamente o básico da escolaridade e foi pro Rio Grande do Sul, expandiu a nossa
congregação. Ela não era médica, mas fazia partos, atendia a doentes, tinha a saúde alternativa muito pre-
sente. Na época, nos anos 30, quando ninguém tinha alimento aqui na região, madre Assunta ganhava farinha
e com as irmãs fazia pão e distribuía na porta do orfanato para as pessoas que não tinham alimento. Ela é um
modelo de mulher, forte, corajosa, aberta aos sinais dos tempos e às necessidades das pessoas. Veio como
missionária para o Brasil e enfrentou todos os desafios de um ardor missionário forte, intenso, significativo.
Nós, hoje, somos mais de mil irmãs, nós somos uma congregação de instituto de direito pontifício, e pra nós
o importante é o reconhecimento de uma pessoa que é modelo pedagógico, de uma espiritualidade profunda,
de humildade, simplicidade e que nos deixou o grande ensinamento, uma grande lição de vida: ‘Deus vê, Deus
provê’.”
Casa Abrigo Madre Assunta Marchetti
Abrigando gerações
“Em frente, até que Deus queira.”
Padre José Marchetti, sacerdote italiano

121Paulo Alexandre Barbosa
Há mais de um século, a Casa Abrigo ampara crianças – já foram mais de 6 mil ao longo de sua história. Atualmente, a
entidade cuida de crianças de 6 a 12 anos, órfãs ou oriundas de famílias desestruturadas em situação de vulnerabilidade social.
O abrigo é administrado pela Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo Scalabrinianas (MSCS). O
orfanato é uma referência em São Paulo pela sua longevidade, avançando o centenário, e pela infraestrutura que oferece às
crianças.
A coordenadora do orfanato, irmã Jaira Oneida Garcia, conta que há ao todo 60 crianças, 40 em regime de abrigo e 20
que retornam aos lares. “Elas têm aula normal do ensino regular, aulas de música, artesanato, atividades de recreação e ensino
religioso.”
“Essas crianças atendidas aqui são, na sua maioria, filhos
não de imigrantes , mas de migrantes internos do Brasil,
famílias que se desestruturaram inclusive em virtude da
migração. Há também crianças que foram abandonadas pelos
pais, mas se negaram a ser adotadas na esperança de voltar
a ficar com os pais biológicos . Por isso, tentamos não só
ajudar as crianças , mas a reaproximação com seus familia-
res de origem.”
I
rmã Jaira Oneida Garcia, coordenadora do orfanato
“Em 1973 eu estudei no colégio e foi excelente . As irmãs,
com aquele carinho , ensinavam a bordar, estavam sempre
perto da gente abençoando , ensinando a amar a família.
Q
uando saí daqui, casei, tive dois filhos e eles vieram
estudar externos . É a terceira geração e hoje nós somos
voluntários , a família inteira.”
S
ueli Napolitano, ex-residente do orfanato, filha de Rosa
“Eu fiquei aqui em 1962, por três anos, da segunda à quar
-
ta série. Eu gostava muito das irmãs. Depois casei e tive
três filhos, daí precisei trabalhar fora, sustentar meus
filhos, e eles também ficaram internados aqui.”
R
osa Napolitano, ex-residente do orfanato, mãe de Sueli
Casa Abrigo Madre Assunta Marchetti
Local: Rua do Orfanato, nº 883- Vila Prudente- São Paulo (SP)
Fundação: 1904
Contato: (11) 6163-1269
Site: www.mscs.org.br
Programa exibido em: 13/07/08

Lição de Vida122
É no presente que transformamos o passado de ontem em um futuro promissor. As ações que realizamos
hoje vão dizer que presente viveremos amanhã. Realizando importantes iniciativas, o Serviço Social Bom Jesus
ajudou a mudar a realidade de um lugar considerado um dos mais violentos do mundo. De ação em ação, de
gesto em gesto, mudando histórias.
O ensinamento dado a David Medeiros Santana fez do menino que vivia em situação de risco um educador.
Morador do Capão Redondo, região de muita carência e violência, ele viu uma oportunidade de vida decente
e se agarrou a ela. “Tem bastante criança e adolescente que já foram envolvidos com o tráfico. Eu já fui meio
envolvido, mas comecei a participar de projetos culturais, oficinas de hip-hop”, diz.
Participando dos projetos, David se destacou entre outros educandos e passou a fazer serviços para a
instituição; depois foi contratado para trabalhar no núcleo socioeducativo da entidade por meio do Programa
de Erradicação do Trabalho Infantil. “A gente trabalhava com crianças de 6 a 14 anos. Eu costumava falar que
nosso trabalho era evitar que as crianças terminassem no Creca.”
Creca é o Centro de Referência da Criança e do Adolescente, unidade do Serviço Social Bom Jesus, que
atende de 10 a 24 crianças e adolescentes em risco social e pessoal, em situação de rua ou que sofreram
violência sexual, doméstica, maus tratos ou abandono. Hoje David trabalha no Creca e se sente realizado.
“Trabalhamos com crianças que sofreram violência doméstica, abuso sexual, que estão envolvidas com drogas,
ameaçadas de morte na região onde moram. Faço inúmeros trabalhos e atividades com eles. As coisas que eu
aprendi quando era educando, hoje eu passo para os meus educandos. Sou educador”, orgulha-se.
David conta que a instituição abriu novos horizontes em sua vida. Agora, como educador, seu maior desafio
é conseguir a confiança dos pequenos. “O pessoal brinca que eu sou o educador moleque. Com meu jeito des-
contraído, minha linguagem, trago eles pra perto de mim. Consigo tirar um pouco da história deles”. Construin-
do vínculo com os jovens, o rapaz faz sua parte, ajudando a transformar a realidade da comunidade onde vive.
Serviço Social Bom Jesus - Clube da Turma M’ Boi Mirim
Criando um novo cenário
“O tempo é a minha matéria, o tempo presente,
os homens presentes, a vida presente.”
Carlos Drummond de Andrade, poeta brasileiro

123Paulo Alexandre Barbosa
O Serviço Social Bom Jesus é uma instituição católica apostólica romana do Terceiro Setor que ajuda famílias da
região carente na Zona Sul de São Paulo, atuando principalmente com crianças e jovens. A entidade, que nasceu dentro
de um salão paroquial tendo como pano de fundo a Campanha da Fraternidade e cresceu, foi fundada pela Paróquia Bom
Jesus de Piraporinha. “O tema da campanha em 1981 era ‘Quem acolhe o menor, a mim acolhe’. Nessa época o padre
achou que a gente deveria fazer algo concreto. E fizemos”, lembra Antonia Camelo Sampaio, uma das fundadoras da
obra.
Há 28 anos o Social Bom Jesus foi criado para ajudar a mudar a vida da comunidade do Jardim Ângela. O presiden-
te Zacarias Sampaio Camelo recorda dos primeiros momentos. “Parece que foi ontem. A gente chegou aqui muito cedo,
eu tinha acabado de me formar em Direito na PUC e estava fazendo um trabalho social em São Mateus. Como moramos
aqui, juntamos um grupo na igreja e resolvemos fundar o Social Bom Jesus.”
Enfrentando dificuldades, a entidade prosseguiu, tornando-se referência na região. “Temos 22 núcleos atendendo
crianças, jovens adolescentes, terceira idade, mulheres e gestantes – são mais de 7 mil pessoas, além do público indire-
to e as famílias”, diz Zacarias.
“Nós temos inúmeras entidades aqui no Jardim Ângela que
fazem um trabalho sério na região, além dos parceiros
institucionais , como a Polícia Militar, o Governo do Estado,
a Prefeitura. Foi um conjunto de trabalho social que acabou
arrancando o Jardim Ângela desse exemplo ruim e promo-
vendo um bairro tranquilo . Temos problemas, violência ,
mas em vista do que o bairro já foi considerado , com certeza
melhoramos muito e isso é um trabalho cotidiano nosso,
das organizações sociais da região. É uma soma. Isso é um
exemplo para o mundo.”
Z
acarias Sampaio Camelo, presidente
“O Clube atende 2.400 crianças e adolescentes de
7
a 17 anos e 11 meses, com atividades culturais,
esportivas e de cidadania . Também buscamos en
-
volver a família. Nós temos um programa chamado
‘V
iva Melhor’ com atividades físicas e de orienta
-
ção para os pais e avós das crianças e adolescen -
tes que são atendidos aqui. Todo dia de manhã, das
6
h30 às 7h30, os professores, profissionais de
nutrição e saúde orientam e acolhem os familia
-
res para que seja trabalhado em conjunto tanto
questões individuais, pessoais quanto questões
coletivas. Dentro da nossa missão, a família tem
que ser contemplada na íntegra.”
R
egina Alves Ribeiro, coordenadora do núcleo Clube da Turma
Serviço Social Bom Jesus
Clube da Turma M’ Boi Mirim
Local: Travessa Maestro Massaino, s/nº
Jardim Ângela- São Paulo/SP
Fundação: 1981
Contato: (11) 5832-2269
Site: www.socialbomjesus.org.br
Programa exibido em: 20/07/08

Lição de Vida124
Amar ao outro entregando amor. Essa é a mão estendida que a Associação Prato de Sopa mantém há
quase 80 anos, seguindo a tradição de solidariedade que passa de geração para geração dentro da família,
com a dedicação de mulheres, que começou com dona Affonsina, seguiu com dona Di, dona Maria Luisa e
agora essa bela história tem continuidade com dona Lurdinha.
O amor ao próximo é fundamental para vivermos um mundo melhor. Olhar para o lado, ver o que o outro
precisa e o que podemos oferecer – é a lição cristã. Esse é o trabalho da entidade que estende o prato de
sopa e tenta ajudar o ser humano que o recebe. Com esse olhar, a Associação acumula emocionantes histó-
rias como a que nos conta a assistente social Raquel, que um dia viu um senhor na fila e resolveu perguntar
a sua idade. Quando descobriu que ele tinha 67 anos, perguntou se ele recebia algum benefício do governo.
“Não recebo nada”, disse o homem, explicando que já tinha entrado com processo junto com o advogado,
sem obter sucesso.
Sabendo que ele teria direito de receber um salário mínimo do governo a partir dos 65 anos, Raquel re-
solveu ajudar. Verificando junto ao INSS que o benefício realmente não tinha saído, a assistente social come-
çou o processo de preenchimento da documentação e foi surpreendida quando aquele senhor, tão necessita-
do, chegou com várias carteiras profissionais onde demonstrava ter trabalhado com muitos vínculos, ou seja,
poderia ter direito até a uma aposentadoria por idade.
“Depois de alguns dias ele apareceu dizendo que precisava falar comigo. Pensei que tinha dado tudo
errado, mas ele falou: ‘a senhora não sabe o que aconteceu comigo. Eu estou aposentado!’ Ele recebeu um
benefício maior, foi aposentado, passou a receber um direito que ele tinha. Ele veio muito feliz e me deixou
mais feliz ainda.”
Um pequeno gesto, uma simples ajuda, o olhar para a necessidade do outro pode transformar vidas, de-
volver dignidade. Essa é a missão realizada pela Associação que entrega, no prato de sopa, um tanto de amor.
Associação Prato de Sop a Monsenhor Moreira
Do assistencialismo à geração de renda
“Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”
(Jo 15,12)

125Paulo Alexandre Barbosa
A Associação Prato de Sopa Monsenhor Moreira foi fundada por um grupo de senhoras santistas, tendo à frente a
professora Affonsina Proost de Souza, junto com Monsenhor Moreira. Foi criada com o objetivo de oferecer um prato de sopa
aos portugueses que trabalhavam como carregadores de café no Porto de Santos.
“A entidade começou aqui por causa da crise do café, em 1929. Na época, imigrantes portugueses vieram para o Brasil
e o Prato de Sopa foi criado para dar apoio a esse pessoal. Então, Monsenhor Moreira, junto com dona Affonsina, no Jaba-
quara, fez um galpão onde eles davam alimentação”, conta a presidente da entidade, Lurdinha. “A associação foi crescendo,
aumentando, o Prato de Sopa foi para o albergue noturno. Ficou lá por um tempo e depois se estabeleceu na sede própria.”
O trabalho, que começou ajudando um grupo de portugueses, hoje atende cerca de 200 pessoas por dia. Além da sopa,
oferece corte de cabelo, documentação, parceria com os alcoólicos anônimos, realiza campanhas sobre tuberculose, AIDS. A
ideia de expansão é desenvolver um trabalho para a geração de renda.
“A gente está fazendo um trabalho voltado para geração de
renda. Nós estamos nos organizando para fazer um projeto
de gestoras do lar, curso de cabeleireiro, corte e costura e de
coffee-break. Hoje não se dá mais nada para ninguém; o objetivo
é promover condições para que as pessoas possam aprender um
ofício e gerar a sua própria renda. Essa é uma questão da pró-
pria modernização da mente, da própria evolução da instituição.”
M
arina Menezes, empresária e voluntária
“A princípio a ideia era fazer só um cadastramento das pessoas
que vêm diariamente na instituição, mas resolvemos fazer uma
pesquisa. Nós conseguimos fazer uma caracterização dessa po
-
pulação, levantamos dados da situação habitacional , constata -
mos que a maioria vive na rua, mas tem também o outro lado, que
tem endereço fixo. Acho que a maior surpresa foi em relação ao
nível de escolaridade . A gente detectou dois com nível superior.
I
sso foi uma surpresa porque a fila sempre pareceu uma fila de
indigentes e, na verdade, não é. São pessoas que trabalham;
nós temos portuários, temos gente que está com empréstimos
consignados em folha, então estão recebendo muito pouco de
aposentadoria e nós descobrimos dois com nível superior: um
jornalista , que também é aposentado e por conta de um revés que
passou na vida acabou vindo fazer as refeições aqui e um profes
-
sor de educação física.”
R
aquel Nunes de Souza Dias, assistente social
“Os desafios são muitos, mas a recompensa é maior porque
o que é tão pouco para a gente, para eles significa muito. A
gente tem o desafio diário, com as dificuldades que a casa
tem, mas é um trabalho muito gratificante porque eu acho
que com amor a gente resolve e supera todos os proble
-
mas.”
M
iriam Milei, administradora da entidade
Associação Prato de Sopa Monsenhor Moreira
Local: Rua 7 de Setembro, nº 52- Vila Nova- Santos (SP)
Fundação: 1930
Contato: (13) 3232-5468
Site: www.pratodesopa.com.br
Programa exibido em: 27/07/08

Dia dos Pais Lição de Vida126
João Luiz, responsável pela missão da Canção Nova em São Paulo
A história de João Luiz se confunde com a história da Canção Nova. Casado com Fátima, com quem divide a res-
ponsabilidade pela missão de cuidar da comunidade de São Paulo, João Luiz tem dois filhos: Samuel, com 17 anos,
e Ana Carolina, com 12 anos. Sua história com a Canção Nova começou quando morava em Taubaté (SP) e um
membro comentou sobre a comunidade, da qual ele já tinha ouvido falar. Depois, em um retiro organizado por ele,
Luzia o convidou para participar da comunidade, quando acompanhava monsenhor Jonas que foi rezar uma missa
nesse retiro. João Luiz ficou uma semana na comunidade para conhecer o trabalho. “No final daquela semana, Deus
colocou no meu coração que a Canção Nova era meu lugar”, recorda. Quinze dias depois, em 29 de março de 1981,
ele chegou à Canção Nova para não mais sair. “Estou no meu 28º. ano de vida na Canção Nova, entregue ao serviço da
evangelização, feliz e realizado.”
Em 2006, João Luiz estava cuidando da missão em Cuiabá, quando foi chamado para uma reunião em São Paulo, em que
foi convidado por Eto para coordenar a comunidade da cidade. “Cheguei em São Paulo em 4 de janeiro de 2007 e comecei
esse grande desafio.”
Os pais têm papel essencial na humanidade: são eles que educam os filhos para a vida, e dessa educa-
ção irá depender a construção de uma sociedade cada vez melhor. Todos os pais são importantes – não só
os biológicos, mas também os que se tornam pais pelas circunstâncias da vida, pelo exercício das tarefas
diárias, de educar, de receber essa missão especial de conduzir a vida de crianças e jovens, para que a gente
possa ter um futuro.
O programa Lição de Vida Especial Dia dos Pais faz uma homenagem a todos os pais com a presença de
dois pais muito especiais: o primeiro, além de ser um bom pai para os próprios filhos, é um grande pai para
os “filhos” que a vida lhe colocou no caminho. O segundo, pelas circunstâncias da vida, assumiu o lugar de
pai e mãe e cria com carinho e competência as cinco filhas.
Especial Dia dos Pais
Amor paternoEspecial
“Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único,
para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha vida eterna.”
(Jo 3,16)

Dia dos Pais 127Paulo Alexandre Barbosa
Especial Dia dos Pais
Local: Estúdio da TV Canção Nova
de São Paulo (SP)
Programa exibido em: 10/08/08
Família – “Eu tenho a realidade dos meus filhos, que eu gerei
junto com a Fátima, minha esposa. Aqui me deparo com diversos
missionários que precisam também dessa atenção, desse carinho,
desse apoio para que cada um possa continuar desenvolvendo essa
missão e juntos desenvolvermos a missão que Deus tem para São
Paulo. Eu digo sempre que os filhos não vêm com bula – então eu fui
aprendendo a ser pai dos meus filhos e estou aprendendo a ser pai
dos missionários, que são muitos. E eu estou com responsabilidade
diante de Deus por cada um deles. Quando eu me casei, em 88, o
monsenhor Jonas falou para nós algo profético - para mim e para a
Fatinha - que Deus nos daria a graça de educar nossos filhos, que
iríamos gerar, e aqueles que Deus nos daria com o passar dos anos
na Canção Nova.”
Valdo de Jesus P. Leite, ajudante geral, pai de
cinco meninas
A família de Valdo é um exemplo de amor. A diretora da escola
o aponta como um pai presente, que acompanha o desenvolvimento
das filhas. Valdo se dedica a cuidar das cinco meninas, para quem
assumiu o papel de pai e mãe: Rosângela, Carina, Amanda, Raíssa
e Ana Carolina. Ele conta que o segredo para cuidar das filhas com
tanta dedicação é ter muita fé em Deus e acompanhar os passos
delas, ouvir o que elas têm a dizer – e também fazer com que elas
ouçam o que ele tem a dizer. “É importante acompanhar os estudos
e dividir as tarefas de casa, por exemplo, lavar, passar, cozinhar
– isso nós fazemos em grupo, porque começa fazendo em casa e
depois vai fazer na rua.”
Para sustentar a família, Valdo, que trabalha como ajudante ge-
ral, chega a rodar 50 km de bicicleta procurando serviço. “Tem que
correr atrás, não esperar que Deus vá levar pra mim na minha casa.
Eu levanto todo dia 5 horas da manhã para dar banho, arrumar as
crianças para levar na escola, correr atrás de trabalho. Mesmo assim
vivo feliz e agradeço muito a Deus e a mãe delas, que me deu essas
filhas maravilhosas”. Sobre o trabalho, ele ensina às filhas a fazer
tudo com amor, carinho e fé em Deus. “Deus em primeiro lugar.”
Educação com amor – “A pessoa, sendo educada, consegue
entrar em qualquer repartição, conversar com qualquer cidadão e
respeitar. Para dar educação ao filho é preciso ter a base em casa.
Em casa você ensina, explica, ouve, discute, conversa. Muitas vezes
a pessoa fala – ‘meu filho não tem obediência. Eu dei pra ele um
carro’. Muitas vezes o filho carece mais de um abraço e ouvir ‘filho,
papai te ama’. Às vezes uma das meninas me abraça e diz: ‘papai
eu te amo’ – é como se eu tivesse com o dinheiro do mundo todo no
meu bolso.”
Felicidade – “Sou muito orgulhoso das minhas filhas e espero
que os pais tenham o mesmo orgulho que eu tenho e a felicidade
que eu sinto de estar com elas, falar com elas, enfim,
sou uma
pessoa muito abençoada.”

Lição de Vida128
Ajudar dependentes químicos na grande batalha de superar a dependência é o desafio que a Associação
Beneficente Nossa Senhora de Guadalupe vence com amor. Esse amor ao próximo, a vontade de recuperar vidas
ganhou força quando a idealização do projeto era ainda recente. Em 1978, quando pertencia a um grupo de
jovens, o padre Luiz Carlos dos Passos começou a trabalhar com dependentes químicos. “Eu me tornei semina-
rista, padre e sempre gostei desse tipo de trabalho porque sentia a importância que é recuperar alguém de uma
vida tão sofrida como é a de um dependente químico ou alcoólico.”
Quando chegou à Paróquia Santa Margarida Maria, há três anos, o padre resolveu dar um passo a mais no
grupo de autoajuda que funcionava há pelo menos 15 anos e criar a Casa de Recuperação Nossa Senhora de
Guadalupe. Além do amor gratuito, incondicional, proposta da Pastoral da Sobriedade, a casa tem como diferen-
cial o incentivo do contato dos residentes com a comunidade. O padre Luiz Carlos explica que essa iniciativa tem
por objetivo permitir que os residentes tenham o máximo de contato com a vida da comunidade. “Queremos que
eles vivam inseridos para que se sintam participantes da vida comunitária. Acho que aí está um dos segredos da
recuperação dentro da nossa casa. Eles não podem se sentir isolados. Eles precisam se sentir participantes da
vida da comunidade.”
Os resultados apontam que o trabalho segue o caminho correto, pois já apresenta belas histórias de recu-
peração como a de Gilberto, 60 anos, que havia passado por 18 comunidades terapêuticas antes de chegar à
Nossa Senhora de Guadalupe. “Eu nunca completava o tratamento; sempre interrompia no máximo com dois
meses de estada”, revela Gilberto. Tendo completado 11 meses na entidade e concluído a graduação, Gilberto
podia voltar à sua casa, mas fez uma escolha diferente. “Eu optei por não retornar para casa. Fui aceito como
voluntário e voltei para a Casa Guadalupe. Vou dar um pouquinho do muito que recebi até o momento e volto
principalmente pelo regimento da casa: aqui é tudo pelo amor, nada pela dor que foi o que encontrei nas demais
casas de recuperação e por isso eu não resistia”. Por amor Gilberto venceu sua batalha pessoal, resolveu ficar e
se une ao sonho do padre Luiz Carlos e de tantos outros para ajudar a recuperar outras vidas, pelo amor.
Associação Beneficente Nossa Senhora de Guadalupe
Vidas renovadas
“Nas grandes batalhas da vida, o primeiro
passo para a vitória é o desejo de vencer.”
Mahatma Gandhi, líder pacifista e
político indiano

129Paulo Alexandre Barbosa
Ligada à Paróquia Santa Margarida Maria, a Associação Beneficente Nossa Senhora de Guadalupe tenta, através
do trabalho realizado em sua casa de recuperação, ajudar dependentes químicos. Localizada em uma região carente da
cidade de Santos (SP), a entidade tem capacidade para atender 20 residentes, recebendo pessoas de outras localidades
para o tratamento. Em três anos de trabalho já atendeu mais de 200 pessoas.
Um dos aspectos da casa é deixar os residentes livres para ir e vir, para promover aos poucos a reinserção na
sociedade, ainda durante o tratamento, e não somente ao término. Essa ação, associada ao amor de todos os envolvidos,
contribui para o baixo índice de desistência.
Os residentes fazem atividades de laborterapia na sede da Igreja Santa Margarida Maria, além de participar de
projetos sociais.
“A grande felicidade que nós carregamos em nosso coração é
precisamente essa: saber que aquele que antes estava morto
voltou a viver e voltou a viver porque acolheu Jesus no seu
coração e entregou a sua vida nas mãos de Jesus. É isso que
nós queremos: que esse encontro com Jesus na vida das pessoas
possa propiciar a cada uma delas essa vida nova, essa vida em
plenitude, essa vida em abundância que só Nosso Senhor Jesus
C
risto pode oferecer a todos nós.”
P
adre Luiz Carlos dos Passos, presidente e fundador
“Como monitor da casa eu dou um pouco do que recebi. Eu
sou um recuperando , passei o processo e hoje, como outros
serviram de luz pra mim, eu sirvo de luz para outras pes
-
soas. Com meu testemunho de vida tenho procurado compro-
var que a recuperação é possível.”
C
laudir Silva, monitor
“C
omeçamos fazendo trabalho dentro das favelas, acom
-
panhando crianças desnutridas e fomos crescendo no
carisma. Fomos rezando , buscando oração. Certo dia Deus
colocou esse caminho , através de uma profecia . O sonho
começou a se concretizar e montamos a Casa Guadalupe.”
J
orge Gomes, coordenador
Associação Beneficente Nossa Senhora de Guadalupe
Local: Rua Álvaro Pinto da Silva Novaes Filho, nº 257
Caneleira- Santos (SP)
Fundação: 2005
Contato: (13) 3291-2428
Programa exibido em: 31/08/08

Lição de Vida130
“Acredite nos seus sonhos”. O conselho vem da jovem Bianca de Jesus Santos, 17 anos, que diz ser muito bom
sonhar, realizar e, melhor ainda, quando se conquista muito mais até do que se imaginou. E isso só é possível quando
há oportunidades, como as que o Proeco oferece para a juventude, abrindo portas, indicando caminhos.
Bianca chegou à entidade com 10 anos graças à sua mãe, Maria do Carmo de Jesus, que trabalha com recicla-
gem. Ela juntava garrafas na rua quando viu a instituição cheia de crianças. “Matriculei, trouxe e ela gostou”, diz Maria.
A menina começou fazendo aulas de desenho e logo se interessou pela dança cultural popular brasileira. “Fui apren-
dendo, me desenvolvendo, até que começou o projeto Talentos em Ação, há quatro anos, com jovens da comunidade.
Tinha aulas diferentes de vários professores. Fomos aprendendo circo, dança.”
Depois de ser aluna e trabalhar como voluntária, Bianca virou funcionária. Feliz, a moça comemora o primeiro
registro na carteira de trabalho. “É o máximo. A gente nunca pensa que vai chegar a um objetivo tão grande. A gente
sempre pensa em objetivo pequeninho, que não pode ultrapassar aquilo. Meu objetivo era fazer as aulas, mas com a
força de vontade que eu tive e ajuda nos estudos, consegui chegar a um resultado muito maior do que eu idealizava.
Por isso, posso dizer que as pessoas devem acreditar nos seus sonhos.”
Projeto Educacional de Conscientização e Orientação (Proeco)
Apontando caminhos para a juventude
“Aquele que tem caridade no coração,
tem qualquer coisa para dar.”
Santo Agostinho

131Paulo Alexandre Barbosa
O Projeto Educacional de Conscientização e Orientação – Proeco – ajuda jovens e famílias da região carente da Zona
Noroeste de Santos (SP) a mudar suas vidas através da educação, da cultura, despertando vocações. O trabalho é baseado
em um tripé: família, comunidade e escola.
A iniciativa nasceu da realização de um sonho da professora Valéria Gomes, que é diretora-presidente e fundadora da
entidade. Professora de português desde 1982, ela atuou em várias escolas, buscando sempre uma educação diferenciada,
usando várias linguagens, como dança, música e teatro.
De 1998 para 2000, a educadora resolveu fazer uma ação revolucionária, envolvendo toda a escola e a comunidade
para discutir educação. “Resolvemos parar a escola e refletir sobre a escola dos nossos sonhos. Ouvimos diversas pessoas
e construímos no início um pequeno projeto pedagógico, em que essas crianças, que vinham em um período, no período
oposto, no contraturno, aprendessem outras atividades.
Em 2000, o PROECO virou uma organização não-governamental e hoje atende 200 famílias, com atuação junto às es-
colas da região, contando com terapia comunitária, atividades para geração de renda, dança, música, teatro, área de moda
e estamparia.
“Nosso papel educativo é completar a formação
que crianças , adolescentes e jovens têm nos
espaços formais. Fazemos a construção dessa
educação com o entendimento de quem eu sou
e de onde faço parte, onde moro, com quem eu
moro. Fazemos a leitura do mundo, ensinando
a olhar esse mundo, a ler esse mundo e é esse
processo que vai dar resultados até na inser-
ção no mercado de trabalho.”
J
uliana Clabunde dos Santos, vice-presidente
“O Proeco faz parte da minha vida. A gente vive esses problemas de estudo, de ter
vontade e não ter condições. Eu sei que esses adolescentes , essas crianças , são supe
-
rinteligentes . Talvez eles tenham a inteligência que eu procurei e não achei. Então eu
procuro ajudar no que posso e acho neles muita inteligência .”
A
rildo de Souza Costa, voluntário
“Eu cuido das três unidades e zelo com muito carinho daqui. Um dia fui fazer companhia
para a professora de costura e vendo ela trabalhar descobri que eu tenho dom para
costura. Está sendo ótimo pra mim. Conquistei meu espaço, graças a Deus, e sou super
-
feliz aqui. Com o nascimento do Proeco nasceu uma nova Maria.”
M
aria Conceição Anjos, auxiliar de serviços gerais
Projeto Educacional de Conscientização
e Orientação - Proeco
Local: Rua Engenheiro Elias Machado de
Almeida, nº 116
Santos (SP)
Fundação: 2000
Contato: (13) 3299-6255
Site: proeco.sites.uol.com.br
Programa exibido em: 19/10/08

Lição de Vida132
Deus escolhe as pessoas certas para colocar nos lugares certos. O sorteio da promoção do programa Lição
de Vida “Eu ajudo a construir homens novos para um mundo novo” foi muito especial, pois definiu a pessoa
que ganharia uma viagem para Roma a fim de testemunhar um momento marcante: participar da cerimônia do
Reconhecimento Pontifício dos Estatutos da Canção Nova.
Esse momento é a coroação dos esforços de toda a comunidade, um momento especial na história da
Canção Nova. Por isso, a vencedora só poderia ser alguém especial como é Maria Eunice Carvalho de Godoy
Geremias.
Eunice fala em amor – amor ao próximo, amor ao trabalho que faz de evangelização pela comunicação,
exatamente o caminho que segue a Canção Nova. A educadora aproveita seu programa de rádio e a coluna que
tem no jornal da cidade para falar exatamente de amor - amor em Deus. Além de amar, Eunice é uma pessoa
muito amada - amada pela família, pelos amigos, pela comunidade. Por isso, a melhor forma de conhecer essa
vencedora é pelo amor nas palavras dos familiares e amigos que desenham um retrato dessa mulher, que é
educadora, escritora, locutora de rádio, mãe e esposa exemplar e, sobretudo, um grande exemplo de vida.
Promoção “Eu ajudo a construir homens novos p ara um mundo novo”
Momentos especiais, pessoas especiais
“Não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi.”
(Jo 15,16)

