LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA

1,611 views 176 slides Jan 20, 2018
Slide 1
Slide 1 of 176
Slide 1
1
Slide 2
2
Slide 3
3
Slide 4
4
Slide 5
5
Slide 6
6
Slide 7
7
Slide 8
8
Slide 9
9
Slide 10
10
Slide 11
11
Slide 12
12
Slide 13
13
Slide 14
14
Slide 15
15
Slide 16
16
Slide 17
17
Slide 18
18
Slide 19
19
Slide 20
20
Slide 21
21
Slide 22
22
Slide 23
23
Slide 24
24
Slide 25
25
Slide 26
26
Slide 27
27
Slide 28
28
Slide 29
29
Slide 30
30
Slide 31
31
Slide 32
32
Slide 33
33
Slide 34
34
Slide 35
35
Slide 36
36
Slide 37
37
Slide 38
38
Slide 39
39
Slide 40
40
Slide 41
41
Slide 42
42
Slide 43
43
Slide 44
44
Slide 45
45
Slide 46
46
Slide 47
47
Slide 48
48
Slide 49
49
Slide 50
50
Slide 51
51
Slide 52
52
Slide 53
53
Slide 54
54
Slide 55
55
Slide 56
56
Slide 57
57
Slide 58
58
Slide 59
59
Slide 60
60
Slide 61
61
Slide 62
62
Slide 63
63
Slide 64
64
Slide 65
65
Slide 66
66
Slide 67
67
Slide 68
68
Slide 69
69
Slide 70
70
Slide 71
71
Slide 72
72
Slide 73
73
Slide 74
74
Slide 75
75
Slide 76
76
Slide 77
77
Slide 78
78
Slide 79
79
Slide 80
80
Slide 81
81
Slide 82
82
Slide 83
83
Slide 84
84
Slide 85
85
Slide 86
86
Slide 87
87
Slide 88
88
Slide 89
89
Slide 90
90
Slide 91
91
Slide 92
92
Slide 93
93
Slide 94
94
Slide 95
95
Slide 96
96
Slide 97
97
Slide 98
98
Slide 99
99
Slide 100
100
Slide 101
101
Slide 102
102
Slide 103
103
Slide 104
104
Slide 105
105
Slide 106
106
Slide 107
107
Slide 108
108
Slide 109
109
Slide 110
110
Slide 111
111
Slide 112
112
Slide 113
113
Slide 114
114
Slide 115
115
Slide 116
116
Slide 117
117
Slide 118
118
Slide 119
119
Slide 120
120
Slide 121
121
Slide 122
122
Slide 123
123
Slide 124
124
Slide 125
125
Slide 126
126
Slide 127
127
Slide 128
128
Slide 129
129
Slide 130
130
Slide 131
131
Slide 132
132
Slide 133
133
Slide 134
134
Slide 135
135
Slide 136
136
Slide 137
137
Slide 138
138
Slide 139
139
Slide 140
140
Slide 141
141
Slide 142
142
Slide 143
143
Slide 144
144
Slide 145
145
Slide 146
146
Slide 147
147
Slide 148
148
Slide 149
149
Slide 150
150
Slide 151
151
Slide 152
152
Slide 153
153
Slide 154
154
Slide 155
155
Slide 156
156
Slide 157
157
Slide 158
158
Slide 159
159
Slide 160
160
Slide 161
161
Slide 162
162
Slide 163
163
Slide 164
164
Slide 165
165
Slide 166
166
Slide 167
167
Slide 168
168
Slide 169
169
Slide 170
170
Slide 171
171
Slide 172
172
Slide 173
173
Slide 174
174
Slide 175
175
Slide 176
176

About This Presentation

LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA


Slide Content

autor do original
MARIA BEATRIZ GAMEIRO
1ª edição
SESES
rio de janeiro  2015
LÍNGUA PORTUGUESA

Conselho editorial  luís cláudio dallier, roberto paes e gladis linhares
Autor do original  maria beatriz gameiro
Projeto editorial  roberto paes
Coordenação de produção  gladis linhares
Projeto gráfico  paulo vitor bastos
Diagramação  andré lage e paulo vitor bastos
Validação de conteúdo  fábio macedo simas e luciana varga
Imagem de capa  cienpies design — shutterstock
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
G184 Gameiro, Maria Beatriz
Língua Portuguesa
— Rio de Janeiro: Editora Universidade Estácio de Sá, 2015.
176 p
isbn: 978-85-5548-156-7
1. Linguagem. 2. Português. 3. Educação. I. Título.
cdd 469.5
Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento
Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063

Sumário
Apresentação 7
1. Nem todo brasileiro fala do mesmo jeito 21
Fala e escrita 26
Norma padrão, norma culta e norma popular 28
Construções da norma padrão e da norma coloquial:
correções dos desvios mais comuns 29
2. Noções básicas de sintaxe:
regência e concordância 39
Noções básicas da sintaxe 41
A transitividade verbal 41
A regência verbal 45
Regência nominal 52
A variação linguística e a concordância verbal 53
A concordância nominal 63
3. Usos da língua: pontuação,
acentuação e ortografia. 73
Introdução à clareza e à pontuação: a ordem direta no português brasileiro 75
Regras de acentuação 86
O novo Acordo Ortográfico 91
Regras ortográficas 98
A crase 101
O internetês e a ortografia 104
Importância da escrita para o mercado do trabalho 108

4. A estrutura do parágrafo, a coesão e a coerência 113
A estrutura do parágrafo 114
As qualidades do parágrafo 118
Coesão e coerência 128
A coerência 133
5. Leitura e significação 137
O Sincretismo de linguagens 138
O texto literário e o não-literário 139
Principais critérios para distinção entre o texto literário e o não literário 142
A construção do significado no texto: a conotação e a denotação 143
Figuras de Linguagem 146

5
PRÓLOGO A ESTE LIVRO,
Por Deonísio da Silva
Nunca uma palavra foi tão apropriada: prólogo. Veio do Grego, passou pelo Latim “prolo-
gus” e chegou ao Português “prólogo”. Designava a primeira parte da tragédia, também
uma palavra vinda do Grego “tragoidía”, composta de “tragos”, bode, e “oidé”, canção,
significando “canção do bode”: nas tragédias gregas era sacrificado um bode enquanto
o coro cantava.
Nós vivemos uma tragédia no ensino do Português. Faz décadas que professores,
pagos pelo Estado, por mantenedoras privadas ou por universidades comunitárias para
ensinar a norma culta do Português, deformam este ensino à base de um vale-tudo, em
que a norma culta não vale nada, praticando crimes de lesa-língua. E fazem isso com
uma disciplina estratégica, pois todas as outras disciplinas são ensinadas em Português!
Na Universidade Estácio de Sá, como em outras instituições de qualidade, o ensino
do Português vem merecendo atenção especial. A Língua Portuguesa é a menina dos
olhos da Estácio.
Meia dúzia de coisas que nunca falharam: você vai ouvir, falar, ler e escrever
melhor (e passar com folga em todas as AVs), se:
1) Assistir a todas as aulas;
2) Fizer as tarefas que os professores indicarem;
3) Ler todos os dias, nem que seja um pequeno trecho;
4) Consultar as obras de referência, como gramáticas e dicionários;
5) Ler os livros indicados;
6) Escrever alguma coisa todos os dias, nem que seja um recado a seus amigos.
1 As Palavras
O brasileiro fala bastante. E fala bem. Talvez não preste a devida atenção ao que
o outro fala. Começa na infância."Quantas vezes eu já te disse para não fazer
isso, menino?". Ou: "Eu já te disse mil vezes que eu não quero ouvir palavrão
nesta casa", "eu te mato" etc.
Esta mãe imaginária usava bem o vocativo, com a pausa antes dele, que
na escrita levou uma vírgula. Ela invocava expressões de linguagem que to-

6
dos conhecemos.
Mil vezes? Ainda que as admoestações fossem muito repetidas, talvez não
passassem de algumas dezenas, acompanhadas de ameaças de morte de brin-
cadeirinha, como faz toda mãe. Ela sabia que a língua portuguesa, ao lado de
olhares e gestos repreensivos ou de aprovação, era poderoso recurso para edu-
car os filhos.
Como se sabe, a educação começa em casa. Foi lá, aliás, que você aprendeu
a ouvir e a falar em Português. Seu pai foi seu primeiro professor. Sua mãe foi
sua primeira professora. Por isso, a língua portuguesa é sua língua materna,
palavra que veio do Latim materna, isto é, que se refere à mater, "mãe".
Escolas e universidades dão instrução e ajudam a educar os alunos, mas to-
dos os professores sabem que os alunos estão sob seus cuidados apenas um
sexto do dia. E os mestres precisam ensinar-lhes um cesto de coisas. O tempo é
pouco. Se a casa, a empresa, a mídia e a rua (lugares onde os discípulos passam
a maior parte do tempo) não colaboram com a escola e com a universidade, a
tarefa fica muito mais difícil. Sim, a boa empresa facilita a formação de seus
empregados, isto é um investimento para ela.
Nas ruas, nas estradas e em outros lugares públicos, cartazes com erros de
Português infiltram na mente de todos formas erradas de escrever! Programas
de baixo nível, no rádio, na televisão, na internet etc. são outros empecilhos
na tarefa de ensinar. Como se sabe, muito ajuda quem não atrapalha. E esses
erros são como uma virose. Se o organismo não tem as devidas defesas, contrai
doença de escrever mal antes de aprender a escrever bem.
Mas, se falamos bem, por que escrevemos tão mal? Uma campanha convida
ou ordena "Avança Brasil". Foram gastos milhões de reais para imprimi-la em
cartazes e exibi-la na televisão e na internet. Está errada. Não puseram vírgula
depois de "avança" e antes de "Brasil".
Hora do recreio
O “site” www.simplesmenteportugues.com.br apresenta este divertido e curio-
so exercício sobre a vírgula, ao apresentar o texto de um moribundo – ele mor-
reu antes de fazer a pontuação -, numa espécie de minitestamento: “Deixo
meus bens a minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do pa-
deiro nada dou aos pobres”.
Eram quatro os herdeiros. Como ele distribiu a herança? Como exercício,

7
os alunos devem pontuar o texto como se fossem os advogados dos herdeiros.
Divididos em quatro grupos, cada um dos grupos deve defender o sobrinho (1),
a irmã (2), o padeiro (3) ou os pobres (4).
As respostas corretas são:
1) O sobrinho pontuaria assim: Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu
sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.
2) A irmã, assim: Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Ja-
mais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.
3) O padeiro, assim: Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho?
Jamais! Será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.
4) Os pobres, assim: Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho?
Jamais! Será paga a conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres
Erros de ortografia
Os erros mais numerosos são de ortografia. Até um professor anunciou:
"aulas de reforsso escolar, todas matérias". Está errado. As suas são de reforço
escolar e é necessário o artigo em "todas AS matérias".
Um quiosque quis melhorar as vendas de sorvetes e de picolés e anunciou
"temos picolé premeado". Está errado. O certo é premiado.
Certa padaria avisou: "nossos produtos não tem glúteos". Está errado. O
certo é "nossos produtos não têm glúten". Glute também estaria correto, mas
glúteo é nádega; veio do Grego gloutós, "nádega".
Uma cabeleireira anunciou que fazia "itradação" de pele e cabelos. Está er-
rado. O certo é hidratação.
Uma floricultura oferecia "violentas" a menos de cinco reais. Está errado. O
certo é violetas.
Um açougue avisou os clientes que tinha "frango bovino". Ora, a carne à
venda era de frango ou de boi! O açougueiro não cruzou uma galinha e um touro
(boi ainda não castrado), ou um galo e uma vaca para produzir a tal carne.
A maioria das pessoas comete erros ortográficos, não porque seja difícil es-
crever corretamente, mas sim porque elas leem pouco. Esta é a grande causa.
A ortografia do Português não é tão simples como a do Espanhol e a do
Italiano, mas não é complicada como a do Inglês, por exemplo. Estão errados
aqueles que dizem que a do Inglês é mais simples. Não é.
Cláudio Moreno, nosso colega de docência na Estácio há muitos anos, em

8
Guia Prático do Português Correto (vol. 1 - Ortografia), livro indicado na biblio-
grafia desta disciplina, lembra que em Inglês a palavra lives é pronunciada /
livz/ quando significa "vive, mora, reside", e /laivz/ quando quer dizer "vidas".
Você escreve key e pronuncia o conjunto "ey" como /i/, mas no pronome they
(eles, elas), a pronúncia é /êi/. Em he goes ("ele vai"), você diz /gous/, mas o mes-
mo encontro "oes", pronunciado /ous/ neste verbo, muda para /us/ em my shoes
("meus sapatos"), que você pronuncia /mai shus/.
Outras amostras de que o Português tem uma grafia mais simples do que a
do Inglês: para typography, pharmacy, theater, psychology, escrevemos tipo-
grafia, farmácia, teatro, psicologia.
O objetivo deste livro é ajudar os alunos a aprender a Língua Portuguesa. É
uma língua que os alunos já sabem, mas ainda não sabem o suficiente. De todo
modo, não é uma língua estrangeira. Se estivéssemos ensinando Inglês, Espa-
nhol, Latim, Russo ou Mandarim, os métodos seriam outros.
Mas por que ensinamos Português? Porque os alunos precisam muito
aprender a ler e a escrever numa língua que já entendem e falam.
Se o professor disser ou escrever "minha colega ficou RUBICUNDA, mas
abriu uma EXCEÇÃO e deu um ÓSCULO no MANCEBO", provavelmente o alu-
no irá ao dicionário em busca de saber como se escreve e o que querem dizer as
palavras escritas em maiúsculas. De 14 palavras, ele provavelmente não sabe o
significado de apenas três. E tem dúvida de como se escreve exceção.
É um índice muito alto de conhecimento do vocabulário que ele precisa
saber para compreender o texto, uma vez que já conhece 78,58% das palavras
empregadas.
Na verdade, quando você lê qualquer texto ― uma notícia, uma petição, um
salmo, uma bula de remédio, um relatório, um poema, um conto, um trecho de
romance etc. - é provável que você conheça a maioria das palavras que ali apare-
cem, pois elas se repetem muito.
Se você gosta mais de números do que de letras, faça um exercício curioso.
Aplique ao texto escolhido a Lei de Zipf, formulada pelo filólogo, linguista e es-
tatístico George Kingsley Zipf, da prestigiosa Universidade de Harvard.
Estudando a obra de James Joyce, famoso escritor irlandês de língua inglesa,
ele mostrou que no livro Ulisses, tido como um dos romances mais difíceis de
ser lido e entendido em todos os tempos (inclusive nas traduções), a palavra mais
comum aparece 8.000 vezes. Examinando muitos outros textos, concluiu que a
maior parte de qualquer texto é coberta pelas palavras mais usadas na língua.

9
Concluímos desta lei que somos capazes de entender qualquer texto, tendo
um bom vocabulário. E que para as palavras desconhecidas, só o que precisa-
mos é de um dicionário.
Quando ouvirem o texto "minha colega ficou RUBICUNDA, mas abriu uma
EXCEÇÃO e deu um ÓSCULO no MANCEBO", os alunos provavelmente irão ao
dicionário para certificar-se de como se escreve exceção, mas eles sabem que
exceção quer dizer "exclusão, algo fora da norma, fora do comum" naquele con-
texto. E provavelmente sabem também, sem consultar o dicionário, como são
escritas as três restantes, marcadas em vermelho, embora sejam de uso raro,
pois elas são escritas como pronunciadas. Talvez aqueles que não conhecem
a forma correta mancebo, escrevam a forma errada "mansebo"... Mas, então, o
problema será facilmente resolvido, pois "mansebo" não existe...
O ditado, uma antiga prática das salas de aula, ajudava muito nisso. Nas pri-
meiras séries do ensino fundamental, a professora pronunciava palavras que os
alunos deveriam escrever.
O passo seguinte é saber o significado das palavras até então desconheci-
das, aquelas três marcadas em maiúsculas: rubicunda, ósculo e mancebo.
Um bom dicionário ou um bom professor ou uma boa professora lhes ex-
plicará que rubicunda é da mesma família de rubrica, porque antigamente as
primeiras letras dos capítulos dos livros eram escritas com tinta vermelha. E
também é parecida com rubéola, infecção percebida por exantema de manchas
vermelhas. Também são parentes o rubor nas faces e a cor rubro-negra de clu-
bes, com o Flamengo, duas cores que, juntas ou separadas, estão nos uniformes
de muitos clubes brasileiros de futebol, como o Corinthians, o Internacional, o
Sport do Recife, o Vasco, o Grêmio, a Ponte Preta, o Atlético (do PR, de MG etc.).
Mas, voltemos à palavra exantema, que o dicionário usou para explicar ou-
tra. Não se assustem! Os dicionários às vezes usam palavras ainda mais desco-
nhecidas para explicar aquela que você procurou.
Aliás, é um lado bom dos dicionários, longe de ser um defeito. Você atira
no que viu, acerta no que não viu, como diz o ditado, talvez antiecológico. Você
procura exantema e descobre que a nova palavra, que você não procurou, veio
do Grego eksanthéma, "florescência, florido", porque as feridas de tal enfermi-
dade semelham flores desabrochando sobre a pele.
O dicionário é uma festa, onde você vai com quem já conhece e descobre
desconhecidos que são ainda mais interessantes. E que você não procurava,
mas que podem vir a ser seus novos amigos.

10
A seguir, você procura ósculo, cujo significado é "beijo", que veio do Latim
osculum, "boquinha", diminutivo de os, "boca", assim como minúculo veio do
Latim minisculum, diminutivo de minus, que significa "pequeno". Então, mi-
núsculo quer dizer "muito pequeno".
Por fim, procura mancebo, que quer dizer "jovem, moço". Na antiga Roma,
manceps, de onde veio a palavra, era o escravo jovem que ficava no quarto, to-
mava as roupas do senhor nas mãos e o ajudava a vestir-se.
Os escravos foram cartões de crédito e de débito, ainda antes de existirem
estes plásticos de tanta utilidade: ninguém fazia nada sem eles!
O feminino manceba designou a amante, a concubina, a mulher jovem que
ficava no quarto do senhor fazendo mais do que segurar as roupas dele, aju-
dando-o a vestir-se. Talvez o ajudasse mais a desvestir-se, ela mesma se des-
pindo junto. Outras palavras e expressões vieram do mesmo étimo, de que são
exemplos mancebia e amancebado, palavras que aparecem em numerosos do-
cumentos do Brasil colonial e imperial, dando conta de que os senhores das
casas-grandes não apenas visitam as senzalas, como frequentemente viviam
amancebados com as próprias escravas, com elas gerando filhos, que eram
escravizados também. A expressão "Fulano tem um pé na cozinha" também
exemplifica isso, apesar do ponto de vista preconceituoso, pois poderia ser des-
cendente de um escravo com um pé no quarto da casa-grande....
Como vimos, é preciso conhecer o vocabulário empregado num texto, não
apenas porque esta tarefa é indispensável para compreender o texto, como tam-
bém pela viagem que as palavras nos levam a fazer, cheia de escalas em pontos
e portos interessantíssimos
Na busca pelo significado das palavras que ainda lhe são desconhecidas,
você não pode desprezar o contexto em que foram empregadas. O mancebo de
que fala o texto não é o "móvel ou o pedaço de pau em forma de cabide", uma
vez que "minha colega ficou rubicunda, mas abriu uma exceção e deu um óscu-
lo no mancebo". Ela não ficaria vermelha se tivesse que beijar um móvel...

11
2 Reflexões para você estudar Português
1. O domínio da língua materna é o requisito fundamental para o sucesso
em qualquer campo de atividade. Independentemente do curso escolhido na
Universidade, ler e escrever com proficiência é indispensável para que o acadê-
mico possa participar da sua área de saber, qualquer que seja ela.
2. A ausência desse conhecimento básico compromete todas as suas formas
de expressão; sem ele, até mesmo o seu contato com os textos imprescindíveis
a cada especialidade fica prejudicado.
3. Em geral, o aluno brasileiro deixa de estudar português no momento em
que conclui o Ensino Médio e ingressa na universidade ou no mercado de tra-
balho. Quase todos nós passamos por isso e conhecemos muito bem esse traje-
to: por algum tempo, absorvidos por nossas novas ocupações, passamos a dar
pouca ou nenhuma atenção àqueles conteúdos gramaticais que, na opinião da
maior parte dos adolescentes, constituem um emaranhado de regrinhas capri-
chosas e desnecessárias.
4. A vida profissional ou acadêmica, no entanto, logo faz dissipar essa ilusão
e muda nossa maneira de ver as coisas, pois descobrimos finalmente que aque-
las regras que considerávamos supérfluas são instrumentos indispensáveis para
o sucesso pessoal. Este curso se destina exatamente àqueles que perceberam a
importância do domínio da língua materna para sua vida e sua carreira e que pre-
tendem atualizar seus conhecimentos gramaticais. Os mesmos fatos e princípios
que você estudou na escola voltam agora sob novo enfoque, selecionados e orga-
nizados para solucionar, na prática, as dúvidas e hesitações que afligem quem
escreve. Este curso apresenta, por isso mesmo, o mínimo de teoria necessário
para entender os fenômenos explicados: o seu foco é a gramática do uso culto.
5. A língua é transmissora da cultura e da civilização. Ela é um sistema orgâni-
co de regras e princípios, estabelecido, de geração em geração, século por século,
pela soma dos discursos de todos os indivíduos que têm o Português como língua
materna. A língua que estou usando hoje para falar com vocês vem sendo usada
há quase mil anos. Foi usada por cruzados, por navegadores, por carrascos e por
vítimas da Inquisição. Quando o Brasil foi descoberto, o escrivão da frota, nosso

12
Pero Vaz e Caminha, relatou .... Camões cantou seus amores, Vieira pregou na
Igreja contra as invasões holandesas, falando a colonos, índios e escravos.
6. Foi por causa disso, por exemplo, que a escola dispendeu tanto esforço
para ensinar a vocês a conjugação completa dos verbos, incluindo o vós. Como
entender uma frase clássica como "Vinde a mim as criancinhas" sem conhecer
a flexão do verbo na 2ª pessoa do plural?
7. Mito: "Como nunca pretendo usar essas formas, elas não são importan-
tes para mim". Na verdade, "usamos" um vocábulo tanto quando o emprega-
mos numa frase, quando o compreendemos ao vê-lo num texto de outrem. Por
exemplo, o costume de não trabalhar, na escola, com a 2ª pessoa do plural na
conjugação dos verbos — sob a alegação infantil de que "ninguém usa mais esta
forma" — acarreta uma série de problemas na compreensão de textos tão sim-
ples e fundamentais como, por exemplo, as orações: “Pai nosso que estais nos
céus, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa
vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos daí hoje;
perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem
ofendido; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.”.
Ou: “Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois vós entre as
mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus,
rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém”.
8. Nosso propósito é levá-lo a posicionar-se criticamente sobre tudo aquilo
que já aprendeu sobre nosso idioma (que é, acredite, muito mais do que você
imagina). Viajando pela história de nossa língua, você vai entender o quanto
devemos ao Grego e ao Latim; além disso, vai poder avaliar a dívida cultural
que temos para com os árabes e os povos indígenas e africanos. Com base nas
leituras escolhidas, queremos mostrar a você que os fatos mais corriqueiros da
língua influem na nossa interpretação de um texto literário, e que os escrito-
res sabem, como ninguém, utilizar a seu favor as várias escolhas que têm à sua
disposição — e você vai entender de que maneira um autor como Machado de
Assis, utilizando a mesma língua que você usa (e praticamente o mesmo voca-
bulário) construiu verdadeiras obras-primas.

13
9. A língua é um sistema desenvolvido no tempo e no espaço, formado pelo
trabalho de milhões de falantes. Outra coisa bem diferente é o uso que cada
um de nós faz desse repertório. Cada um de vocês tem um discurso próprio —
cada um usa o sistema à sua maneira, de acordo com sua formação, sua idade,
sua região ou simplesmente o grau de consciência com que se relaciona com
a linguagem. Por isso, ver como os outros usam ou usaram a língua aumenta
o nosso repertório de possibilidades e nos ajuda a definir o estilo que preferi-
mos e o que realmente nos desagrada. O uso individual pode mudar a língua?
Se houver a concordância de muitos indivíduos, sim. Há quem se escandalize
com as mudanças, mas não podemos esquecer que, se ocorrerem, tudo vai se
dar dentro do sistema próprio do nosso idioma. Invariavelmente, elas são feitas
para tornar o sistema ainda mais homogêneo. Os "erros" que as pessoas come-
tem — que, não por acaso, são os mesmos em todo o país — revelam pontos de
atrito com a norma culta, em que os discursos individuais acabarão inconscien-
te, mas inexoravelmente, limando e polindo o sistema.
10. A evolução do sistema. As mudanças que ocorrem, no entanto, sempre
se dão dentro da direção de tendência — como o sentido dos pelos do veludo,
ou, mais domesticamente, o sentido dos pelos do gato. Um exemplo que está
em processamento é a transformação do vocábulo grama (unidade de medida),
considerado substantivo masculino. A tendência é transformá-lo em feminino
— como lama, cama, rama, etc. É por isso que a maioria dos falantes brasilei-
ros vem aderindo à mudança, inclusive com a adesão de autores tão importantes
quanto Machado de Assis, o patrono deste curso. Machado de Assis, por exem-
plo, em crônica publicada em A Semana, fez como os falantes de hoje: usou gra-
ma (peso) no feminino “O caso da grama. Contaram algumas folhas, esta sema-
na, que um homem, não querendo pagar por um quilo de carne preço superior ao
taxado pela prefeitura, ouvira do açougueiro que poderia pagar o dito preço, mas
que o quilo seria mal pesado. [...] Um quilo mal pesado. Pela lei, um quilo mal
pesado não é tudo, são novecentas e tantas gramas, ou só novecentas. E voltou
ao feminino de grama (peso) nesta outra, publicada em Balas de Estalo: “Pode ser
que haja nesta confissão uma ou duas gramas de cinismo; mas o cinismo, que é
a sinceridade dos patifes, pode contaminar uma consciência reta, pura e elevada,
do mesmo modo que o bicho pode roer os mais sublimes livros do mundo.”

14
3 Frase, Oração, Período, Parágrafo, Texto
“Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um
rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu”. (abertura de Dom Casmurro)
“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” (final de
Memórias Póstumas de Brás Cubas)
“Naquele dia – já lá vão dez anos! -, o dr. Félix levantou-se tarde, abriu a janela e cum-
primentou o sol. (...) Alegres com vermos o ano que desponta, não reparamos que ele é
também um passo para a morte. (abertura de Ressurreição)
Estas frases, orações e período integram (1) o primeiro parágrafo do roman-
ce Dom Casmurro, (2) o fechamento de Memórias Póstumas de Brás Cubas e
(3) a abertura de Ressurreição, três romances de Joaquim Maria Machado de
Assis, o maior escritor brasileiro de todos os tempos, mulato, descendente de
escravos, filho de família pobre, epiléptico, gago.
Francisco José de Assis, seu pai, filho de escravos alforriados, era pintor de
paredes; Maria Leopoldina da Câmara Machado, sua mãe, imigrante portugue-
sa dos Açores, era lavadeira.
Machado foi autodidata (estudou por conta própria) e jamais frequentou
uma universidade. Escreveu nove romances, cerca de duzentos contos, seiscen-
tas crônicas, além de peças de teatro, poemas e ensaios.
Sua madrinha se chamava Maria, e seu padrinho, Joaquim. Foi por isso que
o pai lhe deu este nome: Joaquim Maria (do padrinho e da madrinha) Machado
(sobrenome da mãe) de Assis (sobrenome do pai).
Aos dez anos, ficou órfão de mãe e passou a ser cuidado pela madrasta, Ma-
ria Inês da Silva, que fazia doces que Machado vendia nas ruas, como hoje fa-
zem adolescentes e jovens nos faróis. Isto levou o menino a ter contato com
um padeiro que lhe ensinou Francês. Tornou-se também coroinha e sacristão,
e aprendeu Latim com o padre.
Aos 17 anos teve seu primeiro emprego: aprendiz de revisor e de tipógrafo
na Imprensa Nacional, onde foi orientado e ajudado por Manuel Antônio de
Almeida, autor de Memórias de um Sargento de Milícias. Em seguida, recebeu

15
ajuda de Quintino Bocaiúva (homenageado no nome de um bairro no Rio, co-
nhecido mais como Quintino apenas, onde nasceu o jogador Zico) e de Salda-
nha Marinho (pernambucano, que governou São Paulo e foi um dos autores de
nossa primeira Constituição).
Mas quem mais ajudou Machado de Assis foi a portuguesa Carolina Augus-
ta Xavier de Novais, uma solteirona de 35 anos, bonita, culta e elegante, que
ele desposou aos trinta anos. Ela vinha de uma desilusão amorosa com um
português, e a família dela não queria que a moça casasse com um mulato. O
casamento aconteceu, mas eles não tiveram filhos. O motivo foi confessado
em complexas sutilezas, como era de seu estilo, no fechamento de Memórias
Póstumas de Brás Cubas: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o
legado da nossa miséria”.
Por que estas explicações e por que estes trechos? O livro é o pão nosso de cada
dia, o pão do espírito. Ele nos alimenta a alma. E nos ajuda a aprender Português.
Depois do vocabulário, vamos às frases e orações que compõem um período.
Um ou mais períodos formam um parágrafo. Um ou mais parágrafos foram um
texto, que pode ser dividido em capítulos, como faz Machado nos seus romances.
O Português tem algumas singularidades. A maioria das palavras não tem
acento. A maioria das palavras são paroxítonas, isto é, a sílaba mais forte é a
penúltima: abacate, bergamota, cavalo, ditado, escola, faculdade, ginecologis-
ta, hospedagem, idealista, juramento, laranja, moleque, narciso, obcecado, po-
tranca, quadrado, recado, sulfato, timaço, umbanda, varanda, xavante, zeloso.
A ordem direta é predominante no Português. Isto é, para arrumar as pala-
vras e construir frases e orações, a ordem é a seguinte: primeiro o sujeito; de-
pois o verbo; por último, o(s) complemento (s). O professor ensinou concor-
dância verbal (ontem, na aula à distância, com exemplos na lousa eletrônica).
O aluno aprendeu a lição (com leitura, exemplos e exercícios feitos em casa).
Mas podemos construir frases também com outras ordens: complemento,
verbo, sujeito; verbo, complemento, sujeito; verbo, sujeito, complemento.
Machado de Assis, na abertura de Dom Casmurro, usou complemento(s)
(uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo), sujeito oculto, ver-
bo (encontrei), complemento(s) de novo (no trem da Central um rapaz aqui do
bairro, que eu conheço de vista e de chapéu).
No fechamento de Memórias Póstumas de Brás Cubas, ele usa a ordem dire-
ta: sujeito oculto, verbo (Não tive) complemento (filhos), e a seguir emenda outra

16
frase com sujeito oculto, verbo (não transmiti) complementos (a nenhuma cria-
tura o legado da nossa miséria).
Notem que as frases ou orações formam um ou mais períodos, como tam-
bém ocorre neste último caso, na abertura do romance Ressurreição, quando
ele usa complementos (“Naquele dia – já lá vão dez anos!”), sujeito (o dr. Félix)
verbo(s) (levantou-se tarde, abriu a janela e cumprimentou o sol). (...) sujeito
oculto, verbo (estamos) complementos (Alegres com vermos o ano que des-
ponta), e sujeito oculto de novo, verbo (não reparamos), complementos (que
ele é também um passo para a morte)”.
Ele nos disse que:
1) O dr. Félix levantou-se tarde;
2) (O dr. Félix) abriu a janela;
3) (O dr. Félix) cumprimentou o sol;
4) (o Dr. Félix fez as três coisas): “naquele dia”, “já lá vão dez anos”;
5) (Nós ficamos) alegres com vermos o ano que desponta;
6) (Nós) não reparamos que ele é também um passo para a morte.
Arrumando uma boa ordem também para os períodos, fazemos um parágrafo:
1) Capítulo I de Dom Casmurro. Primeiro parágrafo.
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da
Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumpri-
mentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da Lua e dos ministros, e acabou
recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem
inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os
olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e
metesse os versos no bolso.
2) Capítulo I de Ressurreição. Primeiro parágrafo.
“Naquele dia, — já lá vão dez anos! — o Dr. Félix levantou-se tarde, abriu a jane-
la e cumprimentou o sol. O dia estava esplêndido; uma fresca bafagem do mar
vinha quebrar um pouco os ardores do estio; algumas raras nuvenzinhas bran-
cas, finas e transparentes se destacavam no azul do céu. Chilreavam na chácara

17
vizinha à casa do doutor algumas aves afeitas à vida semi-urbana, semi-silvestre
que lhes pode oferecer uma chácara nas Laranjeiras. Parecia que toda a natu-
reza colaborava na inauguração do ano. Aqueles para quem a idade já desfez
o viço dos primeiros tempos, não se terão esquecido do fervor com que esse
dia é saudado na meninice e na adolescência. Tudo nos parece melhor e mais
belo, — fruto da nossa ilusão, — e alegres com vermos o ano que desponta, não
reparamos que ele é também um passo para a morte.”
3) Capítulo CLX de Memórias Póstumas de Brás Cubas Último parágrafo.
“Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do em-
plasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que,
ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor
do meu rosto. Mais; não padeci a morte de D. Plácida, nem a semidemência do
Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que
não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E
imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com
um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: —
Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”
Por fim, recomendamos que você faça boas leituras. Como estas, de Macha-
do de Assis, nosso maior escritor. Você vai aprender Português com os mestres
da língua portuguesa. E este é o maior deles. (fim).

