19O tr?gico na produ??o do cuidado
_________________________________________________________
______________________________________
O trágico como postura ético-estética diante da
vida, como proposto por Nietzsche desde sua primeira
publicação, “O Nascimento da Tragédia ou Helenismo e
Pessimismo”
9
, e reiteradamente, ao longo de sua obra.
Trágico como modo de abraçar a vida integralmente,
em sua multiplicidade, em sua diversidade, em suas
inumeráveis ofertas de bons encontros, mas também de
maus encontros, de alegrias, mas também de tristezas,
de apogeus e de quedas, com seus começos, muitas vezes
belos, mas também com seus finais, muitas vezes difíceis.
Assumindo suas dores, e todo o lado sombrio que possa
haver, como parte que não pode ser amputada da aventura
de existir, sem que isto a deixe mutilada e menor.
O trágico que utilizo aqui, como desenvolvido por
Nietzsche, é abraçar a vida humana como portadora destas
duas dimensões, que podem ser simbolizadas pelo apolíneo
e o dionisíaco.
O apolíneo como a vida capaz de razão, de retidão, de
cálculo, de repetição, de previsão, identificação, de domínio
de si, clareza, discernimento, coerência. E o dionisíaco como
a vida capaz de desrazão, paixão, contradição, dissolução,
criação, distorção, imprevisibilidade, descontrole, turbidez,
sentimento, afetação.
Uma perspectiva trágica representa então, uma
aposta no reencontro destas duas dimensões, em oposição
à vigência de uma perspectiva, hegemônica, que Nietzsche
denominou socratismo reinante.
Neste socratismo haveria, por sua vez, a exigência da
exclusividade da dimensão apolínea, com a subtração, a
recusa, a negação, o banimento da perspectiva dionisíaca,
como aposta civilizatória ocidental.
9
Nietzsche, 2005a.