dia eu sinta falta de uma vida um pouco mais
tranquila, mas no meu caso eu não tenho nem
muita escolha, eu preciso trabalhar em São Pau-
lo. Outras pessoas de outros ramos, inclusive
da moda podem trabalhar em outros lugares e
devem, por que tem mercado no Brasil inteiro,
mas no meu caso, eu preciso ficar na sede da
moda, que no Brasil é aqui.
Então se surgisse uma oportunidade de
trabalhar em outro país você não iria?
Mas que outra oportunidade seria essa? Por que
eu não iria trabalhar em outra marca, eu não
iria trabalhar em outra empresa, a não ser que a
minha empresa se expandisse e chegasse a esse
ponto, aí sim. Mas a partir daí eu prefiro pensar
conforme as coisas vão acontecendo. Outros
países são sempre interessantes, se mudar é
muito interessante. A gente vai vendo conforme
as coisas vão acontecendo.
Para seguir essa carreira de estilista
você fez a faculdade? Por que geral-
mente as pessoas fazem apenas um
curso profissionalizante. Eu fiz faculdade.
Eu me dediquei bastante, por que é um curso
muito difícil e puxado e para mim, foi muito
importante. Acho que cada caso é um caso, tem
pessoas que nem fizeram faculdade de moda.
Então, meio que como em todo ramo, claro que
é possível você trabalhar, quando você já esta
nele, mesmo sem ter feito um curso ou facul-
dade ou feito apenas o curso, mas acho que a
faculdade é uma vantagem.
Fiquei sabendo de uma história que
uma estilista precisava ir para a cidade
onde ela nasceu e viveu, por muitos
anos, para criar as peças, ter as ideias e
fazer seus desenhos. Tem alguma coisa
em que você se baseia ou algum lugar
específico para ter as suas ideias?
Cada coleção vai ter uma história, se o meu
tema fosse alguma coisa saudosista e tivesse
essa coisa mais “vintage” (recuperação de esti-
los) talvez eu precisasse viajar até outro lugar.
Cada tema vai precisar de uma certa pesquisa e
talvez essa pesquisa seja de campo mesmo, de
você estar fisicamente no lugar ou as vezes é
um tema que já te cerca, então é bem relativo.
Para essa coleção, por exemplo, era uma coisa
que me cercava um pouco, então, eu não ne-
cessariamente viajei, mas em outras coleções já
passeei, viajei, pesquisei. Mas essa eu pesquisei
de outras maneiras, essa foi através de livros,
em imagens, referências imagéticas. Eu não
necessariamente fui até o lugar. Já na coleção
passada eu fui mais aos lugares, eu passeei
mais pelas cidades, eu tive mais necessidade
de ir, mas com o tempo acho que isso cres-
ce, conforme a marca cresce mais você quer
conhecer novos lugares e novas referências
para buscar, então eu vou ter essa necessidade
de viajar mais.
O mundo da moda atualmente está
crescendo, novos estilistas no merca-
do, muitos desfiles e as pessoas estão
começando a gostar deste universo
diferenciado. Você acha que as pes-
soas estão começando a gostar deste
universo?
A gente sempre gosta de moda,
mesmo quem fala que não, gosta de moda, por
que ele faz questão de mostrar que não gosta de
moda então se veste de um jeito para demonstrar
que aquilo não é importante para ele e aquela
vestimenta está passando um recado de que eu
não gosto, mas você se importa com aquela
vestimenta, ninguém se veste de qualquer jeito.
Até quem se veste de qualquer jeito, está fazendo
questão de mostrar que é desleixado, está fazen-
do pouco caso.
Todo mundo gosta de moda? Todo mundo
gosta ou gostou de moda, ela é mais do que
você ir ao shopping e comprar uma roupa cara,
ela significa um pouco mais. É como você
ter um código para passar a sua vestimenta e
com ela você passar uma mensagem, então eu
acho que as pessoas sempre gostaram. Agora o
mercado está aquecido mesmo, por que o Brasil
está começando a melhorar essa questão, então
acaba que ele tem mais necessidade de pessoas
trabalhando.
Quais necessidades que um estilista
deve atender? Um estilista deve atender
muitas necessidades tanto a do público, que
são as necessidades de novidades e conceitos,
quanto as necessidades comerciais, que são as
peças que vão vender e é aonde você faz o seu
negócio girar.
Isso é considerado um super desafio?
Sim, é um desafio. Você precisa criar peças
novas, por que se você não criar novidade
ninguém precisa de você lá, mas ao mesmo
tempo dentre essas novidades você tem que ter
alguma coisa que cause desejo, por que se você
não vender, também não adianta. Pelo menos
no caso de uma marca que pretende entrar em
um mercado de vendas, por que tem pessoas
que conseguem fazer de outras maneiras e vão
para o lado da arte, elas fazem apresentações
conceituadas e vivem disso, mas a maioria
delas, em algum momento, vai ter em algum
“show room”, em algum atacado ou em algum
varejo uma peça mais comercial que ela vai
precisar conseguir difundir a marca dela, para
as pessoas começarem a usar. Quer dizer, o
objetivo é que as pessoas usem e transformem a
história da moda gradativamente, desde sempre
as coisas vão evoluindo e a gente está em uma
fase de evoluir a nossa.
Para entender melhor, assim que as
peças saem do desfile, elas vão direto
para as vendas? Não. No caso tem o “show
room”, onde você apresenta a sua coleção para
o atacado, que é o meu caso, e tudo que desfila,
está disponível no atacado, mas muita coisa que
está no atacado não, necessariamente está na
passarela.
Você venderia a sua coleção em outro
país? Não tem limite para isso. Todo mundo é
bem vindo em todos os lugares, ao meu ver, eu
sei que não é bem assim, mas conforme você
expandir mais, é melhor para a marca. É bom
para as pessoas, que tem a oportunidade de ter
coisas de fora, é bom para o mercado que fica
bem mais aquecido e melhora a relação entre
as pessoas. A pessoa vem de fora para vender
sua marca aqui e pode acontecer o inverso, de
alguém daqui vender no exterior.
“Todo mundo gosta
ou gostou de moda,
ela é mais do que
você ir ao shopping
e comprar uma roupa
cara, ela significa
ter um código para
passar a sua
vestimenta e com ela
você passar uma
mensagem
”
veja/universidade cruzeiro do sul I 03 DE JUNHO, 2011 I 19