18

Nem todo brasileiro
fala do mesmo jeito
1

22 •
capítulo 1
Apresentação do capítulo
Neste primeiro capítulo, discutiremos algumas diferenças entre “fala” e “es-
crita” e ainda as noções de variação linguística e adequação da linguagem.
Compreender o funcionamento básico da linguagem é essencial para utilizá-la
adequadamente. Além disso, é preciso aprender a norma padrão, estabelecida
pelas gramáticas, pois é ela que é exigida em contextos formais, assim, apre-
sentaremos alguns casos básicos que geram muita dúvida ao escrever e falar.
Esperamos que você conheça passe a usar os aspectos da norma padrão nos
contextos em que eles são exigidos.
OBJETIVOS

• Conceber fala e escrita não como modalidades opostas, mas como um continuum de diferenças;
• Apreender a variação linguística e a adequação da linguagem;
• Analisar as diferenças entre a norma padrão, culta e coloquial;
• Conhecer alguns usos linguísticos recomendados pela norma padrão.
REFLEXÃO
Você se lembra?
Você já parou para refletir sobre o papel central que a língua ocupa em nossas vidas? Cer-
tamente sim, pois utilizamos a língua e a linguagem nas mais diversas situações. A todo mo-
mento, usamos a fala, a escrita, gestos, símbolos, sinais e outras formas nos comunicarmos.
Mas você já observou que a língua que usamos para falar em situações informais com nossos
amigos íntimos e parentes é diferente da língua que empregamos em situações formais, com
chefes no trabalho, em reuniões de negócio, pessoas com as quais não temos intimidade etc.
Reparou também que dependendo do canal onde nos comunicamos ou nos expressamos, a
nossa língua muda? A linguagem das redes sociais é distinta das encontradas em romances,
artigos de opinião veiculados em jornais etc. Toda essa reflexão envolve uma teoria básica
sobre língua, linguagem, gêneros textuais, adequação da linguagem e outros termos que
você conhecerá nesse capítulo.

capítulo 1 • 23
O professor Luís Cláudio Dallier, no livro Comunicação e Expressão, trata
da variação linguística. Ele a define como o fenômeno de uma língua que sofre
variações ao longo do tempo, do espaço geográfico, do espaço ou da estrutura
social, da situação ou do contexto de uso. Isso significa dizer que uma língua
está sujeita a reajustar-se no tempo e no espaço para satisfazer às necessidades
de expressão e de comunicação, individual ou coletiva, de seus usuários.
Podemos abordar a variação linguística sob diversas perspectivas. Se levar-
mos em conta uma situação de comunicação qualquer, teremos alguns ele-
mentos que vão apontar para variedades no modo de usar a língua.
Por exemplo:
• Quem fala?
• Para quem fala?
• Quando fala?
• Como fala?
• Por que fala?
Essas perguntas evidenciam que nossa fala pode variar de acordo com a si-
tuação ou com o contexto da comunicação, conforme as pessoas que nos ou-
vem, o assunto de que estamos tratando ou a intenção de nossa mensagem.
Outra forma de abordarmos a variação linguística é por meio da constata-

24 •
capítulo 1
ção de variações no uso da língua em algumas dimensões:
a) Dimensão geográfica ou regional: um mesmo idioma pode variar de um
lugar para o outro.
Por exemplo, o Português tem variações nas nove nações lusófonas, isto
é, aquelas em que é a língua oficial ou uma das línguas oficiais: Angola, Bra-
sil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São
Tomé e Príncipe, Timor Leste. É muito falada também em regiões como Macau
(na China), Goa (na Índia), Galiza (na Espanha), sem contar regiões do Para-
guai, Uruguai e EUA.
Às vezes, há variações também dentro do próprio país em que o Português
é a língua oficial. Na escrita, que adota a norma culta, é mais uniforme, mas
na fala, não! O gaúcho fala de um modo que é só seu; o catarinense falado em
Florianópolis, uma ilha, não é o mesmo do resto do litoral, nem o da região ser-
rana, que é muito mas semelhante ao modo de falar do gaúcho. Os brasileiros
que habitam o Nordeste falam com variações, que se subdividem se os falantes
são baianos ou cearenses. Temos também o falar caipira, próprio do interior
do estado de São Paulo. Em Minas, a palavra “trem” tem tantos usos que num
dicionário do mineirês, seria um dos verbetes mais extensos.
Essas variações não atrapalham, antes enriquecem a língua portuguesa,
com um dia já foi enriquecida por árabes, judeus, espanhóis, índios, africanos,
alemães, franceses, italianos, poloneses etc. Por exemplo: quantos nomes de
pratos culinários são franceses ou de origem africana? Quantos nomes de rios,
lagoas e montanhas são indígenas? Quantas danças e canções foram trazidas
por imigrantes e ainda são cantadas na língua original? Quem já não ouviu a
expressão “mamma mia”, “porca miséria”
b) Dimensão social: a classe social dos falantes pode influenciar seu modo
de dizer as coisas. Por que acontece isso? Porque, por norma, quem está situa-
do do meio da pirâmide social para cima convive com quem fala de acordo com
a norma culta, uma vez que é maior a possibilidade de acesso ao ensino e aos
bens culturais (livros, bibliotecas, teatro, cinema etc.). E quem está na base da
pirâmide social lê pouco, não vai ao cinema, não vai ao teatro. não assina jornal
ou revista. Mas ainda assim sofre grande influência do rádio e da televisão, por
exemplo. E, mais recentemente, também da internet.

capítulo 1 • 25

Este cartum mostra um exemplo de variação na dimensão social.
c) Dimensão da idade: Pessoas de idades diferentes (crianças, jovens, adul-
tos e idosos) podem apresentar um modo variado de usar a língua. Veja o se-
guinte exemplo:
Situação: um jovem falando com seu pai ao telefone.
O jovem fala: Ô velho, já faz um tempão que sou dono do meu nariz... Sem-
pre batalhei, arrumei um trampo, dou um duro danado!
Me empresta o carango pr’eu sair com a gata hoje?
O pai responde: Só se você conseguir traduzir o que disse para uma lingua-
gem que eu gosto de ouvir de meu filho!
d) Dimensão do sexo: Em função de condicionamentos culturais e sociais,
homens e mulheres podem usar a língua ou se expressarem de forma diferente.
Vamos a um exemplo:
Homem: Cara, comprei uma camisa muito legal!
Mulher: Menina, comprei uma blusinha linda! Ela ficou “maaaaravilhosa”!
e) Dimensão da geração: Está relacionada com a variação histórica no uso
da língua. Veja o exemplo:
Jornal O Estado de S. Paulo, de 11 de março de 1900: “O dr. Vital Brasil se-
guiu hontem para Sorocaba, afim de obter aguas remanciais (...) para ser exami-

26 •
capítulo 1
nada aqui bacteriologica e chimicamente, aver se pode servir o abastecimento
de agua daquela cidade.”
Jornal O Estado de S. Paulo, de 11 de março de 2000:
“O governador do Rio, Anthony Garotinho, disse ontem que a principal cau-
sa da morte de 132 toneladas de peixes e crustáceos na Lagoa Rodrigo de Freitas
(...) foi o excesso de peixes e não o lançamento clandestino de esgoto.”
1.1 Fala e escrita
É comum ouvirmos que a fala é informal e a escrita, formal, que a fala não é
planejada e que a escrita é planejada, que a fala é repleta de “erros” e a escrita
não, que a fala é contextualizada e a escrita, descontextualizada etc. Porém,
essa visão dicotômica não está correta, visto que há muitos gêneros textuais
de língua falada que seguem os preceitos da norma padrão, como por exem-
plo, uma conferência, as notícias veiculadas nos grandes telejornais, uma
sentença proferida por um juiz, um discurso político bem planejado, uma
mesa-redonda etc. Por outro lado, existem exemplos de escrita informal,
como bilhetes, recados em redes sociais e outros repletos de informalidades,
como bem explica Marcuschi (2010, p. 9):
Em certos casos, as proximidades entre fala e escrita são tão estreitas que parece
haver uma mescla, quase uma fusão de ambas, numa sobreposição bastante grande
tanto nas estratégias textuais como nos contextos de realização. Em outros, a distância
é mais marcada, mas não a ponto de se ter dois sistemas linguísticos ou duas línguas,
como se disse por muito tempo. Uma vez concebidas dentro de um quadro de inter-re-
lações, sobreposições, gradações e mesclas, as relações entre fala e escrita recebem
um tratamento mais adequado, permitindo aos usuários da língua maior conforto em
suas atividades discursivas.
Dessa forma, Marcuschi sugere uma distinção entre fala e escrita baseada
em suas características estruturais, tais como se evidencia no quadro a seguir:
FALA ESCRITA
Plano da oralidade (prática social interativa)
Plano do letramento (diversas práticas
da escrita)

capítulo 1 • 27
Usa aparato biológico do ser humanoUsa “tecnologia” escrita
Sons articulados e significativos; aspec-
tos prosódicos, recursos expressivos
como gestualidade, movimentos do cor-
po, mímica etc.
Unidades alfabéticas, ideogramas ou
unidades iconográficas
Aspecto sonoro Aspecto gráfico
Quadro 2- Fala e escrita
(Elaborado pela autora com base em Marcuschi, 2010, p. 25-26)
Com base na concepção discursiva e no meio de produção, Marcuschi apre-
senta o seguinte gráfico:
GÊNEROS TEXTUAISMEIO DE PPRODUÇÃO
CONCEPÇÃO
DISCURSIVA
DOMÍNIO
Sonoro Gráfico Oral Escrita
Conversação
espontânea
X X A
Artigo científico X X D
Notícia de TV X X C
Entrevista publi-
cada na Veja
X X B
(MARCUSCHI, L. A., 2010, p. 40)
A produção do domínio “a” −conversação espontânea− é protótipo da orali-
dade por ser um texto tipicamente oral, visto que é sonoro e oral. A produção do
domínio “b” –entrevista publicada na revista Veja –não é um protótipo nem da
escrita nem da oralidade por ser um texto misto, já que é gráfico apesar de oral.

28 •
capítulo 1
A produção do domínio “c” –notícia de TV –também não é um protótipo, é mis-
to, uma vez que é sonoro apesar de escrito. A produção do domínio “d” –artigo
científico− é protótipo da escrita, uma vez que é um texto tipicamente escrito,
pois é gráfico e escrito.
Marcuschi (201, p. 35) expressa claramente que: “(...) assim como a fala não
apresenta propriedades intrínsecas negativas, também a escrita não tem pro-
priedades intrínsecas privilegiadas.” O que ocorre é que na língua falada es-
pontaneamente com pessoas com quem se tem intimidade, é comum desvios
gramaticais, pausas, repetições, uso de marcadores conversacionais como “né,
então, aí”, tomadas de turnos, apagamento dos /r/ finais, elevação das vogais,
como “iscola”, “mininu”, dentre outras coloquialidades. Deve ficar claro que
não defendemos aqui uma ou outra modalidade, nem pregamos o uso da nor-
ma coloquial, apenas ressalvo a importância de que você, falante do idioma,
saiba que as conversas espontâneas comumente distanciam-se da norma pa-
drão, e que em contextos formais, mesmo que você empregue a língua falada,
precisará usar a norma padrão. Mas você conhece os conceitos: norma padrão,
norma coloquial, norma culta etc.?
1.2 Norma padrão, norma culta e norma popular
A Linguística discute o conceito de “norma” relacionando-o aos comportamen-
tos linguísticos dos indivíduos e ao sistema ideal de valores. Para você, estudan-
te de nível superior, as discussões aprofundadas sobre tais conceitos podem
não ser essenciais, mas é preciso conhecer a diferença entre os termos “norma
culta e norma padrão”, usados como sinônimos no cotidiano.
Lucchesi (2002, p. 64) explica-nos que a norma padrão diz respeito às for-
mas contidas e prescritas pelas gramáticas normativas, como por exemplo, a
recomendação para usar a mesóclise com verbos no futuro do presente do indi-
cativo ou no futuro do pretérito (Dar-te-ei um prêmio se acertar a resposta! Dar-
te-ia um prêmio se acertasse a resposta). Já a norma culta contém as “formas
efetivamente depreendidas da fala dos segmentos plenamente escolarizados,
ou seja, dos falantes com curso superior completo”. Com base nos estudos lin-
guísticos feitos sobre a língua falada culta em diversas regiões do país, como
o Projeto NURC, por exemplo, é possível afirmar que nem mesmo na norma
culta, isto é, nem mesmo os falantes escolarizados, ditos cultos, utilizam a nor-
ma padrão em todos os momentos. Todavia, é possível que os falantes cultos

capítulo 1 • 29
não sejam mal avaliados por não usarem a mesóclise porque esta norma não é
estigmatizada. Já um indivíduo que diga: “Nóis vai, nóis qué” provavelmente,
será mal avaliado e poderá sofrer preconceito linguístico porque a ausência de
concordância verbal é uma variante estigmatizada. Entre esses extremos, há a
norma coloquial, usada no dia-a-dia, nas conversas informais com amigos, nos
bilhetes, nas redes sociais etc. É considerada uma linguagem mais descontraí-
da, sem formalidades, com gírias, diminutivos afetivos, termos regionais, abre-
viações, contrações etc. Nela, são comuns construções como: “A gente qué” (ao
invés da construção padrão: “Nós queremos”); “As menina adora” (ao invés da
padrão: “As meninas adoram”), “O filme que eu assisti” (ao invés da padrão:
“O filme a que eu assisti”); “Me empresta o lápis” (ao invés de: “Empreste-me
o lápis”) etc. Poderíamos apresentar uma imensa lista com desvios da norma
padrão muito comuns na linguagem coloquial (também chamada de popular)
porque a norma padrão está mito distante do uso que os falantes fazem, em
geral, da língua. Porém, é importante frisar três aspectos aqui discutidos, explí-
cita ou implicitamente:
1) A língua varia de acordo com a situação e ouros fatores sociais como, es-
colaridade, sexo, nível social etc.;
2) Não se deve julgar, menosprezar ou demonstrar preconceito pelo modo
como alguém ala ou escreve, pois não há uma forma linguística superior à outra;
3) Embora não se deva julgar ou condenar alguém pelo uso linguístico que
faz, você deve saber utilizar a norma padrão nos contextos em que ela é exigida.
Diante das considerações feitas, serão apresentadas, ao fim desse capítulo,
algumas construções típicas da linguagem coloquial, mas que devem ser evita-
das em situações formais, quando a norma padrão é a esperada, como em con-
ferências, seminários, redações de vestibulares, notícias, reportagens, artigos
científicos, trabalhos acadêmicos, dentre outros.
1.3 Construções da norma padrão e da norma coloquial: correções
dos desvios mais comuns
As discussões sobre “adequação da linguagem” e norma padrão/culta/popular
ilustram a importância do conhecimento da norma padrão principalmente
nos contextos formais das relações profissionais. É preciso dominar as regras
gramaticais, saber conjugar os verbos, usar a concordância, os pronomes, a
acentuação, a pontuação, as preposições, dentre outros itens gramaticais im-

30 •
capítulo 1
portantes tanto para uma boa redação como para uma boa interpretação textu-
al. Na linguagem cotidiana, cometemos muitos desvios em relação ao padrão,
entretanto, quanto for usar a língua em situações formais, precisará obedecer
aos preceitos do padrão.
A seguir, apresentam-se algumas construções típicas da linguagem po-
pular, coloquial, sobre as quais, muitos falantes têm dúvidas.
1- ONDE x AONDE
Utiliza-se “aonde” quando o verbo expressar movimento, como em: “Aonde
você vai?”; já quando indica permanência em um lugar, o correto é usar “onde”,
como em: “Onde você está?”. Veja outros exemplos:
O político sabia bem aonde queria chegar.
Orgulho-me muito do lugar vivo.
2- HÁ x A
Inúmeros estudantes cometem desvios do padrão usando “há” no lugar de “a”
e vice-versa. A regra é a seguinte:
a) usa-se “há” quando se flexiona o verbo “haver” no presente do indicativo,
para expressar “existência”, como em: “Há muitas pessoas nesse show.”
b) usa-se “há” quando se flexiona o verbo “haver” no presente do indicativo,
para expressar “tempo já passado”, como em: “Há alguns anos, visitei esta cidade.”
Atenção: Muitas pessoas usam a expressão “há anos atrás”, que é conside-
rada pleonasmo vicioso, pois o haver já indicaria passado, sendo desnecessário
usar “atrás”.
Veja o seguinte exemplo:
Já o uso de “A” ocorre nos seguintes casos:
a) Como artigo definido:
A professora explicou a matéria.
b) Como tempo futuro:
Ela fará o discurso daqui a 10 minutos.
Daqui a pouco, iniciaremos a reunião.

Se “daqui a pouco” indica futuro...não pode ser “há”.

capítulo 1 • 31
3- MAU x MAL
No cotidiano, muitas pessoas usam indistintamente “mal e mau”, porém, “mau”
é adjetivo e “mal”, advérbio. Existe um famoso macete para não errar mais:

MAL é o oposto de BEM
MAU é o oposto de BOM
O macete é bom para decorar o uso, mas entenda o motivo, veja:
a) O homem mau ignora os outros.
b) O homem está passando mal.
Nesses dois exemplos, você percebe que em “O homem MAU”, a palavra
mau se refere ao substantivo homem. Logo, trata-se de um adjetivo, que é uma
classe gramatical que se flexiona em gênero, número e grau:
- Os homens maus (flexão de número);
- As mulheres más (flexão de gênero: masc./fem.)
- Os homens são tão maus quanto as mulheres (grau comparativo).
Já no exemplo B, mal é um advérbio, por isso não pode sofrer variação. Ob-
serve que se alterarmos o gênero e o número de “homem” em “b”, “mal” não
sofrerá nenhuma alteração:
- Os homens estão passando mal.
- As mulheres estão passando mal.
Obs.: A palavra MAL pode ser substantivo, por exemplo: “Este é um mal ne-
cessário”. Mas, nesse caso, haverá sempre um determinante qualquer, como o
artigo UM, e pode haver plural: “Os males da vida são muitos.”
4- MENOS x MENAS
A palavra “menos” também é muito usada como advérbio para indicar “menor
grau, menor intensidade e quantidade” e, como um advérbio, é invariável. Con-
tudo, no cotidiano, as pessoas a flexionam incorretamente em gênero e dizem:
“Comi menas comida hoje.”. Como “menos” é adverbio, é sempre invariável
e ficará sempre no singular, portanto, o correto, de acordo com o padrão é:
“Comi menos comida hoje.”

32 •
capítulo 1
5- “AO ENCONTRO DE” E “DE ENCONTRO A”
As expressões “ao encontro de” e “de encontro a” são extremamente usadas por
jornalistas e até em conversas cotidianas. Mas muitos a utilizam da forma in-
correta! Para não errar, atente-se às normas de uso de tais locuções:
1
Ao encontro de: significado “estar de acordo com”, “em direção a”, “favorá-
vel a”, “para junto de”. (está de acordo)
Exemplo: Meu texto está ao encontro do que o professor solicitou.
De encontro a: tem significado de “contra”, “em oposição a”, “para chocar-
se com”.
Exemplo: Meu texto está do encontro ao que o professor solicitou. (está em
desacordo)
A fim de ilustrar a importância da gramática para o sentido, apresentamos,
a seguir, uma frase de uma notícia que relata a iniciativa da prefeitura de São
Paulo de oferecer moradia, trabalho remunerado e treinamento profissional
a dependentes químicos da região conhecida como Cracolândia. Veja como o
conhecimento da língua é relevante para o sentido, pois se mudarmos apenas
uma preposição, o significado da frase altera-se totalmente:
“Dar trabalho e moradia aos usuários de drogas vai ao encontro do que a
Organização das Nações Unidas (ONU) defende para combater o vício” (Época,
13 jan. de 2014, p. 11).
O jornalista usou adequadamente a locução prepositiva “ao encontro do”,
transmitindo a ideia de acordo com o contexto da notícia, isto é, a ação rea-
lizada pela prefeitura de São Paulo está em conformidade com o que defen-
de a ONU. Entretanto, muitas pessoas não sabem quando devem utilizar “ao
encontro ou de encontro”. Imagine se a frase tivesse sido escrita dessa forma:
“Dar trabalho e moradia aos usuários de drogas vai de encontro do que a Or-
ganização das Nações Unidas (ONU) defende para combater o vício”. Usando
“de encontro”, o sentido da frase seria o oposto, a atitude da prefeitura de São
Paulo não estaria de acordo com o que defende a ONU. Percebeu a importância
do conhecimento da língua tanto para a interpretação como para a redação?
1 Todo o conteúdo desse item foi retirado de: CORDEIRO, M.B.G. Redação e Interpretação Textual. Estácio: Ribeirão
Preto, 2014, p. 28-29

capítulo 1 • 33
ATIVIDADE
Analise a linguagem usada no cartum a seguir para responder à questão 1.
1. Analise a variação linguística presente na tirinha e as considerações a seguir:
I. A situação retratada pode ilustrar a variação diatópica, referente às diferenças entre
as regiões no modo de falar (semântica, sintaxe, fonologia, morfologia), pois mostra uma
forma típica dos gaúchos se comunicarem.
II. A situação retratada pode ilustrar a variação diastrática, referente a fatores sociais,
tais como: faixa etária, profissão, estrato social, escolaridade, gênero etc., pois mostra os
dialetos diferentes de um garoto e de um senhor.
III. A situação retratada pode ilustrar a variação diafásica, referente ao contexto comu-
nicativo; a situação exigirá o uso de um modo de falar distinto, pois os falantes encon-
tram-se em uma situação informal e usam expressões populares.
IV. A linguagem usada constitui exemplo de vernáculo no sentido do uso específico,
regional que se faz da língua.
V. A linguagem usada constitui exemplo de vernáculo no sentido de língua nacional de
um país.
Estão corretas as afirmativas feitas em:
a) Todas, exceto V.
b) I e II, apenas.
c) I, II e III.

34 •
capítulo 1
d) Todas, exceto IV.
e) II e IV, apenas.
2. Assinale a única alternativa que apresenta uma informação INCORRETA sobre o texto
oral e o escrito.
a) As diferenças entre fala e escrita ocorrem mediante uma gradação, esta é baseada no
meio de distribuição (sonoro ou gráfico) e na concepção discursiva (oral ou escrita) de
acordo com uma maior ou menor aproximação de uma ou de outra modalidade (gêneros
de fala e de escrita).
b) Gêneros orais espontâneos, como uma conversa informal, por exemplo, apresentam
relativa fragmentação: frases curtas e margeadas por pausas.
c) Nos gêneros orais espontâneos, como uma conversa informal, por exemplo, há pre-
sença explícita de hesitação, pois o planejamento e a execução são simultâneos.
d) Frases mais longas, encadeamento sintático complexo (coordenação e subordinação) são
características de gêneros escritos formais, como teses, dissertações, artigos científicos etc.
e) São características distintivas da fala e da escrita: A fala é contextualizada e a escrita,
descontextualizada. A fala não é planejada e a escrita é; a fala não é normatizada e a
escrita sim; a fala é pouco elaborada e a escrita é complexa.
Com base no cartum, responda às questões a seguir:

capítulo 1 • 35
3- Analise as informações sobre variação linguística, norma e uso em relação à fala da
personagem da charge.
I. A fala da personagem exemplifica a variação linguística, pois o protagonista usa uma
variante típica da linguagem informal: a abreviação do verbo “está” para “tá”.
II. Não há erro gramatical na charge, pois a informalidade expressa na fala do protago-
nista representa uma linguagem coloquial, na qual não se exige o cumprimento rigoroso
das normas gramaticais.
III. Há erro linguístico na charge, pois o cartunista deveria ter usado a norma padrão, já
que a charge é um gênero destinado principalmente a um público culto.
IV. Se o enunciado da charge fosse produzido em um pronunciamento oficial do Governo,
por exemplo, deveria ser usada uma linguagem culta, de acordo com o padrão.
Estão corretas as afirmações feitas em:
a) I e II, apenas.
b) I e III, apenas.
c) I e IV, apenas.
d) II e IV, apenas.
e) I, II e IV.
4- A fala da personagem ilustra, essencialmente, a(s) variação(ções):
a) Diatópica, apenas;
b) Diastrática e diafásica;
c) Diafásica, apenas;
d) Diastrática, penas.
e) Diafásica e diatópica.
5- Relacione os conceitos às respectivas nomenclaturas:
I. Norma culta;
II. Norma padrão;
III. Gramática Normativa;
IV. Prescrição;
V. Uso.
( ) Norma estabelecida pela tradição gramatical; prestígio social.
( ) O verbo deve concordar com o sujeito.
( ) O uso linguístico feito por falantes escolarizados que normalmente conhecem a nor-
ma padrão.
( ) Diminuiu os casos de fome no país.

36 •
capítulo 1
( ) Pilar da norma padrão; deve ser trabalhada na universidade, pois é esperado que
falantes escolarizados a dominem nas situações de uso formais.
Assinale a alternativa que relaciona corretamente as nomenclaturas às suas definições:
a) (I); (II); (III); (IV); (V);
b) (V); (IV); (III); (II); (I);
c) (I); (IV); (II); (V); (III);
d) (II); (IV); (I); (V); (III);
e) (II); (III); (I); (V); (IV).
REFLEXÃO
Encerramos a reflexão deste capítulo com as palavras de Leite e Callou (2002), que, de
forma brilhante, explicam a íntima relação entre língua e sociedade, evidenciando o caráter
simbólico que os usos linguísticos apresentam.
É através da linguagem que uma sociedade se comunica e retrata o conhecimento e
entendimento de si própria e do mundo que a cerca. É na linguagem que se refletem a identi-
ficação e a diferenciação de cada comunidade e também inserção do indivíduo em diferentes
agrupamentos, estratos social, faixas etárias, gêneros, graus de escolaridade. A fala tem,
assim, um caráter emblemático, que indica se o falante é brasileiro ou português, francês ou
italiano, e mais ainda, sendo brasileiro, se é nordestino ou carioca. A linguagem também ofe-
rece pistas que permitem dizer se o locutor é homem ou mulher, se é jovem ou idoso, se tem
curso primário, universitário ou se é iletrado. E, por ser um parâmetro que permite classificar o
indivíduo de acordo com sua nacionalidade e naturalidade, sua condição econômica ou social
e seu grau de instrução, é frequentemente usada para discriminar e estigmatizar o falante. De
uma perspectiva estritamente linguística, não se justificam julgamentos de valor, uma vez que
a faculdade da linguagem é inata e comum a toda espécie humana. As diferenças existentes
entre as línguas representam apenas formas de atualização distintas dessa faculdade uni-
versal. Assim, para o linguista, todo homem é igual não só perante a lei, mas também frente
a sua capacidade linguística. (LEITE, Y.; CALLOU, D. 2002, p. 7-8)

capítulo 1 • 37
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEZERRA, M. A.; SOUTO MAIOR, A. C.; BARROS, A. C. S. A gíria: do registro coloquial ao
registro formal. In: IV Congresso Nacional de Linguística e Filologia, Rio de Janeiro, v. I, nº 3,
p. 37, 2000.
CORDEIRO, M.B.G. Redação e Interpretação Textual. Estácio: Ribeirão Preto, 2015.
DALLIER, L.C. Comunicação e expressão. Ribeirão Preto: UNISEB, 2011, p. 53-56
LUCCHESI, D. Norma linguística e realidade social. In: BAGNO, M. (Org.) Linguística da nor-
ma. São Paulo: Loyola, 2002.
LEITE, Y.; CALLOU, D. Como falam os brasileiros. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 2002.
NERY, Alfredina. A língua muda conforme situação. In: Pág.3 Pedagogia e comunicação.
Disponível em: http://educacao.uol.com.br/portugues/ ult1706u80.jhtm. Acessando em: 10
de dezembro de 2009.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2004.
SEVERO, R. T. Língua e linguagem como organizadoras do pensamento em Saussure e Ben-
veniste. Entretextos, Londrina, v. 13, n. 1, p. 80-96, jan./jun. 2013
No próximo capítulo
No próximo capítulo, apresentaremos algumas prescrições da norma padrão.
As recomendações apontadas referem-se a algumas noções básicas de sintaxe,
tais como a regência nominal e verbal; verbos transitivos e intransitivos e con-
cordância verbal e nominal. Vamos despertar a curiosidade e aprender?

38 •
capítulo 1
ANOTAÇÕES

Noções básicas de
sintaxe: regência e
concordância
2

38 •
capítulo 2
Apresentação do Capítulo
Neste capítulo, vamos expor algumas prescrições gramaticais, construções tí-
picas da norma padrão e que devem ser respeitadas em contextos formais. As
lições básicas da sintaxe, da estrutura da oração são o sujeito e o predicado, são
funções elementares em torno das quais se organiza o enunciado, e, portanto,
você deve conhecê-las. A regência e a concordância, lições apresentadas neste
capítulo, relacionam-se indiretamente ao sujeito e predicado e constituem te-
mas muito explorados em concursos. Tanto na comunicação oral, como na es-
crita, são itens de avaliação, indicando claramente se o emissor é escolarizado
ou não. Desejamos que vocês sejam bem avaliados tanto na fala como na escrita!
OBJETIVOS
• Apresentar o conceito de sintaxe;
• Ensinar a transitividade de alguns verbos;
• Listar algumas regras de regência verbal e nominal e suas implicações semânticas;
• Comparar o uso da regência e da concordância verbal na norma padrão e na linguagem
coloquial;
• Elencar as regras gerais e alguns dos casos especiais de concordância nominal.
REFLEXÃO
Você se Lembra?
Você se recorda de ter ouvido alguma pessoa dizendo: “Assisti o filme”; “O livro
que preciso”, “As menina amam essa música”, “Segue os documentos anexo.” e
outras construções típicas da linguagem cotidiana? Certamente a resposta será
positiva. Mas você sabe que essas construções não obedecem à norma padrão?
De acordo com as regras da Gramática, o adequado seria: “Assisti ao filme”;
“O livro de que preciso”, “As meninas amam essa música”; “Seguem os docu-
mentos anexos.”. Para conhecer essas e outras regras, mergulhe no segundo
capítulo para usar corretamente as regras básicas de regência e concordância.

capítulo 2 • 39
1.1 Noções básicas da sintaxe
O termo “sintaxe” vem do grego “sintaxis” e significa: ordem, disposição. A es-
tudiosa Svobodová (2014) explica que além de estudar a organização das pa-
lavras na frase, a sintaxe analisa a relação lógica entre as palavras e as frases.
Na Gramática tradicional, a sintaxe estuda não só a ordem e disposição dos
termos, mas a relação entre eles e a função que desempenham na oração. A
classificação dos vocábulos de acordo com sua função sintática é dividida em
três grupos: os termos essenciais, os acessórios e os integrantes (SVOBODOVÁ,
2014, p. 7). Portanto, são estudadas funções sintáticas como as de sujeito, obje-
to, predicado, adjuntos adverbiais e adnominais, complemento nominal, tran-
sitividade verbal, regência, concordância etc. Neste capítulo, serão estudadas
apenas as três últimas funções sintáticas.
Você pode estar se perguntando por que estudar essa teoria, e a resposta é
rápida e simples: o capítulo 1 demonstrou claramente a necessidade de obe-
decer à norma padrão em contextos formais e as regras sintáticas do padrão
nem sempre são seguidas no uso coloquial da língua. Quem não segue as regras
sintáticas prescritas pela gramática comete um vício de linguagem denomina-
do “solecismo”. Bonito o nome né? Ele é mais comum do que se imagina na
linguagem usual, como por exemplo na frase: “Haviam dez alunos na sala”. En-
controu o solecismo? Não? Então, aprenda algumas regras básicas para evitar
tal vício de linguagem.
1.2 A transitividade verbal
Na Língua Portuguesa, os verbos são de diferentes tipos, podendo ter sentido
completo ou incompleto. São justamente os verbos o elemento central da ora-
ção, pois é em torno deles que se acrescentam complementos, adjuntos etc.
Dessa forma, o predicado é um elemento essencial da oração que traz a infor-
mação básica sobre o sujeito (ser de quem se declara algo) e é nele que se en-
contram os verbos.

40 •
capítulo 2
“Chama-se predicação verbal o modo pelo qual o verbo forma o predicado.
Há verbos que, por natureza, têm sentido completo, podendo, por si mesmos,
constituir o predicado: são os verbos de predicação completa, denominados in-
transitivos” (CEGALLA, 2009, p. 335). Veja o exemplo a seguir:
O cão late.
Sujeito Predicado (Verbo Intransitivo: VI)
Quanto à transitividade, os verbos são classificados em:
a) Intransitivos: VI
b) Transitivos diretos: VTD
c) Transitivos indiretos: VTI
d) Bitransitivos: VTDI
http://www.alunosonline.com.br/portugues/transitividade-intransitividade-verbal.html
a) Verbos intransitivos: VI
Os verbos intransitivos são aqueles que contêm toda a significação do pre-
dicado sem a necessidade de qualquer complemento, basta apenas a presença
do sujeito, como em:
“Marcos caiu”; “A bomba explodiu”; “O bebê dormiu”; “O sorvete derreteu”;
“A estrela brilha” etc. Note que nesses exemplos, o verbo traz a significação es-
sencial, não havendo necessidade de um termo para completar a ideia central.
Caso o falante queira acrescentar alguma informação adicional (e não obriga-

capítulo 2 • 41
tória, portanto), pode acrescentar termos acessórios, como os adjuntos adver-
biais: “Marcos caiu ontem”; “A bomba explodiu rapidamente”; “O bebê dormiu
logo”; “O sorvete derreteu rapidamente”; “A estrela brilha intensamente” etc.
Segundo Kury (2002, p. 28-29), há três tipos de verbos intransitivos:
• Verbos de fenômenos naturais ou acidentais: chover, ventar, nascer, mor-
rer, acontecer, ocorrer, cair, surgir, acordar, dormir, brilhar, morrer, girar etc.
“Um acidente aconteceu”; “A criança acordou”; “O vaso caiu” etc.
• Certos verbos de ação que exprimem fatos causados por um agente capaz
de executá-los: ler, brincar, trabalhar, correr, voar, etc.
Exemplos: “As crianças brincam e os pais trabalham”; “Os pássaros voam” etc.
• Verbos de movimento ou situação: chegar, vir, morar etc.
“O pai chegou”; “Ela mora aqui”.
Você, caro estudante, pode ser tentando a considerar estes últimos verbos
como transitivos, pois parece que precisam de um “complemento”. No entan-
to, os termos que podem acompanhá-los são acessórios, como os adjuntos ad-
verbiais de lugar e tempo, por exemplo. Assim, “Cheguei ao local”; o termo “ao
local” é adjunto adverbial e não objeto, isto é, não se classifica como comple-
mento verbal. Para frisar:
Verbos intransitivos expressam uma ideia completa, e por isso, não preci-
sam de complemento.
b) Verbos transitivos: são aqueles que necessitam de um complemento, isto
é, seu sentido é incompleto, precisando de um complemento, chamado “obje-
to”. Eles classificam-se em transitivos diretos e indiretos:
- Transitivos diretos (VTD): ligam-se ao complemento sem preposição obri-
gatória: amar, pegar, ver, derrubar, olhar, ter etc.

42 •
capítulo 2
ATENÇÃO
Recorde as principais preposições: a – ante – até – após – com – contra – de – desde – em
– entre – para – por – perante – sem – sob – sobre
Você precisa saber diferenciar quando o “a” é artigo e quando é preposição:
Vi a menina caindo. (a=artigo)
Obedeço à professora (a=preposição)
O estudante deve saber ainda que há alguns verbos transitivos diretos que podem ser
usados com preposição por questões estilísticas e de sentido, e nesses casos, os objetos
serão considerados objetos diretos preposicionados, como em: “Amo a Deus, primeiramente!”
- Transitivos indiretos (VTI): ligam-se ao complemento obrigatoriamente
por meio de uma preposição: gostar (de); pensar (em); necessitar (de); consistir
(em); obedecer (a); responder (a); simpatizar/antipatizar (com) etc...

- Verbos transitivos diretos e indiretos (VTDI): transitam duas vezes e por
isso, têm um objeto direto e um indireto: Agradecer X a Y; Perdoar X a Y;e Pagar
X a Y; Dar X a Y etc.
ATENÇÃO
A transitividade verbal deverá ser analisada no contexto, pois pode mudar dependendo da
frase. Por exemplo, na frase: “Paguei a conta”, o verbo “pagar”, nesse contexto, é apenas VTD,
transita apenas uma vez e tem apenas o objeto direto.

capítulo 2 • 43
Conhecer a transitividade verbal, conforme as recomendações das gramáti-
cas tradicionais, é essencial para escrever melhor (adequado ao padrão) e tam-
bém para interpretar. Quando se conhece a transitividade, utiliza-se a regência
padrão, os pronomes adequadamente, a crase e outras normas. Quanto à inte-
pretação, é preciso saber que a regência dos verbos pode alterar seu sentido,
então, estude algumas regras de regência, a seguir.
1.3 A regência verbal
Cegalla (2008, p. 483) explica que a regência trata das “relações de dependência
que as palavras mantêm na frase”. Há dois tipos de regência: a verbal, que trata
das relações entre o verbo e seus complementos, e a nominal, que cuida dos
arranjos entre os nomes (substantivos e adjetivos) e os termos a eles ligados.
Exemplos:
a) É um homem propenso ao vício.
Adjetivo complemento
O adjetivo “propenso” é o termo regente, e “ao vício”, o termo regido. Como
o adjetivo é considerado um nome, trata-se de um caso de regência nominal.
b) Assistimos à peça de teatro.
Verbo complemento
O verbo “assistimos” é o termo regente, e “à peça”, o termo regido. Quando
a relação se dá entre o verbo e seu complemento, ocorre um caso de regência
verbal.