133Paulo Alexandre Barbosa
“Uma legionária me ligou e falou que o programa do sorteio
estava passando . Eu corri e liguei a TV justo quando minha
neta estava sendo sorteada. Imediatamente liguei para minha
filha, mãe da Eunice. Notícia boa também corre.”
A
layde Pelatti Begalli, avó
“Eu sou vigário da paróquia desde 1955. G raças a Deus a gente vê aquelas crianças que a gente cuidava crescendo e re
-
alizando trabalhos bonitos de igreja também. A gente agradece a Deus a graça de estar aqui e vê com alegria o fruto do
trabalho, não só nosso, mas da comunidade . A comunidade toda deve trabalhar junto. A pastoral é de toda comunidade .
V
endo a Nice a gente lembra do avô dela, dos pais, que foram sempre de um relacionamento bom com a igreja, que colabo
-
raram bastante - e ela também. Ela fazia um trabalho bonito e hoje está dando muito de si, pela experiência que ela tem.”
M
onsenhor Nilo Romano Corsi, pároco da igreja de Sant´Ana em Pedreira
“Eu fui aluno da Eunice, sou amigo e estamos sempre
juntos. A Nice me ensinou muito do que eu sou hoje.
N
a escola ela sempre me orientou e me auxiliou bas
-
tante na minha formação pessoal também. Hoje eu aju-
do na comunidade , como a Nice ajuda. Eu trabalho com
a equipe de retiro diocesana São Padre Pio. Trazer o
jovem para a igreja é muito gratificante – vemos jovens
perdidos, nas drogas, trazemos esses jovens para
participar da missa e eles entendem o que é o amor de
D
eus. E sempre que eu tenho alguma dúvida, alguma
palestra, vou pedir orientação pra Nice.”
L
uciano Vieira de Godoy, ex-aluno
“Eunice é uma pessoa que merece . Sempre foi batalhadora, boa
mãe, boa esposa, dedicada , atenciosa , sempre procurando fazer
algo ao próximo. Ela foi recompensada e nada melhor que essa
recompensa vir em um momento tão especial que é esse da Can
-
ção Nova e a gente poder fazer parte desse momento .”
O
scar de Godoy Geremias, marido
“A Nice sempre foi muito dedicada e fanática pela leitura
e escrita. Também sempre gostou de ajudar – ela dá de si
mesma.”
D
iley Begalli C. de Godoy, mãe
“Minha filha tem muitas qualidades, por isso, se tivesse que
destacar uma, destacaria todas.”
J
orge Carvalho de Godoy, pai, falecido em 2009
“M
inha mãe estava viajando quando aconteceu o sorteio.
E
u liguei e avisei que tinha uma boa notícia . Ela já disse:

eu ganhei’. Quando eu falei que ela ganhou, ela começou a
gritar, a chorar e rir.”
M
aite Carvalho de Godoy, filha caçula
Maria Eunice Carvalho de Godo y
Vencedora da promoção do programa Lição de Vida
“Eu ajudo a construir homens novos para um mundo novo”
Local: Pedreira (SP)
Programa exibido em: 26/10/08

Lição de Vida134
Som, energia, movimento. A alegria contagiante da música reflete o espírito de animação da entidade em
oferecer uma vida melhor para a família, contemplando crianças, jovens, adultos e idosos. A transformação
que o CEC promove na comunidade é como a que a música promoveu na vida de Diego Moura de Freitas,
assistente de direção musical na instituição.
Desde cedo, Diego gostava de música, mas foi aos 18 anos que começou a ter mais contato e se profis-
sionalizar – antes, tocava somente na escola. “Vim participar do projeto a convite do professor Milton. Tinha
um trabalho de raiz que era com as crianças e adolescentes e quando chegavam a uma certa idade havia a
necessidade de ocupar esses adolescentes. Então, ele teve essa belíssima ideia de fazer esse projeto com
instrumento de percussão de raiz”, diz o rapaz.
Além do trabalho como monitor de percussão no CEC, Diego participa da banda marcial da cidade,
explorando sua paixão pela música. “Na banda marcial o trabalho é mais profissional. Trabalho como
percursionista e baterista. É uma paixão, é minha vida, é a única coisa que eu sei fazer”. Ele fala com
orgulho também de três alunos que começaram estudando com ele e hoje estão na banda marcial
e sobrevivem trabalhando com música. “Temos vários alunos aqui com muito talento para mú-
sica e poder trabalhar com isso é um futuro bonito. Eu costumo dizer que o músico, além de
ter muita dedicação para fazer o que o trabalho exige, deve realmente fazer com gosto.”
Diego se realiza não somente vivenciando sua paixão, mas partilhando com ou-
tros que trilham o mesmo caminho. Ele olha para o próximo e sente a satisfação de
ajudar a vida de outros jovens que, como ele, podem encontrar na música a oportuni-
dade de descobrir uma vocação e trilhar um caminho decente em sua vida.
Centro de Cap acitação Comunitária (CEC)
Qualidade de vida para as famílias
“Eu gostaria de reunir o mundo inteiro numa
grande rede de caridade.”
Antonio Frederico Ozanam,
fundador da Sociedade São Vicente de Paulo

135Paulo Alexandre Barbosa
De uma desgraça ocorrida na região, começou a nascer a entidade. Por volta de 1983, aconteceu
um incêndio na Vila São José, em Cubatão, que deixou muitas famílias desabrigadas. Preocupado com
a situação, Dom David Picão encaminhou uma verba que veio da Alemanha para a Sociedade São
Vicente de Paulo construir o Centro Comunitário, com o objetivo de ajudar essas pessoas em dificulda-
des. “Na época, eu era catequista e metade do bairro foi abaixo. Eu comecei a trabalhar a catequese
aqui no bairro e não existia nada na Vila Natal. Eu pensei que havia necessidade de criar alguma coisa
para os novos moradores que estavam vindo para essa região, as pessoas da Vila São José”, recor-
da um dos fundadores, Sônio Célio, homem que dedicou sua vida ao trabalho social e à melhoria da
qualidade de vida da população cubatense, a quem o Lição de Vida presta uma homenagem especial
por sua recente partida.
Com a doação do terreno da Prefeitura, foi construída a entidade. No início, havia curso de
capacitação, depois passou a atender crianças. Atualmente o CEC tem projetos para todas as idades.
A assistente social Adriana Soares Neves fala sobre os projetos. “Para adultos há geração de renda,
alimentação e artesanato. Há ainda o projeto Jovens em Ação e programa Integração a Crianças. Esses
projetos são independentes, mas ao mesmo tempo acontecem juntos e se tornam como uma família,
com vários cursos, como capoeira, ballet, biscuit e algumas outras atividades. O Jovens em Ação é
dedicado aos adolescentes de 12 aos 18 anos incompletos; tem a percussão e traz o grupo Afro Banda,
conhecido não só em Cubatão, mas também em outros municípios.”
“Os trabalhos estão tirando as crianças da rua, evitando
que se envolvam com drogas, com prostituição. Além disso,
ocupa as mães, dando oportunidades de trabalho, possibi-
litando que as mães aprendam alguma coisa, sustentando
suas famílias, pois a maioria das mulheres é mãe solteira.”
M
aria Aparecida Carneiro Costa, vicentina e coordenadora das atividades
“Os cursos de desenho e música chamam bastante
a atenção das crianças . Muitas vezes elas chegam
aqui e acham que é brincadeira de batuque e depois
percebem que não é só isso, e notam que existe a
partitura, leitura, música e capoeira. Por fim, elas
acabam gostando de tudo.”
A
driana Soares Neves, assistente social
Centro de Capacitação Comunitária – CEC
Local: Rua São Francisco de Assis, nº 70
Vila Natal- Cubatão (SP)
Fundação: 1989
Contato: (13) 3361-6802
Site: www.grupoafrobanda.blogspot.com
Programa exibido em: 02/11/08

Lição de Vida136
Esta passagem simboliza com fidelidade o trabalho da Casa de Emaús,
o acolhimento com amor das pessoas que passam por adversidades e são
ajudadas a serem reinseridas na sociedade. É a concretização do ideal de
um padre sonhador e realizador que conquistou seu sonho graças ao esfor-
ço, dedicação e comprometimento da comunidade que também o acolheu.
O padre Antonio Pereira Luz nasceu em Pesqueira, no início do sertão pernambucano, estudou no semi-
nário de Olinda e Recife e no mosteiro de São Bento. Foi para Cubatão no final de 1992, onde ficou um tempo
como vigário paroquial.
Integrado à comunidade da cidade, o padre percebeu a necessidade de criar um lugar para acolher
moradores de ruas ou pessoas que vinham de outras cidades, que estavam de passagem por Cubatão e não
encontravam um lugar para descansar. “Em 1998, no dia 4 de março, fizemos um almoço que chamamos
almoço do Senhor Jesus, para a população de rua, com um grupo de 60 voluntários da paróquia. Iniciamos
também o sopão, que levávamos às ruas, embaixo do viaduto e em todo lugar que havia população carente”,
recorda o idealizador da casa. “Passou o inverno e chegamos à conclusão de que não adiantava só levar sopa,
lençol, e o pessoal continuar molhado. Surgiu a ideia de fazer uma casa para acolher esse público.”
Durante toda a sua existência, a Casa de Emaús conta com o envolvimento da comunidade, que atua
como voluntária ajudando a reintegrar essas pessoas à sociedade. Para o padre Antonio, o segredo para
manter a união, para realizar tão importante sonho e contar com tantas pessoas amorosas dispostas a apoiar,
é Jesus. “Quando a gente faz as coisas com amor o Senhor abençoa.
Todo pessoal que trabalha conosco é voluntário desde o início do
almoço até o dia de hoje, graças a Deus.”
Casa de Emaús
Comunidade que acolhe
“Pois eu estava com fome, e me
destes de comer; estava com sede, e
me deste de beber; eu era forasteiro, e
me recebestes em casa.”
(Mt 25,35)

137Paulo Alexandre Barbosa
A Casa de Emaús funciona em Cubatão, na Baixada Santista, e recebe de oito a nove pessoas por dia. Começou em
um imóvel alugado e foi crescendo com a ajuda da comunidade, conquistando imóvel próprio. O trabalho é vinculado à
Igreja Católica, mantido pela Paróquia São Francisco de Assis.
Coordenadora da entidade, Eurídice Maria de Oliveira conta que a primeira ação é acolher com muito amor, carinho,
independente do estado em que eles chegam. “Em seguida a gente dá o kit de higiene, eles vão tomar banho, trocar de
roupa, depois fazemos triagem. Ai tomam lanche da tarde e vão ver TV ou orar na capelinha que temos, e fazemos evan-
gelização. Depois do jantar, voltamos a conversar com eles e, no outro dia, encaminhamos para os recursos que forem
necessários.”
O objetivo da entidade é dar assistência à população de rua e migrantes, para que eles tenham, por algum tempo, um
lugar para ficar até poderem reintegrar-se à sociedade ou retornar para sua cidade de origem. “A maioria vem de longe.
Eles têm a ideia de que logo vão arrumar emprego, que Cubatão tem muito dinheiro, e quando chegam aqui a realidade é
outra”, conta Eurídice.
“A gente não quer só acolher o pessoal, a gente quer
inseri-los novamente na sociedade. Para isso, pretende -
mos fazer diversos cursos. Vemos aqui que a principal
carência é a família. Todos que chegam aqui têm história
de abandono , ou dos filhos, da esposa, vêm principalmente
do Nordeste para trabalhar aqui e quando não encontram
trabalho, ficam perambulando e vão se entregando ao
álcool, aos vícios.”
P
adre Antonio Pereira Luz, presidente e idealizador
“Minha missão aqui é amar e acolher todos aqueles excluí
-
dos pela sociedade. Quando começamos eu não esperava que
a gente fosse chegar tão longe. Conseguimos por perseve-
rança e o desejo de ajudar os mais necessitados .”
G
ecina de Souza Loureiro, voluntária
“A vontade de desenvolver trabalho voluntário foi des
-
pertada há muito tempo. Sou orientadora educacional , pe-
dagoga e sempre trabalhei com família. Eu via a dificuldade
das famílias aqui e o que me levou mesmo a trabalhar foi o
incentivo do padre Antonio. Vi que a gente precisava se des-
pojar para ajudar esses irmãos que o povo não dá valor.”
E
urídice Maria de Oliveira, coordenadora
Casa de Emaús
Local: Avenida Nações Unidas, nº 330- Vila Nova-
Cubatão (SP)
Fundação: 2001
Contato: (13) 3372-7479
Programa exibido em: 09/11/08

Lição de Vida138
Vivenciar a caridade em sua forma mais pura, experimentando as mesmas dificuldades que os necessitados
para poder entendê-los e ajudá-los. Essa é a experiência vivida pelos missionários da Aliança de Misericórdia,
como Vanderléia P. Silva, que vive na Favela do Moinho, no centro de São Paulo, onde está localizada a Creche
São Miguel.
Com outros missionários, ela vive na casa instalada no local, participa do cotidiano da comunidade e relata
as dificuldades dos moradores da região. “A realidade aqui é um pouco dura, porque os moradores vivem em
uma opressão, uma pobreza bem grande. É uma realidade precária e nós estamos inseridos aqui para viver
como eles, então procuramos fazer o nosso dia a dia bem parecido com o deles. Temos os trabalhos de casa,
além das orações e depois nos dedicamos inteiramente a acolhê-los.”
Uma das missões de Valéria e dos outros missionários é levar a esperança à favela pela palavra de Deus. O
trabalho é lento e nasce da amizade, da relação de carinho que se estabelece com as visitas aos moradores e
as orações conjuntas. Para enfrentar o trabalho árduo, Valéria explica sua motivação: “O que mais me motiva é
pensar no amor de Deus por cada um de nós. Porque além do que nós vemos no externo, além de cada coração,
existe vida e sabemos que Deus ama essa vida. Então o que mais me motivou a querer levar dignidade a essas
pessoas é a certeza de que Deus nos ama e cuida de cada um de nós. Essa é a maior motivação, dar a vida para
esse povo que é sofrido e que espera esse cuidado, esse amor.”
Creche São Miguel Arcanjo – Aliança de Misericórdia
Vivenciando a caridade
“A soberba gera divisão. A caridade, a comunhão.”
Santo Agostinho

139Paulo Alexandre Barbosa
Instalada na Favela do Moinho, a Creche São Miguel é mantida pela Aliança de Misericórdia, entidade que existe há
oito anos, mas já está em 36 cidades do Brasil e em mais três países: Itália, Portugal e Bélgica. Fundada pelos padres
Antonelo e João Henrique, a Aliança de Misericórdia trabalha com missionários que vivem nas comunidades carentes,
ajuda a tirar moradores da rua e a cuidar de crianças e jovens. As atuações em diversas frentes têm o objetivo comum de
promover a igualdade social. A Creche São Miguel é uma das unidades da entidade para essa missão.
“O sentimento que motivou a criação desse trabalho foi o de levar essa misericórdia, de olhar a miséria humana e se
compadecer dela”, conta o missionário Dilson Aparecido Alves Dias. “Esse desejo está no coração dos padres há muitos
anos, mesmo quando eles faziam parte de outra comunidade original da Itália, uma comunidade de trabalho de missão,
mas eles tinham o desejo de acolher os pobres e poder transformar sua vida. Eles foram amadurecendo essa ideia no
decorrer de vários anos até que, chegando ao Brasil, fizeram um trabalho aqui.”
“A A liança cresceu muito. Está em tantos lugares e para nós foi uma
surpresa depois de poucos anos de vida ver o trabalho se difundindo tanto.
L
embro de uma ocasião em que o monsenhor Jonas comentou , no início da
comunidade , que ela ia crescer muito, tanto que a gente não ia poder acom
-
panhar de perto tantas coisas, e a gente já começa a ver isso. Os padres es-
tão nesse momento viajando em missão na Europa e os trabalhos continuam
se desenvolvendo também no Brasil. A A liança nasceu na passagem do ano
de 2000, com a presença de padres, consagrados , leigos, adultos, jovens ,
homens e mulheres que sentiam o desejo de levar a misericórdia de Deus a
todos os lugares e às pessoas que precisam dessa misericórdia . Ela tem
como centro do carisma essa dimensão de levar a misericórdia que depois se
expressa de várias formas, com o trabalho na favela, com o povo de rua,
nas cadeias, na Fundação Casa.”
D
ilson Aparecido Alves Dias, missionário
“Todo dia quando eles chegam em casa eu pergunto como foi o dia
deles na creche. Ontem minha filha disse que ‘brincou e rezou o
texto’. Aí eu falei: ‘que texto, menina , que você rezou?’ Minha mãe
falou assim: ‘Não, ela rezou o terço’. Eu falei pra ela: ‘Você vai
ajudar a mãe a rezar o terço?’ Ela: ‘Vou. Eu vou aprender pra
te ensinar a rezar o terço’. São coisas assim, pequenas , que eu
acho interessante . Meus filhos não comiam em mesa antes e hoje
só querem comer sentados na mesa, sem olhar pra TV e eu tenho
que sentar junto, mesmo que eu não vá comer e isso foi na creche
que eles aprenderam .”
T
atiane Monteiro Cavalcante, mãe
“Hoje nós temos 340 crianças , nas periferias são três creches .
N
ós atendemos as crianças em período integral. Todas as creches
nasceram primeiro de um trabalho de evangelização na comunidade .
O
trabalho aqui na favela do Moinho tem dois pontos fundamen
-
tais: o trabalho da fraternidade - temos um grupo de missionários
que moram na mesma condição que os moradores daqui, em um bar-
raco simples - e a segunda é o trabalho da creche. São trabalhos
que andam sempre muito próximos porque os missionários fazem a
visita domiciliar e estão próximos da realidade dessas famílias.”
F
abiana Barbosa Gonçalves, coordenadora geral das creches
Creche São Miguel Arcanjo– Aliança de Misericórdia
Local: Rua Dr. Elias Chaves, s/nº- Campos Elíseos- São Paulo (SP)
Fundação: 2004
Contato: (11) 2839-3145
Site: www.misericordia.com.br
Programa exibido em: 16/11/08

Lição de Vida140
Todos os pais acalentam sonhos para os filhos e têm a esperança de realizá-los. Os pais que descobrem
que os filhos têm necessidades especiais carecem de um apoio, uma atenção especial para que seus peque-
nos desenvolvam ao máximo suas potencialidades. Por isso, a Casa da Esperança recebeu esse nome: para
oferecer o cuidado essencial para que os pais possam ter suas esperanças alimentadas.
A esperança tem se transformado em alegria para Mirian Bigão M oreti, mãe de Manuela, de três anos
e sete meses e que desde o primeiro mês de vida frequenta a entidade, onde faz tratamento de fisioterapia,
fonoaudiologia e participa do grupo pedagógico. “Aqui eles acolhem a criança. Se você não acolhe a criança,
ela não tem o desenvolvimento que se espera, assim como a família e os pais, e eles têm todo um cuidado de
estar envolvendo a família nesse contexto”, elogia Mirian, que fica feliz em ver a filha aprendendo de forma
lúdica. Integrada, Mirian também participa das atividades, especialmente dos cursos de geração de renda
para famílias. “Até nessa questão eles ajudam, porque a mãe que não tem profissão acaba adquirindo uma
com os cursos e gerando renda”. É outra forma de promover esperança.
Para Marilene de Medeiros Lucena, mãe de Janio, de quatro anos e três meses e que também frequenta
a casa desde o primeiro mês, a esperança vem também como oportunidade para seu filho, que apresenta
boas melhoras. “No começo ele era um dos mais molinhos. Quando começou aqui, rapidinho passou a ter
êxito, até porque começou a andar mais rápido. Se não tivesse vindo pra cá, tudo seria mais difícil”, fala Ma-
rilene, com a consciência de que está oferecendo o melhor ao filho e com a certeza de que na casa encontrou
a esperança que buscava. “As mulheres ficam reunidas conversando e trocam ideias, mostrando que os
problemas não são tão sérios desde que a gente os aceite e busque solução.”
Casa da Esperança
Uma atenção especial
“A esperança é o sonho
do homem acordado.”
Aristóteles, filósofo grego

141Paulo Alexandre Barbosa
A Casa da Esperança começou com um grupo que dava assistência às crianças pobres e aleijadas, vítimas da paralisia infantil.
A iniciativa teve início com o médico Samuel Augusto Leão de Moura. Com a descoberta da vacina contra poliomielite e o fim dos
casos da paralisia na cidade, a entidade passou a cuidar de outros necessitados, que precisavam de tratamento especializado.
No início, o atendimento era feito em um hospital da cidade. Depois foi construído um hospital próprio, posteriormente transfor-
mado em ambulatório, que hoje atende mais de 200 crianças e adolescentes, de 0 a 18 anos, com necessidades especiais.
“Fazemos o diagnóstico das deficiências das crianças e através de equipe multidisciplinar com psicólogo, terapeuta ocupa-
cional, fisioterapeuta, cirurgião dentista, médico neurologista e médico ortopedista, desenvolvemos um programa de reabilitação”,
detalha o presidente da entidade, Lamartine Lelio Busnardo. “Essas crianças vêm para a Casa da Esperança através das clínicas,
dos serviços públicos e através dos profissionais médicos, que quando detectam essas deficiências encaminham para nós. Aqui
elas recebem tratamento especializado e alimentação.”
Todo trabalho é desenvolvido para ajudar crianças e famílias, fazendo valer o lema da entidade: “Nós nunca perdemos a
esperança.”
“Eu vim pra Santos trabalhar no pronto socorro da Santa
C
asa e lá fui convidada pelo presidente da Casa da Esperança .
D
r. Samuel Augusto Leão de Moura e estou aqui há 48 anos.
A
qui é a continuação da minha casa. Eu vi crianças nascerem ,
casarem e já estão trazendo filhos e me chamam de vó e bisavó. É
um carinho imenso que a gente tem pelas crianças e por incrível
que pareça, isso aqui é minha vida. Que Jesus nos abençoe e dê
força para que a Casa da Esperança continue assim, fazendo
caridade, dando amor sem distinção de raça, credo e política . Aqui
realmente há o amor e a caridade.”
H
elenita Souza Santana, enfermeira que mudou da Bahia para Santos e trabalha na
casa quase desde o início das atividades.
“T
emos 234 crianças que vêm de toda Baixada Santista.
E
las são atendidas pela situação de carência , são depen
-
dentes de família de renda baixa e têm em comum quase o
mesmo diagnóstico , paralisia cerebral e retardo no desen-
volvimento neuropsicomotor , além de síndromes .”
M
arília Pinto Freitas, assistente social, há mais de 35 anos atuando na
instituição
“Temos a fisioterapia no solo e a hidroterapia. Há também a
sala que é um diferencial da casa, de integração sensorial,
onde a criança vai interagir com o ambiente emocionalmen
-
te, socialmente e fisicamente .
T
rabalhamos com a criança de maneira lúdica , o que é
fundamental , pois o desenvolvimento de uma criança é muito
maior quando ela brinca .”
A
dalberto Ribeiro Brotas, fisioterapeuta
Casa da Esperança
Local: Rua Imperatriz Leopoldina, nº 15- Ponta da
Praia- Santos (SP)
Fundação: 1957
Contato: (13) 3278-7800
Site: www.casadaesperancasantos.org.br
Programa exibido em: 23/11/08

Lição de Vida142
Para Daise Aparecida de Moura parecia impossível conseguir uma boa carreira, seguir os estudos, fazer
faculdade. Mas o destino dela mudou quando entrou no GALP, buscando ajuda para cuidar dos filhos. Separa-
da, ela precisava trabalhar e encontrou na entidade o apoio para cuidar de Lucas e Gabriel em um momento
que ela considera essencial, da infância à adolescência. Ambos saíram do grupo com trabalho e Lucas passou
no vestibular para cursar jornalismo.
“Eu tinha tanta confiança aqui, por conta de tudo que eles me ofereciam que eu me sentia na obrigação
de crescer junto com meus filhos”. Foi exatamente o que Daise fez ao participar de diversos cursos. Um
comentário dos meninos sobre o trabalho de costureira da mãe lhe rendeu o serviço de fazer o uniforme
do GALP. “Eu me senti importante. A presidente me chamou, demonstrou tanta confiança; foi através desse
incentivo, delas acreditarem em mim que eu quis acreditar também”, revela.
Mais confiante, Daise foi se especializar até que surgiu a vontade de fazer faculdade – o que
conseguiu participando do programa Escola da Família e obtendo uma bolsa para trabalhar nos
finais de semana. Realizada, Daise volta ao GALP para ensinar outras mães a costurar, para
que outras mulheres tenham a oportunidade que ela teve.
“Tudo que eu tenho, que eu sou e que meus
filhos são, foi graças ao GALP. Poder devolver
um pouquinho só do que ganhei durante
toda uma vida é muito bom.”
Grupo Amigo do Lar Pobre (GALP)
Preparando para a vida
“Tudo o que sou e que sempre desejei ser,
devo-o à minha mãe.”
Abraham Lincoln, advogado e ex-
presidente norte-americano

143Paulo Alexandre Barbosa
Preocupadas com o futuro de meninos de famílias carentes, senhoras da ação católica se uniram para ajudar. Funda-
doras do GALP, Geny Marsaioli e Maria do Carmo Pires lembram que no começo elas distribuíam roupas, remédios, alimen-
tos e enxovais para bebês. “Ajudamos muitas famílias. Tínhamos uma casa onde recolhíamos crianças e as mães tinham
um lugar para deixar os filhos para trabalhar. Para angariar fundos, fazíamos pequenos bazares”, recorda Geny. “Fomos
progredindo até chegar ao que temos hoje”, comenta Maria do Carmo sobre a instituição que funciona em Santos, no litoral
paulista, atendendo jovens em situação de risco social.
A entidade recebe meninos de 6 a 16 anos no período em que não estão na escola, para diversas atividades: reforço
escolar, aula de informática, futebol, natação, música e consulta com fonoaudióloga e psicóloga. Quando completam 14
anos, eles são encaminhados para o mercado de trabalho, mas continuam acompanhados pelos profissionais do GALP.
“Nós recebemos as crianças com intuito de orientá -las,
encaminhá -las, dando formação no período em que não estão
na escola, permitindo que a mãe fique tranquila no trabalho.
F
azemos tudo com amor e com uma orientação bastante firme
na postura, no comer, no falar, no respeitar o ambiente , para
criar um cidadão novo.”
S
onia Santos Xavier, presidente
“O problema maior é a angústia que sentimos com a saída dos meninos .
A
ntigamente eles saíam daqui com 12 anos, idade em que a gente sabe que
eles não estão preparados para entrar no mercado de trabalho. Eles
abandonavam os estudos e iam para o mercado informal de trabalho. Mu
-
damos o estatuto e agora atendemos até os 16 anos.”
L
enir Calisto de Souza, assistente social
“Nós estamos fazendo um trabalho que envolve também
as famílias. Procuramos trabalhar a autoestima, a identi
-
dade de cada um e capacitar para que possam buscar nova
função, nova atividade, um espaço no mundo.”
M
aria Inês Real Martinez, psicóloga
Grupo Amigo do Lar Pobre – GALP
Local: Rua Silva Jardim, nº 21
Vila Nova- Santos (SP)
Fundação: 1967
Contato: (13) 3232-5360
Site: www.galp.org.br
Programa exibido em: 30/11/08

Lição de Vida144
A fé sem ação não permite muitas realizações. Tampouco a ação sem fé pode promover grandes conquistas.
É a união desses dois aspectos que fazem o poder realizador da APAE São Vicente.
A transformação aumentou ainda mais a fé de Esmeralda Gonçalves em ver seu filho aprender e ser feliz.
Ela foi notando nos primeiros anos de Danilo que ele não se desenvolvia como as outras crianças, por causa da
falta de oxigenação com que nasceu. “Ele falou tarde, andou tarde, enfim, tudo o que eu reparava no meu outro
filho, percebia que Danilo tinha dificuldade”, relembra.
Para que o filho, que tem deficiência cerebral mínima, pudesse desenvolver ao máximo as potencialidades,
Esmeralda o levou para a APAE, onde ele é participativo, faz informática, culinária e evolui bastante. “Aqui ele se
sente em casa”, conta a mãe, feliz, que aliou fé e ação pelo bem do filho.
É também a aplicação da fé, nessa grande obra que é a APAE, que permite grandes realizações e emoções
como a assistente social, Solange, vivencia com os meninos do projeto de inserção no mercado de trabalho. Eles
participam de oficinas profissionalizantes de culinária, artesanato e informática; depois passam por treinamento
e à medida que se sentem preparados, Solange vai em busca de vagas no mercado de trabalho.
Quando esses meninos conseguem vencer as barreiras, os preconceitos, e ganham uma oportunidade para
mostrar seu potencial, o prêmio maior vai para toda a equipe, que pode presenciar e partilhar a alegria de uma
importante conquista.
APAE São Vicente
Fé e realização
“Meus irmãos, que adianta alguém dizer que tem
fé, quando não tem as obras?”
(Tg 2,14)

145Paulo Alexandre Barbosa
A necessidade muitas vezes promove a ação, como foi o início da APAE São Vicente. Enyde Apparecida Domin-
gues Moretti, presidente da entidade e idealizadora da obra, trabalhava como assistente social na Prefeitura de São
Vicente e vivenciava a dificuldade de arrumar vagas nas escolas para as crianças com necessidades especiais. “A
gente ficava no telefone pedindo vaga. Um dia, por Deus, foi colocado para mim: ‘Por que não fundar uma APAE?’”
Enyde juntou um grupo, buscou orientação e a equipe começou o trabalho. Em um terreno cedido pela Prefeitura
de São Vicente, foi construída a sede da entidade, que hoje reúne quase 40 voluntários e atende 200 alunos.
Além das aulas para crianças e jovens, o projeto conta com um programa de prevenção às deficiências, educa-
ção de jovens e adultos, inserção no mercado de trabalho e um programa de geração de renda com a confecção Três
Estrelas, direcionada para as mães.
“Ninguém está preparado para ter um filho com alguma
deficiência . Quando planeja um filho, planeja desejando que
no futuro tenha total autonomia . Quando a família recebe
esse diagnóstico , é muito duro; a família geralmente passa
por um período de não aceitação, de questionamento , de
rejeição. Muitas vezes não é rejeição em relação ao filho,
mas rejeição àquela dificuldade . Esse é um processo que
trabalhamos aqui dentro, orientando esses pais e des-
mistificando a ideia de que o deficiente não tem condição de
nada. Pelo contrário. Hoje em dia falamos muito em acessi-
bilidade, inclusão não só social e escolar, mas em todos os
ambientes . O B rasil tem que se preparar para isso porque
o resto do mundo já está se preparando .”
S
ueli Costa Ribeiro, psicóloga
“É fundamental que as pessoas tenham o ideal de servir.
A
motivação pode ser religiosa, filosófica , política ou
emocional . Importante é que a pessoa tenha vontade de dar
um pouco de si, dos dons e talentos que recebeu de Deus,
colocando -os à disposição dos irmãos mais necessitados .
N
ossa contrapartida é ver a semente frutificar .”
J
ayme Fernandes Afonso, voluntário e diretor de patrimônio
APAE de São Vicente
Local: Rua Feliciana Marcondes da Silva, nº 205-
Catiapoã- São Vicente (SP)
Fundação: 1988
Contato: (13) 3467-7828
Site: www.apaesaovicente.org.br
Programa exibido em: 07/12/08

