544 PHTLS I Atendimento Pré-hospitalar ao Traumatizado, Nona Edição
- INTRODUÇÃO
O preparo para o manejo de um incidente que potencial-
mente envolve uma arma de destruição em massa (ADM) é
um desafio para os sistemas de serviço de emergência (SE).
Embora vários mnemônicos diferentes sejam utilizados para
lembrar-se dos vários tipos de ADMs, talvez o mais fácil de
recordar seja o QBRNE, que significa química, biológica, ra-
diológica, nuclear e explosiva.
A história recente demonstrou que esses incidentes po-
dem ocorrer sem aviso e em qualquer lugar.
As bombas de 1995 no Murrah Federal Building em
Oklahoma City, nos Estados Unidos, resultaram em 168
mortes e 700 vítimas. Cerca de 80% das mortes resulta-
ram do desabamento do prédio em vez dos efeitos diretos
do explosivo. Um terço dos pacientes levados ao hospital
de Oklahoma City foram transportados pelo SE. Dentre
estes, 64% necessitaram de internação hospitalar, en-
quanto apenas 6% dos pacientes autorreferenciados para
o setor de emergência necessitaram de internação.
• Os ataques de 11 de setembro de 2001 ao World Trade
Center, nos quais os terroristas usaram aviões de passa-
geiros como bombas voadoras, resultaram em mais de
1.100 sobreviventes com lesões, com quase um terço des-
sas vítimas sendo transportadas para o hospital por so-
corristas de APH. Os socorristas representaram 29% das
vítimas.
• Em 2004, as múltiplas bombas em trens de Madri, na
Espanha, causaram 190 mortes e 2.051 pessoas trauma-
tizadas.
• O ataque aos meios de transporte de massa em Londres,
na Inglaterra, em 2005, nos quais bombas explodiram
em três metrôs e em um ônibus de dois andares, causou
52 mortes e mais de 779 pessoas feridas.
• As bombas da Maratona de Boston, nos Estados Uni-
dos, em 2013, resultaram em 3 mortos e cerca de 264
feridos.
• Os ataques de 2015 em Paris, na França, perpetrados por
homens armados e suicidas com bombas, mataram 130
pessoas e causaram lesões em outras centenas.
• Em 2016 em Nice, na França, um terrorista deliberada-
mente dirigiu um grande caminhão de carga, avançando
sobre uma multidão de pessoas que celebravam o Dia da
Bastilha, resultando em 86 mortos e 458 feridos.
• Em 2017, bombas na Manchester Arena, em Manchester,
na Inglaterra, resultaram em 22 mortes e cerca de 250 pes-
soas feridas. Muitas vítimas nesse incidente eram crianças.
• Um ataque em 2017 em Nova York, no qual um terroris-
ta deliberadamente dirigiu um caminhão alugado sobre
uma ciclovia, resultou na morte de 8 pessoas e em 12
pessoas feridas.
Embora os explosivos comuns sejam a forma mais co-
mumente usada e mais provável em um evento de ADM, no
mundo todo, os sistemas de SE também têm sido desafiados
por eventos químicos e biológicos. O ataque com gás sarin
em 1995 no metrô de Tóquio, no Japão, matou 12 pessoas, e
mais de 5 mil pessoas buscaram atenção médica. Destas, mui-
tas eram assintomáticas, mas estavam preocupadas com uma
possível exposição. O Tokyo Fire Department enviou 1.364
bombeiros para os 16 locais de metrô afetados, e 135 socorris-
tas ( 10%) foram afetados pela exposição direta ou indireta ao
agente nervoso. Múltiplos ataques químicos alegados durante
a guerra civil da Síria foram investigados pela Organização
das Nações Unidas, incluindo o uso de armas químicas poten-
tes com sarin (2015), clorino (2014) e gás mostarda (2015),
resultando em muitas vítimas entre civis e socorristas.
Embora nenhum ataque bioterrorista com grande nú-
mero de vítimas tenha ocorrido nos Estados Unidos, os siste-
mas de SE foram desafiados a se preparar para tais ameaças.
Durante 1998 e 1999, quase 6 mil pessoas nos Estados Uni-
dos foram afetadas por uma série de falsos ataques relacio-
nados ao antraz em mais de 200 incidentes. No outono de
2001, cartas enviadas contendo antraz resultaram em ape-
nas 22 casos de antraz clínico, porém, geraram incontáveis
ligações para as agências de segurança pública para averi-
guação de pacotes e pós suspeitos.
Embora não seja um evento terrorista, a síndrome res-
piratória aguda grave (SRAG), um surto de doença infeccio-
sa de ocorrência natural, ameaçou gravemente o sistema de
SE de Toronto, no Canadá, em 2003. Durante a epidemia,
526 paramédicos tiveram que ficar em quarentena, princi-
palmente por exposição potencial desprotegida ao vírus. Essa
perda de recursos importantes sobrecarregou gravemente a
capacidade de Toronto para mitigar a crise. Mais recentemen-
te, os surtos naturais de doença pelo vírus Ebola, uma febre
hemorrágica virai, na África Ocidental, resultou em mais de
11 mil mortes entre 2013 e 2016, muitas das quais de profis-
sionais de saúde que cuidavam de pacientes infectados.
A ameaça de que os SEs precisem algum dia responder
a um evento de ADM por agente radioativo cresce, com es-
peculação crescente de que os terroristas possam detonar
algum dispositivo com dispersão radioativa ("bomba suja"),
que geraria lesões e pânico relacionado à contaminação.
As ADMs, embora tradicionalmente imaginadas como
as classes previamente citadas de QBRNE, podem assumir
diferentes formas e configurações. Uma ameaça que surgiu
recentemente é a "agressão veicular intencional", na qual os
terroristas intencionalmente dirigem um veículo com rodas
sobre uma multidão de pedestres. Infelizmente, esses ataques
se t?rn~ram_ mais comuns nos últimos anos, provavelmente
d~v1do a factlt~ade de obter a arma (veículo) e o alvo (multi-
dao) em relaçao aos ataques tradicionais com armas QBRNE.
Considerações Gerais
Avaliação da Cena
A capacidade dos socorristas de APH de avaliar a cena de
maneira adequada é fundamental para garantir a seguran-
ça pessoal e a segurança de outros socorristas. Os eventos
com ADMs impõem uma ameaça significativa aos serviços
de resposta a emergências. No caso de uma detonação de
explosivos de alto poder de destruição, pode haver incêndio,