Assisti a peça de teatro (auxiliei) Assisti à peça de teatro (presenciei)

44 •
capítulo 2
Se você escrever: “Assisti a peça de teatro”, sem o acento grave (indicativo de
“crase”), sua frase poderá ser entendida da seguinte forma: “Auxiliei a monta-
gem da peça de teatro”, e não “presenciei”.
Após a definição, Cegalla (2008, p. 490) orienta que a regência dos verbos
pode alterar seu sentido, como, por exemplo, em:
Aspirei o aroma das flores (VTD: sorver, absorver).
Aspirei ao sacerdócio (VTI: desejar, pretender).
Ele assistiu ao jogo (VTD: presenciar, ver).
O médico assistiu o enfermo (VTI: prestar assistência, ajudar).
Aqui, cabe a seguinte ressalva: Na linguagem informal, popular, “assistir
mesmo com o sentido de presenciar, tem sido empregado como VTD, isto é,
sem preposição. Assim, são comuns construções populares como: “Assisti o fil-
me”. Porém, quando se exigir o padrão, você já sabe que deve dizer ou escrever:
“Assisti ao filme”.
Olhe para ele (VTI: fixar o olhar).
Olhe por ele (VTI: cuidar, interessar-se).
Ele não precisou a quantia (VTD: informar com exatidão).
Ele não precisou da quantia (VTI: necessitar).
A cadela agradava o filhote (VTD: acariciar).
A música não agradou aos fãs (VTI: ser agradável).
Queria as férias logo (VTD: desejar).
A mãe quer aos filhos igualmente (VTI: ter afeto).
O atirador visou o alvo (VTD- apontar)
O professor visou meu caderno (VTD: pôr visto)
Muitos visam aos cargos melhores (VTI: desejar, ter em vista)

capítulo 2 • 45
Lembre-se disso: se você não usar “visar” com preposição,
o sentido do verbo será o de “dar visto, assinar”!
O juiz procedeu adequadamente (VI: agir).
Estas mercadorias procedem da China (VI seguido de adjunto adverbial de
origem, com preposição de: originar-se)
Seu argumento não procede (VI: ter fundamento)
O juiz procedeu ao julgamento. (VTI: dar sequência, dar continuidade)
Cegalla (2008, p. 490-515) recomenda a regência de vários verbos, dentre os
quais listamos os seguintes:2
a) Abdicar (desistir, renunciar ao poder, cargo, título, dignidade) pode ser
transitivo direto (TD) ou transitivo indireto (TI) (preposição de):
Exemplos:
- D. Pedro I abdicou em 1831 (VI).
- Não abdicarei a coroa (VTD).
- Não abdicarei de meus direitos (VTI).
b) Agradar (causar agrado, contentar, satisfazer, aprazer): usa-se, atualmen-
te, com mais frequência, com objeto indireto, sendo o sujeito da oração nome
de coisa (uma coisa agrada a alguém):
- A canção agradou ao público.
-Minha proposta não lhe agradou.
2 Todo o conteúdo desse item foi retirado de: CORDEIRO, M.B.G. Produção Textual I. Estácio: Ribeirão Preto, 2015

46 •
capítulo 2
ATENÇÃO
Quando o sujeito da oração é nome de pessoa (alguém agrada alguém), é comum usar o
objeto direto, isto é, sem preposição:
- O pai agrada os filhos. [alguém agrada alguém]
- Procura agradá-lo de todas as formas.
*Usa-se o verbo como intransitivo na acepção de causar satisfação, ser
agradável ou atraente.
- A exibição do balé não agradou.
- Em certas horas, nada agrada tanto quanto uma boa música.
*Apresenta-se com a forma pronominal, no sentido de gostar:
- Leila agradou-se muito do rapaz.
- A virtude de que Deus mais se agrada é a humildade.
c) Ajudar (alguém, prestar ajuda, auxiliar a alguém) é TD:
- Antônio ajudava o pai.
- Nós os ajudaremos.
- Elas não queriam que as ajudássemos.
d) Aludir (fazer alusão, referir-se a) é VTI, isto é, constrói-se com OI:
- Na conversa, aludiu-se brevemente ao seu novo projeto.
- A que o senhor está aludindo?
- O jornal a que o ministro aludiu lhe fazia duras críticas.
ATENÇÃO
Não admite, como complemento, o pronome lhe, mesmo sendo VTI:
Como era melindroso, não aludi a ele (e não lhe aludi).
Aquela moça o destratara, mas ele nem sequer aludiu a ela.
Outros verbos TI também não admitem o complemento lhe(s), sendo, por isso, construí-
dos com as formas preposicionadas:

capítulo 2 • 47
Aspiro ao título. Aspiro a ele.
Assistimos à festa. Assistimos a ela.
Refiro-me a João. Refiro-me a ele.
Recorri ao ministro. Recorri a ele.
Dependo de Deus. Dependo dEle.
Prescindimos de armas. Prescindimos delas.
e) Ansiar (desejar ardentemente) é TI. Use-o com a preposição [por]:
-Ansiou por ir ao seu encontro.
- Ansiava por me ver fora de casa.
Ansiar (= causar mal-estar, angustiar) é TD:
- O cansaço ansiava o trabalhador.
O cansaço ansiava-o.
f) Atender (acolher ou receber alguém com atenção): VTD:
- O diretor atendeu os alunos.
- O médico sempre os atende bem.
- O tenista não atendeu o repórter.
* Atender (dar atenção a alguém, ouvir-lhe os conselhos, levar em conside-
ração o que alguém nos diz): VTI:
- Não atendera aos amigos, fora entregar-se a impostores.
* Atender (considerar, prestar atenção, levar em consideração, satisfazer):
- Atenda bem ao que lhe digo.
O Corpo de Bombeiros atendeu a doze pedidos de socorro.
g) Bater (dar pancadas): VTI:
- Os colegas mais fortes batiam nos mais fracos.
- Por que batiam no menino? Por que lhe batiam?
*Bater (bater a porta, fechar com força): VTD
- Furioso, bateu a porta.

48 •
capítulo 2
*Bater (junto à porta para que abram ou atendam): VTI
- Bateram à porta e fui atender.
Ao estudar pela primeira vez a regência, pode parecer um assunto difícil, mas com o
tempo, assimilam-se os diferentes casos.
1.3.1  Regência verbal: variação, uso e norma gramatical
A regência é um fator que sofre variação, isto é, realiza-se de formas diferentes
no uso linguístico. Há o uso padrão, valorizado socialmente, e o uso coloquial,
que não segue as prescrições gramaticais. Para finalizar a regência, listamos
alguns desses casos.
a) Chegar com o sentido “atingir data ou local”.
- Na linguagem coloquial (informal), o verbo chegar é usado indevidamente
com a preposição em:
“Chegamos em casa; chegamos no porão”;
- Na linguagem padrão (formal), o verbo chegar deve ser usado com a pre-
posição “a”:
“Chegamos a casa; chegamos ao porão”.
b) Esquecer; esquecer-se/lembrar; lembrar-se:
- Na linguagem coloquial (informal), o verbo esquecer é usado indistinta-
mente com ou sem a preposição de:
“Esquecemos do calendário; esquecemos o calendário”;
- Na linguagem padrão (formal), o verbo esquecer deve ser usado sem a pre-
posição de quando não ocorre em sua forma pronominal:
“Esquecemos o calendário”;
Contudo, em sua forma nominal (esquecer-se), deve ser usado com a pre-
posição:
“Esquecemo-nos do calendário”.

capítulo 2 • 49
ATENÇÃO
“lembrar”/”lembrar-se” segue a mesma regra:
“Lembrei o compromisso de hoje.” OU: “Lembrei-me do compromisso de hoje.”
c) Implicar com o sentido de “causar”:
- Na linguagem coloquial (informal), muitos falantes usam o verbo impli-
car como transitivo indireto, como em: “O aumento da inflação implicou no
aumento dos preços.”
- Na linguagem padrão (formal), o verbo implicar deve ser usado sem a pre-
posição em:
“O aumento da inflação implicou o aumento dos preços.”
d) Namorar:
- Na linguagem coloquial (informal), muitos falantes usam o verbo namo-
rar como transitivo indireto, como em: “Namorei com Paulo por muitos anos.”
- Na linguagem padrão (formal), o verbo namorar deve ser usado sem a pre-
posição com:
“Namorei Paulo por muitos anos.”
e) Preferir:
- Na linguagem coloquial (informal), muitos falantes usam o verbo preferir
com a locução prepositiva “do que”; “Prefiro X do que Y”, como em: “Prefiro
assistir à TV do que ler.”
- Na linguagem padrão (formal), o verbo preferir deve ser usado sem a pre-
posição a:
“Prefiro assistir à TV a ler.”
f) Ir (para indicar direção):
- Na linguagem coloquial (informal), muitos falantes usam o verbo com a
preposição em: “Vou no mercado”; “Fui no shopping”.
- Na linguagem padrão (formal), devem ser regidos pelas preposições “a” e
“para”.
“Vou ao mercado./ Fui à feira.”

50 •
capítulo 2
g) Obedecer e desobedecer:
Devem ser complementados pela preposição “a”, de acordo com a norma
padrão.
Obedeça à sinalização.
Obedecer aos pais sempre foi recomendado.
Cada vez mais vemos empresas desobedecendo ao código do consumidor.
h) Emprestar:
Deve ser usado somente no sentido de ceder por empréstimo, de acordo
com a norma padrão.
Emprestei os livros à diretora da empresa.
i) Morar e residir:
Devem ser empregados com a preposição “em”, antes do local de moradia
ou residência, de acordo com a norma padrão.
Moro na Avenida Marechal Rondom.
O diretor reside na Avenida Independência.
OBS.: expressões como residente e situado(a) devem ser seguidas da prepo-
sição “em”:
Amando Franco, residente na Avenida Central.
Casa Silva, situada na Avenida Quintino de Abreu
1.4 Regência nominal
É muito comum alguns termos regidos serem ligados aos regentes por meio
de preposições. Por isso, estudar regência é importante não só para saber se
determinado termo exige preposição ou não, mas também para conhecer qual
a preposição usada com tal termo regente e regido. A regência nominal estuda
a relação dos nomes (adjetivos, substantivos e até advérbios) com seus comple-
mentos.
Veja, agora, a lista de substantivos e adjetivos acompanhados das preposi-
ções mais usuais que Cegalla (2008, p. 487-488) apresenta. Note que, em alguns
casos, admite-se mais de uma preposição:

capítulo 2 • 51
Acessível a
Afável com, para com
Afeição a, por
Aflito com, por
Ansioso por, de
Atentatório a, de
Aversão a, para, por
Alheio a, de
Avesso a
Aliado a, com
Análogo a
Antipatia a, contra, por
Apto a, para
Atencioso com, para com
Imune a, de
Indulgente com, para com
Inerente a
Coerente com
Compaixão de, para com, por
Compatível com
Conforme a, com
Constituído de, com, por
Contente com, por, de, em
Contíguo a
Cruel com, para, para com
Curioso de, por
Desgostoso de, com
Desprezo a, de, por
Devoção a, para com, por
Devoto a, de
Dúvida acerca de, de, em, sobre
Empenho de, em, por
Fácil a, de, para
Falho de, em
Feliz com, de, em, por
Fértil de, em
Hostil a, para com
Junto a, com
Lento em
Pasmado de
Passível de
Peculiar a
Pendente de
Preferível a
Propício a
Próximo a, de
Rente a
Residente em
Respeito a, com, de, para com, por
Simpatia a, para com, por
Situado a, em, entre
Solidário com
Suspeito a, de
Último a, de, em
União a, com, entre
Versado em
Vizinho a, com, de
Observe também a regência de alguns advérbios: Longe de; Perto de; Parale-
lamente a; Relativamente a (PASQUALE & ULISSES, 1999, P. 527).
1.5 A variação linguística e a concordância verbal
Antes de estudarmos como a Gramática prescreve as regras gramaticais sobre

52 •
capítulo 2
concordância, apresentaremos, a seguir, uma breve explicação sobre a variação
linguística, adaptada da dissertação de Gameiro (2005, p. 49-71): “A variação na
concordância verbal na língua falada na região central do Estado de São Paulo”.
Ao estudarmos determinada língua, é possível notar variações em todos
os níveis da estrutura linguística: no morfológico, no fonológico, no sintáti-
co e no lexical.
A língua portuguesa falada no Brasil, como todo sistema linguístico, com-
porta em seu interior a variação e, assim, está continuamente em processo de
mudança. Embora a mudança seja natural à língua, ela incomoda alguns gra-
máticos e também alguns falantes nativos mais tradicionais e conservadores,
que acreditam que a variação constitui uma “degradação” da língua.
As gramáticas tradicionais veiculam uma norma padrão em detrimento da
popular, porém, esta norma padrão vem se afastando do uso concreto da língua
em situações menos formais.
No início de sua instituição, a norma foi justificada devido à ameaça da lín-
gua grega ser corrompida pela língua dos “bárbaros”. Entretanto, atualmente,
nossa língua não está ameaçada de extinção, por isso, Neves (2003) questiona
o porquê das gramáticas continuarem a veicular padrões sem reflexão alguma
e desconsiderarem o uso real da língua. A autora ressalta que as preocupações
atuais para a organização das gramáticas são totalmente diferentes das que le-
varam à instituição da disciplina gramatical.
A partir de estudos científicos da linguagem, a língua foi desvinculada de
qualquer valor político, social ou até mesmo de beleza estética. Dentre estes es-
tudos, destacamos a Sociolinguística, que passou a considerar o social no uso
da linguagem, demonstrando que os diferentes usos são adequados a diferentes
situações contextos. Para Neves, “a existência de registros não-padrão constitui
garantia de eficiência de uso” (2003, p. 34). A Sociolinguística, através de seus
estudos variacionistas que consideram o uso vinculado a padrões, registros e
eficácia, passou a considerar a diferença como garantia de eficiência e não mais
como deficiência, como era vista antes. O “padrão” foi relativizado nos estudos
de conversação ao ser vinculado à modalidade de língua (falada ou escrita).
Desta mesma forma, a Linguística demonstrou que não se deve atribuir va-
lor a qualquer modalidade da língua. Porém, apesar de todo este avanço nos
estudos linguísticos, as gramáticas continuam a apresentar uma norma padrão
que cada vez mais se afasta do uso real, como é o caso, por exemplo, dos prono-
mes oblíquos, e outros. Embora muitos de nossos gramáticos, ou “os verdadei-

capítulo 2 • 53
ros”, como afirma Neves, saibam disto, tais descobertas da Linguística não são
comumente aproveitadas pela disciplina gramatical.
Não se reconhece que a variação linguística faz parte da essência da lingua-
gem, que toda língua possui uma “deriva” (mudança interna). Ao contrário,
mesmo a par de todas estas descobertas é comum o preconceito linguístico por
parte de cidadãos comuns e até mesmo de professores. Há sim, um padrão lin-
guístico que é valorizado socialmente, mas não há nada intrinsecamente que o
faça “melhor”, “mais bonito” ou “mais correto” que a variante não prestigiada.
Trata-se de uma questão sociocultural.
Na sociedade em geral e principalmente em países como o Brasil, por exem-
plo, as pessoas que têm maior acesso à cultura são as de maior poder econômi-
co e isto sustenta a vinculação entre valor social e valor intelectual. Tal concep-
ção é mais evidente nas concepções leigas sobre o assunto e não baseadas em
estudos científicos. Desta forma, para um leigo, conhecer a língua é conhecer
a norma padrão, saber o que é certo e o que é errado e, por isso, tais pessoas
vivem cobrando do professor de português o que se deve e o que não se deve
dizer/escrever.
Neves (2003, p.54) acredita que o leigo seja “a força de sustentação de um
padrão modelar” à medida em que busca esta norma por diferentes motivos.
Para nós, a mitificação do “bom uso da linguagem”, não é construída apenas
pelo povo, pelo falante em geral, mas sim também pelos gramáticos tradicio-
nais e as instituições que eles representam ou às quais se associam, como es-
cola e mídia, por exemplo. Acreditamos, que o leigo represente uma influência
importante para a sustentação de um padrão modelar à medida que tenta man-
tê-lo ou aprendê-lo, entretanto, motivos sociais, tais como um emprego ou uma
posição social levam-no a buscar este modelo, este padrão.
Quem fala corretamente, bonito, como muitos dizem, desperta um prestí-
gio social por parte de quem o ouve, por isto, muitos buscam manuais com re-
gras explícitas do que se pode e o que não se pode utilizar na linguagem visando
a diferentes objetivos. Assim, basta observarmos o sucesso de professores de
português que ditam regras na TV e nos jornais e a baixa popularidade dos lin-
guistas, cuja missão de registrar as formas em variação não é compreendida
por muitos intelectuais.
Devido a esta pressão social, mesmo ocupando posição central no dia-a-dia
das pessoas, a língua falada é vista de modo negativo, como o lugar do erro e
do antimodelo. Porém, é nela que observamos as alterações que a língua so-

54 •
capítulo 2
fre através dos tempos. Parte da responsabilidade por esta visão deturpada da
modalidade falada deve-se à própria tradição dos estudos linguísticos, uma vez
que, até pouco tempo, a Linguística tomava como objeto de análise ou a escrita,
ou um modelo de fala idealizada, artificial e não a fala autêntica.
Lemle (in Sylvestre, 2001) ressalta que a heterogeneidade linguística é um
fato natural em uma comunidade tão extensa como a brasileira. A heteroge-
neidade linguística decorre da própria heterogeneidade social, geográfica e de
registro. A heterogeneidade geográfica é a variação entre comunidades linguís-
ticas localizadas em espaços fisicamente distantes entre si. Já a heterogeneida-
de social determina divergência linguística entre os subgrupos de uma comu-
nidade; neste nível, podemos destacar as seguintes variáveis:
- socioeconômica: classe baixa, média e alta;
- faixa etária: crianças, jovens, adultos e idosos;
- sexo: masculino e feminino;
- ocupação profissional: trabalhador braçal, profissões de nível médio e alto;
- desejo dos falantes em diferenciarem-se de outros grupos pelo uso de cer-
tas características linguísticas.
A variação no registro de uso ou nível de formalidade apresenta uma escala
que abarca desde o estilo mais formal até o mais coloquial. As variações que ocor-
rem na língua são mais frequentes em níveis informais, ou de baixa formalidade.
Podemos pensar, portanto, que o sistema linguístico sofre pressão de duas
forças que atuam no sentido da variedade e da unidade, no caso, fatores inter-
nos e externos em competição entre si. Segundo Mollica:
Esse princípio opera por meio da interação e da tensão de impulsos contrá-
rios, de tal modo que as línguas exibem inovações mantendo-se, contudo,
coesas: de um lado, o impulso à variação e possivelmente à mudança; de
outro, o impulso à convergência, base para a noção de comunidade lin-
guística, caracterizada por padrões estruturais e estilísticos (2003, p.12)..
Atualmente, vários fenômenos em variação no português brasileiro (dora-
vante PB) têm sido analisados pelos estudiosos, e um dos fatos que mais tem
nos despertado interesse é a variação na concordância verbal na fala informal

capítulo 2 • 55
das pessoas de um modo geral.
A questão da concordância é um dos fatos morfossintáticos da gramática
da fala brasileira que tem sido estudado com mais precisão e rigor entre os so-
ciolinguistas. Iniciados esses estudos por Naro (1977), com seu trabalho clássi-
co “The social and structural dimensions of a syntatic change” têm hoje Marta
Scherre como a sociolinguista que mais vem se dedicando ao assunto. (...)
A ausência de marcas formais de plural em alguns contextos constitui uma
variante estigmatizada, como em: “Nóis vai”, por exemplo. Embora a concor-
dância verbal (doravante CV) seja um fato estigmatizado, fato que poderia favo-
recer a aquisição da regra, quando o registro é informal e os contextos de apli-
cação da regra não são muito salientes, é interessante notar que até mesmo os
falantes ditos cultos deixam de utilizar a regra de concordância. Desta forma,
Ribeiro (2003, p.373) exemplificou alguns casos que não servem de indicadores
da norma culta ou popular, pois são realizados de um modo geral pelos falantes
brasileiros, não caracterizando uma ou outra variedade:
(1) Segue as blusas (CV)
(2) Vende-se casas (CV)
(3) Pega essas cadeira aí e coloca tudo ali, naquele lugar.3 (CN)
Por outro lado, apresenta casos em que a ausência de concordância caracte-
riza a norma popular:
(4) Minhas filha pequena saiu (CV e CN)
(5) Nós vai (CV)
(6) As folha cai no outono (CV e CN)
(7) Os meu filho (CN)
Partindo de exemplos de variações que ocorrem comumente na fala dos
brasileiros de um modo geral, tais como o uso do pronome tônico como obje-
to (encontrei ele), o caso das relativas (cortadora: Vi o artista que te falei ontem;
lembrete: Conheço uma moça que ela gosta só de música sertaneja) e outros, a
autora acredita que saindo das questões relacionadas à concordância, estes e ou-
tros fatores em variação que têm caracterizado a fala dos brasileiros, não podem
definir padrões de normas cultas e populares, já que tanto falantes cultos quanto
3 Este exemplo foi retirado de uma fala de um estudante universitário que fazia Letras.

56 •
capítulo 2
não cultos utilizam estas construções em situações de menor formalidade.
Após essas considerações feitas por Gameiro (2005), esperamos que você te-
nha compreendido um pouco mais sobre a variação da língua e especificamen-
te, a variação na concordância verbal (CV). Você deve ter notado que embora a
variação seja comum e natural, é preciso conhecer o padrão para falar e escrever
adequadamente nos contextos em que ele é exigido, por isso, passamos a des-
crever as regras de concordância verbal estipuladas pela Gramática Normativa.
1.5.1  As regras de concordância verbal de acordo com as Gramáticas Normativas
Recorremos à Said Ali Said, em sua Gramática Histórica da Língua Portu-
guesa (1965) para definir a concordância verbal:
Consiste a concordância em dar a certas palavras flexionáveis as formas
de gênero, número ou pessoa correspondentes à palavra que no discurso
se referem (...) A concordância não é, como parece à primeira vista, uma
necessidade imperiosamente ditada pela lógica. Repetir num termo deter-
minante ou informativo o gênero ou pessoa já marcados no termo deter-
minado de que se fala, é antes de tudo uma redundância. (ALI, 1965, p.279
apud GAMEIRO, 2005, p.65).
Bechara é mais sucinto e explica que a concordância, em geral, consiste “em
se adaptar a palavra determinante ao gênero, número e pessoa da palavra de-
terminada” (2000, p.543 apud GAMEIRO, 2005, p. 65). Dizer que um termo está
em concordância com outro termo significaria, portanto, dizer que ambos es-
tão de acordo em alguns aspectos, que eles concordam.
Após a definição de concordância, expõem-se as duas regras categóricas en-
contradas nas principais gramáticas:
1.5.1.1  1- Sujeito simples:
Se o sujeito simples estiver no singular, o verbo vai acompanhá-lo. Se estiver no
plural, o verbo terá o mesmo número. Cegalla (2008) nos explica que isto ocorre
porque há uma íntima relação entre sujeito e predicado, já que “sujeito é o ser
de quem se declara algo e o predicado é a declaração que se refere ao sujeito”.

capítulo 2 • 57
Exemplos:

CONCEITO
Você, embora seja usado como pronome pessoal para se referir à segunda pessoa do dis-
curso, é considerado pela Gramática Tradicional como um “Pronome de tratamento, usado
quando alguém se dirige a outrem, a uma segunda pessoa, mas que obriga à concordância
com o verbo na terceira pessoa (ex.: você foi indelicado; vocês tenham juízo)”"você", in Dicio-
nário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/
voc%C3%AA [consultado em 27-04-2015].

1.5.1.2  2- Sujeito composto:
Se o sujeito apresentar mais de um núcleo, ou seja, for composto, o verbo irá
para o plural:
“João e Maria foram abandonados.”
“Patrões e empregados brigam na justiça”.

58 •
capítulo 2
Além dessas duas regras categóricas, existem os chamados casos especiais,
em que pode ocorrer certa flexibilidade na obrigatoriedade, havendo, em al-
guns casos, a possibilidade de se utilizar as duas alternativas: o verbo pode ir
tanto para o singular quanto para o plural. Observemos alguns dos principais
casos que geram dúvidas.4
1.5.1.3  Verbo haver e fazer:
O verbo haver, quando indica existência ou acontecimento, é impessoal, deven-
do permanecer sempre na terceira pessoa do singular. Haver e fazer são impes-
soais quando indicam ideia de tempo, nesse caso, devem também permanecer
na terceira pessoa do singular.
Há informações que não podemos desprezar.
Havia três pessoas na reunião.
Deve ter havido sérios problemas com o computador.
Há anos não o procuro.
Faz anos que não o procuro.
Fazia dez anos que não encontrava aquele amigo.
1.5.1.4  Verbo e a partícula se:
Quando o “se” indica indeterminação do sujeito, o verbo fica na terceira pessoa
do singular. Quando o “se” é pronome apassivador, o verbo concorda com o
sujeito da oração.
4
Este exemplo foi retirado de uma fala de um estudante universitário que fazia Letras.
Aos sábados, assiste-se a um movimento enorme no comércio.
Precisa-se de gerentes.
Confia-se, equivocadamente, em pessoas que impressionam apenas pela
aparência.
Construiu-se um novo centro de tecnologia.
Construíram-se dois centros tecnológicos na cidade.
Alugam-se casas.
Aluga-se casa.
1.5.1.5  Sujeitos formados por expressões partitivas
Quando o sujeito é constituído por “a maioria de”, “grande parte de”, “a maior
parte de” ou “grande número de” mais o nome no plural, teremos a possibilida-

capítulo 2 • 59
de de colocar o verbo no singular ou plural.
A maior parte dos trabalhadores aceitou a orientação do sindicato.
A maior parte dos trabalhadores aceitaram a orientação do sindicato.
1.5.1.6  Expressão mais de um
O verbo deve ficar no singular. Apenas quando a expressão “mais de um” vier
repetida ou houver o sentido de reciprocidade é que o verbo irá ao plural.
Mais de um aluno faltou à aula.
As autoridades afirmaram que mais de um quarteirão está interditado.
Mais de um policial, mais de um bandido, foram mortos.
1.5.1.7  Nomes no plural
Títulos ou nomes de lugares precedidos de artigo no plural: o verbo irá ao plural.
Os Lusíadas representam a grandeza da literatura portuguesa.
Os Estados Unidos enviaram mais soldados ao Afeganistão.
As Minas Gerais se destacam por cidades repletas de arte barroca.
Porém, se o nome não estiver acompanhado do artigo ou outra expressão
determinada, o verbo ficará no singular:
Estados Unidos enviou um relatório à ONU.
1.5.1.8  Sujeitos formados por expressões que indicam porcentagem: o verbo
deve concordar com o substantivo.
O gerente afirmou que 20% das mercadorias não foram remarcadas.
A oposição insiste em afirmar que 5% do orçamento sofreu alterações de
última hora.
A secretaria afirmou que 1% dos alunos faltaram à prova.
1% da população do município não tem acesso à água tratada.
ATENÇÃO
Se a expressão que indica porcentagem não for seguida de substantivo, o verbo deve con-
cordar com o número.
10% reprovam o governo.
1% aceitou a proposta.

60 •
capítulo 2
1.5.1.9  Verbo ser indicando horas
O verbo ser, nas expressões que indicam tempo, concorda com a expressão
numérica mais próxima.
É uma hora.
São três horas.
Já é meio-dia.
São dez para o meio-dia.
Hoje são vinte de fevereiro.
Hoje é dia vinte de fevereiro.
Ao responder a pergunta: “Que horas são?”, o falante também deve observar
a concordância:
É uma hora ou São três horas.
1.5.1.10  Casos especiais do verbo ser:
4

a) Quando o verbo ser é acompanhado de muito, pouco, bastante, suficiente
etc., usa-se apenas é, independentemente do número em que estiver o sujeito:
Dois dias é pouco tempo para aprender tudo isso.
Três mil reais é bastante por esta casa.
Vinte quilos é muito para uma criança carregar.
Dois metros de tecido é suficiente para fazer o seu terno.
Seis é demais para fazer o trabalho.
Há quem ache estranha a concordância do verbo ser em construções como:
Seis é demais. E acham que deveria ser: Seis são demais. A concordância no sin-
gular, embora estranha, acontece normalmente com as expressões que deno-
tam excesso (é demais), suficiência (é bastante), insuficiência (é pouco), etc. É
mais um caso de concordância ideológica: o sujeito, embora no plural, guarda
a ideia coletiva e o verbo no singular sintoniza com essa ideia.
b) Quando o sujeito for um dos pronomes tudo, o que, isto, isso, ou aquilo,
o verbo ser concordará com seu predicativo:
Tudo eram hipóteses.
4 Essas regras de especiais de concordância com o verbo “ser” foram retiradas do blog de Daniel Vícola: http://
gramaticadoprofessordaniel.blogspot.com.br/search?q=concord%C3%A2ncia+verbal

capítulo 2 • 61
Aquilo eram sintomas graves.
O que atrapalha bastante são as discussões.
ATENÇÃO
O verbo ser fica no singular quando o predicativo é formado de dois núcleos singulares:
Tudo o mais é saudade e silêncio.
c) Quando o sujeito e o predicativo são nomes de coisas e pertencem a núme-
ros diferentes, o verbo ser concorda, de preferência, com o que está no plural:
A cama (coisa) são umas palhas (coisa).
Essas vaidades são o seu segredo.
A causa eram seus projetos.
A vida não são rosas.
O sujeito ou predicativo sendo nome de pessoa ou pessoa, a concordância
se faz com a pessoa:
O homem é cinzas.
Paulo era só problemas.
Você é suas decisões.
Seu orgulho eram os velhinhos.
d) Quando um dos dois termos da frase – sujeito ou predicativo – for um
pronome pessoal, o verbo ser concordará com este pronome:
Todo eu era olhos e coração.
Nas minhas terras, o rei sou eu.
1.6 A concordância nominal
A concordância, de acordo com Cegalla (2008, p. 438), é um princípio sintático
em que palavras dependentes harmonizam-se, nas suas flexões (de gênero e nú-
mero), com as palavras de que dependem. A concordância nominal diz respeito
à adaptação de numerais, adjetivos, artigos e pronomes aos substantivos aos a
que se referem, como em:

62 •
capítulo 2
Cegalla (2008, p. 438-446) expõe as seguintes regras de concordância do ad-
jetivo, com a função de adjunto adnominal:
1- O adjetivo concorda em gênero e número com o substantivo a que se refere:
O garoto bonito é também comunicativo.
A garota bonita é também comunicativa.
Os garotos bonitos são também comunicativos.
As garotas bonitas são também comunicativas.
2- Adjetivo posposto referente a mais de um substantivo de gênero ou núme-
ro diferentes, tem concordância facultativa: poderá concordar no masculino
plural (concordância mais recomendada) ou com o substantivo mais próximo:
a) No masculino plural:
“Os arreios e as bagagens espalhados no chão, em roda.” (Herman Lima,
apud CEGALLA, 2008, p. 438)
b) Com o substantivo mais próximo (não recomendada):
“A polícia e o Governo brasileiro preocuparam-se com as manifestações”.
De acordo com a concordância recomendada, essa frase ficaria:
“A polícia e o Governo brasileiros preocuparam-se com as manifestações”.
3- Adjetivo antes dos substantivos: concorda com o mais próximo, geral-
mente:
“Você escolheu um bom lugar e hora!”
“Você escolheu uma boa hora e lugar!”
Observação: Os pronomes adjetivos antepostos aos substantivos seguem a
mesma regra:
Aquelas manias e vícios.

capítulo 2 • 63
Aqueles vícios e manias.
Seus sapatos e roupas.
Suas roupas e sapatos.
4- Quando dois ou mais adjetivos referem-se ao mesmo substantivo deter-
minado pelo artigo, são possíveis duas construções:
a) Substantivo vai para o plural concordando com os dois adjetivos:
“Analiso as culinárias francesa e inglesa”.
b) Substantivo permanece no singular concordando com o adjetivo mais
próximo e o outro adjetivo vem antecedido de artigo:
“Analiso a culinária francesa e a inglesa”.
5- Adjetivos regidos pela preposição “de” e referentes a pronomes neutros e
indefinidos (nada, muito, algo, tanto, que etc.) normalmente ficam no singular,
mas, por atração, podem também concordar com o substantivo:
“Sua casa nada tem de misterioso.”
“Sua casa nada tem de misteriosa.”
6- Com pronomes de tratamento, o adjetivo concorda com o sexo da pessoa
a que se refere:
“Vossa Santidade está enfermo.” (Papa)
“Vossa Alteza está enferma.” (Princesa)
“Vossa Senhoria ficará satisfeito.” (Homem)
“Vossa Senhoria ficará satisfeita.” (Mulher)
1.6.1  Casos especiais de concordância nominal
Moraes (online) apresenta os seguintes casos especiais de concordância nominal:
1- Termos como: anexo - incluso - leso - mesmo - próprio - quite – obrigado,
quando adjetivos, concordam com o substantivo a que se referem:
“Seguem anexas as cartas.”
“Seguem anexos os documentos.”
Observação: “Em anexo” é considerada uma expressão adverbial, e portanto,
invariável. Mesmo não sendo recomendada por estudiosos mais tradicionais, é

64 •
capítulo 2
muito utilizada e deve permanecer no singular: “Segue em anexo as cartas.”
Exemplos:
Incluso(s)/a(s):
Envio, inclusa nesta pasta, uma fotocópia do processo.
Envio, incluso nesta pasta, um recibo dos gastos.
Leso(s)/a(s):
LESO-patriotismo; LESA-pátria.
Mesmo:
"Os fantasmas não fumam, porque poderiam fumar a si MESMOS." (Mário
Quintana)
Os alunos MESMOS organizaram o trabalho.
"A viagem do sono nem sempre é a MESMA viagem." (Paulo Mendes Campos)
"Percorrera aquela MESMA senda, aspirava aquele MESMO vapor que baixa-
va denso do céu verde." (L.F. Telles) (Apud MORAES, online)
Obs. “Mesmo” pode funcionar como advérbio, modificando um adjetivo,
um verbo ou o próprio advérbio. Nesse caso, é invariável e corresponde a justa-
mente, exatamente, ou ainda, até.
Exemplos:
"Você esperneia, revolta-se - adianta? MESMO sua revolta foi protocolada."
(C.D.A.)
"Livro raro, MESMO, é aquele que foi emprestado e foi devolvido." (Plínio
Doyle) (apud Moraes, online.
Próprio(s)/a(s): concorda com o substantivo a que se refere:
Eu própria conferi a carga, disse a secretária.
Eles próprios reconheceram o erro (os alunos).
Eu próprio elaborei a prova, disse o professor.
Obrigado(a): se o emissor for masculino, vai para o masculino, se for mu-
lher, para o feminino:
Obrigado, respondeu o menino.
Obrigada, respondeu a garota.

Quite: concorda com o substantivo a que se refere:
Estou QUITE com minhas dívidas.

capítulo 2 • 65
Estamos QUITES com o serviço militar.
2. Expressões como: “é preciso, é necessário, é bom, é proibido”
a) referindo-se a nomes sem elementos determinantes, essas expressões fi-
cam invariáveis: É PRECISO força para apagar o incêndio.
É NECESSÁRIO compreensão para se viver bem.
É BOM plantação de erva-cidreira para afugentar formigas.
Água é BOM.
É PROIBIDO entrada de pessoas estranhas ao serviço.
b) com nomes acompanhados de elemento determinante, essas expressões
concordam com ele em gênero e número:
SERIAM PRECISOS vários bombeiros para deter o incêndio.
É NECESSÁRIA a tua compreensão.
É BOA a plantação de erva-cidreira para afugentar formigas.
A água é BOA para a saúde.
É PROIBIDA a entrada pessoas estranhas ao serviço.
3. Só – SÓS:
a) Só (adjetivo) corresponde a sozinho, único, solitário e apresenta flexão de
número, concordando com a palavra a que se refere.
Eles estão SÓS.
"Outros estão SÓS, como tu, mas presos a uma inibição ou a uma discipli-
na." (C.D.A)
b) Só (advérbio) corresponde a somente, unicamente, apenas e não se fle-
xiona: é invariável.
Ele SÓ falou mentiras.
Eles SÓ falaram mentiras.
Observação: Existem as locuções a só e a sós, esta mais frequente, equiva-
lente a sem companhia: é invariável. Exemplos: Eles ficaram a sós/ O casal fi-
cará a sós. / " - Amigo João Brandão - disse pausadamente o homem quando
ficaram a sós..." (C.D.A)
4. BASTANTE(s) pode ser:
a) bastante = advérbio de intensidade: é invariável.

