estranho que eu lhe fizesse aquela pergunta. E respondeu: "Bem,
mamãe, mas se a vovó disse que manda, é a mesma coisa." Eu não tive
o que dizer.
Passou-se um mês, e nada se ouviu do álbum. Um dia,
finalmente, pensando em meu coração por que o álbum não teria vindo,
eu lhe disse, para provar sua fé:
"Jorginho, eu acho que a vovó se esqueceu da promessa."
"Não, mamãe," disse ele com firmeza, "não esqueceu, não."
Olhei para a carinha confiante, que por um momento ficou séria e
grave, como se ele estivesse considerando no íntimo a possibilidade do
que eu havia sugerido. A seguir seu rosto iluminou-se e ele me disse:
"Mamãe, será que não seria bom eu escrever para a vovó,
agradecendo o álbum?"
"Não sei," respondi, "pode escrever."
Uma rica verdade espiritual começou a raiar no meu horizonte. Em
poucos minutos uma cartinha estava pronta e encaminhada ao correio. E
lá foi ele assobiando, confiante na vovó. Poucos dias depois chegou uma
carta, dizendo:
"Querido Jorginho, não me esqueci da promessa. Procurei um
álbum como você queria, mas não o encontrei. Então encomendei um de
Nova York, mas só chegou depois do Natal, e ainda não era como você
queria. Já pedi outro, mas como ainda não chegou, mando-lhe agora o
dinheiro para comprar um aí. Com amor, a Vovó."
Enquanto lia a carta, estampava no rosto um ar de vitória. "Está
vendo, mamãe, eu não lhe disse?" E esta frase saía do fundo de um
coração que não duvidara, e que em esperança crera "contra a
esperança", que o álbum viria. Enquanto ele confiava, a vovó trabalhava,
e no tempo próprio, a fé tornou-se vista.