O ouvido relativo, por realizar uma audição mais abstrata, é capaz de perceber formas e estruturas musicais, como
também realizar diversos tipos de relações. Quaisquer padrões estruturais sonoros, independentemente dos níveis de
complexidade, são discernidos através da audição relativa.
A audição relativa, por necessitar de referenciais, consegue, a partir de uma elaboração intelectual, absorver o sentido
total de uma peça musical, e a audição absoluta possui, biologicamente ou através do treinamento e aculturação, uma
memória aural fixa, codificada e armazenada de forma que seu possuidor pode recuperar imediatamente a designação
do som ouvido.
Um treinamento musical auditivo prolongado e sistemático, possibilitará ao músico que possui ouvido relativo,
desenvolver a percepção absoluta dos sons e mesmo a adquirir a audição absoluta. Ao contrário, o indivíduo possuidor
do ouvido absoluto pode, pela ausência de estímulos e treinamento, enfraquecer ou vir a perder esta capacidade.
Conclusões
O ideal da percepção auditiva no músico, seria que o mesmo soubesse equilibrar ambas habilidades, ou seja, o ouvinte
absoluto explorar toda a sua capacidade, auxiliado pelo complemento referencial da audição relativa, bem como o
possuidor da audição relativa utilizar referenciais absolutos já armazenados em sua memória auditiva em função da
prática musical.
Essas capacidades auditivas podem ser adquiridas e devem ser estimuladas no processo de educação musical, de
forma que os estudantes possam extrair o máximo partido das mesmas, favorecendo dessa maneira o desenvolvimento
de sua musicalidade.
Concluindo, podemos dizer que tais competências (audição absoluta e relativa) são passíveis de treinamento e
desenvolvimento, assim como não devem ser utilizadas isoladamente. A aquisição dessas habilidades é uma
necessidade real, principalmente se levarmos em consideração a diversidade de sons existentes ao nosso redor e a
grande variedade de estilos musicais tonais e atonais que fazem parte da nossa cultura.
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