MORAES, Vinicius de - A ARCA DE NOÉ.pdf

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About This Presentation

Livro infantil


Slide Content

VINICIUS DE MORAES

Ilustragöes de

Nelson Cruz

Vinicius

de Moraes SSS

A arca de Noé

s
0a
Na água límpida e contente
Do ribeirinho da mata

n cores, de repente
ovis se desata

O sol, no vés

spas
Da chuva de ouro e de pra
Resplandece resplendente
No céu, no e

na cascala,

E abre-se a porta da arca
De par em par: surgem francas
A alegria e as barbas brancas

Do prudente patriarca

r Noé
E que, por justo e temente.

o inventor da uva

Jeovd, clementemente
Salvou da praga da chuva,

Tao verde se acia a serra
Pelas planuras vizinhas

Que diz Noé: “Boa terra
Para plantar minhas vinhas!”

E sai levando a familia
A ver; enquanto, em bonança
Colorida maravilha

Brilha 0 arco da aliança.

longa e incerta
na tromba de elefante.

E logo após, no buraco
Deu

‘Uma cara de macaco.

Que espia e desapares

Enquanto, entre as altas vigas
Das janelinhas do sótdo.
Duas girafas amigas

De fora as cabeças botam,

Grita u

a, e se escuta
De dentro um miado e um zurro
Late um
Com um g

horro em disputa.

A arca desconjuntada
Parece que vai ruir
‘Aos pulos da bicharada
Toda querendo sair.

Vai! Nao vai! Quem vai primeiro?
As aves, por mais esperta
Saem voando ligeiro

Pelas janelas aber

Enquanto, em grande atropelo
Junto à porta de saida

Latam os bichos de pelo

Pela terra prometida.

“Os bosques so todos meus!”
Ruge soberbo o leo
“Também sou filho de Deus!
Um protesta; e o tigre — “Nao!

Afinal, e ndo sem custo
Em longa fila, os c+
Uns com raiva, outros com susto.
Vio saindo os animais,

Os maiores vém à frente
Trazendo a cabega erguida
Eos fracos, humildemente.
Vém atrás, como na vida.

Conduzidos por Noé
Ei-los em terra benquista
Que passam, passam até
Onde a vista ndo avista

Na serra o arcoiris se esvai.
E... desde que houve essa história
Quando o véu da noite cai

Na terra e os astros em glória

Enchem o eéu de seus caprichos
É doce ouvir na calada
A fala mansa dos bichos

Na terra repovoada.

ig

Natal

De repente o sol raiou
Eo galo cocoricou:

— Cristo nasceu!

© boi no campo perdido
Soltou um longo mugido:

— Aonde? Aonde?

Com seu bal
Ligeiro diz o cordeiro:

tremido

— Em Belém! Em Belém!

Eis seno quando, num zurro
Se ouve a risada do burro:

— Foi sim que eu estava li!

Eo papagaio que é gira
Pôs-se a falar: — É mentira!

Os bichos de pena, em bando.
Reclamaram protestando.

O pombal todo arrulhava:
— Cruz credo! Cruz credo!

Brava
A arara a gritar comesa:

— Mentira? Arara. Ora essa!

Cristo nasceu! — canta o galo.
- Aonde? — pergunta o boi
Num estäbulo! — o cavalo

Contente rincha onde foi.

Bale o cordeiro também:
Em Belém! Mé! Em Belém!

Eos bichos todos

O papagaio caturr
E de raiva Ihe aplicaram

Uma grandissima surra

O filo que eu quero ter

É comum a gente sonhar, eu sei
¡Quando vem o entardecer

Pois eu também dei de sonhar

Um sonho lindo de morrer

Vejo um bergo e nele eu me debrugar
Com o pranto a me correr

E assim chorando acalentar

O filho que eu quero ter

Dorme, meu pequenininho
Dorme, que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho
De tanto amor que ele tem,

De repente o vejo se transformar
Num menino igual a mim.

