Com isso, ele nos leva em uma viagem histórica pela formação da variação da língua
portuguesa falada no Brasil, do pais e seus diversos falantes, e do sistema educacional. Ele
nos mostra como a variações faladas aqui, não são tão diferentes da suposta norma culta ou de
prestígio vinda de Portugal, o poder de transformação das línguas, a supressão das formas de
prestigio pelas consideradas um dia variedades estigmatizadas, por meio das forças centrípeta
e centrifuga, que geram essa dinâmica. Este processo, hoje, é catalisado com a comunicação
eletrônica. A língua, este “instrumento de interação social (...), vivo e dinâmico que participa,
interfere, influi na construção e continuação de nossa sociedade, cada vez mais complexa e
multifacetada” BAGNO M. (2003) pag. 97, é determinante na criação de uma identidade
nacional, o que pode ser um risco a quem detém o poder e lucra com isso.
Outra coisa que também fica clara, é que não podemos negar a função e importância de se ter
regras que tornem possível a comunicação e o entendimento entre a maioria dos usuários de
uma língua, mas não podemos nos prender as normas e toda a carga de preconceito que vem
com a palavra, ditadas por gramáticos sem o menor conhecimento cientifico da língua, que se
prendem em pequenos exemplos pinçados em grandes obras literárias. “ Embora,
inevitavelmente, contenha em boa medida uma descrição dos fatos lingüísticos detectáveis
numa variedade muito específica da língua (a “escrita literária”), a gramática normativa é,
antes de tudo, prescrição.” (...) não se detecta nenhuma “interferência da língua falada”.
BAGNO M. (2003) pag. 157. Ele aponta para a necessidade do reconhecimento das variações
da língua, seu estudo feito de maneira cientifica, e da consideração da gramática internalizada
dos falantes, para assim, podermos criar uma metodologia de ensino mais adequado, menos
impositivo e de inclusão. Para tanto, ele cita Modern Protuguese: a Reference Grammar.
PERINI M. A. 2002 USA, gramática revolucionária, criada para ensinar português brasileiro
para estrangeiros, e que poderia ser facilmente usada para o ensino dos nativos. “ Quanto
tempo e quanto desgaste psicológico poderiam ser poupados, quanta insegurança se evitaria,
se nas escolas brasileiras (e nas gramáticas brasileiras!) toda aquela parafernália de regras
inconsistentes e incompatíveis com a nossa intuição lingüística fosse substituída pelas regras
que de fato vigoram entre nós”, na língua falada. BAGNO M. (2003) pag. 178
Por fim, Marcos Bagno, nos mostra um painel de como os falantes das variedades chamadas
por ele de estigmatizadas, são também impedidos de diversas formas ao acesso a educação,
perpetuando o circulo vicioso, de menor letramento, menor poder econômico, menor poder de
fala, menor poder de decisão. “ Essa discriminação não dita ou implícita é que configura a