O Poder da Gentileza

GustavoCsar 1,310 views 5 slides Jun 10, 2013
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Minha primeira matéria assinada. Desde a ideia da pauta até algumas fotos e personagens foram de minha autoria. A matéria pode ser conferida na revista Enfoque Franca, edição 138, dezembro de 2012.


Slide Content

enfoque franca | dezembro 201262|
|C
omportamento
Por onde anda a gentileza?
Estudos mostram que essa atitude traz felicidade, mas poucos a colocam em p rática
U
m dos maiores problemas
de quem enfrenta o trân-
sito em Franca no dia a
dia é o estresse. Além do engarra-
famento, as imprudências e o mau
comportamento de quem trafega
pelas ruas das cidades podem
tirar a concentração dos condu-
A psicóloga Alessandra acredita que as pessoas estão armadas e não se permitem ser gentistores de caminhões, automóveis, motos e bicicletas e, também, dos pedestres, causando acidentes que poderiam ser evitados. Segundo pesquisas, esses problemas acon-
tecem, muitas vezes, pela falta da gentileza. Mas a escassez de tal virtude não é só encontrada no trânsito. No supermercado, por exemplo: não seria mais fácil você, estando com o carrinho
cheio, ceder a vez no caixa para alguém com apenas um saquinho de pães? Outra cena corriqueira: uma gestante entra em um ônibus lotado, cansada e, provavelmente, não gostaria de ficar em pé. Uma pessoa não poderia ceder o seu lugar a ela? E aquela porta que alguém poderia ter segurado para você entrar no elevador?
É difícil ser gentil, mas mais
difícil ainda é conviver com a falta de gentileza dos outros, principalmente ao dar com uma porta fechada na cara, ter a lataria do carro amassada por um apres-
sadinho ou passar pela sensação de ser invisível. Apesar de tudo isso, a ideia de que ser gentil vale à pena e traz benefícios tem sido comprovada por diversos estudos.
Está diminuindo
Enfoque se surpreendeu ao
verificar que a gentileza anda em desuso na sociedade. “A gentileza está diminuindo. Posso contar nos dedos quantas pessoas já vi praticando essa virtude”, conta o cobrador de ônibus Valdeir Ferreira, 40 anos. Em mais de um ano e meio de trabalho, indo e vindo pelas ruas de Franca, ele vivenciou situações inusitadas, como a de uma senhora que teve de pedir licença para um rapaz ceder seu lugar a uma gestante. “Mas acabou em confusão, pois ele não queria ficar em pé. No final das contas, outro passageiro cedeu seu lugar”, lembra Valdeir, cheio de histórias para contar.
Segundo a psicóloga Ales-
sandra de Faria e Sousa, casos como este citado pelo cobrador de ônibus são comuns porque as pessoas estão muito armadas e não se permitem mais serem gentis. “Elas estão assim, e aí não dão oportunidade em algumas si-
tuações de receber gentileza e ser gentil, tendo um embrutecimento involuntário e se colocando em
Maria Conceição é exemplo de uma pessoa gentil, e faz dela algo natural em seu dia a dia
Gustavo César
Da redação

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O cobrador de
ônibus Valdeir
já presenciou
muitos casos
em que faltou
gentileza
Joyce diz que as pessoas têm pressa, por isso estão mais preocupadas com suas próprias prioridades
posição defensiva frente ao mun-
do”, explica.
Vale à pena?
Mas, afinal, vale à pena ser
gentil? Para a ciência, a resposta é sim. Em um estudo da Univer-
sidade da Califórnia, a psicóloga Sonja Lyubomirsky pediu aos par-
ticipantes que praticassem ações gentis durante 10 semanas. Todos registraram aumento na felicida-
de durante a pesquisa. Os que praticaram ações variadas, como se oferecer para ajudar a lavar a louça, fazer elogios ou segurar a porta aberta para um estranho passar, registraram níveis mais altos e prolongados de felicidade, em comparação com quem repe-
tiu sempre a mesma atitude com diferentes pessoas. Isto porque, segundo a psicóloga, gentileza e boa vontade estão relacionadas à felicidade. As pessoas que tentam ser mais gentis no dia a dia ten-
dem a experimentar mais emo-
ções positivas e se tornam mais alegres. O mecanismo que explica essa relação foi mais esclarecido por um estudo da Universidade Hebraica, em Israel, de 2005. A gentileza está ligada ao gene que libera a dopamina, neurotrans-
missor que proporciona bem estar.
Para os entrevistados, um dos
fatores que dificultam a prática da gentileza é a rotina, ou seja, as pessoas seriam pressionadas por
ideias equivocadas e empurradas a ter sempre mais, a cumprir prazos sem respeitar os demais, a atingir metas que, muitas vezes, não fazem parte de suas missões e daquilo que acreditam, tornando-
-as, assim, mais e mais insensíveis. E a partir dessa insensibilidade, elas agiriam e se relacionariam com as pessoas - mesmo com as que amam – de forma menos gentil, mais apressada, e mais automatizada, sem nem se da-
rem conta disso. Mas a psicóloga Alessandra vai contra essa ideia de que a rotina con-temporânea não dá alicerce para a prática da gentileza. “Se tem uma coisa que a contemporaneidade não pode
tirar é a ação de ser gentil. Sei que a correria dos tempos modernos pode acelerar o pensamento, mas não o ato de gentileza”, ressalta.
O que é gentileza?
“Gentileza gera gentileza”.
Essa expressão ficou popular no Brasil após ser gravada nas pilastras dos viadutos do Rio de Janeiro, nos anos 1980 e 1990, pelo andarilho José Datrino, conhecido como o Profeta Gen-
tileza. E vai direto ao ponto: ela forma uma corrente do bem. A frase que o profeta popular pintou nas paredes é muito verdadeira, mas o oposto também ocorre: a falta de gentileza gera falta de gentileza.
A operadora de caixa Joyce
Carolina Barretos, 26 anos, con-
corda com isso e completa: “todo mundo gosta de prioridade, todo mundo tem pressa, mas ninguém é gentil”, diz Joyce que, na sua função, todos os dias presencia situações em que a cordialidade poderia ser aplicada. “Mas isso não acontece”, enfatiza.
Para a psicóloga, gentileza
é um modo de agir, um jeito de ser, uma maneira de enxergar o mundo. Portanto, ser gentil é um atributo muito mais sofisticado e profundo que ser educado ou meramente cumprir regras de etiqueta. A pessoa gentil se dife-
rencia até mesmo em momentos