Que vem correndo me beijar
Quando eu chegar là de onde eu vim
Um menino sempre a me perguntar
Um porqué que no tem fi
Um filho a quem só queira bem
Ea quem só diga que sim.

Dorme, menino levado
Dorme, que a vida jä vem
Ter pai está muito cansado
De tanta dor que ele tem.

Quando a vida enfim me quiser levar
Pelo tanto que me de

Sentirthe a barba me rogar

No derradeiro beijo se
¡bém sua
Meu olhar dos olhos seus

Ouvir-he a voz a me embalar
Num acalanto de adeus
Dorme, meu pai sem cuidado
Dorme, que ao entardecer
eu filho sonha acordado
Com o filho que ele quer ter.

Menininha

Menininha do meu coraçäo
Eu só quero voce

A très palmos do chiio

Menininha ndo cresga mais no

ique pequenininha na minha cançäo
Senhorinha levada

Batendo palminha

Fingindo assustada

Do bicho-papäo.

Menininha, que graga é vocé
‘Uma coisinha assim

Comegando a viver

Fique assim, meu amor

Sem erescer

Porque o mundo é ruim, & ruim e vocé
Vai softer de repente

Uma desilusdo

Porque a vida é somente

‘Teu bicho-papdo.

Fique assim, fique assim
Sempre assim

E se lembre de mim

Pelas coisas que eu dei

Também nio se esquega de mim
Quando voce souber enfim

De tudo o que eu amei.

» SA
— SY

Sempre que o sol
Pinta de anil
Todo o céu

O girassol

Fica um gentil
Carrossel

O girassol & o carrossel das abelhas,
Pretas e vermelhas
Ali ficam elas

Brincando, fedelhas
Nas pétalas amarelas.

Vamos brincar de carros

pessoal?”

“Roda, roda, carrossel
Roda, roda, rodador

Vai rodando, dando mel
Vai rodando, dando flor.”

— Marimbondo náo pode ir que é bicho mau!
— Besouro é muito pesado!
Borboleta tem que fingir de borboleta na entrada!

Dona Cigarra fica tocando seu realejo!

“Roda, roda, carrossel
Gira, gira, girassol
Redondinho como o céu

Marelinho como o sol.”
Eo girassol vai girando dia afora.

girassol & 0 carrossel das abelhas,

zen

O relögio

Passa, tempo, ic-tac
Tic-tae, passa, hora
‘Chega logo, tictac
Tic-tac, e vai-te embora
Passa, tempo

Bem depressa

Nao atrasa

Nao demora

Que já estou

Muito cansado

Hi perdi
‘Toda a alegria

De fazer

Meu tie-tac

Dia e noite
Noite e dia
Tie-tae
Tie-tac
Ti

34

A porta

Eu sou feita de madeira
Madeira, matéria morta

Mas niio há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta

Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado

Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira

Eu abro de supetäo

Pra passar o capitdo,

Só niio abro pra essa gente
Que diz (a mim bem me importa...)
Que se uma pessoa é burra.

É burra como uma porta.

Eu sou muito inteligente!
Eu fecho a frente da casa
Fecho a frente do quartel

Fecho tudo nesse mundo
Só vivo aberta no eéu!

Acasa

Era uma casa
Muito engragada
No tna teto
Näo tna nada
Ninguém podía
Entrar nela no
Porque na casa
Nao tinha cho
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
‘Nao tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi

Porque penico
No tina alí

Mas era feita

‘Com muito esmero
Na rua dos Bobos
Nümero zero.

O ar (0 vento)

Estou vivo mas nao tenho corpo
Por isso é que eu nño tenho forma
Peso eu também náo tenho

‘io tenho cor.

Quando sou fraco
Me chamo brisa

E se assobio

Isso 6 comum.
Quando sou forte
Me chamo vento
‘Quando sou cheiro
Me chamo pumt

Os bichinhos e o homem

Nossa irmä, a mosca
É fein e tosca
Enquanto que o mosquito.
É mais bonito
É mais bonito.