Transformação Lição de Vida146
A comunhão de pensamentos e forças voltadas a um objetivo comum promove grandes transformações – o Lar da
Benção Divina é um exemplo da força transformadora do amor e da educação. Socorro não imaginava como sua vida
mudaria quando a amiga lhe recomendou a entidade para deixar o filho, Eduardo, com cerca de 10 anos, enquanto tra-
balhava. Logo que chegou ficou sabendo do curso de alfabetização e resolveu se matricular. Ela, que veio da Paraíba, não
pôde estudar porque o pai não deixava, pois achava a escola longe e que os filhos tinham que trabalhar na agricultura. A
vida sem ler não era fácil: “Quando eu pensava em sair de casa pra conseguir um trabalho, eu já pensava em como eu ia
conseguir o endereço, como eu ia ler as ruas e aí ficava muito difícil. Eu tinha que pedir ajuda para alguém, num papel e
as coisas ficavam muito complicadas. Eu me sentia uma pessoa muito para baixo.”
Socorro queria aprender a ler também para ajudar o filho. No começo tudo era difícil, diferente, mas Socorro foi evo-
luindo aos poucos, aprendeu a ler e foi encaminhada para uma escola, dando continuidade aos estudos. “Aprender a ler
facilitou – é como se eu começasse a enxergar. Aqui no Lar eu tive aula de matemática e até de computação”, orgulha-se,
tendo feito da terceira até a sexta série, indo para a sétima. “Acho que nesse tempo que eu estudei eu já aprendi tudo que
eu não tinha aprendido até os 28 anos, quando eu voltei a estudar. Eu via as coisas, mas eu não sabia direito. A vida para
quem não sabe ler é muito difícil.”
Além da força dada pela equipe do Lar, Socorro fala com carinho de um apoio especial, do filho, Eduardo, que a in-
centivava, dizendo: “Faz de conta que você é minha filha. Você não vai faltar”. Se a mãe tinha dor de cabeça e não queria
ir à escola, o menino avisava: “Quando eu tô com dor de cabeça vou para a escola. Você fala que eu tenho que ir, então
vá”. E Socorro ia e foi gostando de aprender. “Eu chego da escola às 23 horas e ele tá dormindo, mas aí eu falo: ‘Filho,
preciso de uma ajuda aqui porque não tô entendendo’. E ele acorda, com paciência, e me ensina. Eu não tenho do que
reclamar porque ele é um professor pra mim.”
Eduardo, já com 14 anos, retribui o carinho e demonstra a alegria que sente em ver a
luta da mãe e fazer parte dessa história. “Eu estou muito orgulhoso dela. Voltar a estudar
foi muito importante para ela porque ela aprendeu muitas coisas, ela viveu”, diz o meni-
no, comentando que acha importante a educação para conseguir um bom emprego e ter
uma vida boa. Com o sonho de ser advogado, Eduardo faz seu agradecimento. “Eu devo
tudo à minha mãe. Ela que me criou, ela me fez ser essa pessoa que eu sou e quero
agradecer muito a ela.”
Lar da Benção Divina
União para transformação
“Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho,
os homens se educam em comunhão.”
Paulo Freire, educador brasileiro

Transformação 147Paulo Alexandre Barbosa
O Lar da Benção Divina nasceu de um trabalho na comunidade carente da Zona Sul de São Paulo, quando dona
Judite e doutor Procópio davam assistência médica e alimentação para as famílias necessitadas, servindo sopa
preparada por voluntários com alimentos doados. A entidade cresceu, tornou-se uma creche em que são atendidas
mais de 100 crianças entre 1 e 5 anos, onde elas têm aulas, brincam, ouvem música, cuidam da horta. Há cerca de
120 crianças e adolescentes, de 6 a 15 anos, que participam de oficinas culturais, artísticas, esportivas e outras ativi-
dades, no contraturno da escola. O Lar oferece também cursos de alfabetização de jovens e adultos.
“Eu herdei essa instituição, que não foi fundada pela minha mãe, mas ela ajudou essa obra
durante muito tempo na época em que ofereciam somente o sopão. O projeto foi pensado e idea-
lizado para dar uma continuação na educação dessas crianças .”
S
ilvia Maria Battistella Bueno, presidente
“Eu nasci na Bahia, cheguei em São Pau
-
lo e trabalhei numa casa 14 anos e co-
loquei minha filha na creche , com 2 anos
e meio. No início foi muito difícil a adap-
tação. Minha filha está com 21 anos,
no último ano da faculdade de educação
física e eu agradeço muito o Lar da
B
enção porque foi aqui que ela começou
e é aqui que eu estou trabalhando pra tirar o dinheiro da faculdade
dela. Nunca imaginei que ela fosse chegar tão longe. No último boleto que a
gente pagou, eu falei: ‘Graças a Deus, vencemos mais uma batalha.’”
T
ereza de Souza Miranda, cozinheira
“O Lar era uma entidade que distribuía cesta básica para a
população carente e sopa para as pessoas. Todas as pessoas
podiam vir aqui tomar a sopa, que era muito boa. Quando eu
penso em infância , lembro da sopa que a gente tomava, do chá
com pão, da goiabada no meio do pão. É um sabor de saudade.
E
ra uma coisa muito gostosa o carinho com o qual as pessoas
daqui recebiam quem vinha tomar a sopa, o respeito que se
tinha por essas pessoas. É o que a gente tenta passar hoje
quando dá alimentação para as crianças . Esse mesmo carinho ,
ensinando como se comportar numa mesa, para que no futuro
elas tenham a mesma lembrança que tenho.”
M
árcia Mattos da Silva Soares, diretora da creche
Lar da Benção Divina
Local: Rua Francisco Telles Dourado, nº 199/202
Jardim Los Angeles- São Paulo (SP)
Fundação: 1956
Contato: (11) 5523-4342
Site: www.bencaodivina.org.br
Programa exibido em: 14/12/08

Enquantom Houver Aurora148
Paulo Eduardo C. Aagaard, o “Pauê”, triatleta e surfista
Em um trágico acidente no ano de 2000, com 18 anos, Pauê perdeu a perna. Ele lembra do incidente como um momento muito rá-
pido. “Eu estava pela terceira vez no dia atravessando a linha férrea bem em frente à minha casa. Era por volta das 20h30 da noite. Eu
estava indo para a academia de ginástica nadar, quando fui surpreendido por uma locomotiva férrea que transitava em uma linha que
estava desativada por quase dois meses. Aquilo tudo foi muito rápido e quando me dei conta, não deu tempo para fazer mais do que me
encolher ali e ficar debaixo me debatendo. Ela freou em cima de mim. Foram instantes realmente ruins, porque eu consigo relembrar
minuciosamente cada momento”. Ele conta que as pessoas começaram a se aglomerar; chegavam parentes, vizinhos e o local ficou
repleto de gente. Pauê diz que só percebeu que era real quando ouviu o estalo – o paramédico foi a primeira pessoa que lhe contou o
que havia acontecido. “Ele me falou que eu tinha perdido as pernas, que eu ia sofrer uma cirurgia, que ficaria mutilado, que ia dar tudo
certo. Ali eu fui meio que colocado na parede: ‘Toma um rumo, livre-arbítrio, que caminho você seguirá?’”
O Especial de Natal de 2008 do Programa Lição de Vida trouxe mais do que um exemplo de vida – um
exemplo de superação de um jovem que perdeu as pernas aos 18 anos e decidiu ultrapassar os obstáculos e
ser feliz. Por meio do esporte, ele encontrou o caminho de sua realização, tornando-se campeão mundial de
triatlo (prova em que devem ser percorridos 1,5 km de natação, 40 km de ciclismo e 10 km de corrida).
Ele reúne ainda muitos outros títulos, é surfista e se prepara para mais uma superação: disputar o iron-
man (prova que reúne 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e 42 km de corrida). Com sua lição de vida, ele
nos mostra que vencer independe das adversidades: é decisão pessoal de cada um.
Especial de Natal
Exemplo de superação
“Estou sempre fazendo coisas que não posso fazer,
assim é que eu consigo fazê-las.”
Pablo Picasso, pintor espanhol

149Paulo Alexandre Barbosa
Como todo jovem, ele tinha vários sonhos e precisou, de uma hora para outra, rever
toda sua vida em uma cama de hospital, mudar toda sua rotina, se reintegrar, sonhar
novos sonhos. O esporte lhe ofereceu essas oportunidades e sem se contentar em ser um
praticante, ele busca ser um vencedor. Tornou-se campeão de triatlo, continua surfando e
agora treina para disputar o ironman. “O surf me apresentou para o triatlo. Na época que
eu ia começar a nadar, para voltar a pegar onda, eu nem imaginava que fosse conhecer
uma equipe, uma galera tão motivada que me desse a iniciação no triatlo, e o ironman é
uma das minhas metas.”
Para partilhar sua lição de vida, Pauê faz palestras e escreveu um livro, Caminhando
com as Próprias Pernas, em que conta sua história, incentivando outras pessoas a vencer
as adversidades da vida e buscar a superação, sempre. Na obra, uma frase, da avó de
Pauê, revela o segredo da vitória. Ela fala que o neto fez uma escolha, a escolha de viver e
lutou para transformar essa escolha em realidade através do dia a dia, do empenho.
Desafio
“Eu acredito que existiram vários momentos difíceis, mas um dos momentos cruciais,
onde eu tinha consciência que ali não podia errar, era o pós-saída do hospital, porque
era um período que eu precisava ter agilidade, ser rápido, prático. Eu sabia que
qualquer tempo que me deixasse sentado numa cadeira, tentando entender
alguma situação relacionada ao fato, me tiraria muitas vezes a ansiedade de
viver, de me movimentar, de sair em busca da vida. Eu acredito que foi
um momento muito decisivo quando eu saí do hospital e ali, aquela
fase toda, que eu ainda não estava com prótese, encarar o mundo
de frente, numa cadeira de rodas, sem as duas pernas. Foi
muito difícil. Mudou a minha vida e eu me deparei com a
nova configuração em que eu tinha me tornado.”

Lição de Vida150
Família
“Quando eu remeto o tema família como um dos valores, um dos pilares que me reergueu e que me trouxe de volta
pra vida, eu penso num todo, eu penso na família não só formada por parentes, mas nos amigos e em todos aqueles que
de certa forma vibraram, torcem e torceram por esta reabilitação, por essa melhora, e hoje estão de certa forma coliga-
dos a mim. Eu vejo que isso é muito importante. Quando a gente toma consciência que existem pessoas junto conosco.
Quando tudo aconteceu, comecei a observar que uma das coisas que realmente ditaria minha vida dali por diante seria
a forma com que todas as pessoas que estavam a minha volta entenderiam o fato. Eu tive um ensinamento da minha
mãe, que foi muito participativa; eu ainda estava no leito e acredito que Deus entrou naquela hora em forma de palavras,
quando eu perguntava como seria lá fora e ela me disse: ‘Meu filho, a sua vida vai ser da forma como você se posicionar
diante do mundo, ou seja, se tiver dó de si mesmo, inevitavelmente as pessoas vão olhar pra você e vão enxergar você

151Paulo Alexandre Barbosa
como coitado; agora se você olhar pra sua vida adiante com fé, com força, com von-
tade, com esperança e tiver motivação acima de tudo, de querer tomar atitude diante
dessas adversidades, por si só, quem não vai querer estar do seu lado?’. E eu comecei
a ver que a vida é assim, quem não quer estar ao lado de alguém que está motivado,
de bem com a vida?”.
Superação
“O processo foi bem gradativo, foram degraus de confinamento, fui passando e
vivenciando e, a cada etapa, vendo que a superação estava em pequenos detalhes, à
medida que eu ia me comprometendo com aquilo que eu estava vivendo, ou seja, eu
digo que existiram três etapas muito bem conceituadas na minha passagem de reabi-
litação: entendimento, a própria aceitação do fato, até viver a superação. A superação
não foi nada mais do que começar a ver equilíbrio naquilo tudo, no fato de que não ter
as pernas não tiraria meu prazer pra vida e nem me limitaria em fazer alguma coisa
que eu teria vontade. Eu comecei a visualizar que realmente o esporte seria não só
uma mola propulsora, da forma de começar a interagir, colocar no patamar de igual-
dade social, me apresentando novamente pra vida, como uma pessoa como qualquer
outra. Estar numa competição era isso, era ser visto como uma pessoa capaz.”
Especial de Natal
Local: Estúdio da TV Canção Nova em São Paulo (SP)
Programa exibido em: 21/12/08

Lição de Vida152
Ao som de música e poesia, o Programa Lição de Vida Especial de Ano Novo desejou muita alegria,
saúde, paz e fé para 2009. Para registrar esse momento especial, contou com dois convidados que fazem de
suas vidas a prova de que sempre é tempo de viver intensamente. Os dois são grandes exemplos de trabalho
voluntário, levando educação e formação aos jovens da rede pública e privada de escolas da Baixada Santis-
ta, atuando também em entidades, como na Casa Crescer e Brilhar, em São Vicente – onde ela é patrona da
biblioteca.
Junto com a música e a poesia que eles espalham por onde passam, os dois deixam
muito amor e compartilham sua experiência de vida, mostrando-nos que nunca é
tarde para realizar um sonho, para conhecer o grande amor da sua vida... Nunca é
tarde para nada.
Especial de Ano Novo
Nunca é tarde
“Acorda humanidade
E cai na realidade
Exerce a tua boa vontade
Segue de Jesus o exemplo,
Toma tento
Desempenha o teu papel de verdadeiro cristão,
Ama teu irmão.”
Elza Batalha, poetisa que começou a divulgar
o trabalho literário aos 72 anos

153Paulo Alexandre Barbosa
Elza Batalha, poetisa e Jares Maximiano, seresteiro
Elza estava viúva havia 28 anos e não pretendia se casar nunca mais; entretanto, temia pelo futuro, pois se sentia inse-
gura para cuidar sozinha da filha excepcional (que faleceu há quatro anos). Sua vida mudou completamente quando conheceu
Jares. “Eu precisava muito da ajuda de alguém que me apoiasse e encontrei nele essa possibilidade. Foi um casamento per-
feito: ele precisou de mim e eu precisei dele”. Eles casaram há sete anos, quando Elza tinha 80. Foi um casamento de corpo
e alma, uma união da música com a poesia. “Ele é seresteiro, ele vive a música, a vida dele é a música e a minha a poesia e
como ambas são artes e se combinam muito bem, nós fizemos uma parceria.”
A poesia era algo que vivia dentro de um baú no sonho de Elza. Desde menina, sempre teve facilidade de escrever; nos
eventos da escola, era escolhida para declamar. “Tudo isso estava guardado dentro de mim, até que eclodiu quando eu come-
cei, casando com ele, a me externar, demonstrar o meu trabalho, primeiro com muito medo, muito receio, depois já com mais
segurança e daí eu comecei a me apresentar nas escolas”. Jares foi seu grande incentivador, apoiador, parceiro. “Eu escrevia
minhas poesias e tinha vergonha de divulgar, porque eu achava muito singela a minha poesia, mas aí eu fiz uma poesia para
ele e ele elogiou muito dizendo: ‘Parabéns, que coisa linda, continue assim, você deve continuar’”, diz a poetisa. “Eu gostaria
de ser artista, desde menina queria ter contato com o público, porque isso é vida pra mim. Eu me sinto muito feliz em me
comunicar com o público, e isso eu consegui na velhice.”
Casados há sete anos, os dois percorrem as escolas levando música e poesia, cultura para a garotada. “As coisas vão
acontecendo, é o amor que a pessoa tem”, resume Jares, explicando em poucas palavras a essência dessa bela união.

Lição de Vida154
Elza deixa algumas palavras que refletem sua experiência de vida.
Terceira Idade
“Eu considero a terceira idade a idade de ouro, da maturidade, da experiência, do aprendizado e eu
agradeço a Deus ele ter me dado 87 anos para eu aprender muita coisa, que eu continuo aprendendo ainda.”
“Eu considero o casamento na terceira idade, o verdadeiro e o mais magnífico dos casamentos, porque
na terceira idade você tem maturidade, tem entendimento, tem aceitação; você tem tudo para ser mais feliz
do que um jovem quando se casa, por causa da experiência de vida.”
Música e poesia
“A poesia moderna é tão diferente da nossa poesia antiga. E quando eu me apresentei pela primeira vez
num colégio da Praia Grande, que se chama Fundação São Francisco, confesso que eu estava apavorada,
porque eu não sabia qual seria a aceitação deles. ‘Será que eles vão gostar? É uma coisa antiga, música
antiga.’ Mas foi um verdadeiro sucesso, graças a Deus. E eles falaram: ‘Nunca tinha visto coisa mais linda na
minha vida.’ Porque realmente a poesia é uma coisa muito bonita e a música acompanhando é um casamen-
to perfeito, da poesia com a música.”
Religiosidade
“Como sou uma pessoa essencialmente religiosa, não perco a oportunidade de fazer minha disfarçada
evangelização. Então, quando eu me apresento para os jovens, eu não perco a oportunidade de dar exem-
plos, passar ensinamentos, para que eles tenham uma modificação na vida.”
“Nessa época em que estamos vivendo e que existe tanta falta de amor, tanta falta de Cristianismo,
tanta falta de entendimento, o jovem se perdendo, é preciso que eles sempre ouçam palavras incentivadoras,
palavras amigas, para que eles possam compreender melhor a vida.”

155Paulo Alexandre Barbosa
Juventude e sonhos
“Eu sempre digo que têm velhos-moços e moços-velhos. Nós temos que ter a mente arejada, tudo funciona através
disso. Eu não sinto a minha idade, eu só sinto a minha idade porque eu fico com dificuldade de andar, de trabalhar fisica-
mente, mas mentalmente minha idade é 20 anos. Eu quero dizer que toda pessoa que acalenta um sonho, ela realiza se for
firme nesse pensamento, e não ficar parada, porque para realizar um sonho você tem que partir para a ação; se ficar parada
não acontece nada. Tem que proporcionar oportunidades de realizar esse sonho. E nunca é tarde. A vida é muito linda, dos 18
aos 80. Nós sempre temos motivação para viver. A maior motivação para viver está lá - Deus é a maior motivação para nós
vivermos. Ele é fraternidade, é o amor, é o sorriso, o aperto de mão, calor humano.”
Amor
“O amor fraternal é fundamental; isso não falta pra mim, graças a Deus, eu amo todas as pessoas. E porque eu dou,
recebo muito. Tem uma palavra de Jesus que fala: ‘Dá e receberás’. Então, você tem que primeiro dar para depois receber. Dar
amor, transmitir esse calor humano, essa coisa gostosa que é gostar de alguém.”
Especial de Ano Novo
Local: Estúdio da TV Canção Nova
de São Paulo (SP)
Programa exibido em: 28/12/08

Lição deVida156
Há pessoas que concentram sua atenção nos problemas, no lado ruim das coisas e vivem se lamuriando, ao
invés de ver e agradecer o que têm. Por outro lado, existem aquelas que sabem observar o que vale a pena, concen-
tram-se no que está ao alcance naquele momento, enfrentam os problemas e transformam dificuldades em oportuni-
dades.
Silvia Costa, vice-presidente do NACAC, superou a dor do falecimento do sogro e transformou a tristeza em ale-
gria de ajudar outras pessoas que vivenciam, como ele enfrentou, os desafios do câncer. “A ideia nasceu ao vermos
as necessidades das pessoas que passam por tantas dificuldades com a doença, que não tem prazo para terminar”.
O tratamento, normalmente de longo prazo, gera consequências pessoais, familiares e sociais e a missão da entidade
é tentar minimizar esses problemas. “Meu sogro faleceu com câncer. Como ele era voltado a ajudar pessoas, o que
deixou de bens materiais, nós usamos para a fundação do NACAC, a fim de beneficiar outras pessoas que lutam pela
vida, lutam contra o câncer.”
A luta contra o câncer é uma constante na vida de Conceição, que enfrenta essa batalha há 34 anos, sempre
com muita alegria, voltando-se para o lado bom da vida. “Eu gosto de fazer pinturas, de ir pra balada, festas de
aniversário, gosto de dançar. O pessoal da entidade diz que eu gosto de falar – a sorte deles é que eu não falo mais
porque meu câncer é na língua. Se não fosse na língua, ninguém me segurava – eu voava. Não deixava espaço pra
ninguém”, comenta, animada, Conceição, que tem 14 pontos embaixo da língua por conta da cirurgia realizada no
mês anterior.
Nem toda dificuldade que enfrenta consegue abalar a confiança, força e a vontade de viver dessa senhora de 74
anos. “Eu me sinto bem, estou feliz. Enquanto viver eu sou feliz. Eu não quero é morrer triste. Quero morrer feliz. Se
eu pudesse e tivesse dinheiro, eu ia me enterrar no Memorial (cemitério vertical), em pé, pra não me deitar. Não quero
ficar deitada um minuto. Eu tenho que viver mais uns 30 anos – estou na adolescência. Comecei agora. Daqui pra
frente, só Deus sabe. Ele vai me dar muitos anos de vida pra eu continuar sempre feliz, com alegria.”
Núcleo de Amparo a Crianças e Adultos com Câncer (NACAC)
Estímulo para lutar com alegria
“Normalmente os homens preocupam-
se mais com aquilo que não podem
ver, do que com aquilo que podem.”
Júlio César, imperador romano

157Paulo Alexandre Barbosa
Depois do falecimento do sogro em decorrência do câncer, Silvia Costa resolveu se juntar a um grupo de amigos e
fundar uma entidade para ajudar crianças, adolescentes e adultos em tratamento. São atendidos no local 34 crianças e 63
adultos que não têm condições financeiras para fazer o tratamento. “Não temos limite de idade – atendemos de 1 a 100
anos”, explica. “Fornecemos aos pacientes o que o médico prescreve, o que é necessário para o tratamento deles, como a
medicação, que não se consegue na rede do SUS e costuma ser cara, e suplementos alimentares, que eles precisam bastante
e é prescrito por uma nutricionista.”
Segundo Silvia, a família também passa por avaliação e recebe apoio e acompanhamento. Na triagem, são identificadas
as dificuldades geradas pelo câncer. “Às vezes é o chefe da casa quem está com câncer, era a única renda e a família meio
que fica refém desse paciente. A gente identifica essas dificuldades e tenta suprir.”
O apoio permanece enquanto durar o tratamento – e às vezes um pouco mais, como explica a vice-presidente. “Se a
família enfrenta dificuldades por conta do câncer e o paciente morre, a instituição não corta o atendimento, porque a família
está em dificuldade, às vezes enfrentando desemprego, precisando do apoio.”
“Muita gente não sabe o que é o câncer – ele ainda é visto
como mito, tabu e é muito ligado à morte. Então, inicial-
mente, o que vem é: ‘para mim acabou tudo’. E a gente
mostra para o paciente que não é assim, que há muitas
outras possibilidades. As crianças hoje têm índice de 70%
de cura.”
C
ristina Pereira, psicóloga
“Eu vim na instituição assim que eu descobri o problema
da Sarah e aqui conquistei uma nova família. Tive apoio em
todos os sentidos – não só a mim, mas também à minha fa
-
mília, meus outros filhos. Nós temos um novo lar e é o que
tem nos dado força para enfrentar o problema que a gente
está passando.”
A
ndréa Rosa Menezes, mãe da Sarah, assistida pela entidade
Núcleo de Amparo a Crianças e Adultos com Câncer – NACAC
Local: Avenida Pinheiro Machado, nº 980- José Menino- Santos (SP)
Fundação: 2005
Contato: (13) 3877-3751
Site: www.nacac.org.br
Programa exibido em: 11/01/09

Lição deVida158
Deixar o jovem longe da violência, fora da rua e perto de um futuro promissor é o desafio que o Círculo de
Amigos do Menor Patrulheiro de Praia Grande realiza diariamente, encaminhando jovens para o mercado de
trabalho. Não só o ensinamento prático, mas os valores transmitidos na instituição servem de diretriz para toda a
vida e ajuda a construir bonitas histórias.
Antônio Pio Neto é um exemplo dessas histórias. Com 13 anos, ele entrou no CAMP para aprender. Por pro-
blemas familiares, precisou sair, foi para São Paulo, onde ficou por dez anos. Voltou à cidade e montou, em socie-
dade, um escritório de contabilidade. Como o negócio não deu certo, Antônio resolveu criar sua própria empresa e
há sete anos tem seu escritório.
“O CAMP foi tudo de bom que me aconteceu. As instruções que a gente recebe, o relacionamento, as pesso-
as, tudo é muito bom, graças a Deus”, elogia Antônio, que lembra o que aprendeu de mais importante na entida-
de: a ter uma postura profissional.
Para retribuir o que aprendeu, a sua base, abriga patrulheiros em sua empresa. “Eu tenho alguns aprendizes
que trabalham comigo. A gente tenta ajudar o pessoal”, afirma. O empresário procura dar a outros jovens a opor-
tunidade que teve, de aprender, de começar uma vida profissional. “É muito bom ajudar alguém, principalmente
um adolescente, porque se nós, empresários, não nos unirmos e não formos atrás desses jovens, a sociedade
pode absorver. É importante ensinar a eles que é preciso buscar um futuro melhor, porque nada na vida vem
por acaso, nada aparece nas mãos; tem que ir atrás. O segredo do
sucesso é a perseverança.”
Círculo de Amigos do Menor Pa trulheiro (CAMP)
Futuro promissor
“Não se pode construir o caráter retirando-se do
homem a capacidade de iniciativa.”
Abraham Lincoln, advogado e ex-presidente
norte-americano

159Paulo Alexandre Barbosa
Com quase 35 anos de existência e filiado à Federação Brasileira de Patrulheirismo, o Círculo de Amigos do Menor
Patrulheiro de Praia Grande já formou quase 9 mil jovens entre 14 e 18 anos. Visando a preparar esses aprendizes
para ingressar do mercado de trabalho, a entidade promove cursos que contam com aulas de matemática, marketing,
telemarketing, informática, contabilidade, técnicas comerciais, atendimento ao cliente, gestão empresarial, meio ambien-
te, entre outras matérias. “Somos uma entidade certificadora, como o SENAI e SENAC. Esses jovens vêm através de
uma prova seletiva, fazem curso de quatro a cinco meses e depois a gente procura inseri-los no mercado de trabalho. A
empresa é uma parceira nesse aprendizado de formação”, esclarece o presidente, Mário Custódio.
Além de preparar para o primeiro emprego, o CAMP tem também uma preocupação social de formar o caráter, a
personalidade dos jovens. Mário comenta essa iniciativa da entidade: “A realidade que a gente tem hoje não é como na
nossa época, que o pai e a mãe cuidavam da gente. Hoje o pai sai para trabalhar, a mãe também e nem sempre eles
conseguem passar para esses jovens a formação principal de valores. Por isso, temos aulas de cidadania, ética, moral,
ministradas por dois advogados.”
“Estamos querendo ampliar o espaço, dobrar o atendimento ,
fechar um plano de saúde para os jovens e preparando um filme,
‘O J
ovem Cidadão’, que será a materialização de um sonho.
O
filme vai contar a história de um menino que vive na rua,
conhece uma patrulheira e essa menina o convida a conhecer o
CAMP
para tirá-lo do submundo . Ele conhece o CAMP, passa a
frequentar, a fazer cursos e sai da vida de riscos que tinha. É
uma história muito linda, que emociona.”
M
ário Custódio, presidente
Tenho 35 anos de atividade no CAMP. N o início tudo era
difícil; Praia Grande era uma cidade pequena, mas já existiam
problemas com os adolescentes. Fomos crescendo, evoluin
-
do e graças a Deus hoje nós temos uma sede boa, estrutu-
rada, para atender esses jovens.”
T
ito Freire, coordenador administrativo
“Eu vim para o CAMP como arquiteto, para programar alguma
coisa para a sede. Todo domingo nós vínhamos para cá – eu, o
T
ito, os diretores e as mães dos patrulheiros. Muitas mães de
patrulheiros tiveram participação em cada tijolo: elas carrega
-
vam massa, carregavam tijolos, faziam comida pra gente e nós
ficávamos aqui no domingo das 7 horas da manhã às 2 horas
da tarde, e assim fomos construindo a sede. Participo sempre do
CAMP
porque entendo que essa é uma das grandes entidades,
genuína, brasileira.”
R
aimundo Nonato Vilhena Sarmento, conselheiro e ex-presidente
“O curso dura em média de quatro a cinco meses, dependendo da
demanda do mercado de trabalho. Às vezes a gente tem que re
-
duzir um pouco para atender as empresas, mas como eles têm que
voltar uma vez por semana durante o contrato de dois anos, a
gente acaba completando com capacitação acompanhada . A capaci-
tação é permanente durante o contrato.”
J
aqueline Gomes de Oliveira, coordenadora pedagógica
CAMP – Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro
Local: Rua Teodósio Augustinis, nº 122
Tude Bastos- Praia Grande (SP)
Fundação: 1974
Contato: (13) 3474-1211
Site: www.camppraiagrande.com.br
Programa exibido em: 08/02/09

Lição deVida160
O medo pode ser o pior inimigo diante das adversidades, pois nos faz parar quando deveríamos agir. É a ação
com otimismo que transforma tantas mulheres em vencedoras, como Vilma Dias de Lima, assistida e participante
das atividades da entidade.
Vilma descobriu o câncer de mama através da mamografia, exame que fazia anualmente porque havia um
histórico da doença na familía. No final de 2005, apareceu o nódulo. Ela lembra que seu primeiro pensamento foi:
“Por que eu? Eu sempre fiz todos os exames. Eu sempre fiz mamografia todos os anos. Por que câncer em mim?”.
Passado o susto, Vilma decidiu que seria mais uma das felizardas que iriam acreditar e viver.
Ela fez todos os exames, realizou a biópsia e com o diagnóstico foi marcada a cirurgia. Depois vieram as ses-
sões de quimioterapia e, então, ela perdeu todo o cabelo, mas continuou encarando com otimismo sua luta. Usou
lenços, enfeites e tantos “traquejos” que as mulheres usam para ficarem belas e garante que não foi a quimiotera-
pia que a deixou mais bonita ou mais feia, pois sempre se sentiu bem, jovem.
Há mais de dois anos ela passou pelo câncer. A Estrela da Mama foi fundamental para atravessar os momen-
tos difíceis, para encontrar um ombro amigo, uma inspiração para continuar a lutar. O cabelo voltou, a vida foi
retomada, mas ela manteve o que ganhou nesse tempo: a amizade com as “amigas do peito”. Em seu depoimento
emocionante, Vilma afirma: “Passar por um câncer é pular um obstáculo e nascer de novo. Meus anos de vida eu
conto dessa data. Estou com dois anos e 11 meses.”
Estrela da Mama
Força para vencer o medo
“O medo é a pior das doenças,
pois ele paralisa o corpo e a mente.”
Autor desconhecido

