Aproveitar o tempo é levar a cabo o que Deus quer que façamos em cada
momento. Às vezes, aproveitar uma tarde será “perdê-la” aos pés da cama de um
doente ou dedicando-a a um amigo para que se prepare para uma prova. Tê-la-emos
perdido para os nossos planos, muitas vezes para o nosso comodismo, mas tê-la-
emos ganho para essas pessoas necessitadas de ajuda ou de consolo e para a
eternidade.
Aproveitar o tempo é viver plenamente o momento presente, pondo a cabeça e o
coração naquilo que fazemos, ainda que humanamente pareça ter pouca importância,
sem nos preocuparmos excessivamente com o passado nem nos inquietarmos muito
com o futuro. O Senhor quer que vivamos e santifiquemos o momento presente,
cumprindo a responsabilidade por este dever que corresponde ao momento que
vivemos, libertando-nos de preocupações inúteis futuras, que podem nunca chegar, e
se chegam... já nos dará o nosso Pai Deus a graça sobrenatural para superá-las e
graça humana para levá-los com brio. O Senhor advertiu-nos claramente: Não vos
preocupeis, pois, pelo dia de amanhã; o dia de amanhã terá as suas preocupações
próprias. A cada dia bastam os seus trabalhos.”12.
Viver plenamente o momento presente, de olhos postos em Deus, torna-nos mais
eficazes e livra-nos de muitas ansiedades inúteis, que nada mais fazem do que
paralisar-nos. Conta Santa Teresa de Ávila que ao chegar a Salamanca,
acompanhada de outra freira, chamada Maria do Sacramento, para ali fundar um
novo convento, encontrou uma casa desmantelada, da qual tinham desalojado uns
estudantes algumas horas antes. As viajantes entraram na casa já de noite, exaustas
e congeladas pelo frio. Os sinos da cidade dobravam a finados, pois era véspera do
dia dos fiéis defuntos. Na escuridão, somente quebrada pela chama oscilante do
candeeiro, as paredes enchiam-se de sombras inquietantes. Apesar de tudo,
deitaram-se cedo sobre uns molhos de palha que tinham trazido com elas. Depois de
se meterem naquelas camas improvisadas, Maria do Sacramento, cheia de grandes
temores, disse à Santa:
“Madre, estou pensando que, se eu morresse agora, o que faríeis vós sozinha?”
“Aquilo, se viesse a acontecer, parecia-me coisa dura”, comentava anos mais
tarde a Santa; “fez-me pensar um pouco nisso e mesmo chegar a ter medo, porque os
corpos mortos sempre me enfraquecem o coração, ainda que não esteja sozinha”.