Nosso irmáo, besouro
Que é feito de couro
Mal sabe voar

Mal sabe voar.

Nossa irmä, a barata
Bichinha mais chata
É prima da borboleta
Que é uma careta
Que é uma careta.

Nosso irmáo, o grilo
Que vive dando estrilo
Só pra chatear

Só pra chat

Eo bicho-do-pé

Que gostoso que ele é
Quando dá coceira

Coga que náo é brincadeira.

E o nosso irmáo carrapato,
Que é um outro bicho chato.
É primo-irmáo do bacilo
Que € irmáo tranquilo

Que é irmáo tranquilo.

E o homem que pensa tudo saber
No sabe o jantar que os bichinhos vio ter
Quando o seu dia chegar
Quando o seu dia chegar.

= Te À

O pinguim

Bom dia, pinguim
‘Onde vai assim
Com ar apressado?
Eu näo sou malvado
No fique assustado
Com medo de mim,
Eu só gostaria

De dar um tapinha
No seu chapéu-jaca
Ou bem de levinho
Puxar o rabinho

Da sua casaca.

i a ES
i os
"ik Ma ds

¿MEA Be
45

O elefantinho

‘Onde vais, elefantinho
Correndo pelo caminho
lado?
Andas perdido, bichinho
‚petaste o pé no espinho
Que

Assim to desconsol

ntes, pobre coitado?

ou com um medo danado.
Encontrei um passarinho!

O leño

inspira em William Blake)

Leño! Ledo! Leño!
Rugindo como 0 troväo
Deu um pulo, e era uma vez
Um cabritinho montés.

Leño! Leño! Leño!
És o rei da criagio!

Tun goela é uma fornalha
Teu salto, uma labareda
Tua garra, uma navalha
Cortando a presa na queda.

Leño longe, leño perto
Nas areias do deserto,
Leño alto, sobranceiro
Junto do despenhadeiro,
Leño na caga diurna
Saindo a correr da furna,
Leño! Ledo! Ledo!

Foi Deus que te fez ou ni

O salto do tigre € rápido

‘Como o raio; mas náo hä
Tigre no mundo que escape
Do salto que 0 leño dá.

Nao conheço quem defronte
O feroz rinoceronte,

Pois bem, se ele vé o leño
Foge como um furacdo,

Leño se esgueirando, à espera
Da passagem de outra fea,

‘Vem o tigre; como um dardo.
Cai-the em cima o leopardo

E enquanto brigam, tranquilo

O leño fica olhando aquio.
Quando
Mata um com cada mio.

Leño! Ledo! L
És o rei da cria

O pato

La vem o pato
Pata aquí, pata acolá
Lá vem 0 pato

Para ver o que & que há.

O pato pateta
Pintou o caneco
Surrou a galinha
Bateu no marreco
Pulou do poleiro
No pé do cavalo,
Levou um coice
Criou um galo.
Comeu um pedago
De jenipapo

Ficou engasgado
{Com dor no papo
Caiu no pogo
Quebrou a tigela
“Tantas fez o mogo
Que foi pra panela.

A cachorrinha

Mas que amor de cachorrinha!
Mas que amor de

horrinha!

Pode haver coisa no mundo
Mais branca, mais bonitinha
Do que a tua barriguinha

Crivada de
Pode
Mais travessa, mais tontinha

mamiquinha?

wer coisa no mundo
Que esse amor de cachorrinha
Quando vem fazer festinha
endo a traseirinha?

=

A galinha-d’angola

Coitada
Da galinha-

Da bola
Nao para
De comer

A matraca.
E vive

A reclamar
Que está aca:

Tou fraca! Tou fracal"

ee
7

O peru

Glu! Glut Glut
Abram alas pro peru!

© pera foi a passeio
Pensando que era paväo
Tico-tico riu-se tanto
Que morreu de congestäo.