161Paulo Alexandre Barbosa
Ajudar a vencer o medo e a seguir adiante é o trabalho das “amigas do peito” da Estrela da Mama, entidade
que atende mulheres guerreiras que lutam diariamente para vencer o câncer de mama. “Nós procuramos minimizar
o sofrimento da mulher portadora do câncer de mama. Somos todas voluntárias”, explica a presidente da entidade,
Alina Trindade Maximiano Soares. São quase 50 voluntários. Há psicólogas, massoterapeutas, terapeuta ocupacional e
fisioterapeutas.
A Estrela da Mama desenvolve trabalhos de arteterapia, no Projeto Mama Artesão, em que as mulheres aprendem
a fazer vários tipos de artesanato: pintura em tela, em tecido, costura, crochê etc. O material produzido é usado para
venda e revertido para a manutenção da ONG.
Além das voluntárias que atuam na casa, há também mulheres ajudando no Centro de Atendimento de Saúde Pú-
blica – assim que a pessoa recebe o diagnóstico do câncer de mama, é encaminhada para o grupo. “Nós oferecemos
nosso ombro, a nossa casa, o nosso companheirismo, a nossa alegria, a nossa luta pela saúde”, diz Alina.
“Estou há dois anos e meio enfrentando essa luta. Assim,
nessa união, vamos apoiando umas às outras para tornar mais
fácil essa luta contra o câncer de mama. Quando eu me deparei
com ele, embora eu tenha uma fé que me sustenta, me anima e me
conforta, eu vi o quanto é difícil. Existe um mito em cima da do-
ença de que a pessoa está marcada para morrer. Hoje sabemos
que não é assim, que tem cura, especialmente quando descober-
to precocemente . Temos ‘amigas do peito’ que foram operadas há
20
anos.”
A
lina Trindade Maximiano Soares, presidente
“Eu descobri fazendo o autoexame . Assim tive tempo de procurar um médico e graças a
D
eus estou fazendo tratamento e se Ele quiser vai dar tudo certo. Não imaginei que
ia acontecer comigo, com 32 anos. Geralmente a gente faz exame depois dos 40 anos.
M
as, quando senti algo estranho, resolvi procurar meu médico.”
C
laudia Augusto, assistida e participante das atividades
“Na primeira vez gritei, esperneei, chorei. Na segun
-
da, fiz tudo quietinha. Fui correr atrás dos médicos,
até que eu fui operada. A ONG me ajudou muito, me
encaminhando para um excelente hospital onde fui
muito bem tratada. Eu digo que temos que ter muita
fé em Deus, se valorizar e se amar.”
I
vani Karabaisak , assistida e participante das atividades que descobriu
um câncer de mama em 1998, fez tratamento, curou-se e dez anos
depois, em 2008, descobriu um nódulo no outro seio e se tratou com
a mesma garra.
Estrela da Mama
Local: Avenida Presidente Kennedy, nº 527
Boqueirão - Praia Grande (SP)
Fundação: 2003
Contato: (13) 3028-7719
Programa exibido em: 15/02/09

Lição deVida162
Um trabalho excepcional que permite que crianças e jovens tenham mais qualidade de vida
e possam desenvolver ao máximo suas potencialidades. Essa é a missão da
APAE, comprovada por pais e mães que buscam na entidade o apoio que
procuram para seus filhos.
“Aqui é o segundo lar de Jaine”, conta a mãe, Janete Stuchi. A me-
nina chegou à APAE com 11 meses, e, onze anos depois, Janete comenta
a grande evolução da filha. O segredo do sucesso, para a mãe cuidadosa
que acompanha a menina na entidade, é o amor, o carinho, a atenção e
dedicação da equipe que, segundo ela, é a “segunda família” de Jaine.
O mesmo acolhimento sente Célia Raimundo Fagundes, mãe do Rafael,
que está há mais de 19 anos na instituição. Ela diz que o menino adora
todas as atividades realizadas na casa, mas gosta especialmente da musi-
coterapia, onde se envolve e se diverte.
Esse envolvimento é que permite a evolução das crianças e jovens
à sua máxima potencialidade, tendo uma qualidade de vida melhor, se
desenvolvendo, ganhando autonomia e convivendo melhor em família, cada
um dentro de seus limites. “Sempre existe desenvolvimento. Não é porque tem
limitações que não tem potencial para desenvolver. Todos têm esse potencial e vão
desenvolver, desde que sejam dirigidos e orientados”, afirma o psicólogo e coordenador
da área de saúde da entidade, César Pertusi, confirmando a ideia de que na APAE Atibaia as
crianças se desenvolvem por um trabalho capacitado, mas também pela dedicação e força
de vontade de seus profissionais, que demonstram a cada gesto suas ações genero-
sas e elevadas.
APAE Atibaia
Uma ação elevada
“Somente seres humanos excepcionais
e irrepreensíveis suscitam ideias
generosas e ações elevadas.”
Albert Einstein, físico e cientista alemão

163Paulo Alexandre Barbosa
Há mais de 30 anos, a APAE Atibaia atende crianças, adolescentes e adultos portadores de necessidades
especiais. O trabalho, que nasceu de um grupo de mães e pais dedicados, cresceu transformando-se em uma
das melhores ações sociais do estado e do país. A entidade tem quatro prédios e divide-se nas áreas de saúde,
pedagógica e administrativa. Atende 250 alunos – de um a 46 anos – não só de Atibaia, mas de toda a região,
recebendo pessoas de Nazaré Paulista, Jarinu e Bom Jesus dos Perdões.
Para cuidar com atenção de todos, a equipe conta com 70 funcionários diretos e mais de 30 voluntários em
diversas áreas. O presidente, Wanderley Silva de Souza, diz que o principal diferencial da entidade está na área
da saúde, que inclui atendimento pedagógico, acompanhamento de saúde, fisioterapia, fonoaudiologia, neurolo-
gia e psiquiatria.
“O trabalho da APAE é um movimento forte nos municípios e estados. O principal diferencial é a dedicação, o amor
e o envolvimento da comunidade . Não basta um grupo de duas ou três pessoas querer montar uma APAE. É preciso
envolver toda comunidade na participação. A pessoa com deficiência ficou muito tempo excluída do nosso âmbito so-
cial e a APAE conseguiu resgatar muito disso. Por isso, nosso trabalho é envolver a família e depois a comunida-
de, com perseverança, trabalho e transparência nas ações. Quando tem amor, tudo acontece.”
W
anderley Silva de Souza, presidente
“A avaliação neurológica, psiquiátrica e psicológica
é importantíssima para termos uma ideia de como essa
criança está se apresentando no momento , para então
ela ser medicada e tratada terapeuticamente , auxi
-
liando e orientando a família. Essa criança vai ter um
comportamento melhor, qualidade de vida melhor e
rendimento melhor.”
C
ésar Pertusi, psicólogo e coordenador da área de saúde
“Um dos métodos que usamos é o método fônico, em que a
fonoaudiologista vai até a sala de aula e faz um trabalho
com a professora. Tem o método Padovan, também em sala
de aula, com música. Usamos muito a música nos trata
-
mentos. Temos um grupo, o Down Maior, criado por nossa
musicoterapeuta e que faz apresentações na cidade. É o
lugar em que eles mais se sentem a vontade.”
K
atia Regina de Moraes, diretora pedagógica
APAE Atibaia
Local: Praça João Paulo II, nº 25
Vila Nova Aclimação- Atibaia (SP)
Fundação: 1976
Contato: (11) 4414-4900
Site: www.apaeatibaia.com.br
Programa exibido em: 22/02/09

Lição deVida164
Em vez da rua cinza, a cor dos grafites. No lugar da situação de risco, educação. Sair da tristeza do mun-
do das drogas para a alegria de um futuro pela frente. Essa é a mudança de cenário que o Projeto Quixote
promove na vida de crianças e jovens que podem sorrir descontraídos, dançar, aprender longe das ruas.
Foi em busca de um futuro colorido para sua filha que Irisneide Cruz da Costa Silva procurou a instituição.
Na comunidade, não quiseram informar onde era o projeto, mas ela insistiu e chegou ao Quixote com a filha
de seis anos. Depois de passar pelo psicólogo, a menina começou a fazer atividades e segue na entidade,
hoje já com 14 anos.
Irisneide foi mais resistente quando a oportunidade surgiu para ela. Hesitou quando a equipe foi chamá-la
em casa e só se convenceu quando a irmã sugeriu que fossem conhecer a instituição. “Vim, gostei e fiquei”,
garante a moça, que aprendeu muito, especialmente sobre amor, e virou funcionária da entidade. “Aprendi a
amar a mim mesma e ao próximo. A minha vida mudou para melhor e eu estou tentando mudar mais: voltei a
estudar, vou fazer informática e faço sempre mais pelo futuro.”
A vida de Juliana Santana também mudou para melhor. Ela fazia 15 anos no dia em que chegou ao proje-
to. Durante os dois anos que permaneceu na casa, fez diversas atividades, até que foi encaminhada para um
processo de seleção em uma empresa. Aprovada, trabalha há seis meses e planeja o futuro: quando terminar
o estágio, se não for efetivada, vai procurar emprego e pretende fazer faculdade. “Aprendi muita coisa que
vou levar para o resto da minha vida. Cresci bastante aqui e aprendi a me comportar melhor.”
Juliana e Irisneide aprenderam, superaram obstáculos e conquistaram, especialmente, a esperança de
um futuro com muito mais cor.
Projeto Quixote
Da rua para a vida
“Concordo com D. Quixote: o meu repouso é a batalha.”
Pablo Picasso, pintor espanhol

165Paulo Alexandre Barbosa
Como repousar vendo crianças nas ruas usando drogas? Como descansar a cabeça no travesseiro sabendo que jovens
vivem em risco social? A indignação diante dessa situação levou um grupo de médicos clínicos ligados à Universidade Federal
de São Paulo – Unifesp- a criar o Projeto Quixote, que tem como principal objetivo tirar crianças e jovens da rua, dando apoio às
famílias para reforçar a base e promover a volta ao lar.
A iniciativa tem a parte pedagógica (com oficinas, atividades lúdicas), social (com visitas domiciliares, geração de renda, be-
nefícios sociais) e a parte clínica (com psicologia, psiquiatria, psicopedagogia). “Muitos chegam aqui sem saber o que vieram fazer.
Nosso trabalho é despertar o desejo deles para as coisas que podem conseguir na vida e apoiar esses vários setores”, explica
Graziela Bedoian, psicóloga e uma das fundadoras.
Entre os projetos desenvolvidos, destaca-se a Agência Quixote Spray Arte, onde é realizado um processo de formação no gra-
fite, com treinamento em oficinas. Em alguns casos, os artistas amadurecem e os trabalhos podem ser comercializados, gerando
renda para o autor e para a instituição. “Recebemos pedidos de empresas, pessoas físicas, decoradores, arquitetos que querem
levar a arte da rua para dentro de casa.”
Importante para a questão social é também o Projeto Refugiados Urbanos, coordenado pela psicóloga Cecília Motta, que
explica a atuação. “Montamos uma base na Região Central de São Paulo para tirar crianças e jovens da rua. Em um primeiro
momento, os nossos 16 educadores terapêuticos fazem abordagem de rua, acompanhando os garotos. Começam com uma con-
versa, mas levam na mochila objetos intermediários na vinculação com as crianças, como jogos, bexigas, lápis de cor, bonecas,
despertando-os para outras possibilidades.”
“Nosso diferencial é que temos um olhar clínico, pedagógico e
social. Nossa preocupação é construir uma relação de confian-
ça com essas crianças e jovens, o que leva um tempo. Ela vai
se estabelecendo à medida que esse menino ou essa menina vai
frequentando o projeto, o vínculo vai sendo fortalecido e abrindo
espaço para esse jovem falar o que realmente precisa.”
Z
ilda Rodrigues Ferré, coordenadora pedagógica
“Temos um trabalho de resgatar famílias. Muitas vezes as
crianças e jovens saem de casa por problemas familiares. Se
você os coloca de novo no meio do problema , eles saem nova
-
mente. Por isso, fazemos um trabalho com as famílias, de ordem
social, dando maior empoderamento e dignidade para que essas
famílias possam acolher seus filhos de volta.”
C
ecília Motta, psicóloga coordenadora do projeto Refugiados Urbanos
Projeto Quixote
Local: Rua Coronel Lisboa, nº 713
Vila Clementino- São Paulo (SP)
Fundação: 1996
Contato: (11) 5904-3524
Site: www.projetoquixote.org.br
Programa exibido em: 01/03/09

Lição deVida166
Em um ambiente de grande vulnerabilidade social, com altos índices de prostituição, no centro da cidade de Santos,
no estado de São Paulo, uma entidade demonstra que é possível superar os obstáculos do ambiente e criar uma vida
promissora. A Associação Poiesis - palavra de origem grega que significa fazer, criar - faz jus ao nome e cria essa
transformação na vida das muitas crianças e jovens que passam pela entidade.
A Poiesis trava uma grande luta pela preservação da dignidade das crianças e adolescentes da região. É uma batalha
especialmente contra o trabalho infantil, comum na área e que compromete totalmente o futuro das crianças.
Vendo exemplos como o de Luiz Jaime dos Santos (Djalma), podemos crer que muitas batalhas estão sendo
vencidas, com cada criança que sai da rua e ganha educação, com cada jovem que segue seu caminho sem desviar pelos
problemas sociais com que convive. Ex-aluno da associação, Djalma volta como professor de capoeira.
Entre os ensinamentos da luta, ele usa sua experiência para dar exemplos de vida. “Costumo dizer que sou muito
chato. Como fui muito cobrado, cobro bastante e às vezes me pego sendo muito incisivo. Se tiver que dar bronca, eu dou
bronca; se tiver que chamar atenção, vou chamar sem nenhuma culpa. Eu, particularmente, acredito que se ninguém
cobrar, a gente faz o que quer e quem faz o que quer de forma muito livre, acaba não dando muito certo. Eu tive muitos
amigos que pegaram caminhos não muito positivos.”
Djalma vê em seu trabalho, na entidade, uma forma de retribuir
aquilo que ganhou. “Pra mim, é gratificante o fato de ter aprendido e ser
o que eu sou hoje em parte graças à Poiesis e é bom poder retribuir isso
e ser exemplo para essa molecadinha, que merece”. Em cada aluno, ele
vê sua própria história e espera que eles tenham boas conquistas, como ele.
Aos jovens ele dá um conselho importante, de colocar sempre em primeiro
lugar a família. “Se eu sou o que sou hoje, é porque graças a Deus, eu tive
uma mãe que é minha base forte. Em alguns momentos, a gente pensa
que é dono da verdade; mais tarde a gente percebe que não é. Então,
importante para o futuro é valorizar a família, traçar metas e trabalhar
para que isso aconteça.”
Associação Poiesis
Experiência que faz a diferença
“Sentir, amar, sofrer, devotar-se será
sempre o texto da vida das mulheres.”
Honoré de Balzac, escritor francês

167Paulo Alexandre Barbosa
No início da década de 90, um grupo de técnicos que trabalhava na Prefeitura de Santos percebeu a necessidade de
dar sequência a alguns projetos na comunidade. Foi montada a Associação Poiesis, que tem como um dos principais focos
tirar a criança do trabalho infantil.
Presente há bastante tempo no trabalho, José Bernardo Rodrigues, secretário da entidade, explica que o que o
conquistou para atuar no projeto foi a proposta diferente. Ele descobriu esse diferencial conversando com um oficineiro
que atuava na época, Pedro, que conquistava os meninos com a ideia de fazer caixa de sapato para eles trabalharem e
acabava demonstrando aos garotos que a vida poderia ser muito mais do que somente aquilo. Encantado, Bernardo, com
a esposa Elizabette, abraçou a causa da associação e ambos não deixaram mais a casa. A entidade desenvolve traba-
lho com crianças e adolescentes de 7 a 14 anos que vivem em cortiços, nas ruas da cidade ou convivem com violência
doméstica. São, ao todo, 70 crianças que ficam na associação no contraturno da escola.
“Atendemos uma população da área do centro, que é
vulnerável ao risco de drogas e prostituição. Atende-
mos crianças e famílias, mas é difícil trabalhar com as
famílias até que se conscientizem da problemática que
é o trabalho infantil, e que é muito melhor a criança
estar na escola. É difícil, mas não é impossível atingir
nossos objetivos. Temos muita dedicação, amor, carinho,
às vezes muitas lágrimas , mas a gente vai alcançando
aos pouquinhos e conquistando a população, que é o mais
importante.”
E
lizabette Aparecida Rodrigues, presidente
“As relações familiares, quando chegam ao nosso conhecimento ,
estão fragilizadas por inúmeros motivos. A questão do traba
-
lho infantil, da drogadição, da prostituição e todos esses temas
são abordados com membros da família, para que todos possam
ser ouvidos e, a partir daí, trabalhar junto com eles para uma
solução.”
V
anessa Rodrigues, psicóloga
“Graças a Deus plantamos essa semente, que está aqui até
hoje. Esse trabalho deve-se necessariamente ao empenho da
família do Bernardo e da Beth, que construíram aqui e hoje
atendem mais de 70 crianças dessa região, com perspectiva de
ampliação para 150.”
A
lessandro de Brito Zuffo, incentivador e um dos fundadores
Associação Poiesis
Local: Rua Da Constituição, nº 90
Vila Mathias- Santos (SP)
Fundação: 1995
Contato: (13) 3223-6795
Site: ongpoiesis.blogspot.com
Programa exibido em: 08/03/09

Lição deVida168
Do lar às ruas e de volta ao lar. Essa foi a trajetória feita por Gilberto Norato Silva, que encontrou na Associa-
ção a força que precisava para retomar o rumo de sua vida. Gilberto estava perdido, enfrentando problemas com
bebida, vivendo nas ruas, sem horizonte, sem dignidade, fazendo amigos e inimigos.
Com o apoio da entidade, conseguiu ir aos poucos se desvinculando desse universo que lhe tirava a família
e a esperança de uma vida digna. Participando das atividades, descobriu uma nova oportunidade e passou a ser
funcionário da Associação. A volta por cima ele atribui à fé em Deus e às pessoas que o ajudaram a retomar sua
caminhada.
Esse é também o caminho que Paulo Eduardo Silva começou a trilhar em 1999, de volta ao lar – não só a uma
casa para morar, mas também o lar na casa de Deus, onde todos são acolhidos e cuidados. Paulo encontrou esse
paraíso nas atividades da associação, onde pode tomar banho, alimentar-se e receber a evangelização.
Na entidade, Paulo Eduardo participa de peças de teatro, assiste missas, ajuda na limpeza e aprende artesa-
nato. No local, tem também amigos que o escutam, partilham experiências e o ajudam a voltar a planejar a vida.
Por isso, ele quer deixar a rua, voltar a trabalhar, ter uma família.
Com a ajuda da Associação, esses combatentes retomam a força e a esperança para voltar a exaltar a vida.
Associação Beneficente Nossa Senhora do Bom Conselho e São Luis Gonzaga
Devolvendo a força para a batalha cotidiana
“A vida é combate, que os fracos abate, que
os fortes, os bravos só pode exaltar.”
Antonio Gonçalves Dias,
poeta brasileiro

169Paulo Alexandre Barbosa
Vendo moradores de rua pedindo dinheiro na frente do colégio, em pleno coração da Avenida Paulista, dona
Luisa pensou que podia dar a eles algo mais do que esmola: poderia dar estudo, alimento, religião e devolver-lhes a
dignidade. Assim nasceu a Associação Beneficente Nossa Senhora do Bom Conselho e São Luis Gonzaga, uma casa de
convivência para os moradores de rua. A entidade foi criada para atender o apelo de Cristo: “Dar de comer a quem tem
fome, dar de beber a quem tem sede e vestir a quem está nu”. A casa, que começou ajudando 30 pessoas, atende 120
todos os dias.
O presidente da entidade, padre Nilson Marostica, revela que o maior desafio é tirar a pessoa desse vício que é
estar na rua, devolver a ela a dignidade, trazer a família de volta. Para vencer esse desafio, a equipe usa sua maior
força: o amor, o espírito cristão, a dedicação de cuidar diariamente de pessoas que muitas vezes chegam bêbadas,
drogadas, machucadas. Ali elas recebem tratamento e vivem em outra realidade, uma nova oportunidade.
“Pela nossa fé acreditamos que o homem foi criado para a salva-
ção, para a felicidade e, na rua, não há felicidade. O homem foi cria-
do à imagem e semelhança de Deus, e perdendo a dignidade humana ,
ele perde essa imagem Divina. Esse é nosso trabalho, devolver ao
ser humano a imagem de Deus, a felicidade criadora que Ele pensou
para todo ser humano , acolhendo-os com a convivência humana ,
cristã, fraterna e pacífica.”
P
adre Nilson Marostica , presidente
“Nós temos uma missão, que é recuperar, reeducar, reinte
-
grar o homem e a mulher que são moradores de rua. Esta
é a nossa meta. Sabemos que é muito difícil porque o mundo
lá fora é fascinante, tudo pode. Aqui nós oferecemos uma
acolhida de coração. Nós tratamos o morador de rua com
amor ágape e nunca com violência.”
T
adashiro Yoshida, administrador
“Acho que só o amor de Deus pode levantar essas pessoas caídas. Nós falamos a eles do amor de
D
eus, falamos sobre o perdão, da dificuldade de se perdoar, da necessidade de buscar em Deus essa
força de perdoar porque só assim podemos mudar e nos libertar desse peso que carregamos .”
L
eonice Alves Teixeira, voluntária
Associação Beneficente Nossa Senhora do Bom Conselho e São Luis Gonzaga
Local: Avenida Rebouças, nº 305- Cerqueira Cesar- São Paulo (SP)
Fundação: 1994
Contato: (11) 3088-8488
Site: www.saoluis.org.br (Frentes sociais- Casa de Convivência)
Programa exibido em: 15/03/09

Lição deVida170
Zeires dos Santos, funcionária do Instituto e moradora da comunidade carente do Dique da Vila Gilda,
nunca imaginou que um dia poderia ser atriz. Começou a participar de um projeto da entidade sem entender
muito bem qual era o objetivo final. Com seu jeito simples, explica como foi surpreendida pela novidade: “Eu
estava ensaiando e perguntei por que estávamos fazendo aquele ensaio. A Claudia me respondeu: ‘para fazer
teatro’. Eu queria saber como, se nunca vi teatro de perto. Ela me disse: ‘você vai fazer. Vai aprender agora’. E
eu fiquei no teatro. Nós ali na favela, sem conhecer ninguém na vida, e de repente, na primeira tentativa, virei
atriz rapidinho. Fiquei surpresa e gostei.”
Com preparação e ensaio, Zeires retratou no palco sua própria vida, as dificuldades enfrentadas, os so-
nhos dos moradores da favela. Participando do projeto há cinco anos, ela garante que aprendeu muito e quer
continuar, subir novamente no palco. “Com fé em Deus vamos voltar. Nem preciso mais ensaiar. O texto que
eu vou falar está todo gravado na cabeça.”
A esperança de uma vida diferente foi proporcionada para Zeires pelo Projeto Refavela, que retrata a
realidade da comunidade. Mas há outros projetos do Arte no Dique que mudam a vida da população local,
como as bandas Querô e Querôzinho, das quais participam, respectivamente, os dois filhos mais velhos e os
dois mais novos de Carmen Elizandra, a Lila, funcionária da entidade.
A mãe se mostra feliz com as mudanças provocadas nos filhos. “Eles têm mais responsabilidade. Antiga-
mente só brincavam – agora brincam, mas têm a responsabilidade também”, conta animada com a perspec-
tiva de participar de um projeto novo, a banda de mulheres. “Vai chamar As Lavadeiras do Dique e eu sou a
primeira da fila. Vamos arrasar.”
Instituto Arte no Diq ue
A perfeita expressão da arte
“A esperança é a presença
de Deus nos homens.”
Plínio Marcos, dramaturgo brasileiro

171Paulo Alexandre Barbosa
Transformar a vida das crianças, jovens e adultos de uma comunidade carente de Santos é o desafio do Instituto Arte
no Dique. O projeto foi idealizado por José Virgilio, atual presidente, que trouxe as ideias de experiências realizadas em sua
terra natal, Bahia. Com trabalhos desenvolvidos em favelas de Salvador e Santo André, na Região do ABC Paulista, José
levou para a cidade do litoral paulista o equipamento para profissionalizar e formar pessoas pela arte e cultura.
“Eu tive experiência na Favela Alagados, na Bahia. O local foi completamente reurbanizado com recursos internacio-
nais e do governo. Queremos provocar essa situação no Dique, promover discussões nas questões habitacionais, am-
bientais, saúde e tudo que essa comunidade vive, através do segmento da arte e da cultura, que sensibilizam o coração”,
afirma.
O carro chefe do instituto, o projeto de percussão, deu origem à Banda Querô, premiada nacional e internacionalmente
e que segue fazendo shows em turnês e com gravação de CD e DVD ao vivo. “Fomos a sensação do Carnaval de Salvador.
Puxamos bloco de crianças de projeto sociais, tudo com recursos do Arte no Dique”, orgulha-se o idealizador da iniciativa.
“Nós procuramos conversar com os jovens na linguagem
que eles entendem , dentro da realidade deles. Não se pode
chegar com proposições acadêmicas ; precisa começar com
coisas práticas. O A rte no Dique começou na rua e eu
disse a eles: ‘vocês vão chegar na TV não pela violência,
mas pela arte.’”
J
osé Virgilio Leal de Figueiredo, idealizador e presidente
“Talvez o tambor para eles na Vila Gilda seja a fonte de
informação , como se todo esse som que a gente faz aqui
ecoasse para que outras pessoas prestassem atenção ao
que o instituto faz, a toda essa formação feita através
da música, arte e cultura. O objetivo do instituto é edu
-
car e dar profissão para eles. Nós criamos um vínculo
de pai para filho; a gente tem vínculo familiar com essas
pessoas. Além de ensinar arte, procuramos dar noções
de cidadania e de sociedade organizada.”
D
aniel Oliveira, professor de percussão
Instituto Arte no Dique
Local: Avenida Hugo Maia, nº 293
Rádio Clube- Santos (SP)
Fundação: 2002
Contato: (13) 3209-9464
Site: www.artenodique.org.br
Programa exibido em: 22/03/09

Lição deVida172
Por mãos amorosas, Maria G. Araújo Dias foi acolhida, aos seis anos, quando chegou à ONG Pró Viver. Naquela épo-
ca, nem em seus melhores sonhos, Maria poderia imaginar como sua vida seria transformada.
Ela gostava de brincar na Pró Viver, divertir-se com outras crianças. Quando começou as aulas de flauta, lá pelos
nove anos, decidiu que não queria aprender música e resolveu sair da ONG. Foi pelas mãos da mãe que Maria voltou
e ficou maravilhada quando ouviu as amigas tocando. A música tocou seu coração e ela decidiu que queria aprender,
como suas amigas.
Mais animada, dedicou-se às aulas de música com a mesma vontade com que se empenhou no caratê. Maria
transformou-se em musicista: toca flauta, flauta doce, flauta transversal e violoncelo. Com a experiência, vieram muitas
viagens para apresentações. No caratê, a jovem também conquistou medalhas e acumulou títulos.
Aos 18 anos, Maria voltou à ONG, dessa vez não para aprender, mas para ensinar; não para ser acolhida, mas para
acolher outras crianças. Tornou-se monitora para ensinar não apenas música, mas também que é possível construir um
futuro especial.
Outra grande mudança ocorreu na vida de Demerval da Costa Guimarães Filho, que em 2004 se viu sozinho, tendo
que criar os cinco filhos sozinho. Perdido, Demerval mergulhou na bebida. Bebia a ponto de cair na porta do bar, onde os
filhos tinham que resgatá-lo. Um dia ele decidiu que não era essa a vida que queria para a família e resolveu procurar
ajuda.
Foi nesse desespero que Demerval chegou à porta da ONG Pró Viver, onde foi acolhido, amparado junto com os
cinco filhos, conseguindo a paz de espírito e o apoio que precisava. Enquanto o pai ia buscar emprego, os cinco filhos
faziam atividades na ONG.
Com o tempo, ele também se animou e fez o curso de panificação industrial na entidade, que lhe rendeu uma
profissão. Hoje ele sabe que sua vida teria sido outra sem essa oportunidade e assume
que com o rumo que sua vida estava tomando, teria perdido os filhos “para o
lado do mal”, o que não ocorreu graças à acolhida da ONG Pró-Viver.
ONG Pró Viver
Uma fábrica de sonhos
“Todo aquele que em meu nome acolhe uma criança como esta, estará me aco-
lhendo e me acolhendo estará sendo acolhido por aquele que me enviou.”
(Mc 9,37)

173Paulo Alexandre Barbosa
A ONG Pró Viver atua em uma região carente desde 1993, quando começou com 15 crianças. A experiência rendeu
bons frutos e hoje já são mais de 700 crianças atendidas, em cinco unidades.
O presidente da entidade e coordenador dos trabalhos, Paulo César Faustino, atribui essas conquistas à ação de
Deus, que atua através das mãos de todos os envolvidos. A equipe conta com 50 colaboradores – além dos voluntários.
As crianças ficam na Pró Viver no horário em que não estão na escola, participando de atividades variadas, de
esporte, cultura, lazer, profissionalização. Elas chegam na ONG com seis anos e saem com 17 anos, para o mercado de
trabalho.
O segredo do ambiente acolhedor está no envolvimento de toda a equipe. Todos precisam conhecer as crianças,
saber seus nomes, respeitar a história de cada um. E assim, todos juntos, realizam o trabalho de fazer sempre mais, de
transformar vidas para oferecer um futuro melhor.
“Se o indivíduo não tem uma formação mínima , a sociedade
jamais poderá sonhar com dias melhores.”
P
aulo César Faustino, presidente
“N
a ONG P ró Viver, além de desenvolver outras potencia
-
lidades, a criança está fora das ruas. O objetivo do nosso
trabalho é de recuperar a autoestima dessas crianças,
pois isso fará com que elas vejam que são capazes de fazer
muitas coisas.”
M
arcia Barbieri Galante Silva, coordenadora de projetos
“Esse trabalho da Pró Viver é um exemplo que deveria ser
seguido nacionalmente . Sempre que posso eu visito a ONG
e acompanho o trabalho. E cada vez que eu faço isso, dur
-
mo sorrindo.”
P
rofessor José Lascane, colaborador da ONG P ró Viver
ONG Pró Viver
Local: Rua João Pessoa, nº 214
Centro- Santos (SP)
Fundação: 1992
Contato: (13) 3224-3024
Site: www.proviver.org.br
Programa exibido em: 29/03/09

