o compromisso de não ter telefone, rádio, televisão ou internet.
Finalmente a casa estava pronta, e você, muito empolgado por morar lá.
Amava a vastidão do campo, toda a luz e a beleza da natureza. Mas,
principalmente, você estava apaixonado pela casa. Pusera seu coração e sua
alma em cada aspecto do projeto, e dava para ver: tudo ficou verdadeiramente
“com a sua cara”. Na verdade, com o tempo, entre a paixão pela casa e o
desconforto crescente com tudo que via e os sons estranhos lá fora, você
começou a passar mais tempo lá dentro. Foi então que percebeu que, com as
janelas e portas totalmente trancadas, o lugar começou a parecer uma
fortaleza. Mas, para você, estava tudo bem. Por sempre ter morado em
centros urbanos, era bastante assustador viver tão longe, em total isolamento.
Porém você estava decidido a ficar lá.
Então, aos poucos, se acostumou a viver em segurança dentro dos limites
da casa. Dedicou-se alegremente a ler e escrever, como sempre quis. Na
verdade, a casa era bastante confortável, com a temperatura totalmente
controlada, e você foi inteligente o bastante para instalar um sistema de
iluminação moderno com todo o espectro da luz solar. A ironia é que você
achava sua casa tão agradável e segura que parou totalmente de pensar no
lado de fora. Afinal de contas, o lado de dentro era conhecido, previsível e
controlável. O lado de fora era desconhecido, imprevisível e completamente
fora de controle. Essa sensação de santuário íntimo era sustentada pelo fato
de que, quando fechadas, as janelas se fundiam perfeitamente às paredes, e
você nem pensava em se arriscar a sair para destrancá-las. Eram tão bem-
feitas que, quando a luz se apagava, a escuridão era absoluta, fosse dia ou
noite. Mas, como estava acostumado a nunca apagar a luz, você só notou isso
quando as lâmpadas começaram a queimar. Só então você percebeu que a
situação era complicada: ninguém lhe deixara lâmpadas sobressalentes
compatíveis com o novo sistema. Isso significava que, quando a última delas
queimasse, você teria de tatear dentro de casa em total escuridão.
A partir desse momento, a única luz que havia era a das velas que você
guardava para emergências. Mas eram poucas, portanto você as
economizava. Por ser uma pessoa que amava a luz, foi muito difícil para
você. Porém não o suficiente para forçá-lo a superar o medo de sair da