(© peru dana de roda
Numa roda de carväo
‘Quando acaba fica tonto
De quase cair no chao.

O peru se viu um dia
Nas águas do ribeirio
Foi-se olhando foi dizendo
Que beleza de paväo!

Gilu! Glu! Glut
Abram alas pro peru!

ar
Dh

8)

O gato

Com um lindo salto
Lesto e seguro

O gato passa

Do cháo ao muro
Logo mudando
De opinido

Passa de novo

Do muro ao chao
E pega corre

Bem de mansinho
Atrás de um pobre
De um passarinho
Súbito, para
Como assombrado
Depois dispara
Pula de lado

E quando tudo

Se the fatiga
‘Toma o seu banho
Passando a lingua
Pela barriga.

As borboletas

Brancas
Anis
Amarelas

Epreus
Brincam

Borboletas brancas

Sio alegres e francas,

Borboletas azuis
Gostam muito de luz,

As amarelinhas
So tdo bonitinhas!

E as pretas, entdo,
Oh, que escuridao!

O marimbondo

Marimbondo furibundo.
Vai mordendo meio mundo

Cuidado com o marimbondo
Que esse bicho morde fundo!

— Eta bicho danado!

Marimbondô
De chocolat
Saia daqui

Sem me morder
Sendo eu dou
Uma paulada
Bem na cabeça
De vocé.

— Eta bicho danado!

Marimbondo... nem te ligo!
Voou e veio me espiar bem na minha cara.

— Eta bicho danado!

As abelhas

A aaaaaaabelha-mestra
E agaazaas abelhinhas
Estdo 10000000das prontinhas
Pra iii para a festa

Num zune que zune
Là vio pro jardim
Brincar com a eravina
Valsar com o jasmim,

Da rosa pro cravo
Do eravo pra rosa
Da rosa pro favo
Volta pro eravo.

Venham ver como dio mel
As abelhinhas do céu!

A foca

Quer ver a foca
Ficar feliz?

É pór uma bola
No seu mari.

Quer ver a foca
Bater palminha?
É dara cla
Uma sardı

É espetar ela
Bem na barriga!

O mosquito

O mundo é täo esquisito:
‘Tem mosquito.

Por que, mosquito, por que
Eu... e voce?

Voc’ 6 o inseto
Mais indisereto
Da Criagdo
“Tocando fino
Seu violino.

Na escuridao.

‘Tudo de mau
Voeé reúne
Mosquito pau
Que morde e zune.

Vocé gostaria
De passar o dia
Numa serraria —
Gostaria?

Pois vocé parece uma serraria!

À

isd

A pulga

Um, dois, très.
Quatro, cinco, seis

Com mais um pulinho.
Estou na perna do fregués.

Um, dois, trés
Quatro, cinco, seis

Com mais uma mordidinha
Coitadinho do fre

Um, dois, très
Quatro, cinco, seis
Tó de barriguinha cheia

Tehau
Good bye
Auf Wiederschen.

A corujinha

Corujinha, corujinha
Que peninha de vocé

Fica toda encolhidinha
‘Sempre olhando, ndo sei que.

© seu canto de repente
Faz a gente estremecer
Coryjinha, pobrezinha
Todo mundo que te vé
Diz assim, ah! coitadinha
Que feinha que é voc’.

Quando a noite vem chegando
Chega o teu amanhecer

E se 0 sol vem despontando
Vais voando te esconder,

Hoje em dia andas vaidosa
Orgulhosa como qué

Toda noite tua carinha.
Aparece na TV

Corujinha, coitadinha
Que feinha que € vocé!

O pintinho

Pintinho novo
Pintinho tonto

estás no ponto
Volta pro ovo

Eu náo me calo
Falo de novo

banque o galo
Volta pro ovo

A tia raposa

Näo marca touca
Tá só te olhando
Com água na boca
Ese lig
Tem

ciro vocé escapar

m granjeiro
Que vai te adotar.