Lição deVida174
A forma como vemos o mundo depende da nossa interpretação da vida. Quando lançamos um olhar otimista
para os fatos, temos uma visão mais positiva e começamos a construir uma realidade cada vez melhor. O Centro de
Aprendizagem Profissional e Cultural do Perequê investe nos membros dessa comunidade carente para colocar mais
otimismo em suas vidas, dar oportunidades que pelas limitações da região onde vivem eles normalmente não teriam.
A entidade transforma a realidade dos moradores e os que passam a conviver no centro começam a assumir
também essa postura otimista, mudando a própria vida e a de quem está ao redor. Francisca Ilca Soares de Aquino
percebeu as mudanças e aceitou as transformações que vieram pelas mãos de sua filha, aluna do Centro. Foi a meni-
na quem primeiro descobriu os benefícios de ter um lugar para aprender, conviver com outras pessoas, sair das ruas e
fazer algo produtivo. Ela já fazia quatro cursos – capoeira, pintura em tecido, inglês e coral – quando resolveu chamar
a mãe para entrar nesse mundo rico em cultura e aprendizado. “Ela gosta. Além de ser do coral, ela canta o salmo e lê
na liturgia”, fala Francisca, com orgulho da filha de 11 anos.
Moradora da comunidade há sete anos, Francisca se viu envolvida pelas dificuldades de um câncer de mama,
vivia triste, sofrendo e foi a filha quem lhe estendeu a mão. “Ela praticamente fez minha inscrição, falando que eu
precisava fazer cursos para não ficar em casa chorando”. Francisca resistiu, dizendo que era difícil, que não iria
conseguir, mas a filha a convenceu com um bom argumento: “você não fala que eu posso tudo que eu quiser? Então a
senhora vai conseguir também.”
Francisca começou a fazer crochê. No primeiro dia, achou muito difícil – até chorou porque não conseguia. Mas
no mesmo dia a professora foi em sua casa, ensinou um pouco e, estimulada, ela voltou às au-
las. “Eu já faço coisas. Estou até fazendo saia para a minha filha. Ela faz pintura em pano de
prato, eu faço o crochê e a gente vende. A pintura dela é muito bonita e soma com meu
crochê, fica mais bonito ainda”, comemora e, com emoção, demonstra que ganhou novo
ânimo para o futuro. “Graças a Deus eu estou feliz. Em vez de ficar em casa pensando
no meu problema, estou aqui fazendo algo gostoso; eu me distraio com as meninas.
Agora é ter paciência e esperar em Deus a minha cura.”
Centro de Aprendizagem Profissional e Cultural do Pereq uê
Oferecendo oportunidades
“Alguns pintores transformam o sol em mancha amare-
la. Outros transformam a mancha amarela em sol.”
Pablo Picasso, pintor espanhol

175Paulo Alexandre Barbosa
A ocupação desordenada deu origem a uma comunidade carente no Perequê, bairro do Guarujá, no litoral de São
Paulo. A união da comunidade católica atuante na região possibilitou a construção do Centro de Aprendizagem Profissio-
nal e Cultural no bairro, onde são realizadas capacitações com cursos e oficinas para crianças a partir de 7 anos, jovens
e adultos, somando 1.200 pessoas. Há aulas de tapeçaria, secretariado, rotinas administrativas, corte e costura, panifi-
cação, alongamento, biscuit, capoeira, crochê, estética, pintura em tecido, judô, inglês, tricô, ballet, hip hop, entre outros.
Ligada à Capela Nossa Senhora Aparecida, a entidade é dirigida pelo pároco responsável, o padre Tarcisio dos
Santos. O depoimento de uma moradora do bairro, Geniz Francisca Dias, demonstra a importância dessa atuação para a
comunidade. “Se não tivesse essa igreja aqui, não teríamos nada. Se não fosse isso, tudo aqui seria mais difícil. A igreja
é um ponto de união da comunidade.”
Recém chegado ao município de Guarujá, padre Tarcisio assumiu a obra com o coração e revela seu envolvimento.
“É muito gratificante ver as crianças, os jovens, os adultos saindo da rua, ocupando seu tempo e aproveitando para
aprender cidadania, fazer cursos, desenvolver qualidades e participar da igreja de maneira bem viva, bem ativa, fazendo
com que a fé esteja viva em sua vida.”
“É maravilhoso sentir que temos uma missão comum
mandada por Jesus Cristo. Ao mesmo tempo em que é um
grande desafio, a gente vê que milagres acontecem a toda
hora, todo momento . Vemos quanta gente boa procurando
somar forças, quanta gente boa se abrindo, se aproxi-
mando para vir desfrutar das maravilhas da comunidade e
trazer a sua contribuição de maneira especial, liderando,
coordenando, animando os cursos aqui.”
P
adre Tarcisio dos Santos, presidente
“É muito gratificante trabalhar para o Senhor; só tenho que lou
-
var e agradecer. Aqui na comunidade todo mundo se conhece, todo
mundo é amigo; é maravilhoso. Meu trabalho aqui é mais espiritual,
um pouco difícil, mas gratificante.”
S
ilva Helena Ribeiro Monteiro, moradora da comunidade e coordenadora da liturgia
“Eu tenho uma equipe maravilhosa que me ajuda muito, contando
com os professores, que são todos voluntários – a maioria da co
-
munidade. Eu acho que trabalhando pra Deus a gente só tem a ga-
nhar: ganha amor das pessoas. Não adianta fazer um trabalho
lindo, maravilhoso e não ter Deus no coração. E a gente tem que
trabalhar com amor. Com amor a Deus a gente consegue tudo.”
Z
enólia Martins dos Santos, idealizadora e coordenadora dos projetos sociais
Centro de Aprendizagem Profissional e Cultural do Perequê
Local: Rua 01, nº 160- Jardim Cidamar- Perequê- Guarujá (SP)
Fundação: 1999
Contato: (13) 3353-2302
Programa exibido em: 05/04/09

Lição deVida176
Há mais de 2 mil anos, Jesus nos ensinou que a dor pode ser transformada em amor. A lição virou exemplo
de vida para Roberto dos Anjos, quando vivenciou a dor maior de perder um filho de 14 anos. Ele e a família
viveram uma verdadeira provação.
“Durante um ano e meio eu acompanhei o sofrimento do meu filho. Eu e minha esposa paramos toda nossa
vida: ela no hospital e eu dobrando o joelho, orando. Eu entreguei meu filho pra Jesus e ele foi como um anjo.
Agradeço a Deus todos os dias por saber que ele está à direita do Pai. Ele foi meu primeiro anjo do projeto.”
O segundo anjo apareceu pelas mãos da Dona Zélia, da Igreja do Embaré, que o convidou para ser o Papai
Noel no encerramento do grupo de oração. A filha de Roberto foi Maria e a neta, recém-nascida, foi Jesus. Para
Roberto, esse foi um chamado de Deus confirmado quando ele foi entregar a roupa de Papai Noel e Dona Zélia
disse: “a roupa é sua”. Aí tudo começou.
Depois ele ganhou cerca de 500 presentes e foi entregar na Santa Casa. “Eu renasci naquele momento de
caridade. No outro ano fomos a quatro hospitais, fizemos dois shows”. O projeto começou a crescer, mais pesso-
as se uniam para ajudar e eles faziam o caminhão da alegria, comemoração de Páscoa, campanha do agasalho.
Roberto redescobriu na caridade a forma de dar amor a todos, servindo como exemplo de superação da dor.
“Amar o próximo faz bem à alma e agrada a Deus. A caridade é o maior dom do Espírito Santo e o exemplo maior
desse dom é Jesus, que foi de braços abertos para que não cruzássemos os nossos. Que Jesus possa, através
da sua ressurreição, renascer no coração de cada um. Vamos nos amar, promover irmandade, para que o mundo
seja bem melhor.”
Projeto Anjos do Senhor
Um chamado de Deus
“Que vossa caridade não seja fingida.
Aborrecei o mal, apegai-vos solida-
mente ao bem. Amai-vos mutuamente
com afeição terna e fraternal. Adian-
tai-vos em honrar uns aos outros.”
(Rm 12,9-10 )

177Paulo Alexandre Barbosa
A campanha Páscoa Feliz, que há cinco anos atende crianças carentes na data festiva, faz parte de um projeto maior,
Anjos do Senhor, que envolve atividades durante todo o ano. O idealizador, Roberto dos Anjos, explica que o projeto faz
campanhas durante o ano: Natal é Caridade, Páscoa Feliz, Campanha SOS Agasalho, Campanha SOS Alimento e Outubro
Brincando com as Crianças – este dura todo o mês de outubro, com shows, lanches e brincadeiras nos finais de semana.
“Nesses sete anos do projeto, estamos chegando a mais de 50 mil famílias atendidas de alguma forma”, avalia Roberto.
Um dos diferenciais do projeto é envolver a comunidade. Outro ponto especial é complementar os eventos por meio
da entrega de presentes, de apresentações musicais e artísticas, e até de evangelização, realizando oração com as
crianças antes das refeições, passando importantes mensagens, ajudando famílias necessitadas. “Fizemos concurso com
mensagem de Páscoa – 90 crianças se inscreveram. Esses desenhos serão levados a psicólogas que vão avaliar através
do traçado, o comportamento, e as que demonstrarem necessidade receberão tratamento psicológico gratuito e a família
vai receber assistência”, diz o idealizador. “Fazemos também a parte humana.”
“A gente tenta passar para as crianças que a dança, o
esporte é o melhor remédio, a melhor união para dentro de
casa. Tive alunos com problema sério com as drogas, que
hoje já não estão mais comigo, mas foram pessoas que pas-
saram por mim e estão trabalhando, viraram dançarinos.
E
voluíram bastante. A dança ajudou.”
L
ucinéia Martins Vasquez, coreógrafa
“Páscoa, festa da vida, festa da vitória sobre a morte, festa em
que celebramos os hebreus saindo da escravidão do Egito rumo
à liberdade. É cada travessia que fazemos , é cada gesto de soli
-
dariedade. É o nascer de uma flor em meio ao caos urbano em uma
coluna de concreto. Maravilha aos nossos olhos, mistério que
sacia a alma. É a vitória de Cristo, é a superação do pecado, dos
vícios, das dores, é o resgate da humanidade . É a construção da
fraternidade no exercício quaresmal . É a paz ao nosso alcance.
É
o amor chegando e o coração no portão esperando, saltitante,
por uma certeza: o amor é mais forte que a morte. Festa da justi
-
ça e da paz, do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.”
M
ensagem de Páscoa do padre Valfran dos Santos, pároco da Paróquia São João
B
atista, em Santos (SP)
“N
ós recuperamos os brinquedos usados, arrecadamos novos. É
um trabalho gratificante. Eu tive problema de depressão e o que me
tira da depressão é quando a gente começa com essas atividades. Eu
fico muito feliz com situações como vivi, de entregar um brinquedo
usado que eu recuperei e a criança chorar, eu achar que ela estava
chorando porque o brinquedo era usado e ela estava feliz da vida
porque nunca teve uma boneca antes – só a perna de uma boneca,
que ela achou. Isso me deixa reconfortada e é o que eu ganho com o
projeto, a felicidade em ver crianças com sorriso no rosto.”
S
oraya Lopes, voluntária
Projeto Anjos do Senhor
Local: Rua Alfredo Albertine, 227
Marapé – Santos-SP
Fundação: 2003
Contato: (13) 3021-3134
Site: www.robertodosanjos.com.br
Programa exibido em: 12/04/09

178Lição deVida
Para chegar a algum lugar é preciso movimentar-se, caminhar. Quem fica parado não chega a lugar nenhum. Esse
aprendizado Thereza Jesus Alves Muniz conquistou da forma mais difícil – vivenciando para saber. “Eu vim pela dor e
não pelo amor; hoje eu vivo pelo amor”, conta a moradora da comunidade em que o instituto está instalado.
Ela lembra que vivia com problemas de saúde, tinha dores na coluna e ficava, literalmente, vendo a vida passar
pela janela – observava as mulheres passando para caminhar logo cedo e criticava: “Nossa, elas não têm o que fazer?
Ficam andando às 6 da manha.”
O instituto mudou sua vida e hoje ela é uma das que acorda cedo, disposta a caminhar. “Antes de eu conhecer o
núcleo, eu tinha depressão e não tinha coragem de contar para ninguém. Hoje eu não tenho mais”. A mulher que ia da
cama para o sofá, agora acorda às 5 horas e fica observando para ver se já tem alguém para começar a caminhada.
“Eu me sinto outra pessoa, não tenho mais depressão. A minha vida mudou totalmente graças ao núcleo, graças às
minhas amigas de caminhada. Hoje eu não consigo viver sem o núcleo, não me vejo mais longe do grupo. Isso aqui faz
parte da minha vida, da minha história.”
Um primeiro passo mudou a vida de Thereza. A história de Sandrimar Aparecida Freitas de Araújo também ganhou
outro rumo com o instituto. No início ela ia obrigada levar a irmã para as aulas e ficava olhando. Um dia a irmã disse:
“Por que você não vai lá fazer aulas? A professora falou pra você ir conhecer; se não gostar, para”. Sandra, como é co-
nhecida, resolveu tentar e começou no grupo de jovens. No início faltava bastante, mas com a cobrança dos professo-
res, passou a frequentar com assiduidade, a participar dos jogos. “Eu continuava a trazer a minha irmã para as aulas,
mas o que me interessava era a metodologia - eu ficava de fora e dava muita risada com as crianças se divertindo.”
Sandra foi chamada para monitorar as aulas e passou de ex-aluna à estagiária. “Agradeço a oportunidade que
eles me deram. Graças a isso eu consegui entrar na faculdade, estou no segundo ano de educação física e faço o que
eu tanto admirava: as crianças sorrirem.”
Instituto Esporte & Educação
Mudando rumos
“O que vale na vida não é o ponto de partida, e sim a caminhada.
Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.”
Cora Coralina, escritora e poetisa brasileira

179Paulo Alexandre Barbosa
Do desejo de um grupo de profissionais do esporte em proporcionar uma vida nova a crianças e jovens através
da atividade física nasceu o Instituto Esporte & Educação. A ex-jogadora de voleibol e presidente do instituto, Ana
Moser, conta que depois de criar o projeto, o grupo começou a pensar em formas de incluir toda a comunidade na
prática esportiva. “A gente começou a entender que além do que o aluno fazia durante duas, três horas dentro da
quadra durante a semana, ele podia levar na sua vida para o resto da semana. Ir além da quadra.” Com essa diretriz
a ação foi estruturada, considerando os princípios do esporte educacional, com a inclusão de todos, a ação partici-
pativa, a questão motora e cognitiva, considerando a diversidade.
“Hoje temos 46 núcleos - sendo oito em implantação - que atendem mais de 10 mil crianças. E o instituto tem
a estrutura nessas três pontas: atendimento direto às crianças (de 4 a 18 anos); atendimento em esporte educacio-
nal, quer dizer, com outras áreas de atuação além do esporte, e um programa de formação de professores - mais de
100 professores trabalham nesses núcleos; eles têm uma formação continuada e o desenvolvimento para que pos-
sam atuar com planejamento e intencionalidade não só no esporte, mas em outras áreas como educação, cultura,
saúde, protagonismo e cidadania”, complementa Ana.
“A formação oferecida nas faculdades de educação física
trata o esporte muito mais como rendimento do que como o es-
porte da escola, o esporte para todos nos espaços públicos.
E
la não foca a área de humanas .
N
o instituto, os professores planejam a atividade esportiva
de uma maneira integrada, então é um trabalho pedagógico.”
A
na Moser, ex-jogadora de voleibol e presidente
“O instituto oferece atividades que são pautadas nos princí
-
pios do esporte educacional, que envolvem educação, participa-
ção de todos, convivência e essas atividades não estão só no
campo do motor, estão no campo do cognitivo, do conceito.”
L
uiz Alex de Moura, professor de educação física
“Nós conseguimos trazer muitas crianças e adolescentes
aqui pra fazer as atividades. Eu creio que os pais agrade
-
cem porque eles participam e é muito interessante.”
M
aria Josefa Francisca da Silva, líder comunitária
Instituto Esporte & Educação
Local: Avenida Professor Noé Azevedo, nº 208,
sala 34- Vila Mariana- São Paulo (SP)
Fundação: 1998
Contato: (11) 5579-8695
Site: www.esporteeducacao.org.br
Programa exibido em: 19/04/09

Lição deVida180
Gilze Francisco experimentou o poder transformador do amor em 1999, quando descobriu um câncer de
mama extremamente agressivo, que se tornava ainda pior por ela ser muito jovem. “Conheci de perto esse
inimigo íntimo”, comenta. Com o diagnóstico na mão e aconselhada pelo médico, a enfermeira mergulhou na
internet para encontrar respostas para suas dúvidas, apoio para seus medos. Encontrou coisas boas, mas não
o que buscava – nem sabia bem o que procurava; só não gostava de ver nos sites que ia sobreviver apenas
cinco anos. Era muito pouco para todos os sonhos que tinha, para tudo que pretendia realizar. Decidida a ter
esperança, pediu ao marido: “se eu sair dessa, você monta um site pra mim?”.
O tratamento foi difícil como são todos os tratamentos de câncer – Gilze teve insônia, precisou tirar a
mama. Mas enquanto enfrentava a doença e seus medos, começou a escrever o site, que entrou no ar e logo
fez sucesso, porque oferecia algo que as mulheres que viviam a mesma situação buscavam. Com a popu-
larização do site, vieram diversos convites para debater o tema em meios de comunicação, palestras, entre
outros. Em uma de suas explanações sobre a doença, chegou a receber mais de 48 mil e-mails de pessoas
que procuravam ajuda. Gilze sentiu a necessidade de partilhar sua experiência, de oferecer algo a mais a es-
sas mulheres, e resolveu criar o Instituto. “Há uma carência muito grande de você centralizar essa mulher, de
colocá-la no prumo. Mostrar a informação correta, desmistificando o câncer, mas sem esconder a realidade.”
O amor que ela recebeu do marido, da família, dos amigos, ela partilha
no instituto, com outras mulheres. Demonstra carinho ao comentar com
detalhes a situação de cada uma e é tanta dedicação que mal tem tempo de
se cuidar. “Eu sou mastectomizada até hoje. Não deu tempo ainda de fazer
a reconstrução, veio o site, depois veio o Instituto e eu me dediquei, entrei
de cabeça mesmo nesse projeto, que é um projeto de vida. Mas perto do
que eu tive, da forma como a doença foi agressiva, tudo que eu faço ainda é
pouco.”
Instituto Neo Mama
Apoio amoroso
“O amor cura tudo, basta ter
fé e coragem.”
Autor desconhecido

181Paulo Alexandre Barbosa
Devolver a autoestima à mulher é um dos principais objetivos da entidade, que oferece uma boa estrutura, com
atendimento psicológico, drenagem linfática, fisioterapia, orientação nutricional, manicure, banco de perucas e próteses,
ioga, oficinas de artes, entre outras atividades. Considerando a importância da participação da família e a dificuldade de
todos em aceitar e entender, o Instituto promove reuniões entre os maridos para troca de informações. “T udo é novo e, in-
felizmente, é assustador para nós, homens. A gente não sabe o que vai acontecer com as nossas esposas, com as nossas
companheiras. E a ideia nossa é justamente trocar essas informações”, diz José Luiz Neto Francisco, voluntário e marido
de Gilze.
Pelas ações realizadas, o Instituto ganhou reconhecimento internacional em 2008, quando foi selecionado pela Susan
G. Komen for the Cure - entidade norte-americana, maior ONG mundial em defesa do câncer de mama – para fazer parte
da Iniciativa Global de Conscientização do Câncer de Mama, realizada em oito países.
“A maior dificuldade é a aceitação da doença. Então, elas chegam
cheias de dúvidas. Qualquer coisa que acontece elas já pensam : Será
que o câncer voltou? É uma sombra dupla que vai permanecer com a
gente pelo resto de nossas vidas – que ainda vai ser muito longa, se
D
eus quiser.”
G
ilze Francisco , fundadora e presidente
“Minha filha tinha visto o site da Gilze e disse pra gente ir no Neo
M
ama, e eu respondi: ‘Não, qualquer hora eu vou’. Depois da primeira
quimio, a gente foi na padaria e passou por lá e a minha filha disse:
‘M
ãe, vamos entrar aqui’. Eu disse: ‘Outra hora eu venho’. Ela entrou
sozinha, conversou e a Gilze veio me buscar na calçada. Entrei e
conversei com a Gilze, nós marcamos uma entrevista e estou aqui até
agora – faz quatro anos; não saio mais daqui.”
C
onceição Ferreira Rodrigues, frequentadora das atividades
“A mulher é a estrutura da família. Então, o homem , por
natureza, não suporta a dor e nós homens , quando ficamos
doentes, a mulher sempre está do nosso lado, mas quando
é o inverso, a gente fica perdido e às vezes não sabe o que
fazer. Infelizmente tem alguns casos, principalmente no
câncer de mama, que os homens abandonam as mulheres. Mas
o apoio emocional da família e principalmente do companheiro
é muito importante para que a mulher não se sinta rejeitada.
M
uitas vezes a gente só dá valor às coisas quando as perde
ou quando tem uma situação de possível perda. Então, meu
conselho aos maridos é que amem suas esposas e aproveitem
cada dia de sua vida, por ter a sua companheira ao seu lado.”
J
osé Luis Neto Francisco , voluntário e marido da fundadora Gilze Francisco
Instituto Neo Mama
Local: Rua Mato Grosso, nº 450- Boqueirão- Santos (SP)
Fundação: 2002
Contato: (13) 3223-5588
Site: www.neomama.com.br /
www.cancerdemama.com.br
Programa exibido em: 10/05/09

Lição deVida182
O casal Lucia Carrera Pazos Moraes e Luiz Antonio Moraes estava morando sozinho na casa onde viveram por
mais de 40 anos, na Ilha do Governador, estado do Rio de Janeiro, onde criaram os filhos até que esses casaram e
seguiram seu rumo. Com a casa grande demais só para os dois, eles viram a possibilidade de realizar a vontade da
filha que queria montar uma ONG, mas não tinha local. “A casa estava grande só para nós, meus filhos já tinham
casado e nós resolvemos ceder esse espaço para essas crianças carentes. Nós moramos aqui durante 43 anos,
conhecemos bem essa comunidade, as carências, então resolvemos ceder o espaço para que eles pudessem ficar
aqui conosco no horário extraescolar”, revela Lucia, a “T ia Lucia”, homenageada no nome da ONG.
Como educadores, Lucia e Luiz sabem a importância desse trabalho para formar bons cidadãos e por isso não
só cederam a casa, mas mergulharam no projeto. Lucia se preocupa com o que as crianças estão aprendendo: “te-
mos sempre essa preocupação de dar atividades que eles não poderiam ter lá fora. Então nós pensamos em fazer
informática, que é de muita utilidade; capoeira, que é exercício físico; apoio escolar; música, porque é a docilidade
da vida; e a parte de culinária para que aprendam a valorizar o que comem”. Luiz também participa, ajudando nos
cuidados cotidianos. “Eu sou o quebra-galho, tudo que é necessário, sou eu quem faço, com bastante satisfação,
com bastante alegria, sempre proporcionando o melhor para eles, sempre com aquele sorriso”. Esse envolvimento
é resultado do amor que eles oferecem. Por isso, Luiz sente-se como segundo pai das crianças – que sempre que
precisam de algo chamam pelo “tio” Moraes.
Para conseguir mais verba, utilizaram o único cômodo livre da casa – a garagem – para fazer um brechó. As
doações são retiradas no carro da família, que virou caminhão improvisado. “Abaixamos os bancos e transporta-
mos até colchão, cama, tudo que quiserem doar”, dizem.
A dedicação da família e os resultados que começam a aparecer nas crianças comprovam que cada um pode
fazer um pouquinho para melhorar o todo. “Mesmo sendo pouco, nós devemos buscar e acreditar no trabalho,
porque o importante é isso, perseverar, não parar na primeira dificuldade. Eu digo que sinto que sou uma gotinha
no oceano, mas mesmo sendo só uma gotinha, indo para o mar é mais uma gotinha”, diz “tia” Lucia.
ONG Tia Lucia
Fazendo a sua parte
“A paz não pode ser mantida à força.
Somente pode ser atingida pelo entendimento.”
Albert Einstein, físico e cientista alemão

183Paulo Alexandre Barbosa
Ana Lucia Pazos Moraes, filha do casal, trabalhava como voluntária em algumas instituições. Bernardo, seu amigo,
fazia doações. Os dois resolveram unir as iniciativas e criar uma ação para os moradores da Ilha do Governador, montando
uma instituição voltada para educação. “Nós achamos que a melhoria da qualidade de vida das pessoas está pautada na
educação. Então, na escolha do espaço físico, nós optamos pela casa em que eu cresci”, revela Ana.
A residência da família Pazos Moraes foi transformada em uma entidade que abriga, à tarde, 30 crianças entre 8 e 12
anos, que participam de atividades de apoio pedagógico/reforço escolar, além de ações como capoeira, artesanato, teatro,
inglês, informática, leitura e música. Elas também têm acompanhamento médico e dentário, realizado em parceria com
outras instituições.
Para participar da ONG, os alunos devem estar matriculados na rede pública de ensino e ter um bom rendimento es-
colar. O boletim é avaliado bimestralmente e a criança tem que atingir uma média, caso contrário é desligada da entidade.
“Para todas as crianças é um prêmio estar aqui, então elas têm melhorado muito o rendimento escolar; as professoras
têm comentado e nós aqui também vemos que elas estão evoluindo. Muitas estão conosco desde a fundação, quando nós
começamos desenvolvendo um trabalho de colônia de férias e depois passamos a acompanhar durante o período letivo.
Nós percebemos uma evolução nessas que estão aqui desde o início”, comemora Ana Lucia.
“Temos como objetivo trazer para os alunos textos do cotidiano,
a vivência deles para tentar fazer com que participem mais do dia
a dia, tanto da vida escolar, fora da ONG, quanto com as coisas
que eles encontram aqui, nas atividades complementares . Nós
tentamos fazer com que eles aproveitem ao máximo , tanto que
nós temos também passeios extraclasse, sempre guiados, sempre
direcionados com as nossas atividades. Nós estamos trabalhan-
do ainda um projeto chamado ‘Os três Rs: reduzir, reutilizar e
reciclar’.”
N
euza Santos de Oliveira, professora
“É muito bom poder estar aqui e meus filhos estarem comi
-
go, é uma forma de acompanhar de perto o desenvolvimento
que eles estão tendo aqui na ONG. A entidade oferece
oportunidades que eu não teria condições de proporcionar
a eles.”
C
ristina de Almeida Vinhaes, auxiliar de serviços gerais e mãe de alunos
“Eu chego a me emocionar porque é bom a gente ver o desen
-
volvimento deles todo dia. Crianças que vão se interessando
cada dia mais pela leitura, pelas coisas de um modo geral. O
crescimento delas é muito bonito, então emociona mesmo . É a
recompensa pelo esforço de todo o trabalho.”
R
osangela Jeannetti Stratigos, secretária administrativa
ONG Tia Lucia
Local: Rua Magno Martins, nº 219- Freguesia-
Ilha do Governardor (RJ)
Fundação: 2007
Contato: (21) 3247-6205
Site: www.ongtialucia.org.br
Programa exibido em: 17/05/09

Lição deVida184
A solidariedade pode brotar em nossos corações nos momentos menos esperados de nossas vidas. Pode nascer
em meio à alegria, por uma graça alcançada. Ou pode nascer da dor, quando o ser humano supera sua própria triste-
za para transformá-la em amor ao próximo. Este foi o caminho escolhido por Clícia Helena Tavares Manoel.
Ela tinha três filhas pequenas quando uma médica conhecida sugeriu que a família adotasse uma criança. Como
a filha mais nova resistiu, Clícia hesitou até que, pouco mais de uma semana depois enquanto fazia compras com o
marido, encontrou a médica que lhe avisou que havia uma grávida que não ia querer o bebê. Chocado, o casal voltou
para casa, chamou as filhas e disse: “Há um bebê querendo vir aqui para casa. Vocês aceitam?”. As filhas disseram
animadas que queriam. Na mesma hora, o marido disse a Clícia: “Considere-se grávida desde agora”. Ela ligou para a
médica e avisou que aquele bebê era seu.
Como uma estrela que ilumina por onde passa, o bebê levou brilho para a família e assim cresceu, recebendo
amor e carinho. Tornou-se um rapaz carinhoso, dançava com a mãe, tocava violão, fazia parte de um grupo de jovens.
Como Clícia dizia, era o filho que toda mãe gostaria de ter. Ia se formar engenheiro elétrico quando, aos 23 anos,
sofreu um acidente de carro no retorno do trabalho. Vendo o filho no hospital, a mãe amorosa pediu a Deus: “Se o
Senhor me deu, não me leve”. Mas era a hora e o rapaz faleceu, deixando tristeza em toda a família. Não havia mais
o som do violão, nem o abraço, nem o beijo; a ausência provocou em Clícia uma profunda depressão, que a levou ao
psicólogo e ao psiquiatra. Foi a amiga Tâmara, que trabalhava na ONG Grupo da Solidariedade, quem a chamou de
volta à vida. Trabalhando como voluntária na entidade, Clícia foi crescendo de novo, reaprendendo a viver. Com fé, ela
aprendeu a transformar sua dor em solidariedade.
ONG Grupo da Solidariedade
Quando a dor vira amor
“Solidariedade, amigos, não
se agradece, comemora-se.”
Herbert de Souza, o Betinho, sociólogo

185Paulo Alexandre Barbosa
Também foi transformando dor em solidariedade que Maria Fátima Vasconcelos Silva resolveu criar a ONG Grupo da So-
lidariedade. Com uma história de dor e superação, ela conseguiu mudar sua vida e de muitas outras mães que vivenciaram a
mesma tristeza. Depois de perder um filho repentinamente, a família de Maria Fátima resolveu vender uma casa que tinha em
São Pedro, onde o garoto foi criado com os animais que tanto amava. Lá, conversando com uma amiga, Maria percebeu que
precisava fazer algo relacionado à caridade. Unindo-se com outras mães que tinham perdido seus filhos, começou a arreca-
dar verbas e comprou a primeira máquina de fazer fraldas.
O grupo, que começou com oito voluntárias em 2003 e virou ONG em 2004, foi se expandindo e hoje soma mais de 150
voluntários, além de profissionais da saúde atuando para ajudar creches, hospitais, asilos e orfanatos. Além de produzir e
distribuir fraldas descartáveis, a ONG faz doação de cestas básicas e cadeiras de rodas e montou consultório médico para
atender a população carente da Ilha do Governador.
Para conseguir verbas, conta com um grupo de associados de mais de 500 pessoas, um brechó e realiza eventos para
arrecadação de fundos. Com o grupo de voluntários, a ONG consegue produzir mais de 13 mil fraldas descartáveis por mês,
atendendo mais de 150 entidades, fazendo visitas para entregar o material e levar também seu carinho e solidariedade.
“Nós gostamos de fazer as visitas. É muito importante, existe a
troca de energia. Com essas pessoas mais necessitadas, come-
çamos a enxergar a vida de outra maneira. Elas nos mostram
realidades que muitas vezes não conhecemos . Essa troca é muito
importante. Às vezes a gente pensa que só pode fazer alguma coi-
sa com doação de material e dinheiro, mas doando seu tempo, indo a
um orfanato, a um asilo, está fazendo sua parte.”
N
adia Maria Galera Silva, voluntária
“Tudo que nós precisamos eles estão pron
-
tos para servir. Eles nos visitam , trazem
alimentos e nós ficamos muito gratos. Como
somos uma creche comunitária , vivemos só de
doações.”
G
eorgia Alves da Silva, coordenadora da creche Casulo do
D
endê, beneficiada pela ONG
ONG GR UPO DA SOLIDARIEDADE
Local: Avenida Paranapuan, nº 1669- Loja A- Ilha
do Governador (RJ)
Fundação: 2003
Contato: (21) 3368-2274
Site: grupodasolidariedade.in
Programa exibido em: 24/05/09

