Os sete pilares da qualidade de vida

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About This Presentation

Este livro é o resultado de vários anos de prática clínica, de cursos e workshops realizados pelos autores. Ele é a síntese do material utilizado pelos mesmos nos seminários e palestras sobre qualidade de vida e workshops de grupoterapia e terapia de casais ministrados desde 1994 e que deram ...


Slide Content

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Os
Sete
Pilares
da
Qualidade
de
Vida






Marcos Goursand de Araújo
Ramon Luiz Braga Dias Moreira



Editora Biosofia
Belo Horizonte/MG
2005

2
Copyright © 2004 by Marcos Goursand de Araújo e Ramon Luís Dias Moreira.
Todos os direitos reservados.













Ficha Catalográfica

Araújo, M. G. e Moreira, R. L. B. D. Os sete pilares da qualidade de vida. 2ª.
edição. Belo Horizonte: Editora Biosofia, 2005.

1. Qualidade de vida. – 2. Saúde física e mental. – 3. Estilo de vida. – 4.
Hábitos. – 5. Bioencontro.

Registro na Fundação Biblioteca Nacional:
322.277 - Livro: 589 - Folha: 437. Analisado por Pedro José Guilherme de
Aragão

Diretora do Centro de Processos Técnicos: CÉLIA RIBEIRO ZAHER

Fundação Biblioteca Nacional:
Rua da Imprensa, 16/sala 1205 - Centro - Rio de Janeiro/RJ
Tel. (21) 2220-0039 - Fax. (21) 2240-9179 - E-mail: [email protected]



Capa: Juarez de Fausto Prestupa
Diagramação: Luis Henrique Oliveira
Impressão: Matiz Sistemas Reprográficos Ltda.
Rua São Paulo, 134 - Divinópolis/MG
Telefone: (37)3691-7000




Impresso no Brasil
Printed in Brasil

3
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ..................................................................................... 6
O NOSSO CONCEITO DE QUALIDADE DE VIDA ............................ 9
MEIO-AMBIENTE E QUALIDADE DE VIDA ................................... 12
SAÚDE FÍSICA E MENTAL E QUALIDADE DE VIDA ................... 15
OS SETE PILARES DA QUALIDADE DE VIDA ............................... 20
INCLUINDO SAÚDE E SABOR NOS SEUS HÁBITOS
ALIMENTARES ...................................................................................... 24
MILAGRES PARA EMAGRECER ................................................................................ 27
DICAS PARA UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL ........................................................ 32
ALGUNS MITOS SOBRE ALIMENTAÇÃO .................................................................. 35
UMA DICA SOBRE O COLESTEROL ......................................................................... 38
ALGUMAS DICAS SOBRE CONSTIPAÇÃO INTESTINAL (PRISÃO DE VENTRE) .... 39
DO SEDENTARISMO À PRÁTICA DE ATIVIDADES COM
PRAZER ................................................................................................... 41
EXERCÍCIO E ENVELHECIMENTO ........................................................................ 46
ALGUMAS DICAS PARA COMEÇAR A MUDAR SEUS HÁBITOS
SEDENTÁRIOS ........................................................................................................................ 51
UM BOM SONO PARA UM BOM DIA ................................................ 54
É EXTREMAMENTE NECESSÁRIO DORMIR BEM ................................................ 56
DICAS PARA UM SONO TRANQUILO ..................................................................... 61
SEU TRABALHO PODE SER UM PRAZER A MAIS ....................... 63
ALGUMAS DICAS PARA MELHORAR A SUA CONDIÇÃO DE TRABALHO ......... 66
A ÉTICA DA EMPRESA, UM MUNDO PARTICULAR ............................................. 68
QUALIDADE DE TRABALHO E QUALIDADE DE VIDA ........................................ 72
AFETIVIDADE: O AMOR EM INTERAÇÃO .................................... 76
SEXUALIDADE: FONTE DE PRAZER E ENERGIA ........................ 84
FUNÇÃO E DISFUNÇÃO SEXUAL .......................................................................... 90
CONTINUUM DO DESEJO SEXUAL ....................................................................... 93
SEXO COM PRAZER E SEM CULPA ...................................................................... 106
SEDUÇÃO E FANTASIA ......................................................................................... 110
LAZER: O ÓCIO QUE FAZ PARTE DA VIDA ................................ 116
DICAS DE ALGUMAS ATIVIDADES DE LAZER .................................................... 122

4
DICAS PARA PLANEJAMENTO DE FÉRIAS ......................................................... 124
AVALIANDO SUA QUALIDADE DE VIDA ..................................... 128
UM POUCO SOBRE O ESTRESSE ......................................................................... 131
COMO ESTÁ O SEU NÍVEL DE ESTRESSE? ......................................................... 133
UM POUCO SOBRE A DEPRESSÃO ..................................................................... 134
UM POUCO SOBRE O HÁBITO DE FUMAR ........................................................ 137
UM POUCO SOBRE O ALCOOLISMO .................................................................. 142
BIOENCONTRO, UM MÉTODO PARA ATIVAR AS
MUDANÇAS .......................................................................................... 147
EXEMPLO DE UM TRECHO DE SESSÃO D E GRUPOTERAPIA INTENSIVA
(BIOENCONTRO) ........................................................................... 150
FELICIDADE: UMA POSSIBILIDADE OU APENAS UM MITO? 153
BUSCANDO O BEM-ESTAR E A FELICIDADE ..................................................... 155
MUDANDO O ESTILO DE VIDA E OS HÁBITOS .......................... 158
MUDE SEU ESTILO DE VIDA E SEUS HÁBITOS ................................................. 158
RESUMINDO: O QUE PODE SER FEITO PA RA MELHORAR SUA
QUALIDADE DE VIDA ........................................................................................... 161
SOBRE OS AUTORES ......................................................................... 164

5












































Escolha sempre o caminho que pareça o melhor, mesmo que seja o mais
difícil; o hábito brevemente o tornará fácil e agradável.

Pitágoras

6
APRESENTAÇÃO

Este livro surgiu como resultado de vários anos de
prática clínica, de cursos e workshops realizados pelos
autores. Ele é a síntese do material utilizado pelos mesmos
nos seminários e palestras sobre qualidade de vida e
workshops de grupoterapia e terapia de casais ministrados
desde 1994 e que deram origem ao programa Biosofia de
qualidade de vida, em 1996.

Os principais objetivos desse programa são:
1. Mudança do estilo de vida e conseqüente melhoria da
qualidade de vida.
2. Desenvolvimento da auto-estima e da autoconfiança.
3. Mudanças de hábitos de alimentação, sono, lazer,
atividades, sociabilidade.
4. Desenvolvimento da afetividade e sexualidade
plenas, procurando ampliar a vida afetiva, os
relacionamentos interpessoais, o desempenho e o prazer da
vida sexual.
5. Busca da realização profissional e satisfação com o
trabalho.
6. Ajuda na adaptação a novas situações e no processo
de reconstrução de vida após situações de crise (separação,
luto, perdas).
Mesmo uma pessoa com poucos recursos pode
melhorar sua qualidade de vida e encontrar novas formas de
lidar com sua existência e seus problemas econômicos.
Ganhar dinheiro não deve ser um objetivo único na vida,
mas sim um meio de obter qualidade de vida; assim, ao
mudar seu estilo de vida, mesmo alguém com poucos
recursos pode melhorar suas condições materiais.
Um estilo de vida tenso e desequilibrado acarreta
doenças diversas e sintomas psicossomáticos, distúrbios do

7
apetite e do peso, drogadição, alcoolismo, irritabilidade,
fadiga, perda do interesse sexual, insônia ou sonolência
diurna.
Vivemos sem avaliar o “como” vivemos. Poucos de nós
conseguem ter uma vida realmente saudável. Vamos
levando a vida, simplesmente. Quando as conseqüências
chegam, então procuramos o médico, o psicólogo, o padre, o
pastor, o guru, às vezes muito tarde. Queremos instalar em
você um sinal amarelo: pare e pense.
Além de parar e pensar, é necessário confiar na
mudança. Ao pôr em prática o nosso método, você
observará, dentro de pouco tempo, a validade da jornada.
Pretendemos então, motivá-lo a fazer mudanças, seja de
hábitos, de estilo de vida, de conceitos.
De uma certa forma todos sabemos (mais ou menos)
como alcançar uma boa qualidade de vida. Somos,
entretanto, pouco perseverantes, acomodados, ou
estabelecemos metas acima de nossas forças. Outras vezes,
subestimamos os obstáculos que nos impedem de alcançá-la.
Além do mais, somos moldados por hábitos e estilos de
viver ultrapassados, do tempo em que a ciência ainda não
conhecia os conceitos fundamentais da nutrição, por
exemplo. Muitos de nossos pais e avós acreditavam que a
criança saudável era a criança forte, que comia muito,
principalmente alimentos gordurosos e protéicos.
No dia-a-dia a saúde é identificada com bem-estar e
qualidade de vida. Se é óbvio que sem saúde não é possível
sentir-se bem e gozar de boa qualidade de vida, também se
pode dizer que a saúde não é o seu único componente.
Aqui na terra temos esta vida, e o que estamos fazendo
dela? O que significa “viver bem “? O que fazer para
consegui-lo? Queremos ajudá-lo a mudar, caso, ao final da
leitura, você realmente acredite que deva mudar. Se chegar à
conclusão que já faz tudo o que esse livro aconselha,

8
parabéns, você é uma pessoa privilegiada no mundo de hoje,
com milhões de pessoas obesas, cardíacas, viciadas,
deprimidas, estressadas, infelizes.
Biosofia (do grego, bios = vida e sophia = sabedoria) é
um programa de desenvolvimento pessoal para uma vida
melhor. Busca proporcionar às pessoas, além da superação
das manifestações desadaptativas, a reeducação de hábitos e
o aperfeiçoamento pessoal (físico, psicológico, social,
espiritual).
O termo foi usado antigamente com sentido biológico.
Em 1964, um filósofo alemão radicado nos Estados Unidos,
Frederick Kettner, escreveu um livro intitulado Biosofia e
Democracia Espiritual: Um Princípio para a Paz Mundial
(Biosophy and Spiritual Democracy: A Basis for World
Peace. New York: Vantage Press, 1964). Nesse livro,
Kettner propunha a construção de uma sociedade de base
holística, integrada, espiritual, como condição para a
consecução da paz e a busca da felicidade do ser humano.
A Biosofia se apóia, pois, nessa compreensão
abrangente e integrada do ser humano, visto como um
complexo sistema biológico, psicológico, social e espiritual.
Ela é uma proposta de ajuda que você mesmo, leitor ou
leitora, poderá pôr em prática para tornar sua vida mais
saudável, plena e agradável.

9
O NOSSO CONCEITO DE QUALIDADE DE
VIDA

Muitas vezes a medicina trata problemas de saúde de
forma isolada, ignorando o contexto em que a pessoa vive. É
preciso ter em conta, como afirmava Freud, que o ser
humano está em permanente conflito entre a satisfação de
suas necessidades e as pressões de seu meio social.
Devemos, portanto, saber que cada pessoa é um todo, de
corpo, mente e espírito, influenciada por inúmeros fatores,
cada um deles com menor ou maior peso sobre sua saúde
física e mental.
Cerca de quase 5 bilhões de pessoas ( ¾ da população
mundial) vivem nas cidades e boa parte delas nas grandes
metrópoles. Se as cidades oferecem as condições para o
desenvolvimento da civilização, por outro lado também
cobram um alto preço por isso: violência, poluição,
insuficiência dos recursos básicos, tensão, conflitos sociais,
redução do espaço vital, etc. Não quer dizer que tais
problemas não existam no campo e nos pequenos vilarejos,
mas suas proporções e gravidade são inequivocamente
muito menores nesses locais. Apesar das dificuldades, as
pessoas que vivem nas grandes metrópoles não podem ou
não querem deixar de viver nelas e as cidades continuam
cada vez mais populosas.
Do ponto de vista econômico, o sistema em que
vivemos necessita de um rebanho de consumidores para
continuar existindo. Ficamos obrigados a sobreviver a essa
imposição, ao mesmo tempo em que usufruímos dela.
Somos diariamente desafiados a encontrar a melhor forma
de viver nesse ambiente hostil.
Entretanto, uma grande parte de nossos problemas
pode ser minimizada se desenvolvermos uma mentalidade
preventiva. Não nos iludamos, toda doença é DO CORPO,

10
DA MENTE E DO ESPÍRITO, o que quer dizer que
adoecemos por motivos detectáveis por nossa razão e por
outros que necessitam nossa intuição para os descobrirmos.
Conhecer e tratar as doenças apenas do ponto de vista
orgânico é correr o risco de ficar cronicamente doente.
Para nós, ter qualidade de vida significa:
* Estar equilibrado psíquica e fisicamente,
* Estar habituado a ter medidas preventivas de saúde
psíquica e física.
* Ter consciência de que é possível alcançar um estado
de satisfação, de uma certa felicidade.
* Sentir-se com uma vida plena, saudável e prazerosa.
* Estar em paz consigo mesmo, com as outras pessoas e
com a natureza.
* Buscar alguma forma de encontro transcendental ou
espiritual.
Não há um modelo universal de qualidade de vida, nem
alguém que saiba o que ela significa para todos. O senso de
qualidade de vida é diferente em cada cultura. Os orientais,
por exemplo, pensam de maneira muito diversa de nós sobre
esse tema. Os chineses têm o costume de levantar cedo e ir
para os parques fazer ginástica, os tibetanos praticam
meditação há milhares de anos. Podemos beber nessas
fontes muitos conceitos de equilíbrio mental que nós,
ocidentais, não temos. Mas, vamos nos ater, nesse pequeno
livro, a pensar a qualidade de vida em termos de sociedade
ocidental, informatizada, competitiva, neoliberal, como a
nossa. Também não há como ficar zen na batalha diária que
travamos pela nossa sobrevivência. Há sempre muito o que
fazer em pouco tempo.
Fazemos parte de uma sociedade individualista,
competitiva. Estresse, distúrbios do sono, transtornos
alimentares, alcoolismo, uso de drogas, ansiedade, doenças
psicossomáticas, são algumas das conseqüências mais

11
comuns na busca de adaptação a essa sociedade. Então, o
segredo é encontrar a homeostase (um termo que significa o
ponto de equilíbrio do organismo) de acordo com o contexto
em que vivemos. Não há como fugir às condições sociais
nas quais estamos inseridos, mas há formas de mudar tais
condições (em alguns aspectos) quanto à maneira de
reagirmos a essas condições. Como, porém, conseguir essa
proeza?
Primeiro é preciso auto-conhecimento. Saber quem
somos, como está nossa homeostase. Depois é preciso traçar
metas de mudanças, caso sejam necessárias. Por último
colocá-las em prática com disciplina e determinação. São
inúmeros os fatores que interferem em nossa qualidade de
vida. Como não podemos mudar todos, temos que escolher
alguns. Em nosso caso, elegemos sete fatores, que
consideramos os principais. Assim é com quase tudo na
vida. Não podemos dar saltos maiores do que as pernas, nem
conseguirmos a perfeição, mesmo porque nem sabemos o
que significa perfeição. Ao propormos os sete pilares da
qualidade de vida, escolhemos os aspectos de nossa vida que
podemos mudar, no dia a dia, tomando medidas práticas e
sensatas. Nosso método não propõe milagres, não usa de
fórmulas mirabolantes, mas apela para o seu bom senso.
Bom senso não quer dizer senso comum. Não precisamos
escrever sobre o que todo mundo sabe. O segredo que
propomos é juntar as peças, coordenar os fatores. Há gente
muito estressada que é feliz no casamento, gente muito
amorosa, porém deprimida, gente que trabalha bem mas não
tira férias. Para alcançar qualidade de vida, não devemos
barganhar um fator pelo outro, temos de querer todos
integrados num conjunto harmônico. Tirando um, os outros
caem. Por isso, são como pilares que sustentam o edifício de
uma vida plena, saudável e feliz

12
MEIO-AMBIENTE E QUALIDADE DE VIDA

Não temos sido capazes de nos servirmos do meio-
ambiente, de maneira saudável e criteriosa. Nossa ambição
nos converteu nos piores predadores da natureza.
Por si só os grandes conglomerados urbanos já
constituem uma agressão à natureza pela quantidade de
dejetos despejados no ambiente e pela sua sistemática
destruição. Esta agressão é agravada pela falta de
planejamento, controle e proteção das áreas ambientais,
produzindo a extinção de espécies da flora e da fauna. O
desrespeito ao ambiente é tão violento que está
comprometendo a sobrevivência da espécie humana nesse
delicado eco-sistema que é a superfície de nosso planeta.
Os riscos da energia nuclear, a emissão de partículas
e gases tóxicos na atmosfera, a destruição da camada de
ozônio, a elevação da temperatura do planeta, os rejeitos
urbanos e industriais lançados em rios, lagoas e no mar, o
desmatamento que acarreta a ruptura dos ciclos da natureza,
constituem um pesado fardo que as formas descontroladas
de industrialização e de produção capitalista (onde o lucro é
o objetivo principal), legarão ao futuro da humanidade.
O produto final dessa sociedade é o ser
individualista. Como tal, pensamos que os problemas sociais
nada têm a ver conosco, mas que deverão ser resolvidos
pelo governo, pelos órgãos públicos, pelos especialistas.
Os casos mais graves são estampados nos jornais,
mas a contínua degradação ambiental não é mais notícia, a
não ser quando incomoda ou ameaça diretamente a
população. Um exemplo disto foram as notícias sobre a
poluição das praias do Rio de Janeiro que, em abril de 1999,
chegou aos absurdos níveis de 16.000 coliformes fecais por
100 mililitros de água nas praias de Botafogo, Flamengo,

13
Urca e Leblon, quando o máximo aceitável seria até
1.000/100 ml.
No entanto, a poluição crônica de nossas praias, lagoas
e rios e da própria Baía de Guanabara não desperta tanto
interesse na mídia. É como se estivéssemos conformados
com essa realidade, e nada pudéssemos fazer.
Pesquisa realizada durante mais de 10 anos, pelo
Laboratório de Psicofisiologia da Universidade Federal de
Minas Gerais, revelou que a poluição sonora, além de
destruir a audição em altos níveis, é também capaz, em
níveis médios, de desencadear um quadro de estresse
crônico, que ataca o humor, prejudica o sono e mina a saúde
física e mental. Os riscos de infarto, em decorrência do
excesso de barulho, aumentam em 20%, enquanto os níveis
de colesterol no sangue sobem em 46%, em trabalhadores
submetidos ao estresse auditivo durante 7 horas diárias.
Algumas das conclusões dessa pesquisa mostraram
1
:
- a média de ruído diurno em Belo Horizonte é de 74
decibéis, considerado insalubre pela OMS; à noite o nível
médio é de 60 a 64 dB, suficiente para perturbar o sono
2
;
- os picos de ruído nos maiores corredores de trânsito
podem chegar a 120 ou 130 dB, nível capaz de produzir
dolorimento auditivo e destruir as células ciliadas do
ouvido, com risco de surdez permanente;
- mais de 90% da população da cidade sofre com o
estresse sonoro, em diferentes graus, mesmo dentro de casa;
- pesquisas dos anos 50 indicavam que as ruas de Belo
Horizonte registravam níveis de ruído da ordem de 20 a 30

1
Fonte: Prof. Fernando Pimentel Souza/Internet: www.icb.ufmg.br/lpf,
1999.
2
Os níveis de poluição sonora são classificados em: saudável, até 50 dB;
tolerável, de 55 a 65 dB; insalubre, de 70 dB ou mais, sendo que, a partir
de 85 dB, o barulho já pode provocar surdez irreversível.

14
dB; desse período até hoje, o aumento da poluição sonora
chegou a quase 300% e a população da Capital quintuplicou.
Cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo
apresentam níveis de poluição sonora ainda maiores.
O nível médio do som nas discotecas, por exemplo, é
superior ao dos corredores de trânsito, aeroportos e
arredores de fábricas e pode provocar surdez irreversível. A
diferença é que o destes lugares é contingente e o daquelas é
absolutamente desnecessário.
A educação ambiental, ao lado da educação formal,
deveria estar presente nas escolas. Ela busca a preparação de
uma nova mentalidade do ser humano no intuito de
restabelecer sua harmonia com o meio em que vive e que
passa, necessariamente, pela valorização de sua cidadania e
pelo respeito à diversidade biológica, cultural e étnica. Só
disporemos realmente de uma prática social preservacionista
quando pudermos ter uma verdadeira consciência de
cidadania.
Há uma série de “dicas¨ que vamos lhe oferecer ao
longo desse nosso pequeno trabalho, mas você é um ser
único que encontrará suas próprias respostas que estão além
do que lhe sugerimos aqui.

A qualidade de vida é uma necessidade e um direito
de todo cidadão. Cada um de nós deve se fazer uma
pergunta: o que quero, preciso e considero como
qualidade de vida para mim?

15
SAÚDE FÍSICA E MENTAL E QUALIDADE
DE VIDA

A velha máxima “é melhor prevenir do que remediar”
continua atual quando se trata de saúde.
Os serviços de saúde, em todos os países, têm dois
objetivos básicos: tratar os doentes e prevenir as doenças.
No Brasil se o primeiro é mal cumprido, o segundo
praticamente inexiste. No SUS (Sistema Único de Saúde),
uma pessoa só é cadastrada para tratamento hospitalar
através de um CID (Código Internacional de Doenças), o
que significa que só pode ser atendida se estiver doente. A
pessoa saudável não pode se consultar no hospital público.
A maior razão disso: tem faltado aos governantes
interesse e vontade política para atenuar os problemas de
saúde que afetam a grande maioria da população, a parcela
mais pobre. A parcela mais rica pelo menos dispõe (ou tem
a possibilidade de dispor) de assistência médica de boa
qualidade.
No Brasil há um modelo antiquado de saúde pública
que está sendo mudado muito lentamente sem conseguir
atender às necessidades mais prementes de uma população
crescente. A saúde pública é um setor de alto custo e por
isso não tem sido prioridade para os diversos governos, mais
preocupados em obter recursos para o pagamento dos juros
da dívida pública. Se ficarmos apenas esperando que os
governantes cuidem de nossa saúde, certamente a política de
saúde no Brasil continuará a pior dentre os países
industrializados.
Grande parte das queixas que levam os clientes a
buscar repetidamente atendimento médico e a realizar
freqüentes exames laboratoriais poderiam ser evitadas se se
cuidasse dos componentes emocionais e psico-sociais dos
sintomas apresentados. Sabemos também que boa parte das

16
patologias apresenta características psicossomáticas, que se
tratadas apenas sob o ponto de vista orgânico, voltarão a
reincidir ou se tornarão crônicas. Podemos aí incluir os
crescentes casos de abortos em adolescentes, de doenças
sexualmente transmissíveis (especialmente a Aids), de
cardiopatias diversas, de distúrbios ocasionados pelo abuso
de álcool e outras drogas.
Ter medo de ir ao médico, ou ir ao médico quando o
medo da doença estiver maior que o medo de ir ao médico, é
um tipo de fuga da qual todos devemos nos livrar
urgentemente.

Quando cada um de nós procura o médico já doente,
estatisticamente custará, aos seus próprios bolsos ou
ao de seu convênio, ou ao governo, três a sete vezes
mais do que custaria se consultasse para prevenção. A
chance de reverter uma doença é vinte vezes maior
quando ela é descoberta em sua fase inicial, e cem
vezes maior quando se tomam medidas preventivas
antes do seu início.

Todos nós conhecemos pessoas aparentemente
saudáveis mantendo um estilo de vida insatisfatório e
prejudicial à sua qualidade de vida.
Ter saúde não é o mesmo que não ter doenças. Nosso
corpo pode estar apenas “suportando” o seu sofrimento, mas
se não houver descanso adequado, sono tranqüilo, boas
condições de trabalho, satisfação afetiva, chegará uma hora
em que o corpo romperá com este falso equilíbrio e
adoecerá. Nas grandes cidades somos uma massa de doentes
em potencial.
Do ponto de vista do estresse, nosso equilíbrio corporal
segue uma linha parabólica; vamos suportando bem os
excessos aos quais nos submetemos até um ponto de pico, e

17
desde então perdemos esta capacidade gradativamente. O
problema é que a curva descendente só é perceptível depois
de longo tempo. As doenças são como luzinhas vermelhas
acendendo em nosso “motor”, sinal de que já estamos
¨queimando óleo¨. Em geral é nesta hora, ou depois que o
¨motor fundiu¨ que vamos buscar o tratamento.
O problema é que não vemos a doença progredir e
assim pensamos que está tudo bem, abusamos do “excesso
de saúde que temos”. Colocaremos no livro várias histórias
reais de nossos pacientes. Para protegê-los usaremos nomes
fictícios.
Mário, um amigo nosso, estudou medicina, entre 1972
e 1977 e foi estagiário no pronto-socorro durante dois anos,
entre o quarto e o quinto ano de graduação. Nessa época,
não era obrigatório o uso de cinto de segurança nos
automóveis. Muitos deles nem tinham esse acessório
“supérfluo”. Foi lá onde ele mudou seus conceitos sobre o
uso do cinto de segurança. Trabalhava com um ortopedista e
atendeu a centenas de pessoas vítimas de acidentes de
trânsito, a maioria lesada após bater contra as paredes do
carro ou ser lançada fora dele. Começou a ter pânico de
andar sem cinto de segurança. Pouco tempo depois de
formado sofreu um acidente grave de carro e só não morreu
porque estava usando o cinto, numa época em que quase
ninguém o usava. Esse exemplo serviu para lembrar-lhe,
para o resto da vida, que as medidas preventivas são o limite
entre a longevidade e a morte prematura, entre a qualidade
de vida e a seqüela. Muitos hipertensos mudariam seus
hábitos alimentares apenas observando a salvação heróica
dos infartados em alguns plantões de pronto-socorro; muitos
diabéticos mudariam seus hábitos após acompanharem as
cirurgias de amputação de membros em diabéticos
terminais; fumantes seriam bem convencidos por alguns
dias de visita a um hospital de pneumologia.

18
Da mesma maneira que buscamos melhorar nossa
saúde física, devemos também aprimorar nossa saúde
psíquica. A idéia de que tratamento psicológico é para
pessoas problemáticas vem do preconceito de que terapia é
coisa para “doido”. Realmente, no início, a maior parte dos
pacientes de Freud e dos primeiros psicanalistas era
constituída de gente que sofria de neuroses e psicoses. A
partir da diversificação dos métodos psicoterápicos e a
popularização das abordagens grupais, estes recursos
passaram a ser oferecidos às pessoas normais no sentido de
aprimorarem sua saúde psíquica. Hoje há métodos breves e
baratos para ajudar efetivamente a quem busca auto-
conhecimento, melhoria de suas relações afetivas e sociais,
solução para problemas cotidianos e mudança de estilo de
vida. Um deles é o bioencontro, do qual falaremos mais
adiante. Assim também são a terapia sexual, o psicodrama, a
terapia conjugal, entre outras.
Quando devemos procurar um médico?
Todos nós devemos ter um clínico geral com o qual
nos consultamos pelo menos uma vez ao ano, independente
de nossa idade. Ele funciona como o “serviço de triagem”, e
se não der conta de algum problema encontrado, irá nos
encaminhar a um especialista. As mulheres devem se
consultar com um ginecologista pelo menos uma vez ao ano,
a partir de quando começarem a ter relações sexuais, até a
idade avançada, e os homens com mais de 40 anos devem se
consultar anualmente com um urologista. A consulta ao
dentista também deve ser anual, mesmo se não houver cárie
ou dor de dente. Pouca gente sabe que muitas doenças,
inclusive do coração, começam por infecções da boca e dos
dentes que passam despercebidas.
Quando devemos procurar um psicólogo?
De uma maneira geral, qualquer um de nós, se tiver
condições financeiras, deve fazer terapia, pelo menos por

19
um curto período. Não vivemos em uma sociedade saudável
psiquicamente; há muitos conceitos problemáticos de
educação, tanto familiares quanto escolares, sofremos
traumas relativos à vida sexual e afetiva, dificuldades
conjugais, frustrações não superadas, incompreensões e
humilhações de pessoas próximas e muitos outros
problemas que podem ser melhor elaborados e trabalhados
em um consultório de psicologia.

Psicoterapia não é aconselhamento. O psicólogo não
é um amigo íntimo, nem um guru. Ele conhece técnicas
específicas de mudança de comportamento e condução
de reflexões acerca dos problemas emocionais.

É um contra-senso ficar resistente à ajuda psicológica
quando se tem um problema claro nesse campo. A
psicologia não vai aumentar os seus problemas nem lhe criar
outros, o psicólogo não é um mago que vai manipulá-lo ou
tomar o seu dinheiro. O serviço dele não é um serviço que
um amigo ou um parente saiba fazer.
Pessoas com problemas em sua vida emocional,
como ansiedade, depressão, obsessões, fobias, síndrome de
pânico, distúrbios sexuais, agressividade, estresse, conflitos
conjugais, compulsões e uso de drogas não devem hesitar
em fazer psicoterapia. Quanto antes procurarem ajuda, mais
rápido ficarão livres de seus problemas.
Lembre-se: você é capaz de ser o dono de sua vida!
Conscientize-se disso! Somos organismos em contínuo
processo de mudança, vivendo em ambientes que também se
modificam a cada dia. Adaptado não é o indivíduo
acomodado, cristalizado, rotineiro.

Adaptação é a capacidade de adequar-se a cada
nova situação, de maneira equilibrada e eficiente.

20
OS SETE PILARES DA QUALIDADE DE
VIDA

Para alcançar melhor qualidade de vida, é necessário o
atendimento de situações externas e internas.
Os fatores externos que determinam as condições de
vida são mais difíceis de serem mudados e dependem de
ações políticas ou de movimentos sociais. Mas podemos
aprender a nos defendermos das situações externas
desfavoráveis, a minimizar os seus efeitos deletérios sobre
nós, mudando alguns hábitos prejudiciais e o nosso estilo de
vida.

É útil engajar-se em movimentos e causas sociais,
pois coletivamente tornamo-nos mais fortes para alterar
o meio social. É fundamental buscar conhecer um pouco
das leis e dos direitos do cidadão e exigi-los.

O nosso estilo de vida pode ser mudado com maior
ou menor empenho pessoal. Podemos mudar com certa
facilidade nossas opiniões e atitudes, mas sabemos que não
é fácil mudar radicalmente os hábitos, mesmo os que nos
são nocivos.
O relato que se segue foi prestado por um
conceituado profissional participante de um de nossos
seminários e ilustra bem a dificuldade de mudar hábitos
arraigados. Num dos encontros, ele narrou o seguinte:
“Em determinado momento de minha vida, decidi ter
um tempo livre em um dia da semana. Decidi que nesse dia
não faria nada além daquilo que me desse muito prazer. Iria
ao cinema, leria um livro num parque, iria para o clube
nadar, mas não faria nada relativo a trabalho ou resolução de
problemas do dia a dia. Pensei que seria muito fácil. Elegi a
quarta-feira após o meio dia para essa prática. A primeira

21
sensação que tive foi a de ser um vagabundo; enquanto
outros trabalhavam eu estava ali, no cinema, quase sozinho,
no clube, naquela piscina imensa. Muitas e muitas vezes não
resisti e voltei ao trabalho, fui resolver problemas, a
ansiedade tomou conta de mim. Quando contava aos amigos
o que estava fazendo às quartas-feiras eles me diziam „está
ficando rico, um dia eu chego lá, quem pode pode, esse cara
é um excêntrico‟. Persisti na minha vontade, pois queria ter
um dia para meditar, para ficar comigo mesmo, sair um
pouco da pressão do trabalho e dos problemas cotidianos
para limpar a mente. Comecei a descobrir algumas práticas
muito interessantes para se fazer às quartas-feiras como:
entrar numa igreja e ficar longo tempo em silêncio, rezando
ou pensando na vida; comprar um livro e ir para um parque
lê-lo debaixo de uma árvore; entrar na piscina e ficar
caminhando dentro dela olhando para o fundo, tentando não
pensar em nada; tomar uma cerveja sozinho em um bar, de
forma bem demorada. Meu hábito antigo era trabalhar de
segunda a sexta de 7:00 às 18:00 horas. Sou um profissional
autônomo, mas me tornei um profissional automatizado,
influenciado pelo hábito geral de trabalhar dez, onze horas
diárias de segunda a sexta. Carregava comigo a idéia de que
era importante trabalhar muito para „aproveitar o tempo‟,
segundo a antiga máxima de que tempo é dinheiro. Comecei
a lutar para descobrir que tempo é saúde, tempo é vida, e
que não se ganha dinheiro só trabalhando. Descobri também
que ao adquirir essa prática não passei a ganhar menos
dinheiro. Ao contrário, trabalhando com mais disposição e
planejamento nos outros dias, podia compensar o dia
„perdido‟”.

