pode ser literalidade noutro trecho, e vice-versa. Deve-se, portanto, evitar a
generalização.
Por que os símbolos? – Em vista destas dificuldades, por que os símbolos? Não teria
sido mais prático se o Apocalipse contivesse apenas literalidades? Não seria a sua
mensagem mais
entendível? Em primeiro lugar, não devemos imaginar que os símbolos estão aí para
dificultar a compreensão. A palavra Apocalipse significa revelação, e não enigma,
mistério, ou algo assim.Além disso, não se pode esquecer que o livro foi escrito com
endereçamento certo: as sete igrejas da Ásia (1:11), que englobam a Igreja Cristã em
todos os tempos e locais. O conteúdo do livro abarca o espaço entre os dois adventos,
e, para nós que vivemos no tempo do fim, teria sido maravilhoso que Deus tivesse sido
mais explícito e fosse direto ao ponto em cada assunto. Mas, e para os crentes de
outras épocas? Como, por exemplo, os cristãos do início do II século d.C., premidos
pela perseguição, encarariam o fato de que 1900 anos transcorreriam sem que Jesus
voltasse? Edwin Thiele menciona uma razão positiva quádrupla pela qual Deus Se
valeu de símbolos ao prover o conteúdo do Apocalipse, todas para benefício da Igreja:
tornar a mensagem mais efetiva, impressiva, específica, e segura.4 Como fator de
segurança, o símbolo é, na realidade, uma espécie de codificação que torna a
mensagem praticamente inacessível para os adversários da Igreja. Neste caso,
precaução seria o termo que definiria a razão da simbologia aqui. Já imaginamos como
os governantes romanos, perseguidores por natureza, encarariam os cristãos, se o
Apocalipse falasse de Roma o que realmente fala, mas o fizesse abertamente, sem
rodeios, sem o emprego dos símbolos?
Procedimentos – É dever do estudante, portanto, laborar na decodificação do livro
para perceber melhor a sua mensagem; deve também não incorrer no erro de
decodificar o que não é símbolo. Para tanto, alguns procedimentos precisam ser
cumpridos. Primeiro, examinar o Apocalipse a ver se ele mesmo não dá a interpretação
do símbolo. Em alguns casos é isso o que ocorre, como, por exemplo, se depreende de
1:20: “Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha mão direita, e aos sete
candeeiros de ouro, as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros
são as sete igrejas.”A importância desse ponto é fundamentada no fato de que “o
princípio orientador na interpretação de símbolos é deixar que um escritor inspirado
identifique o símbolo.”5
Segundo, estabelecer a origem do símbolo e o significado deste no seu emprego
original. A maioria dos símbolos do Apocalipse procede do Antigo Testamento.
Entender o que eles significam lá pode ajudar a entender o que significam aqui,
levando-se em conta, todavia, que o sentido poderá variar, dependendo da diferença
de contexto. Uns poucos símbolos são provenientes do ambiente do próprio escritor,
e, portanto, esclarecidos pelo contexto histórico. Pode ocorrer que a simbologia
apocalíptica seja construída em cima de figuras ou fatos históricos literais do Antigo
Testamento, o que os torna um tipo de realidades mais amplas e significativas agora
referidas e que funcionam como antítipo. Quando isso ocorre, é imperativo que o
intérprete respeite o correto relacionamento entre tipo e antítipo para não chegar a
conclusões apressadas e equivocadas. Por exemplo, Moisés e Elias, duas
individualidades, podem ser um tipo das duas testemunhas de Apocalipse 11. Deduzir
por isso que as duas testemunhas são também dois indivíduos, ou mesmo os próprios