MODERNISMO Início do século XX Professora Gabriela Ozório
Vanguardas europeias Radicalização das experiências formais
Contexto histórico Instabilidade política entre as potências mundiais; Disputa de territórios e mercados consumidores; Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Cubismo > Ruptura com os conceitos de proporção e perspectiva; > Formas geométricas, fragmentação; PICASSO, Pablo. As senhoritas de Avignon , 1907. PICASSO, Pablo. Guernica , 1937.
Futurismo > Rejeição do passado, destruição das tradições; > Fascínio pelas novas tecnologias; > Manifesto Futurista. “Nós afirmamos que a magnificiência do mundo foi enriquecida por uma nova beleza: a beleza da velocidade. Um carro de corrida cuja capota é adornada com grandes canos, como serpentes de respirações explosivas de um carro bravejante que parece correr na metralha é mais bonito do que a Vitória da Samotrácia .” Filippo Tommaso Marinetti 20 de fevereiro de 1909, publicado no jornal francês Le Figaro .
Expressionismo > Declínio do mundo burguês; > Realidade de modo deformado, releitura trágica da vida social; > Função politicamente combativa; > Emoções, subjetividade. MUNCH, Edvard. O grito , 1893 VAN GOGH, Vincent. A noite estrelada , 1889
Dadaísmo > Falta de significado – abolição da lógica e das relações com o real; > Negação da premeditação no processo de criação artística; > Espontaneidade, imediatismo, caos; > Crítica à sociedade; > Consideravam a arte uma manifestação hipócrita em tempos de guerra. DUCHAMP, Marcel. Fonte, 1917.
Surrealismo > Falta de lógica; > Estudo do inconsciente (psicanálise) – sonho, loucura, impulsos sexuais; > Libertar o indivíduo dos limites da vida prática; DALÍ, Salvador. A persistência da memória , 1931 MAGRITTE, René. A traição das imagens, 1929
MODERNISMO Primeira fase – autonomia artística (1922-1930)
Contexto brasileiro Surgimento de novos segmentos sociais; Crise da cultura canavieira – migração de nordestinos para a região sudeste; Imigrantes europeus – politizados e com experiência sindical (ideias anarquistas e socialistas); Primeira greve geral em 1917; Criação do Partido Comunista Brasileiro em 1922.
Semana de Arte Moderna, 1922 O evento cultural aconteceu no Teatro Municipal de São Paulo entre 13 e 17 de fevereiro e reuniu artistas de SP e RJ, contando com uma exposição de 100 obras aberta ao público e sessões literário-musicais pagas. As exposições causaram escândalo e as sessões provocaram vaias, xingamentos e tumulto.
MALFATTI, Anita. A boba , 1916 Alguns dos nomes mais importantes do modernismo no Brasil: Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, entre outros.
Os sapos Enfunando os papos, Saem da penumbra, Aos pulos, os sapos. A luz os delumbra . Em ronco que a terra, Berra o sapo-boi: — “Meu pai foi à guerra!” — “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!” O sapo-tanoeiro Parnasiano aguado, Diz: — ” Meu cancioneiro É bem martelado. Vede como primo Em comer os hiatos! Que arte! E nunca rimo Os termos cognatos. O meu verso é bom Frumento sem joio. Faço rimas com Consoantes de apoio. Vai por cinquenta anos Que lhes dei a norma: Reduzi sem danos A formas a forma. Clame a saparia Em críticas céticas: Não há mais poesia, Mas há artes poéticas…” Urra o sapo-boi: — “Meu pai foi rei” — “Foi!” — “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!” Brada em um assomo O sapo-tanoeiro: — “A grande arte é como Lavor de joalheiro. Ou bem de estatutário. Tudo quanto é belo, Tudo quanto é vário, Canta no martelo.” Outros, sapos-pipas (Um mal em si cabe), Falam pelas tripas: –“Sei!” — “Não sabe!” — “Sabe!” Longe dessa grita, Lá onde mais densa A noite infinita Verte a sombra imensa; Lá, fugido ao mundo, Sem glória, sem fé, No perau profundo E solitário, é Que soluças tu, Transido de frio, Sapo-cururu Da beira do rio… Manuel Bandeira, 1918
A mostra não obteve grandes repercussões na época, ficando restrita aos intelectuais, mas abriu caminho para futuras produções e publicações, como a revista Klaxon e os manifestos de Oswald de Andrade.
Manifesto da poesia Pau-Brasil Poesia sem preconceitos linguísticos; Raiz primitivista das culturas indígena e africana; Técnicas das vanguardas europeias.
Manifesto antropófago Devoração ritual dos valores europeus; Superação da dependência cultural pela “digestão” da arte europeia; Inspirado pela obra Abaporu de Tarsila do Amaral; AMARAL, Tarsila do. Abaporu , 1928.