22
Grande parte do esforço desse livro é convencê-lo a
se livrar de seus hábitos automatizados, a refletir sobre o
número maior possível de seus hábitos e avaliar se quer
mudá-los, caso não sejam saudáveis. Perceba que você é
o único dono de sua vida e pode fazer o que quiser com
ela, e ninguém tem nada com isso.


Com esforço, podemos substituir determinados hábitos
negativos ou indesejáveis por outros mais saudáveis e
adequados. Uma vez que os novos hábitos venham a fazer
parte de nossa rotina e estilo de vida, tornam-se agradáveis e
a mudança é percebida. Não são poucos os relatos de
pessoas que passaram a se sentir melhores, mais saudáveis e
felizes tendo mudado de hábitos, depois do esforço inicial.
Por exemplo, a substituição de uma dieta
basicamente carnívora por uma que inclua os vegetais, ou de
carne vermelha em equilíbrio com carne branca; a prática
regular de alguma atividade física em pessoas sedentárias; a
inclusão do lazer em indivíduos escravos do trabalho, são
mudanças de hábitos com grande repercussão para a saúde.

QUALIDADE DE VIDA =
CONDIÇÕES DE VIDA + ESTILO DE VIDA + SAÚDE

Os condicionantes externos determinam as condições
de vida. São: ambientais (domésticos, profissionais,
escolares, residenciais); político-sociais (sistema de
governo, ideologia, justiça, sociedade); culturais (ambiente
cultural, valores, mitos, crenças, preconceitos); econômicos
e financeiros (dinheiro, bens, dívidas).
Os condicionamentos internos determinam o estilo de
vida. São especialmente os físicos ou fisiológicos, os
psicológicos e os hábitos sociais: doenças, deficiências,

23
constituição, depressão, solidão, isolamento, carência
afetiva, insatisfação afetivo-sexual, obesidade,
agressividade, tensão, ansiedade, excesso de trabalho,
estresse, tédio, sedentarismo, adições (fumo, álcool, drogas,
sexo, trabalho). As principais áreas que se inter-relacionam
com o nosso estilo de vida são analisadas a seguir.
Para melhorar sua saúde física e psicológica e passar
a ter um estilo de vida mais satisfatório, agradável e
prazeroso, são necessárias mudanças em algumas áreas de
sua vida. Dada sua importância, chamamos a essas áreas de
OS SETE PILARES DA QUALIDADE DE VIDA.

São eles:

· A ALIMENTAÇÃO
· A ATIVIDADE FÍSICA
· O SONO
· O TRABALHO
· A AFETIVIDADE
· A SEXUALIDADE
· O LAZER

Nos próximos tópicos, iremos discorrer um pouco sobre
cada um e como você poderá reorientá-lo em seu benefício.

24
INCLUINDO SAÚDE E SABOR NOS SEU S
HÁBITOS ALIMENTARES

Um dos propósitos deste livro é o de contribuir para a
mudança dos hábitos alimentares, e assim prevenir
problemas de obesidade, que além de comprometerem a
saúde ainda dificultam a adaptação social. Os mais atingidos
são especialmente aqueles que levam uma vida estressada e
sedentária.
A alimentação equilibrada e saudável é condição
essencial para uma boa qualidade de vida. A sociedade de
consumo nos estimula a engolir e até nos consegue fazer
gostar do que produz. Pervertemos nosso paladar apreciando
“alimentos” geneticamente modificados, excessivamente
adocicados, enlatados, e rejeitamos as fontes naturais de
nossa alimentação.
A pediatria considera que os hábitos alimentares são
moldados na primeira infância. O melhor momento de
adquirir bons hábitos alimentares é do primeiro ao quinto
ano de vida. Por esse motivo é tão difícil mudar hábitos
alimentares na vida adulta. É como se a mente reconhecesse
os alimentos conhecidos como os que lhe pertencem, e
rejeitasse os outros, como se fossem corpos estranhos.
É comum vermos famílias obcecadas em alimentar as
crianças, confundindo excesso de peso com saúde. E
também a preocupação exagerada dos avós com a
desnutrição dos netos, numa clara demonstração de
insegurança quanto à capacidade de seus filhos em cuidar
adequadamente da saúde de sua prole. Para muitos pais, os
filhos nunca ficam adultos. O reconhecimento dessa
evolução dos filhos representa, para esses pais inseguros,
uma afronta à sua autoridade paterna.
Em muitas famílias, a liberdade de comer ou não comer
pode ser o único traço de autonomia que o filho pequeno

25
tem, já que tudo o mais de sua vida está sob o controle dos
pais. Impedido de dizer o que quer ou não quer comer, o
filho pode estar perdendo o último reduto de sua autonomia.
O consumo, especialmente do supérfluo, é o objetivo de
nossa sociedade consumista. A adição (vício) é uma forma
de escape, de fuga a uma realidade frustrante e
desagradável. Podem-se incluir aí não apenas as formas
desviantes do consumo de drogas, mas outras formas
socialmente aceitas e até mesmo valorizadas de adição à
comida, ao fumo, ao sexo, ao trabalho.
A compulsão para comer é uma forma grave de adição.
Muitas vezes o prazer da comida está preenchendo a falta de
prazer em outras áreas, seja a sexual, a afetiva, ou até
mesmo o amor próprio. É por isto que os tratamentos para
emagrecer freqüentemente não dão certo.
Em nosso meio é muito grande o abuso das drogas
legais, além das drogas ilícitas, como maconha e cocaína. O
problema da droga, qualquer que seja o seu tipo, não está no
seu uso racional e necessário, mas no seu abuso. No entanto,
há drogas para as quais o uso moderado é impossível, pois
elas logo viciam o usuário, um fenômeno que a medicina
chama de tolerância medicamentosa.
O que se nota em geral nos tratamentos de obesidade é
o uso descontrolado das drogas legais, como as
psicotrópicas, na tentativa de reduzir o apetite dos obesos e
fazê-los controlar sua ansiedade, uma das grandes
causadoras da necessidade compulsiva de comer (junto com
a solidão, a depressão, etc.). O uso constante da droga reduz
o número de atividades e a qualidade de vida.
A respeito das drogas anorexígenas (para
emagrecer), sabemos que várias das que se usam no Brasil
são proibidas em outros países, e até mesmo aqui. A maioria
delas tem efeitos colaterais sérios, às vezes a longo prazo.
Muitas provocam o chamado efeito rebote: a pessoa

26
emagrece, mas quando pára de tomá-la engorda em dobro.
Alguns médicos que as receitam sabem pouco ou nada sobre
os seus efeitos colaterais (ou os omitem, o que é mais
grave) e o usuário não liga o efeito sofrido ao remédio.
Muitos pacientes (principalmente mulheres) têm a estética
como um valor tão elevado que aceitam arriscar suas vidas
para ficarem mais esbeltas. Tudo isto somado, os
tratamentos para emagrecer tornam-se de alto risco, quando
não acompanhados por um profissional que realmente
entenda da síndrome de obesidade. E atenção, são poucos os
profissionais que sabem fazê-lo!
Uma boa saúde, que deveria ser na verdade, a
principal preocupação de quem deseja emagrecer, não é
levada em conta. Pelo contrário, muitas mulheres querem
emagrecer, inclusive à custa do risco de adoecer, tomando
medicações desconhecidas ou até mesmo proibidas,
verdadeiros venenos camuflados.

27
MILAGRES PARA EMAGRECER

Gilda chega ao clube num domingo de manhã, após
uma ausência de algumas semanas e quase não é
reconhecida pelas amigas:
- Gilda querida, finalmente você apareceu. Mulher, o
que você fez para conseguir emagrecer e ficar com esse
corpinho de adolescente?
E Gilda, orgulhosa e vaidosa, explica o fenômeno:
- Estou tomando umas cápsulas preparadas pelo
médico com quem estou me tratando. Em dois meses
consegui emagrecer 12 quilos. E ainda pretendo perder mais
uns 5.
- Mas você já está ótima desse jeito. Não precisa
emagrecer mais – afirma outra que deixava escapar o
excesso de gordura mal contido pelo biquíni. Depois me dá
o telefone desse médico, hein?
Você provavelmente já viu uma cena como essa
algumas vezes.
Poucos assuntos têm sido tratados de forma tão
leviana, superficial e irresponsável quanto o desejo,
especialmente feminino, de emagrecer e ficar com um corpo
bonito.

Parece incrível, pois fala-se desse tema -
emagrecimento - todos os dias na TV, no rádio, nas
revistas e jornais, nos próprios consultórios médicos,
mas as pessoas estão tão escravas de sua estética que
fecham os olhos e os ouvidos aos conselhos mais sensatos.

As falsas promessas de produtos desonestos que se
afirmam capazes de efetuar milagres infestam os jornais e
principalmente revistas destinadas ao chamado público
feminino. Na verdade não passam de instrumentos para

28
vender ilusões de beleza e juventude. Todos os meses são
oferecidas dietas fantásticas capazes de fazer emagrecer até
20 quilos em um mês. Se alguma delas fizesse esse efeito,
não seria necessário oferecer tantas. Um desses produtos
“garante” que em apenas uma hora, usando o creme
maravilhoso, a usuária pode reduzir suas medidas em 3 cm.
Outro é anunciado como sendo o resultado de “longas
pesquisas” (que não são citadas), desenvolvidas em “famoso
laboratório francês” (cujo nome também ninguém sabe) e
aplicada por um também “famoso médico” (cujo nome não
aparece, ou que ninguém conhece) e também de efeitos
miraculosos. Até uma pretensa revista “médica” faz, na
forma de notícia ou reportagem, uma deslavada e antiética
publicidade de cirurgiões plásticos que se dispuseram a
pagar o alto preço dos anúncios, além de oferecer produtos e
tratamentos ditos maravilhosos.
O Fantástico, da Rede Globo, mostrou certa vez uma
reportagem excelente sobre o assunto dos medicamentos
para emagrecer. Na ocasião, um de nós (Ramon) tinha uma
paciente que vivia consultando os médicos receitadores de
remédios-bomba, como os apelidamos, e embora fizesse
todo o possível para explicar-lhe os malefícios desses
remédios, ela continuava a usá-los. A reportagem do
Fantástico foi então uma oportunidade única de mostrar-lhe
que estávamos com a razão, pois as pessoas têm uma
tendência a acreditar no que a “televisão mostra”. Nesse
caso específico, o que a televisão havia mostrado estava de
acordo com nossas recomendações. Perguntando à cliente se
costumava assistir àquele programa aos domingos, ela
respondeu que não perdia um. Então prossegui dizendo que
no domingo anterior à sua consulta fora exibida uma
reportagem sobre emagrecimento que revelava tudo aquilo
que eu dizia. Ela disse-me que sabia, que estava vendo o
programa, mas na hora da reportagem desligou a televisão e

29
foi fazer outra coisa. Disse-me que imaginou que o
programa da TV iria concordar comigo, mas que mesmo
assim continuaria a tomar as drogas perigosas.
O exemplo acima revela o grau de aprisionamento ao
fator estético a que muitas mulheres se encontram hoje em
dia. Aqui não se trata apenas de uma mudança de hábitos,
mas de uma mudança de mentalidade, de conceito, de auto-
estima.
Para as mulheres, emagrecer pode ser mais difícil
porque um fenômeno comum no sexo feminino, com o
passar dos anos, é a resistência à insulina. Sem entrar nos
aspectos técnicos desse fenômeno, podemos dizer que, ao
longo do tempo, as mulheres podem ter mais dificuldade em
queimar a glicose, que uma vez acumulada nos tecidos
corporais transformar-se-á em gordura. Assim, as mulheres
precisam ser quase sempre mais cuidadosas com a
alimentação rica em açúcar e gordura do que os homens.
Muitas doenças hormonais das mulheres causam ou
estão ligadas à “resistência à insulina”. Somado a isso, as
mulheres tendem a ser mais sedentárias do que os homens.
Quando começam a engordar, ficam ansiosas pelo aumento
de peso, o que ativa o centro cerebral da fome, e então,
como num círculo vicioso, engordam mais por não
quererem engordar mais.
A obesidade, então, tem que ser encarada de vários
ângulos, mas ninguém deve acreditar em milagres para
resolvê-la. Ela é um processo, e como tal deve ser tratada.
A ansiedade crônica é uma das formas mais eficazes
de engordar. O indivíduo ansioso aciona
automaticamente o centro da fome e não consegue
emagrecer de forma permanente, a menos que trate de
maneira séria a sua ansiedade e os demais problemas
emocionais.

30
É difícil tratar a ansiedade, pois ela resulta em
pressupostos ganhos. A ansiedade torna a pessoa mais
produtiva, muitas vezes viciada em trabalho, uma máquina.
É claro que há casos de doenças orgânicas,
glandulares, como o hipotireoidismo, que provocam
obesidade independente da saúde psíquica, mas estes casos
não correspondem à maior parte. Assim, é necessário fazer
exames médicos rigorosos antes de se tentar qualquer
tratamento.
Quanto às dietas, há tantos tipos delas quanto de
pacientes, e deve-se ter tanto medo de dietas quanto de
remédios. Muitas delas tornam a pessoa desnutrida, carente
de elementos necessários ao metabolismo, e podem
provocar vários danos. Uma dieta balanceada só pode ser
prescrita por um bom nutricionista ou um médico que
entenda do assunto. Fazer dieta por sua própria conta é
como tomar um remédio sem saber sua bula.
A obesidade pode trazer outras conseqüências, como
solidão, abandono, discriminação, dificuldade cada vez
maior de reconstruir a vida social e afetiva, diminuição do
desejo sexual, redução da capacidade e produtividade.
Há gordos que comem menos do que os magros.
Esses gordos têm um metabolismo lento dos alimentos e
nível de atividade física baixa. Fator hereditário é a
causa menos comum de obesidade.
As células reservatórias de gordura de nosso corpo
são chamadas de adipócitos. As pessoas gordas possuem,
em geral, células adiposas maiores e em maior número do
que as magras. Durante a infância e adolescência elas
aumentam em número e tamanho. Quando o gordo perde
peso, isso resulta em diminuição do tamanho das células
adiposas, mas não do seu número. Portanto, ele sempre terá
dificuldade em permanecer magro.

31
Há muitas pesquisas médicas no sentido de encontrar o
medicamento que reduza o número ou o tamanho das
células adiposas, uma vez estabelecidos. Nos próximos anos
acredita-se que esse tipo de tratamento será concretizado
pela ciência médica, o que resultará na melhor qualidade de
vida para cerca de 1/3 da população mundial. Há países,
como os EUA, onde mais da metade da população já se
encontra acima do peso devido aos hábitos alimentares
inadequados.No Brasil a população é composta de 40% de
obesos.
O ideal é prevenir o desenvolvimento das células
adiposas durante o período inicial de crescimento.

32
DICAS PARA UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL

* Os alimentos mais saudáveis, em geral, são os mais
baratos, simples e fáceis de preparar.
* Evite tomar muita água, suco ou refrigerante durante
as refeições. Tome água até meia hora antes ou duas horas
após as refeições. Tome bastante líquido nos intervalos.
* Procure saber o valor calórico dos alimentos, para
saber sempre o que está ingerindo.
* Procure comer preferentemente cereais integrais,
legumes, verduras e frutas com fibras: brócolis, salsão,
abobrinha, folhas, cenoura, laranja inteira (ao invés do
suco), etc.
* Prefira as carnes magras, preferentemente as brancas
(aves e peixes). Evite excesso de carne. Retire a pele e a
gordura da carne.
* Experimente usar o vapor para cozer hortaliças.
Além de ser mais rápido, menos trabalhoso e manter melhor
as propriedades das mesmas, ainda as deixa mais saborosas.
* Para tornar as hortaliças mais apetecíveis: procure
variar, comendo maior quantidade de dois ou três tipos
numa refeição e mude no dia seguinte; varie os temperos;
experimente, por exemplo, temperar as saladas com queijo
cottage, iogurte natural, molho vinagrete, ervas. etc.; varie o
modo de prepará-las: ora cruas, ora refogadas, ora no vapor,
ora na sopa.
* Evite comer antes de se deitar. Procure comer mais
durante o dia do que à noite.
* Tente comer pouco açúcar, principalmente o
refinado (não só porque engorda, mas porque é cáustico,
artificial e produz doenças), substituindo-o por açúcar
mascavo, mel, stévia ou adoçantes (embora também
artificiais, não contêm tantas calorias e são consumidos em
menor quantidade).

33
* Procure moderar o consumo de ovos (por causa do
alto índice de colesterol), álcool (o bom degustador bebe
pouco e lentamente, apreciando o sabor da bebida),
refrigerantes (mesmo os dietéticos, porque causam
hiperacidez e produzem celulite); alguns, como a coca-cola,
são tão cáusticos que podem ser usados para desentupir pia
ou amolecer crostas de ferrugem. Experimente.
* Coma pouco chocolate. Se você não consegue passar
sem ele, substitua-o por cacau em pó, sem açúcar. Uma
colherinha de café de cacau puro, dá mais sabor ao leite do
que uma colher de sopa de achocolatado.
* Nas refeições principais, procure terminar antes de se
sentir plenamente satisfeito. A resposta de saciedade do
organismo em geral é mais lenta do que a velocidade com
que as pessoas comem.
* Para não ficar esfomeado e comer vorazmente (como
os cachorros), coma algo leve (uma fruta, ou um iogurte, ou
um petisco, ou um suco ou um copo de leite) nos intervalos
ou um pouco antes das refeições. Um chá, cafezinho ou
fruta meia hora antes de uma refeição pode reduzir seu
apetite.
* Uma dica importante: “O que os olhos não vêem, o
coração não pede.” Evite ter na geladeira ou na despensa
aquilo que deve ser evitado.
* Muitas vezes o gordo come as mesmas coisas que o
magro, com algumas diferenças. Por exemplo: ambos
podem comer só um pedaço de queijo por dia, só que o
pedaço do gordo geralmente é muito mais grosso. Saiba
dosar sua comida. Compense a menor quantidade
saboreando melhor o alimento. Um humorista conhecido,
gordo assumido, disse que há dois tipos de gordo: o gordo
que come muito e o gordo que é mentiroso. Embora isto não
seja uma verdade absoluta, é uma piada boa para advertir
sobre o auto-engano.

34
* Os estudos médicos mostram que o colesterol
começa a se elevar na circulação sanguínea após a terceira
dose de qualquer bebida alcoólica. Evite passar da terceira
dose. Se, durante uma semana, a média de suas doses deu
mais de três por dia, seu colesterol estará aumentando e
conseqüentemente é maior o risco do infarto e outras
doenças cardíacas. A Organização Mundial de Saúde
considera alcoolismo o consumo médio de mais de três
doses diárias de qualquer bebida destilada ou o equivalente
de uma não destilada.
* Tenha na sua agenda um roteiro de hábitos a serem
seguidos diariamente e tente cumpri-los.
* Antes de ir ao supermercado, faça a sua lista do que
precisa e tente resistir à tentação de comprar o que não
consta dela. NUNCA VÁ AO SUPERMERCADO COM
FOME!
* Evite os “fast-foods”. Se você tem de comer fora, os
restaurantes “self-service” são uma opção melhor. Neles
você pode controlar melhor a quantidade de comida que
serve, geralmente há uma variada opção de legumes e
verduras, você pode treinar sua resistência às comidas
engordantes e ainda observa a interessante fauna dos que se
servem: os comedidos, os educados, os grossos, os
esfaimados, os trogloditas e os gordinhos, geralmente
escondidos atrás de pratos enormes, que são acompanhados
por lautas sobremesas e refrigerantes. Cuidado: os
restaurantes self-service também têm armadilhas para fazê-
lo comer demais: usam pratos enormes, nos quais parece
haver pouca comida quando já há muita, oferecem muitas
variedades para você escolher em maior quantidade, salgam
a comida para você ter sede e beber enquanto come, etc...

35
ALGUNS MITOS SOBRE ALIMENTAÇÃO
3


Mito: É possível perder 10 kg em uma semana.
Verdade: Quem nunca viu uma capa de revista com
essa promessa? Não acredite. A dieta diminui o
metabolismo e a maior parte do peso que é perdido na dieta
não é gordura. No início de qualquer perda rápida de peso
quase não se perde gordura alguma. A primeira reação do
corpo sob dieta é retirar do que é imediatamente disponível,
e isso não é gordura, mas glicogênio, um carboidrato
estocado em músculos e fígado. Com o prolongamento da
dieta, haverá perda de gordura, água, glicogênio e massa
magra (muscular). Daí a importância de se associar o
exercício à dieta, para manter e proteger a massa muscular.
Uma conseqüência indesejável do efeito rebote (aumento de
peso depois de um período de dieta) é que nessa segunda
fase ocorre também aumento do número de células que
armazenam gordura e a pessoa acaba ficando ainda mais
gorda do que estava antes.

Mito: Ginástica localizada reduz a gordura na área
trabalhada.
Verdade: O corpo retira gordura de todas as regiões do
corpo, especialmente de onde há maior quantidade, e não de
onde você exercita. A massagem contra celulite, por
exemplo, apenas espalha a gordura na região onde é feita.

Mito: Fazer exercício não emagrece.
Verdade: A curto prazo não emagrece, mas de forma
constante e regular eleva o metabolismo do corpo e é isso

3
Adaptado de Barbanti, V. J. aptidão f ísica - um convite à saúde.
Editora Manole Dois, São Paulo, 1990.

36
que irá aumentar a queima de calorias, mesmo quando você
estiver descansando.

Mito: Sauna emagrece.
Verdade: Só se você tomasse sauna várias horas por
dia, mêsmo assim ficaria desidratado e não magro. A
ressaca do porre do dia anterior pode melhorar, porque o
álcool é eliminado pelo suor, como bem sabem aqueles
motoristas que querem se safar do teste do bafômetro.
Enquanto esperam pelo exame ficam correndo e pulando
para suar e abaixar o nível alcoólico do sangue. Na sauna
você perde quase só água.

Mito: Não há problema em dirigir alcoolizado
Verdade: As estatísticas mostram que, em mais de 2/3
dos acidentes de trânsito, um dos envolvidos estava
alcoolizado. O álcool em excesso ainda tem muitas
conseqüências para a vida prática de todos os que o utilizam
dessa forma. Mais de 40% dos acidentes de trabalho
envolvem indivíduos alcoolistas. O suicídio entre alcoolistas
é 57% maior do que na população geral. Os institutos
médico-legais reconhecem essa terceira dose como a que
começa a alterar o cérebro, diminuindo os reflexos e o senso
crítico, portanto aumentando o risco de acidentes, de
suicídios e de homicídios.
Mesmo que beba só nos finais de semana, você pode
ser um alcoolista.

Mito: Quem faz muito exercício ou musculação precisa
de proteína extra.
Verdade: O músculo é feito de 70% de água e 22% de
proteína, e não o contrário. Quem se exercita ou faz
musculação precisa apenas de alimentação correta, nada

37
mais. O que é muito perigoso é o consumo exagerado de
proteína, que sobrecarrega o fígado e os rins.
Mito: Para emagrecer é melhor comer poucas vezes
durante o dia.
Verdade: Comer pequenas refeições mais vezes,
principalmente frutas e legumes, é mais eficiente para
reduzir o peso.

Mito: Não devemos comer nada gorduroso.
Verdade: Pelo menos 20% de nossa dieta deve ser de
gordura, pois elas contém ácidos graxos essenciais, nossa
maior fonte de energia. Alguns elementos, como as
vitaminas A, D, K, E, precisam de gordura para serem
transportadas pelo sangue.

Mito: Não há problema em ser gordo.
Verdade: A obesidade está relacionada a doenças
cardiovasculares, hipertensão, derrames, diabetes, artrites,
câncer, etc. Pessoas obesas possuem risco três vezes maior
de contrair diabetes e pressão alta. A gordura central,
pneuzinhos e a famosa barriga de chope, são indicadores de
colesterol elevado.

Mito: Posso comer gorduras à vontade, desde que me exercite.
Verdade: Mesmo atletas, com dieta inadequada,
aumentarão o colesterol do sangue, o que se transformará
em perigoso risco de doenças.

A doença cardíaca é uma doença silenciosa. O colesterol
vai entupindo os vasos, mas o coração só se torna
deficiente quando a obstrução dos vasos alcança cerca de
80%. As doenças do coração são a maior causa de morte
no mundo ocidental.

38
UMA DICA SOBRE O COLESTEROL

O nível do colesterol do sangue é um indicativo do
risco de doença cardíaca. Crianças também podem ter
colesterol elevado e deveriam fazer pelo menos uma
dosagem, porque há uma parte da população que tem o
colesterol elevado por problemas genéticos. As crianças
obesas, em especial, devem dosar o colesterol regularmente.
O colesterol deve ficar em um nível menor do que 200
mg/dl. Se o colesterol estiver acima de 230 mg/dl, o risco de
ataque cardíaco pode aumentar em até duas vezes; se estiver
acima de 300 mg/dl o risco de ataque cardíaco aumenta 4
vezes. Os cardiologistas acreditam que o ideal seria manter
o colesterol total sempre abaixo de 140mg/dl. O colesterol é
transportado no sangue ligado a uma proteína, denominada
lipoproteína. A soma do colesterol ligado a proteínas dará o
colesterol total. Essas lipoproteínas são tão importantes
quanto o colesterol total para indicar o risco da doença
cardíaca. Diz-se que há um colesterol bom, ligado à proteína
de alta densidade, chamada de HDL, e o colesterol ruim,
ligado às proteínas de baixa densidade, chamadas LDL e
VLDL. O HDL, a lipoproteína boa, deve estar em nível de
35mg/dl para cima (quanto mais alto o nível melhor), e o
LDL, a lipoproteína má, deve estar em nível abaixo de 130
mg/dl (quanto mais baixo o índice melhor).
Se essas últimas informações estiverem complicadas
para você, guarde pelo menos a informação abaixo.

Uma forma prática e muito utilizada pelos
cardiologistas para indicar o risco de cardiopatia
ligado ao colesterol é dividir o valor do colesterol
total pelo HDL. Uma relação superior a 4,5 indica
alto risco de doença do coração, enquanto uma
relação igual ou menor que 3,5 indica baixo risco.

39
ALGUMAS DICAS SOBRE CONSTIPAÇÃO
INTESTINAL (PRISÃO DE VENTRE)

A prisão de ventre pode ser um problema crônico,
principalmente entre mulheres. Isto decorre da educação
errada quanto à evacuação, de hábitos inadequados de
alimentação, de problemas hormonais, etc. As causas mais
comuns de constipação intestinal são: insuficiência de fibras
na dieta; pouca ingestão de líquidos; falta de exercício
físico; demora para evacuar quando se tem vontade;
medicamentos, principalmente o uso contínuo de laxantes.
O uso desses medicamentos pode ser perigoso e também
pode aumentar, ao invés de prevenir, o risco de constipação
intestinal, além de causar danos ao intestino.
Tenha horários regulares para as refeições, procure
ter uma alimentação rica em fibras. Tome muito líquido,
principalmente água, longe das refeições; procure ter um
horário regular para defecar, não deixe para evacuar muito
tempo depois que tenha vontade, mantenha um programa
regular de exercícios físicos.
Listamos abaixo alguns alimentos campeões em
fibras com seu teor de fibras solúveis e insolúveis.

ALIMENTO TOTAL DE FIBRAS EM GR AMAS
(EM ½ XÍCARA)
Alcachofra ............................................................................... 6,5
Feijão ..................................................................................... 5,8
Ervilhas verdes ........................................................................ 4,4
Maçã ........................................................................................ 3,7
Banana .................................................................................... 3,7
Amoras-Pretas ......................................................................... 7,2
Pêra (com casca) ..................................................................... 4,0
Ameixa Seca ............................................................................ 5,7
Morango .................................................................................. 3,4
Farelo de trigo ........................................................................ 9,7

40
Farelo de aveia ........................................................................ 4,3
Amêndoa torrada ..................................................................... 6,4
Amendoim torrado ................................................................... 6,1

Coma sempre devagar, procurando saborear o alimento.
De preferência, faça da hora da alimentação uma hora
sagrada, de concentração e meditação. Não faça negócios
enquanto está comendo, não discuta problemas com o
cônjuge ou com a família na hora da comida. A comida não
existe para matar a fome somente. A refeição é uma fonte de
satisfação do corpo e da mente. É um regozijo do corpo, da
mente e da alma. Quase todos os rituais religiosos e sociais
incluem um tipo de comida. Comer, portanto, é viver, é
participar, é ser.
Os distúrbios alimentares muitas vezes indicam
algum tipo de desequilíbrio emocional. Lembre-se de que
emagrecer não é só fazer regime ou perder peso. Envolve,
quase sempre, mudar hábitos, corrigir dificuldades afetivas
ou conjugais, diminuir ansiedades e depressão, equilibrar
problemas financeiros. Procure reconhecer a sua dificuldade
alimentar em vários planos; dessa forma a chance de você
conseguir um resultado consistente na manutenção do peso
será muito maior.

41
DO SEDENTARISMO À PRÁTICA DE
ATIVIDADES COM PRAZER

Outro fator importante para uma vida saudável e
condição para emagrecer é a prática de exercícios e
atividades físicas.
Exercícios físicos são sentidos como algo maçante e
cansativo para um grande número de pessoas, especialmente
aquelas que se acostumaram a uma vida sedentária. No
entanto, após um certo período de esforço, os exercícios
podem passar a ser uma atividade agradável. De início, o
que leva tais pessoas a praticarem exercícios são a
necessidade (por exemplo, prevenção ou tratamento das
doenças cardiovasculares, uma recomendação médica ou a
sensação de estar engordando) e a vontade de fazê-los
(como no caso dos atletas e desportistas ou para ter um
corpo bonito). Com o tempo, o sedentário vai descobrindo
que há benefícios inesperados na prática do exercício. A
vida sexual e o sono melhoram, a ansiedade e a depressão
diminuem. Em geral, o maior motivador do exercício é o
bem-estar que o seu praticante sente.
Os motivadores dos exercícios podem ser os motivos-
fins (desejar ficar bem, ter boa saúde, perder peso, ficar
atraente, etc.) ou motivos-meios (o exercício como lazer, o
prazer do jogador de futebol ao jogar uma pelada ou o
tenista ao jogar tênis) que são os mais importantes.
Apesar de todos sabermos os benefícios dos exercícios
físicos regulares, cerca de 50 % das pessoas são
completamente sedentárias, e apenas 10% praticam algum
exercício físico regular vigoroso.
Suzana, uma mulher de vida sedentária , paquerava
Roberto, seu colega de trabalho, que parecia não ter
interesse nela. Roberto corria todo fim-de-tarde, após
deixar o expediente. Um dia Suzana disse-lhe que gostaria

42
de correr também, mas que não tinha disposição e nem
fôlego para isso. Roberto convidou-a para acompanhá-lo em
uma caminhada. A partir de então, passaram a caminhar
juntos, e ao final de cada jornada, paravam para tomar suco
ou água de coco e ficar batendo papo. Não se tornaram
namorados, mas ficaram bons amigos: Suzana tinha quem a
estimulava a correr e passou a se sentir mais disposta, mais
magra e mais bonita. Roberto, que antes corria sozinho,
passou a ter uma agradável companhia.
Juliana, uma amiga nossa, que há dois anos se
divorciou, passou por uma transformação radical. De
repente começou a estudar para um novo vestibular, parou
de fumar, entrou para uma academia de ginástica. Uma
amiga fez-lhe o seguinte comentário: “Nossa, como você
está mudada! Só pode estar de namorado novo”. Muitas
vezes, quando uma mulher sedentária começa a praticar
exercícios de forma regular, pensa-se logo que está de
namorado novo ou pretendendo um.
Paulo havia passado por perdas irreparáveis em sua
vida. Perdera o pai, a pessoa que mais amava na vida, seu
conselheiro de todas as horas, e pouco depois começou a ir
mal nos negócios. Ficou deprimido e passou a tomar
antidepressivos. Sua produção caiu e tentou compensar
trabalhando mais. Ao passar mais horas no trabalho
começou a ter problemas com a esposa, que reclamava sua
presença em casa. Depois de um tempo, ela engravidou.
Com tantas demandas, a depressão de Paulo piorou e sua
mulher também ficou deprimida. Depois de alguns anos de
antidepressivos, psicoterapia e muitos problemas sendo
resolvidos ao mesmo tempo, a vida de Paulo estava bem
melhor, mas ainda havia algo que não ia bem. Se
interrompia os antidepressivos voltava a piorar. A chave do
sucesso para Paulo foi o exercício físico. Começou a
praticar um tipo de arte marcial, a convite de um amigo.

