1
Cadernos de opinião. Moçambique - Maputo. 2017
“MINHA LIBERDADE TERMINA ONDE COMEÇA A LIBERDADE DO OUTRO ”?
Sérgio dos Céus Nelson
1
Fico deveras indignado quando nos colocamos a pensar na liberdade como algo que se sobrepõe a
um “outro”. Não se pode medir a liberdade através de principios individualistas, onde esperamos
que as pessoas “deixem de ser” para que nós também “sejamos”.
Falar da liberdade pressupõe a compreensão de que se vive numa sociedade minada, onde o seu
valor pode ser concretizado ou não. Muitos vivem uma vida eterna acorrentados a uma realidade,
e esses não os podemos chamar livres, mas sim condilivres (livres condicionalmente). Desta
forma, alguns alcançam a liberdade na morte, quando decidem como dar o seu último suspiro.
Aliás, até mesmo a morte de um individuo pode ser fabricada, daí que eu discordo com Jean-Paul
Sartre (1905-1980) quando diz que “a liberdade é a condição ontológica do ser humano. O homem
é, antes de tudo, livre”.
Não podemos pensar num homem livre, se este depender de um outro para aparecer no mundo. Os
Homens sempre viveram num condicionalismo premeditado, no qual a liberdade somente aparece
como uma ferramenta de ilusão, que hipnotiza as pessoas a acreditarem que podem chegar a lua
sem subir numa nave.
A liberdade da qual se fala, desde os tempos clássicos até a modernidade, reveste-se de um
pensamento materialista que limita o conceito liberdade a certos padrões de vida. Ora,
Delacroix (1830), in “A Liberdade Guiando o Povo” considerava liberdade como resultado de
batalhas e de imposição de vontades e justiças. Por sua vez, Baruch Espinoza (1632-1677) diz que
“a liberdade possui um elemento de identificação com a natureza do "ser". Nesse sentido, ser livre
significa agir de acordo com sua natureza”.
1
Sérgio dos Céus Nelson é licenciado em Jornalismo pela Universidade Eduardo Mondlane – Moçambique (Maputo).
É jornalista e pesquisador. Suas áreas de actuação estão ligadas aos direitos humanos, meio ambiente e conflitos
(Jornalismo de guerra).
Email:
[email protected]