186
É preciso ter uma visão que vai além das aparências imediatas para perceber como podemos agir no
presente para preparar o futuro que se aproxima. Foi essa a atitude de Dom Duarte Leopoldo e Silva quando, na
década de 20, percebeu que as mulheres começavam a mudar a história e precisavam de apoio.
“A Liga Solidária nasceu nos anos 20, moderníssima, porque ela veio dar apoio às primeiras mulheres que
saíram de trás do fogão e do tanque e foram trabalhar no centro. O arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopol-
do e Silva, percebeu a dificuldade dessas mulheres que não podiam almoçar no restaurante porque não podiam
entrar sozinhas. Ele chamou dona Amalia Matarazzo e outras senhoras católicas para darem apoio a essas mu-
lheres, e isso foi feito lindamente pois fizeram um restaurante que foi o maior sucesso, onde eles davam apoio a
essas mulheres que trabalhavam e que estavam pela primeira vez enfrentando o mundo do trabalho no centro”,
conta a presidente, Maria Luisa d´Orey Espírito Santo.
A Liga foi crescendo e acompanhando as necessidades sociais, criando abrigos para crianças necessita-
das, creches para as mães terem onde deixar seus filhos para trabalhar e programas socioeducativos, para dar
oportunidade à população mais necessitada de estar inserida na sociedade.
A visão de futuro de Dom Duarte mostrou-se eficaz, pois ajudou a construir uma entidade quase centená-
ria e que continua atual, criando um futuro melhor para pessoas como Wilson dos Santos, que foi abrigado por
quase 12 anos. “Aprendi a ser cidadão aqui dentro”, revela o homem que saiu da entidade, foi trabalhar fora e
voltou para retribuir a base que recebeu, dando aulas de educação física. “Eu tento passar para os meus alunos
uma forma honesta de se ganhar a vida, através do esporte, de uma educação de boa qualidade, sem ter intri-
gas e aproveitar ao máximo o que a Liga Solidária passa pra eles.”
Liga Solidária
Formando novos cidadãos
“Se pude ver mais além dos demais, foi porque me pus de pé nos ombros de um gigante.”
Isaac Newton, físico, matemático e astrônomo inglês

187Paulo Alexandre Barbosa
Nos anos 20, uma agremiação chamada Liga Metropolitana das Mães Católicas – que depois passou a se chamar Liga
das Senhoras Católicas de São Paulo – com apoio do primeiro arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, criou a
entidade. Hoje, conhecida apenas como Liga Solidária, um dos diferenciais da instituição é o grande espaço físico, com muito
verde, uma área de 470 mil metros quadrados com belo espaço arborizado. “Essa fazenda foi doada para a Liga em 1937 pelo
senhor Braulio da Silva e sua esposa, como um presente. Vários empresários na época contribuíram para a construção da casa
e fizeram tudo o que era preciso para dar apoio aos filhos dos seus operários. Eles eram donos de fábricas e esses meninos
vinham pra cá como uma espécie de colégio interno”, diz Maria Luisa d´Orey Espírito Santo, presidente da Liga Solidária. “Hoje
em dia é uma gestão voltada para a comunidade. Quando comecei a trabalhar aqui, há 13 anos, havia uma favela e meia e
agora nós temos 27 favelas. A necessidade da comunidade é enorme e nós achamos que é nosso papel ajuda-lá.”
Para auxiliar a comunidade local, a entidade conta com oito creches (seis na sede e duas fora), atendendo 120 crianças
cada uma, com abrigos, projetos socioeducativos onde são atendidas 400 crianças que ficam nas horas em que não estão na
escola. “A gente atende diretamente 3.600 pessoas de 0 a mais de 80 anos, com 1.100 refeições diárias no restaurante. Indi-
retamente são mais de 13 mil pessoas, porque o trabalho envolve as famílias”. Há ainda qualificação profissional com cursos
voltados para adolescentes e adultos, tem programas de esportes, escola com 700 crianças, programa de alfabetização de
jovens e adultos, grupo de convivência de idosos.
“Todo mundo cresce só por estar aqui. Quando eu estou
muito aflita, venho pra cá, e só de olhar, passear, almo-
çar aqui, fico em paz.”
M
aria Luisa d´Orey Espírito Santo, presidente
“Tudo aqui é muito dinâmico . Hoje em dia eu posso contar os projetos que já estão
acontecendo, além dos grandes sonhos que temos, porque aqui sonho não falta.
N
osso desafio é dar amor, autoestima para que essas crianças saibam que elas
são protagonistas, que elas são personagens históricos, que elas vão poder tocar
a vida delas.”
M
alu Sigrist, diretora executiva
Liga Solidária
Local: Avenida Engenheiro Heitor Antônio Eiras Garcia, nº 5985
Jardim Educandário- São Paulo (SP)
Fundação: 1923
Contato: (11) 3873-2911
Site: www.ligasolidaria.org.br
Programa exibido em: 31/05/09

Lição deVida188
As palavras de Ayrton Senna, campeão de fórmula I nascido e crescido na Vila
Albertina, exatamente onde está sediada a fundação Gol de Letra, é um conselho a
ser seguido por quem quer realizar grandes conquistas. Thais Franca Freire agarrou
com todas as forças a oportunidade oferecida pela instituição para seguir esse
conselho.
Ela entrou na entidade com nove anos para fazer dança e acabou aprendendo um
pouco de tudo: fez todas as atividades do programa que tinha na época, Virando o Jogo – dança, informática, leitu-
ra, escrita e outras. Um pouco antes de sair do programa, que vai até os 14 anos, Thais participou de um intercâm-
bio com outros colegas e um grupo do Rio de Janeiro e passou 20 dias na Suíça. “Foi uma experiência muito boa; é
outro país, outra cultura e foi muito interessante”, recorda.
Depois ela passou a fazer parte do programa FAC – Formação de Agentes
Comunitários, para jovens de 14 a 21 anos. “Eu participei da oficina de teatro, que
foi uma experiência muito boa pra mim”. De lá, Thais foi para o programa Aprendiz,
quando teve a oportunidade se ser estagiária no Banco do Brasil. Em um processo
de seleção, a garota conquistou uma bolsa da Unilever no programa Diversi-
dade, fazendo cursinho preparatório para vestibular. O resultado do esforço
é a alegria de estar fazendo Letras na USP, uma das melhores universidades
públicas da América Latina. “Eu tinha esse sonho, só não sabia como ia conse-
guir. Sempre quis fazer faculdade e sempre ouvia falar da USP, era um sonho antigo
e hoje é realidade, mas eu não imaginava que eu ia conseguir entrar num programa
assim e que ia ser tão melhor do jeito que foi”, diz. “Vários colegas meus, que estuda-
ram comigo, não tiveram essa chance e eu sei que eu sou uma exceção, infelizmente,
sou uma exceção no meio em que eu vivo, e é muito bom. Às vezes as pessoas nem
acreditam ou, às vezes, me admiram e me dão os parabéns, porque pra mim
foi bem mais difícil ter chegado até lá, eu não tive todas as bases que outros
tiveram.”
Thais seguiu o caminho de dedicação e alcançou mais do que sonhava.
Para realizar esse sonho ela precisou de uma oportunidade, o que só foi
possível porque um dia dois jogadores de futebol, Raí e Leonardo, sonharam
e construíram essa fundação.
Fundação Gol de Letra
A arte de realizar sonhos“Se você quer ser bem sucedido,
precisa ter dedicação total, buscar
seu último limite e dar o melhor
de si mesmo.”
A[rton Senna da Silva,
piloto brasileiro

189Paulo Alexandre Barbosa
Com a ideia de oferecer uma formação educacional e cultural para crianças e jovens, os ex-jogadores Raí e Leonardo
criaram a Fundação Gol de Letra, que atende cerca de 1.200 crianças, adolescentes, jovens e suas famílias nas unidades
de São Paulo – na Vila Albertina – e do Rio de Janeiro – bairro do Caju. A Fundação é reconhecida pela UNESCO como
modelo mundial no apoio às crianças em situação de vulnerabilidade social – e utiliza três dos quatro pilares da entidade:
aprender, conviver e multiplicar.
“Nós traçamos um projeto que não se propõe a repetir a formação formal; é um projeto que trabalha conjuntamente
com a educação formal da escola pública de forma a despertar na criança, no adolescente, no jovem, o prazer de estudar, a
vontade de traçar um projeto de vida. A única disciplina que acompanha a escola formal é a leitura/escrita, que é uma defi-
ciência muito grande no Brasil e fundamental para o desenvolvimento de qualquer pessoa”, explica o diretor da instituição,
Sóstenes Brasileiro S. de S. V. Oliveira, irmão de Raí. Há atividades com oficinas artísticas, oficinas esportivas, expressão
oral e escrita, para que os participantes aprendam as técnicas, e em torno disso é feito um trabalho de educação de valo-
res. “Queremos que eles aprendam a conviver, trabalhar em grupo, quebrar essa rotina de resolver problemas na violência,
aprender a discutir, a se relacionar.”
“A Fundação Gol de Letra tem três princípios básicos educacionais que são o
aprender, o conviver e o multiplicar; são objetivos que permeiam os três pro-
gramas que a gente tem: o Programa de Jovens, o Programa Virando o Jogo e
o Programa Esportivo, que é o Jogo Aberto. No Programa Virando o Jogo, que
consiste no aprendizado, a gente trabalha com dez linguagens diferentes que
envolvem o programa oral/escrita, que é a leitura e escrita, a informática ,
mediação de leitura, e as áreas de arte e educação que envolvem teatro, música,
dança, capoeira e temos educação física e artes plásticas também . No conviver
trabalhamos como a criança lida no seu dia a dia com as relações que ela esta-
belece com o outro - a gente trabalha a questão da cultura de paz, educação de
valores, a questão do respeito, de resolver os conflitos através do diálogo. O
multiplicar seria eles transmitirem o conhecimento – que as atitudes positivas,
o aprendizado, a linguagem que aprendem aqui sejam levados para casa, com os
irmãos, com a família, dentro da escola.”
P
atrícia Liberali, coordenadora pedagógica
“A forma com que a gente trabalha o esporte
aqui é baseada nos princípios educacionais da ins
-
tituição. Todos os programas seguem princípios
que não visam a desenvolver talentos individuais,
mas construir ações que sejam cidadãs. A prática
é totalmente inclusiva - todos jogam, indepen-
dente de terem aptidão ou não. Isso vai fazer
com que esse jovem cresça com uma autoestima
melhor, com sucesso e possibilidades de êxitos e
fracassos naturais num processo criativo, en-
tão, essa é a formula básica onde a gente utiliza
o esporte aqui.”
Â
ngela de Carvalho Bernardes, coordenadora do programa Jogo
A
berto
Fundação Gol de Letra
Local: Rua Antônio Simplício, nº 170- Vila Albertina-
São Paulo (SP)
Fundação: 1999
Contato: (11) 2206-5520
Site: www.goldeletra.org.br
Programa exibido em: 07/06/09
Divulgação

Lição deVida190
Preparar as crianças para construir um ambiente de paz no futuro. Esse é o desafio que o Instituto São
José enfrenta, oferecendo abrigo para crianças em uma região extremamente carente. “A necessidade é
muito grande desse povo aqui do Dique da Vila Gilda e o que nós fazemos é uma gota d’água dentro de um
oceano. São de apenas 136 crianças que nós conseguimos cuidar, educar, que nós conseguimos colocar den-
tro do convívio social”. A preocupação do diácono José Carlos da Silva, representante da Paróquia Sagrada
Família, justifica-se pela miserabilidade do bairro.
Como em uma situação de risco social, as crianças costumam ser as mais afetadas, para elas é dirigido
o trabalho do Instituto São José, com a intenção de dar educação, saúde, tirando-as da rua e dando a chance
de um futuro diferente.
Outro desafio é dar uma base espiritual, fundamental em um ambiente de desigualdade social, onde são
grandes os desafios e as dificuldades. “É preciso mostrar a eles que há esperança, que há onde nos apegar-
mos ainda dentro da nossa sociedade, ainda existem pessoas que se preocupam com isso e aí a Igreja faz um
papel fundamental e eles podem fazer essa diferenciação”, explica o diácono. “A iniciativa parte do Evangelho
de Jesus Cristo que nos pede que representemos nossa fé pela obras, por isso ela parte do Evangelho e da
necessidade desse povo aqui. Nós jamais poderíamos ser Igreja se nós não tivéssemos nosso olhar voltado
para as necessidades dessas crianças.”
Instituto São José
Ação pelas crianças
“A paz exige quatro condições essenciais:
verdade, justiça, amor e liberdade.”
João Paulo
II, Papa no período de 1978 a 2005

191Paulo Alexandre Barbosa
Obra social liderada pela Paróquia Sagrada Família, o Instituto São José, fundado pelo padre Valdeci João dos San-
tos, atende 136 crianças entre 3 e 7 anos – a maioria em período integral. Além da parte educacional, a entidade oferece
atendimento odontológico.
O principal diferencial é o trabalho espiritual, a preocupação com o desenvolvimento interior das crianças. Com esse
foco, um dos projetos da creche é trabalhar com as crianças temas ligados à Campanha da Fraternidade.
Essa atuação de evangelização reflete-se não só na atitude das crianças, mas espalha-se para as famílias, para a
comunidade. É o alicerce que a criança recebe e serve de base para seu comportamento, como reforça o diácono José
Carlos. “A gente pode perceber que em meio a tantas coisas que vemos na nossa sociedade, encontramos aqui crianças
que são capazes de obedecer à ordem dos professores, da escola, a doutrina da escola e isso é muito importante.”
“A gente pode perceber que as mães têm uma segurança de ter
um trabalho elaborado pela igreja, tem a confiança porque
vem da igreja, então elas sabem que os filhos estão em boas
mãos e podem desenvolver o trabalho delas. Quando elas nos
visitam na paróquia, nós percebemos que se sentem mais segu-
ras e nos encorajam porque o que fazemos com os seus filhos
reflete também nelas.”
D
iácono José Carlos da Silva, representando o Pe. José Raimundo da Paróquia
S
agrada Família
“O desafio é o amor. Acho que plantando o amor é possível colher o re
-
sultado que vemos aqui, com essas crianças felizes. Então é possível
fazer o trabalho educacional, a alfabetização, tudo o que a gente está
aqui pra fazer.”
S
imone Ferreira, coordenadora pedagógica
“Foi Deus que colocou essa creche no meu caminho. Eles
tratam muito bem meus filhos e eu não tenho nem palavras
pra falar. Eu fico tranqüila deixando meus filhos aqui. Se
eu tivesse outros, viriam todos para cá.”
E
dlaine da Silva Lopes, mãe de aluna e de ex-aluno
“O pouco que a gente faz é muito. Tem pessoas que têm tempo e dispo
-
sição, mas não encontram alguém que as oriente. Mas a gente precisa
dessas pessoas voluntárias, como é o meu caso. Desde que eu me apo-
sentei, eu me dedico aqui, eu me sinto bem, fico contente com o trabalho
que faço e a comunidade precisa de pessoas que tenham boa vontade e
que venham colaborar.”
F
ernando Aparecido da Silva, voluntário e membro do conselho administrativo
Instituto São José
Local: Rua Caminho São José, nº 115
Rádio Clube- Santos (SP)
Fundação: 2001
Contato: (13) 3291-4778
Programa exibido em: 14/06/09

Lição deVida192
Somente quando o preconceito é vencido, e paradigmas são quebrados, torna-se possível realizar a verdadeira
inclusão. “Diferentes somos todos: o magro, o gordo, o alto, o baixo, o negro, o índio, o deficiente, o não deficiente,
então todos nós somos diferentes. Por isso uma das bandeiras é: ‘viva a diferença’”. A reflexão é de Renato Di Ren-
zo, idealizador e presidente da ONG que busca quebrar paradigmas, preconceitos, promovendo a inclusão através
da arte. Renato complementa: “Nós temos que conviver com a diferença, porque é exatamente aí que a gente
encontra o encanto. Se todo mundo fosse igual, nós viveríamos num mundo de robôs. Nós temos um mundo para
todas as pessoas. Isso é inclusão social: inclusão na escola, inclusão nos ambientes sociais, inclusão no parque de
diversão, inclusão em todos os lugares.”
Renato questiona a tendência humana de excluir tudo que é diferente. “T emos, em nossa cultura, no nosso
corpo, uma exclusão por natureza. O que não é parecido comigo, é o contrário, o feio. Eu me reconheço como uma
pessoa do bem e vejo no outro o mal. Esse quebrar as barreiras é melhorar o nosso olhar, melhorar a nossa escuta,
os nossos sentidos, é fazer sentido para o mundo.”
Envolvendo pessoas com necessidades especiais com teatro, dança, poesia, literatura, a ONG Tam Tam conse-
gue, com seu trabalho pioneiro, através da arte, levar a real inclusão para a sociedade e mudar os paradigmas que
causavam tanto sofrimento, de isolamento, de exclusão. “T ínhamos na TAM TAM, há 20 anos, pessoas que estavam
13 anos, 24 anos dentro de um hospício psiquiátrico. Essas pessoas nunca mais voltaram para um hospício psi-
quiátrico, não porque não existe mais hospício, mas porque essas pessoas estão trabalhando, morando com seus
familiares. Quando eu ia levar essas pessoas em casa, os vizinhos diziam: ‘não pode ficar por aqui’. E hoje, quando
você vai no local, as pessoas chamam esse indivíduo para pintar a casa, participar de festa infantil, decorar a festa.
Porque todo mundo tem outra chance.”
Associação Projeto Tam Tam
Inclusão pela arte
“O medo é um preconceito dos nervos.
E um preconceito é simples de
ser desfeito. Basta refletir.”
Machado de Assis, escritor brasileiro

193Paulo Alexandre Barbosa
O Projeto TAM TAM utiliza as artes cênicas como meio de inclusão social e cultural para portadores de deficiência fí-
sica ou intelectual, síndromes e distúrbios de comportamento, magrinhos, gordinhos, altos, baixos, tímidos e hiperativos.
O trabalho, pioneiro, vem sendo realizado desde 1987, quando grupos se organizaram no país para fechar manicômios.
“A gente percebe que na verdade a única condição que o homem tem é a sua cultura, o seu fazer, a sua potência, colo-
car seu talento na rua contracenando com as pessoas”, explica Renato. “A arte, a cultura, o teatro, essas manifestações
funcionavam muito – ou pareciam funcionar – para aliviar a dor, ocupar o tempo.”
Além de conseguir promover a inclusão, o trabalho recebe reconhecimentos no Brasil e no exterior. “O trabalho é
potencializar corpos para que juntos possam fazer coisas, realizar coisas. Esse foi o nosso trabalho, nesses 20 anos e
agora começamos a ser reconhecidos, quando ganhamos esse prêmio, num espaço que produz saúde pela arte, com
nossa ida à Portugal financiada pelos governos. Isso é importante, e a gente continua buscando verbas para poder am-
pliar os vários projetos de música, capoeira, novos grupos de teatro.”
“Acima de tudo é uma experiência humana , de desafio permanente , mas
não especificamente porque você está lidando com pessoas que têm
algum tipo de deficiência, mas porque você está lidando com pessoas e
lidar com pessoas é sempre o novo. A criança, então, é uma surpresa
a cada dia. A potência de criatividade dela é muito maior, mais viva. A
criança se entrega e o processo é mágico, é fantástico. Não fazemos
teatro para o deficiente; fazemos teatro para pessoas – não tem isso
de ‘um é menos e outro é mais‘ – eles convivem .”
C
laudia Alonso, coordenadora e psicóloga
“O pessoal é sempre muito caloroso. Aprender teatro é uma coisa
que eu gosto muito. Estou aqui faz uns seis anos e está sendo
muito bom. Eu viajei para Portugal – é muito lindo. Adorei a experi
-
ência e conhecer o trabalho de outras pessoas também foi ótimo –
dividir, compartilhar as nossas ideias, o nosso trabalho.”
L
arissa Chiuro, que participa da ONG com a irmã Priscilla
“Eu faço teatro, estudo e faço futebol também . E fui
para Portugal e passeamos muito. Gostei da neve, por
-
que nunca tinha visto antes.
M
eu sonho é ser prefeito de Santos para ajudar as
pessoas que não têm comida.”
B
runo Cordeiro, aluno
“Esse espaço é maravilhoso, onde minha filha se realiza fazendo
o que ela mais gosta: cantar, dançar, ser feliz. A F rancisca está
aqui há quase quatro anos e cresceu bastante: melhorou a fala,
a postura dela em relação às outras pessoas, o comportamento ,
e realmente ela se realiza muito fazendo arte. Ela foi a Portu
-
gal com o grupo.”
E
lisabete Pillilini, mãe da Francisca Carolina Pillilini e voluntária da ONG
ASSOCIAÇÃO Projeto Tam Tam
Local: Rua Dr. Bias Bueno, nº 12- 95- Boqueirão- Santos (SP)
Fundação: 1993
Contato: (13) 9168-7449/ 9173 -3813
Site: www.tamtam.art.br
Programa exibido em: 21/06/09

Lição deVida194
Na adversidade, conseguimos vencer e conquistar sonhos. E foi essa situação que levou Maria Isabel dos
Santos, junto com outras mães, a procurar uma alternativa para seu filho e criar a APAE de Cubatão.
Além de ajudar o próprio filho, Maria Isabel acabou auxiliando muitas famílias, como a de Marilande Lima da
Silva, mãe de Daílson, um rapaz com autismo. Ela está na luta com Maria Isabel desde o início e colhe os frutos
de ter batalhado para oferecer uma vida melhor ao filho.
Marilande conta que quando descobriu a necessidade especial do filho, não tinha noção de como cuidar
dele. “A gente fazia tudo ao contrário. Ele era uma criança muito agitada, comia com a mão, fazia xixi em qual-
quer lugar, quebrava tudo em casa, não dormia durante a noite. Era um desespero. Eu não tinha orientação do
que fazer”, lembra. Com a APAE e os profissionais da entidade, aprendeu cada detalhe, desde a alimentação, o
banho, escovação, troca de roupa. “T emos que ajudar, mas deixar que eles também aprendam para serem inde-
pendentes. Antes fazíamos do nosso jeito, achava que estava certo, mas não estava. Não me ligava de dar uma
peça de roupa e explicar como vestir – eu o vestia e não me comunicava com ele. Agora não. Quando ele vai
usar objetos, a gente sabe que precisa explicar que o copo é para beber água, por exemplo”. Segundo Marilande,
o comportamento do filho melhorou em 100%. “A APAE foi uma benção.”
Maria Aparecida Guimarães, mãe do Guilherme, que também tem autismo, partilha da opinião de Marilande.
“Quando descobrimos que o Guilherme tinha problema, procuramos vários lugares em Cubatão e não achamos
nada para ele. Foi aí que surgiu a Isabel em nossas vidas, também com um filho com problema, e nos unimos
para fundar um lugar que pudesse atender a necessidade dos nossos filhos”. Ela afirma que antes o filho era
muito agressivo e mudou completamente, para melhor. “Hoje ele é tranquilo, calmo, sabe o que quer. Aprendeu
muita coisa, até a colocar a vasilha de água no fogo para fazer o chazinho que ele adora.”
APAE Cuba tão
Superando limites
“A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias
favoráveis, ficariam adormecidas.”
Horácio, filosofo e poeta romano

195Paulo Alexandre Barbosa
Quando o filho estava com 14 anos, Maria Isabel percebeu que não tinha nenhum lugar na cidade para que o garoto,
com necessidades especiais, seguisse o processo educacional. Percebeu que havia outras mães com a mesma necessida-
de e, por sugestão de um médico, resolveu fundar uma APAE na cidade. “Partiu da necessidade da gente. Meu filho não se
encaixava em nenhuma escola, era grande, batia nas pessoas e estava entrando em depressão.”
Em contato com a prefeitura, ela conseguiu um espaço e começou o trabalho com a entidade, que nasceu em 2000
e conta com mais de 170 alunos em Educação Infantil, Ensino Fundamental, Currículo Adaptado, Educação de Jovens e
Adultos, Oficinas Ocupacionais e Profissionalizantes. Há também um centro de convivência para pessoas mais velhas.
“O esporte aqui na nossa escola é um alicerce para o de-
senvolvimento pedagógico dos educandos. Eles participam
do Joebs (Jogos Especiais da Baixada Santista) e no último
campeonato de basquete ganharam em primeiro lugar.”
J
osiene dos Santos, professora de educação física
“Não é mole nossa equipe, não. Gosto muito de basquete e
com a modalidade aprendi a ter responsabilidade. Antes de vir
para a APAE e começar o basquete, acho que eu era muito
rebelde. Depois aprendi que tem regras. Eu não tinha regras.
N
o basquete você tem regras, sabe que não pode bater em
qualquer um por qualquer motivo, não pode fazer falta nem
xingar. Foi no basquete que encontrei isso.”
E
slânio Martins Barbosa, aluno e capitão da equipe de basquete
APAE Cuba tão
Local: Rua Marechal Deodoro, nº 245
Vila Elisabete- Cubatão (SP)
Fundação: 2000
Contato: (13) 3361-5521
Site: www.apaecubatao.com.br
Programa exibido em: 28/06/09

Lição deVida196
Esperança plantada em fé e em ações. Foi isso que a Irmã Dolores fez: colocou bastante esperança no
coração de cada uma das pessoas com quem conviveu, nas comunidades que ajudou a construir. Com a fé,
Dolores plantava esperança e com as ações ajudava a transformar realidades.
Irmã Dolores veio da Espanha para fazer história no Brasil, ajudando a transformar a realidade de várias
comunidades carentes. Ela viveu no meio dos pobres, instalou-se em comunidades necessitadas onde não havia
nem o essencial para sobrevivência: água e luz. A força dessa mulher se revela nos testemunhos emocionados
de quem a conheceu e entrou com ela no sonho de fazer uma sociedade melhor.
A professora Maria Helena de Almeida Lambert, presidente
da VIP, que acompanhou Dolores por muitos anos, conta que ela
começou seu trabalho em comunidades no Jóquei Clube, bairro de
São Vicente, depois foi para o Guarujá, onde hoje é a Vila Zilda. “Não
era nada do que é hoje – eu sei porque a gente trabalhou junto lá.
Era um amontoado de casebres, não tinha água, luz, nada. Quando
viemos pra cá também, era chamado de Quarentenário e não tinha
nada. Ela realmente participou da construção desse bairro, da popu-
lação, dedicando toda sua vida”, afirma Maria Helena. “Eu digo que
ela era o evangelho vivo. E ela angariou um amor muito grande de
toda a população. A gente sentiu isso muito forte no seu falecimento,
só quem esteve aqui pôde ver o mundaréu de gente, a consternação,
o choro”, fala a presidente da entidade, mal controlando a emoção.
Dolores morava com os pobres, vivia entre eles na comunidade,
procurando a dignidade das pessoas humanas dentro da pobreza.
A VIP é um pedaço desse legado que a irmã deixou no Brasil, junto
com muitas saudades de todos que com ela conviveram.
Vila Ponte Nova Instituição Promocional (VIP)
A mulher que plantou esperança
“Acredito que, em última análise, a função do líder é espalhar esperança.”
Bob Galvin, executivo norte-americano

197Paulo Alexandre Barbosa
Na área continental de São Vicente, região carente em que está instalada a Vila Ponte Nova Instituição Promocional
– VIP, a irmã Dolores fez outros trabalhos. Além da organização do bairro Vila Ponte Nova, ela ajudou a construir a Cape-
la Nossa Senhora da Esperança, posto de saúde, centro comunitário, escola, um centro de parto normal, além de outras
iniciativas.
A VIP é uma escola profissionalizante com cursos de informática, manutenção de microcomputadores, costura indus-
trial, panificação e confeitaria, cabeleireiros, elétrica, entre outros. A entidade atende cerca de 800 jovens e adultos, por
ano, nas oficinas.
“O trabalho que a irmã desenvolveu aqui transformou completamente a realidade:
não tinha água, luz, era uma área de ocupação. As pessoas vinham para cá e no
início colocavam quatro paus e uma lona em cima para poder se abrigar. Desde essa
época, a irmã começou a vir para cá com objetivo de acompanhar essa população e
organizar para que fosse buscar seus direitos básicos, desde água, luz e depois
evoluindo para posto de saúde, escola de primeira a quarta série no início, evoluindo
para escola profissionalizante, preocupada com mercado de trabalho e o desempre -
go que estava crescente.”
C
leusa Maria Coelho, professora e membro da diretoria
“Trabalhar com a irmã Dolores pra mim
foi mais do que gratificante, porque cada
vez que ela falava coisas pra gente era um
aprendizado. O mais bonito é que ela gosta
-
va muito dos pobres e quis transmitir isso
pra gente. Muitas vezes ela falava que a
fé sem ação é morta. Então, alem de ter fé,
que nos transmitia em Deus, a gente tem que
lutar pelos pobres e o mais bonito da irmã
era isso. Seu maior ensinamento foi do amor
ao próximo . Foi uma pessoa que veio para
dar vida pra todo mundo e ela falava de uma
passagem bíblica – ‘eu vim para que todos
tenham vida, e vida em plenitude’. Saiu da Es-
panha, veio para o Brasil justamente para
isso, para que todos nós tivéssemos vida.”
C
laudiana Souza de Andrade, membro da comunidade
“Eu era uma pacata dona de casa, com marido alcoólatra e dificuldade
financeira. Através de uma aluna, eu conheci a entidade e me matriculei
no curso de panificação. E completei o curso, e depois fiz o de confeita
-
ria. Um dia a irmã falou pra mim que eu seria a próxima professora a dar
aula. Eu assumi a minha turma e estou até hoje dando aula. Dá prazer
ver as alunas chegarem aqui e dizer: montei minha padaria, outros, tra-
balhando no shopping, enfim, os alunos empregados.”
F
rancisca Elenira Araújo do Nascimento, professora de curso de panificação e confeitaria
Vila Ponte Nova Instituição Promocional – VIP
Local: Rua Nova Rio de Janeiro, nº 319- Jardim Irmã
Dolores- São Vicente (SP)
Fundação: 1997
Contato: (13) 3566-0240
Programa exibido em: 05/07/09

