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Não confundamos as coisas: devemos buscar a glória de Deus e não a de instituições,
prédios e coisas. Não misturemos Deus com toda a parafernália que edificamos para viabilizar a
pregação do evangelho.
Outro ponto a observar é a moralidade de Deus. Há líderes, felizmente poucos, que
parecem não ter o temor de Deus, com determinadas atitudes que empreendem. Quando sabemos de
desvio de dinheiro, de malversação de verbas, de falta de seriedade no serviço, ficamos
impressionados. Como é possível? Há igrejas que se portam mais como empresas humanas,
buscando poder e prestígio social, buscando riquezas, que como comunidades de pessoas redimidas
pelo sangue de Cristo. Teme a Deus e guarda os seus mandamentos é a frase que serve de chave
hermenêutica do livro de Eclesiastes. E que deve estar sempre em nossa mente. Cristo não aboliu
esta declaração do filósofo do Antigo Testamento.
E graças a Deus que sua compaixão continua. É ela que nos alimenta a fé, que nos leva a
seguir no serviço, mesmo com nossas falhas e é ela que o mundo deve conhecer.
Outro aspecto: preguemos a chamada à conversão. O evangelho ôba-ôba, tipo goma de
mascar, que se mastiga, mastiga, mantém a boca cheia, mas que nunca alimenta, que faz promessas
sem exigências, que anuncia bênçãos em troca de ofertas, que mostra alarido, mas não frutos, é
uma perversão da Palavra. A primeira pregação de Jesus, conforme Marcos 1.15 mostra quando de
seu regresso do deserto, foi de chamar o povo ao arrependimento. Observem no livro de Atos, nos
primeiros sermões da igreja primitiva, como esta palavra aparece. O cristianismo é uma chamada à
correção, à vida acertada com Deus. Cristianismo não é filosofia de vida, não é festa, nem forró.
Cristianismo é um compromisso com a pessoa de Cristo.
Por fim, mas não o menos importante: precisamos resgatar o conceito do sacerdócio
universal de todos os fiéis. Mais uma vez tenho que reclamar do neopentecostalismo. Ele é uma
lástima. Transformou a fé cristã, a vida cristã, em algo que acontece em um determinado lugar, num
determinado momento, sob o comando de determinadas pessoas. Deve-se ir a um templo (muitas
vezes um armazém adaptado, sem salas para educação, apenas um espaço para manipular as
pessoas), num determinado dia (já temos a "sexta-feira forte", o mesmo termo que ouvi no baixo
espiritismo, por onde rondei quando criança, levado por minha mãe), sob a liderança de
determinadas pessoas que Deus escolheu para trazer libertação. Todos somos iguais. A oração de
um pastor ou de um bispo vale tanto (e, às vezes, vale menos) como a de um zelador do prédio, de
um gari, de uma dona de casa. Não é a investidura em uma função que torna alguém adentrável à
presença de Deus. Nem sua postura social. Chegamos à sua presença por sua graça. Pela obra de
Jesus Cristo, que, no dizer de Hebreus 10.20, nos abriu um novo e vivo caminho pela sua carne.