Marconi Notaro Ferreira, nasceu em Garanhus, Pernambuco. Se tornou conhecido por ser representante da cena musical psicodélica recifense nos anos 70, junto a Flaviola, Ave Sangria, Zé Ramalho, Lula Cortês, Lailson e outros. Seu trabalho mais conhecido é "No Sub Reino dos Metazoários",...
Marconi Notaro Ferreira, nasceu em Garanhus, Pernambuco. Se tornou conhecido por ser representante da cena musical psicodélica recifense nos anos 70, junto a Flaviola, Ave Sangria, Zé Ramalho, Lula Cortês, Lailson e outros. Seu trabalho mais conhecido é "No Sub Reino dos Metazoários", de 1973. Além de músico, era poeta, e ao que se sabe, os poemas de Notaro eram confeccionados, datilografados, copiados e distribuídos nos bares e bocadas da cena recifense. Seu livro de poemas "Amor, risos e lágrimas" é uma edição raríssima e limitada, lançada anos antes de sua obra musical e escrita quando tinha apenas 18 anos.
Size: 2.73 MB
Language: pt
Added: May 10, 2020
Slides: 29 pages
Slide Content
MARCONI
NOTARO
FERREIRA
> amor,
| 11505 e
lágrimas
CAPA DO AUTOR
VOLUME Ne 0404
1% EDICAO
apredentaráo
De um estilo sincronizado com a nossa época.
Embora sua pocsia traga uma certa influéncia france.
sa. em particular ccm a de Paul Gérardy, Notaro Fer-
Feira trata os mossos problemas com certo vislumbra
que memo narrando momentos nostálgicos,
ventimca ramantismos nns palaveas lidas. E um desen:
no do anirico para o reat. Embora seu pessi-
diente das coisas do mundo, sentimos uma cer
satistacao ao lé-las,
A guerra vai se encandens
em geral e a nossa opinido
tido. Mas a poesi
mostra (inclu
lo em sua visio, como
canto horrarosa e sem ven“
A BOMBA, que é uma tentativa de
0 0 que muitos já disseram) toma um
sentulo quaso que artificial
u vontade 0 mostrar ax desgraças do mundo,
Mas ‚ui apenas mostrar o que tem de belo. O
mcr por sua musa inspiradora, u sun ojeritn pelos ho-
nasceu com o coragde. Foi um desenvolvimenta
lento, desde a primeira idade, uma construçäo provoi-
losa, e que sómente agora ¿le conseguiu ver. Sontiu
vprimido pelo belo, e éle veio a ton. Desacorrentou-
se das talhas que Ele tentow construir, dos quadros que
tentcu pintar, veio emetgindo lento e finalmente mos”
teou a sun teal caracteristica. Surgiu primeiro para os
amigos, agora para o público, Sinto que sua poesia será
ncvita: pois vivo com 0 pove, como o poro d.
RAIMUNDO CARREIRO
Do arquivo de minha
meméria, áquem devo
realmente meu sucesso:
Meus Pais.
Sem muse
poeta;
Inácia; menina mulher
inspiradora
te agradeço de coracáo.
Das noites;
Bismarck Lopes e
Raimundo Carreiro;
emigos de sangue quente.
PREFACIO
inas que se seguem, encontrará, o leitor,
der imaginativo e idealista de Notaro Ferreira, jo-
cuja cultura comeca a despontar fulguramente n'um
brilhantismo arrebatador, pröprio ao século XX, que
nos presenteia com uma juventude criadora e cuja vi
tória já a pesquiza prenuncia como sendo a grande épo-
ca evolutiva da humaridade.
Imerpredando “A Bomba". sentimos o protesto
do jovem poeta com relacáo ás guerras imbocís que os
juumanes criaram como meio para solucionar problemas
tio sem nexo, como as Estalhas. Angüstia velada por um
contido e cinda näo realizado.
Néste livro extravasa, o nosso Marconi N. Ferrei-
ra, sua ánsia de viver tóda uma vida em poucos segun-
dos. Ele é bem o retrato vivo d'uma época, cujo sécuto
paralela a existéncia na matemática dos sentimentos lu"
PINTORA D. PONTES
A BOMBA
O fogo tem inicio.
As fólhas,
que eram verde
estáo em vermelho brasa.
As fidres,
que me davam inspiracáo
quando em tédio,
estáo em cinzas,
Os campos;
calmos, finos e leves
estäo grosos e em montes.
Os montes,
altes e esguios
estdo em amontoados de areia.
Os pässaros,
> cantavam músicas simples
mes mensageiras,
estas mortos.
Os garétos,
vam ao brincar,
lagos de sangue.
As lagrimas,
que a mim deixavam sentimental,
nao cairam.
O riso,
que me fazia sorrir,
gelow.
a piedade o amor.
No amor a irmandade.
Na irmandade,
«6 para modificar,
de ser sensivel.
Depois que o homem
der amor, tenha piedade,
seja irmäo
e tenha sensibilidade,
criarei o sorriso.
Sé para completar!
MEU ESCRITORIO
Meu escritório
6 um pouca diferente
dos demais que impestam
a cidade,
Néle nao tem avisos na porta,
nem luxuosas poltronas
cobertas em veludos finos.
Näo tenho secretárias louras...
nem morenas.
La nao tem telefones brancos .
nem pretos.
Lá nao tem nada de escritório;
a näo ser papel
e lápis,
e mesmo assim em pouca quantidade.