Lição deVida198
Um dia, uma mãe sonhou um mundo em que seu filho não precisasse ser excluído por ser especial. Ela
logo percebeu que teria que fazer algo para realizar esse sonho. Essa mãe é Celia Pfeifer e o Instituto Evo-
lução é seu sonho concretizado, assim como o de muitas outras mães que esperam poder acreditar em um
futuro para seus filhos especiais, quando elas não puderem mais cuidar deles.
“Esse sonho nasceu no meu coração quando o Augusto tinha uns 10, 12 anos e eu estava preocupada
como seria a vida dele depois que ele fizesse 18 anos, quando terminasse o ciclo do ensino fundamental”,
revela Celia, percebendo que a partir dessa idade não haveria mais espaços para capacitar seu filho para o
mercado de trabalho. Ela só queria oferecer ao filho o que toda mãe quer: cidadania. “Eu queria a expressão
viva do deficiente realmente inserido, incluído. Por isso minha escola é Escola de Educação Inclusiva.”
Celia conseguiu criar um espaço onde os adolescentes e adultos com necessidades especiais são prepa-
rados para entrar no mercado de trabalho, recebem capacitação, ganham autonomia e podem dizer, como diz
Daniel Torrente de Almeida, aluno: “Eu sou instrutor de capoeira, mestre e dou aula para meus alunos”. Com
uma mente privilegiada para matemática, Daniel, que tem síndrome de Asperger, consegue dizer o dia da
semana só sabendo a data de nascimento da pessoa. Esse é seu dom, mas sua alegria é a vivência, de que
fala com orgulho. “Meus alunos entram na roda para jogar capoeira comigo.”
Instituto Evolução
Sonho realizado
“Cada criança que se ensina
é um homem que se conquista.”
Victor Hugo, escritor, poeta e
dramaturgo francês

199Paulo Alexandre Barbosa
Com o objetivo de preparar jovens para o mercado de trabalho foi criado o Instituto Evolução, que atende cerca de
80 adolescentes e adultos a partir dos 14 anos, de ambos os sexos. “Existem escolas de educação especial, mas quando
eles atingem a faixa de 14, 15 anos muitos estão em defasagem com o ensino regular e não conseguem avançar. Nosso
trabalho é dar continuidade ao pedagógico de maneira diferenciada, e o principal é que eles aprendem uma função, se
profissionalizam e com 19, 20 anos vão poder entrar no mercado de trabalho”, explica Celia Pfeifer, fundadora e presiden-
te da entidade que oferece oficinas, aulas e cursos.
O principal diferencial do Instituto é a preparação e inserção no mercado de trabalho, uma necessidade das empresas
por causa da lei de cotas. Na instituição, eles aprendem o básico para atuar dentro da empresa, em diversas áreas, como
almoxarifado, arquivo, fotocópias, noções de informática e separação de documentos. “É fácil capacitar profissionais para
essas atividades porque muitos dos meus meninos têm noção de informática e são organizados. Tudo que é organiza-
cional é muito fácil para eles. O trabalho rotineiro é fácil para quem tem síndrome de Asperger, síndrome de Down ou
autismo. Eles fazem tudo com muita perfeição”, conta Celia, com orgulho.
“Quando eu entro em uma empresa a impressão que tenho
é que estou pedindo um favor. Mas quando começo a con-
versar sobre envolver deficientes na empresa, parece que
eles passam a dar mais atenção. Mas ainda sinto resis-
tência das empresas em contratá-los.”
C
elia Pfeifer, fundadora e presidente
“Nós trabalhamos a parte motora, social, coordena
-
ção; temos prática de natação, jogos, basquete, voleibol,
futebol, entre outras atividades. Trabalhamos também
detalhes de sociabilidade, ensinando a se sentar, movi-
mento de levantar, como se abaixar para pegar uma caixa.
I
sso é importante porque muitos não sabem . O trabalho do
professor de educação física é deixar que eles se desen
-
volvam . Tudo isso ajuda na hora de entrar no mercado de
trabalho.”
C
arlos Augusto Filho, professor de educação física
Instituto Evolução
Local: Rua Conselheiro Lafaiete, nº 91- Embaré- Santos (SP)
Fundação: 2004
Contato: (13) 3273-4717
Site: www.institutoevolucao.org.br
Programa exibido em: 12/07/09

Lição deVida200
A formação dos jovens, a preocupação para que eles não fiquem nas ruas, que tenham um futuro melhor.
Todas essas esperanças estão depositadas nessa obra quase centenária que visa a transformar a realidade
pela educação. Ao longo de sua história, o Instituto gerou e continua rendendo bons frutos, transformando a
vida de jovens, dando-lhes oportunidade de construir uma nova trajetória.
Paulo Cesar da Silva tem em sua vida a grande prova dessa transformação. Ele conta que passou metade
da vida no Dom Bosco, a esposa foi aluna da entidade e hoje ele dá aulas no Instituto. “Minha experiência de
vida aqui é muito gratificante, porque um dia eu estava aprendendo e hoje estou ensinando. É uma satisfação
imensa”, revela. “T udo que eu tenho, tudo que eu batalhei, foi graças à oportunidade que eu tive aqui. Lá fora
não é fácil, mas se esses jovens buscarem e aproveitarem essa oportunidade, vão conseguir também.”
Esse é o resultado do modo salesiano de ensinar, envolvendo a criança, o adolescente e a família para,
através da educação, tornar-se um ser humano digno. E quem aprende não esquece e, muitas vezes, passa
para frente o que aprendeu, como a Fabiana Rocha do Prado, ex-aluna e professora do Programa Vida Melhor.
“Aqui no Instituto a gente sempre procura trabalhar utilizando o tripé de Dom Bosco, que é razão, amor e
bondade. Isso a gente tenta passar, a todo momento, para as crianças.”
Instituto Dom Bosco
Formando a juventude
“Fiz tudo quanto soube e pude pelos jovens,
que são o amor de toda minha vida.”
Dom Bosco

201Paulo Alexandre Barbosa
Criado em 1919, o Instituto Dom Bosco foi a primeira obra social do estado de São Paulo. “Nós tínhamos o Liceu, que
trabalhava havia um tempo com os internos, e começamos a receber filhos de pessoas que os colocavam num internato
e precisavam de uma obra social para cuidar da pobreza que aumentava em torno do Bom Retiro”, conta padre Marcos
Roberto Sabino, presidente da entidade. “Abriu-se essa obra social para essa população mais pobre do estado de São Paulo,
principalmente para o pessoal da região central.”
O Instituto tem diversas atividades voltadas aos jovens, como o Programa Vida Melhor, o qual recebe estudantes de 7
a 14 anos, que ficam na instituição no contraturno escolar. Na entidade, além do reforço das matérias escolares, eles têm
atividades como capoeira, música, educação física, computação e arte em madeira. Há ainda um projeto profissionalizante
com cursos de webdesigner, mecânica, desenho mecânico, elétrica/eletrônica, computação, telemarketing e serviços de
escritório. Para os adultos, há cursos noturnos de computação básica, avançada e telemarketing.
Além da sede, situada no Centro de São Paulo, há quatro unidades na cidade, com casa abrigo para crianças e jovens,
de 0 a 18 anos, um abrigo para crianças de rua, um centro de convivência com oficinas para a comunidade e um centro
com atividades profissionalizantes. São atendidas, no total, cerca de 1.500 pessoas por dia.
“Apesar das dificuldades, Deus nunca nos desamparou . Nós esta-
mos fazendo o serviço dele e Ele nunca nos desamparou . Quando
tem alguma dificuldade, a gente vai rezar e Deus sempre manda a
resposta e são respostas, às vezes, imediatas. Temos um traba-
lho voluntário grande, que começou com os próprios alunos. Hoje
nós temos uns 200 voluntários alunos. A obra está aberta para
receber o que a pessoa sabe e pode fazer. Acho que voluntariado é
isso: fazer aquilo que sei e dar a minha contribuição à obra.”
P
adre Marcos Roberto Sabino, presidente
“A gente agradece por poder colaborar com a formação desses
jovens. Dom Bosco criou tudo isso pra gente cuidar com amor e
carinho e é isso que nós fazemos .”
W
aldir Sabóia, coordenador do Programa Vida Melhor
“Nosso objetivo é qualificar esses jovens com eficácia. O empre
-
sariado desconhece as vantagens de levar esse jovem para o
mercado de trabalho. Primeiro, ele perde a oportunidade de ter
um jovem qualificado e segundo, ele desconhece as próprias leis,
tanto do jovem aprendiz, como a do estagiário.
N
ós acreditamos que a principal forma de inclusão dos jovens
na sociedade é através do emprego. É através do emprego que
ele consegue fazer seu projeto de vida, que ele vai conseguir
sonhar e buscar colocar esses sonhos em prática.”
S
andro dos Reis Martins, coordenador dos cursos profissionalizantes
Instituto Dom Bosco
Local: Praça Coronel Fernando Prestes, nº 233- Bom Retiro- São
Paulo (SP)
Fundação: 1919
Contato: (11) 3329-7999
Site: www.idb.org.br
Programa exibido em: 16/08/09

Lição deVida202
Em todos os ambientes, há sorrisos sinceros de crianças. Elas pulam, brincam, cantam – são crianças.
Esse é o espaço em que elas podem ser crianças de fato e ficar longe das dificuldades que envolvem a ca-
rência da região, como as casas de palafitas, que se encontram em condições precárias, sem infraestrutura.
Além da falta de estrutura física, muitas enfrentam a ausência da base emocional pela situação em que
vivem. “Há muitas mães despreparadas, precoces, com 13, 14 anos, que tentamos ajudar. Elas não têm qua-
lidade de vida normal. Tem seus problemas particulares e nós tentamos trazer essa criança aqui para salvá-la
e dar educação para essa família”, afirma Airton Rabelo de Souza, presidente da Creche Comunitária Cantinho
da Criança.
Vendo os rostos felizes é possível perceber que o objetivo tem sido alcançado. As crianças encontram nos
funcionários o carinho que precisam para crescerem fortes, a estrutura necessária para um desenvolvimento
e a base emocional para sonhar com um futuro melhor, como o que Maria Souza dos Santos conquistou. Com
cinco anos, ela se mudou para o bairro com a família de sete irmãos. “Éramos muito pobres mesmo”, recorda.
Tendo vivenciado as necessidades e carências do local, Maria conta que sentiu na pele toda dificuldade que
as pessoas da região têm em relação a várias coisas.
Maria cresceu, teve grandes conquistas, foi morar em outra região, mas volta ao bairro para partilhar. Ela
é diretora pedagógica da unidade e usa sua experiência, o entendimento das necessidades que as crianças
passam, para ajudá-las a ter um futuro melhor, como o que ela encontrou.
Creche Comunitária Cantinho da Criança
Proteção e aconchego para as crianças
“A maior riqueza é a saúde.”
Ralph Waldo Emerson, filósofo e
poeta norte-americano

203Paulo Alexandre Barbosa
Sentindo a necessidade de ter um lugar no qual pudesse deixar as crianças com tranquilidade, um grupo de mães da
Vila Gilda, bairro carente de Santos, resolveu fundar a creche Cantinho da Criança. A entidade atende em período integral
346 crianças de 1 a 6 anos que vivem nas favelas do Dique da Vila Gilda.
A entidade realiza diversas atividades para promover educação e diversão para as crianças, como teatro, danças, co-
ral, recreação, capoeira, entre outros. É um local onde as mães podem deixar os filhos para trabalhar sabendo que estarão
bem cuidados, interagindo com outras crianças.
Além das salas de aula, onde as crianças estudam, há um espaço para recreação com escorregador e casa de bone-
cas. A creche tem preocupação também em ajudar a comunidade, por isso promove cursos para as mães, ginástica para
terceira idade, oficina de biscuit e realiza trabalho interdisciplinar abordando questões de alimentação, violência, saúde e
higiene. A equipe que atua no local conta com 52 funcionários e 20 voluntários.
“Nosso maior desafio é manter a qualidade de vida para essas
crianças, porque esse começo de vida é muito importante. Temos
assistente social e psicóloga que fazem um trabalho para dar
apoio às famílias. Com as atividades que realizamos envol-
vemos em média 800 famílias na creche. Sou presidente aqui
há nove anos e, se Deus quiser e me der saúde, vou continuar
muito tempo aqui ajudando os pequenos.”
A
irton Rabelo de Souza, presidente
“As crianças chegam com problemas de relacionamento em
casa. Nós tentamos trazer mais próximas as famílias, com
oficinas, reuniões e atendimentos . A participação da família
é tudo. A cada evento que acontece na creche em que as
mães participam vemos o resgate da proximidade da família e
das crianças.”
S
andra Maria Politi, psicóloga
“Atendemos famílias que moram em uma região complica
-
da, em palafitas, com condições de vida precária. Nosso
trabalho é melhorar e transformar a vida dos moradores
do Dique.”
C
laudia Maria Ayres Parra, assistente social
Creche Comunitária Cantinho da Criança
Local: Rua Contra Almirante Esculápio César de Paiva, nº 408
Jardim Rádio Clube- Santos (SP)
Fundação: 1987
Contato: (13) 3299-5269
Programa exibido em: 23/08/09

Lição deVida204
O sorriso de Gema Dias Martins não deixa dúvidas da sua alegria em estar na casa. Depois que a irmã de
87 anos - de quem ela cuidava - faleceu, tendo perdido maridos e filhos, Gema sentia-se sozinha. Resolveu,
então, procurar um lugar para morar com outros idosos. Em contato com uma senhora da Pastoral, Gema
descobriu a casa e logo se mudou.
“Meu filho tinha morrido havia seis meses. Eu perdi três filhos e uma filha. Tenho cunhados, parentes,
sobrinhos, mas não é como da gente”, afirma, garantindo que está ótima morando na entidade. Animada,
Gema conversa com as outras “avós” da casa, ajuda, faz rifa, comemora diariamente a alegria de estar viva.
“Não era para eu estar aqui; já era para ter morrido. Em 1969 eu tirei os dois seios e fiz sete operações em
um ano”, relata.
A risada demonstra que ela não está só viva, mas que é feliz. Gema diz que parte da alegria vem da
convivência na casa. “Aqui todos são muito agradáveis, a começar pelo padre.”
Companheiro das “avós”, padre Claudio da Conceição, pároco da Igreja Santa Rosa de Lima, sente a ale-
gria em proporcionar felicidade às idosas não só na missa semanal, levando a palavra de Deus, mas também
participa de suas vidas, dando carinho e atenção. “O ser humano necessita de carinho. E os idosos são como
crianças e precisam de mais carinho ainda. Acho que todas as senhoras que estão aqui, mesmo com famílias
não tão presentes, não se sentem abandonadas.”
Assistência Vicentina da Ilha de Santo Amaro – AVISA
Promovendo alegria aos idosos
“A alegria de fazer o bem é
a única felicidade verdadeira.”
Léon Tolstói, escritor e pacifista

205Paulo Alexandre Barbosa
Mantida pela Sociedade São Vicente de Paulo, a Assistência Vicentina da Ilha de Santo Amaro (AVISA) abriga 35
idosas de 60 a 100 anos. Elas fazem pintura, artesanato, fisioterapia. “Queremos que elas tenham uma vida melhor”,
diz a diretora da entidade, Rosa López Patusco. “Nunca substituiremos a família, mas fazemos tudo para que elas
façam dessa casa o seu lar.”
Rosa conta que muitas idosas estão abandonadas, sem medicamento quando chegam ao local e o cuidado prin-
cipal é levantar a autoestima dessas mulheres. Para garantir um bom atendimento, as profissionais que atuam no lar
são preparadas e dedicam carinho especial a cada senhora.
“Eu vivo pelas famílias carentes que atendemos e pela nossa casa. Aqui é meu segundo lar, parte da minha famí-
lia. Eu sou órfã e vejo as nossas “avós” como se fossem minhas mães. Eu as trato como trataria minha mãe e como
gostaria de ser tratada quando tiver mais idade”, conclui a diretora.
“O ser humano precisa de muito carinho e atenção. É próprio dele
sentir-se amado. A criança se sente amada por seus pais e os
idosos têm a mesma necessidade. Eles dedicaram toda sua vida, têm
anos de sabedoria e os mais jovens devem se espelhar. Com essa sa-
bedoria, a gente corrige os erros da vida. O idoso não tem que ser
descartado - ele é idoso hoje, mas construiu uma história.”
P
adre Claudio da Conceição, pároco da Igreja Santa Rosa de Lima
“Estou aqui há 25 anos e não saberia mais viver
sem isso. Sempre falo: ‘vou trabalhar mais um
pouco’. Passa mais um ano, entra outra direto
-
ria e a gente se apega. Eu moro mais aqui do que
na minha casa: fico 12 horas e vou para casa só
para dormir . Chego de manhã e saio à noite. Não
consigo ficar sem vir. Nem nas férias. Já faz parte
da minha vida.”
Z
elina Nassuato, coordenadora das atividades
Assistência Vicentina da Ilha de Santo
Amaro da Sociedade São Vicente de Paulo
Local: Rua Azuil Loureiro, nº 1435
Jardim Santa Rosa- Guarujá (SP)
Fundação: 1966
Contato: (13) 3358-2893
Site: www.avisaguaruja.org.br
Programa exibido em: 30/08/09

Lição deVida206
Independente das questões materiais do mundo capitalista, competitivo, que afasta a gente das coisas boas,
das coisas que realmente têm valor na nossa vida, é importante ser caridoso. Independente das nossas posses
materiais, todo mundo tem algo para dar, basta deixar vir do coração.
Foi a voz do coração que a professora Sonia Cristina de Jesus e seu marido ouviram naquela noite de Natal tão
especial em que Sonia, grávida de gêmeas, levou para casa dois meninos que tinham ficado no abrigo sem ter onde
passar a festa. “Eles eram abrigados e não tinha quem os levasse para casa no final do ano. Eu acabei levando para
a minha casa, para passar as festas do final do ano”, recorda.
Os dois meninos eram Paulo, então com 12 anos, e Cristiano, com 11 anos. Terminadas as festas, a família
se sentia completa e não queria se separar. “Eles não queriam retornar para o abrigo e nem eu, nem meu esposo
queríamos trazê-los de volta”. Os meninos tiveram que voltar, o casal esperou mais um pouco, mas Sonia logo falou
com a diretora da sua intenção de adotá-los. Resolvida a burocracia, a família pôde finalmente ficar unida. “Foi
muito fácil porque eu convivia com eles aqui na entidade. Quando eu vim trabalhar no Anália Franco, eu não tinha
nada a ver com a área de educação – eu trabalhava com direito. Mas quando eu vim foi mágico. Eu e os meninos
começamos a nos dar, a relação ficou boa, foi tudo muito natural. O meu sentimento de mãe se deu primeiro com
eles, depois com minhas filhas. Eu me tornei mãe conhecendo o Paulo e o Cristiano.”
Um ano depois, a família cresceu um pouco mais, com o nascimento de outro filho, Jeferson, hoje com 13 anos.
A vida seguiu e a família continuou unida. Paulo e Cristiano casaram, constituíram família e deram continuidade à
felicidade da mãe Sonia, que se sente cada vez mais plena. “O Paulo me deu três netos: Igor, Letícia e Larissa”. So-
nia continua trabalhando no Educandário, para onde agora leva os três netos, para estudar. Quando fala dos desafios
de criar cinco filhos, Sonia afirma que o amor e o carinho foram sempre muito maior que qualquer dificuldade.
Com os dois filhos criados, os outros encaminhados, Sonia continua a sonhar. “Quero ver meus netos formados
no Anália, de onde meus filhos viveram. Tenho fé em Deus que eles vão se formar aqui. E agora que sou avó, quero
ser bisavó.”
Educandário Anália Franco
Abrigando com o coração
“Aquele que tem caridade no coração
tem sempre qualquer coisa para dar.”
Santo Agostinho

207Paulo Alexandre Barbosa
Na década de 20, a cidade de Santos necessitava de locais para crianças órfãs. O presidente da entidade, Marcos An-
tonio Esmerini, comenta que havia apenas uma ou duas entidades desse tipo. Foi quando um grupo de moradores resolveu
fundar o abrigo, que recebeu o nome de Anália Franco, em homenagem à mulher que tinha fundado quase 80 abrigos no
Brasil.
Há quase 90 anos, o Educandário Anália Franco atende crianças e jovens da região. A entidade, criada como abrigo,
chegou a ter 500 crianças morando no local. “Com a mudança do Estatuto da Criança, não se pode mais ter esse número
tão grande no local. Tanto que nosso abrigo tem apenas quase 20 crianças. Já na escola nós investimos e estamos tirando
crianças da rua e dando futuro melhor a elas”, revela Marcos.
São atendidas ao todo cerca de 500 crianças, entre berçário, creche, escola, centro de convivência e abrigo. No centro
de convivência as crianças têm até 12 anos e no abrigo há todas as faixas etárias, de seis meses a 18 anos. Há diversos
projetos para desenvolvimento das crianças e jovens, com dança, percussão, ballet, oficina de arte e apoio pedagógico.
“Foram muitas histórias marcantes nesses 11 anos que estou
aqui. Uma das que ficou um pouco mais gravada foi a de um ex-
interno nosso que hoje é mecânico na Fórmula 1. Eu já presenciei
visita de coronéis do Exército, da Polícia Militar, pessoas que
já moraram aqui e hoje têm uma lembrança agradável. Esse é o
resultado e é isso que nos gratifica.”
A
rgemiro de Cillo Leite, administrador
“Além de promover recreação, a música ajuda na coordenação
motora e a preparar alunos que no futuro queiram trabalhar com
música. A criança, às vezes, está muito agitada, está com proble
-
mas e no instrumento ela se entrega e isso faz um bem tremendo
porque a criança relaxa, se entrega e adora.”
J
orge Jeremias de Campos (Simonal), músico e professor de percussão
“A gente tenta fazer todo esse trabalho com as nos
-
sas crianças com bastante amor, que é o essencial. Esse
trabalho é importante porque as mães precisam trabalhar
fora e ter um lugar que é seguro para os filhos. Aqui a
gente consegue passar para as crianças noções de respon-
sabilidade, limite, convívio social. Então a gente vê depois
que eles saem, voltam alguns meninos que já estão traba-
lhando, vêm conversar com a gente, vêm mostrar o filhinho
que nasceu. A gente vê menino entrando na faculdade, que
está bem empregado. É muito gratificante.”
M
aria Helena Guimarães, diretora da creche e do abrigo
Educandário Anália Franco
Local: Avenida Ana Costa, nº 277
Gonzaga- Santos (SP)
Fundação: 1922
Contato: (13) 3229-8500
Site: www.analiafranco.org.br
Programa exibido em: 06/09/09

Lição deVida208
Ao som da música “Fascinação”, que José Armando da Silva toca no piano, percebemos que não há
limites para o ser humano quando ele é estimulado e tem oportunidade. Não bastasse tocar piano bem,
José, com necessidades especiais, é artesão. Assim como as pessoas que criaram a ‘A Alternativa’ trans-
formam a realidade, José transforma sua habilidade em arte.
Na área de produção, faz mesinhas, mosaico, pirogravura e tantas outras peças artesanais. Sua
paixão é o piano, que aprendeu a tocar em 25 anos de aulas com dona Áurea, que ensinava na entidade.
Antes de começar a tocar a música, ele faz sua dedicatória: “Quero dedicar para uma pessoa que me
estendeu a mão quando eu mais precisei: Dona Ana (Ana Maria Rossetto).”
Enquanto José dedica-se à arte musical, Ana Maria dos Santos comemora ver seu filho conquistando,
com ajuda da entidade, a arte de viver. O menino, antes fechado, que vivia trancado e não se expunha,
tornou-se uma pessoa sociável e comunicativa. “Existe um histórico do Rafael antes da Alternativa e ago-
ra. Ele consegue conviver com outras pessoas, fazer visitas sociais, passeios, tudo que ele não conseguia”,
avalia. Apesar de muito feliz, para ela, o melhor é ver o filho feliz. “Eu e minha família estamos muito
contentes. Mas não adianta estarmos assim – ele tem que ser feliz.”
A Alterna tiva
Oportunidade especial
“Todas as artes contribuem para a
maior de todas as artes: a arte de viver.”
Bertold Brecht, dramaturgo alemão

209Paulo Alexandre Barbosa
A entidade nasceu da iniciativa de pais que viram seus filhos com necessidades especiais preparados para o mercado
de trabalho, porém sem uma oportunidade para desenvolver seu potencial. Eles procuravam mesmo uma alternativa para
seus jovens especiais, e assim nasceu a organização. “O grupo de pais e a equipe do Centro Ocupacional Avanhanda-
va - que era um centro de habilitação para crianças e jovens com deficiência intelectual - resolveu criar uma oficina que
começou como um departamento daquela instituição.
Dois anos depois, foi criada a associação A Alternativa”, relembra Ana Maria Rossetto, uma da fundadoras, diretora da
oficina de trabalho e psicopedagoga. “A meta inicial e atual é o desenvolvimento integral dessas pessoas e a qualificação
para o mercado de trabalho como componente desse desenvolvimento”. Os jovens e adultos fazem manufatura de peças
artesanais para serem comercializadas.
Ana Maria acredita que nos 25 anos de existência da entidade houve muitas mudanças positivas na forma como a
comunidade enxerga o trabalho de pessoas especiais. Uma demonstração prática dessa mudança é a oportunidade de
vender os trabalhos produzidos na oficina duas vezes por ano. A experiência, que completa dez anos, aproxima os artesãos
do público e demonstra como as pessoas valorizam os produtos feitos na entidade. “É uma forma dessas pessoas se senti-
rem produtivas, como elas realmente são.”
“A gente tem satisfação de ensinar. Faz muitos anos
que estou aqui, acho que uns 29 anos. Cada dia vou
renovando e aprendendo com eles, aprendendo com
cada um que chega. Eles são a recompensa que a gente
sente – fiz e estou vendo o resultado. Esses rapazes
chegam aqui como aprendizes e vamos ensinando até
trabalharem fora, como o Joaquim , que trabalha em
uma marcenaria há uns 9 anos e o Valdo.”
F
rancisco Sandoval de Souza, instrutor da oficina de marcenaria
“Eu passei um longo tempo com o pessoal aqui e só tenho a
agradecer ao senhor Francisco e o pessoal da Alternativa
por me dar mais uma chance de aprender mais coisa com eles.
E
les me acolheram e hoje estou trabalhando no supermerca
-
do. Estou muito feliz com a força que eles me deram , e agora
eu posso trabalhar e ajudar em casa.”
V
aldenício Inácio de Silva (Valdo), ex-artesão e empacotador
A Alterna tiva
Local: Rua Joaquim Nabuco, nº 513- Brooklin- São Paulo (SP)
Fundação: 1984
Contato: (11) 5542-6072
Site: www.alternativa.org.br
Programa exibido em: 13/09/09

Lição deVida210
Vivenciar a arte é despertar para um mundo mágico. Dança, música, teatro, circo, grafite, a arte em todas as suas manifesta-
ções, arte como linguagem universal, rompendo barreiras, dando esperanças de futuro, permitindo sonhar. Esse é o mundo mágico
que a turma da Cia. de Artes Tribus leva para as crianças.
Cotidianamente, eles comprovam que a arte opera verdadeiras transformações, despertando as crianças para sonhar, colo-
cando em seus olhos o brilho da alegria. A bailarina e professora de ballet da Cia, Liliane Santana dos Santos, foi testemunha des-
se poder mágico e transformador logo no começo do seu trabalho no grupo. Em uma das escolas em que foi realizar as oficinas,
ela conheceu Gabriela, uma menina cadeirante que iria fazer sua aula. Sem experiência, Liliane conta que nem dormiu na véspera,
pesquisando na internet opções, algo que pudesse diferenciar. “Como eu ia dar aula de ballet para uma menina de cadeira de
rodas? Eu nunca tinha feito isto.”
Quando estava chegando à sala para chamar a turma para a aula, Liliane escutou Gabriela falar com outra professora que
ela não iria porque as outras meninas iam fazer tudo e ela só ficaria olhando. Mesmo insegura, sem saber muito bem o que faria,
Liliane a tranquilizou: “Você vai fazer tudo. Eu estou aqui para ajudar e ensinar. Você não vai ser diferente de ninguém”. Na noite
anterior, Liliane tinha conversado sobre sua apreensão com a irmã, que lhe sugeriu tirar a menina da cadeira de rodas, para que
ela ficasse como as outras.
Foi o que Liliane fez: tirou Gabriela da cadeira, sentou a menina no chão com as outras. Gabriela deu toda a liberdade para
que Liliane a levasse pela mão para o mundo mágico da dança. Naquela aula a bailarina ensinou tudo que podia de movimento de
braço, falou da postura de uma bailarina e que todas elas precisam ter um colar.
Quando terminou a aula, Liliane acabou não tendo a possibilidade de conversar com Gabriela sobre sua primeira experiência
como bailarina, mas soube por intermédio da sua irmã, que, no refeitório, a aluna comentava tudo o que tinha aprendido na aula,
citando o “colar” da bailarina como referência.
Concluída a missão nesta escola, o grupo partiu para outras unidades escolares. “Eu estava em Peruíbe quando recebi uma
notícia da mãe dela dizendo que a Gabriela passaria por uma cirurgia, que poderia ser tranquila ou não, impossível de prever. E a
dela foi complicada. E ela veio a falecer”, recorda emocionada.
A mãe ainda revelou à professora de ballet a alegria que ela proporcionou à sua filha, repetindo as palavras da menina: “mãe,
essa foi a melhor semana da minha vida. Eu nunca tive tão feliz”. E, em seguida, a mãe revelou que após essa experiência havia
colocado a filha numa escola de ballet.
Gabriela marcou a vida de Liliane e o projeto, com certeza, marcou a vida de Gabriela, oferecendo uma realidade mais feliz,
permitindo à menina perceber que de alguma forma ela podia ser igual às amigas e, o mais importante, sempre poderia sonhar.
ONG Cia. de Artes Tribus
Um convite à imersão no mundo da arte
“Sonhar é acordar-se para dentro.”
Mário Quintana, poeta e escritor brasileiro

211Paulo Alexandre Barbosa
Levar as manifestações artísticas para as crianças é o objetivo da ONG Cia. de Artes Tribus, com o projeto sociocultural
“É hora de Arte”, com oficinas em cinco modalidades: teatro, grafite, ballet e break, street dance (dança de rua) e circo. Ao
longo de cinco anos, o projeto percorreu diversas escolas e atingiu milhares de crianças.
A ONG nasceu com um grupo de amigos que dançavam juntos e sentiram a necessidade de trabalhar algo mais real
com as crianças, não só fazendo apresentações, mas envolvendo-as. O projeto cresceu, fez sucesso e acabou ampliando
fronteiras, no Brasil e no mundo. “Nós fazíamos escolas aqui na região e depois a gente começou a sair. Visitamos bastante
o Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e com isso fomos ganhando reconhecimento do trabalho”, comenta o coreógrafo
da Cia. e coordenador do projeto, Gustavo Souza Rolim.
“Nós vemos o estímulo das crianças, o interesse pela cultura, pela arte, porque eles trouxeram para dentro
da escola uma maneira diferente de trabalhar essa cultura, essa arte. O grupo começa o trabalho contando
suas experiências, de como chegaram até aqui. É um grupo que viajou o mundo, então, eles mostram para os
alunos que existe uma possibilidade, que eles podem sonhar e alcançar os objetivos.”
L
uciana Nicolosi, diretora da escola Roberto Mario Santini, em Praia Grande (SP)
“A
lém de ensinar, nós procuramos despertar nas crianças a criatividade, a
interação, o trabalho em equipe, a sensibilidade pela arte, que muitas vezes está
guardada lá dentro, pela realidade em que vivem. No começo é difícil para eles se
exporem , e eu conto a minha história de vida, que é muito similar: eu sou filha de
faxineira, meu pai é pedreiro e eu fui superando minha história para chegar nos
dias de hoje. Não precisei usar drogas, não precisei me destruir e eles se identifi
-
cam e começam a se abrir dentro do mundo do teatro. Você começa de um jeito na
aula, e termina de outro, com todo mundo trabalhando em equipe.”
R
oberta Santana Freitas, bailarina e professora de teatro
ONG Cia. de Artes Tribus
Local: Rua Rubens Ferreira Martins, nº 704
Jardim Guilhermina- Praia Grande (SP)
Fundação: 2004
Contato: (13) 3473-4736
Site: www.ciatribus.com.br
Programa exibido em: 20/09/09

Lição deVida212
Rita Passos, secretária de Assistência e
Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo
no período de 09/06/2009 a 02/04/2010
Nascida em Indaiatuba, Rita mudou-se para Itu
depois de casar com um ituano. O pai era ministro de
Eucaristia, dava cursos de noivo, de batismo. A mãe era
catequista. Com essa vivência, desde nova ela sempre
esteve no meio da igreja, chegando a ser catequista na
juventude.
A política foi algo que veio depois em sua vida;
apesar de ter políticos na família, Rita não se imaginava
ligada ao setor. “Mas eu senti mesmo um chamado de
Deus até quando as pessoas começaram a falar que eu
tinha que ser candidata. Primeiro eu consultei a Deus em
uma oração e Ele falou comigo”. Rita entrou na política,
foi eleita deputada estadual, foi presidente do Fundo
Social de Solidariedade de Itu e sempre se dedicou à área
Nesse programa especial, o Lição de Vida, que retrata o terceiro setor de todo o Brasil, vai apresentar a mulher
que cuida do terceiro setor em São Paulo, responsável por espalhar solidariedade por esse estado que tem mais de
640 cidades.
Além da atuação política e social, ela é uma mulher dinâmica, educadora, corretora de imóveis, esposa e mãe.
Especial com a secretária de Assistência Social Rita Passos
Cuidando do terceiro setor
“O espírito se enriquece com aquilo que recebe. O coração, com o que dá.”
Victor Hugo, escritor, poeta e dramaturgo francês
social. Por essa trajetória, há três meses ela assumiu a
secretaria. “A política é para ajudar, para servir. É uma
oportunidade muito boa de mostrar nossas propostas,
nossos projetos, e realizar muitas coisas.”
Como presidente do Fundo de Itu, Rita implantou
diversos projetos, como o Centro de Capacitação Profis-
sional com 35 cursos gratuitos e o Centro de Convivência
de amparo aos idosos. “Esse projeto do idoso não é o da
terceira idade em que as pessoas vão a festas, bailes,
bingos. São idosos que precisam de acompanhamento –
não é o caso de ficar em uma clínica, mas também não é
aquela pessoa que sai sozinha de casa e vai até a esqui-
na. São pessoas que precisam de cuidados, de acompa-
nhamento”. Com o projeto, os idosos ficam durante o dia
no centro e à noite voltam para o convívio da família. “É
para evitar que eles sejam colocados no asilo. Apesar de
serem bem cuidados, alguns se sentem abandonados e
entram em depressão.”

