assassinados pelos seus, que contra eles conspiraram. Querendo responder a tais objeções.
contarei as causas de sua ruína que são diversas das que aduzi, procurando tomar sobretudo
em consideração as que parecem notáveis a quem lê as ações daqueles tempos. É -me
suficiente citar todos os imperadores que se sucederam no governo a partir do filósofo Marco
Aurélio a Maximino, que foram Marco, seu filho Cômodo, Pertinax, Juliano, Severo, o filho
deste – Antonino, Caracala, Macrino, Heliogábalo, Alexandre e Maximino. Em primeiro lugar
deve-se notar que enquanto nos demais principados é preciso lutar somente contra a ambição
dos poderosos e a inconstância do povo, os imperadores romanos tinham de enfrentar uma
terceira dificuldade, que era a de suportar a crueldade e ferocidade dos soldados. Tal
dificuldade era tão grande que se tornou a causa da ruína de muitos, pois difícil é contentar ao
mesmo tempo soldados e povo, pois este, amante da paz, amava, em conseqüência, os
príncipes modestos, e os soldados estimavam o príncipe que tivesse espírito guerreiro e fosse
insolente, cruel e rapace. Desejavam que ele usasse de tais qualidades contra o povo para
poder receber soldo dobrado e dar expansão à sua rapacidade e crueldade. Isso levou os
imperadores q ue, por natureza ou habilidade, não tinham fama suficiente para reprimir os
soldados nem o povo, a sempre se arruinarem. E a maior parte deles, sobretudo os novos que
conquistavam o principado, ao perceberem a dificuldade desses dois elementos tentavam
contentar aos soldados, não dando importância aos agravos do povo; era preciso enveredar
por esse partido, pois não sendo possível aos príncipes evitar ser odiado por alguém, deviam
esforçar-se sobretudo por não ser odiados pela maioria. E quando não lhes é p ossível
conseguir, devem procurar, com extrema habilidade, escapar ao ódio das maiorias mais fortes.
Por esse motivo, os imperadores que, sendo novos, precisavam de favores extraordinários,
aderiram aos soldados em vez de aderir ao povo, e lhes era isso útil ou não, conforme
soubesse esse príncipe manter a fama entre eles. Por esses motivos aduzidos é que Marco,
Pertinax e Alexandre, homens de vida modesta, amantes da justiça, inimigos da crueldade,
humanitários e benignos, todos, exceto Marco, tiveram triste fim. Só este viveu e morreu com
muita honra porque atingiu o poder por jure hereditário e não lhe era preciso fazer que
reconhecessem seu poder, nem pelo povo, nem pelos soldados. Além disso, sendo portador de
muitas virtudes, que o faziam venerando, em todo o tempo de sua vida, sempre conservou a
ambos, povo e exército em ordem, nos seus termos exatos, e nunca foi odiado nem
desprezado. Pertinax, entretanto, foi imperador à revelia dos soldados, os quais, tendo sido
acostumados a viver licenciosamente sob o domínio de Cômodo, não puderam agüentar a vida
honesta que Pertinax desejava impor-lhes. Por esse motivo, tendo ele despertado ódio, e
tendo-se ao ódio reunido o desprezo, porque era velho, Pertinax arruinou-se logo no início de
sua administração. E é preciso que se note que o ódio se adquire, ou pelas boas ou pelas más
ações. Por isso, um príncipe, desejando conservar o Estado como afirmei antes, é freqüentes
vezes obrigado a não ser bom, porque quando aquela maioria, seja povo, senado ou grarides,
de que julgas ter precisão para te conservares no Poder, é corrupta, é conveniente que sigas o
seu pendor para satisfazê-la e, assim, as boas ações são prejudicadas. Falemos, porém, de
Alexandre, que tão bondoso foi que entre os louvores que lhe são atribuídos está o de não ter,
em todos os quatorze anos que sustentou o império, mandado executar quem quer que fosse
sem um julgamento prévio. Não obstante isso, sendo tido como efeminado e homem que se
deixava guiar pela mãe e por isso tendo caído no desprezo, o exército conspirou e ele foi
morto.
Falando, agora, por outra parte, das qualidades de Cômodo, Severo, Antonino, Caracala e
Maximino, haveis de ver que foram extremamente cruéis e rapaces. Para contentar os
soldados, não deixaram de cometer nenhuma das ofensas que pudessem contra o povo, e
todos, exceto Severo, tiveram triste fim. É que Severo foi tão valoroso, que, conservando a
amizade dos soldados, ainda que oprimido o povo, sempre pôde reinar com felicidade, pois
aquelas suas virtudes o tornavam tão admirável no conceito dos soldados e do povo, que este
ficava, de certo modo, atônito e aqueles - reverentes e contentes. Conhecendo Severo a
ignávia do Imperador Juliano convenceu o exército, do qual era capitão na Ilíria, de que era