mestre, quando teve a modelo de quatorze anos estendida ali, bem
na sua frente, no divã. Ele podia tocar, se quisesse. Você vem me
visitar nos meus sonhos? Eu me deito na cama quente, abro os
braços e te beijo até você sufocar. Você toma conta de mim, entra
em mim como a dama entra no seu palácio deserto. Quando as
portas são abertas por mãos invisíveis. E lá embaixo, no jardim, a
fonte começa a jorrar mais uma vez. (Começa a se masturbar.).
MELCHIOR MUDA DE ASSUNTO.
MELCHIOR - Minha mãe não disse que ia trazer chá pra gente?
MORITZ - Um chá ia me fazer bem. Olha, eu estou tremendo. Eu
estou me sentindo tão leve, como se não tivesse corpo. Põe a
mão aqui, Melchior. Vejo tudo tão claro - e ouço também - mais
definido, sabe? Parece sonho. O jeito que o jardim some no meio
do luar, como se fosse pro infinito. Que silêncio! Ali no meio do
mato eu vejo umas formas opacas. Elas deslizam no meio dos
arbustos e depois somem na penumbra, misteriosamente. É um
conselho, uma reunião de alguma coisa, embaixo da castanheira.
Alguma coisa está sendo decidida lá. Vamos descer e ver o que é,
Melchior?
MELCHIOR - Quem sabe, depois do chá?
MORITZ - As folhas parecem que murmuram alguma coisa. É
como se eu escutasse a minha avó, que Deus a tenha, me
contando baixinho, a história da Rainha Sem Cabeça. Era uma
rainha muito bonita, a mulher mais linda do reino. Mas por uma
infelicidade, tinha vindo ao mundo sem a cabeça. Não podia
comer, nem beber, nem ver, nem rir. E também não podia beijar.
Só podia se comunicar por gestos, com suas mãos pequenas e
macias. Declarava sentenças de guerra e de morte com
movimentos dos seus pés, muito delicados. Um dia ela foi
derrotada por um reino cujo rei, por acaso, tinha duas cabeças. As
duas brigavam muito. Discutiam de tal maneira que nenhuma
deixava a outra falar. O mágico da corte pegou a cabeça menor e
colocou na rainha. Foi perfeito, encaixou como uma luva. Eles se
casaram e, a partir desse dia, as cabeças não brigaram mais.
Passaram a se beijar. Na testa, na ponta do nariz, na boca... E