43
Gostou do exercício. Com o passar do tempo, sentia-se cada
vez melhor e iniciou também uma caminhada matinal.
Começou a andar mais, mesmo nas horas de serviço,
subindo escadas, andando quarteirões até o trabalho,
fazendo bicicleta em casa. A mudança de seus hábitos
sedentários para a prática de exercícios foi o que
proporcionou, afinal, a retirada dos antidepressivos. A
explicação: nosso organismo fabrica um tipo de
antidepressivo natural, a endorfina. Os exercícios físicos
regulares estimulam o organismo a naturalmente produzir
essa substância, que tem efeito antidepressivo. As
endorfinas encontram-se em níveis muito elevados em
corredores de maratonas, por exemplo, e esse tipo de atleta é
muito susceptível à depressão depois que encerra sua
carreira. Precisa continuar correndo sempre para manter as
endorfinas em níveis que tinha ao tempo de competição.
O problema do exercício na sociedade atual decorre da
forma como vivemos, principalmente nas grandes cidades.
Nossos avós comiam carne de porco e cozinhavam os
alimentos na banha de porco e no entanto, naquela época,
não havia tanta gente gorda. A razão é que, sem o
comodismo da vida moderna e nem a oferta de comida
artificial de hoje em dia (as fast-foods ou mais propriamente
junk-foods), tinham um gasto calórico maior que o nosso e
menos adiposidade e celulite. Hoje somos uma sociedade de
paralisados, porque é chique ter tudo automático. Carros
cujos vidros levantam apenas com um apertar de botões,
elevadores que respondem ao comando verbal, escadas
rolantes, facilidades automotivas. Na verdade, fazer
exercícios físicos, em nossa época, tornou-se um imperativo
de saúde. As calorias ingeridas (são muitas, pois nossa
alimentação é errada, estimulada pela indústria de
alimentos) não são adequadamente gastas e se acumulam em
forma de glicose ou de colesterol no organismo. Estamos

44
sempre lutando contra o excesso de gordura, algo com que
os antigos não se preocupavam. Há duas formas de não
acumular açúcar e colesterol no organismo: ingerindo pouco
ou gastando mais. Para gastar mais, temos que fazer
exercícios.
A equação sedentarismo + dieta calórica é a
responsável pelo absurdo aumento da obesidade em nossos
dias. Em muitos países ocidentais a população de obesos já
é igual ou maior do que a de não obesos. Como nossa dieta
ocidental é inevitavelmente calórica, porque somos já
acostumados desde a infância a comer guloseimas,
estimulados pelo consumo de alimentos industrializados,
muitas vezes é mais fácil procurar gastar mais calorias do
que não ingeri-las, já que o hábito alimentar é quase como
uma impressão digital. Com a ciência do esporte
aprendemos que fazer exercício não é assim também tão
fácil: sair correndo a qualquer hora e de qualquer maneira.
Fazer exercícios sem aconselhamento médico ou
fisioterápico e orientação de um professor de educação
física, pode ser até prejudicial à saúde. Os mais comuns são
os exercícios específicos para a musculatura localizada
(musculação, levantamento de peso, etc.) e os exercícios
aeróbicos, os melhores para uma boa saúde (nadar, correr,
andar de bicicleta, jogar futebol, etc.). Para quem não pode
fazer exercícios de impacto, especialmente para os mais
velhos, está em voga hoje a hidroginástica, geralmente
acompanhada de música, dança e movimentos rítmicos que
a tornam bem agradável.
Sabemos que os hipertensos e os cardíacos devem fazer
exercícios com muito cuidado, pois eles podem piorar a sua
doença. Os exercícios aeróbicos são bons para essas pessoas
apenas de acordo com sua capacidade cardíaca.

45
Mesmo as pessoas que não têm doenças circulatórias
têm um limite para exercícios. Portanto, exercitar é bom,
mas é melhor ainda saber como fazê-lo de forma saudável.

46
EXERCÍCIO E ENVELHECIMENTO

Fazer exercício claramente retarda o envelhecimento de
vários órgãos. A capacidade aeróbica de uma pessoa
fisicamente ativa, praticando regularmente exercícios
vigorosos, aumenta de tal maneira que um homem de 50
anos é capaz de manter a capacidade aeróbica de um jovem
de 20 anos.
Com o passar dos anos, ocorre redução gradativa e
atrofia da massa muscular, fenômeno mais acentuado após
os 60 anos. A prática de exercícios regulares é capaz de
aumentar a retenção de proteínas nos músculos e diminuir
significativamente a perda de massa muscular. Em um
trabalho relatado no livro Fisiologia do Exercício - Energia,
Nutrição e Desempenho Humano, de William D. McArdle e
colaboradores (Editora Guanabara-Koogan, 1995), realizado
com homens de 70 anos submetidos a treinamento de
resistência desde os 50 anos, concluiu-se que a força
muscular foi preservada em um nível equivalente a de
homens de 28 anos de idade.

Qualquer que seja a idade da pessoa, ela é capaz de
recuperar a capacidade funcional de vários órgãos
através dos exercícios regulares.

O exercício físico influencia positivamente a resposta
neurológica, preservando reflexos que seriam perdidos com
o tempo de uma vida sedentária. Pessoas idosas que se
exercitam por pelo menos 20 anos seguidos podem ter
reações neurológicas comparáveis a pessoas na faixa dos 30.
O mesmo acontece com a capacidade cardíaca. O exercício
regular proporciona um funcionamento cardiovascular
muito superior aos indivíduos da mesma idade, porém
sedentários. Comparando resultados de homens ativos e

47
sedentários quanto à performance cardiovascular, os
pesquisadores chegaram a encontrar diferenças de até 10
anos entre a capacidade de ambos. O treinamento com
exercícios aeróbicos é capaz de melhorar a capacidade
cardíaca de idosos, no mesmo grau relativo que ocorre em
adultos mais jovens. Após 12 meses de treinamento, a
capacidade pulmonar pode aumentar em até 20%. A
resposta dos órgãos, nervos e músculos ao exercício ocorre
em qualquer idade, revertendo o processo de atrofia. Está
provado cientificamente que uma melhor aptidão física
retarda o processo de envelhecimento, proporciona saúde e é
um fator fundamental na longevidade, embora não o único.
Todos esses lembretes acima não são apenas para os
mais idosos. Quanto maior o tempo de exercício, maior o
ganho, ou seja, se o indivíduo iniciar exercícios ainda jovem
e mantê-los até a idade avançada terá seguramente uma vida
com muita saúde até longo tempo, ou seja, o exercício físico
passou a fazer parte de um estilo de vida.

Não há diferenças significativas entre a lingevidade
de atletas e não atletas, mas sim entre a longevidade de
indivíduos sedentários e a daqueles fisicamente ativos,
com uma evidente vantagem para os últimos.

Um famoso estudo sobre estilo de vida foi realizado
com 17.000 estudantes da Universidade de Harvard,
comparando os hábitos daqueles que faziam exercício
aeróbico moderado e os sedentários. Nesse trabalho, os
resultados demonstraram que o exercício regular pode
neutralizar efeitos nocivos do tabagismo e da obesidade,
reduzir pela metade o risco de morte de hipertensos, e

48
aumentar a expectativa de vida em pessoas predispostas a
morte súbita antes dos 65 anos por fatores genéticos.
4

Um aspecto interessante desse estudo: ficou
demonstrado que a expectativa de vida aumentava com o
exercício até um dispêndio de energia de 3.500 kcal por
semana. A partir desse limite, não havia ganhos para a saúde
e a longevidade. Além disso, quando o exercício era levado
aos extremos, havia uma taxa de morte maior do que para os
sedentários.
Conclusão: o exercício regular e moderado é o mais
adequado para a manutenção da saúde e a longevidade.
As doenças do coração estão definitivamente
relacionadas ao sedentarismo. O sedentário tem um risco
duas vezes maior de morrer do coração do que o fisicamente
ativo. Basta uma atividade física de ligeira a moderada,
porém constante, para se obter efeito benéfico na prevenção
de doenças do coração.

Existe uma associação entre aptidão física e
prevenção de doenças em geral, mas o órgão que
tem o maior benefício com o exercício é o coração.
A prática de exercícios leves e regulares, por si só, já
reduz em 3 vezes o risco de mortes por cardiopatia.









4
Esse estudo está publicado na revista médica New England Journal of
Medicine, número 314:605, 1986.

49
EFEITO DA ATIVIDADE FÍSICA SOBRE AS DOENÇAS
(Adaptado de De Blair, S. N.: Physical activity, physical fitness, and health. Res.
Q. Exerc. Sports: 64:365, 1993.)

CONDIÇÃO OU DOENÇA EVIDÊNCIA DA REDUÇÃO
DA CONDIÇÃO OU D OENÇA

Todas as causas +++
Doenças do Coração +++
Pressão Alta ++
Obesidade ++
Câncer do intestino ++
Diabetes ++
Osteoporose ++
Derrame Cerebral (AVC) +
Câncer de Mama +
Câncer da Próstata +
+++ = o exercício reduz significativamente esse tipo de doença ou condição
++ = o exercício pode ajudar a reduzir esse tipo de doença ou condição
+ = há evidência de que o exercício possa reduzir esse tipo de doença ou condição.

Exercícios necessários para um dispêndio de 2.000
kcal/semana
(Adaptado de Nóbrega, C.T. et al. Rev. Bras. Med. Esporte, 2:79-81, 1996)

ATIVIDADE TEMPO DIÁRIO TEMPO DIÁRIO
(7 X SEMANA) (5 X SEMANA)
Caminhar no plano 51 min 1h11min
Correr devagar 30min 42min
Correr moderado 21min 30min
Correr rápido 18min 25min
Pedalar (9 km/hora) 1h04min 1h29min
Jardinagem 41min 57min
Dança de Salão 1h20min 1h52min
Fazer compras 1h08min 1h35min
Nadar (crawl rápido) 26min 37min
Squash 19min 27min
Tênis 37min 52min
Varrer carpete/tapete 1h31min 2h07min

50
QUAL O SEU RISCO PARA TER DOENÇA DO CORAÇÃO?

Se você tem uma ou mais de uma das condições abaixo,
é aconselhável procurar um cardiologista:
1) Idade superior a 40 anos (homem)
2) Idade superior a 50 anos (mulher)
3) Parente próximo com doença do coração
4) Peso 10 kg acima do esperado para sua altura
5) Fumante
6) Sedentário
7) Colesterol acima de 200 mg/dl
8) Pressão arterial igual ou acima de 140/90

Obs.: Você encontra os testes acima e o Índice Biosofia de Qualidade
de Vida (teste que mede a sua qualidade de vida baseado nos sete
pilares) em nosso site www.biosofia.com.br. Ao fazer os testes no site,
poderá submetê-los à avaliação dos autores que lhe darão seus
comentários e sugestões. No site você também encontrará sugestões de
links interessantes, onde poderá encontrar subsídios para implementar
sua qualidade de vida em vários setores.

51
ALGUMAS DICAS PARA COMEÇAR A MUDAR
SEUS HÁBITOS SEDENTÁRIOS

* Não faça exercícios sem orientação de um
especialista e sem antes ter feito uma avaliação médica e
fisioterápica, para evitar riscos à sua saúde, contusões e
dores. Feito isto, comece logo o seu programa de exercícios.
Aquilo que de início poderá ser sentido como chato e
cansativo, em pouco tempo virará um hábito e chegará um
momento em que o seu próprio corpo pedirá por exercícios.
É sinal de que ele já estará condicionado.
* Você não precisa ser um atleta (especialmente de
fim-de-semana, o que é péssimo), mas deve cuidar bem do
seu corpo se quiser que ele seja o seu veículo e não uma
carga. Você pode simplesmente levar uma vida menos
sedentária. Evite as armadilhas da vida moderna: controles
remotos, carros automáticos, elevadores, etc. Use suas mãos
e pernas sempre que possível.
* Procure criar o hábito de praticar alguma atividade
física regularmente, pelo menos três vezes por semana:
caminhada, ginástica, hidroginástica, natação, dança, etc. O
exercício físico regular e moderado, além de prevenir
doenças cardiovasculares, articulares, respiratórias e outras,
ajuda a eliminar as toxinas do organismo, melhora a
circulação periférica, aumenta a disposição física e mental.
Uma caminhada de quarenta minutos por dia pode ser o
remédio ideal que você ainda não experimentou. Assistir
televisão tendo alguma tarefa manual também é bom;
brincar com crianças é uma ótima forma de gastar energia,
assim como cuidar do jardim, lavar o carro, etc. Prefira
esportes aeróbicos, tais como natação, corrida, ciclismo.
Não ultrapasse o seu limite, faça do exercício um prazer,
não mais um peso na sua vida diária.

52
* Procure estruturar o hábito de evacuar diariamente
no mesmo horário. Isto facilita o condicionamento. Existem
exercícios que ajudam o peristaltismo intestinal. A melhoria
da alimentação também ajuda muito, sem que seja preciso
recorrer a laxativos, que devem ser evitados.
No início de todo programa de exercício físico regular é
útil fazer uma avaliação prévia de aptidão física. Caso você
pratique exercícios sem fazer essa avaliação, há uma regra
que ajuda, mas não elimina a necessidade da avaliação
periódica (médica e fisioterápica). Determine a faixa ideal
de freqüência cardíaca a ser mantida durante a atividade
física, tomando como base a freqüência cardíaca máxima
(FCmáx). Existem algumas fórmulas para calcular a
freqüência cardíaca máxima, você pode calcular a sua com a
ajuda de um cardiologista, um professor de educação física
ou um fisioterapeuta. Assim você saberá o limite que seu
coração poderá atingir sem risco durante um exercício. Para
propósitos de segurança, mantenha-se sempre numa
freqüência cardíaca em torno de 80% da FCmáx durante seu
exercício.
Atenção! Se adquirir o hábito de caminhar pela manhã,
não se levante e vá logo andar. É ideal esperar pelo menos
uma a duas horas antes de passar do tempo de repouso
(sono) ao de exercício. Portanto, leia o jornal, faça o café, vá
aguar o jardim e conversar um pouco com os vizinhos que
também acordem cedo antes de ir caminhar. Isso, por si só,
diminui a chance de você ter um infarto enquanto caminha.
Também há recomendações especiais para os diabéticos que
adquirem o hábito de caminhar. É que nessas pessoas, o
exercício modifica o metabolismo da glicose, e eles podem
ter picos de hiperglicemia ou de hipoglicemia dependendo
do tempo de jejum antes da caminhada ou da queima de
glicose durante o exercício. Este é um caso especial que
precisa da recomendação médica para a iniciação e a

53
manutenção do exercício regular. Não estamos querendo
dizer que o diabético não deva fazer o exercício. É
exatamente o contrário, ele deve e precisa, mas não pode
prescindir de acompanhamento médico.

54
UM BOM SONO PARA UM BOM DIA

Um sono tranqüilo e repousante é essencial para a
manutenção de uma boa saúde física e psíquica, além de ser
condição para se ter eficiência e qualidade no trabalho.
Normalmente o sono passa por duas fases principais,
mas a mais importante é a fase de sono dessincronizado,
chamada de REM (rapid eyes movement), durante a qual
várias substâncias são secretadas em nosso organismo, em
especial os hormônios. Durante a fase REM é que
sonhamos, nossos olhos se mexem e também nossos
membros ficam relaxados. É um sono profundo. A outra
fase é a do sono NREM (no rapid eyes movement), de sono
sincronizado. Estas duas fases de sono se alternam durante a
noite, em intervalos de uma a duas horas. Se não dormimos
bem, podemos alterar nosso sono REM, que é o principal.
Durante ele, o organismo reorganiza as substâncias das
informações dos neurônios (os neurotransmissores), reativa
a memória, regula a temperatura, etc.
Um sono repousante é fundamental para uma boa
disposição e um bom equilíbrio emocional. O sono não é
apenas um momento de descanso. Há uma vida de vigília e
há uma vida do sono e nela nosso organismo trabalha
ativamente, restaurando suas funções para o dia seguinte.
Em verdade, o indivíduo não precisa dormir muito, mas sim
encontrar o seu padrão ideal de sono e cuidar para que ele
seja repousante e reanimador, pois desta forma conseguirá
passar por todas as fases de sono. Caso ele não tenha
suficientes picos de sono REM durante uma noite, não se
sentirá descansado no dia seguinte e muito do seu
metabolismo e de seu funcionamento hormonal ficará
prejudicado. Para isto, cada um de nós tem que encontrar o
seu ritual e seguir algumas regras que valem para todos. Por
exemplo, evite comer ou beber em excesso antes de dormir.

55
O sono induzido pelo álcool é um sono de péssima
qualidade. Muitas pessoas usam chás antes de dormir,
porém alguns contêm estimulantes e serão prejudiciais ao
sono. Seu colchão deve ser adequado e trocado
regularmente, seu quarto não deve ser barulhento. Dormir
com instrumentos ligados e luzes acessas também não são
bons hábitos.
Se você pensa que dormir é apenas desligar-se do
mundo está totalmente enganado. Durante o sono, nossa
vida vegetativa e psicológica continua a todo vapor.
Processos de fabricação de hormônios, digestão de
alimentos, eliminação de toxinas, além do complicado
mundo dos sonhos, tornam o um terço de nossa vida em que
dormimos, um período muito especial.

56
É EXTREMAMENTE NECESSÁRIO DORMIR BEM

As principais doenças do sono são: insônia, apnéia
(distúrbio da respiração), narcolepsia, bruxismo, terror
noturno, sonambulismo. Todas elas afetam por demais a
qualidade de vida, tanto das crianças quanto dos adultos.
Vamos falar brevemente sobre as mais comuns.

a) Insônia
Pode significar a dificuldade de iniciar o sono,
despertar várias vezes durante a noite, acordar no meio da
noite e não dormir mais, ou dormir muito e acordar sentindo
que não dormiu. As pessoas que têm insônia acordam
cansadas e têm baixa produtividade durante o dia.
A maioria dos insones sente-se cansada no dia seguinte,
tem dificuldades de concentração e memória. Em geral são
mais irritadiços e têm baixa produtividade no trabalho e nos
estudos. O diagnóstico da insônia, então, pode ser feito
sobre “o dia seguinte”.
A insônia tem causas físicas e psicológicas. A
ansiedade e a depressão são grandes causadoras de insônia.
Ingestão de medicamentos e também de álcool podem
causar insônia.
Mas a principal causa de insônia é a ansiedade. A tensão
emocional não deixa o indivíduo desligar-se de seu dia a dia
para repousar. Ele está sempre pré-ocupado, e não fica no
aqui e agora para conseguir repousar. Quer que o dia
seguinte chegue logo, para resolver os problemas e o que
acontece é que o dia seguinte demora muito mais a chegar.
Deve-se ter muito cuidado com os remédios para
insônia, os hipnótico-sedativos, pois eles têm um grande
poder de adição (provocar vício) e tolerância (requerer doses
sucessivamente maiores para ter efeito). O uso seguro de
hipnóticos requer a prescrição adequada e, principalmente, o
acompanhamento da mesma pelo médico que a prescreveu.

57
Freqüentemente as pessoas que sofrem de insônia recebem a
primeira receita de um médico especialista e as
subseqüentes de um médico amigo, ou amigo do amigo, ou
parente, etc., muitas vezes não especialista e que pouco sabe
sobre a real indicação do medicamento.
Nunca tome hipnóticos ou sedativos sem o
acompanhamento constante de seu médico especialista.

b) Apnéia
A apnéia noturna, ou seja, um distúrbio do sono em que
se tem pequenas paradas respiratórias durante a noite, pode
ser um grande causador de insônia. Geralmente a pessoa
acorda assustada e nervosa durante a parada respiratória.
Uma das principais causas de apnéia do sono é a obesidade.
Várias doenças neurológicas e glandulares podem também
alterar o sono.
A dispnéia ou hipopnéia noturna é uma pequena
interrupção ou redução da respiração por alguns segundos
(geralmente até 5 segundos) várias vezes durante a noite.
Quando a interrupção do ritmo respiratório é mais
acentuado, caracteriza-se como apnéia. O indivíduo tem a
sensação de estar se afogando ou de querer acordar sem
conseguir. Algumas alterações físicas podem estar entre as
causas: aumento das adenóides ou das amídalas, pólipos
nasais, sinusite crônica, obstrução nasal, flacidez da
musculatura e das paredes da faringe e da laringe. A
obesidade é uma grande e freqüente causadora. O ronco
noturno alto está relacionado à apnéia noturna. Quase
sempre, onde há um, há o outro.
Durante o sono das pessoas normais podem ocorrer
apnéias ou hipopnéias, mas quando elas ocorrem em número
maior do que 5 por hora, ou 30 por noite, a qualidade do
sono pode ser tremendamente prejudicada. Geralmente as
pessoas têm medo de morrer durante a apnéia do sono, mas

58
isso raramente acontece, pois a falta de oxigênio estimula a
respiração, como um reflexo. No entanto, isto pode causar
uma crônica ansiedade ou crises de angústia. O maior sinal
de apnéia noturna é o ronco. O indivíduo entremeia períodos
de ronco com silêncios, seguidos de breves acordares dos
quais não se lembra. É um sono todo entrecortado e de
péssima qualidade. Durante o dia essas pessoas ficam
extremamente sonolentas e monótonas.
c) Ronco
O ronco é um sinal de alerta. Ao invés de rirmos do
roncador, devemos encaminhá-lo a um especialista. Ele tem
o que os médicos chamam de “garganta flácida”. Durante o
sono, as paredes da garganta vão se fechando e o contato
entre elas produz uma vibração que é o ronco. A respiração
do roncador é descoordenada e pelo fechamento da garganta
ele tem muitos períodos de apnéia. Alguns casos podem
ilustrar a importância destes distúrbios do sono.
Pedro havia se casado há 8 meses quando começou a
ter dificuldades de ereção no relacionamento com sua
esposa, que era jovem e bonita. Pedro também era jovem,
com 28 anos, de boa saúde, compleição atlética, não fumava
e nem bebia. Quando fomos pesquisar os fatores de sua
dificuldade sexual, descobrimos que era falta de sono.
Trabalhava há 16 meses como vigia de uma casa noturna,
trocando a noite pelo dia. Seu trabalho não era cansativo,
mas sentia que durante o dia nunca recuperava o sono que
perdera à noite, estava sempre desconcentrado e de mau
humor. Orientado sobre a causa e a gravidade dessa
situação, tratou logo de buscar um emprego diurno. Após a
mudança de emprego e a recuperação do sono noturno seus
problemas sexuais desapareceram como num passe de
mágica.
Augusto é um vizinho de nosso consultório, obeso e
bonachão, que gosta bastante de um bate-papo e de uma

59
cervejinha. Relatou-nos que, junto com alguns casais
amigos, havia ido a um sítio, onde os dormitórios se
compunham de dois grandes quartos, um para os homens, e
o outro para as mulheres. Foi aí que Augusto se tornou o
personagem do sítio. À noite roncou alto em todos os tons,
com assovios, notas musicais, etc. e seu sono agitado
incomodou os companheiros de quarto. Os homens o
imitavam e ele ficou num estado de embaraço completo,
pois não conseguia desvencilhar-se das gozações. No dia
seguinte ao do retorno do sítio, procurou-nos e conversamos
com ele seriamente. Dissemo-lhe que havia tratamento para
o ronco, mas que se parasse de beber e emagrecesse era
possível que o ronco desaparecesse. Ele cumpriu à risca a
prescrição e 6 meses depois havia emagrecido 15 kg e não
estava bebendo mais. Posteriormente voltaram ao sítio para
mais um passeio e Augusto não foi mais alvo das chacotas.
Estava mais alegre e brincalhão. O ronco havia desaparecido
e ele passou a dormir tranqüilamente.
O caso de Pedro, que trabalhava à noite, é tão comum
que já existe uma doença catalogada como Distúrbio do
Sono dos Trabalhadores de Turno. Sabe-se que esses
trabalhadores apresentam risco aumentado para doenças do
coração, do aparelho digestivo e têm mais riscos para
infertilidade. Situações como a de Augusto, em que existe a
associação da obesidade com o ronco, somada ao
alcoolismo, podem levar também à depressão, ansiedade e
hipertensão arterial.
O fato do indivíduo que ronca não ouvir o seu ronco faz
com que ele não busque ajuda, como também o fato de
acreditar que é algo inócuo à sua saúde. O ronco prejudica a
saúde do próprio indivíduo e também as dos que convivem
com ele, pois não só ele, como também os que com ele
convivem, não dormem direito.

60
Para saber se você sofre desses problemas, responda às
perguntas a seguir:

Você leva muito tempo para adormecer depois de
apagar as luzes?
Você acorda muitas vezes durante a noite?
Você leva muito tempo para voltar a dormir se acordar
no meio da noite?
Você ronca durante a noite?
Você respira mal durante a noite?
Você fica inquieto durante a noite, mexendo o tempo
todo?
Você acorda com sono, mesmo depois de dormir uma
noite inteira?
Você dorme pouco durante a noite? Menos de 6 horas?
Você dorme muito durante a noite? Mais de 12 horas?
Se respondeu sim a algumas destas perguntas você deve
dormir mal. Cuide-se!
Há algumas coisas com as quais você deve se precaver
para ter um sono melhor. A maioria das drogas ilícitas
prejudicam o sono: maconha, cocaína, LSD, ecstasy, etc.
Não é preciso pedir para você evitá-las. Entre as lícitas,
cigarro, álcool, cafeína e anfetaminas são terríveis. Muitos
analgésicos, anti-gripais, xaropes e outros remédios
possuem cafeína ou anfetamínicos em sua fórmula. Evite os
comprimidos para dormir, principalmente os calmantes tipo
diazepam, ou da mesma família. Eles provocam vício com
muita facilidade. Depois de um tempo você não mais
conseguirá dormir sem eles.

61
DICAS PARA UM SONO TRANQUILO

* Tenha um horário regular para dormir e despertar.
* Tenha um bom colchão e um quarto silencioso.
* Evite dormir com luz acesa, aparelhos de TV e rádio
ligados, barulhos de fundo.
* Use roupas leves à noite.
* Não coma muito à noite.
* Não use álcool próximo à hora de dormir.
* Evite atividade física intensa próxima à hora de
dormir.
* Após o jantar procure estar calmo, deixe seus
problemas no trabalho.
* Não acumule problemas dos outros e não os leve
para a cama.
* Acredite que dormir bem pode mudar a sua vida.
* Tente dormir na “posição fetal”, de lado, com as
pernas levemente dobradas. O colchão e o travesseiro
devem acomodar o corpo naturalmente, mantendo a coluna
em postura natural e confortável. Se você dorme em
decúbito dorsal (de barriga para cima) e ronca ou sofre
dispnéia durante o sono, cole uma bolinha de ping-pong no
meio das costas; ela o obrigará a se virar cada vez que ficar
naquela posição.
* Se você tem dificuldade em conciliar o sono,
sugerimos que tente fazer relaxamento. Isto pode ser
conseguido com músicas suaves e relaxantes ou com algum
dos CDs e fitas de relaxamento encontrados em lojas. Evite
ficar pensando nos seus problemas e compromissos
enquanto está deitado(a).
Se, no entanto, seu problema de sono é persistente,
recomendamos procurar a ajuda de um especialista
(neurologista, psiquiatra ou psicólogo). Não tome remédios
tranqüilizantes ou indutores do sono por conta própria.
Além de perigoso, os efeitos podem ser indesejáveis.

62
Quanto aos sonhos, podemos assegurar que não se
deve interpretá-los de maneira simplista, pois podem
significar coisas muito diferentes: associações com eventos
do dia-a-dia, lembranças reprimidas da infância, material
oriundo do inconsciente, emoções e sentimentos diversos,
estímulos recebidos durante o sono, mensagens
premonitórias, etc. Em geral é uma salada de várias coisas.
Para que sejam interpretados adequadamente, é preciso
relacioná-los a outros aspectos da vida. Não interprete seus
sonhos de maneira simplista. Somente um bom psicólogo,
com boa formação nesta área, poderá ajudá-lo a interpretá-
los.
Para que você entenda a diferença entre dormir bem
e dormir mal, faça o seguinte teste. Durma no quarto de um
apartamento de cidade grande. Esse, com alguma
probabilidade, será mesmo o seu, pois a maioria das pessoas
hoje vive em apartamentos em ruas barulhentas de grandes
cidades. Passe então o fim de semana em um sítio, uma
pousada na zona rural, um hotel fazenda, por exemplo, onde
haja o mínimo de barulho de fundo. Procure comparar as
duas sensações ao acordar. Ao dormir no hotel fazenda,
parece que você dormiu muito mais horas do que na cidade,
como parece também que você descansou muito mais
durante a noite. O resultado foi exatamente esse. Não
havendo interferência dos fatores externos, seu sono foi um
sono mais natural, espontâneo e completo em todas as suas
fases.
Tente fazer esse exercício regularmente, se você não
tem como fugir do barulho da cidade. Quando possível,
procure um lugar sem ruído de fundo para dormir: um sítio,
uma casa no campo, uma pousada. Faça disso uma prática
regular em sua vida. O resultado virá a médio e longo prazo.

63
SEU TRABALHO PODE SER UM PRAZER A
MAIS

Estar trabalhando já é em si terapêutico. A desocupação
leva ao tédio, à insatisfação consigo próprio, à diminuição
da auto-estima, além de trazer diversos problemas
psicológicos para o indivíduo. Freqüentemente notamos
pessoas que se aposentam ou deixam de trabalhar passam a
ficar deprimidas, insatisfeitas e até neuróticas. Mesmo quem
se aposenta deveria se dedicar a alguma atividade de que
gostasse, desde que tenha condições para isso.
O prazer no trabalho deverá ser o principal requisito do
profissional bem-sucedido do século 21, mais que seu
conhecimento ou sua capacidade de agir e decidir. É
preferível estar trabalhando no que se gosta ganhando
menos, do que ganhar mais, fazendo um trabalho de que não
se gosta.
Se você não está satisfeito(a) com seu trabalho,
comece a pensar no que poderá fazer para mudar a situação,
seja tentando torná-lo menos enfadonho, seja mudando de
atividade ou de emprego, o que não é fácil para a grande
maioria das pessoas que não pode se arriscar num país com
elevado índice de desemprego. Entretanto, sempre haverá
algo que você possa planejar para fazer na ocasião oportuna.
As questões de qualidade de vida interessam
diretamente às organizações, pois hoje se sabe que a
prevenção em saúde e o bem-estar do trabalhador são
fatores fundamentais para o seu rendimento e a sua
produtividade.
A baixa qualidade de vida, o estresse, a obesidade, o
sedentarismo, a falta de disposição física, a ansiedade, a
solidão, a depressão e outros problemas similares, trazem
como conseqüência para a vida do trabalhador na empresa:
· queda de produtividade;

64
· redução da capacidade e qualidade do trabalho;
· absenteísmo (faltas freqüentes);
· aumento das despesas médico-hospitalares;
· rotatividade de mão-de-obra.