66 •
capítulo 2
Ele ficou BASTANTE preocupado / Os pós-graduandos estudam BASTANTE.
b) bastante = pronome indefinido (= muitos) - flexiona-se:
Naquela classe, há BASTANTES rapazes.
5. MEIO:
a) meio = advérbio de intensidade: é invariável.
Ando MEIO distraída ultimamente.
"Sentava calado, com a cara MEIO triste, um ar sério." (Rubem Braga)
Existem maridos que são MEIO surdos: sempre que suas mulheres lhes pe-
dem 50 eles só ouvem 25." (Leon Eliachar)
b) meio = numeral (= metade): flexiona-se.
É MEIO dia e MEIA. (meia hora)
Ele comeu MEIO bolo sozinho.
Ele comeu MEIA (metade) pera.
Se você disser: “Ela está meia triste”, sua frase significará: “Ela está metade triste!”
6. MENOS - ALERTA - PSEUDO - A OLHOS VISTOS
São sempre invariáveis.
• Na classe, há MENOS moças que rapazes.
• Mais amor e MENOS confiança.
• Lúcia emagreceu A OLHOS VISTOS.
• ALERTA, segundo Antenor Nascentes, trata-se de uma interjeição militar;
era um grito que se proferia à aproximação do inimigo. José Pedro Machado

capítulo 2 • 67
confirma a informação. Logo, por ter valor interjectivo, permanece invariável.
Outros o consideram advérbio (em estado de prontidão) e, assim, também, per-
manece invariável. Exemplos:
"Antes ouvido a revolta da cidade, estiverão mais ALERTA." (apud José Pe-
dro Machado - texto arcaico) / "Duas sentinelas sempre ALERTA." (Alencar apud
Cândido Jucá Filho) / Na porta dos bancos, os seguranças ficam ALERTA.
• Trata-se de PSEUDO-especialistas.
(REFERÊNCIA: MORAES, J. V. Concordância nominal: Conheça as regras.
Educação Uol. Online. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/disciplinas/
portugues/concordancia-nominal-conheca-as-regras.htm Acesso em: 04 maio
de 2015.)
ATIVIDADE
1- Reescreva as frases, completando-as com um dos verbos entre parênteses para que a
regência verbal fique adequada:
a) Quem não aspira............. um bom contrato/( aspira - aspira a)
b) Quando posso, ............. bons jogos de futebol pela Tv.(assisto a - assisto)
c) Você deve.............. regulamento.( obedecer – obedecer ao)
d) O gerente ............... dois cheques e eu os levei à construtora.(visou os – visou aos)
e) Não ........... novo projeto do prefeito.( gostei o – gostei do)
f) O professor .......... dificuldades dos alunos(precisou as – precisou das)
g) O escritor .................guarda-chuva em casa.(esqueceu do - esqueceu o)
h) Todas as perguntas ............ proposta concreta.(visam uma – visam a uma)
2- Reescreva as frases, completando-as se necessário, para que a regência verbal fique
correta:
a) É esse o cargo.............que ele sempre aspirou?
b) A semana passada assisti .......... bons filmes em DVD.
c) Obedecer...........o regulamento interno é um dever do estudante.
d) Paguei.........cafezinho ........eles.
e) Já perdoamos .......elas ........... injúrias.
f) Quero............mesa arrumada.
g) Ele sempre quis bem .......... todas vocês.
h) Vise ......... o cheque logo que o banco abrir.

68 •
capítulo 2
i) Chegamos ...........um bom estágio profissional.
j) Prefiro quiabo........... abobrinha.
3- As frases abaixo apresentam problemas relacionados à regência verbal, adeque-as à nor-
ma culta:
a) Eles não lembraram do dia da prova.
b) Chegou novamente atrasado na escola.
c) Ele aspirava um cargo melhor na empresa que trabalhava.
d) Elas preferiam ver tevê do que ler um bom livro.
e) Reclamar é um direito que assiste o trabalhador.
f) O desrespeito às normas implicará em castigos severos.
g) Informei-lhe de que chegaria atrasada.
h) Aqueles jovens não obedeceram os professores.
i) João namora com Martha.
j) Eduardo visava uma vaga no curso de Medicina.
REFLEXÃO
Neste capítulo, você pôde notar que a língua padrão se distancia muito da língua informal
utilizada no cotidiano no que se refere à regência e à concordância verbal, principalmente.
Deve ter ficado claro que precisamos exercitar o uso do padrão para que saibamos utilizá-lo
nos contextos em que for exigido, pois o domínio da linguagem padrão pode não só conferir
prestígio social, como também possibilitar o seu desenvolvimento profissional.
LEITURA
Recomendamos a leitura do livro de Nadólkis porque apresenta de forma sintética e clara as
normas de regência, concordância, além de outros aspectos essenciais à norma culta.
NADÓLSKIS, Hêndricas. Normas de comunicação em língua portuguesa. 24. ed. São
Paulo:Saraiva, 2002.

capítulo 2 • 69
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BECHARA, E. Moderna Gramática portuguesa. Rio de janeiro: Lucerna, 2000.
CEGALLA, D. P. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 2008.
LEMLE, M. e NARO, A. J. Competências básicas do português. Rio de Janeiro: Fundação
Movimento Brasileiro de Alfabetização/Fundação Ford, 1977.
MATTOS E SILVA, R. V. De fontes sócio históricas para a história social linguística do Brasil:
em busca de indícios. In: MATTOS E SILVA, R. V. (Org.) Para a História do Português Brasilei-
ro. São Paulo, Humanitas, FFLCH/USP, vol. II, 2001.
MOLLICA, M.C. (Org.) Introdução à Sociolinguística Variacionista. RJ: Vozes, 2003.
MORAES, J. V. Concordância nominal: Conheça as regras. Educação Uol. Online. Disponível
em: http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/concordancia-nominal-conheca-as
-regras.htm Acesso em: 04 maio de 2015.
NARO, A. J. e LEMLE, M. Syntactic Diffusion. Ciência e Cultura 29 (3):259-268, 1977.
NARO, A.J. e SCHERRE, M. M. P. Sobre as origens do português popular do Brasil. Delta, 9,
nº especial, p.437-454, 1993
NEVES, M. H. M. “Norma, bom uso e prescrição linguística” In: Que gramática estudar na
escola? Norma e uso na língua portuguesa. São Paulo: Contexto, 2003.
RIBEIRO, I. I “Quais as faces do Português Culto Brasileiro?”. In: ALKMIM, T. M. Para a história
do Português brasileiro, vol. III. São Paulo: Humanitas FLP, 2002.
SVOBODOVÁ, I. Sintaxe da língua Portuguesa. Masaykova Univerzita. Brno, 2014.

70 •
capítulo 2
ANOTAÇÕES

Usos da língua:
pontuação,
acentuação e
ortografia.
3

72 •
capítulo 3
Apresentação do capítulo
Othon Garcia, autor ilustre de “Comunicação em prosa moderna” afirmou,
muito sabiamente, que não basta apenas o conhecimento das regras gramati-
cais para escrever bem, é necessário conhecer o assunto, ter ideias sobre o que
se vai abordar no texto escrito. Contudo, ele esclarece que é preciso dominar
pelo menos um mínimo de regras gramaticais para se escrever bem, como por
exemplo, a pontuação. Dos casos de pontuação, um que gera muitas dúvidas é
o uso da vírgula, um dos principais tópicos abordados neste capítulo. Outros
aspectos da norma padrão, como o acordo ortográfico e a acentuação também
serão estudados. E a crase, você sabe usar corretamente o acento grave para in-
dicá-la? Por fim, discutiremos sobre a linguagem da internet, o “internetês”,
linguagem amplamente usada na internet e que merece reflexão.
OBJETIVOS
• Analisar aspectos da norma culta, como: o uso da vírgula, a ortografia e a acentuação.
• Apresentar as principais regras do novo acordo ortográfico;
• Observar como o uso da vírgula confere clareza e está ligado à ordem SVC;
• Averiguar as características do “internetês” e compreender seu contexto de uso.
REFLEXÃO
Você se lembra?
Você certamente deve lembrar-se das aulas de gramática em que aprendia a forma correta
de grafar as palavras, a ortografia. Nesse capítulo, retomaremos algumas noções básicas
de ortografia, além de analisarmos a pronúncia adequada das sílabas tônicas, isto é, sua
prosódia. Provavelmente, você já ficou em dúvida se o correto é “rubrica” ou “rubrica” não é
mesmo? Então, estude esse capítulo com afinco, pois ele trata da escrita e da pronúncia cor-
retas das palavras de nossa língua portuguesa, abordando também algumas das principais
mudanças introduzidas pelo novo acordo ortográfico. Além disso, discute outros aspectos da
norma padrão igualmente importantes, como a regência, por exemplo.

capítulo 3 • 73
1.1 Introdução à clareza e à pontuação: a ordem direta no
português brasileiro
1
Para Sautchuk (2011, p. 15, apud CORDEIRO, 2015), a frase é o elemento
central do texto, ela veicula sentidos e pode se agrupar a outras formando pe-
ríodos e parágrafos. A frase pode ser constituída de uma única palavra, como:
“Fogo!”, por exemplo. Pode organizar-se também em torno de um verbo, sendo
classificada, nesse caso, como oração. As análises sintáticas, baseadas nessa
classificação, são essenciais para escrever bem, pois há um padrão de constru-
ção de frases em português. Sautchuk (2011, p. 15), explica que esse padrão é
representado pela seguinte fórmula:
S + V + C
Sujeito + Verbo + Complemento
O prefeito + aumentou + os impostos
É nesse padrão, isto é, nessa matriz, que pode ser modificada ou expandi-
da, que se apresentam as ideias centrais. Em torno delas, acrescentam-se ter-
mos acessórios que expressam ideias secundárias ou suplementares, como por
exemplo em:
(1) Logo após a reeleição, o prefeito (S), que durante a campanha eleitoral, havia
negado a alta de tarifas, aumentou (V) os impostos (C), velhos vilões dos cidadãos.
Observe que no período acima, foram adicionados diversos elementos ao
padrão SVC que acrescentaram informações complementares à ideia central:
“o prefeito aumentou os impostos”. Essas informações complementares indi-
cam o tempo (“Logo após a reeleição”), em que circunstância (“havia negado
a alta de tarifas”). Há também termos que podem ser usados para expressar a
opinião de quem escreve, como é o caso do aposto “velhos vilões dos cidadãos”.
1 O conteúdo dos itens a seguir foi retirado de: CORDEIRO, M. B. G. Produção Textual I. Ribeirão Preto, Estácio, 2015.

74 •
capítulo 3
Organize as palavras e frases começando pela ordem direta: SVC
Essa estrutura básica, SVC, é internalizada aos falantes nativos do portu-
guês, não é necessário saber a nomenclatura, as classificações; intuitivamen-
te, os falantes conhecem características do sujeito, tais como: ele nunca vem
antecedido de preposição e será sempre representado por um substantivo ou
palavra substantivada (pronomes, adjetivos e outras classes que possam de-
sempenhar o papel de substantivo), conforme nos recorda Sautchuk (2011). A
estrutura SVC é tão internalizada aos falantes nativos, que quando se lê uma
frase iniciada por qualquer termo que não seja o sujeito, o leitor fica à espera
de que algo apareça na frase como sujeito, que funcione como o ponto de apoio
inicial para formar um SVC: “No começo da noite, com as janelas fechadas, sem
um único som na sala, entre móveis cobertos de pó...” (SAUTCHUK, 2011, p.
21). A autora explica que o leitor espera o sujeito da frase e quando ele aparece,
procura um verbo que se conecte a ele e conclua o sentido: “No começo da noi-
te, com as janelas fechadas, sem um único som na sala, entre móveis cobertos
de pó, um estranho vulto aparece” (idem).
S V
Dependendo do verbo, o leitor ainda pode ansiar por um complemento:
“No começo da noite, com as janelas fechadas, sem um único som na sala,
entre móveis cobertos de pó, um estranho vulto ergue uma estatueta esquisi-
ta.” (ibidem).

capítulo 3 • 75
S V C
Ficou claro que a estrutura SVC pode variar em função de o verbo ser tran-
sitivo (exigir complemento) ou intransitivo (não exigir complemento) e que a
esse padrão fixo, podem ser acrescidas outras ideias expandindo os períodos,
conforme destaca a autora:
(eu) Utilizo qualquer tipo de computador.
(eu) Utilizo, quase sempre, qualquer tipo de computador.
Esta notícia interessa a todos.
Esta notícia interessa a todos, em qualquer circunstância.
O vencedor da prova dedicou a vitória aos filhos.
O vencedor da prova, muito emocionado, dedicou a vitória aos filhos.
(SAUTCHUK, 2011, p. 24).
Outros elementos podem ser acrescentados a esses exemplos, em diferen-
tes posições, portanto, a estrutura SVC ou SV não são exclusivas. Um aspecto
importante que você deve ter observado é que os elementos inseridos entre os
elementos básicos: SVC são isolados por vírgula.
Essas informações parecem básicas porque o falante nativo elabora cons-
truções desse tipo automaticamente, principalmente na fala, mas quando se
escreve, a dificuldade aumenta e as frases e os períodos são construídos preca-
riamente. Essa estrutura é importante e básica, como ratifica Bersch:
As situações de frase sem sujeito são de exceção e, em diversos sistemas linguísticos e
mesmo em diversas situações do Português, deparamos com argumentos que provam
esse caráter de excepcionalidade. As frases sem verbo são características da lingua-
gem em que predomina a afetividade.[...] A frase é o suporte da comunicação linguística
[...]. para que haja clareza na comunicação, deve haver uma estruturação clara no binô-
mio sujeito-predicado. (BERSCH, R. D., 1980, p. 109)
Para finalizar essa seção, apresentamos outro exemplo dado por Sautchuk
(idem) que ilustra uma dificuldade de localizar a informação principal devido
à distância entre o sujeito (S) e o verbo (V) e grande número de informações
intercaladas entre eles:

76 •
capítulo 3
O anúncio de transmissão da nova gripe no país, em decorrência da morte de uma
paciente em Osasco, ocorrida em 30 de junho, e dos casos confirmados entre seus
familiares, sem relato de viagens ao exterior nem de contato com pessoas que tiveram a
doença, [não deve ser], em nenhuma hipótese, [motivo para pânico]. (Folha de S. Paulo,
C4, 17 jul. 2009 apud SAUTCHUK, 2011, p. 26)
Observe a quantidade de informações encaixadas entre a ideia central: “O
anúncio de transmissão da nova gripe no país não deve ser motivo para pâni-
co.” Uma grande quantidade de elementos intercalados entre sujeito e verbo,
como no exemplo, dificulta a clareza. “A ordem SVC é tão importante para sus-
tentar a facilidade de leitura, que os jornalistas sempre a usam quando com-
põem os títulos de abertura das notícias” (SAUTCHUK, 2011, p. 27).
Por fim, vale ressaltar metáforas que têm sido amplamente usadas para
abordar a produção textual: quando você redige um texto, é como se estives-
se tecendo um tapete com fios ou linhas, sendo que as palavras, as frases são
como as linhas que vão se entrelaçando para formar o tecido/texto. A elabora-
ção de um texto pode, ainda, ser comparada a montagem de um quebra-cabe-
ças, em que ajustamos e posicionamos as frases (peças do quebra-cabeça) até
montarmos um todo de sentido, ou até conseguirmos expressar com exatidão o
que gostaríamos de exprimir.
Penso ser oportuno exibir três versões de frase que escrevi para expressar
uma das frases contidas nesse livro:
1ª versão: Foram feitas alterações, segundo a estudiosa, pequenas, mas sig-
nificativas...
2ª versão: As alterações feitas pela autora foram pequenas, porém, signifi-
cativas...
3ª versão: A autora realizou poucas alterações, mas significativas...
4ª versão: A autora realizou apenas duas alterações, mas significativas...
Qual versão você considera mais clara e precisa? A quarta não é? Note que
nas primeiras versões, eu não havia usado o padrão: SVC, ao invés dele, havia es-
colhido a ordem inversa, com a construção na voz passiva, construção essa que
dificulta a compreensão do texto por parte do leitor. Além disso, havia muitos

capítulo 3 • 77
elementos intercalados entre o sujeito e o verbo, como se observa:
1ª versão: Foram feitas alterações, segundo a estudiosa, pequenas, mas sig-
nificativas...
V S elemento intercalado adjunto adnominal
Essa primeira versão dificulta a leitura porque além da ordem indireta, há
elementos intercalados e um número maior de pausas. Já a quarta versão é
mais clara e precisa não só devido à ordem direta (SVC) e a voz ativa, mas tam-
bém à exatidão vocabular. Troquei o adjetivo mais vago “pequenas alterações”
pela precisão vocabular: “duas alterações”.
Portanto, além da ordem, o produtor de textos deve buscar a exatidão, preci-
são vocabular, deve analisar se os termos escolhidos se “encaixam”, pois, mui-
tas vezes, escreve-se muito e não se diz nada, como o exemplo a seguir ilustra:
“O desenvolvimento deste trabalho revelou, na possibilidade de ser tam-
bém para nós, um veículo condutor, capaz de acessar-nos, no momento neces-
sário, a aprendizagem com ele adquirida.” (SAUTCHUK, 2011, p. 29).
Embora seja possível encontrar a oração principal depreendida da ordem
SVC, “O desenvolvimento deste trabalho revelou um veículo condutor”, não há
coerência alguma, não há sentido! O que exatamente o trabalho revelou? Con-
dutor de quê? O leitor pode até imaginar o que o autor quis dizer, como bem
alerta Sautchuk, mas um texto referencial deve deixar claro o que realmente
está escrito. Isso ocorre porque as ideias são claras na mente do emissor, mas
na transposição à escrita, muitas vezes, ficam confusas, por isso, é preciso re-
ler SEMPRE o que escreveu procurando facilitar a compreensão para o leitor.
Nas próximas seções, explicaremos brevemente sobre fatores que determinam
a clareza, como a inversão, o uso e a extensão de ideias acessórias, as intercala-
ções, dentre outros.
Essas considerações sobre a clareza e a ordem estão ligadas, de forma indi-
reta, ao uso da vírgula, pois boa parte das regras para uso desse sinal de pontu-
ação relaciona-se à ordem SVC.

78 •
capítulo 3
1.1.1  O uso da vírgula e a clareza
Parece irrelevante, mas não é, o uso da vírgula é essencial para a construção de
sentido do texto, como se observa nos exemplos a seguir:
1) Não vou abordar esse tema hoje.
2) Não, vou abordar esse tema hoje.
No primeiro caso, o emissor não tratará do assunto, já na segunda constru-
ção, provavelmente ele dá uma resposta negativa a alguém e depois afirma que
irá abordar o tema. Viu como a vírgula é importante? Há muitas regras para seu
uso, mas discutiremos apenas a regra geral, que está diretamente relacionada
à clareza.
Sautchuk (2011) inicia a explicação sobre a pontuação com a seguinte res-
salva: ao contrário do que muitos pensam, a vírgula não é usada porque é pre-
ciso respirar e sim o oposto: a pausa respiratória ocorre por causa da vírgula.
“O que determina a colocação de vírgulas é o modo como se constrói a frase e
o sentido que se quer dar a ela, e não o momento de o leitor respirar.” (SAUT-
CHUK, 2011, p. 41). Sendo assim, a primeira regra para o uso da vírgula é claro:
Não se usa a vírgula entre os elementos da estrutura básica SVC; a vírgula é usa-
da apenas para assinalar elementos encaixados nessa estrutura central. Leia
a manchete a seguir e observe que não há vírgulas porque não se intercalou
nenhum elemento na estrutura básica SVC:

“Governo de SP pede ajuda a empresas para solucionar crise da água”.
Sujeito verbo complemento
(Disponível em:< http://www1.folha.uol.com.br/cotidia-
no/2015/01/1582669-governo-de-sp-pede-ajuda-a-empresas-para-solucionar-
crise-da-agua.shtml> Acesso em: 30 jan. 2015)
ATENÇÃO
Em todos os manuais de gramática você encontrará essa regra básica: A estrutura SVC não
pode ser fragmentada!

capítulo 3 • 79
Agora, imagine se o jornalista acrescentasse informações suplementares à
ideia principal veiculada pela estrutura SVC, observando as três opções a seguir:
“Em gesto desesperado, governo de SP pede ajuda a empresas para solucio-
nar crise da água”.
“Governo de SP pede ajuda a empresas para solucionar crise da água Em
gesto desesperado.
“Governo de SP pede, em gesto desesperado, ajuda a empresas para solucio-
nar crise da água”.
Você deve ter concluído que a melhor opção é a primeira ou a segunda, visto
que a terceira fere a clareza por encaixar informações suplementares entre os
elementos da estrutura básica (SVC). Entretanto, você já deve ter aprendido que
essa intercalação não é proibida, a posição dos elementos em português é vari-
ável e de acordo com a ênfase que o emissor quer conferir à mensagem, organi-
za-a de determinada forma. O que você precisa entender também é que quando
ocorre essa intercalação, ela precisa ser isolada por vírgulas, como ocorre no
terceiro exemplo.
Sautchuk fornece uma boa dica para o uso da vírgula: Se você estiver
em dúvida se há ou não vírgula, destaque a estrutura SVC e analise se existe al-
gum elemento intercalado a ela, se houver, isole-o com vírgulas. Caso não haja
intercalação, a vírgula é desnecessária.
O uso correto da vírgula é determinante para a clareza de uma frase.

80 •
capítulo 3
A fim de ampliarmos a discussão sobre o uso da vírgula em elementos inter-
calados, reproduzimos um dos exemplos citados por Sautchuk (2011, p. 44):
A aprendizagem da leitura de obras literárias implica acima de tudo a aquisição da
capacidade de aprender na situação representada os questionamentos acerca do ser
humano e de suas contingências. Essa aquisição só se efetua num compromisso do
leitor com o texto pela atividade crítica que supera o plano do simples prazer.
É provável que você tenha sentido dificuldade para compreender a mensa-
gem principal em virtude da falta de virgulação e do excesso de informações
acessórias. Releia o mesmo texto, agora, com os termos intercalados devida-
mente isolados por vírgulas:
A aprendizagem da leitura de obras literárias implica, acima de tudo, a aquisição da
capacidade de aprender, na situação representada, os questionamentos acerca do ser
humano e de suas contingências. Essa aquisição só se efetua, num compromisso do
leitor com o texto, pela atividade crítica que supera o plano do simples prazer.
Essa nova versão está mais clara em função do isolamento dos elementos in-
tercalados. Dizer que eles devem estar isolados, significa que é necessário colocar
vírgula no início e no final do “encaixe”. Sautchuk (2011, p. 45) orienta que se o
escritor usa apenas uma vírgula, comete um erro, como nos exemplos a seguir:
1) Os manifestantes, em seu movimento de greve estavam em frente à prefeitura.
2) Os manifestantes em seu movimento de greve, estavam em frente à prefeitura.
Para corrigir o uso da vírgula, é preciso isolar os elementos intercalados,
acrescentando vírgula no início e no fim do “encaixe”, como em:
3) Os manifestantes, em seu movimento de greve, estavam em frente à pre-
feitura.

capítulo 3 • 81
Além das regras básicas estudadas (não se usa vírgula entre os elementos da
estrutura SVC; usam-se vírgulas para isolar informações adicionais à estrutura
SVC), há outra importante: usa-se a vírgula para marcar uma informação adi-
cional inserida no início ou no final da ideia principal representada pela estru-
tura SVC, isto é, nas extremidades dessa estrutura. Veja os exemplos:
Durante todo o horário de verão, o governo estimou uma economia de
R$405 milhões.
Informação adicional S verbo complemento
O governo estimou uma economia de R$405 milhões, durante todo o horá-
rio de verão
S verbo complemento Informação adicional
ATENÇÃO
Atenção: o emprego da vírgula é facultativo quando a informação adicional é acrescentada
ao final da estrutura SVC.
1.1.2  As regras de pontuação: o uso da vírgula
Antes de expor as normas que regem o uso da vírgula, Cegalla (2008, p. 428)
adverte que o uso dos sinais de pontuação não é consenso entre os escritores,
sendo difícil, portanto, apresentar normas rígidas. Contudo, uma regra encon-
trada em todos os manuais é a que afirma que não se pode separar o sujeito do
verbo, quando juntos, por vírgula, como por exemplo: “A maioria dos estudan-
tes, tem dificuldade para saber as regras de acentuação”. A vírgula usada nesse
exemplo não está de acordo com a norma padrão e é considerada desvio grave
pelos gramáticos. Mas se houver adjuntos ou oração entre o sujeito e o verbo,
eles virão isolados entre vírgulas, como em: “A maioria dos estudantes, mesmo
os que já terminaram o nível superior, tem dificuldade para saber as regras de
acentuação”. Feitas essas ressalvas, Cegalla explica que os sinais de pontuação
servem a três finalidades e passa a expor as normas:
1- Assinalar pausas e as inflexões de voz (entonação) na leitura;

82 •
capítulo 3
2- Separar palavras, expressões e orações que devem ser destacadas;
3- Esclarecer o sentido da frase, afastando qualquer ambiguidade.
Diante dessas informações iniciais, é possível iniciar as regras que determi-
nam o uso da vírgula, isto é, nos seguintes casos, você deverá usar as vírgulas:
a) Para separar palavras ou orações justapostas assindéticas:
Ex.: Os bebês, as crianças, os jovens, os adultos, todos sofrerão com a falta
de água.
b) Para separar vocativos:
Ex.: João, traga o livro aqui!
c) Para separar apostos e certos predicativos:
Ex.: O curso de Letras, licenciatura em Português, forma professores do En-
sino Fundamental e Médio. (aposto)
Audacioso e corajoso, o homem desbravou o mundo.
(predicativo)
d) Para separar orações intercaladas e outras de caráter explicativo:
Ex.: O vocativo, conforme entendem hoje, é um termo que serve para cha-
mar, interpelar, invocar alguém.
O aposto, orienta a professora, explica ou especifica uma expressão.
e) Para separar certas expressões explicativas ou retificativas, c omo: isto é,
a saber, por exemplo, ou melhor, ou antes, etc.
Ex.: O verdadeiro amor, isto é, o sentimento mais lindo e puro do ser huma-
no, é um excelente remédio.
f) Para separar orações adjetivas explicativas:
Ex.: Pelas 11h da noite, que foi de muito vento, o soldado não aguentava
mais caminhar e caiu!
g) Para separar orações adverbiais desenvolvidas:
Ex.: Enquanto o marido trabalhava fora, a mulher ficava cuidando dos filhos
e da casa.

capítulo 3 • 83
h) Para separar orações adverbiais reduzidas:
Ex.: Ali eu entendi, sem receber explicação, aquela dura lição.
i) Para separar adjuntos adverbiais:
Ex.: No meio da noite, ouviram-se muitos gritos.
Observação: é comum não usar a vírgula quando os adjuntos adverbiais
são curtos:
À noite ouviram-se muitos gritos.
j) Para indicar elipse de um termo:
Ex.: Uns afirmam que deve existir vida além da terra, outros, que a vida ter-
mina aqui.
k) Para separar conjunções pospositivas, como: porém, contudo, pois, entre-
tanto, portanto etc.:
Ex.: Vens, entretanto, querer exigir minhas coisas!
l) Para separar elementos paralelos de um provérbio:
Ex.: Mocidade ociosa, velhice vergonhosa.
m) Para separar termos que se quer realçar:
Ex.: O dinheiro, o homem coloca em primeiro lugar.
n) Para separar o nome do lugar nas datas:
Ex.: Rio de Janeiro, 10 de janeiro de 1500.
Você, estudante atento, deve ter observado que existe uma certa regu-
laridade em todas as regras para o uso da vírgula: sempre que houver qualquer
expressão entre os elementos da estrutura SVC, haverá vírgulas!
1.1.3  As regras de pontuação: o uso do ponto e vírgula
Cegalla (2008, p.430) explica que o ponto e vírgula “denota uma pausa mais sen-
sível que a vírgula”, e é empregada principalmente para:
a) Separar orações coordenadas de certa extensão:
“Depois Iracema quebrou a flecha homicida; deu haste ao desconhecido, guar-

84 •
capítulo 3
dando consigo a ponta farpada.” (José de Alencar apud CEGALLA, 2008, p.430)
b) Em enumerações, como:
“Destacaram-se, na Conjuração Mineira, Joaquim José da Silva Xavier, alcu-
nhado Tiradentes; o poeta Claudio Manuel da Costa, autor do poema épico Vila
Rica; o poeta Tomás António Gonzaga, autor de Marília de Dirceu; o desembar-
gador Inácio Avarenga Peixoto e o padre Luís Vieira da Silva.em cuja biblioteca
se reuniam os conjurados.” (CEGALLA, 2008, p.430)
c) Para separar os considerandos de um decreto, de uma sentença, de uma
petição, etc.
d) Para separar os itens de um artigo de lei, de um regulamento.
1.2 Regras de acentuação
Para acentuar corretamente as palavras, é preciso, primeiramente, conhecer a
tonicidade. A sílaba mais forte de uma palavra recebe o acento de intensidade
ou acento tônico. O acento tônico nem sempre corresponde a um acento grá-
fico. Existem regras que, por convenção, estabelecem em quais casos o acento
tônico é marcado graficamente. As regras de acentuação gráfica, portanto, es-
tabelecem quando a sílaba tônica de uma palavra é marcada graficamente e o
tipo de acento gráfico.
A sílaba tônica de uma palavra, na língua portuguesa, pode estar em três
diferentes posições. Cada posição corresponde a uma classificação.
Quando a sílaba tônica é a última, a palavra é oxítona. Se a sílaba tônica é a
penúltima, a palavra é paroxítona. Quando a sílaba tônica é a antepenúltima, a
palavra é proparoxítona. As palavras de uma sílaba são denominadas monos-
sílabos tônicos ou átonos de acordo com a intensidade que elas apresentam
numa frase.
1- OXÍTONAS (última sílaba tônica):
Acentuam-se as oxítonas:
a) terminadas em “A”, “E”, “O”, “ÊM”, “ÉM”, “ÊNS”,  seguidas ou não de “S”.
Exemplos: Marajá, aliás; freguês, café; pontapé, dominó; Jericó; refém; ar-
mazém, vinténs...

capítulo 3 • 85
b) terminadas em ditongos abertos, como “ÉI”, “ÉU”, “ÓI”, seguidos ou
não “S”.
Exemplos:
Méis, chapéus, anzóis.
c) formadas de muitos verbos que, ao se combinarem com pronomes oblí-
quos, produzem formas monossilábicas e devem ser acentuadas por acabarem
assumindo alguma das terminações contidas nas regras, como as formas ver-
bais oxítonas terminadas em “A”, “E”, “O”, (com ou sem “S”) quando seguidas
de “LO(s)” o u “LA(s)”:
Exemplos:
Amá-las; perdê-las; repô-las..
2- PAROXÍTONAS (penúltima sílaba tônica):
Acentuam-se as paroxítonas terminadas em:
L – afável, fácil, cônsul, desejável, ágil, incrível.
N – pólen, abdômen, sêmen, abdômen.
R – câncer, caráter, néctar, repórter.
X – tórax, látex, ônix, fênix.
PS – fórceps, Quéops, bíceps.
Ã(S) – ímã, órfãs, ímãs, Bálcãs.
ÃO(S) – órgão, bênção, sótão, órfão.
I(S) – júri, táxi, lápis, grátis, oásis, miosótis.
ON(S) – náilon, próton, elétrons, cânon.
UM(S) – álbum, fórum, médium, álbuns.
US – ânus, bônus, vírus, Vênus.
Acentuam-se as paroxítonas terminadas em: em ditongos crescentes (semivo-
gal+vogal): Névoa, infância, tênue, calvície, série, polícia, residência, férias, lírio.
Antes do acordo ortográfico, acentuavam-se também as paroxítonas termi-
nadas em ditongo aberto, como: ideia, Coreia, que, após o acordo, deixaram de
ser acentuadas.
O novo acordo ortográfico, no entanto, suprimiu o acento diferencial de ou-
tras palavras, entre elas: para (verbo) e para (preposição); pelo/pelos (substan-

86 •
capítulo 3
tivo) e pelo/pelos (verbo pelar e contração de preposição e artigo); polo/polos
(substantivo) e polo (contração arcaica de proposição e artigo), coa/coas (verbo
coar) e coa/coas (preposição + artigo).
O acordo ortográfico também alterou outras normas. Confira:
a) As palavras paroxítonas com ditongos ei e oi na sílaba tônica deixam de
ser acentuadas graficamente: ideia, boleia, assembleia, apoio (1a pessoa do
singular do presente do indicativo do verbo apoiar), jiboia, europeia, heroico
(diferentemente de herói, que é oxítona).
b) As formas verbais terminadas por eem perdem o acento: creem, deem,
leem, veem, descreem, releem, reveem.
c) A vogal tônica do hiato oo deixa receber acento gráfico: voo, perdoo, po-
voo (verbo povoar).
d) Os verbos arguir e redarguir deixam de ser acentuados graficamente com
acento agudo na tônica u: tu arguis, ele argui, arguem, tu redarguis, ele redar-
gui, redarguem.
e) Não são acentuados graficamente os prefixos paroxítonos terminados em
R e I: inter-helênico, super-homem, semiintensivo.
3- PROPAROXÍTONAS (antepenúltima sílaba tônica):
Todas as proparoxítonas são acentuadas.
Exemplos:
México, música, mágico, lâmpada, pálido, pálido, sândalo, crisântemo, pú-
blico, pároco, fotógrafo, linguística, metódico...
4- MONOSSÍLABOS TÔNICOS (uma sílaba tônica):
Acentuam-se os monossílabos terminados em: “A”, “E”, “O”, seguidos ou
não de “S”.
Exemplos:
Chá, gás, pé, mês, dó, nós,
Atenção:

capítulo 3 • 87
Assim como ocorre nas formas oxítonas, muitos verbos, ao se combinarem
com pronomes oblíquos, produzem formas monossilábicas que devem ser
acentuadas por acabarem assumindo alguma das terminações contidas nas
regras.
Exemplos:
Fez + o= fê-lo
Dar + as= dá-las
As formas verbais têm e vêm são acentuadas graficamente em oposição às
formais verbais no singular tem e vem. Também é acentuado graficamente o
verbo pôr em oposição à preposição por.
Veja alguns exemplos:
Os alunos têm apresentado bons resultados. /O aluno tem apresentado
bom resultado.
Os turistas vêm nos visitar mais vezes quando são bem tratados. / O turista
vem nos visitar mais vezes quando é bem tratado.
É preciso pôr as contas em dia./ Ele disse que há muita coisa por fazer.
5- Hiatos acentuados
Quando a segunda vogal de um hiato for I ou U e tônica, seguida ou não de
s, será acentuada: saúde, saída, proíbo, faísca, baú, viúva, juíza, juízo, país, Jaú,
Jacareí, Cabreúva, Luís.
Atenção! Se essas vogais tônicas do hiato forem seguidas de outras consoan-
tes ou nh, não haverá acento: Luiz, juiz, raiz, Raul, cairmos, contribuinte, sair,
cauim.
O novo acordo ortográfico alterou, nessa regra de acentuação do hiato, o se-
guinte: Se as vogais i ou u forem precedidas de ditongo, não serão mais acen-
tuadas graficamente. Veja como ficam agora algumas palavras que se incluem
nesse caso: feiura, Bocaiuva, baiuca.
1.2.1  Prosódia
Podemos definir prosódia como a correta acentuação das palavras.
Por isso mesmo, a prosódia ocupa-se da correta emissão de palavras quanto
à posição da sílaba tônica, segundo as normas da língua culta. Quando pronun-
ciamos uma palavra com o acento de intensidade colocado erroneamente em

88 •
capítulo 3
uma sílaba, temos um erro prosódico ao qual se dá o nome de silabada. Veja-
mos alguns desses erros mais comuns e sua correção.
Enquanto a prosódia refere-se à acentuação das sílabas nas palavras, a parte
da gramática que trata da pronúncia correta das palavras é a ortoepia. A ortoe-
pia determina como devemos pronunciar nitidamente as vogais, os ditongos,
os tritongos e os hiatos. Também orienta quanto à articulação ou pronúncia
adequada das consoantes e dos encontros consonantais..
1.2.1.1  Palavras Oxítonas
Ruim (evite pronunciar “rúim”); mister (como adjetivo essa palavra significa
“necessário”); condor (cuidado para pronunciar a palavra como se fosse paroxí-
tona); Nobel (é mais adequada a pronúncia como oxítona e não como paroxíto-
na); ureter (a prosódia dessa palavra é como oxítona e seu plural é ureteres, ou
seja, paroxítona).
1.2.1.2  Palavras paroxítonas
Acórdão (decisão judicial); âmbar; avaro (alguém que é usurário, avarento, pão-
duro); batavo (da Batávia, holandês); cânon (regra, norma); caracteres; clímax;
edito (mandato, ordem, decreto); fluido (substância líquida ou gasosa, não pro-
nuncie “fluído”); ibero (não pronuncie “íbero”); rubrica (é o mais adequado,
embora haja tendência para se aceitar “rúbrica”); têxtil; látex; xérox (também se
aceita “xerox’, ou seja, a pronúncia como oxítona).
1.2.1.3  Palavras proparoxítonas
Arquétipo (modelo, protótipo, exemplar); boêmia (evite pronunciar “boemia”);
estratégia; êxodo (saída, emigração); ínterim (cuidado para não dizer “interim”,
como se fosse oxítona); perífrase; réquiem.
1.2.1.4  Algumas palavras que admitem dupla prosódia
Acróbata ou acrobata; Oceânia ou Oceania; projétil ou projetil; réptil ou reptil;
ortoépia ou ortoepia; hieróglifo ou hieroglifo Para saber mais sobre o assunto,
veja em:

capítulo 3 • 89
http://www.coladaweb.com/portugues/ortoepia-e-prosodia.
1.3 O novo Acordo Ortográfico
2
Desde o início do século XX, tanto no Brasil quanto em Portugal, empreende-
ram-se esforços na busca de um modelo de ortografia que possibilitasse a con-
vergência ortográfica nas publicações oficiais e no ensino entre os dois países.
Em 1945, foi assinado um Acordo Ortográfico em Portugal, tornando-se vigente
apenas neste país, pois o Brasil não ratificou o acordo, preferindo manter o Vo-
cabulário de 1943. Em 1986, teve lugar, no Brasil, nova tentativa de uniformiza-
ção, mas sem consenso.
Box explicativo:
Os princípios fonéticos e etimológicos correspondem, respectivamente, à fonética e à etimo-
logia. A fonética estuda os sons de uma língua, ou seja, os sons vocais em sua natureza física
e fisiológica. A etimologia ocupa-se do estudo da origem das palavras.
Em 1990, depois de um longo trabalho desenvolvido por representantes de
Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé
e Príncipe, chega-se ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, ao qual Ti-
mor aderiu em 2004. O texto do acordo, no entanto, não entrou em vigor, já que
não foi ratificado. A CPLP (Comissão de Países de Língua Portuguesa), tempos
depois, decidiu que o acordo poderia entrar em vigor, caso três países ratificas-
sem o acordo. Como o Brasil ratificou-o em 2004 e Cabo Verde e São Tomé e
Príncipe, em 2006, ele já poderia tecnicamente ter entrado em vigor. Portugal,
depois de muito hesitar, aderiu ao acordo. A Assembleia da República de Portu-
gal ratificou o acordo em maio de 2008.
Agora, já estamos vivendo a vigência e aplicação do no Novo Acordo Or-
tográfico, embora haja um tempo de transição no qual convivem a antiga e a
nova ortografia. Entre gramáticos e linguistas há opiniões e emoções tanto fa-
voráveis quanto contrárias à vigência imediata do novo acordo. Embora alguns
critiquem aspectos do texto do acordo e outros concordem com as mudanças
propostas, há uma atitude de cautela da parte de muitos estudiosos. A questão
é basicamente a seguinte:
Seria oportuno um acordo neste momento?
2 O conteúdo sobre o Novo Acordo Ortográfico foi retirado de DALLIER, L. C. Comunicação e expressão.
Ribeirão Preto: Uniseb, 2011, p. 150- 165.

