Francisco Cândido Xavier - Missionários da Luz - pelo Espírito André Luiz
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lado do outro, no mesmo leito; entretanto, cada um vive em plano
mental diferente. É muito difícil estarem reunidas nos laços do-
mésticos as almas da mesma esfera. Raquel, fora dos veículos de
carne, pode ver a avozinha, com quem se encontra ligada no
mesmo círculo de elevação. Adelino, porém, somente poderá ver
Segismundo, com quem se encontra imantado pelas forças do
ódio que ele deixou, imprudentemente, desenvolver-se, de novo,
em seu coração...
A palavra do orientador, contudo, foi interrompida por um
grito lancinante. Adelino, receoso, identificara a presença do
antigo adversário e, espavorido, tentava correr, inutilmente. Mo-
vimentava-se, com dificuldade, ansioso de retomar o corpo físico,
à maneira de criança medrosa procurando um refúgio, mas Ale-
xandre, aproximando-se dele, com amorosa autoridade, estendeu-
lhe as mãos, das quais saíam grandes chispas de luz. Contido
pelos raios magnéticos, o esposo de Raquel pôs-se a tremer, sen-
tindo-se que ele começava a ver alguma coisa além da figura do
ex-inimigo. Aos poucos, em vista das vigorosas emissões magné-
ticas de Alexandre, ele pôde ver nosso venerável orientador, com
quem passou a sintonizar diretamente e caiu de joelhos, em con-
vulsivo pranto. Observei o pensamento de Adelino naquela hora
comovedora e percebi que ele associava a visão radiosa às preces
do filhinho. Ele via, ali, a estranha figura de Segismundo e a
resplandecente presença de Alexandre e fazia intraduzível esforço
para recordar-se de alguma coisa do passado distante que a sua
memória não conseguia situar com exatidão. Supôs, naturalmente,
que o nosso mentor devia ser um emissário do Céu para salvá-lo
dos pesadelos cruéis e, ofuscado pela intensa luz, soluçava, genu-
flexo, entre o medo e o júbilo, suplicando paz e proteção.
O bondoso instrutor dirigiu-se para ele, com a serenidade de
um pai carinhoso e experiente, e, levantando-o, exclamou:
– Adelino, guarda a paz que te trazemos em nome do Senhor!