Hoje há máquina para tudo. A máquina substitui o ser
humano e a cada dia há menos emprego. Mas esta mesma
máquina é preparada pelas pessoas, ela só faz aquilo que foi
comandado. O que nunca será superado será o trabalho
criativo do ser humano. A pessoa moderna substitui o
trabalho maçante e enfadonho pelo trabalho criativo, que é
prazeroso em si, além de gerar novas possibilidades. Os
antigos viviam sob a ordem do dever, e assim o trabalho
estava acima de tudo, mesmo quando ele era sem sentido,
apenas para sobreviver ou pagar as contas. Hoje em dia,
ganha-se dinheiro e trabalha-se para ter prazer, para viajar,
ter bens de consumo, educar melhor os filhos. O próprio
trabalho deve ser feito com prazer. Incluir prazer em seu
trabalho é fundamental para sua qualidade de vida.
Arlete, uma funcionária pública federal, com 46 anos,
separada, estivera acomodada durante 15 anos, em um
trabalho rotineiro. Exercia uma função de nível médio,
embora tivesse curso superior de pedagogia. Jamais exercera
a profissão de pedagoga, da qual também não gostava.
Estava sem aumento de salário há 6 anos, via-se sem
condições de manter o seu padrão de vida de classe média e
poder educar adequadamente seus dois filhos. Tentou alguns
concursos mas não conseguiu ser classificada. Para
aumentar sua renda, começou a fazer bolos decorativos,
doces e salgados (algo que havia aprendido com sua mãe e
de que gostava) para festas de seus amigos e colegas. Em
pouco tempo não estava mais dando conta sozinha dos
pedidos e além da ajuda de seus filhos (a filha ajudava-a a
confeccionar e o filho entregava os pedidos) precisou

65
contratar auxiliares. Afastou-se do serviço público e hoje
tem uma pequena mas movimentada confeitaria, onde além
de fazer o que gosta, ainda ganha bem mais do que no seu
antigo emprego.
Este exemplo é simplório, mas pode lhe mostrar que as
soluções para os nossos problemas econômicos podem estar
mais perto do que parecem e precisam de nossa coragem
para enfrentá-los.
O trabalho não pode ser apenas um momento de
ganhar dinheiro para usá-lo com o prazer; ele pode ser “um
prazer” em si. Só assim será uma fonte de qualidade de vida
para você.

66
ALGUMAS DICAS PARA MELHORAR A SUA
CONDIÇÃO DE TRABALHO

* Adote a lei da compensação. Se trabalhou durante 8
horas árduas, procure ficar pelo menos duas horas sem fazer
absolutamente nada, ouvindo música, relaxando, brincando
com os filhos, praticando esportes, para compensar o
cansaço físico e mental. Se trabalhou no meio de muita
gente, procure passar um tempo sozinho, se trabalhou em
ambiente muito barulhento, procure algum tempo em
completo silêncio.
* Procure ser organizado: saiba sempre onde estão as
coisas de que necessita sem ter que ficar procurando, evite
ficar pedindo as coisas aos outros o tempo todo, procure
uma cadeira bem confortável com uma boa altura da mesa,
use agenda e não agende mais coisas do que será capaz de
fazer.
* Coloque coisas que lhe lembrem felicidade e bem-
estar sobre sua mesa (assim saberá sempre pelo que se
empenhar): retratos da família, objetos de estima, flores, etc.
* Trabalhe, se puder, com música ambiente relaxante;
isso irá evitar uma parte de seu estresse.
* Não queira fazer tudo num dia só e nem fique
desesperado porque não conseguiu fazer tudo o que
planejara. Procure ser menos severo consigo mesmo, aceite
suas limitações sem desacreditar de seu potencial.
* Estabeleça prioridades para não se afundar nos
compromissos e acabar não cumprindo nenhum deles, mas
tente cumprir os compromissos agendados até o fim.
* Tente manter o seu humor o melhor possível, mas
não seja bem humorado por obrigação, porque não
conseguirá enganar a ninguém.
* Quando estiver com algum problema pessoal, não
fique com ele para si, sempre haverá um amigo confiável a

67
quem possa contá-lo e pedir ajuda. Se precisar consultar um
médico ou um psicólogo, não tenha dúvida em pedir licença
do trabalho e mesmo que isso implique em perda
econômica; faça disso algo mais importante do que o
dinheiro.
* Procure sempre refletir sobre o que você faz. Ao
final de cada dia, avalie sua performance, veja se está sendo
criativo, se deu o melhor de si, o que o está impedindo de
produzir mais ou de ser mais feliz no trabalho.
* Não tenha medo. O medo paralisa as pessoas. Tenha
coragem de dizer o que sente, o que está errado e também o
que está bom. Saiba reclamar e agradecer. Saiba ser
autêntico, descubra qual é o seu diferencial de autenticidade
e o que você sabe fazer melhor do que os outros. Sempre há
algo que nós fazemos melhor do que os demais.

68
A ÉTICA DA EMPRESA, UM MUNDO PARTICULAR

No mundo empresarial, podemos usar ética e
etiqueta quase como sinônimos. Um código, uma forma
combinada de agir, mas que visa principalmente o respeito
aos direitos do outro. Veja o que diz Letícia Colombini
sobre a etiqueta (Revista Você S.A., janeiro 2002): “Não dê
ouvidos se alguém lhe disser que se preocupar com a
etiqueta é algo fútil ou secundário. Dominar o código de
comportamento em vigor no mundo dos negócios faz bem,
sim, para sua vida profissional”.
Vamos seguir alguns conselhos da mesma autora
sobre as boas maneiras no trabalho.
No trabalho, atitudes que incomodam as pessoas
devem ser evitadas: falar muito alto, bater o telefone, dar
risadas largas, importunar o colega com conversas enquanto
ele trabalha, exagerar no perfume, esquecer o desodorante,
estar com mau hálito, etc. Uma regra que serve para todos
no trabalho: seja sempre gentil e polido, respeite da mesma
forma os chefes e os subordinados. Além disso, há algo que
você não pode criar do nada, mas pode cultivar no dia a dia,
a sua simpatia. Aprenda a ser simpático e colherá muitos
frutos.
Ao apresentar-se a um novo cliente, evite começar
com “encantado”, “é uma honra conhecê-lo”, “você é mais
bonita do que eu pensava”, etc. Prefira as fórmulas mais
polidas: “como vai?”, “não quer se sentar?”; deixe o “muito
prazer” para o final.
Se for apresentar o cliente a um superior, não se
esqueça de acrescentar o cargo ou o título do apresentado.
“Está aqui o senhor, ou a senhora tal, da empresa tal,
supervisor da empresa tal, gerente de marketing de tal
empresa”, etc.

69
Aprimore seu português. Se quiser que os outros
comprem suas idéias, fale corretamente, com clareza. Use
frases curtas, pois assim a chance de errar a concordância
diminui. Não tente impressionar, com frases feitas ou
palavras bonitas. As pessoas percebem o tom falso do
discurso. Procure sempre esperar o seu interlocutor terminar
de falar para colocar seu ponto de vista. Evite interrompê-lo
toda hora, mesmo que o que ele diga não esteja agradando.
Evite fofocas, procure ouvir mais do que falar e não
seja puxa-saco. Também não use gírias no trabalho, jargões
técnicos, não seja irônico.
Atenção! Estima-se que 75% dos negócios são feitos
ao telefone, portanto, não saber usá-lo com propriedade
implica em perda de clientes e de lucros. Ao fazer uma
ligação, aconselha Colombini, o certo é identificar a si
mesmo e à sua empresa, explicar rapidamente o motivo do
telefonema e perguntar se é uma hora conveniente para
conversarem. Falar o nome do interlocutor de tempos em
tempos, enquanto conversa ao telefone, é uma boa forma de
estreitar o relacionamento e de memorizar o nome dele. A
voz ao telefone deve ser alegre e firme, empática, mas não
íntima demais. As informações devem ser rápidas e
objetivas, pois no mundo das empresas tempo é dinheiro.
Evite deixar a pessoa esperando na linha ou ficar
remetendo-a de uma seção à outra. Não há nada mais
irritante e que possa fazer você perder o cliente com mais
rapidez.
Nunca trate um desconhecido por “meu bem, meu
amor, meu anjo, querido”. Evite as conversas de fundo ou
atender duas linhas ao mesmo tempo. O cliente em geral
fica muito irritado quando você diz “um momentinho, vou
atender a uma outra linha, é só um instantinho”. Todos
gostamos de ser atendidos em primeiro lugar e com
exclusividade. Não fale ao telefone comendo, fumando ou

70
mascando chicletes, pois o interlocutor perceberá esse ruído
e considerará uma falta de etiqueta.
Mais algumas regras:
Seja breve.
Não abuse de ligações pessoais no serviço.
Apresse-se em responder às mensagens da secretária eletrônica.
Não atenda telefone durante uma reunião, a não ser em
caso de urgência.
Desligue o celular durante reuniões ou palestras.
O mundo dos negócios é em geral cruel com a sua
forma de vestir. Se há um estereótipo incontestável é esse.
As pessoas comparam a qualidade de seu trabalho com a
qualidade de sua aparência. Recentemente ouvimos, na casa
de um amigo, um relato sobre a importância da aparência.
Um determinado engenheiro tinha o melhor currículo da
turma, mas não conseguia emprego. Era um homem de
muito boa aparência, que se vestia bem, mas um pequeno
detalhe o atrapalhava no mundo dos negócios: possuía
cabelos compridos e parecia de origem indígena. Um dia,
um dos colegas lhe deu aquele conselho óbvio, mas que
ninguém ousava dar “corte esse cabelo, meu amigo, senão
ninguém vai empregá-lo”. O engenheiro desempregado
conseguiu ótimo emprego na primeira entrevista a seguir.
Evite trabalhar de mini-saia, barriga de fora, decotes
acentuados, roupas sensuais, se for mulher; se for homem,
evite as camisetas sem manga, tênis, gravatas exóticas,
correntinhas de ouro chamativas. Evite também as roupas
extravagantes, esconda as tatuagens, tudo aquilo que o fizer
parecer “diferente” dos outros. Essa diferença é a sua
marca, mas a título de trabalho elas parecem valer pouco,
pelo menos à primeira vista.
Há sempre uma maneira adequada de se mostrar em
cada situação. Se é novo na empresa, procure ver como se
vestem as pessoas de sua seção, qual é o código de

71
vestimentas da empresa. Procure adequar-se o quanto antes
a ele.
Procure manter as roupas limpas e bem passadas.
Mantenha sempre o seu corte de cabelo, faça a barba, cuide
bem de sua pele, mantenha as unhas limpas e bem cortadas,
mantenha a postura ereta, procure sempre olhar nos olhos
de seu interlocutor enquanto conversa.
O último conselho de Colombini é importantíssimo
para nós brasileiros. Retardar o tempo alheio é uma gafe.
Ninguém está à nossa disposição. Devemos sempre chegar
no horário em todos os compromissos. Qualquer desculpa,
mesmo que verdadeira, soa como esfarrapada. Se realmente
não puder chegar no horário, avise antes que vai atrasar e
justifique-se.

72
QUALIDADE DE TRABALHO E QUALIDADE DE
VIDA

Apenas um em cada dez clientes que tiveram problemas
permanece fiel à marca que lhe causou o problema. Da
mesma forma, apenas um em cada dez funcionários
problemáticos permanecerá por mais de dois anos na
empresa. Por que você não sabe disso? Porque só 4 de cada
100 clientes insatisfeitos manifestarão à empresa sua
insatisfação. Isso, por si só, seria fazer um bem à empresa
(avisá-la de que não agradou dela) e os desagradados não
estão a fim de ajudar a quem os desagradou.
Veja o que diz David Cohen (consultor de empresas e
articulista da revista Você S.A.) sobre a importância do
atendimento: “Você não trabalha numa empresa, você é a
empresa”. Ele lembra que quando alguém liga para a
empresa em que você trabalha e você o atende, ele não
pensa que está falando com um profissional remunerado
para prestar serviço, ele apenas pensa que está falando com
a empresa, ou seja, a sua imagem está indissoluvelmente
ligada à empresa em que você trabalha. Cohen completa: “a
empresa, para o cliente, é o ser humano que responde ao
telefone, atende no balcão ou, de alguma forma, mantém
contato direto com ele. Se esse ser humano gera uma
sensação positiva, o cliente acha que está lidando com uma
empresa boa. Se gera uma sensação negativa, o cliente acha
que está lidando com uma empresa ruim.”
Você pode estar trabalhando até mais tarde sem
ganhar hora extra porque gosta de trabalhar, porque tem
medo de perder o emprego, ou só para agradar à chefia,
mostrar serviço. Esta é uma situação difícil que só poderá
ser alterada a partir de um trabalho de auto-estima e
negociação. Você precisa rever o seu auto-valor e fazer com
que os outros respeitem seus direitos e sua autonomia. Este

73
excesso de trabalho (overtime) seria revertido em exercício
físico, lazer, mais tempo com a família, etc.
Você pode ser o empregado, ou o próprio chefe, que
não tem prazer em seu trabalho. Faz a sua função como uma
obrigação, perdeu o entusiasmo porque o que faz não é
interessante, não lhe traz desafios. Pode estar apenas
esperando a hora da aposentadoria. Qualquer que seja seu
trabalho, você poderá torná-lo uma atividade um pouco mais
interessante. Pense agora mesmo numa nova forma de fazê-
lo. Coloque a sua marca no que você faz. Seja diferente!
O trabalho não pode ser apenas um momento de
ganhar dinheiro para depois usá-lo com o prazer. O trabalho
pode ser “um prazer” em si. Pode ser um prazer agregado.
Só assim ele será uma fonte de qualidade de vida para você.
Para saber se seu trabalho é um prazer, perceba como
está ao fim do dia. Se está cansado, mas feliz, é provável
que seu trabalho esteja lhe dando prazer. Se se sente
angustiado, se vai para casa de mau humor, algo não vai
bem. Aprenda a fazer sua auto-avaliação e não tenha medo
de dizer para si próprio o que sente, pois para entender
qualquer reação de nosso corpo ou de nossa mente,
precisamos primeiro defini-la, entendê-la, para só depois
modificá-la.
Se você é do tipo que trabalha sozinho, cuidado. O
trabalho não pode se tornar o seu remédio, a fuga dos
problemas, a negação da vida lá fora. Ao trabalhar sozinho,
você não tem a equipe para criticá-lo ou elogiá-lo, você não
tem um ponto de referência. Pode se afundar sem a ajuda de
ninguém, mas também não levará ninguém consigo.
Se você trabalha em emergências (médico,
enfermeiro, policial) todo cuidado é pouco. Além do alto
risco de estresse, há o somatório das horas noturnas sem
dormir direito, a alimentação inadequada, o local insalubre,
e isso tudo junto pode lhe custar muito caro a longo prazo;

74
portanto tente fazer o melhor possível pela qualidade de
vida em seu trabalho.

COMO ESTÁ SUA VIDA NO TRABALHO?

NOTAS: 0 = Não - 1 = Mais ou Menos - 2 = Muito

1) Você está satisfeito com o trabalho que realiza?_______
2) Você está explorando o seu potencial nessa
empresa?________
3) Você está trabalhando sem sofrer pressão (de tempo, de
prazos, etc.)?______
4) Você está satisfeito com o seu salário?______
5) Você está satisfeito com o ambiente de trabalho?_______
6) Você está satisfeito com o estilo de direção da
empresa?______
7) Você está se sentindo valorizado pela empresa?_______
8) Você se considera um bom funcionário?_____
9) Você se relaciona bem com as pessoas de sua
empresa?____
10) Você pensa em fazer carreira nessa empresa?_____

Notas:
0 a 7 - Você precisa rever sua forma de trabalhar e seu lugar
nessa empresa.
7 a 14 - Você está num nível médio de satisfação
profissional e pode melhorar mais.
15 a 20 - Seu nível de satisfação profissional está bom.

75
ALGUMAS PRESSÕES RELACIONADAS AO
TRABALHO
5


1) Não considera seu trabalho importante.
2) Acha que o cargo está acima de sua formação
profissional.
3) Acha que está sem oportunidade de se desenvolver no
trabalho.
4) Acha que não participa das decisões de sua equipe.
5) Discorda eticamente de condutas da empresa.
6) Acha que suas prioridades de trabalho não estão bem
definidas.
7) Acha que está com sobrecarga de trabalho.



Havendo alto índice de pressão é necessário procurar
dialogar com a chefia e avaliar possibilidade de
mudanças.

















5
Adaptado de Pires do Rio, R. O Fascínio do Estresse, Ed. Del Rey,
Belo Horizonte.

76
AFETIVIDADE: O AMOR EM INTERAÇÃO

Alguns sociólogos dizem que estamos assistindo hoje
em dia a uma feminilização da sociedade. O que querem
dizer? Os valores masculinos de poder e tirania estão indo
por terra, enquanto os femininos de criatividade, estética e
afetividade estão em alta.
A afetividade é por natureza, a manifestação da vida
psíquica. Podemos simplificar dizendo que a sensação de
empatia tem tudo a ver com a afetividade. Além do mais ela
é nossa referência no convívio, é a forma como expressamos
sentimentos. Só sabemos quem somos através do outro e o
outro nos faz ver quem somos pela forma como reage à
nossa afetividade. Complicado? Hoje sei que meu filho
acordou triste. Ele não precisa me dizer que está triste. Vejo
no seu olhar, na sua postura corporal, eu conheço meu filho
em sua tristeza e alegria, eu sei quem ele verdadeiramente é
porque conheço seus sentimentos e ele verdadeiramente me
conhece porque reconhece logo os meus. De outra forma
seríamos dois vizinhos, dois habitantes da mesma casa, mas
não pai e filho. Assim também, é pelo afeto que reconheço
quais são os meus amigos, e são eles que eu
verdadeiramente sei quem são, na real acepção da palavra.

Sozinho, o afeto é o melhor remédio para o estresse.
A pessoa acolhida afetivamente é mais calma, suporta
melhor os sofrimentos, tem maior auto-estima. Quem
expressa e recebe afeto diariamente tem uma sensação
de satisfação psicológica e dificilmente se deixa abater
com os problemas.

Isoladamente, não há nada tão importante para a
qualidade de vida do que ter uma vida afetiva de qualidade.

77
Há relacionamentos nutritivos de afeto e há
relacionamentos destrutivos de afeto. Há pessoas nutridoras
de afeto e pessoas destruidoras de afeto. Precisamos avaliar
diariamente em qual destas categorias estamos. Se vivemos
julgando os outros ou esperando demais deles, se estamos
fechados como conchas, se não temos amigos, devemos
começar a pensar seriamente que temos problemas afetivos.
Não há investimento de maior retorno do que o investimento
na vida afetiva.
Há uma relação estreita entre afetividade e amor,
embora sejam coisas diferentes. A afetividade é o lado
verdadeiro da vida psíquica, que põe à vista a necessidade
de acolhimento e reconhecimento. Embora pensemos afeto
mais como carinho e amor, a raiva é também uma
manifestação legítima de afeto, pois o mundo dos
sentimentos não tem definido de antemão o que é positivo
ou negativo.
O amor é um campo múltiplo, amplo, específico. O
amor visto como multimendional é o tema de J. A. Lee em
uma interessante teoria sobre as várias formas de amar, que
transcrevemos abaixo, de forma simplificada.
6

Eros: este tipo de amor começa pela atração física e a
presença da pessoa amada produz uma intensa excitação. O
prazer físico desempenha papel muito importante neste
estilo de amar.
Ludus: ausência de um ideal de pessoa a quem amar e
recusa da idéia de se dedicar toda a vida a uma pessoa. Seria
um estilo de amar permissivo e pluralista.
Storge: estilo baseado no desenvolvimento, ao longo do
tempo, do afeto, da amizade e de um profundo
compromisso.

6
Adaptado de Lopez, F. e Fuertes, A. Para comprender la sexualidad. E. V. D.,
Navarra, 1990.

78
Mania: neste estilo existe uma preocupação obsessiva
pela pessoa amada, são freqüentes os ciúmes e é muito
possessivo. Necessita de uma absoluta e contínua certeza de
se ser amado. O estilo mania resulta da combinação do Eros
e do Ludus. Deseja uma relação intensa e excitante, mas
tende a escolher pessoas inadequadas, o que o leva a
enamorar-se com grande facilidade e a manipular a relação
para não sentir que ama mais do que é amado.
Pragma: neste caso procura-se fundamentalmente, uma
pessoa compatível. A educação, motivação, idade, religião,
etc., são questões a ter em conta na hora de encontrar
alguém a quem se possa amar. Assim, este estilo de amar
resulta da combinação do Ludus e do Storge. Ludus porque
admite a manipulação e o controle até encontrar o par
desejado e Storge porque, uma vez este encontrado, pode
converter-se numa relação de afeto e compromisso.
Ágape: amor altruísta em que se dá amor sem esperar
reciprocidade. Guia-se mais pela razão do que pela emoção.
Ágape é uma mistura de Eros e de Storge.
O conhecimento de seu estilo de amar é muito
importante, pois tem a ver com sua personalidade, tem a ver
com o que você espera do outro sem que o outro possa lhe
dar por amá-lo “de forma diferente”. Em psicoterapia,
sempre procuramos ver o estilo de amar do casal e as
projeções que cada par faz no outro.
Outra forma interessante de ver o amor e seus
componentes foi proposta por Robert Sternberg, da
Universidade de Yale, nos Estados Unidos. (The Triangle of
Love: Intimacy, Passion, Commitment. Basic Books, 1988).
Sternberg divide o amor em três componentes
básicos que seriam as extremidades de um triângulo
eqüilátero, composto de intimidade, paixão e compromisso.
Na extremidade da intimidade encontra-se o sexo e a
afetividade, a vida secreta do casal, e no lado da paixão a

79
intensidade do encantamento de um pelo outro. A ternura é
um aspecto fundamental da intimidade. Pode-se medir o
desgaste de um relacionamento pelo desgaste da ternura
entre ambos. Quando o amor vai diminuindo, o
distanciamento físico vai aumentando, e os gestos de ternura
vão diminuindo. Assim, os casais ternos são aqueles que se
tocam mais, que se beijam mais na boca, que brincam mais,
presenteiam mais, acariciam mais.
A paixão, ao longo do tempo, não é a mesma do início,
mas se se trasforma em amor mantém-se em fogo brando,
alimentando o sonho e o encantamento do casal. Um grande
número de romances começa com a paixão, e o amor
romântico dos filmes é identificado apenas como paixão
desenfreada. Na vida real, o verdadeiro amor nunca deixa de
ser apaixonado, mas não é “tomado” pela paixão. A paixão,
no amor realista, ocupa o seu lugar de encantamento pelo
outro como ele é, e não mais como desejaríamos que ele
fosse, no princípio. O compromisso de um amor duradouro
envolve contratos explícitos e implícitos, como a fidelidade,
por exemplo, ou o empenho na educação dos filhos, a
divisão de tarefas, etc, mas um amor feito só de
compromisso seria mais uma amizade profunda do que o
amor, assim como um amor sem compromisso torna-se
totalmente imprevisível. O amor ideal manteria as três
pernas do triângulo com a mesma dimensão.
Ao percebermos que o nosso amor “vai mal das
pernas” podemos avaliar de qual das pernas ele vai mal.
Embora seja uma forma simplista de interpretá-lo, a idéia do
triângulo pode nos ajudar a equilibrar alguns aspectos da
vida amorosa.
Essas definições são incompletas para abarcarem
todo o significado e a amplitude do comportamento
amoroso, mas servem como pequenos guias para nos
observarmos e criarmos nossos conceitos. Servem também

80
para tentarmos nos aprimorar na arte de amar e na arte de
sermos afetivos.
William Masters e seus colaboradores, no livro
Heterossexualidade. (Ed. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro,
1997), fazem as seguintes sugestões para quem quer manter
o amor vivo ao longo do tempo:
· Não esperar pela perfeição.
· Ser flexível.
· Reconhecer que o amor pode ser um substituto para
a identidade pessoal.
· Não se esquecer do romance.
· Ser sensível aos sentimentos da pessoa que ama.
· Não deixar a raiva prejudicar a sua interação.
· Ser cortês.
· Não ter a outra pessoa como certa.
· Empenhar-se pelo amor. Não considerá-lo como automático.
O afeto se expressa com os sentidos. Mesmo quando
o revelamos com palavras, elas vêm com uma entonação
específica. Expressar raiva é também uma forma de afeto,
como já dissemos, mas o que não é afeto é negar o
sentimento ou expressá-lo de forma ambígua. A pessoa
afetiva torna-se automaticamente uma pessoa transparente e
por isso verdadeira, confiável.
Avalie diariamente sua capacidade afetiva. Procure
saborear os frutos de ser mais afetivo, veja como dessa
forma conseguirá mais amigos, mais clientes, mais
credibilidade, mais prazer em viver. Não seja ambíguo em
sua manifestação afetiva, principalmente com os filhos, pois
isso gerará neles uma dificuldade de definir os afetos e trará
conseqüências para sua vida psíquica.
A intimidade não está apenas relacionada ao que se
partilha, mas também à satisfação mútua, à confiança, ao
respeito à privacidade e ao desenvolvimento pessoal. Requer
o compartilhamento de idéias, sentimentos, emoções;

81
assumir e cumprir compromissos; eliminar as barreiras e
deixar cair ou reduzir as defesas e a máscara da auto-
suficiência; tentar a comunicação franca e aberta; buscar
superar os conflitos íntimos; cuidar da segurança, do bem-
estar e crescimento próprio e do outro. E especialmente
saber comunicar para amar.
Certa vez procurou-nos um homem de sessenta anos,
realizado profissionalmente e sem problemas econômicos.
Gostava de seu trabalho e falava com desenvoltura, era culto
e bem apessoado. Apesar de todas essas qualidades, era um
homem profundamente infeliz. Era casado e seus problemas
sexuais e afetivos eram muito sérios. No início do
casamento tinha um desejo morno, porém suficiente para se
desempenhar sexualmente com sua mulher. Com o passar
do tempo seu casamento foi se tornando um martírio, não
tinha mais ereções e nem desejo pela esposa. Ao nos
aprofundarmos na pesquisa de sua vida conjugal,
descobrimos que sua área mais problemática era a afetiva.
Era um homem sem nenhuma capacidade de manifestar
afeto. Sua esposa acusava-o de ser totalmente seco com ela,
jamais lhe oferecera uma rosa ou lhe dera um presente
sentimental, não criava nenhuma situação romântica e nunca
dizia palavras amorosas. Muito simploriamente, esse
homem dizia, com toda sinceridade, que não conseguia
saber para que serviam essas coisas. Que sentido faz, ele
perguntava, eu dar uma rosa para ela no dia de aniversário?
Certa vez solicitamos ao casal que fizesse uma tarefa de
casa que em sexologia chamamos de “foco sensorial”.
Pedimos que dedicassem um certo tempo por dia para se
tocarem sem o objetivo sexual, apenas para trocarem
carícias que não envolvessem o toque nos órgãos genitais.
Após o primeiro dia de acariciamento, telefonou para
esclarecer uma dúvida. Queria saber se enquanto a sua
esposa o acariciava, ele podia ficar lendo o jornal. Por mais

82
tolo que isso pareça, esse homem culto não distinguia uma
frase de amor de um texto cartorial. Observamos que desde
a infância fora educado para não sentir afetos, nem
demonstrar emoções ou trocar carinhos. Por fim, a esposa o
abandonou e ele nos buscou como o único ponto de apoio.
Nós incluímos em um grupo de terapia. Um certo dia,
durante uma sessão, chorou, considerando a miséria de sua
situação emocional e, em seguida, revelou ser a primeira vez
que sentia uma tristeza tão profunda. Sua afetividade
começava a dar sinais de vida.
Esse exemplo é relevante, pois demonstra o quanto
pode ser sofrido viver sem experimentar a sensação de afeto,
sem reconhecer afeto e sem sentir necessidade dele. Jorge
Luiz Borges, em um belo poema chamado Fragmentos de
um Evangelho Apócrifo, escreveu: felizes os amados e os
amantes e os que podem prescindir do amor.
Muitas mulheres buscam um padrão idealizado e
mitificado pela televisão: o homem jovem, rico e bonito. De
sua parte, uma parcela da população masculina procura por
mulheres jovens e bonitas, muitas vezes para sexo casual,
embora geralmente diga o contrário. Ou seja, ambos buscam
de uma forma superficial aquilo que constitui uma das mais
profundas formas de relação e interação humanas.
Na outra ponta da corda, um pequeno número de
mulheres e ainda menor de homens, deseja uma relação
estável e profunda, buscando no parceiro outras qualidades
além da aparência física e da situação econômica. Mas
quando encontra um parceiro maduro e responsável,
comporta-se como “gato escaldado”, devido às decepções
que teve e acaba estragando uma relação que poderia ser
gratificante.
A afetividade dá qualidade ao sexo e ao amor. Ela é
uma caixa de ressonância e aquilo que mais intensamente
nos define como seres humanos. Sei quem sou através do

83
outro, quando este outro, com seu carinho, seu toque, sua
ira, me “afeta”. Este outro então é quem me diz quem eu
sou. Ele é minha referência.
Se nesse momento meu computador parasse de
funcionar e apresentasse uma tela dizendo “este programa
executou uma operação ilegal e será fechado”, de nada
adiantaria eu xingá-lo ou me irritar. Ele simplesmente
continuaria a repetir a mesma frase indefinidamente. O
computador não ressoa, ele não responde ao meu
sentimento. Afetividade é isso, responder ao sentimento
com outro sentimento, é uma retumbância de sentimentos.
Aprendemos a distinguir os sentimentos verdadeiros
dos falsos não com as palavras, mas com o olhar, com a
entonação da voz, com o abraço, tudo aquilo que em
psicologia chamamos de linguagem não verbal. Para nos
tornarmos afetivos, precisamos também aprender a
linguagem não verbal. Só quem sabe sorrir, chorar, brigar,
abraçar, beijar, sabe a linguagem dos sentimentos e tira
proveito dela.
O afeto é o regulador da vida psíquica, já que a
necessidade básica de nosso aparelho psíquico é de
acolhimento. Colocando afetividade em sua vida, você
perceberá as pessoas mais próximas, o sentimento de bem-
estar que toma conta de seu ser. Não é preciso dizer o
quanto uma pessoa afetiva torna-se valiosa e o quanto ela
adquire de confiabilidade. Estamos certos de que a
afetividade é o cimento da sexualidade, da vida social e
conjugal, assim como o amor é o resultado final da
afetividade.
Neste capítulo tentamos ressaltar a importância da
vida afetiva e valorizar a manifestação de sentimento. Para
aquelas pessoas desprovidas de afeto que consideram a
afetividade um lado descartável da vida podemos dizer: é
hora de mudar.