90 •
capítulo 3
Não há outras prioridades educacionais com as quais o MEC deveria se pre-
ocupar?
Não é a intenção aqui apontar uma posição final sobre o assunto, nem mes-
mo oferecer detalhada explicação de cada regra do novo acordo. O espaço aqui
é mais para introduzir o assunto e apresentar alguns pontos do novo acordo
orográfico.
CONEXÃO
No link a seguir, você poderá ler o texto do Acordo na íntegra: http://www.abril.com.br/arqui-
vo/acordo_ortografico.pdf
1- Proposta básica:
Unificação do idioma dos países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste
2- ALFABETO
COMO ERA NOVA REGRA COMO SERÁ
Formado por 23 letras
O alfabeto é formado por
26 letras
As letras K, W, Y fazem
parte do alfabeto
3- Abolição do trema
O novo acordo ortográfico suprimiu completamente o trema em palavras
portuguesas ou aportuguesadas, permanecendo apenas em palavras estrangei-
ras. Veja: linguiça, sequência, tranquilo, cinquenta, sagui, arguir, linguística.
4- Alterações no uso do hífen
Provavelmente é no emprego do hífen que reside a maior dificuldade quan-
to ao entendimento e aplicação das alterações do novo acordo ortográfico. Em
muitos casos, o hífen foi abolido, em outros, ele passou a ser usado. Vejamos
então o que mudou e o que não foi alterado.
a) Uso do hífen com os prefixos: AUTO, CONTRA, EXTRA, INFRA, INTRA,
NEO, PROTO, PSEUDO, SEMI, SUPRE e ULTRA

capítulo 3 • 91
Somente devemos usar o hífen se a palavra seguinte começar por “h”ou vogal
igual à vogal final do prefixo. Antes do acordo, também se usava hífen quando
a palavra seguinte começava por h, r, s e qualquer vogal. O novo acordo mudou
isso. Também é importante atentar para o fato de que nas palavras que come-
çam com r ou s, além de não mais se usar o hífen é preciso dobrar essas letras.
Auto-hipnose, auto-observação, autoadesivo, autoanálise, autobiografia,
autoconfiança, autocontrole, autocrítica, autoescola, automedicação, autope-
ça, autopiedade, autopromoção, autorretrato, autosserviço, autossuficiente,
autossustentável.
Contrabaixo, contraceptivo, contracheque, contradizer, contraespião, con-
trafilé, contragolpe, contraindicação, contramão, contraordem, contrapartida,
contrapeso, contraproposta, contrarreforma, contrassenso.
Extraconjugal, extracurricular, extraditar, extraescolar, extrajudicial, extra-
oficial, extraterrestre, extratropical.
Infracitado, infraestrutura, infraocular, infrarrenal, infrassom, infraverme-
lho, infravioleta.
Intracelular, intragrupal, intramolecular, intramuscular, intranet, intrao-
cular, intrarracial, intrauterino, intravenoso.
Neoacadêmico, neocolonialismo, neofascismo, neoirlandês, neoliberal,
neonatal, neorromântico, neossocialismo, neozelandês.
Protoevangelho, protagonista, protótipo, protozoário.
Pseudoartista, pseudocientífico, pseudoedema, pseudoproblema, pseudor-
rainha, pseudorrepresentação, pseudossábio.
Semiaberto, semialfabetizado, semiárido, semibreve, semicírculo, semi-
deus, semiescravidão, seminu, semirreta, semisselvagem, semitangente, semi-
úmido, semivogal.
Supracitado, supramencionado, suprapartidário, suprarrenal, suprassumo.
Ultracansado, ultraelevado, ultrafamoso, ultrajudicial, ultranacionalismo,
ultraoceânico, ultrapassagem, ultrarradical, ultrarromântico, ultrassensível,
ultrassom, ultrassonografia.
b) Com os prefixos ANTE, ANTI, ARQUI e SOBRE:
Somente usaremos hífen se a palavra seguinte começar com “h”ou vogal
igual à vogal final do prefixo. Pela regra antiga, também se usava o hífen quando
a palavra seguinte começava com “s” e “r”.
Antebraço, antecâmara, antediluviano, antegozar, ante-histórico, antemão,

92 •
capítulo 3
anteontem, antepenúltimo, anteprojeto, anterrepublicano, antessala, antevés-
pera, antevisão.
Antiabortivo, antiácido, antiaéreo, antialérgico, anticoncepcional, antide-
pressivo, antigripal, anti-hemorrágico, anti-herói, anti-horário, antiimperialis-
mo, anti-inflacionário, antioxidante, antirrábico, antirradicalista, antissemita,
antissocial, antivírus.
Arquibancada, arquidiocese, arqui-hipérbole, arqui-inimigo, arquimilioná-
rio, arquirrival, arquissacerdotal.
Sobreaviso, sobrecapa, sobrecomum, sobrecoxa, sobre-erguer, sobre-huma-
no, sobreloja, sobremesa, sobrenatural, sobrenome, sobrepasso,sobrerrenal.
c) Com os prefixos HIPER, INTER e SUPER:
Somente usaremos hífen se a palavra seguinte começar com “h”ou “r”. Hi-
perativo, hiperglicemia, hiper-hidratação, hiper-humano, hiperinflação, hi-
permercado, hiper-realismo, hiper-reativo, hipersensibilidade, hipertensão,
hipertrofia.
Interação, interativo, intercâmbio, intercessão, intercontinental, interdisci-
plinar, interescolar, interestadual, interface, inter-helênico, interhumano, in-
terlocutor, intermunicipal, inter-racial, inter-regional, interrelação, interseção,
intertextualidade.
Superaquecido, supercampeão, supercílio, superdosagem, superfaturado,
super-habilidade, super-homem, superinvestidor, superleve, supermercado,
superlotado, super-reativo, super-requintado, supersecreto, supervalorizado.
d) Com o prefixo SUB:
Somente usaremos hífen se a palavra seguinte:
começar com “b”ou “r”.
subaquático, sub-base, subchefe, subclasse, subcomissão, subconjunto,
subdiretor, subdivisão, subeditor, subemprego, subentendido, subestimar,
subfaturado, subgrupo, sub-hepático, sub-humano, subjugado, sublocação,
submundo, subnutrido, submundo, suboficial, subprefeito, sub-raça, sub-rei-
no, sub-reitor, subseção, subsíndico, subsolo, subtítulo, subtotal.
e) Com o prefixo CO:
Somente usaremos hífen se a palavra seguinte começar com “h”.
Coautor, cofundador, co-herdeiro, cosseno, cotangente, coobrigação, coo-

capítulo 3 • 93
cupante, cooperar, coordenar.
f) Alguns prefixos sempre serão seguidos de hífen. Confira:
Além: além-mar, além-túmulo.
Aquém: aquém-fronteiras, aquém-mar.
Bem: bem-amado, bem-querer (exceção: bendizer e benquisto).
Ex: ex-senador, ex-esposa.
Grã: grã-duquesa, grã-fino.
Grão: grão-duque, grão-mestre.
Pós: pós-moderno, pós-meridiano, pós-cabralino.
Pré: pré-nupcial, pré-estreia, pré-vestibular.
Pró: pró-britânico, pró-governo.
Recém: recém-chegado, recém-nascido, recém-nomeado.
Sem: sem-número (inúmeros), sem-terra, sem-teto, sem-vergonha.
Vice: vice-diretor, vice-governador.
Conforme o novo acordo, os pseudoprefixos ou prefixos falsos serão segui-
dos de hífen se a palavra seguinte começar por “h” ou por vogal igual à vogal
final do prefixo falso. Veja a lista.
AERO: aeroespacial, aeronave, aeroporto;
AGRO: agroindustrial;
ANFI: anfiartrose, anfíbio, anfiteatro;
AUDIO: audiograma, audiometria, audiovisual;
BI(S): bianual, bicampeão, bigamia, bisavô;
BIO: biodegradável, biofísica, biorritmo;
CARDIO: cardiopatia, cardiopulmonar;
CENTRO: centroavante, centromédio;
DE(S): desacerto, desarmonia, despercebido;
ELETRO: eletrocardiograma, eletrodoméstico;
ESTEREO: estereofônico, estereofotografia;
FOTO: fotogravura, fotomania, fotossíntese;
HIDRO: hidroavião, hidroelétrico;
MACRO: macroeconomia;
MAXI: maxidesvalorização;
MEGA: megaevento, megaempresário;
MICRO: microcomputador, micro-onda;
MINI: minidicionário, mini-hotel, minissaia;

94 •
capítulo 3
MONO: monobloco, monossílabo;
MORFO: morfossintaxe, morfologia;
MOTO: motociclismo, motosserra;
MULTI: multicolorido, multissincronizado;
NEURO: neurocirurgião;
ONI: onipresente, onisciente;
ORTO: ortografia, ortopedia;
PARA: paramilitares, parapsicologia;
PLURI: plurianual;
PENTA: pentacampeão, pentassílabo;
PNEUMO: pneumotórax, pneumologia;
POLI: policromatismo, polissíndeto;
PSICO: psicolinguística, psicossocial;
QUADRI: quadrigêmeos;
RADIO: radioamador;
RE: reposição, rever, rerratificação;
RETRO: retroagir, retroprojetor;
SACRO: sacrossanto;
SOCIO: sociolinguístico, sociopolítico;
TELE: telecomunicações, televendas;
TERMO: termodinâmica, termoelétrica;
TETRA: tetracampeão, tetraplégico;
TRI: tridimensional, tricampeão;
UNI: unicelular;
ZOO: zootecnia, zoológico.
Confira, também, os casos em que o hífen deve continuar sendo usado:
• para dividir sílabas: or-to-gra-fi-a, gra-má-ti-ca, ter-ra, per-doo, ál-co-ol, ra
-i-nha, trans-for-mar, tran-sa-ção, su-bli-me, subli-nhar, rit-mo.
• Com pronomes enclíticos e mesoclíticos: encontrei-o, recebe-lo, reunimo-
nos, encontraram-no, dar-lhe, tornar-se-á, realizar-se-ia.
• Antes de sufixos -(GU) AÇU, -MIRIM, -MOR: capim-açu, araçá-guaçu, araçá-
mirim, guarda-mor.
• Em compostos em que o primeiro elemento é forma apocopada (BEL-,
GRÃ-, GRÃO- ...) ou verbal: bel-prazer, grã-fino, grão-duque, el-rei, arranha-céu,
cata-vento, quebra-mola, paralama, beija-flor.
• Em nomes próprios compostos que se tornaram comuns: Santo- Antônio,

capítulo 3 • 95
Dom-João, Gonçalo-Alves.
• Em nomes gentílicos: cabo-verdiano, porto-alegrense, espíritosantense,
mato-grossense.
• Em compostos em que o primeiro elemento é numeral: primeiro-ministro,
primeira-dama, segunda-feira.
• Em compostos homogêneos (dois adjetivos, dois verbos): técnico-científi-
co, luso-brasileiro, azul-claro, quebra-quebra, corre-corre.
• Em compostos de dois substantivos em que o segundo faz papel de adjeti-
vo: carro-bomba, bomba-relógio, laranja-lima, manga-rosa, tamanduá-bandei-
ra, caminhão-pipa.
• Em composto em que os elementos, com sua estrutura e acento, perdem a
sua significação original e formam uma nova unidade semântica: copo-de-leite,
couve-flor, tenente-coronel, pé-frio.
(Fonte: O Globo apud DALLIER, 2011, p. 159-163)
Confira um quadro que sintetiza algumas das principais alterações:
HÍFEN
COMO ERA NOVA REGRA COMO SERÁ
Auto-afirmação
Infra-estrutura
Contra-exemplo
Sai a maioria dos hífens em
palavras compostas em que o
prefixo termina em vogal dife-
rente da vogal do segundo vo-
cábulo da palavra.
Autoafirmação
Infraestrutura
Contraexemplo
Ante-sala
Auto-retrato
Auto-sugestão
Anti-rugas
Contra-senso
Extra-regimento
Duplicam-se as consoantes
dos segundos elementos das
palavras compostas quando
começarem com: r, s e o prefi-
xo terminar em vogal.
Antessala
Contrarregra
Autossugestão
Antirrugas
Contrassenso
Extrarregimento

96 •
capítulo 3
Microondas
Antiinflamatório
Microônibus
Em substantivos compostos
cuja última letra da primeira
palavra e a primeira letra da
palavra são a mesma, será fei-
ta a introdução do hífen. Assim
vira micro-ondas.
Micro-ondas
Anti-inflamatório
Micro-ônibus
Para-quedas
Pára-choque
Manda-chuva
Não se emprega hífen nos
compostos que de certo modo
perderam a noção de compo-
sição.
Paraquedas
Para-choque
M andachuva
1.4 Regras ortográficas
Vogais átonas: uso do “e” e do “i”:
Deve-se escrever com e, antes de vogal ou ditongo da sílaba mais forte, a palavra
que é derivada de outra terminada em e acentuado: guineense (de Guiné); pole-
ame e poleeiro (de polé); coreano (de Coreia); galeão (de galé).
Deve-se escrever com i, antes da sílaba tônica (a mais forte da palavra), os
substantivos e adjetivos que derivam de outras palavras e que tenham o sufixo
-iano e -iense: acriano (Acre); torriense (Torres).
Uso da vogal “e”
Os verbos terminados em –OAR e –UAR devem ser escritos com e no sin-
gular do presente do subjuntivo: abençoe, abençoes, abençoe; acentue, acen-
tues, acentue.
Os substantivos e adjetivos que estão relacionados com substantivos que
apresentam a terminação –EIA apresentam a vogal e: baleeiro (baleia); candeei-
ro (candeia); traqueano (traqueia).
Geralmente, os ditongos nasais apresentem o e: cães; escrivães; mãe;
pães; pões.
Uso da vogal “i”
Os verbos terminados em –UIR devem ser escritos com i na 2ª e 3ª pessoas

capítulo 3 • 97
do singular do presente do indicativo: possuis, possuis; contribuis, contribui.
Atente para algumas formas do presente do indicativo e do subjuntivo dos
verbos terminados em –EAR: receio, receias, receie, receia, receamos, receais,
receiam; passeie, passeies, passeie, passeemos, passeeis, passeiem.
Muita atenção para os verbos mediar, ansiar, remediar, incendiar e odiar:
anseio, anseias, anseia, ansiamos, ansiais, anseiam; medeie, medeies, medeie,
mediemos, medieis, medeiem.
Uso da letra G
O g está presente nas seguintes terminações: -ÁRGIO, -ÉGIO, ÍGIO, -AGEM,
-IGEM, -EGE, -UGEM, -OGE, -ÓGIO, -ÚGIO. Exemplos:
adágio, pedágio, plágio, egrégio, relógio, plumagem, agiotagem, fuligem,
ferrugem, penugem, herege. Exceções: pajem e lambujem.
Emprega-se, geralmente, a letra g depois de R. Veja alguns exemplos:
divergir, submergir, ressurgir. Mas nem sempre é assim: gorjeta, sarjeta,
gorjeio.
Atente para as seguintes palavras que também apresentam a letra g: aborí-
gine, agilidade, algema, apogeu, argila, bege, bugiganga, cogitar, fugir, geada,
gesto, higiene, monge, tigela, vagem.
Uso da letra J
Palavras que são derivadas de outras palavras que também apresentam a
letra j: anjinho (anjo); canjica (canja;) gorjear, gorjeio, gorjeta (gorja); cerejeira
(cereja); laranjeira (laranja), lisonjear, lisonjeiro (lisonja); lojinha, lojista (loja);
nojento (nojo); sarjeta (sarja); enrijecer(rijo); varejista (varejo).
Usa-se o j na terminação –AJE: laje, traje, ultraje.
Nas formas dos verbos terminados em –jar: arranjar (arranjo, arranje, arran-
jem); despejar (despejo, despejem), enferrujar (enferrujem), viajar (viajo, viaje,
viajem). Atenção: viagem é substantivo e não verbo.
Em palavras de origem tupi, africana, árabe ou exótica.também encontra-
mos o j:jiboia, pajé, jirau, alforje, canjica, jerico, manjericão, Moji.
Fique atentos às seguintes palavras que também apresentam o j: berinjela,
cafajeste, granja, jejum, jerimum, jérsei, jiló, majestade, objeção, ojeriza, pro-
jétil, rejeição, trejeito.

98 •
capítulo 3
Emprego da letra S
A letra S terá som de “z” quando estiver entre vogais. Dizemos que, nesse
caso, a letra s intervocálica representa o fonema /z/. Veja alguns casos em que
se usa a letra s.
Temos o s nas palavras derivadas de outra em que já existe s: casa (casinha,
casebre, casarão); divisar (divisa); paralisar (paralisia); liso (lisinho, alisado, ali-
sador); análise (analisar, analisador, analisante).
Empregamos o s nas palavras que apresentam os seguintes sufixos:
a) -ês, -esa: (indicando nacionalidade, título, origem): português, portugue-
sa; marquês, marquesa; burguês, burguesa; duquesa, baronesa;
b) -ense, -oso, -osa (formadores de adjetivos): caldense, catarinense, amoro-
so, amorosa, gasoso, gasosa, espalhafatoso;
c) -isa (ocupação feminina): poetisa, profetisa, sacerdotisa, pitonisa.
Após ditongos devemos sempre escrever com s: lousa, coisa, causa, ausên-
cia, náusea.
Tenha muito cuidado com as formas do verbo pôr (e derivados) e querer.
Sempre serão escritas com s: pus, pusera, puséssemos, repusera, quis, quisera,
quiséssemos, quisesse.
Atenção para as seguintes palavras: abuso, aliás, anis, asilo, atrás, através,
bis, brasa, evasão, extravasar, fusível, hesitar, lilás, maisena, obsessão (diferen-
temente de obcecado), usura, vaso.
Uso de SS
Devemos escrever com ss os substantivos formados a partir de verbos que
têm o radical terminado em –CED, -GRED, -PRIM e –MET:
intercessão (interceder), retrocesso (retroceder), concessão (conceder),
agressão (agredir), supressão (suprimir), intromissão (intrometer).
Substantivos cujos verbos cognatos terminam em –TIR também apresen-
tam ss: admissão (admitir), discussão (discutir).
Emprego da letra Z
Usamos a letras z nas palavras derivadas de outras em que já existe z: deslize
(deslizar, deslizante); razão (razoável, arrazoado, arrazoar); raiz (enraizar).
Nos seguintes sufixos também empregamos a letra z:
a) -ez, -eza (substantivos abstratos a partir de adjetivos): rijo, rijeza; rígido,
rigidez; nobre, nobreza, surdo, surdez; inválido, invalidez, macio, maciez, sin-

capítulo 3 • 99
gelo, singeleza.
b) -izar (verbos) e –ização (substantivos): civilizar, civilização; colonizar, co-
lonização; hospitalizar, hospitalização. Atenção: pesquisar, analisar, avisar.
Fique atento à grafia correta das seguintes palavras: assaz, batizar (batis-
mo), buzina, catequizar (catequese), coalizão, cuscuz, giz, gozo, prazeroso, va-
zar, verniz.
Observe ainda estas palavras: ascensão, pretensão, extensão, concessão, ex-
cesso, excessivo, abstenção, ascensorista, rescisão, oscilar, expor, extravagante,
exceção, exceder, excitar.
Uso da letra X e do dígrafo CH
Geralmente se usa x depois de ditongo: ameixa, caixa, feixe, frouxo, baixo,
rebaixar, paixão. Exceção: recauchutar, recauchutagem, recauchutadora.
Após en no início de palavras usa-se x: enxada, enxaqueca, enxerido, enxa-
me, enxovalho, enxugar, enxurrada. Fique atento às palavras que fogem à regra
por serem derivadas de outras que apresentam ch. É o caso de enchente e en-
cher que derivam de cheio. A mesma coisa acontece com encharcar (de charco)
e enchiqueirar (de chiqueiro).
guém) e taxar (cobrar impostos).
Após me no início de palavras também se usa x: mexer, mexerica, mexerico,
mexilhão, mexicano. A exceção é mecha.
Há várias palavras de origem indígena, africana e inglesa que apresentam x:
xavante, xingar, xique-xique, xará, xerife, xampu.
O dígrafo ch usa-se nas seguintes palavras: arrocho, apetrecho, bochecha,
brecha, broche, chalé (diferentemente de xale), chicória, cachimbo, comichão,
chope, chuchu, chute, deboche, fachada, flecha, linchar, mochila, pechincha,
piche, pichar, salsicha.
1.5 A crase
A crase é o nome que se dá ao processo de fusão de dois “as”, do artigo e da pre-
posição. Para saber quando usá-la, basta verificar a regência de nomes e verbos
que exigem a preposição “a” e verificar se seus complementos aceitam o uso do
artigo feminino, se houver tal contração, a crase ocorrerá. A crase é marcada
pelo acento grave.
Não ocorre crase antes de verbo, numeral ou qualquer outra palavra mascu-

100 •
capítulo 3
lina porque eles não admitem o artigo “a”!
Uma boa dica para aplicar a regra geral é a seguinte: se você puder
substituir o termo regido feminino por um masculino e ele for introduzido por
“AO”, na expressão feminina haverá a crase, observe:
Fui à igreja. Assisti à peça.
Fui ao parque. Assisti ao filme.
Quando se trata do uso do acento grave antes de nomes próprios geo-
gráficos, substitui-se o verbo da frase pelo verbo “vir” ou “voltar”. Caso resulte
na expressão “voltar da”, “vir da”, há a confirmação da crase.
Exemplos:
Vou à Bahia.
Volto da Bahia. Venho da Bahia (crase confirmada).
Vou a Roma.
Volto de Roma, Venho de Roma.
Há até um famoso jingle para lembrar-se da regra: “Venho da, crase há,
venho de, crase pra quê?”. Essas são as duas regras gerais, os casos específicos e
exceções serão abordados em momento oportuno do curso.
Vejamos um quadro que orienta o uso da crase.
3
1º caso: A palavra da esquerda pede a preposição a e a palavra da direita
pode ter o artigo a.
O gerente referiu-se à secretária. # referiu-se a + a secretária
Referia-me à professora. # referia-me a + a professora
O diretor dirigiu-se à recepção. # dirigiu-se a + a recepção
O funcionário prestou atenção à explicação. # prestou atenção a + a explicação
Ele chegou atrasado devido à chuva. # devido a + a chuva
Quanto à dívida, está tudo certo. # quanto a + a dívida
Em relação à reunião, participaremos. # em relação a + a reunião
Observe: se a palavra da direita for masculina, não haverá crase.
referiu-se a + o diretor # referiu-se ao diretor
dirigiu-se a + o balcão # dirigiu-se ao balcão
quanto a + o pagamento # quanto ao pagamento
devido a + o trânsito # devido ao trânsito
3 Este quadro foi retirado de DALLIER, L. C. Comunicação e expressão. Ribeirão Preto: Uniseb, 2011, p. 161

capítulo 3 • 101
Atenção: antes de pronomes pessoais femininos e pronomes indefinidos,
não ocorrerá crase.
Dirigia-me a ela. / Referia-me a alguém. / Falei a algumas pessoas.
2º caso: Usa-se o sinal indicativo de crase nas expressões formadas por pa-
lavras femininas.
Veja os exemplos:
A sala ficou às escuras. # palavra feminina
Fique à vontade.# palavra feminina
Ele andou às cegas. # palavra feminina
O vendedor seguia tudo à risca# palavra feminina
Fui atender o cliente às pressas.# palavra feminina
Estava à espera de você.
Não ando à toa por aí.
Estávamos à beira da falência.
A sala ficou às escuras. # palavra feminina
Fique à vontade.# palavra feminina
Ele andou às cegas. # palavra feminina
O vendedor seguia tudo à risca# palavra feminina
Fui atender o cliente às pressas.# palavra feminina
Estava à espera de você.
Não ando à toa por aí.
Estávamos à beira da falência.
Nesses casos, você não enxergará a fusão dos dois as. No entanto, sempre
que for uma expressão, isto é, um conjunto, formado por palavra feminina, não
tenha dúvida, haverá crase.
Uso da crase nas expressões formadas por horas e dias
Deve ser seguido o mesmo princípio das expressões formadas por palavras fe-
mininas, porém deve-se de não craseá-las quando já houver uma preposição antes.
A reunião será às 16 horas.
A reunião vai das 15 às 16 horas.
A reunião vai de 15 a 16 horas.
A reunião está marcada para as 16 horas.
O contrato será assinado entre as 14 e as15 horas.
Da segunda à sexta-feira
De segunda a sexta-feira. (Adaptado de GOLD, 2002)

102 •
capítulo 3
Também ocorre o acento agudo na contração da preposição “a” com os pro-
nomes demonstrativos aquele, aquela e aquilo. Veja os exemplos.
Referia-me àquele passageiro sentado na primeira fila.
Enviei o cliente àquela empresa mencionada em nossa conversa.
Falei àqueles funcionários tudo que sabia.
Ele referia-se àquilo.
1.6 O internetês e a ortografia
O surgimento da internet revolucionou muitas áreas na sociedade principal-
mente ao quebrar barreiras geográficas e ao divulgar informações em tempo
real. Assim, acabou alterando comportamentos, modos de vida e até a lingua-
gem das pessoas. Gonzalez (2007, p. 11), ao ressaltar as modificações advindas
do fenômeno mundial, explica que:
Dentre as múltiplas vantagens e novidades advindas da globalização virtual, a lin-
guagem escrita- fonte principal de comunicação- não poderia permanecer incólume:
novas palavras e expressões foram sendo inseridas no vocabulário de usuários da
rede, atribuídas ao constante uso dos computadores e à busca de uma forma mais
ágil de expressão.
Algumas das mudanças ocorridas na linguagem usada na internet (em
blogs, chats, e-mails, redes sociais etc), conhecida como “internetês”, e ampla-
mente divulgada entre os adolescentes são: novos sentidos a termos tradicio-
nais da língua; introdução de neologismos e estrangeirismos; abreviação de
palavras (para agilidade e rapidez na comunicação), troca da acentuação pela
letra “h” (“eh” ao invés de “é”), uso de emoticons etc. Veja alguns exemplos:
“hj, to em kza e c sds, qro mto q vc resp m msg, fmz?”
A “tradução” é: “Hoje, estou em casa e com saudades, quero muito que você
responda minha mensagem, firmeza?”
Vc quer tuitar? Eu axo q seria legal ixcrever sobre a vida!
Tradução: “Você quer tuitar? Eu acho que seria legal escrever sobre a vida!”

capítulo 3 • 103
Emoticons: amplamente usados no internetês e recomendado pela “netiqueta”.
INTERNETÊS TRADUÇÃO
vc, vs você
xau tchau
Kbça cabeça
ñ, naum não
jg jogo
hj, oj hoje
blz, bls beleza
aki, aqi aqui
ksa casa
q que
eh é
axo acho
kkk, shuashuahsuas, rsrsrsrs,
aosksaoks
risadas

104 •
capítulo 3
INTERNETÊS TRADUÇÃO
fmz firmeza
ag agora
abç abraço
vlw valeu
flw falou
9da10 novidades
t+ até mais
k cá
p para
s sim
fla fala
d de
bj, bjos, bjok, bjç, bjo, bjubeijo, beijos
Como se observa na tabela, o internetês caracteriza-se não só pela comu-
nicação rápida, instantânea e abreviada, uso de emoctions, mas também pela
despreocupação com as normas ortográficas e gramaticais da língua, o que não
deve ser motivo de preocupação.

Até mesmo as crianças têm acesso fácil à internet
e entram em contato com o “internetês”

capítulo 3 • 105
Em (A), “td” significa: “tudo”; em (B): todo; em (C): toda; em (D): todos e em
(E) todas.
O maior problema do internetês não são as abreviações, o risco de influen-
ciar a linguagem escrita etc., mas sim o seu uso em contextos inapropriados.
Maia (online) é categórico ao afirmar:
Usar o “internetês” num ambiente formal é tão desastroso quanto usar a
norma culta em um diálogo livre pelas redes sociais. Os padrões gramaticais
são importantes. E precisamos preservá-los para efetivar a formalidade e man-
ter o aspecto cultural do idioma.
Contudo, exaltar a criatividade linguística dos usuários é dizer um sonoro
SIM para a vida de um idioma. A Língua Portuguesa normativa deve ser usada
no momento adequado; e o “internetês”, também!
Deve ficar claro que em contextos informais, como em redes sociais, apli-
cativos como Whats App, não é proibido o uso do “internetês”, entretanto, não
confunda o “internetês”, que abrevia palavras com uma linguagem truncada,
sem sentido, com desvios ortográficos e outros que dificultam o entendimento.
Também deve-se frisar que embora não se condene seu uso nessas situações
informais, em ambientes acadêmicos, profissionais e outros formais, o “inter-
netês” deverá ser evitado.
CURIOSIDADE
Há diferentes versões do internetês, como por exemplo, o Miguxês, a língua dos “xis”, que
imita a linguagem de uma criança, como por exemplo, “xou xiki” (sou chique).

