Poema Da áGua

1. Poema da ÁguaPoema da Água
Raul MachadoRaul Machado
A água também nasce A água também nasce
pequenina nasce gota de pequenina nasce gota de
orvalho ou de neblina...orvalho ou de neblina...

2. A água também tem a A água também tem a
sua infância sua infância
quando apenas riacho quando apenas riacho
cantarola brinca de cantarola brinca de
roda nos roda nos
redemoinhos salta os redemoinhos salta os
seixos que encontra seixos que encontra
e faz apostas de e faz apostas de
corrida - travessa - corrida - travessa -
por entre as grotas e por entre as grotas e
escarpados, arranca escarpados, arranca
as flores que a as flores que a
marginam para marginam para
engrinaldar engrinaldar
a cabeleira solta a cabeleira solta
sobre o leito revolto sobre o leito revolto
das areias...das areias...

3. A água também tem A água também tem
adolescência adolescência
sonha lagos românticos à lua sonha lagos românticos à lua
fitando os astros namorados fitando os astros namorados
dela embevecida em seus olhos dela embevecida em seus olhos
de ouro...de ouro...
e assim sempre amorosa e e assim sempre amorosa e
sonhadora vai tecendo e sonhadora vai tecendo e
bordando - dia e noite o seu bordando - dia e noite o seu
vestido de noiva nas vestido de noiva nas
montanhas montanhas
e o seu véu de noivado nas e o seu véu de noivado nas
cascatas...cascatas...

4. A água também tem A água também tem
maturidade maturidade
fica serena e grave em rios fica serena e grave em rios
fundos e num destino fundos e num destino
generoso e amigo espalha a generoso e amigo espalha a
vida que em si mesma vida que em si mesma
encerra semeia bênçãos para encerra semeia bênçãos para
o grão de trigo o grão de trigo
abre caminhos líquidos da abre caminhos líquidos da
terra e enlaça os povos terra e enlaça os povos
através dos mares...através dos mares...

5. A água também tem sua A água também tem sua
velhice velhice
e de ver-lhe os cabelos e de ver-lhe os cabelos
muitos brancos onda lenta de muitos brancos onda lenta de
espuma destrinçada em espuma destrinçada em
neve, nos ares flutuando...neve, nos ares flutuando...
A água também sofre...A água também sofre...
e quando sofre se faz divina e e quando sofre se faz divina e
vem brilhar em lágrimas ou vem brilhar em lágrimas ou
se reflete a dor da natureza se reflete a dor da natureza
geme no vento transformada geme no vento transformada
em chuva.em chuva.

6. A água também morre...A água também morre...
e quando seca e a sua e quando seca e a sua
morte entristece tudo:morte entristece tudo:
choram-lhe, enfim na choram-lhe, enfim na
desolação, todos os seres desolação, todos os seres
vivos que a rodeiam vivos que a rodeiam
porque ela é o seio porque ela é o seio
maternal da vida maternal da vida
e de tal maneira ama seus e de tal maneira ama seus
filhos rudes que muitas filhos rudes que muitas
vezes para os salvar se vezes para os salvar se
deixa ficar sem o murmúrio deixa ficar sem o murmúrio
de uma queixa prisioneira de uma queixa prisioneira
de poços e açudes...de poços e açudes...

7. Bendita seja, pois, água divina Bendita seja, pois, água divina
que fecunda, consola, que fecunda, consola,
dessedenta, purifica,dessedenta, purifica,
e que, desde pequenina, feita e que, desde pequenina, feita
gota de orvalho, mata a sede gota de orvalho, mata a sede
das plantas entre abertas e das plantas entre abertas e
prepara o festivo esplendor da prepara o festivo esplendor da
primavera...primavera...
e que, nascida em píncaros da e que, nascida em píncaros da
serra vem de tão alto, serra vem de tão alto,
procurando sempre ter um fim procurando sempre ter um fim
de planície e de humildade até de planície e de humildade até
perder,perder,
na última renúncia, o nome de na última renúncia, o nome de
batismo de seus rios para ficar batismo de seus rios para ficar
anônima nos mares.anônima nos mares.
Música:Música:
Early Autumn w_ Ronnie AldrichEarly Autumn w_ Ronnie Aldrich
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