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Uma das
atitudes mais
difíceis de se
ver é a gentileza
dentro dos
ônibus urbanos
delicados e difíceis como discor-
dâncias ou demissão. A rotina
pode modificar muitas coisas,
mas o caráter de uma pessoa não
muda. Alessandra vai além ao
afirmar que, diferentemente do
que muita gente pensa, ser gentil
não é igual a ser bobo e dizer
sempre “sim”. “Pelo contrário, é
reconhecer seus próprios limites
e os limites do outro. É saber se
colocar, falar com autenticidade,
sem ser parcial ou hipócrita. É
possível dizer ‘não’ sem magoar
as pessoas, desde que seja usada
a gentileza verdadeira”, salienta
a psicóloga.
Os genes da gentileza
Você já deve ter conhecido
alguém que teve uma péssima
educação, ou pais grossos ou abu-
sivos, e mesmo assim é um amor
de pessoa. A resposta está aqui:
uma nova pesquisa descobriu que
pelo menos parte da razão pela
qual algumas pessoas são gentis
e generosas é que os seus genes as
incentivam nessa direção.
O estudo foi feito por psicó-
logos da Universidade de Buffalo
e da Universidade da Califórnia,
nos Estados Unidos. Os pesqui-
sadores observaram o compor-
tamento dos participantes do
estudo que têm versões de genes
receptores de dois hormônios –
ocitocina e vasopressina - que
outras pesquisas associaram coma
gentileza. Esses hormônios, se-
gundo os estudos, podem tornar
as pessoas melhores, pelo menos
em relacionamentos íntimos. A
ocitocina, “hormônio do amor”,
promove o comportamento ma-
terno, por exemplo, e no laborató-
rio, indivíduos expostos a ela de-

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fica uma reflexão: será que a vida
precisa ser uma guerra? Ou pode
ser mais suave, tranquila? Essa
é uma decisão que cabe a cada
um, afinal de contas, a gentileza
é uma opção, uma atitude que se
adota e faz diferença na vida de
quem a pratica e de quem a rece-
be. Que tal então colocá-la em
uso, mesmo através de pequenas
atitudes como um simples “bom
dia”, “com licença”, “obrigada”
ou “por favor”? Imagine só como
seria o mundo se todos fossem um
pouquinho mais gentis.
e
Alessandra de F aria e Sousa,
psicóloga
CRP: 06/53698-7
Telefones: 9999-0381 e 8142-8039
No foco
As filas são
sempre
estressantes,
com pessoas
impacientes e
quase sempre
sem gentileza
monstraram maior sociabilidade.
Esta pesquisa foi uma tentati-
va de aplicar as descobertas ante-
riores de comportamentos sociais
em uma escala maior, para saber
se essas substâncias provocam nas
pessoas outras formas de compor-
tamento pró-social: vontade de
doar para caridade, por exemplo,
ou participar de esforços cívicos
como o pagamento de impostos,
relatar crimes, doar sangue, entre
outros. “A gentileza e o altruísmo
estão intimamente ligados, fazem
parte da pessoa. Ou ela é gentil ou
não, ou é altruísta ou demagoga.
É algo natural e interno do ser
humano, dois pontos positivos
do caráter”, completa a psicóloga
Alessandra.
Profissional e saúde
Até as empresas têm prefe-
rido cada vez mais profissionais
dispostos a solucionar problemas,
favorecendo as conciliações, o
que comprova que a gentileza
abre portas. E para completar,
ser gentil também faz bem à
saúde. Estudos constatam que as
pessoas solidárias têm menos pro-
babilidade de sofrer de doenças
crônicas, e seu sistema imunoló-
gico tende a ser mais forte. Uma
explicação para isso é que talvez
essa qualidade ajude as emoções,
causando impacto positivo sobre
o bem estar.
Exemplo de que há, ainda,
uma luz no fim do túnel é a
doméstica Maria Concei-
ção Santusse Batista, 63
anos. Ela é gentil com todos,
independente de sexo ou idade.
“Por exemplo, quando vejo que
alguém está em caso de urgência
em um hospital no qual eu estou
na fila, eu cedo meu lugar. Uma
pena é que as outras pessoas se
incomodem com o meu ato”, con-
ta. E em toda sua vida, Maria foi
assim. “Antigamente, as pessoas
eram mais gentis. Hoje, praticam
o mínimo possível. Além disso,
um simples bom dia é um ato
gentil e pode deixar as pessoas
mais felizes”, pondera Maria.
Isto é confirmado pela psicóloga.
“A gentileza favorece o bom
convívio social, pessoal
e é claro, o profissional.
Ser gentil vai possibilitar
relacionamentos mais sau-
dáveis, seguros e verdadei-
ros”, enfatiza Alessandra.
Diante de tudo isso,