Meditação diária de francisco carvajal 82. render para deus

pr_afsalbergaria 253 views 5 slides Nov 19, 2017
Slide 1
Slide 1 of 5
Slide 1
1
Slide 2
2
Slide 3
3
Slide 4
4
Slide 5
5

About This Presentation

82. RENDER PARA DEUS

– Administradores dos dons recebidos.
– A vida, um serviço agradável a Deus.
– Aproveitar bem o tempo.


Slide Content

Meditação diária de Falar com Deus
Francisco Fernández Carvajal

TEMPO COMUM. TRIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO. CICLO A

82. RENDER PARA DEUS

– Administradores dos dons recebidos.
– A vida, um serviço agradável a Deus.
– Aproveitar bem o tempo.

I. NESTAS ÚLTIMAS SEMANAS do ano litúrgico, a liturgia da Igreja continua a
animar-nos a considerar as verdades eternas. Verdades que devem ser de grande
proveito para a nossa alma. Lemos na segunda Leitura da Missa1 que o Senhor virá
como um ladrão durante a noite, inesperadamente. A morte, ainda que estejamos
preparados, será sempre uma surpresa.
A vida na terra, como Jesus nos ensina no Evangelho2, é um tempo para
administrarmos a herança do Senhor e assim ganharmos o Céu. Um homem que ia
ausentar-se longe chamou os seus servos e encarregou-os dos seus bens. E deu a
um cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade, e
partiu imediatamente. Conhecia bem os seus servos, e por isso não lhes confiou os
seus bens por igual. Teria sido injusto responsabilizá-los a todos pela mesma quantia.
Passado algum tempo, o senhor voltou da sua viagem e pediu contas aos seus
servidores. Os que tinham recebido cinco e dois talentos puderam devolver o dobro.
Haviam aproveitado o tempo para fazer render os bens recebidos e tiveram a grande
felicidade de ver a alegria do seu senhor; fizeram-se merecedores de um elogio e de
um prémio inesperado: Está bem, servo bom e fiel – disse o dono da herdade a cada
um deles –, já que foste fiel em poucas coisas, dar-te-ei a intendência de muitas;
entra no gozo do teu senhor.

O significado da parábola é claro. Nós somos os servos; os talentos são as
condições com que Deus dotou cada um de nós (a inteligência, a capacidade de
amar, de fazer os outros felizes, os bens temporais...); o tempo que dura a ausência
do amo é a vida; o regresso inesperado, a morte; a prestação de contas, o juízo;
entrar no gozo do senhor, o Céu. Não somos donos, mas – como o Senhor repete
constantemente ao longo do Evangelho – administradores de uns bens dos quais
teremos de prestar contas.
Hoje podemos examinar na presença de Deus se realmente temos mentalidade
de administradores e não de donos absolutos, que podem dispor a seu bel-prazer do
que possuem. Podemos indagar-nos sobre o uso que fazemos do nosso corpo e dos
sentidos, da alma e das suas potências. Servem realmente para dar glória a Deus?
Pensemos se fazemos o bem com os talentos recebidos: com os bens materiais, com
a nossa capacidade de trabalho, com as amizades... O Senhor deseja ver o seu
património bem administrado. O que Ele espera é proporcional àquilo que
recebemos. Porque a todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e
aquele a quem muito confiaram, mais contas lhe pedirão3.
Está bem, servo bom e fiel, já que foste fiel em poucas coisas, diz o Senhor àquele
que recebeu cinco talentos. O “muito” – cinco talentos – que recebemos nesta vida é
considerado “pouco” por Deus. Entrar no gozo do Senhor, isso é o muito...: Nem o
olho viu, nem o ouvido ouviu, nem entrou no coração do homem, o que Deus
preparou para aqueles que O amam4. Vale a pena sermos fiéis aqui, enquanto
aguardamos a chegada do Senhor, aproveitando este curto espaço de tempo com
sentido de responsabilidade. Que alegria quando nos apresentarmos diante d’Ele com
as mãos cheias! Olha, Senhor – dir-lhe-emos –, procurei fazer render os talentos que
me deste. Não tive outro fim a não ser a tua glória.

II. MAS O QUE TINHA recebido um talento foi, cavou na terra e escondeu o
dinheiro do seu senhor. Quando este lhe pediu contas, tentou desculpar-se e
arremeteu contra quem lhe tinha dado tudo o que possuía: Senhor, disse-lhe, sei que
és um homem duro, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste.
Tive receio e fui esconder o teu talento na terra; eis o que é teu.
Este último servo “revela-nos como é que o homem se comporta quando não vive
uma fidelidade activa em relação a Deus. Prevalecem o medo, a auto-estima, a

afirmação do egoísmo que procura justificar a sua conduta com as injustas
pretensões do amo, que deseja colher onde não semeou”5. Servo mau e preguiçoso,
é como o senhor o chama ao ouvir as suas desculpas. Esqueceu uma verdade
essencial: que “o homem foi criado para conhecer, amar e servir a Deus neste mundo
e assim merecer a vida com o próprio Deus para sempre no céu”.
Quando se conhece a Deus, é fácil amá-lo e servi-lo. “Quando se ama, servir não
só não é custoso nem humilhante: é um prazer. Uma pessoa que ama nunca
considera uma humilhação ou indignidade servir o objecto do seu amor; nunca se
sente humilhada por prestar-lhe serviços. Pois bem: o terceiro servo conhecia o seu
senhor; pelo menos, tinha tantos motivos para conhecê-lo como os outros dois
servidores. Contudo, é evidente que não o amava. E quando não se ama, custa muito
servir”6. Este servo não só não gostava do seu senhor, como se atreveu a chamá-
lo homem duro, que queria colher onde não tinha semeado. Este servo não serviu o
seu senhor por falta de amor.
O contrário da preguiça é precisamente a diligência, uma palavra proveniente do
verbo latino diligere, que significa amar, escolher depois de um estudo atento. O amor
dá asas para servir a pessoa amada. A preguiça, fruto da falta de amor, leva a um
desamor muito maior. Nesta parábola, o Senhor condena os que não desenvolvem os
dons que Ele lhes deu e os que os empregam a serviço do seu comodismo pessoal,
em vez de servirem a Deus e aos seus irmãos os homens, num serviço de amor.