84
SEXUALIDADE: FONTE DE PRAZER E
ENERGIA

Se o sexo é puramente instintivo no animal, no ser
humano não o é, pois além da satisfação instintiva, o ser
humano busca também se afirmar, satisfazer desejos,
fantasias, necessidades lúdicas, obter privilégios. O ato
sexual pode ser estimulado ou restringido pelas condições
afetivas, físicas e intelectuais dos parceiros, pelo ambiente,
por ritos e posições e por reminiscências, sendo em
conseqüência, um fenômeno também cultural. Sexo no
homem civilizado não é só instinto, não é só libido e a
satisfação sexual só pode ser plenamente conseguida quando
as demais necessidades primárias estiverem atendidas.
Além disso, o sexo não é uma função humana
separada das outras. Cada episódio de nossa vida influencia
parcialmente nossa sexualidade. A perda de um ente querido
pode ser desastrosa para a sexualidade, uma pessoa pode
ficar muito tempo sem sentir desejo sexual após perder o pai
ou um filho. Um grande sucesso profissional pode ser um
ótimo estímulo para a libido, melhorada pelo bom estado da
auto-estima.
O sexo também pode ser um campo de forças onde o
casal resolve seus problemas. Uma mulher pode barganhar o
carinho que necessita no dia a dia pelo desejo sexual.
Homens e mulheres costumam viver diferentemente sua
sexualidade. Muitos casais ficam paralisados em sua vida
sexual porque o homem nega amor à esposa porque ela não
lhe corresponde sexualmente, enquanto ela não lhe
corresponde sexualmente porque ele não lhe dá amor como
ela acha que merece.
Muitos casais procuram ajuda psicológica
simplesmente para saberem se são saudáveis sexualmente.
Acontece que critérios de saúde sexual são muito variáveis e

85
implicam em julgamentos muito subjetivos. Podemos dizer
que a saúde sexual depende da satisfação sexual que a
pessoa tem após cada ato sexual, seja ele resultado de
práticas habituais ou de outras que consideremos bizarras.
Considerando o casal, esse fato se complica um pouco,
pois a satisfação pode existir para um dos membros e não
para o outro. Como exemplo, vamos citar o caso de Paulo e
Marina. Eles procuraram o consultório porque possuíam
ritmos diferentes. Paulo desejava fazer sexo todos os dias,
enquanto Marina apenas duas vezes por semana. Essa é uma
situação comum entre os casais. O mesmo casal queria saber
se era “normal” a prática do sexo anal. No primeiro caso,
podemos dizer que as variações de apetite são comuns a
todos os instintos básicos, como a fome, a sede, o sono, e
não seria diferente com o impulso sexual. Este casal precisa
aprender a conviver com essa diferença e encontrar fórmulas
criativas de fazer dela uma diferença incapaz de afetar a
felicidade deles. Se ele for compreensivo e entender que isso
é apenas um fenômeno fisiológico, a satisfação dela pela
compreensão dele pode fazê-la sentir mais atração por ele, o
que aumentará o seu apetite sexual, e assim os ritmos se
aproximarão. O maior desejo sexual dela por ele pode
resultar em relações sexuais mais empolgantes e
satisfatórias para ele, o que o fará espaçar mais os períodos
de desejo, dando tempo para que ela se recomponha. No
segundo caso, o do sexo anal, o caso é de compatibilidade
ou não. Há práticas sexuais que são prazerosas para uns e
repugnantes para outros. A velha máxima, “entre quatro
paredes tudo é permitido” é verdadeira, com o adendo:
desde que seja bom para os dois. Se for bom para um e não
for para o outro, tudo acontecerá como se fosse um abuso
sexual, uma doação sexual, algo sempre pior do que a
reciprocidade sexual, de que se nutre a verdadeira satisfação

86
nesse campo. De que dependeria, então, a qualidade de vida
sexual de um casal?
Primeiro, de haver prazer mútuo na relação, muito
embora o prazer de um possa ser maior do que o do outro. O
respeito aos ritmos individuais deve ser negociado e levado
a termo com leveza e sabedoria. A vida sexual deve ser
acompanhada da vida sensual, ou seja, o casal aprende a
manter contatos físicos que não sejam pré-programados e
automáticos e necessariamente voltados à penetração sexual.
O casal aprende a viver o sexo com naturalidade,
respeitando e aceitando o seu próprio corpo e o do outro
como é e não como desejaria que fosse.
Há respostas sexuais fisiológicas que incluem desejo,
excitação, orgasmo, ejaculação, e essas respostas acontecem
de forma espontânea e natural, levando ao prazer mútuo.
O casal deve treinar-se a comunicar sexualmente,
seja pelo corpo ou verbalmente, e procurar fazê-lo sem
medo e sem constrangimento.
No capítulo anterior, tocamos vagamente em uma
tarefa de terapia sexual denominada “foco sensorial”. Os
terapeutas iniciantes costumam achar estranha essa
prescrição. Pensam consigo mesmos: será que os casais já
não sabem disso, isso não é senso comum? Muitos relatam:
que ordem mais boba, mandar os outros se esfregarem!
Percebemos que muitos casais relutam em fazer a tarefa
por diversos fatores, alguns pelo mesmo pensamento dos
terapeutas iniciantes. Estes também não os convencem, por
não estarem convencidos da eficácia de sua prescrição. Um
dia, porém, resolvem fazer o mesmo com suas parceiras ou
parceiros e então começam a descobrir toda a magia dessa
técnica. Descobrem também que não é tão fácil realizá-la,
pois ela traz à tona, tanto os problemas íntimos do casal
quanto intensifica a ternura. Provoca um monte de

87
sensações e fornece material muito rico para o auto-
desenvolvimento individual e conjugal.
Vamos primeiro descrevê-la e sugerimos que tentem
utlizá-la em suas vidas, tendo ou não problemas sexuais.
O ponto zero do exercício é interromper as relações
sexuais habituais por um período, de uma a duas semanas.
Nessa fase o foco sensorial será a atividade íntima do casal.
O casal precisa ter no mínimo uma hora, tempo em que
nenhuma atividade extra poderá interrompê-lo. O telefone
deverá ser desligado, assim como o interfone, a campainha,
a televisão. Uma música suave e orquestrada pode estar ao
fundo. Aqui já surge o primeiro problema. Freqüentemente
os casais relatam que uma hora por dia é muito tempo para
“desperdiçarem” com isso; que não têm tempo porque há
muito o que fazer no dia a dia; que as crianças não os
deixam sozinhos, ficam batendo na porta do quarto de casal,
etc. Esse é um ponto de diagnóstico, pois todos esses
problemas precisam ser questionados: esse casal tem ou não
tem espaço para a sua vida íntima e sexual?
No primeiro momento, o que o casal vai fazer é
basicamente massagem um no outro, mas um de cada vez.
Nessa massagem, irão buscar dar e receber prazer. Esse
prazer não é o orgasmo, não é sexual, é SENSORIAL. No
primeiro momento, cada um dos pares irá tocar todo o corpo
do outro, EVITANDO AS PARTES GENITAIS. A pessoa
que vai ser massageada deita-se de bruços, confortavelmente
e de olhos fechados. Podem estar nus ou semi-nus mantendo
as peças íntimas ou cobrindo com uma toalha os genitais. É
melhor não ficar montado a cavalo sobre quem está sendo
massageado, para evitar o estímulo sexual dessa posição.
Nenhuma parte do corpo deve ser pulada pelo massageador,
exceto os genitais. Pode-se iniciar de qualquer parte mas o
ideal é iniciar pelo couro cabeludo e ir em direção aos pés.
A forma de tocar pode ir mudando a cada momento. Pode-se

88
começar com toque suave e depois aprofundar, passar do
circular ao amassar, etc. A sessão de foco sensorial sem
tocar os genitais pode ser feita várias vezes em uma semana,
com algumas variáveis: usando creme hidratante ou óleo
perfumado, usando os pés ao invés das mãos.
A segunda parte do exercício é um pouco mais
complicada. A massagem é feita como na primeira parte,
com a diferença de que agora os órgãos genitais serão
incluídos. Essa fase é muito mais difícil de ser concretizada
com sucesso, porque o casal pode querer “aproveitar” a
ereção, ou o desejo intenso do parceiro e partir para o ato
sexual. O pênis e a vagina devem ser tratados como
qualquer outra parte do corpo. O massageador não pára ali
nos genitais para os acariciar até o orgasmo, mas o faz da
mesma maneira que fez com os outros órgãos. A sensação
de troca de prazer deve ser sem a ansiedade de terminar o
ato sexual em orgasmo mútuo e sim em terminar o exercício
com intensa troca de prazer.
Durante o exercício, o que nenhum dos dois deve
fazer? Preocupar-se com o que o outro está sentindo. Ele
está cansado? Está gostando disso? Será que estou sabendo
fazer a massagem? Concentrem-se em dar e receber prazer,
SEM NENHUM JULGAMENTO DE SI PRÓPRIO E DO
OUTRO. Se o desejo de julgamento e interpretação for
muito forte, utilizem a técnica de distrair a distração.
Pensem consigo mesmos: estou fugindo do objetivo, não
devo julgar. Então concentre-se na sensação novamente, no
cheiro do outro, na textura de sua pele, na sua respiração,
fixe o olhar em alguma parte do corpo dele ou dela que você
mais goste, e a percepção sensorial voltará. Não fiquem
apressados em terminar. Terminem quando sentirem que já
deram suficiente prazer ao outro ou já receberam suficiente
prazer. Depois do final do exercício, evitem avaliá-lo. E aí,
como foi? Eu fui bem? Acredite que fez o melhor que pôde

89
e recebeu o melhor. Conversem sobre coisas ternas,
brinquem, assistam a um filme na TV, façam um brinde.
Repitam esse exercício de tempos em tempos, de
preferência uma vez a cada dois meses.
Qual a utilidade desse exercício? O sexo que
aprendemos é genitalizado. Em geral temos pressa para tudo
e também para praticar o sexo. Dedicamos pouco tempo a
ele e não o exploramos totalmente. O exercício de
focalização sensorial será como um lembrete de que
merecemos mais na nossa vida íntima, que podemos
turbinar as nossas quatro paredes. Seu amor agradecerá.

COMO ESTÁ SUA VIDA CONJUGAL?

Responda a cada item abaixo, dando a nota que
represente a sua resposta. Considere os últimos 6 meses:

NOTAS: 0=Nunca – 1=Raramente – 2=Algumas vezes
– 3=Freqüentemente
1 - Conversamos sobre a educação dos filhos_______
2 - Reservamos tempo para nosso divertimento_______
3 - Sabemos dialogar sem discutir_______
4 - Somos capazes de ouvir um ao outro_______
5 - Aceitamos bem nossas diferenças pessoais________
6 - Somos totalmente sinceros um com o outro_______
7 - Conseguimos planejar nosso futuro_______
8 - Dizemos um ao outro que nos amamos_______
9 - Nós nos beijamos na boca_______
10 - Fazemos sexo com muito prazer_______

Resultado:
de 0 a 10 pontos: Sua vida conjugal não está boa
de 11 a 20 pontos: Sua vida conjugal está boa, mas pode melhorar
de 21 a 30 pontos: Sua vida conjugal está satisfatória.

90
FUNÇÃO E DISFUNÇÃO SEXUAL

A partir dos anos sessenta aprendemos a conhecer
melhor a resposta sexual humana. Antes disso, o sexo era
um tabu tão grande que os médicos não se dignavam a
estudá-lo de maneira científica, embora a psicologia
houvesse feito grandes avanços nesse sentido já a partir do
início do século XX.
Sabemos hoje que o ato sexual é composto de quatro
fases: desejo, excitação, orgasmo e resolução. Em cada uma
delas, fenômenos corporais e psicológicos se encarregam de
provocar e manter o prazer sexual.
O desejo sexual é a chama sexual, o interesse em se
envolver sexualmente e está altamente relacionado ao grau
de fantasia sexual, que por sua vez depende de excitantes
internos e externos. Os excitantes internos são os hormônios
sexuais e outras substâncias chamadas de
neurotransmissores.
O hormônio do impulso sexual é o mesmo tanto no
homem quanto na mulher: a testosterona.
Alguns homens e algumas mulheres podem ter níveis
baixos de testosterona no sangue, principalmente após os 50
anos e nesse caso é muito freqüente haver uma baixa do
desejo sexual. Nas mulheres que retiram os ovários ou que
fazem determinados tipos de reposição de estrogênio, esse
fenômeno é relativamente comum.
Alguns medicamentos, como antidepressivos, soníferos, anti-
hipertensivos, anticoncepcionais, etc., podem inibir o desejo sexual.
A sexualidade é um impulso de busca, uma
necessidade de expansão. Portanto, situações psicológicas
que levam à vontade de reclusão e comportamento anti-
social, como a depressão, por exemplo, podem levar à
diminuição do desejo sexual.
Excitantes psicológicos são muito importantes; nem
todos os parceiros são igualmente atraentes. Cada um de nós

91
possui um código de atração física que vale para um e não
para o outro. Não fosse assim, somente um tipo de pessoa
encontraria parceiro e teria vida sexual ativa. Há um
estereótipo de cada cultura, correspondente a um tipo físico
que normalmente torna-se mais atraente em um determinado
tempo e lugar. O certo é que a atração é muito determinante
na escolha de parceiros, embora os homens tendem mais a
se ligarem à atração física propriamente dita. A paixão é um
grande estimulador do desejo sexual. É quase impossível
alguém estar apaixonado sem se sentir atraído sexualmente
pelo parceiro, seja ele feio ou bonito. Nesse caso, acontece
algo físico, a liberação de substâncias estimuladoras dos
neurotransmissores sexuais (principalmente as substâncias
liberadoras de dopamina) e também psicológico, pois o
parceiro sexual por quem se enamora é um ser dotado de
perfeição, pelo menos enquanto durar a paixão. A paixão é
como um estado de espírito que torna o ser enamorado único
entre os terrestres, com qualidades invejáveis por todos. Na
verdade todos nós temos qualidades invejáveis, pena que
muitos só as vejam quando estão enamorados. O desejo
pressupõe um encantamento pela pessoa desejada. O fim do
desejo é muitas vezes o fim desse encantamento. Algumas
pessoas têm pouco desejo sexual por causa de problemas
educacionais, já que o sexo não é mais, em nossa
sociedade, uma atividade puramente instintiva, mas algo
aprendido, uma habilidade, uma possibilidade, um
potencial que pode ser atingido ou não segundo uma
orientação educacional.
Nossa educação pode ser erotofílica, quando propicia
um desenvolvimento positivo para a sexualidade, ou
erotofóbica, quando propicia um desenvolvimento negativo
para a sexualidade.
As pessoas erotofílicas têm roteiros internos variados
para a sexualidade. Conseguem perceber uma situação como

92
sexual de maneira imediata e são hábeis para expressar seus
sentimentos sexuais. Estimulam-se com facilidade e
acendem com facilidade quando em interação sexual. As
erotofóbicas têm dificuldade em perceber o seu nível de
excitação, quase sempre se percebem como pessoas de
pouca capacidade sexual, tendo um repertório sexual
limitado; em geral não fazem muitas fantasias sexuais e
respondem mal às fantasias do parceiro.
No final das contas, cada um de nós tem um padrão de
desejo pré-estabelecido, mas que pode mudar ao longo da
vida, através de auto-conhecimento e novas experiências.
Helen Singer Kaplan, uma importante sexóloga americana,
criou a teoria do continuum do desejo sexual. Segundo ela, o
nível de desejo sexual estaria num continuum de mais para
menos que serviria como base para cada pessoa, pelo menos
como um padrão inicial.

93
CONTINUUM DO DESEJO SEXUAL
7


1. Desejo Sexual Hiperativo Desejo e fantasia sexual intensos;
adição sexual; compulsão;
comportamento sexual compulsivo.

2. Desejo Sexual Normal Desejo e fantasia espontâneos;
Alto comportamento Sexual proativo;
funcionamento sexual normal.

3. Desejo Sexual Normal Não há desejo ou fantasia sexual
Baixo espontâneos; comportamento sexual
reativo; funcionamento sexual
normal; freqüência média ou baixa.

4. Desejo Sexual Hipoativo Não há desejo ou fantasia sexual
Leve espontâneos; evitação sexual;
funcionamento sexual pobre;
baixa freqüência.

5. Desejo Sexual Hipoativo Não há desejo ou fantasia sexual
Grave espontâneos; funcionamento sexual
pobre; evitação sexual; freqüência
sexual muito baixa ou celibato; sexo
como causa de sofrimento.

6. Aversão Sexual Evitação ativa e fóbica do sexo; nojo
Fobia Sexual e raiva do sexo; freqüência muito
baixa ou celibato; sofrimento intenso
com o ato sexual.

As disfunções sexuais são causas comuns de
sofrimento e basicamente prejudicam a qualidade de vida. A
pessoa que não se desempenha bem sexualmente, deixa de
se realizar nesse ponto tão importante da vida, é cobrada

7
Adaptado de Kaplan, H. S. Transtornos do Desejo Sexual. ArtMed,
Porto Alegre, 1999.

94
pelo parceiro e se sente infeliz. Na nossa sociedade o sexo
tornou-se um valor muito importante para homens e para
mulheres. A pressão de desempenho estendeu-se a essa área
e hoje todos querem ser “bons de cama” assim como são
bons profissionais, bons pais, bons cidadãos, etc.
Para estar bem sexualmente é preciso primeiro saber
se você não tem nenhum problema nessa área. Muitas
pessoas acreditam que mulheres não terem orgasmo é uma
coisa normal, ou que ter ejaculação precoce é uma virtude,
ao invés de um desequilíbrio. Por esse motivo listamos
abaixo as principais disfunções sexuais, cuidando em
simplificar os seus nomes e explicá-las, para que você as
entenda bem. Problemas nessa área devem ser trabalhados
por profissionais especializados.

Disfunções sexuais do desejo: pouco desejo,
dificuldade em se engajar sexualmente (DESEJO SEXUAL
HIPOATIVO); repulsa ao sexo, evitação do contato sexual
(AVERSÃO SEXUAL).

Disfunções sexuais da excitação: dificuldade de ereção
peniana (DISFUNÇÃO ERÉTIL, IMPOTÊNCIA
SEXUAL); dificuldade de lubrificação vaginal, vagina seca
durante o ato sexual, perda de concentração durante a
excitação sexual (DISFUNÇÃO DE EXCITAÇÃO
FEMININA).

Disfunções sexuais do orgasmo: ejaculação muito
rápida, falta de controle sobre o tempo de ejacular
(EJACULAÇÃO PRECOCE); ejaculação muito demorada
ou ausência de ejaculação (EJACULAÇÃO
RETARDADA); dificuldade da mulher em atingir o
orgasmo ou demora em conseguí-lo (ANORGASMIA
FEMININA).

95
Observação: muitas mulheres conseguem orgasmo
somente através da estimulação clitoriana e não por
penetração vaginal apenas. Do ponto de vista sexológico
essa mulher não é considerada como tendo uma disfunção
sexual. Para a sexologia, tanto o orgasmo clitoriano quanto
o vaginal são normais.

Dor no pênis ou na vagina durante o ato sexual
(DISPAREUNIA): Impossibilidade de conseguir a
penetração vaginal, vagina fechada, presença de contração
intravaginal impedindo a penetração, casamento não
consumado (VAGINISMO).

A seguir apresentamos um diagrama dos fatores que
impulsionam o desejo sexual para cima(++) e para baixo(- -)
8




8
Moreira, R. B. Medicina e Sexualidade. Ed. Medsi, Rio de Janeiro, 2000.

96
COMO ESTÁ A SUA POTÊNCIA SEXUAL?

INVENTÁRIO INTERNACIONAL SOBRE IMPOTÊNCIA S EXUAL
MASCULINA

Responda ao questionário abaixo dando a si próprio
uma nota de 0 a 5 em cada uma das perguntas. Cada
pergunta tem apenas uma resposta que se aplica a você.

A) Como você classifica a sua confiança para ter e manter
uma ereção do pênis?
0- Não tenho atividade sexual
1- Muito baixa
2- Baixa
3- Moderada
4- Alta
5- Muito alta

B) Quando você tem ereções através de um estímulo sexual,
sua ereção dura o suficiente para penetrar na sua parceira?
0-Não tenho atividade sexual
1-Quase nunca ou nunca
2-Algumas vezes (muito menos do que a metade das vezes)
3-Cerca de metade das vezes
4-Muitas vezes (muito mais do que a metade das vezes)
5-Quase sempre ou sempre

C) Durante uma relação sexual, quanto você foi capaz de
manter sua ereção depois que penetrou na sua parceira?
0-Nunca tentei ter relações sexuais
1-Quase nunca ou nunca
2-Algumas vezes (muito menos que metade das vezes)
3-Cerca da metade das vezes
4-Muitas vezes (muito mais do que a metade das vezes)
5-Quase sempre ou sempre

97
D) Durante uma relação sexual, quanto foi difícil para
manter sua ereção até completar a relação?
0-Não tentei ter relações sexuais
1-Extremamente difícil
2-Muito difícil
3-Difícil
4-Pouco difícil
5-Não foi difícil

E) Quando você tentou uma relação sexual, quanto foi
satisfatória para você?
0-Não tentei ter relações sexuais
1-Quase nunca ou nunca
2-Algumas vezes(muito menos que a metade das vezes)
3-Cerca da metade das vezes
4-Muitas vezes(muito mais do que a metade das vezes)
5-Quase sempre ou sempre

Se a soma de suas notas der de 1 a 7:
Você pode ser portador de impotência severa.
Se a soma de suas notas der de 8 a 16:
Você pode ser portador de impotência moderada.
Se a soma de suas notas der de 17 a 21:
Você pode ser portador de impotência leve
Se a soma de suas notas der acima de 22:
Você é considerado normal quanto à potência sexual.
Nos três primeiros casos é aconselhável que você
procure um médico. A impotência moderada e a severa
devem ser tratadas por um especialista.

98
UM POUCO SOBRE A MENOPAUSA

A menopausa costuma ser confundida como a época da
vida da mulher em que ela "fica velha". Nada mais
equivocado do que esse preconceito. Após a menopausa a
mulher poderá viver até 2/3 do que viveu até então, com
saúde, alegria, capacidade de trabalho, tesão e poder.
Esta fase da vida da mulher corresponde ao período
em que os ovários deixam de ser órgãos reprodutores, e a
adaptação a essa mudança provoca mudanças físicas e
psíquicas. Vamos discutir alguns mitos sobre a menopausa.

Mito: Toda mulher, na menopausa, tem calores no corpo,
irritabilidade, envelhecimento precoce e perda de desejo
sexual.
Verdade: Após a menopausa, entre 50 e 85% das mulheres
desenvolvem ondas de calor, resultantes das mudanças
hormonais que ocorrem nesta fase. As ondas de calor
restringem-se aos membros superiores, pescoço e face. São
sentidas pela mulher como uma "queimação". Não têm hora
marcada para vir, muitas vezes acompanham-se de uma
sudorese do peito e das mãos e uma sensação de
abafamento. As ondas de calor são mais freqüentes nos
primeiros 5 anos após a menopausa e raramente persistem
após esse tempo. A reposição hormonal em geral resolve o
problema da onda de calor.
As mulheres se tornam mais irritadiças, deprimidas
ou insones devido à falta de estrogênio? Há dúvidas. Esta é
uma época da vida em que as mulheres se encontram em
várias situações de mudanças que podem influenciar seu
estado emocional como: aposentadoria, problemas com o
parceiro, saída dos filhos de casa por casamento, trabalho ou
independência financeira (síndrome do ninho vazio). É
importante fazer uma mudança de conceito: a menopausa é

99
um evento fisiológico na vida da mulher e não um evento
traumático por natureza. Mulheres na menopausa não
estão doentes.
Embora os hormônios da libido diminuam nesse
período, a sexualidade da mulher não sofre,
necessariamente, uma piora. Para muitas, é uma fase de
independência sexual e de renovação de valores amorosos e
eróticos.

Mito: Depois da menopausa a mulher envelhecerá
rapidamente
Verdade: As mulheres vivem mais do que os homens, antes
e depois da menopausa. Fazemos parte de uma sociedade
que ficará velha. A maioria dos indivíduos sobreviverá até
longa data, embora o limite de sobrevivência da espécie
humana ainda esteja na casa dos 85 anos. O que é mais
curioso, entretanto: a humanidade está gradativamente
deixando de ser maioria masculina para se tornar maioria
feminina. Em 1900 havia 102 homens para cada 100
mulheres aos 65 anos de idade. Já em 1980 havia 68 homens
para cada 100 mulheres aos 65 anos; no momento atual
temos uma média de 40 homens para cada 100 mulheres que
sobrevivem até os 85 anos. Portanto, as mulheres vivem
mais do que os homens, e a menopausa não é o fator que as
limita.

Mito: Mulheres que menstruam mais cedo na adolescência
também têm a menopausa mais cedo.
Verdade: Não há relação comprovada entre o início da
menstruação e o início da menopausa. Entretanto, algumas
outras associações são importantes. O hábito de fumar pode
provocar a menopausa mais cedo, dependendo da
quantidade de cigarros fumada por dia e a duração do
hábito. Há uma tendência a mãe e filhas chegarem à

100
menopausa na mesma idade. Cirurgias sobre os órgãos
genitais internos (ligadura de trompas, retirada do útero ou
do ovário) podem provocar a menopausa mais cedo.

Mito: A reposição hormonal na menopausa restaura a
juventude da mulher e melhora a sua sexualidade.
Verdade: A reposição hormonal mantém alguns aspectos da
saúde física da mulher, melhora o colágeno da pele, a
lubrificação da vagina durante o ato sexual, a textura dos
cabelos e a forma feminina do corpo, mas nem todas as
mulheres devem fazer reposição hormonal. Somente a
reposição do hormônio masculino (androgênio) aumenta o
desejo sexual da mulher, mas só está indicada quando há
deficiência desse hormônio na circulação. A reposição de
estrogênio e progesterona pode provocar perda de desejo
sexual em algumas mulheres, ao invés de melhorar.

Mito: Toda mulher precisa fazer reposição hormonal na
menopausa.
Verdade: Apesar dos ovários das mulheres em menopausa
não produzirem mais estrógenos, há outros locais do corpo
que o produzem. Um dos principais é o tecido gorduroso.
Por isso as mulheres magras têm mais sintomas de ondas de
calor do que as gordas. As bem magras são maiores
candidatas à reposição hormonal. Hoje em dia o conceito de
reposição hormonal mudou. Os médicos têm que estudar o
custo/benefício do tratamento, ou seja, é preciso saber se
para uma determinada mulher vale a pena correr mais os
riscos de tomar hormônios (possibilidade de ter trombose ou
câncer de mama e de útero, principalmente), do que o de
contrair outras doenças decorrentes da falta do hormônio
(doenças do coração e dos ossos, principalmente). O mais
importante estudo sobre reposição de hormônios na
menopausa realizado até hoje denomina-se WHI ( The

101
Women's Health Initiative Randomized Controlled Trial).
Este estudo foi realizado nos Estados Unidos com cerca de
10.000 mulheres, tendo começado em 1991 e estende-se até
hoje. Foram feitos dois estudos paralelos, um com mulheres
usando estrógeno e progesterona e outro com mulheres
usando apenas estrógeno (as que, por alguma razão, haviam
retirado o útero antes de iniciarem a reposição). Cada um
dos dois grupos seria reavaliado após 10 anos de
tratamento, mas o primeiro (estrógeno + progesterona) foi
interrompido no meio do caminho, 5 anos antes de seu
término previsto. Os pesquisadores descobriram que
aumentava muito o risco de doença do coração, infarto do
miocárdio e câncer de mama, e sugeriram a todas as
mulheres sob esse regime de tratamento hormonal que o
interrompessem imediatamente. O segundo grupo (que
tomava apenas estrógeno) continuou com seu tratamento,
pois aparentemente os riscos eram menores mas, em
fevereiro de 2004, o Instituto Nacional de Saúde dos EUA,
responsável pelo projeto, resolveu interromper também esse
tratamento. O índice de infarto do miocárdio havia
aumentado significativamente. Essas mulheres usaram
hormônios em forma de comprimidos. Pelo menos em
relação a essa forma de tratamento sabemos que há riscos
consideráveis para uso a longo prazo.

Mito: Tomar hormônio na menopausa faz engordar.
Verdade: As mulheres engordam na menopausa devido às
alterações hormonais dessa fase, e não pela medicação.
Cerca de 20% das mulheres que fazem reposição hormonal
engordam devido aos hormônios e isso pode ser corrigido
pelos médicos, ou trocando a medicação ou avaliando os
fatores relacionados ao problema.

102
Mito: É muito melhor fazer tratamento com hormônios
naturais, ou comer soja, do que fazer reposição de
estrógeno.
Verdade: Os comprimidos de hormônios da menopausa são
remédios naturais, têm a mesma composição dos hormônios
do corpo da mulher. A diferença entre eles e os hormônios
retirados da soja é que um vem do animal e o outro do
vegetal. Seus efeitos no corpo são os mesmos. Os
hormônios da soja, entretanto, provocam efeitos pouco
controláveis cientificamente, e podem até se comportar
como antiestrogênicos. Assim, no atual momento da
medicina, as isoflavonas (como são chamados os hormônios
da soja) ainda não são consideradas ideais para substituírem
os hormônios fabricados pelos laboratórios. Um adendo:
temos uma tendência a achar que tudo o que é "natural" é
melhor para nosso organismo. Remédios são remédios,
sempre cheios de efeitos colaterais, sejam eles halopáticos,
homeopáticos, fitoterápicos, etc. O melhor remédio é o
remédio bem indicado.
Vejamos o que diz o professor Lucas Viana
Machado, renomado pesquisador do assunto sobre o uso da
soja na menopausa (Revista Femina, outubro de 2003, vol
31, n° 9). O professor Lucas Machado relata as conclusões
sobre o papel das isoflavonas (hormônios da soja) na saúde,
segundo a Sociedade Norte Americana de Menopausa. Não
há evidências convincentes do controle dos fogachos (ondas
de calor da menopausa). Os dados disponíveis são
inadequados e não permitem avaliar o efeito das isoflavonas
sobre o câncer de mama e do útero, massa óssea e
lubrificação vaginal. Reduzem o colesterol total em 19%, o
LDL (fração ruim) em 13%, os triglicérides em 10% e não
alteram o HDL( fração boa). No mesmo artigo, o professor
Lucas Machado resume um boletim prático editado pelo
Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas que diz:

103
-Os consumidores não podem ser assegurados do
conteúdo atual e eficácia de qualquer produto derivado da
soja. Mais importante: esta falta de controle de qualidade
pode resultar em contaminação, adulteração ou falta de
identificação de produtos fototerápicos desta natureza.
-Muitas mulheres percebem os tratamentos
"naturais" como seguros e eficazes apesar da falta de
estudos científicos adequados provando tais características.
- "Natural" não significa seguro ou eficaz e podem
ocorrer interações droga-erva potencialmente perigosas ou
letais. Soja e isoflavonas podem ser úteis para sintomas
como ondas de calor e suores noturnos.
- Seguras em quantidades dietéticas, o consumo de
grandes quantidades de soja e suplementos de isoflavonas
pode ser prejudicial à saúde.