106 •
capítulo 3
Essas informações ilustram que o internetês, ao abreviar, omitir as vogais,
não fere a ortografia no sentido de trocar letras, como “s” no lugar de “z”, “g”
no lugar de “j” etc. Escrever “Vamos fujir” nada tem a ver com internetês, mas
sim com desvio ortográfico. Como você já conhece a importância do uso do por-
tuguês padrão nos contextos formais, passamos, agora, a listar algumas regras
de ortografia.
1.7 Importância da escrita para o mercado do trabalho
Assim como a aparência pode causar uma boa ou má impressão inicial, a lin-
guagem também acarreta juízos de valor sobre as pessoas. É comum ouvirmos:
“se ele não sabe nem falar, como quer trabalhar?” Portanto, o uso que se faz da
língua é de suma importância para os indivíduos na sociedade moderna. Uma
pessoa que não se expressa bem oralmente ou por escrito pode ter seu desempe-
nho profissional e pessoal prejudicado. Além disso, a linguagem padrão e cortês
evita desconfortos e desentendimentos entre colegas de trabalho e familiares.
Deve-se ter muita cautela ao escrever, pois, a ausência do contexto, das ex-
pressões faciais, a forma como se escreve (em caixa alta, excesso de pontos de
interrogação, por exemplo) pode parecer deselegante e grosseira e causar atri-
to entre emissor e receptor. Minucci (1995, p.260 apud TOMASI e MEDEIROS,
2014, p. 72) adverte que “a palavra escrita é muito mais agressiva do que uma
comunicação a dois, face-a-face. Uma pessoa poderá rejeitar uma mensagem
crítica por escrito e aceitá-la oralmente.”Observe a seguinte situação: Um chefe
de departamento de RH havia solicitado ao gestor de sua equipe que deixasse
em sua pasta um relatório sobre as diárias concedidas no mês. Porém, o funcio-
nário era novo, não conhecia muito bem os procedimentos, nem tinha muito
contato com o chefe do departamento. Em um encontro informal, o chefe co-
brou o funcionário e ele então redigiu o documento e o colocou no arquivo do
superior, tal como este havia solicitado. Entretanto, o chefe não encontrou o
documento e redigiu a seguinte mensagem:
“Cadê o relatório q era para estar no meu arquivo??”
O subordinado sentiu-se ofendido com o tom da cobrança e com tamanha
informalidade, pois não possuía intimidade com o chefe e assim, passou a ter
certa antipatia por ele. O chefe deveria ter sido mais cortês e polido ao escre-
ver para evitar esse constrangimento com o funcionário. Tal clima negativo é
muito ruim para o ambiente profissional e prejudica o trabalho no cotidiano.

capítulo 3 • 107
Tal equívoco teria sido evitado se o chefe tivesse usado uma linguagem mais
formal, polida e cortês, como por exemplo:
“Bom dia, prezado Silva,
Preciso do relatório com urgência; ele já deveria estar em meus arquivos.
Envie-o o mais breve possível,
Atenciosamente”
Em relação a esse aspecto, Tomasi e Medeiros (2014, p. 69) explica o seguinte:
Nunca é demais lembrar que a eficácia de uma comunicação depende da definição
dos objetivos, da capacidade de codificação, da capacidade de empatia, da capacida-
de de compreender o ambiente. Quanto maior o entrosamento de gerente e subordi-
nados, maior a possibilidade de eficácia da comunicação.
Vale, ainda, destacar o conceito de “empatia” apresentado por Minucci
(1995, apud TOMASI e MEDEIROS, 2014, p. 69): “é a habilidade de se colocar no
lugar dos outros e assim compreender melhor o que as outras pessoas sentem
e estão procurando dizer-nos.”
Outro aspecto, além da cortesia, elegância, impessoalidade é o cumprimen-
to da norma padrão, pois se alguém escreve em desacordo com a norma, não
será respeitado nem transmitirá credibilidade aos colegas. Há muitos relatos
de prejuízo na informação, ineficácia e perda de tempo devido a desvios grama-
ticais. Em um desses relatos, um diretor financeiro de uma empresa multina-
cional expressava sua indignação com o fato de um advogado não usar a pon-
tuação adequadamente. Para ele, é inadmissível uma pessoa formada em uma
área em que comunicação é essencial. Desvios como pontuação inadequada,
falta de acentuação, prolixidade, problemas de coesão e outros não são aceitá-
veis na linguagem organizacional. Observe a frase:
“Gostaria de saber se o senhor pode comparecer à reunião?”
Nela, o emissor não está perguntando, embora o questionamento esteja im-
plícito, ele está afirmando que gostaria de confirmar a presença; é diferente de
perguntar diretamente, como na frase abaixo:
“O senhor poderá comparecer à reunião?”
Essas informações ilustram a importância de uma boa comunicação no

108 •
capítulo 3
mercado de trabalho. Assim, finalizamos essa seção com mais uma citação de
Tomasi e Medeiros (2014, p. 75-76):
A comunicação interna ocupa-se de gerar consentimento e produzir aceitação. A
comunicação é essencial para encaminhar soluções e atingir metas preestabelecidas.
Seu objetivo é contribuir para a consecução de um clima positivo, favorável ao cumpri-
mento das metas da organização, ao crescimento e realização do lucro.
São preocupações ainda das comunicações internas: (a) estimular e integrar o corpo
funcional, estabelecendo mecanismos de informação e persuasão; (b) criar clima favorável
à mudança, quando necessário, tornando a empresa sensível às mudanças exigidas pela
realidade; [...] No âmbito das emoções, as comunicações internas têm um grande serviço a
apresentar: estimular, integrar, criar clima organizacional favorável, integrar áreas, departa-
mentos, gerências e promover o sucesso pessoal.
ATIVIDADE
1- As frases a seguir apresentam desvios da norma padrão, os chamados “erros”. Reescreva
as frases fazendo as alterações para que fiquem de acordo com o padrão.
a) Atuo no setor de controladoria a 15 anos.
b) O material da apresentação será a cores.
c) O serviço engloba a entrega a domicílio.
d) A longo prazo, serão necessárias mudanças.
e) A nível de reconhecimento de nossos clientes atingimos nosso objetivo.
f) À partir de novembro, estarei de férias.
g) O diretor chegará daqui há pouco.
h) Vamos vender à prazo.
i) José, residente à rua Estados Unidos, era um cliente fiel.
j) O pagamento foi feito à vista.
l) O móvel não se adequa à sala.
m) Agradecemos pela preferência.
n) Aluga-se apartamentos.
o) Segue anexo a carta de apresentação.
p) Ao invés de comprar carros, compraremos caminhões para aumentar nossa frota.

capítulo 3 • 109
p) Não sei aonde fica a sala do diretor.
q) Ao meu ver, a reunião foi um sucesso.
r) Fui avisada através de um e-mail de que a reunião está cancelada.
s) Precisamos aumentar ainda mais os lucros.
t) Eles leram o relatório bastante vezes
4
REFLEXÃO
Neste capítulo, estudamos algumas normas do português padrão (acentuação, pontuação,
ortografia etc.) essenciais para uma comunicação formal, como no mundo do trabalho, por
exemplo. Tanto que revistas de negócios e carreiras, como a Exame (online), por exemplo,
advertem: “Tropeçar no português pode prejudicar a sua carreira. Mas é certo também que
há erros que saltam aos olhos e há aqueles que quase passam despercebidos.” O problema
não está somente nos desvios à norma, tradicionalmente intitulados de “erros”, mas também
na forma como se elabora a mensagem. Um texto mal redigido, prolixo ou grosseiro pode não
comunicar e ainda mais, causar indisposição entre os funcionários. Portanto, pense antes de
escrever ou falar, revise seu texto e seja gentil!
LEITURA
Para conhecer mais regras e normas do padrão, leiam os livros indicados a seguir, escritos
por autores que são professores desta disciplina:
MORENO, Cláudio. Guia prático do português correto. Porto Alegre, L&PM Pocket, 4 volu-
mes, 2005
PIACENTINI, Maria Tereza de Queiroz. Manual da boa escrita: vírgula, crase, palavras com-
postas. Rio, Lexikon, 2014
SILVA, Deonísio da. A língua nossa de cada dia: como ler, escrever e comunicar-se com ele-
gância e simplicidade. São Paulo, Novo Século, 2007
SILVA, Sérgio Duarte Nogueira da. Português no dia a dia. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.
4 Exercícios adaptados da reportagem: “100 erros de português frequentes no mundo corporativo”. Disponível
em:<http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/100-erros-de-portugues-frequentes-no-mundo-corporativo>

110 •
capítulo 3
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEGALLA, D. P. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 2008.
CUNHA, C. & CINTRA, L. F. L. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
DALLIER, L.C. Comunicação e expressão. Ribeirão Preto: UNISEB, 2011
GOLD, Miriam. Redação empresarial: escrevendo com sucesso na era da globalização. 2. ed.
São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2002
GONZALEZ, Z.M.G. Linguística de corpus na análise do internetês. Dissertação. 123 fls. São
Paulo: Pontífica Universidade Católica de São Paulo (PUC), 2007.
TOMASI, C. MEDEIROS, J. B. Comunicação empresarial. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2014.

A estrutura do
parágrafo, a coesão
e a coerência
4

112 •
capítulo 4
Apresentação do capítulo
O que é necessário para escrever bem? Você já deve ter feito essa pergunta a
alguém! Muitos pré-requisitos são necessários, mas neste capítulo, evidencia-
remos alguns dos mais básicos, como a estrutura do parágrafo, qualidades es-
senciais a textos referenciais, como clareza, concisão, objetividade, a coesão e a
coerência, que também auxiliam a leitura.
OBJETIVOS
• Analisar a estrutura do parágrafo;
• Observar como se constrói um tópico;
• Depreender o conceito e os mecanismos de coesão;
• Averiguar como se constrói a coerência no texto.
REFLEXÃO
Você se lembra?
Você deve se lembrar do famoso “branco” que costuma nos acometer quando temos de re-
digir um texto. Muita gente não sabe como iniciar e estruturar um parágrafo. Nesse capítulo,
você aprenderá a desenvolver um parágrafo. Também já deve ter ouvido algo semelhante à:
“Nossa, fulano foi incoerente”, isto é, agiu de uma forma contraditória, sem sentido. A noção
de coerência é essencial tanto para interpretar melhor os textos, como também para produzi
-los. Analisa-se, por fim, a correlação entre a coesão e a coerência.
1.1 A estrutura do parágrafo
Othon Garcia (2010, p. 219) explica que “o parágrafo é uma unidade de compo-
sição constituída por um ou mais de um período, em que se desenvolve deter-
minada ideia central, ou nuclear, a que se agregam outras, secundárias, intima-
mente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes dela.” O estudioso
ressalta que nem sempre o parágrafo se estrutura dessa forma, pois dependen-
do do gênero textual, do assunto, da intenção do autor e outros fatores, pode ser
concretizado de maneira distinta. Porém, mesmo com as variações individuais

capítulo 4 • 113
de estilo, as características específicas de cada autor, as idiossincrasias, Garcia
(2010) apresenta duas características básicas do parágrafo “prototípico”, isto é,
o tradicional, modelar, “o afastamento, a extensão e a estrutura”. Em relação a
elas, afirma que:
a) o parágrafo é marcado por um ligeiro afastamento da margem esquerda
da folha, o que facilita ao “escritor a tarefa de isolar e depois ajustar convenien-
temente as ideias principais da sua composição, permitindo ao leitor acompa-
nhar-lhes o desenvolvimento nos seus diferentes estágios” (2010, p. 220);
b) a extensão não delimita o parágrafo, já que é variada (pode haver pará-
grafos de duas linhas, três ou de uma página inteira); assim, o que delimita o
parágrafo é a “ideia central”. Em conversas espontâneas, cartas comerciais, su-
mários, conclusões, alíneas de leis, decretos e recomendações, os parágrafos
costumam ser curtos devido à brevidade do assunto.
c) a estrutura do parágrafo padrão é constituída de três partes: a “introdu-
ção”: um ou dois períodos curtos iniciais que veiculam a ideia-núcleo de forma
resumida e sintética; “o desenvolvimento”: explanação dessa ideia-núcleo; e a
conclusão, que comumente não ocorre nos parágrafos cuja ideia central é de
menor complexidade.
REFLEXÃO
Aqui vale relembrar a diferença entre frase, oração e período.
Para Othon Moacir Garcia (2010, p. 32), “frase é todo enunciado capaz de por si só esta-
belecer comunicação, podendo expressar um juízo, indicar uma ação, estado ou fenômeno,
transmitir um apelo, uma ordem, um conselho. Por encerrar um pensamento completo, ter-
mina sempre por um ponto, ponto de exclamação, ponto de interrogação ou reticências”.
A oração caracteriza-se sintaticamente pela presença obrigatória de um predicado, função
preenchida por um verbo. Período é a organização de palavras de modo que expressem o
nosso pensamento. É a frase sintaticamente estruturada em torno de um ou vários verbos.
A passagem de um período para outro é marcada por ponto ( . ), ponto de exclamação ( ! ),
ponto de interrogação ( ? ). Tanto a frase quanto o período devem ter sentido completo. A
diferença é que a frase não necessariamente necessita de verbo (frases de situação e frases
nominais), e o período obrigatoriamente precisa de um verbo em sua estrutura. O período
simples é constituído de uma só oração, isto é, possui somente um verbo em sua estrutura.
Já o composto constituído de duas ou mais orações, ou seja, possui dois ou mais verbos.

114 •
capítulo 4
Em: “É hora do café”, tem-se uma frase, pois há o sentido completo, uma oração e um perí-
odo simples, pois há um verbo. Se estivesse escrito apenas: “Hora do café”, seria somente
frase e não oração.
Em relação ao assunto desenvolvido na estrutura modelar do parágrafo,
Garcia (idem) esclarece que o “tópico frasal” é constituído de um ou dois pará-
grafos curtos e traz a ideia-núcleo de forma concisa. Destaca-se que a definição
de “tópico-frasal”, dada pelo autor, é semelhante à de “introdução”. Embora as
pesquisas feitas pelo autor demonstrem ser essa uma construção predominan-
te, nem sempre, o tópico frasal apresenta essa característica, pois pode estar
diluído no parágrafo.
Othon Garcia (2010, p. 224) recomenda iniciar o parágrafo por meio de
um “tópico frasal” porque muitas vezes o estudante não sabe como começar
um texto e o “tópico frasal” facilita essa tarefa, pois sintetiza seu pensamento.
Ressalta ainda que existem diferentes modos de construir o tópico frasal e de-
monstra alguns deles por meio de exemplos.
a) Declaração inicial: observe, a seguir, um exemplo de parágrafo iniciado
por “declaração inicial”, que o autor reproduz.

capítulo 4 • 115
Vivemos numa época de ímpetos. A vontade, divinizada, afirma sua preponderância,
para desencadear ou encadear; o delírio fascista ou o torpor marxista são expressões
pouco diferentes do mesmo império da vontade. À realidade substitui-se o dinamismo;
à inteligência substitui-se o gesto e o grito; e na mesma linha desse dinamismo estão
os amadores das imprecações e os amadores de mordaças (...) (CORÇÃO, 1985, p. 84
apud: GARCIA, 2010, p. 224).
O parágrafo de Corção, apresentado por Garcia, começa com uma “declara-
ção inicial” (afirmação ou negação de algo seguida de uma justificativa ou fun-
damentação: argumentos, como exemplos, analogias, confrontos, restrições,
etc.). A declaração inicial sucinta feita por Corção é “Vivemos numa época de
ímpetos”, fundamentada por exemplos e pormenores: “o delírio fascista ou o
torpor marxista, império da vontade, dinamismo, gesto, grito, imprecações”
(termos que sugerem a ideia de “ímpeto”) (GARCIA, 2010, p. 225).
A declaração inicial, destaca Garcia, pode aparecer de forma negativa, se-
guida de contestação ou confirmação, como, por exemplo: “Não há sofrimento
mais confrangente que o da privação da justiça”.
b) Definição: apesenta-se um conceito, assunto, problema explicando-o de
forma didática, denotativa ou cientifica; trata-se de um método preferencial-
mente didático, como ocorre em:
Estilo é a expressão literária de ideias ou sentimentos. Resulta de um conjunto de
dotes externos ou internos, que se fundem num todo harmônico e se manifestam por
modalidades de expressão a que se dá o nome de figuras. (MAGNE, 1953, p.39, apud
GARCIA, 2010, p.225)
c) Divisão: de forma clara, concisa e objetiva, apresenta o tópico frasal dis-
criminando as ideias:

116 •
capítulo 4
O silogismo divide-se em simples e ilogismo composto (isto é, feito de vários silogismos
explícita ou implicitamente formulados). Distinguem-se quatro espécies de silogismos
compostos (...) (MARITAIN, 1962, p. 246, apud GARCIA, 2010, p.225)
Garcia ainda cita outras maneiras de se iniciar o tópico frasal, como por
exemplo, “a alusão histórica” e a “interrogação”, comuns em textos dissertati-
vos/opinativos, e “omissão de dados identificadores num texto narrativo”, co-
mum em contos, novelas e outros gêneros narrativos. Nestes, é comum a omis-
são de dados sobre a personagem como estratégia para despertar a atenção do
leitor. A título de exemplo, cita Carlos Drummond de Andrade, que habilmente
cativa a expectativa do leitor omitindo quem é a personagem, expondo apenas
os fatos a ela relacionados no trecho: “Vai chegar dentro de poucos dias. Grande
e boticelesca figura, mas passará despercebida. Não terá fotógrafos à espera, no
Galeão. Ninguém, por mais afoito que seja, saberá prestar-lhe essa homenagem
epitelial e difusa, que tanto assustou Ava Gardner.” (apud GARCIA, 2010, p.227).
Os dois esses entrelaçados são o símbolo do parágrafo.
1.2 As qualidades do parágrafo
Garcia (2010, p. 267) destaca que a correção gramatical é uma das qualidades
mais importantes em um texto, porém, os maiores problemas dos textos de es-

capítulo 4 • 117
tudantes de ensino fundamental e médio decorrem da estrutura, da coesão e
da coerência. “Quando o estudante aprende a concatenar ideias, a estabelecer
suas relações de dependência, expondo seu pensamento de modo claro, co-
erente e objetivo, a forma gramatical vem com um mínimo de erros que não
chegam a invalidar a redação.” (idem). Note que ele não afirma que a correção
gramatical não seja importante, contudo, igualmente essencial é a relação en-
tre as ideias, a unidade do texto, a coesão e a coerência.
De acordo com Garcia, a “unidade” de sentido em um texto pode ser
obtida por meio do tópico frasal. Ela consiste em apresentar uma informação
de cada vez, excluindo-se o que é supérfluo ou não ligado à ideia principal do
parágrafo. Já a coerência é resultado da ordenação e relação entre as palavras,
frases e períodos de um texto, isto é, da coesão. Dependendo da forma como
se usam conjunções, advérbios, locuções adverbiais, numerais, pronomes e
outros termos conectivos, principalmente em textos referenciais (em gêneros
como artigos científicos; artigos de opinião; cartas comerciais, notícias, etc.), o
texto pode ou não ficar coerente. Já nos textos literários, a coesão e a coerência
podem ligar-se a aspectos externos ao texto. Observe a ambiguidade presente
na frase devido a uma má estruturação: “João pediu a Paulo para assinar o do-
cumento.” Da maneira como foi escrita, pode haver duas interpretações: João
pediu a Paulo que o deixasse assinar o documento ou que João pediu que Paulo
assinasse o documento. Em um texto literário, entretanto, muitas vezes, a am-
biguidade é intencional, um recurso estilístico.
Analise, agora, a coerência e a unidade de uma redação de aluno apresenta-
da por Garcia (2010, p. 268):
Acabam de chegar a Cuba reforços militares da União Soviética para o regime comu-
nista de Fidel Castro. A condecoração de “Che” Guevara, um dos colaboradores castris-
tas, pelo ex-presidente Jânio Quadros, por afrontosa, escandalizou a opinião pública e
contribui para sua renúncia.
O professor explica que não há unidade nessa redação, pois o aluno cita vá-
rios assuntos distintos sem relacioná-los explicitamente. Qual a ideia central
desse parágrafo? Questiona-se. A chegada dos reforços, a condecoração, o es-
cândalo da opinião pública ou a renúncia do presidente? Embora haja uma re-

118 •
capítulo 4
lação histórica implícita entre as três personagens referidas, o estudante não
foi capaz de concatená-las. Verifique uma versão escrita pelo próprio professor
Othon Garcia (idem):
Acabam de chegar a Cuba reforços militares da União Soviética para o regime comu-
nista de Fidel Castro. Pois foi a um dos colaboradores castristas - “Che” Guevara- que o
ex-presidente Jânio Quadros condecorou, escandalizou a opinião pública e contribuin-
do para a sua própria renúncia.
Segundo o autor, ainda essa versão não está totalmente adequada, visto que
a ideia central não é a chegada de reforços, mas sim a condecoração. Uma rees-
crita enfim adequada à ideia central seria:
Com a chegada a Cuba reforços militares da União Soviética para o regime
comunista de Fidel Castro, condecoração de “Che” Guevara pelo ex-presidente
Jânio Quadros – gesto que talvez tenha contribuído para sua renúncia- torna-se
ainda mais afrontosa à opinião pública.
1.2.1  A unidade do parágrafo e o uso da ordem direta
A clareza de um texto está diretamente ligada à construção frasal. E ao elabo-
rar uma frase, o escritor precisa planejá-la de forma que todos os elementos
possam ser recuperados com rapidez e facilidade. Tudo na língua é referência,
as palavras se referem umas às outras no texto para a construção de um todo
significativo.
1

Uma relação essencial na frase é a estabelecida entre o verbo e o sujei-
to. Muitas frases são obscuras porque essa relação não fica nítida. De acordo
com a tradição gramatical da língua portuguesa, o sujeito pode ser omitido em
contextos em que sua referência estiver clara. Essa possibilidade de omitir o
sujeito deve-se ao fato de que a desinência verbal o indica.
2
Contudo, no por-
1 As seções de 4.2.1 a 4.2.4 foram retiradas de: CORDEIRO, M.B. G. Produção Textual I. Ribeirão Preto: Uniseb/
Estácio, 2015.
2 Apresentamos, a seguir, a conjugação do verbo “falar” no presente do indicativo, grifando as terminações
(desinências) que indicam as pessoas verbais expressas entre parênteses: Falo (eu); Falas (tu); Fala (ele); falamos
(nós); falastes (vós); eles falam (eles)

capítulo 4 • 119
tuguês atual, principalmente na linguagem falada espontaneamente, o para-
digma flexional vem se alterando, conforme inúmeros estudos linguísticos
atestam. Antes, havia seis pessoas (eu, tu, ele, nós, vós, eles) e uma desinência
para cada uma delas, atualmente, há apenas três desinências distintas, como
se ilustra a seguir:
Eu falo
Você fala
Ele/ela Fala
A gente fala
Vocês/Eles falam
CONEXÃO
Acesse o link indicado a seguir e leia um artigo que trata da realização do sujeito no portu-
guês brasileiro.
http://www.orbilat.com/Languages/Portuguese-Brazilian/Studies/Subject_realization.htm

Devido a essa alteração no paradigma flexional, a tendência é a de expres-
sar o sujeito, e não o omitir. Mas a dificuldade não ocorre nas frases escritas
em ordem direta e com sujeito expresso por substantivo, como em: “O gato
pulou o muro”; não há grande dificuldade para o falante reconhecer o sujei-
to: “o gato”. A dificuldade ocorre quando a relação com o referencial se dá de
forma indireta, por meio de um elemento intermediário: um pronome ou a
própria pessoa gramatical, como em: “Este só sabe falar, não faz nada!”; “O
meu é melhor!”; “Saíram cedo!”; “Qual é o ideal?”. Nesses exemplos dados, só
há clareza se a relação sujeito-predicado estiver clara e bem definida, a quem
“este, o meu, saíram e qual” se referem? Somente o contexto pode indicar. Os
seguintes contextos podem esclarecer a relação sujeito-predicado dessas ex-
pressões: “Pedro e João fizeram um ótimo discurso ontem, mas este só sabe
falar, não faz nada”; “Carlos possui um ótimo celular, mas o meu é melhor!”;
“Os estudantes que saíram cedo perderam essa explanação”; “Tenho dois ti-
pos de tecido, qual é o ideal?”.

120 •
capítulo 4
1.2.2  A clareza e a ordem direta
A estrutura SVC discutida acima também é conhecida como “ordem direta”, na
língua portuguesa. Conforme observamos, ela não é fixa, pode ser alterada em
função do estilo do autor, do seu objetivo etc. A ordem inversa costuma ser usa-
da em gêneros literários, como na poesia, crônicas literárias, contos, romances
etc. Sautchuk (2011, p. 32) alerta-nos que se no texto poético a ordem inversa
apresenta função expressiva, estilística, em textos referencias (cujo objetivo
está na transmissão do conteúdo de forma clara e direta), tal ordem deve ser
evitada, pois prejudica a falta de clareza. Segundo a autora, é impossível negar
a beleza de uma frase poética como: “Menino, fui, como os demais, feliz”, mas
também, não se pode negar a falta de clareza em: “Da verdade aqueles funcio-
nários todos muito honestos você pode acreditar que sabiam” (Sautchuk, 2011,
p. 33). Contudo, ela nos adverte também que a ordem inversa é comum e usu-
al na língua em certos tipos de construção, como a que ocorre com os verbos
intransitivos (VI). Nesses casos, a ordem inversa não compromete a clareza.
Como ilustração, apresenta os exemplos:
Ordem inversa: “Intensamente, brilhava o sol.”
Advérbio VI Sujeito
Ordem direta = “O sol brilhava intensamente”
Sujeito VI adverbio
1.2.3  A concisão, a objetividade e a clareza
Certamente, você já ouviu dizer que para escrever bem, é preciso ser objetivo e
conciso, mas pode-se perguntar: como escrever com concisão e objetividade? A
resposta é simples: destaque as ideias essenciais; corte informações totalmen-
te supérfluas; evite a repetição de palavras desnecessárias; foque-se no assunto
principal e use a precisão vocabular evitando a redundância.
Sautchuk (2011, p. 83) apresenta os seguintes exemplos de termos redun-
dantes que, embora sejam comuns na linguagem espontânea, no texto escrito,
devem ser evitados:
a) Criar mais de um milhão de empregos novos (só se pode criar o novo);
b) Elo de ligação (toso elo serve para ligar);

capítulo 4 • 121
c) Superávit positivo (se é superávit, já é positivo);
d) Surpresa inesperada (não é surpresa se for esperada);
e) Fica a seu critério pessoal (se é seu, só pode ser pessoal);
f) Velhas tradições (não há tradições novas);
g) Acabamento final (todo acabamento é dado sempre no final);
h) O general do exército ficou num beco sem saída (só há generais no exérci-
to e todo beco é sem saída).
Eliminando a redundância, tem-se:
a) Criar mais de um milhão de empregos;
b) Elo;
c) Superávit esperado/animador;
d) Surpresa emocionante/decepconante;
e) Fica a seu critério;
f) Tradições renovadas;
g) Acabamento excepcional;
h) O general ficou num beco sem respostas.
(SAUTCHUK, 2011, p. 83)
A autora apresenta outro exemplo interessante de redundância, em que o
autor, talvez por não dominar o assunto, apenas repete as ideias, não informan-
do nada de novo:
“O Brasil possui uma população altamente miscigenada, tornando-o um
país com uma imensa mistura de raças. Esta mistura de raças faz com que o
país possua pessoas completamente diferentes umas das outras” (apud SAUT-
CHUK, 2011, p. 84). Nesse exemplo, não há praticamente a evolução de infor-
mações novas, no texto todo, o autor fala a mesma coisa com outras palavras,
criando um “conteúdo circular”, totalmente deselegante e desnecessário.
Uma das formas de evitar a redundância e o conteúdo circular é usar a pro-
priedade vocabular e a exatidão de sentido. A impropriedade vocabular e a im-
precisão de sentido decorrem do desconhecimento dos sentidos da palavra ou
do fato de a pessoa acreditar que sabe o que o termo significa e por isso, são
comuns textos como os que seguem:
a) A amostra cultural será no salão nobre do palácio do governo. (amostra é
uma porção, uma parte representativa de algo, “amostra grátis”; mostra que é

122 •
capítulo 4
exposição de obras artísticas em geral);
b) As novelas cada vez mais trazem cenas exóticas, impróprias para meno-
res de idade. (exóticas = excêntricas, extravagantes; eróticas = relativo ao amor
sensual ou sexual);
c) Existem cenas violentas que intuem a agressividade dos jovens. (intuem=
do verbo “intuir”, significa “deduzir por intuição”; provavelmente seria inci-
tam, estimulam”).
d) O rapaz caiu, depois que foi almejado na cabeça. (almejado= desejado;
“alvejado” seria o correto).
Para não cometer tantas inadequações como estas, consulte sempre o dicio-
nário, e para evitar a repetição e termos próximos uns aos outros, use sinônimos.
A revisão do texto é essencial para obter clareza, concisão e unidade.
Outro aspecto relacionado ao vocabulário na composição do texto é o uso
de neologismos e estrangeirismos, também discutido por Sautchuk (2011, p.
90). O neologismo nomeia o processo de criação de novas palavras na língua. A
todo tempo, surgem novas palavras decorrentes das transformações sociais, do
desenvolvimento tecnológico e também devido à criatividade dos falantes. Nos
textos informais, conversas espontâneas, mensagens de celular, se houver inti-
midade com o receptor, não há problemas em usar essas criações, entretanto,
nos textos que exigem formalidade, clareza e precisão, é preciso ter cautela ao
usar neologismos e também estrangeirismos (termos de outras línguas).
Dessa forma, não é adequado, em gêneros como: artigos científicos, confe-
rências, redação oficial, dissertações de vestibular e outros o uso de neologis-

capítulo 4 • 123
mos e estrangeirismos, quando há o termo equivalente em português. Tanto
que Sautchuk (2011, p. 91) apresenta uma lista de termos neologismos que de-
vem ser evitados:
Neologismos:
Otimizar
Contabilizar
Agudizar
Problematizar
Quantificar
Priorizar espaços
Equacionar
Alavancar
Embasar
Conscientizar-se
Termos preferíveis:
Aumentar, melhorar
Calcular, somar
Intensificar, complicar
Indagar, debater
Somar
Destacar
Apresentar
Apoiar, sustentar, impulsionar
Fundamentar
Conhecer
1.2.4  Informações secundárias e a clareza
As ideias suplementares, como o próprio nome indica, visam complementar,
especificar, ampliar, aperfeiçoar ou esclarecer a ideia principal, explica Saut-
chuk (idem).
Ao lado de uma ideia principal como “Um grande número de pessoas preci-
sará de ajuda emocional”, pode-se acrescentar informação suplementar como:
“Em algum momento de sua vida” em diversas posições, observe:

124 •
capítulo 4
Posição 1: informação suplementar à esquerda da ideia principal:
“Em algum momento de sua vida, um grande número de pessoas precisará
de ajuda emocional.”
Posição 2: intercalada à ideia principal:
a) “Um grande número de pessoas, em algum momento de sua vida, preci-
sará de ajuda emocional”.
b) “Um grande número de pessoas precisará, em algum momento de sua
vida, de ajuda emocional”.
Posição 3: no final da ideia principal:
“Um grande número de pessoas precisará de ajuda emocional, em algum
momento de sua vida”.
(SAUTCHUK, 2011, p. 33).
A opção “a” da segunda posição não prejudica tanto a clareza como “b”, que
quebra bruscamente a ordem direta (SVC); O leitor espera que após o sujeito
e o verbo venha o complemento, mas não é isso que ocorre. Excetuando-se os
gêneros textuais que não priorizam a clareza, como os poéticos, por exemplo,
o produtor de um texto deve preferir a ordem direta, dispondo as informações
adicionais à esquerda ou à direita da ideia principal. Sautchuk nos orienta que
a escolha da disposição (à direita ou à esquerda) depende da ênfase que o escri-
tor quer conferir a esta informação adicional. Você deve imaginar que toda in-
formação localizada no início da frase é mais considerada mais relevante pelo
receptor, pois e retida em sua memória mais facilmente. Observe a mudança de
sentido decorrente da posição nos exemplos a seguir:
a) Inconformado com a repercussão das notícias, o superintendente da em-
presa pediu demissão logo que chegou do exterior.
b) Logo que chegou do exterior, o superintendente da empresa pediu demis-
são, inconformado com a repercussão das notícias.
c) O superintendente da empresa pediu demissão, logo que chegou do exte-
rior e inconformado com a repercussão das notícias.
(SAUTCHUK, 2011, p. 37).

capítulo 4 • 125
Além da ordem, Sautchuk nos adverte que quando escrevemos, devemos
nos preocupar também com o número de informações suplementares ou aces-
sórias acrescidas à ideia principal. Para discutir esse assunto, apresenta o se-
guinte enunciado:
Na última semana, uma de nossas colegas de trabalho, a do setor de planejamento finan-
ceiro, sofreu, na parte da manhã, em virtude da imprudência de alguns colegas que insis-
tem em jogar cascas de frutas no chão, um grave acidente. (SAUTCHUK, 2011, p. 38).
Leu com atenção? Conseguiu depreender a ideia essencial rapidamente? A
resposta provável foi negativa, não é? Isso porque o emissor acrescentou muitas
informações secundárias (na última semana, a do setor de planejamento finan-
ceiro, sofreu, na parte da manhã, em virtude da imprudência de alguns colegas
que insistem em jogar cascas de frutas no chão) ao primordial: “Uma de nos-
sas colegas de trabalho sofreu um grave acidente.” Com base nesse exemplo,
a estudiosa recomenda que, ao escrever, o emissor selecione as informações
verdadeiramente úteis, como “em virtude da imprudência de alguns colegas
que insistem em jogar cascas de frutas no chão” e descarte as informações des-
necessárias ao objetivo, como “na última semana, a do setor de planejamen-
to financeiro, na parte da manhã”. Por fim, declara: “É preciso estabelecer um
equilíbrio entre detalhes relevantes ou não e uma escolha criteriosa de posição
e de número de acessórios num único período.” (ibidem). Também é essencial
que se determine a extensão dessas informações suplementares.
Para finalizar a discussão sobre a quantidade de ideias suplementares, Sau-
tchuk discute o seguinte texto:
“O cineasta americano, John Ronald, especializado em roteiros de terror- o mais famoso
deles, Vampiros covardes, que se transformou em filme de grande sucesso- chegou on-
tem ao Brasil, logo cedo”. (SAUTCHUK, 2011, p. 38).

