tablado e um sharai florido e quentinho. Era também o mais enfeitado, um
típico betak, adornado com fitas prateadas e douradas, como os templos nos
dias de festa, e onde Sana e Razia guardavam seus presentes de casamento.
Eu não podia aceitar o privilégio de ter um quarto só para mim, mas eles
insistiram. A hospitalidade é uma questão de honra para os pashtuns.
Na casa, Sana e Razia vivem com o filho Yaseen, de nove anos, e as filhas
Tanzeela Qasi, de quatro anos, e Aimun Mehvesh, de catorze; a cunhada do
casal, Nazia, com os filhos Zahor, de doze anos, Ynayatul, de catorze, e
Manzoor, de três anos, e as filhas Waresha, de dez, e Wajeeha, de oito. No
vale do Swat é assim: não importa quanta gente, a família inteira mora na
mesma casa e todos se ajudam.
O chefe da família é o patriarca Mohib ul-Haq, de 85 anos, pai de Sana. É
um senhor franzino, com os ombros curvados pelo tempo, sorriso de poucos
dentes e pele tão enrugada quanto o solo árido do quintal, que ele atravessa
a passos lentos, equilibrando-se com a ajuda de um cajado. Caminha
enrolado em um sharai de pontas até o chão, para se proteger do frio, usa
sandálias de couro e tem a barba muito longa e branca como a neve. Ele
lembra um personagem bíblico.
Sharai: Cobertor de lã tecido à mão por artesãos nos vilarejos da região, usado para proteger do
frio severo das montanhas. Chega a pesar quatro quilos. É também usado pelos homens como
xale, em versão mais leve, em casa ou nas ruas. Os mais tradicionais têm a cor natural da lã, com
bordado e franja nas pontas.
Betak: É um quarto ou sala para receber visitas. Uma casa pashtun, por mais pobre, sempre terá
um betak, com a decoração tão imponente quanto possível e onde são colocados os bens mais
preciosos da família.
Chapati (ou paratha): Pão feito de farinha, água e sal, redondo e bem fininho, como uma pizza.
Em todas as manhãs e noites que se seguiram, eu me sentava com a
família no chão, formando um círculo em volta do fogo, para compartilhar o
café e o jantar. Eles eram muito pobres, mas comida não podia faltar.
Receber bem o visitante faz parte da tradição pashtun e compartilhar as
refeições é um momento de grande importância. Do fogareiro saíam os
chapatis bem quentinhos, usados como um prato para servir a comida, que