104
UM POUCO SOBRE A ANDROPAUSA
(MENOPAUSA MASCULINA )

O que é isto? A menopausa masculina existe? Os
médicos fazem esta pergunta há séculos sem obterem
resposta. Do ponto de vista psicológico poderíamos até
afirmar que o homem passa pelos mesmos dilemas
femininos ao final da década de 40 anos, como a síndrome
do ninho vazio, a perspectiva histórica de sua vida (época de
dar balanço: fui bom pai, bom marido, ganhei o tanto de
dinheiro que queria, ainda tenho tempo para estudar, refazer
coisas que considero erradas, sou ainda atraente
sexualmente?).
Assim como na mulher, o fantasma da velhice
começa a rondar o homem e a testar sua maturidade para
enfrentar a segunda fase de sua vida. Também como
acontece com as mulheres, a expectativa de vida masculina
vem aumentando década a década. Ela era de 50 anos em
1950, subiu para 70 anos no ano 2000 e poderá chegar a 80
anos em 2050. Vivendo mais, as alterações conseqüentes ao
envelhecimento tornam-se mais evidentes. Por exemplo,
após os 40 anos de idade, o principal hormônio masculino, a
testosterona, tem uma queda de 10% a cada década. A taxa
de testosterona vai diminuindo de 1 a 1,5% a cada ano, mas
dependendo dos níveis desse hormônio nas décadas
anteriores o homem ainda pode ter boa quantidade dele
circulando aos 60, 70 e 80 anos. Do ponto de vista médico, é
um pouco mais difícil afirmar se o homem entra em
andropausa, porque os fenômenos masculinos são lentos e
graduais e não abruptos como na mulher. Não há um
momento X em que os testículos param de funcionar, como
ocorre na mulher em relação aos ovários. Entretanto os
hormônios masculinos vão declinando ao longo da vida
como um processo natural do envelhecimento. Os médicos

105
se defrontam com um problema: se um homem procura
ajuda por sintomas como fraqueza muscular, falta de apetite
sexual, falta de disposição para o trabalho, isto será devido à
diminuição dos hormônios ou porque ele está deprimido? Os
médicos recorrem a dosagens hormonais para saber se a
causa é física, mas estas dosagens são difíceis de serem
interpretadas. Complica mais se o médico resolve dar "um
pouquinho de hormônio" para ver se o homem melhora . O
hormônio masculino, diferente do feminino, pode aumentar
o colesterol e apesar de não provocar o câncer da próstata
pode fazer um câncer de próstata que está em estado latente
(ou seja, inativo, quietinho) começar a crescer. Há formas de
se detectar esse câncer escondido antes de iniciar a
medicação? Nem sempre, pois mesmo com os exames
normais esse, digamos, câncerzinho, pode estar lá. A
andropausa masculina, no sentido de queda acentuada de
hormônios depois dos 50 anos, pode ocorrer, sim, para
homens com doenças crônicas como diabetes, doenças
hepáticas e renais, cardíacas, além do alcoolismo, o
tabagismo e a obesidade. Em conclusão, o segredo da
preservação dos hormônios encontra-se na boa saúde geral,
na manutenção dos "sete pilares da qualidade de vida". Em
relação ao câncer de próstata, sugere-se que fazer sexo
regularmente, comer tomate vermelho (verde não faz efeito)
e alimentos à base de soja sejam boas formas de preveni-lo,
mas nada disso é provado cientificamente. Sempre é válida a
fórmula: a melhor forma de envelhecer com saúde é
procurar mantê-la sempre, a maior parte do tempo.

106
SEXO COM PRAZER E SEM CULPA

Hoje em dia lida-se com a sexualidade de maneira
superficial, leviana e preconceituosa. Valorizam-se homens
e mulheres jovens, bonitos, ricos e principalmente fúteis,
desprovidos de valores mais profundos. Esta sociedade
consumista hipervaloriza o jovem e rejeita o velho,
enquanto aquele não se dá conta de que um dia também
envelhecerá. Duvida-se mesmo que as pessoas de meia-
idade possam ter uma vida sexual plena e prazerosa. Um
estudo recente da Fundação MacArthur, feito com 8.000
homens e mulheres nos Estados Unidos, mostrou que a
meia-idade pode ser um ótimo período para relacionamentos
estáveis e segurança financeira. A maioria dos entrevistados
considerou que, nessa fase, as pessoas gozam de boa saúde e
possuem um trabalho agradável e relativamente seguro.
Muitas pessoas vão redescobrir na idade madura, mais livres
de clichês e de sentimentos de culpa, o verdadeiro prazer da
vida sexual. Outras, no entanto, imaturas, inseguras e
despreparadas para aceitar a idade, acham que não há mais
oportunidades para novas experiências afetivas, sexuais e
profissionais, no que são bastante reforçadas por uma mídia
fútil e por uma propaganda enganosa que parece ter
interesse em apenas um mercado jovem para vender roupas,
produtos de beleza e supérfluos em geral
9
.
O sexo é a atividade do prazer em si mas, além disso,
tem muitas outras funções em nossa vida. Pessoas que têm
uma vida sexual regular desfrutam de um sono muito mais
tranqüilo e reparador, têm a pele mais jovem e bonita, são
menos estressadas, menos deprimidas, vivem mais e melhor.
As principais funções do sexo em nossa vida são:

9
Sobre o assunto, o leitor poderá encontrar mais informações no livro de Ramon Dias
Moreira, O sexo que passa na TV (Belo Horizonte, Sografe, 2001).

107
1. O sexo faz bem para a pele. Indivíduos que fazem
sexo regularmente têm a pele melhor e mais jovem, pois
secretam mais ácido hialurudônico, elemento importante
para manter o tônus da pele e também manter a pele
hidratada.
2. O sexo regula os hormônios. Durante as fases da
resposta sexual que ocorrem em cada novo ato sexual,
vários hormônios e neurotransmissores são lançados na
circulação (vasopressina, prolactina, dopamina, adrenalina,
acetilcolina, serotonina, etc), portanto o ato sexual é uma
forma rápida do organismo renovar seus estoques
hormonais. A mulher que tem atividade sexual regular e
orgástica tem menos chance de desenvolver doenças
hormonais e tem seus ciclos menstruais mais regulares.
3. O sexo é antidepressivo. Quando o sexo é feito sem
prazer ou por obrigação, ou mesmo quando é insatisfatório,
ele pode ser fonte de depressão e ansiedade, mas quando
prazeroso, torna-se fonte de auto-estima; as substâncias
secretadas pelo organismo durante o ato sexual são
antidepressivos naturais.
4. O sexo é anti-estressante. Quase todas as pessoas que
fazem sexo antes de dormir têm um sono muito mais
tranqüilo e reparador. O sexo regula a liberação da
adrenalina e é um poderoso agente anti-estresse. Na
verdade, esta função do sexo é tão importante que muitas
pessoas usam o sexo como uma forma rotineira de aliviar
estresse, seja através do ato sexual ou da própria
masturbação.
5. O sexo ativa o sistema imunológico. Uma das
principais substâncias ativadoras da excitação sexual é o
óxido nítrico. Além de ser uma molécula capaz de produzir
potente vaso-dilatação nos órgãos pélvicos, o óxido nítrico é
também um modulador do sistema imunológico. O
indivíduo que pratica sexo com mais freqüência secreta mais

108
óxido nítrico, o que tem efeito benéfico para seu sistema
imunológico.
6. O sexo é um ótimo exercício aeróbico. Você pode
gastar mais em uma atividade sexual intensa do que durante
uma corrida. Gastamos de 500 a 700 calorias durante uma
relação sexual intensa, e isto pode fazer baixar nosso
colesterol e nossos triglicérides. Como a atividade sexual é
também uma situação de vaso-dilatação, o sexo pode ser
bom para a circulação e mesmo para o coração, muito
embora, durante o ato sexual a pressão se eleve. Não se deve
ter relações sexuais após as refeições; em algumas posições,
por exemplo, na posição superior e com os braços apoiados,
a pressão pode se elevar bastante. Após o ato sexual, porém,
há uma tendência à pressão arterial abaixar.
7. O sexo aumenta a expectativa de vida. A ciência
médica tem encontrado uma relação importante entre
longevidade e a prática do sexo. Só não se sabe ao certo se
os indivíduos vivem mais porque fazem mais sexo ou se as
pessoas que vivem mais são pessoas mais saudáveis e
vigorosas e por este motivo buscam mais ativamente o sexo.
A nosso ver, ambas as hipóteses podem ser corretas.
Pesquisa feita pelo neuro-psicólogo David Weeks, no
Hospital Real de Edimburgo, na Escócia, revelou que as
pessoas que mantinham relações sexuais mais freqüentes
aparentavam menos idade (até 10 anos a menos do que a
idade verdadeira).
Talvez a nossa sociedade reprima o sexo porque ele nos
leva a uma sensação de liberdade e de auto-estima renovada.
Estas características fazem do sexo uma atividade
subversiva, revolucionária, ao mesmo tempo difícil de
administrar. Ser sexual, sexualizado, é ser pleno e estar de
bem consigo mesmo. Relações sexuais freqüentes também
melhoram a auto-estima.

109
Você tem direito ao prazer sexual, qualquer que seja
sua idade, sua condição financeira, sua cor, sua
nacionalidade, sua saúde física, sua característica física, sua
condição pessoal. Você tem também o direito de buscar a
sua felicidade.

Não é, porém, qualquer sexo que tem esses
atributos. Fazer sexo por carência afetiva, por
obrigação ou meramente como alívio de estresse é
como comer uma comida trivial e sem gosto. O
alimento sexual é como qualquer outro, precisa ter
tempero, clima, ambiente e sabor.

O desejo sexual existe em todas as pessoas
apaixonadas, repetimos. Por que será? Os apaixonados estão
encantados pelo ser enamorado, e é deste encantamento que
nasce o desejo. Para manter acesa a chama do desejo sexual
é preciso manter-se encantado pelo outro. Pode-se encantar
muitas vezes na vida, por pessoas diferentes, ou pela mesma
pessoa amada. Pode-se mudar de relacionamento no mesmo
relacionamento, tornando-se capaz de fazer o que os
apaixonados fazem naturalmente: enxergar a pessoa amada
pela lente das qualidades e não pela lente dos defeitos.
Sem dúvida, o desejo tem levado o homem a
desatinos e destruições, mas também tem sido a mola
propulsora de inúmeras realizações humanas. O problema
não está nele em si, mas na maneira como é buscada sua
satisfação e na adequação ao objeto do desejo.

110
SEDUÇÃO E FANTASIA

A sedução é uma das mais fortes armas da conquista
amorosa. No entanto, tem sido difamada pelos moralistas da
sexualidade. A sedução é um atributo importante da relação
amorosa: um olhar diferente, um gesto convidativo, um
sorriso sensual, uma roupa provocante, são importantes
armas de conquista e que podem e devem ser usadas.
Somente pessoas portadoras de um ciúme patológico e de
uma insegurança sexual doentia se aborrecem quando seus
pares se mostram atraentes e sedutores.
A sedução pode ser, porém, uma arma perigosa,
quando usada no ambiente de trabalho, para conseguir uma
promoção, impor um poder, coagir alguém ou conseguir um
segredo de empresa. No trabalho, a sedução pode ter
conseqüências indesejáveis.
Muitas mulheres aprendem desde criança a se
afirmarem pela sedução e a usarem-na como uma
ferramenta de poder nos relacionamentos. Fazem da sedução
seu instrumento de trabalho e muitos homens são
vulneráveis a esse jogo. É importante que essas mulheres
reflitam sobre essa tática, que pode ter conseqüências
complicadas no ambiente de trabalho, principalmente nos
dias de hoje, em que a qualificação profissional tornou-se o
principal componente do seu valor pessoal. No caso
masculino, os “don juans” de plantão também estão sempre
em constante perigo de complicações profissionais e
emocionais.
Todo relacionamento sexual envolve uma ética, e
nessa ética o principal componente é que não haja
nenhum tipo de manipulação emocional.
Shere Hite, em seu livro Sexo$Negócios (Editora
Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 2001), analisa a situação
difícil que é a gerência da vida sexual nas empresas

111
compostas por homens e mulheres. Onde houver homens e
mulheres juntos haverá sedução, e onde houver sedução
haverá flerte, namoro, paixão, sexo. Compara a posição dos
empresários que proíbem terminantemente o sexo entre
funcionários com a dos pais que proíbem sexo aos filhos
adolescentes. É a prática de tampar o sol com a peneira. Do
mesmo modo, ela afirma que as relações de escritório
podem não ter uma aterrissagem feliz. Ela sugere que as
empresas aprendam a ter uma política clara a esse respeito e
promovam debates entre os funcionários sobre o tema, pois
quando a forma da empresa lidar com o assunto é explícita,
com regras claras, é possível administrar melhor as relações
afetivas e sexuais dentro dela. A mesma Shere Hite afirma
que “as empresas fariam melhor desenvolvendo novos
pontos de vista acerca da existência de sentimentos
particulares dentro do escritório, em vez de insistir em que
não haja sexo ou vida privada no trabalho”.
Vistas anteriormente sob um prisma negativo, como
perversões, pela psicanálise clássica freudiana, as fantasias
sexuais entre os casais têm hoje outra conotação: são o
tempero da relação sexual e como qualquer condimento
devem ser usadas com moderação. Sem tempero, a comida
fica insossa, mas o seu excesso pode estragá-la. A fantasia
faz parte do ritual do prazer, sendo normal e saudável desde
que se respeite o limite do outro. As fantasias masculinas
mais comuns são as que estão ligadas a novas conquistas
(por exemplo, tentar seduzir a própria mulher como se fosse
uma desconhecida), às vestimentas femininas do imaginário
masculino (como colegial, odalisca, vamp, prostituta, etc.), à
rivalidade com outros homens desejando sua parceira, ao
sexo com muitas mulheres, à dominação e ao poder sobre a
mulher (como expressão de potência). As fantasias
femininas mais comuns envolvem a inveja da prostituta
(imaginada como sexualmente livre e poderosa), o desejo de

112
ser amarrada ou apanhar (significando simbolicamente o ser
dominada e afirmar a feminilidade e que é muito diferente
de ser agredida), de ser estuprada e de fazer sexo com outros
homens e mulheres. Conhecidos psicanalistas, como Alberto
Goldin, Jacob Azulay e Sheiva Cherman consideram que
todas as pessoas normalmente têm fantasias e enfatizam a
importância das mesmas como estimulantes do prazer e
forma de renovar o interesse sexual e sair da rotina e do
marasmo
1
. O importante é que cada parceiro possa
compartilhar com o outro suas fantasias e desejos mais
íntimos, compreendê-los e tentar realizá-los. “As fantasias
vêm de um sentimento de liberdade e cumplicidade entre os
parceiros”, segundo Azulay.
Hoje existem manuais (como o Sexo – Exercícios para
o Êxtase Sexual, de Sérgio Savian) que ensinam como
treinar e desenvolver a sensualidade. Exercícios apropriados
e alguns métodos, como a biodança, podem ser bastante
úteis para isso.
A mulher expressa sua sensualidade principalmente
através da roupa, das expressões faciais e dos gestos e
movimentos do corpo (por exemplo, o rebolado). Algumas
danças são tipicamente sensuais, como o tango, a dança do
ventre e a lambada. A expressão da sensualidade masculina
centra-se mais no olhar e na fala (por exemplo, a cantada),
no jeito viril de ser, no status, etc.
A roupa é um valioso instrumento de expressão da
sensualidade e da sedução femininas. A mulher dispõe de
uma grande variedade de opções para poder se apresentar
elegante, sóbria, solene, formal, discreta, esportiva,
informal, sensual. A variabilidade da vestimenta feminina
permite isto, enquanto a masculina é pouco diversificada,
não indo muito além do terno e gravata ou da calça jeans
com camiseta.

113
Outro aspecto a considerar é que o homem tende
mais a um certo voyeurismo, ao prazer de olhar, de admirar
o corpo feminino, enquanto a mulher tende para o
exibicionismo, o prazer de ser vista, observada, desejada.
Isto faz com que o vestuário feminino seja muito mais
significativo.
Liberte seu corpo! Nosso corpo é o nosso veículo e o
continente de nossa vida. Quanto menos roupa melhor.
Nossos ancestrais andavam nus e as intempéries não os
abalavam nem os adoeciam. Com o passar do tempo e para
enfrentar as condições de vida nas regiões frias, passaram a
se agasalhar da pele dos animais. Posteriormente, o homem
passou a fabricar suas vestimentas, que foram deixando de
ter a função de proteção e passando a ser adorno e afirmação
de status. A roupa pode tornar-se um fardo e ao invés de
proteger, passa a restringir e limitar os movimentos. Em um
país tropical como o nosso, não tem sentido que as pessoas
se vistam como os habitantes de países frios. Uma roupa
leve, uma camiseta com calça de algodão ou bermuda,
deveriam ser os trajes usuais para a maior parte do tempo.
Poucas coisas são tão desagradáveis e anti-higiênicas como
estar suando debaixo de um terno com gravata sob uma
canícula de verão. Mas é o que uma grande parte do público
masculino está obrigado a usar. Como uma embalagem de
jóia ou perfume, a roupa deve ser um invólucro que protege
e valoriza o corpo e não um cofre ou uma armadura que o
comprime e tolhe.

114
QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE
DESEJO SEXUAL
10


Dê a si próprio uma nota de 1 a 9 para cada um dos itens abaixo,
sendo:
1- Não se aplica de forma alguma ao meu caso
5- Aplica-se moderadamente ao meu caso
9- Aplica-se totalmente ao meu caso

Pontuação: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 (Você pode dar a si próprio qualquer
dessas notas nessa graduação seguindo a sugestão acima).

1- Penso muito freqüentemente em sexo ____
2- O sexo não é muito satisfatório para mim ____
3- Nunca tomo a iniciativa de fazer sexo ____
4- Freqüentemente frustro as tentativas do(a) parceiro(a) de fazer amor
____
5- Mesmo quando o(a) parceiro(a) tenta ser romântico(a) tenho
dificuldade para entrar no clima ____
6- Geralmente considero-me pouco atraente e desejável ____
7- Nunca me masturbo ____
8- Quando faço amor, quase sempre fico distraído(a) ou desligado(a)
____
9- Não sou uma pessoa muito apaixonada ____
10- O impulso sexual do(a) parceiro(a) é muito mais forte do que o meu
____
11- Eu ficaria muito satisfeito(a) em deixar o sexo fora do nosso
relacionamento, se achasse que isso não causaria problemas ____
12- Nunca tenho fantasias sexuais ____

10
Segundo Masters W. H.; Johnson V. E.; Kolodny R. G.
Heterossexualidade. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 1997.

115
13- Discordâncias em relação à nossa freqüência sexual são comuns em
nosso relacionamento e, muitas vezes, geram discussões ou mágoas
____
14- Não é raro para mim inventar desculpas como, por exemplo, não me
sinto bem, para evitar sexo ____
15- Às vezes, à noite, finjo que estou dormindo para que o(a) parceiro(a)
não tente me convencer a fazer amor ____


INTERPRETAÇÃO DOS RE SULTADOS

A) Some os pontos das respostas dadas às perguntas numeradas de
1 a 10.
B) Some os pontos das respostas às perguntas numeradas de 11 a
15.
C) Multiplique por dois as respostas da linha B e coloque na linha
C.
D) Some A + C para encontrar o total de pontos

Linha A____________________(soma dos itens de 1 a 10)
Linha B____________________(soma dos itens de 11 a 15)
Linha C____________________( Soma dos pontos de B x 2)
Total de pontos______________(Soma de A + C)

* Total de pontos abaixo de 90: Você não tem
problemas de desejo sexual.
* Total de pontos de 90 a 120: Aumenta a possibilidade
de você ter pouco desejo sexual, mas apenas o questionário
não é suficiente para determiná-lo.
* Total de pontos de 121 a 140: Sugere muito a
presença de pouco desejo sexual, mas de forma alguma a
prova.
* Total acima de 140 pontos: Indica que você tem
pouco desejo sexual, mas o diagnóstico definitivo não pode
ser feito apenas com base em um teste escrito.
Resultados acima de 121 pontos indicam a necessidade
de procurar uma ajuda especializada para avaliar a resposta
sexual de desejo.

116
LAZER: O ÓCIO QUE FAZ PARTE DA VIDA

Alguns filósofos denominam nossa sociedade como
hedonista, que quer dizer que ela é a sociedade da busca do
prazer e do entretenimento. Seja isso um lado bom ou ruim
dos nossos tempos, a verdade é que hoje já conseguimos nos
divertir sem culpa. Não somos mais como nossos avós que
se gabavam de nunca terem tirado umas férias. Já houve um
tempo, felizmente passado, em que tirar férias era sinal de
vagabundagem. Sabemos hoje que o lazer, a diversão, o
espaço para fazer o que gostamos na vida é muito
importante. Planejar as férias, as viagens, os bons momentos
da vida, é algo tão necessário quanto ter um bom emprego e
se dedicar a ele. Não vamos falar muito disso, mas vamos
dar algumas dicas.

* Faça uma lista, realista, daquilo que ainda quer na
vida, com prazos e metas para consegui-lo.
* Promova uma estratégia para consegui-lo.
* Inicie este planejamento estratégico o quanto antes.
* Acredite na sua capacidade de realizar este projeto.
* Não o considere menor do que qualquer outro de sua
vida.
* Inclua as pessoas queridas nos seus projetos.
* Procure dividir seu tempo de lazer entre estar
sozinho, com sua família e com seus amigos prediletos.
* Sinta-se senhor de sua vida, realizando isso.

Recarregar a bateria, seria a melhor maneira de se
definir o lazer em nossa vida. No repouso, abaixamos nosso
nível de adrenalina e quando estamos descansando ou nos
divertindo, nossa pressão arterial é mais baixa,
abandonamos as pré-ocupações. Se o indivíduo tem um
nível de ansiedade muito alto, ele terá a sensação de estar

117
perdendo tempo sempre que estiver de férias ou se
divertindo. Isso é um mau sinal. O mesmo indivíduo pode
ter um senso de catastrofismo quanto ao lazer. Acha-se
imprescindível e pensa que quando sair de férias, seu
escritório não funcionará sem ele, ou perderá seu cargo, ou
tudo estará do lado do avesso quando voltar, suas dívidas
aumentarão, etc. Ora, nada de muito grave pode acontecer
na rotina normal de um indivíduo no espaço de 15 a 20 dias.
O senso de catastrofismo decorre da culpa inconsciente por
estar “vagabundeando”, resultado de nossa educação para o
DEVER. Há pessoas que saem de férias sem sair. Levam o
celular, passam todo o tempo realizando negócios,
escrevendo, fazendo planos econômicos, sequer observam
seus filhos ou conversam com a família enquanto estão na
praia ou na fazenda.
Para sermos felizes, temos de aprender a ter direito
ao lazer; isso implica na capacidade de SERMOS
CRIANÇAS DE VEZ EM QUANDO. Toda criança brinca
sem o menor senso de culpa e se não for chamada ao dever
passa a vida assim, na flauta. Ter o lado criança, brincar,
divertir, eis a forma natural de recarregar a bateria do
adulto. Algo que consideramos também fundamental na
prática do lazer é a meditação. Não vamos aqui descrever ou
sugerir nenhuma forma de meditação, mas podemos dizer,
de uma maneira bem simples, que meditar consiste
essencialmente em respirar com toda a consciência possível
da respiração, no mais completo silêncio que conseguirmos,
durante o maior tempo que tivermos para isso. A meditação,
para nós, é a base daquilo que chamamos do “culto da
sozinhez”, que é um estado de auto-suficiência solitária, ao
contrário da solidão, que é um estado de dependência de um
outro, uma carência.
O sociólogo italiano Domenico de Masi, afirma, em
seu livro, O ócio criativo (Rio de Janeiro: Ed. Sextante,

118
2000), que: “O tempo livre significa viagem, cultura,
erotismo, estética, repouso, esporte, ginástica, meditação e
reflexão. Significa, antes de tudo, nos exercitarmos para
descobrir, desde logo, o que podemos fazer no nosso tempo
disponível, sem gastar um tostão: passear sozinhos ou com
amigos, ir à praia, fazer amor com a pessoa amada,adivinhar
os pensamentos, os problemas e as paixões que estão por
trás dos rostos dos passageiros do metrô, admirar as
fachadas dos prédios e as vitrines das lojas, assistir a um
festival na televisão, ler um livro, levantar uma polêmica
com um motorista de táxi, assistir ao pôr-do-sol ou ao
nascer da lua, admirar a sábia beleza de uma garrafa, de um
ovo ou dos carros que circulam na rua. Balançar-se numa
rede, que é o símbolo por excelência do ócio criativo,
perfeita antítese da cadeia de montagem que foi o símbolo
do trabalho alienado. Em suma, dar sentido às coisas de todo
dia, em geral lindas, sempre iguais e diversas, e que
infelizmente ficam depreciadas pelo uso cotidiano.”
Existe um aforismo popular aparentemente
paradoxal que diz “trabalho muito, por isso não tenho tempo
para ganhar dinheiro”. Dizemos aparentemente paradoxal
porque somente no tempo livre há tempo para refletir,
encontrar e organizar as melhores idéias. É nessa hora que a
mente está “limpa” para o pensamento mais lúcido e
criativo. Sócrates dizia duvidar de todo pensamento que
tinha quando estava parado. De fato, quando estamos
caminhando ao ar livre, sozinhos, sempre temos idéias
brilhantes, das quais muitas vezes nos esquecemos depois.
Domenico de Masi sugere aos pais uma educação
para o ócio. Ensinar aos filhos a escolherem um bom filme,
uma boa diversão, usar com criatividade e felicidade o
tempo livre, fazer o melhor uso possível do lazer.
Como a expectativa de vida tem aumentado muito, a
maioria de nós viverá até os 80 ou 90 anos. Passaremos

119
muito tempo na aposentadoria; na verdade nosso trabalho
será uma “preparação” para o tempo “real” de vida, em
geral aquele que vem após os 60 anos. Esse é o tempo em
que estamos com a mulher que realmente amamos, fazendo
as atividades das quais realmente gostamos, passeando pelos
lugares para onde sempre quisemos ir, sabendo apreciar os
minutos como não sabíamos e conhecendo a essência da
vida.
Saber divertir e usar o tempo de não fazer nada é o
supra-sumo da qualidade de vida, é como saborear o que
conseguimos com o trabalho, ou como fazer um zoom na
beleza da vida. No ócio também saboreamos o prazer de
estarmos vivos, principalmente se podemos fazê-lo sem
desperdiçar um tostão da nossa alegria.
A quase totalidade de nossa população tem como
lazer principal, ou quase exclusivo, a televisão. É uma forma
de lazer passivo, onde as pessoas ficam o tempo todo
sentadas, muitas vezes em posição inadequada. A
estressante e insegura vida moderna nas grandes cidades fez
com que abandonássemos formas de lazer saudáveis de
nossos avós e que ainda podem ser vistos em cidades do
interior: a pequena caminhada matinal para ir à padaria e ao
mercadinho, sentar-se na praça para um bate-papo com os
conhecidos, visitar os parentes, nadar e pescar no rio. No
fim de semana, a pelada no campinho de futebol, o arrasta-
pé no clube ou na casa de algum amigo. Um cinema, uma
seresta, uma festinha podiam completar um estilo de vida
simples, mas saudável, agradável, sem estresse.
Mas o que é um estilo de vida prejudicial à nossa
qualidade de vida? É aquele em desequilíbrio com as
necessidades biológicas e os fatores da vida social: tempo
para o trabalho, tempo para o lazer, tempo para a família,
tempo para o descanso solitário.

120
Você pode pensar que é impossível conciliar isto tudo,
mas tal pensamento decorre de nosso hábito de dedicar
muito mais tempo de nossa vida ao trabalho e ainda
vivermos com a idéia antiga de que quanto mais
trabalharmos, mais ricos ficaremos e, conseqüentemente,
mais felizes. Os estudos demonstram que o nível de
felicidade do ser humano cai abaixo de um certo patamar de
salário, mas cai também quando ele passa de outro patamar,
ou seja, há tantos infelizes entre os muito pobres quanto
entre os muito ricos. O indivíduo satisfeito com sua família
e suas relações de amizade, e em dia com elas, fica menos
ansioso e mais motivado a trabalhar, entre outras coisas.
Equilibrar o tempo de vida sedentária com exercícios é
muito importante em nossos dias, pois tendemos a ficar
inertes depois do controle remoto, dos carros automáticos,
do telefone sem fio, todos estes confortos da vida moderna,
que sacam de nosso dia-a-dia a movimentação natural.
Nas grandes cidades, a violência, a insegurança, o
estresse, a falta de espaços de lazer, as dificuldades de
transporte e de estacionamento, acabam por restringir a
possibilidade de diversão para a maioria das pessoas. Por
esse motivo, os shopping centers acabaram se tornando
opções de lazer, principalmente para os jovens, locais onde
se vai mais para passear e divertir-se do que para fazer
compras. Recentemente foi inaugurado em Belo Horizonte
um novo shopping somente de entretenimento. Será este o
divertimento do século XXI?
Apesar disto e graças a uma crescente conscientização
da importância do lazer para a vida das pessoas, estão
surgindo novas opções, principalmente para a terceira idade.
Museus, visitas, passeios, feiras, festivais, festas religiosas e
laicas, carnaval, parques, clubes, bares, restaurantes típicos,
artesanatos, shows, eventos culturais e folclóricos, estão

121
entre uma grande variedade e diversidade de expressões de
lazer.
Nosso país possui uma geografia variada e uma
natureza privilegiada e é riquíssimo em manifestações
culturais, arquitetônicas, folclóricas e históricas. No entanto,
oferece poucas opções para um turismo de massa. As
viagens de férias, geralmente para as praias, têm sido a
opção preferencial da maioria dos brasileiros, apesar do
custo cada vez mais elevado das diárias dos hotéis. No
entanto, recentemente, surgiram formas mais econômicas de
hospedagem, como os clubes de viagens, turismo e lazer
semelhantes a outros já existentes em diversos países,
especialmente nos Estados Unidos e na Europa, em que os
viajantes ficam hospedados em casas ou imóveis cedidos
por outros sócios. Eles têm por objetivo viabilizar o turismo
e o lazer para um maior número de pessoas, através de
meios de transporte, hospedagem e passeios mais
econômicos e baratos. Buscam também proporcionar e
estimular a convivência entre pessoas de diferentes regiões,
culturas, línguas e nações.

122
DICAS DE ALGUMAS ATIVIDADES DE LAZER

LIBERANDO A IMAGINAÇÃO E A FANTASIA

* Jogar Baralho: Chamamos o jogo de baralho de
espanador da mente. Ficamos tão absortos nas cartas que é
como se a mente se visse livre de suas pré-ocupações. É a
terapia desocupacional da mente. Possui todas as metáforas
do acumular (as cartas), passar a perna (blefar), comprar,
vender, vencer.
* Jogar Sinuca: Uma corruptela de um jogo de
sedução. Várias cores, o taco fálico, colocar bolinhas no
buraco, que se assemelha a um jogo sexual, sem contar os
quilômetros caminhados em volta da mesa.
* Jogos Coletivos: A experiência fantástica de
trabalhar em equipe, a impotência de conseguir fazer tudo
sozinho, a necessidade de ser ajudado pelo companheiro, de
fazer um plano de jogada, a jornada extenuante que sempre
queima muitas calorias.
* Natação: O retorno ao útero, o contato com a água, o
jogo das temperaturas, a do corpo contra a da água, a alegria
de virar criança jogando água nas crianças, o relaxamento, o
prazer hipnótico de boiar.
* Caminhada, corrida: Quantas idéias aparecem nessa
hora, a mente vai se oxigenando a cada passo, a felicidade
de respirar e sentir o ar entrando e saindo como uma dádiva
divina; olhar a natureza e sentir-se parte dela.
* Bicicleta: Criar asas e rodas ao mesmo tempo, o
prazer maior é o de sentir o vento batendo, os pedacinhos de
sol ficando para traz.
* Mar: A incerteza da infinitude, a vontade de virar
uma espuma, o jacaré, o movimento sinuoso das águas, o
gosto de sal na boca, os castelinhos de areia, a sensação de
amplitude no horizonte.

123
* Cachoeira: Sensação uterina, barulho ancestral, a
água sempre fria, o prazer de admirar a obra linda da
criação, o ponteiro do relógio da vida.
* Viagem: Conhecer uma nova cidade, um novo povo,
o desconhecido batendo à porta, como a chegada a um outro
planeta, onde tudo é diferente, a solidão e o prazer de não
conhecer ninguém, o prazer ainda maior de conhecer os
habitantes e rir das diferenças, o sabor exótico das comidas
que não conhecemos.
* Cinema: O mundo ficou lá fora e aqui dentro é tudo
fantasia, transportamo-nos para aquela tela aberta à frente,
somos passageiros de um sonho com começo, meio e fim, e
não se sabe se está chovendo, havendo guerra, pois nessas
duas horas é pura anestesia.
* Restaurante, parque, montanha-russa, escalada,
boteco, batucada, baile, discoteca, show de rock, tocar
violão, comer feijoada, contar piada, andar de barco, pescar,
velejar, que infinitas possibilidades de explorar essas
amplitudes da vida.
É claro, como você vai conseguir ter lazer, viagem,
divertimentos, se não programar uma poupança para tal?
Dissemos que não mais vivemos para trabalhar, mas
trabalhamos para viver. Portanto é preciso saber programar
seu orçamento para poder aproveitar o tempo livre. Há um
ditado tibetano que diz: “faça o bem, ame seus parentes, seja
feliz e nunca gaste todo o seu dinheiro”.