126 •
capítulo 4
Para analisar o que é dispensável e o que é essencial, a autora propõe os se-
guintes questionamentos:
1) O que é dispensável? (logo cedo)
2) Quais são as informações suplementares? (especializado em roteiros de
terror- o mais famoso deles, Vampiros covardes, que se transformou em filme
de grande sucesso- ;ontem ;ao Brasil).
3) Quais são as informações suplementares de outra ideia suplementar? (o
mais famoso deles, Vampiros covardes, que se transformou em filme de grande
sucesso).
4) Qual a ideia central? (O cineasta americano chegou ontem ao Brasil).
Sautchuk (2011, p. 39) apresenta duas versões mais claras e objetivas:
a) O cineasta americano, John Ronald, especializado em roteiros de terror
chegou ontem ao Brasil.
b) John Ronald, especializado em roteiros de terror, chegou ontem ao Bra-
sil. O cineasta americano é autor de Vampiros covardes, que se tornou filme de
grande sucesso.
Diante desses exemplos, ficou claro que para escrever com clareza, além de
se priorizar a ordem direta, deve-se evitar acrescentar um grande número de
informações secundárias e quando elas são importantes, devem vir após a ideia
principal.
Feitas essas considerações relacionadas à clareza, passaremos a discutir ou-
tro aspecto importante ligado a ela: a pontuação.
1.3 Coesão e coerência
A coesão textual é definida como o conjunto de recursos linguísticos responsá-
veis pelas ligações que são estabelecidas entre os termos de uma frase, entre as
orações de um período e entre os parágrafos de um texto. Segundo Platão & Fio-
rin (2006, p. 370), “a ligação, a relação, a conexão entre as palavras, expressões
ou frases do texto chama-se coesão textual”.
Para Halliday e Hansan (1976 apud KOCH, 1990, p. 17), a coesão “Ocorre
quando a interpretação de algum elemento no discurso é dependente de outro.
Um pressupõe o outro, no sentido de que não pode ser efetivamente decodifi-
cado a não ser por recurso ao outro.” Alguns dos principais elementos coesivos

capítulo 4 • 127
são: pronomes, numerais, conjunções, advérbios, classificados como itens gra-
maticais e outros itens lexicais, como se observa no trecho a seguir do artigo
“Rogai por nós”, do professor Pasquale Cipro Neto:
Quero falar de um texto que não é propriamente laudatório. Refiro-me a uma oração cris-
tã, a Ave-Maria, dedicada à mãe de Cristo, portanto à «mãe» de todos os seguidores Dele.
Quero tratar duma questão linguística específica –as formas de tratamento empregadas
nessa conhecidíssima oração cristã.
Começo por “Bendita sois vós entre as mulheres”. Por que o emprego do pronome
“vós”, da segunda do plural, se o ser a que se refere o trecho é apenas um (“Maria”)? O
“Houaiss” diz que esse pronome indica “aqueles a quem se fala ou escreve” (o exemplo
é “Vós sois bons”). Certamente não é esse o caso da “Ave-Maria”, oração em que se
verifica um emprego muito específico desse pronome pessoal, o de indicar uma divin-
dade, um santo etc.
Não é por acaso que noutra oração cristã, o “Pai-Nosso”, temos o mesmo fato (“que estais
no céu”). A forma “estais”, da segunda do plural do presente do indicativo de “estar”, re-
fere-se a um “vós” subentendido, que, por sua vez, se refere ao Pai, que também é um só.
É isso que explica o adjetivo “bendita”, no singular, em “Bendita sois vós entre as mulhe-
res”. Embora “vós” e “sois” estejam no plural, o ser ao qual esses termos se referem é do
singular. (Disponível em:< http://www1.folha.uol.com.br/colunas/pasquale/2015/05/
1625784-rogai-por-nos.shtml> Acesso em: 13 de maio de 2015).
O texto escrito por Pasquale apresenta inúmeros recursos de coesão tanto
gramaticais, como preposições, advérbios, conjunções e pronomes, como le-
xicais, termos estes que ao retomarem, ligarem ou anteciparem informações,
concatenam as ideias do texto conferindo-lhe unidade semântica, sentido, ou
a “coerência”. A conjunção “portanto”, ao relacionar os segmentos do texto,
estabelece a relação de conclusão, por exemplo. A expressão “desse pronome”
retoma “vós”; “mesmo fato” substitui uma grande porção textual, em que o au-
tor explica que na oração da “Ave-Maria” usa-se o pronome “vós” para se referir
a apenas um ser, “Maria” etc. Tais exemplos ilustram a afirmação de que no
texto, “tudo é relação”.
Se os elementos de coesão fossem retirados do texto de Pasquale, por exem-
plo, ele ficaria sem sentido, incoerente, então, nos textos referenciais, utilitá-

128 •
capítulo 4
rios, a coesão determina a coerência. Por outro lado, em textos literários, a apa-
rente falta de coesão na superfície textual não prejudica a coerência, pois esta
pode ser recuperada por elementos extratextuais, como a situacionalidade, a
historicidade, o foco, o conhecimento prévio, a intertextualidade e outros fato-
res de coerência. A coesão trata, portanto, da união dos elementos linguísticos
menores para gerar a unidade textual maior, a coerência.
Analise como a má conexão entre as partes do texto pode prejudicar seu
sentido:
“Muito se tem discutido sobre a eutanásia no Brasil nos últimos anos, exis-
te um projeto de lei no qual está sendo votado para que seja legalizada esse
procedimento, esse assunto já está gerando muitas polêmicas e confusões,
pois não envolve valores jurídicos, e sim religiosos, éticos,morais, sociais e
ideológicos”. Embora haja elementos coesivos nesse texto, como preposições,
pronomes e conjunções, as palavras e frases não estão bem conectadas, entre
“anos e existe”, a vírgula não estabelece nenhuma relação semântica (de cau-
sa, consequência, explicação, por exemplo); “no qual” não está adequado, pois
não conecta bem”um projeto” à “votado”; a falta de concordância entre “seja
legalizada” e “esse procedimento” também prejudica a coesão e a coerência.
Por fim, o uso do advérbio “não” pressupõe, nesse contexto, um termo que in-
dique restrição “não envolve apenas, somente valores jurídicos”, mas também
religiosos etc. Esse caso ilustra que não basta simplesmente usar elementos
conectivos para ligar, amarrar o texto, é preciso utilizar os elementos corre-
tos nos lugares adequados. Uma possível reescrita do parágrafo de forma mais
coesa seria: “Muito se tem discutido sobre a eutanásia no Brasil nos últimos
anos, tanto que existe um projeto de lei que está em votação para legalizá-la.
Esse procedimento está gerando muitas polêmicas e confusões, pois não en-
volve apenas valores jurídicos, mas também religiosos, éticos,morais, sociais
e ideológicos.” A segunda versão ficou mais coesa e coerente? Mais fácil de
entender? Espero que sim! Agora que você já conhece a importância da coesão,
deve aprender seus mecanismos.
1.3.1  Mecanismos de coesão
Há basicamente dois movimentos de relação no texto, o movimento de reto-
mada, denominado “referenciação” e o movimento de progressão, conhecido
como “sequenciação” (KOCH, 1990). Dentro os procedimentos de retomada

capítulo 4 • 129
(remissão) ou referenciação, os principais são:
a) Referência (pessoal, demonstrativa, comparativa; há total identificação
com o item pressuposto); “Ave-Maria e Pai Nosso são duas orações muito co-
nhecidas. Ambas fazem uso do vós.” O numeral “ambas” retoma “Ave-Maria e
Pai Nosso”, havendo total identificação entre eles.
b) Substituição (nominal, verbal, frasal); “Na Ave-Maria, usa-se a forma ver-
bal rogai, já no Pai-Nosso, estais. Isso ocorre porque, a primeira está no impera-
tivo e a segunda, no presente do indicativo.” Observe que o pronome indefinido
isso não se refere a um termo específico, mas substitui uma porção maior de
texto, não há, portanto, total identificação entre “isso” e os elementos substi-
tutos.
c) Elipse (nominal, verbal, frasal); “O Pai nosso é universal, a ave-maria não
Ø”. O símbolo indica uma omissão de todo o predicado, “A ave-maria não é uni-
versal.”
d) Parte da coesão lexical: reiteração, uso de sinônimos, hiperônimos (no-
mes genéricos, como maquiagem, por exemplo), hipônimos (nomes específi-
cos, como: batom, por exemplo), nomes genéricos; expressões nominais defi-
nidas etc. No texto “Rogai por nós”, Pasquale usa a expressão nominal definida
“nessa conhecidíssima oração cristã” para retomar a “Ave-Maria”.
A reiteração pode ocorrer das seguintes formas:
• Repetição do mesmo item lexical, geralmente, enfatiza o termo repetido.
O fogo acabou com tudo. A casa estava destruída. Da casa não sobrara nada.
• Uso de sinônimos
A criança caiu e chorou. Também o menino não fica quieto!
A médica fez uma boa escolha. Ninguém melhor que a doutora para decidir
sobre o melhor momento do parto.
• Uso de hipônimos:
Não tomo muito remédio (hiperônimo); às vezes, uma Neosaldina (hipônimo).
Esses são alguns elementos que ao retomar palavras, frases, orações, conec-
tam as partes do texto formando um todo. A seguir, apresenta-se o principal
mecanismo para fazer a informação do texto progredir, portanto, um elemento
de coesão sequencial:
a) Conjunção ou conexão: uso de conjunções e outros elementos conectivos
que, ao conectarem orações, parágrafos, estabelecem relações lógico-semânti-
cas, como, por exemplo:

130 •
capítulo 4
-Aditiva: e
-Adversativa: mas, porém, contudo, entretanto, a despeito de...
-Causal: devido, pois...
-Temporal: antes, depois, após...
-Continuativa: por conseguinte, dessa forma...
As conjunções, advérbios, preposições, locuções conjuntivas e prepositivas,
além de outros recursos linguísticos, podem também indicar a direção argu-
mentativa de um texto. Serão apresentados, a seguir, alguns desses recursos
expostos por Tomasi e Medeiros (2014, p. 282 a 293).
1.3.2  Operadores argumentativos
a) Operadores que assinalam argumento mais forte de uma escala orienta-
da para determinada conclusão: até, mesmo, até mesmo, inclusive, nem mesmo
(se a escala for em sentido negativo), ao menos, pelo menos, no mínimo;
b) Operadores que somam argumentos a favor de uma mesma conclusão:
e, também, ainda, nem, não só...mas também, tanto...como, além de, além disso, a
par de, aliás...
c) Operadores que traduzem uma conclusão: portanto, logo, por conseguinte,
pois, em decorrência, consequentemente etc.
d) Operadores que introduzem argumentos alternativos que conduzem a
conclusões diferentes ou opostas: ou, então, quer...quer, seja...seja.
e) Operadores que estabelecem relações se comparação: mais que, menos
que, tão...como.
f) Operadores que traduzem uma justificativa: porque, que, já que, pois.
g) Operadores que contrapõem argumentos orientados para conclusões
contrárias: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, embora, ainda
que, posto que, apesar de que.
h) Operadores que introduzem no enunciado argumentos pressupostos: já,
ainda, agora.
i) Marcadores de pressuposição: ficar, começar a , passar a, deixar de, conti-
nuar, permanecer, tornar.
(TOMASI e MEDEIROS, 2014, p. 282 a 293).

capítulo 4 • 131
1.4 A coerência
Coerência é sinônimo de adequação! Se o texto faz sentido para quem fala/es-
creve e para que ouve/lê, ele pode ser chamado de coerente.
Segundo Ferreira & Pellegrini (1999, p
3
.220, apud CORDEIRO, 2015), a coe-
rência textual é um processo que inclui dois fatores:
o conhecimento que o produtor e o receptor têm do assunto tratado no texto, determina-
do por sua visão de mundo, sua classe social, profissão, idade, escolaridade etc.
o conhecimento que eles têm da língua que usam: tipo de texto, vocabulário, recursos
estilísticos etc.
Koch & Travaglia (1993, p.50) explicam que
O texto será incoerente se seu produtor não souber adequá-lo à situação, levando em
conta intenção comunicativa, objetivos, destinatário, regras socioculturais, outros elemen-
tos da situação, uso dos recursos linguísticos, etc. Caso contrário, será coerente.
Assim, podemos pensar que a coerência está relacionada à organização do
texto como um todo (subentende-se as delimitações de início, meio e fim) e à
adequação da linguagem ao tipo de texto.
Para completar, é importante ressaltar que situações diferentes geram as
possibilidades diferentes de construção de coerência, por exemplo, em um tex-
to narrativo, há uma lógica temporal que deve ser respeitada, além disso, uma
personagem não pode praticar uma ação que seja incompatível com sua ida-
de. Por outro lado, podemos pensar em uma situação diferente, por exemplo,
a produção de texto dissertativo, no qual o dissertador deve ser cauteloso para
não cair em contradição ou apresentar ideias discrepantes com a realidade, em
outras palavras, a coerência está vinculada a outros elementos do discurso.
Outro dado relevante sobre a coerência é que ela não se encontra no
texto, mas a partir dele, com base na situação comunicativa (fatores: prag-
3 O conteúdo sobre coerência foi retirado de: CORDEIRO, M.B.G. Produção textual I. Estácio: Ribeirão Preto, 2015.

132 •
capítulo 4
máticos, cognitivos, interacionais e semânticos). Portanto, constrói-se pelo
leitor com base em seus conhecimentos prévios, portanto, trata-se de um
princípio de interpretabilidade.
ATIVIDADE
1- Coloque (V) ou (F):
a) Para obter unidade, é preciso manter-se dentro do tema proposto do começo ao fim de
seu texto. ( );
b) Para escrever com clareza, deve-se facilitar o entendimento para o receptor, evitando a
ambiguidade e a obscuridade, procurando construir o texto com simplicidade e clareza. ( )
c) A prolixidade é uma qualidade que deve ocorrer em detrimento da concisão, deve-se
recorrer a muitas palavras para exprimir poucas ideias, isto é sinal de riqueza vocabular. ( )
d) O texto precisa ter coesão, as palavras na frase e as frases no texto não devem se ligar
aleatoriamente. Elas obedecem a uma ordem. Ser coerente é saber ordenar as frases segun-
do a ordem das ideias e dos fatos que você deseja representar. ( )
e) A correção consiste na observância da pauta de convenções habitualmente seguidas
pelas classes cultas. O erro no uso da língua materna faz desabar sobre quem o comete
(principalmente ao escrever) pesada sanção social. ( )
2- Leia a piada a seguir e explique por que o humor advém da falta de coerência
“Adv.: Doutor, antes de fazer a autópsia, o senhor checou o pulso da vítima?
Test.: Não. 
Adv.: O senhor checou a pressão arterial?
Test.: Não.
Adv.: O senhor checou a respiração?
Test.: Não
Adv.: Então, é possível que a vítima estivesse viva quando a autópsia começou?
Test.: Não.
Adv.: Como o senhor pode ter essa certeza?
Test.: Porque o cérebro do paciente estava num jarro sobre a mesa
Adv.: Mas ele poderia estar vivo mesmo assim?
Test.: Sim, é possível que ele estivesse vivo e cursando Direito em algum lugar...
(Disponível em:< http://revistalingua.com.br/textos/62/artigo248996-1.asp. Acesso em:
14 de maio de 2015)

capítulo 4 • 133
3- Analise as frases a seguir e observe como os problemas de coesão prejudicam a coerên-
cia. Reescreva as frases corrigindo as inadequações.
4
Embora vestidos iguais para o evento, com terno escuro e gravata vermelha, eles também
apresentaram diferenças em relação a políticas de ação afirmativa.
Mesmo assim, um clima perigoso está surgindo em Washington, que os últimos eventos
tendem apenas a alimentar mais.
Os últimos ataques de Israel renderam 200 palestinos mortos.
LEITURA
Para aprofundar seus conhecimentos em coesão, recomendamos a leitura do livro de Inge-
dore Koch, uma das principais estudiosas sobre o tema no país:
Koch, I. Coesão Textual. São Paulo: Contexto, 1990.
REFLEXÃO
Esperamos que após a leitura desse capítulo, você não tenha apenas se detido à nomen-
clatura dos diferentes tipos de coesão, mas que, sobretudo, tenha adquirido consciência da
necessidade de usar a coesão ao elaborar seus textos. Procure, na prática, diversificar os
recursos coesivos, usando ora pronomes, numerais, advérbios, sinônimos, expressões nomi-
nais definidas e outros itens que concatenam as ideias do texto. Nos textos referenciais, a
coesão determina a coerência.
4 Disponível em <http://revistalingua.com.br/textos/62/artigo248996-1.asp> Acesso em: 14 de maio de 2015.

134 •
capítulo 4
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CORDEIRO, M.B.G. Produção textual I. Estácio: Ribeirão Preto, 2015
DALLIER, L.C. Comunicação e expressão. Ribeirão Preto: UNISEB, 2011
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Var-
gas, 2010.
KOCH, I. Coesão Textual. São Paulo: Contexto, 1990.
KOCH, I. G. V. e ELIAS, V. M. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto,
2008.
LIMA, B. C. E SILVA, H. T. A construção do texto pelo parágrafo. Filologia. Disponível em:
http://www.filologia.org.br/ixcnlf/10/03.htm Acesso em: 01/02/2015.
SAUTCHUK, I. Perca o medo de escrever: da frase ao texto. São Paulo: Saraiva, 2011.
TOMASI, C. MEDEIROS, J. B. Redação empresarial. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2014.

LEITURA E
SIGNIFICAÇÃO
5

136 •
capítulo 5
Inúmeras pesquisas divulgam, de maneira estrondosa, manchetes inusitadas
como: “O brasileiro não sabe ler”, por exemplo. Muitos espantam-se com títu-
los como esse, pois sabem que o analfabetismo no país diminuiu, entretanto,
saber ler não significa compreender o texto. Muitos leem, mas não entendem
o que leram. Para que a leitura seja significativa, além do conhecimento da lín-
gua, é preciso conhecimento de mundo, conhecimento dos processos de cria-
ção dos diferentes gêneros textuais, das figuras de linguagem, da conotação e
denotação, assuntos que exploraremos nesse capítulo.
OBJETIVOS
• Ampliar a noção de texto;
• Observar as características do texto não verbal;
• Diferenciar a denotação da conotação;
• Analisar as diferenças entre o texto literário x não literário;
• Apresentar as figuras de linguagem como recursos de escrita.
REFLEXÃO
Você já leu uma poesia e não entendeu nada? Já se perguntou: “Quem foi o louco que criou
isso?”, ao observar uma arte contemporânea? Essas indagações ocorrem quando não com-
preendemos a função ou a significação da linguagem artística, seja ela verbal ou não verbal.
Você já refletiu sobre a importância da literatura e da arte? Qual a sua função? Qual o papel
social que elas desempenham? Por que o homem sempre escreveu sobre a realidade, sobre
o desconhecido? Ao estudarmos as características estruturais e temáticas do texto literário,
da conotação, observando as figuras de linguagens, espero que vocês compreendam a es-
sência da literatura e passem, também, a contemplar obras artísticas.
1 O Sincretismo de linguagens
Quem nunca se comunicou sem falar, usando apenas gestos e olhares? Acre-
dito que quase todos. Portanto, quem respondeu afirmativamente, já fez uso
da linguagem não verbal, definida como apropriação de imagens, figuras, co-
res desenhos, símbolos, dança, tom de voz, postura corporal, pintura, música,

capítulo 5 • 137
mímica, escultura e gestos usados como meios de comunicação. Até mesmos
os animais comunicam-se por meio de gestos e atitudes, os cachorros, por
exemplo, ao balançarem a cauda de alegria, ao emitirem um olhar conquista-
dor, ao abaixarem a cabeça de tris-
teza e dor, estão se comunicando
por meio da linguagem não-verbal e
surpreendendo seus donos.
Já a linguagem verbal acontece
quando fazemos uso da escrita ou
da fala para nos comunicarmos,
lembrando que a comunicação
ocorre quando produtor e receptor compreendem mutuamente as mensagens.
A linguagem verbal, assim como a não verbal, está presente em nosso cotidia-
no, nas notícias, artigos de opinião, reportagens, bulas de remédio, receitas etc.
Em vários gêneros textuais e em diferentes situações de comunicação, usamos
tanto a linguagem verbal (falada ou escrita), como a não verbal simultaneamente.
Pense em uma conversa cotidiana, você fala e usa as mãos, gesticula, emite sons,
olha de forma diferente etc. Todos esses recursos não verbais integram-se à lin-
guagem formando, configurando o sincretismo na linguagem. Portanto, o sincre-
tismo é definido como o emprego simultâneo da linguagem verbal e não verbal.
O discurso sincrético encontra-se
presente com maior frequência na
maioria dos textos veiculados pelos
meios de comunicação de massa.
Outro importante aspecto para
compreender a significação da linguagem é a diferença entre o texto literário e
o não literário.
2 O texto literário e o não-literário
Compreender a diferença entre um texto literário e não literário é essencial não
apenas para interpretação, como também para a produção textual. Pode contri-
buir até mesmo para despertar o gosto e o prazer pela leitura.
O requisito para compreender a essência de um texto literário é conhecer
o esquema da comunicação e as funções da linguagem. Um texto literário não
Olhares, gestos,
imagens, cores
e símbolos, ao
transmitirem mensagens,
constituem linguagem
não verbal
A linguagem não verbal
facilita e dinamiza a
comunicação.

138 •
capítulo 5
tem o objetivo de um texto referencial (centrado no conteúdo, transmite-o de
forma clara e concisa), mas sim o de um texto emotivo (centrado nas emoções,
sentimentos e visão de mundo do emissor), ou o de um poético (centrado na
mensagem, na forma como ela é construída), ou de um metalinguístico (cujo
foco está no próprio código), por exemplo.
FUNÇÃO
REFERENCIAL
OU
DENOTATIVA
Centra-se no conteúdo da mensagem, buscando transmitir in-
formações objetivas sobre ela. Essa função é predominante em
textos científicos e jornalísticos, essencialmente informativos, tais
como: um artigo de opinião, uma notícia, uma reportagem, uma re-
ceita, um informativo etc. Para estes textos, o assunto, o conteúdo
é mais importante do que a forma, do que a maneira como o autor
transmitirá tais dados.
FUNÇÃO
EXPRESSIVA
OU EMOTIVA
Seu objetivo é demonstrar o sentimento do emissor, também deno-
minada emotiva. Por expressar seus sentimentos, o uso da 1ª pes-
soa do singular (eu), de interjeições e de exclamações é frequente.
Tal função é encontrada principalmente em biografias, memórias,
poesias líricas e cartas de amor e músicas.
FUNÇÃO
CONATIVA OU
APELATIVA
Essa função procura organizar o texto de forma a que se imponha
sobre o receptor da mensagem, persuadindo-o, seduzindo-o. Nas
mensagens em que predomina essa função, busca-se envolver o
leitor com o conteúdo transmitido, levando-o a adotar este ou aque-
le comportamento. A própria denominação desta função já auxilia
em seu entendimento, nela, há o apelo para convencer o receptor,
por isso, um texto tipicamente apelativo são as propagandas que
tentam convencer o leitor a adquirir um produto ou serviço. Devido
a esse apelo ao leitor, a referência a ele, por meio de tu e você, ou
pelo nome da pessoa, além dos vocativos e imperativo é corriqueiro.
FUNÇÃO
FÁTICA
A palavra fático significa “ruído, rumor”. Foi utilizada inicialmente
para designar certas formas que se usam para chamar a atenção
(ruídos como psiu, ahn, ei). Essa função ocorre quando a mensa-
gem se orienta sobre o canal de comunicação ou contato, bus-
cando verificar e fortalecer sua eficiência, como ocorre nas sauda-
ções, nas ligações telefônicas, por exemplo.

capítulo 5 • 139
Leia o poema “A Criança”, do célebre escritor português Fernando Pessoa, e
observe como seu objetivo não é transmitir uma informação sobre a criança. O
mais importante não é o conteúdo, não é abordar a imaginação da criança em
si, mas emocionar o leitor, fazê-lo refletir sobre a imaginação infantil, admirar
a organização e composição textual etc. É por isso que na linguagem literária,
a ênfase está no COMO se diz e não no que se diz, ou seja, o foco é no plano da
expressão (PE, também chamado de nível formal) e não no plano do conteúdo
(PC). Platão e Fiorin (2006, p.353) resumem os principais aspectos da lingua-
gem em função estética, característica do texto literário: “plurissignificação,
desautomatização, conotação, relevância no plano da expressão e intangibili-
dade da organização linguística”.
A Criança (Fernando Pessoa)
A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas
Age como um deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em um ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.
(Disponível em:< http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/pe000003.pdf<
Acesso em: 14 de maio de 2015)
CONCEITO
Desautomatização
Criação de novas relações entre as palavras.
Além dos elementos da comunicação e das respectivas funções da lingua-
gem, há outros critérios que auxiliam a distinguir um texto literário de um uti-
litário. Embora os critérios possam ser questionáveis e ora aplicáveis, ora não,
é possível apresentá-los como elementos distintivos, tal como fizeram Platão e
Fiorin (2006, p.349).

140 •
capítulo 5
2.1 Principais critérios para distinção entre o texto literário e o não
literário
a) O tema dos textos literários e dos utilitários
Não existem, segundo Platão e Fiorin (2006), temas exclusivos da literatura
“nem avessos ao seu domínio”, por isso, tal critério não deve ser usado como
único elemento de distinção. No entanto, sabemos que alguns temas, como o
amor, a paixão, o ódio, enfim, os sentimentos humanos, são mais abordados
com frequência na literatura e de uma forma mais poética. Isso não impede
que sejam abordados de forma utilitária em pesquisas, estudos etc.
b) O caráter ficcional dos textos literários e o não-ficcional dos textos utilitários
A maioria dos textos literários constituem obras ficcionais, recriando a realida-
de. Já o texto não literário interpreta aspectos da realidade efetivamente, não a
recria, aborda-a como ela é.
c)A função dos textos:
Segundo os estudiosos, atualmente, diz-se que os textos literários têm fun-
ção estética (belo), ao passo que os não literários apresentam função utilitá-
ria (informar, explicar, documentar, convencer...). No entanto, Platão e Fiorin
(2006, p.350) questionam-se: em que consiste a função estética? Na função
estética, há a preocupação com o plano da expressão (sons), exemplificada
pelos autores com a seguinte frase de Oswald: “E tia Gabriela sogra grasnadei-
ra grasnou graves grosas de infâmia” (apud PLATÃO E FIORIN, 2006, p.350).
Neste enunciado, a forma, o plano da expressão (o trabalho com o som explo-
rado pela aliteração de gr) simboliza, representa o caráter enfadonho e de-
sagradável da personagem. Por isso, para compreender um texto literário, é
preciso fruí-lo, isto é “perceber essa recriação do conteúdo na expressão e não
meramente o conteúdo; é entender os significados dos elementos da expres-
são.” (PLATÃO E FIORIN, 2006, p.351).

capítulo 5 • 141
d)Intangibilidade
O texto literário seria intangível, intocável, dele, não poderíamos alterar uma
palavra sequer ou mesmo resumi-lo. Assim, a intangibilidade não permite que
troquemos palavras e façamos substituições ou inversões no enunciado do li-
terário, pois a forma é muito importante, e se alterada, o texto pode perder sua
beleza. Valéry, (apud PLATÃO E FIORIN, 2006, p.351) afirma que “quando se faz
um resumo do texto não- literário, apreende-se o essencial; quando se resume o
literário, perde-se o essencial”. Já o texto utilitário pode ser resumido tranquila-
mente, pois a ênfase está no conteúdo e não na forma, essencialmente.
Por fim, pode-se apontar a conotação como característica básica da lingua-
gem literária e a denotação como recurso típico da linguagem utilitária. Mas
você se lembra bem de como funcionam a conotação e a denotação?
3 A construção do significado no texto: a
conotação e a denotação
Uma mesma palavra pode assumir valores semânticos diferentes, tudo depen-
de da intenção do emissor e da habilidade linguística do receptor. No trabalho
de construção do significado, o emissor pode usar diversos recursos que estão
disponíveis para assegurar um texto mais envolvente e significativo, dentre eles,
estudaremos a linguagem conotativa e a denotativa, as figuras de linguagem. É
da aplicação desses recursos que o texto pode ter mais valores agregados, cons-
truídos e esse enriquecimento semântico o diferencia de tantos outros textos
produzidos sem maior preocupação e envolvimento, em outras palavras, a uti-
lização de tais recursos faz com que o texto tenha mais qualidade.

1
Ao ouvirmos uma palavra, percebemos um conjunto de sons (o significan-
te ou plano da expressão), que nos faz lembrar de um conceito (o significado ou
plano do conteúdo). A denotação, então, é “o resultado da união existente entre
o significante e o significado, ou entre o plano da expressão e o plano do con-
teúdo”. A conotação, por sua vez, “resulta do acréscimo de outros significados
1 Os conteúdos das seções “5.3 e 53.1” foram retirados de: DALLIER, L. C. Comunicação e expressão na escrita.
Ribeirão Preto, Uniseb, (ano???), p. 1-8 e GAMEIRO, M. B. Produção textual. Ribeirão Preto, Uniseb, 2010.

142 •
capítulo 5
paralelos ao significado de base da palavra, isto é, um outro plano de conteúdo
pode ser combinado ao plano da expressão” (ACD/UFRJ, s/d).
Na conotação, ao se acrescentar outro plano de conteúdo ao plano da ex-
pressão ou significante, haverá impressões, valores afetivos e sociais, negativos
ou positivos, reações psíquicas que um signo evoca. Isso implica dizer que “o
sentido conotativo difere de uma cultura para outra, de uma classe social para
outra, de uma época a outra”. Assim, é possível constatar que “as palavras se-
nhora, esposa, mulher denotam praticamente a mesma coisa, mas têm conte-
údos conotativos diversos, principalmente se pensarmos no prestígio que cada
uma delas evoca” (ACD/UFRJ, s/d).
As palavras poderão, então, apresentar sentido denotativo ou referencial
e valor conotativo ou figurado. A palavra terá valor referencial ou denotativo
quando for “tomada no seu sentido usual ou literal, isto é, naquele que lhe atri-
buem os dicionários; seu sentido é objetivo, explícito, constante”. Por outro
lado, a palavra terá valor conotativo quando evocar outras realidades ou ideias
por associações que ela provoca.
Nos textos literários, é muito comum predominar o valor conotativo, figura-
do ou subjetivo, enquanto nos textos não literários, predomina o valor denota-
tivo, literal ou objetivo. Não se trata, porém, de uma regra ou de algo absoluto,
já que você encontra palavras com valor conotativo em textos não literários e
palavras com valor denotativo em textos literários.
Veja o exemplo de texto jornalístico no qual aparecem expressões com sen-
tido conotativo:
EXEMPLO
“A maré de lama está se transformando em tsunami e invadindo o Congresso Nacional, des-
moralizando ainda mais os parlamentares. (Entre-Rios Jornal Online, 2007).
Nesse exemplo, “maré de lama” e “tsunami” apresentam sentidos que não
correspondem ao sentido denotativo ou literal dessas palavras. Houve um
acréscimo de significado, com o segundo significado tendo relação com o sen-
tido literal atribuído à palavra.
Desse modo, “a alteração de sentido pelo acréscimo de um novo significado
deriva de uma relação que o produtor do texto vê entre o significado usual e o
novo”. A relação entre o sentido denotativo e o novo sentido pode ser de dois ti-

capítulo 5 • 143
pos: semelhança (intersecção) ou contiguidade. A relação de semelhança entre
o significado de base e o sentido que é acrescentado pode ser encontrada nas
metáforas. A relação de contiguidade na qual, por exemplo, se usa a causa pelo
efeito ou a parte pelo todo, pode ser encontrada nas metonímias (PLATÃO &
FIORIN, 2003, p. 157).
Segundo Ullmann (1977, apud Britto, 2010), “as palavras nunca são com-
pletamente homogêneas: mesmo as mais simples e as mais monolíticas têm
um certo número de facetas diferentes que dependem do contexto e da si-
tuação em que são usadas (...)”. Estas diversas facetas, esta possibilidade de
adquirir diversos sentidos que as palavras têm está intimamente relacionada
às figuras de linguagem.
Desta maneira, a polissemia é característica básica da fala humana, confor-
me Ulmann, que cita algumas maneiras em que ela pode ocorrer:
1
Mudança de aplicação: (...) as palavras têm um certo número de aspectos dife-
rentes, de acordo com o contexto em que são usadas.
2
Especialização num meio social: (...) a mesma palavra pode adquirir um certo
número de sentidos especializados, dos quais um só será aplicável em deter-
minado meio.
3
Linguagem figurada: (...) uma palavra pode adquirir um ou mais sentidos figura-
dos sem perder o seu significado original. (...) (Ullmann, 1977: 330-331, apud
BRITTO, disponível em: http://www.filologia.org.br/ixfelin/trabalhos/pdf/18.
pdf, acesso: jul de 2010).
Analise mais um caso de polissemia encontrado em anúncios por Britto:
“O SportTV vai passar a Copa em tela de cinema.
Já os outros canais vão passar o maior aperto”
Nesta propaganda, “passar” gera a polissemia, destacando a transmissão da
SporTV, pois tem o sentido de “transmitir”, “exibir”. Já na segunda frase, “pas-
sar” apresenta o sentido de estar em momento de dificuldade. Britto destaca que
esse sentido só identificado graças à expressão metafórica da qual a propaganda

144 •
capítulo 5
em questão se utilizou: “passar aperto”. E assim, iniciamos a discussão sobre as
figuras de linguagem, que alteram o sentido de uma palavra ou expressão.
Em função de o valor conotativo das palavras apresentarem, geralmente, al-
gumas dificuldades, você vai estudar na seção a seguir as figuras de linguagem,
em cuja maioria, há exemplos de conotação ou alteração de sentido nas palavras.
3.1 Figuras de Linguagem
Agora, estudaremos algumas das mais importantes figuras de linguagem, as
mais recorrentes. Elas estão divididas em três grupos: campo fonolexical, que
diz respeito ao som da palavra; campo morfossintático, que trata das palavras
na estrutura oracional e, enfim, o campo semântico discursivo, que estuda o sig-
nificado de uma palavra ou de uma oração dentro de um determinado contexto.
3.1.1  Campo fonolexical
Aliteração
É a repetição de um mesmo som consonantal. Nos poemas, acaba sendo um
recurso estilístico muito utilizado, pois contribui para a intensificação da mu-
sicalidade dos versos.
EXEMPLO
“Acho que a chuva ajuda a gente a se ver” (Caetano Veloso)
“Toda gente homenageia Januária na janela” (Chico Buarque)
O trecho abaixo reproduzido de “Violões que choram”, de Cruz e Souza, é
um dos mais utilizados para ilustrar a repetição de consoantes, ou seja, a alite-
ração, observe:
Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
(Disponível em: www.dominiopublico.gov.br Acesso: 01 ago. de 2010)

capítulo 5 • 145
Nas parlendas e travalínguas, a repetição de consoantes também é frequen-
te. Observe:
EXEMPLO
O sabiá não sabia.
Que o sábio sabia.
Que o sabiá não sabia assobiar.
http://recantodasletras.uol.com.br/gramatica/1192161

CONCEITO
As parlendas e trava-línguas são manifestações da cultura oral e popular brasileira, represen-
tadas por contos, lendas, mitos do folclore e adivinhas. Algumas parlendas constituem-se de
palavras sem nexo e coerência, apenas para explorar o caráter lúdico da sonoridade.
Assonância
É a repetição de sons vocálicos em uma sequência linguística.
EXEMPLO
Sou Ana, da cama
da cana, fulana, bacana
Sou Ana de Amsterdam. (Chico Buarque)
Leia abaixo um trecho do poema intitulado Café com pão, de Manuel Bandeira
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virgem Maria que foi isto maquinista?
Agora sim

146 •
capítulo 5
Café com pão
Agora sim
Café com pão
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô.. (…)
Disponível em: http://www.literaturaemfoco.com/?p=135 (acesso: 20 jul de 2010)
Esperamos que com a leitura de parte do poema, vocês tenham imaginado o
som de um trem em movimento, pois foi este o objetivo do poeta modernista ao
repetir consoantes (aliteração) e vogais (assonância), como em: ca, com, pão, mui...
Este exemplo demonstra também que é comum a assonância vir combinada à ali-
teração, como ocorre em: “Na prece que emudece, engrandece e enaltece.”
COMENTÁRIO
Como se trata de um poema muito conhecido, você encontra análises literárias de Trem de
ferro na internet, pesquise nos principais sites de busca.
Eco
É a repetição intencional e sucessiva de finais vocabulares idênticos.
EXEMPLO
Então o menino doente, crente de que havia uma valente serpente, saiu correndo pela
frente.

capítulo 5 • 147
Em um texto utilitário, o eco pode ser visto como um vício de linguagem, as-
sim, os gramáticos tradicionais recomendam que se evitem construções como:
“É fundamental que se discuta um assunto nada banal na reunião semanal”.
Alguns livros didáticos incluem, por isso, o eco na seção de barbarismos ou ví-
cios de linguagens.
CONCEITO
Barbarismos são os erros de pronúncia, de grafia, de flexão, palavras mal formadas, vocábu-
los estranhos. O termo barbarismo originou-se do costume que Gregos e Romanos possuíam
de chamar bárbaros os estrangeiros que falavam mal, segundo seu critério, por falarem língua
estrangeira. O termo também foi utilizado para referir-se aos erros cometidos pelos estran-
geiros ao adaptarem ao seu idioma palavras e expressões de outra língua. (Disponível em:
http://www.filologia.org.br/revista/artigo/7(19)14.htm Acesso: 01 ago de 2010)
Novamente, o eco aparece nas parlendas, veja: “leite quente dá dor de dente
principalmente no dente da frente da gente”.
Onomatopéia
É a representação de um som ou ruído a partir de uma palavra, fonema ou con-
junto de palavras. As onomatopéias representam os ruídos, gritos, canto de
animais, sons da natureza, barulho de máquinas, o timbre da voz humana e
normalmente são conhecidas universalmente.
COMENTÁRIO
O tique-taque do relógio não me deixa dormir.
Toc-toc, quem bate à porta?
O grilo faz cri-cri.
CURIOSIDADE
Algumas onomatopéias originam-se da língua inglesa, como por exemplo, smack!, do verbo
“to smack” que significa “beijar” e em português representa o som do beijo. Além deste,

148 •
capítulo 5
podemos citar outros exemplos, como crack (to crack), quebrar e crash! (to crash), espatifar.
Veja mais exemplos no link: http://www.sobrecarga.com.br/node/view/3480
O site recanto das letras traz uma grande lista de onomatopéias organizada por ordem alfa-
bética, confira também: http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/1561043
Nas tirinhas e histórias em quadrinhos, as onomatopéias são um recurso
extremamente utilizado, como podemos observar na tirinha abaixo, em que o
“zzz” indica o sono.

http://palavrasdesever.wordpress.com/2009/01/05/cria-a-tu-propria-tira-de-banda-dese-
nhada/
Palíndromo
Pode ocorrer em palavras, como em “osso”, “ovo” e “radar”, ou mais dificilmen-
te em oração ou períodos. Ele ocorre quando se pode ler de frente para trás ou
de trás para frente, observe:

capítulo 5 • 149
EXEMPLO
Socorram-me! Subi no ônibus em Marrocos.
A brincadeira com os palíndromos é mania de adulto, não só de criança,
na internet, você encontrará muitos exemplo. Pesquise nos principais sites de
busca e até mesmo em blogs que a diversão será garantida!
Observem mais exemplos:
EXEMPLO
Anotaram a data da maratona
Assim a aia ia (à)a missa
A diva em Argel alegra-me a vida
A droga da gorda
A mala nada na lama
http://obviousmag.org/archives/2007/07/palindromos_da.html#ixzz0vMczi8DY
Assim como ocorre nas parlendas, nos palíndromos também não há muita
preocupação com o sentido, mas sim com o som. Como dissemos no início, as
figuras de linguagem tornam o texto mais expressivo.
MULTIMÍDIA
Assista a “Palíndromo”, de Philippe Barcinski, um curta metragem muito criativo que irá aju-
dá-lo a lembrar-se sempre que o palíndromo permite que se leia palavras ou exempressões
de traz para frente. É muito criativo e traz uma reflexão no final. No youtube vocês podem
encontrar o curta.
Paronomásia
É a reprodução de sons semelhantes em palavras de significados diferentes. Em
nosso cotidiano, muitas pessoas utilizam um termo inadequadamente devido à
semelhança na forma que possui com outro vocábulo. É o caso de cumprimen-
to (ato de cumprimentar) e comprimento (extensão, grandeza); iminente (que

150 •
capítulo 5
pode acontecer em breve) e eminente (alto, elevado, excelência). Na literatura,
porém, estas semelhanças na forma são exploradas com muita criatividade.
EXEMPLO
Num cumprimento inesperado
Saia num diminuto comprimento
Causou a ela constrangimento
(Disponível em: http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/430524 Acesso: jul de
2010)
Minha alma é lavada, desencardida
E quem distratou a sua vida foi você
Desamarrada, desimpedida, desarmada
Voa livre pelo mundo até escurecer (Paralamas do Sucesso)
Cacofonia
É uma palavra ridícula ou obscena resultante da união de sílabas ou de palavras
vizinhas.
EXEMPLO
Ela tinha muito jeito. (latinha)
Vi ela hoje! (viela)
Me dê uma mão ("um mamão")
Olha a boca dela! ("cadela")
Acesse o link disponibilizado e se entretenha com uma série de cacófatos, os termos resul-
tantes desta união de sons: <http://pt.wikiquote.org/wiki/Cac%C3%B3fatos> acesso em
14/05/2009.
É importante ressaltar que em um texto informativo (não –literário), o uso
de cacófatos não é recomendado, visto que os gramáticos os consideram um ví-
cio de linguagem, diferentemente do que ocorre na literatura, em que grandes
escritores possuem “licença poética”.

capítulo 5 • 151
CONCEITO
Licença poética é um termo usado para designar a permissão que grandes escritores têm
para cometer desvios gramaticais em relação à norma padrão. Normalmente, esses “erros”
são de regência, colocação ou concordância, como ocorre em: “beija eu”, em que o correto
seria “beije-me”. No entanto, a música de Arnaldo Antunes não teria a mesma sonoridade se
obedecesse à norma padrão. A teoria literária ocupa-se desta discussão, para refletir melhor,
pesquise nos principais sites de busca, bem como em livros e revistas sobre o assunto.
3.1.2  Campo morfossintático
Como as figuras de linguagens abordadas neste item apresentam relação com
a disposição das palavras e suas funções, são consideradas pertencentes à mor-
fossintaxe, ou ao campo morfossintático, por isso, são também chamadas de
figuras de construção, ou ainda figuras sintáticas.
CONCEITO
A morfossintaxe estuda qual função sintática (sujeito, predicado, objeto, predicativo, com-
plemento nominal etc) é desempenhada por uma classe morfológica (a morfologia divide as
palavras em classes gramaticais, como: substantivo, adjetivo, pronome...). Assim, averigua, por
exemplo, a função dos substantivos, veja as frases abaixo:
Lucas estuda no oitavo ano do EF.
Carla ama Lucas.
Na primeira frase, o substantivo “Lucas” desempenha a função de sujeito e na segunda, de
objeto, este seria um exemplo simplificado de uma análise morfossintática. Como as figuras
de linguagens abordadas neste item apresentam relação com a disposição das palavras e
suas funções, são consideradas pertencentes à morfossintaxe.

