A À primeira vista, o leitor se encontra diante do mero registro de um momento banal. Trata-se do instante do repousar de um sujeito solitário em seu quarto, numa noite escura e serena, quando tudo parece convidar ao recolhimento e à prolongação do repouso. B A matéria do poema parece ter passado por um processo de simplificação para virar poesia. A morte indesejada de um pobre-diabo, logo depois de esbaldar-se, tem, pela natureza do assunto e dos dados escolhidos, o ar da ocorrência banal, contada a seco, sem comentário ou explicação. C O poema trata de uma aparição da Morte aos olhos de um sujeito, que, estático, desfruta o momento, impulsionado pelo vislumbre da relação sensorial, intelectual e afetiva que ele estabeleceu até aquele momento com a vida. D A musicalidade do poema suscita o livre devaneio diante da Morte: segue o movimento natural do sono, induzindo ao sonho e evocando, através dele, o mito, que religa em imagem os elementos materiais do cotidiano. E O poema parece consistir num pequeno quadro da espera de uma ceia ou refeição noturna: um Eu aguarda, com algumas expectativas, a chegada, ao cair da noite, de uma visita esperada. A convidada imaginária, que ele não sabe como tratar, é obviamente a Morte, a que alude apenas de forma oblíqua, mas decide recebê-la com naturalidade.