As melhores coisas da vida são de graça, mas é
preciso ter algum dinheiro para conseguí-las.

124
DICAS PARA PLANEJAMENTO DE FÉRIAS

Já foi o tempo em que se viajava para qualquer lugar.
Hoje queremos conhecer os lugares mais lindos possíveis
pelo menor preço. Isso demanda uma palavrinha mágica
chamada PLANEJAMENTO.
* Já ao final de suas férias procure iniciar a poupança
para as próximas férias. Faça o roteiro e procure avaliar com
uma companhia de turismo quanto vai custar esse roteiro. Se
estiver além de suas possibilidades, procure outro até
encontrar o ideal para você.
* Economize de 10 a 20% de seu salário para suas
férias. Se o seu sonho for muito grande tem que economizar
mais, tirar de algum lugar para pôr nessa poupança. Se
puder, comece a pagar desde cedo o hotel e as passagens.
Ao longo do ano, os preços podem subir e seu dinheiro pode
acabar não sendo suficiente. Os pacotes de viagem quase
sempre têm preços menores do que os planos individuais,
mas procure estar sempre atento a tudo que está incluído no
pacote, para ver se realmente vale a pena.
* Não despreze os financiamentos, pois eles podem ser
sem juros, e você pode deixar uma parte de seu dinheiro
rendendo para mais um passeiozinho durante as férias.
* Se você não tiver problemas com calendário ou com
aulas dos filhos, o melhor é evitar a alta temporada. Nessa
época os lugares estão superlotados e os preços lá em cima.
* Pesquise até cansar os preços das passagens
(principalmente as aéreas, que variam muito de uma
companhia para outra) e dos hotéis. Nunca despreze os
programas de milhagens das companhias aéreas, mas,
cuidado, ESSES PROGRAMAS TÊM DATA DE
VALIDADE. Às vezes você pensa que ainda tem milhas a
utilizar e elas já venceram.

125
* Use sempre racionalmente seu cartão de crédito,
principalmente nas férias. Você está de férias, mas o seu
salário não, e se passar da conta irá se arrepender depois.
Trabalhará em dobro para pagar as férias. O cartão de
crédito tem uma utilidade extra nas viagens. Você não
precisa andar com muito dinheiro no bolso. Turistas são
sempre muito visados pelos ladrões.
* Alugar um carro só vale a pena quando o roteiro
inclui cidades próximas ou lugares sem transporte público
adequado. Um carro alugado pode custar muito caro, a não
ser que você tenha dinheiro sobrando. É melhor escolher
hotéis em lugares próximos à orla da praia ou dos lugares
mais badalados para gastar menos com transporte.
Para poder tirar férias sem pré-ocupações e pós-
ocupações, você precisará ter poupado dinheiro durante o
ano, e para isso precisa ter inteligência econômica. Os
simples mortais como nós vivem atabalhoados com o
mundo da economia e do comércio (mundo que é na
verdade o da arte de enganar o freguês, ou de como fazer o
seu dinheiro migrar de seu bolso para o de seu credor da
forma mais rápida e vantajosa possível para ele). Há alguns
livros que nos ensinam a entender o economês básico e fazer
a nossa base econômica, e entre eles aconselhamos o livro
de Luís Carlos Ewald, Sobrou Dinheiro! Lições de
Economia Doméstica (Rio de Janeiro: Editora, 2003).
Vamos tirar dele algumas dicas básicas.
· Aprenda a fazer o seu orçamento doméstico, e nunca
disperse da necessidade de acompanhá-lo passo a passo.
Com o tempo você aprenderá a gastar exatamente aquilo
que pode, quando pode.
· A máxima fundamental da economia doméstica é: no
fim do mês tem que sobrar dinheiro, nunca faltar. Se estiver
faltando, vá fazendo a mágica até começar a sobrar. A partir

126
do momento em que sobrar, sua vida começará a melhorar
dia-a-dia.
· Aprenda com um contador a fazer planilha, seja no
papel ou no computador, monte a sua planilha de um jeito
racional e organizado. (Atenção: quando o dinheiro começa
a faltar, a nossa tendência é abandonar a planilha e esquecer
que estamos devendo). Não faça isso, persiga o êxito mesmo
quando as coisas estiverem ruins.
· Muito cuidado com todas as armadilhas do mercado
como: prazos dilatados de pagamento, pagamento em várias
vezes sem juros (isso nunca existe, pois o comércio não é
bonzinho e sim espertinho, sempre os juros já estão
embutidos), cheques pré-datados (um perigo para quem não
tem bom controle das contas ou para quem não tem uma
renda fixa; nunca confie na renda futura, ela sempre pode
lhe trazer surpresas). O melhor pagamento é sempre o à
vista, e nunca, nunca mesmo, deixe de negociar descontos;
sempre chore bastante e consiga o máximo.
· Ao fazer todo tipo de compras, planeje antes. No
supermercado, por exemplo, evite as compras supérfluas,
faça sempre uma lista antes como estimativa de gastos e não
fuja muito do que planejou. O supermercado tem estratégias
quase científicas para nos fazer gastar e temos que nos
proteger. Por exemplo, você já viu algum relógio em
supermercado? Não, pois quanto mais tempo você passar lá
dentro, melhor para eles. De preferência, dentro do
supermercado, você deve esquecer que o tempo existe.
Cuidado com as falsas ofertas e veja sempre o tempo de
validade dos produtos. Pesquise preços. Tudo isso está
incluído na sua meta de sobrar dinheiro para as férias.
Vislumbre, em cada gasto, as suas férias de muito tempo
depois e economize, economize sempre.
· Aprenda o mínimo sobre taxas de juros, como se
calcula se o juro que está sendo cobrado é aquele mesmo ou

127
outro (os bancos, por exemplo, cobram juros compostos,
que no final acabam saindo muito mais elevados do que
parece). Aprenda a negociar.
· Cuidado com os cupins do orçamento doméstico que
hoje são: as contas de telefone, água e condomínio; nunca
desperdice água ou passe horas ao telefone ou na Internet,
pois senão seu dinheiro irá pelo ralo.
· Tome dinheiro emprestado apenas quando valer a
pena mesmo (por exemplo, para quitar um cheque especial,
(no qual, de preferência, você nunca deve entrar, pois é o
verdadeiro suicídio econômico), ou quando for para um
investimento (a compra de um carro, um imóvel, uma jóia,
etc).
· Por fim, evite a compulsão consumista, veja sempre
se o que está comprando é realmente necessário e consuma
supérfluos de uma maneira prazerosa e responsável.

128
AVALIANDO SUA QUALIDADE DE VIDA












COMO ESTÁ SUA AUTO -ESTIMA?
11


O questionário a seguir tem por objetivo ajudar-lhe a
fazer uma rápida avaliação de sua auto-estima através de
algumas características pessoais.
Abaixo estão relacionadas diversas características
que podem ser importantes para uma pessoa. À frente de
cada uma encontram-se 10 colunas, numeradas de 1 (a mais
baixa) a 10 (a mais alta), para que você dê uma nota para
cada característica conforme segue:
1º) Para cada item, dê uma nota a si mesmo(a),
escrevendo um E (eu) na coluna correspondente, de 1 a 10.
2º) Faça um O (outros) para dar a nota que você
acha que a maioria das outras pessoas em geral obteriam
para cada traço ou característica.
3º) Ponha um V (volição) na coluna adequada para
indicar a nota que você gostaria de ter.


11
Este questionário é uma modificação do QICE, de Pierre Weil, feita por Marcos
G. de Araujo, com base em levantamentos feitos com 176 participantes dos seus
workshops de Bioencontro, sobre os traços e características considerados mais
importantes numa pessoa. Um estudo sobre o QICE poderá ser encontrado no livro
Dinâmica de Grupo e Desenvolvimento em Relações Humanas, de Pierre Weil e outros.
(Belo Horizonte, Itatiaia, 1967).

129
CARACTERÍSTICAS 1 2 3 4 5 6 7 8
9 10
CARÁTER
INTELIGÊNCIA
SINCERIDADE
HONESTIDADE
COMPANHEIRISMO
BOM HUMOR
SENSIBILIDADE
FIDELIDADE
RESPONSABILIDADE
SEXUALIDADE
CULTURA
APARÊNCIA FÍSICA
NÍVEL SÓCIO-ECON.
ESCOLARIDADE
PRESTÍGIO SOCIAL

Tendo dado cada uma das três notas para cada traço,
some as notas de cada letra (total de E, total de O e total de
V) e anote o valor a seguir:
E = O = V =
Após isso, faça as seguintes subtrações:
E - O = V - E= V - O =


RESULTADOS APROXIMADOS

Se a soma de E estiver entre 90 e 125 e a diferença E-O
estiver entre 8 e 30, isto indica que sua auto-estima está num
nível mediano. Se E for maior que 125 e E-O for maior que
30, isto sugere que sua auto-estima está aumentada. Muito
acima desses valores pode indicar uma auto-avaliação irreal
e presunçosa. E menor que 90 e E-O menor que 8
(principalmente se for um número negativo) significa que
sua auto-estima deve estar rebaixada.

130
O valor de V deverá normalmente ser superior a E,
ou seja, você gostaria de ter uma nota superior a que tem
atualmente, isto é, deseja melhorar. Quanto mais próximo de
150 (o máximo da soma das notas) V estiver, mais elevadas
são as suas aspirações. Se V-E estiver entre 10 e 35, você
está entre a média das pessoas. Se o resultado for maior que
35 isto pode significar que você se acha distante de suas
aspirações ou que você está insatisfeito(a) consigo
próprio(a).
Estatisticamente, a soma de O deveria estar entre 75
e 90. No entanto, temos observado que há uma tendência a
que se dê um valor um pouco superior a isto, numa
avaliação favorável das pessoas em geral. O contrário
poderia sugerir uma visão crítica das mesmas. V-O é um
parâmetro de controle, que deverá ser sempre positivo. É a
distância entre seus desejos e aspirações e a maneira como
percebe as demais pessoas. Um número elevado (acima de
70) pode indicar alguma dificuldade em aceitar as pessoas
como elas são.
Observação: Esses resultados apenas sugerem algo que
pode estar ocorrendo com você e não devem ser
considerados como um diagnóstico de sua auto-estima, que
só poderá ser feito com precisão por um psicólogo em uma
avaliação direta.

131
UM POUCO SOBRE O ESTRESSE

Um certo nível de estresse é necessário à vida no
mundo competitivo em que vivemos, mas temos que estar
sempre alertas quando ele PASSA DO PONTO, o que
representa risco iminente de doença física e/ou mental. O
endocrinologista austríaco Hans Selye desenvolveu uma
teoria da evolução do estresse que é útil para aprendermos a
nos prevenir dele. Segundo ele, o estresse avança por etapas,
de um fenômeno normal até a doença. As fases são:
1) Alerta: Mobilização para reagir ao fenômeno que
estressa. A pessoa fica agitada, irritada, aumenta sua
capacidade de trabalho, sua mais, pode aumentar ou perder
o apetite, o coração bate mais depressa, ela se torna mais
instável emocionalmente.
2) Resistência: Adaptação ao estresse na tentativa de
paralisá-lo. Permanecem somente dois sinais: cansaço
excessivo e dificuldades de concentração e memória. A
produtividade permanece normal, mas o desejo sexual
diminui, a pessoa sente que não está normal.
3) Quase-exaustão: Sensação de que se está no limite,
cansaço fácil, memória muito ruim, descontrole emocional
fácil, podem ocorrer depressão e ansiedade. A produtividade
cai, a pessoa começa a ter aversão ao sexo e ao convívio
social.
4) Exaustão: Começam a surgir os sintomas de doença:
taquicardia, hipertensão, infarto do miocárdio, úlcera,
diabetes, impotência sexual, baixa dramática do humor,
idéias pessimistas e de auto-extermínio; a produtividade no
trabalho vai a zero.
Atenção! Cada pessoa tem um limiar próprio ao
estresse e assim alguns podem evoluir da fase 1 à 4
rapidamente, enquanto outros suportarão muito mais tempo
a fase 1 ou sairão do estresse com mais facilidade. É por

132
isso que indivíduos trabalhando no mesmo setor estressante
podem desempenhar melhor ou pior a mesma tarefa.
Algumas atividades são particularmente estressantes e
aqueles profissionais que optarem por elas terão que estar
constantemente atentos ao seu nível de estresse. São, por
exemplo, as atividades desempenhadas por:
-Policiais e outros profissionais de segurança.
-Profissionais de saúde que trabalham em emergências.
-Controladores de vôo.
-Executivos em geral.
-Pilotos e motoristas de veículos coletivos.
-Todos os profissionais que trabalhem sob pressão
excessiva de desempenho e demanda.

133
COMO ESTÁ O SEU NÍVEL DE ESTRESSE?

Dê uma nota de 1 a 5 para você nas situações abaixo, sendo assim:
1 = nunca, 2 = raramente, 3 = às vezes, 4 = freqüentemente, 5 =
sempre.

1) Numa fila, fico impaciente ____
2) Sou muito competitivo____
3) Aceito novas responsabilidades mesmo estando sobrecarregado____
4) Sinto-me culpado se não sou produtivo____
5) Tendo a me fixar no lado negativo das coisas____
6) Sinto-me insatisfeito com minha vida pessoal____
7) Quando sou criticado fico agressivo____
8) Deixo a expectativa dos outros influenciar minha vida____
9) Penso que meu tempo é pouco para tudo que tenho a fazer____
10) Perco o controle quando fico frustrado____
11) Quando me sinto tenso, bebo para relaxar____
12) Gasto demais____
13) Deixo para fazer exercícios depois ____
14) Quando estou ansioso, como compulsivamente____
15) Sinto-me tão cansado que não consigo me divertir____
16) Meu sono é agitado/ou superficial____
17) Fumo____
18) Irrito-me facilmente____
19) Tenho dificuldade para me concentrar____
20) Esqueço-me de compromissos importantes____

Até 30 pontos: Bom índice, estresse sob controle
31 a 60 pontos: Cuidado, nível médio de estresse
Acima de 60 pontos: Muito cuidado, Sua saúde está em perigo.

134
UM POUCO SOBRE A DEPRESSÃO

Como vimos acima, em um determinado momento,
estresse (que é quase sinônimo de ansiedade) e depressão
convergem. Embora sejam conceitos totalmente distintos, as
pessoas ansiosas podem acabar deprimidas, e muitas
deprimidas são também ansiosas. No mundo de hoje, a
depressão é uma epidemia. Pessoas vivendo em grandes
cidades, submetidas a todo tipo de pressão de vida e iludidas
pelo ideal consumista, acabam por encontrar o chamado
“território do vazio interior”, pois ao não terem metas
adequadas de vida, ou não conseguirem se satisfazer com
seu projeto de vida, tornam-se pessimistas, derrotadas,
descrentes de sua capacidade e da dos outros.
Distinguir uma tristeza maior da depressão é difícil
às vezes até para profissionais experientes. Muitas pessoas,
hoje em dia, usam antidepressivos e ansiolíticos como se
fossem remédios comuns. Não são. Têm muitos efeitos
colaterais, podem causar tolerância (fazer a pessoa ficar
viciadas neles) e muitas vezes piorar o quadro de depressão,
ao invés de melhorá-lo.
O diagnóstico de depressão tem critérios rígidos.
Para se dizer que uma pessoa é deprimida, cinco ou mais
dos sintomas que descrevemos abaixo têm de estar presentes
pelo período mínimo de duas semanas seguidas. Dentre
estes cinco, os sintomas um e dois abaixo sempre têm de
estar presentes.
1) Humor deprimido durante a maior parte do dia (sensação
de vazio, choro fácil).
2) Prazer ou interesse diminuído em quase todas as coisas na
maior parte do dia.
3) Alteração significativa do apetite, para mais ou para
menos.
4) Excesso ou falta de sono quase todos os dias.
5) Agitação psicomotora ou lentidão psicomotora quase todos os dias.

135
6) Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.
7) Sentimentos de autodesvalorização e/ou culpa quase todos os dias.
8) Diminuição da concentração e da memória, sensação de
indecisão na maior parte das atitudes a serem tomadas.
9) Falta de desejo sexual, aversão ao sexo, impotência
sexual, na maior parte do tempo.
10) Pensamentos de morte, idéias suicidas ou vontade de
sumir, desaparecer, andar a esmo, com bastante freqüência.

A depressão não é uma doença qualquer. É mais
freqüente entre as mulheres e tem um componente genético.
Começa em geral após algum evento traumático: perda de
emprego, de ente querido, separação conjugal, etc. Ocorrem
mais de 10.000 suicídios por ano, no Brasil, devido à
depressão; cerca de 10 a 15% dos indivíduos com depressão
grave cometem suicídio (um em cada sete). Os deprimidos
também abusam mais de drogas (maconha, álcool, cocaína,
etc.) e sofrem muito mais acidentes (de trânsito, doméstico,
no trabalho, devido à desatenção, perda de concentração e
memória). Tendem a abandonar empregos, deixar os estudos
pelo meio, são funcionários confusos e pouco produtivos, e
sofrem, com freqüência, acidentes de trabalho, além de
faltarem ao trabalho 3 a 5 vezes mais dos que os
funcionários não depressivos.
Apesar da depressão ser uma doença grave, os
tratamentos atuais, tanto medicamentosos e psicoterápicos
(o melhor tratamento para depressão é medicamento mais
psicoterapia) são altamente eficazes em seu controle, e
apenas 1/3 dos deprimidos entram em sua forma crônica e
têm que fazer tratamento por toda vida. A maioria das
pessoas deprimidas fica curada após algum tempo de
tratamento ou tem recaídas em momentos de crise, mas vive
bem na maior parte do tempo. Esse tempo pode ser maior ou
menor conforme o tipo de depressão, o paciente e o método

136
utilizado. Se, ao invés de querer encaixar o paciente na
forma do método usado (por exemplo, a psicanálise), o
profissional for livre e flexível o suficiente para adaptar o
seu método às necessidades do paciente, utilizando até de
recursos alternativos, ele terá a possibilidade de alcançar
resultados muito mais satisfatórios em um tempo bem
menor. As atuais terapias de grupo também têm se mostrado
eficazes em muitos casos de depressão, o que pode tornar o
tratamento mais barato.

137
UM POUCO SOBRE O HÁBITO DE FUMAR

A comercialização legal desta droga representa com
nitidez extrema a "ignorância humana", a subserviência dos
governos ao capital (já que a indústria do cigarro é uma das
maiores pagadoras de impostos), a falta de zelo dos
governantes para com seus cidadãos, o desmazelo individual
quanto à saúde e à prevenção de doenças.
O cigarro está relacionado praticamente a todas as
doenças crônicas, não provoca um só benefício evidente ao
indivíduo, contamina o meio-ambiente, as pessoas em volta,
modifica o cheiro dos quartos, espanta os amigos. Não
bastasse o cortejo de malefícios, cada dia mais o fumante é
discriminado, em casa, no trabalho, nos lugares públicos.
Podemos parar aqui, já fomos convincentes? Ledo
engano. Milhões e milhões continuarão fumando. A melhor
forma de parar de fumar é nunca começar. Segundo alguns
especialistas, parar de fumar é tão difícil quanto parar de
usar heroína.
A seguir vamos apresentar alguns dados assustadores
sobre o tabagismo. As publicações sobre o tema estão aos
milhares nas revistas científicas. Tudo foi muito bem
sistematizado e reunido no Guia Nacional de Prevenção e
Tratamento do Tabagismo (Aloysio Achutti, Vitrô
Comunicação & Editora, Rio de Janeiro, 2001), do qual
retiramos a maioria das informações.
No mundo todo há cerca de 1 bilhão de fumantes,
cerca de 1/6 da população mundial. Deles, 500 milhões
morrerão em conseqüência de seu hábito de fumar. As
pessoas costumam se viciar em cigarros na infância e na
adolescência; há pelo menos 500.000 fumantes no mundo
menores de 20 anos. O Brasil é o quarto maior produtor
mundial de cigarros e o maior exportador mundial, sendo o
estado do Rio Grande do Sul o maior produtor. A maioria

138
dos consumidores de cigarro estão em países pobres (a triste
combinação entre falta de conhecimento e propaganda
enganosa).

Em um único cigarro há cerca de 4.000 agentes tóxicos e
carcinogênicos. Quatro milhões de fumantes morrem
anualmente, no mundo, vítimas de seu hábito de fumar.
O fumante crônico tem em média uma expectativa de
vida 10 anos menor do que o não fumante.

A lista das doenças relacionadas ao hábito de fumar
é imensa: câncer de pulmão, da boca, da língua, da bexiga,
do pâncreas, do estômago, dos rins; doenças cardíacas,
aneurisma, pneumonia, derrame cerebral, cirrose hepática,
etc...
Estatística realizada no ano de 1989 mostrou que o
Brasil exportava 207 milhões de toneladas de tabaco e
consumia 238,9 milhões de toneladas por ano. O imposto
correspondia a 73,74% do preço de venda. Anualmente
consumia-se, no Brasil, à época, cerca de 150.000.000.000
de cigarros .
No Rio Grande do Sul (45% da produção nacional),
para manter a indústria do fumo são queimadas cerca de 25
milhões de árvores por ano, para alimentar 50 mil fornos, o
que equivale a 50 árvores por minuto. A quantidade de
fumaça produzida pela queima desses cigarros, medida pelo
fluxo central pode chegar a 80 milhões de toneladas (7 Kg
de fumaça por ano por fumante).
É muito importante salientar que, diferente de outros
vícios, quando o indivíduo deixa de fumar, muitas das
doenças em curso por causa do cigarro são revertidas e a
chance dessa pessoa ter uma vida normal retorna em algum
tempo. Quando um câncer é diagnosticado devido ao uso de
cigarro, a interrupção do vício aumenta várias vezes a

139
chance do portador do câncer ficar curado. Mesmo sabendo
disso, somente 1/3 dos fumantes param de fumar após o
diagnóstico do câncer.
Sabe-se que o hábito de fumar aumenta o risco de
doenças do coração; mesmo naqueles que já apresentam a
doença, parar de fumar diminui em 50% o risco de morte
prematura devido à doença. O mesmo se aplica às chances
de derrame cerebral e doenças do pulmão.
Trabalhos com inibição do hábito de fumar
devem ser feitos preferencialmente com os jovens. É
nessa faixa etária que o indivíduo, em geral, se vicia, e os
jovens pensam menos conseqüentemente do que os
adultos. Os pais que são fumantes ou são
condescendentes com esse hábito dos filhos são co-
responsáveis pelas doenças que eles apresentarão no
futuro.
Fumar na gravidez aumenta o risco de vida para a
mãe e o feto. Assim mesmo, 20 a 30% das grávidas são
fumantes, e apenas uma em cinco pára de fumar durante o
pré-natal.
Segundo Mauro Zamboni, da Sociedade Brasileira
de Pneumologia e Tisiologia, inúmeros trabalhos
demonstram a relação inequívoca entre o cigarro e o câncer
do pulmão. A fumaça do cigarro é responsável por 90% dos
tumores do pulmão nos homens e 79% entre as mulheres.
O homem que fuma tem um risco de desenvolver
câncer do pulmão cinco a 20 vezes maior do que aquele que
não fuma. O cigarro também aumenta o risco de câncer do
colo uterino nas mulheres e se relaciona também ao câncer
de mama. Entre outros males, o cigarro está intimamente
relacionado à impotência sexual masculina. Homens
fumantes são sérios candidatos a desenvolverem problemas
de ereção a médio e longo prazo.

140
O Instituto Nacional do Câncer do Japão estudou,
durante 14 anos, 91.540 mulheres com 40 anos de idade ou
mais, não fumantes, casadas com maridos fumantes e não
fumantes. O índice de mortalidade por câncer de pulmão das
esposas de maridos fumantes foi quase o dobro daquelas
esposas de maridos não fumantes.
O tratamento do hábito de fumar envolve ações
comportamentais, terapia apropriada e medicamentos. Hoje
há uma série de profissionais capacitados para desenvolver
essas técnicas, associações especializadas, medicações
eficientes. O Guia Nacional de Prevenção e Tratamento do
Tabagismo aconselha a seguinte seqüência de atitudes ao
fumante que deseja parar de fumar:

1) Esteja pronto mesmo
- Defina a data
- Mude o ambiente
-Se você já tentou interromper o uso do tabaco, faça um
balanço do que deu certo e do que não deu

2) Peça apoio
- Da família, amigos e colegas de trabalho
- Participe de grupos de auto-ajuda e programas de saúde

3) Utilize estratégias
- De distribuição
- De mudança de rotina
- Para diminuir o estresse
- Para ampliar o lazer
- Beba muita água

4) Procure
- Aconselhamento
- Tratamento especializado

141
- Medicação

5) Esteja preparado para situações difíceis que podem
desencadear uma recaída
- Evite álcool
- Evite outros fumantes
- Cuide do humor
- Faça dieta

142
UM POUCO SOBRE O ALCOOLISMO

O hábito de beber é característico de nossa
sociedade. Estamos afundados em álcool. Estranhamos
muito quando vamos a uma festa em que não há bebida
alcoólica. Servir bebidas finas é sinal de requinte, não
servi-las uma falta de educação para com os convidados;
tendemos a subestimar os efeitos do álcool e a aceitar os
amigos alcoólicos como se fossem normais. Enquanto a
sociedade já desconfiou que o fumo é uma praga, ela ainda
acha que o álcool é uma bênção. A propaganda de bebidas é
aceita pela mídia, está associada aos esportes, à beleza das
mulheres e à juventude. Tudo isso é bastante perigoso
porque os jovens formam o grupo mais vulnerável ao álcool,
e o álcool é a porta de entrada de drogas mais pesadas na
juventude. As pesquisas mais atuais estão apontando para
um sinal de alerta no uso de álcool pelos adolescentes.
Pesquisas realizadas em várias universidades
americanas, principalmente em Harvard, Pittsburg e
Bethesda, indicam uma forte associação entre o uso
constante de álcool por adolescentes e lesões das células do
hipocampo, região cerebral responsável pelo aprendizado e
principalmente pela memória. Alguns estudos demonstraram
que o hipocampo dos adolescentes que bebem pesado é em
geral menor até 10% do que o dos adolescentes que não
bebem. O potencial genético para o vício em álcool é muito
grande. Estima-se que uma em cada 10 pessoas que
começam a beber, torna-se um viciado.
Uma vez estabelecido, o alcoolismo vira uma doença
crônica. O organismo fica sensibilizado ao álcool e precisa
dele para funcionar. Se um viciado em álcool pára de beber,
não pode recomeçar. Cada recomeço significa um novo
caminho para o vício. O bebedor constante associa o mal do
alcoolismo à cirrose hepática e enquanto não "sofre do

143
fígado" pensa que nada está acontecendo ao seu organismo.
O que ele muitas vezes não sabe é que o fígado é um órgão
extremamente resistente que só dá sinais de cansaço quando
mais de 80% de sua área está lesada; o que ele não sabe é
que o álcool provoca lesões irreversíveis no cérebro, a longo
prazo atrofia regiões importantes do sistema nervoso, lesa
células da memória e da coordenação motora, pode provocar
o envelhecimento cerebral precoce. Do ponto de vista do
comportamento humano, o álcool melhora a sociabilidade
quando ingerido em baixas doses e com moderação (tal
moderação é muito maior do que as pessoas realmente
pensam) mas, quando se torna um hábito, pode interferir na
personalidade, no relacionamento conjugal, no humor, no
sono e na produtividade no trabalho. Mas o que é beber
socialmente?
Você sabia que se ingerir duas latas de cerveja ou
duas doses de bebida destilada já estará alcoolizado? Sim,
nesse caso você já estará com mais de 0,6 gramas de álcool
por litro de sangue, ponto a partir do qual o álcool começará
a influenciar suas funções vitais. Muito pouco? Segundo os
especialistas do trânsito, se você dirigir com uma taxa de 0,6
g/litro de álcool no sangue o risco de provocar acidentes
aumenta duas vezes; se você estiver com 0,8 g/l o risco
aumenta para 4 vezes, e acima de 1,5 g/litro aumenta 25
vezes.
Segundo o GEA (Grupo Interdisciplinar de Estudos
do Álcool e Drogas do Hospital das Clínicas de São Paulo),
cerca de 15% da população brasileira é viciada em álcool,
um número um pouco maior do que de outros países.
Enquanto a indústria do álcool representa 3,5% do
Produto Interno Bruto Brasileiro em impostos, o gasto do
país para tratar o alcoolismo resulta em 7,3 % do PIB, o que
é quase o dobro. A AMBEV, maior produtora de cerveja do

144
país, produz a estrondosa soma de 35 milhões de garrafas de
cerveja por dia.
O alcoolista passa por quatro fases distintas:
1) Fase Social 1 - (dependência emocional). Ainda não
perde o controle devido ao uso do álcool. Não passa por
problemas familiares. Tem controle sobre o vício.
2) Fase Social 2 - (dependência emocional e início de
dependência física) - A diferença com a fase social 1 é que o
alcoolista começa a beber mais do que queria.
3) Fase de Dependência Física 1 - Bebe-se muito, beber
torna-se um problema, esforça-se para parar de beber sem
conseguir, começa a ter problemas familiares devido ao
hábito de beber, conseqüências físicas e emocionais
aparecem. Começa a ter síndrome de abstinência.
4) Fase de Dependência Física 2 - Basta beber um
pouquinho para ficar alcoolizado. Tem delírios, mãos
trêmulas. Problemas emocionais extremos. Crises
esquizofrênicas. Perdas, abandono pela família e pelos
amigos.
Se você está apresentando os sintomas abaixo com
muita freqüência, cuidado, você pode estar caminhando para
uma fase irreversível do alcoolismo.

1. Deseja beber freqüentemente
2. Necessita de uma bebida a certas horas do dia
3. Sente antecipadamente a vontade de beber à noite,
quando o dia está para chegar ao fim
3. Bebe pra dormir
4. Bebe mais do que queria beber durante as festas
5. Deseja sentir-se alto e manter-se alto
6. Desaponta-se se bebidas não são servidas numa festa ou
restaurante
7. Não aceita ser criticado por estar bebendo demais, e as
pessoas andam lhe dizendo isso com freqüência.

145
8. Bebe para aliviar a tensão ou a depressão
9. Esconde sua dependência do álcool dos amigos
10. Tem perdas de memória com freqüência
11. Vive se culpando por não conseguir parar de beber
12. Por causa da bebida vem tendo problemas no seu lar
13. Tem faltado ao serviço com freqüência por causa da
bebida
14. De vez em quando apaga de tanto beber
Assim como para o hábito de fumar, há hoje formas
eficientes de terapia individual e de grupo, além dos grupos
de ajuda para alcoolistas. O importante é a pessoa tomar a
decisão de parar de beber e acreditar que poderá mudar sua
vida a partir de então. Há também medicações que podem
ajudar em muito quando bem indicadas. Algumas dicas para
quem, após ler esse pequeno alerta sobre o alcoolismo,
resolveu maneirar nas suas doses.
Nas festas, fique longe do copo, evite manter o copo
na mão o tempo todo. Faça o mesmo em relação à
garrafinha ou à latinha de cerveja. Levante, vá dançar,
converse em pé com os amigos, mantenha-se ocupado para
não beber.
Não beba à noite, se a vontade de beber estiver
incontrolável no período noturno, faça um coquetel, uma
caipirinha, mas sem álcool, e finja que está bebendo a
mesma coisa.
Nas festas, fique longe do caminho dos garçons.
Pegue logo um copo de bebida não alcoólica e ocupe-se com
ele.
Evite ter bebidas alcoólicas em casa, em estoque.
Nesse caso vale o velho ditado: quem não vê não cobiça.
Limite a sua relação com os amigos que bebem
demais. Eles em geral são "ótimos" amigos, pois os
alcoólicos ficam alegres sempre, contam piadas e sabem

146
agradar (faz parte do efeito do álcool), além de sempre
terem bebidas à mão.
Procure passar cada vez mais tempo sem beber.
Comece com dois dias, passe para três, para quatro, assim
sucessivamente.
Não ligue se numa festa os amigos começarem a
gozá-lo por não beber, se o chamarem de bicha, frouxo,
careta. Pense que eles é que o são, mas não os evite por isso.
Sua atitude pode ser muito importante na próxima atitude
deles.
Não fique com raiva de sua mulher, seus filhos, seus
verdadeiros amigos que tentam dissuadi-lo de beber. Você
breve saberá o quanto eles lhe querem bem.
Pense no exemplo que dá para seus filhos. O filho
imita o pai, naquilo que ele tem de melhor e também naquilo
que ele tem de pior.
Pense que quer ser bom de cama sempre. O
alcoolista geralmente fica impotente depois de algum
tempo; a combinação do hálito alcoólico com a impotência
sexual é ótima para quem quer perder uma parceira na cama.
Tudo o que está acima é válido também para as
mulheres, com um adendo: o sexo feminino sofre com mais
rapidez do que o masculino os efeitos do álcool, pois as
conseqüências costumam ser mais intensas.