152 •
capítulo 5
Anadiplose
É o uso de um mesmo vocábulo no fim de um verso ou frase e no início do enun-
ciado seguinte.
EXEMPLO
Na simples e suave coisa
Suave coisa nenhuma (Secos e Molhados)
Anáfora
É a repetição da mesma expressão no início de versos, períodos ou orações.
EXEMPLO
Olha a voz que me resta / Olha a veia que salta / Olha a gota que falta (Chico Buarque)
Epífora (epístrofe)
É a repetição de um mesmo vocábulo no final de sucessivos enunciados.
EXEMPLO
Se a gente não fizesse tudo tão depressa
Se não dissesse tudo tão depressa (Kid Abelha)
“Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última” (Chico Buarque)
Pleonasmo
É também um caso de repetição, mas uma repetição que envolve redundância
de significado. No cotidiano, é difícil alguém que não tenha caído nas arma-

capítulo 5 • 153
dilhas no pleonasmo vicioso, aquele em que se repete uma ideia por força do
hábito, como ocorre em: Subir para cima, descer pra baixo, olha pra ver, caí um
tombo, ou ainda, panorama geral e elo de ligação, dentre inúmeros outros que
nem percebemos! Um dos mais comuns é o uso de há e atrás, pois o verbo haver
já indica tempo que passou, então, o uso de atrás é redundante, desnecessário:
"Eu nasci, há dez mil anos atrás“ (Raul Seixas).
Por outro lado, existem os pleonasmos literários, em que a repetição de
ideias configura-se como figura de linguagem, nesse caso, seu uso é legitimado
pela gramática, pois enfatiza ou dá mais clareza à expressão.
EXEMPLO
Iam vinte anos desde aquele dia
Quando com os olhos eu quis ver de perto
Quanto em visão com os da saudade via." (Alberto de Oliveira)
"Morrerás morte vil na mão de um forte." (Gonçalves Dias)
"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal" (Fernando Pessoa)
"O cadáver de um defunto morto que já faleceu" (Roberto Gómez Bolaños)
"E rir meu riso" (Vinícius de Moraes)
É o vento ventando (Tom Jobim)
CONEXÃO
Assim como os palíndromos, os pleonasmos também fazem sucesso na rede mundial de
computadores, faça sua pesquisa e selecione seus exemplos preferidos.

154 •
capítulo 5
Elipse
É a omissão de um termo sintático da oração que pode ser facilmente identifi-
cado pelo contexto.
EXEMPLO
Quanta maldade na Terra.
Quanta maldade (há) na Terra.
Sobre a cama, apenas lembranças.
Sobre a cama, (restaram) apenas lembranças.
PRINCIPAIS CASOS DE ELIPSE:
A
Pronome sujeito, sujeito oculto: necessitas de algo? (tu necessitas). As gramá-
ticas recomendam a elipse dos pronomes sujeitos, pois a desinência verbal já
indica a pessoa gramatical.
B
Substantivo – o Morumbi (o estádio Morumbi)
C
Preposição - estar bêbado, a camisa rota, as calças rasgadas (estar bêbado,
com a camisa rota, com as calças rasgadas)
D
Conjunção - espero você me entenda (espero que você me entenda)
E
Verbo - queria mais ao filho que à filha (queria mais o filho que queria à filha)
(Disponível em: <http://www.graudez.com.br/literatura/figling.htm> acesso em 14/05/2009)
Zeugma
É um tipo especial de elipse, em que se omite um termo já apresentado ante-
riormente.

capítulo 5 • 155
EXEMPLO
Vieram dois amigos. Um nada trouxe, o outro, esperanças.
Precisarei de vários ajudantes, de um (ajudante) que seja capaz de fazer a instalação elétrica
e de outro (ajudante) para parte hidráulica pelo menos.
Ele foi às cinco, eu, (fui) às três!
O zeugma pode ser utilizado em comparações também, como demonstra o
exemplo: “Alguns amam, outros não!”.
A vírgula é usada em muitas situações para marcar a omissão do termo.
Assíndeto
É também um tipo especial de elipse em que se omite o conectivo (síndeto =
conectivo).
EXEMPLO
Peguei fila, furei greve
puxei saco, subi na vida
Em ambos os versos, pode-se dizer que houve a omissão do conectivo, no caso
a conjunção e: peguei fila e furei greve; puxei saco e subi na vida. Mas neste último,
os conectivos portanto, por isso, desta maneira também poderiam ser usados.
Veja abaixo um trecho de Graciliano Ramos, dado por Sérgio (2009) em que
o assíndeto é explorado, pois a ausência de conectivos é grande:
“Luciana, inquieta, subia à janela da cozinha, (e) sondava os arredores, (e) bradava com
desespero, até ouvia duas notas estridentes, (e) localizava o fugitivo, (e) saía de casa.”
As conjunções entre parênteses mostram onde elas foram omitidas, desta-
cando que esta omissão tem valor expressivo e confere maior dinamicidade e
velocidade à leitura do texto.

156 •
capítulo 5
Polissíndeto
É o oposto do assíndeto, nela, há a repetição de uma conjunção coordenativa.
EXEMPLO
E peguei fila, e furei greve,
e puxei saco, e subi na vida.
Se fôssemos acrescentar conectivos no trecho da obra de Graciliano Ramos,
teríamos: “Luciana, inquieta, subia à janela da cozinha e sondava os arredores e
bradava com desespero, até ouvia duas notas estridentes, e localizava o fugitivo,
e saía de casa.”
É importante ressaltar que na literatura, a repetição de mesma conjunção
causa um efeito expressivo, mas em textos não literários, devemos utilizar di-
versas conjunções para evitar a repetição.
Anacoluto
É a interrupção da construção iniciada, prosseguindo a frase de outra maneira,
como consequência, o início antecipa e coloca em evidência uma ideia importante.
EXEMPLO
Os três reis orientais...é tradição da igreja que um era preto”. (Vieira)
Das minhas coisas, cuido eu.
No segundo exemplo, percebe-se claramente uma alteração na disposição
gramatical na estrutura da frase. Tal mudança de rumo na frase é frequente na
oralidade, em que o planejamento é simultâneo à produção, e pode ser vista
como um erro, contudo, no texto literário serve para enfatizar uma expressão.
Silepse ou Concordância Ideológica
É a concordância de termos da oração levando em conta a ideia e não as pala-
vras em si. Ela recebe este nome, pois a concordância é com o conteúdo que a

capítulo 5 • 157
palavra expressa e não com sua forma em si. Existem três tipos de silepse:
Silepse de número:
EXEMPLO
Havia uma multidão ali, e gritavam.
No exemplo acima, a concordância é de número, pois a palavra “multidão”
está no singular e o verbo, que deveria concordar com ela no mesmo número
(singular) está no plural, concordando com a ideia, com o sentido de multidão
(plural) e não com sua forma (singular).
O grupo musical Ultraje a Rigor utiliza-se da silepse, em sua música Inútil
para expressar sua indignação e enfatizar a ignorância do povo que não sabe,
segundo eles, nem ao menos escolher seu presidente.
A gente não sabemos
Escolher presidente
A gente não sabemos
Tomar conta da gente
(Disponível em: http://letras.terra.com.br/ultraje-a-rigor/49189/ Acesso ago. de 2010)

Disponível em: Época 26/07/2010, nº 636.

158 •
capítulo 5
Mais uma vez, reforçamos que a silepse é aceita em textos literários e propa-
gandas que trabalham com a criatividade, porém, em textos utilitários e cientí-
ficos, costuma ser evitada. Na propaganda acima, o autor utilizou “a gente não
sabe” na primeira oração e na segunda, como a expressão foi omitida, flexionou
o verbo no plural: (a gente) “fizemos o jornal ideal”. A silepse foi usada aqui
para reforçar que toda a equipe esforçou-se (ou seria esforçaram-se? Pense!)
para produzir o melhor jornal para o leitor.
Silepse de gênero:
Quando se diz “São Paulo está cada dia mais agitada.” há uma concordância
com a ideia que a palavra expressa: a cidade, por isso, o adjetivo está no femini-
no também: agitada.
Com o pronome de tratamento “Vossa excelência”, a silepse é corriqueira,
pois tal pronome é feminino, mas as palavras que o acompanham flexionam-se
no feminino, como por exemplo, em:
Vossa Excelência está bonito hoje.
Se fosse concordar com a forma da palavra, no feminino, teríamos:
Vossa Excelência está bonita hoje.
Silepse de pessoa:
EXEMPLO
Os brasileiros festejamos a vitória da seleção.
A pessoa gramatical refere-se ao uso da 1ª, 2ª e 3ª pessoa do singular e
plural respectivamente: eu, tu e ele- nós, vós e eles. Desta forma, a frase acima
exemplifica um caso de silepse de número, em que o autor se inclui entre os
brasileiros (que seria terceira pessoa: eles) e por isso, flexiona o verbo da pri-
meira do plural: nós.

capítulo 5 • 159
Hipérbato
É a inversão da ordem sintática direta (sujeito + verbo + complementos).
EXEMPLO
“Enquanto manda as ninfas amorosas
grinaldas nas cabeças pôr de rosas.” (Camões)
“Essas vólucres amo, Lídia, rosas" - Ricardo Reis
3.1.3  Campo semântico discursivo
O campo semântico refere-se à significação dos termos e expressões. Assim, as
figuras a ela relacionadas dizem respeito ao significado dos termos.
Comparação
É a comparação subjetiva de dois elementos semelhantes em que os termos
de comparação (como, feito, assim como, tal, tal qual,...) aparecem explícitos.
Observem os exemplos que Chico Buarque nos dá:
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
Subiu a construção como se fosse máquina (Chico Buarque)
Nos dois últimos exemplos, percebemos também os elementos de compa-
ração explícitos:
Ele trabalha como um cavalo.
A leitura é como uma chave, que abre diversos caminhos para a vida.

160 •
capítulo 5
Metáfora
A metáfora é uma das figuras de linguagens mais utilizadas nos mais diversos
gêneros textuais e também no cotidiano, pois expressa, com maior ênfase, as
comparações implícitas que fazemos.
É definida como o emprego de um termo com um sentido que lhe é asso-
ciado pelo emprego de uma comparação subjetiva que fica subentendida (não
aparece expressa). Em outras palavras, é, na verdade, uma comparação abrevia-
da, implícita (o elemento comparativo não está expresso).
EXEMPLO
Lá fora, a noite é um pulmão ofegante.
Naquele domingo, ele era um cavalo trabalhando.
A leitura é a chave para a escrita.
Comparem os dois últimos exemplos com os de comparação dados acima,
eles expressam os sentidos semelhantes, mas estes últimos são considerados
metáforas, pois os elementos de comparação estão implícitos.
Platão e Fiorin (2006), dão a seguinte definição para o conceito de metáfora:
“Metáfora é, pois, a alteração do sentido de uma palavra, pelo acréscimo de um signifi-
cado segundo, quando entre o sentido de base e o acrescentado há uma relação de se-
melhança, de intersecção, isto é, quando eles apresentam traços semânticos comuns.”
Por exemplo, o cavalo é um animal conhe-
cido por sua força, que sempre acompanhou
o homem em seu trabalho, por isso, quando
dizemos que fulano é um cavalo, estamos atri-
buindo um novo sentido não literal a esta pa-
lavra. Fora de um contexto, dizer que alguém é
um cavalo pode significar ainda, popularmen-
te, que ele seja mal-educado.
A metáfora é muito comum também em
propagandas, como o anúncio ao lado ilustra:
Disponível em: Época 26/07/2010, nº 636, p.81

capítulo 5 • 161
No texto em destaque, lemos:
“Sabe quem está completando 100 anos hoje?
A tranquilidade da sua família”
Em menor destaque, tem-se:
“100 anos da Sociedade Brasileira de Pediatria. Uma homenagem da Nestlé a quem
cuida do que há de mais valioso na sua vida”.
Da leitura dos trechos acima se depreende que a “tranquilidade” constitui
uma metáfora para a “Sociedade Brasileira de Pediatria”.
Para Jubran (1972, apud SANDMAN, p.13):
o processo metafórico capta com mais eficácia a atenção do leitor, preenchendo o ob-
jeto básico da propaganda: o de provocar, através da elaboração da mensagem, o estra-
nhamento do leitor e aí, fazer com que ele se interesse pelo texto, e consequentemente,
pelo que é propagado. Causar estranhamento no leitor não é só função da metáfora ou
metonímia ou ainda da linguagem figurada em geral.
Para finalizar a discussão sobre a metáfora, apresentamos o exemplo da
cruz dado por Sandmann (2005). Para o autor, como a imagem da cruz (+) guar-
da semelhança com o objeto, é um ícone. Já a palavra cruz, no texto: “Essa tare-
fa é uma pesada cruz para mim”, seria uma metáfora, sinônimo de sofrimento.
Aqui, vale introduzir uma análise feita pelo professor Dallier sobre a metá-
fora e a metonímia nos textos.
A metáfora nos textos
A metáfora pode ser entendida como uma alteração de sentido da palavra por
meio do acréscimo de um segundo significado, com uma relação de semelhan-
ça ou de intersecção entre o sentido que é acrescentado e o sentido de base,
apresentando traços semânticos comuns.
Veja alguns exemplos de metáforas, encontradas em manchetes de uma re-
vista, reproduzidas por Abreu (2004, p. 90):

162 •
capítulo 5
EXEMPLO
A economia brasileira na corda bamba.
A política do feijão-com-arroz do ministro [...] é essencial, mas é importante adicionar alguns
ingredientes para que façamos uma bela feijoada.
Sem controlar o deficit público, vamos ficar enxugando gelo com medidas paliativas.
A Rede Globo engatilhou na sexta-feira passada o que promete ser um de seus tiros mais
certeiros na guerra com o SBT pela audiência nas tardes de domingo.
As metáforas que aparecem nesses exemplos acabam tendo a função de cap-
tar no repertório ou experiência do leitor “uma imagem de que ele possa servir
para entender o conteúdo proposicional de um texto” (ABREU, 2004, p. 90).
Assim, você pode encontrar uma série de metáforas nos textos que circu-
lam na sociedade. Alguns autores até mesmo classificam os tipos de metáforas
mais comuns (JENSEN apud ABREU, 2004, p. 91-94). Veja alguns desses tipos:
a) metáfora médica: quando se compara, por exemplo, a sociedade ao corpo
humano (A saúde da economia brasileira não vai bem/O país ainda não saiu da
UTI/A violência é um sintoma da sociedade doente na qual vivemos);
b) metáfora de roubo: quando se compara problemas ou perdas ao roubo (O
roubo da dignidade desse país dificilmente será reparado/Esta é uma socieda-
de aprisionada pelo medo);
c) metáfora de conserto: aplicada, por exemplo, a textos que se referem à res-
tauração ou reformas sociais (As trincas na base governista aumentam a cada
dia/A paz é o cimento que unirá essa sociedade);
d) metáfora da limpeza: usada, por exemplo, para comparações com atividades
ligadas à faxina ou à limpeza (É preciso passar o Brasil a limpo/Ainda é possível
encontrar entulhos autoritários neste país);
e) metáfora de percurso no mar ou em terra: quando se associa um problema

capítulo 5 • 163
ou sua resolução a uma jornada (O país encontrou o caminho certo, deixan-
do os atalhos perigosos/ Os políticos foram os primeiros a desembarcar des-
sa canoa furada);
f) metáfora de cativeiro: quando faz associações à privação de liberdade (As
pessoas tornaram-se escravas do consumo e reféns de seus desejos);
g) metáfora de parentesco: associações com a família (Este país não pode rejei-
tar seus próprios filhos);
h) metáfora pastoral: associações com atividades de um pastor de ovelhas (Pre-
cisamos de líderes religiosos que apascentem seus fiéis);
i) metáforas esportivas: relacionadas com os esportes (A oposição marcou um
autêntico gol contra).
Os exemplos poderiam se estender, mas é preciso tratar também da me-
tonímia.
2.2 A metonímia nos textos
A metonímia pode ser entendida como uma alteração de sentido da palavra ou
de uma expressão por meio do acréscimo de um segundo significado a partir
de uma relação de contiguidade, inclusão, implicação, interdependência ou
coexistência.
Veja alguns exemplos de metonímias:
a) Continente (ou o que está fora) pelo conteúdo (ou o que está dentro): Comi
dois pratos bem cheios. Duas taças já foram suficientes para ele levantar cam-
baleando;
b) Causa pelo efeito ou vice-versa: Comprei essa casa com muito suor e lágrimas;
c) Autor pela obra: Ler Camões é algo cada vez mais raro;
d) A marca pelo produto: Não encontrei Gillette nem Cotonete;

164 •
capítulo 5
e) O lugar pelo produto: Tomar um Porto após o almoço era seu hábito;
f) A parte pelo todo: Estavam todos procurando um teto para morar;
g) O símbolo pelo objeto simbolizado: Ele já não é um de nós, pois abandonou
a cruz;
h) A classe pelo indivíduo: Essa decisão não afeta a credibilidade do Juizado
brasileiro.
A lista de tipos e exemplos de metonímias também poderia se estender, mas é
preciso apontar, agora, uma implicação da presença de metonímia em um texto.
A presença de metonímias num texto cria um plano de leitura metonímico,
ou seja, deve-se levar em conta o sentido metonímico que outros termos vão
ganhando no texto a partir de suas relações com as palavras ou expressões que
se constituem em metonímias. Isso também se aplica à presença de metáforas
no texto.
3. Catacrese
É uma metáfora desgastada, ou seja, uma comparação indireta que de tão usa-
da já caiu em domínio popular, deixando de ser dependente da subjetividade
do autor e do leitor.
EXEMPLO
Embarcar em um trem.
Pé da mesa.
Cabeça de alho

Asa da xícara literalmente! (ilustração: Roberto Kroll)

capítulo 5 • 165
Metonímia
Sandmann (2005, p.13) afirma que quando “o princípio que faz com que o signi-
ficante de um signo se refira a outro objeto ou referente tiver base na semelhan-
ça, teremos a metáfora, e, se esse princípio tiver base na relação de contiguida-
de, teremos a metonímia”. Por esta afirmação, percebemos que a metáfora e a
metonímia são semelhantes, porém, esta se refere especificamente à identida-
de entre o signo e o referente. Assim, a metonímia é a substituição de um termo
por outro, contudo, a relação entre esses termos não depende da subjetividade
do autor ou do leitor, mas da ligação objetiva que esses elementos mantêm na
realidade. Observe o que Sérgio (2009) afirma sobre essa proximidade entre tais
figuras de linguagem:
Numa comparação entre a metonímia e a metáfora, iremos verificar que a metáfora
fundamenta-se numa relação subjetiva (minha mãe é uma santa), isto é, num proces-
so interno, intuitivo, estritamente dependente do sujeito que realiza a substituição; ao
passo que a metonímia, o processo é objetivo, externo, pois a relação entre aquilo que
os termos significam é verificável na realidade externa ao sujeito que estabelece tal
relação (vela por barco a vela).
Vejamos os tipos de metonímia:
a) Causa pelo efeito, e vice-versa
Ex.: Ganhava a vida com o suor do rosto.
Beber a morte (morte efeito, veneno a causa).
b) Continente pelo conteúdo
Ex.: Bebi dois copos de cerveja.
c) Nome do lugar pela coisa nele produzida
Ex.: Tomamos Champagne no Natal.
Ir ao correio (correio, lugar; edifício, coisa).
d) Autor pela obra
Ex.: Não li ainda o Saramago novo.
Ler Augusto dos Anjos (o livro de Augusto dos anjos)

166 •
capítulo 5
e) Parte pelo todo
Ex.: Não tenho um teto para morar.
f) O Concreto pelo Abstrato:
Ter ótima cabeça (= inteligência, abstrato).
g) O Abstrato pelo Concreto:
A juventude brasileira (juventude = jovens, concreto)
h) O Inventor pelo Invento:
Comprei um Ford (Ford, inventor; em vez do invento)
i) O Símbolo pelo Objeto Simbolizado:
Não te afastes da cruz (cruz = religião).
j) O Instrumento pela Pessoa que o utiliza:
Ele é um bom garfo (pessoa comilona)
Exemplos disponíveis em: http://recantodasletras.uol.com.br/teorialitera-
ria/226198 (acesso: ago. de 2010)
Sinédoque
Atualmente, inclui-se a sinédoque como um tipo especializado de metoní-
mia, porém, alguns gramáticos ainda a trazem como um tipo especial, em
que há a relação de extensão. Assim, é definida como a substituição de um ter-
mo por outro com a ampliação ou redução do sentido usual da palavra numa
relação quantitativa.
EXEMPLO
A cidade inteira invade os bares no verão. (as pessoas da cidade)
As chaminés trouxeram o desenvolvimento a São Paulo (fábricas).

capítulo 5 • 167
Antonomásia
É um tipo especial de metonímia em que ocorre o emprego de uma qualidade,
de uma característica para nomear uma pessoa.
EXEMPLO
A Rainha dos Baixinhos (Xuxa)
O rei do futebol (Pelé)
A cidade Luz (Paris).
Gradação
É a intensificação de uma idéia por meio de uma seqüência de palavras, sinôni-
mas ou não, com efeito cumulativo.
EXEMPLO
Sussurrava, falava, gr, berrava, mas de nada valiam seus esforços.
Eufemismo
É a utilização de uma linguagem mais amena com a intenção de abrandar uma
palavra ou expressão que possam chocar o seu interlocutor.
EXEMPLO
Bem, sua prova poderia estar pior...
O nobre deputado faltou com a verdade (mentiu).

168 •
capítulo 5
Hipérbole
É o uso de uma expressão que transmite exagero a uma idéia.
EXEMPLO
Chorei rios de lágrimas.
Já te pedi mais de mil vezes.
“Eu nunca mais vou respirar, se você não me notar, eu posso até morrer de fome se você não
me amar” (Cazuza)
Ironia
É um enunciado que pretende dizer algo contrário àquilo que sua expressão
revela, para tanto torna-se fundamental o contexto.
EXEMPLO
Muito competente! Fez o projeto daquela ponte que liga nada a lugar nenhum.
(Disponível em http://2.bp.blogspot.com acesso: maio de 2009)
Com base na leitura da tirinha acima, em que Calvin está procurando sua
jaqueta -embaixo da cama - e quando a encontra no armário, pergunta: “Quem

capítulo 5 • 169
foi que colocou nesse armário estúpido???”, se alguém disser: “Calvin é organi-
zado”, certamente, tratar-se-á de uma ironia.
Antítese
É a aproximação de palavras com sentidos opostos.
EXEMPLO
Abaixo - via a terra - abismo de treva!
Acima - o firmamento - abismo de luz! (Castro Alves)
Paradoxo
É uma oposição simultânea, ou seja, duas características que se excluem mutu-
amente aparecem ao mesmo tempo em uma mesma frase.
EXEMPLO
Pagar para ver o invisível
e depois enxergar
Apóstrofe
Esta figura ocorre quando há a invocação de um leitor/ouvinte ou de seres au-
sentes, inanimados, fantásticos ou abstratos.
EXEMPLO
“Garoto, não faça isso novamente!”
Neste exemplo, invocou-se um ser animado, o ouvinte: garoto, ocorrendo,
portanto, a figura denominada apóstrofe.

170 •
capítulo 5
Observemos os belos versos, em que a Liberdade é invocada, interpelada,
havendo à apóstrofe.
Liberdade, Liberdade,
Abre as asas sobre nós,
Das lutas, na tempestade,
Dá que ouçamos tua voz..." (Osório Duque Estrada)
http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil7.php
Sinestesia
Segundo alguns gramáticos, é outro tipo especial de metáfora que consiste em
aproximar em uma mesma expressão sensações percebidas por sentidos dife-
rentes (tato, olfato, audição, paladar e visão).
EXEMPLO
Ouça Monet no MASP.
Para outros, a sinestesia nada mais é que a fusão dos diversos sentidos,
como demonstra o poema abaixo:
Mais claro e fino do que as finas pratas
O som da tua voz deliciava ...
Na dolência velada das sonatas
Como um perfume a tudo perfumava.
Era um som feito luz, eram volatas
Em lânguida espiral que iluminava
Brancas sonoridades de cascatas ...
Tanta harmonia melancolizava.
(Cruz e Souza) http://www.graudez.com.br/literatura/figling.htm
Logo no segundo verso do poema, observa-se a fusão entre a audição (som
da tua voz) ao paladar, ao tato (deliciava); em “som feito luz” e “brancas sonori-
dades” temos a mistura da audição e da visão, uma associação muito inteligen-
te feita pelo autor para expressar seus sentimentos.

capítulo 5 • 171
Prosopopeia ou personificação
Este recurso é largamente utilizado em nosso cotidiano, não somente os po-
emas, mas as músicas, as propagandas e outros textos exploram esta figura.
Ela pode ser definida como a atribuição de características ou ações humanas a
seres inanimados ou irracionais.
EXEMPLO
As plantas me espiam do jardim (Titãs)
O poste espiava o namoro do casal.
O poste não possui olhos para enxergar literalmente, portanto, trata-se de
uma personificação, uma atribuição de característica de seres humanos a seres
inanimados.
ATIVIDADE
Exercícios disponíveis em:< http://www.coladaweb.com/questoes/portugues/figling.htm>
Acesso em: ago. de 2010
01. (VUNESP) No trecho: "...dão um jeito de mudar o mínimo para continuar mandando o
máximo", a figura de linguagem presente é chamada:
a) metáfora
b) hipérbole
c) hipérbato
d) anáfora
e) antítese
02. (PUC - SP) Nos trechos: "O pavão é um arco-íris de plumas" e "...de tudo que ele suscita e
esplende e estremece e delira..." enquanto procedimento estilístico, temos, respectivamente:
a) metáfora e polissíndeto;
b) comparação e repetição;
c) metonímia e aliteração;
d) hipérbole e metáfora;
e) anáfora e metáfora.

172 •
capítulo 5
03. (PUC - SP) Nos trechos: "...nem um dos autores nacionais ou nacionalizados de oitenta
pra lá faltava nas estantes do major" e "...o essencial é achar-se as palavras que o violão pede
e deseja" encontramos, respectivamente, as seguintes figuras de linguagem:
a) prosopopeia e hipérbole;
b) hipérbole e metonímia;
c) perífrase e hipérbole;
d) metonímia e eufemismo;
e) metonímia e prosopopéia.
04. (VUNESP) Na frase: "O pessoal estão exagerando, me disse ontem um camelô", encon-
tramos a figura de linguagem chamada:
a) silepse de pessoa
b) elipse
c) anacoluto
d) hipérbole
e) silepse de número
05. (ITA) Em qual das opções há erro de identificação das figuras?
a) "Um dia hei de ir embora / Adormecer no derradeiro sono." (eufemismo)
b) "A neblina, roçando o chão, cicia, em prece. (prosopopéia)
c) Já não são tão freqüentes os passeios noturnos na violenta Rio de Janeiro. (silepse de
número)
d) "E fria, fluente, frouxa claridade / Flutua..." (aliteração)
e) "Oh sonora audição colorida do aroma." (sinestesia)
06. (UM - SP) Indique a alternativa em que haja uma concordância realizada por silepse:
a) Os irmãos de Teresa, os pais de Júlio e nós, habitantes desta pacata região, precisaremos
de muita força para sobreviver.
b) Poderão existir inúmeros problemas conosco devido às opiniões dadas neste relatório.
c) Os adultos somos bem mais prudentes que os jovens no combate às dificuldades.
d) Dar-lhe-emos novas oportunidades de trabalho para que você obtenha resultados mais
satisfatórios.
e) Haveremos de conseguir os medicamentos necessários para a cura desse vírus insubor-
dinável a qualquer tratamento.
07. (FEI) Assinalar a alternativa correta, correspondente às figuras de linguagem, presentes

capítulo 5 • 173
nos fragmentos abaixo:
I. "Não te esqueças daquele amor ardente que já nos olhos meus tão puro viste."
II. "A moral legisla para o homem; o direito para o cidadão."
III. "A maioria concordava nos pontos essenciais; nos pormenores porém, discordavam."
IV. "Isaac a vinte passos, divisando o vulto de um, pára, ergues a mão em viseira, firma os olhos."
a) anacoluto, hipérbato, hipálage, pleonasmo;
b) hipérbato, zeugma, silepse, assíndeto;
c) anáfora, polissíndeto, elipse, hipérbato;
d) pleonasmo, anacoluto, catacrese, eufemismo;
e) hipálage, silepse, polissíndeto, zeugma.
08. (FEBA - SP) Assinale a alternativa em que ocorre aliteração:
a) "Água de fonte .......... água de oceano ............. água de pranto. (Manuel Bandeira)
b) "A gente almoça e se coça e se roça e só se vicia." (Chico Buarque)
c) "Ouço o tique-taque do relógio: apresso-me então." (Clarice Lispector)
d) "Minha vida é uma colcha de retalhos, todos da mesma cor." (Mário Quintana)
e) Nenhuma das alternativas acima.
09. (CESGRANRIO) Na frase "O fio da idéia cresceu, engrossou e partiu-se" ocorre processo
de gradação. Não há gradação em:
a) O carro arrancou, ganhou velocidade e capotou.
b) O avião decolou, ganhou altura e caiu.
c) O balão inflou, começou a subir e apagou.
d) A inspiração surgiu, tomou conta de sua mente e frustrou-se.
e) João pegou de um livro, ouviu um disco e saiu.
10. (FATEC) "Seus óculos eram imperiosos." Assinale a alternativa em que aparece a mesma
figura de linguagem que há na frase acima:
a) "As cidades vinham surgindo na ponte dos nomes."
b) "Nasci na sala do 3° ano."
c) "O bonde passa cheio de pernas."
d) "O meu amor, paralisado, pula."
e) "Não serei o poeta de um mundo caduco."

174 •
capítulo 5
REFLEXÃO
Esse capítulo discutiu assuntos essenciais à interpretação textual, dentre eles, a linguagem
literária e algumas de suas características básicas, como a plurissignificação, a conotação e
o uso de figuras de linguagem. Vimos que esses recursos não são específicos da linguagem
literária, pois podem ocorrer também em textos utilitários, como notícias, reportagens, artigos
de opinião e outros. Esperamos também que ao escrever você utilize, se possível, esses re-
cursos que conferem maior expressividade aos seus textos.
LEITURA
Acesse o link que traz parte do livro A linguagem na da propaganda, em que Sandmann
(2005) aborda diversos aspectos estudados até o momento neste curso. Como vimos o texto
sincrético, com ênfase na propaganda, a leitura deste livro auxiliará muito na assimilação e
ampliação de conteúdos.
http://books.google.com.br/books?hl=p-
t-BR&lr=&id=eK23XmHLl1kC&oi=fnd&pg=PA7&dq=figuras+de+linguagem&ot-
s=MGYY8IOhBZ&sig=qiwOQglnPT2wQ5SeefbF9Liaogo#v=onepage&q=figuras%20
de%20linguagem&f=false
Leia também as lições 13 e 14 de Platão e Fiorin (2000) que nos ensinam sobre denotação
e conotação e metáfora e metonímia, respectivamente.
PLATÃO & FIORIN. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 2000
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CORDEIRO, M.B.G. Produção textual I. Estácio: Ribeirão Preto, 2015
DALLIER, L.C. Comunicação e expressão. Ribeirão Preto: UNISEB, 2011
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
Vargas, 2010.
PLATÃO & FIORIN. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 2000
_________. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 2006
SANDMAN, A. A linguagem da propaganda. São Paulo: Contexto, 2005.
Disponível em: http://books.google.com.br/books?hl=p-

capítulo 5 • 175
t-BR&lr=&id=eK23XmHLl1kC&oi=fnd&pg=PA7&dq=figuras+de+linguagem&ots=M -
GYY8BR9BY&sig=17JDvoR_WKwZaGHDKbq4BEIlaRE#v=onepage&q=figuras%20
de%20linguagem&f=false (acesso: ago. de 2010)
SÉRGIO, R. O assíndeto e o polissíndeto. Recanto das letras, 2009.
WWW.ricardosergio.net, disponível em: http://recantodasletras.uol.com.br/gramati-
ca/1955425

176 •
capítulo 5
ANOTAÇÕES