III. A NOSSA VIDA é breve. Por isso temos que aproveitá-la até o último instante
para crescer no amor, no serviço a Deus. A Sagrada Escritura alerta-nos com
frequência para a brevidade da nossa existência aqui na terra. Ela é comparada à
fumaça7, à sombra8, à passagem das nuvens9, ao nada10. Que pena se perdemos o
tempo ou o empregamos mal, como se não tivesse valor!
“Que pena viver, praticando como ocupação a de matar o tempo, que é um
tesouro de Deus! [...] Que tristeza não tirar proveito, autêntico rendimento, de todas as
faculdades, poucas ou muitas, que Deus concedeu ao homem para que se dedique a
servir as almas e a sociedade! Quando o cristão mata o seu tempo na terra, coloca-se
em perigo de matar o seu Céu: quando por egoísmo se retrai, se esconde, se
desinteressa”11.

Aproveitar o tempo é levar a cabo o que Deus quer que façamos em cada
momento. Às vezes, aproveitar uma tarde será “perdê-la” aos pés da cama de um
doente ou dedicando-a a um amigo para que se prepare para uma prova. Tê-la-emos
perdido para os nossos planos, muitas vezes para o nosso comodismo, mas tê-la-
emos ganho para essas pessoas necessitadas de ajuda ou de consolo e para a
eternidade.
Aproveitar o tempo é viver plenamente o momento presente, pondo a cabeça e o
coração naquilo que fazemos, ainda que humanamente pareça ter pouca importância,
sem nos preocuparmos excessivamente com o passado nem nos inquietarmos muito
com o futuro. O Senhor quer que vivamos e santifiquemos o momento presente,
cumprindo a responsabilidade por este dever que corresponde ao momento que
vivemos, libertando-nos de preocupações inúteis futuras, que podem nunca chegar, e
se chegam... já nos dará o nosso Pai Deus a graça sobrenatural para superá-las e
graça humana para levá-los com brio. O Senhor advertiu-nos claramente: Não vos
preocupeis, pois, pelo dia de amanhã; o dia de amanhã terá as suas preocupações
próprias. A cada dia bastam os seus trabalhos.”12.
Viver plenamente o momento presente, de olhos postos em Deus, torna-nos mais
eficazes e livra-nos de muitas ansiedades inúteis, que nada mais fazem do que
paralisar-nos. Conta Santa Teresa de Ávila que ao chegar a Salamanca,
acompanhada de outra freira, chamada Maria do Sacramento, para ali fundar um
novo convento, encontrou uma casa desmantelada, da qual tinham desalojado uns
estudantes algumas horas antes. As viajantes entraram na casa já de noite, exaustas
e congeladas pelo frio. Os sinos da cidade dobravam a finados, pois era véspera do
dia dos fiéis defuntos. Na escuridão, somente quebrada pela chama oscilante do
candeeiro, as paredes enchiam-se de sombras inquietantes. Apesar de tudo,
deitaram-se cedo sobre uns molhos de palha que tinham trazido com elas. Depois de
se meterem naquelas camas improvisadas, Maria do Sacramento, cheia de grandes
temores, disse à Santa:
“Madre, estou pensando que, se eu morresse agora, o que faríeis vós sozinha?”
“Aquilo, se viesse a acontecer, parecia-me coisa dura”, comentava anos mais
tarde a Santa; “fez-me pensar um pouco nisso e mesmo chegar a ter medo, porque os
corpos mortos sempre me enfraquecem o coração, ainda que não esteja sozinha”.

“E como o dobrar dos sinos ajudava, pois como disse era noite de almas, bom
começo tinha o demónio para fazer-nos perder o pensamento com ninharias.
“Irmã – disse-lhe –, se isso acontecer, então pensarei no que fazer; agora deixe-
me dormir”13.
Em muitas ocasiões, quando nos assaltarem preocupações sobre acontecimentos
futuros que nos roubem a paz ou o tempo, e em relação aos quais nada possamos
fazer no momento presente, será muito útil dizermos, como a Santa: “Se isso
acontecer, então pensarei no que fazer”. Então contaremos com a graça de Deus
para santificar o que Ele dispõe ou permite.
Quando uma vida chega ao seu fim, não podemos pensar só numa vela que se
consumiu, mas numa tapeçaria que se acabou de tecer. Tapeçaria que nós vemos
pelo avesso, cheio de fios soltos e em que só se pode observar uma figura sem
contornos. O nosso Pai Deus contemplá-la-á pelo lado certo, e sorrirá e ficará feliz
com a obra acabada, resultado de termos aproveitado bem o tempo todos os dias,
hora a hora, minuto a minuto.

(1) 1 Tess 5, 1-6; (2) Mt 25, 14-30; (3) Lc 12, 48; (4) 1 Cor 2, 9; (5) João Paulo II, Homilia, 18.11.84; (6)
Federico Suárez, Después, pág. 144; (7) cfr. Sab 2, 2; (8) cfr. Sal 143, 4; (9) cfr. Jó 14, 2; 37, 2; Ti 1,
10; (10) cfr. Sal 38, 6; (11) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 46; (12) Mt 6, 34; (13) Marcelle
Auclair, La vida de Santa Teresa de Jesus, págs. 238-239.