147
BIOENCONTRO, UM MÉTODO PARA
ATIVAR AS MUDANÇAS

12


Quando é preciso a ajuda de um orientador, terapeuta,
psicólogo ou psiquiatra? Antes de mais nada, quando quiser
melhorar, quando achar que algo de seu potencial ainda não
foi atingido. Ninguém precisa estar necessariamente doente
para procurar uma ajuda. Segundo, sempre que perceber ou
sentir que sozinho(a) não consegue vencer suas dificuldades.
Quando se acomodou no pior, na ausência de prazer, na
insatisfação, no isolamento. Ou que perdeu o elã pela vida, a
alegria, o desejo. As terapias estão aí para ajudar.
Projeto Biosofia é o nome que damos ao nosso sonho
de congregar pessoas interessadas em implementar melhor
qualidade de vida. Fundamos a Sociedade Brasileira de
Biosofia (bios=vida, sofia=estudo) para reunir estudos,
buscar as experiências pessoais e institucionais em
qualidade de vida, promover cursos e congressos, fazer
publicações e criar condições globais para a vida com
qualidade.
Nosso projeto inclui um programa que denominamos
BIOENCONTRO. O Bioencontro é um tipo de abordagem
intensiva de grupo, derivado da Psicoterapia pelo Encontro,
que tem como objetivos principais o desenvolvimento
pessoal e a mudança do estilo de vida. Trabalha os
processos de comunicação verbal e não-verbal e as relações
interpessoais que ocorrem no grupo. É uma forma de grupo-
maratona, espécie de workshop de terapia grupal, feita
seguidamente durante um fim-de-semana ou alguns dias.

12
Para melhor conhecimento do Bioencontro e de outros métodos grupais, o leitor
poderá recorrer ao e-book (livro eletrônico) de Marcos Goursand de Araujo, Métodos,
Técnicas e Recursos em Grupoterapia, no site www.biosofia.com.br.

148
Não é uma terapia adequada a pessoas com
comprometimento psíquico sério, mas tem-se mostrado
bastante útil para não apenas ajudar na solução de
problemas e dificuldades, mas principalmente facilitar a
mudança do estilo de vida e os hábitos das pessoas,
estimulando-as a se conhecerem melhor e estabelecerem
relacionamentos mais saudáveis, harmônicos e satisfatórios.
A total imersão dos participantes no processo favorece
a aquisição de novos hábitos e condutas e cria uma
intensidade emocional suficiente para produzir em pouco
tempo as mudanças desejadas. Através de dinâmicas de
grupo que incluem discussões, estudos, debates, jogos,
exercícios e outros recursos e vivências, os participantes
podem repensar sua qualidade de vida e reorganizá-la
dentro dos sete pilares sugeridos.
O Bioencontro é um tipo de trabalho intensivo de
grupo, derivado da Terapia pelo Encontro, que busca, em
várias fontes, as contribuições teóricas e técnicas para uma
compreensão holística, biopsicossocial, do ser humano e
utiliza recursos técnicos do psicodrama, da dinâmica de
grupo e da biodança.
O Bioencontro parte do princípio de que uma terapia
não precisa ser obrigatoriamente um processo longo,
penoso e caro. Quem vai procurar uma terapia é porque já
está machucado e sofrido e muitas vezes não está disposto a
sofrer ainda mais para poder se tratar. Uma psicoterapia
pode também dar amor, alegria, prazer, satisfação, embora
existam momentos inevitáveis de tristeza, dor, medo e raiva.
Além disso, a maior parte das pessoas que busca terapia
pode se beneficiar de uma abordagem breve, de duração e
custo menores que as terapias tradicionais. A utilização
criteriosa de recursos e técnicas de diferentes métodos pode
tornar o processo mais intensivo, eficaz e abreviado.

149
As principais características do Bioencontro são:
- Uso freqüente de tarefas e exercícios intra e extra-
grupais. Por exemplo, pessoas sedentárias aprenderão
exercícios que as tornem mais ativas, enquanto alguém
tímido e isolado poderá dramatizar sua dificuldade de entrar
em contato com outras pessoas e participar de exercícios de
integração grupal.
- Estabelecimento de metas individuais e grupais a
serem cumpridas pós-grupo. Um grupo de obesos poderá
“levar para casa” prescrições de novos hábitos alimentares a
serem adquiridos e fumantes poderão elaborar modos e fixar
etapas para abandonarem o cigarro.
- Criação de um intenso clima emocional e afetivo para
favorecer mudanças.
- Espaçamento temporal para permitir elaboração das
mudanças. O intervalo entre os workshops é em geral de um
mês, o que facilita a participação de pessoas que residem em
locais distantes.
- O grupo pode determinar temas (ou focos) a serem
trabalhados em cada encontro.
Sintetizando, o Bioencontro é um método intensivo,
visando ajudar as pessoas a se conhecerem melhor,
estabelecerem relacionamentos mais saudáveis, harmônicos
e satisfatórios e atualizarem suas capacidades e
potencialidades, através de vivências intensivas de curta
duração, em workshops de fim-de-semana.

150
EXEMPLO DE UM TRECHO DE SESSÃO DE
GRUPOTERAPIA INTENSIVA (BIOE NCONTRO)

O grupo é constituído por 14 pessoas adultas que
participam de um workshop intensivo de 20 horas, sob a
forma de Bioencontro. O trabalho começou na sexta-feira à
noite e irá terminar no domingo à tarde. O presente trecho é
parte da sessão realizada no início da tarde de sábado.
Sandra, uma moça de 26 anos, solteira, está relatando
que sempre se sentiu rejeitada pelas pessoas por se achar
feia, tímida, desajeitada e que atualmente estava muito só,
evitava as outras pessoas. Outros membros do grupo passam
a também falar de seus sentimentos de rejeição e solidão e
chegam num ponto em que o foco do assunto é a história de
cada um. (Obs: estamos relatando um caso específico; no
bioencontro não há necessariamente um aprofundamento
nesse nível, ninguém é obrigado a se expor mais do que
deseja e quando isso ocorre é de forma espontânea e por
iniciativa do participante). Nesse momento, propusemos
fazerem um exercício chamado “jogo da vida”, um recurso
que utilizamos com freqüência nos nossos grupos e que
consiste no seguinte:
a) Sobre uma folha de papel, que representa sua vida,
cada participante coloca uma moeda, significando o lugar, a
posição em que acha que se encontra. Feito isso, faz um
círculo em torno da moeda com lápis ou caneta e anota
dentro do círculo: “onde estou”.
b) Em seguida, coloca a moeda em outro ponto da folha
para indicar o lugar de onde veio para chegar onde está.
Circula a moeda e anota: “de onde vim”.
c) Depois põe a moeda em um outro ponto da folha
para representar o lugar para onde vai. Circula a moeda e
anota: “para onde vou”.
d) Liga os “caminhos” percorridos.

151
e) Cada membro do grupo mostra aos demais sua folha
e comenta seu gráfico. Isto pode ser feito também aos pares
ou por grupos conforme a semelhança ou diferença dos
gráficos.
Feito o exercício, notamos que Sandra estava bastante
emocionada. Solicitamos-lhe então que procurasse
expressar, sem palavras, apenas com gestos e movimentos, o
caminho percorrido em sua vida até hoje. Deveria usar o
espaço da sala como se fosse a folha de papel e as almofadas
para demarcar os lugares. Em seguida, faria o mesmo para
mostrar como seria o caminho daqui para a frente.
Sandra representou, na primeira parte, um caminho
muito sofrido, cheio de tropeços, com idas e vindas e
especialmente a impressão de alguém muito só. Chorava
enquanto dramatizava, tendo demorado alguns minutos para
completar sua “caminhada”. Ajoelhada sobre a almofada do
“onde estou”, ficou dois minutos para se recuperar e iniciou
a “caminhada” da segunda parte. Percorreu o espaço com
desenvoltura, confiança e tranqüilidade. Antes de atingir a
terceira almofada, chamou o terapeuta e uma outra
participante e concluiu sua “caminhada” de mãos dadas
com os dois, significando com isso que não queria continuar
sozinha.
Sandra comentou o que sentiu e o quanto se deu conta
de que sua solidão era o resultado de sua timidez e do medo
que as pessoas a rejeitassem; queria mudar isso dali para a
frente, como fez na dramatização, pois se sentiu muito feliz
ao constatar que as duas pessoas a quem chamou aceitaram
seu convite e a acompanharam.
Outros membros do grupo decidem participar dessa
experiência. Após cada dramatização os mesmos expressam
o que sentiram e entenderam do que foi dramatizado em
relação a si próprios e com respeito aos companheiros. O
grupo alcança o insight de que os seus sentimentos de

152
solidão e rejeição são conseqüência de seu próprio
afastamento dos outros por medo, timidez, insegurança e
desconfiança. A essa altura havia um clima de muita
simpatia e emoção no grupo e então propusemos a Sandra
que se colocasse na “berlinda”, isto é que ficasse no centro
do grupo, de olhos fechados, para ouvir o que cada um dos
outros tinha a lhe dizer, só valendo o que fosse de real ajuda
para ela. Cada membro do grupo passou a expressar o que
via de positivo em Sandra e o que estava sentindo por ela.
Alguns se dirigiam à mesma e a abraçavam. Sandra estava
muito comovida e chorava, mas era não um choro de tristeza
como antes, pois sua expressão agora era de alegria.
Depois que todos se expressaram, Sandra disse que
estava muito feliz, agradecendo o carinho do grupo e
expressando também sua simpatia para com vários
companheiros. Fizemos mais alguns comentários e o
exercício terminou com todos abraçados em volta dela no
centro do grupo num clima afetuoso e solidário de aceitação
mútua.
Essa experiência de emoção e insight demorou em
torno de duas horas e sabemos que esse período mudou a
vida de Sandra. Ela nos encontrou algumas vezes depois e é
gratificante para nós sabermos que ela realmente mudou
depois daquela sessão de bioencontro, embora, claro, não
seja o único fator que a fez mudar.
O Bioencontro proporciona uma maneira eficaz e
relativamente rápida de alcançar mudanças, pois organiza e
direciona essas mudanças. Para algumas pessoas o trabalho
individual é suficiente para o alcance das metas, mas para a
maioria delas o trabalho de grupo é mais eficiente, pois o
confronta com a situação social, o modelo com o qual terá
de se defrontar ao longo da vida.

153
FELICIDADE: UMA POSSIBILIDADE OU
APENAS UM MITO?

O conjunto de percepções, idéias, crenças, opiniões,
valores, ideologias e imaginários sociais em geral, através
dos quais aprendemos e apreendemos o mundo, orientando
nossas atitudes, moldam nosso comportamento. Os meios de
comunicação de massa possuem um papel fundamental na
produção de comportamentos. Nossa cultura desenvolveu
mitos, crenças, valores e ideologias que são transmitidos e
mantidos pelos meios de comunicação de massa. As
condutas humanas são em grande parte determinadas por
essas representações sociais.
Para obter paz, saúde e felicidade somos levados a
consumir de tudo: drogas (medicamentos), produtos
caseiros, automóveis, serviços supérfluos, etc. Outro motivo
é a busca de valorização e ascensão social: a compra (ou
consumo) dos objetos desejados e valorizados pela mídia,
pela TV, ou ainda a tentativa de realização dos sonhos e
ilusões pessoais ou coletivos. Poder, dinheiro e sexo têm
sido os principais motivadores do comportamento humano e
freqüentemente transformados em fins. Através do poder
pode-se obter sexo e dinheiro. Além de outros privilégios,
como status, fama, prestígio, prazer, etc. Com dinheiro
pode-se ter poder e sexo. O sexo simbolicamente representa
a vida, sua continuidade, sendo o fim último do ideal
humano, a vida eterna, a vitória sobre a morte; não foi por
acaso que Freud opôs os instintos de vida, de reprodução
(Eros) aos de morte, de destruição (Tanatos).
Muitas representações sociais se referem à obtenção
de meios de realização pessoal e obtenção de prestígio e
status. “A vida fica melhor, você será feliz se comprar
(consumir) tal produto...”.

154
A sociedade de consumo valoriza a posse de bens,
especialmente os supérfluos. As pessoas para terem um
lugar nessa sociedade, se sentem compelidas a comprar,
mesmo se não podem e a cultivarem a ilusão da conquista
impossível: o homem ou a mulher idealizados - jovem,
rico(a), bonito(a). Os apelos para comprar prometem
felicidade, prestígio, status, sexo. E dão às pessoas o circo
(carnaval, shows, novelas, programas de auditório que dão
prêmios e prometem fortuna) de que precisam para terem a
sensação momentânea de que são felizes.
A verdadeira felicidade não se conquista (e muito
menos se compra). Ela é encontrada em primeiro lugar,
dentro de nós mesmos. Somente estando bem consigo
próprio é que o indivíduo terá condições de estar bem com o
outro, compartilhando os seus momentos felizes. A
felicidade como um “estado nirvânico” é um mito. O que
podemos ter são momentos felizes em nossa vida e quanto
mais freqüentes e intensos esses momentos, maior a
sensação de felicidade.

155
BUSCANDO O BEM -ESTAR E A FELICIDADE

Ser feliz em um mundo ceifado pela miséria, violência,
criminalidade, desrespeito, desigualdade, não é fácil, mas
não é impossível. Ao receber o título de doutor honoris
causa da UFMG, em 1999, o escritor português José
Saramago, prêmio Nobel de Literatura de 1998, disse que “é
impossível ser otimista num mundo tão injusto” e criticou o
neo-liberalismo como sendo um capitalismo autoritário: “o
mundo em que vivo não é agradável e a felicidade é
meramente pessoal” . Não há dúvida de que é cada vez mais
difícil ser feliz em um mundo tão cheio de violência,
opressão, miséria, desigualdades e preconceitos. E é
justamente combatendo essas e outras mazelas que
poderemos fazer deste um mundo melhor para nós e para as
futuras gerações.
A felicidade pode ser alcançada em diferentes níveis:
material, físico, social, afetivo, espiritual, etc., mas ela só
ocorre a nível de interação, isto é, quando compartilhamos
nossas alegrias com outrem. Imagine-se num lugar
paradisíaco, cercado de todas as belezas, mordomias, carro
de luxo, etc., mas sozinho, absolutamente só. Você estaria
feliz? Se alguém disser que sim deverá ser um autista.
Nossos momentos mais felizes são aqueles que
compartilhamos com quem gostamos.
Os seres humanos, na luta pela sobrevivência,
durante os estágios históricos pelos quais passaram,
organizaram-se de forma a produzir os recursos necessários
ao seu bem-estar. Esta organização expandiu-se e tornou-se
complexa à medida que novas formas de pensar apareceram.
No entanto, o que é considerado normal, a aceitação das
normas estabelecidas em bases condicionais, não tem
trazido a felicidade e a possibilidade de uma vida desfrutada
com prazer.

156
Se você perguntar a qualquer pessoa quais os três
maiores valores da vida, certamente um desses estará na
lista: verdade, liberdade, felicidade. No entanto, parece que
cada vez mais eles estão distantes dos objetivos humanos.
Vejamos isto!
Cena em um consultório médico. O paciente entra
para saber do médico o resultado de uma biópsia. Antes que
este abrisse o envelope, ele diz: - Doutor, se for coisa ruim,
eu prefiro não saber.
Vamos entender os significados desta pequena frase:
1. Coisa ruim é câncer! O medo está até em falar o
nome da doença.
2. O paciente não quer saber a verdade. Em outras
palavras, ele quer que o médico o engane, seja omitindo ou
mentindo sobre um possível resultado desfavorável.
3. Está também implícito na fala do paciente, que é
preferível viver uma ilusão favorável do que ter de enfrentar
uma realidade desagradável. Entretanto, não saber da
verdade é que poderá levar o paciente à morte, deixando de
tratar seriamente uma doença grave, mas que poderá ser
curada.
Esta é uma cena comum em consultórios médicos,
mas que acontece em muitas outras situações e que indica
um modo de pensar de grande parte da população: não saber
a verdade e acreditar em falsas ilusões.
Erich Fromm, em um dos seus mais conhecidos
textos, O medo à liberdade, mostra-nos que a liberdade e a
democracia podem trazer insegurança às pessoas, além da
sensação de isolamento e impessoalidade nas sociedades
industrializadas. Diante de uma liberdade a que não está
acostumado e sem saber o que fazer com ela, o indivíduo
pode buscar segurança em um ditador, representante da
figura do pai autoritário, punitivo, mas protetor.

157
Desde criança aprendemos que não devemos ser
felizes, apesar das pessoas nos dizerem o contrário. Para a
maioria das pessoas é difícil ser feliz, entendendo-se
felicidade não como um irreal nirvana, o céu, o paraíso, um
estado perene de bem-aventurança, mas como algo possível,
o somatório de nossos momentos alegres, felizes. Por mais
contraditório que possa parecer, ser feliz, estar bem, é algo
difícil para a maioria das pessoas.
Em toda a nossa vida temos sido ensinados a sermos
infelizes, acabrunhados e a nos sentirmos culpados.
Aprendemos, desde tenra idade, a ver a sexualidade como
algo vergonhoso ou pecaminoso e as pessoas, consciente ou
inconscientemente, agem com culpa, em relação ao sexo. A
educação afetiva familiar costuma ser pobre, há famílias em
que as manifestações de afeto e toque terno é quase como
um hábito proibido. Educa-se pelo sofrimento e pelo dever,
não pelo afeto e pelo prazer.
É fácil notar a conseqüência disso nas pessoas. Elas
não agüentam se sentirem felizes por muito tempo. A culpa
por estarem bem acaba levando-as a se sentirem
angustiadas, e elas começam a fazer barganhas na vida: não
posso e não mereço estar bem em todos os aspectos de
minha vida. Se estão bem profissionalmente, vão mal na
vida conjugal, se estão bem na educação dos filhos, vão mal
profissionalmente, etc.
O próprio povo diz “eles têm tudo para serem felizes
e não são”. A questão é que não basta ter, é preciso ser.
Além do mais, estar bem e satisfeito consigo próprio, ou
seja estar bem com sua auto-estima, é condição para
qualquer pessoa se sentir livre, feliz e realizada.

158
MUDANDO O ESTILO DE VIDA E OS
HÁBITOS

Alguns passos iniciais são necessários para se alcançar
uma melhor qualidade de vida:
* Procurar e realmente encontrar um estilo de vida
saudável.
* Desenvolver a auto-estima e a auto-confiança.
* Promover hábitos saudáveis: alimentação, sono,
lazer, atividades, sociabilidade.
* Desenvolver a afetividade e a sexualidade plenas,
procurando ampliar a vida afetiva e o relacionamento com
as demais pessoas, melhorar o desempenho e o prazer da
vida sexual. Perseguir com afinco esse objetivo.
* Buscar realização profissional e satisfação com o
trabalho.


MUDE SEU ESTILO DE VIDA E SEUS HÁBITOS

Você é capaz de mudar a sua vida! Você é capaz de ser
o dono dela, se ainda não é. Conscientize-se disso. Somos
organismos em contínuo processo de mudança, vivendo em
ambientes que também se modificam a cada dia. Adaptado
não é o indivíduo acomodado, cristalizado, rotineiro.
Adaptação é a capacidade de interagir a cada nova situação,
adequando-se às novas situações que surgem.
Elabore o seu programa pessoal de melhoria de
qualidade de vida em função de sua disponibilidade de
tempo, local e recursos, de modo que você tenha condições
de cumprí-lo. Organize-o de forma gradativa, mais simples
de início e paulatinamente aumentando sua complexidade.
Procure estabelecer metas e objetivos a serem
alcançados, tais como meios de melhorar e ampliar seu

159
campo de interesses, situação financeira, relacionamento,
cuidados com sua saúde, corpo, mente, afetividade,
sexualidade, aquisição de novas habilidades, lazer, leituras,
trabalho, planos futuros, etc.
Analise os seus obstáculos e dificuldades, internos e
externos, e veja como trabalhar para removê-los, buscando
soluções e definindo planos de ação para superá-los.
Estabeleça prazos a serem cumpridos, com início, referência
e término. Fixe sugestões positivas (eu sou, eu quero, eu
posso) e faça visualizações daquilo que deseja alcançar.
Sabemos hoje que a visualização tem uma força muito
grande.
Elabore um programa diário que inclua, além do tempo
dedicado ao trabalho, algum tipo de exercício físico, de
atividade cultural, recreativa ou de lazer, e um tempo
dedicado ao seu par afetivo ou a alguém que o desempenhe.
Pode ser que você comece várias vezes esse plano e não
consiga.
Não desista, pois nenhum plano ambicioso é fácil de
realizar e nada na vida se consegue de imediato.
Numa perspectiva pragmática, o resultado será, a médio
e longo prazo, a percepção nítida da melhora da qualidade
de vida. Envolve o bem-estar bio-psico-social, através da
prevenção em saúde física e psíquica, da melhoria das
condições ambientais, sociais e econômicas, do
desenvolvimento das relações interpessoais.
Pessoas com doenças crônicas podem e devem procurar
alcançar uma melhor qualidade de vida. Embora existam
doenças que limitem atividades ou mesmo exijam restrições
àqueles que delas são portadoras (como por exemplo, as
doenças cardíacas, a hipertensão arterial, a diabetes mellitus,
as doenças reumáticas, a aids). Viver com uma doença
crônica e ter melhor qualidade de vida dos que os que com
elas não vivem, é o grande desafio dessas pessoas, mas ao

160
alcançá-lo, elas também serão pessoas muito mais felizes do
que as demais, por saberem o valor da vida e a intensidade
dos momentos.
Pessoas vivendo em condições muito precárias de
moradia, econômicas ou de saúde serão aquelas em
condições mais difíceis de alcançar uma boa qualidade de
vida. Necessitarão o apoio das comunidades para saírem das
condições precárias e passarem a uma condição razoável de
vida. Nesse ponto, os privilegiados, os que podem mais têm
um papel importantíssimo, pois não há qualidade de vida
sem doação, sem serviço ao próximo, sem espírito
comunitário.
Por fim, você deve ter questionado por que não
colocamos entre os pilares da qualidade de vida a felicidade,
o amor e a espiritualidade. Os motivos são subjetivos.
Acreditamos que ao exercitar os 7 pilares que sugerimos,
você caminhará inevitavelmente para estes três últimos,
componentes máximos da vida plena, mas essa experiência
é muito particular para que possamos dar sugestões, criar
um método de se chegar até eles, ou mesmo ter a pretensão
de que as pessoas amem, sejam felizes ou se espiritualizem
segundo o nosso modelo. O que podemos dizer é que
devemos respeitar a “fórmula” de cada um para encontrar
esses três componentes que representam o topo da pirâmide
da vida.

161
RESUMINDO: O QUE PODE SER FEITO PARA
MELHORAR SUA QUALIDADE DE VIDA


* Algumas adaptações no seu ambiente – difícil, mas
algo pode ser tentado; as mudanças sociais e político-
econômicas só se efetivam realmente por meio dos
movimentos sociais, mais do que por ações políticas, em
geral demagógicas e superficiais.
* Mudanças no seu trabalho – também difíceis para a
maioria das pessoas, que não têm outra opção num país com
alto índice de desemprego. Se você não tem outra opção de
emprego, pode tentar tornar seu trabalho menos enfadonho.
Mas já tentou outra ocupação ou está atento para novas
oportunidades? Muitas vezes as pessoas simplesmente se
acomodam a um trabalho rotineiro e insatisfatório porque
não estão abertas a procurar, ou porque não se valorizam, ou
ainda por medo de tentar outra coisa. Uma maneira é buscar
sua preparação ou aperfeiçoamento profissional, cursos de
reciclagem, etc.
* Melhorias na sua saúde física e psicológica, através
da aquisição de hábitos mais saudáveis de alimentação, de
atividades e exercícios, de um sono reparador. Adquira o
hábito de ir ao médico e ao dentista para prevenção.
* Melhoria de sua vida afetiva e sexual. Novas
amizades, melhorias possíveis no relacionamento com seu
par, se tem um; tentar encontrar um, se não o tem
1
. Mas,
você não acha? Será que: está buscando a pessoa certa? Nos
lugares certos? Da maneira adequada? Se você não tem um
par fixo, é válido ter relações sexuais com pessoas amigas
ou conhecidas? Ao invés de se prender a convenções
superficiais procure aquilo que lhe dê satisfação.
* Procurando incluir o lazer em sua vida. Em geral, as
pessoas dizem que não têm tempo para o divertimento. O
que ocorre é que são pessoas que só pensam em ganhar

162
dinheiro e não valorizam o lazer. Hoje em dia, as opções de
lazer, estão cada vez maiores. Recarregue a sua bateria.
Diversão também é felicidade.
Você pode alegar que tentou e não conseguiu. Por
exemplo, parar de fumar, mudar seus hábitos alimentares,
sair do sedentarismo, rever sua maneira de lidar com as
demais pessoas do seu relacionamento. Se você não
consegue mudar nada em sua vida, então pode estar
precisando de uma ajuda psicológica. Você sempre pode
mudar, nunca desista. Você pode se capacitar melhor para
conseguir tudo isto. Tente mais uma vez.
* Estabeleça passos ou etapas para efetivar, de início,
algumas pequenas mudanças em sua rotina. Por exemplo, se
não tem o hábito de comer verduras ou legumes, comece
introduzindo um diferente em cada refeição e, aos poucos,
vá aumentando a quantidade e variedade. Se não pratica
exercícios, comece fazendo uma pequena caminhada de 15
minutos três vezes por semana. Aumentando
gradativamente, logo você estará caminhando e correndo 30
minutos diariamente. É o bastante para se manter saudável.
* Tendo fixado essas etapas, empenhe-se nelas. Deixe
o comodismo de lado (se este for o seu caso; não estamos
dizendo que isto é para todo mundo). Há o caso de muitas
pessoas que, por limitações físicas, psicológicas, sociais,
econômicas e outras, estão impossibilitadas de fazer a
menor alteração no seu cotidiano. Não é dessas que estamos
falando, mas daquelas que têm a possibilidade de mudar e
não o fazem por comodismo, preguiça ou desinteresse.
* Busque novas informações sobre meios de manter a
saúde e o bem-estar. Dispomos hoje de uma grande
quantidade de publicações, revistas e livros de ajuda e auto-
ajuda. Mas não se deixe iludir pelos que oferecem soluções
mágicas, pouco ou nenhum trabalho e fórmulas

163
mirabolantes. Qualquer mudança exige empenho, trabalho e
persistência.
* Busque esclarecimentos e ajuda em cursos, palestras,
workshops, hoje comuns nas grandes cidades. Se você mora
numa cidade pequena e onde não dispões desses recursos,
nem tem condições para estar viajando com freqüência para
os grandes centros, há uma maneira simples de solucionar
isso: procure outras pessoas que estejam também
interessadas nessas mudanças, reuna-as toda semana com o
objetivo de discutirem temas e assuntos sobre qualidade de
vida (por exemplo, discutindo um texto de livro ou revista
previamente lido por todos) e tentando elaborar sugestões e
metas a serem alcançadas.
* Se acha que não consegue sozinha/sozinho começar
seu programa ou se quiser intensificar o processo, procure a
ajuda de um profissional (médico, psicólogo, orientador,
professor). Neste livro, apresentamos um método que nos
tem possibilitado ajudar àquelas pessoas que nos procuram
para superar as próprias dificuldades e problemas e se
desenvolver. Mas, além do Bioencontro, existem hoje
muitos e variados métodos de terapias de baixo custo e curta
duração, disponíveis na maior parte das grandes cidades
brasileiras.
* Acredite, afinal, na sua capacidade de ser uma
pessoa realizada, equilibrada, feliz e com saúde.

164
SOBRE OS AUTORES

Marcos Goursand de Araujo é psicólogo,
psicoterapeuta de grupo e psicodramatista. Formou-se em
Psicologia na PUC-MG, em Belo Horizonte, doutorou-se
pela PUC de São Paulo e fez pós-doutorado na Universidade
da Califórnia, nos Estados Unidos. Possui especialização em
Psicologia Profunda pela Faculdade de Filosofia de Santo
Amaro (São Paulo), Psicoterapia de Orientação Analítica
pela Associação Brasileira de Psicoterapia (São Paulo) e
Psicodrama pela Associação Argentina de Psicodrama e
Sociodrama (Buenos Aires). Foi durante 11 anos professor
da UFMG, tendo sido também orientador do Curso de
Mestrado em Psicologia Social. Lecionou antes em outras
universidades: Estadual Paulista (UNESP), Metodista de
Piracicaba (UNIMEP), Federal de Santa Catarina e Federal
do Espírito Santo.
Dirigiu clínicas e serviços de psicologia em Belo
Horizonte e São Paulo.
Publicou artigos em revistas científicas e apresentou
numerosos trabalhos em congressos. Deu várias entrevistas
a jornais e televisões sobre temas de comportamento social e
questões de saúde. Publicou o livro Métodos, Técnicas e
Recursos em Grupoterapia, pela Editora Comunicação, de
Belo Horizonte. Iniciou o projeto Biosofia há 12 anos e
vem, desde então, coordenando grupos de Bioencontro e
workshops de fins de semana.
Atualmente é professor do Curso de Psicologia da
Universidade do Estado de Minas Gerais - campus de
Divinópolis/MG e do Curso de Pós-graduação em Sexologia
da Fundação Unimed. Mantém um consultório e ministra
palestras, cursos, workshops de psicodrama e dinâmica de
grupo. Preside a Sociedade Brasileira de Biosofia,

165
organização não-governamental e sem fins lucrativos, com
séde e foro em Belo Horizonte/MG.

Ramon Luís Dias Braga Moreira é formado em
Medicina pela UFMG, com especialização em Ginecologia
e Sexualidade Humana, pós-graduação em sexualidade
humana e mestrado em Psicologia Social. Coordena os
ambulatórios de Sexualidade Humana da Maternidade Odete
Valadares de Belo Horizonte e da Faculdade de Ciências
Médicas de Minas Gerais. É o atual coordenador do curso
de pós-graduação em Sexologia Clínica da Universidade
Unimed/Universidade Gama Filho. Possui dois livros
publicados: Medicina e Sexualidade, pela editora Medsi, do
Rio de Janeiro, e O Sexo Que Passa Na TV, pela editora
Sografe, de Belo Horizonte.
Há mais de vinte anos trabalha com orientação
sexual para adolescentes e projetos de educação sexual para
escolas públicas e privadas. Como palestrante na área da
saúde afetiva e da sexualidade, tem ministrado diversos
cursos, palestras e conferências em escolas e instituições
sobre o tema. Participa do projeto Biosofia há 10 anos.
Coordenou, juntamente com Marcos Goursand de Araújo,
grupos de Bioencontro e workshops de fins de semana e em
cursos afins durante esse período. É o atual presidente do
Comitê de Sexologia e Psicossomática da Sociedade de
Ginecologia de Minas Gerais, e membro de várias
sociedades nacionais e internacionais na área de sexualidade
humana.