(© meu ovo tá estreitinho,
Hi me sinto um galetinho
4 posso sair sozinho

à sou dono de mim
Vou ci idade
Gräo-de-bico em quantidade
Muito milho e liberdade

Por fim.

Pintinho raro.
Pintinho novo

Tá tudo caro

Volta pro ovo,

E 0 tempo intciro.

Terás pintinho

Um cozinheiro

No teu caminho

Por isso eu digo

E falo de novo

Pintinho amigo

Entdo volta pro ovo,

Se de repente vocé escapar

Num forno quente vocé vai parar.

Gosto muito dessa vida
Ensopada ou cozida

Aue assada é divertida
Com salada e aipim
“Tudo lindo, a vida é bela
Mesmo sendo à cabidela
Pois será numa panela
Meu fim.

Por isso eu digo
E falo de novo

Pintinho amigo

Entdo volta pro ovo,

E se ligeiro

‘Vocé escapar

‘Tem um granjeiro que vai te adotar.

O porquinho

Muito prazer, sou o porquinho
E te alimento também

Meu couro bem tostadinho

‘Quem & que náo sabe o sabor que tem
Se voeé eresce um pouquinho

O mérito, eu sei

Cabe a mim também.

Se quiser me chame
Te darei salame

Ea mortadela

Branca, rosa e bela
Num paozinho quente
Continuando o assunto
Te darei presunto

E na feijoada
Mesmo requentada
Agrado a toda gente.

Sendo um porquinho informado.
‘© meu destino bem sei

Depois de estar bem tostado.
Fritinho ou assado

Eu partirei

Com a tia vaca do lado

Vestido de anjinho

Pro céu voarei.

Do rabo a0 focinho
Sou todo toicinho
Bota malagueta
Em minha costeleta
Numa gordurinha
Que coisa maluca
Minha pururuca

É uma beleza
Minha calabresa
No azeite fritinha

A formiga

As coisas devem ser bem grandes
Pra formiga pequenina

A rosa, um lindo palácio.

Eo espinho, uma espada fina,

A gota d'água, um manso lago.
© pingo de chuva, um mar
Onde um pauzinho boiando

É navio a navegar.

O bico de päo, o Corcovado
O gril
Uns gräos de sal derramados,
Ovelhinhas pelo monte.

um rinoceronte.

Y

O peixe-espada

Quando um peixe-espada
VE outro peixe-espada
Pensam que eles brigam?
Qual bi

m qual nada!

Poderio no máximo
Brincar de duelo

Mas brigar só brigam
Como peixe-martelo

Ou com o tubario.

A morte de meu carneirinho

Nao teve flores
Nao teve velas
Nao teve missa
Caixdo também...
Foi enterrado
Junto à maré

Por operários
Mesmos do trem.

A Mor de orvalho
Pendeu da nuvem
E pelo chao
Despetatou...

O céu ergueu

A hóstia do sol

E o mar em ondas
Se ajoelhou...

Cortejo lindo
Maior näo houve

Do que o da morte
Desse amiguinho:
lam vestidas

Com a là das nuvens
Todas as almas

Dos carneirinhos!

Os gaturamos
Trinaram hinos

No altar espléndido
Da madrugada;

Eo vento brando
Desfeito em rimas
Foi badalando
Pelas estradas!

A morte do pintainho

Quem matou o pintainho
Eu, disse o pato

Com meu pé chato

Eu matei o pintainho,

Quem viu ele morto?
Eu, disse o mocho
Com meu olho torto

Eu vi ele morto,

‘Quem chupou seu sangue?

Eu, disse o moree

Que nâo sou eg

Eu chupei seu sangue.

‘Quem Ihe deu mortalha?
Eu, disse a aranha

Com teia e artimanha
Eu Ihe dei mortalha

Qu

Eu, o louva-a-deus

n vai ser 0 padre?

Em nome de Deus

Eu serei o padre.

Quem será o sacrista?

Eu, disse o fran

Com a minha crista

Quem leva o caixdo?

