Capítulo 18 Acidente V a s c u l ar Cerebral Isquêmico 519
FIGURA 18-6. Corte axial de TC sem contraste. Hipodensidade precoce no
núcleo lentiforme e região perisylviana no território da ACM esquerda. Ob- FIGUR A 18-7. Corte axial de TC sem contraste. Lesão isquêmica em evolu-
servar a assimetria da densidade entre o putame e córtex da ínsula (setas cão (3 horas) no território da ACM direita (asteriscos). Observar a perda da
e asteriscos, respectivamente). densidad e no córtex dos lobos anterior e posterior da ínsula (setas).
Dependendo da origem da artéria recorrente de Heubner,
a hipodensidade também pode afetar a cabeça do núcleo
caudado.
Como as camadas superficiais do córtex nas margens da fis-
sura sylviana ficam próximas em cortes axiais de tomografia,
hipoatenuação nesta região também é frequente. Quando a
lesão acomete a ínsula, observa-se perda da densidade dos lo-
bos anterior e posterior — loss of insula ribbon sign (Fig. 18-7).
Quando a artéria afetada é a cerebral posterior (ACP), os
sinais precoces na TC são identificados no lobo occipital
(próximo aos sulcos calcarino e parietoccipital), na superfí-
cie têmporo-occipital inferior, no hipocampo e no tálamo,
dependendo de se a obstrução é proximal ou distai e haja
acometimento das artérias corióideas posterior e talamoper-
furantes (Fig. 18-8).
Infarto isolado no território da artéria cerebral anterior
(AÇA) é incomum e doenças não aterotrombóticas, como
vasculite, devem ser excluídas (Fig. 18-9). Normalmente, o
AVC de AÇA é causado por obstrução carotídea e acompa-
nha lesão no território da ACM. Na TC, os sinais precoces
são de difícil identificação na alta convexidade da transição
frontoparietal, junto à fissura inter-hemisférica.
Outros sinais importantes na TC são a presença do trombo
no vaso afetado (vaso denso) e o apagamento dos sulcos
corticais no território afetado.
No caso de obstrução da ACM, o vaso denso (sinal da ACM
hiperdensa) geralmente é identificado no segmento horizon-
tal do vaso (Ml) associado ou não a trombo no T carotídeo
(Fig. 18-10). Este sinal é altamente específico, mas tem baixa
FIGURA 18-8. Corte axial de TC com contraste. Trombose basilar com AVC
isquêmico no tronco e lobos occipitais. Extensa hipodensidade no mesen-
céfalo, verme do cerebelo, lobos occipitais e temporais mediais.
sensibilidade. Deve-se ter cuidado com pacientes com doen-
ça ateromatosa calcificada. Desta forma é importante com-
parar a densidade da artéria com suspeita clínica de evento
obstrutivo com o vaso contralateral. Estudos demonstram
520 Capítulo 18 Acidente Vascular Cerebral Isquêmico
FIGURA 18-*} Imagem axial de RM, sequência DRM. Exemplo de lesão
isquêmica no território da AÇA.
FIGURA 18-11 Corte axial de TC sem contraste. Exemplo de vaso denso
na carótida (cabeça de seta) e ACM (setas), à esquerda.
que ACM densa tem associação a pior prognostico, menor
chance de recanalização e maior risco de transformação
hemorrágica.
O trombo também pode afetar os ramos distais da ACM,
especificamente os ramos M2, causando o chamado dot sign
(Fig. 18-11). Embora incomum, vaso denso também pode
ser identificado nas artérias carótida, cerebral posterior e
À
FIGURA 18-1 Corte axial de TC sem contraste. Exemplo de vaso denso
distai (dotsign) em ramo da ACM esquerda (seta).
anterior. Na RM o trombo intravascular pode ser identifi-
cado nas sequências FLAIR (vaso hiperintenso) e T2* (vaso
hipointenso). Alguns estudos sugerem que estas sequências
podem ser mais sensíveis que a TC (Fig. 18-12).
Apagamento dos sulcos corticais sem hipodensidade asso-
ciada indica, presumivelmente, aumento do volume cerebral
regional, moderada hipoperfusão e, geralmente, coeficiente
de difusão da água normal. Dessa forma, conceitualmente,
região com apagamento de sulcos inclui elementos do core
e, principalmente, da penumbra isquêmica.
A detecção de hipodensidade precoce pode ser aumentada
em aproximadamente 15% com utilização de janelas variá-
veis (largura e centro), acentuando o contraste entre a área
normal e a afetada (Fig. 18-13). Outra forma de aumentar a
sensibilidade da TC é utilizar as imagens-fonte da ângio-TC
(Fig. 18-14). Esta técnica tem alta correlação com área final
do infarto e core isquêmico identificado na DRM.
Importante destacar que os sinais sempre devem ser compa-
rados com o córtex contralateral e valorizados em pacientes
com suspeita clínica de AVC. A r t e f a t os de movimento e po-
sicionamento da cabeça do pacientem afetam os achados da
imagem, especialmente na TC.
Diversos estudos demonstraram que a extensão da hipoden-
sidade na TC tem correlação com risco de TH e maior mor-
talidade. Apesar de discutido na literatura, pacientes com
hipodensidade superior a um terço do território estimado da
ACM não devem receber trombolíticos (Fig. 18-19). Apesar
de bastante utilizado, o método é subjetivo e tem alta varia-
bilidade interobservador.
Uma alternativa para avaliar a extensão da isquemia é o Al-
berta Stroke Program Early CT S core (ASPECTS). Este méto-
do gradua a extensão do AVCI de forma semiquantitativa,
utilizando como base 10 regiões de interesse, avaliadas em
dois cortes axiais de TC (plano dos núcleos da base e supra-
ventricular). Quanto maior o número de regiões afctadas,
522 Capítulo 18 Acidente Vascular Cerebral Isquêmico
FIGURA 18-14. Corte axial de TC
sem (A) e com (B) contraste. Lesão
isquêmica no território da divisão
posterior da ACM esquerda. A hipo-
densidade é discreta na fase aguda
do AVCI.
FIGURA 18-15. Imagem axial de RM, sequências DRM. E x e m p lo de lesão
isquêmica no território da ACM direita.
FIGURA 18-16. Imagem axial de RM, sequências ADC. Exemplo de lesão
isquêmica no território da divisão superior da ACM esquerda ( s e t a ).
Outra vantagem da DRM é a acurada para demonstrar in-
farto hemodinâmico causado por oclusão ou estetiose de
alto grau na carótida interna, geralmente associada a polígo-
no de Willis incompleto (Fig. 18-18). Nestas situações, há
queda da pressão de perfusão resultando em isquemia nas
regiões com menor circulação colateral (zonas de transição
vascular, watershed %ones}. Os dois principais tipos de infarto
hemodinâmico são: superficial (entre o território das gran-
des artérias, ACM, ACP, AÇA) e profundo (região distai das
artérias perfurantes).
Infartos no tronco encefálico são de difícil identificação nos
exames de TC. Este fato ocorre devido à menor sensibilida-
de do exame na fossa posterior, a artefatos decorrentes dos
rochedos e à grande variabilidade da distribuição vascular. A
DRM é o método de escolha nestas situações. No cerebelo, as
lesões isquêmicas seguem a distribuição das artérias cerebelar
posteroinferior, anteroinferior e cerebelar superior.
Implantação de protocolo com RM na fase aguda do AVCI
é factível, mas somente em centros com experiência em tra-
tamento do AVCI agudo. Uma das limitações da RM no tra-