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“Somente quando, durante o tratamento analítico, se tornou possível liberar seu
homossexualismo agrilhoado, é que esse estado de coisas mostrou alguma melhora; e foi
uma experiência das mais notáveis verificar como (sem qualquer conselho direto do médico)
cada fragmento da libido homossexual que era libertado procurava alguma aplicação na vida,
alguma ligação com os grandes interesses da humanidade.”. Isto significa que, recuperar a
força instintiva que liga libidinalmente o paciente ao Outro, poderá vir a permitir essa
passagem da literalidade para a metaforização. Ou seja, inscrever o Nome do Pai, ou do
interdito, na sua estrutura mental e, a partir daí, poder enfim começar a desejar, deixar de ser
apenas o objecto de desejo. O desejo corresponderia assim, à forma simbólica de lidar com a
ausência, encontrando dessa forma substitutos para ela. Pode-se dizer então, que até chegar
ao verdadeiro símbolo (substituto), o homem não quer nada, não deseja. Os ditos desejos
freudianos, não são assim desejos (do homem que deseja), mas pulsões instintivas, que
pressionam o indivíduo à consumação da sua animalidade, mas não ainda da sua
subjectividade. As fantasias inconscientes, por conseguinte, dentro deste quadro, também
elas estão ao serviço do “tipo instintivo”. Como se todas as armas humanas estivessem
subjugadas ante uma força maior. Algo que Freud diz também:
“Se se considera o comportamento do menino de quatro anos em relação à cena primária reativada, ou
mesmo se se pensa nas reações muito mais simples da criança de um ano e meio, quando a cena foi
realmente vivida, é difícil descartar a opinião de que algum tipo de conhecimento, dificilmente
definível, algo, fosse o que fosse, preparatório para uma compreensão, estivesse agindo na criança, na
época. Não podemos formar um conceito sobre aquilo em que poderia ter consistido esse
conhecimento; nada temos à nossa disposição, a não ser uma única analogia - e ela é excelente -, a do
extenso conhecimento instintivo dos animais.
Se os seres humanos possuíssem também um dom instintivo como este, não seria surpresa se fosse
muito particularmente ligado aos processos da vida sexual, mesmo que não pudesse ser de forma
alguma confinado a eles. Esse fator instintivo seria então o núcleo do inconsciente, um tipo primitivo
de atividade mental, que seria depois destronado e encoberto pela razão humana, quando essa
faculdade viesse a ser adquirida; mas que, em algumas pessoas, talvez em todas, mantivesse o poder de
atrair para si os processos mentais mais elevados. A repressão seria o retorno a esse estádio instintivo,
e o homem estaria, assim, pagando pela nova aquisição com a sua sujeição à neurose, e estaria
testemunhando, pela possibilidade das neuroses, a existência desses estádios preliminares, de tipo
instintivo. A significação dos traumas da primitiva infância estaria no material que transmitiriam ao
inconsciente, que não permitiria que fosse exaurido pelo curso subseqüente do desenvolvimento.”
(Freud, 1918, p. 2903).
Freud considera que o Complexo de Édipo corresponde a um resíduo da história da
civilização humana – um ‘esquema’ filogeneticamente herdado (tendência para o incesto e
para o parricídio). É suposto que as experiências contrariem essa herança e que, ao invés de
corroborarem essa linha instintiva, elas sejam remodeladas através da imaginação. Freud
(1918, p. 2903) afirma que “muitas vezes conseguimos ver o esquema triunfar sobre a
experiência do indivíduo, como quando, no presente caso, o pai do menino tornou-se o