Mas uma coisa lá existe,
e muito... Paz,
Paz que náo se encontra
nos escritórios
dos poetas mecánicos
Homens que näo adm
a arte como arte,
e sim como necessidade
social.
“Robós”.
Homens tao ligados
ao mundo,
que nao podem
— por falta de arte —
procurar um escritério
como o meu;
com teto aceso
(estrélas)
e cortinas verdes.
(árvores)
18
no meu escritório,
iriam sös
encarariam a vida
:ergonha.
le & meu escritório:
véncia humana
Ou sejar Influéncias más.
Lä estarei sem hora marcada;
inal ninguém me espera.
E ésse & 0 escritório
no «6 meu,
mas de qualquer poeta
sem comércio na alma.
Recife, 1968
DESCANSO
A Agua caindo sóbre o vestido rasgado.
O rosto além de velho, molhado
de suor e da fria água.
Mais fria que a própria mägoa
da vida expresa no rosto suado.
Com raiva do sempre posado
que carrega desde pequena,
sem maldado encara a cena
a que vive o homem ligado
no mundo dos maltratados.
Um mundo em forma dearena
onde papel de touro cla incena.
No velho rosto triste se sente
a agonia de um pobre vivente
que nunca viu o direito
na terra dos preconceitos,
onde ela 6 a semente
reprodutora, mas dormente,
Segue, oh pobre burro de carga!
Sente como a vida é amarga
até o dia irremediävel.
Pois após o acórde amigável
entre Deus, tu e a praga,
verás que tua dór se acaba.
Recile, 1968
REAL... IDADE
No chäo
uma mulher.
Nos bragos;
Nos olhos;
angústia.
Na angústia;
muitos anos.
Nos anos;
soltimentos.
No sofrimento;
homens
Portanto, nunca queria vé-la nesta varanda,
Deixe que as casas, a rua
e os antigos postes se mostrem,
e aparecam sensiveis
a um poema,
Jamais pense em vir aqui
Bahia, 1967
AMOR
Mais uma ver tua falta
Näo se consoguo,
depois que se a conhece,
Há queso dois anos
nos conhecemos
de uma maneira tal
que nem nós sabemos
como detini-la.
E horrivel viverse
Mesmo sabendo que vocé me ama,
talvez mais que eu proprio.
Mas mesmo assim 6 triste
Tudo 6 tédio, ou quase.
A chuva é fria, a Lua pequena,
as noites vazias ..
A alma näc encontra apoio
timental,
nem para pcemas.
Se tua falta continuar
em mim morrerá os sentimentos
Nunca mais serei o meu “eu”
melhor dizendo;
pois passarei a ser
um “eu” todo vocé
Bahia,
UMO DE UMA
VIAGEM
Hoje parti para lugar náo muito longe.
É verdade que ao partir senti saudados,
Mas saudade é coisa que passa.
O tempo se encarrega de nos distrair.
E a saudade vai
E a saudade foi.
Fei a saudade e ficou o tédio:
A faita de lua na noite de um apaixonado.
Bem, mas o tédio também segue.
E 0 tédio vai
E o tédio foi.
Foi o tédio e ficou a angüstia
Vecó se apalpa... e só assim
consegue sentir seu próprio corpo.
Mas a angústia é coisa passageira,
E a angústia vai
E a angüstia foi,
Foi o desespero e ficou a alma livre,
Com os bracos estendidos e macs abertas,
pronta para entregar âquem, na verdade merece,
o resumo da viagem:
Amor em doses dobradas.
E o amor fica...
E 0 amor nunca vai
J. Possöa, 1967
COMPLEXO
uantas vézes
Já Ihe vi chorando?
E por mim?
Olha; até hoje
vocé foi e é
a pessoa que marca
no meu íntimo
Sempre the disse
para náo chorar
em minita frent
Nao gosto disso
E mais por mim.
Ao vé-la deixar cair,
como brithante,
dues götinhas de amor,
sinto-me como um carrasco,
e isso náo me agrada sabe?
Come, vocé acha justo?
Mas vocé acha certo
fazer-me solrer?
Acha que deve
crucilicar-me vez por outra?
E tudo por bobagens?
Como nao sáo bebagens!?
Ora querida; que vocë espera de mim?
Que seja um exemplo?
“Olke": Isso que vocé pede & quasé impossiv 2h
Nunca conseguirei
nem querendo chegar a tanto.
Acho ais vezes que sou ad demais!?
Sim, eu sei; isso é dever meu.
Mas náo concebes
que vocé é que precura solrer
e me fazer o mesmo?
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E. Vocé está encontrando muito
em täo pouco.
Nao! Assim já é demais,
já choras outra véz?!
Nem mais pedemos conversar um pouco!
Fale! Diga qualquer coisa,
Por exemplo: O porque disso.
! Anda náo falou?
o principio?
Só respondeu?!
Oh! Desculpe-me querida,
Deixe"me enxugar-lhe as lágrimas
e nao choro nunca mais, ouviu? ...
Bahia, 1967
NOS AMAMOS
Olha! Voré se lembra?
Foi aquela mesma coluna
a testemunha
do nosso primeiro beijo
vocé se lembra náo?
Foi o máximo em amores,
Um simples beijo,
mas mostrou-nos
diante de carinhos
que amávamos
um ao outro.
E com a mesma intensidade
Porque os que trocamos hoje
tém mais tanto calor?
ples, amada minh
náo é que tenhamos mudado,
nada disso,
Estamos até melhores!?
É que aquéle beijo
É amor puro.
Já cheguei a ficar pre
com os nossos beijos e carinhos de hoje.
Mas quanto sinto