Características Artistas de classe média que exerciam outras profissões – necessidade de patrocínio da elite Integração entre forma e conteúdo Métricas tradicionais e esquemas de rima fixos não eram prioridade Abordagem crítica dos conteúdos tradicionais Conteúdo crítico sobre a história política e cultural do país Junção de elementos modernos e cultura nativa Temas do cotidiano e linguagem comum, próxima à fala do povo Intenção de criar uma identidade nacional reflexiva, sem mitos nativos idealizados Experimentação com a linguagem
Mário de Andrade (1893-1945) Poeta, romancista, crítico literário, musicólogo e folclorista Língua brasileira Verso livre Escrita automática AMARAL, Tarsila do. Retrato de Mário de Andrade , 1922
ODE AO BURGUÊS Eu insulto o burguês! O burguês-níquel, o burguês-burguês! A digestão bem feita de São Paulo! O homem-curva! o homem-nádegas! O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! Eu insulto as aristocracias cautelosas! Os barões lampeões ! os condes Joões ! os duques zurros! que vivem dentro de muros sem pulos; e gemem sangues de alguns milreis fracos para dizerem que as filhas da senhora falam o francês e tocam o " Printemps " com as unhas! Eu insulto o burguês-funesto! O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições! Fora os que algarismam os amanhãs! Olha a vida dos nossos setembros! Fará Sol? Choverá? Arlequinal! Mas à chuva dos rosais o êxtase fará sempre Sol! Morte à gordura! Morte às adiposidades cerebrais! Morte ao burguês-mensal! ao burguês-cinema! ao burguês- tílburi ! Padaria Suíça! Morte viva ao Adriano! "– Ai, filha, que te darei pelos teus anos? – Um colar... – Conto e quinhentos!!! Mas nós morremos de fome!" Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma! Oh! purée de batatas morais! Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas! Ódio aos temperamentos regulares! Ódio aos relógios musculares! Morte e infâmia! Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados! Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos, Sempiternamente as mesmices convencionais! De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia! Dois a dois! Primeira posição! Marcha! Todos para a Central do meu rancor inebriante! Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio! Morte ao burguês de giôlhos cheirando religião e que não crê em Deus! Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico! Ódio fundamento, sem perdão! Fora! Fú ! Fora o bom burguês!... ANDRADE, Mário de. Poesias Completas . São Paulo: Martins Editora, 1955. p. 44-45.
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera , que a índia, tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma. Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro: passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava: — Ai! que preguiça!. . . e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba , espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz-que habitando a água-doce por lá. No mucambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos, e frequentava com aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a cucuicogue , todas essas danças religiosas da tribo. A NDRADE, Mário de. Macunaíma : o herói sem nenhum caráter . Rio de Janeiro: Agir , 2008.
Oswald de Andrade (1890-1954) Escritor, ensaísta e dramaturgo Autor do Manifesto Pau-Brasil e do Manifesto Antropófago “limpar a poesia brasileira dos cipós do bacharelismo” AMARAL, Tarsila do. Retrato de Oswald de Andrade , 1922.
Pronominais Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro. Vício na fala Para melhor dizem mió Para pior pió Para telha dizem teia Para telhado dizem teiado E vão fazendo telhados. ANDRADE, Oswald de. Obras completas , Volumes 6-7. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972
Manuel Bandeira (1886-1968) Experimentou o simbolismo Domínio de variadas formas poéticas Em 1920 se aproxima de Mário de Andrade e começa a compor poemas com versos livres Lirismo direto e espontâneo Renovação da literatura brasileira Poética própria: amor irrealizável, infância, jogo erótico, a ausência, a morte PORTINARI, Candido. Retrato de Manuel Bandeira , 1931.
Pneumotórax Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: — Diga trinta e três. — Trinta e três… trinta e três… trinta e três… — Respire. ………………………………………………………………………. — O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. — Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? — Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino. BANDEIRA, Manuel. Libertinagem , 1930.
Poética Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor. Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo. Abaixo os puristas Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis Estou farto do lirismo namorador Político Raquítico Sifilítico De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo De resto não é lirismo Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc. Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbados O lirismo difícil e pungente dos bêbedos O lirismo dos clowns de Shakespeare – Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. Manuel Bandeira, 1922
Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu năo sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconsequente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a măe-d’água Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada Em Pasárgada tem tudo É outra civilizaçăo Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcalóide a vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar E quando eu estiver mais triste Mas triste de năo ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar — Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada . BANDEIRA, Manuel. “Bandeira a Vida Inteira”. Rio de Janeiro: Editora Alumbramento, 1986.
MODERNISMO Segunda fase – urgências sociais (1930-1945)