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A esses aspectos, acresce-se uma constatada revolução mundial, nos modos de captar os valores
morais, influenciados pelos meios de comunicação. A mídia, com seu forte poder, introduz e reflete
novas atitudes, novos estilos de vida.
Uma pesquisa de maio de 2000, feita pelo Departamento de Educação da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC), com o intuito de decifrar, para os próximos três anos, a construção
do juízo moral de jovens pertencentes a sociedades emergentes, lançou a pergunta: “Qual é o valor mais
importante: ter bom caráter ou muito dinheiro?”. Dos, aproximadamente, 400 alunos arrolados, apenas
um respondeu: “É ter bom caráter, sem dúvida alguma”. Os demais votaram no dinheiro, sem pestanejar.
Durante a pesquisa, iniciada no começo do ano passado, questionários foram entregues aos mais
de 10 mil alunos da universidade, durante a matrícula. Numa folha, à parte, os pesquisadores pediram
aos estudantes que apresentassem os três principais valores da juventude de hoje. Pouco mais de 1.000
alunos, apenas, devolveram a folha. Em suas respostas, dinheiro apareceu em primeiro lugar, seguido de
ter emprego, por 186 votos. A ênfase ficou nos valores materiais. Os alunos próximos de se f ormar
revelaram medo de não conquistar um espaço no mercado de trabalho. O medo chegava a turvar -lhes a
esperança. A pesquisa revela que família, amizade, felicidade também foram votadas, mas em escala
menor.
Uma outra pesquisa, mais recente, feita pelo Departamento de Ciências Sociais da Universidade
Federal do Paraná (UFPR), vem mostrar uma faceta mais animadora da juventude. Foram entrevistados
900 jovens entre 14 e 20 anos de diferentes classes sociais de Curitiba. Desses jovens, 397 (44,1%)
apontaram a família como instituição de maior ascendência em suas decisões. Em seguida, vem a escola,
com 37% e a TV com 13,7% das respostas. Na sequência da pesquisa, os estudantes deveriam dar uma
nota sobre suas avaliações políticas, ponto em que revelaram decepção, forte rejeição. A média do
governo ficou em 3,96; dos partidos políticos, 3,07; do Congresso Nacional, 4,49; e do Judiciário, 4,99.
Valorizaram a família, 9,02, a escola, 7,74 e a Igreja, 7,56.
Essa pesquisa surgiu como um oásis no meio do deserto. Mostrou que uma parte dos jovens está
buscando valores, como respeito, amor, fidelidade. A vida em família foi considerada fundamental,
mesmo havendo conflito. Eles acharam melhor ter uma família danificada que não ter nenhuma. Isso se
explica pelo fato de esses jovens serem filhos da permissividade e que hoje sentem necessidade de
limites, de valores consistentes. Não querem mais a concessão impensada, mas a orientação, a palavra
segura. Os anos da revolução sexual produziram muito sexo e pouco amor; produzira m a relação
descartável, com sua insegurança, seu vazio.
Há outra vertente, a do aspecto religioso, que devemos considerar. Estamos vivendo uma
época de dupla face: de febre racionalista e de febre espiritualista. Os defensores de uma cultura
agnóstica acreditam que a humanidade seria mais civilizada e feliz se se libertasse das “amarras”
espirituais. Acreditam que a religião, sutilmente, empurra o Homem a um sentimento místico,
desfavorável à sua libertação total. O conhecimento desse aspecto é importante porque esse ardor
racionalista se encontra subentendido em textos comemorativos do cinquentenário da “Declaração
Universal dos Direitos Humanos”, veiculados na imprensa internacional. Neles, nota-se, segundo a crítica
especializada, a apologia da razão, do sonho da libertação pela razão, contrapondo -se à corrente
espiritualista, que preconiza o sonho da libertação pela religião.
É marca frequente da humanidade esta dualidade. Em uma célebre pintura de Goya, encontra -se
cunhada a frase: “Deus e o sonho da liberdade” e o grande escritor Dostoievski expressa sua convicção
através de um personagem: “Se Deus não existe, então tudo é permitido”.
Um fato extraordinário, no campo da espiritualidade, que chamou a atenção da imprensa mundial,
especialmente europeia, aconteceu em 20 de agosto passado, no “Dia Mundial da Juventude”. O Papa
João Paulo II celebrou uma missa, no campus de Tor Vergata, nos arredores de Roma, onde
compareceram nada menos que cerca de dois milhões de jovens católicos do mundo todo. Eram joven s
procedentes dos cinco continentes, de 160 países, participando da “15.ª Jornada Mundial da Juventude”.
Atendendo a um chamado do Santo Padre, foram a Roma aclamar, orar, cantar em louvor a Cristo. Lá
estavam de coração aberto, prontos para receber mensagens, ouvir, como discípulos, a palavra do maior
guia católico, o Papa João Paulo II.