213Paulo Alexandre Barbosa
Especial com a secretária de Assistência Social Rita Passos
Local: Estúdio da TV Canção Nova de São Paulo (SP)
Programa exibido em: 27/09/09
Com tantas atribuições, Rita faz malabarismo para arrumar
tempo para a família. “O pouco tempo que nós temos, procuramos
tê-lo com qualidade. Eu, meu marido e nossas duas filhas sempre
que podemos jantamos juntos. Quando a gente coloca Deus no
meio, sempre consegue dar um jeitinho, arrumar tempo para tudo,
vai administrando.”
Terceiro setor
“O terceiro setor, as entidades são fantásticas. Elas realizam
um trabalho maravilhoso. Ajudam muito o Poder Público e elas
fazem com amor, até porque a maioria das pessoas que trabalham
nas entidades sociais é voluntária. Elas realmente têm o dom e
isso é maravilhoso. A gente fica muito feliz com o compromisso
das entidades sociais que desenvolvem esse trabalho em todas as
cidades. Existe um repasse do Estado de São Paulo para entidades,
designado conforme o conselho municipal das cidades.”
Nota Fiscal Paulista
“O Estado apresentou um projeto na Assembleia Legislativa
que foi aprovado, que é da Nota Fiscal Paulista, em que o con-
tribuinte pode ter até 30% do ICMS de volta. Até então eram as
pessoas físicas ou jurídicas que tinham essa possibilidade. Agora
foi aberto para que as entidades sociais, que são cadastradas no
pró-social da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social,
possam também receber esse benefício. As pessoas podem ajudar
passando suas notas fiscais para as entidades, de três maneiras:
não colocar o número de CPF na nota e entregar depois para uma
entidade social cadastrada, não colocar o número de CPF na nota e
a própria pessoa cadastrar no site em benefício da entidade social
de sua preferência. E a terceira forma é o contribuinte pegar a nota
fiscal com o próprio CPF, inscrever no site em benefício próprio e
quando receber o benefício, transferir para a entidade.”
Voluntariado
“Quero parabenizar as pessoas que são voluntárias e dizer
como é importante o trabalho social, e as entidades sociais aju-
darem o Poder Público. É importante que as pessoas que queiram
iniciar um trabalho social, verifiquem na sua cidade o que está fal-
tando. Muitas vezes todas as entidades acabam trabalhando com
crianças e deixam de lado o trabalho com dependentes químicos
ou idosos. É a união – cada um ocupando seu espaço e atendendo
toda a comunidade.”

Lição deVida214
Um futuro sem medo é o que a creche ajuda Ana Célia Silva a vivenciar, tendo acolhido, no passado, sua
filha e recebendo, no presente, seu neto. Antiga moradora do Morro José Menino, região onde a entidade está
instalada, Ana Célia fica feliz em ver a segunda geração de descendentes amparada no local.
Como mãe e avó, ela se alegra ao constatar que as crianças recebem não só complemento educacional,
mas uma formação religiosa que lhes dá uma boa base social. Os resultados desse trabalho, Ana Célia perce-
be no sorriso das crianças que, como ela diz, mesmo quando chegam tristes, saem felizes da creche.
Esse é o fruto deixado pelo padre Lucio Floro para a comunidade, realizando o desejo que tinha em seu
coração de educar as crianças com os valores cristãos, para se transformarem em homens e mulheres ca-
pazes de fazer um mundo melhor. Essa semente foi transferida para o coração do padre Marco Antônio Rossi,
pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo, que assumiu a missão de ajudar a creche, trabalho que ele considera
uma grande graça, pois pode colaborar em um projeto de Deus com as crianças.
“Com esse trabalho fazemos com que Deus seja manifestado; porque Jesus, quando esteve no meio de
nós, tinha essa demonstração de amor e carinho pelas crianças. Ele sempre falava da importância de acolher
Deus como se acolhe uma criança. Por isso, todas as vezes que fazemos o gesto de acolher um pequenino, é
ao próprio Cristo que estamos acolhendo”, diz padre Marco, concluindo: “T odas às vezes que nós abraçamos
uma causa como essa, fazemos com que a obra social em favor das crianças seja levada adiante. Assim,
estamos abraçando ao próprio Deus.”
Creche Padre Lucio Floro
Preparando o amanhã
“As pessoas felizes lembram do passado com
gratidão, alegram-se pelo presente e encaram
o futuro sem medo.”
Epicuro, filósofo grego

215Paulo Alexandre Barbosa
O trabalho conduzido pela comunidade da paróquia São Paulo Apóstolo, na área carente do Morro do José
Menino, em Santos, cuida do presente para preparar o futuro das crianças atendidas pela entidade. No local, elas
recebem fundamentos da educação formal, além de aprenderem o valor cristão, sempre tendo sua religiosidade
respeitada. A creche Padre Lucio Floro é o local onde as mães podem deixar seus filhos com tranquilidade para irem
trabalhar, sabendo que serão bem cuidados.
A história da entidade reforça a importância de ajudar a comunidade. Esse registro nos vem pela lembrança da
presidente da entidade, Maria Teresa Barbosa da Silva, que começou a participar das obras da creche quando ela
funcionava de forma improvisada em um barracão, atendendo 45 crianças necessitadas. Convidada para assumir a
direção por dois anos, Maria Teresa foi ficando, cuidando dos pequenos por mais de doze anos, ampliando as ins-
talações e hoje abrigam 80 crianças em período integral. A motivação da dirigente é a mesma que incentivou padre
Lucio Floro, que incentiva padre Marco: a vontade de servir as famílias que precisam tanto desse apoio.
“Essas crianças são muito carinhosas e é uma troca de
energia muito boa. Nós sentimos grande alegria com a
alegria deles e é muito reconfortante saber que estamos
dando um pouquinho do nosso tempo para alguém .”
M
aria Estela Marques de Oliveira, vice-presidente e voluntária
“Nosso trabalho é gratificante porque nós trabalhamos não só
o pedagógico dessas crianças, mas procuramos destinar a elas
as orações, as virtudes.
D
epois que as crianças saem daqui, vão para a escola e nós te
-
mos relatos de professoras que dizem que nossas crianças têm
um diferencial, porque nós ensinamos que existem várias portas
e elas podem escolher as que serão melhores. Eu digo que sou
privilegiada, já que faço o que eu gosto, trabalho em um lugar
onde eu gosto. É muito gratificante.”
M
arília Pessoa Marchiori Guimarães, coordenadora pedagógica
Creche Padre Lucio Floro
Local: Rua Dr. Carlos Alberto Curado, nº 105
Morro do José Menino- Santos (SP)
Fundação: 1988
Contato: (13) 3225-3063
Programa exibido em: 04/10/09

Lição deVida216
Oferecer uma nova perspectiva a adolescentes por meio da musicalidade é a gota que faltava no oceano dos
jovens da comunidade carente da Cota 200, em Cubatão (SP). A música abre portas, apresenta novas oportunidades,
faz nascer sonhos.
Reginaldo Fernandes dos Santos, 15 anos, sonha ser baterista, graças à oportunidade que tem de estar em con-
tato com o universo musical. Em um ano e meio participando do projeto, aprendeu flauta transversal, violão, bateria
e vários instrumentos de percussão. Mas o rapaz garante que a coisa mais importante que aprendeu no Cubatão
Sinfonia foi conviver com outras pessoas. “Aqui é uma família. A gente deve ter um entrosamento legal e aprende a
conviver com o próximo, mesmo com dificuldades”, diz Reginaldo, que garante que com essa experiência fez mais
do que amigos – conquistou irmãos. “No projeto a gente muda o modo de pensar, consegue ter visão além do que
pensava ser, vê uma possibilidade de trabalho”. Para o rapaz, a música entrou em sua vida definitivamente. Entre
seus sonhos de futuro, a música tem destaque especial – Reginaldo quer ser baterista profissional.
Ter a música como profissão também é o sonho de Leila Cristina Mange Vilela, 17 anos, aluna do projeto. Sua
paixão há um ano e meio é o violino. “Sempre gostei de música, mas não tinha lugar para aprender. Abriram essa
oportunidade pra gente”. Entre as mudanças que a música provocou na vida da moça, está a vontade de cursar fa-
culdade, que aumentou bastante. “Agora quero ser violinista profissional”. Leila mostra que tem competência e garra
para alcançar esse sonho quando se posiciona com o violino, avisa que vai tocar a primeira música que aprendeu e
emociona tirando das cordas o belo som da Nona Sinfonia de Beethoven.
Projeto Cuba tão Sinfonia
Música abrindo caminhos
“Sei que o meu trabalho é uma gota no oceano, mas sem ele o oceano seria menor.”
Madre Teresa de Calcutá, religiosa macedônia, naturalizada indiana

217Paulo Alexandre Barbosa
Cubatão tem uma vocação artística forte em várias áreas, inclusive na música, com diversos grupos musicais. Per-
cebendo que os trabalhos voltados à população carente concentravam-se no centro da cidade, Eder Crispim, com outros
membros da Associação de Músicos da Banda Sinfônica, decidiu criar um projeto para uma população que não tivesse
esse benefício. “Fizemos o projeto, encaminhamos para Brasília, foi aprovado pela Lei Rouanet e fomos atrás de patro-
cínio”. Com o patrocínio em mãos, o grupo procurou um bairro que não contasse com atividades culturais, e escolheu a
Cota 200, núcleo com mais de sete mil moradores. “Implantamos aqui com o apoio da igreja, do padre Valdeci, que cedeu
a capela”, relembra Eder.
As aulas são dirigidas a adolescentes de 7 a 18 anos. Eles têm teoria, prática e os que vão se adiantando passam
a treinar com a orquestra. Começou com 80 alunos, foi aumentando e depois da parceria com uma escola estadual do
bairro passou a 150 alunos.
“Sou advogado, mas fui músico primeiro – me formei advogado tem
três anos. Por conta da música consegui bolsa na faculdade. A
música me abriu as portas e eu retribuo. Se eu consegui atra-
vés da música o que tenho hoje, nada mais justo do que retribuir
também através da música para o povo de Cubatão. É lindo ver dia
de ensaio geral da orquestra: vêm as mães, irmãos, a família toda
fica ouvindo, participando do ensaio. Fica um movimento bonito da
comunidade em volta da igreja.”
E
der Crispim, diretor artístico
“Essa comunidade tem que agradecer o trabalho dessas
pessoas. Esse projeto é muito importante e eu gostaria que
tivesse em todo país. Nós vemos os jovens entusiasmados com
o projeto e é bom porque eles ficam ocupados e quem sabe um
dia sai um músico importante daqui.”
E
varisto Vieira Neto, presidente da sociedade de melhoramentos da cota 200
“A
gente conheceu essa garotada do zero, sem tocar nada. É bonito vê-los tocando agora. Eles começam as aulas
e assim que vão ficando aptos, os professores encaminham para a orquestra e a gente vai trabalhando, lapidando e
eles vão tirando o melhor do instrumento . Com o decorrer do tempo eles vão produzindo muito mais, tirando melhor
som e vão aprendendo cada vez mais.”
A
ndré Farias, regente da orquestra
Projeto Cuba tão Sinfonia
Local: Avenida Principal- 1016- Cota 200- Cubatão (SP)
Fundação: 2008
Contato: (13) 3372-4859
Site: www.cubataosinfonia.org.br
Programa exibido em: 18/10/09

Lição deVida218
Maria da Paz de Carvalho é o exemplo vivo de que ajudar o outro nunca é demais e a prova de que a bon-
dade não tem fronteiras. A mulher, que veio da Paraíba, trouxe ao litoral de São Paulo toda sua capacidade de
fazer o bem, realizando há mais de 30 anos um amplo trabalho social.
O instinto de ajudar aflorou cedo, aos 12 anos, quando ajudava o pai a levar água e comida aos flagela-
dos do sertão da Paraíba, no lombo de um burro. E não parou mais.
Quando casou, foi morar em São Vicente e ajudava as pessoas carentes costurando enxovais para
hospitais. Os filhos foram crescendo e ela achou que fazer só enxoval era pouco. Um dia, em um hospital,
conheceu uma mãe com filho especial e decidiu trabalhar com eles. “Vi que as mães precisam de ajuda. Tem
dia que não é só alimento; elas precisam de uma palavra, um acompanhamento, alguém que converse e dê
carinho.”
E Maria da Paz espalha carinho nas comunidades extremamente carentes que visita. Vai de casa em casa
levando comida, ajuda, conforto e esperança. O trabalho cresceu, a entidade conquistou sua sede, mas ela
continua o trabalho de porta em porta em comunidades mais distantes.
Dedicada de coração, fala emocionada de cada grande conquista: “A Daiane não andava e não falava e
passou a falar. Foi uma grande realização. Teve também outro caso aqui na rua que a criança não falava nem
andava e hoje fala mais do que eu. É uma satisfação enorme e dá força para continuar trabalhando. O melhor
é o carinho que eles têm por mim. É uma satisfação saber que eu sou importante para eles.”
Associação Beneficente Maria da Paz
Bondade sem fronteiras
“Na caridade não há excessos.”
Francis Bacon, filósofo inglês

219Paulo Alexandre Barbosa
Maria da Paz fazia o trabalho de rua, quando em 2004, a associação conquistou a sede, podendo ampliar seu atendi-
mento. A entidade distribui alimentos, remédios e oferece auxílio jurídico e médico à população carente.
Na sede, as mães que levam os filhos para serem atendidos também participam, fazendo trabalhos. O material produ-
zido é vendido, revertendo o valor para as mães.
O depoimento e experiência das mães são a melhor demonstração da história e atuação da entidade.
“Conheço a Maria há 10 anos. Para mim foi
sempre de grande valia porque ela me ajudou
muito com Evanderson e as dificuldades que
ele tem. Eu conheci a entidade quando estava
no ponto de ônibus com ele no colo para le-
var ao tratamento . Parou um carro perto de
mim, o rapaz perguntou para onde eu ia e quis
saber se eu não tinha condução. Oferecendo
uma carona, ele me falou do trabalho da Ma-
ria da Paz e me deu um cartão. Liguei quando
cheguei em casa e no outro dia ela veio me
conhecer, conhecer o Evanderson e esta-
mos juntas esse tempo todo. Ela sempre me
ajudando, amparando nas minhas dificuldades
-
que não são poucas. Ela já me ajudou com
tudo que se pode imaginar. Ajudou com a apo
-
sentadoria que eu não conseguia, arrumando
coisas para casa. Nós morávamos em uma
casa muito ruim e ela me ajudou com material
de construção. Ela doa alimentos , roupas e
coisas básicas que a gente precisa.”
L
indalva Maria de Oliveira Rodrigues, mãe de seis filhos,
entre eles Evanderson, que é assistido pela entidade
“Essa associação caiu do céu para mim. Tá
mudando muito minha vida. Eu comecei fazendo
fisioterapia e hoje estou pintando tecido, fa
-
zendo estamparia . Faço coisas bonitas.”
M
aria José, que sofreu dois acidentes vasculares cerebrais e
é aluna da oficina de artesanato
“Quando a Maria José chegou não tinha nem
coordenação motora na mão para movimen
-
tar o pincel. Foi melhorando, tendo mais
coordenação. A pintura virou uma terapia e
tornou-se diversão. É uma satisfação quando
chega alguém com mais dificuldade e vemos a
pessoa superar. A Maria José tem dificuldade
em andar, mas se esforça, vem toda aula. Ela
é um exemplo . Tem gente que não tem doença e
não tem coragem de fazer alguma coisa. Tem
gente que tem saúde e não tem coração. Ela é
uma lição de vida.”
V
audeir Pereira da Silva (Déia), professora de artesanato
“Conheço Maria da Paz há 18 anos. Ela
fazia trabalho na rua ainda, levando de
porta em porta alimento que faltava para
famílias, inclusive para mim, que tenho três
filhos especiais – os gêmeos Fabiano e Fabio e
o Antonio. Ela foi muito importante na minha
vida. Quando eu estava passando por uma
dificuldade terrível que ninguém imagina, essa
mulher veio e me levantou a mão. Eu estava
com depressão, tentei ate o suicídio; ela veio
e me levantou. Sabe o que é você estar em
casa e a Companhia de Força e Luz arrancar
teu relógio de luz? Ela arrumou recursos e
pagou minha conta. Ela chegava 7 horas da
manhã na minha casa com comida, com gás.
E
u devo muito a ela. Meus filhos até hoje
têm assistência dela. Ela aposentou um dos
meus filhos, outro está em andamento . Essa
mulher para mim é tudo; não só para mim, mas
para o bairro todo. E ela não ajuda só a mim
que tenho filho especial não. Ela ajuda muitas
pessoas carentes da favela. Mudou a minha
vida e a vida de muita gente. Você vai na favela
e todo mundo a conhece. Apesar da idade, ela
é minha mãe branca.”
R
osilda Monteiro da Silva, cuja família é assistida pela
entidade Associação Beneficente Maria da Paz
Local: Avenida Dr. Esmeraldo Soares Tarquínio de Campos Filho, nº 50
Parque das Bandeiras- São Vicente (SP)
Fundação: 1999
Contato: (13) 3576-8606
Site: www.associacaomariadapaz.com.br
Programa exibido em: 25/10/09

Lição deVida220
CRECHE MENINO JESUS
Local: Rua Napoleão Laureano, nº 51
Marapé- Santos (SP)
Fundação: 1970
Contato: (13) 3239-4047
Programa exibido em: 8/11/09
A educação é o grande elemento transformador da sociedade. Se quisermos transformar a comunidade,
vivermos num mundo melhor, nós precisamos investir na educação, na formação. Foi essa lição que o monse-
nhor Francisco das Dores Leite, o padre Chiquinho, aprendeu em casa e procura realizar com as crianças da
creche, oferecendo não apenas comida e abrigo, mas ensinamento.
A caridade é herança de berço, deixada pelo pai e pela mãe do padre, que ensinaram com o exemplo
de vida, de frequência diária à igreja e de dedicação em ajudar ao próximo de forma desinteressada. “Minha
mãe teve 11 filhos, nunca teve empregada – morreram dois bebês. Dos nove que sobreviveram, quatro são
sacerdotes, uma é religiosa e quatro são casados. É bom ter irmãos de sangue que são sacerdotes”, exulta
Chiquinho. A dedicação dos filhos a cuidar do próximo é a frutificação do amor pela humanidade, plantada
pelo casal, e o padre sente-se feliz em fazer parte da família que segue esses preceitos. Ele comemora tam-
bém a bela obra da creche, resultado de um amor que se multiplica e envolve os paroquianos, que tornam a
iniciativa possível, permitindo que atenda diversas famílias.
“Essa creche é tão antiga, foi a primeira, tanto que era a única em toda a região e atendia a necessidade
que existe em toda a cidade. Antigamente as crianças tinham o privilégio de não existir creche, como eu tive,
como diz a atual direção da creche, a instituição é sempre uma muleta, um mal necessário. Melhor seria que
a mãe pudesse acompanhar pessoalmente a criança no lar. Como isso não acontece, porque é uma neces-
sidade dos tempos modernos, nós temos absoluta necessidade de casas, equipes que atendam com amor,
eficiência a essa necessidade da formação das crianças”, opina monsenhor Francisco. “T enho a impressão
que é como Jesus quer, atendendo justamente aos mais necessitados.”
Creche Menino Jesus
Educação por um mundo melhor
“Educai as crianças para que não seja
necessário punir os adultos.”
Pitágoras, filósofo grego

221Paulo Alexandre Barbosa
A Creche Menino Jesus atende 185 crianças de 0 a 6 anos, sendo 150 em período integral e 35 parcial. O trabalho segue a
grande marca da paróquia, que é cuidar das crianças e jovens em nome de Deus.
E foi justamente a intervenção divina que marcou a história da entidade, na passagem relatada pelo tesoureiro da creche, Alber-
to Pereira Guedes, esposo da presidente Vilma.
“Aconteceu uma história em 1993 que me motivou a ficar muito mais tempo aqui. Nós tivemos essa creche invadida por vânda-
los, que praticamente não levaram nada, mas arrombaram todas as portas. Fizemos um orçamento e o conserto ficou em 60 milhões
de cruzeiros (moeda corrente da época). Fui falar com a Mirta Diocesana, mas eles não podiam ajudar.
Eu e minha mulher tínhamos esse dinheiro numa poupança que fizemos em 83, com a venda de uma Kombi zero km que nós
tínhamos. Naquele tempo a poupança rendia 40, 50, 60% e nós usávamos um pouco daquele dinheiro. Em 93, nós tínhamos 70
milhões de cruzeiros nessa conta. Aí eu cheguei para minha mulher e falei que a gente ia ter que fazer o conserto com nosso dinheiro
próprio. Demos 30 milhões de entrada e no mês de junho demos outros 30 milhões.
Todo o sábado nós íamos fazer compras para a creche, mas nessa semana minha mulher quebrou o pé e não conseguimos ir.
Eu fui trabalhar e quando cheguei em casa, a minha mulher estava com a irmã e elas estavam brancas. A minha mulher disse assim:
‘Tu não sabe. Veio aqui uma pessoa e deu um grande donativo’. Eu falei: ‘Ah, vai ver que o cara deu 60 milhões’. Ela disse espantada:
‘Então você já sabia?’ Eu tinha falado brincando, mas o cara deu 60 milhões pra creche mesmo. Imagina você gastar 60 milhões e
quando acaba de pagar a dívida, recebe os 60 milhões de volta. Não tem a mão de Deus nisso?”.
“As famílias sadias podem realmente projetar um futuro melhor para a humanidade . Os lares com grandes proble-
mas, em geral, deixam marcas e, às vezes, deixam traumas tão delicados que é triste a gente acompanhar uma vida que
nasce em uma situação assim, infeliz dentro de casa. Por isso é importante cuidar bem dos filhos, criar um ambiente
gostoso, para preparar alguém que vai ser importante para a sociedade, mais como Deus quer, mais feliz. O reino de
D
eus precisa de famílias que sejam felizes, normais , equilibradas.”
M
onsenhor Francisco das Dores Leite, padre Chiquinho, pároco da Igreja São Judas Tadeu
“Você se torna tio, pai, avô de 185 crianças. É um negócio fantástico.
E
isso é o melhor no seu íntimo . É a satisfação de você servir, porque
da forma que a gente serve, se você perceber, no fundo é você quem
está sendo servido, porque o bem que você faz a alguém , se começar a
meditar mais na frente, vai verificar que esse bem você está fazendo pra
si mesmo .”
A
lberto Pereira Guedes, tesoureiro da creche
“Meu marido era diretor aqui no tempo da outra presiden
-
te, que precisou sair e ele ficou sem opção e pediu pra eu
assumir . Eu não sabia nada de creche - apenas ajudava
nos ‘chás’. Mas já pertencíamos à comunidade , então o
padre Chico me colocou aqui e estou há 26 anos e devo
estar por aqui até quando Deus quiser.”
V
ilma Dias Guedes, presidente

Lição deVida222
Nossos gestos e nossas ações é que vão deixar nossa marca na história. Oswaldo Ribeiro de Mendonça
fez o que podia para ajudar a construir um país melhor e os reflexos de suas ações aparecem até hoje no tra-
balho que teve continuidade com sua filha, Josimara Ribeiro de Mendonça Camargo, presidente da entidade.
Ela acredita que a preocupação social foi herança do pai, sempre atento às obras assistenciais da região.
“Tudo começou quando meu pai trabalhava em Orlândia, beneficiando sementes, e ele quis voltar à
cidade natal porque ele queria retribuir à sociedade tudo aquilo que Deus tinha lhe dado. Ele queria dar esse
presente à cidade natal”, relembra Josimara. Voltando a Ipuã, Oswaldo foi procurar o prefeito para saber as
necessidades do município e, dando uma volta pela periferia, descobriu a resposta ao presenciar uma triste
cena. “Ele viu uma criança amarrada numa coleira, numa mesa e com o prato de comida no chão, como se
fosse um animal. As mães precisavam trancar seus filhos em casa para poder trabalhar, por isso ele montou a
creche, para que as mães pudessem trabalhar.”
Em 1978, Oswaldo fundou a creche Armanda Malvina de Mendonça, que foi se multiplicando em ações
sociais na região, seguindo o caminho que sua empresa, o grupo Colorado, fazia, abrangendo cidades de
Orlândia, Guaíra, Miguelópolis, Ipuã e Sales de Oliveira.
Instituto Oswaldo Ribeiro de Mendonça
Referência em responsabilidade social
“Somos responsáveis por aquilo que fazemos, o que não fizemos e o que impedimos de fazer.”
Albert Camus, escritor francês
Divulgação

223Paulo Alexandre Barbosa
O grupo Colorado está à frente do Instituto Oswaldo Ribeiro de Mendonça promovendo arte, cultura, leitura, esportes,
ações sociais e educação para crianças e adolescentes, demonstrando a importância da atuação da iniciativa privada na
área social.
Dentre os projetos desenvolvidos pela instituição, destaca-se o Usina da Dança, que envolve crianças de 7 a 17 anos
em aulas de jazz, ballet contemporâneo, sapateado, teatro e música. O sucesso dessa iniciativa foi reafirmado com a con-
quista de prêmio internacional, com o primeiro lugar na modalidade ballet de repertório e segundo na modalidade jazz na
20ª. edição do Barcelona Dance Awards.
O instituto tem ainda a Casa da Criança Armanda Malvina de Mendonça, em Ipuã, que abriga desde 1978 crianças que
recebem educação complementar; a Cidade dos Meninos Oswaldo Ribeiro de Mendonça, que atende mais de 600 crianças
de Guairá; o Centro Cultural e Poliesportivo; a casa do Menor Ragih Moisés, também de 1978, em Miguelópolis e a Casa da
Criança Oswaldo Ribeiro de Mendonça, na mesma cidade. Há também o projeto Rede Social para auxiliar a comunidade e o
Programa de Educação para o Trabalho, entre outras ações como bibliotecas e salas de leitura.
“Eu cresci com esse ambiente e em 2005 resolvi consoli-
dar e estruturar o instituto. Daí a gente montou várias
ações e projetos em todas as cidades onde o grupo Colo-
rado atua.
E
u digo sempre que é impossível viver sem se doar. Eu faço
meu trabalho também como voluntária. Acho que em tempo
integral eu sou voluntária, mas todas as terças-feiras
eu recebo as voluntárias do instituto na minha casa, nós
somos 100 voluntárias, e estamos abrangendo voluntá
-
rias de outras cidades.
O
voluntariado se tornou mais do que um encontro pra
bordados - ele é uma integração, nós formamos uma famí
-
lia.”
J
osimara (Josi) Ribeiro de Mendonça Camargo, presidente
“O projeto mudou minha vida em praticamente tudo.
E
u não sabia o que ia fazer da minha vida porque
quando eu comecei tinha 14 anos - agora tenho 22
-
e pra mim foi uma coisa maravilhosa já que é de
onde eu tiro o sustento da minha casa. Eu trabalho,
eu ganho para estar aqui. Os cursos que eu quero
fazer pra melhorar, eu posso pagar com o dinheiro
que eu ganho. E eu sou muito grato, porque se não
fosse esse projeto eu não teria conhecido vários
lugares. Eles trouxeram a cultura até nós.”
C
aio César Sousa, coreógrafo , bailarino e professor do projeto
Instituto Oswaldo Ribeiro de Mendonça
Local: Rua 2, nº 440 B- Jardim Boa Vista- Orlândia (SP)
Fundação: 2005
Contato: (16) 3826-3668
Site: www.grupocolorado.com.br (Reponsabilidade Social)
Programa exibido em: 15/11/09

Caridade
Lição de Vida224

Caridade
225Paulo Alexandre Barbosa
“Conserve-se entre vós a caridade fraterna.
Não vos esqueceis da hospitalidade, pela qual
alguns, sem o saberem, hospedaram anjos.
Lembrai-vos dos encarcerados, como se vós
mesmos estivésseis presos com eles.
E dos maltradados, como se habitásseis no
mesmo corpo com eles.”
(Hb 13, 1-3)