Eu, disse o gavido

Sei bem por que náo

Eu levo o caixio,

ree o EE E

Quem será o coveiro?
Eu, a toupeira

Quem fara o túmulo?
Eu, o joño-de-barro
Pois que tenho barro.
Eu farei o túmulo,

Quem leva a vela

Eu, o vaga-lume

Eu acendo o lume

E eu levo a vela.

Quem vai cantar?
Eu, o pardal

La-la-i-la

Quem leva as coroas?

Já que näo dou rima
Eu levo as coroas,

Quem toca o sino?
Disse o suino:
Eu mais 6 boi
Nós tocamos o sino,

Quem vai na frente?
Eu, 0 periquito
Porque sou bonito

Eu vou na frente

Todo o pássaro do ar
Foi chorar lá no seu ninho
Ao ouvir tocar o sino
Pelo pobre pintainho,

3

Sobre o autor

Vinicius de Moraes nasceu em 1913, no Rio de Janeiro. Seus amigos cos-
n chamá-lo carinhosamente de “poetinha”. Era extremamente cul-
10 € está entre os melhores e mais populares poetas brasileiros. Formado
em direito, durante muito tempo morou em Los Angeles, Pa

i, Londres e

outras cidades no exterior, como diplomata.

Mas trabalhar com gravata n
cando o mundo erudito pelo popular: ajudou a A
sou a fazer samba com a
Garota de Ipanema e Chega de saudade, as cançôes mais conhecidas da

o era para ele. Aos poucos, Vinicius foi tro-
¡dar a bossa nova e pas-

mesma perfeigäo com que eserevia Sonetos
bossa nova, sio parcerias de Vinicius com Tom Jobim.

4 arca de Noé & 0 único livro infantil de Vinicius de Moraes. Em 1980,
ele comegou a trabalhar com o compositor Toquinho na versio musical
dos poemas. Foi o último projeto do poeta: no dia 9 de julho, depois de
uma reunido com o parceiro, Vinicius morreu em casa. O disco 4 arca de
Noé saiu em 1980 € teve um segundo volume em 1981, reunindo artistas
‘como Elis Regina, Ney Matogrosso, Chico Buarque e Moraes Moreira.

Palavra do ilustrador

Que eu nasei em Belo Horizonte muita gente ja sabe. O ano näo vou dizer,

embora muita gente também já saiba. Mesmo sem me conhecer, voce

pode adivinhar que pelas minhas mäos passou um exemplar do livro ou

do disco A arca de Noé, e que eu li, reli e cantei seus poemas alegrando
ncontros com sobrinhos e tantas outras crianças.

Tamanha é a grandeza e simplicidade de Vinicius que criar as ilustragdes
para os poemas de A arca de Noé — já tio repletos de imagens — foi dos
ores desafios, Confesso que, como leitor, eriei minhas próprias

imagens para esses poemas ¢ intimamente venho conv

ido feliz com el

Passado o susto do convite, aos poucos fui me recompondo € me cons-
cientizando da felicidade e da honra que é ilustrar essa obra. A partir dai,
procurei elaborar ilustragóes que ndo tivessem a intengáo de, vamos dizer,

“capturar” os poemas, e sim de dar outras dimensdes ao tema de cada um
deles, Considerei-os passagens para criar ilustragdes que registrassem meu
‘sentimento como leitor e ilustrador do poeta. Assim conduzi a criagäo das
imagens desta ediçäo; na verdade, Icitor e ilustrador vieram se misturando
até o final do livro no feliz es

ontro que foi ilustrar esses poemas,

Nelson Cru

A area desconjuntada
Parece que vai ruir
os pulos da bicharada
Toda querendo sair

Vai! Nao vai! Quem vai pri
As aves, por mais espertas
Saem voando ligeiro
Pelas janelas abertas.

Enquanto, em grande atropelo.
Junto a porta de saida

Lutam os bichos de pelo
Pela terra prometida.
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