enfoque franca | dezembro 2012|63
O cobrador de
ônibus Valdeir
já presenciou
muitos casos
em que faltou
gentileza
Joyce diz que as pessoas têm pressa, por isso estão mais preocupadas com suas próprias prioridades
posição defensiva frente ao mun-
do”, explica.
Vale à pena?
Mas, afinal, vale à pena ser
gentil? Para a ciência, a resposta é sim. Em um estudo da Univer-
sidade da Califórnia, a psicóloga Sonja Lyubomirsky pediu aos par-
ticipantes que praticassem ações gentis durante 10 semanas. Todos registraram aumento na felicida-
de durante a pesquisa. Os que praticaram ações variadas, como se oferecer para ajudar a lavar a louça, fazer elogios ou segurar a porta aberta para um estranho passar, registraram níveis mais altos e prolongados de felicidade, em comparação com quem repe-
tiu sempre a mesma atitude com diferentes pessoas. Isto porque, segundo a psicóloga, gentileza e boa vontade estão relacionadas à felicidade. As pessoas que tentam ser mais gentis no dia a dia ten-
dem a experimentar mais emo-
ções positivas e se tornam mais alegres. O mecanismo que explica essa relação foi mais esclarecido por um estudo da Universidade Hebraica, em Israel, de 2005. A gentileza está ligada ao gene que libera a dopamina, neurotrans-
missor que proporciona bem estar.
Para os entrevistados, um dos
fatores que dificultam a prática da gentileza é a rotina, ou seja, as pessoas seriam pressionadas por
ideias equivocadas e empurradas a ter sempre mais, a cumprir prazos sem respeitar os demais, a atingir metas que, muitas vezes, não fazem parte de suas missões e daquilo que acreditam, tornando-
-as, assim, mais e mais insensíveis. E a partir dessa insensibilidade, elas agiriam e se relacionariam com as pessoas - mesmo com as que amam – de forma menos gentil, mais apressada, e mais automatizada, sem nem se da-
rem conta disso. Mas a psicóloga Alessandra vai contra essa ideia de que a rotina con-temporânea não dá alicerce para a prática da gentileza. “Se tem uma coisa que a contemporaneidade não pode
tirar é a ação de ser gentil. Sei que a correria dos tempos modernos pode acelerar o pensamento, mas não o ato de gentileza”, ressalta.
O que é gentileza?
“Gentileza gera gentileza”.
Essa expressão ficou popular no Brasil após ser gravada nas pilastras dos viadutos do Rio de Janeiro, nos anos 1980 e 1990, pelo andarilho José Datrino, conhecido como o Profeta Gen-
tileza. E vai direto ao ponto: ela forma uma corrente do bem. A frase que o profeta popular pintou nas paredes é muito verdadeira, mas o oposto também ocorre: a falta de gentileza gera falta de gentileza.
A operadora de caixa Joyce
Carolina Barretos, 26 anos, con-
corda com isso e completa: “todo mundo gosta de prioridade, todo mundo tem pressa, mas ninguém é gentil”, diz Joyce que, na sua função, todos os dias presencia situações em que a cordialidade poderia ser aplicada. “Mas isso não acontece”, enfatiza.
Para a psicóloga, gentileza
é um modo de agir, um jeito de ser, uma maneira de enxergar o mundo. Portanto, ser gentil é um atributo muito mais sofisticado e profundo que ser educado ou meramente cumprir regras de etiqueta. A pessoa gentil se dife-
rencia até mesmo em momentos